Mercado Muncipal de Florianópolis

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R I C A R D O M O R E I R A D E M E S Q U I T A

Edição do Autor

MERCADODO MANÉ AO TURISTA

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Copyright 2002 by Ricardo Moreira de MesquitaTodos os direitos desta edição reservados ao autor

Impresso no Brasil/Printed in Brazil

M578m Mesquita, Ricardo Moreira deMercado: do Mané ao Turista/Ricardo Moreira

de Mesquita. - 1a ed. - Florianópolis:

Ed. do Autor, 2002192p.: il.; 22cm

ISBN 85-00-00000-0 

1. Mercado Público I. Título

CDU 981.64

Capa: Ricardo Moreira de Mesquita

sobre desenho em crayon de Leandro Barrios

Revisão Ortográca: Verlaine Silveira

Programação Visual e Diagramação: Ricardo Moreira de MesquitaDigitalização e Tratamento de Imagens: André Kajarana e Estúdio 4Ficha Catalográca: Gisele Alves

Composto em Century Schoolbook, Arial, Encino e MarkingPen

Software utilizado: PageMaker e Adobe PhotoShopFotolitos: 

CIP-Brasil - Catalogação na fonte

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Sumário

Vendendo o peixeDuas palavras com o leitor ...................................................................5

A pesquisaDe porta em porta .................................................................................7

Balaio do ManéCrônica livre sobre a inauguração da Praça do Mercado ....................9

Balaio Velho A história da construção da Praça do Mercado .................................15

Balaio NovoOs mercados públicos, suas construções e suas histórias .................53

Balaio do João Passeando e recordando o Mercado..................................................135

Balaio de Fotos Memória visual dos mercados públicos ............................................145

Balaio de Siri Histórias do Mercado ........................................................................163

Balaio de FigurinhasPersonagens que zeram a história dos mercados e da Ilha ..........175

Balaio na CabeçaFontes consultadas, entrevistas e imagens .....................................185

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 AVerlaine Silveira,

companheira e cúmplice.

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Vendendo o peixe

Nossa capacidade de contaminar o presente, o passado

e o futuro é incomparavelmente maior do que a nossa fracaimaginação moral.

Carlo Ginzburg, historiador italiano.

Cansado de dúvidas, de histórias e armações diferentes sobre omesmo tema, resolvi ir atrás da verdade. E o Mercado Público Munici-pal sempre exerceu um grande fascínio sobre a população. Cercado de

mistérios, de relatos desencontrados, era um balaio cheio de novidades,emaranhadas, que precisavam ser ordenadas.Balaio virado, assuntos espalhados e a busca revelou a Praça do

Mercado, construída em 1851, demolida e substituída pela primeira alado Mercado Público da rua Conselheiro Mafra, em 1899, e ampliada em1931. Surgiram os mercados da avenida Mauro Ramos e do Estreito,construídos nos anos 50, o da Trindade e o de Capoeiras, inauguradosno m da década de 60. Mais recente, a construção do Mercado daColoninha, conhecido como Ceasinha.

Por um período, chegaram a funcionar cinco ao mesmo tempo. Parasurpresa minha, três outros apareceram. Um mercado projetado naPraia de Fora, aprovado por lei e que acabou no esquecimento, juntocom o mercado de São Luís, na região próxima ao Beiramar Shopping,e por último o mercado do Saco dos Limões.

 Assim, Florianópolis, entre tantos casos raros, já presenciou aconstrução de sete mercados públicos e pouco se sabe dos outros três,que não saíram da fase de projeto, sem considerar o polêmico Galpão

do Peixe, do século 19.

 

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  MERCADO DO MANÉ AO TURISTA

Mas o enfoque deste livro é centrado na construção da Praça doMercado pelo fato de ter sido o primeiro, e no Mercado Público da rua

Conselheiro Mafra por sua tradição de mais de 100 anos. Entremeia,ainda, os fatos da construção do Galpão do Peixe, concluído em 1891.Sempre cercado de mistérios e histórias, apenas o nosso Mercado

Público resiste ao progresso do abastecimento no terceiro milênio,dominado por supermercados e compras via Internet.

 Ao leitor, mané ou turista, um relato histórico entrelaçado porfatos e personagens da evolução da cidade de Florianópolis.

 

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A pesquisa

Parece incrível, mas foram mais de oito meses de pesquisa dentroda Ilha. Textos, relatos, leis e periódicos espalhados por vários arquivosdicultavam uma busca minuciosa. Foram encontrados relatórios degovernadores, apresentados nas assembléias legislativas, documentosociais, um pouco em cada lugar. Na Biblioteca Pública Estadual, no Arquivo do Estado, no Centro da Memória da Assembléia Legislativa,

Biblioteca e Arquivo Municipal. Foi quase um trabalho de garimpagem.Um pouco aqui, um pouco ali, mas tudo que foi possível ler, foi lido.Inclusive documentos originais com mais de 160 anos.

Houve muitos desencontros nas entrevistas. Pessoas ocupadas,trabalhando e ao mesmo tempo contando suas histórias no balcão.Todas importantes. A história falada, vivida por elas, nos mostraparticulares que não podemos encontrar nas páginas de jornais oucoletâneas de leis. Pena que algumas pessoas não se preocupam coma própria história, não falam de suas origens ou de seu trabalho, dei-xando de transmitir essa memória.

Rolos e mais rolos de microlmes de jornais antigos, além de mui-tos volumes de encadernações desses periódicos foram vistos. Sempretomando cuidado com a parcialidade. A imprensa antiga era partidária.Se a inauguração era do governante alinhado com o jornal, a notíciaera elogiosa, muitas vezes quase uma propaganda. Enquanto isso,no diário adversário não se publicava uma linha sequer. Sempre quepossível, mais de uma publicação foi analisada.

Diversas informações estão desaparecidas. O incêndio ocorrido no

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prédio da Assembléia Legislativa, em 1956, a enchente que atingiu aBiblioteca da Universidade Federal de Santa Catarina, em 1995, são

desculpas alegadas. Por detrás das cortinas também se culpa o desleixode alguns governantes do passado, que não tinham preocupação empreservar a memória da cidade e do Estado.

 Arquivos não são simples guarda-livros. Sempre carentes de ver-bas e de espaço, acabam relegados ao esquecimento, às traças e aoscupins.

Seria bom se os governantes nos deixassem como legado, alémde obras e projetos, as páginas da memória catarinense em melhorescondições que as atuais.

 A grande maioria do material pesquisado se encontrava escrito emletras cursivas, manuscritos traçados de maneira rápida e corrente. Atas de reuniões na Câmara, relatórios, ofícios, discursos e contratoslidos foram produzidos dessa forma, tornando muitas vezes a leituradifícil e a interpretação trabalhosa. Conforme os preceitos da paleo-graa, ciência que estuda as escritas antigas, usamos os colchetes,quando a palavra lida passa a ser uma interpretação, pela diculdadeem decifrar, ou no caso de interferência pessoal do tradutor.

Um ponto de controvérsia entre autores é o índice populacional dacidade. Neste livro foram transcritos os dados constantes nos discursosdos presidentes da Província até 1890. A partir dessa data, os númerosforam retirados dos estudos estatísticos e censos do IBGE (InstitutoBrasileiro de Geograa e Estatística).

O leitor encontrará, além dos casos descritos, a opção do autor emescrever por extenso os numerários que se encontram em réis, moedaantiga e fora de uso, de trabalhosa leitura.

  MERCADO DO MANÉ AO TURISTA

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BALAIO DO MANÉMané que é Mané não perde a chance de um ói, ói, ó. Também não

 perdi. Juntei os textos que possuía aos que tinha lido e recriei numacrônica a inauguração da Praça do Mercado. E ainda tirei do fundo

do balaio algumas expressões que havia esquecido.

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Nem ti conto!Não suportei o calori1 na Catedral apinhada de éis. Deixei dona

Maroca, minha mulher, no meio do terço e o padre Joaquim a falar nosermão. Fui até a porta principal, li algumas alvíssaras pregadas naporta da igreja e debrucei os bagos dos óio pros lados da praia, agoraescondida pelo prédio do Mercado. E quei a pensar: por que hoje ainauguração, no Dia de Reis, uma segunda-feira? Estiquei a vista pro

campo aberto que chamam de Largo do Palácio. Não teria sido melhorgastar pra arrumar este lugar? Construir uma carioca e canalizaraquele barreiro bem no meio do largo? Plantar mais árvores, alémdestas pouquinhas? Bom, não sou o presidente, vissi?

 A missa acaba e meu tormento começa. – Ói, ói, ó, esse menino! Deixou o padre falando sozinho, não res-

 peita a Deus, não?  – Maroca, estava um abafamento insuportável, preciso carpir

a roça, tratar os animáli, almoçar e fazer a sesta. Depois voltar prainauguração da Praça do Mercado, vissi essa menina?

 – Táis tolo, táis, vamos simbora Manueli. – E tu vais sair hoje di noite no Terno de Reis, não vais?Tomei um cafézinho do buião, que estava em cima do fogão a le-

nha, e fui pro quintali. A gente véve pra trabalhar. Atragi de um pé devergamota a aripuca continuava armada. Fiz o trato dos bichos e fui

1

As palavras do linguajar do manezinho estão traduzidas na página 14. 

BALAIO DO MANÉ  12

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dereto pra almoçar. Maroca barre a casa e o alguidar com pirão tápronto na mesa. E mais uns peixinhos.

 À tarde, lá pelas cinco, ouvi a banda do Quartel do Campo doManejo a executar uma retreta. Começou a inauguração! Ajeitei ochapéli, vesti o palitóli e fui pra Praça. Não podia perder. Ainda ouvina saída o grito de Maroca:

 – Espera aí, esse menino!  – Se aprecata mulher, sobe na aranha!  A Praça apovoada de gente. Carros de bois, carroças enfeitadas,

cavalos com estribos ariados, uma buniteza. Alguns mascates comseus artigos espalhados em esteiras de taboca sobre o chão, rendeirascom seus bilros fazendo tramóia e algumas escravas libertas com seusdoces de tabuleiro nas cabeças enfeitavam a cena.

Maroca, com sempre avoada, esqueceu seu terço. Parece umaatolesmada quando vê padre Joaquim. Carolas!

O presidente da Província, João José Coutinho, fala, o presidenteda Câmara, Clemente Antônio Gonçalves, arma não existir no Impérioobra de tal vulto e o padre benze. As portas são abertas.

O pessoal se apinha, olham por tudo, entram por uma porta e

saem por outra, bisbilhotam, metem os bedelhos. A rampa das cano-as, ainda não zeram, a escada da praia também não. Ah! Políticos! Oistepôri de um garoto quase me dirruba perseguindo uma bucica pitoca.Podia correr mais divagari. Dei uma volta na calçada a precurar porMaroca, que encontrei a prosear com Zenilda, uma galega, quituteirade mão cheia. Em frente a uma barraca na praça, o saltimbanco faziacambotas. Me aprecatei e comprei um talho de melancia.

 – Manueli! – gritou Maroca – essa fruta vai te dar um quemori.Não dei importância e dicroca segui a saborear. Osnildo veio no

meu rumo a fazer elogios à obra. Interessado que está em participar dahasta, querendo alugar uma das 12 casinhas do Mercado. Ladino...

 – Quero vender feijão, milho e farinha de mandioca – armou. – Quanto vai custar o aluguéli? – perguntei. – Dijaoje, conversei do aluguéli com um vereador, homem de sa-

bença, mas falou que não sabe.O sino da cadeia anuncia 7 horas da noite. O sóli ainda não se

escondeu, mas o mari começa a car encapelado. Coisas do verão. O

vento suli chega de mansinho e chamo Maroca.

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 – Maroca, vamos embora, vai chover, o vento está de rebojo, essamenina.

 – Só mais um cadinho! 

O texto, baseado em relatos e desenhos da época, é uma cção.Se a inauguração do primeiro Mercado Público, em janeiro de 1851,não foi exatamente como a festa descrita, deveria ter sido. As lutaspela construção e o m da compra de alimentos em lugares imundos,espalhados pelo chão, sob o sol e a chuva, até mesmo nas canoas, erammais que motivos para justicar uma grande festividade.

 A Matriz, o palácio do presidente da Província, a Cadeia Pública nopavimento térreo da Câmara Municipal, o prédio do depósito bélico doquartel estavam construídos. O Largo do Palácio não passava de umaárea livre, sem grama e com apenas 12 pequenas árvores. O alagadiçono centro, próximo ao local onde se encontra hoje a gueira centenária,era um tormento quando chovia. Lama e mosquitos proliferavam. ACatedral ainda não tinha a escadaria, tampouco as naves laterais.

 A moderna construção do Mercado contrastava com outros edifíciospúblicos por sua imponência.Os primeiros 461 imigrantes açorianos haviam chegado à Ilha

de Santa Catarina cem anos antes, em 6 de janeiro de 1748, a bordode duas galeras. Ficaram instalados inicialmente no interior da Ilha,principalmente na Lagoa da Conceição, onde já moravam algunscompatriotas. Dedicados à pesca artesanal, povoaram a Ilha com seuscostumes, suas rendas de bilro, lendas e bruxas.

Os portugueses que vieram dos Açores já falavam cantando.Mais tarde, a chegada dos negros que pronunciavam de forma abertaas vogais deu origem à sonoridade do linguajar ilhéu. A colonizaçãoalemã introduziu novos vocábulos, assimilados de forma melodiosa,principalmente pelo orianopolitano.

 As expressões e vocábulos desconhecidos no texto fazem parte dolinguajar dos manezinhos, os nativos de Florianópolis. São esclarecidasna seqüência.

De balaio em balaio, cheios de histórias, você acompanha nas pró-

ximas páginas a evolução dos mercados públicos nesta Ilha formosa.

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Para entender o texto, algumasexpressões do falar do ilhéu:

 Abafamento: falta de ar, agonia,abafado. Alguidar: bacia de barro de usodoméstico. Alvíssaras: notícias, aviso de boasnovas. Aluguéli: o mesmo que aluguel. Animáli: animal. Apovoado: local com muita gente,

apertado. Aprecatar: car atento, se ajeitar. Aranha: charrete com duas rodasde pneu, puxada por um cavalo. Ariado: o que está brilhando, polidocom palha de aço. Aripuca: armadilha piramidal feitade bambu para aprisionar aves. Atragi: atrás. Atolesmado: abobalhado, abobado. Avoado: pessoa desligada.Barrer: o mesmo que varrer.Barreiro: fosso onde se acumula aágua da chuva, alagadiço, grandepoça.Bucica: cadela vira-lata.Buião: jarra de barro, com bico,usada para servir café.Buniteza: bonito, belo.Cadinho: um pouquinho.Calori: calor, quente.

Cambota: pirueta no ar,cambalhota.Carioca: fonte, bica.Chapéli: chapéu.Dicroca: de cócoras.

Dereto: direto, em frente.Dijaoje: de hoje, agora, ainda hápouco.Dirrubar: derrubar.Divagari: devagar.Encapelado: mar agitado comondas pequenas.Galego: pessoa loura.Hasta: leilão, pregão público.

Istepôri: pessoa chata, queincomoda.Manueli: Manoel.Mari: mar.Ói, ói, ó: expressão de admiração.Óio: o mesmo que olho.Palitóli: paletó.Pitoco: animal que teve o rabocortado, cando só um toco.Precurar: procurar.

Quemori: azia, queimor noestômago.Quintali: quintal.Rebojo: ventania, vento que roda.Sabença: inteligência, sabedoria.Simbora: o mesmo que vamosembora.Sóli: sol.Suli: sul.Taboca: tipo de bambu.Táis tolo, táis: o mesmo que estás

tolo?, cou bobo?.Talho: corte.Tramóia: um tipo de renda de bilro. Véve: vive. Vissi?: viste?, viu?. Vergamota: bergamota, tangerina.

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BALAIO VELHO  Aquele que, esquecido num canto da casa, guarda em seu interior

nossa memória. Fatos que não temos coragem de revolver. Mas emseu interior amassado, deformado de tantos esforços, muito de nosso

 passado ali se esconde.

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Mascates, oleiros, pescadores e colonos se aglomeram desde osmeados de 1700 na região em frente à Catedral. Favorecidos pelo fácildesembarque no porto existente e a proximidade com a população,criam na praia defronte à praça o ponto ideal para o comércio. Embarracas, ou mesmo vendendo seus produtos nas canoas, os feirantesatendem não só aos habitantes, como também aos viajantes.

Protegida pelas baías Norte e Sul, a Cidade do Desterro torna-separada estratégica para os navios que se dirigem mais ao sul. Últi-

mo porto de abastecimento das esquadras que cruzam o Estreito deMagalhães2, em direção ao Pacíco. A comodidade na movimentaçãode mercadorias, facilitada por um guindaste, manufaturas de linhoe algodão, a existência de alfaiates, sapateiros, latoeiros, ferreiros emarceneiros dão importância logística à cidade. Há produtos de boaqualidade, em abundância e a preços módicos, segundo relatos dosnavegadores.

 A chegada da corte portuguesa ao Brasil, em 1808, fugindo doexército de Napoleão Bonaparte, e a instituição do Reino Unido dePortugal, e do Brasil e Algarves aproximam a colônia da Europa. Aabertura dos portos, a fundação do Banco do Brasil, do Jardim Botânicoe a permissão para instalação de fábricas e manufaturas fortalecem anecessidade de novos rumos também nas províncias. O acesso a livros, jornais e revistas estrangeiros e a vinda de artistas europeus estimulamo intercâmbio de novas idéias e novos hábitos.

2 Acidente geográco localizado no extremo sul da América do Sul, região que forma

um canal interligando os oceanos Atlântico e Pacíco.

BALAIO VELHO  1

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 As atitudes do príncipe regente dom João3 não se limitam à ci-dade do Rio de Janeiro e à Corte. Em 1812, a água mineral do Cuba-

tão abastece a família real. Desde 1809, o navegador e pesquisadoringlês Luccok a considera similar à do vilarejo de Harrogate, estânciatermal inglesa, tornando famosas as águas da Capitania de SantaCatarina4.

O arraial de Santa Ana do Cubatão, às margens do rio Cubatão,no Continente, passa a ser a primeira estância hidromineral do Bra-sil, quando, em 1818, dom João VI5 decreta a construção do Hospitaldas Caldas. O arraial, de forma espontânea, passa a ser chamado deSanto Amaro por seus moradores, esquecidos do nome original, Ar-raial de Santa Ana do Cubatão, dado em função da capela erguida emhomenagem à santa. Somente em 1943 recebe seu nome denitivo deSanto Amaro da Imperatriz, que, além de conservar a nomenclaturapopular, faz alusão às vultosas doações da imperatriz Thereza Chris-tina6 ao Hospital das Caldas e sua posterior visita.

Em 1840, o presidente7 da Província8, Antero José Ferreira deBrito, pede à imperatriz auxílio para as reformas no Hospital dasCaldas. Sendo prontamente atendido, solicita que ela aceite o título de

protetora do Hospital das Caldas. E que permita denominar as Caldasdo Cubatão de Caldas da Imperatriz, extensivo ao nome do hospital.Proposta aceita. Com a doação, são construídos a cobertura dos tanquespara banhos, uma casa com quatro quartos, ranchos e são melhoradosos caminhos de acesso. Mais obras elevam para 12 o número de leitos. Antero José Ferreira de Brito ainda nomeia o tenente-coronel Leandroda Costa como administrador das obras da fábrica, engarrafamento deágua mineral e do hospital.

Em 1848, o hospital já atende a 50 enfermos. Outros quartos combanheiras servidas com a água mineral canalizada estão sendo

3 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 179.4 Criada em 11 de agosto de 1738 por desmembramento da Capitania de São Vicen-

te.5 Ver dom João no Balaio de Figurinhas, pág. 179.6 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 180.7 O chefe do governo no período da Província era denominado presidente.8 Quando da Independência do Brasil, as capitanias assumiram a denominação deprovíncias, o que prevaleceu entre 1822 e 1889. A partir da República, receberam a

atual denominação de Estado.

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construídos. Um deles, com maior espaço, é reservado à família im-perial. As obras compreendem ainda uma construção própria, que

receberá as banheiras inteiriças de mármore italiano. A Província de Santa Catarina se amoderna em 1830. O movi-mento no porto traz as novidades da capital do Império, divulgadapelos marinheiros. A população pede novos investimentos urbanos eos presidentes se preocupam com a qualidade de vida. Transporte eabastecimento são os principais assuntos. A fragilidade das canoas e ovento sul comprometem a segurança dos passageiros e produtos para ocomércio. E comestíveis vendidos à beira-mar, sob o calor do sol e semhigiene, justicam a construção da Praça do Mercado.

  Além da necessidade de alimentar os ilhéus, as feiras livres,desde há muitos séculos, sempre estiveram acompanhadas de outrasatividades e personagens. Prostitutas, tendas de bebidas, bêbados, olixo jogado ao descaso e constantes brigas na rua acontecem em frenteao Palácio e à Matriz. Motivos que demonstravam a necessidade deorganizar a região central.

 A cidade precisa adaptar-se aos conceitos urbanísticos da Euro-pa, inspirados em alamedas e largas avenidas. Cresce a prevenção

de epidemias com a nova ordem sanitarista. A Catedral, o Largo doPalácio, hoje praça XV de Novembro, rodeados de edifícios públicos eos mercadores à beira-mar. Recai nestes a primeira intervenção.

Partidos versus interesses As lutas dos partidários pela remoção das barracas existentes na

Praça para outro local, contra os que desejam a construção de prédiopróprio para o Mercado Municipal, acirram-se a cada dia. Discursosinamados, ataques contundentes e não se chega a um acordo. Final-mente, em 1831, o governo provincial de Feliciano Nunes Pires receberequerimento da Câmara Municipal, solicitando a destruição das bar-racas. A questão se arrasta e cresce o apoio para a demolição.

Nas páginas do jornal O Catharinense, que surge em 28 de julhode 1831, por iniciativa de Jerônimo Coelho9, principal líder do PartidoLiberal, artigos defendem no cenário político a edicação

9 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 181.

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do Mercado. Desde que não fosse na praça principal, à beira-mar. Osvinagristas, como são conhecidos seus representantes, sabem da ne-

cessidade da construção, mas apoiam a idéia de deixar a praia livre.Francisco Duarte da Silva, vereador prestigiado por Amaro Pereira,presidente do partido, luta para que o Canto de Santa Bárbara, hojenal da rua Antônio Luz, seja o preferido.

Correligionários do Partido Conservador, apoiados pelo padreJoaquim Gomes de Oliveira e Paiva, o arcipreste Paiva, também co-nhecido como Padre Catinga por seus artigos na imprensa a favor doscomerciantes, defendem a obra na praça. Apelidados de barraquistas,têm ainda a liderança de João Pinto da Luz, que com seus irmãos épossuidor de um estabelecimento comercial na esquina da Praça coma rua Augusta, hoje rua João Pinto. Para eles, o movimento da feirasimboliza lucros.

Os partidos reconhecem a causa, mas brigam por interesses eidéias contrárias. Os discursos se resumem a deixar o Largo do Pa-lácio livre da construção, uma área dedicada aos prédios públicos e àpopulação, ou apoiar os benefícios comerciais que a alguns interessa.

Nessa época, os partidos políticos não passam de agremiações,

grupos de pessoas com os mesmos objetivos, independentes de ideolo-gias. Lutam pela posse do poder e são os embriões do atual modelo. Aconsciência de partido político, na realidade, só acontece mais tarde. A organização dos partidos Cristão e Judeu, que se transformam emSaquarema e Luzia, para nalmente tomarem as denominações deConservador e Liberal, ocorre ainda durante o período provincial.

 A determinação para a demolição das barracas só acontece em1834. Mesmo assim, o fato não se concretiza. E os mercadores conti-nuam a negociar seus produtos.

João Carlos Pardal, presidente da Província, destaca em seudiscurso, em 1838, na Assembléia, o projeto dos engenheiros LuizBustamente e Pablo Delgado. Uma obra gigantesca para os padrõesda cidade, que propõe a Praça do Mercado entre a Rua do Livramen-to, atual Trajano, e a Rua do Ouvidor, hoje Deodoro. Com a pretensãodos investidores levada ao conhecimento da Assembléia Provincial, écriada a Lei no 92, de 27 de abril daquele ano, e que não tem execuçãopor não oferecer aos empreendedores as garantias que desejam.

  A intervenção na paisagem urbana avança. Em 1839, a preo-

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cupação se volta para a iluminação pública, a inscrição dos nomes dasruas e numeração dos prédios. Ao mesmo tempo se aguarda a chegada

do coronel Niemeyer para formar mestres calceteiros10

. Em dias dechuva, é impossível o tráfego de pedestres nas ruas enlameadas, semcalçamento. A população chega a 18 mil pessoas.

O brigadeiro Antero José Ferreira de Brito, presidente da Provín-cia, lê na Assembléia, em 1841, o discurso sobre as condições sanitáriasda cidade, de autoria do sanitarista José da Silva Mafra:

Outro manancial de exalações pútridas são os charcos pró-ximos ao poço chamado Carioca, cujo poço descoberto servede lavatório, bebendo os povos uma água impura e danosa àsaúde. A fonte do Largo do Senado [hoje Largo do Fagundes],apesar de construída de outra maneira, tem junto a si um grande lago amarrado em roda chamado poço do Brandão,cheio de água podre, habitado por sapos, folhas de árvorese outras matérias em putrefação, que deterioram a saúde pública, e preciso se faz esgotá-lo e aterrá-lo, pois deste e deoutros charcos e pântanos se tem desenvolvido febres inter-

mitentes perniciosas, e renitentes de mau caráter, que a nãohaver constantemente os ventos nordeste e sul, que arredamos miasmas pútridos, seria inabitável esta cidade. Outro princípio de desleixo de polícia médica é a condução à horado dia dos materiais fecais dos presos da cadeia11, conduzidosem vasos de pau destampados, atraves-sando a praça pública desta cidade, a despejar-se na praia,onde aportarão as canoas com os mantimentos que vêm ven-der ao público, atolando-se o povo nas imundices que ainda seacham depositadas na mesma praia quando vão comprar osmisteres para suas casas. Além destes e de outros desleixos de polícia médica, acresce a venda de peixe podre, carne malsã,não sendo observadas as reses antes de serem

10 Operário que trabalha no calçamento das ruas, fazendo a pavimentação com pe-dras.11 Funcionava no pavimento térreo do prédio da Câmara Municipal.

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sangradas pelo scal do distrito do matadouro, a m de ob-servar se estão em estado de serem mortas e poder se vender

ao povo, ou se foi morta por peste, e depois talhada e vendida,como freqüentes vezes tem acontecido. A venda de frutas mal-sazonadas, a venda de carne podre, toucinhos rançosos, vi-nagres decompostos, vinhos alterados, que se está observandodiariamente, são outros tantos males à saúde, e que produzemenfermidades, e, nalmente, a continuação das inumaçõesdos cadáveres dentro dos templos e nos cemitérios12 dentro dacidade são prejudiciais à saúde pública, e sua remoção se faznecessária. Relatório assinado por José da Silva Mafra, inseridono discurso de Antero José Ferreira de Brito, em 23 de janeiro de1841.

Quando se avizinha a chegada de dom Pedro II13 à capital da Pro-víncia, nalmente as barracas são removidas. Não são destruídas. Acontragosto, se deslocam para as proximidades da Ponte do Vinagre, nom da rua Tiradentes, cercanias do Forte de Santa Bárbara, demolidoposteriormente, em 1875, para a construção da Capitania dos Portos,

hoje sede da Fundação Franklin Cascaes. Nos bastidores da CâmaraMunicipal é acertado que, após a partida do imperador, retornam aolocal original.

Para a chegada da comitiva real, em 1845, além do deslocamentodas barracas ocorrem outras intervenções do governo. Melhoramentosna iluminação pública, reforma de vários prédios e, em 1842, a transfe-rência do cemitério atrás da Catedral para o morro do Vieira [cabeceirainsular da ponte Hercílio Luz, inaugurada em13 de maio de 1926].

Dom Pedro II, acompanhado da imperatriz Thereza Christina,visita o quase abandonado Hospital de Caridade. Conhecendo o projetoe sabendo das diculdades da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos,dispõe de uma doação de 11 contos e 200 mil réis, sendo 10 mil contosde seu próprio bolso e, completando o valor, mais 1 conto e 200 milréis da imperatriz. Tem tempo ainda, durante a

12 O principal estava localizado nos fundos da Catedral.13 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 179.

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prolongada estadia, de lançar a pedra fundamental para a construçãoda segunda ala do hospital. Visita as igrejas, concede vários donativos,

inclusive 400 réis14

ao templo de Nossa Senhora das Necessidades, emSanto Antônio de Lisboa. No Continente, conhece o arraial de Santa Ana do Cubatão, visitando o Hospital Caldas da Imperatriz, mandadoconstruir por dom João VI, em 1818.

 A estadia programada para quatro ou cinco dias se prolonga por 27dias na Cidade do Desterro, quando parte em direção ao sul, visitandoa Província vizinha.

 Voltando da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul15, em 13de fevereiro de 1846, sua majestade se hospeda no Palácio do Governopor mais quatro dias, antes da partida para São Paulo.

 A comitiva segue e os comerciantes voltam, montam suas barracase a polêmica se restabelece. Retornam à cena também os barraquistase vinagristas. A proibição de antes da visita real, para venda ao públicona Praça, é desconsiderada.

Briga de poderosos A Câmara Municipal, em 1846, encaminha à Assembléia Pro-

vincial um abaixo-assinado com 114 cidadãos pedindo que a feiracontinue no Canto de Santa Bárbara e que o Mercado seja construídoali também. Porque ali é melhor, vai valorizar os terrenos e não vaitumultuar a Praça.

 Antero José Ferreira de Brito, tomando conhecimento, diz quenão, e argumenta em ofício encaminhado à Assembléia:

Não é minha opinião que se faça a Praça do Mercado nem emSanta Bárbara e nem na praia, entre as ruas do Livramentoe do Ouvidor, segundo a planta e descrição da obra de quetrata o artigo 1o da lei no 92.

E propõe a construção em um quarto local:

14 Moeda que teve o período de vigência desde a colonização até 30 de outubro de1942. Mil réis designava a unidade monetária e réis os valores divisionários. Comopor exemplo: 0$500=quinhentos réis, 12$200=doze mil e duzentos réis, 1:000$000 umconto de réis (um milhão de réis).15 Antiga denominação do Estado do Rio Grande do Sul.

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Talvez, o Mercado deva ser construído no aterro a partir da praia da rua Menino Deus, perto do Hospital de Caridade. 

Ofício de Antero José Ferreira de Brito, em 7 de março de 1846,encaminhado à Assembléia Provincial.

O presidente alega como vantagem o baixo custo. Seriam neces-sários 4:000$000 (4 contos de réis), enquanto na Rua do Livramentoprecisariam ser feitos aterro e paredão de contenção, protegendo a obrado mar, e o custo subiria para 24:000$000 (24 contos de réis).

Sem denição, ele se contraria quando opina no nal do documento.Não vê inconveniente algum em construir o Mercado na Praça ou noLargo do Palácio. Arma que: o lugar tem segurança e comodidade parao povo. E o empreendimento poderia car completo com a construçãode um cais, que também serviria à Praça e ao Mercado.

 A Assembléia Provincial, em 9 de maio, aprova a Lei no 228, au-torizando a construção do Mercado Público, sem denir exatamente olocal, mas que fosse na Praça do Palácio. Diante das constantes inde-cisões sobre o destino da edicação, o tipo e a localização, o presidente Antero José Ferreira de Brito, irritado, libera o comércio de gêneros

na capital. Mas impõe uma condição: qualquer pessoa pode venderqualquer produto, a qualquer hora, excluindo a Praça. Na briga, contraria o Código de Posturas Municipal, aprovado em

1845, que determina que todos os produtos de alimentação à vendaprecisam descansar na Praça até as 9 horas. Somente após tocar o sinoda Cadeia Pública, determinando o m do descanso, os pombeiros16 eatravessadores podem negociar com os produtores e revender de portaem porta.

Uma proposta da Câmara, de construir três barracões na Praçado Palácio, destinados à venda de gêneros alimentícios, o central paraa venda de farinha, açúcar, hortaliças e grãos, e os dois barracões dasextremidades, um para o comércio de carnes e o outro para peixes, erauma represália ao Executivo da Província.

 Antero José Ferreira de Brito encaminha à Assembléia Provincialseu discurso alentado sobre reformas e projetos para a

 

16 Ambulante que percorria a cidade a vender suas mercadorias, normalmente gêneros

alimentícios. Ver também pág. 37.

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capital, já com uma percepção de seu potencial turístico. Agora as di-vergências sobre o Mercado ultrapassam a cidade, a Câmara Municipal

e chegam aos ouvidos do imperador.

É de extrema necessidade o aformoseamento desta capital,que pela sua disposição geográca, bom clima, boa índole deseus habitantes, deve em pouco tempo atrair a concorrênciade nacionais e estrangeiros do Norte e Sul, a procurar, unso refrigério contra os ardentes calores do verão, e outros oabrigo contra a estação invernosa. Também devemos pensarque a família imperial renove, para ventura desta Província,suas honrosas visitas, visto que bem satisfeita se pronunciou por este belo clima, pela amenidade do País e dedicação deseus habitantes a suas augustas pessoas. Muito há, senhores,a fazer para chegarmos ao m. Entretanto, lá chegaremos,mesmo lentamente, mas isso é preciso. Tracei um plano paraaformosear, por ora, a frente do mar de toda esta capital. ACâmara Municipal conformou-se com ele, porém refere queo mesmo para dar princípio não tem forças, apesar de que

 prometi coadjuvá-la e auxiliá-la com alguns materiais. Elatem muito a que acudir, mas eu posso muito fazer com gran-de economia, para o que já tenho prontos esses materiais. Apresentarei a Vossa Excelência uma cópia do dito plano,se merecer a vossa aprovação, e espero que no ano nanceiro próximo voteis a quantia de 2:000$000 réis [2 contos de réis], para se fazer a grande rampa em toda a frente da Praça do Palácio, e que comunique com a Rua do Imperador [atualrua Tenente Silveira]. O plano de aformoseamento contém por ora só qua-tro praças em toda a extensão da frente. Vereisque alguns edifícios velhos precisam ser desapropriados, cujovalor poderá ser indenizado lentamente.

Questiona a proposta da Câmara Municipal para a construçãode três barracões: 

Trago ao vosso conhecimento uma proposta para esse m que

acaba de ser-me endereçada pela Câmara Municipal desta

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cidade, sobre a construção na praia, em frente à Praça daMatriz, de três barracões para venda de carne fresca, peixe e

 farinha. Não posso deixar de dizer alguma coisa a respeito,que sem dúvida é a mais bela parte da cidade. Desde que aquiestou, tendo-me logo ocupado do aformoseamento desta Praçade Palácio, principiei pelos reparos da Igreja Matriz, cuja fren-te representava ruínas e o aspecto de um templo abandonado pelos éis, e os depósitos de imundices e despejos que tinhaem sua frente foram substituídos por dois jardinzinhos. Foiedicado o elegante e acabado edifício público da Tesouraria.Construiu-se esse grande e forte depósito de artigos bélicos eo edifício a que impropriamente se chamava Palácio, efetiva-mente em conserto e acréscimo cará em pouco tempo acabadoe elegante. E se meios houvesse teria esta Assembléia aquitambém casa própria para as sessões, mas bom dia virá quea tenha nesta mesma praça. Tem sido constante a plantação ereplantação, há seis anos, de arvoredos em torno dela, e sendoeu muitas vezes instado para seu nivelamento e construção deum cais, e tendo bastantes desejos de o fazer, me via para isso

impedido, reconhecendo a precisão de que fossse como agoratraçada a construção da nova Alfândega17 e seu trapiche.Existia na praia uma pequena coisa a que se chamava

banca de peixe, contrastando com tudo o mais que havia na Praça, e sempre me incomodava quando, para ali lançandoa vista, via o peixe fresco de mistura com a carne, e tudocalcado aos pés dos pretos e pretas quitandeiras18 , de sorteque aplaudimos a lembrança, que por um feliz acaso teve aCâmara Municipal de a fazer demolir.

Nesta Praça acham-se, além dos edifícios públicos, outrosmuitos particulares, todos elegantes, e dentro em pouco teremosde ver em começo a construção de uma boa Alfândega, e a casade vossas sessões há de ser esta por muito tempo. O que é, pois,urgente fazer-se agora é o que tenho proposto: a

17 Funcionava em Santo Antônio de Lisboa.18 Mulher que negocia seus produtos em tabuleiros.

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construção de uma boa rampa em toda a extensão da praiada Praça, e para isso vou mandar chegar alguns materiais.

Sem se fazer essa rampa, como se deve, nada absolutamentese poderá admitir de construção. Se a Câmara Municipal ma-nifesta desejos de fazer alguma coisa em benefício público, eutambém os tenho, mas o que almejo é que o que zermos sejacompleto, e tanto útil como agradável. Três barracões, nestabela Praça, dariam muito má idéia do nosso gosto e capricho.Se uma barraquinha que mal aparecia tanto nos incomodava,quanto pior efeito não produzirão os três projetados barracões! Não tendo estes, pois, a minha aprovação, peço-vos com fervorque não anuais a tal edicação. Façamos a rampa, com que já me vou ocupar. Depois do que não duvidarei que ali entãose construa uma praça de mercado, porém que seja segundo o plano que a Presidência apresentar, e que será correspondenteà beleza da Praça. A Câmara Municipal há de conformar-secom isso. Trechos do discurso do presidente da Província, AnteroJosé Ferreira de Brito, em 1o de março de 1847.

O jogo do empurra-empurra entre o Executivo e o Legislativo mu-nicipal continua. O presidente insiste em defender seus objetivos parao melhoramento da capital, não desobedece a lei e informa:

Não tem tido execução a lei no 228. Mandei tirar o plano deaformoseamento da frente da cidade, incluindo o da nova Alfândega, e em harmonia preparei não menos de quatro  planos para se fazer um edifício que servisse de Praça doMercado. A 12 de setembro de 1846, mandei convidar poreditais que comparecessem perante a Presidência companhiasou particulares que quisessem contratar a sua fatura, e nãotendo comparecido ninguém ociei a 12 de outubro à compa-nhia organizada no ano passado para que, quando quisesse,comparecesse a conferenciar comigo. Compareceram trêsmembros da diretoria. Apresentei-lhes os diferentes planos ealgumas observações escritas para examinarem, e repetiremas conferências. Devolveram-me os planos e ditas observações,

ociando-me a 28, dizendo que esperavam a escolha de local

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mais conveniente. Respondi no mesmo dia que eu não podiadesignar esse local sem que tivéssemos alguma conferência

sobre o assunto. Era, na verdade, da minha intenção pelossinceros desejos, que tenho da fatura desta tão útil comonecessária obra, aceitar antes a designação do lugar que acompanhia escolhesse, do que determiná-lo eu, deixando-lheassim a liberdade de levá-la a efeito onde melhor conta lhe zesse. Porém, não comparecendo mais pessoa alguma, o-ciei a 5 de janeiro último a mesma diretoria, convidando-anovamente a comparecer, ou a apresentar alguma proposta,e até hoje nenhuma resposta tive, e ignoro se está de ânimo a prosseguir na empresa, ou a apresentar-nos alguma proposta.Trecho do discurso do presidente da Província, Antero José Ferreirade Brito, em 1o de março de 1847.

Enquanto isso, o conselheiro Jerônimo Coelho conhece o trabalhode Victor Meirelles19. De volta ao Rio de Janeiro, apresenta os dese-nhos do jovem artista ao diretor da Academia Imperial de Belas Artes,Félix Émilie Taunay. O mestre, encantado com a revelação precoce,

aprova os trabalhos e com um grupo de amigos custeia seus estudosna Corte. Nascido na Cidade do Desterro, o pintor Victor Meirelles deLima, aos 15 anos, se matricula a 3 de março de 1847 na AcademiaImperial de Belas Artes.

 As controvérsias sobre o Mercado chegam ao m quando a lei no 252, de março de 1948, autoriza a presidência da Província a edicarpelos cofres públicos a Praça do Mercado e decreta que, após concluída,será entregue à administração da Câmara Municipal. Revoga as leisanteriores e dene o Mercado junto à praça principal, à beira-mar,conforme projeto de autoria do primeiro-tenente João de Sousa Mello e Alvim, em substituição aos três barracões, projeto do vereador AntônioFrancisco de Faria.

João Pinto da Luz assume a administração da obra. O projeto, or-çado em 4 contos de réis, compreende, além do prédio, um aterro paranivelar a Praça com a rua projetada na beira-mar, hoje rua AntônioLuz. Haveria também uma rampa de boa inclinação, livre de

19 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 183.

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encalhe, para facilitar a subida das canoas e pequenas embarcaçõesque abasteceriam o Mercado. E o prédio seria edicado no alinhamento

da Rua do Príncipe, atual rua Conselheiro Mafra. Depois de anos depolêmicas, o primeiro Mercado Público acaba sendo construído ondeatualmente se encontra a praça Fernando Machado20.

 Visando a arrecadar fundos para a construção, a Câmara Muni-cipal autoriza, na lei no 263, de 16 de março de 1848, o sorteio de duasloterias, cada uma com a quantia de 10 contos de réis em prêmios, embenefício da Praça do Mercado. A extração pouco ou quase nada serviuaos objetivos. Mesmo com 2 contos de réis para o primeiro prêmio, aarrecadação foi mísera. E o governo presta contas:

[...] O produto líquido não chega para o selo, direitos de 8%e mais despesas. Estou certo que conviria alterar o plano, ouaplicá-las ao Hospital de Caridade. Trecho do discurso do pre-sidente da Província, em exercício, Severo Amorim do Valle, em 1o de março de 1849.

O certo é que o dinheiro arrecadado não é suciente. Mas João Pin-

to da Luz, encarregado da construção, inicia a obra. As fundações sãofeitas e as paredes são levantadas até a altura do respaldo21, quando jáestão gastos 3 contos, 750 mil e 500 réis, do total de 4 contos de réis doorçado. A edicação segue lenta, mas mesmo com a verba praticamenteesgotada os administradores propõem que a obra continue de formalenta e gradual. Severo Amorim do Valle, presidente em exercício,solicita mais 6 contos de réis para a conclusão.

 A construção pára. O reforço de verba é aprovado, mas a baixaarrecadação de impostos não permite a disponibilidade. Além disso,os reparos na Igreja Matriz consomem parte do orçamento adminis-trativo. A um custo de 1 conto, 499 mil e 728 réis, o teto da Catedral,que ameaçava cair por uma infestação de cupins, é reconstruído. Orevestimento externo, de estuque, também é refeito.

Mesmo sem condições ideais e a obra do Mercado parada, o co-

20 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 179.21 Última carreira de tijolos da parede, no encontro com o forro.

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mércio continua. As pessoas precisam se alimentar. Os alemães,que haviam fundado a colônia São Pedro de Alcântara, são os princi-

pais fornecedores da capital. Carne de porco, farinha, manteiga, algunstipos de queijos, variedades de legumes e a chamada batata inglesachegam à Praça após longas viagens de carroça até São José, no Con-tinente, de onde são transportadas em canoas para a Ilha.

Os primeiros imigrantes alemães chegaram em 1828, sendo aloja-dos em barracões na Praia da Armação, no sul da Ilha. Após a demar-cação das terras no Continente, foram transferidos para lotes à beirada estrada de Lages, fundando a colônia de São Pedro de Alcântara,dentro dos limites do município de São José. Em 1844, a colônia setransforma em freguesia, tornando-se município em 1994.

Promulgada pela Assembléia Provincial, a Lei no 295, de 11 demarço de 1850, autoriza o governo a contrair um empréstimo de 5contos de réis, cando hipotecado o rendimento da Praça do Mercadoaté 1o de abril de 1853, quando se efetuaria o resgate da dívida a jurode 1% ao mês. Esse valor não é ainda suciente, sendo contraído maisoutro crédito junto a particulares, de 2 contos de réis, mesmo semautorização da Assembléia.

 Ao justicar o empréstimo, o presidente João José Coutinho seexplica na sessão de abertura dos trabalhos legislativos, em 1o demarço de 1851, após a inauguração da Praça do Mercado, ocorrida em6 de janeiro:

 Por meio de empréstimos, pôde-se concluir em princípio de ja-neiro a Praça do Mercado. Tem ela 490 palmos22 de paredede altura, 20 palmos fora dos alicerces sobre dois a três pal-mos de espessura rmada em base de cinco de largo e sete de profundidade, termo médio, aterrada a arca correspondentea todo o edifício na altura média de quatro palmos.

Tem cimalha23 com platibanda na extensão de 490 palmos, 20  pilares de 12 palmos de alto com capitéis, coberta em roda

22 Antiga medida de comprimento equivalente a 22cm.23 Saliência que, na parte superior da parede, serve de adorno ou apoio aos beirais

do telhado.

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na largura de 50 palmos, poço no centro com bomba. Acha-se dividida em pátio central, corredores e casinhas24 ,

sendo estas 12, além de quatro bancas, cada uma das quaiscorresponde a três quartos. As casinhas têm portas e janelas,e divisão de paredes de estuque, e são assoalhadas de tabu-ado. As bancas são cercadas por gradeamento de madeira eladrilhadas de tijolo, assim como o pátio e corredores. Tem 24 semicírculos de 2,5 palmos de diâmetro com gradeamento de ferro e caixilhos por fora. Forte pregadura nas portas. Nas ban-cas de carne existem quatro fortes ganchos de pendurar, seisbalanças de meia arroba25 e uma de quintal26 , balcão e mesasde picar. Nas do peixe, mesas de exposição. Portadas, portas, janelas, gradeamento, portões e bancas acham-se pintadas aóleo. Fizeram-se pelo lado de fora 46 braças27 quadradas decalçada. Tendo importado até a altura do respaldo na quantiade 5:219$650 réis [5 contos, 219 mil e 650 réis] e gastado depoisde resto 7:077$580 réis [7 contos, 77 mil e 580 réis], importoutoda essa obra a quantia de 12:297$230, [12 contos, 297 mile 230 réis] inclusive 1.560 tijolos, que se deve. Se cada um de

vós a examinar, conhecerá que ela se acha feita com toda soli-dez, e que a mão-de-obra é perfeita, e se convencerá que só pelozelo dos dois administradores dela, os senhores João Pinto daLuz e o comendador Agostinho Leitão de Almeida, é devido aimportar toda essa obra na referida quantia de 12:297$230 [12 contos, 297 mil e 230 réis]. Não achareis na Província muitosexemplos de economia combinada com perfeição e presteza. A obra acha-se acabada, mas seu acabamento é devido aossenhores Alexandre Ignácio da Silveira, Alexandre Franciscoda Costa, Alexandre Martins Jacques, Antônio Francisco deFaria, Antônio de Freitas Serrão, Antônio Machado de Faria, Bento José Ferreira da Silva, Domingos Velloso de Oliveira,Estanislao Antônio da Conceição,

24 Denominação que denia o espaço fechado, compartimento, box.25 Unidade antiga de peso, equivalente a 14,7kg. Ainda usada para alguns produtosagropecuários, hoje correspondente a 15kg.26 Antiga medida de peso igual a 4 arrobas, ou 58,8kg.27 Unidade de comprimento equivalente a 2,20m. Foi adotada a braça portuguesa; a

inglesa equivale a cerca de 1,80m.

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Francisco Duarte Silva, Franco José Teixeira Bastos, Hen-rique Schutel, Jacintho José da Luz, João Antônio de Sousa

Flores, João da Costa Mello, João Pinto da Luz, José AntônioCabral, José Bonifácio Caldeira de Andrade, José Maria daLuz, José Maria do Valle, José da Silva Paranhos, ManoelMarques Guimarães, Marcos Antônio da Silva Mafra, donaMaria Joaquina da Luz, Martinho José Callado, Queirozde Azevedo, Roberto Trompowski, Silva & Bastos, SilvérioFerraz Pinto de Sá e Ulrico Haeberle, que da melhor vontadeemprestaram a quantia necessária para a sua conclusão portrês anos, sem prêmio algum. Trecho do discurso do presidenteda Província, João José Coutinho, em 1o de março de 1851.

 Atualizando o texto para o sistema métrico atual, agrupando commais informações conhecidas sobre o projeto, o prédio seria assimdescrito:

O edifício possui 33,88 metros de frente para a Praça do Palácioe 21,34m na lateral. São 723m2 de área construída.

Quatro grandes portas, uma em cada face, facilitam o acesso.

Janelas em semicírculo com 55cm de raio, em número de 24, e gradesno interior, iluminam a área interna. Adornando as fachadas, possui uma cimalha em toda a extensão,

onde se apóia uma platibanda que, além da função decorativa, escondeo telhado. No interior, encimados por capitéis, 20 pilares de ferro, com2,64m de altura, sustentam o madeiramento do telhado, coberto comtelhas de barro.

O pátio central tem um poço, dotado de bomba, que abastece oscomerciantes e mata a sede dos fregueses. Completando a obra, paraconforto das pessoas, uma calçada facilitava o acesso nos dias de chu-va.

 As mercadorias são expostas em 12 compartimentos com portas e janelas, separados entre si por paredes de estuque28 e piso assoalhado.Existem ainda quatro bancas para o comércio de carne, cada uma combalcão e mesas de picar, cercadas com grades em madeira e piso detijolos, acompanhadas de seis balanças de 7,5kg de capacidade

28

Argamassa de revestimento preparada com cal, água e cola ou óleo de baleia.

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e uma balança de 58,75kg. As bancas de peixe têm mesas deexposição.

Embelezando a obra, portas, janelas, grades e bancas são pin-tadas com tinta a óleo.Um marco importante para o desenvolvimento da capital. Além das

falhas no abastecimento, estaria sendo resolvida parte dos problemassanitários. Pestes e doenças causadas pelo acúmulo de lixo e falta dehigiene no manuseio dos alimentos estariam solucionados. E aindaocorreria a moralização na região central, evitando o agrupamento demarginais, prostitutas e bêbados no local.

O Mercado Público custou 5 contos, 219 mil e 650 réis dos cofrespúblicos e 7 contos, 77 mil e 580 réis em empréstimos. Um total de 12contos, 297 mil e 230 réis, ou 22,1% da arrecadação da Província noano anterior, que foi de 55 contos, 478 mil e 558 réis. Considerandoque em seus relatórios os presidentes da Província sempre elogiarama honestidade dos administradores, João Pinto da Luz e João de SousaMello e Alvim, foi uma obra executada com custo bem razoável.

Com um rendimento médio anual de 1 conto e 200 mil réis, emimpostos e aluguéis, o capital aplicado teria um retorno em 10 anos.

Um ótimo investimento.Na inauguração, em 6 de janeiro de 1851, uma segunda-feira, opresidente da Província, João José Coutinho, passa às mãos de Clemen-te Antônio Gonçalves, presidente da Câmara Municipal, as chaves dopolêmico edifício público. Alerta ainda que, para abrilhantar, mandouque lampiões fossem instalados nas paredes externas, e que deveriamser mantidos acesos à noite. Ao contrário da iluminação pública, quetinha os lampiões apagados por volta das 22 horas.

Paisagem modicada, o comércio começa a funcionar no dia 10de janeiro nas dependências internas. Mas, a inexistência de umserviço de coleta de lixo, a falta da rede de esgotos e a vadiagem quecontinua a existir na região ainda impedem as saudáveis condiçõesde higiene.

O edifício não seduz os comerciantes e poucos se candidatam aalugar os espaços oferecidos. Ao abrir ao público, apenas seis boxesestão locados. Cinco pessoas têm suas propostas aceitas para arren-damento, sendo: Francisco Antônio de Castro, arrendatário do box 1

com 4$000 (4 mil réis) por mês, no período de seis meses; arrematando

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José de Sousa Freitas o box 5; o box 6 alugado por Pedro [Scifer]; JoãoLago escolheu o box 7; Francisco da Silva cou com os boxes 8 e 9,

estes todos com um aluguel mensal estipulado em 3$000 (3 mil réis)e uma vigência contratual também de seis meses. As outras unidadessomente foram ocupadas após quatro meses da inauguração.

 Funciona o Mercado e também começa a cobrança de impostos. A Lei no 307, de 13 de maio de 1850, passa a ser observada. Dene noartigo 13 que seja cobrada uma taxa de 300 réis por cabeça de gadovendida na Praça do Mercado, e que oito boxes sejam cedidos gratui-tamente aos vendedores de carne e peixe. Estabelece ainda que todoimposto arrecadado com a venda de carne seja aplicado exclusivamentena amortização do empréstimo contraído na construção do prédio.

 As mercadorias são vendidas em saco. Muito pouco ou quase nadatem seu comércio efetuado em pequenas quantidades. O jornal O NovoIris, na edição de 10 de janeiro de 1851, quando as portas do Merca-do Público são abertas ao comércio, publica uma tabela de preços dealguns produtos.

Como curiosidade, foi possível montar um comparativo do custode vida na época da inauguração do Mercado com os dias de hoje. Para

facilitar, na tabela a seguir os preços foram calculados no varejo, emquilo. Visando a uma análise aproximada sobre a evolução dos preços,os valores das mercadorias foram transformados em minutos traba-lhados, tomando como base o salário de um professor primário em1851 e 2001. Assim, temos a quantidade de minutos que o prossionalprecisava trabalhar para adquirir determinado alimento na Praça doMercado e hoje.

Equivalência do CustoA da Mercadoria (kg) por Hora Trabalhada (h)

Mercadoria Em1851 Em2001

Réis TempoB Real TempoC 

Farinha de Mandioca 18 5 min 1,20 33 minFeijão 43 12 min 2,80 77 minGomaD 32 9 min 1,00 28 minFava 44 13 min 5,00 2h18 min

  Amendoim com casca 48 14 min 2,50 1h09minMilho 36 11 min 0,50 14 min

Batata Inglesa 32 9 min 0,70 19 min Arroz piladoE 100 29 min 1,00 28 minCafé chumbadoF 234 67 min 4,80 2h13 min

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  A) Preços publicados na edição de 10 de janeiro de 1851 do jornal O Novo Iris. Atua-lizados em pesquisa nas feiras de Florianópolis, em 28 de dezembro de 2001.

B) O salário de um professor primário, em 1851, importava, na média, em 33$280 (33mil e 280 réis), ou 208 réis por hora.C) O correspondente salário de um professor primário, em 2001, é, na média, R$ 347,00,ou R$ 2,17 por hora. Dados da Secretaria de Estado da Educação e do Desporto deSanta Catarina.D) Fécula alimentícia que se extrai da mandioca.E) O arroz pilado, socado no pilão, era o equivalente ao arroz descascado.F) Depois de seco, o café era torrado e amassado no pilão. Alguns fornecedores ainda

misturavam um pouco de açúcar mascavo, dando mais cor ao produto nal.

Esclarecendo, o quilo do arroz custava 100 réis, o equivalente aopreço da passagem na barca que fazia a travessia Ilha-Continente, ou,com esse valor, se podia comprar um exemplar de jornal.

O regulamento para a Praça do Mercado, aprovado pela CâmaraMunicipal na Lei no 317, em 1o de abril de 1851, dene deveres e obri-gações dos comerciantes. A seguir, alguns artigos interessantes:

 Artigo 1o - A Praça do Mercado é dividida em casinhas, bancasde carne e peixe, praça geral, e lugares de quitandeiros, que

são os vãos que cam entre as colunas, à exceção dos fronteirosaos portões. Artigo 2 o - As casinhas, menos a de número 2, que ca

reservada para a residência do guarda, de que trata esteregulamento, serão alugadas em hasta pública por semestre, pagas em trimestres adiantados.

[...]  Artigo 24 - O pátio central do Mercado é destinado, até

as 2 horas da tarde, para a venda de todos os gêneros, comexceção da carne e de peixes, que, na conformidade dos arti- gos 13 e 18 deste Regulamento, serão vendidos nas bancas.Também são compreendidos nesta exceção o carvão, lenha eoutros objetos que promovam a falta de asseio e tomem grandeespaço na Praça.

 Artigo 25 - Logo que seja dada a hora marcada do artigoantecedente, o guarda da Praça fará tirar do centro desta todosos gêneros que ali se acharem; os donos, ou agentes que não

obedecerem incontinente serão presos por 24 horas.

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 Artigo 26 - Os lugares entre as colunas são destinados,conforme o artigo 1o, para quitandeiros, que pagarão dealuguel, cada um dos vãos, 1$200 [1 mil e 200 réis] mensais; podendo estes serem ocupados por uma ou duas pessoas, pa- gando cada uma a metade do aluguel.

[...]  Artigo 45 - À exceção da carne verde [carne fresca] e pei-

xe fresco, todos os demais gêneros poderão ser vendidos nas praias que cam entre a Igreja do Menino Deus [Hospital deCaridade] e o Canto da Figueira [posto de gasolina em frenteao Terminal Rita Maria], quando seus donos não queiram

levar à Praça do Mercado. Em nenhum outro lugar é permiti-do pararem os gêneros trazidos a esta cidade, com destino deserem vendidos, sob pena de 4$000 [4 mil réis] de multa.

 Artigo 46 - Os gêneros que forem levados ao Mercado, ouaportarem na praia em frente ou nas imediações da Praça, para serem vendidos a retalhos29 , não poderão retirar-se antesdas 9 horas [o horário era anunciado pelo sino da Cadeia] paraserem vendidos em outros lugares, ou para qualquer m.

 Artigo 47 - O milho, arroz, feijão e outros gêneros não poderão ser joeirados30 , ou assoalhados dentro da Praça. Osinfratores serão multados em 4$000 [4 mil réis] pela primeiravez e no dobro na reincidência.

 Artigo 48 - Dos portões para dentro é proibido entrar car-ro [de cavalo], carroça, animal vivo vacum, cavalar, muar31,cerdum32 , cabrum, ovelhum, canino e qualquer outro de igualou maior dimensão, ainda mesmo para serem vendidos, sob

 pena de 4$000 [4 mil réis] de multa. Artigo 49 - Não se poderão atar nem conservar paradosanimais, a menos distância de 10 braças [22 m] da Praça doMercado, sob pena de 4$000 [4 mil réis] de multa.

 Artigo 50 - São proibidos dentro da Praça jogos, danças,tocatas e qualquer outro divertimento, sob pena de 8$000 [8 mil réis] de multa.

29 Venda a varejo. Parte ou pedaço de uma coisa maior, retalhada.30 Peneirados.31 Animal pertencente à raça do mulo.32 Suíno.

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[...]  Artigo 58 - O poço da Praça é privativo do comércio, e

ninguém poderá entrar com cousa alguma dentro dele, sob pena de 4$000 [4 mil réis] de multa.

Regulamentando o comércio em geral, a Câmara aprova a novaLei de Posturas, Lei no 325, de 3 de maio de 1851, onde também sedene as funções do pombeiro:

  Artigo 1o - É qualicado pombeiro e sujeito ao imposto de3$200 [3 mil e 200 réis] todo indivíduo que comprar ou atra-vessar dentro dos limites do município gêneros alimentícios para tornar a vender a um ou a muitos, quer em tabuleiros,cestos, etc, pelas ruas, praças, marinas [beira-mar] ou outroslugares públicos, quer em canoas ou botes, a bordo das embar-cações, ou mesmo no Mercado. O contraventor, sendo pessoalivre, pagará uma multa equivalente ao dobro doimposto, ou satisfazendo no ato de ser encontrado em contra-venção, ou dando ador idôneo ao pagamento, e sendo escravo

será recolhido à cadeia até que seu senhor ou alguém por ele pague.[...]  Artigo 5 o - É também classicado pombeiro e sujeito ao

imposto de 3$200 [3 mil e 200 réis] e às penas do artigo 1 o aquele que vender carne de vaca e outras carnes a retalhode animais de qualquer outra espécie pelos lugares acimadesignados.

Relembrando, os pombeiros eram as pessoas que vendiam de portaem porta. Na maioria das vezes com os produtos acondicionados emum ou mais cestos, ou mesmo sobre as cabeças, em tabuleiros. A guramais comum de pombeiro é aquela que encontramos nos quadros deRugendas33, o homem com uma vara transversal sobre as costas e umcesto pendurado em cada extremidade.

33

Ver Balaio de Figurinhas, pág. 182.

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E as reformas já aparecem. O espaço insuciente para venda decarne, onde os compradores se espremem e os açougueiros cam

limitados para trabalhar, é ampliado com a criação de mais duasbancas para carne e duas para venda de peixe. A taxa sobre o gado vendido é reajustada, e passa de 300 para 400

réis por cabeça. Registros nos livros scais do Mercado mostram que,na média, eram vendidas por dia seis cabeças de gado vacum.

 As obras novas do Mercado duram dois anos e cam prontas em junho de 1853. Além de novos espaços para a venda de carne e peixe,também são importadas quatro novas balanças e são executados re-paros nas antigas bancas, tudo com um custo de 102$520 (102 mil e520 réis).

O empréstimo feito pelo governo, em 1o de abril de 1850, estápara se vencer. João José Coutinho, sabendo que o atraso no paga-mento acarretaria uma multa de 1% ao mês, e possuindo verba extranos cofres públicos, liquida a dívida. Não havendo mais a penhora dorendimento da Praça do Mercado aos credores, e conforme a Lei no 252 determina, entrega o prédio à Câmara Municipal, que já vinhainformalmente administrando o comércio no local. Cresce a cidade. O

censo ocial, em 1855, informa uma população de 19.913 habitantesna Cidade do Desterro. A Biblioteca Pública começa a funcionar comum acervo de 474 volumes e alguns folhetins. Existem na Província 28escolas masculinas, com 981 alunos, e 11 escolas femininas, com 331alunas. As escolas particulares ensinam a 256 alunos e 215 alunas.Sobram vagas na instrução primária, a escola das primeiras letras.

O progresso continua impulsionando as reformas no setor urbano.Quase ao lado do Mercado, o cais da Alfândega está em obras, e tes-tam-se novos lampiões a gás, logo desprezados. O Palácio do Governopassa por reformas.

Os navios, além do transporte de passageiros, e de carga, conso-mem enormes quantidades de carvão para suas caldeiras a vapor. Oarmazém da Ilha do Carvão34 começa a ser construído. E a devastaçãodas matas para a fabricação do produto continua crescendo. Outrodepósito de carvão, na ilha de Ratones Grande, situada na Baía Norte,abastece os navios da esquadra real.

34

Situada na Baía Sul, possuía um castelinho que servia de depósito de carvão. De-molida para a construção da ponte Colombo Machado Sales.

3  MERCADO DO MANÉ AO TURISTA

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No Rio de Janeiro, capital do Império, o pintor catarinense VictorMeirelles apresenta o quadro A Primeira Missa no Brasil, em 1860.

Nasce em 1861, na Cidade do Desterro, João da Cruz e Sousa35,o poeta simbolista36 catarinense. Filho de escravos libertos do coronelGuilherme Xavier de Sousa, recebe o nome do santo do dia, São Joãoda Cruz, agregando o sobrenome da família do senhor de seus pais,como era freqüente.

 A carência de bons produtos na cidade é suprida pelos colonos deSão José e São Pedro de Alcântara, ambas no Continente.

 A crise não chega à Biblioteca Pública, já com um acervo de 3.405

obras, avaliadas em 500 mil réis. Essas obras são consultadas por 2.648pessoas, no ano de 1864. A bordo do vapor Santa Cruz, chega ao porto o imperador dom

Pedro II. Indignados caram os habitantes que esperavam o desembar-que do ilustre visitante, fato que não ocorreu. Restava como conforto aestadia que zera em agosto o príncipe Conde d’Eu37, quando visitoua Igreja Matriz, os hospitais Militar e de Caridade.

Navio abastecido, dom Pedro II zarpa para o Rio Grande do Sul,com destino a Uruguaiana38. Após a batalha do Riachuelo, a primeiravitória brasileira na Guerra do Paraguai, o quase aniquilado exércitoparaguaio marcha sobre a cidade da fronteira oeste gaúcha. Ao cabode um mês de sítio, Estigarríbia, exausto, rende-se ali, na presença dedom Pedro II. Os aliados aprisionam também mais de 6 mil soldados.O conito só termina em 1870.

O progresso não detém sua marcha. Em 2 de janeiro de 1867,no Largo do Fagundes, é instalada a primeira estação telegráca deSanta Catarina.

Mantém sua fama comercial o porto da capital da Província. Omovimento, segundo relato da Alfândega, é promissor:

35 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 181.36 Escola literária que se caracteriza por uma visão subjetiva, espiritual do mundo,simbólica.37 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 182.

38 Cidade gaúcha localizada na fronteira com a Argentina.

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 A navegação de longo curso trouxe a esta Província, no ano de1867, 20 vapores de guerra, 82 transportes de guerra, 43 paquetes39 e

vapores do comércio, três brigues-barcos40 

nacionais, três vapores de guerra, 20 brigues-barcos, 21 bergantins41,cinco polacas42 , um brigue-escuna, 16 patachos43 , 13 escunas,três sumacas44 e um iate estrangeiro.

 A de grande e pequena cabotagem trouxe três brigues-bar-cos, três bergantins, um brigue-escuna, cinco patachos e umiate nacional, mas pertencentes a outras praças, e um brigue,dois bergantins e três patachos estrangeiros.

Os 231 da primeira [longo curso] eram do porte de 47.271toneladas, com 2.450 pessoas de tripulação. Os 19 da segunda[grande e pequena cabotagem], com a lotação de 3.768 tone-ladas, tinham 181 tripulantes, o que dá para os 250 naviosde longo curso, e de grande e pequena cabotagem, um total de51.039 toneladas e de 2.631 tripulantes.

Empregaram-se também na grande e pequena cabotagem,e nesta principalmente, 124 navios pertencentes à Província.Foram: dois brigues-barcos, três bergantins, quatro polacas,

um brigue-escuna, 47 patachos, duas escunas, seis sumacase 92 iates, com 7.440 toneladas e 643 pessoas de tripulação,sendo 267 nacionais livres, 218 estrangeiros e 158 escravos.Trecho do discurso do presidente da Província, Adolpho de BarrosCavalcanti de Albuquerque Lacerda, em 1o de março de 1868.

 Apesar dos altos custos da Guerra do Paraguai terem deixado oscofres da Província vazios, e um saldo de 56 catarinenses mortos, asobras do cais da Alfândega são terminadas, a falta de água potável

39 Embarcação veloz e luxuosa para viagens rápidas de transporte regular de pas-sageiros.40 Navio à vela, com dois mastros, o de ré com vela quadrangular e um terceiro mastroinclinado na proa.41 Embarcação veloz e esguia, com oito ou 10 bancos para remadores e um ou doismastros.42 Navio com três mastros, velas redondas e latina quadrangular, mais o terceiromastro inclinado na proa.43 Semelhante ao brigue.44 Semelhante ao brigue, com mastreação menor, muito usado na costa do Brasil.

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passa a ser prioridade e reformas e construção de novos chafarizes45 são executadas. Surge a idéia para a coleta do lixo, empregando-se

cubos hermeticamente fechados em carroças apropriadas, para o quenão faltaria alguma empresa a que seria cometido um tal serviço,mediante a retribuição de taxas pagas pelos moradores dos prédiosurbanos. Joaquim Bandeira de Gouvêa, presidente da Província, em 26 demarço de 1871.

José Delno, empresário, em 1871 propõe uma concessão de trêsanos em troca de duas linhas de transporte, uma linha de carros decavalo e outra de barco a vapor, ligando a Ilha a diversos pontos doContinente. Proposta essa que não saiu do papel.

Novidades internacionais chegam à Cidade do Desterro. A partirde 1o de janeiro de 1874, o Brasil passa a usar o padrão internacionaldo sistema decimal de pesos e medidas, MKS, metro (m), quilograma(kg) e segundo (s).

 A Alfândega, que vinha operando precariamente após uma ex-plosão em suas instalações, em 1866, tem a pedra fundamental donovo edifício lançada em 25 de janeiro de 1875, quase 10 anos depois.O antigo prédio estava localizado mais próximo da Praça do Mercado,

hoje praça Fernando Machado. O novo edifício é levantado no local emque se encontra até hoje.Demorou algum tempo para que os ilhéus esquecessem aquele 24

de abril, uma terça-feira:

O teto da casa voou para todos os lados, espalhando pela Praçae pelas ruas mais próximas restos de vigas e telhões partidos. As paredes abateram-se com fragor entre nuvens de pó e fumo. A detonação fez estremecer as casas vizinhas, inutilizou, pelodeslocamento do ar, o telhado do Mercado, partiu vidraças deedifícios distantes e foi ouvida lá pela Tronqueira [região daavenida Hercílio Luz], e pelo Mato Grosso [região da praçaGetúlio Vargas], os bairros mais distantes. Osvaldo R. Cabral,pág. 70.

45

Construção de alvenaria com uma ou duas bicas, bebedouro.

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 A destruição também não detém sua marcha. Ainda em janeiro, oForte Santa Bárbara havia sido demolido para ceder lugar ao edifício

da Capitania dos Portos.Não acontece a Exposição Provincial de 1875 programada pararealizar-se no Teatro Santa Isabel, que está em fase nal de constru-ção. Então, uma comissão especialmente formada seleciona produtoscatarinenses da lavoura, da indústria, trabalhos de ciências e artes,além de máquinas e artes mecânicas, para irem ao Rio de Janeiro.Seriam exibidos na Exposição Nacional.

O objetivo era selecionar artigos nacionais para serem mostradosna feira mundial, circuito que o Brasil já freqüenta desde a Exposiçãode Londres, em 1862. Apresentando basicamente produtos naturais ealguns manufaturados, como tecidos, a intenção é divulgar o país comonação soberana e civilizada.

 Agora é a vez da Exposição Universal da Filadéla, que comemorao centenário da Independência do Estados Unidos, em 1876. A primeiramostra em solo norte-americano, a Centennial, como cou conhecida, teve um hino especialmente composto por Wagner. Sua inauguraçãoaconteceu com a presença do presidente Grant, dos Estados Unidos,

acompanhado do imperador do Brasil, dom Pedro II.Graham Bell mostra seu mais famoso invento, o telefone. E o Bra-sil apresenta às nações, pela primeira vez, um instrumento cientícode fabricação nacional, o Alta Azimute Prismático, através do qual épossível determinar as coordenadas de um astro.

O invento de Bell chama a atenção de Dom Pedro II, que insisteem experimentar o aparelho. Enquanto Bell ca numa ponta do o,no transmissor, a 150 metros de distância, Dom Pedro II escuta, naoutra ponta, nitidamente, Bell declamando Shakespeare: to be or notto be. E teria então, pronunciado outra frase famosa na história dotelefone, contestada por uns, conrmada por muitos: Meu Deus, isto fala! , teria dito o imperador.

Os quadros de Victor Meirelles, Combate Naval do Riachuelo e Passagem de Humaitá, referências da Guerra do Paraguai, tambémsão exibidos nessa Exposição.

Finalmente a cultura ganha o Teatro Santa Isabel, inauguradoem 7 de setembro de 1875, uma terça-feira. Mas, apenas em 1893

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recebe o nome de Teatro Álvaro de Carvalho46, em homenagem aeste dramaturgo. Na inauguração, em primeiro ato, um coral de vozes

femininas entoa o Hino de Santa Catarina47

, da autoria de HorácioNunes e música de José Brazílico de Sousa:

 Hino de Santa Catarina

Sagremos num hino de estrelas e oresNum canto sublime de glórias e luz, As festas que os livres frementes de ardores,Celebram nas terras gigantes da cruz.Quebram-se férreas cadeias,Rojam algemas no chão; Do povo nas epopéiasFulge a luz da redenção.

No céu peregrino da Pátria giganteQue é berço de glórias e berço de heróisLevanta-se em ondas de luz deslumbrante,O sol, Liberdade cercada de sóis.

 Pela força do Direito Pela força da razão,Cai por terra o preconceitoLevanta-se uma Nação.

Não mais diferenças de sangues e raçasNão mais regalias sem termos fatais, A força está toda do povo nas massas,Irmãos somos todos e todos iguais. Da liberdade adoradaNo deslumbrante clarão Banha o povo a fronte ousadaE avigora o coração.

46 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 177.47 Ocializado no governo de Hercílio Pedro da Luz através da lei número 114, de 6

de setembro de 1895.

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O povo que é grande mas não vingativoQue nunca a Justiça e o Direito calou,

Com ores e festas deu vida ao cativo,Com festas e ores o trono esmagou.

Quebrou-se a algema do escravoE nesta grande NaçãoÉ cada homem um bravoCada bravo um cidadão.

Inaugurado na Praça do Palácio o monumento à memória dosheróis catarinenses, mortos na Guerra do Paraguai. O presidente daProvíncia, Alfredo d’Escragnole Taunay48, o visconde de Taunay, dirigea solenidade em 10 de janeiro de 1877. Achando o projeto inicial depouca beleza arquitetônica, fez algumas modicações. As placas demármore xadas nas laterais lembram os 56 ociais catarinenses quetombaram naquela luta. A preocupação sanitária não deixa de estar em pauta. Em 14 de agostode 1877 é estabelecido, por um prazo de 15 anos, o direito da remoção

de lixo, materiais fecais e águas servidas aos cidadãos Firmino DuarteSilva e Carlos Guilherme Schmidt.Na política, o presidente Antônio de Almeida Oliveira, em 1879,

compra a casa de Ernesto da Silva Paranhos para servir de paço da Assembléia Legislativa Provincial, na esquina das ruas Tenente Sil-veira e Trajano. Importou o seu custo 8 contos e 550 mil réis, mas aessa quantia se acresce a de 4 contos de réis de despesas necessáriaspara reformas, bem como a de 450 mil réis pela aquisição de algunsobjetos pertencentes à mesma casa, o que eleva a 13 contos de réis aimportância despendida.

 A partir de 1o de janeiro de 1880, a cidade passa a ser iluminadapor 150 lampiões a gás, e continuam funcionando outros 30 que usamquerosene como combustível.

Começa no ano seguinte o serviço de bondes, puxados a cavalo. Aempresa Carris Urbanos, de Polydoro Olavo S.Thiago, liga a Praça doPalácio à Rua do Príncipe, hoje rua Conselheiro Mafra.

48 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 177.

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No período entre 1885 e 1887, a Cidade do Desterro, nas mãosdo presidente da Província Francisco José da Rocha, passa por sérias

transformações e propostas de urbanização. O arrendatário do serviçode iluminação propõe a troca dos lampiões a querosene por lâmpadas

elétricas.Questionando a eciência da novidade e os elevados custos, o

presidente adia o serviço. Começam os estudos para a canalização deágua na capital e interferências são feitas no saneamento. Preocupa-do com as chuvas, que deixam as poucas calçadas escorregadias, elesolicita aos engenheiros uma solução, e propostas para o calçamento

das ruas. Cobra do superintendente49

municipal mais empenho naconservação e limpeza da cidade. Contrata quatro varredores paracolaborarem no asseio das vias. Sugere que a Câmara Municipal ea Companhia de Aprendizes Marinheiros dividam os gastos com areforma da praça Barão de Laguna50, antiga Praça do Palácio e hojepraça XV de Novembro.

Mas a obra não se concretiza. Inaugura também o Matadouro doEstreito.

Na educação, denuncia a falha na distribuição dos livros escolares

e sugere a criação do curso Normal, com intuito de formar senhoras professoras para a instrução primária. Regulamenta o uso do TeatroSanta Isabel, rescinde com o jornal Regeneração o contrato de publi-cação das leis e assina com o Conservador, de menor custo.

 A febre amarela que assola a cidade é debelada quando o presi-dente a divide em dois distritos, nomeando duas equipes médicas paravisitar as casas e atender aos doentes. Ele organiza uma loteria paraangariar fundos que se destinariam às obras do Hospital de Caridade

e auxiliar instituições pias e igrejas da providência. Cobra perfeitoatendimento nos socorros médicos e cria subdelegacias para manter aordem. As atitudes benécas do presidente se estendem inclusive aoenvio de uma lei à Câmara, determinando a remoção urgente de corpospara o cemitério, e em carro.

49 O chefe de governo municipal, equivalente a prefeito. Denominação que prevaleceuaté o m do Império.50

Ver Balaio de Figurinhas, pág. 177.

BALAIO VELHO  4

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Francisco José da Rocha, presidente da Província, já demonstravauma preocupação ecológica. Impede a Capitania dos Portos de retirar

areia das praias para usar em suas obras. Muita areia da Ilha de SantaCatarina foi retirada também para servir de lastro aos navios que aquilançavam âncora. Endossa a decisão da Câmara em proibir o corte domangue, reforçando:

Os mangues continuam a ser barbaramente devastados, ou paralenha ou para curtumes, quando há por toda parte capoeirões para fornecerem aquela e outros vegetais e drogas para servirem a este.

E ainda arma: não pode haver um povoado sólido sem a existênciade feira, igreja e escola, reclamando da falta de feiras livres na capitalda Província.

Galpão do Peixe A crise do abastecimento retorna à pauta. Velhas polêmicas se

fazem presentes na nova fase da evolução social e urbana da Cidadedo Desterro.

 A balbúrdia em volta do Mercado torna-se insuportável. Come-çam, após 35 anos da inauguração da Praça do Mercado, os movimen-

tos para ampliação do espaço. O crescimento da população, aliado aoaumento de consumo e à grande quantidade de vendedores na áreaexterna, contribui para novos debates na imprensa. Os pombeirosse aglomeram na vizinhança, as barraquinhas voltam à cena, agoradenominadas quiosques, e a moda é importada do Rio de Janeiro, acapital do Império.

O Jornal do Commércio empunha a bandeira para a construçãodo Galpão do Peixe, propondo sua construção junto à Capitania dosPortos, antigo Forte Santa Bárbara, próximo à Ponte do Vinagre, sobreo Rio da Bulha, hoje avenida Hercílio Luz.

Em seus artigos, abraça a causa dos pescadores.

Mui conveniente seria que o pescado fosse vendido dentro doMercado, ou que, a continuar a ser vendido fora, fossem er- guidas barracas ou tendas, de modo a preservá-los dos raiossolares. Jornal do Commércio, em 7 de dezembro de 1886.

 A controvérsia chega ao Palácio do Governo e Francisco José da

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Rocha, presidente, questiona as atitudes da Câmara:

Ouvida a Câmara sobre concessões feitas por ela, a título derenda municipal para a construção de edifícios de três metrossob a denominação de quiosque, no terreno concedido paralogradouro público onde está o Mercado, que com tais edifícios caria comprimido entre ruas estreitas, em ofício de 30 de junho [1887] demonstrei-lhe a inconveniência e os perigos detais concessões em vista da legislação vigente, pois que eramilegais desde sua origem, e como quer que fossem encaradas. Trecho do discurso do presidente da Província, Francisco José daRocha, em 11 de outubro de 1887.

Em seu primeiro ano de mandato, 1888, o novo presidente da Pro-víncia, Augusto Fausto de Sousa, defende, ao contrário do antecessor, aconstrução do galpão anexo ao prédio do Mercado, em discurso de 20 demaio. Sugere que seja edicado por alguém ou empresa com concessãopor determinado período, poupando as nanças provinciais.

Mas foi contraditório, em 1o de setembro, perante a Assembléia:

O local onde se acha o Mercado é o menos apropriado possí-vel, porque impede a belíssima vista que da praça principal se gozaria para o porto, e deste para aquela. Acredito que, emboracom algum sacrifício, seria fácil encontrar uma associação ouindivíduo que, mediante algumas concessões municipais, cons-truísse outro mercado em ponto escolhido, não muito longe doatual, tendo em frente uma pequena doca para desembarquede gêneros e abrigo das canoas. Demolido o atual Mercado, emsua face de oeste se construiria uma varanda ornamentada,do meio da qual partiria uma ponte de pedra para embarquee desembarque de passageiros, em substituição à velha pontede madeira que hoje existe e ameaça próxima ruína. Trechodo discurso do presidente da Província, Augusto Fausto de Sousa,em 1o de setembro de 1888.

Depois, ele assume uma briga com a Câmara Municipal pela de-molição dos quiosques adjacentes ao Mercado. Eram concessões ilegais

feitas pela Câmara, contrárias à legislação, alegando que lhe valiam

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recursos extras. Depois de longos debates, o presidente consegue quesejam demolidos, pois estavam edicados em terrenos reservados para

logradouros públicos. Agora o Jornal do Commércio defende os agricultores relatandoa sorte de seu destino:

[...] depois de penosa viagem de dois ou três dias por mauscaminhos, não encontram [os agricultores] o menor abrigonesta capital.[...] nem ao menos têm um telheiro de zinco, um rancho detábuas para abrigar as mercadorias com as quais enrique-cem o nosso Mercado. Jornal do Commércio, em 4 de setembrode 1888.

O presidente reconhece a necessidade da obra, e se compadece emseus discursos dos colonos e pescadores que vendem peixes e verdurasexpostos ao sol e à chuva. Ele admite a construção do barracão, massugere as proximidades da Capitania como local ideal.

 A ebulição política na capital do Império se reete nas províncias.

O m da escravatura, ocorrido a 13 de maio de 1888, e os rumores so-bre a República criam novas expectativas na população. Neste clima,começa a denir-se a construção do Galpão do Peixe.

Na sessão da Câmara de 25 de maio de 1889 aparece a primeiraproposta concreta. Os vereadores Manoel Joaquim da Silveira Bitten-court, Gustavo Richard, Antônio Carlos Ferreira e Joaquim Caetanovotam a construção de um galpão para a venda do pescado no cais,entre a Praça do Mercado e a Rua da Conceição, atual rua SaldanhaMarinho.

O tempo passa e o comércio continua a ocorrer a céu aberto,abastecendo a uma população de 30.392 habitantes. Os pombeiros,sempre no centro das discussões, elaboram em janeiro de 1890 umabaixo-assinado solicitando à Câmara autorização para vender seusprodutos em volta do Mercado. Os comerciantes instalados no edifícioentram na briga. Pressionados, os vereadores, em 21 de janeiro de1890, concordam que se faça a concorrência para a construção de umgalpão, denindo como local a rua José Veiga, hoje rua Conselheiro

Mafra, entre as ruas da Paz e do Ouvidor, atualmente ruas Jerônimo

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Coelho e Deodoro.O interessado deveria fazer a construção com recursos próprios

e, ao nal de 10 ou 15 anos, ainda a combinar, a renda e o prédiopassariam ao domínio do Governo Municipal. Na inexistência de al-gum empreendedor para o projeto, a Intendência51 caria obrigada aconstruir o Galpão em seis meses, podendo contrair empréstimo novalor da obra.

 Apresentado por José de Araújo Coutinho, o projeto foi aprovadoem parte. Todos reconhecem sua necessidade. Mas não concordam coma nova localização, que prejudicaria os comerciantes, pois estariam forado centro comercial, a Praça do Mercado, além de não haver condições

para o desembarque de mercadorias. A sessão ca acalorada quandoum opositor sugere que se aprove seu projeto de construção do Galpãosobre o mar, em frente ao prédio do Mercado. Idéia descartada pelo altocusto. Ao nal da sessão, por quatro votos a três, prevalece a construçãona rua Conselheiro Mafra.

O centro da cidade passa por várias reformas. Ruas estão sendocalçadas, a praça XV de Novembro, além do calçamento, executadopor Jerônimo Nocetti, tem seu ajardinamento implantado. Aconte-

cem melhorias na iluminação pública e a colocação de novas placasindicativas com os nomes das ruas e a numeração das casas. Paracomodidade dos éis, Antônio Carioni conclui, em 10 de abril de 1890,a escadaria da Catedral. Os moradores do interior da Ilha passam acontar com o benefício de novas pontes, entre elas a do rio Ratones ea sobre o rio Tavares.

Em fase nal de acabamento, o Galpão do Peixe não ameniza asconstantes disputas por clientes. Desta vez são os proprietários esta-belecidos no Mercado que apresentam à Câmara um abaixo-assinado

pedindo providências contra os ambulantes na Praça.Edicado ao lado da praça Fernando Machado, entre as ruas João

Pinto e Antônio Luz, a um custo nal de 5:808$000 (5 contos e 808mil réis), com área aproximada de 640m2, o Galpão do Peixe abre suasportas em 30 de janeiro de 1891, uma segunda-feira.

O Galpão é uma construção de madeira, coberta com telhas debarro, parcialmente aberta. Em seu interior, há dez bancas e váriostabuleiros para exposição e venda dos produtos.

51 O mesmo que prefeitura, porém com menor autonomia.

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Em frente, na praça XV de Novembro, a gueira que havia nascidomais próxima da Catedral, há 20 anos, é transplantada para o centro

do jardim, também em 1891.O coronel Gustavo Richard, governador, executa melhoramen-tosna estrada entre São Pedro de Alcântara e a Praia Comprida52, em SãoJosé. A produção da colônia alemã de São Pedro é transportada emcarroças até a Praia Comprida, onde, embarcada em canoas, chega àcapital, descarregando os colonos seus produtos na praia em frente aoMercado, duas vezes por semana. É a Feira dos Colonos.

 As primeiras interferências no projeto começam em nove meses.João Batista Jacques pede permissão para construir um quiosque,sendo deferida. Em dezembro, voltam as barraquinhas, Augusto Es-têvão de Lima constrói uma casinha para negociar comestíveis juntoao Galpão do Peixe.

Em janeiro de 1892, a Intendência abre uma concorrência paraa construção de mais seis bancas, e outra para a pintura a óleo doGalpão.

O prazo de exploração dos boxes dos primeiros comerciantes estápara se vencer. Então, os primeiros arrendatários Cosme Francisco

da Luz, Teodoro José dos Reis, João da Silva Pereira, Miguel Meile-go, José Serex, João José Cláudio, Brigídio Antônio Priscolo, ManoelFrancisco Paim Júnior, José Ramos Rigueira e Nicolau da Silva Eucéliorequerem que a Intendência prorrogue por mais dois anos o direito deexploração.

Do lado de fora, um cidadão tenta obter alvará para a construçãode um quiosque, para venda de comestíveis e café, no Trapiche do Co-mércio, em frente à Praça. Não consegue. E os ambulantes, pombeirose pescadores sem concessão continuam a negociar.

Em dezembro de 1892, a pedido da scalização da saúde e higienepública, o edifício do Mercado, inaugurado em 1851, passa por pequenasreformas e uma pintura completa no interior e exterior. E, no Galpãodo Peixe, aos dez tabuleiros existentes são acrescentados mais dez.

O movimento revolucionário, federalista, contrário a FlorianoPeixoto53, que era republicano, invade o Palácio e faz suas vítimas.

52 Praia do município de São José, localizada na Baía Sul, em oposto à região centralde Florianópolis.53 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 180.

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Na tentativa de invasão, na madrugada do dia 1o de julho de 1893,sábado, morrem dois civis, um guarda palaciano e o médico-major da

guarnição. A malograda invasão deixa ainda alguns feridos.Os ânimos se acalmam. O governador Hercílio Luz assina a 10 deoutubro de 1894 a lei que dá o nome de Florianópolis à cidade. Autorizaa reforma do Palácio, quando este recebe as esculturas alegóricas e anova platibanda escondendo o telhado, adquirindo uma característicaneoclássica.

Preocupa-se ainda com o abastecimento de água, com o esgoto, amudança do cemitério, e a higiene pública.

Porém, em 1895, a localização do Mercado e do Galpão do Peixevolta a ser o centro das discussões. A falta de espaço em seu interiorcria uma feira paralela que cerca a edicação, se associando novamentea tipos comuns, bêbados, prostitutas e marginais que se misturam acolonos e pescadores que desejam apenas vender seus produtos ho-nestamente. Este eclético contingente continua a ser alvo de ataquesna Câmara e jornais. A luta pela moralização dos espaços é acirrada.Dentro deste contexto, sob o comando de Hercílio Luz, começa a in-terferência racional no uso do espaço urbano, principalmente na área

central. Surge, então, a necessidade da transferência do MercadoPúblico.

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BALAIO NOVOCom seus cipós ainda amarrados de modo rme. Pronto para

seu uso, transportar nosso futuro, guardar nosso dia-a-dia e, um dia,quem sabe, poder descansar num canto da despensa. Guardando o

emaranhado do passado.

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 As constantes obras para urbanização de Florianópolis mudam ocotidiano das pessoas. Grandes escavações e aterros são retomados em1889. A canalização dos córregos da região central e a construção docais na praça Lauro Müller são completadas com as obras do trapichede passageiros na praça Floriano Peixoto, atual praça Fernando Ma-chado, e a nalização do cais da Alfândega. Mas os empreendimentosainda não eram sucientes para a Câmara Municipal. Preocupado como abastecimento de água, o vereador Raulino Júlio Adolfo Horn, em

fevereiro de 1896, solicita mais empenho na scalização das cariocas,torneiras, pipas e barricas dos vendedores do líquido. Seu discursoprincipal era sobre o desmatamento dos morros que cercam a cidade,alertando para o fato de alguns mananciais já estarem extintos.

 A Praça do Mercado, 1851, e o Galpão do Peixe, 1891, tiveramsuas construções denidas após anos de debates. Primeiro na impren-sa, depois na Câmara e seus bastidores. O novo Mercado não teve omesmo passado. Ao invés de disputas, é cercado de mistérios. O espaçoacanhado, o comércio tumultuado nas ruas próximas, mesmo com oGalpão do Peixe funcionando, e a necessidade de embelezar a regiãocentral eram os assuntos discutidos no momento, e com certa apatia.

Primeiro mistério. Na sessão da Câmara, em 23 de dezembro de1895, o vereador Leonel Heleodoro da Luz apresenta um projeto para onovo Mercado. Planta, orçamento e local já denidos. Proposta que foiaprovada por unanimidade. Rapidamente, três dias depois, uma quin-ta-feira, em 26 de dezembro, o superintendente municipal, HenriqueMonteiro de Abreu, autoriza a chamada de licitantes para a obra.

Nas atas de sessões que foram consultadas, entre 1890 e 1901,

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propostas que visavam à melhoria da cidade e tudo que envolvia o em-prego de dinheiro público eram exaustivamente discutidos. O Mercado

foi aprovado na primeira sessão. Mesmo que se leve em consideraçãoque o local escolhido já havia sido proposto há cinco anos, quando sediscutia a construção do Galpão do Peixe, época em que foi preterido,a decisão desviava-se do padrão.

Segundo mistério. Demorou quase um ano para a assinatura docontrato e a Câmara deliberou nesse período, em quatro sessões, verbase reforços para a obra, mesmo sem a denição sobre o empreendedor.Enquanto outras obras tiveram as concorrências analisadas, a tomadade preços para o Mercado não tem registro no livro de atas. E mais,depois de 11 meses da publicação do edital, é assinado o contrato quedene as condições da construção, pagamentos e multas, com Antôniode Castro Gandra.

Termo de contrato que fazem os cidadãos tenente-coronel Hen-rique Monteiro de Abreu, superintendente municipal, e Antô-nio de Castro Gandra para a construção do Mercado Públicodesta Cidade de Florianópolis como abaixo se declara.

 Aos dois dias do mês de novembro de 1896, nesta Secre-taria da Superintendência Municipal da Cidade de Florianó- polis, capital do Estado de Santa Catarina, onde se achavao cidadão tenente-coronel Henrique Monteiro de Abreu,superintendente municipal em exercício, comigo, secretáriointerino, Manoel Lício da Silva Brasinha, adiante nomeado,compareceu o cidadão Antônio de Castro Gandra e declarouque vinha rmar com esta superintendência contrato para aconstrução do novo Mercado Público desta cidade, conformea planta e orçamento desta superintendência, debaixo dasseguintes condições e cláusulas.

 Artigo 1o - O cidadão Antônio de Castro Gandra obriga-se a construir o Mercado Público desta capital, conforme a planta e orçamento mandado organizar pela SuperintendênciaMunicipal, pela quantia de 85:000$000 [85 contos de réis].

  Artigo 2 o - O material empregado na construção doMercado será todo ele de melhor qualidade e sujeito antes de

ser empregado a scalização por prossional indicado pelaSuperintendência Municipal na construção [scal de obra].

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 Artigo 3 o

a) Alicerces - os alicerces serão construídos de pedra com arga-

massa de cal e areia, [em] partes iguais conforme o respectivoorçamento. O cais que servirá de alicerce para a parede dolado do mar será também de cimento.b) Paredes - as paredes serão construídas de tijolo, de prefe-rência requeimados, com argamassa de cal, areia e barro, em partes iguais, e espessura de 45 centímetros.c) Calçamento - o calçamento interno do Mercado será feitode macadame [pedra britada] armado e coberto com umacamada de cimento.d) Madeiramento - o madeiramento deve constituir-se todoele de madeira de lei e terá as dimensões especicadas noorçamento sob os números 6, 7, 8 e 9.e) Cobertura - o telhado consistirá de telhas francesas. f) Portas - as portas serão feitas de madeira de lei nas condiçõese dimensões do orçamento número 11. g) Colunas - as colunas de ferro fundido (já encomendadas),em adiantamento constante do orçamento, terão os alicerces

em granito e lançados em presença do respectivo scal.h) Bandeiras - as bandeiras [parte superior xa] das portas[as grades] serão de ferro batido, bem como os ventiladores[óculos54  ]. Os desenhos serão com ponteiras.i) Cimalhas - as cimalhas serão feitas em cimento e com asdimensões constantes na planta. j) Capitéis - os capitéis serão como a cimalha.k) Platibanda - a platibanda será de balaústre [pequenascolunas torneadas].l) Calhas e canos - serão de cobre e não poderão ser colocadossenão depois de serem examinados pelo scal.m) Caiação - depois de construído e seco o edifício, passará oempreiteiro duas demãos de caiação.n) Calçada - a calçada externa será feita de macadame comcimento.o) Portões - os quatro portões principais serão de ferro bati docom emblema adequado e a arquitetura será conforme a

54 Abertura ou janela circular, na maioria das vezes decorativa.

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 planta. p) Frente da edicação - a frente do edifício que ca para o

lado do mar será colocada em cima do cais existente e as outras frentes serão alinhadas pela superintendência. Artigo 4 o - Das multas - serão de 500$000 [500 mil réis] 

a 2:000$000 [2 contos de réis] se:a) Faltar a execução el da planta em vigor.b) Empregar material julgado impróprio à construção.c) Em caso de desobediência a aviso do scal, cuja não obser-vância possa ser prejudicial à construção.d) Das multas impostas pelo scal recorrerá [o construtor]  para a superintendência.

 Artigo 5 o - A planta terá desde já a seguinte atenção: osquatro cantos serão quebrados [construídos em 45 o ] e terá uma porta em cada um deles.

 Artigo 6 o - O prazo para a construção do edifício será de22 meses, a contar da data da assinatura do presente contrato,tendo o contratante quatro meses para dar princípio à obra [aser] executada, não podendo por forma alguma exigir revisão

do contrato nem abandonar a obra, sob pena de perder osmateriais expostos e as prestações que tiver a receber.E por estarem conformes com todas as cláusulas e con-

dições aprovadas neste contrato, louvem-se o presente termoque assinarão o superintendente cidadão tenente-coronelHenrique Monteiro de Abreu, o contratante cidadão Antôniode Castro Gandra, e eu, Manoel Lício da Silva Brasinha,secretário interino.

Em tempo. O prazo acima concedido só poderá ser pror-rogado em caso de força maior devidamente justicado pelocontratante.

 Artigo 7 o - O pagamento será feito em seis prestações,sendo cinco prestações de 14 contos de réis cada uma e a sextade 15 contos de réis pela forma seguinte: a primeira presta-ção quando tiver os alicerces prontos, a segunda prestaçãoquando as paredes estiverem na altura das portas, a terceira prestação quando estiverem no respaldo, a quarta quando o

edifício estiver coberto, a quinta quando for entregue a obra e

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a sexta e última 20 dias depois de ser entregue.Se, por ventura, o superintendente não puder, nos prazos

respectivos, satisfazer os pagamentos, indenizará ao con-tratante mais 120$000 [120 mil réis] mensais pela mora de pagamento de cada prestação vencida.

 Artigo 8 o - A superintendência não poderá também, de forma alguma, rescindir o presente contrato sob pena de pagarao contratante todas as despesas feitas no edifício, mão-de-obra e material e mais a quantia de 20 contos de réis por peçae [...]. E como assim cou ajustado e contratado assinam o presente contrato os cidadãos, o superintendente municipal,tenente-coronel Henrique Monteiro de Abreu, e o contratante Antônio de Castro Gandra.

Eu, Manoel Lício da Silva Brasinha, secretário interino,que escrevi.

Em tempo. Fica sem efeito a cláusula terceira onde dizque a cobertura será feita de telha francesa, e sim será cober-too edifício com telhas de ferro galvanizado, conforme consisteno orçamento.

Finalmente, o Mercado seria construído na rua Altino Correia55,atual rua Conselheiro Mafra, entre as ruas Jerônimo Coelho e Deodoro,próximo ao local proposto desde 1838.

O mar chegava à rua quando, em 1875, começou o aterro para aedicação da nova Alfândega. Aproveitando o excesso de terra retiradonas escavações das ruas que estavam sendo alargadas e prolongadas, ocais da Alfândega teve seu limite estendido até a rua Jerônimo Coelhoe as obras nalizaram em 1890. A área tomada do mar estava desocu-pada e na época sucientemente longe da Praça do Mercado, propíciaaos interesses da superintendência. Além de afastar o comércio doCentro, o terreno era de sua propriedade.

Com as tradicionais festividades, foi lançada na segunda-feira, 28de dezembro de 1896, a pedra fundamental da edicação.

55 O logradouro teve várias denominações: Rua do Príncipe, rua José Veiga, a partirde 21 de janeiro de 1890, Rua do Comércio, em 19 de setembro de 1891, rua Altino

Correia, em 17 de abril de 1894, e nalmente rua Conselheiro Mafra.

BALAIO NOVO  0

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O prédio do novo Mercado seria, na realidade, um grande galpãode alvenaria, sem divisões internas, destinado ao comércio de carne,

peixe, verduras e legumes, secos e molhados, com produtos expostosem bancas e 12 tabuleiros. E uma novidade, dois banheiros públicos.Já com as obras sendo executadas, o superintendente solicita ao

governador Hercílio Pedro da Luz o empréstimo de um engenheiroda Repartição de Terras para projetar um cais. Apesar de localizadoà beira-mar, o projeto não previa um atracadouro e rampa de acessopara as mercadorias que chegavam em canoas.

Projeto nalizado, o construtor Iconomos Agapito Iconomos, em7 de dezembro de 1897, é contratado para a execução de um cais comrampa, em continuação à rua Deodoro, por 49:700$000 (49 contos e700 mil réis), e de um quebra-mar por 65:000$000 (65 contos de réis).Oposta à rua Altino Correia, hoje no vão central, a parede estavasendo construída sobre a beira do aterro, aproveitando o muro onde omar batia. Um quebra-mar se fazia necessário para proteção do pré-dio e criar uma calçada em volta. Com o caixa da superintendênciaprecário, a cláusula sobre o pagamento tem uma redação indenidae engraçada:

Os pagamentos serão feitos em prestações mensais ou semes-trais, conforme as forças da superintendência e de acordocom a existência de caixa desta repartição, sendo que o último pagamento não poderá ser feito seis meses depois de concluídaa obra. O contratante se obriga a começar a obra em 40 diase acabá-la num prazo de 24 meses.Em menos de um mês após a assinatura do contrato, um aditamen-

to passa a largura dos cais de 7 para 10 metros, acrescendo também19:071$000 (19 contos e 71 mil réis) ao valor da obra.

Parecia de pouca utilidade o grande espaço interno do prédio.Então, a lei no 41, de 16 de abril de 1898, autoriza uma licitação pú-blica para a construção das paredes internas e suas divisões, bancasde cimento para a venda de pescado, de carne e um poço no centro doedifício. Enquanto outros assuntos ligados ao novo Mercado continuama monopolizar os discursos na Câmara, ocorre a denição do tamanhoe a posição dos boxes, o prazo de aluguel, bem como as condições e a

autorização da hasta para a locação. E, mesmo com as obras atrasa-

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das, os vereadores autorizam o superintendente a inaugurar o prédio,sem a conclusão dos cais e do quebra-mar, previstos para dezembro

de 1898. Continuando os trabalhos, legislam o regulamento para ofuncionamento do Mercado pela lei no 56:

 Artigo 1o - A Praça do Mercado servirá de centro para com- pra de gêneros alimentícios: a carne verde, toda a qualidadede pescados, aves, ovos, frutas, hortaliças, legumes, cereais, produtos de lavoura e quitandas56 para alimentação, os quaisdeverão ser colocados nele segundo as suas divisões em ca-sinhas, bancas, vãos de colunas e centro da Praça na formadeterminada neste regulamento.

 Artigo 2 o - As casinhas nela existentes serão numeradasdevidamente, desde o número 1, a começar pelo lado direitoda entrada do portão que faz frente à Alfândega.

 Parágrafo único. Os números deverão ser feitos com tinta preta a óleo, com fundo branco, e no centro da parte superiordo portal interno.

 Artigo 3 o - A casinhas serão alugadas a pessoas morige-

radas57 e de bons costumes e o contrato de aluguel se fará porconcorrência pública. Parágrafo único. A casinha N cará reservada para o

administrador, e os compartimentos norte e sul, fronteiriçosao mar, para açougues e bancas de pescado.

[...]  Artigo único. Os lugares entre as colunas são destinados

 para os quitandeiros exporem à venda tudo o que não é proi-bido existir na Praça, mediante aluguel de 6$000 [6 mil réis] mensais para cada vão de coluna, que não poderá ser ocupado por mais de uma pessoa.

[...]  Artigo 12 - O quitandeiro que pretender um lugar na Pra-

ça requererá ao superintendente, que procedendo informaçãodo administrador de achar ou não vago o lugar

56 Mercadorias dos vendedores ambulantes, biscoitos, doces e outros produtos caseiros

expostos em tabuleiro.57 Que têm bons costumes ou vida exemplar.

BALAIO NOVO  2

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requerido, lho concederá, uma vez que não esteja ocupa-do.

 Parágrafo único. Por simples despacho do superintenden-te irá o pretendente pagar aluguel ao procurador e obtendo orespectivo conhecimento se apresentará com este ao adminis-trador para lhe facultar a entrega do lugar concedido.

 Artigo 13 - O pátio central da Praça do Mercado é des-tinado, desde o amanhecer, até as 3 horas da tarde, paravenda de todos os gêneros da lavoura, como cereais, frutas,aves, ovos, produtos suínos, etc, menos carne e pescado, quesó podem ser vendidos nos lugares destinados para esse m[açougues e bancas de pescado].

  Artigo 14 - No pátio central não haverá lugar certo e privativo de alguém. Os que vierem aí expor gêneros tomarãoaquele que se achar desocupado.

 Artigo 15 - Ninguém poderá comprar tais gêneros poratacado, senão de acordo com o artigo 95 e § 1o do artigo 96 do Código de Posturas, parágrafo único [somente os pombei-ros]. O infrator incorrerá na multa do artigo 100 do mesmo

código.[...] Horário de funcionamento.§ 5 o do artigo 22 - Abrir as portas diariamente às 4 horas

da manhã, de 1o de outubro a 31 de março, e às 5h30min de 1o de abril a 30 de setembro, fechando-a nesta época às 6 horasda tarde e naquela às 7 horas.

[...]   Artigo 39 - O peixe fresco, salgado, seco, camarões e

mariscos serão só expostos à venda no lugar designado paraeste m; porém, quando a abundância for tanta que as bancasnão chegarem para ele, se permitirá a venda na rua [calçada]  fronteiriça ao mar.

 Artigo 40 - O pescado fresco existente no Mercado não poderá ser conservado nele para se vender no dia seguinte.

O destino da Praça do Mercado e do Galpão do Peixe começa a

ser denido. Na sessão de 18 de abril de 1898, a Câmara autoriza a

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demolição dos prédios e a construção de um trapiche no local.Em maio, Antônio de Castro Gandra, construtor do Mercado

novo, ganha a licitação para execução das paredes internas, com umaproposta de 10:200$000 (10 contos e 200 mil réis). Enquanto isso, acontece na Câmara a abertura das propostas para

locação dos boxes, que revelou uma disputa pelos principais locais.Foram analisadas 33 propostas e mais quatro em desacordo, em duassessões realizadas durante o mês de maio de 1898. O resultado nalda licitação foi:

Para o box 1, Jovita de Castro Gandra, oferecendo 56$000 (56 milréis), ganhou de José Félix do Carmo e Romão Rigueira; box 2, Jovitade Castro Gandra, que ofereceu 35$000 (35 mil réis); box 3, FranciscoCampos da Silva, com 26$000 (26 mil réis); box 4, também FranciscoCampos da Silva, com oferta de 28$000 (28 mil réis).

Com o box 5 cou Antônio da Silva Braga; box 6, Manoel JoséFernandes; box 7, Nicolau Tsckki; boxes 8 e 9, Moura e Irmão; box 10,José Felix Caetano do Carmo, e box 13, Norberto de Souza Nunes, queofertaram 25$000 (25 mil réis) por mês.

Foram apresentadas quatro propostas para o box 14, duas de

Francisco Salomé Pereira, uma de Monteiro Abreu de Cabral e outra deNorberto de Souza Nunes, ganhando Francisco Carlos Salomé Pereira,que ofereceu 60$000 (60 mil réis). Três disputaram o box 16: J.B. daSilva Xavier, Antônio de Castro Gandra e Monteiro Abreu de Cabral,o vencedor, por 45$000 (45 mil réis).

O arrendamento de mais três boxes foi avaliado na segunda sessão.Quatro propostas foram apresentadas para o box 11, uma de CosmeDamião da Cunha, uma de Armindo José Boabaid, uma de Miguel JoséMaltz, ganhando Constantino Garofalles com a oferta de 51$000 (51mil réis). Cosme Damião da Cunha, com oferta de 60$000 (60 mil réis),arrematou o box 12, vencendo outros quatro concorrentes, Constanti-no Garofalles, Miguel Bufaraco, Gandour Dagher e Miguel Maltz. Aproposta de Manoel José Fernandes, com 56$000 (56 mil réis), ganhoupara o box 15 de outros três participantes, Miguel Bufaraco, DurvalLivramento e Elias Maltz.

 Às vésperas da inauguração do novo Mercado, é revogada a demoli-ção do Mercado velho e do Galpão do Peixe, cando a superintendência

autorizada a aproveitar os prédios, vendê-los junto com o terreno, ou

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mesmo apenas concedendo o direito de demolição e seus materiais. Nocaso de venda, o comprador deveria construir um sobrado no local em

um prazo máximo de três anos.Com a proximidade da inauguração, o jornal O Estado publicauma reportagem que prevê o futuro do empreendimento. Relata agrande quantidade de erros que se acumularam durante a construçãoe descreve a obra:

Quem tenha examinado o Mercado novo, que pretendem inau- gurar breve, e com o qual gastou a municipalidade algumasdezenas de contos de réis, há de ter, como nós, cado convenci-do de que na sua construção só se atendeu as rendas que devia produzir de futuro para os cofres municipais, esquecendo-seos ns a se preencher em bem da população.

Fez-se um comprido edifício, dividiu-se sem critério,sem cálculo, em cubículos de aluguel para o comércio diverso,deixando apenas para a venda dos gêneros de alimentação,o peixe, a carne, etc, espaços acanhadíssimos, onde não se poderão mover livremente vendedores e compradores.

O lugar que dizem designado para venda do pescado, es- pecialmente, é digno de reparo, e prova o que acima dissemos.É um extenso corredor com grandes bancadas cimentadas,ao centro, deixando de cada lado um tão pequeno espaço quemuito mal poderão passar duas pessoas, a par. Todos sabema auência diária ao Mercado destinado à venda desses gê -neros. É aí que se abastece a maior parte da população. Emdeterminadas épocas do ano, o atual Galpão [do Peixe], queé bastante espaçoso, não comporta a quantidade do pescadoexposto à venda e os negociantes desse gênero são obrigados a fazer o seu comércio na rua, sobre esteiras. Nessas condições,reconheceu-se na primeira inspeção que no novo Mercado essecomércio não poderá ser feito sem prejuízo para o povo e paraos respectivos comerciantes.

 Por esses e outros motivos, são levados a acreditar que,sendo adiada a venda do edifício do velho Mercado, que estavamarcada para 30 do corrente [janeiro], ela não se fará. Ain-

da que não seja ele necessário à municipalidade para outros

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 ns, o Poder Executivo do Estado talvez venha a reconhecer autilidade do local em que está situado para aproveitá-lo com

vantagem, constituindo bela edicação onde venha a funcio-nar alguma de suas repartições. Lembrem-se os poderosos públicos do Estado que já nesta capital mandou-se demolirdesnecessariamente um espaçoso e bem construído edifício, oantigo colégio dos jesuítas, onde posteriormente funcionou o Ateneu, para edicar-se outro quase no mesmo lugar, com oqual dispensou o Tesouro não pequena quantia, apesar de suainferioridade quanto à solidez, relativa ao antigo.

 Aí está o novo prédio, que serve de quartel do Corpo de Polícia e Cadeia, a merecer já sérios reparos, não oferecendoo mesmo a necessária segurança.

O próprio Mercado novo, ainda não inaugurado, segun-do nos informaram, está carecendo de reparos na coberta e paredes externas, a julgar pelo modo por que foram construí-dos, não se lhes pode augurar muitos anos de resistência aos pampeiros58 , pelos quais é sempre batido o local onde se achaesse edifício.

 A prova é que essas paredes, já uma vez, quando com- pletamente levantadas, apenas faltando colocar as cobertasde zinco, foram quase totalmente destruídas. Jornal O Estado, em 7 de janeiro de 1899.

 Em outras edições, O Estado critica a falta de espaço, insuciente

para a venda de verduras, bem como os tabuleiros mal colocados epequenos. Eram em número de 12, instalados em um canto. E prevêque os colonos cariam expostos às intempéries quando chegassem,nas terças-feiras, para a Feira dos Colonos, que funcionava nas quar-tas-feiras pela manhã, em função da deciente organização internado conjunto.

 Anunciando a solenidade inaugural, o jornal República comen-ta:

Felizmente, vai o público gozar de mais um importante me-

58 Denominação do vento sul forte. Conhecido na Argentina e Rio Grande do Sul como

minuano.

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lhoramento, com o que, sem dúvida, terá vantagens e como-

didade compatíveis ao velho pardieiro da Praça.

Finalmente o centro de abastecimento de Florianópolis possuium novo endereço. No governo de Felipe Schmidt, às 6h30mim do dia5 de fevereiro de 1899, domingo, na presença de autoridades, o novoMercado é aberto ao público. O jornal República noticia:

 Foi anteontem [5 de fevereiro de 1899] inaugurado o novoMercado, situado na rua Altino Correia [atual ConselheiroMafra].

 Às seis e meia da manhã, compareceram o senhor senadorRaulino Horn, ilustre superintendente municipal, e os senho-res conselheiros [vereadores] Inocêncio Campos,vice-presidente [da Câmara Municipal]; José Boiteux, pri-meiro-secretário [da Câmara Municipal], Pereira Oliveira e Pedro Bosco [vereadores], bem assim como o senhor Antôniode Castro Gandra, construtor do importante edifício.

Já então era enorme a concorrência. Percorreram aquelescidadãos todas as dependências, em que primava a ordem.

 À noite, esteve o Mercado iluminado a gás de acetileno59 ,sendo avultado o número de pessoas que o visitaram.

Congratulamo-nos com a população desta capital, pelomelhoramento que acaba de adquirir, cabendo à situaçãorepublicana todos os louvores pelo interesse com que trata dobem público. Jornal República, em 7 de fevereiro de 1899.  A parcialidade da imprensa da época ca evidente no acontecimen-

to. O República, jornal republicano, trata a inauguração com destaque.O jornal federalista, O Estado, no mesmo dia, questiona o destino doMercado velho e nas entrelinhas critica o novo empreendimento:

59

Hidrocarboneto não-saturado que, quando molhado, gera um gás inamável.

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Ouvimos que a Superintendência Municipal autorizará ven-der-se o pescado também no respectivo Galpão [do Peixe],

apesar das licenças concedidas para tal serviço no interior doMercado recentemente instalado. E assim deve ser. O próprio  prédio municipal construído especialmente para esse m,espaçoso, ventilado e sobre o mar, de sorte que a baldeação[lavação] da área das bancas atira às águas [do mar] todosos resíduos que vão-se no baixa-mar, seria inepto desprezá-lo, forçando-nos ao triste espetáculo de ver, como outrora, o peixeexposto em esteiras, ao sol, que em poucas horas o decompõe,tornando-se assim prejudicial à alimentação pública; vistoque o lugar que lhe é destinado em nosso novo Mercado nãotem capacidade para época de abundante pescaria, que vaide maio a novembro, havendo, então, dias em que para oconsumo chegam mais de 12 mil anchovas, o que determinaacotovelarem-se os compradores, em verdadeira multidão,durante três a quatro horas.

 Para acabar de fazer obra boa e a contento geral, deve o governo municipal reparar, ligeiramente que seja, o Mercado

velho, construção cuja solidez pode-se bem avaliar, conside-rando que há 50 anos, meio século, os preamares do equinóciovão batendo-lhe os alicerces, e abri-lo novamente ao público,de sorte que ali tenhamos também açougue, legumes, pequenocomércio de charque e molhados, restaurante ao alcance dosque não podem ir à mesa de hotel, o que muito convém a uma  grande parte da população local e aos bairros adjacentes,sobretudo, e traz para o município grande fonte de renda.

 A pequena praia que ali está à frente do Mercado é im- prescindível. Murmurar no vago, embora, que ela desapare-cerá, o que acontecerá a esses milhares de pobres homens queali vêm em canoas, na maior parte pequenas, abastecer-nosde lenha, ovos, café, frutas e o que mais seja, a retalho, istoé, em porções ao alcance de nossos bolsos. Não valerá a penasacricar qualquer projeto de uso aos interesses e à comodi-dade dessa pobre gente? Ignora o governo municipal que adoca em construção à frente da linha do cais correspondente

ao Mercado novo não serve convenientemente ao serviço de

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canoas, embarcações inteiriças de 1 polegada [2,5cm] apenasde espessura no fundo e costados, não são de natureza para

estarem atracadas roçando umas nas outras, ao oscilar, do-lente que seja, das ondas, e pouca duração podem ter se foremdiariamente pranchadas [arrastadas] à rampa, que, depressalhes gastará o fundo, tal a quantidade de madeira de que sãoconstruídas? Isso admitindo a hipótese da rampa comportá-lasquando elas ali vêm em número de mais de cem.

 De mais, a ressaca, a conssão60 das águas em ocasiãoque ventar, fará perigar a saída dessas embarcações para omar, dicultando velejar sobretudo aquelas que forem tri- puladas por um homem só, que terá de cuidar a um tempode manobrar a vela e o leme. Jornal O Estado, em 7 de fevereirode 1899.

Os ataques, ou as verdades, de O Estado continuam no dia seguin-te, sem descanso para o superintendente:

Não deve estar satisfeito o senhor Raulino Horn, com o quetem presenciado no novo Mercado recém-inaugurado.

Tudo que nessas colunas temos dito sobre a divisão feitano Mercado, divisão aconselhada por múltiplos interesses particulares em jogo, tem sido plenamente justicado.

Os compartimentos destinados à venda de carne e peixedeixam tudo a desejar e os consumidores perdem ali preciosotempo, aos empurrões, numa verdadeira luta para aproximar-se do vendedor e alcançar um pedaço de carne à venda do açou- gueiro, sendo-lhes quase vedada a liberdade na escolha.

 Aos fundos do Mercado, onde estão estabelecidos os ta-buleiros para venda de frutas e legumes, ainda que bastanteespaçoso, entendeu a superintendência permitir a Feira dosColonos, às terças e quintas-feiras, tornando quase impossívelo trânsito pela grande quantidade de mercadorias espalhadase grande aglomeração do povo. O senhor superintendente de-veria ter visto o inconveniente de se ter esta feita no interior doMercado, e cremos que providenciará com brevidade sobre 

60 Mar agitado, arrebentação.

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o assunto. Jornal O Estado, em 8 de fevereiro de 1899. 

Uma rápida análise do edifício esclarece muitas dúvidas sobrequal órgão da imprensa tinha razão.Os defeitos na obra, goteiras, a divisão interna sem critérios, a falta

de espaço para a Feira dos Colonos já justicam as críticas. Somandoa área do Mercado, 723m2, da praça Floriano Peixoto com a do Galpãodo Peixe, 640m2, resulta em 1.363m2, contra os 1.806m2 do Mercadonovo. Levando em consideração que em volta da antiga edicação oscomerciantes negociavam seus produtos nas ruas próximas, por faltade espaço, construir um estabelecimento para o futuro com apenas 32%a mais de área parece falta de planejamento. E a cidade tinha umapopulação de 31.075 pessoas, crescendo 42% em relação ao ano de 1891,na inauguração do Galpão do Peixe, quando eram 21.841 habitantes.

Inacabado, o conjunto arquitetônico é inaugurado. Faltavam oscais, o quebra-mar e muitas divisórias internas, que tinham cado acargo dos arrendatários. Mesmo assim, custou 236:471$000 (236 contose 471 mil réis).

Cais e quebra-mar consumiram 133:771$000 (133 contos e 771

mil réis), 16,6% a mais que o orçamento inicial.Melhoramentos que não estavam previstos no orçamento inicialforam incorporados e suas verbas liberadas em cima da hora. Ganchospara a exposição das carnes, 1:000$000 (1 conto de réis); construçãodos tabuleiros e calçamento ao redor do prédio, 2:000$000 (2 contosde réis); a novíssima iluminação a acetileno e as bancas de mármoreconsumiram mais 4:500$000 (4 contos e 500 mil réis). Elevou-se ocusto do contrato para 102:700$000 (102 contos e 700 mil réis), 20,8%a mais. Quando contratado, em 1896, o valor inicial de 85:000$000 (85contos de réis) correspondia a 69 % da receita do município, que erade 121:914$728 (121 contos, 914 mil e 728 réis).

 A partir de agora os consumidores dividem suas compras em doisendereços. O Galpão do Peixe, ao lado da praça Floriano Peixoto, con-tinua a vender carne, pescado, frutas e legumes. Afastado, localizadona rua Altino Correia, o novo Mercado perde o adjetivo novo, e comer-cializa os mesmos produtos do Galpão, mas proporciona aos clientes oconforto de bares e cafés.

No primeiro dia de funcionamento, os fregueses encontram os

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novos comerciantes nas bancas. Entre os arrendatários, vários boxestrocaram de mãos em diversas negociações. A relação dos primeiros lo-

catários do Mercado da rua Conselheiro Mafra, em 1899, ca assim:Boxes 1 e 2 continuam pertencendo a Jovita de Castro Gandra.O box 3, Francisco Campos da Silva transferiu para Antônio de Cas-tro Gandra. Também no box 4, Francisco Campos da Silva transferiupara Antônio de Castro Gandra. O box 5, de Antônio da Silva Braga,foi transferido para Oliveira Carvalho e Irmão. Box 6, de Manoel JoséFernandes, cou com Constantino Garofalles, que passou para JúlioNicolau de Moura. O box 7, de Nicolau Tsckki, foi transferido paraConstantino Garofalles.

Moura e Irmão continuam com os boxes 8 e 9. O box 10, JoséFélix Caetano do Carmo transferiu para Armindo Boabaid; o box 11,Constantino Garofalles transferiu para Miguel João Bufaraco; o box12 cou com Cosme Damião da Cunha; o box 13, Norberto de SouzaNunes transferiu para Miguel João Bufaraco; o box 14, Francisco CarlosSalomé Pereira transferiu para Miguel João Bufaraco; o box 15 tevecontrato assinado com Manoel José Fernandes, e o box 16 cou comFrancisco Carlos Salomé Pereira,

Estranhamente, o box 16, no qual foi vencedor, no leilão, Monteiro Abreu Cabral, teve o contrato assinado por Francisco Carlos SaloméPereira, sem qualquer menção a transferência.

Os quitandeiros comercializavam em uma espécie de armário61 e tinham os aluguéis mensais xados em 6$000 (6 mil réis). Os es-paços eram decididos na superintendência, que emitia novos alvarása cada mês. Sem lugar denido, os produtos da lavoura, aves, ovos ecereais eram vendidos ao longo do centro do prédio, com os lugaressendo disputados diariamente. Eram de quem chegasse primeiro edesembolsasse os impostos referentes a seus produtos.

 A Feira dos Colonos realizada na praça Fernando Machado étransferida para o novo Mercado uma semana após a inauguração.Mal dimensionado, o interior não comportava a grande quantidade defornecedores e produtos, aumentando os problemas existentes.

61 Ver Balaio de Fotos .

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Esquecidos desde a Praça do Mercado, passando pelo Galpão doPeixe, os oleiros continuam pela terceira vez a vender suas louças nas

ruas próximas.O Mercado velho vai a leilão em 4 de março de 1899, em dois lotes.O primeiro compreende objetos avulsos: [...] duas cobertas de zinco comoito tabuleiros cada uma, 13 tabuleiros de madeira, 28 barras de ferro,quatro bancas de madeira, quatro balanças com conchas de metal, umadita sem concha, dois lampiões de vidro, dois lampiões dito belgas eum mastro para bandeira. Todos esses objetos serão arrematados noestado e lugar em que se acham.

O segundo, arrematado pelo construtor do Mercado novo, Antôniode Castro Gandra, relacionava: [...] todo o material do edifício do Mer-cado velho, constando de pedras e tijolos das paredes, telhas, ladrilhos,madeiramento, poço, tampa do mesmo, bomba, cano de chumbo, etc, cando o arrematante obrigado a conservar somente o alicerce do lado fronteiriço do mar, bem como a demolir o edifício e retirar o materialnum prazo de 30 dias a contar da data de arrematação. Será tudovendido em um só lote.

O futuro do Galpão do Peixe ainda estava indenido, e a questãoera:

[...] para onde se transportarão, depois de demolido, os co-merciantes licenciados para o comércio do pescado, desdeque no Mercado novo os únicos 10 lugares [bancas] existentessão diminutos, insucientes mesmo? Jornal O Estado, em 12de março de 1899.  Assim, o Mercado velho, na Praça do Mercado, atual praça Fer-

nando Machado, desaparece em 25 de março de 1899. Demolido, nadarestou do primeiro Mercado Público de Florianópolis.

Na cidade, a falta de recursos no caixa do governo estadual pa-ralisa algumas obras. Adia a reforma do Teatro Álvaro de Carvalho,segue de forma lenta a do Palácio, mas realiza reparos urgentes naCadeia. Enquanto isso, o governo municipal continua o calçamento narua Altino Correia, em direção ao Centro, em julho de 1899.

Felipe Schmidt, o governador, assume as parcelas do contrato

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para a construção do cais e do quebra-mar que, assinado em dezembro de 1897, denia a forma de pagamento: [...] serão feitos em prestações

mensais ou semestrais, conforme as forças da superintendência e deacordo com a existência de caixa [...] , assinado em dezembro de 1897.O sócio de Iconomos Agapito Iconomos, Roberto Trompowski, se dirigeà superintendência e é encaminhado ao Tesouro Estadual para rece-ber uma parcela de 8:000$000 (8 contos de réis), cando um saldo de14:450$000 (14 contos e 450 mil réis).

Século XX E para as comemorações da virada do século, em 1900, por ini-

ciativa do monsenhor Francisco Xavier Topp, é inaugurada a cruz nomorro do Antão, conhecido hoje como morro da Cruz. Na guarita, umsoldado avisava a entrada de navios na baía.

 A última concorrência para os boxes do Galpão do Peixe aconteceem novembro de 1902, e os contratos são assinados em dezembro. OLivro de Contratos da Câmara Municipal, 1895 a 1911, não possuioutras menções sobre o Galpão, e o Livro de Atas das Sessões tambémnão. Sem registros, observando fotos de 1904, considerando que oscontratos eram anuais, o Galpão do Peixe deve ter sido demolido no

início de 1904, quando começou a construção do trapiche da praça XVde Novembro, o antecessor do Miramar.Enquanto isso, o comércio catarinense obtém renome nacional e

reconhecimento internacional. Os produtos que representam o Estadona Exposição Universal de Saint Louis, nos Estados Unidos, em 30 deabril de 1904, conquistam quatro medalhas de ouro, 25 de prata e 24de bronze, num total de 53 prêmios.

No entanto, as preocupações com o desenvolvimento da cidadecontinuam. O governador Antônio Pereira da Silva e Oliveira acentuaa necessidade de implantar o sistema de água e esgoto para atender as2.100 casas existentes na capital, em 1906. A superintendência entregao calçamento com paralelepípedos da rua Conselheiro Mafra.

O transporte ca mais rápido. Em 23 de outubro daquele ano, obrasileiro Santos Dumont62 decola com o 14-BIS e realiza um vôo de60 metros nos campos de Bagatelle, em Paris. Três linhas de bonde detração animal ligam alguns pontos de Florianópolis.

62

Ver Balaio de Figurinhas, pág. 182.

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 A principal faz o trajeto entre o cais da Rita Maria, atual rótulada ro-doviária, e o largo 13 de Maio, hoje Praça da Bandeira. Os quatro

carros para passageiros transportaram no ano 49.081 pessoas e os novede carga, 25 toneladas, em seus 5.450 metros de trilhos.Santa Catarina continua em destaque no País. Durante a Expo-

sição Nacional, aberta em 11 de agosto de 1908, no Rio de Janeiro,comemorativa ao Centenário da Abertura dos Portos do Brasil, osprodutos catarinenses ganham 799 prêmios, perdendo apenas paraSão Paulo. Foram 38 grandes prêmios, 133 medalhas de ouro, 263 deprata e 365 de bronze.

E o progresso chega, para a comodidade dos orianopolitanos. Ogovernador Gustavo Richard, em 8 de maio de 1910, inaugura o abas-tecimento de água potável.

Mercado de São SebastiãoPassados 12 anos da inauguração do Mercado Público, o comércio

e a região estão deteriorados. Os comerciantes cam espremidos nointerior do prédio e a situação piora a cada dia com a Feira dos Colo-nos. As ruas próximas são transformadas em feira livre e o local, antes

afastado do Centro, com o crescimento da cidade ca mais próximo. A tentativa de melhorar o abastecimento leva o superintendentemunicipal Antônio Pereira da Silva e Oliveira a publicar um edital, em1911, chamando interessados na construção de um novo mercado:

  Artigo 1o - Fica a Superintendência Municipal autorizadaa chamar concorrência para construção e instalação de ummercado na Praia de Fora, no largo São Sebastião [rua Bo-caiúva, em frente ao Hospital São Sebastião], que será postoà disposição do contratante.

§ 1o Este mercado obedecerá aos preceitos de boa higienee estética e será construído em alvenaria ou ferro e de acordocom a planta que a referida concorrência tiver a preferência.

§ 2 o Será destinado à venda de produtos da pequenalavoura, carnes, peixes, aves, etc.

 Artigo 2 o - O prazo da construção será de 25 anos, re-vertendo para a municipalidade o edifício e benfeitorias em

 perfeito estado de conservação. [...]  Artigo 3 o - Não poderá ser autorizada a abertura de ou

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tro mercado ou mesmo açougue na área compreendida

entre as ruas Ana Schutel [não foi encontrada referência sobrea localização], [Almirante] Lamego, Esteves Júnior, PresidenteCoutinho, [largo] Benjamin Constant, Frei Caneca até a Es-tação Agronômica [proximidade do Hospital Infantil].

 Apesar do artigo acima limitar a livre concorrência por iniciativamunicipal, os planos não são concretizados.

 AlpendreEm 1912, Dorval Melquíades de Souza, o novo superintendente,

abre licitação para a construção de um alpendre63 junto ao mar. Em diasde vento sul, a estreita calçada lateral ao Mercado não é suciente paradeter as ondas, tornando impossível o acesso de pessoas e mercadorias.Surge, assim, a primeira idéia de ampliação do Mercado e de amenizaros problemas com a falta de planejamento, em 1899. Dene o edital queo alpendre será ligado a um galpão de madeira sobre o mar, destinado

à venda de pescado. Projeto ainda inexistente nessa data.O aterro começa em 1913, enquanto na Exposição Universalde Turim, Itália, os produtos catarinenses conquistam 126 prêmios:um diploma de benemerência64, um grande prêmio, quatro diplomasde honra, 16 medalhas de ouro, 40 medalhas de prata, 35 medalhasde bronze e 29 menções de honra. Em Florianópolis, a chegada dosmateriais importados da Inglaterra está atrasada e adia o início dasobras da rede de esgoto. No outro lado da praça XV de Novembro estãoconcluídos os primeiros 460 metros dos cais do saneamento, ligando oRio da Bulha, atual avenida Hercílio Luz, à Prainha.

 A ponte Hercílio Luz ainda era um sonho, em 1915. E a cidadecresce, com os gêneros alimentícios chegando ao Mercado em embar-cações. Os colonos do Continente continuam a transportar em carroçasseus produtos até São José, e fazem a travessia em canoas. Diferentenão é a situação dos colonos da Ilha.

63 Cobertura suspensa apoiada em colunas sobre portas ou vãos. No Mercado, deno-minava a ampliação do aterro, sem cobertura.64 Digno de honras, notável, benemerente.

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Produtores do Ribeirão usam baleeiras no transporte, os agricul-

tores de Canasvieiras, Rio Vermelho, Ingleses e Ratones chegam aoMercado transportando a farinha de mandioca, a cebola, o café e outrosprodutos em carroções, ou mesmo no lombo dos cavalos. Mais ao centroda Ilha, no Rio Tavares, tradicional região de produção de hortaliças,a situação não é diferente. Por entre caminhos sem pavimentação,enfrentando sol, chuva e o vento sul, esses lavradores completam oabastecimento.

No Centro, a moderna iluminação pública, agora elétrica, é feitapor 542 lâmpadas incandescentes de 50 velas, uma lâmpada de 200velas, duas de 400 velas e 18 lâmpadas de arco voltaico de 1.200 velas.Existem 837 instalações particulares de luz elétrica e 23 instalaçõesde força motriz.

O alpendre do Mercado está concluído em 1915. Se resume aum alargamento da calçada, tomando do mar mais alguns metros, atéaproximadamente o meio do hoje conhecido vão central.

 Ampliação 

 A lei no 369, de 6 de março de 1915, delibera ao superintendenteJoão da Silva Ramos autorização para conceder a exploração, por 15anos, a empresa ou particular que, por conta própria, construa umanova ala, do lado do mar, destinada à venda de hortaliças, peixes eprodutos coloniais. Além de fornecer o projeto, a renda do Mercadocaria à disposição do contratante. É a primeira atitude concreta dogoverno municipal para a ampliação do acanhado edifício.

No comércio novamente tumultuado, entram em cena os pombei-ros. E a imprensa noticia:

[...] Como é de costume, os colonos vêm à feira e aqui chegamnas vésperas, trazendo suas quitandas.

É nessas ocasiões que aparecem os tais pombeiros, quecompram miudezas que são muito procuradas nos dias de feira, e depois vão vendê-las por um preço exorbitante. Ante-ontem, um dos pombeiros adquiriu à razão de 1$300 [mil e300 réis] todas as galinhas que um colono trouxe para a fei-

ra, a m de oferecê-las à venda por 2$000 [2 mil réis], cada

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uma, no dia seguinte. O mesmo sucede com outros gêneros. É  preciso acabar com essa especulação tremenda. Chamamos a

atenção do senhor delegado de polícia a m de pôr termo a esseinqualicável abuso. Jornal O Estado, em 9 de junho de 1915. Providências governamentais já tendiam a ser demoradas e quase

um mês depois as denúncias continuam:

Estão se passando no nosso Mercado coisas que são interes-santes e que reclamam providências enérgicas.

 Antigamente, nos dias de feira, os colonos que se aba-lavam a vir à nossa capital expor os seus produtos achavamo interior do Mercado à sua disposição.

Era aí que eles faziam o seu comércio, estando os seus produtos coloniais livres do sereno, da umidade das noites e,quem sabe, dos amigos do alheio. Infelizmente, dá-se agorao contrário.

Os colonos que chegam nas vésperas da feira já nãoencontram lugar no Mercado para seus produtos, porque os

 pombeiros se assenhorearam da vasta área interna do nossoMercado. É o cúmulo! Não contentes com o adquirirem por um preço baixo e venderem depois os produtos por outro elevado,os senhores pombeiros – uma nova casta privilegiada – aindacometem esse grande abuso.

Nos dias de feira, os senhores scais hão de apreciar abelíssima mutação: os colonos, aqueles que produzem, que sedão ao trabalho de trazer a nossa alimentação, cam abo-letados fora do Mercado, enquanto no interior deste abre-seespaço para os pombeiros. A superintendência precisa tratarseriamente deste assunto, tomando enérgicas propriedades.Hoje, uma medida há tanto reclamada pelos altos interessesda nossa população contra, não só esse abuso, como contra aterrível e vergonhosa exploração que os pombeiros vêm fazendoem torno do comércio da feira. Não se explica de modo alguma alta de preços por que se vende nos dias de feira do nossoMercado a produção colonial. É a nossa população reclama

 providências para os senhores dos poderes competentes. Jornal

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O Estado, em 7 de agosto de 1915.

O consolo para as famílias abastadas era o aviso da Companhia An-tarctica Paulista em O Estado, na edição de 22 de outubro de 1915:

Chamamos a atenção do público para essa maravilhosa in-venção, Perfeitas [era o nome do produto] que são, no gêneroas mais completas, conservando um quilo de gelo pelo espaçode mais de seis dias.

 A geladeira! Que hoje apenas se liga na tomada, era na época umgrande armário com isolamento térmico, onde o gelo comprado era de-positado em um pequeno compartimento e reposto quando derretia.

Passado um ano do edital para a edicação da nova ala, o Mer -cado da capital continua a sacricar os colonos. A grande quantidadede produtores e produtos não pode ser convenientemente instaladano prédio e, apesar da freqüência semanal, os agricultores se vêem àprópria sorte. Se acomodando conforme é possível em volta do Mercado,nas calçadas, nas ruas próximas ou mesmo voltados no tempo e ofe-

recendo seus produtos a bordo das canoas. Ficam sem abrigo durantea noite, chegando por volta das 22 horas, e continuando sob o sol ouchuva, conforme a estação.

O gado para o consumo é abatido no Estreito, e a carne trans-portada em pequenas embarcações.

O superintendente municipal Dorval Melquíades de Sousa, reem-possado, realiza nova concorrência pública. Oferece ao interessado emconstruir a segunda ala um prazo de 20 anos para exploração. Mas,desta vez, a lei no 415, de 20 de outubro de 1916, deixa uma opção aogoverno. Se não aparecerem concorrentes, a superintendência caautorizada a construir dois galpões nas rampas das ruas Deodoro eJerônimo Coelho. Um para a venda de carne, produtos suínos e pescado,outro para produtos coloniais.

 A semelhança com a construção da Praça do Mercado, em 1851,parece bastante evidente. Pois não aparecem investidores interessadose também não são construídos os dois galpões.

 A interferência governamental troca de lado e os pombeiros são

substituídos pelos comerciantes estabelecidos, atingidos pela padro-

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nização da unidade de peso para compra e venda. Os varejistas sãoobrigados a vender em submúltiplos, em gramas, pois vendiam so-

mente em quilograma, um quilo, dois quilos... No atacado, o peso dosprodutos vendidos em saco é padronizado: arroz, 60 quilos; batata, 50quilos; feijão, 60 quilos; farinha de mandioca, 45 quilos, e muitos outrosprodutos. O sal entra na exceção: será vendido, quando importado, emsacos, pelo peso adotado da praça de procedência, e quando recebido a granel [grande carregamento sem embalagem] o peso correspondenteao saco variará entre 60 e 75 quilos.

 A população chega, em 1920, a 41.338 habitantes. O governadorHercílio Luz, engenheiro civil, realiza várias obras na capital. Começacom a canalização do Rio da Bulha, construindo a Avenida do Sane-amento, hoje avenida Hercílio Luz. Nos transportes, contrata com aGeneral Electric a construção de uma linha de bondes elétricos nodistrito de João Pessoa65. Constrói uma rede de estradas de rodagemno interior da Ilha, moderniza o porto, reforma praças e jardins. Ascalização da saúde ganha a Inspetoria de Lacticínios, sob o comandodo médico Henrique Brüggemann.

 A Lei no 494, de agosto de 1920, cria o Brasão de Armas do Mu-

nicípio de Florianópolis. E o futebol chega em 21 de junho de 1921com a fundação do Figueirense Futebol Clube, com sede na Praia daFigueira, existente no começo da rua Frederico Rolla.

 As comemorações do Centenário da Independência, em 1922, sereetem em Florianópolis. Com a participação do governador, o novocarrilhão da Catedral é abençoado. Os cinco sinos foram importados da Alemanha e pesam 5.338 quilos. Os produtos catarinenses retornamda Exposição Nacional, no Rio de Janeiro, comemorativa aos cem anosdo Grito do Ipiranga, com 242 prêmios, agraciados pela qualidade.

O futebol catarinense cresce. Na rua Frei Caneca é criado o AvaíFutebol Clube, em 1o de setembro de 1923.

No mesmo ano, são determinadas pela prefeitura pequenas re-formas no Mercado. O peixe vendido no alpendre, exposto ao sol e àchuva, está agora no interior do prédio, em algumas poucas bancas.

65 Ver página 98.

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Continuando a tentativa de contornar o problema da falta deespaço, o superintendente Fúlvio Aducci invoca a Lei no 415 e, funda-

mentado na nova Lei no

538, de 26 de novembro de 1924, realiza maisuma tomada de preços para ampliação do Mercado. Quando tambémnão aparecem candidatos. Então, começa a construção do trapichemunicipal na praça Floriano Peixoto. Obra que cará na memória eno coração dos orianopolitanos como Miramar.

Os arrendatários dos boxes do Mercado se assustam quando, apósa abertura das propostas, baseadas nas ofertas, a superintendênciaxa valores arbitrários, elevando-os e desprezando a licitação. Recla-mações forçam o governo, que diminui e redene os aluguéis em 13de dezembro de 1924: os boxes 1, 6, 7, 10, 11, 12 e 17, 200$000 (200 mil réis); para os de números 2, 3, 4, 5 e 8, 120$000 (120 mil réis) e osboxes 13, 14, 15 e 16, 110$000 (110 mil réis). O box 9 era reservado àadministração. Acordo feito e contratos assinados.

Mercado de São LuísO centro da cidade se expande. Uma constatação que faz surgir a

Lei no 544, de 25 de maio de 1925, autorizando a construção de mais

um mercado em Florianópolis, para atender à população que crescera,chegando a 44.224 habitantes.

 Artigo 1o - Fica o superintendente autorizado a contratar comJoão Selva a construção de um mercado público na zona deSão Luís, nesta cidade, em local previamente indicado.

 Artigo 2 o - O contratante construirá esse edifício de acor-do com a planta que for aprovada pela SuperintendênciaMunicipal, devendo obedecer a todos os requisitos de pesca,higiene e comodidade para o público, sem nenhum ônus parao município.

Não existem documentos que comprovem a conclusão do projeto.Consultando pessoas que viveram essa época, não há referências oulembranças a respeito dele.

O bairro São Luís se estendia da praça Lauro Müller até a PedraGrande, rua Frei Caneca.

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Interferência governamentalNovos problemas na renovação dos contratos, que são anuais.

Fúlvio Aducci, em novembro de 1925, muda as regras para locação. Amparado na Lei no 556, de 14 de novembro de 1925, xa valores mí-nimos para os boxes. O superintendente dene também uma tabelacom aluguéis para novas atividades e cria o aluguel diário. Nota-sena relação que surgiu mais um box, o de número 17, pois eram 16quando o Mercado foi inaugurado, e que o mix do comércio está bemdiversicado.

[...] Banca para venda do pescado ou espaço correspondente,diariamente, cada uma, 6$000 [6 mil réis]. Ocupando só ametade, 3$000 [3 mil réis].

 Aluguel mensal: sala, 30$000 [30 mil réis]; guichês paravenda de loteria, 40$000 [40 mil réis]; moedor de cana, 30$000 [30 mil réis]; tabuleiro dentro do Mercado para doces e qui-tandas, 12$000 [12 mil réis]; tabuleiro para miúdos [buchada,tripa, etc], 20$000 [20 mil réis]; compartimentos números 1,6, 7, 10, 11, 12 e 17 [esquina e de quatro portas], 200$000  

[200 mil réis]; compartimentos números 2, 3, 4, 5 e 8 [duas portas], 120$000 [120 mil réis]; compartimentos 13, 14, 15 e16 [duas portas], 110$000 [110 mil réis]; vitrina para vendade pães, doces, etc, 1,40m por 0,75m, 20$000 [20 mil réis];vitrine para venda de pães, doces, etc, de maiores dimensões,50$000 [50 mil réis]. Novas discussões, novos acordos e todos continuaram a comercia-

lizar suas mercadorias.O grande sonho dos ilhéus chega ao nal em 13 maio de 1926.

Com a inauguração da ponte Hercílio Luz, as mercadorias produzidasno Continente podem chegar facilmente à cidade. Mas, ainda durantemuito anos o abastecimento do Mercado continua por via marítima. Agrande quantidade de pequenas embarcações e a malha viária precáriana Ilha favorecem esse meio de transporte.

Inacionados, os aluguéis dos boxes, em 1927, chegam, em média,a 320$000 (320 mil réis), 864% a mais que os valores de 1899, há 28

anos.

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Um ensurdecedor trovão. Levantando água por onde passava,provocando um rebuliço na população, amerissa na baía sul, em Flo-

rianópolis, o hidroavião Atlântico. De propriedade da Kondor-Syndikat,pilotado por alemães, tem a bordo uma pequena comitiva e o catari-nense Victor Konder, Ministro da Viação do Brasil.

Com esse vôo de 1o de janeiro de 1927, após 11 horas da saída daGuanabara, Capital Federal, atual Rio de Janeiro, um catarinenseinaugura assim o serviço aéreo comercial no Brasil. Em 28 de janeiro,o Atlântico aportou novamente na cidade, iniciando o serviço aéreoregular entre Rio de Janeiro e Porto Alegre, com escala em Santos,São Paulo e Florianópolis.

Pilotado por J. Nueuhofen, em raid66  Rio-Buenos Aires-Santiago,amerissa em 9 de fevereiro um hidroavião Junkers. Ocasião em quevoaram, em pequena excursão sobre a Ilha, Walmor Ribeiro, vice-presidente do Estado, o capitão João Marinho, ajudante de ordens, eo major Dalmiro de Barros. A bordo estavam também o comandanteFloriano Cordeiro de Farias, o jornalista Crispim Mira, seu lho e WillyHoffmann, acompanhados da senhorita Sá Ribeiro.

Com os pés no chão, o superintendente Heitor Blum, acompanhado

dos secretários e dos proponentes, avalia o resultado do edital de 7 demaio, para ampliação do Mercado.São duas opções. A de Miguel Savas, pedindo 491:700$000 (491

contos e 700 mil réis) pela execução da obra, e a outra de Raul OscarWendhausen, que se oferecia, por si ou por sociedade que organizar,a fazer os consertos no atual Mercado e a construir o aumento do mes-mo, de acordo com o projeto ocial e condições [explicadas] no editalda superintendência, de 7 de maio último [1927], comprometendo-se aconcluir os consertos do atual Mercado dentro de um ano, e o respectivoaumento no prazo mínimo de dois anos, propondo tomar conta da rendabruta do Mercado a contar de 1o de julho do corrente ano, e assim su-cessivamente durante 14 anos, como garantia das despesas das obras,entregando mensalmente ao município um terço da referida renda,comprometendo-se também o município a não criar novos mercadosdurante a vigência do contrato. 

66

Incursão.

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Mesmo assim, com duas propostas, o projeto de ampliação doMercado não vai adiante.

 Agora o progresso aporta em Florianópolis. O navio Carl Hoepcke,recém-adquirido, lança suas amarras em 14 de agosto, completandocom os vapores Anna e Max a frota da Empresa de Navegação Hoepcke. As viagens para o Rio de Janeiro, com escalas em Itajaí, São Franciscodo Sul e Santos serão mais confortáveis.

Começa o ano de 1928 com grandes perspectivas para os oriano-politanos. O governador Adolpho Konder se empenha em aplicar com omaior rigor possível o Regulamento de Trânsito, apesar de ter apenasdois inspetores e um adido. Assina o contrato para instalação dos te-lefones na capital em 30 meses. A rede havia sido iniciada em maio de1927. Construído em parceria com a Compagnie Générale Aeropostale,iniciam os pousos e decolagens no Aeroporto Adolpho Konder, localizadona orla da Praia do Campeche. E, pela Constituição Estadual de 1928,o cargo de superintendente passa a ser denominado prefeito.

Segunda alaCom a região próxima ao Mercado e o próprio edifício em condições

precárias de comércio, o prefeito Heitor Blum contrata a construtoraCorsini e Irmão para a construção da segunda ala e reforma da pri-meira.

Principia com 4.000m2 sendo tomados do mar. Na continuação darua Felipe Schmidt, do rebaixamento necessário entre as ruas PedroIvo e Bento Gonçalves são transportados 18.000m3 de aterro para am-pliação do Mercado. Foram também transferidos mais 12.000m3 parao alargamento do cais entre a praça Fernando Machado e o Mercado,nos fundos da Alfândega.

Justicando a atitude, Heitor Blum, em seu relatório de 1928, ale-ga que, se o terreno fosse adquirido de particular, custaria muito maisque a obra contratada. Demonstra com cálculos baseados na média depreços dos terrenos da rua Felipe Schmidt, a 400$000 (400 mil réis) ometro quadrado, que a área tomada do mar, se fosse comprada, custariaà prefeitura 1.600:000$000 (1 mil e 600 contos de réis). Quase o dobrodo valor contratado para ampliação e reforma do Mercado, orçado em850:000$000 (850 contos de réis).

Enquanto isso, a iluminação pública cresce consideravelmente. Jáhavia na cidade 932 postes com 1.190 lâmpadas; 2.216 casas pagavam

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o consumo de eletricidade por taxa única e 699 por medidores. A passos curtos seguia a ampliação do Mercado, em 1929. Desde o

início em ritmo lento por várias vezes, a entrega prevista para agostode 1930 só se concretiza na gestão seguinte. O prefeito Heitor Blum,que contratou a obra e mesmo em diculdades nanceiras a prosseguiu,passa o cargo para José da Costa Moellmann com 272:735$266 (272contos, 735 mil e 266 réis) pagos aos empreiteiros.

 A Revolução de 30 também passa pelo Mercado Público, quandoos revolucionários se aquartelaram na segunda ala, ainda em cons-trução.

E o jornal noticiava:

 Alta noite [25 de outubro], tudo se acalmou: o Governo doEstado, convicto de que a situação federal baqueara, tinhatomado a resolução de abandonar a capital. Assim foi. Osenhor Fúlvio Aducci, acompanhado de secretários e outras personas gradas67 , cujos nomes não nos foi possível saber,embarcaram pelo trapiche da Praia de Fora, a bordo do vaporC.N.N. Costeira, com rumo ignorado.

[...] Às 3h30min, por ordem do general Ptolomeu Assis Brasil, o capitão Regis organizou uma força para guardar oMercado Público, onde está armazenada grande quantidadede gêneros alimentícios.

[...]  Atirado ao mar o carro blindado.O carro blindado, que havia sido construído na scaliza-

ção dos portos para com ele ser atacada a força revolucionáriaque ocupou esta capital, foi hoje pela manhã [25 de outubro] conduzido do Mercado Público, onde se encontrava guardado, para a praça XV de Novembro, e mais tarde o povo o levoudaquele logradouro público para o Cais da Liberdade [Al- fândega], jogando ao mar. Jornal O Estado, em 27 de outubrode 1930, às 16h.

67 Autoridades.

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 A segunda ala, paralela à existente na rua Conselheiro Mafra, éentregue à população em 24 de janeiro de 1931, um sábado.

Novamente, o jornal O Estado praticamente desconhece o fato. ORepública, na edição de 25 de janeiro de 1931, publica um relato sobrea inauguração da nova ala do Mercado Público:

Foi franqueada ontem [24], ao público, a nova ala do MercadoMunicipal.

Na véspera, sexta-feira [23], à noite, Sua Excelência osenhor general Ptolomeu de Assis Brasil, interventor federaldo Estado, acompanhado de seus secretários, senhores dou-tores Cândido de Oliveira Ramos e Manoel Pedro Silveira,e do senhor José da Costa Moellmann, prefeito municipal,e de mais algumas pessoas gradas, esteve em visita ao novoedifício que, nessa ocasião, já se achava preparado para serentregue ao uso público.  A preocupação com a higiene, que não houve nas obras anteriores,

está presente. Enumerados com orgulho pela administração municipal,

estavam um sistema de encanamento ligado à caixa de água central,com cinco registros onde poderiam ser ligadas mangueiras para alavação completa do Mercado, prioridade para a área destinada àvenda de carne e pescado, colocação de pias e instalação de uma redede esgoto própria. Esta garante asseio aos açougues e às 12 bancasde pescado.

O sistema de água e esgoto, que facilitava a limpeza e não estavaprevisto, custou mais 6:567$600 (6 contos e 567 mil e 600 réis) à prefei-tura. Funcionam no primeiro momento os compartimentos destinadosaos açougues. Em número de 16, sendo 13 para venda de carne, um parao comércio de miúdos e dois reservados ao fornecimento de carne deporco. As bancas de pescado também começam a atender aos clientes.Os funcionários, com seus aventais e gorros brancos, demonstram queo esmero na limpeza seria uma constante.

O conjunto não possuía a conguração atual. Eram duas alasisoladas e a prefeitura ainda prometia nalizar o edifício, azulejar asparedes até a altura de 50 centímetros, instalar bebedouros e torneiras

públicas.

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Mesmo assim, a segunda ala não resolve os constantes problemasde abastecimento da população, nem a qualidade do atendimento e

muito menos as condições de trabalho dos comerciantes. Com área umpouco maior, 1.909,20m2, ou 103,20m2 a mais que a primeira, melhorplanejamento e corredor mais largo, foi um aparente progresso.

Novamente os oleiros são esquecidos. As tradicionais panelas debarro, os alguidares, jarras e moringas cam ao tempo, sendo nego-ciados nas ruas Deodoro e Jerônimo Coelho, ao ar livre, nas calçadas.  Aos poucos, os tabuleiros de frutas e legumes da primeira ala sãotransferidos para a ala nova. Instalados do lado oposto aos açouguese peixarias, funcionam de modo precário.

Com verbas denidas em um adendo ao contrato com a Corsinie Irmão, e a transferência dos últimos comerciantes da primeira ala,esta é fechada para as reformas. Fregueses e comerciantes voltam ase espremer em apenas um prédio.

Florianópolis está com 47.713 habitantes. A população se deslocapara os bairros e a legislação não permite a venda de carne fora dosaçougues do Mercado. Mas o prefeito José da Costa Moellmann, emfevereiro de 1931, não resiste às pressões e assina a Resolução no 21,

que regulamenta os primeiros açougues particulares, com alguns ar-tigos interessantes:

 Artigo 1o - Não será permitido o comércio ambulante de carneverde.

 Artigo 2 o - O comércio de carne verde, em açougues parti-culares, só será permitido fora da zona central da cidade.

 Artigo 3 o - Para efeito de execução do artigo antecedente,considere-se zona central da cidade a área compreendidadentro dos seguintes perímetros: largo Badaró [o largo em frente à rua Trajano, ao lado da Alfândega], ruas FredericoRolla, Raulino Horn [não foi encontrada referência sobre alocalização], Hercílio Luz, Pedro Soares, Artista Bittencourt, praça Pereira Oliveira, Marechal Guilherme, Deodoro, 28 deSetembro [não foi encontrada referência sobre a localização], Álvaro de Carvalho, Tenente Silveira e Padre Roma.

 Artigo 4 o - Os açougues deverão ser instalados em com-

 partimentos que tenham pelo menos duas portas dando dire-

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tamente para o exterior. Além dessas não poderão ter outrasaberturas.

[...]  Artigo 12 - Os produtos não poderão ser expostos às portasdos açougues.

 Artigo 13 - A carne será coberta com panos brancos detecido leve, para impedir o contato com insetos e a poeira.

[...]  Artigo 17 - As carnes que forem encontradas em contato

com o gelo, qualquer que seja o vasilhame que as contenha,serão sumariamente apreendidas e inutilizadas, incorrendoos infratores na multa de 500$000 [500 mil réis], e o dobronas reincidências.

[...]  Artigo 20 - A entrega de carne verde a domicílio só se fará

em viatura do tipo aprovado pela autoridade sanitária. Artigo 21 - A carne verde poderá car exposta à venda

nos açougues só até as 11 horas. [...] 

 A resolução é abrangente e preocupada em garantir a qualidadeda carne para o consumidor nal. Porém, no artigo 3o, inibe a livreconcorrência. Uma prática herdada dos tempos coloniais.

Inicialmente chamada de carne verde, para diferenciar da carneseca, conhecida também como charque, sempre teve uma scalizaçãorígida e era motivo de preocupação governamental. Continua a sero item mais polêmico na dieta da população e nos cofres municipais.Desde 1851, para justicar o monopólio brando, o governo realiza in-tervenções sobre o produto. Primeiro a saúde pública, com a vigilânciana higiene do matadouro e na qualidade das reses, depois as licitaçõespara a distribuição exclusiva no atacado, por uma única empresa,facilitando a cobrança de impostos.

Na Praça do Mercado, o imposto chegava a 400 réis por cabeçavendida, ou 10% do maior aluguel mensal de um box. Os boxes quevendiam a carne sempre foram os mais disputados, fato que geravaos maiores aluguéis. A população cresce e o consumo também. Maisimpostos. E assim a carne garante alta arrecadação aos cofres muni-

cipais. Fiscalização constante e preocupação esclarecida.

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Em um mês, os dois primeiros açougues particulares são abertosna cidade, fato amplamente divulgado pela imprensa:

Consoante o que noticiamos, foram inaugurados ante-ontem [16 de março], às 8 horas, pelo senhor prefeito doutorJosé da Costa Moellmann, os modernos açougues da rma Vaze Di Bernardi, exploradora desse gênero de comércio.

 A inauguração foi assistida pelo senhor doutor SizenandoTeixeira, diretor da higiene, pelos representantes da imprensa, gentilmente convidada, e grande número de pessoas.

Os açougues do Povo e Popular, o primeiro instalado na praça General Osório [atual rua General Osório], e o outro narua Demétrio Ribeiro, em São Luís [região do Beiramar Sho- pping], estão dotados de todos os preceitos de higiene que osmesmos necessitam e aparelhados para atender com prestezaos mais exigentes fregueses. As novas instalações apresentamum agradável aspecto, impressionando pelo seu esmero ecapricho nas dependências internas, destinadas à recepçãoda carne. Os seus proprietários visaram, principalmente, ao

interesse do público consumidor, organizando uma tabelaespecial de preços para a carne verde, que será vendida àrazão de 1$600 [1 mil e 600 réis] e 1$200 [1 mil e 200 réis] oquilo da carne de primeira e segunda, respectivamente. Alémda carne em retalho [varejo], venderão os novos açouguescarne moída e farão entregas a domicílio, dispondo para issode pessoal habilitado.

Tiveram, pois, os senhores [Hidelbrando] Vaz e [Eliseu]  Di Bernardi a feliz lembrança de dotar a nossa capital desemelhante estabelecimento, tão comum nas grandes cidades,e que presta à população incalculáveis benefícios. No ato dainauguração, o senhor prefeito disse algumas palavras, con- gratulando-se com os proprietários pela feliz iniciativa, lhesdesejando felicidades. Aos presentes, foi servida na bebida.Jornal República, em 18 de março de 1931.  Apesar da carne, na época, ser um produto elitizado, pois a abun-

dância, ao contrário da atualidade, era do peixe fresco, um professor

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com o salário mensal de 420$000 (420 mil réis) podia comprar 1,6 quilode carne por hora trabalhada. Um quilo de carne de primeira equiva-

lia aproximadamente a 4,7 quilos de feijão ou 4 quilos de farinha demandioca.Enquanto isso, na rua Conselheiro Mafra as reformas da pri-

meira ala do Mercado estão dentro do cronograma. E não incomodamos consumidores tanto quanto o tráfego aéreo. Os aviões amerissampraticamente atrás do Mercado. Fundeados em uma plataforma, ospassageiros são desembarcados em lanchas, ou no trapiche do Mira-mar ou no cais da empresa Ciriaco Atherino e Irmão, que anuncia em12 de março:

 Deverá amerissar amanhã, às 10 horas, nesta capital, pro-cedente de Buenos Aires, um possante avião da Panair do Brasil. Tem o grande hidroavião, o maior da América do Sul,acomodações para 36 passageiros, possuindo cabines de luxoe compondo-se sua tripulação de cinco pessoas. 

O transporte coletivo também anunciava nas páginas da imprensa.

 A empresa Auto Viação Evaristo faz a linha Canasvieiras-Florianópo-lis, saída da praia às 6h30min e retorno às 14 horas, com passagemcustando 2$500 (2 mil e 500 réis), ou 57 minutos de trabalho de umprofessor primário.

Melhores horários tem a Auto Viação Santo Antônio. Duas opçõesde saída da Praia de Santo Antônio de Lisboa e duas de retorno. Opassageiro desembolsa na viagem 1$500 (mil e quinhentos réis), ou 34minutos de trabalho do professor.

No Centro, mal instalado na segunda ala, o comércio do Mercadogera, em abril de 1931, uma arrecadação de 618$400 (618 mil e 400réis). E uma curiosidade. O preço do par de tamancos é, em média,de 14$000 (14 mil réis), vendendo-se 100 dúzias por mês, ou 1.200pares. Um professor podia comprar um par a cada 5h20min de aulaslecionadas.

 Além do Mercado, o comércio na região central tem seus problemase a prefeitura está atenta. A Resolução no 28, de 2 de abril de 1931,determina:

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O doutor José da Costa Moellmann, prefeito municipal deFlorianópolis, usando de suas atribuições:

Resolve, nesta data, proibir terminantemente a distribui-ção de reclames ou anúncios avulsos pelas ruas da cidade,tanto sobre empresas teatrais, cinematográcas, de sorteioe outras, como de casas comerciais quaisquer, agências deleilões, fábricas, etc, ou ainda sobre qualquer outro assunto,a m de evitar a constante aglomeração de fragmentos de papel nas vias públicas, sob pena de multa de 100$000 (100 mil réis) por inobservância, cobrados dentro do prazo de 24 horas. [...]  Na imprensa, as páginas policiais trazem notícias da região de

abastecimento:

Notícias policiaisO senhor Mário Pizza, estabelecido com casa de pasto [localonde serviam refeições] no Mercado Público, queixou-se na DP desta capital que hoje, pelas 14 horas, deu por falta de

100$000 [100 mil réis] que se achavam dentro de uma Histó-ria Sagrada, e que a mesma estava guardada dentro de umamala, no depósito do referido estabelecimento.O delegado da capital tomou as devidas providências.Jornal República, em 12 de agosto de 1931.

Notas policiaisFredolino Arnaldo Schmidt, pombeiro, queixou-se que, tendodepositado em frente ao Mercado Público três latas de banha, foram as mesmas furtadas.Jornal República, em 17 de setembro de 1931.

Notas policiaisJoão Laurentino, residente no morro das Trincheiras [hoje,morro do Penhasco], queixou-se de Valdir de tal, que furtou-lhe um cabo de relho, o qual foi vendido em um dos cafés doMercado Público. 

Jornal República, em 9 de outubro de 1931.

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Mercado Público Municipal

Com a reforma concluída na ala da rua Conselheiro Mafra, acon-tece a já tradicional inauguração:

Foi ontem [6 de janeiro de 1932] reinaugurada a primeira alado Mercado Público com a presença de numerosos colonos.

Essa ala, que tem a frente para a rua Conselheiro Mafra,é ampla e espaçosa, tendo quatro modernas plataformas, ondeos colonos colocam seus produtos à venda.

Essas plataformas são separadas por meio de gradis, desorte que o comprador não se aproxima dos gêneros alimen-tícios, como se fazia antigamente.

Na semana vindoura serão inauguradas na segundaala, fronteiriça à primeira, as armações de ferro, destinadasà venda de hortaliças e frutas, que estavam ali funcionandoem anacrônicos tabuleiros.

Com as condições adotadas e com as grandes obras econstrução realizadas, o nosso Mercado Público tornou-se um

estabelecimento que honra a nossa cultura.Satisfazendo exigências do nosso meio e o crescente mo-vimento comercial, o governo municipal não mediu sacrifícios para a denitiva realização de tão importante melhoramento.Enorme foi, ontem, a acorrência ao nosso Mercado, tendocomparecido à feira numerosos colonos e pombeiros. [...]  JornalRepública, em 7 de janeiro de 1932.

O Mercado Público passa a ter o conjunto arquitetônico que hojese admira em 6 de janeiro de 1932, uma quarta-feira. Foram anos dedisputas, projetos e tropeços até a cidade ter seu Mercado denitivo. Oedifício da Praça do Mercado foi inaugurado, por coincidência ou não,em 6 de janeiro de 1851, no mesmo dia e mês, há exatos 81 anos.

Relembrando. Em 5 de fevereiro de 1899 foi inaugurada a alaparalela à rua Conselheiro Mafra, e em 24 de janeiro de 1931 capronta a segunda ala, 32 anos depois. Quase um ano após o início dasreformas na primeira ala, o Mercado é reinaugurado.

Durante o tempo em que cou fechada ao público, a primeira ala

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sofreu grandes transformações para adaptar-se ao projeto nal, quecompreende a ligação com a nova ala através de pontes.

Externamente, a construção de 1899 perde os óculos, pequenas janelas redondas entre as portas. Os arcos romanos são mantidos nasportas das lojas. Desaparecem os adornos laterais, substituídos pormolduras imitando pedras na arquivolta68.

Em número de quatro, as portas das entradas têm mais modica-ções. Perdem a or estilizada que enfeitava o frontão69 de cada uma,sendo mantido o arco em asa de cesto. Padronizadas, as arquivoltasrecebem a mesma decoração das portas pequenas.

No respaldo, o lete que havia logo abaixo das cornijas70 é retirado,a platibanda tem os balaústres71 substituídos por ameiasem degraus e os elementos decorativos em forma de cálice são retira-dos. Sobrepondo a platibanda, acima de cada porta de acesso haviaum enfeite, que é também removido. O baixo-relevo com a inscriçãoMercado Público e a data da inauguração sobre a porta principal,considerada a fachada na lateral da Alfândega, desaparecem na re-forma. A inscrição registrava a data de 1898, pois o Mercado teve suainauguração marcada para o mês de dezembro desse ano, mas ela só

ocorre em janeiro de 1899.Os cantos chanfrados72 são mantidos apenas na rua ConselheiroMafra, e os do vão central são reconstruídos salientes, em forma detorre, onde as escadas dão acesso às pontes que ligam as duas alas.

Internamente, o número de lojas para o exterior é aumentado. Ha-viam sido construídas, em 1899, com as portas para a rua ConselheiroMafra e apenas desse lado. Na reforma é que surgiram as lojas para ovão central. Completando, gradis de ferro e uma plataforma denemos espaços de cada comerciante.

68 Moldura que guarnece um arco.69 Originalmente elemento estrutural, atualmente funciona mais como ornamento,adornando a parte superior de portas e janelas, ou a entrada social de uma constru-ção.70 Molduras (frisos) sobrepostas de modo a formar saliências na parte superior dasparedes.71 Coluneta de madeira, pedra ou metal que, regularmente distribuída, forma umcorrimão ou peitoril.72

Corte em ângulo (na maioria das vezes em 45o

) que elimina os cantos vivos (90o

).

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 A segunda ala, desafogada com a volta de vários comerciantespara o prédio da rua Conselheiro Mafra, depois da reinauguração,

também recebe gradis de ferro, dividindo os quitandeiros em espaçosmaiores e demarcados.O conjunto arquitetônico do Mercado Público tem agora um novo

trapiche, em alinhamento com a rua Deodoro, em concreto armado ecobertura. Na beira-mar, hoje avenida Paulo Fontes, existe uma ruaestreita na lateral e sobre o muro de arrimo um parapeito com balaús-tres, onde uma escada bifurcada dá acesso ao mar e a uma grande mesade alvenaria construída para servir aos limpadores de peixe.

Com área de 4.150m2, quase seis vezes maior que o edifício daPraça do Mercado, construído em 1851, sendo 2.865m2 úteis para ocomércio, nalmente Florianópolis tem um Mercado para atender àsnecessidades da população.

 A empreiteira recebe, durante 1931, dez parcelas pela reforma daprimeira ala e mais alguns pagamentos extras. Cinco parcelas que fo-ram localizadas somam 27:302$000 (27 contos e 302 mil réis). Em obrasextras foram pagos mais 2:376$100 (2 contos, 376 mil e 100 réis).

Segundo relatório assinado pelo tesoureiro, Leônidas de S. Me- 

deiros, ao pagar a última parcela, em dezembro, a prefeitura possuíaem caixa 18:624$840 (18 contos, 624 mil e 840 réis), e depositados noBanco do Brasil mais 70:000$000 (70 contos de réis).

Outra curiosidade que passa despercebida aos comerciantes efreqüentadores é que as duas alas do Mercado não têm a mesma lar-gura. A primeira possui 21m e a segunda 22,20m, mas com a mesmaextensão, de 86m.

Custo de vida A publicação dos preços praticados no varejo, vericada na edi-

ção de 7 de janeiro de 1932, no jornal República, traz à lembrança atabela de preços do capítulo Balaio Velho com os valores dos gênerosalimentícios em 1851, comparados com 2001.

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 Acrescentando apenas os dados referentes a 1932, podemos acom-panhar uma nova evolução dos preços.

 Equivalência do CustoA da Mercadoria (kg) por Hora Trabalhada

(h)

Mercadoria Em1851 Em1932 Em2001

Réis TempoB Réis TempoH Real Tempoc 

Farinha de Mandioca 18 5 min 400 9 min 1,20 33 minFeijão 43 12 min 33 47 min 2,80 77 minGomaD 3 29 min – – 1,00 28 minFava 44 13 min – – 5,00 2h18 min

  Amendoim com casca 48 14 min – – 2,50 1h09 minMilho 36 11 min 250 6 min 0,50 14 minBatata Inglesa 32 9 min 140 3 min 0,70 19 min

 Arroz piladoE 100 29 min – – 1,00 28 minCafé chumbadoF 234 67 min 1.800 41 min 4,80 2h13 minFrangoG   – – 2.000 45 min 2,50 1h09 minOvos – – 1.300 30 min 1,80 48 min

  Açúcar – – 367 8 min 1,10 30 min

 A) Preços publicados na edição de 10 de janeiro de 1851 do jornal ONovoIris. Atualizados em pesquisanas feiras de Florianópolis, em 28 de dezembro de 2001.B) O salário de um professor primário, em 1851, importava, na média, em 33$280 (33 mil e 280 réis), ou208 réis por hora.C) O correspondente salário de um professor primário, em 2001, é, na média, R$ 347,00, ou R$ 2,17 por hora. Dados da Secretaria de Estado da Educação e do Desporto de Santa Catarina.D) Fécula alimentícia que se extrai da mandioca.E) O arroz pilado, socado no pilão, era o equivalente ao arroz descascado.F) Depois de seco, o café era torrado e amassado no pilão. Alguns fornecedores ainda misturavam um poucode açúcar mascavo, dando mais cor ao produto fnal.G) O frango era vendido vivo.

H) Em 1932, um professor primário recebia de salário 420$000 (420 mil réis) por mês, ou 2$625 (2 mil e

625 réis) por hora.

Os dois prédios funcionando, as pontes interligando as quatrotorres, açougues, peixarias, quitandas, armazéns de secos e molhados,a Feira dos Colonos, lojas e cafés, agora o Mercado Público estariaconcluído, exceto, novamente, pelo esquecimento dos oleiros.

 As louças de barro produzidas nas olarias da Ponta de Baixo, emSão José, já eram famosas em 1700. Exportadas para Buenos Aires,Montevidéu e Rio de Janeiro, estavam novamente sendo relegadas

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às intempéries. Sem local denido, seu comércio continua ao lado doMercado, na rua Jerônimo Coelho, empilhadas no chão.

 A primeira ala agora tem o espaço interno reservado à Feira doColono. Os agricultores vinham à cidade nas terças-feiras, madru-gavam no Mercado e até as 12h de quarta-feira vendiam arroz, feijão,milho, galinhas vivas, queijos, salames e outros produtos caseiros.

Época em que gente trabalhadora começa a escrever seu futuro.Seu Raulino abastece a carroça na Colônia Santana, São José,

e depois de horas de estrada atravessa a ponte Hercílio Luz. Chegano dia anterior à feira, segue vendendo nos bairros Saco dos Limõese Trindade. Na praça XV de Novembro fornece carne para o EstrelaHotel, se hospedando ali. No dia seguinte, na Feira dos Colonos, ne-gocia seus produtos. Seu Raulino e os lhos Paulo, Orlando, Walter e Antônio começam assim a delinear o Grupo Koerich.

Quartos sem pensão Banhos quentes e frios

 Diárias de 4$000 a 5$000 (4 mil a 5 mil réis) Jornal Dia e Noite, em 18 de agosto de 1939.

 Anunciava o Estrela Hotel. Razoável a diária, pois, quase ao lado,o Restaurante Pérola, sosticado, oferece refeições praticamente aopreço da diária:

Menu do almoço de hoje 3$000 (3 mil réis).Sopa húngara, peixe ensopado à baiana,

 guisadinho à jardineira, assado à brasileira ebanana a Rei Alberto. Sobremesa an mirim, café ou chá.

Jornal Dia e Noite, em 18 de agosto de 1939.

O prefeito Mauro Ramos inicia a construção do frigoríco doMercado Público, em 1939. Até então, o abastecimento de carne eradiário, e as sobras jogadas ao lixo. O pescado, que se danicava maisfacilmente, era encharcado com Creolina73 e jogado no mar.

73 Nome comercial de desinfetante líquido, com base em sabão de resina e creosoto,

com propriedades germicidas e anti-sépticas.

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Mesmo com a necessidade do fechamento de algumas bancas depeixe e outras de carne para a concretização da obra, a importância

para a saúde pública justica a interferência. Assim era realizada umaantiga reivindicação dos comerciantes, que constava inclusive do editalpara construção da segunda ala, em 1927.

 As lojas do Mercado começam a fazer história. Além de criaremuma valorização comercial para aquela área, anunciam:

Relojoaria RoyalRelógios de pulso, de bolso,

despertadores para cima de mesa e balcão. Artigos para presentes. Taças para esportes.

Vendas à vista e a longo prazo.Rua Conselheiro Mafra, edifício do Mercado, número 3.

Jornal A Gazeta, em 18 de agosto de 1939.

Casa das Novidadesde Nicolau Buatim

Recebeu variado e abundante sortimento de sedas,

 jogos de jersey e armarinho, bijuterias e brinquedos.Conselheiro Mafra, número 10, no Mercado Público.Jornal A Gazeta, em 18 de agosto de 1939.

Salão ComercialFrutas geladas ou não, nacionais ou estrangeiras

Cigarros e charutos, Mercado Público, 9 Jornal Dia e Noite, em 18 de agosto de 1939.

Casa VenezaCalçados e chapéus

Quereis calçado com gosto, elegância e economia? Procure a Casa Veneza de Francisco Evangelista e sobrinho

Rua Conselheiro Mafra, números 1 e 2, esquina do Mercado Público.Jornal Diário da Tarde, em 17 de agosto de 1940.

Ocupando a região onde se encontra hoje a Peixaria Milgon e a

Pescados Silva, a câmara frigoríca comunitária do Mercado couconhecida como o Frigoríco Modelo. Assegurava, em 1940, a quali-

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dade dos alimentos vendidos. Em suas três câmaras comportava 10toneladas de peixe, cinco de carne e duas de verduras. Tinha também

uma máquina para produção de gelo com 12 formas de 12,5kg.Especulação e o custo de vida ocupam as páginas do jornal: 

Os gêneros de primeira necessidade estão novamente em alta.Os ratos são os responsáveis, dizem os pombeiros.

Subiram novamente os preços dos gêneros de primeiranecessidade, alcançando alta exagerada na pauta da última feira do Mercado Público. O feijão chegou a 50$000 [50 milréis o saco], a batata a 38$000 [38 mil réis o saco], e outros gêneros que estavam cotados por preços mais baixos tiveramalta imediata. Segundo nos armaram, os preços dos gêne-ros são feitos, também, sob condição prévia, antes de abrir oMercado. Falamos com vários dos pombeiros e ambulantes,aos quais perguntávamos os motivos da alta.

Responderam-nos que a grande quantidade de ratos queultimamente apareceu, e de que deram notícia os jornais, foia causa principal da alta.

Em alguns paióis de gêneros, a invasão dos roedoreschegou a assumir a violência de uma ...kreg [sic].[...] Várias centenas de sacas foram destruídas, perdendo-se

os gêneros.Embora não tenhamos acreditado nas razões que nos fo-

ram dadas, nem por isso deixamos de fazer justiça à argúciadesses aproveitadores, que para se porem livres da lei da eco-nomia popular se prevalecem dos ratos, como inuenciadoresdiretos na pauta de nossa feira.

[...] É necessário que se faça saber a todos os interessados, que,

 por haver o governo extinguido a Comissão de Abastecimento,nem por isso deixou ao léu a defesa da economia nacional e,tanto assim é, que mantém no Rio o tribunal necessário para julgar os que tentam explorar a bolsa do público.

 Basta uma denúncia para aquele órgão, legítimo defen-

sor dos direitos do povo, e os exploradores hão de sentir que

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nem mesmo os ratos os salvarão. Jornal Diário da Tarde, em 23de agosto de 1940.

O feijão, há oito anos, em 1932, custava 20$000 (20 mil réis) o saco. Até 1940, tinha subido 250%, ou 31,2% ao ano. A batata aumentou542%, ou 67,7% ao ano.

 A vida continua. Carlos Galhardo se apresenta nas salas do circuitocinematográco Real. Na livraria Central, o Guia do Estado de SC , emprimeira edição, com volume histórico e corográco74, custa 10$000 (10mil réis). Pelos Correios, mais 1$000 (1 mil réis).

Boas horas são marcadas no Mercado Público e nas páginas do Diário da Tarde sob o título:

Relógio LuminosoO acreditado estabelecimento comercial Relojoaria Royal,sito à rua Conselheiro Mafra, edifício do Mercado, acaba deinstalar em sua fachada um artístico relógio luminoso. [...]  Jornal Diário da Tarde, em 18 de dezembro de 1940.

Do varejo ao atacado Já corria mais rápido o tempo na década de 40. As distâncias estãomenores com o avião e os ônibus intermunicipais aproximam popula-ções distantes. O rádio nos Anos Dourados informa em instantes osacontecimentos mundiais.

Uma das grandes mudanças é a extinção dos réis, a unidade mone-tária vigente. Getúlio Vargas, presidente do Brasil, assina o Decreto-leiFederal no 4.791, que cria o cruzeiro, a nova moeda que vigora a partirde 1o de novembro de 1942.

Florianópolis cresce em direção ao Continente. A capital cata-rinense tem o menor território das capitais brasileiras, constataçãoque incomoda o interventor federal em Santa Catarina, Nereu Ramos.Sendo uma ilha, como aumentar sua área? A ponte Hercílio Luz já faza ligação com o distrito de João Pessoa, município de São José, desde1926, integrando a população e o comércio das duas cidades.

74 Relativo à corograa. Estudo ou descrição geográca de um país, região, província

ou município.

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Fato que leva a comissão criada a sugerir a reanexação. Nereu Ramosassina o Decreto-lei Estadual no 941, de 31 de dezembro de 1943, incor-

porando João Pessoa a partir de 1o

de janeiro de 1944. Separada da Ilhadesde 3 de janeiro de 1833, em conseqüência da criação do municípiode São José, esta área volta à cidade e readquire a denominação dostempos coloniais: Estreito.

Florianópolis, que possuía 10.206 imóveis, agora tem 12.200. Apopulação sobe de 47.146 para 57.146 habitantes. Com a elevação re-pentina desse número, o Mercado passa por uma acomodação. Novosrumos são denidos, enquanto muitos negociantes começam a criar ofundamento para a história de seus estabelecimentos.

O abundante sortimento de sedas, anunciado na imprensa, era oorgulho de Nicolau Buatim, fundador da Casa das Novidades, em 20 deoutubro de 1937. Na primeira ala, fazendo frente para a rua ConselheiroMafra, a loja ajudou a consolidar o comércio de tecidos na região. Notoldo de lona, o nome grafado não deixa dúvidas. Nas mãos de AntônioLiberto Bernardo, atual proprietário, a antiga loja continua no ramo,adaptada aos novos tempos, vendendo confecção.

De malinha na mão, cheia de botões, colchetes, elásticos, ele vai

da vida de mascate ao próprio estabelecimento. A loja mais antiga, como mesmo nome na fachada e pertencente à mesma família, resiste aossupermercados e lojas de departamentos. Quando se estabeleceu, em 25de setembro de 1947, Gedeão Mansur continuou a vender armarinhos.Goteiras no telhado danicavam a mercadoria, então trocou de ramo,louças. Vendeu muita. Produto perecível, quebrava no transporte ouno manuseio. Quando chega o alumínio, é o primeiro a vender. Atéentão, as panelas eram de barro ou de ferro. A mercadoria vinha emengradados, embalada com palha. Era um Deus nos acuda aquela pa-lha em dia de vento sul, recorda a lha Zenaide Mansur, que começoua trabalhar na loja em 1969.

Hoje, entre panelas de marca e utensílios de cozinha, podemosainda encontrar pombocas75 e penicos esmaltados, o urinol, peças quemuitos consideravam desaparecidas.

Conhecido carinhosamente pelos amigos como seu Gedeão, o donodo bazar Mansur era também um grande contador de anedotas.

75 Tipo de lamparina feita de lata.

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Hoje connadas à Lagoa da Conceição, precariamente instala-das na Avenida das Rendeiras, uma homenagem prestada a elas, as

rendeiras de Florianópolis tinham sua tradição melhor preservadaantigamente. A renda de bilro ou de almofada, trazida pelos açorianos,era confeccionada por famílias no interior da Ilha desde o século 18.De tão importantes, hoje quase desaparecidas por falta de incentivo,levaram o prefeito Paulo Fontes a sancionar um decreto para beneciá-las, em 1951. A redação retrata bem sua importância:

 Decreto no 7 O prefeito municipal de Florianópolis, no uso de suas

atribuições, e tendo em vista o artigo 97 da lei número 12, de16 de outubro de 1948,considerando que as rendas e os crivos confeccionados a mãoconstituem uma arte que merece o amparo do poder público;considerando que na Ilha e localidades circunvizinhas doContinente está localizado o maior número de rendeiras, quesão pessoas de poucos recursos;considerando que a aquisição de rendas e similares tornou-se

uma tradição e atrativo para os que visitam a capital;considerando que é necessário localizar a sua venda em pontoabrigado e confortável, decreta:

 Artigo 1o - Fica criada a Feira das Rendas, que será lo-calizada no prédio do Mercado Público, na parte fronteira àrua Conselheiro Mafra.

 Artigo 2 o - A feira terá caráter permanente, e na mesmasó poderão ser vendidas rendas, crivos e trabalhos manuaissimilares.

 Artigo 3 o - O serviço de scalização será superintendidoe executado pela Diretoria de Serviços Gerais.

§ 1o - Dentro de 90 dias serão baixadas instruções re-lati-vas à regulamentação da feira de que trata o presente

decreto. Artigo 4 o - Este decreto entrará em vigor na data de sua

 publicação. Prefeitura Municipal, 11 de maio de 1951. Paulo Fontes, prefeito municipal

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 Percival Callado Flores, secretário-geral

Se o decreto não foi revogado, uma vez que a Feira terá caráter permanente, poderia ser reeditado, para que as rendeiras continuema trançar suas rendas a declamar a antiga quadrinha76:

O sereno desta noiteCaiu na folha da palmaO dia em que não te vejoNão faço renda com calma.

Tinha acabado de dar baixa no Exército e, com 19 anos, junto coma mãe, começou a vender sementes. No primeiro dia, instalado em umarmário no corredor transversal da segunda ala, vendeu apenas 1 cru-zeiro. Chegou em casa chorando. O armário virou balcão, mais tardeduas portas. Hoje, quem nunca comprou semente, adubo, comida depassarinho ou cachorro na G.A. Carvalho?

Fundada em 1o de janeiro de 1953 por Gervásia de AndradeCarvalho e o lho Sérvio Túlio, a partir de 1956 ele recebe ajuda da

esposa, Nezir Scheidt Carvalho. A semente era toda manual, a gente éque fazia tudo. A gente é que enchia [os saquinhos]. Agora tem muitaagropecuária. As pessoas vêm aqui porque é de tradição, já conhecem.Naquela época, só tinha a Associação Rural, mais nada. Também aquino meio passava carro. A gente estacionava na frente, recorda NezirCarvalho. Pelos caminhos do destino, a loja fundada por mãe e lho,após a morte de Sérvio Túlio, voltou a ser de mãe e lho: Nezir Scheidt

Carvalho e Fábio Túlio Carvalho, lho do casal.

 As casinhas No vão central, a confusão impera por volta de 1955. A pensão de

Pedro Kowaslki, planejada em 1932 para ofertar pernoite aos colonos,tem sua clientela modicada. A freqüência de marginais, meretrizes,marinheiros e pessoas desempregadas transforma a região. O glamourdo Mercado está desaparecendo. Barbearias, cafés,

76 Texto transcrito do livro Aspectos do Folclore Catarinense, de Doralécio Soares.

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relojoarias perdem os melhores fregueses.Retratando a situação do Mercado, Carmelo Faraco, advogado e

cronista, assina um artigo em A Gazeta.

Mercado Público MunicipalSe o amável leitor quiser acompanhar-nos mentalmente,

iremos levá-lo a empreender um passeio maravilhoso.Visitaremos a anarquia (não confundir com autarquia)

que se chama ... Mercado Municipal. Começaremos no largo próximo à Alfândega.

 De início, o leitor verá o parapeito do cais completamentedestruído.

 Anotemos.Os sanitários do prédio do Mercado são uma obra-prima

do desmazelo, além de antiquados e antihigiênicos. Penetrando o Mercado adentro, devemos levar um lenço

ao nariz, para evitar o mau cheiro.Nas bancas de peixe encontramos três câmaras frigorí-

cas. Apenas uma está funcionando a pau e corda.

E isso há muito tempo.O resultado é que nessa única câmara colocam-se carnes, peixes, e, para completar, frutas e verduras.

 Almoço completo.Se o peixe ca impregnado de maçã ou carne, adquire sa-

bor de bergamotas, não dá mal algum. Azar do comprador. Deixemos de lado os botequins e depósitos de lixo (que

o mar, generosamente, limpa de quando em vez), ensaiemosnovamente o calamitoso próprio municipal. A praia próximaé repelente, puro depósito de lixo. E que lixo ...

Continuemos nosso agradável passeio.Não nos preocupemos com as balanças, que há muito

tempo não são aferidas. Para que?Finalizemos nossa jornada na rua Álvaro de Carvalho.

Mais adiante não é possível.Todavia, ali, nas proximidades de um posto de gasolina,

há ainda um grande depósito de esterco de cavalos.É o paraíso e o viveiro das moscas, baratas e mosqui-

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tos.Não vamos fazer críticas. Os freqüentadores do Mercado

sabem que não estamos desejando.O povo que julgue.Sim, apenas julgue, pois apelar ao leitor não adianta.O senhor prefeito está viajando. A cidade está entregue

às baratas, como já uma vez nos declarou em plena CâmaraMunicipal o vereador Antônio Apóstolo, defensor destemidoda anarquizada administração municipal.

Há um recurso porém, amigo orianopolitano. Três deoutubro77 está próximo. Não se deve votar em troca de favoresou empregos, principalmente quando os favores são feitos como dinheiro do povo e os empregos desnecessários dilapidam oerário público.

Reclamar e votar a favor, não adianta muito. Ou seráque nosso povo está anestesiado?  Jornal   A Gazeta em 16 de julho de 1958.

 A Feira dos Colonos não é suciente para atender a população.

Realizada nas quartas-feiras, oferecendo frutas, verduras, palmito78 em tora e produtos da colônia, deixa as pessoas sem opção para osdemais dias da semana. Aos poucos, quitandeiros e pombeiros vãose aglomerando, juntando-se aos caminhões e carroças, que tambémvendiam hortigranjeiros, criando uma improvisada feira livre do vãocentral, e se misturam ao tráfego da rua Francisco Tolentino.

Novamente no mar está a solução. Na Praia do Vai-quem-quer79,ao lado do Mercado, onde hoje estão localizados o Camelódromo e o

terminal de ônibus, o prefeito (1954-1959) Osmar Cunha construiu15 casinhas para a exposição de frutas, verduras e legumes. Sobre omar, de madeira e com apenas uma inclinação de telhado, as casinhasdesafogaram em parte o vão central.

Sempre espalhadas na calçada, debaixo de chuva e sol, as louças debarro conseguem um lugar protegido com a mudança da Associação

77 Eleições municipais, estaduais e federais.78 Era vendido em toras, in natura.79 A praia recebeu esse apelido popular pela grande quantidade de lixo acumulado.

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Rural. Instalada agora na rua Francisco Tolentino, continua aoferecer os insumos agropecuários aos moradores da Ilha e Continente,

liberando o pequeno galpão que ocupava, sobre o mar, em frente aoMercado, na continuação da rua Jerônimo Coelho.Com a permissão da prefeitura, os oleiros se cotizam, ampliam o

galpão e ali se abrigam. Hoje estão mais confortáveis, apesar de loca-lizados fora do Mercado, no Largo da Alfândega. O mais antigo deles,Laudêncio Pereira, recorda:

Existiam 14 olarias, 11 pescarias e quatro caieiras80 de conchas,todas funcionando na Ponta de Baixo, em São José.

Transportadas as loucinhas em baleeiras, para a Ilha, precisava-se de três pessoas para carregar a embarcação. Uma trazia as peçasda olaria, outra levava até o barco e a terceira arrumava as louças debarro por entre capim seco, evitando danicá-las.

 Alguidar, buião e moringas eram vendidos pelo Bidinho, Manoel deMatos e Francisco Valverde. O nome da mãe de Francisco era Amélia,e ele cou conhecido como Chico Mélia.

Conversando, Laudêncio esclarece que havia dois tipos de buião,o de passar o café, com um bico para servir, e o de talhar leite, sem

bico. Vendia muito era o torrador, um tipo de alguidar com boca maisaberta, onde as pessoas torravam o grão de café. E dá uma dica: parausar uma panela de barro pela primeira vez, deixe cheia d’água de umdia para o outro.

 As loucinhas de barro, sonho de toda menina na época, seu Lau-dêncio, com a experiência de 50 anos, alerta: isso foi criação do seuZeferino. Ele era aleijado, andava com as mãos, se rmando. Faziaas loucinhas, pescava e vendia no Mercado. Não pedia esmolas, sem- pre foi um homem trabalhador. Vinha da Ponta de Baixo, de canoa, passava ali por Coqueiros, costeando, sem bater nas pedras. E o barcodele era a vela!

Mas da pequena olaria, onde a família trabalhava, as peças maisbonitas quem fazia eram os lhos. A senhora dele fazia um cavalo comum homem montado, gramofone, uma porção de coisas, boi-de-mamão, pau-de-ta, orquestra de sapo, de macaco. Era um sucesso.

Hoje, nossas louças e diversos artesanatos de barro voltaram ao

80 Local onde se calcina a casca de moluscos marinhos para a fabricação da cal.

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lugar comum, e estão fora do Mercado Público. No largo da Alfân-dega, próximo à praça Fernando Machado, uma construção iniciada

pelo prefeito Antônio Henrique Bulcão Vianna abriga oito oleiros,desde 1o de maio de 1993, onde seu Laudêncio, aos 72 anos, atende noperíodo da manhã e seu lho, Roberto Pereira, à tarde.

Português dos ovosPara os moradores do interior da Ilha, o Mercado dos anos 50

continua sendo o principal ponto comercial. Apesar da diculdade detransporte individual e coletivo, muitas comunidades vivem em funçãodo comércio na região do Centro. A farinha de mandioca, o milho e oleite são levados ao Mercado, junto com feijão e hortaliças.

Nos Ingleses, praia do norte da Ilha, o dinheiro de valor na tem-porada da tainha era o ovo de galinha. Os maridos embarcavam nastraineiras para cercar o peixe no Rio Grande do Sul, sem data pararetorno. Com os lhos para criar, as compras nas vendas eram pagaspelas mulheres com ovos de galinha. Na véspera da Feira dos Colonos, o Português passava e arrematava os ovos, acomodando-os em um barrilcom serragem, na caçamba da caminhonete Ford.

Em Ponta das Canas, algumas pessoas se recordam de seu Ximbi-ca. Baixinho, de andar ligeiro, ia ao Mercado vender ovos com um cestonas costas. A pé, ida e volta. O apelido ele ganhou por andar rápido,parecido com uma ximbica, o popular calhambeque.

Dos anos 50, do Café do Comércio e do Bar do Joca, muitas lem-branças continuam vivas. Chique, com mesas de mármore, era o melhorsanduíche e a melhor média, com bastante leite, em xícara, recorda omanezinho Décio Bortoluzzi. Delícias do Café do Comércio, funcio-nando com frente para a rua Conselheiro Mafra, próximo à FarmáciaEsperança, de propriedade de Nilo Laus.

Com as portas abertas, no vão central está o Bar do Joca. Grandesmesas coletivas cobertas com oleados81 xadrez e farinha de mandiocaacondicionada em garrafas de leite. Localizado onde funciona hoje o Armazém Vando, abria suas portas às 2h da manhã para atender aosfeirantes que já ajeitavam seus tabuleiros. Pescadores e estivadoresfaziam reuniões em suas dependências. Na safra da

81 Lona ou pano impermeabilizado por uma camada de verniz.

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tainha ou anchova, era comum se avistar caminhões com o barco nacarroceria recrutando prossionais. A proximidade com o porto, cais

Rita Maria, fez do Bar do Joca o ponto de encontro dos estivadores. Omelhor local para selecionar os trabalhadores que iriam descarregaros navios atracados.

Sempre com uma curiosidade ou simpatia a ditar, Nicanor DelnoConti, o Nicanor dos Passarinhos, vende no interior da primeira alagaiolas, passarinhos e alimentação para aves. Era a referência doscriadores. A paixão pela fauna era tanta que chegou a ter um mini-zoológico em sua residência da rua Almirante Lamego, onde criava um jacaré e pássaros exóticos.

Mercado da Mauro Ramos Com uma tendência exclusivamente comercial, o Centro estava

afastando os moradores para os bairros, sendo necessária a descen-tralização do abastecimento.

O prefeito Osmar Cunha, em 1957, aprova a construção de maisdois mercados na capital, um na Ilha e outro no Estreito. A Lei no 315autoriza a abrir concorrência para a edicação do Mercado Público da

Mauro Ramos, a ser construído em um terreno da prefeitura, situadono triângulo das avenidas Hercílio Luz e Mauro Ramos e rua EmílioBlum. O prédio tem projeto de Ivo Monteiro Martinez, sendo edicadopelo Consórcio Catarinense de Desenvolvimento S.A., e responsabi-lidade técnica de Jorge Ramalho Anachoreto. A imprensa noticia ainauguração:

[...] A inauguração, sábado, do primeiro supermercado emFlorianópolis, constituiu acontecimento de grande relevo,levando ao local autoridades dos três poderes estaduais, das  guarnições militares, do clero, especialmente convidadas,representantes do povo e público em geral.

 A obra não só se destaca pelos grandes benefícios quetrará aos moradores das avenidas Mauro Ramos, HercílioLuz e ruas adjacentes, como também vale pela estética desuas linhas.

 A Prefeitura de Florianópolis e o Consórcio Catarinense

de Desenvolvimento S.A. estão de parabéns, por terem pro-

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 porcionado a nossa cidade tão importante melhoramento. Aconstrução do primeiro supermercado, iniciada na gestão do

 prefeito Osmar Cunha e cuja concessão foi dada ao Consórciode Desenvolvimento Econômico S.A., que construiu no prazorazoável, foi concluída já com o senhor Dib Cherem à frentedo governo municipal.

 A solenidade de sábado  Após o senhor arcebispo metropolitano, dom Joaquim

 Domingues de Oliveira, ter feito a bênção do local, usou da  palavra o senhor Oswaldo Machado, diretor-presidente doconsórcio, que disse de sua satisfação por entregar à prefeiturae, conseqüentemente, à cidade, obra de tamanho vulto, queveio preencher a lacuna no progresso da capital. Ressaltou oapoio recebido do ex-prefeito Osmar Cunha e do atual, ambos prestando toda assistência aos trabalhos, para se desenvolve-rem. Finalmente, pôs à disposição do senhor Dib Cherem aschaves do magníco supermercado.

[...] Concluídos os atos da inauguração, o povo ali presente

  percorreu todas as dependências do belíssimo prédio, exa-minando detidamente suas instalações e informando-se detudo que lhe atraía a curiosidade. Nele funcionarão, já sesabe por enquanto, farmácia, ambreria, loja, etc, resolvendoo problema dos moradores da grande zona de Florianópolis,que já não precisarão locomover-se a grandes distâncias.[...]  Jornal Diário da Tarde, em 27 de abril de 1959. 

Inaugurado em 25 de abril de 1959, um sábado, foi aberto parao público na segunda-feira. Dispunha de 34 boxes, 22 lojas e área de2.847m2. Acabou sendo um misto de mercado e rodoviária.

 As empresas de ônibus interestaduais e intermunicipais atendiamaos clientes em pequenas lojas, voltadas para a avenida Hercílio Luz,que vendiam passagens, serviam de sala de espera e guarda-volumes.Ônibus parados, a calçada servindo de plataforma e os passageirosembarcando, essa foi a rotina até que, em 7 de setembro de 1981, foiinaugurado o novo Terminal Rita Maria.

Lanchonetes, uma banca de revistas e uma farmácia propiciavam

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algum conforto aos viajantes.O comércio de alimentos era realizado no interior. Exceto a Fiam-

breira Koerich, que funcionava na parte externa, com frente para aavenida Hercílio Luz. No grande espaço central, em forma de triângulo,34 boxes dividiam com tabuleiros a atenção da clientela.

 A história cruza o caminho dos mercados. A Feira dos Colonos étransferida para o supermercado da Mauro Ramos, liberando espaçono prédio da rua Conselheiro Mafra.

Hoje, as lojas externas comercializam de acessórios para automó-veis a produtos de 1,99. E o interior é usado como depósito.

Um solitário comerciante garante ainda ao prédio um pouco docharme para o qual foi projetado. Quando as empresas de ônibus foramtransferidas para o Terminal Rita Maria, seu Lelo montou uma quitan-da na antiga loja da Empresa Santo Anjo da Guarda Ltda. Dois anosmais tarde, João Bernardino da Silva compra o estabelecimento.

Quem não conheceu uma venda deste tipo, tem a chance de fazê-lo.Com a frente voltada para a avenida Hercílio Luz, na quitanda Silvapodem ser compradas frutas em qualquer quantidade, uma maçã, umalaranja ou um pêssego, verduras também, um tomate, uma beterraba

ou uma berinjela. Não, não é igual ao sacolão, os preços são diferen-ciados. Pesados um a um em uma balança, das antigas, com ponteiroe bandeja, têm o valor total da compra calculado em uma máquinade somar Facit, aquela de apenas quatro operações, bobina de papele manivela.

 Atendendo a um público variado, dos lojistas do prédio a pessoasque param para comprar um talão de estacionamento de Zona Azul,Silva cresce seu faturamento com a venda de alguns produtos coloniais.Ovos, queijos, lingüiças penduradas ao lado de costelinhas defumadaspara feijoada chamam a atenção do público. Ele não pensa em trocarde ramo, ou mesmo fechar sua quitanda.

 A grande lacuna deixada quando da desativação do Mercado Pú-blico da Mauro Ramos é preenchida por uma loja do SupermercadosImperatriz, em frente.

Mercado do Estreito Se o Mercado da Mauro Ramos era denominado na imprensa da

época o nosso supermercado, como poderíamos classicar o estabeleci-mento que o prefeito Osmar Cunha tinha planejado na Lei no 315, de

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19 de setembro de 1957, a ser construído no bairro Estreito? O artigo3o da lei denia:

 A construção deverá obedecer aos princípios da moderna en- genharia, da técnica e terá:

a) um mínimo de 33 (trinta e três) boxes de dimensões nãoinferiores a 12 (doze) metros quadrados, destinados à exposi-ção e venda de carne, lacticínios, peixes, aves, secos e molhados,cestos e artigos de manufatura regional, pássaros, bazares detecidos, artigos de caça e pesca, varejo de especiarias, doces gelados e demais artigos normais do mercado;

b) um mínimo de 66 (sessenta e seis) bancas para exposi-ção e venda de verduras, legumes, ores, sementes, especiarias,etc;

c) dependências próprias para instalação de farmácias,subagências de bancos, salões de barbeiros, bares, restauran-tes, papelarias e livrarias, lojas de modas e comércio em geral,bem como escritórios de administração, posto de aferição de pesos e medidas, primeiros socorros, coleta postal e também

instalação sanitária completa. O prefeito era um visionário. Se a obra imaginada tivesse sido

construída com essas especicações, certamente teríamos em Floria-nópolis um shopping center por volta de 1962 que poucas capitais hojepossuem.

O curioso dessa lei é que, editada em 19 de setembro de 1957, si-tuava o terreno para a construção nas esquinas das ruas 24 de Maio e3 de Maio, no Estreito, nomenclatura de logradouros que não existiammais. A rua 24 de Maio, em 28 de agosto de 1955, já havia adquiridoa denominação de Fúlvio Aducci, e a referida rua 3 de Maio passou aser designada Heitor Blum em 15 de março de 1956.

Corretamente localizado o empreendimento, no terreno ondefuncionava o Matadouro Público, transferido em 27 de abril de 1959para Campinas, seria edicado o Mercado do Estreito. A execução caa cargo do Consórcio Catarinense de Desenvolvimento S.A., o mesmoque construiu o Mercado da Mauro Ramos. Após a demolição do prédio

do Matadouro Municipal, começaram as obras.

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No terreno de 3.536m2 são construídos apenas 1.122m2, distri-buídos entre 31 boxes, dois sanitários, sala de administração e dois

acessos ao vazio central, descoberto. Inauguração não houve, e sobrequando principiou o comércio as informações são desencontradas. Emalgum momento do ano de 1962, com Oswaldo Machado no cargo deprefeito, as lojas abriram suas portas com o edifício inacabado.

Hoje semi-abandonado, abriga 11 lojas e um comércio de frutas everduras do sistema Direto do Campo em um galpão de madeira edi-cado no vazio central. Casa lotérica, um bar, lojas de presentes, detintas, de produtos naturais e uma ocina de motos fazem o mix.

Nicolau José Müller, o Alemão, é o proprietário mais antigo.Não comercializa nada, presta serviços. Conserta balanças, inclusiveaquelas tipo relógio, do Mercado Público. Desde 1969 exerce o ofício,herdado do pai. Não lembra de qualquer festividade para abertura doMercado e arma não existir sequer placa comemorativa. Foi simples-mente aberto este Mercado.

Lutando contra o progresso, arrumando balanças analógicas, compratos e ponteiros, justica sua escolha prossional:  A balança é osímbolo da Justiça, certo? Então, o cliente não quer que roube. Quer o

 peso certo. O cliente não quer ser roubado. Eu aprendi assim. 

Pescador de MercadoNem só casos obscuros povoam as histórias de Florianópolis nos

anos 60, quando a população chega a 97.827 habitantes. A qualidadedos produtos ofertados, a simpatia no atendimento e bons preços nota-bilizam a alguns. Apesar de instalados dez, 15 anos antes, da décadade 60 é que vêem as melhores histórias do Mercado.

Histórias de pescador não podem faltar na Ilha da Magia. Brin-cadeira comum era chegar em casa com um peixe embrulhado, embaixodo braço, e anunciar:

 Pesquei! Ói, ói, ó, só se foi no Mercado...Sempre alguém implicava com o pescador de paletó do centro da

cidade. Mas a Casa do Pescador, no vão central, fornecia material depesca para amadores e prossionais. Eu ainda tenho uma recordaçãoda Casa do Pescador, um motorzinho de enrolar linha. Relembra Izair

Campos, hoje no ramo, que comprava linha em metro na loja de Joa-

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quim César de Oliveira.Falando de pescado, João Frederico de Souza, há 58 anos traba-

lhando no Mercado Público de Florianópolis, lembra da fartura quehavia antigamente, a qualidade e o tamanho dos peixes. Meros de 100 e 200 quilos eram comuns, esses pequenos de hoje... isso é manjuba!  Chegava muita pescada amarela, muita garoupa, miraguaia grande. A maior parte, quem comprava era o Altamiro Barbie, que tinha ne- gócio aqui dentro do Mercado, onde hoje é o Box 32. Fornecia para oExército e a Marinha.

Mães e avós ainda lembram do Chico Escamador. Descia a escadalateral ao Mercado, e na mesa à beira-mar, com suas facas sempreaadas, limpava os peixes. Tainhas, tainhotas, corvinas, escamava eia colocando em uma caixinha. Era num piscar de olhos. Governava82 40kg de peixes quase todo dia para o Bar do Joca. Escamar ou lonque-ar83, Francisco Manuel da Rosa era mestre na arte.

 Aos domingos, o Mercado fechava. Os pescadores de m de se-mana passavam para comprar isca, tatuíras84 vendidas no balaio. Mo-radores compravam camarão na lata para o almoço de domingo. Fres-quinhos, no balaio, eram vendidos pelos pescadores em frente à porta

principal da segunda ala, no lado da Alfândega. Não tinham balanças ea medida era uma lata de azeite. Um litro, um quilo! Os mais espertos amassavam o fundo da lata ou a lateral, onde seguravam e exibiamaos olhos do freguês a lata cheia. Esse era o camarão da lata.

 Apesar das casinhas de frutas e verduras na praia da FranciscoTolentino, o vão central continua repleto de comerciantes, quando Acácio S.Thiago, prefeito (1966-1970), faz uma nova intervenção.

Procurando amenizar a situação, a Feira dos Colonos é trans-ferida para o prédio da avenida Mauro Ramos. Alguns cerealistasque negociavam no vão central foram em parte remanejados para ointerior da primeira ala, e também parte dos vendedores que nego-ciavam nas casinhas. Solução paliativa, pois a grande quantidade defornecedores não permite a recolocação de todos e a segunda ala nãocomporta mais

82 Limpar o peixe, escamar e eviscerar.83 Retirar em tiras o couro de alguns peixes, como o cação.84 Pequeno crustáceo que habita praias arenosas, fazendo escavações na areia; tem

coloração branca e cerca de 3cm de comprimento.

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negociantes. Está completa, com 25 tabuleiros, 12 açougues e trêsbancas de pão.

 As padarias eram poucas e nos bairros as galeotas85

entregavamem domicílio. Localizadas na entrada do Mercado, pelo lado da Al-fândega, havia duas vitrines de pães. Mas só na banca do Zezinho secomprava o saudoso pão de milho, caseiro, meio molhadinho. Aliás, asenhora que fazia aquele pão era da Enseada do Brito. Mas moravaaqui em Capoeiras. Ela tinha uma panicadora assim, braçal, arte-sanal, e a especialidade era o pão de milho, que a gente cortava e eleera úmido por dentro. Era como comer pamonha. Era o tipo de uma pamonha. A gente colocava mel e um queijinho e aquilo penetrava no pão. As pessoas comiam tanto, que sempre saía um reforço [vendiamais], esclarece José Isaltino da Rosa, o Zezinho.

E o pão do Ribeirão [da Ilha] que vinha num caminhão, com a lonasobre o caminhão, mas encaixotado, direitinho, saquinho trans- parente? Vinha em quantidade. Ele agüentava oito dias, sem quími-ca.

Era feito na base da banha. O pão francês também era melhor queos próprios biscoitos da época.

 A banca do Zezinho funcionou por 33 anos, até 1988, quando nãoresistiu à concorrência das padarias. Mas Zezinho continua no Merca-do. Está no box 36. A respeito da banca de pão que existia no corredortransversal, junto da Fiambreria Dona Clara, onde funciona hoje alanchonete do Scotti, ele esclarece: o primeiro dono daquela banca foio seu Joca. Um senhor que era tio da minha esposa. Ele fornecia pãonaquela época, há uns 55, 60 anos. Eu era pequeninho e sei da históriaatravés da esposa dele. Fornecia para os três navios do Hoepcke, queeram o Anna, o Max e o Carl. Aqui no Mercado existiram oito bancasde pães, e isso antes de mim.

 Ao lado do posto de pão do Zezinho, quem também fornecia pães,doces, tranças e roscas de polvilho era Maria Ventania, na banca queherdou do pai, seu Canuto. Bananas recheadas, sonhos e balas quei-madas também podiam ser compradas nas vitrines de pão.

85 Carroça com duas rodas e caixa com abertura onde se acondicionava os pães.

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Sabor na memória

Baleeiras e outras embarcações aportavam na praia, trazendo todotipo de mercadoria. Além de peixes, produtos agrícolas, louças de barro,também a cal produzida na Ponta de Baixo, São José, desembarcavana beira-mar. Até tijolos de barro da Palhoça.

Estabelecidos na segunda ala, comerciantes entram para a histó-ria. Muitos têm reconhecimento popular na atualidade, relembradose fazendo parte da tradição do Mercado.

Morcilha, embutido à base de miúdos e sangue de porco, de origemalemã, a inesquecível tinha um endereço: Mercado Público, box 39, Armazém Dona Clara.

 Alemã, natural de Berlim, chegou à Ilha na década de 20, acompa-nhando o marido Kurt Ramtour. Com alguns réis no bolso, compraramum terreno no Estreito e começaram a produzir embutidos de formaartesanal, com o apoio da família. Primeiro foram as lingüiças de por-co, que vendiam no Mercado em tabuleiros. No tempo que ele fez isso,não tinha a ponte. Então eles embarcavam numa canoa, onde era oMayer antigamente [começo da rua Fúlvio Aducci]. Eles iam a pé, com

os produtos até ali, embarcavam na lancha e atravessavam pra Ilha. Dia de vento sul virava tudo e perdiam tudo, relembra Tea YolandaRamtour Pinto Rosa, lha do casal.

Desembarcavam na Praia de Fora (praça Esteves Júnior) e car-regavam nas costas até o Mercado. Aos poucos, com muito trabalho,compraram um tabuleiro. Dona Clara, com três lhas, cou res-ponsável pelas vendas e seu Kurt encarregado da criação de suínos,galinhas e da produção. Do tabuleiro à gaiola –assim era chamada abanca, fechada com um gradil– e depois ao Armazém, dona Clara foia primeira comerciante mulher do Mercado.

O lugar era dominado pela presença masculina. Ela entrava emqualquer bar, acostumada a uma vida mais pra frente. Saía do Mer-cado, dava uma volta e do lado de cá [rua Conselheiro Mafra] tinha oseu Jorge. Era um negócio de café e doces. Então minha mãe ia tomarcafé lá. Ficava assim de homem espiando na porta. E minha mãe nãoandava de calça comprida. Ela andava de vestido, mas entrava emqualque lugar. Ninguém mexia com a minha mãe. Era dessas que, se

alguém mexesse com ela, o que tivesse pela mão ela já dava na cabeça

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do fulano. Às vezes se metiam a querer ser engraçadinhos, porque eramulher! Naquele tempo, de manhã cedo não se via uma mulher no

Mercado. só se via homem.Com a chegada da 2a Guerra Mundial, e a fábrica ampliada, pro-duzindo morcilhas, presuntos, ambres e banha, seu Kurt importouuma moderna máquina de moer carne. Produção crescendo, passa-ram a fornecer também para os navios, que faziam escalas na cidade.Produtos de qualidade. O inesquecível patê vermelho, molinho, parapassar no pão, o branco, honesto, puro fígado de suíno, torresmos epresuntos cozidos. Iguarias que zeram sucesso e tinham um clienteem especial, Nereu Ramos, interventor do Estado. Sempre que viajavaao Rio de Janeiro, levava muito ambre e patê.

E aquela morcilha? Eu nunca mais comi morcilha com pão. Àsvezes eu vou a algum lugar e vejo aquela morcilha. De que é feita? Aí eu vou abrir e tem um cheiro... A morcilha do meu pai era ótima por-que a tripa tem que ser muito bem lavada. Senão, dá mau cheiro. Eleusava muito o taiá86 . Moía com a carne e os temperos. Meu pai tinhaum quintal só de temperos. Ele não queria que ninguém entrasse ali.

O segredo cou no quintal de temperos, recorda Tea Yolanda, com

uma ponta de orgulho. E como empacotei manteiga! Minha mãe tinhamanteiga de tina, de 50, 100 quilos. E nós fazíamos tudo pacotinhode 1 quilo, meio quilo, de 250 e de 100 gramas. Tudo era posto numascaixinhas, porque era mole a manteiga e ela ia pra geladeira, e quandoendurecia retirava e botava naquele gradeadozinho. Ficavam todos os pacotinhos certos. Cansei de fazer isso. Comecei a trabalhar com 12 anos no Armazém Dona Clara.

 A rotina era dura. O Mercado abria às 4h da manhã, e às 5h jáhavia clientes. Mas entre as delícias acima vendiam também secos emolhados, queijos, geléias, chimias87 e bolachas Cestari, Duchene Aymoré. E, entre um pedaço de sabão Joinville e outro, vendiamtambém o sabão Lux, em caixa, especial para lavar roupa de seda. Epara a higiene pessoal, sabonete Eucalol.

Fiambreria bem montada, inclusive com geladeira. E no início

86 Planta originária da América tropical e muito cultivada como alimento, de folhas

largas e cor azulada, e que, picadas e cozidas, servem como verdura.87 Geléia preparada com frutas cozidas em açúcar.

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dos anos 60 Kurt Ramtour, aos 63 anos, se aposenta. Como paraencerrar as atividades no Mercado precisava pagar uma alta indeniza-

ção aos empregados, transferiu o Armazém Dona Clara para seu fun-cionário mais antigo, que o acompanhava desde garoto, Werner Baron.No mesmo local, com os mesmos produtos e atendimento à clientela,o estabelecimento cou conhecido pelo apelido do novo proprietário,Bubi. A Fiambreira do Bubi.

Outra morcilha que deixou saudades no Mercado era a vendidapor Nelson Spinoza. Elaborada em família, tinha um ingrediente amais, a couve mineira cortada bem ninha, o que a deixava crocante. Alingüiça de porco, bem temperada, podia ser comprada junto com secose molhados. Depois eles começaram a fazer carne seca. Eles mesmos faziam. O pai virava. De duas em duas horas tinha que virar, lembra Ana Maria Fernandes da Luz, proprietária do bazar Ana Spinoza, quehoje vende utensílios para cozinha, de panelas a formas de empadinha.Mas começou vendendo gêneros alimentícios.  Bacalhau, carne seca, feijão, arroz, farinha. Tudo o que você imagina. Nós fornecíamos aosbarcos de pesca. E tínhamos os balcões como eram os armazéns anti- gamente. Era secos e molhados, diz Ana Maria.

Nossas mães lembram bem do trabalho de comprar uma galinhaviva para o almoço de domingo. Não era tarefa fácil depenar e limpara ave.

 Atenta às oportunidades e necessidades dos consumidores, afamília Koerich fornece no Mercado os primeiros frangos limpos dacidade. Um luxo para a época. A ambreria oferece também lingüi-ças, salames, queijos, charque, além do leite instantâneo Ninho, óleoPrimor, manteiga Frigor e outros produtos fabricados.

O mais antigo comerciante não gosta de falar sobre o assunto.Mas tradição não falta, é humildade. Aprendeu a trabalhar com acarne no primeiro açougue que foi instalado em Florianópolis fora doMercado, o Açougue do Povo. Entrou no Mercado Público trabalhandocomo empregado até que, em 1944, Irineu do Livramento montou seupróprio estabelecimento. E trabalhou a vida inteira no ramo. Hoje, com75 anos, ainda passa todos os dias no box 9, onde seu lho, Rogério,continua a manter a tradição familiar.

Rogério começou aos 9 anos ajudando o pai. Aprendia os segre-

dos para um bom corte na carne e colaborava na limpeza. Hoje, aos47 anos, não pretende trocar de prossão. Saudosista e apaixonado

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pelo Mercado, relembra: antigamente, o scal passava todo dia paraconferir a qualidade da carne. Às 17h30min chegava o encarregado

soando um sino. Era o aviso: vai fechar o Mercado. Meia hora depoisas portas eram cerradas, as bancas continuavam abertas, não tinham portas, e as pessoas colocavam sacos de aniagem88 sobre os produtos e pronto. Ninguém mexia! Hoje...

 Vai mais longe no tempo, recordando histórias da família.Meu bisavô era conhecido aqui como Antônio Surdo. Era avô da

minha mãe, que casou com 12 anos. O nome dele era Antônio Xavier daRosa. Ele não ouvia bem, mas trabalhava direto aqui. Trabalhou como seu Nelson [Spinoza] e outros antes dele. Quando esses saíram, veio oseu Nelson e ele continuou. Chegava de madrugada, lidava com o boi,desossava, serrava na mão, e não tinha carteira assinada. Ganhavacarne e deixavam limpar o mocotó pra ele vender. Meu bisavô é queajudava a descarnar os bois, recorda Rogério Livramento.

Chaira em punho e o vaivém da faca, demonstra que a habilida-de nos cortes da carne bovina é de pai para lho. Ricardo Vidal, quehá 30 anos chegou ao box 12, um dos três que pertenciam à família,está atento à preferência do consumidor e à temporada turística de

Florianópolis.Hoje, os cortes são mais sosticados. Tenho que acompanhar osmuitos cortes de supermercado e também o turismo. Vem gente deoutros países, de outros Estados, e cada um tem um corte diferente decarne. Então, tem que fazer conforme manda o gurino. Quando chegao verão, com a visita dos argentinos, eu tenho que trabalhar de acordocom o que eles estão acostumados.

 As vezes, só o nome é que muda. É acém ou lombo. O corte é o mes-mo. Na costela é diferente. A gente corta o osso ao comprido, e os paulistas e os gaúchos cortam tipo uma ripa. Os ossinhos saem tudoassim ó [mostra com as mãos os pedaços pequenos]. Aqui em Floria-nópolis o osso saía inteiro e depois a gente serrava ele em pedacinhos.Tem mais, o corte que o gaúcho chama de tatu, o paulista chama lagarto. Pro argentino é peseto.

Direto do abatedouro da Trindade, pertencente à família, a carnechegava ao Mercado por volta das 4h da manhã, e muitas vezes às

88 Pano grosseiro feito de juta ou outra bra vegetal.

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6h já havia la para comprar. Na década de 40, o produto só po-diaser vendido até a 1h da tarde. Não havia refrigeração e os scais da

 Vigilância Sanitária conscavam o excedente. Era assim no açouguede Osvaldo, pai de Ricardo, e no açougue de seu tio, Pedro Vidal. A tia, dona Corrucha, Agripina Vidal, trabalhou por quase 40 anos

no Mercado, na ambreria que possuía. A morcilha era uma maravilha,abatiam o porco à tarde, picavam os ingredientes, fechavam os embu-tidos e no outro dia de manhã vinham aqueles balaios de morcilhas,tudo pro Mercado, feito por ela, recorda Ricardo Vidal.

 Alimentos sempre tiveram a sua sazonalidade. Não somente emfunção do período de colheita, como também relacionados às festas,religiosas ou populares. Aqui não seria diferente. Na safra da tainha, daanchova, três unidades por preço de uma, na Semana Santa, um peixepelo preço de três. Na safra da uva, quando o trânsito ainda corria novão central, quem não lembra dos três ou quatro caminhões vendendocaixas de uva? E onde comprar a árvore de Natal? Em frente ao Mer-cado! Se podia escolher o tamanho dos pinheiros recém-cortados, talera a quantidade em oferta. Tudo ao alcance dos fregueses, ou no vãocentral, ou em frente ao trapiche, na continuação da rua Deodoro.

 Apaixonado pela Ilha, Cláudio Alvim Barbosa89, o Zininho, compôsRancho de Amor à Ilha, vencendo o concurso municipal para escolha dohino ocial da cidade. A música foi adotada ocialmente em 8 de julhode 1968, e a cada versão, a cada vez que é entoada, aperta o coraçãodos manezinhos.

 Rancho de Amor à Ilha

Um pedacinho de terra, perdido no mar!...

Num pedacinho de terra,beleza sem par...Jamais a naturezareuniu tanta beleza jamais algum poetateve tanto pra cantar! 

89

 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 178.

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Num pedacinho de terrabelezas sem par! 

Ilha da moça faceira,da velha rendeira tradicionalIlha da velha gueiraonde em tarde fagueiravou ler meu jornal.

Tua lagoa formosaternura de rosas poema ao luar,cristal onde a lua vaidosasestrosa, dengosavem se espelhar...

Mercado de Capoeiras A publicação no Diário Ocial da Lei n o 852, de 23 de novembro de

1967, autoriza o prefeito Acácio Garibaldi S.Thiago a edicar mais umMercado Público. Dois lotes comprados na rua Campolino Alves, emCapoeiras, com área de 828m2, pareciam ser o local ideal. Um simpáticoprédio, com 490m2, parecia ser perfeito. Mas, segundo moradores, nãofuncionaram além de dois meses algumas poucas bancas de frutas eoutras de verduras.

Em março de 1970, a lei no 947 permitia que fosse aberta umalicitação para arrendamento do prédio. Sem interessados, já foi cozi-nha da Comcap (Companhia de Melhoramentos da Capital), escritório

do Projeto Bom Abrigo e, hoje, fevereiro de 2002, se encontra com asportas trancadas.

Mercado da TrindadeProcurando descentralizar o abastecimento, o prefeito anuncia

mais um projeto.

Cidade ganha novo Mercado na Trindade

A Prefeitura Municipal vai construir mais um Mercado Público, no bairro da Trindade, cujo contrato será assinado

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amanhã pelo prefeito Acácio S.Thiago e a rma Comasa,contratada para a execução da obra. De outra parte, já foram

iniciadas as obras do Mercado de Capoeiras, cuja conclusãoestá prevista para ns de novembro. Terá uma área de 330m2   para ter todas as condições de atendimento. O senhor AcácioS.Thiago esteve na tarde de ontem inspecionando a construçãodo Mercado de Capoeiras e foi informado pelos construtoresque a obra será entregue no prazo previsto. Jornal O Estado,em 31 de julho de 1968.

Para os moradores do bairro da Trindade, acostumados a fazeremsuas compras no Mercado Público, foi um alívio. Foi a primeira vez queeu vi a mercadoria na frente dos olhos. Antes não podia pegar, estavasempre atrás do balcão. Quando não estava atrás do balcão, estava noalto. Era mercadinho, com frigoricozinho, tinha a carne ali exposta,Eu estava acostumada a ver trazerem a carne lá de trás. Tinha esse frigoricozinho e tinha mais um na entrada. No mercadinho era tudoassim, bonito. Nós chamávamos depois de pequena ambreria, relembraMatilde Vieira, professora, moradora do bairro.

Não funcionou mais que dois anos, com poucas opções de merca-dorias e bem mais caro que o Mercado do Centro. Desde 1970, a UFSC(Universidade Federal de Santa Catarina) utiliza o prédio, e há 22 anosfunciona no local o NETI (Núcleo de Estudos da Terceira Idade).

Mercado do Saco dos LimõesO prefeito era um construtor de mercados. Dois dias depois de

anunciar o Mercado da Trindade...

 Prefeitura anuncia para 1969 a construção de novo merca-do

 Armando que no início do próximo ano espera começaras obras de um mercado público no Saco dos Limões, “desdeque, para tanto, os moradores daquele bairro colaborem como empreendimento”, o prefeito Acácio S.Thiago  assinou natarde de ontem [31 de julho] o contrato para a construção doMercado da Trindade, para um prazo de construção de 150 

dias. Jornal O Estado, em 2 de agosto de 1968.

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Desta vez, o prefeito não tem culpa. Parece que os moradoresdaquele bairro não colaboraram com o empreendimento e o Mercado

não saiu do papel.

Noventa milhões em ação...E a seleção brasileira foi tricampeã no México, em 1970. Passeatas,

festas, escolas de samba, e a alegria tomou conta dos habitantes dacidade, que já eram 138.337. Nesse momento, Aldo Brito, que tinhauma fábrica de camisetas e uniforme escolar, abre o Bazar Brito, noMercado Público.

 Aproveitando a boa fase do futebol brasileiro, se especializou em jogos de uniformes para times de futebol. Vendi muito para políticos.Eram 100, 200 jogos de camisas na véspera de eleição. No tempo queo Amin começou a carreira, comprava muito aqui, o Colombo Salles,o Bulcão Vianna. A clientela era grande e só havia eu aqui no Merca-do.

Hoje, ele não fabrica mais. Revende e ampliou as ofertas na loja.Tem toalhas, camisetas, calções, meias, jogos completos dos principaistimes de futebol. As camisetas preferidas são as do Flamengo e Vasco.

 Antigamente, por uma questão de identicação, vendia muito bem asdo Santos Futebol Clube. É que a pesca ligava as duas cidades, Floria-nópolis e Santos (SP) desde o tempo de colônia, mas o centro pesqueirocatarinense foi transferido para Itajaí.

 Avaí ou Figueirense? Com um sorriso nos lábios, Brito desconver-sa. Se o time vai bem, vende qualquer uma. Mas, comerciante atento,adotou um marketing próprio. Hasteia uma bandeira de cada timena porta do estabelecimento. Na falta de animação das torcidas, caneutro e, na dúvida, sobe a bandeira do Brasil.

Na cidade circulava a lista da Cadep (Campanha em Defesa daEconomia Popular), que unia consumidores, empresários e o governoem prol da economia doméstica. Nos meios de comunicação veiculavamuma relação com vários produtos e onde podiam ser encontrados como menor preço. Participavam alguns comerciantes do Mercado –Casti-lho Manoel dos Santos, secos e molhados, Orlando Elpo, atacadista evarejista de arroz, Vanderlei Manoel Amaro e Manoel Amaro, do Ar-mazém Vando, também secos e molhados, e, nalizando, K. Miyahara,

comercializando verduras e legumes.Este é uma País que vai pra frente...

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 Anunciavam os cantores Don e Ravel.Os Incríveis declaravam seu amor.

Eu te amo meu Brasil, eu te amo...  A euforia havia tomado conta dos brasileiros. Florianópolis entrano embalo e comemora o m das longas las nas cabeceiras da ponteHercílio Luz, que não suportava o imenso tráfego. Colombo Salles,governador (1971-1975), dá início à construção da segunda ponte. Hámais de um século a solução encontrada era conhecida, e mais umavez vão aterrar o mar. Desta vez, também destroem mais dois belospatrimônios públicos, a Ilha do Carvão e seu castelinho.

Orlando Elpo, um dos últimos grandes atacadistas se aposenta. Vende o ponto para Jaime Costa. Comerciante desde 1961, quandotinha uma venda no bairro Saco Grande e uma clientela de 70 cader-netas, Jaime recorda: o comerciante aceitava [como pagamento] tudo porque revendia depois. Tem uns irmãos meus que compravam muitosovos até pra lá [nos Ingleses]. Eles iam a cavalo nas casas comprar ovos, galinha, farinha. Naquela época, o pessoal trabalhava na lavoura. E  faziam um pouquinho a mais e vendiam.

Inicialmente, continuou no ramo de cereais, arroz, farinha, feijão,

vendendo no atacado e varejo, em 1971. Aos poucos foi trocando a linhade produtos e o estabelecimento recebeu nova denominação, ArmazémCosta. Foi se especializando em miudezas até se transformar na CasaCosta. Felizmente, me dei bem. Sempre tive um movimento muito bomali. Muito afreguesado o meu ponto. Eu procurava sempre comprarmais em conta. Comprava sempre à vista. Quem compra tudo à vistasempre tem maior facilidade, de comprar mais em conta e vender maisem conta. E eu gostei muito, porque naquela época eu trabalhava como pessoal de Criciúma a Itajaí. Tinha sempre novidades. No m, eume dediquei mais a embalagens plásticas e papéis. Praticamente eu fui o rei do papel ali.

 Após problemas de saúde, um infarto, em 1983 passou o ponto. Masquem trabalhou a vida inteira não pode parar. Aos 73 anos, Jaime Costadá expediente na empresa do lho, a agência publicitária Propague,de Roberto Costa. Para não car parado em casa, completa.

Grandes transformações acontecem em Florianópolis. Tubulõesdespejam toneladas de areia a partir da Prainha, em direção à Rita

Maria. O aterro chega ao Mercado em novembro de 1973, afastando

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para sempre as embarcações, os pescadores e o mar.Devagar andava a remodelação do frigoríco do Mercado Públi-

co. Construído em 1939, teve uma reforma em 1956 e outra em 1969.Ficou conhecido como Frigoríco Modelo. Mas a falta de manutençãotinha paralisado há seis meses a conservação de 100 toneladas depeixes, carnes e verduras. Reformadas, as três câmaras diminuíramas reclamações dos clientes em dezembro de 1973. Muitos freguesesdo Mercado queixavam-se também que alguns alimentos cavam comcheiro de outros, conseqüência da forma como as caixas de diversos produtos eram empilhadas. [...] Depois da reforma, os alimentos so-mente poderão ser guardados em caixas de plástico, mais higiênicase resistentes, ao contrário das de madeira, que acumulam sujeiras erestos de diferentes alimentos. Informa o jornal O Estado na edição de15 de setembro de 1973.

E o inesquecível Miramar é demolido no mês de outubro de 1974,na gestão de Nilton Severo da Costa, prefeito (1973-1975) nomeadodurante a ditadura militar.

  A empresa Western Telegrafh Cable Company, que operava ocabo submarino, na esquina das ruas Tiradentes e Nunes Machado,

estava sendo desativada. O arquiteto Paulo Roberto Rocha, diretorda Divisão de Planejamento da Prefeitura, passando por ali, solicita adoação do antigo relógio exposto na fachada. Após alguns estudos e aconstrução de uma plataforma, o relógio foi instalado no Mercado nosúltimos dias do mês de abril de 1974. A inscrição na lateral da caixanos remete à Inglaterra do início do século 20, onde se lê: feito porGillette e Johnston. E se observa a data de 1911.

Foram momentos de diculdades para os comerciantes. A popula-ção, se distanciando do Centro, ultrapassava os limites do município.Bairros limítrofes de São José já abrigavam parte das pessoas quetrabalhavam e estudavam em Florianópolis. Continua a descentra-lização comercial quando surgem os novos centros de abastecimento,os supermercados. Nova onda de decadência se eleva sobre o MercadoPúblico.

 A utopia do Milagre Econômico começava a dar sinais de fracasso,a inação, o desemprego, principalmente na construção civil. Surgeo trabalho informal. No largo entre o Mercado e a Alfândega apare-

cem os primeiros camelôs, por volta de 1976. Vendem principalmente

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pequenos produtos nacionais, espelhinhos, pentes e escovas, muitosartigos de armarinho.

Dentro, na ala da rua Conselheiro Mafra, as bancas de frutascam sem clientela, sufocadas pela concorrência dos supermercados.Em frente, os camelôs vendem, e bem, suas bugigangas. Aos poucos,os comerciantes do Mercado vão trocando as frutas, primeiro por ar-marinhos e depois para sandálias e calçados. Ninguém sabe ao certoquem começou ou quando. Uma atitude impulsionada pela necessidadede sobrevivência.

Foi nesse tempo que seu Vando, Vanderlei Manoel Amaro, quetrabalhava com produtos agrícolas desde 1940, quando vendia batatae cebola na calçada do vão central, passou por diculdades. Não comos clientes, mas com a concorrência90. Atencioso, com produtos dequalidade e preço bom, tinha seu box sempre bem freqüentado. Como m do comércio de gêneros alimentícios na ala, se transferiu paraum local mais amplo, no vão central. O Armazém Vando, box 16, coma gerência de seu lho, Elson Ricardo Amaro, continua a vender secose molhados, sacos de papel, barbantes, rolhas de cortiça e embalagens. Ainda é um armazém.

Mário Valgas vende sapatos, mas não deixa de ter orgulho de seupassado de trabalhador. Entre um cliente e outro, sempre atencioso,lembra do tempo que saía de casa para pegar pão. Acordava às 2h,ajeitava os estribos do cavalo, subia na galeota e partia rumo à padaria.Morava no Saco Grande, vendia pão de porta em porta até a barra doSambaqui. E depois?

Eu vendia verdura naqueles balainhos, não sei se tu te lembra,naqueles pauzinhos, curto assim, nas costas, com os balaios pendura-dos, gritando: Olha a laranja, olha a banana, olha o tomate! Em 1954,eu já andava vendendo com meu pai. Vendia verduras e legumes demanhã e de tarde vendia frutas. Nós vínhamos aqui e comprávamoscaixas de uva. Comprava aquele saquinho de papel baixinho, enchiade uva e vendia nos pontos de táxi. Também aquelas pêras-ferro, pêrad’água. Vendia nos pontos onde tinha aquelas senhoras que lavavamroupa pra fora. Tinha ônibus só pra carregar as lavadeiras. A gentesentava em cima das trouxas e elas cavam doidas! 

90 Ver Balaio de Siri, pág. 168.

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O ponto de ônibus da Trindadense era ao lado do Teatro Álvarode Carvalho, e fazia a linha para o Itacorubi, tradicional bairro de la-

vadeiras. Elas buscavam as trouxas nas casas e devolviam na semanaseguinte, bem lavadas, passadas e muitas vezes engomadas.Box 39, sempre no 39, como Mário gosta de frisar, vendia fru-

tas. Também não agüentou o movimento dos camelôs e a chegadados supermercados. Primeiro o Pão de Açúcar, depois o Riachuelo, oIm-peratriz e aí veio o Angeloni pra matar tudo. Antes, os caminhões paravam aqui, nós comprávamos no atacado e botávamos nas bancas pra vender. Era uma correria, não é? Porque não tinha supermercado.Só tinha as feiras uma vez por semana. Hoje é quase todo dia.

Em pé, atrás do pequeno balcão, continua a ser manezinho au-têntico, dos poucos que ainda habitam o Mercado. Mário atende aosclientes com o jeito carinhoso dos ilhéus, sempre conversando e usandoo diminutivos nas palavras.

 A mudança de frutas, verduras e cereais foi lenta e gradual. Al-guns tentaram manter a tradição e insistiram com comércio de palhae vime, mas não resistiram.

 Apaixonada por artesanato, a nora de Nicanor dos Passarinhos

assumiu o box quando ele se aposentou. No começo, há 21 anos, ven-dia gaiolas e alimentação para aves. Não gostava muito, não gostode ver pássaro preso, eu morro de pena, diz Orivalda Florindo Conti. Aos poucos, foi adquirindo artesanatos, cestos, esteiras, lembrançase presentes, e cou sendo a única lojista a vendê-los, depois que seuCachoeira, já falecido, fechou seu box.

Na Pau e Palha, entre esteiras,Orivalda explica a diferença entreuma e outra. Tem aquela de taboa e a de junco, que é feita lá na Pinheira.É uma coisa que daqui a pouco vai car extinta porque, onde o pessoalcolhe, já estão aterrando e o pessoal tá cando sem a matéria-prima.

Esteiras de taboa ou piri, antigamente eles usavam pra botar de-baixo do colchão. Pra não passar friagem. Diziam que era bom. Hojeeles usam pra barraca, quando acampam, fazem forração também, forram o teto, serve pra forrar móveis, fazem painel.

O junco é a designação de várias plantas que nascem nos ala-gadiços, nas e exíveis. De suas hastes são confeccionadas aquelasesteiras ninhas, usadas para a praia e muitas vezes como cortina. Eu

recebo pequeninha pra fazer jogo americano. São peças rústicas.

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Balaios estão desaparecendo com a devastação da Ilha e arre-dores. Sem mata, sem cipó, sem balaio. Tão tradicionais que deram

origem ao dito popular mofas com a pomba na balaia91

. Resposta dedesdém do autêntico manezinho quando o preço do produto ofertadoé exorbitante. O arame tomou o lugar dos letes de bambu e as boaspeneiras sumiram.

Bilboquê, pião e carrinhos de madeira ainda existem à venda noMercado Público; quase desapareceram, junto com bonecas e bruxinhasde pano. Hoje as crianças só querem eletrônicos, arma a lojista.

Mercado da ColoninhaInaugurado em 1978, funcionou no primeiro momento como en-

treposto da Ceasa (Centrais de Abastecimento S.A.), cando conhecidocomo Ceasinha. Aos sábados, a feira livre no pátio atendia aos mora-dores vendendo no varejo.

Com a saída da Ceasinha, a Secretaria do Continente instalou-seno mezanino do prédio desde junho de 1990, quando o edifício passoupela primeira reforma, sendo a segunda realizada em 1997. Nesseano, a Secretaria ganhou a palavra regional, se transformando em

Secretaria Regional do Continente. Apesar da boa localização e um grande público consumidor noentorno, o Mercado da Coloninha, ocialmente Centro de Abaste-cimento Oswaldo Machado, funciona com a metade da capacidade. Oprédio, com aproximadamente 570m2, tem 37 boxes, rampas de acessopara caminhões e pátio de estacionamento no pavimento térreo. Duaslanchonetes, um restaurante, uma peixaria e algumas bancas de fru-tas e verduras ocupam 19 boxes. Reformados desde 1997, os outros 18boxes se encontram fechados, à espera de licitação.

 Abandono e a AssociaçãoNo início dos anos 80, o Mercado Público de Florianópolis entra

mais uma vez numa trajetória de decadência. Abandonado, sem ma-nutenção e o comércio sem condições de competir com os supermer-cados, o declínio total é uma questão de tempo.

91

O mesmo que balaio.

125  MERCADO DO MANÉ AO TURISTA

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Na tentativa de melhorar a situação, os comerciantes fundam a Acovemapuf (Associação dos Comerciantes e Varejistas do Mercado

Público de Florianópolis), em 30 de julho de 1980. Oreste Mello, pro-prietário na época de dois estabelecimentos, a Casa Universal e a CasaNacional, foi eleito primeiro presidente.

Nessa época, até o relógio havia parado. Apaixonado por ele e peloMercado, Oreste Mello conta:

Fiquei trabalhando nele e depois de oito horas consegui fazer funcionar. Ninguém gastou nada e tá funcionando até hoje. A únicacoisa que ele come muito é o óleo Singer, que eu boto na máquina praazeitar. O resto é o tic-tac perfeito e ainda mantendo a hora certa desde1911. Uma vez, recebi uma carta de um casal de turistas da Holanda,a quem havia mostrado o relógio, e dentro tinha o seguinte: uma cartado presidente da Gillette e Johnston, que ainda fabrica sinos e relógios para o mundo inteiro. Ele contava, em inglês, que houve uma parali-sação durante a Segunda Guerra Mundial, mas que depois voltarama fabricar sinos e relógios. E o que mais me empolgou foi o Livro Ra-zão, a folha do livro que eles mandaram em cópia xerox, datada de 11de junho de 1911, quando os relógios saíram pro Brasil. Vieram três

relógios: um para o Rio de Janeiro, um para Buenos Aires e um paraFlorianópolis. E o relógio continua aqui, prestando uma informação,que é a hora certa a toda a nossa população. Muita gente chega embaixodele e acerta o seu relógio.

 Apesar da situação de abandono que passava o Mercado, RobertoHenrique Barreiros Silva resolve acreditar no conselho de seu avô, opolítico catarinense Barreiros Filho, que sugeria: sempre que viajar, o primeiro lugar que você deve visitar são os mercados. Dentro deles você sempre vai encontrar representantes de todos os segmentos da sociedadelocal. Beto conclui: quei com isso na cabeça. Quando foi pra montarum negócio, não tive dúvidas, escolhi o Mercado.

 Aberto em 3 de março de 1984, o Box 32 tornou-se o  point da ci-dade. Atravessando os limites do Estado e invadindo os países vizinhos,sua fama se deve, sem dúvida, à eclética clientela e cardápio.

Orgulhoso de seu estabelecimento, que oferece mais de 800 va-riedades de bebidas e diversos pratos sosticados e da culinária ilhoa,explica as preferências gastronômicas dos habitués:

O nosso campeão é o pastel de camarão, que contém em seu recheio

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100 gramas de camarão. Alguns jornalistas chegam aqui e dizem ah,quero provar. Espera que eu vou pesar. Você vai pesar e ver que tem

110, 120 gramas, por causa da massa. Os 100 gramas de recheio eu garanto. Ele é seguido pelo bolinho de bacalhau, e depois nós temos asostras. Ostras vivas, criadas aqui na Ilha do Papagaio. Desde o iníciosó temos delas. E muitos derivados do camarão, que é trabalhado devárias formas: natural, ao bafo, milanesa, casadinhos, grelhados, enm.Temos um trabalho muito grande com o camarão que é também o prato predileto dos turistas. O Box tem pratos pra todo mundo. A gente temdesde um pastel, um bolinho de bacalhau, até o escargô, e o presuntoespanhol Pata Negra.

Mas, o atendimento que deixa o cliente à vontade diferencia o Box32 de outros locais, sendo enfatizado pelo proprietário:

É um lugar onde você não é obrigado a nada. Eu costumo resumirdizendo o seguinte: o Box é mais ou menos a geladeira dos sonhos dasua casa. Aqui você não tem obrigatoriedade de nada. Se você quer umquarto de uma porção, a gente faz pra você. Então é como na sua casa,que você abre um queijo e não tem que comer ele todo. Se você quiseruma taça de champagne, uma taça de vinho, ou meia taça, um quarto,

nós fazemos o impossível para servir.Entre troféus e prêmios, fotos de guras ilustres disputam a aten-ção no Box 32. Astor Piazzola, Fernando Henrique Cardoso, JuarezMachado, Jamelão, Adriana Calcanhoto, Luís Fernando Veríssimo,Brizola, Juca Chaves. Como recordação, se pode adquirir uma garrafada cachaça Box 32, envelhecida em tonel de carvalho e engarrafadacom exclusividade por um alambique de Luís Alves.

Polêmicos, o Box 32 e seu proprietário Beto Barreiros, sem agradara todos, são alvo de críticas e elogios. Aplausos, ganhou da Escola deSamba Quilombo, no Carnaval de 1989, que apresentou na avenidao samba-enredo Apoteose do Box 32 . Discussões à parte, o fato de in-vestir capital em um imóvel em degradação e lutar pela conservação erestauração do Mercado não deixa dúvidas. Atitudes incomodam.

Freqüentadora assíduaSe alguém perguntar quem mais freqüentou o Mercado, a lista

de nomes deve chegar à ponte Hercílio Luz. Fulano, Beltrano, esse ou

aquele político, suposições. Se alguém falar Tita, pode acreditar.

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Folclórica na cidade, suas histórias se relacionam com o Mer-cado Público pela alegria e carinho que os lojistas tinham para com

ela. E Tita diariamente ali passava, ou para pedir algum trocado, oupara brincar, ou mesmo xingar algum desafeto. Negra, com data denascimento incerta e seu 1,15m de altura, deixou um vazio na rotinado Mercado com sua morte.

 Viveu seus últimos anos da bondade dos comerciantes, que semprelhe ofereciam algum alimento. Entre um sorriso ou palavrão, quempoderia esquecer aquela que, de saias justas, geralmente na cor branca,com sua peruca loura, passava no Mercado a caminho da Gaeira doLaudelino, ou outro local para dançar.

 A melhor história da mascote do Mercado não se refere ao local,e sim à cidade. Desde nova na vida, sempre carregando uma leirade lhos, um dia, sentada na escadaria da Catedral, foi abordada poruma senhora da sociedade.

Tita, tantos lhos para criar, eu tenho mais condições e você po-deria deixar eu criar uma dessas crianças – sugeriu a socialite. Queouviu de Tita:

Quer ter lho, quer ter lho, vai dar a pomba92 como eu di! 

Coisas de Zelita da Silva, a nossa Nêga Tita.Quem marcou seu tempo no Mercado foi o Juca do Lloyd, José do Valle Pereira. Adquiriu o apelido por trabalhar na Companhia de Na-vegação Lloyd Brasileiro. Quando não estava a bordo, ou no escritório,chegava às 5h da manhã. Abria o Mercado! Contam que muitas vezesele ia de pijama, tal era a paixão pelo local.

Outra personagem foi Antônio Salum. Chegava de madrugada etambém abria o Mercado. Por esse motivo ganhou o apelido de Coruja.Ele chegava aqui e dava cocadinha pra um, bananinha recheada praoutro. Sempre vinha com uma pilha de notas de baixo valor em dinheiro pra dar pra todo mundo aqui, pra pobreza, relembra Oreste Mello.

Patrimônio preservado?Nos bastidores, o Mercado estava sendo negociado com a maior

rede de supermercados do Brasil. Na ocasião em que se discutia seudestino, alguém comentou que o prédio não estava tombado.

92

Vulva.

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Redigido às pressas e aprovado com urgência, o decreto permitiu,

como poucas vezes aconteceu na cidade, a preservação de um patrimô-nio público –  pertencente ou destinado ao povo, à coletividade– conformeo dicionário Aurélio.

O conjunto arquitetônico, cartão-postal da cidade, foi salvo da es-peculação imobiliária em 20 de março de 1884. O decreto municipal no 35, de autoria do vereador D.J. Machado, tombou o Mercado Público darua Conselheiro Mafra. Os outros três mercados, da Mauro Ramos, doEstreito e da Coloninha (Centro de Abastecimento Oswaldo Machado),cotinuam relegados ao esquecimento. Relembrando, o da Trindade e ode Capoeiras foram fechados.

 As atitudes concretas começaram com o fechamento do vão centralao trânsito de veículos.

 Porque todo o trânsito da [rua] Jerônimo Coelho e da [rua] Fran-cisco Tolentino era feito por aqui. Aí eu me aborreci com aquilo, faleicom o Cláudio Ávila da Silva [prefeito na época] e ele disse: “Pode fechar. Não vi nada!” 

Na segunda-feira eu vim aqui, coloquei seis tubos neste lado e seis

no lado de lá e aí foi um bafafá tremendo, conta Oreste Mello.Medida que foi aprovada mais tarde em conjunto com a PrefeituraMunicipal, Detran e Associação de Comerciantes e Varejistas do Mer-cado Público de Florianópolis. Época em que se cria também o Troféu Amigo do Mercado Público. Visando a agraciar os colaboradores, semvulgarizar ou ser político, apenas 26 pessoas foram homenageadasaté 2001.

Com o prédio do Mercado Público tombado, o governador (1983-1987) Esperidião Amin, através da Fundação Catarinense de Cultura,assina um convênio com a Prefeitura Municipal para sua restauração.Em 16 de outubro de 1984, com as obras em andamento, entrega aoprefeito (1983-1984) Cláudio Ávila da Silva a primeira parcela deCr$ 20,7 milhões93 (US$ 8.452)94, dos Cr$ 145 milhões (US$ 59.208)previstos para a obra.

93 Cruzeiro. Denominação da moeda brasileira entre 31 de março de 1970 e 27 defevereiro de 1986.94 Após dez reformas monetárias ca difícil avaliar o poder aquisitivo da moeda. Paramelhor entendimento, os valores foram convertidos em dólar.

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Uma briga entre a empreiteira da obra e o prefeito (1985) AloísioPiazza deixa a restauração parada. O Estado noticiava:

 A restauração do prédio do Mercado Público está parada jáhá 25 dias e não se sabe quando vai continuar. Tablados eandaimes inúteis depõem contra o aspecto do edifício queaté agora de melhoria só recebeu o telhado novo da fachada para a avenida Paulo Fontes, e mesmo assim aproveitando-setelhas velhas.

Mistério

O prefeito Aloísio Piazza diz que a empreiteira recebeuo pagamento, e a mesma arma que não. As obras estão pa-ralisadas e ainda faltam 1.209 ORTNs95  [US$ 8.732], quedeverão ser repassadas para o término da construção. JornalO Estado, em 11 de outubro de 1985.

Foram quatro anos até concluir a restauração. Em ritmo lento,quase parando. Finalmente, na administração municipal (1986-1988)de Edison Andrino a obra foi acelerada a partir de 16 de abril de1988, com um custo estimado de Cz$ 58 milhões96 (US$ 103.374).Prevista para 150 dias, atrasos causados por embargos na Justiça,solicitados por antigos comerciantes de peixe que não concordavamcom o projeto de restauração, zeram com que a conclusão acontecesseem 240 dias. A reinauguração ocorreu em 16 de dezembro de 1988,apesar da placa comemorativa indicar 12 de novembro.

Foi a grande reforma geral do conjunto arquitetônico em 56 anos. A primeira ala já havia sido reformada em 1931. Desta vez foram re-

cuperados os telhados, madeiramento e telhas e as torres voltaram ater cobertura, conforme projeto original. Reboco, pintura, piso internoe sanitários completavam a parte estrutural. Instalações elétricas,telefônica e de prevenção de incêndio foram refeitas e atualizadas.Recuperação de esquadrias e grades de ferro nalizaram a restauração,que custou ao município Cz$ 100 milhões (US$ 178.231), 27,5% a maisque o previsto. Ficando o custo total da restauração, desde 1984, emCz$ 270 milhões (US$ 481.233).

95 Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional.96 Cruzado. Moeda vigente de 28 de fevereiro de 1986 a 15 de janeiro de 1989.

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 A ponte em frente à Alfândega foi ocupada pela Fundação Franklin

Cascaes, e a da rua Jerônimo Coelho pela administração do Mercadoe o Núcleo de Transportes.

IncêndioDurante a restauração, um incêndio ocorrido em 6 de junho de

1988, uma segunda-feira, às 4h30min, ocasionado por um vazamentode gás próximo à ação elétrica, destruiu parcialmente nove lojas. Semferidos, os prejuízos materiais na estrutura do prédio foram avaliadosem Cz$ 5 milhões (US$ 29.570) pela SUSP (Secretaria de Urbanismoe Serviços Públicos). A segunda ala, nas proximidades do Box 32, couinterditada por 15 dias. Nas páginas de O Estado, a notícia demons-trava sensibilidade para com os lojistas tradicionais.

Os estabelecimentos mais antigos atingidos pelo fogo foramos restaurantes Trapiche, Goiano II e a Casa do Pescador.Esta, que tinha no estoque muito material inamável, nylon eisopor, foi a que mais sofreu a ação do fogo. O seu proprietário,

Joaquim César de Oliveira, ainda não pôde avaliaro total do prejuízo. “Perdi uns Cz$ 2 milhões [US$ 11.828] em materiais de cozinha”, lamentou o dono do Trapiche, Re-nato Adriano Manoel dos Santos. A sobreloja do restaurante cou destruída, assim como a do Goiano II, de propriedadede Amauri Vieira. “O fogo começou no forro, ninguém sabeonde”, disse Vieira. “O primeiro a notar foi um garçom. Deu umestouro lá em cima, pegaram extintores, mas não conseguiramapagar.” Ele avalia as perdas em mais de Cz$ 3 milhões [US$

17.742]. Jornal O Estado, em 7 de junho de 1988.

 Vão Central?Destinado às exibições folclóricas, exposições de artesanato ilhéu

e apresentações musicais, foi denominado, em dezembro de 1988, deEspaço Cultural Luís Henrique Rosa97, na gestão do prefeito Edison Andrino.

97 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 181.

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Muitos não lembram ou não sabem, e muitos vão recordar:

 Amigos,Está no ar Seqüências da Modelar.Tem música, humorismoE bate-papo com os fãsEsse alegre programa da Diário da Manhã...

Com a voz de Zininho, o jingle abria o programa da rádio  Diárioda Manhã, na década de 60. No ar, entrava Luís Henrique Rosa, apre-sentando o programa de auditório Seqüências da Modelar. Variedadese entrevistas. Falava com artístas, lançava músicas e novos talentos. Assim, com carisma e talento, começou sua vida artística o músicocatarinense, que, nascido em Tubarão, adotou a Ilha da Magia.

Na Bossa Nova foi nosso representante. Não, não foi só de pau-listas e cariocas que se fez esse movimento musical. Luís Henriqueparticipou com várias composições. No Rio de Janeiro, depois de sedestacar na capital catarinense, onde já era amigo de João Gilberto,

lançou o disco A Bossa Moderna de Luís Henrique. Foi o primeiro de suacarreira, gravado pela Philips, em 1963; o último foi Mestiço, gravadoquando morava em Florianópolis.

Com a chegada do regime militar, a Revolução de 64, mudou-separa os Estados Unidos junto com o Zimbo Trio, Os Cariocas, JorgeBen Jor, João Gilberto, Geraldo Vandré, Sidney Müller, Sivuca, TomJobim e outros tantos artistas e intelectuais.

Eles moravam num hotel que se chamava Um, Dois, Três. E nessehotel quem é que estava? Miriam Makiba. Ela estava precisando dedois brasileiros pra fazerem um arranjo musical, e foi o Luís Henriquequem fez. Foi, então, que ele conheceu a Liza Minelli, num elevador. Eleestava falando com um cara sobre feijoada e ela perguntou se ele erabrasileiro. Ele disse que era e estava fazendo um show em determinadolugar. Deu um cartão pra Liza e ela foi assistir ao show. A partir daí  caram amigos, conta Décio Bortoluzzi, amigo e condente de LuísHenrique.

Em 1970, em parceria com Oscar Brown Jr., Luís Henrique

escreveu a peça musical Joy 66 , apontado pela crítica especializada

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como um dos cinco melhores trabalhos off Broadway em Nova Iorque.Outros grandes músicos também eram amigos seus, como Bill Evans,

Chick Corea, Duke Ellington e Stan Getz. Famoso, lançou sete discosnos EUA antes de voltar ao Brasil, após participar como convidado emuma turnê pelo Japão.

Divulgou e freqüentou o Mercado Público entre amigos da Ilha epersonalidades: Zininho, Neide Maria Rosa, Liza Minelli, João Gilbertoe Elis Regina. Todos se deliciavam com a comida típica servida ali.

 A merecida homenagem passa despercebida. Uma escondida placaem uma coluna do vão central, lembra o compositor, esquecido pelamunicipalidade e os meios de comunicação, que insistem em chamar oEspaço Cultural Luís Henrique Rosa de, simplesmente, vão central.

O futuro?O passado já foi relatado e o presente está acontecendo. Com 103

anos de existência, completados em 5 de fevereiro de 2002, o MercadoPúblico continua a ser polêmico e, por tradição tem seu futuro incerto. Apesar de possuir o maior número de manezinhos por metro quadrado,onde ainda é possível se ouvir o cumprimento carinhoso, no grito:

Ô tu aí, ô istepô ... –Chama o manezinho do lado de dentro dobalcão.Ô, tás tolo, tás? – Responde o outro manezinho do lado de cá.Sendo hoje o local mais democrático da Ilha, acabou suplantando

de longe o Ponto Chic como centro da fofoca. Ainda se pode compraruma tainha, um camarão e farinha, se pouca, o meu pirão primeiro. Sebebe um bom copo de caldo de cana no Laurentino ou uma champanhaimportada no Box 32. Pode-se comprar uma tradicional esteira, umbalaio ou uma sandália de dedo, as havaianas, ou mesmo uma alpar-gata. O local onde os políticos se aglomeram às vésperas de eleições,quando se lembram do povo, aquele que bebe sua cachacinha em algumrestaurante no Espaço Cultural Luís Henrique Rosa. Nos ns de se-mana, música, muita cerveja e paquera. Melhor seria se a chuva fosseaparada pela cobertura móvel projetada, e imóvel em alguma gavetade algum burocrata, que não freqüenta mercado, só supermercado.

Com 144 boxes, distribuídos entre 129 proprietários, deixou hámuito de ser mercado para se transformar na sala de visitas da cidade.

Sobrevive dos aluguéis, sem investimentos na manutenção por parte da

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Prefeitura Municipal, segundo Oreste Mello, presidente da associaçãoque congrega os lojistas.

Enquanto IPHAN, SPHAN, SUSP, IPUF e outras siglas se reve-zam em opiniões sobre o que pode ou não pode, o Mercado, como no pas-sado, tende à descaracterização completa. Como último investimento,teve a iluminação de realce inaugurada em 22 de novembro de 1999.

Enm, de administrador em administrador, de projeto em projeto,de prefeito em prefeito, o nosso Mercado Público vai sobrevivendo emsua tradição, obstinado.

Só falta carinho para com o Mercado (que é) Público. E essa gentehonesta e alegre merece que seu patrimônio seja melhor preservado.Que siga com bons ventos rumo ao bicentenário.

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BALAIO DO JOÃO Poderia ser do Manoel, do Joaquim, do Mário, mas é o balaio do

João. Mas não é apenas do João. É do João Frederico de Souza. Commuitas histórias, além da sua própria, pessoa mais apaixonada e de-

votada ao Mercado Público não há.

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Manezinho do Ribeirão da Ilha, mas há 40 anos morador do Sacodos Limões, seu João Frederico de Souza começou a trabalhar no Mer-cado Público aos 14 anos. Não tem vergonha, e sim muito orgulho, dizele, hoje com seus 75 anos de vida.

Eu era varredor, trabalhei dez anos varrendo. De primeiro, pas-savam as carroças de um lado para o outro, descarregavam palmito, frutas e verduras. Deixavam as caixas ali. Nós é que íamos limpar. Às10h da manhã já tínhamos feito a limpeza e vinha uma carretinha da

 prefeitura juntar o lixo, recorda João Frederico.Mas chegou o dia da aposentadoria.O dia que ele deixou o trabalho, por decreto, desceu e disse: – Seu Oreste, tô indo embora, o prefeito determinou, porque a lei

não permite. – Seu João, não posso fazer nada.Ele foi descendo a escada e, quando chegou lá embaixo, olhou

 pra mim e uma lágrima desceu dos seus olhos. Eu quei emocionado,mas não podia fazer nada. Foi embora. Oito dias depois a esposa delesentou aqui e disse:

 – Oreste, eu gostaria que você zesse alguma coisa pelo João. Eleestá em casa, olhando pro chão, há sete dias, sem comer. Porque istoaqui é a vida dele. Eu queria que ele viesse trabalhar de graça. Porqueele tem que se empolgar. Ele é um homem vigoroso, fala pouco, masconhece muito.

 – Olha, o que eu posso pagar pra ele é um salário mínimo.Ela disse que não precisava pagar nada. Não, eu pago um salário

mínimo, armei.

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Então, ele veio. Hoje está alegre e o maior orgulho dele é car aqui,cuidar daqui, chegar às 6 horas da manhã, abrir o Mercado, ir embora

ao meio-dia. É um homem muito sério. E outra coisa, é um patrimônioaqui do Mercado.  A história contada por Oreste Mello e conrmada por João

Frederico mostra o tamanho da paixão desse manezinho, que confun-de sua existência com a do Mercado. Contratado da Associação dosComerciantes, com a interferência de sua mulher, Onésia Francelinade Souza, com quem está casado há 47 anos, ele continua seu romancecom o Mercado Público.

 As lembranças de João Frederico –que são muitas– podiam serampliadas. Juntei ao Balaio do João as informações obtidas nas entre-vistas, nas pesquisas e, numa crônica livre, saí pelo Mercado:

Passeando com o João Antigamente, os ônibus eram escassos, muito poucos mesmo. As

pessoas iam de manhã para o Centro e só voltavam à noite. Tinhamde esperar para ir embora. Andavam pela cidade, pelas pracinhas epelo Mercado.

 A vida no Mercado era dura. Carne era descarregada todo dia e osaçougueiros chegavam à meia-noite. Tinha açougueiro que pegava umboi. Outros cavam com quatro ou cinco. E começavam a carnear desdecedo. O Mercado abria às 5h e já tinha la. Peixe e carne só podiamser vendidos até as 10h, depois disso o scal chegava, condenava tudoe espalhava Creolina por cima.

Começando pela frente da primeira ala, rua Deodoro esquina comConselheiro Mafra, ali está a loja de Amadeu Galego, português dasegunda leva, que aportou aqui em 1950. A Casa Miranda, o nome vemde uma homenagem a sua cidade natal em Portugal, vendia confec-ções. Atualmente entrou para o ramo de armarinhos. Quando Galegocomprou o estabelecimento, ali se vendia calçados, e a loja se chamavaCasa Veneza. Antes de comercializar roupas prontas, continuou a ven-der calçados por algum tempo, sendo o forte as sandálias Havaianas.Naquele tempo [nal dos anos 60] nós chegamos a ser exclusivistasdas sandálias Havaianas. Distribuíamos para toda Santa Catarina.Vinha gente de São Joaquim, Bom Retiro, Urubici, Alfredo Wagner,

Tubarão. O último pedido foi acima de 22 mil cruzeiros. Se não me

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engano, foram 22.222 pares de sandálias Havaianas. Era tudo 2. Foi por isso que não esqueci, recorda Amadeu Galego.

Seguindo pela calçada da Conselheiro Mafra, chegamos à Casadas Novidades, fundada por Nicolau Buatim em 20 de outubro de1937. Hoje nas mãos de Antônio Liberto Bernardo, continua no ramode confecções. Sem esquecer dos bares e cafés, Bar Brasil e Café doComércio. Onde funciona a Casa Raposo, era a barbearia de dois ir-mãos. Engraçado era que ninguém gostava de cortar cabelo nem fazerbarba com eles porque, dizem, eram meio carniceiros. Na outra ponta,esquina com a rua Jerônimo Coelho, funcionou durante muitos anosa padaria Foguinho. Pães, bolos e uma rosca de polvilho inesquecível,assim como a bananinha encapada, de sabor ímpar.

Tão chique era o nosso Mercado, que, em 1939, funcionava nacalçada da rua Conselheiro Mafra a Relojoaria Royal. Foi quando ins-talaram um relógio luminoso na fachada. Não, não era aquele do vãocentral, era outro. E tinha também a Farmácia Esperança.

Dobrando a esquina, voltando pelo lado de dentro, tudo mudou. Aqui, antigamente era só a Feira dos Colonos, que abria nas quartas-feiras. Muito mais tarde, lá pelos anos 60, quando a Feira foi para

o Mercado da Mauro Ramos, é que vieram as bancas de frutas e ocomércio dos cerealistas. Indo em direção da Alfândega, tinha umasquatro bancas que vendiam balaios, esteiras, peneiras e muitos brin-quedos. Bruxinhas de pano, caminhões e carrinhos de madeira, canoapequeninha, com remo e tudo. Eram produzidos por gente daqui. Hojechamam de artesanato.

Mudou muito, mas tem gente que vende calçado e que é daqueletempo, Vendiam frutas e depois mudaram. Está acontecendo tambéma descaracterização desta ala. Coisas que não têm nada a ver com oMercado. Sapatos, sandálias são produtos populares, ainda vai, masaqui dentro da primeira ala uma loja que vende aparelhos de telefonecelular e outra vendendo roupas, já é demais.

O Bar Plácido, de Plácido Manoel da Silveira, é antigo aqui. Fun-ciona desde 1o de maio de 1972. No corredor do meio da ala, saída parao vão central, tinha umas rendeiras. Sabe, aquelas que fazem rendasde bilro, coisa da gente. Vendiam as rendas dependuradas na parede. As mulheres sentavam num caixotinho, com as almofadas da renda no

colo, e cavam ali, tecendo. Outras vendiam nas portas dos hotéis. Na

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frente do Lux Hotel, do Royal, no Empório Rosa e na calçada da CaixaEconômica Federal, onde foi o Hotel La Porta, sabes?

E essa garapeira? É nova, tem uns 30 anos. Mas o LaurentinoMartins, que é o dono, começou onde era a loucinha de barro, pertoda Associação Rural, na rua Francisco Tolentino, na Praia do Vai-quem-quer. Depois mudou para a frente da outra ala, na beira do cais.Juntando tudo, dá 43 anos vendendo caldo de cana. Agora quem tocasão os lhos, o Amarildo e o Laurentino Martins Filho.

 Voltando ao largo da Alfândega, quando zeram a segunda ala,ligaram as duas com essas pontes. Ali onde funciona o Pirão, do ValérioMatos, restaurante típico, antes era a pensão Kowalski.

Bom, neste lado, o do relógio, aqui no Espaço Cultural Luís Henri-que Rosa, tem mais gente nova. Mas a maioria está no Mercado há 30,ou 40 anos, mais ou menos. Tinha algumas lojas de confecção. Era aquique os pescadores faziam suas compras. Hoje tem armarinhos. A VeraCruz e Achar Aviamentos são de portugueses. Esta, da Maria Achar,e aquela de Mário dos Reis Raposo. Mas, quem está comandando sãoos lhos Ricardo José Raposo e Sérgio Luiz Raposo. Tem o bazar doGeraldino Manoel da Silva, a Casa das Louças e Alumínio, que desde

1975 funciona aqui.Mais uma loja que não tem nada a ver com o Mercado é o Paraísodas Canetas. E ainda colocam esses mostruários na porta, atrapalhandoo visual do prédio.

O Goiano, dos restaurantes antigos, é o único que sobreviveu.Tem a Mercadolândia, que vende produtos para festas e o Armazémdo Vando, onde funcionava o Bar do Joca, inesquecível. Fechando essacalçada, o Ponto 15, restaurante de Lauro Raimundo de Paula.

Olhando para o lado do Terminal Urbano, onde está o Cameló-dromo Municipal era praia, onde funcionavam as casinhas com asverduras, antes de serem comercializadas no interior da primeira ala.Depois as louças de barro passaram a ser vendidas nesse local.

Em cima, onde hoje está instalada a administração do Mercado,era a casa do administrador. O mais enérgico deles foi seu MarcosNunes Vieira. O homem era fogo. Lei era lei.

 Ali onde está o Depósito de Meias Gebai era a barbearia do NeroFeamino. Bom, e o Bazar Mansur funciona no box 35 desde 1947. A

briga é para saber qual é a loja mais antiga. Dependendo da avaliação,

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são duas. A Casa das Novidades é de 1937, mas já passou por váriosproprietários. O Bazar Mansur sempre foi da família. Seu Gedeão mor-

reu e as lhas continuaram. As duas lojas são as mais antigas, apesardos dez anos de diferença. Antes de Mansur instalar seu comércio, aliera a barbearia do Moraes.

Caminhando, ao lado está o bazar Ana Spinoza, depois o restau-rante O Mercador, de Ângela Maria e Carlos Alberto Fernandes daLuz. A loja de artigos para festas Caracol é de Maria Elzi Amaro, lhade seu Vando. Na esquina do corredor lateral da segunda ala, Renato Andrino Manoel dos Santos é o dono do restaurante Trapiche, desde1987. Antes, seu pai, Andrino Manoel dos Santos, tinha no mesmo localuma agropecuária. Muito antes, na época em que era tudo comérciode secos e molhados, era a Fiambreria do Andrino. No outro lado daporta, o box do Leca. A peixaria tem novo proprietário, Cristiano FábioMartins, desde que Manoel Jacques Luiz Vieira morreu, há um ano,depois de trabalhar no comércio de peixe por 30 anos. Ao lado, temosa Barbearia Leka’s, de Francisco Manoel Vieira.

 A padaria Preço Bom é nova, tem cinco anos de Mercado, e é deJoão da Silveira. A Casa Costa, ao lado, funciona há muito tempo. Na

época em que vendia secos e molhados, era de Orlando Elpo, depois deJaime Costa, quando virou Armazém Costa, mais tarde Casa Costa, eagora é de Válter Coelho e os lhos. Mantendo o mesmo nome, se espe-cializaram em embalagens e produtos para festas, desde ingredientespara doces, bolos e salgados até a decoração.

Nezir Scheidt Carvalho continua vendendo sementes e insumospara agricultura, como seu marido fazia. Atualizada, comercializaartigos para animais de estimação. Seu Irineu, o funcionário maisantigo da loja, tem um carinho especial para com os pombos do Largoda Alfândega. Todos os dias, por volta das 9h, carregando uma baciacom 5kg de milho, ele os alimenta.

Primeiro, quando não havia geladeira, foi um depósito de sal,depois um bar, o Bar Laguna. Quando Valdemar da Silva comprou oponto, passou a comercializar louças. Em 1976, trocou de ramo e vendiagalinha viva, d’angolas, passarinhos e alimentação para aves. Isso até1999. Hoje, o lho, Lázaro Valdemar da Silva tem no local o Ilha’s Bar,e quem gerencia o estabelecimento são seus lhos.

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Cadê o mari? Ai que saudade do mar, que batia bem ali nos fundos da Alfân-

dega. Antes, aqui neste ponto é que se vendia o camarão na lata, aosdomingos. No tempo de Natal, os caminhões que vendiam pinheirinhos,ou paravam aqui, ou atrás da Alfândega, perto do trapiche. Foi tudoaterrado.

Entrando na segunda ala, a primeira peixaria é da Pescados Silva,de Edemésio e Maria Alice Silva. Ao lado, o caldo de cana é de 1962.Primeiro foi o Alberto Luiz Elias, agora o lho, Amarildo, mas o boxé dividido. A outra metade vende artesanatos e sapatos, e colocaramuma vitrine em frente, bem onde tinha as bancas de pão. A do Zezinho,José Isaltino da Rosa, e a do seu Canuto, que depois passou para alha, Maria Ventania.

 Vamos andar pelo lado direito, depois voltamos pelo esquerdo.Três peixarias, três proprietárias. Peixaria Guimarães, de Ana MariaGuimarães, há 38 anos instalada aqui; Peixaria do Tuca, de Terezi-nha Euzébio Guimarães, e a Peixaria Ventania, de Maria Ventania,que tinha a banca de pão, se lembra? A loja do seu Miyahara, queoferecia verduras e legumes, agora tem material para pintura e artes

plásticas.Mercado Público em Florianópolis praticamente é sinônimo depeixe. Desde 1973, Marci Silveira tem a Peixaria Silveira. Na esquinado corredor transversal, de um lado está a Peixaria Oliveira, que Adúcio Vítor Oliveira herdou do pai, e hoje os lhos dele, Ronaldo Adúcio eRodrigo Adúcio é que tocam o estabelecimento. Do outro lado, o pei-xeiro mais antigo em atividade é Nelson Santos. Na peixaria com seunome, atua no Mercado desde o tempo em que as bancas nem tinhamnumeração.

 Antes de chegar ao famoso e já tradicional Box 32, passamos pelaCentral de Caça e Pesca, onde Sérgio Murilo Guimarães atende aosesportistas. Ele é neto de seu Manezinho, muito conhecido porquetinha uma banca que só vendia bananas, box 23, ali do lado da Maria Ventania.

Mais uma banca restou dos bons tempos do Mercado. As irmãsCardoso, Neosi, Nézia e Malvina, ainda vendem verduras. E na mesmabanca que seu pai comprou, em 1957, quando trabalhava com o antigo

proprietário, senhor Iamim, que vendia madeira. É, madeira para fogão

143  MERCADO DO MANÉ AO TURISTA

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a lenha. Isso. Ainda no começo da década de 60 se vendia feixes delenha, tudo amarradinho. Era só colocar embaixo do braço e levar.

 Ao lado, funcionava a administração. Quando esta mudou-se paracima, na ponte da rua Jerônimo Coelho, o box foi dividido. Pelo lado dedentro, depois da banca de pão, José Isaltino da Rosa montou a Paste-laria do Zezinho, também conhecida como Box 36. Fazendo frente paraa rua, na outra metade do box está instalado o Bazar Brito, aquele dasbandeiras e uniformes de futebol.

 À beira-mar, vemos o Camelódromo Municipal. Antigamente, bemem frente à porta, sobre o muro de arrimo, estava instalado o galpãoda Associação Rural, mais tarde ocupado pelos oleiros.

Entrando de volta no Mercado, o primeiro box é a FiambreriaSpinoza. Sempre esteve com a família. Primeiro o pai, Nelson, e agorao lho, Alvim Nelson Fernandes da Luz. A carne verde (fresca) sempreteve presença obrigatória no Mercado. Aurino Manoel dos Santos aindamantém a atividade no Açougue e Fiambreria Aurino. Ao lado, o box deInácio Silvino da Silva, que trabalhou por 32 anos com carne e mudoupara secos e molhados, montando o Empório Mania da Ilha.

Depois da febre do Box 32, vários pontos de reunião surgiram. En-

tre eles a Choperia Zero Grau, de Margarete Sardá e Roseane Mayer.Novo também é o Bazar Caramuru, de Ari Carlos Rachadel, que hádez anos vende artesanato. Antes era açougue. Deste lado só tinhaaçougues. Aqui do lado, no açougue Livramento, Irineu é o açougueiromais velho, diz o lho, Rogério do Livramento, que o acompanha há35 anos. Seu Irineu começou no Mercado em 1944, e há quase 60 anostrabalha com carnes.

 Andando mais um pouco, está a Toca do Urso, o bar de VálterRibas e Rosana Dalbona. Na seqüência, a oricultura Estação dasFlores, que Graziela, lha de Edegar Jacques, administra, desde queo pai fechou o açougue. E o último dos três açougues remanescentespertence a Osvaldo Vidal, administrado pelo lho, Ricardo Vidal, quetambém aprendeu o ofício da carne com o pai.

Se confunde com o corredor a lanchonete e caldo de cana do Scotti.Foi posto de venda de pão nos anos 50 e 60 e nessa época já servia caféacompanhado de sonhos e bananas recheadas.

De volta ao corredor principal, volta também a saudade do Arma-

zém Dona Clara, instalado onde funcionam as duas primeiras peixarias

BALAIO DO JOÃO  144

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do Chico, nos boxes 15 e 16, administradas pelos lhos Jorge e Fran -cisco. O Chico Peixeiro, Francisco Martiniano Jacques, não confundir

com o Chico Escamador, atua no comércio de peixes do Mercado desdeo tempo em que não havia boxes. O pescado era vendido em tabuleiros(ou bancas). Alugados por dia. Oxalá a fartura de pescado fosse a mesmade antigamente. Sardinhas, porquinhos, bagres eram peixes sem valorna década de 60. Hoje, com a escassez de anchovas, tainhas, garoupas,qualquer peixe dá um caldo. E o camarão, só na vitrine.

Mesmo assim, Hamilton Antônio da Silveira segue os passos de seupai, Antônio João, que instalou a Peixaria do Nico há 40 anos. Filha dadona Maria Ventania, que tinha o posto de pão, Maria Ventania Filhaé a proprietária da Peixaria Ventania, e no ramo, de mãe para lha, Andrezza Pereira cuida do outro estabelecimento da família. Antes,aqui funcionava a Fiambreria Koerich.

No box 18, mais uma Peixaria do Chico, dirigida pelo lho Mar-celo Jacques. Há 30 anos no box 18 A, Maria Alice Furtado da Silva e omarido Edemésio Belmiro da Silva atendem a outra banca da Comérciode Pescados Silva. Finalizando, a Milgon Pescados, estabelecida há23 anos, de propriedade de Milton Francisco Oscar. Entre o box 18 e

esta peixaria funcionava o Frigoríco Modelo, a câmara comunitáriade conservação de alimentos inaugurada em 1940.Saindo do Mercado, quem viveu os bons tempos se assusta ao

relembrar que bem ali, onde está o ponto de táxi, a beira-mar já nãoexiste mais. Onde hoje estaciona o primeiro veículo da la era o começodo trapiche, ponto em que barcos, como os de Alfredo Sardá, descarre-gavam 20, 30 toneladas de peixes. A rua lateral, onde se pescava nabalaustrada ou se apreciava o trabalho de Chico Escamador, virou aavenida Paulo Fontes e estacionamento para caminhões.

Parece vingança, mas desta vez não foi o Mercado que se apossoudo mar, mas o mar que se afastou.

145  MERCADO DO MANÉ AO TURISTA

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BALAIO DE FOTOSFotos misturadas, sem data, algumas já esmaecidas pelo tempo. No

 fundo do balaio, os retratos ainda guardam as lembranças do passado.Mas, bem revirado, fotos fantásticas reavivam a memória.

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Fachada do prédiodo Mercado,

demolido em 1899. Ao fundo, a rua

Conselheiro Mafra.

Banco de Imagem/FFC

 Praça FernandoMachado, onde foi

edicado o primeiroMercado Público de

Florianópolis.

Comércio realizadona praia da Praça

do Mercado,construído em 1851.O primeiro Mercado Público. Ao fundo, o

 prédio da Alfânde- ga. Foto tirada entre

1890 e 1899.

 Acervo IHGSC

James Tavares - 4.mar.2002

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Banco de Imagem/FFC

Comerciantes se aglomeram na lateral da Praça do Mercado.

Fac símile da planta que acompanhava o ofício do presidente Ferreira de Brito, encaminhado à Assembléia Legislativa em 1846. Possívelmente, eraa projeto sugerido na lei no 92.

    A   c   e   r   v   o    A   s   s   e   m    b    l    é    i   a    L   e   g    i   s    l   a    t    i   v   a

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Conjunto arquitetônico que compõe o Mercado Públicode Florianópolis. A primeira e a segunda ala,

unidas pelas torres e duas pontes.

    B   a   n   c   o    d   e    I   m   a   g   e   m    /    F    F    C

O Mercado inaugurado em 1899,alinhado à rua Conselheiro Mafra e à beira-mar.

    J   a   m   e   s    T   a   v   a   r   e   s  -

    4 .   m

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Interior da primeira ala, onde nota-se em primeiro plano,no tabuleiro, peles de animais vendidas entre alhos e bananas.

As colunas de ferro fundido se encontram hoje no interior dos boxes.

 Acervo IHGSC

Compradores sereuniam em frenteao Mercado e ao primeiro trapiche.Foto registradaentre 1899 e 1912.

 Acervo IHGSC

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Banco de Imagem/FFC

Trapiche paradesembarque das

mercadoriasdestinadas

ao Mercado.

Rua ConselheiroMafra em dia deFeira dos Colonos.Comerciantes entrecarroças e, à direita,um pombeiro.

 Acervo IHGSC

Os peixeirosvendiam em

tabuleiros, a céuaberto, pois o

interior do prédionão comportava o

 grande número devendedores. Foto

batida após aconstrução do

alpendre, em 1915.

 Acervo IHGSC

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 Acervo IHGSC

O comércio dastradicionais

louças de barroera realizado no

alpendre, ao fundodo Mercado. E as

mercadorias eramespalhadas pelo

chão.

acervo IHGSC

 Acervo IHGSC

 Dois registros doalpendre à beira-

mar. Ao lado,olhando emdireção à Rita

Maria. Abaixo,uma vista parcial

a partir da ruaJerônimo Coelho,

em direção aoLargo da Alfân-

dega.

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Na primeira foto, nota-se que o abrigo sobre o trapiche foiretirado após a conclusão do alpendre. Acima, uma vista parcial da

 fachada voltada para o Largo da Alfândega. O casarão ao fundoainda hoje compõe a paisagem com o Mercado.

 Ambas as fotos foram feitas a partir de 1915, quandoo prédio tinha passado por um pintura geral.

Banco de Imagem/FCC

 Acervo Blasio Junkes/Foto B

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James Tavares - 4.mar.2002

 Acervo IHGSC

 Acervo IHGSC

Vista panorâmicado Mercado nadécada de 60.O mar aindachegava à lateral

do prédio.

O Mercadona décadade 50. Nolocal onde osbarcos estãoancorados,aterrado em1972, na fotoabaixo umaárvore está plantada nolugar.

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 A Praia do Vai-quem-quer, hoje aterrada. No local foi edicado oCamelódromo Municipal. À direita, o pequeno galpão abrigava a

 Associação Rural. A foto abaixo foi feita após 1958,quando já existiam as casinhas das louças de barro.

 Acervo Blasio Junkes/Foto B

 Acervo Blasio Junkes/Foto B

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 Acervo IHGSC

    A   c   e   r   v   o    O   r   e   s    t   e    M   e    l    l   o

O vão central, Espaço Cultural Luís HenriqueRosa, em dois momentos. Acima, na década de 40,e abaixo, no nal dos anos 50, quando o Mercado,

em 1958, passava por algumas reformas

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 A banca de verduras e a peixaria onde está instalado o Box 32.

O saudoso Armazém Dona

Clara.Um cliente

conversa coma proprietária,

Clara Ramtour,apoiada ao

balcão.

 Acervo família Ramtour 

    O     E

   s   r   a    d   o  -

    2    8 .   a

   g   o .    1

    9    7    2

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 Pai e lho,Irineu e Rogério

Livramento, posam, em 1966,no açougue da família.

Galinhas limpas,o novo pudimRoyal e produtoscoloniais eram

comercializados naFiambreria no 5 da família Koerich, in-stalada na segundaala.

 Acervo família Koerich

 Acervo família Livramento

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Hoje, os açougues dividem o espaço com bares, artesanato e empórios.

James Tavares - 4.mar.2002

Havia um grande número de açougues lado a lado, em frente ao Box 32.

O Estado - 28.ago.1972

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James Tavares - 4.mar.2002

 Acima, as peixarias que,

além do pescado,comercializamo berbigão, ca-

marões e outros frutos do mar.

 À direita, oregistro da maior

tragédiaacontecida no

Mercado.O incêndio par-cial ocorrido em

6 de junho de1988.

O Estado - 6.jun.1988

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O interior da primeira ala, após a tranferência da Feira dos Colonos para o Mercado da Mauro Ramos, passou a ser ocupado por bancasde frutas e alguns armazéns de secos e molhados. A partir dosanos 80, as frutas foram trocadas por calçados, à exceção do Bar do

 Plácido, do caldo de cana do Laurentino e lojas de artesanato.

O Estado - 28.ago.1972

    J   a   m   e   s    T   a   v   a   r   e   s  -

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    2

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   F  a

  c   h  a   d  a   d  o  c  e  n   t  e  n   á  r   i  o   M  e  r

  c  a   d  o   P   ú   b   l   i  c  o   M  u  n   i  c   i  p  a   l   d  e   F   l  o  r   i  a  n   ó  p  o   l   i  s ,  v  o   l   t  a   d  a

  p  a  r  a  o   L  a  r  g  o   d  a   A   l   f   â  n   d  e

  g  a .

    J   a   m   e   s    T   a   v   a   r   e   s  -

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   a   r .    2    0    0    2

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BALAIO DE SIRIQuemnuncaviuumbalaiocheiodesiri?Unssobreosoutros,andam

 paralá,sobemparacá,easgarrasemaranhadas.Quandoseretiraum,vêm

váriospendurados.Assimsãoashistórias.Ninguémsabe,ninguémtem,

ninguémconta,atécomeçar.Começou,umapuxaaoutra,eaívai,vai...

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SaloméUm turista chegou aqui e disse que queria a cabeça da garoupa.

Só a cabeça. Chegou outro e pediu uma garoupa, só que ele não querialevar a cabeça. Pediu pra retirar. Foi o meu pai que atendeu [AdúcioVitor de Oliveira]. Ele pediu que se pesasse a garoupa, limpasse e cor-tasse em postas. E disse: dá a cabeça pra esse cara aí que eu não gostoda cabeça e eu vou lá no carro buscar o talão de cheques. O funcionárioserrou, deu a cabeça pro cara e ele foi embora.

 Até hoje estamos esperando o outro voltar com o cheque pra levara garoupa. Eles caram com a cabeça, e nós camos com a garoupa posteada. Depois... vendemos em postas. Estavam de combinação. Ocara deu o golpe pra levar a cabeça. Ronaldo Adúcio de Oliveira.

É sereiaSabe aquelas redes, não tem? Essas redes de pescaria. A Tita, que

era mascote do Mercado, tava pronta pra dançar na gaeira do Laude-lino, que cava na Ivo Silveira. De peruca loira. Imagina, uma pessoaque era de cor, era mulata, com uma peruca loira e uma minissaiabranca, bem curtinha. Aí veio aqui no Mercado, sapatão alto e tal. Pe- gamos uma rede e armamos. Na hora que a Tita chegou, a gente jogoua rede. Tarrafeamos a Nêga Tita. E ela tentava sair daqueles cômorosde linha. Aí a galera começou a gritar:

 Pegamos, pegamos a sereia! Essa foi muito engraçada. Faz uns 20 anos. Ouvida no Mercado.

Dizem!Momentos de diculdades nanceiras rondavam o Mercado na

década de 80. Quase sem manutenção, a ação antiga não suportava ademanda da carga elétrica, aquecia e desligava os disjuntores. Alguém

sugeriu: liga um ventilador.

BALAIO DE SIRI  1

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Dizem que, na frente do quadro de luz, dois ventiladores esfriavamo equipamento. Ouvida no Mercado.

Sempre na moda Ainda hoje nós recebemos um carregamento. Não podemos deixar

 faltar. Vou ser bem sincera. Quando cheguei aqui, há um ano, olheie disse assim: mas que barbaridade, que loucura essa quantidade deurinol, isso é um absurdo. Como língua não tem osso, logo, logo eu vique quem estava errada era eu.

Toda vez que se pede esmalte ao representante, a primeira coisaque tem que pedir são penicos. Sabes porque? Às vezes uma pessoa do-ente, que está na cama, precisa até pra fazer um exame em laboratório.Hoje usa-se mais porque tem mais pessoas de idade em casa. Você pode ambar esse material. Bota álcool ali e toca fogo, que não tem problema. Pode levar em cima da chama e deixar ferver.

É uma panela. Se não for usado, pode usar como panela. Tem genteque compra pra derreter alguma coisa. Só deixa de ser panela depoisde ter sido usado a primeira vez.

Uma vez o pai foi a Santo Amaro fazer entregas. Levou e vendeu

muita coisa. Na volta, passou num freguês que queria lhe dar coalhada.Ele não tinha onde colocar e botou no urinol, pois estava limpo. Lavou,botou um plástico, a coalhada e trouxe pra casa. A mãe, quando viu, cou apavorada. Marlene e Zenaide Mansur.

O pai mandou Aí, tinha aquelas "senhoras", meretrizes, que cavam aqui nos

 fundos do Mercado. Tinha uma com um eslaque branco – era o meu pai que mandava eu fazer isso, porque ele era muito atentado – entãoeu coloquei minha mão na bandeja de fígado, z tipo uma almofadade carimbo, cheguei e dei uma palmada na mulher. Meu pai mandou! Ficou a minha mão certinha. Aí a mulher veio aqui e fez o maior rolo.Queria chamar o delegado pra me prender. Eu fui suspenso do Mercado.Fui suspenso muitas vezes.

Tinha o seu Pedro, que varria aqui. Ele era um senhor também,que era careca, tinha aquela doença, como é que se diz... que cai todo ocabelo da pessoa. Um dia, o pai diz assim, olha tu vai lá no tabuleiro

do Dato, pega um ovo, chega lá e toca na cabeça do Pedro. Eu z assim:

1  MERCADO DO MANÉ AO TURISTA

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tirei o chapéu e, pum, um ovo na cabeça do cara. Suspenso 15 dias doMercado. Eu vivia suspenso daqui, direto. Ricardo Vidal.

Mofas com a pomba na tarrafaUma vez, o Exército precisou de pombos para soltar numa soleni-

dade. E vieram pedir pra nós. Tinha um funcionário que era o melhortarrafeador que se conhecia na cidade. Ele mora em Palhoça, o seuLeodoro. Um dia eu falei pra ele:

 – O senhor venha no Mercado que eu vou dar um dinheirinho prosenhor. É que eu preciso de uns 200 pombos.

 – Mas como é que nós vamos fazer, seu Oreste? – ele perguntou. – Nós vamos dar uma tarrafada. – Mas como? – A gente joga o milho, bem cedo, às 6 horas da manhã, e o senhor

 joga a tarrafa.O homem era bom! De manhã bem cedo, ele me esperando com

uma tarrafa bonita, boa, uma tarrafa que abria mais ou menos umas12 braças. Era impressionante! 

Quando largamos o milho, que a pombarada desceu, ele lançou a

tarrafa. Quando ele largou, era tanto pombo que ela levantou. Algunsvoaram embora. Mas sabes quantos pegamos? Foram 123.Numa tarrafada! Colocamos tudo dentro duma caixa e levamos para o Exército. Na

solenidade, deram os tiros e soltaram os pombos para uma revoada.Ficou lindo. Só que deu outro problema. A maioria deu uma volta porcima do batalhão, olhou, atravessou a ponte e veio de volta. Mas uns caram. Depois, o general Dutra, pai da Márcia Dutra, que na épocaera coronel e comandava o batalhão, me ligou perguntando:

 – Oreste, o que eu faço com esses pombos? – Ora, dá um jeito, coronel –respondi. Estavam lá, sujando todo o

batalhão. O Aldírio Simões acabou fazendo uma crônica. O comandanteleu e morreu de rir. Oreste Mello.

PescariaEra vendida em balaio. É... pra pescar. Vendiam outras iscas, mas

o que mais a gente comprava era tatuíra, que a gente levava vivinha

e colocava uma areinha, lá na praia de Coqueiros, e aquilo ali cava

BALAIO DE SIRI  1

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uma semana, aquela tatuirinha viva. A gente pescava corvina com ela.Izair Campos.

Modelo e exemplo  A cartilha de Nereu Ramos, interventor do Estado, nunca foi para

agradar esse ou aquele. Está escrito na lei, cumpra-se.O Açougue Modelo, um dos primeiros em Florianópolis, pertencia

à empresa Vaz e Di Bernardi. A carne tinha o preço controlado e não podia sofrer reajustes. Um dia, subiram o quilo em 200 réis. NereuRamos soube e mandou prender Eliseu di Bernardi, por dois dias, umdia para cada 100 réis de aumento. João Frederico de Souza.

ConcorrênciaO seu Castilho era engraçado. Porque tinha o Vando do lado. En-

tão, quando tinha dois, três clientes no Vando, que eram duas portas,ele cava escondido. Quando o freguês dava uma olhadinha ele faziaassim ó [assobiava] pra chamar. O Vando olhava e ele [disfarçava].Um dia, até foi engraçado. O Fermino, que trabalhava na frente, quetinha um armazenzinho, contava que um dia estava cheio de freguês no

Vando e ele estava de costas, atendendo. O Castilho estava desesperado porque no armazém dele não tinha ninguém. Passou a mão num baldede feijão e jogou nas costas do cara. Pegou bem na orelha. O cara olhoue ele assobiou e disfarçou. Izair Campos.

Outros temposNão era tão movimentado como hoje. Era outra clientela que fre-

qüentava o Mercado. Era aquele pessoal que vinha lá do interior daIlha e até de Santo Amaro, que vinham aqui comprar em atacado como pai. Vinham comprar a carne, o leite. Porque não tinha geladeira. Acarne tinha que ser comprada todo dia. Tinha la pra comprar carnee também o leite. Zenaide Mansur .

 A mão que assinaEntrou-se com o projeto de tombamento na Câmara, que aprovou

e foi para o prefeito sancionar. Era o Cláudio Ávila da Silva. Nós vie-mos aqui no dia 20 de março de 1984, às 10h40min, e naquela mesa

histórica [aponta] que está aqui, na nossa administração, foi assinado

1  MERCADO DO MANÉ AO TURISTA

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 pelo [atual] presidente da Assembléia, Onofre Santo Agostini, que erao chefe de Gabinete do Cláudio.

Sabes porque? Por que o Cláudio estava com a mão quebrada, como braço quebrado. Oreste Mello.

InternacionalUma senhora argentina, muito engraçada, bem extrovertida, che-

 gou aqui e queria: colita, colita... E eu achava que era uma rabada. – Rabada? – No, no! Colita! Eu penso, meu Deus, mas o que é essa tal de colita. A gente achava

que ela tava contando uma piada. E ela levantou o vestido aqui na frente do box e batia:

 – Acá, colita!  – Mas não é rabo, rabada, senhora? – No!  Aí fomos ver. Sabes o que era? A maminha da alcatra. Como aquilo

é comprido, eles chamam de colita. O marido, que estava junto, explicou:Isso aqui [apontando], nádegas. E colita seria uma coisa comprida,

uma cola, cola da alcatra, a maminha. Ricardo Vidal.

 Ao cliente com carinhoCom seu jeito lânguido de falar, o verdadeiro manezinho tem um

carinho todo especial com a clientela. Além de não ter pressa, usanaturalmente o diminutivo para qualicar sua mercadoria.

Tem tudo. Tem a toalha, a camisa e o calção. Tem gente que jácompra o conjuntinho completo. Sai mais barato. Vem na caixinha e já ca um presentinho embalado, não é? 

 Aldo Brito, explicando os produtos que vende.

Lembro também do seu Mansur, que vendia panelas de alumínio. Pra mim, aquilo ali foi o que marcou o Mercado. Porque, em matériade carinho e bondade, era um cara excepcional. Muito atencioso. Todosque pra ele chegavam, podia ser um estranho, ele dizia: Ô querido! Ô,meu amorzinho. Assim é que ele tratava as pessoas.

Izair Campos, relembrando Gedeão Mansur.

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Senhora? – Voltei pra encomendar a rede.

Então tá certo. Já vou telefonar pra lá. – O senhor quer endereço, telefone?Marca aí direitinho, Luciano [funcionário]. Marca direitinho, tá?

O nome dela, telefone. Eu já vou pedir. – Então, dia 30, mais ou menos?Isso. – Então eu dou uma ligadinha lá pelo dia 27 [cliente].Izair Campos, atendendo uma cliente.

 Pode, pode trocar. Queres a caixinha, querida? – Porque depois o senhor não troca, não é? Pode trocar, não tem problema. Mas é bom tu levar na caixinha,

que é mais simpático, né? –  É, e não suja tanto. Eu gosto de guardar os sapatos na caixa.É, e essa caixinha é uma beleza. Essa caixinha aqui é jóia. Isso

aqui serve pra tu colocar documentos. Tenho até pena de jogar fora.Mário Valgas, vendendo um par de sapatos.

 Aonde a vaca vai ... Acho que a história interessante que mais marcou aqui no Mer-

cado foi a da vaca. O cara vinha com uma vaca e ia passar pelos fun-dos. Aí ofereceram um conto [1 cruzeiro] pra ele. E ele, pra ir pro bardo Goiano, tomar um traguinho, começou a puxar a vaca. A vaca nãoqueria entrar por causa da multidão de gente. E ele a puxar, puxar, e avaca acabou entrando. E quando chegou aqui bem no meio a vaca deuaquela talagada que vocês conhecem, não tem? Olha, foi um alvoroçoaqui dentro. E pra tirar a vaca?

 Pode perguntar pro Jorge, lho do Chico Peixeiro, que ele vai tecontar. Ele diz que é a história que mais marcou. Imagina, a pessoa car puxando uma vaca pra dentro do corredor e chega aqui no meio,a vaca dá uma talagada e carimba o Mercado.Ricardo Vidal.

O que tomba vem abaixo?Outra do tombamento do Mercado Público. Quando se deu aqui a

história de tombar, grilou muita gente. Eu estava almoçando no Goiano

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e, de repente, chegou um comerciante e perguntou: – Seu Oreste, dá licença? Vão tombar o Mercado, não vão?

Vão –respondi. – E qual é o primeiro lado que eles vão destruir? Acho que a máquina vai passar no lado de lá primeiro, no lado

das peixarias.Eles acharam que tombar era destruir o Mercado. Eu achei fan-

tástico isso aí. Oreste Mello.

Dos céusO hidroavião é do meu tempo, mas eu era pequena. Eu tinha ver-

dadeiro pavor. Queria ver, mas tinha medo e me escondia numa colunaque tinha ali no posto do Cristobal e cava olhando assim [se escondeatrás do balcão]. Quando ele descia, precisa ver a fumaça que levan-tava na água. Eu cava horrorizada com aquilo. Mas daí a pouco iasentando, sentando e já ia saindo uma baleeira pra pegar o pessoal láe desembarcar aqui no trapiche atrás da Casas da Água [rua FredericoRolla com Pedro Ivo].Marlene Mansur.

  RacionamentoE também teve uma época que as pessoas faziam la pra com-prar.Era um peixe pra cada pessoa. Uma tainha pra cada pessoa. Existiuaqui um administrador chamado Marcos, Marcos Nunes Vieira, que foi o mais severo do Mercado Público. Então, existia essa la. Aí chegouum grande da polícia, um primeiro-sargento.

Chegou na vez dele e ele diz assim: o senhor me embrulha duastainhas bonitas.

 –  Não, é uma tainha pra cada um –respondeu o peixeiro. Aí ele fez um rolo... Puxou a carteira, dizendo que era da polícia...

Chamaram o Marcos. Ele disse: – Não, o senhor vai levar só uma tainha. É a lei e o senhor não vai

 passar fora da lei. – É lei de quem? –perguntou o cliente. –   Do Mercado, da administração.Naquele tempo era pequeninho [se refere ao comércio da cidade], era

só o Mercado. O administrador tinha uma força tremenda. Ele fechava

box por 10, 15, 20 dias e ninguém abria. Aí o Marcos continuou:

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 – O senhor vai levar uma e, se não quiser, não tem nenhuma. Seo senhor teimar, eu mando prender o senhor.

 Aí o cara puxou a carteira de novo. E o Marcos disse: o senhor tá preso. Veio o grande lá, o major, e levou o cara preso. Mário Valgas. 

Otcho, o cachorro A Liza, uma vez, estava andando em Los Angeles e viu um cachorro.

 Botou o nome dele de Otcho.Conclusão! O Otcho estava cando velho lá em Los Angeles, ou

Nova Iorque, onde ela morava. O que aconteceu? Mandou o Luiz Hen-rique trazer o cachorro pra Florianópolis. Ele veio de engradado e tudo.Mas estava muito velhinho e cou na casa da irmã dele, a Regina, quemora até hoje em Coqueiros. E a casa dela não é no chão, tem umaaltura. Aí, um dia, o Luiz Henrique chegou e disse: pô o Otcho desapa-receu, puta que pariu, se a Liza sabe...

O Otcho havia se metido debaixo da casa e cado trancado, preso.E nós a procurar por ele.Décio Bortoluzzi.

Fornecedores

O Mercado funcionava a noite inteirinha. Chegava mercadoriade carroça, cargueiro, lancha, bote que vinha do sul da Ilha, Ratones,do lado de lá também [Continente], da Enseada do Brito. Chegavalancha cheia de abacaxi. Ali na ponte, de madrugada se via uma lade carroça, uma atrás da outra. A ponte naquele tempo era de assoalhode madeira. Eram trilhos de madeira grossa, cavam uns espaços eiam apodrecendo. A prefeitura ia trocando, mas mesmo assim muitocavalo quebrou a perna ali.Laudêncio Pereira.

É bomba, é bombaNão tem aquela correia? A correia da geladeira ali [apontando

 para o local da câmara frigoríca construída em 1939]. A correiadessa câmara cava em cima. Tinha uma escada e as padariazinhas cavam embaixo. Um dia, rebentou uma delas. A poeira foi um dilú-vio dentro deste Mercado. Parecia que tinha estourado uma bomba[ri bastante], Aí as mulheres da padaria embaixo começaram a gritarque era uma bomba. Todo mundo neste Mercado começou a correr e

aquela fumaceira invadiu tudo. Foi a coisa mais feia, nesse dia. E não

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era bomba, era a correia do frigoríco. E todos achando que era umabomba. Ricardo Vidal.

Burriquete ou miraguaia ?Não sei se tu sabe essa história do trapiche lá na ponta. Tinha

um senhor que trabalhava nos Correios. Quando no verão ameaçavatrovoada, ele pegava burriquete de caniço. É, quebrava um maris-quinho, sgava lá no anzol e pegava burriquete de três, quatro quilos.Ele tinha até um balaio com alça pra colocar o que pescava. Era o seu Bohrer. Grande pescador.

Sabes aqueles barcos [traineiras] de peixe que chegavam ali?Ficavam várias pessoas nadando, esperando a tainha que caísse naágua. Naquele época não tinha espírito de malvadeza. Se fosse hoje,eles estavam nadando com um pedaço de pau pra cutucar os balaios e fazer o peixe cair. José Isaltino da Rosa, Zezinho.

Seu MarcosReforma teve. Reformaram o telhado, trocaram o madeiramento.

Mas depois de 60 já foi feita outra troca. Ali dentro do Mercado não era

assim como tá agora. Eram tabuleiros de verduras, frutas. Era tudocom grade de ferro, um tipo de tela. Eram compartimentos. E não sebotava nada na rua, tudo dentro dos tabuleiros. Não era como hoje, queinvadem espaço [do público]. Se fosse o seu Marcos, na época, ele nãodeixava. Ele mandava mesmo tirar. Ele morava no Mercado, naquela parte que é a administração hoje, e a administração era embaixo, alionde tá a banca do Zezinho. Laudêncio Pereira.

Serviço de Ajuda ao Cliente 

Chegou uma freguesa aqui, bem gorda. Veio comprar um penico. Aí o pai [seu Mansur] mostrou os pequenos. Ela disse assim: Será quevai caber? O pai olhou ... e disse: não, o grande é que vai caber. Elachegou a colocar o urinol atrás pra ver se servia. Zenaide Mansur.

Dropando no açougueE nesse tempo [estavam reformando o Mercado] tinha uma desos-sa

de carne aqui, e os ossos estavam tudo aqui debaixo da mesa, guarda-

dos. Eu estava atendendo um cliente. Estava eu e um funcionário no

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açougue, o Áureo. Ele era sursta. No meio dessa confusão, caiu umcaibro desses. Despencou desse telhado aí e veio tudo abaixo.

Imagina, como se vocês estivessem conversando comigo agora. Oassoalho de madeira e todo esse telhado vir em cima. Imagina o baru-lho que foi. Áureo, o sursta que eu tô te falando, mergulhou debaixoda mesa onde estavam os ossos. Sabe o que aconteceu? Ele espetou umosso daqueles na barriga. Quase morre espetado nos ossos.

Vê a idéia do cara de mergulhar debaixo da mesa! Quase se matou.Eu e o freguês camos espantados, porque ninguém esperava. E o Áureo,que estava cochilando? Mas quando ele ouviu o estouro, mergulhoudebaixo da mesa, e quando a gente viu já estava com o osso espetadona barriga. É brincadeira! Ricardo Vidal.

Língua, linguadoDurante uma entrevista, ouvi: – Quem sabe tudo aqui dentro é o Linguado. – Quem é o Linguado? – perguntei. – O João Frederico de Souza. O funcionário mais antigo.Mais tarde fui conversar com seu João e perguntei:

 – Seu João que história é essa de linguado? – Só pode ser coisa desses lhos da puta desses peixeiros.É que, quanto ca absorto, seu João coloca a ponta da língua no

canto da boca, fazendo lembrar o linguado, peixe que tem a boca delado. Além dos peixeiros, outros também conhecem o apelido. Ronaldo

 Adúcio de Oliveira, peixeiro, e Rogério do Livramento, açougueiro.

Homem de féEnquanto realizava um pequena entrevista no box 21, na segunda

ala, um cliente fez questão de comentar:Eu tomei caldo de cana aqui, há 40 anos. Agora, entrei no Merca-

do e me perguntei: será que ainda existe aquele caldo de cana? Moroem Brasília e vim pra tomar o caldo de cana dele (apontando para o proprietário).

Saboreando um copo duplo da bebida, Joel Pinto desaa: Daqui há 40 anos eu volto! 

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BALAIO DE FIGURINHAS Bons tempos dos álbuns de gurinhas, se lembra? A disputa por gurinhas carimbadas na esquina. Todos as conheciam,

mas como era difícil achá-las. No próximo balaio,algumas dessas gurinhas ilustres que muito

contribuíram para o desenvolvimento de Florianópolis.

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 Alfredo Maria Adriano d’Escragnole Taunay, Visconde de TaunayFilho de Félix Émilie Taunay, diretor da Academia Imperial de

Belas Artes. Alfredo nasceu no Rio de Janeiro em 22 de fevereiro de1843. Foi engenheiro militar, político, historiador e romancista, sendoum dos fundadores de Academia Brasileira de Letras. Publicou seuprimeiro título, Mocidade de Trajano, sob o pseudônimo de SílvioDuarte.

Como político, foi presidente da Província de Santa Catarina em1876, quando no Palácio Cruz e Sousa nasceu seu lho, Afonso Taunay.Presidiu a Província do Paraná em 1885 e, no ano seguinte, foi eleito

deputado geral por Santa Catarina, e a seguir senador (1886-1889),na vaga do Barão de Laguna, Jesuíno Lamego da Costa. Morreu noRio de Janeiro, em 25 de fevereiro de 1899.

 Álvaro Augusto de CarvalhoJornalista e militar, nasceu em Florianópolis em 1o de março de

1829. Dedicado à literatura, escreveu para o jornal Província e a revis-ta Marítima. Amante do mar, reetiu sua paixão nas obras teatrais, Pedro Martelli e Raimundo.

Em sua homenagem, o Teatro Santa Isabel passou a ser denomi-nado Álvaro de Carvalho. Morreu em Buenos Aires, em 5 de setembrode 1865.

Barão de LagunaO almirante Jesuíno Lamego da Costa fez carreira na Marinha de

Guerra, onde se alistou aos 14 anos e, ao lado de seus irmãos, José eFirmino Lamego, participou das lutas contra as províncias do Prata. Em

31 de julho de 1821, em nome e representando o imperador do Brasil,

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dom João VI, redigiu e assinou o Tratado de Incorporação, anexando oEstado de Montevidéu ao Reino Unido de Por-tugal, Brasil e Algarves,

sob a denominação de Estado Cisplatino.Foi suplente de Jerônimo Coelho na Câmara dos Deputados, em1860, e agraciado com o título de Barão de Laguna em 1871. Com ofalecimento de José da Silva Mafra, assumiu a cadeira de senador,cargo vitalício.

Jesuíno Lamego de Costa nasceu em 13 de setembro de 1811,em Laguna, morrendo de morte natural no Rio de Janeiro em 16 defevereiro de 1886.

Cláudio Alvim Barbosa, ZininhoBoêmio, o poeta e compositor Zininho nasceu em Florianópolis em

8 de maio de 1929. A história do rádio na capital catarinense se con-funde com a história do autor de Rancho de Amor à Ilha, hino ocialde Florianópolis. Gravações de programas de rádio nas décadas de 50 e60, e inúmeras canções, formam o acervo do artista que tantas alegriasmarcou para a cidade. Aos 12 anos de idade foi crooner da orquestrado Clube 12 de Agosto. Entre 1965 e 1970, esteve no Rio de Janeiro

cantando ao lado de Elizete Cardoso, no Copacabana Palace.Suas músicas foram, durante muitos anos, as mais tocadas nosbailes de carnaval. Com sua morte, em 5 de setembro de 1998, emFlorianópolis, cou para sempre o exemplo de amor à Ilha.

Conselheiro Manoel da Silva MafraFormado em Direito, em São Paulo, exerceu a magistratura em

São José e Florianópolis, sua terra natal, onde nasceu em 12 de outu-bro de 1831. Exerceu o cargo de juiz de direito em Minas Gerais, Per-nambuco e no Paraná, quando foi nomeado Ministro da Justiça. Maistarde, advogou a questão dos limites entre Santa Catarina e Paraná,defendendo seu Estado.

Político, foi deputado geral por Santa Catarina em duas legisla-turas, eleito pelo Partido Liberal. Morreu em Niterói, Rio de Janeiro,em 11 de março de 1907.

Dom João (VI)Filho de dona Maria I, assumiu o trono como príncipe regente

quando sua mãe foi declarada louca. Como herdeiro natural, foi acla-

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mado dom João VI com a morte da mãe, em 1816. Sua personalidadenão combinava com as necessidades de mandatário. Era calado, tímido

e indeciso, de quando em quando tinha acessos de melancolia e indife-rença com os que o cercavam e os problemas do reino.Casou-se com dona Carlota Joaquina de Bourbon, com quem teve

nove lhos. Com a morte do primogênito, dom Antônio, dom Pedro de Alcântara e Miguel viria a ser o imperador do Brasil, dom Pedro I, oproclamador da Independência.

Dom Pedro IIQuando dom Pedro I abdicou, em 7 de abril de 1831, seu lho

Pedro de Alcântara tinha apenas 5 anos de idade. O Brasil, durantedez anos, foi governado por Regências. Coroado dom Pedro II aos 16anos, em 18 de julho de 1841, o imperador casou-se com Maria TherezaChristina de Bourbon aos 18 anos e tiveram quatro lhos.

Seu governo foi marcado por decisões corretas e sensatas, com opaís passando por uma fase de progresso econômico. Foi responsávelpela descentralização da produção da região Nordeste para a Cen-tro-sul, quando ocorreu a transformação da agricultura, baseada no

cultivo de café. Incentivou o crescimento das exportações e procuroudesenvolver a indústria, sempre se mostrando partidário de novastecnologias.

Governou o Brasil até a Proclamação da República, quando foiexilado, morrendo em Paris, aos 66 anos.

Fernando Machado de SousaO militar catarinense nasceu em Florianópolis em 11 de janeiro de

1822 e tombou alvejado na Guerra do Paraguai, na ponte de Itororó,em 6 de dezembro de 1868.

Sua estátua foi inaugurada em 1902 na praça Floriano Peixoto, querecebeu a denominação de praça Fernando Machado em 6 de outubrode 1993, pela lei no 4.146.

Floriano PeixotoMilitar de carreira, nascido em 30 de abril de 1839, lutou na Guerra

no Paraguai do início ao m, alcançando o posto de comandante-de-

armas. Com o m do combate, foi nomeado presidente da Província

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do Mato Grosso.Em 15 de novembro de 1889, mesmo como ajudante-general, não

participou diretamente da Proclamação da República. Se recusou alutar com as tropas golpistas de Deodoro da Fonseca, mas tambémnegou apoio à monarquia, posição que favoreceu o golpe.

Nas eleições de 1891, concorreu a vice-presidente na chapa enca-beçada por Prudente de Morais. As eleições de presidente e vice eramseparadas. Assim, Deodoro da Fonseca ganhou para a presidência eFloriano Peixoto para a vice-presidência.

Com a renúncia de Deodoro, Floriano assumiu a presidência daRepública. Apesar da Constituição determinar novas eleições, ele senegou a convocá-las.

Seu governo foi marcado por grande instabilidade. Nesse período,teve início a Revolta da Armada, na Guanabara, hoje Rio de Janeiro,e a Revolução Federalista, no sul do País.

Combateu as revoltas com muita violência, conseguiu derrotá-las,mas isso lhe rendeu a alcunha de Marechal de Ferro. Foi o responsávelpelo massacre do forte de Anhatomirim, em Florianópolis, onde forammortos seus opositores.

No nal de seu governo, já doente e sem força política, concluiu omandato e transmitiu o cargo a Prudente de Moraes, eleito pelo povoem 15 de novembro de 1894. Morreu em 29 de junho de1895.

Imperatriz Maria Thereza Christina de Bourbon  A princesa nasceu em Nápoles, lha de Francisco II, rei das

Duas Sicílias, e de Maria Isabel de Bourbon, infanta da Espanha. Anecessidade de um casamento consistente para dom Pedro II levou àEuropa uma missão que durou dois anos para selecionar sua mulher.Com contrato de casamento acertado, a cerimônia ocorreu em territórionapolitano, sem a presença do imperador.

Thereza Christina chegou ao Brasil em 3 de setembro de 1843,quando conheceu dom Pedro II. Sempre ao lado do marido, preocupa-da com as causas sociais, cou conhecida por sua popularidade e foicarinhosamente chamada de Mãe dos Brasileiros.

Tiveram quatro lhos, Pedro, Afonso, Leopoldina e Isabel. O pri-mogênito e Afonso morreram na infância. Isabel, a mais nova, caria

conhecida como a Princesa Isabel, que assinou a Lei Áurea.

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Jerônimo Francisco Coelho

É considerado o fundador da imprensa catarinense. Nascido naCidade de Laguna, em 30 de setembro de 1806, fundou em 1831, nacapital da Província, o jornal O Catharinense.

Líder do Partido Liberal, foi deputado na Assembléia Provincial edeputado geral de 1836 a 1847. Ainda na vida política, presidiu o RioGrande do Sul e outros Estados, além de ocupar os cargos de ministroda Marinha, em 1844, e de ministro da Guerra, em 1858.

Jornalista, as idéias que defendeu na imprensa são suas maioresobras literárias. Morreu em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, em 16 de janeiro de 1860.

João da Cruz e SousaNegro, nasceu em Florianópolis em 24 de novembro de 1861. Foi

criado por Clarinda Fagundes de Sousa e seu marido, o marechal Gui-lherme Xavier de Sousa, com quem vivia como lho de criação. Seu pai,Guilherme, mestre pedreiro do marechal, e sua mãe, Carolina, lava-deira, viviam sob proteção da família Sousa, como escravos libertos.

Discriminado, não cursou o ensino superior, mas aos 20 anos fun-dou com o conterrâneo Virgílio Várzea o jornal Colombo.Poeta simbolista, publicou dois livros, Missal e Broquéis, ambos

em 1893. Vitimado por tuberculose, morreu na cidade de Sítio, MinasGerais, em 19 de março de 1898.

Luiz Henrique RosaO compositor e cantor catarinense nasceu em Tubarão em 25 de

novembro de 1938. Em Florianópolis, lançou-se na vida artística atra-vés de programas de rádio na Diário da Manhã. Inicialmente fazendolocução e apresentação de programas locais, na década de 60 conheceuElis Regina e João Gilberto, magos da Bossa Nova. Boêmio, foi dono dobar Samburá, localizado anexo ao restaurante Rosa, na praça XV deNovembro, freqüentado por radialistas, compositores e notívagos.

Mudou-se para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro, ondelançou seu primeiro disco de Bossa Nova. Foi morar em Nova Iorquee tocou com grandes personalidades, quando conheceu Liza Minelli,

sua grande amiga. Nesse período, no exterior, lançou sete discos, sendo

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aplaudido pela crítica americana.Liza veio a Florianópolis em 1979 e, ao lado de Luís Henrique,

conheceu a Ilha da Magia, e freqüentou o Mercado Público. Avesso a automóveis, por fatalidade do destino morreu em umacidente de carro em 9 de julho de 1985, nas proximidades do Armazém Vieira, na Costeira, em Florianópolis.

Príncipe Conde d’EuLuís Filipe Maria Fernando Gastão de Orleans tornou-se príncipe

ao renunciar à nacionalidade francesa e adotar a brasileira, casando-secom a princesa Isabel, herdeira do trono brasileiro.

Formado na Academia Militar de Segóvia, na Espanha, após ocasamento recebeu as honras de marechal do exército brasileiro e ocomando geral da Artilharia. Acompanhou o imperador na rendiçãodos paraguaios em Uruguaiana.

Depois da Proclamação da República, seguiu a família real noexílio.

Johann Moritz Rugendas

Como participante da Expedição Langsdorff, veio ao Brasil em1821. Registrou paisagens, cenas do cotidiano e o trabalho escravo até1824, quando abandonou a expedição e voltou à Europa, publicando olivro Voyage Pittoresque dans le Brésil, ilustrado com suas pinturas.

Retornou ao Brasil para pintar os retratos de dom Pedro II, daimperatriz Thereza Christina e do príncipe dom Afonso, em 1845.Partiu denitivamente no ano seguinte.

 Alberto Santos DumontO brasileiro,  Pai da Aviação, nasceu em Palmira, atual Santos

Dumont, em Minas Gerais, em 20 de julho de 1873. Aos 18 anos, foi enviado pelo pai para completar seus estudos em

Paris. No primeiro momento se dedicou ao automobilismo, participan-do inclusive de competições internacionais. Mas cou conhecido pelogrande número de inventos, culminando com o avião.

No balão Brasil, o único que teve nome, os demais foram apenasnúmeros, fez sua primeira demonstração de vôo em 4 de julho de 1898.

Com o balão dirigível de número 6, contornou a torre Eiffel, em 1901.

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 Após 29 minutos e 30 segundos, retornando ao ponto de partida, ganhouo prêmio Deutsh de la Meurth.

 As experiências com o 14-BIS começaram em julho de 1906. SantosDumont planejava elevar-se do solo apenas com seus próprios meios,impulsionado por um motor. Em Paris, com o biplano construído emforma de T invertido, cauda à frente e as asas na parte posterior, ar-mação de bambu e cobertura de seda japonesa, pesando 290 quilos,percorreu a distância de 60 metros a uma altura entre 2 e 3 metros,em 23 de outubro de 1906. Finalmente, o homem podia voar. O fato éhomologado como o primeiro vôo mecânico do mundo.

Novamente com o 14-BIS, exibindo sua nova invenção, os ailerons,em 12 de novembro realizou um vôo de 220 metros, a uma altura de6 metros, em 21 segundos. Assim, Santos Dumont comprovou que oaparelho mais pesado que o ar, o avião, funcionava, deixando o Campode Bagatelle, em Paris, aplaudido pelos franceses.

 Alberto Santos Dumont assinava Santos=Dumont. Explicava aatitude armando que desta forma homenageava suas duas origens.Dizia que Santos, o orgulho de ser brasileiro, era igual a sua descen-dência francesa, Dumont.

Morreu no Brasil, no Guarujá, em São Paulo, em 23 de julho de1932.

 Victor Meirelles de Lima Após exibir seus primeiros trabalhos em Florianópolis, onde

nasceu em 18 de agosto de 1832, o pintor catarinense foi aluno daImperial Academia de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Quando ganhouuma viagem de estudos para a Europa, em 1852, morou entre Paris eRoma. Retornando ao Brasil, lecionou na Academia onde havia sidoaluno. Mais tarde foi condecorado com o Grau de Cavalheiro da Ordemda Rosa, pelo imperador dom Pedro II.

Sua obra mais famosa, o quadro A Primeira Missa no Brasil, seencontra exposto no Museu Nacional, Rio de Janeiro. Pintou entreoutros quadros a Batalha de Guararapes, Batalha Naval de Riachuelo  e Juramento da Princesa.

 A casa onde nasceu, em Florianópolis, foi transformada no Museu Victor Meirelles, situada na rua de mesmo nome, no Centro da cidade.

Morreu em 22 de fevereiro de 1903, no Rio de Janeiro.

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BALAIO NA CABEÇAEnquanto o pombeiro vai de casa em casa para vender suas qui-

tandas, o autor vai de arquivo em arquivo. Se ele vende de porta em porta, a pesquisa vai de documento em documento. E a informação

 pode, às vezes, pesar tanto quanto um balaio cheio de mandioca, feijãoou milho.

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Hercílio Luz) nesta capital.FLORIANÓPOLIS. Lei no 352, de 23 de novembro de 1967. Autoriza o PoderExecutivo a alinear área de terras, em Capoeiras, para a construção de ummercado.FLORIANÓPOLIS. Lei no 704, de 20 de agosto de 1975. Modica dispositivosdo Código Municipal referentes aos mercados.FLORIANÓPOLIS. Lei no 947, de 13 de março de 1970. Autoriza o PoderExecutivo a arrendar o Mercado de Capoeiras.FLORIANÓPOLIS. Lex: Coleção das Leis do Município de Florianópolis,de1895 e 1896. Gabinete sul-americano, 1896.

FLORIANÓPOLIS. Lex: Coleção de Leis do Município de Florianópolis de1896 a 1901. Tipograa da Livraria Moderna, 1901.

BALAIO NA CABEÇA  1

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Entrevistas

BORTOLUZZI, Décio. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquitaem dezembro de 2001 e fevereiro de 2002, gravação em ta cassete.BRITO, Aldo de. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita emdezembro de 2001, gravação em ta cassete.CAMPOS, Izair. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita emoutubro de 2001, gravação em ta cassete.CARVALHO, Nezir Scheidt. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mes-quita e Verlaine Silveira em março de 2002, gravação em ta cassete.CONTI, Orivalda Florindo. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mes-quita e Verlaine Silveira em setembro de 2001, gravação em ta cassete.COSTA, Jaime. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita e Ver-

laine Silveira em março de 2002, gravação em ta cassete.FILHO, Laurentino Estanislau Martins. Entrevista concedida a Ricardo

1 1  MERCADO DO MANÉ AO TURISTA

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Moreira de Mesquita em março de 2002, gravação em ta cassete.GALEGO, Amadeu do Nascimento. Entrevista concedida a Ricardo Moreira deMesquita e Verlaine Silveira em outubro de 2001, gravação em ta cassete.

KOERICH, Antônio Obet. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquitaem março de 2002, gravação em ta cassete.LIVRAMENTO, Rogério. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquitae Verlaine Silveira em março de 2002, gravação em ta cassete.LUZ, Ana Maria Fernandes da. Entrevista concedida a Ricardo Moreira deMesquita e Verlaine Silveira em novembro de 2001, gravação em ta casse-te.MANSUR, Zenaide e Marlene de Moraes. Entrevista concedida a RicardoMoreira de Mesquita e Verlaine Silveira em setembro e outubro de 2001,gravação em ta cassete.MANSUR, Zenaide. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita emdezembro de 2001, gravação em ta cassete.MELLO, Oreste. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita em janeiro e fevereiro de 2002, gravação em ta cassete.MÜLLER, Nicolau José. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquitaem dezembro de 2001, gravação em ta cassete.OLIVEIRA, Ronaldo Adúcio. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mes-quita e Verlaine Silveira em março de 2002, gravação em ta cassete.PEREIRA, Laudêncio. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquitae Verlaine Silveira em dezembro de 2001 e janeiro de 2002, gravação em tacassete.ROSA, José Isaltino. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquitaem março de 2002, gravação em ta cassete.ROSA, Tea Yolanda Pinto. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mes-quita em fevereiro de 2002, gravação em ta cassete.SILVA, João Bernardino da. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mes-quita em dezembro de 2001, gravação em ta cassete.SILVA, Roberto Henrique Barreiros. Entrevista concedida a Ricardo Moreirade Mesquita em dezembro de 2001, gravação em ta cassete.SOUZA, João Frederico de. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mes-quita e Verlaine Silveira em agosto de 2001 e janeiro de 2002, gravação emta cassete.

 VALGAS, Mário. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita e Ver -laine Silveira em setembro de 2001, gravação em ta cassete. VIDAL, Ricardo. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita e Ver-laine Silveira em outubro de 2001, gravação em ta cassete. VIEIRA, Matilde. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita emmarço de 2002, gravação em ta cassete.

Imagens ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA. Fac-símile cedido da planta do Mercado.BARRIOS, Leandro. Desenho em crayon cedido pelo artista.FUNDAÇÃO FRANKLIN CASCAES (FFC). Fotos cedidas do Banco de Ima-

gem, ampliadas no Foto Anacleto.

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Florianópolis, 2002

329 anos da fundação da póvoa de Nossa Senhora do Desterro (1673)288 anos da criação da freguesia de Nossa Senhora do Desterro (1714)

276 anos da criação do município de Desterro (1726)264 anos da criação da Capitania de Santa Catarina (1738)

108 anos da denominação Florianópolis (1894)

171 anos da Imprensa Catarinense (1831)

149 anos do primeiro livro impresso em Santa Catarina (1853)82 anos da fundação da Academia Catarinense de Letras (1920)

170 anos do nascimento do pintor Victor Meirelles (1832)141 anos do nascimento do poeta Cruz e Sousa (1861)

73 anos do nascimento do compositor Cláudio Alvim Barbosa, Zininho(1929)

64 anos do nascimento do compositor Luís Henrique Rosa (1938)

151 anos da inauguração da Praça do Mercado (1851)103 anos da inauguração da primeira ala

do Mercado Público Municipal (1899)71 anos da inauguração da segunda alado Mercado Público Municipal (1931)

Copyright 2002 by Ricardo Moreira de MesquitaTodos os direitos desta edição reservados ao autor

Impresso no Brasil/Printed in Brazil

Pré-impressão

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