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Faculdade G & P Administração de Empresas Grupo 4 Carmo Aparecido Pracânica Junior Fabrício da Silva Amaro Mônica Rezende Prado Os benefícios e os riscos aos quais as empresas no segmento de Tecnologia da Informação e Serviços estão sujeitas ao abrir o capital Pederneiras 2009

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Faculdade G & P

Administração de Empresas

Grupo 4

Carmo Aparecido Pracânica Junior

Fabrício da Silva Amaro

Mônica Rezende Prado

Os benefícios e os riscos aos quais as empresas no

segmento de Tecnologia da Informação e Serviços estão

sujeitas ao abrir o capital

Pederneiras 2009

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Faculdade G & P

Administração de Empresas

Grupo 4

Carmo Aparecido Pracânica Junior

Fabrício da Silva Amaro

Mônica Rezende Prado

Os benefícios e os riscos aos quais as empresas no

segmento de Tecnologia da Informação e Serviços estão

sujeitas ao abrir o capital

Pederneiras 2009

Monografia apresentada ao Curso de Administração de Empresas com Gestão em Informática como requisito parcial ao desenvolvimento da Monografia. Orientadores: Profª. Andréa Silva Vilas Boas

Profº. Paulo Roberto Soares

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Folha de Aprovação

Pederneiras, 30 de Novembro de 2009

Orientador: _______________________ ________________________ Examinador: _______________________ ________________________ Examinador: _______________________ ________________________

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Agradecimentos

Agradecemos a Deus pela sabedoria nos dada para desenvolver

esse trabalho, aos familiares pelo apoio, as pessoas que acreditaram em

nosso potencial, e a empresa Totvs, que nos concedeu informações

importantes para conclusão desta monografia.

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Sumário

Resumo ....................................................................................................................................... 1

Abstract ....................................................................................................................................... 2

Introdução ................................................................................................................................... 3

1. O mercado de capitais......................................................................................................... 5

1.1. Mercado de capitais ..................................................................................................... 5

1.1.1. O Sistema Financeiro Nacional ............................................................................ 6

1.1.2. Tipos de mercados ................................................................................................ 7

1.1.3. A história do mercado de capitais no Brasil. ........................................................ 8

1.1.4. Comissão de Valores Mobiliários - CVM .......................................................... 10

1.2. Bolsa de Valores ........................................................................................................ 10

1.2.1. Sociedades corretoras ......................................................................................... 11

1.2.2. BM&FBOVESPA .............................................................................................. 12

1.2.3. Governança Corporativa ..................................................................................... 13

1.3. Ações ......................................................................................................................... 14

1.3.1. Tipos de ações .................................................................................................... 14

1.4. Por que e como investir ............................................................................................. 15

1.4.1. Direitos básicos e específicos de um investidor ................................................. 15

1.4.2. Como acompanhar os investimentos .................................................................. 16

1.5. Fechamento de Capital ............................................................................................... 17

1.5.1. Por que decidir pelo fechamento ........................................................................ 17

2. O processo de abertura de capital ..................................................................................... 19

2.1. Antes da abertura ....................................................................................................... 19

2.1.1. Vantagens e desvantagens .................................................................................. 20

2.1.2. Avaliação do processo de gestão da empresa ..................................................... 22

2.1.3. Custos envolvidos ............................................................................................... 23

2.2. Preparação .................................................................................................................. 24

2.2.1. Registro na Comissão de Valores Imobiliários .................................................. 25

2.2.2. Marketing da empresa junto aos investidores..................................................... 26

2.2.3. Departamento de relação com os investidores ................................................... 27

2.3. Abertura do capital ..................................................................................................... 28

2.3.1. Emissão de ações ................................................................................................ 28

2.3.2. O dia seguinte ..................................................................................................... 28

2.4. O mercado de capitais no segmento de Tecnologia da Informação........................... 29

3. Estudo de caso .................................................................................................................. 32

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3.1. Histórico ..................................................................................................................... 32

3.2. O mercado em que a Totvs está inserido ................................................................... 33

3.3. Entrevista ................................................................................................................... 35

3.4. O crescimento da Totvs ............................................................................................. 37

Conclusão ................................................................................................................................. 41

Referências Bibliográficas ........................................................................................................ 43

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1

Resumo

A presente monografia trata da abertura de capital no Brasil, que passou a ganhar

importante espaço no noticiário econômico, tendo em vista um considerado número de

companhias que, motivadas pelo período econômico com estabilidade e crescimento interno,

excesso de liquidez dos mercados mundiais e expressiva valorização do IBOVESPA,

passaram a buscar o mercado de capitais a fim de subscreverem parte de seu capital e com

isso obterem recursos para seus projetos de investimento, além de assumirem o status de

companhia aberta e com isso todas as vantagens e responsabilidades que a mesma exige.

Desta forma, são apresentadas as vantagens e limitações de uma empresa ao abrir seu capital e

fazer a oferta pública de ações no contexto da legislação brasileira. Quanto à metodologia, a

presente monografia é uma pesquisa descritiva, realizada por meio de um estudo de caso. Os

instrumentos de coleta de dados utilizados foram, a pesquisa bibliográfica e documental, além

da entrevista não estruturada. O estudo de caso ilustrado na presente monografia refere-se à

Totvs S.A., empresa paulista fundada em 1983, que abriu seu capital e realizou a oferta

pública inicial de ações no ano de 2005, observando as expectativas, custos, conseqüências e

resultados obtidos com a abertura. Assim, descreve-se e analisa-se o processo de abertura de

capital, identificando custos, implicações legais e regulamentares, conseqüências; faz-se

também a investigação a respeito das causas que levaram a companhia estudada a fazer a

oferta pública inicial (IPO) de ações; identificam-se ainda as ações adotadas pela companhia

ao longo do processo de abertura de capital, bem como os órgãos, entidades, agentes e

empresas relacionadas ao processo de abertura. Por fim se avalia o desempenho da empresa

no período pós-abertura.

Palavras Chaves: Abertura de capital, Mercado de capitais e Oferta pública de ações.

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Abstract

This monograph discusses opening capital in Brazil, which happened to gain important

economic news, space for a considered number of companies that motivated by economic

period with internal stability and growth, excess liquidity of world markets and expressive

IBOVESPA valuation, came to seek the capital market to subscribe part of their capital and

thus obtain resources for their investment projects, in addition to assuming the company status

and all the benefits and responsibilities which it requires. In this way, advantages and

limitations of a company to open their capital and make the public offer of actions in the

context of Brazilian legislation. With regard to methodology, this monograph is a descriptive

survey, carried out through a case study. The data collection instruments used were,

bibliographical and documentary, apart from unstructured interview. The case study

illustrated in this monograph refers to company paulista Totvs s.a., founded in 1983, which

opened its capital and performed the initial public offering of shares in the year 2005, noting

expectations, costs, consequences and results obtained with openness. Thus, describes and

analyzes the process of opening capital, identifying costs, legal and regulatory implications,

consequences, also research on the causes that led the company studied to initial public

offering (IPO); identify the actions taken by the company throughout the process of opening

the capital, as well as the bodies, entities, agents and organizations related to the process of

opening. Finally if assesses the performance of the enterprise in openness.

Keywords: opening capital, capital market and public offer of actions.

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Introdução

Nos últimos anos muito se fala em mercado de capitais, existem muitos livros e

palestras voltados aos investidores, materiais que ensinam como investir no mercado, quais

empresas estão no mercado, mas tudo sempre visando o investidor.

Para o empresário por outro lado estas informações são escassas. Quando o mesmo

busca informações de como abrir o capital de sua empresa, este necessita recorrer a empresas

especializadas na abertura de capital.

Neste aspecto o grupo buscou uma visão empreendedora como possíveis empresários

que em um mundo globalizado necessitam buscar recursos para financiar o crescimento de

sua empresa.

Grandes empresas como Cosan, Natura e a Totvs tiveram esse mesmo pensamento,

decidiram pela abertura do capital e obtiveram sucesso em seu Ipo. No caso da Totvs, a

empresa estudada, pode ser observada que vender ações e adquirir novos sócios não é tão

fácil, a empresa precisa conhecer o mercado de capitais, onde ela está inserida no Sistema

financeiro nacional, quais os tipos de mercados, qual órgão regulariza este mercado, como e

onde são realizadas as vendas de ações e os tipos de ações. Todas estas informações estão

contidas no primeiro capítulo.

No segundo capítulo o grupo busca introduzir ao leitor como é o processo de abertura

de capital, quais os procedimentos que a empresa deve adotar em relação à abertura do capital

e a documentação necessária.

Além do processo de abertura a empresa também busca possíveis investidores, para

isso é feito marketing junto aos investidores e criado o departamento de relações com

investidores.

Também no segundo capítulo relatamos a importância da organização estar preparada

para o dia seguinte da emissão de suas ações, e como é o mercado de capitais no segmento de

tecnologia da informação.

Nosso estudo de caso foi realizado na empresa Totvs S/A, está que é líder no mercado

nacional de software em gestão empresarial e nos preocupamos no mesmo em relatar o

crescimento da empresa desde a oferta pública de suas ações.

A conclusão do deste trabalho se reveste de capital importância, pois após levar ao

leitor informações sobre a abertura de capital no mercado de ações nos capítulos e demonstrar

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um caso de sucesso, nos preocupamos em demonstrar que os riscos e os benefícios não serão

somente para ciência de a empresa optar ou não pela abertura do capital, mas estes são de

fundamental para o sucesso da empresa no Mercado de Ações.

Ainda salientando a importância do trabalho, o grupo levantou como problema o que

as empresas de tecnologia da informação e serviços necessitam para atuar no mercado de

ações, de forma a maximizar os benefícios e minimizar os riscos que essa estratégia propõe?

Este problema também é solucionado em nossa conclusão.

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1. O mercado de capitais

Com a ascensão da globalização e todas as transformações no mercado, as

organizações precisam buscar alternativas estratégicas para continuar atraentes perante a

situação, mas, para isso, precisam de recursos financeiros, e como, normalmente, não tem em

caixa esse recurso próprio, recorrem ao mercado financeiro em busca de empréstimos. Esses

empréstimos podem ser conseguidos através de bancos privados, bancos de desenvolvimento

ou, se optarem, pela abertura de seu capital.

1.1. Mercado de capitais

Conforme explica o Prof. Bertolo (2009), o Mercado de Capitais faz parte do Sistema

Financeiro Nacional, e tem como objetivo principal a captação de recursos financeiros de

forma rápida através da injeção de capital pelos investidores.

Conforme explica o manual de Introdução ao Mercado de Capitais, disponibilizado no

site da BM&FBOVESPA (2008), o mercado de capitais é um sistema de distribuição de

valores mobiliários, com o objetivo de oferecer liquidez aos títulos de emissão de empresas e

viabilizar seu processo de capitalização, é constituído pelas bolsas de valores, sociedades

corretoras e outras instituições financeiras autorizadas.

No mercado de capitais, os principais títulos negociados são as ações das empresas.

Conforme também explica o Prof. Bertolo (2009), é nesse mercado que as empresas

que precisam de recursos conseguem financiamento, por meio da emissão de títulos que são

vendidos diretamente aos poupadores/investidores, sem o intermédio bancário. Dessa forma,

os investidores acabam emprestando seu dinheiro a essas empresas, também sem o intermédio

bancário.

Sendo assim, a captação de recursos pelas empresas é mais barata, pois não há o

pagamento de spread1 aos bancos.

Para o investidor é vantajoso, pois ele pode desfazer-se das ações a qualquer

momento, o que não seria possível num empréstimo tradicional. Ou seja, se o investidor

mudar de opinião quanto ao risco de investir em uma determinada empresa, pode vender os

títulos no mercado. Essa liquidez (facilidade de compra e venda) reduz seu risco de perda. 1 Spread – palavra em inglês que significa valor diferencial (BOVESPA) ou a remuneração para cobrir os custos operacionais e riscos da operação, também conhecido simplesmente como juros - Prof. Bertolo (2009).

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Assim, o mercado de capitais faz com que o repasse de recursos dos investidores às empresas

seja mais interessante para ambas as partes.

O Mercado de Capitais é fundamentalmente importante para o crescimento de um

país, pois sem ele muitos projetos poderiam não ter saído do papel por falta de capital e/ou

financiamento. Muitas empresas perderiam sua competitividade e dificilmente conseguiriam

desenvolver-se.

Conforme explica o Prof. Bertolo (2009), o mercado de capitais é dividido em

Mercado Primário e Mercado Secundário.

• Mercado Primário: A colocação inicial dos títulos no mercado é chamada de

lançamento no mercado primário. Quando essa colocação é feita pela primeira vez,

no caso de ações, por exemplo, diz-se que a empresa está sendo listada em bolsa

(em inglês IPO - Initial Public Offering).

• Mercado Secundário: A negociação desses títulos após a oferta inicial é feita em

mercados secundários específicos. No Brasil temos:

o As bolsas de valores para as ações;

o A Cetip (Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos

Privados) para os títulos de dívida das empresas;

o O Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) para títulos públicos.

1.1.1. O Sistema Financeiro Nacional

Segundo o Prof. Bertolo (2009), o sistema financeiro é o mercado onde os recursos

excedentes da economia, a poupança, são depositados nas instituições financeiras (bancos) e

são direcionados para o financiamento de empresas e de novos projetos e para alguns setores

da economia que precisam de recursos. Pelo fato de intermediar esse processo, a instituição

financeira cobra do tomador, no caso, as empresas que estão tomando esse empréstimo, uma

taxa chamada de spread.

Conforme também explica o manual de Introdução ao Mercado de Capitais da

BM&FBOVESPA (2008), o Sistema Financeiro Nacional é composto de instituições

responsáveis pela captação de recursos financeiros, pela distribuição e circulação de valores e

pela regulamentação deste processo. O manual explica também que quem define as diretrizes

de atuação do sistema é o Conselho Monetário Nacional - CMN, o maior organismo desse

sistema, que é presidido pelo ministro da Fazenda. Diretamente ligados a ele estão o Banco

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Central do Brasil, que atua como seu órgão executivo, e a Comissão de Valores Mobiliários -

CVM, que responde pela regulamentação e fomento do mercado de valores mobiliários.

Em seu livro, Lagioia (2007) demonstra a estrutura do sistema financeiro conforme a

figura 1.

Ela explica que o Sistema Normativo é composto por três grandes órgãos que regulam

e controlam as instituições que compõem o subsistema operativo. Dentre esses órgãos, o

principal a CVM – Comissão de Valores Mobiliários, para o controle do mercado de ações.

1.1.2. Tipos de mercados

Conforme explica o Prof. Bertolo (2009), existem cinco divisões para o mercado de

capitais, que são:

• Mercado de Renda Variável

É o mercado de ações, que são negociados nas bolsas de valores. Suas características

são que não garantem uma remuneração pré-determinada aos investidores, mas os mesmos

podem comprar e vender suas ações quando desejarem.

• Mercado de Renda Fixa

Figura 1. Estrutura do Sistema Financeiro Nacional Fonte: Lagioia (2007, pág. 32)

Instituições financeiras Bancárias

Sistema Financeiro Nacional

Demais Instituições Financeiras e

Administradores de Recursos de Terceiros

Bolsa de Valores e Sociedades Corretoras

Sociedades de Capitalização

Entidades Abertas e Fechadas de Previdência Complementar

Sistema Operativo

Sistema Normativo

CMN CGPC CNSP Instituições Especiais

CVM Bacen

IRB Susep

SPC

BB CEF BNDES

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Tem como característica a negociação de títulos da dívida pública (emitidos pelo

governo) ou privada (emitidos pelas empresas), que permitem aos investidores receberem a

quantia emprestada (principal) mais juros previamente determinados.

• Mercado de Câmbio

No mercado de câmbio são negociadas as moedas estrangeiras, como, por exemplo, a

compra e venda de dólar, ou euro. Esse mercado existe porque as nações querem manter seu

direito soberano de ter e controlar suas moedas próprias. Caso todos os países do mundo

usassem a mesma moeda, o mercado de câmbio não existiria.

• Mercado de Derivativos

Sua principal característica é a negociação das commodities2, e suas transações são

negociadas no futuro. Conforme o exemplo do artigo da Você S/A (2009), imagine um

produtor de café. Ele sabe qual o custo de produção e o preço da saca no momento em que

começa o plantio, mas não sabe qual será o valor do café quando for comercializá-lo. Ao

vender sua produção no mercado futuro, assegura um preço e se protege de uma possível

queda nas cotações lá na frente, quando colher o produto.

• Mercado de Fundos de Investimentos

Os fundos de investimento são “condomínios”, abertos ou fechados, que possibilitam

aos seus cotistas a oportunidade de, em conjunto, investirem no mercado de capitais - de

renda fixa e/ou variável - e mercados estruturados aos quais, individualmente, teriam pouco

ou nenhum acesso. Os fundos conferem ao investidor melhores condições de remuneração no

mercado, devido à administração profissional e por lidarem com volume de recursos

extremamente expressivos.

1.1.3. A história do mercado de capitais no Brasil.

De acordo com o site oficial da CVM (2009), a história do mercado de capitais no

Brasil segue conforme abaixo.

Antes da década de 60 os brasileiros investiam principalmente em ativos reais

(imóveis), evitando aplicações em títulos públicos ou privados.

2 Commodities: Conforme explica a BM&FBOVESPA (2008), commodities é uma expressão atribuída aos bens comerciáveis. São produtos em estado bruto ou com um grau muito pequeno de industrialização, produzidos em escala mundial e de grande importância econômica internacional porque são amplamente negociados entre importadores e exportadores. O que torna as commodities muito importantes na economia é o fato de que, embora sejam mercadorias primárias, possuem cotação e negociação globais.

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A partir de 1964, o Governo, que havia acabado de assumir a presidência, iniciou um

programa de grandes reformas na economia nacional, dentre as quais figurava a reestruturação

do mercado financeiro quando diversas novas leis foram editadas. Dentre essas várias leis,

umas das principais foi a lei da reforma bancária, que criou o Conselho Monetário Nacional e

o Banco Central, e, principalmente, a lei nº 4.478, primeira lei de Mercado de Capitais, que

disciplinou e estabeleceu medidas para o seu desenvolvimento.

Esse governo criou um incentivo aos contribuintes do imposto de renda, onde os

mesmos poderiam utilizar parte do imposto devido, na Declaração do Imposto de Renda, para

aquisição de ações de companhias abertas.

Devido a esse incentivo, e o grande volume de recursos carreados para o mercado

acionário, houve um rápido crescimento da demanda por ações pelos investidores, porém, sem

que houvesse aumento simultâneo de novas emissões de ações pelas empresas. Isto

desencadeou um “boom” da Bolsa do Rio de Janeiro quando, entre 1970 e 1971 houve uma

forte onda especulativa e as cotações das ações não pararam de subir.

Em 1971, visando o lucro, os proprietários dessas ações começaram a vender as

mesmas, e esse quadro foi se agravando quando novas emissões começaram a chegar às

bolsas, aumentando a oferta, porém, com baixa procura.

Esse movimento especulativo, conhecido como “boom de 1971”, teve curta duração,

mas suas conseqüências foram de vários anos de mercado retraído.

Por volta de 1975, o governo criou novos incentivos para reanimar o mercado e

também regulamentou novas leis, dentre elas a segunda Lei do Mercado de Capitais, e criou a

CVM – Comissão de Valores Mobiliários.

Mesmo com esses incentivos, o mercado não teve o crescimento esperado, mesmo

com o aumento da quantidade de companhias que abriram seu capital e um volume razoável

de recursos capitados pelas empresas.

A partir da década de 1990, com a aceleração do movimento de abertura da economia

brasileira, aumentam o volume de investidores estrangeiros no mercado nacional, e também

algumas empresas brasileiras começaram a listar suas ações nas bolsas estrangeiras. Isso

exigiu que essas empresas seguissem regras impostas pelo órgão regulamentador do mercado

de capitais norte-americano, e essas regras eram chamadas de “princípios da governança

corporativa”.

Com essa abertura, as empresas começaram a ter contato com acionistas mais

exigentes, e com o passar do tempo, o mercado passou a perder espaço para outros mercados

devido à falta de proteção aos acionistas minoritários, pois não havia uma cultura nem regras

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para as empresas brasileiras divulgarem seus demonstrativos financeiros e também a falta de

instrumentos de fiscalização dessas empresas.

Pensando nisso, algumas iniciativas governamentais foram implementadas com o

objetivo de revitalizar o mercado brasileiro de capitais. Destacam-se entre elas a criação do

Novo Mercado e os níveis 1 e 2 de Governança Corporativa, pela BM&FBOVESPA.

1.1.4. Comissão de Valores Mobiliários - CVM

Conforme explica a própria Comissão de Valores Mobiliários – CVM (2009) em seu

site oficial, ela é uma autarquia especial, vinculada ao Ministério da Fazenda, com a

responsabilidade de disciplinar, fiscalizar, normatizar e promover o mercado de valores

mobiliários, de modo a assegurar o exercício de práticas justas e coibir qualquer tipo de

irregularidade.

A CVM também é responsável por desenvolver estudos e pesquisas através dos quais

ela pode obter elementos necessários para definição de políticas e iniciativas capazes de

promover o desenvolvimento do mercado. Ela poderá examinar registros contábeis, livros e

documentos de pessoas ou empresas sujeitas à sua fiscalização. Também poderá requisitar

informações de órgãos públicos, determinar às companhias abertas a republicação de

demonstrações financeiras e dados diversos, e também apurar infrações mediante inquéritos

administrativos e aplicar penalidades.

Em resumo, a CVM tem como principal função garantir a segurança aos investidores

do mercado de capitais.

1.2. Bolsa de Valores

De acordo com o site Portal do Investidor (2009), bolsas de valores são instituições

administradoras de mercados, centros de negociação de valores mobiliários que utilizam

sistemas eletrônicos de negociação para efetuar compras e vendas desses valores.

Atualmente, em nosso país, as bolsas são organizadas sob formas de sociedade por

ações, reguladas e fiscalizadas pela CVM. No Brasil, a BM&FBOVESPA é a principal bolsa

de valores – Bolsa de valores, Mercadorias e Futuros, administrando mercados de bolsa e de

balcão.

Em países onde existem bolsas de valores bem estruturadas, transparentes e líquidas,

os mercados de ações são mais eficientes. Neste contexto, a bolsa pode levar alguns

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benefícios a todos os indivíduos da sociedade, tais como, levantar capital para as organizações

através de venda de ações, criando oportunidades de investimentos para os pequenos

investidores, pois são abertos a quaisquer indivíduos.

Conforme é explicado no site Portal do Investidor (2009), a principal função de uma

bolsa de valores é proporcionar um ambiente transparente e líquido, adequado à realização de

negócios com valores mobiliários, e somente através das sociedades corretoras, os

investidores têm acesso aos sistemas de negociação para efetuarem suas transações de compra

e venda desses valores.

1.2.1. Sociedades corretoras

Segundo Lagioia (2007), com a criação da Lei de Mercado de Capitais em 1965,

instituíram-se as sociedades corretoras, instituições financeiras membros da Bolsa de Valores,

constituídas sob a forma de sociedade anônima ou por cotas de responsabilidade limitada, e

estão sujeitas às normas do Conselho Monetário Nacional, Banco Central e CVM.

Segundo Lagioia, os objetivos principais das sociedades corretoras são:

• Operar com exclusividade nas bolsas de Valores com títulos e valores mobiliários de

negociações autorizadas.

• Comprar, vender e distribuir títulos e valores mobiliários por conta de terceiros.

• Formar e gerir, como líder ou participante, de consórcios para lançamentos públicos de

títulos de emissão de uma empresa, e ainda encarregar-se de sua distribuição e colocação no

mercado de capitais.

• Encarregar-se da administração de carteiras de valores, mediante critérios técnicos e

com a decisão de investir atribuída à corretora.

• Encarregar-se da custódia de títulos e valores mobiliários, através dos sistemas de

custódia das Bolsas, ou em custódia própria.

• Incumbir-se da transferência e da autenticação de endossos, desdobramentos de

cautelas, recebimento e pagamento de resgates, juros ou dividendos de títulos e valores

mobiliários.

• Exercer funções de agente fiduciário por ordem de terceiros.

• Instituir, organizar e administrar fundos mútuos de investimentos, bem como clube de

investimentos, destinados a coletar e aplicar numerários em títulos e valores mobiliários.

• Intermediar operações de câmbio.

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• Operar em open market3, desde que especificamente credenciada pelo Banco Central

do Brasil.

• Assessorar os clientes no processo de tomada de decisão, baseando-se em estudos

elaborados por seu departamento técnico.

Conforme explica a BM&FBOVESPA (2008), as sociedades corretoras são

instituições financeiras, devidamente credenciadas pelo Banco Central do Brasil, pela CVM e

pelas próprias bolsas, e estão habilitadas a negociar valores mobiliários em pregão. As

corretoras podem ser definidas como intermediárias especializadas na execução de ordens e

operações, por conta própria e determinadas por seus clientes, além da prestação de uma série

de serviços a investidores e empresas, tais como:

• Diretrizes para seleção de investimentos;

• Intermediação de operações de câmbio;

• Assessoria a empresas na abertura de capital, emissão de debêntures e debêntures

conversíveis em ações, renovação do registro de capital, etc.

As sociedades corretoras contribuem para um fundo de garantia mantido pelas bolsas

de valores, com o propósito de assegurar aos seus clientes eventual reposição de títulos e

valores negociados em pregão, e atender a outros casos previstos pela legislação. Elas são

fiscalizadas pelas bolsas de valores, representando a certeza de uma boa orientação e da

melhor execução dos negócios de seus investidores.

1.2.2. BM&FBOVESPA

Segundo o Portal do Investidor (2009), a BM&FBOVESPA foi fundada em maio de

2008, com a integração entre a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) e a BOVESPA. A

BOVESPA foi fundada em 23 de agosto de 1890 por Emílio Pestana, e ao longo do tempo ela

sofreu mudanças devido à reforma do sistema financeiro e do mercado de capitais,

implementada pelo governo entre 1965-1966. As bolsas de valores brasileiras eram entidades

oficiais corporativas, vinculadas às secretarias de finanças dos governos estaduais e

compostas por corretores nomeados pelo poder público.

Após as reformas, as bolsas assumiram a característica institucional que mantêm até

hoje, transformando-se em associações civis sem fins lucrativos, com autonomia

administrativa, financeira e patrimonial. A antiga figura individual do corretor de fundos

3 Open Market: por meio desse instrumento, o Banco Central de cada país regula o fluxo de moeda via compra e venda de títulos públicos federais (chamados de títulos da dívida pública).

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públicos foi substituída pela da sociedade corretora, empresa constituída sob a forma de

sociedade por ações nominativas ou por cotas de responsabilidade limitada.

Desde então as bolsas vem crescendo e se modernizando com novas tecnologias. Em

março de 1999, a BOVESPA lançou o Sistema Home Broker, um sistema que possibilita ao

investidor comprar e vender suas ações sem sair da sua casa (pela internet). O Home Broker

teve um grande sucesso no Brasil, pois possibilitou pequenos investidores entrarem no

mercado.

A principal razão de existir da Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) pode ser

expressa por uma palavra: Liquidez.

Financeiramente, um título mobiliário tem liquidez quando pode ser comprado ou

vendido, em questão de minutos, a um preço justo de mercado, determinado pelo exercício

natural das leis de oferta e demanda.

Para que isso aconteça, sua finalidade é manter um local e sistema de negociações

eletrônicos adequados ao encontro de seus membros e à realização de transação de compra e

venda de títulos e valores mobiliários, registrado na CVM, em mercado livre e aberto,

especialmente organizado e fiscalizado pelos seus membros, pela autoridade monetária e pela

própria CVM. A auto-regulação da Bolsa de Valores visa preservar elevados padrões éticos

de negociação, e divulgar as operações executadas com rapidez, amplitude e detalhes.

Conforme ainda é explicado no Portal do Investidor (2009), a BM&F – Bolsa de

Mercadorias & Futuros – é uma fusão entre duas bolsas. A primeira é a Bolsa de Mercadorias

de São Paulo – BMSP, que teve seu início em outubro de 1917 com empresários paulistas

ligados a exportação, comércio e agricultura, alcançando a tradição na negociação de

contratos agropecuários, particularmente café, boi gordo e algodão. Em 1985, surge a Bolsa

Mercantil & de Futuros, conquistando, em pouco tempo, as principais negociações de

commodities do mundo. Em 9 de Maio de 1991, as bolsas BM&F e BMSP resolveram fundir

suas atividades, aliando a tradição de uma e o dinamismo da outra, mantendo a sigla BM&F.

Hoje, a BM&FBOVESPA é o maior centro de negociações com ações da América

Latina. Responde por inúmeras iniciativas visando à qualidade dos serviços prestados aos

investidores e companhias listadas em seus pregões, e seu desempenho é comparável com as

bolsas das maiores praças financeiras mundiais.

1.2.3. Governança Corporativa

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Com a necessidade de novas regras que os protegessem dos abusos da diretoria

executiva das empresas, foi criada a Governança Corporativa, como abordado pelo IBGC

(Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) (2009) em seu site, é destacado que a

Governança Corporativa consiste em um sistema onde as organizações são dirigidas,

monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre proprietários, conselho de

administração, diretoria e órgãos de controle. As boas práticas de governança corporativa

convertem princípios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de

preservar e otimizar o valor da organização, facilitando seu acesso ao capital e contribuindo

para a sua longevidade.

Conforme explica o site da BM&FBOVESPA (2008), a Governança Corporativa é

segmentada em quatro categorias: Novo Mercado, Bovespa Mais, Nível 1 e Nível 2. Em todos

esses segmentos, o principal objetivo é atender as regras societárias, genericamente

conhecidas como “boas práticas de governança corporativa”, que são regras mais exigentes do

que as presentes na legislação brasileira. Para a empresa aderir a qualquer um desses

segmentos, deve ser formalizado por meio de um contrato, assinado pela BM&FBOVESPA,

pela companhia, seus administradores, conselheiros fiscais e controladores.

1.3. Ações

Segundo Lagioia (2007), ações são títulos de renda variável, nominativos4 e

negociáveis que representam a menor fração do capital social de uma Sociedade Anônima.

Quando uma empresa tem seu capital aberto, o seu patrimônio é dividido em diversas cotas,

essas cotas são as chamadas ações. Conforme a BM&FBOVESPA (2008), uma ação é um

pedacinho da empresa. Com um ou mais pedacinhos da empresa, você se torna sócio dela.

1.3.1. Tipos de ações

As ações podem ser basicamente divididas em dois segmentos: Ordinárias e

Preferenciais. O que as diferenciam são basicamente os direitos que concedem a seus

acionistas.

• Ordinárias (ON): Conforme explica o artigo no site Mundo Trade (2009), ações

ordinárias são os tipos de ações que permitem ao titular os direitos essenciais do acionista,

4 Títulos Nominativos são emissões sob a forma física de cautelas ou certificados, que comprovam a existência e a posse de certa quantidade especificada de ações.

Page 21: mercado capitais

15

incluindo o direito de participar dos resultados da empresa. Em assembléias que definem os

rumos dos negócios, o possuidor de uma ação ordinária tem direito a voto, e cada ação

representa um voto. Por lei, o acionista que possui uma ação ordinária tem o direito de vender

esta ação para o controlador por, no mínimo, 80% do valor pago.

• Preferenciais (PN): Conforme explica a BM&FBOVESPA (2008), ações preferenciais

são ações que não concedem ao titular o direto ao voto ou os restringem de alguma forma,

mas que oferecem a prioridade na distribuição de dividendo, fixo ou mínimo. Em caso de

liquidação da empresa, oferecem preferência no recebimento de resultados ou no reembolso

do capital.

1.4. Por que e como investir

Conforme Lagioia (2007) ações podem ser compradas com a finalidade de gerar

dividendos (renda), valorização (aumento do valor a médio e longo prazo), ou como

instrumento de especulação (comprar e vender ações em curto prazo).

Segundo a BM&FBOVESPA (2008), para escolher as ações, o investidor deve

ponderar três critérios: liquidez (facilidade de vender a ação quando quiser resgatar), retorno

(possibilidade de ganhos) e risco (possíveis perdas). A combinação desses três elementos, a

critério do investidor, definirá em quais ações aplicar.

Existem três formas de investir em ações: Individualmente, Clubes de Investimento e

Fundos de Investimentos. Todas são acompanhadas por uma Corretora de Valores.

• Individualmente: Onde o investidor procura uma corretora e contrata seus serviços.

Em seguida, com a assessoria dos profissionais da corretora, o investidor escolhe as ações que

deseja adquirir e transmite a ordem de compra diretamente para a corretora.

• Clubes de Investimento: Um grupo de pessoas físicas se reúne e procura uma corretora

para constituir um Clube de Investimentos. Nesse caso, existe um representante do clube, que

fica em contato com a corretora para transmitir as decisões acordadas entre os participantes.

• Fundos de Investimentos: O investidor compra cotas de um fundo de ações,

administrado por uma corretora de valores, ou um Banco ou um Gestor de Recursos

independente, autorizado pela CVM.

1.4.1. Direitos básicos e específicos de um investidor

Page 22: mercado capitais

16

Conforme explica a BM&FBOVESPA (2008), a negociação de um ativo implica na

distribuição de um direito (ou provento), que pode ser em forma de juros, dividendos,

bonificação, subscrição, grupamento e desdobramento.

Lagioia (2007) descreve os direitos da seguinte forma:

• Juros sobre o capital próprio: forma de remuneração ao acionista, calculado sobre o

patrimônio líquido da empresa, e limitado à variação da taxa de juros de longo prazo.

• Dividendos: valor distribuído ao acionista como participação nos resultados da

companhia. O acionista tem direito de receber como dividendo obrigatório, referente a cada

exercício, a parcela dos lucros estabelecida no estatuto.

• Bonificação em dinheiro: distribuição aos acionistas de valor em dinheiro, referente

aos resultados da empresa, retidos como reservas, até então não incorporadas ao capital e

distribuídas posteriormente.

• Subscrição: em épocas de aumento de capital, por subscrição, a companhia pode emitir

bônus de subscrição, título negociável cujo volume é limitado ao valor do aumento de capital,

e que dá ao seu proprietário o direito de subscrever ações.

• Grupamento ou inplit: é a redução da quantidade de ações em circulação, sem

alteração do capital social da empresa. Em conseqüência, há uma elevação do valor unitário

das ações.

• Desdobramento ou split: distribuição gratuita de novas ações aos acionistas, pela

diluição do capital em maior número de ações, com o objetivo de dar liquidez aos títulos no

mercado.

1.4.2. Como acompanhar os investimentos

Conforme orientado pelo site da BM&FBOVESPA (2008), os investimentos podem

ser acompanhados no próprio site, no item "Informações do Pregão", que mostra o andamento

dos negócios no dia e a evolução do Ibovespa (índice Bovespa que acompanha a evolução

média das cotações das ações), ou através do “Pregão em Andamento”, que demonstra os

preços dos ativos (com atualização de 15 em 15 minutos). É possível ver em gráficos as

informações, e ainda acompanhar outras informações sobre o pregão durante a realização dos

negócios.

Page 23: mercado capitais

17

1.5. Fechamento de Capital

Conforme explica a revista Administrador (2008), por questões estratégicas, a

companhia pode, por iniciativa de seu controlador ou de sua administração, optar pela

interrupção da negociação de seus valores mobiliários no mercado, mediante cancelamento de

seu registro como companhia aberta.

O cancelamento do registro somente será aceito pela CVM caso a empresa faça uma

oferta pública de aquisição de ações, conhecidas como OPA. É imprescindível que a decisão

de promover uma OPA seja precedida de uma avaliação cuidadosa do que realmente se

pretende com o fechamento do capital.

Conforme explica a CVM (2009), o fechamento de capital só poderá ocorrer se houver

uma Assembléia Geral Extraordinária, e a maioria dos acionistas (com ou sem direito a voto)

aprovarem. Essa aprovação é feita se, pelos menos, 67% dos acionistas aceitarem vender suas

ações.

1.5.1. Por que decidir pelo fechamento

No artigo “Por que as empresas abrem o capital”, publicado na revista Administrador

(2008), foi citado o exemplo da empresa GOL, de transporte aéreo.

O artigo especifica que, em termos de valor de mercado, a GOL perdeu R$ 5 bilhões

em apenas um ano (2006 para 2007), devido a uma crise aérea. Por questões estratégicas, seus

administradores optaram por recomprar as ações da empresa, uma vez que as mesmas se

encontravam em baixa. A outra estratégia seria abrir o capital novamente após a passagem da

crise, e assim não ter um prejuízo tão grande. O problema é que essa manobra é arriscada,

pois, para isso, iriam emprestar o dinheiro em instituições financeiras (cerca de R$ 2 bilhões)

para fazer a recompra das ações, e se a crise perdurasse, ou mesmo aumentasse, a dívida

poderia se tornar impagável.

O artigo também explica que a abertura e o conseqüente fechamento do capital é um

fato novo no Brasil, porém, nos Estados Unidos, essa prática é mais antiga e comum.

Conforme ainda explica o artigo, outros motivos que levam a essa decisão são os

conflitos entre executivos e acionistas, principalmente em empresas no qual o controle é feito

por muitos administradores, e as decisões dos mesmos costumam ser contrárias aos interesses

Page 24: mercado capitais

18

dos investidores. Essas contradições costumam contribuir para manter baixo o valor das

ações.

Portanto, tendo em vista os pontos apresentados, se o empresário analisar que a

abertura do capital de sua organização seria interessante, é fundamental que o mesmo se intere

sobre os procedimentos de abertura, os possíveis riscos e benefícios, custos envolvidos,

empresas que obtiveram sucesso ou fracasso, e esses assuntos podem ser vistos no capítulo

seguinte.

Page 25: mercado capitais

19

2. O processo de abertura de capital

Conforme explica a BM&FBOVESPA (2008), a abertura de capital é a oferta pública

de uma parcela da companhia que passará a ter ações negociadas em mercado, e distribuídas

entre outros acionistas através da distribuição primária ou secundária de ações. A abertura de

capital proporciona à empresa recursos a custos mais baratos do que a captação de

financiamentos bancários, faz com que a marca da empresa se fortaleça junto ao mercado e

ainda reforça critérios de governança corporativa. O maior atrativo do mercado de capitais

ainda é o custo do dinheiro. Hoje, o juro médio de um empréstimo bancário para a empresa

que fatura cerca de 300 milhões de reais no Brasil gira em torno de 30% ao ano. O

lançamento de ações, mesmo considerando-se o custo de emissão, o pagamento de auditorias

para examinar balanços e a manutenção de uma área de relações com investidores, fica bem

abaixo disso.

Abrindo o capital, a empresa necessita ser mais transparente. Neste momento, é

iniciado o processo de profissionalização que aumenta a eficiência administrativa, criando

uma imagem de empresa competente, que possui boa administração e conseqüentemente

presta bons serviços, com isso abrindo novos horizontes para o desenvolvimento da

companhia.

No guia da BM&FBOVESPA (2008), o empresário Paulo Bellini, sócio da empresa

Marcopolo, explica que em 1978, quando fez a abertura de capital, a empresa produzia, em

média, três mil ônibus por ano, e atualmente, produz 15 mil ao ano, e esse crescimento só foi

possível graças à participação dos acionistas, e, além do crescimento, conseguiu passar por

todos os planos econômicos dos diversos governos que passaram por esse período.

A revista Exame (2006) publicou uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de

Relação com Investidores – IBRI (2009) - envolvendo os 34 principais executivos de Relação

com os Investidores (RI) de companhias que abriram o capital nos últimos quatro anos, e

dentre os vários temas pesquisados, denota-se que 79,4% dos entrevistados declaram que a

principal razão que levou a empresa a abrir o capital foi à necessidade de capitação de

recursos para a ampliação dos negócios.

2.1. Antes da abertura

Page 26: mercado capitais

20

Conforme explica o manual da BM&FBOVESPA (2008), antes da abertura deve ser

feita à análise de conveniência, que precede qualquer outra etapa e é crucial na definição de

continuar ou não com o processo de abertura de capital. É nessa fase que será necessário

analisar os custos, vantagens e desvantagens, além de também analisar se a empresa possui

um perfil adequado. Normalmente essa analise é conduzida por profissionais da própria

empresa que irão dedicar um tempo nesse processo ou por uma consultoria externa.

2.1.1. Vantagens e desvantagens

Na matéria da revista Exame “O Brasil descobre a bolsa” (Março/2006), há um quadro

explicando resumidamente as vantagens e desvantagens de se abrir o capital, que segue:

Vantagens Desvantagens

• Funciona como uma opção de financiamento da

companhia, mais barata que empréstimos.

• Os custos para manter uma empresa aberta

podem ultrapassar um milhão de dólares por

ano.

• Torna públicos os resultados da empresa, o que

leva seus executivos a ficar constantemente

atentos a seu desempenho.

• Os concorrentes têm acesso a muito mais

informações sobre a companhia, o que pode

acirrar a competição.

• A troca de informações com o mercado ajuda

os executivos a refletir sobre as decisões

estratégicas tomadas na companhia.

• A pressão dos investidores por resultados

trimestrais pode atrapalhar os planos em

longo prazo.

Quadro 1. Vantagens e desvantagens da bolsa de valores Fonte: Exame (Março/2006)

Além desses pontos citados no artigo, existem outros, conforme explica o manual da

BM&FBOVESPA (2008), que são:

Vantagens Desvantagens

• Imagem institucional

• Novo relacionamento com funcionários

• Profissionalização

• Liquidez patrimonial

• Reestruturação societária

• Reestruturação de passivos

• Captação de recursos para investidores

• Auditoria externa

• Necessidade de debater a estratégia

• Distribuição de resultados aos novos

acionistas

• Conselho de administração e fiscal

• Custos legais e administrativos

• Transparência juntos aos investidores

Quadro 2. Vantagens e desvantagens da bolsa de valores Fonte: BM&FBOVESPA (2008)

Page 27: mercado capitais

21

No manual de abertura de capital da BM&FBOVESPA (2008), é explicado,

especificamente para a vantagem da abertura, que não existe uma resposta única, uma vez que

as realidades das empresas diferem muito entre si. Muitas vezes uma mesma empresa realiza

diversas colocações de ações ao longo de sua vida como companhia aberta, tendo cada uma

dessas vendas um objetivo especifico.

Porém, tanto nesse mesmo manual quanto na revista Exame (Março/2006), o que

ambos deixam bem claro é que, sem dúvida, a vantagem mais comum é o acesso a recursos

para financiar projetos e investimentos, e que a abertura de capital representa uma

excepcional redução de riscos para a empresa, pois os recursos dos sócios investidores, da

mesma forma que o dinheiro que o empresário colocou no empreendimento, não tem prazo de

amortização ou resgate.

Outra vantagem também explicada pelo manual da BM&FBOVESPA (2008) é a

utilização das ações como forma de pagamento de aquisições, que se torna uma alternativa de

crescimento a ser considerada por empresas de diversos setores. As razões para uma empresa

optar em adquirir outra são várias, como por exemplo, a obtenção de ganho de escala,

diversificação e complementação de linhas de produtos, clientes e regiões de atuação ou

mesmo a oportunidade como concorrentes mal administrados.

Segundo explica José Gerdau, no manual da BM&FBOVESPA (2008), existem vários

aspectos altamente benéficos quando uma empresa abre o capital. Ele diz que, obviamente,

tem suas responsabilidades, seus custos, mas a relação da empresa se modifica completamente

porque se cria uma responsabilidade do empresário, não em relação apenas a seus

colaboradores, seus familiares ou fundadores, mas ele passa a ter uma responsabilidade com

os acionistas externos. Assim, automaticamente, começa a ter obrigação de fazer relatórios e

prestar contas. Essa atitude de ter de trabalhar prestando contas ao seu investidor, que confiou

na empresa, começa a estabelecer toda uma profissionalização nas relações internas e

externas, que modifica completamente a vida da empresa. A construção de uma companhia de

capital aberto possibilita esse desenvolvimento global que as empresas precisam ter.

Por outro lado, o artigo da revista Exame (2006) toma como exemplo o caso da

empresa Gol, de transporte aéreo. Devido ao fato dos investidores exigirem transparência para

analisar a estratégia e os números da companhia, essa transparência significou entregar

informações valiosas aos concorrentes. Antes da mesma se tornar uma companhia aberta, sua

maior vantagem competitiva era a estrutura de custos, e seus concorrentes não conseguiam

identificar como ela conseguia operar de forma tão enxuta, e essa diferença chegava a ser de

30% da sua principal concorrente, a TAM. Desde que abriu o capital, em 2004, a Gol é

Page 28: mercado capitais

22

obrigada a divulgar de onde vem boa parte dessa eficiência, e isso tem mostrado a TAM quais

são os pontos mais importantes a atacar, e a diferença de custos caiu para apenas 15% até

2006, ano da reportagem. Richard Lark, vice-presidente financeiro da Gol, diz que acabaram

perdendo a privacidade.

Ainda na mesma reportagem da Exame (2006), é explicado que, além da interferência

na administração e da dificuldade em manter suas informações em segredo, a empresa está

sujeita a outros efeitos colaterais potencialmente perturbadores. Sua capacidade de lidar com

analistas, oferecer projeções confiáveis e responder rapidamente a crises passa a ser testada

ininterruptamente, e falhas nesses três quesitos podem trazer conseqüências dramáticas.

Em seu livro, Lagioia (2007) exemplifica que, se for observado o desenvolvimento das

grandes corporações, observa-se que poucas se apoiaram em idéias ou talentos isolados,

produtos inéditos ou transações espetaculares. Ao contrário, o sucesso das mesmas foram,

normalmente, frutos dos esforços diários e coletivos, orientação para o mercado e percepção

dos momentos apropriados para mudanças da natureza societária e patrimonial. Olhando o

passado, observa-se que o processo de abertura de capitais de muitas empresas no Brasil

representou uma alavanca fundamental do seu crescimento e lhes permitiu aceitar o grande

desafio que foi imposto pelo desenvolvimento da economia brasileira. Lagioia (2007) ainda

explica que a empresa que já abriu o seu capital tem uma enorme vantagem sobre as demais,

em especial num país como o Brasil, onde, em certas épocas, o custo do dinheiro emprestado

pelos bancos atinge índices extremamente elevados.

Conforme ainda explica Lagioia (2007), a análise sobre a conveniência da abertura de

capital deve ser discutida amplamente pelos sócios e diretoria, a fim de se julgar a aplicação,

importância, metas da empresa, análise do posicionamento estratégico atual, planos de

investimento, predisposição ao cumprimento dos requisitos de uma companhia aberta

(exemplo, transparência), questões societárias e familiares, questões favoráveis no contexto

político-econômico e o mercado de capitais naquele momento.

2.1.2. Avaliação do processo de gestão da empresa

Após a abertura de capital, a empresa passa a ser avaliada constantemente pelos

investidores, conforme foi explicado no manual da BM&FBOVESPA (2008). A cotação das

suas ações no mercado acionário é um indicador do seu valor, pois significa um equilíbrio

entre as percepções de muitos investidores, refletindo as expectativas a respeito do futuro da

companhia, além de que os gestores também poderão utilizar o mercado como ferramenta de

Page 29: mercado capitais

23

avaliação de suas principais decisões, pois estratégias corporativas percebidas negativamente

pelos investidores reduzem o preço das suas ações.

Lagioia (2007) explica que a sociedade anônima de capital aberto permite uma

interação muito maior com seus funcionários, consumidores e determinados segmentos da

sociedade que poderão vir a ser acionistas. Uma das maneiras de consolidar a abertura do

capital é a de estimular a participação dos executivos, funcionários e trabalhadores no capital

da empresa em que trabalham. Administrativamente, a companhia aberta tem maiores

desafios à eficiência do que a companhia fechada, pois a mesma se posiciona num contexto

em que o objetivo da maximização dos resultados passa a ser uma bússola a orientar toda a

sua gestão, e tal desafio a obriga buscar os melhores profissionais e a melhor tecnologia. Ela

explica que existe também o lado de que as decisões de investimento ou processos de

adaptação à realidade são analisadas segundo a perspectiva do acionista, ou seja, o quanto

aquilo irá beneficiar o mesmo.

2.1.3. Custos envolvidos

Conforme explica o manual da BM&FBOVESPA (2008), os gastos com o processo de

abertura de capital podem variar de empresa para empresa. Normalmente envolvem despesas

com a contratação de auditoria externa, preparação da documentação, publicações gerais,

confecção de prospectos, comissão do intermediário financeiro e processo de marketing da

distribuição, além do tempo do pessoal interno envolvido na operação. É possível também

que se queira contratar uma empresa de consultoria, que auxiliará na definição do plano de

abertura de capital, na organização interna da empresa e na avaliação preliminar da

companhia, e que, também, pode ser o caso de contar com uma consultoria jurídica

especializada, que orientará a empresa a respeito dos procedimentos legais.

Consequentemente, o montante de despesas vai depender da complexidade da empresa e do

seu grau atual de organização, como, por exemplo, a companhia pode ter um gasto adicional

muito menor caso a documentação e as informações a serem prestadas já estejam organizadas

e adaptadas, ou caso disponha de um departamento jurídico próprio capacitado.

Lagioia (2007) apresenta uma pesquisa realizada no último trimestre de 2004 e

divulgada pela Bovespa referente aos custos da abertura de capital. Esses custos são divididos

em duas etapas, sendo os referentes ao processo de abertura e outro a manutenção da

companhia aberta.

O quadro 3 apresenta uma tabela de exemplo dos custos da abertura de capital:

Page 30: mercado capitais

24

Discriminação Valor

Serviços legais R$ 230.000,00

Auditoria inicial R$ 180.000,00

Publicação da emissão R$ 62.000,00

Taxa de registro – CVM R$ 83.000,00

Apresentações aos investidores R$ 20.000,00

Prospecto da emissão R$ 30.000,00

Gastos diversos R$ 40.000,00

Total R$ 642.000,00

Quadro 3. Simulação dos custos de uma emissão pública de ações para uma empresa. Fonte: Lagioia (2007, pág. 98)

O quadro 4 demonstra os valores inerentes a manutenção da companhia aberta:

Discriminação Valor

Auditorias R$ 200.000,00

Publicações R$ 114.000,00

Área de relações com investidores R$ 136.000,00

Apresentações ao mercado R$ 20.000,00

Anuidade da Bovespa R$ 14.000,00

Taxa anual da CVM R$ 13.000,00

Escrituração das ações R$ 30.000,00

Diversos R$ 10.000,00

Total R$ 537.000,00

Quadro 4. Simulação dos custos para manutenção de uma empresa. Fonte: Lagioia (2007, pág. 101) 2.2. Preparação

De acordo com o guia “Como e por que tornar-se uma Companhia Aberta” do site da

BM&FBOVESPA (2008), o processo de abertura do capital varia de empresa para empresa.

Normalmente exige contratação de auditoria, publicações legais, confecção do prospecto e

processo de marketing.

Não existe um padrão para a abertura e o processo junto a CVM e BM&FBOVESPA

não é longo. A mesma documentação entregue a CVM é entregue a BM&FBOVESPA o qual

tem 30 dias para avaliar. Pode ocorrer que a mesma interrompa este prazo para solicitar

esclarecimentos ou complementação de informações e documentos.

Page 31: mercado capitais

25

É importante que essa preparação aconteça com alguma antecedência, pois algumas

das questões acima citadas podem consumir muito tempo tais como, adequação do sistema

contábil e auditoria das demonstrações financeiras.

Na pesquisa feita pela IBRI, na revista Exame (Dez/2007), a mesma publicou que dos

34 dos principais executivos de Relação com os Investidores, das empresas que realizaram a

abertura de capital nos últimos quatro anos, revela que 78,8 % das empresas que realizaram

este processo, levaram menos de um ano entre a decisão de fazer o IPO e a emissão de títulos.

2.2.1. Registro na Comissão de Valores Imobiliários

Segundo o site da CVM (2009), a sistemática de registro exige elementos mínimos de

informações onde os investidores possam tomar decisões adequadas. Informações como

volumes, preços, formas e locais de colocação, comissões de intermediações e agentes. Estas

informações servem também como proteção aos mesmos, através da verificação da

legitimidade da emissão de valores mobiliários e da legalidade dos atos societários e legais

que deram origem.

Este processo é normatizado pela Lei 6.404 e pela Instrução CVM 202, e Fortuna

(2004) descrevem as seguintes etapas:

a) Nomeação do Diretor de Relações com o Mercado, também conhecido como Diretor

de Relações com os Investidores (R.I.). Este é eleito pelo Conselho Administrativo ou por

assembléia geral. Este Diretor tem a responsabilidade de prestar informações à CVM e aos

investidos.

b) Contratação de auditores, estes devem ser credenciados pela CVM, são responsáveis

por auditar anualmente as demonstrações financeiras, e apresentar seu parecer da saúde

financeira da empresa. Esta contratação da à empresa uma maior segurança e confiabilidade,

além de estar cumprindo umas das exigências.

Segundo Lagioia (2007) a razão para esta contratação, é que auditores externos

possuem imparcialidade e a independência necessária para verificar as demonstrações

elaboradas pela empresa. Este avalia criteriosamente os processos e procedimentos das

diversas áreas da empresa dando plena garantia ao consumidor e, caso tenha alguma

inconsistência, o mesmo deve informar a CVM.

Fortuna (2004) lista os seguintes documentos que deverão ser entregues à CVM:

Page 32: mercado capitais

26

• Ata de reunião do Conselho Administrativo ou da assembléia geral extraordinária,

onde foi nomeado o Diretor de Relações com o Mercado.

• Requerimento assinado pelo Diretor de Relações com o Mercado, informando as

características da distribuição de valores mobiliários ou, a dispersão acionária atual5.

• Declaração da Bolsa de Valores onde serão negociados os títulos, informando que

aprovará o registro da empresa para negociação, caso a mesma seja aprovada pela CVM.

• Cópia do novo estatuto da empresa.

• Cópia das Demonstrações financeiras e notas explicativas dos três últimos exercícios

sociais.

• Cópia das Demonstrações financeiras dos três últimos exercícios sociais.

• Relatório da Administração referente ao último exercício social.

• Parecer do Auditor independente.

• Atas de todas as assembléias gerais realizadas nos 12 meses anteriores.

• Cópia por fax dos certificados dos valores mobiliários emitidos pela companhia, ou

cópia do contrato de serviço de ações escriturais.

• Formulário de Demonstrações Financeiras Personalizadas – DPF.

• Formulário de Informações Trimestrais – ITR.

Com esta documentação entregue, a CVM tem o prazo de 30 dias para análise e

registro. Este prazo pode ser interrompido caso seja necessário documentos ou informações

adicionais. Não havendo nenhuma manifestação contraria, o mesmo está registrado.

2.2.2. Marketing da empresa junto aos investidores

Uma das principais funções de marketing, segundo Kotler e Armstrong (2007), é a de

atrair novos clientes.

O papel do marketing na abertura do capital de uma organização é atrair potenciais

investidores através de ferramentas de marketing. Segundo Lagioia (2007), o coordenador

procura potenciais investidores, produzindo e divulgando materiais publicitários, sintetizando

informações do prospecto2, organizando visitas à empresa de potenciais investidores, e de

5 Lista nominal dos acionistas e respectivas quantidades de ações, conforme explica Kotler e Armstrong (2007). 2 Folhetos que contém informações sobre a oferta ou lançamento de títulos de uma empresa, exigido pela CVM. Deve conter informações completas sobre a situação e as perspectivas da emissora, bem como sobre a natureza dos títulos que estão sendo oferecido, conforme Lagioia (2007).

Page 33: mercado capitais

27

reuniões e relacionamento com a Associação dos Analistas de Mercados de Capitais

(ABAMEC) na sede da empresa.

Este trabalho é uma forma de agilizar a distribuição pública, quando esta for deferida

pela CVM.

Empresas como Natura e Cosan obterão sucesso na abertura do capital graças ao

trabalho de marketing junto aos investidores, como relata matéria da revista Exame (2006).

2.2.3. Departamento de relação com os investidores

Em material divulgado pelo site do IBRI, Instituto Brasileiro de Relação com os

Investidores, é definido a Área de Relação com Investidores como estratégia de marketing

corporativo, onde se cria interações com as áreas de finanças, marketing, contabilidade e

planejamento, dispondo de informações que possibilitem investidores avaliarem o

desempenho atual e perspectivo da companhia.

O superintendente de R.I. do Banco Itaú, eleito o melhor profissional de R.I. pela

ABAMEC, em entrevista à Revista Exame (2006), relata que a área de R.I. usa de várias

formas de comunicação para levar essas informações aos investidores, tais como telefone, e-

mail, fax, reuniões abertas, atendimentos individuais, cartas etc. Existem também algumas

ferramentas para interagir com o mercado, podendo produzir relatórios anuais, trimestrais,

publicações de demonstrações financeiras e fatos relevantes em impressos, jornais, e nas

grandes empresas, com próprio site de RI.

A figura abaixo, divulgada pelo site do IBRI, Instituto Brasileiro de Relação com os

Investidores (2009), demonstra como funciona a Área de RI.

Coletar, Analisar, sintetizar e Uniformizar informações

internas

Áreas da Empresa

Disseminar informações Transparentes Democráticas Tempestivas acessíveis

Analistas Acionistas Investidores

Mídia Reguladores

RI

Empresa Mercado

Retro alimentação

Figura 2. Atuação da área de R.I. Fonte: IBRI (2009)

Page 34: mercado capitais

28

2.3. Abertura do capital

Após a análise de conveniência, a decisão pela abertura do capital, e a preparação de

todo o processo de registro na CVM e BM&FBOVESPA, a empresa está apta a negociar suas

ações na bolsa de valores.

2.3.1. Emissão de ações

Conforme explica o manual da BM&FBOVESPA (2008), após a abertura de capital,

há o lançamento de ações no mercado. O primeiro lançamento de ações é chamado de Oferta

Pública Inicial (também conhecido pela sigla em inglês IPO – Initial Public Offer), que é feita

no mercado primário, onde a empresa capta os novos recursos. Após essa oferta inicial, a

empresa terá suas ações negociadas no mercado secundário, ou seja, os pregões das bolsas de

valores, que proporcionam liquidez aos empreendedores, num processo em que o capital da

empresa permanece o mesmo. Caso a empresa opte por realizar uma nova oferta publica de

ações, processo conhecido como Follow on, este deverá ser feito no mercado primário.

2.3.2. O dia seguinte

Segundo matéria da revista EXAME (2006), o dia da abertura do capital de uma

empresa na bolsa de valores é um rito de passagem em que, uma companhia normalmente

erguida pelo instinto empreendedor, entra no seleto clube de empresas listada em bolsa, o que

lhes confere uma espécie de maturidade. É quase sempre um dia eufórico, onde a empresa

muda, e muda para sempre.

A companhia deve estar preparada para o dia seguinte, onde haverá a multiplicação de

donos e, sendo assim, deixa de responder a vontade de seu fundador para responder aos

desejos dos fundos de investimentos, rumores do mercado e dúvidas de analistas, que exigem

transparência para analisar estratégias e números da empresa. Por outro lado, se tudo dá certo,

a empresa levanta recursos para financiar seu crescimento e, seus controladores e investidores

terminam a sessão mais ricos do que começaram.

O diretor-geral do UOL, Marcelo Epperlei, no artigo da revista Exame (2006) diz que

usa cerca de 25% do seu tempo em reuniões com investidores nacionais e estrangeiros e

acompanha a cotação das ações o tempo todo.

Page 35: mercado capitais

29

Ainda no artigo da revista Exame (2006), é explicado que a multiplicação dos donos,

apesar de diminuir a autonomia dos executivos, traz um efeito positivo, pois o fato de ter que

prestar contas a inúmeros investidores obriga uma companhia aberta a ser mais cautelosa e a

trocar informações com pessoas que podem ajudar a definir seus movimentos. Rodolfo

Riechert, diretor do banco Pactual, diz que o mercado faz com que os executivos reflitam

sobre as decisões estratégicas. Ainda no mesmo artigo, é explicado que para algumas

companhias, porém, o compartilhamento de informações é algo impensável. É citado o

exemplo da fabricante americana de chocolates Mars, uma das maiores do planeta, que

prefere manter-se fechada a revelar seus segredos.

2.4. O mercado de capitais no segmento de Tecnologia da Informação

No portal Investidor Informado (2009), em matéria publicada em 1º de Outubro de

2008, a reportagem, baseada no Jornal Valor Econômico, explica que as empresas do setor de

tecnologia da informação vêm se mostrando mais empenhadas em fazer do mercado de

capitais um passo positivo e definitivo para a sua consolidação. Na época da reportagem, ao

menos oito empresas do segmento estavam ajustando suas operações com o propósito de

estrear na BM&FBOVESPA ao longo de 2008, que são: Alog Data Center, CPM Braxis,

Grupo TBA, Locaweb, Politec, Senior Solution, Stefanini e Tivit.

Na mesma matéria, é explicado que em 2007, apenas uma empresa de tecnologia, a

Bematech, especializada em produtos de automação comercial, realizou a abertura de capital.

Dentre as empresas interessadas em abrir o capital, a reportagem dá o exemplo da

empresa Politec, especializada em desenvolvimento e integração de sistemas que gastou, nos

últimos dois anos, cerca de US$ 10 milhões em reestruturação e governança corporativa, e

que, em 2007, deixou de ser uma companhia Ltda. para se tornar uma S.A. Hélio Santos,

presidente da empresa, comenta que contratou uma empresa de consultoria para auxiliar nesse

processo, adquiriu algumas certificações específicas para o ramo de tecnologia, e implantaram

um sistema de gestão para controlar suas operações, tudo com o objetivo de chegar preparado

na bolsa. A matéria ainda explica que as novas candidatas à bolsa poderão trazer ao investidor

um novo perfil de negócio que, até aquele momento, era completamente estranho à sua

carteira: o de serviços de tecnologia, um dos segmentos de informática que mais tem crescido

em todo o mundo. Entretanto, o analista de investimentos Alex Pardellas, da Banif

Investments, comenta que o risco de tanta novidade pode flertar com a dúvida do investidor,

que estava mais acostumado a negociar ativos de fácil liquidez, somado ainda ao fato de que o

Page 36: mercado capitais

30

setor de tecnologia da informação ser um novato na bolsa. Até aquele momento, as empresas

do setor que abriram o capital são praticamente fabricantes de software – Totvs e a Datasul –

ou de equipamentos – Positivo, Bematech e Itautec. Na mesma matéria, Cristina Boner, do

grupo TBA, diz ser cautelosa sobre o assunto, pois o mercado ainda não está preparado para

comprar bens intangíveis, e que as empresas terão que contratar especialistas de marketing

para empacotar a tecnologia.

Entretanto, os bons resultados do setor de serviços podem ajudar a minimizar um

eventual receio do investidor, conforme é explicado na matéria. Segundo estudo elaborado

pela Associação Brasileira de Software (Abes), mais de US$ 10 bilhões foram gastos com

sistemas e serviços relacionados no ano de 2007, e a taxa de crescimento do segmento é de ao

menos 12% até 2010. A CPM Braxis, que tem a meta de ampliar em 30% a sua receita com

serviços, faturou cerca de R$ 1,1 bilhão no ano passado. A Tivit, que em 2007 comprou a

Telefutura e a Softway, ligadas ao setor de tele atendimento, faturou cerca de R$ 700 milhões.

Mesmo entre as companhias de porte bem menor - como Alog, Locaweb e Senior, onde o

faturamento ainda não atinge a casa mágica dos R$ 100 milhões - o objetivo é fazer fusões e

aquisições para engordar as contas antes de ir a mercado. Essa idéia de adquirir ou se fundir a

outra empresa antes de estrear no mercado de capitais faz parte dos planos da maior parte

dessas companhias. Conforme comentário, na própria matéria, do analista Ivair Rodrigues, do

IT Data, que explica que dificilmente essas empresas terão outro caminho, e que as mesmas

sabem que se não partirem para a bolsa, serão engolidos por empresas maiores.

A reportagem explica que, até aquele momento, existiam 8500 empresas ligadas

apenas à produção e prestação de serviços relacionados a software, e que entre as que atuam

em atividades de desenvolvimento, 94% são de pequeno e médio porte. Essa informação

ajuda a entender a varredura que as empresas como a Totvs e Datasul têm feito no mercado de

sistemas de gestão depois de se capitalizarem na bolsa, movimento parecido aos que as novas

candidatas do pregão estão empenhadas em promover.

No site da BM&FBOVESPA (2008), está disponível uma planilha que demonstra

todas as empresas com fundos negociados na mesma. Até o mês de Maio de 2009, a

BM&FBOVESPA possuía 657 empresas listadas no mercado de capitais nacional,

subdivididas em 18 setores econômicos e 49 subsetores. Especificamente o setor de

“Tecnologia da Informação”, está subdividido em dois subsetores, que seguem, com suas

respectivas empresas:

• Computadores e Equipamentos

o Bematech

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31

o Itautec

o Positivo Informática

• Programas e Serviços

o Gama Part

o Idéiasnet

o Totvs

o Uol

Observa-se então que são sete empresas nesse segmento, e, se comparada com o

numero de empresas listadas na BM&FBOVESPA, elas representam apenas 1% do total. Se

comparado ao número de empresas no segmento de T.I, que são aproximadamente 8500,

essas sete empresas não chegam a 0,001%.

No dia 22 de Julho de 2008, em matéria publicada no site Computerworld (2008), foi

apresentada a reportagem em que a empresa Totvs adquiriu a Datasul, num movimento de

compra de ações. Esse movimento de compra de empresas, que já vinha sendo feito

fortemente por ambas as empresas, rendeu a Totvs uma participação de 40% do mercado

nacional de ERP (sistema integrado de gestão empresarial), e que o grupo ganhou um

destaque na América Latina e a possibilidade de destaque internacional. Isso representa um

fortalecimento no mercado nacional contra grandes empresas internacionais do segmento,

como SAP, com 23%, Oracle, com 17% e Infor, com 7%.

Para melhor demonstrar o segmento de tecnologia da informação no mercado de

capitais, será demonstrado no próximo capítulo o estudo de caso da empresa TOTVS.

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32

3. Estudo de caso

A Totvs é hoje a maior empresa de software de gestão empresarial do Brasil, e

também uma das maiores do mundo, conforme a mesma explica no seu site institucional. Esse

crescimento e fortalecimento ocorreram após a mesma ter aberto o seu capital, captando

recursos financeiros, e comprando seus maiores concorrentes, com o objetivo principal de

crescimento de participação de mercado.

3.1. Histórico

Segundo o site institucional da Totvs, tudo se iniciou em 1983 com a fundação da

empresa Microsiga Software. Com uma história de crescimento e sucesso ao longo da década

de 90 e 2000, a empresa passou por várias transformações, entre elas: a obtenção de

certificações de qualidade ISO, o desenvolvimento de linguagem de programação

proprietária, a realização do processo de internacionalização, e aumento da capilaridade por

canais próprios e por um pioneiro projeto de franquias. Isso permitiu que a empresa crescesse

a ampliasse o escopo de sua atuação de forma estruturada. No ano de 2005, dando seqüência a

esse crescimento, foi adquirida a Logocenter, que na época figurava como a 5ª maior empresa

de ERP no mercado brasileiro. Nesse momento, nasce a TOTVS.

Ainda nesse mesmo ano foi criada a TOTVS Consulting, representando a entrada do

grupo no negócio de consultoria de estratégia, processos e resultados. Também em 2005, a

TOTVS conquistou a certificação CMMI (Capability Maturity Model Integration), nível 2.

Dando continuidade ao processo de expansão, a TOTVS realizou em março de 2006 seu IPO

no Novo Mercado da Bovespa-Brasil (TOTS3), inovando mais uma vez e tornando-se assim a

primeira empresa brasileira do setor de TI a abrir capital. No mês seguinte, a TOTVS realizou

a aquisição da RM Sistemas, na época a 3ª maior empresa brasileira de software, que já

possuía uma unidade de negócio na Europa, em Portugal, o que ampliou ainda mais a

abrangência territorial da TOTVS. O ano de 2007 foi marcado pela consolidação da expansão

da TOTVS no mercado brasileiro e internacional. A empresa reforçou sua presença no

mercado não apenas crescendo de forma orgânica, mas também realizando aquisições de

empresas especializadas no setor varejista (Midbyte – Vitrine) e de soluções para escritórios

de advocacia e departamentos jurídicos (BCS Sisjuri). Ainda em 2007, ampliando seu campo

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de atuação e conquistando novos nichos de mercado, a TOTVS e a Quality criaram uma joint

venture6, chamada TQTVD (TOTVS/Quality para TV Digital) com o objetivo de fornecer um

middleware7, tecnologia, serviços e inovação para viabilizar a interatividade na TV Digital

brasileira.

Neste mesmo ano, as empresas que formavam o grupo Microsiga, Logocenter, RM

Sistemas, Midbyte (Vitrine) e BCS (Sisjuri) deixaram de ser marcas e tornaram-se produtos

pertencentes a uma única bandeira TOTVS. Reunidas, elas reforçam o TODO e promovem

ainda mais qualidade e competitividade, resultando na excelência de nossas operações. No

ano de 2008, a TOTVS se uniu a Datasul, alcançando 38,03% de participação de mercado.

Com isso, a companhia se tornou a maior empresa de Sistema de Gestão Empresarial (ERP)

do Brasil, a 8ª maior empresa de ERP no mundo e a 1ª em países emergentes. A figura 3

demonstra o crescimento da empresa desde o seu nascimento até o ano de 2007.

3.2. O mercado em que a Totvs está inserido

De acordo com a pesquisa apresentada no site da Abes - Associação Brasileira das

Empresas de Software o mercado brasileiro de software mantêm a 12ª posição no cenário

6 Joint Venture: Associação de empresas. Fonte: BM&FBOVESPA 7 Middleware: Programa que faz a mediação entre os sistemas. Fonte: Totvs

Figura 3. Crescimento da empresa TOTVS Fonte: Site institucional da Totvs

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mundial movimentando 15 bilhões de dólares, o equivalente a 0,96% do PIB brasileiro. Este

mercado é dividido em software, com 33,8% do mercado, e serviço, que representa 66,2% do

mercado, como demonstra a figura 4.

Figura 4. Principais indicadores do mercado brasileiro de software Fonte: ABES - Associação Brasileira das Empresas de Software

Ainda nas informações divulgadas nesta pesquisa, são 8500 empresas, dedicadas ao

desenvolvimento, produção e distribuição de software e de prestação de serviço. Este mercado

vem crescendo ano a ano como demonstra a figura 4. Entretanto, devido aos eventos que

ocorreram em todo o mundo, a recessão global deve pressionar o setor de TI em 2009, quando

o crescimento deve ser reduzido à metade. O reflexo da crise deve imprimir uma nova

dinâmica no mercado brasileiro. Este continua crescendo acima da média dos demais setores

da economia, mas deverá se adequar a novos ajustes após recessão, principalmente em função

da redução de custos que as organizações vão promover, com sensível redução nos

investimentos em TI.

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Figura 5. Indicadores de mercado e evolução Fonte: ABES - Associação Brasileira das Empresas de Software

Com a recessão mundial e orçamentos reduzidos pressionando a indústria de TI,

algumas tendências deverão acelerar-se como virtualização, VoIP, consolidação, ferramentas

de gerenciamento, aprimoramento da estratégia de serviço, maior negociação com

fornecedores, terceirização. Esta transformação irá aumentar o foco em mercados emergentes,

soluções prontas, foco em redução de custos, projetos de curto prazo, aquisições e fusões

deverão continuar acontecendo, o Brasil e países da América Latina deverão continuar

crescendo acima da média mundial.

3.3. Entrevista

Visando entender melhor como a empresa Totvs se preparou para a abertura de capital,

o grupo enviou algumas perguntas para o Sr. Bruno Brasil, gerente de Relações com os

investidores da empresa TOTVS, o qual respondeu prontamente, e é apresentado a seguir.

• Qual a principal razão que levou a empresa a abrir o capital?

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Basicamente, encontrar novas formas de financiamento da Companhia para financiar

seu crescimento e investimentos. Antes da abertura, a Advent (private equity8) já tinha

passado por aqui e injetado dinheiro. Com a abertura de capital a TOTVS pode não só contar

com financiamento de terceiros (tradicionalmente bancos e empréstimos), mas também via

empresas de private equity. O dinheiro foi destinado principalmente a novos investimentos

em pesquisa e desenvolvimento, treinamento e para a compra da RM Sistemas.

• Quanto custou todo o processo de abertura de capital?

Aproximadamente R$ 24,8 milhões entre honorários de advogados, comissão de

bancos e outros gastos.

• Quanto tempo transcorreu entre a decisão de fazer o IPO e a emissão das ações?

Havia a intenção de abrir o capital antes de 2006, por volta de 2001/2002, mas o

atentado de 11 de setembro de 2001 atrasou os planos da TOTVS. Após isso, a empresa se

manteve com esse objetivo, até observar o melhor momento para a abertura do seu capital,

que ocorreu em 2005.

• Qual foi a mudança na cultura da empresa?

A Totvs já possuía em seus procedimentos administrativos o conceito de gestão de

governança corporativa, e isso ajudou bastante, pois os funcionários já estavam acostumados

a entregar relatórios de desempenhos, porém, com a abertura do capital e pela exigência dos

controladores, essa cobrança foi um pouco maior, mas nada que tenha interferido no

desempenho dos mesmos.

• Como decorreu o processo de abertura?

Primeiro tem que se organizar a empresa, ter números confiáveis e históricos para

poder mostrar a investidores. Depois se sai no que chamamos de roadshow, que nada mais é

do que muitas visitas a diversos investidores (nacionais e internacionais) para enfim

chegarmos a uma precificação e logo após o 1º dia de negociação.

• Quais foram os benefícios e riscos analisados antes da abertura e os ocorridos após a

abertura?

O maior benefício sem dúvida foi o de ter outra fonte de financiamento. O processo

todo ajudou a TOTVS a tornar-se mais conhecida também e melhoramos bastante nossos

processos internos e governança da empresa, e com isso se fundir ou comprar outras empresas

para ter maior participação no mercado.

8 Private Equity: Instituições financeiras que investem em empresas que ainda não estão listadas na bolsa de valores, com o objetivo de alavancar seu desenvolvimento.

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37

3.4. O crescimento da Totvs

A Totvs alcança cerca 40% do mercado brasileiro em 2008, conforme reportagem

divulgada em seu site institucional.

Até então a empresa ocupava o 24% lugar do mercado, e com a compra da Datasul

adquiriu mais 16%.

Em 9 de Setembro deste ano a empresa divulgada em seu site de relações com

investidores que acabou de adquirir 10% remanescentes do capital social da TOOLS

ARQUITETURA FINANCEIRA DE NEGÓCIOS S.A, a Totvs já detinha 90% do capital

integrado com a Datasul.

Com todas estas aquisições a Totvs aumentou seu portfólio. Hoje são onze segmentos

de mercado que atendem os mais diversos tipos e tamanho de negócios. A figura 5, divulgada

em sua apresentação institucional em dezembro de 2008, apresenta suas marcas.

Figura 5. Portfólio TOTVS Fonte: Totvs S.A

Com todas estas aquisições e aumento de participação no mercado, seu portfólio

atendendo os mais diversos tipos e tamanho de negócio a empresa obteve impacto direto em

seu faturamento. É normal encontrar em revistas e pela internet matérias como “Empresa de

software Totvs registra crescimento de 20% no trimestre” divulgada pela Folha de São Paulo

(29/04/2009), ou “TOTVS no 2T09: Novo recorde de Receita; 32,8% de crescimento no

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38

EBITDA; e Margem de 24,4% (+310 p.b.)” divulgada pelo site Yahoo Notícias (29/07/2009).

Estas matérias são devidas ao crescimento da Totvs durante os anos.

Dados retirados de seu Balanço Patrimonial e Demonstrativo de Resultado do

Exercício demonstram crescimento, para melhor compreensão destes dados expressaremos

graficamente.

Em Dezembro de 2005, antes de seu IPO, a Totvs registrava em seu balanço

patrimonial um ativo de R$ 119.459, em 2008 a mesma registra ativo de R$ 1.044.322. Estes

valores foram expressos em milhares de reais, conforme demonstra a figura 6.

Figura 6. Total do ativo Fonte: Totvs S.A

Com a receita bruta em crescimento contínuo nos últimos anos, a Totvs vem

aumentando seu faturamento ano a ano. Paralelamente seguem as receitas líquidas que em

2005 representavam R$ 311.776, já em 2008 o valor era de R$ 844.854, um crescimento de

270,98% no período.

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Figura 7. Receita Bruta X Receita Liquida Fonte: Totvs S.A

O indicador EBITDA – Earning Before Interests, Taxes, Depreciation and

Amortization, ou seja, o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização,

representa a geração de caixa da companhia, o quanto ela gera de recursos apenas através de

suas atividades operacionais, sem levar em consideração os efeitos financeiros e impostos, por

este motivo é capaz de medir com mais precisão a produtividade e a eficiência do negócio. O

gráfico 8 demonstra a evolução deste índice, em 2008 quando a empresa registrou um índice

EBTIDA de R$ 178.937 em milhares de reais.

Figura 8. Lucro Líquido e EBITDA

Fonte: Totvs S.A

Podemos analisar no gráfico que o lucro de 2008 foi 0,79% menor que o de 2007, mas

o crescimento em relação a 2005 foi de 229,54%.

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Estes dados comprovam o crescimento da empresa após a abertura de seu capital,

todos os números fornecidos estão expressos em milhares de reais, e foram retirados do

Balanço patrimonial e das demonstrações do resultado disponíveis no site de relações com o

investidor da Totvs.

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Conclusão

Podemos concluir que o sucesso no IPO está no processo de abertura de capital, é bem

simples como analisado no segundo capitulo desta monografia, porém o empenho nesta etapa

vai designar o sucesso da organização no mercado de capitais.

Processos como marketing voltado para ao investidor, um departamento de relação

com investidores eficiente, são chaves para o sucesso em seu IPO, o marketing tem a função

de buscar potenciais investidores, assim torna o processo de distribuição publica mais ágil,

este processo realiza produção e divulgação de material publicitário, organiza visitas a

empresas direcionadas aos potenciais investidores.

O departamento de Relação com investidores será o canal direto entre a organização e

os investidores, por este motivo o mesmo necessita ser eficiente em seus processos.

Estes processos são muito importantes, porém eles não acontecem sem a Análise de

conveniência, onde serão estudados os riscos e os benefícios, os custos envolvidos e a

avaliação do processo de gestão da empresa, nesta etapa a empresa opta ou não pela abertura

do capital e alinham ou até mesmo criam uma nova estratégia buscando atingir os objetivos da

organização.

Esta analise de conveniência é de suma importância para a organização obter sucesso,

pois através dela será planejada a estratégia da organização, alinhada a sua missão, podemos

analisar no estudo de caso que o Totvs foi muito feliz em sua estratégia, com os recursos que

obteve ela buscou seu objetivo expresso em sua missão que é “Ser opção natural em software,

relacionamento e suporte para gestão”, com essa missão tão ousada o Totvs fez aquisições de

concorrentes aumentando seu portfólio de produtos podendo atender os mais diversos clientes

que buscam suporte para gestão.

Empresa que não faz bem a análise de conveniência acaba pecando em algum aspecto,

podemos exemplificar com uma empresa que tem como estratégia Liderança global de custos,

ao abrir seu capital no mercado de ações vai expor suas informações aos concorrentes e no

mínimo permitir que seu concorrente descubra sua estratégia.

Também na análise de conveniência a empresa se preparar para o dia seguinte da

abertura do capital, fazendo a analise em seu processo administrativo, pois o dia seguinte a

organização sofrerá maiores cobranças, e sua estratégia deve ser bem definida para qual será o

destino dos recursos captados.

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Com este estudo concluímos que uma organização para obter sucesso com a abertura

de capital, ser sólida em sua estrutura e demonstrações financeira, compreender os conceitos

do mercado de capital, sua estratégia prevendo os riscos e benefícios da abertura, e seu

processo administrativo preparado para atender o mercado de capitais, e buscar investidores

através do marketing.

Com está conclusão afirmamos também que o problema dado na monografia é

solucionado com o sucesso da estratégia da organização, pois a empresa que maximiza os

benefícios paralelamente minimiza os riscos.

Page 49: mercado capitais

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