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PARTE 1 MENSURAÇÃO ECONÔMICA DA INCIDÊNCIA DE PRAGAS E DOENÇAS NO BRASIL: uma aplicação para as culturas de soja, milho e algodão

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PARTE 1

MENSURAÇÃO ECONÔMICA DA INCIDÊNCIA

DE PRAGAS E DOENÇAS NO BRASIL: uma aplicação para as culturas de soja, milho e algodão

EXPEDIENTE

Equipes executora e técnica Geraldo Sant´Ana de Camargo BarrosSílvia Helena G. de MirandaMauro OsakiLucilio Rogerio Ap. AlvesAndreia de Oliveira AdamiMilena E. NishikawaFernando C. PerezFábio Francisco de LimaRenato Garcia Ribeiro

Jornalista responsável Alessandra da Paz (Mtb: 49.148)

Revisão Bruna Sampaio (Mtb: 79.466)Flávia Gutierrez (Mtb: 53.681)Nádia Zanirato (Mtb: 81.086) Diagramação Bruna Sampaio (Mtb: 79.466)

Fotos Mauro OsakiPixabaycnt.org.brWenderson Araújo (CNA)Lucas Goulart

Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA).Mensuração econômica da incidência de pragas e doenças

no Brasil: uma aplicação para as culturas de soja, milho e algodão. Parte 1| Maio de 2019.

Avenida Pádua Dias, 11, São Dimas, Piracicaba-SP(19) 3429-8800 | [email protected] | www.cepea.esalq.usp.br

EXPEDIENTE

Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA).Mensuração econômica da incidência de pragas e doenças

no Brasil: uma aplicação para as culturas de soja, milho e algodão. Parte 1| Maio de 2019.

Avenida Pádua Dias, 11, São Dimas, Piracicaba-SP(19) 3429-8800 | [email protected] | www.cepea.esalq.usp.br

SUMÁRIOA questão econômica da incidência de pragas e doenças e da escolha dos métodos de controle 4

Contextualização 5

Levantamento de dados 5

Foco de estudo

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Cenários 6

Figura 1: Mensuração econômica da incidência de pragas e doenças no Brasil: safras 2014/15, 2015/16 e 2016/17 7

Resultados do monitoramento econômico das pragase doenças para 2016/17 8

Implicações 11

O caso da soja

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O caso do milho

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O caso do algodão

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A QUESTÃO ECONÔMICA

DA INCIDÊNCIA DE PRAGAS E DOENÇASE DA ESCOLHA DOS MÉTODOS DE CONTROLE

As pragas e doenças, de modo geral, causam redução do volume de produção, prejuízos à qualidade dos produtos e, conforme a situa-ção, podem levar à morte as plantas e até di-zimar cultivos inteiros. A decadência do cacau no sul da Bahia, devido à vassoura-de-bru-xa, é uma ilustração emblemática deste risco. Assim, a ausência de controle das pragas e doenças nos cultivos agrícolas teria como impac-to direto o comprometimento das safras. Portanto, para o produtor, ao se defrontar com a presença desses organismos em suas culturas, é necessário adotar algum tipo de controle de modo a pre-servar seus investimentos e recursos alocados no cultivo, suas margens de lucro e a própria viabili-dade socioeconômica de sua atividade produtiva. Além dos métodos de controle quí-mico – usando herbicidas, inseticidas, fungici-das, acaricidas –, há possibilidades de comple-mentar ou substituir, em algumas situações, por métodos mecânicos, controle biológico, gestão da nutrição de plantas, uso de va-riedades resistentes às pragas, entre outros.

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O Cepea (Centro de Estudos Avan-çados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com a Andef (Associação Nacional de Defesa Vegetal), monitorou a evolução da ocorrência das principais pra-gas e doenças que atingiram as culturas de soja, milho e algodão nas safras 2014/15, 2015/16 e 2016/17 e os respectivos impac-tos econômicos para produtores e para o País.

Para isso, o Cepea desenvolveu uma metodologia de avaliação econômica da inci-dência das principais pragas, baseada em dados obtidos nos levantamentos anuais de campo nas principais regiões produtoras, em parceria com diversas outras entidades, como a CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecu-ária do Brasil) e Ampa (Associação Mato-Gros-sense dos Produtores de Algodão).

LEVANTAMENTO DE DADOS

A partir de levantamentos de da-dos por meio de painéis e estudos de casos nos principais estados produtores de soja, milho e algodão, que se viabilizou o monito-ramento da importância econômica das pra-gas, nas safras 2014/15, 2015/16 e 2016/17. O levantamento dos custos de pro-dução permite identificar, em detalhes, o ma-nejo para controle e prevenção de pragas e doenças empregado em cada região. Esta “fotografia” do sistema produtivo na região e cultura analisadas, ao longo do tempo, permi-te avaliar se houve alteração das pragas mais relevantes em cada safra, dos produtos e mé-todos adotados para seu controle, entre outros. Nesta pesquisa, os efeitos das ocor-rências de pragas e doenças foram estimados com base em dados de perdas potenciais, ob-tidos em ensaios experimentais realizados por instituições de pesquisas para a análise de pragas e doenças específicas. Nesses ensaios, estimam-se, com base estatística, os efei-tos do uso de produtos químicos no controle de uma praga ou doença específica, em con-

formidade com as recomendações técnicas. As estimativas das perdas que o uso dos produtos químicos evita são baseadas em resultados desses ensaios – em termos de reduções percentuais de produtividade

– e, portanto, pressupõem que os produto-res rurais estão utilizando esses produtos nas mesmas condições desses ensaios. Admite--se, em cada caso, que somente a praga ou doença em consideração esteja ocorrendo, ou seja, não se analisam os efeitos conjuntos das pragas e de suas potenciais interações.

“O levantamento dos custos de produção permite identifi-car, em detalhes, o manejo para controle e prevenção de pragas e doenças empregado em cada região.”

CONTEXTUALIZAÇÃO

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FOCO DO ESTUDO O monitoramento das perdas econômi-cas provocadas por pragas e doenças proposto neste estudo foi desenvolvido com objetivo de:

a) Avaliar a produtividade da soja, do milho e do algodão no Brasil, nas safras 2014/15, 2015/16 e 2016/17, identificando os principais eventos climáticos e os principais ataques de doenças e pragas observados sob as condições de campo nas regiões produtoras mais relevantes do País; b) Avaliar os dispêndios dos produtores, em cada safra, com a aplicação de defensivos agrícolas, assim como sua importância relati-va no montante total do custo de produção; c) Estimam-se, assim, os custos incorridos pe-los produtores com o uso de produtos químicos para controle de pragas e doenças que ocorreram nas regiões estudadas. Esses custos devem ser confrontados com o valor das perdas que ocor-reriam se o uso desses produtos não fosse feito. d) As perdas percentuais relativas a cada região e cultura monitoradas pela pesquisa foram usadas para cálculo das perdas em nível nacional, assu-mindo que os mesmos percentuais seriam obser-vados em regiões não cobertas por levantamen-to de campo, mas caracterizadas por condições tecnológicas e edafoclimáticas semelhantes. CENÁRIOS Uma vez estimadas as perdas que ocor-reriam na ausência do tratamento contra pra-gas e doenças observadas, foram simulados alguns cenários macroeconômicos para avalia-ções globais do valor econômico dessas perdas. 1) No primeiro cenário, os produtores não contro-lariam as pragas e doenças, mas compensariam

suas perdas em produtividade ampliando a área de cultivo. Desta forma, manteriam o total da pro-dução, que seria obtido se tivesse ocorrido o con-trole das pragas e doenças observadas. Com isto, o preço de mercado manter-se-ia inalterado e o con-sumidor não seria diretamente afetado. Neste ce-nário, assume-se que a sociedade arca com o custo adicional de ampliação da área produtiva, portan-to, gerando um custo indireto para o consumidor. 2) No cenário alternativo, não haveria compen-sação de área em razão das perdas de produ-ção causadas pelas pragas. Logo, ocorreria um ajustamento no preço de mercado, cujo grau dependeria das condições dos mercados exter-no e interno. Haveria impactos sobre a infla-ção, ou seja, sobre o custo de vida, assim como também sobre as receitas das exportações. Cada uma dessas situações simuladas leva a um resultado distinto em termos de lucratividade da atividade agrícola, e, portanto, de renda desse segmento. Igualmente, pode ocasionar outros im-pactos econômicos, sociais e ambientais relevantes para a sociedade, não considerados neste estudo. A compensação via aumento de área pode ocorrer de forma legal, sem avanço sobre áreas de florestas protegidas ou sem prejuízos a outras atividades agropecuárias, caso a ter-ra seja um fator produtivo ocioso. Mas, ela pode resultar também em pressão de desmatamen-to legal ou ilegal no País ou em impactos sobre preços de outros produtos, cuja produção pode-ria ser deslocada pela mudança no uso da terra. Foi nesse contexto analítico que o estudo se desenvolveu e gerou os resultados apresenta-dos na sequência. Consistem dos principais resul-tados do estudo para cada uma das culturas e pra-gas e doenças analisadas, para a safra 2016/17.

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Figura 1: MENSURAÇÃO ECONÔMICA DA INCIDÊNCIA DE PRAGAS E DOENÇAS NO BRASIL:safras 2014/15, 2015/16 e 2016/17

Coleta de dados de fazenda típica

Extrapolação de dados para

microrregiões homogêneas

Cálculo de Receita Bruta, Custo Total e

Receita Líquida Total

Cálculo do custo com herbicida

Cálculo do custo com inseticida

Cálculo do custo com fungicida

Impacto: redução deprodutividade pela

ação de praga/doença

Redução de custosao produtor pelo não tratamento

Compensação de área e manutenção da oferta agregada

Redução daoferta agregada

Impacto em preços, adepender das condições

internas e externas

Efeito sobre olucro do produtor

Efeito sobre asdivisas de exportação

Efeito sobre ainflação de alimentos

Efeito sobre ainflação nacional

Definicação de pragas e doenças

sob análise

Efeito sobreos preços ao consumidor

Fontes: Cepea-Esalq/USP e Andef.

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RESULTADOS DO MONITORAMENTO ECONÔMICO DAS PRAGAS E DOENÇAS PARA 2016/17

O CASO DA SOJA Na safra 2016/17, o custo dos produtores de soja com fun-gicidas foi de R$ 8,3 bilhões (96% para controle da ferrugem), R$ 6,2 bilhões em inseticidas e R$ 4,8 bilhões em herbicidas, totalizan-do R$ 19,3 bilhões. Este valor correspondeu a 16,5% do Custo Total (CT) com a produção de soja no Brasil nessa safra. O montante total para cultivar uma área de 33,9 milhões de hectares e produzir 114 milhões de toneladas de soja foi de R$ 117 bilhões na safra 2016/17.

Para avaliar a implicação econômica do controle da ferrugem da soja, simulou-se uma situação em

que os produtores não utilizassem fungicidas.

Com isso, economizariam R$ 5,75 bilhões,

mas a queda na oferta de soja é estimada em 30%. Supondo que os produtores pudessem compen-sar essa perda em produtividade, expandindo a área cultivada, gastariam R$ 33 bilhõesem recursos adicionais para custear um aumen-to de quase 1/3 na área produtiva nacional. Esses custos referem-se apenas aos recursos terra, trabalho e capital privados dos produ-tores; não incluem custos de abertura de novas áreas e infraestrutura produtiva e logística, etc.

FERRUGEM

No cenário sem essa compensação da queda de produtividade pelo aumento da área culti-vada, o modelo econômico estima um aumen-

to de 22,9% no preço no mercado interno.

Nesse cenário, embora os produtores tenham redução nos custos (sem o controle da ferru-gem), o aumento dos preços não seria suficiente para evitar a queda da Receita Bruta, de 13,9%.

Assim, o resultado econômico com o plantio de soja passaria de um lucro de R$ 8,32 bilhões para um prejuízo de R$ 3,37 bilhões para o segmento produtivo nacional. Logo, os produtores incorre-

riam em uma perda de R$ 11,7 bilhões. Para o País, em termos macroeconômicos, isto implicaria na queda de 30% em volume expor-

tado, equivalentes a perdas de US$ 4,5 bilhões em faturamento externo para os produtos do complexo da soja.

Estima-se, ainda, que o aumento de 22,9% nos preços da soja, devido à perda na produção, te-ria um impacto de 0,57 ponto percentual no IPCA geral de 2017. Ou seja, o IPCA passaria de 2,95% para 3,52%.

Este mesmo raciocínio aplicado especificamente ao IPCA de alimentos, implicaria uma variação de 1,03 ponto percentual no índice, ou seja, este saltaria de -1,87% para também negativos -0,84% no ano de 2017.

não

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O CASO DO MILHO Para a cultura do milho, na temporada 2016/17 (primeira e segunda safras), o custo dos produtores foi de R$ 1,28 bilhão em fungicidas, R$ 1,42 bilhão em inseticidas e R$ 1,53 bilhão em herbicidas, totalizando R$ 4,23 bilhões. Este valor corresponde a 9% do Custo Total para produção de milho no Brasil em 2016/17. A área cultivada foi de 17 milhões de hectares, resultan-do em produção de 97 milhões de toneladas de milho.

LAGARTA SPODOPTERAPara analisar a implicação econômica do con-trole da Lagarta Spodoptera na cultura do milho foi simulada uma situação em que os

produtores não fizeram o controle quími-

co da praga, e com isso economizaram R$ 3,42 bilhões. Contudo, a perda de produtividade causada pela Spodoptera leva-ria a uma redução de 40% na safra do grão.

não

Supondo que os produtores pudessem compen-sar essa perda em produtividade via aumento da

área cultivada, teriam que gastar R$ 25,3 bilhões em recursos adicionais, garantin-do um acréscimo de 2/5 dessa área no Brasil.

Não havendo tal compensação de área, o modelo econômico aponta que ocorreria uma elevação de

13,6% do preço do milho no mercado interno. mercado interno.

Embora os custos de produção se reduzam pela ausência de controle da Spodoptera, devido à queda na Receita Bruta dos produtores de 32%, seu resultado econômico com o plantio do mi-lho passaria de um prejuízo, na safra 2016/17,

de R$12,95 bilhões para um prejuízo

ainda maior de R$ 20,5 bilhões, agra-vando ainda mais a situação do produtor.

Essa quebra de safra levaria a uma redu-

ção nas exportações, em valor, de 32% correspondentes a uma redução da recei-

ta cambial de US$ 1,6 bilhão.

Estima-se que o aumento de 13,6% nos pre-ços do milho, devido à perda na produção, teria um impacto de 0,39 ponto percen-tual no IPCA geral de 2017. Pelo mesmo ra-ciocínio, o IPCA de alimentos teria uma varia-ção positiva de 1,05 ponto percentual no índice, aumentando de -1,87% para -0,82%.

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Para a cultura do algodão, na safra 2016/17, o custo dos produtores foi de R$ 300 mi-lhões em fungicidas, R$ 1,2 bilhão em inseticidas e R$ 500 milhões em herbicidas, totalizando R$ 2 bilhões. Este valor corresponde a 27% do Custo To-tal de produção do algodão brasileiro nessa safra, cuja área cultivada foi de 940 mil hectares. A pro-dução em 2016/17 somou 1,5 milhão de toneladas de algodão em pluma, segundo dados da Conab.

O CASO DA ALGODÃO

BICUDO

O Bicudo do algodão é a praga mais relevante des-sa cultura, atualmente, no Brasil. A fim de avaliar a dimensão econômica de sua presença, simu-lou-se, a partir de dados da safra 2016/17, a au-sência do controle químico pelos produtores. Nes-se cenário hipotético, estima-se que haveria uma

economia de R$ 460 milhões, mas que

resultaria numa redução de 30% da produção.

Supondo que todos os produtores pudessem compensar a queda na produtividade, cau-sada pelo Bicudo (sem controle) expandindo sua área produtiva, estima-se que teriam cus-

tos adicionais de R$ 2,53 bilhões. Já ao se considerar a ausência de uma compensa-ção via aumento de área, a quebra na produção do algodão, devido ao ataque do Bicudo, levaria

a um aumento nos preços internos de 5,5%.

A queda de produtividade de 30% combinada com um aumento de 5,5% no preço levariam à queda na Receita Bruta de 26%. O resultado da safra teria passado então, de um lucro registrado

de R$ 90 milhões na safra 2016/17,

para um prejuízo de R$ 1,39 bilhão,

configurando uma perda de R$ 1,48 bilhão para o conjunto de produtores.

As implicações desse cenário de ausência de controle do bicudo, queda na produção e elevação dos preços do algodão seriam, ainda, conforme as estimativas do modelo: queda

de 26,2% da receita com exportações da plu-ma, aumentos de 0,024 ponto percentual no IPCA geral de 2017 e de 0,12 no IPCA alimentos.

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IMPLICAÇÕES Este estudo teve como objetivo realizar uma avaliação quantitativa dos efeitos econômicos amplos das pragas na agricultura, mas, sobretudo, estimar um efeito que, desde sempre, preocupa toda a sociedade, e, particularmente, os agentes públicos: o impacto que o desempenho das safras agrícolas têm sobre o acesso a alimentos para a po-pulação, em termos de preços. Preocupação, esta, relacionada principalmente às categorias de renda mais baixa, para as quais os alimentos respon-dem pela maior parcela de seu orçamento familiar. Assim, garantir produtividade das cul-turas agrícolas, além de garantir exportações, receita tributária, empregos, assim como mo-vimentar a economia nos segmentos da ca-deia a jusante e a montante, é importante para manter a inflação dos alimentos sob controle. O cenário, teórico, de eliminar por completo o uso dos controles químicos, permite analisar des-dobramentos microeconômicos e macroeconômicos dessa mudança no sistema produtivo, que vão desde o impacto sobre a renda do produtor até o efeito so-bre a inflação, ou seja, sobre o bolso do consumidor. Outro desdobramento que é possível em

uma situação de perda de produtividade é a bus-ca de formas de ajustamento pelo produtor rural e uma delas seria compensar a perda da produti-vidade causada pelo não combate de pragas com a expansão da área cultivada. Esta alternativa, além de elevar o dispêndio para manter a pro-dução nacional, pode gerar pressões adicionais sobre o uso da terra no País. Este é outro tema sensível no Brasil, atualmente, tendo em vista a preocupação nacional e internacional, com o desmatamento nas áreas de fronteira agrícola. Uma alternativa ao tratamento químico para evitar a perda em produtividade é, que, para algumas pragas e culturas, pode haver outras téc-nicas que possibilitem uma composição de estra-tégias para o seu controle. Contudo, além de não estar disponível para todas as pragas relevantes, manejos alternativos convivem com dificuldades adicionais: desconhecimento das possibilidades, exigência de um nível de conhecimento técnico mais amplo para planejar e implementar essas es-tratégias de modo que possam garantir a neces-sária produtividade; risco de que o controle, por meio desses métodos, não tenha a mesma eficácia

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dos métodos de controle químico; entre outros. Assim, a aplicação dos vários métodos para controle das pragas requer uma difusão mais ampla e eficiente, o que por si só é um desafio adicional e custoso principalmente para atingir os pequenos e médios agricultores, na atual con-juntura em que a estrutura de serviços de exten-são rural e assistência técnica nacional é precária. Por outro lado, sabe-se que esse mesmo desconhecimento técnico e os aspectos econômicos já mencionados, que permeiam o problema do agri-cultor para manter sua produtividade e, portanto, sua renda, explicam alguns problemas recorrentes na agricultura brasileira: a ocorrência de resistência das pragas aos produtos fitossanitários, que a cada ano desponta com mais rapidez, evidenciando que

os produtores utilizam inadequadamente a tecno-logia; e a constatação de que há produtos agríco-las com resíduos desses produtos, demonstrando, mais uma vez, que os produtores adotam o uso, mas nem sempre respeitam as orientações técnicas Ou seja, muitos desses problemas atu-almente evidenciados no País possivelmente são implicações do descumprimento de prazos de ca-rência para colheita, do uso de doses inadequa-das e indevido de produtos sem registro para as culturas. No fundo, é preciso ação forte de identi-ficação dos possíveis problemas na utilização dos agroquímicos seguida de educação fitossanitária, não somente para minimizar estes problemas, mas para difundir as alternativas que, atualmente, vêm ampliando as oportunidades de adoção de manejo.