MESTRADO EM DESIGN DESIGN, EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO...

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0 MESTRADO EM DESIGN DESIGN, EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO DÉBORA MARIA DE MACEDO QUARESMA DESIGN PARA A SUSTENTABILIDADE AMPLA DE SISTEMAS PRODUTO-SERVIÇO: Estudo de Caso de uma Empresa de Design de Acessórios de Moda PORTO ALEGRE 2015

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MESTRADO EM DESIGN

DESIGN, EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO

DÉBORA MARIA DE MACEDO QUARESMA

DESIGN PARA A SUSTENTABILIDADE AMPLA DE SISTEMAS PRODUTO-SERVIÇO: Estudo de Caso de uma Empresa de Design de Acessórios de Moda

PORTO ALEGRE 2015

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DÉBORA MARIA DE MACEDO QUARESMA DESIGN PARA A SUSTENTABILIDADE AMPLA DE SISTEMAS PRODUTO-SERVIÇO: Estudo de Caso de uma Empresa de Design de Acessórios de Moda

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Design.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Heloisa Tavares de Moura

PORTO ALEGRE 2015

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DÉBORA MARIA DE MACEDO QUARESMA

DESIGN PARA A SUSTENTABILIDADE AMPLA DE SISTEMAS PRODUTO-

SERVIÇO: ESTUDO DE CASO DE UMA EMPRESA DE DESIGN DE

ACESSÓRIOS DE MODA Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre

em Design pela banca examinadora constituída por: Aprovado em 26 de fevereiro de 2015

_________________________________________ Prof.ª Dr.ª Heloisa Tavares de Moura (Orientadora) - UNIRITTER

_________________________________________ Prof. Dr.ª Carla Pantoja Giuliano - UNIRITTER

_________________________________________ Prof. Dr.ª Cristiane Pauletti - ULBRA

_________________________________________ Prof. Dr.ª Ana Mery Sehbe De Carli - UCS

Porto Alegre

2015

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Este trabalho é dedicado ao meu marido Mario e a

minha filha Maria Antônia, assim como aos meus pais

Nilo e Lenara: companheiros das minhas longas horas

dedicadas ao Design.

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AGRADECIMENTO

Agradeço a todos os professores da turma do Mestrado em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis, pelo aprendizado e conhecimento adquirido ao longo desses dois anos, em especial ao Prof. Vinicius Ribeiro e Profª. Fabiane Wolff. A minha querida orientadora Heloisa Tavares de Moura, por acreditar em mim, fazer parte da minha Vida nos momentos bons e ruins e por ser exemplo de profissional, mulher e mãe, além de ser uma das pessoas mais humanas que conheço, a qual me passou os maiores aprendizados. Aos professores, Drª. Ana Mery Sehbe De Carli , Drª. Carla Pantoja Giuliano e Drª. Cristiane Pauletti, pelas considerações no exame de qualificação, imprescindíveis à conclusão desta pesquisa de mestrado. À empresa que foi objeto deste estudo por ter aberto as suas portas, me apoiando na realização deste trabalho. Ao meu marido Mario Morocini, que me motivou com seu carinho, força e companheirismo, e em especial a minha filha Maria Antônia, fruto brotado durante este mestrado, amor incondicional, a maior felicidade do mundo. Aos meus queridos alunos, colegas, coordenadores do GRID e Diretores da ULBRA pelo apoio em todos os momentos delicados durante minha ausência. Em especial ao Álvaro Scur, ao Felipe Weschenfelder, à Mariana Castro e à Monica Heydrich. A minha família, a qual amo muito, principalmente meu pai e minha mãe, pelo carinho, paciência e incentivo. Aos amigos que fizeram parte desses momentos sempre me ajudando e incentivando. E por fim, a Santo Antônio por me amparar nos momentos difíceis, me dar força interior para superar as dificuldades, mostrar os caminhos nas horas incertas e me suprir em todas as minhas necessidades. Mais uma vez, muito obrigada a todos!

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RESUMO

A presente dissertação tem como foco principal articular a teoria e a prática por meio de um Estudo de Caso de uma empresa de Design de Moda, cujos os produtos são acessórios feitos de sobras de couro do setor calçadista da Região do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul. Logo, o objetivo é sistematizar abordagens projetuais do Design para as sustentabilidades, bem como a apresentação de novas propostas de melhorias capazes de integrar as esferas ambiental, social e econômica, além de desenvolver intervenções nos Ciclos de Vida dos Sistemas Produto-Serviço envolvidos no setor da Moda. Para tanto, a metodologia utilizada teve natureza predominantemente qualitativa, combinando revisão bibliográfica, entrevista semiestruturada e um Workshop de Cocriação. Como desdobramento, os dados coletados foram analisados de acordo com a Teoria Fundamentada nos Dados (TFD), ou Grounded Theory, a partir dos quais emergiram Critérios Norteadores de Design. Por fim, foram propostos cenários e alternativas para a empresa progredir no contínuo da sustentabilidade em direção a uma atuação mais correta ecologicamente, inclusiva socialmente e viável economicamente.

Palavras - chave: Design de Moda. Design para Sustentabilidades. Acessórios de

Couro

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ABSTRACT

TITLE: DESIGN FOR SUSTAINABILITY LARGE PRODUCT-SERVICE SYSTEMS: Case Study of a Corporate Design of Fashion Accessories This dissertation is mainly focused on articulating theory and practice, through the case study of a Fashion Design company, whose products are accessories made of remains from the footwear sector of the Vale dos Sinos region, located in Rio Grande do Sul satate, Brazil. Therefore, the aim was to systematize design projective approaches for urestricted sustainability and the presentation of new improvements proposals for the company, towards the integration of the environmental, social and economic, as well as to develop interventions in the Product-Systems Life Cycles involved in the fashion industry. For this, purpose, the adopted methodology was predominantly qualitative, combining literature review, semi-structured interviews and cocreation workshop. As an extension, the data collected was analyzed according to the Grounded Theory (GT), from .which guiding criteria for design imerged. As a result, it proposed new scenarios and alternative concepts that and help the researched firm to progress in the sustainability continuum, towards a more environmentally correct, socialy inclusive and economically viable performance. Key - words: Fashion Design. Design for Sustainabilities. Leather Accessories

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LISTA DE TABELAS E FIGURAS Figura 01 - Esquema ilustrativo da metodologia do presente trabalho 21

Tabela 01 - Procedimentos para Coleta de Dados de Pesquisa 22

Figura 02 - Etapas para o Design Estratégico para o trabalho desenvolvido 24

Figura 03 - Cronograma do trabalho a ser desenvolvido 25

Figura 04 - Modelo de inovação em Design centrado no usuário 29

Figura 05 - Cronologia do papel do designer 35

Figura 06 - Cronologia do Design Sustentável 39

Figura 07 - Fluxograma geração resíduos sólidos 44

Figura 08 - Esferas e conceitos que integram o design social 46

Figura 09 - Esquema do Design de Ciclo de Vida de produto 56

Figura 10 - Esquema do Design de Ciclo de Vida de produto com

respectivas fases 57

Figura 11 - Ciclo de Vida SPSD de produto-serviço adaptado pela autora 58

Figura 12 - Caminho da Sustentabilidade - adaptado pela autora 62

Figura 13 - Ciclo de anel fechado e aberto 64

Figura 14 - Esquema para a integração de aspectos ambientais no

desenvolvimento de produtos 67

Figura 15 - Foto disponível no blog da designer Karina Michel ilustra seu

trabalho com estudantes de design na indústria Pratibha Syntex, na Índia

e uma amostra do produto mencionado no texto 73

Figura 16 - Resumo de diferentes abordagens às noções de rápido e lento 74

Figura 17 - Ciclo de Vida do couro bovino 77

Figura 18 - Características do curtimento com sais de cromo e tanino vegetal 78

Figura 19 - Fluxograma esquemático da fabricação de couros – operações de ribeira, curtimento e acabamento molhado 81

Figura 20 - Fluxograma esquemático da fabricação de couros – operações de acabamento ............................................................................................................. 82

Figura 21 - Couro da Tilápia, curtimento 100% vegetal e exemplo de produtos

com base no couro de Tilápia 83

Figura 22 - Tipos de couro ser empregados em acessórios de moda .................... 85

Figura 23 - Visão sistêmica do ciclo de Vida com esferas ambientais, sociais e econômicas 86

Figura 24 - Adaptação do ciclo de Vida de acessórios de moda 87

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Figura 25 - Cronologia da empresa XX Acessórios de Moda 90

Figura 26 - Mapa de atores envolvidos no processo de produção e

comercialização da XX Acessórios de Moda. 92

Figura 27 - Observações na produção - transformação de materiais em

produtos 99

Figura 28 - Etapas de reaproveitamento de matéria-prima na produção de uma carteira 100

Figura 29 - Cadeia da produção para o couro vacum 101

Figura 30 - Cadeia da produção do vestuário utilizando o caprino 102

Figura 31 - Ciclo de Vida do Produto atual da XX Acessórios de Moda 103

Figura 32 - Critérios Norteadores de Design 105

Figura 33 - Etapas apresentadas para participantes durante o Workshop de Cocriação 107

Figura 34 - Ficha sobre o perfil apresentado aos participantes durante o

Workshop de Cocriação 108

Figura 35 - Regras apresentadas aos participantes durante o Workshop de

Cocriação 109

Figura 36 - Quadro de post it no processo de brainstorming no Workshop de Cocriação 110

Figura 37 - Resultados dos Critérios Norteadores de Design na pré-produção

durante Workshop de Cocriação 111

Figura 38 - Resultados dos Critérios Norteadores de Design na fase da

produção durante Workshop de Cocriação 112

Figura 39 - Resultados dos Critérios Norteadores de Design na fase do

Descarte durante Workshop de Cocriação 113

Figura 40 - Ciclo de Vida Produto-Serviço da XX Acessórios de Moda no

contínuo e na ampliação da sustentabilidade 123

Figura 41 - Hipóteses para o cenário proposto 126

Figura 42 - SDO estrutura, dimensões, requisitos e diretrizes da

Sustentabilidade ................................................................................................... 127

Figura 43 - Esquema visão sistêmica com cinco fases desenvolvida com

base nos resultados 128

Figura 44 - Sistematização da abordagem projetual juntamente com Ciclo

de Vida de Produto-Serviço de moda visando sustentabilidade ampla .................. 130

Figura 45 - Sistematização da abordagem projetual juntamente com Ciclo

de Vida de produto de moda e o possível cenário no descarte

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visando sustentabilidade ampla 131

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABIT - Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção

ANE - Agência de Notícias do Acre

CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento

COMMISSION – Comissão Europeia sobre Design e Inovação

DFD – Design for Diassembly

DFE - Design for Environment

DFA - Design for Assembly

DFM - Design for Manufactury

DFS - Design for Service

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FDOT - Sustainability Design Orienting Toolkit

GBS – Global Business Services

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

IED – Instituto Europeo di Design

ISO – International Organization for Standardization

ONU– Organização CEP – Comitê de Ética em Pesquisa

P&G – Proctor and Gamble

PLC – Product Life Cycle

PSS – Product Service System

SDO – Sustainability Design Orienting Toolkit

SPSD – Sustainable Product and Service Development

TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação

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TFD – Teoria Fundamentada de Dados

UNEP – United Nations Environment Programme

XX Acessórios de Moda – Nome fictício para preservar identidade da empresa

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SUMÁRIO 12

INTRODUÇÃO 14

1.1 MOTIVAÇÃO 16

1.2 OBJETIVOS 18

1.2.1 Objetivo Geral 18

1.2.2 Objetivos Específicos 18

1.3 JUSTIFICATIVA 18

1.4 METODOLOGIA 19

1.5 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO 25

2 REFERENCIAL TEÓRICO 27

2.1 DESIGN E SUSTENTABILIDADE - ASPECTOS TEÓRICOS 27

2.1.1 Sustentabilidades e o Papel do Design 33

2.1.2 Do Design de Produto ao Design Sustentável 37

2.1.3 Do Design Social ao Design Estratégico 44

2.2 PRODUÇÃO E PROCESSOS DE DESIGN VOLTADO PARA A

SUSTENTABILIDADE 52

2.2.1 Ciclo de Vida do Produto e do Sistema Produto-Serviço 54

2.2.2 Metodologias, Métodos e Técnicas do Design para Análise e

Projetação das Sustentabilidades 65

2.3 DESIGN E A SUSTENTABILIDADE NA MODA 68

2.3.1 Indústria da Moda e Acessórios de Couro 73

2.3.2 Tipos de Couro 76

2.3.3.Particularidades do Ciclo de Vida do Produto da moda e

acessórios de couro 85

3 ESTUDO DE CASO 88

3.1 EMPRESA DE ECODESIGN DE ACESSÓRIOS DE MODA COM

BASE EM SOBRAS DE COURO DA INDÚSTRIA CALÇADISTA 89

3.2 ENTREVISTAS CONTEXTUAIS 92

3.2.1 Perfil dos Entrevistados 95

3.2.2 Temas Emergentes 95

3.2.3 Principais Observações 97

3.3 CICLO DE VIDA DO PRODUTO-SERVIÇO ATUAL DA XX

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ACESSÓRIOS DE MODA 102

3.3.1 Interpretação e Oportunidades 104

3.4 APRESENTAÇÃO DO WORKSHOP DE COCRIAÇÃO 105

3.5 ANÁLISE E RESULTADOS DADOS DA PESQUISA 114

4 EM DIREÇAO A UMA METODOLOGIA E PROJETAÇAO DAS

SUSTENTABILIDADES NA INDÚSTRIA DA MODA: CICLO DE

VIDA DO PRODUTO DE ACESSÓRIO DE MODA PARA AS

SUSTENTABILIDADES 123

4.1CENÁRIO PARA AS SUSTENTABILIDADES 125

4.2 SISTEMATIZAÇÃO DE METODOLOGIA PARA ANÁLISE E PROJETAÇÃO

DAS SUSTENTABILIDADES NA INDÚSTRIA DA MODA E ACESSÓRIOS

DE COURO 127

4.2.1 Visão sistêmica 129

5 CONSIDERACOES FINAIS 134

REFERENCIAS 138

APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 145

APÊNDICE B - Solicitação de Autorização para Pesquisa em Empresa 148

APÊNDICE C - Solicitação de Autorização para Pesquisa com

Funcionários de uma Empresa 149

ANEXO A - Requisitos Relacionados que estão listados nos Anexos IV e V

da Directiva Ecodesign 140

ANEXO B - Requisitos e Diretrizes do Design para a Equidade e Coesão Social

de Carlo Vezzoli (2010) 153

ANEXO C - Eco-Design Strategies de Alastair Foud-Luke (2002) 158

ANEXO D - Lei do Resíduo Sólido 160

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INTRODUÇÃO

A história do conceito de desenvolvimento sustentável remete à crise

ambiental no mundo – evidenciada a partir da década de 1960, e agravada ao

longo dos períodos seguintes, em função de um conjunto de desastres e

desequilíbrios ambientais. As discussões e manifestações da época apontavam

para a insustentabilidade do modelo de desenvolvimento baseado no ideal de

consumo e crescimento econômico acelerado. Com a crise e crescente

reconhecimento acerca da finitude e vulnerabilidade dos recursos planetários, e

tendo em vista a garantia das necessidades de gerações futuras, foram criadas

políticas e práticas voltadas para o respeito à natureza e ao meio ambiente.

Somadas à revolução da informação e à globalização econômica, tais mudanças

contribuíram para a alteração das prioridades nas relações internacionais e das

atitudes dos países com relação aos problemas do meio ambiente.

Do final da década de 1960 até o início da década de 1970, o Design, ao

invés de contribuir para a produção de novos produtos e sistemas sustentáveis,

estava voltado para o mercado, o consumo e a obsolescência planejada

(PAPANEK, 1997). A partir daí, o paradigma dominante foi quebrado, surgindo

novas ideias sobre um Design Ecológico e Social (PAPANEK, 1994) assim como

caminhos alternativos para o designer. Com isso, pelo menos na academia, o

Design passou a dirigir o seu foco para o atendimento das necessidades do

indivíduo, do meio ambiente e da comunidade. No ambiente profissional, contudo,

tais ideias ainda ficaram distantes do padrão dominante, no qual a consciência

ecológica e social, os requisitos ambientais, e o conhecimento de ferramentas

diferenciadas de projeto não encontraram o devido espaço.

A partir do final da década de 1990, em decorrência da difusão do conceito de

sustentabilidade, a prática do Design Sustentável (HIRSCHHORN et al., 1993;

WALKER, 2003; MCDONOUGH e BRAUNGART, 2003) começou a ser difundida

no mundo, expandindo o enfoque predominantemente ambiental, de modo a incluir

as demais dimensões do conceito. Desse modo, buscava desenvolver soluções

economicamente viáveis, ecologicamente corretas e socialmente equitativas. Do

mesmo modo que o Ecodesign, ele favorecia o Ciclo de Vida do Produto

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desenvolvido, mas também enfatizava a inclusão adicional das necessárias

considerações sociais e éticas para a sustentabilidade ampla e de longo termo.

No Design de Moda, a transformação em direção às técnicas sustentáveis

ainda está em sua infância. Em verdade, a Moda tem sido uma das áreas que mais

tem agredido o meio ambiente nos últimos anos, não apenas pelas questões de

processamento dos materiais utilizados, mas em função do consumo exagerado de

roupas e acessórios. A combinação desse consumo exagerado com a lógica do

Fast Fashion (BERLIM, 2012) – no qual a data de validade dos produtos é curta e

as relações dos indivíduos com os artigos são superficiais – está no centro desses

desafios.

Cada vez mais consciente, contudo, dos resultados do consumo desenfreado,

a sociedade tem se tornado crescentemente exigente quanto a soluções e

inovações de produtos e práticas que respeitem o meio ambiente. Para chegar a

um consumo de fato sustentável, no entanto, é necessária uma mudança extrema

nas práticas de produção e consumo vigentes. Conforme Manzini (2005, p. 98), “a

sustentabilidade exige inovações sistêmicas radicais baseadas numa redução

drástica do consumo e numa nova ideia de bem estar, cujos valores regenerem o

tecido social, econômico e ambiental”.

O desafio, por conseguinte, é crescer, em termos de desenvolvimento, ao

mesmo tempo incrementando questões relacionadas à sustentabilidade ambiental

e social, e gerando uma nova consciência a respeito do consumo de bens e

produtos. Em um contexto global de preocupação com os recursos naturais do

planeta, e influenciadas pelos esforços liderados pela Organização das Nações

Unidas (ONU), foram criadas várias instituições, organizados eventos

internacionais e produzidos documentos passíveis de preservar os valores

reputados como prevalentes conjunto de toda a humanidade (MOURA, 2013), entre

eles a Lei de Resíduos Sólidos. No Brasil, essa lei visa ao gerenciamento desses

resquícios por meio de etapas articuladas entre si, desde a não geração de novo

resíduo até a disposição final dos mesmos, com ações compatíveis entre governo,

iniciativa privada e consumidores mais conscientes quanto ao excessivo consumo.

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Nesse contexto, pode-se afirmar que as iniciativas expostas acima

influenciam direta e indiretamente as empresas e governos na geração e produção

de matérias-primas e resíduos. Essas iniciativas auxiliaram os consumidores a se

tornarem mais conscientes com relação ao consumo ecologicamente correto e

amplamente sustentável. Assim, rotineiramente, percebe-se, nas indústrias, uma

preocupação quanto às formas de minimizar os impactos ambientais, em qualquer

segmento, além de outras questões relativa à sustentabilidade.

A presente dissertação tem como tema a Sustentabilidade Ampla na Indústria

de Acessórios de Moda e, nele, o papel e contribuição do Design, através de

abordagens projetuais sistemáticas, considerando o Ciclo de Vida Produto-Serviço.

Nessa perspectiva, o termo ampla refere-se às dimensões: ambiental, econômica e

social. O embasamento teórico, a seguir, apresenta conceitos pesquisados para o

desenvolvimento da proposta, incluindo: Sustentabilidade, Produção, Processos e

abordagens projetuais de Design para a Sustentabilidade na Moda, Ecodesign,

Ciclo de Vida de Produtos e Processos de curtentes de couro.

1.1 MOTIVAÇÃO

A partir do esgotamento do modelo atual de desenvolvimento em que as

sociedades globais estão inseridas, que tanto não sustentável como agressivo ao

meio ambiente, hoje são observados intensos processos de transformações em

todas as esferas social, cultural, econômica, política e ambiental.

Diferentes conflitos de interesse colidem na busca por um pacto mais

adequado à preservação do meio ambiente, em equilíbrio com o desenvolvimento

da sociedade. No atual sistema econômico, a apropriação dos recursos naturais

ocorre sem preocupação, fomentando a pobreza e desigualdade social no

hemisfério sul, ao mesmo tempo em que gera riqueza para o hemisfério norte.

Nesse cenário de desenvolvimento não sustentável e de frequentes crises

ambientais, um número cada vez maior de organizações reconhece a necessidade

de assumir um papel mais decisivo frente à sociedade, não apenas visando ao

lucro e à riqueza, mas tendo mais responsabilidade com a mesma em seu modo de

atuação.

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No mundo corporativo, empresas de Design Sustentável têm sido

provocadas por essa nova realidade a desenvolver produtos inovadores que

estejam de acordo com esta visão de mundo renovada, e, com isso, assumam um

papel de maior relevância.

Diversos autores – como Williamson, Radford e Bennetts (2003), Maxwell,

Sheate e Van Der Volst (2006), OECD (Organization for Economic Cooperation and

Development - 2009) e Ramani et al.(2010) – das mais variadas áreas do

conhecimento, estão refletindo sobre metodologias de projeto voltadas para a

sustentabilidade ampla, não somente sob o ponto de vista teórico e conceitual, mas

também prático.

O Design, também, através de autores como Manzini e Vezzoli (2002),

Manzini (2006), Brow (2009), Birkeland (2002), Charter e Clark (2007), tem

buscado contribuir para a consolidação de uma abordagem de projeto sistêmica.

Em Ramani et. al. (2010) são apresentadas diversas ferramentas disponíveis para

ampliar aspectos de sustentabilidade ambiental e social relacionadas aos projetos

de design voltados para a indústria. Ainda nesse artigo são apontadas formas para

incrementar as questões de sustentabilidade durante os projetos sob

responsabilidade de designers que atuam no setor. Contudo, segue a necessidade

de se inovar nos modelos conceituais, processos e ferramentas de apoio, os quais

estejam mais sintonizados com a atividade profissional do Design inserida no

contexto do mercado atual. Adicionalmente, permanece a necessidade de adequar

tais modelos às áreas de especialização específica do Design, tais como do Design

de Moda e Acessórios em couro.

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1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

O objetivo do presente trabalho é sistematizar abordagens projetuais do

design para as sustentabilidades, considerando as esferas ambiental, social e

econômica, bem como os Ciclos de Vida de produtos de moda, em específico os

acessórios de couro.

1.2.2 Objetivos Específicos

Para atingir o objetivo geral do projeto, os seguintes objetivos específicos

deverão ser atendidos ao longo do desenvolvimento do trabalho:

· investigar aspectos do (1) Ciclos de Vida de Produto-Serviço e (2)

sustentabilidade, enfatizando aspectos teórico-conceituais;

· pesquisar as abordagens projetuais, metodologias, métodos e técnicas de

avaliação de ciclo de vida de produtos que possam ser aplicadas e

pertinentes nas especificidades da moda e acessórios em couro;

· examinar como as dimensões da sustentabilidade (ambiental, econômica e

social) são abordadas pelo Design e seus impactos na sociedade;

· realizar um Estudo de Caso de uma empresa de Design de Acessórios de

Moda; bem como contribuir com possíveis melhorias.

1.3 Justificativa

O desenvolvimento do tema deste projeto perante o Curso de Mestrado em

Design da UniRitter deve-se ao interesse na área do Design de Moda, assim como

na investigação de possibilidades para remodelar organizações, a fim de promover

um consumo mais consciente e não agressivo ao meio ambiente. Este tema está

integrado ao Design Estratégico como forma de repensar, inovar e agregar valor

aos processos produto-serviço de uma organização.

Em um sentido mais restrito, o âmbito social relaciona-se às inter-relações

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humanas. Em um sentido mais amplo e mais normativo, o âmbito social pede uma

majoração da “equidade e da coesão social”, conforme Vezzoli (2010, p.27). Neste

contexto, a sustentabilidade pode ser vista como a grande incentivadora de

mudanças comportamentais, bem como de ações que visam a melhorar as

condições social, econômica e ambiental.

Dessa maneira, aplicando as ferramentas e os conceitos de Design

Thinking, Design Estratégico e Design de Ciclo de Vida para a sustentabilidade e

ainda revendo as questões relacionadas ao consumo da área de Moda, os

designers integram conceitos de sustentabilidade para desenvolver seus produtos.

É o papel dos designers entender e trabalhar esses conceitos sociais e das demais

esferas da sustentabilidade no desenvolvimento de produtos. Os designers estão

imersos nessa cultura material, e se baseiam em seus pensamentos. Designers

têm a capacidade tanto de "ler" e "escrever" nesta cultura; quanto eles entendem

que os objetos são mensagens a comunicar, e eles podem criar novos objetos que

incorporam novas mensagens (CROSS, 2006).

1.4 Metodologia

A pesquisa, de natureza predominantemente qualitativa, se desenvolve

através de um Estudo de Caso de uma empresa de acessórios de moda. Nesse

sentido combina revisão bibliográfica, entrevista semiestruturada e Workshop de

Cocriação. Como desdobramento, os dados coletados foram analisados de acordo

com a Teoria Fundamentada nos Dados (TFD), ou Grounded Theory (1967, 1995).

Como resultado, pretendeu-se sistematizar abordagens projetuais do Design para

sustentabilidade ampla, com foco na indústria de acessórios de moda em couro

bem como gerar novos conceitos e apresentar novas propostas para ampliação da

organização e de melhorias em seus processos.

Nesse caso, a metodologia qualitativa é a que melhor se aplica aos objetivos

deste trabalho, uma vez que permite ao pesquisador a inserção no “cenário

natural”, em que está situado o seu objeto de estudo. A pesquisa qualitativa

condiciona o pesquisador a visitar e estudar o ambiente do pesquisado. Isso lhe

permite desenvolver um nível de detalhes maior sobre o objeto de pesquisa, além

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do fato de envolver-se nas experiências reais do pesquisado, sejam pessoas ou

lugares (CRESWELL, 2010).

Para o autor,

A pesquisa qualitativa usa métodos múltiplos que são interativos e humanísticos. Os métodos estão crescendo e cada vez mais envolvem participação ativa dos participantes e sensibilidade aos participantes do estudo. Os pesquisadores qualitativos buscam o envolvimento dos participantes na coleta de dados e tentam estabelecer harmonia e credibilidade com as pessoas no estudo. Eles não perturbam o local mais do que o necessário. Além disso, os métodos reais de coleta de dados, tradicionalmente baseados em observações abertas, entrevistas e documentos, agora incluem um vasto leque de materiais, como sons, e-mails, álbum de recortes, e outras formas emergentes (CRESWELL, 2010, p.186).

Dessa maneira, além de possibilitar uma descrição completa do cenário e dos

participantes oriundos do processo de coleta de dados, a pesquisa qualitativa

permite uma interpretação e análise destes dados, de forma que sejam

identificados temas e categorias, muitas vezes peculiares.

Para tanto, as técnicas qualitativas utilizadas para a realização deste trabalho

são: a observação contextual da referida empresa com os respectivos empresários

e funcionários da organização; entrevistas semiestruturadas com esses

colaboradores, bem como com alguns clientes e, por fim, a elaboração de um

Workshop de Cocriação envolvendo empresários, funcionários, clientes e

especialistas.

Baseado nos Estudos de Caso e de acordo com Creswell (2010), o

pesquisador explora profundamente um problema, seja referente a um processo ou

pessoas. Os casos estudados são reunidos por tempo e atividade e o investigador

faz a coleta de dados durante um considerável período de tempo, reunindo

informações detalhadas por meio de variados instrumentos de coleta.

O papel do pesquisador é contextualizar e não participar, uma vez que sua

participação ocorrerá em meio ao Workshop de Cocriação, o qual envolve alguns

de seus atores (funcionários, empresários, clientes, fornecedores), orientando a

atividade. Por meio desse Workshop se pretendeu o cruzamento instantâneo de

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informações e dados levantados durante a observação. As entrevistas foram

semiestruturadas com perguntas-chave e face a face com os participantes, tendo o

objetivo de levantar as opiniões desses colaboradores sobre os processos que

interessam a este estudo.

Esperou-se sistematizar propostas de intervenção no modelo atual de Ciclo

de Vida Produto-Serviço, de forma a ampliar as questões relacionadas à

sustentabilidade econômica, ambiental e social da empresa em questão, para além

do conceito com o qual a empresa trabalhava, ou seja, limitado ao aspecto

ambiental, conforme demonstrado na figura 01.

Figura 01 – Esquema ilustrativo da metodologia do presente trabalho

Fonte: Elaborado pela autora, 2014

O levantamento dos dados na referida empresa foi organizado conforme

detalhado na Tabela 01.

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Tabela 01 - Procedimentos para coleta de dados de pesquisa, envolvendo a

participação de empresários, funcionários, fornecedores e clientes de empresa de

Design de Acessórios, assim como a participação de especialistas.

Tabela 01 - Procedimentos para Coleta de Dados de Pesquisa

MÉTODO OU

TÉCNICA

TIPO E NO DE

PARTICIPANTES

DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE E DA

FORMA DE DOCUMENTAÇÃO DOS

DADOS

LOCAL E DURAÇÃO

1. Observação contextual

a. Empresários (02) b. Funcionários (06)

Observação das atividades dos participantes (1a) e (1b), com mínima interferência do pesquisador nas mesmas (apenas para desambiguar ações e, quando necessário, questionar a motivação por detrás das mesmas), em um dia típico de trabalho, no ambiente da empresa, documentado através de fotos/vídeos e anotações

Ambiente de trabalho da empresa participante; durante o período de 01 dia de trabalho pré-estabelecido, no horário de acordo com a conveniência e disponibilidade de todos os participantes.

2. Entrevista Contextual

Semiestruturada

a. Empresários (02) b. Funcionários (06) c. Clientes (6)

Entrevista individual com os participantes, no ambiente da empresa, documentada através de fotos/vídeos e anotações, estruturada de acordo com os seguintes temas, conforme tipo de participante: (2a) Histórico profissional e da empresa, missão e visão, experiências pessoais e profissionais relevantes, semana típica da empresa, atores envolvidos, perfil das empresas competidoras, perfil dos clientes, portfólio atual dos serviços e produtos, processo de criação e planejamento da coleção, influência de referências bibliográficas e outras na criação, valor e significado da sustentabilidade, valores e questões ambientais/ sociais/ econômicas/ institucionais, processo de inovação, plano de comunicação, plano de marketing, logística, papel do designer na criação dos produtos e serviços, ciclo de Vida dos produtos atuais, desde etapa da Pré-Produção,

Produção, Distribuição, Uso do

Ambiente de trabalho da empresa participante; com duração de até 2 horas, no horário de expediente ou outro horário de preferência de cada participante, de acordo com a conveniência e disponibilidade de cada uma das partes envolvidas.

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Tabela 01 - Procedimentos para coleta de dados de pesquisa, envolvendo a participação de empresários, funcionários, fornecedores e clientes de empresa de Design de Acessórios, assim como a participação de especialistas.

Tabela 01 - Procedimentos para Coleta de Dados de Pesquisa

MÉTODO OU TÉCNICA

TIPO E NO DE PARTICIPANTES

DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE E DA FORMA DE DOCUMENTAÇÃO DOS DADOS

LOCAL E DURAÇÃO

Produto até o Descarte. (2b) Cargo, função, perfil profissional, perfil dos clientes da empresa, tipo de atendimento e serviços, participação na criação dos produtos/modelos/conceitos, valor e significado da sustentabilidade, valores e questões ambientais/sociais/econômicas/institucionais; ciclo de Vida dos produtos atuais, desde etapa da Pré-Produção, Produção, Distribuição, Uso do Produto até o Descarte. (2c) Perfil do usuário, ciclo de Vida do produto adquirido, valor do produto para o usuário, valor e significado da sustentabilidade, valores e questões ambientais/sociais/econômicas/institucionais, diário de consumo, motivações de consumo, hábitos de consumo, empresas preferenciais.

3. Workshop de Cocriação

a. Empresários (01) b.Funcionários (02) c. Clientes (02) d.Especialistas (04)

Atividade de brainstorming em grupo, precedida pela apresentação da síntese dos dados de pesquisa oriundos da Revisão Bibliográfica, da Observação Contextual e das Entrevistas Semiestruturadas, apresentou-se critérios norteadores e desafios - envolvendo participantes do tipo (3a), (3b), (3c) e (3d), com foco na sustentabilidades dos produtos, serviços e negócio da empresa participante. Como a empresa náo forncedeu o contato dos fornecedores, optou-se em convidar Especialistas do setor coureiro, para possíveis informações sobre a matéria-prima e participou convidados de diferentes áreas.

Ambiente de trabalho da empresa participante; com duração de até 3 horas, no horário de expediente ou outro horário de preferência de todos participantes, de acordo com a conveniência e disponibilidade das partes envolvidas.

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Com o propósito de aplicar as entrevistas e estudar a empresa, a próxima

etapa consistiu na submissão do projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).

Os documentos encaminhados foram: projeto detalhado; termo de consentimento

livre e esclarecido; folha de rosto; solicitação de autorização para pesquisa em

empresa; termo de autorização de pesquisa em empresa com sócios e funcionários

previamente assinadas e em papel timbrado; questionário para sócios e/ou

funcionários. O presente trabalho teve aprovação do CEP.

Na fase final, os dados coletados foram analisados e sistematizados,

apresentando proposta para a aplicação das ações sustentáveis, empregando a

visão do Design Estratégico para a área de produção de acessórios de moda,

conforme Figura 02.

Figura 02 - Etapas para o Design Estratégico para o trabalho desenvolvido.

Fonte: Elaborado pela autora, 2014

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O cronograma da presente pesquisa está ilustrado na Figura 03, que detalha

as etapas de projeto e o mês de execução de cada uma delas, nos anos de 2014 e

2015.

Figura 03– Cronograma do trabalho desenvolvido

Fonte: Elaborado pela autora, 2014.

1.5 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

A presente dissertação está organizada em cinco capítulos. Primeiramente, a

introdução contendo tema, problema e oportunidade, objetivos geral e específicos,

motivação, justificativa e metodologia.

No capítulo dois, é apresentado o referencial teórico, em que são discutidos e

sistematizados os conceitos empregados para o desenvolvimento do trabalho. Ele

contém a revisão da literatura, e aborda os aspectos relacionados ao Design,

sustentabilidade, produção e processo de design para as sustentabilidade.

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O capítulo três aborda o Estudo de Caso de empresa de Ecodesign de

acessórios de moda, com base em restos de couro, visando à análise e proposição

de transformações para a sustentabilidade ambiental, social e econômica. Além de

constar o histórico da empresa, inclui os dados coletados durante as entrevistas

contextuais com empresários, funcionários, e clientes e, por fim, o Workshop de

Cocriação com empresários, funcionários, clientes e especialistas.

No capítulo quatro, é apresentada a análise preliminar de resultados e os

processos de transformação que se esperavam alcançar após o desenvolvimento

do presente trabalho, enfatizando as abordagens do Ciclo de Vida de Produto-

Serviço de acessórios de moda para a sustentabilidade e uma possível

contribuição em direção a uma metodologia para análise e projeção da

sustentabilidade na indústria da moda. Por fim, é apresentado um cenário para a

sustentabilidade e possíveis sistematizações.

No capítulo cinco são apresentadas as considerações finais e destacadas as

principais contribuições, as limitações e as atividades futuras. Nesse capítulo

também são indicadas possíveis melhorias para o desenvolvimento do projeto. Na

sequência, seguem as referências bibliográficas e os anexos necessários para a

compreensão do trabalho.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 DESIGN E SUSTENTABILIDADE - ASPECTOS TEÓRICOS

A palavra 'design' é um substantivo e um verbo, e pode se referir ao produto

final, ou ao processo. Lawson (2005) descreve o termo como um processo.

Preocupado com o modo de funcionamento desse processo e de que forma é

aprendido e realizado por profissionais e especialistas da área, o autor menciona

que há processos comuns, que podem variar tanto entre domínios quanto entre os

indivíduos. Por exemplo, um engenheiro estrutural pode descrever um design para

o processo de cálculo de dimensões para uma viga em um prédio.

Trata-se de um processo praticamente mecânico, em que são aplicadas

várias fórmulas matemáticas e inseridos valores para testar as diferentes cargas

conhecidas sobre a viga e coletar os resultados. Nesse contexto, é perfeitamente

compreensível que um engenheiro faça uso da palavra 'design', uma vez que o

referido processo é bastante diferente da tarefa de 'análise', na qual as cargas são

devidamente determinadas.

No entanto, um Designer de Moda responsável pela criação de uma nova

coleção pode estar ligeiramente intrigado com o uso feito pelo engenheiro da

palavra 'design'. O processo do engenheiro parece ser relativamente preciso,

sistemático e até mesmo mecânico, enquanto no Design de Moda parece ser mais

imaginativo, imprevisível e espontâneo. O engenheiro sabe mais ou menos o que é

necessário, desde o início. O conhecimento do engenheiro é muito mais

determinado do que o conhecimento que o Designer de Moda, no caso descrito.

A coleção deve atrair a atenção e vender bem e provavelmente, deverá

aumentar a reputação da empresa de Design. No entanto, isso está muito menos

relacionado à natureza do produto final do que ao processo de concepção. A Moda

não é somente a genialidade e a capacidade inventiva de um criador. A Moda é

uma importante área de produção e expressão da cultura contemporânea que

apresenta reflexos e referências dos costumes da sociedade.

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A moda baseia-se em precisos parâmetros de gostos e consumos, em sofisticados procedimentos e estratégias empresariais, comerciais e de imagem, em profundo conhecimento das transformações e das tendências culturais e sociais em curso (SORCINELLI, 2008, p.13).

Portanto, o Design pode ser considerado como um processo. Ou seja, pode

ser considerado como uma atividade em constante desenvolvimento, e não

apenas os resultados oriundos desta atividade. No presente trabalho, o Design está

relacionado ao processo de produção.

Outro conceito importante é a relação do Design com a inovação, dado que

ele é frequentemente apontado como parte importante do processo de inovação.

Segundo o documento da Comissão Europeia sobre Design e Inovação

(COMMISSION, 2009), as organizações orientadas pelo Design (Design-driven

Organizations) são mais inovadoras do que as outras. Design é descrito como uma

abordagem holística que permite uma série de considerações, e não somente a

questão estética e visual. Isso inclui: a funcionalidade, a ergonomia, a usabilidade,

a acessibilidade, a segurança do produto, a sustentabilidade, o custo e outros

fatores intangíveis, tais como a marca e a cultura. Ainda no referido documento,

afirma-se que o Design pode e deve ser empregado não somente no

desenvolvimento do produto, mas no que tange às organizações e o seus

processos de desenvolvimento de produtos, nas suas estratégias como

organização, visando não somente as questões econômicas, mas vislumbrando o

bem social.

O Design está relacionado aos produtos, serviços, sistemas, ambientes e

comunicações. Ainda que muitos designers atuem na indústria, lidando com

produtos e projetando embalagens, o Design também deve ser estendido aos

serviços, tanto públicos quanto privados. Nesse sentido, Commission (2009) evoca

a imaginação do leitor, sugerindo que visualize o designer projetando estratégias

de atendimento urbano para as pessoas com deficiência. O documento relata que

tal atuação é pertinente, uma vez que a maioria das cidades não tem infraestrutura

para o bem estar dessas pessoas, o que as torna excluídas ou limitadas em suas

atividades, visto que não houve uma etapa de pensar a questão urbana para

atendê-las. Em consequência, é necessário promover estratégias para melhorar a

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qualidade de vida e aumentar a autonomia desse grupo de usuários.

Todavia, conforme documento da Commission (2009), o Design é, por

natureza, centrado no usuário. A inovação orientada para o Design pode ser

graficamente representada como um sistema que coloca o usuário no centro, mas

está aberto a influências sociais, tal como ilustrado na Figura 04. Ele atua como

uma ponte entre o processo de desenvolvimento do produto e os requisitos dos

usuários, e entre o processo de desenvolvimento de produtos e as necessidades

da sociedade.

Figura 04 - Modelo de inovação em Design centrado no usuário

Fonte: Adaptado de Commission, 2009.

Uma pergunta relevante é: como o Design pode contribuir para o

desenvolvimento estratégico da organização? Nesse caso, o Design precisa ter um

papel mais abrangente do que apenas ser aplicado à área de comunicação, de

gestão da marca, ou de identidade visual da empresa.

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O Design Estratégico apresenta uma visão sistêmica. Nos ensinamentos de

Reyes e Borba (2007) apud Pastori et al (2009), o Design Estratégico atua como

espaço de agregação de valor, com vistas ao aumento de competitividade das

organizações, ou seja, com foco na dimensão estratégica.

A inovação é importante não somente sob o ponto de vista do produto mas,

acima de tudo, do produto elaborado a partir de uma cadeia de valor que considera

as diferentes etapas. A expressão ‘Sistema Produto-Serviço’ amplia o conceito ao

aliar os serviços e a experiência ao processo de sua utilização. A visão estratégica

potencializa o sistema, que considera variáveis internas e externas à organização e

ao seu contexto na viabilização da atividade do Design.

O Design como estratégia para os negócios é uma abordagem

contemporânea e, portanto, seus conceitos ainda estão sendo formulados. Em

Castro e Cardoso (2010), são apresentados conceitos a respeito do que significa a

estratégia para a visão do Design. Para as autoras, esses conceitos estão

relacionados aos planejamentos estratégicos empresariais, dependendo do

contexto em que se inserem, mas que também abordam questões operacionais.

Assim, que apontam um enfoque no desenvolvimento de produtos; em seguida,

outro, no qual são incorporadas as questões referentes ao ambiente da empresa –

interno e externo. Por fim, um direcionamento em que são abordadas temáticas

mais amplas, como as relativas às mudanças na sociedade e no meio ambiente.

Em consequência, não existe uma relação das etapas que são necessárias para o

desenvolvimento do Design Estratégico em uma organização, mas existem

algumas características norteadoras e práticas comumente empregadas.

Na teoria

Na visão de Burkhardt (2009), o Design Estratégico está relacionado às

atividades do projeto, considerando as interações de produtos e seus processos,

com todo o sistema do usuário a quem se destina. O autor apresenta três conceitos

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para ilustrar a abrangência do Design Estratégico. O design técnico1 como um

processo detalhado, familiar a todos os designers. Esse conceito diz respeito ao

design de elementos individuais do produto. É o papel de responsabilidade do

designer-chefe de uma unidade.

O design tático2, por sua vez, é focado na estrutura interna global do produto.

Tipicamente envolve a especificação de princípios de Design, selecionadas em

função das pesquisas anteriores, a seleção de metas e desempenho específicos,

incluindo possibilidades de progressão e, a especificação de sequências e

conexões entre materiais, equilibrando a coerência linear entre conceitos e

contextos e, permitindo investigações abertas à experiência. O design tático é uma

responsabilidade dos líderes da equipe de design e designers líderes, que atuam

com os seus colegas da equipe de projeto.

O Design Estratégico preocupa-se com a estrutura geral do conjunto de

produtos e como ele vai se relacionar com o sistema do usuário. Normalmente, ele

não envolve apenas os consumidores finais, mas todas as principais comunidades

envolvidas, que vão afetar as decisões sobre o quadro no qual os usuários atuam.

Envolve atividade s como: identificar uma oportunidade de melhoria; selecionar um

conjunto de metas para melhoria; projetar a estrutura geral de um conjunto de

ferramentas para auxiliá-los; escolher ou projetar um modelo para mudança,

juntamente com as etapas, ritmo de mudança e tempo de execução; identificar os

recursos que são necessários para realização de um trabalho (quanto esforço de

design, experimentação, suporte e de que tipos de implementação são

necessários) e os compromissos que são aceitáveis dentro do projeto; reconhecer

e questionar as restrições de estratégia do cliente (metas de desempenho;

alinhamento; modelo de mudança); e aconselhar o cliente sobre as prováveis

implicações de suas várias decisões, incluindo as suas prováveis consequências e

incertezas não intencionais - e sugerindo mudanças.

1 Design técnico é o processo detalhado com que qualquer designer é familiar, centrado na criação de elementos individuais; é focado em os usuários finais e seu meio ambiente. Citada em CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do design. São Paulo: Blucher, 2008. 2 Design tático é focado sobre a estrutura interna global do produto (por exemplo, conjunto de materiais de ensino ao longo de um ano letivo; a avaliação de um ano; um desenvolvimento profissional). Citada em CARDOSO, Rafael. Uma introdução a história do design. São Paulo: Blucher, 2008.

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Além disso, o Design Estratégico é uma responsabilidade da equipe de

liderança de um projeto. Geralmente se negocia com o cliente, como o financiador

e muitas vezes com órgãos de governo, ou com uma agência não governamental,

ou ainda com uma fundação.

Criatividade gera ideias e permite a exploração de inovações dentro do contexto de projeto, o Design de uma maneira geral permite conectar os dois, através da sua aplicação em diversas áreas de atuação, moldando-os e remodelando-os para gerar propostas práticas e atrativas para os clientes ou para os usuários de produtos e processos (BURKHARDT, 2009, p.34).

O Design, ao longo de muitas décadas, tem como missão atender às

necessidades humanas. Ele é desenvolvido para seus clientes e usuários, e, neste

contexto, são empregados múltiplos conceitos e práticas para viabilizar o produto,

considerando a sua estética e a sua funcionalidade em atender às necessidades de

seus clientes ou usuários. A expansão desses conceitos aplicados às organizações

e suas estratégias pode gerar novos modelos de negócios, sendo capaz de

influenciar na cultura organizacional, e no desenvolvimento ético da organização,

pois agrega valor ao comprometimento com o humano e com o social.

Na prática

O presente trabalho segue a visão sistêmica do Design Estratégico, ou seja,

uma visão que apresenta o todo a ser desenvolvido. Pastori et al (2009) explica

que para definir quais etapas deverão ser empregadas no desenvolvimento, são

investigadas algumas práticas sobre o tema voltadas às organizações ou práticas

aplicadas em comunidades, como inovação social. Uma vez que não existe um

consenso a respeito do assunto, destacam-se algumas dessas práticas a seguir.

Na obra de Debiagi (2012), são apresentadas as etapas do Design

Estratégico para a criação de um centro de Design para uma empresa de indústria

moveleira do Estado do Rio Grande do Sul. As etapas são divididas em dois

grupos: metaprojeto e projeto. A etapa de metaprojeto, que é constituída das

subetapas precedentes, abriga a definição do problema através do design brief, no

qual é feito o levantamento das informações através de pesquisas, apontando

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cenários e por meio da síntese do problema, apresentando uma visão do projeto.

Por outro lado, as etapas do projeto se concentram na solução para o problema

central, partindo do conceito de Design em direção à prototipação e colocação do

produto no mercado.

O processo do Design Estratégico é aplicado no desenvolvimento de sapato

de látex produzido no Acre, de acordo com a Agência de Notícias do Acre (ANE,

2014). Nesse contexto, o Design Estratégico foi aplicado como instrumento de

transformação em uma atividade promovida pelo Instituto Europeo di Design –

IED, empregando os princípios de Design com a finalidade de incrementar as

qualidades inovadoras e competitivas de uma comunidade da região.

Representantes de comunidades de cinco cidades acreanas participaram, em Rio

Branco, de um workshop para o design do sapato de látex, criado por artesãos

acreanos com a orientação dos designers, empregando como metodologia o

Design Estratégico. Além disso, esta visão permite ampliação da sustentabilidade,

na qual o papel do designer permite sua inserção a fim de propor estratégias de

inovação para “produtos verdes”, com o objetivo de criar novos mercados para

novos produtos e serviços sustentáveis.

2.1.1 Sustentabilidades e o Papel do Design

A primeira etapa do presente estudo é dedicada a entender as

sustentabilidades nas três esferas: ambiental, econômica e social e o papel do

Design no desenvolvimento de produtos e serviços. Como a área de atuação é a

Moda, concentra-se em identificar as oportunidades as quais influenciam no

impacto ambiental e social na criação e no desenvolvimento de artefatos de Moda

ao longo de todo o Ciclo de Vida do Produto. Considera-se Ciclo de Vida do

Produto, neste estudo, a manufatura do artefato dentro da empresa estudada.

Nesse sentido, um conceito se torna central para a análise: a

sustentabilidade, no sentido amplo. Segundo o Programa para o Meio Ambiente da

Organização das Nações Unidas (United Nations Environment Programme, UNEP),

criado em 1972 a fim de coordenar ações internacionais multilaterais de proteção

ao meio ambiente e de promoção ao desenvolvimento sustentável,

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“sustentabilidade é o atendimento das necessidades atuais, sem comprometer a

possibilidade de satisfação das gerações futuras” (UNEP, 2006). Esse

entendimento da Organização das Nações Unidas (ONU) atenta para o fato de se

repensar o desenvolvimento para além de questões relacionadas à produção dos

bens. Para o Programa de Meio Ambiente, a preocupação, de uma maneira geral,

diz respeito à construção de uma orientação global para um consumo sustentável.

Para tanto, são necessárias estratégias de inovação para “produtos verdes”,

com o objetivo de criar novos mercados para novos produtos e serviços

sustentáveis. Assim, em 1997 é lançado pela ONU (UNEP, 2006) o “Manual de

Ecodesign”, cujo objetivo principal era fomentar práticas sustentáveis na concepção

de “produtos verdes”.

O manual aborda a questão do desenvolvimento de produtos e oferece uma

metodologia para empresas que pretendem fabricar artefatos no conceito de

Ecodesign. A estrutura modular do manual permite à empresa adquirir capacitação

no campo do Ecodesign, e em seguida, executar o passo a passo na linha de

produção baseada em Ecodesign. Desta forma, a empresa pode internalizar o

desenvolvimento de produtos, e aprimorar seus produtos existentes (UNEP, 2006).

Em referência a esse tópico, para Manzini (2005), a sustentabilidade exige

inovações amplas baseadas em reduções profundas do consumo, além de uma

nova ideia de bem-estar social, cujos valores respeitem e incentivem os campos

social, econômico e ambiental. De acordo com o autor, o papel do designer é

fundamental, pois através da análise da quantidade de energia necessária à

produção, pode minimizar a utilização desta energia e dos materiais utilizados

durante os ciclos de Vida do produto. Ele pode projetar inclusive os ciclos

posteriores ao primeiro ciclo de utilização, o que acontece depois do seu primeiro

descarte, as possibilidades de reutilização e reciclagem, até a recuperação da

energia gasta nos processos. Desse modo, é preciso que o designer conecte

condições externas e internas que possibilitem mudança, levando em consideração

e dando voz às experiências locais que demonstrem conhecimento e sejam

capazes de inovar.

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A partir disso, houve um incremento de pesquisas na área do Design Social

(SOUZA, 2007; PEROBA, 2008). De acordo com Peroba (2008, p.40), “o Design

Social se torna uma atividade econômica que conduz ao crescimento e

desenvolvimento do local onde o projeto é realizado”. Nessa linha, Whiteley (1998)

apud Peroba (2008, p.45), discorre sobre um modelo de Design para esta

realidade, no qual se inclui nas responsabilidades do designer social, "as

responsabilidades em relação às questões ecológicas, tanto em termos de

potencial do Design para garantir a sustentabilidade ambiental, quanto em termos

do papel negativo do Design como estímulo ao sistema de valores consumistas”. A

Figura 05 apresenta, de forma esquemática, uma cronologia do papel do designer.

Figura 05 - Cronologia do papel do designer

Fonte: Elaborado pela autora, 2014.

Nesse sentido, Charter e Clark (2007) debatem sobre o Design para a

Sustentabilidade (D4S3). O autor descreve que:

O Design para a Sustentabilidade parte de uma premissa fundamental que é a “eco inovação”, processo que estimula a criação de produtos, processos, sistemas, serviços e procedimentos, intervindo em seus ciclos de Vida para um uso mínimo e racional de matérias primas, com o objetivo de satisfazer as necessidades humanas, provendo uma melhor qualidade

3 Design for Sustainability Manual – D4S (Design para Sustentabilidade) é um instrumento de avaliação para empresas e governos lideram com essas preocupações. O manual inclui conceitos de Ecodesign e, em muitas economias já estabelecidas, o D4S está ligado aos conceitos mais amplos de sustentabilidade, como sistemas produto-serviço, sistemas de inovação e outros esforços baseados no ciclo de Vida dos produtos. Citada em Vezzoli e Manzini (2008).

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de vida a todos (CHARTER E CLARK, 2007, p.54).

Esta discussão considera o Ciclo de Vida como um processo que não se

restringe somente aos bens, se estendem também aos serviços numa concepção

de “serviços verdes”. Para os autores, o caminho para a constituição de uma

cultura de consumo sustentável parte do pressuposto da orientação aos

consumidores para produtos bem como consumo sustentáveis. Para tanto, é

necessário que se executem intervenções sistêmicas (sistema-consumo) e

sistemáticas (planejamento). As intervenções sistêmicas dizem respeito ao

reconhecimento do sistema consumista não sustentável que é encontrado

atualmente para confrontá-lo com um consumo mais sustentável e criterioso. Para

esse fim, é preciso interferir nas orientações de consumo vigentes. Contudo, são

necessárias intervenções sistemáticas, ou seja, deve-se formular e executar um

planejamento estratégico que preveja de que modo demais intervenções ocorrerão,

com seus respectivos objetivos e metas.

Para Vezzoli e Manzini (2008, p.59), o papel do Design pode ser resumido de

uma maneira geral, como a atividade responsável por tornar algo

tecnologicamente viável e ecologicamente correto, e que deve refletir a origem de

novas propostas socioculturais significativas. Para ilustrar, os autores indicam

quatro níveis fundamentais de intervenção do papel do Design para a

transformação de produtos sustentáveis:

· Redesign ambiental para os sistemas existentes: o que implica na revisão

de materiais empregados e na análise das possíveis alternativas

considerando materiais que tenham baixo impacto ambiental e que

consumam menos energia no seu processo de fabricação. A busca por

produtos verdes inicia na concepção da matéria prima, de onde ela é

extraída, seu impacto no ecossistema bem como de seu impacto no

processo de tratamento e encaminhamento na indústria.

· Concepção de novos produtos e serviços: o que implica em rever os

produtos e promover a substituição de produtos antigos; a preocupação

com o impacto ambiental, o qual vem desde a revolução da indústria o qual

foi intensificado após a virada do século com o crescimento populacional.

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Os sistemas antigos devem ser substituídos por outros mais

ambientalmente sustentáveis.

· Projetar sistemas novos de produção-consumo (oferecendo

intrinsecamente satisfação sustentável das necessidades e desejos

humanos).

· Criação de novos cenários para o estilo de vida sustentável.

É também apontada pelos autores que essa transformação deve ter em vista

não apenas na área ambiental, mas promovendo a inovação social. Qualquer ação

que promova a ampliação dos recursos naturais e que desenvolva ações de

demandas sociais na forma do pensamento do designer deve ser dinamicamente

difundida para a população. Faz parte do papel do designer repensar o

desenvolvimento dos produtos e serviços e promover mudanças para transformar

as pessoas.

2.1.2 Do Design de Produto ao Design Sustentável

O design industrial é uma atividade criativa que visa determinar as qualidades formais de um objeto industrializado. Estas qualidades formais não são apenas os fatores externos, mas principalmente as relações funcionais e estruturais que convertem um sistema a uma unidade coerente tanto do ponto de vista dos produtos quanto do usuário (Madonado apud VERGANTI, 2009, p.24).

Neste contexto, o Design industrial dá conta de todos os aspectos do

ambiente humano, que por sua vez é condicionado pela produção industrial e

assim condicionando à transformação de produtos sustentáveis.

Em Wimmeret al. (2010) é apresentado o caminho inverso, ao invés de

explicar a sustentabilidade no desenvolvimento de produtos, os autores apontam

as características para o que não é sustentável:

· O esgotamento de recursos não renováveis.

· O consumo excede a necessidade - elevado percentual de embalagens de

alimentos gerando excesso de resíduos em países industrializados.

· Produtos ou processos que desperdiçam energia, como por exemplo, o

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consumo de stand-by de alguns equipamentos eletrônicos.

· Existem resíduos de produtos de países industrializados que são enviados

para países em desenvolvimento para uma "reciclagem" inapropriada, e

como consequência, causam danos à saúde bem como ambientais.

· Algumas empresas geram danos e riscos ambientais ou exploram

inadequadamente seus funcionários para melhorar os lucros de suas

organizações.

Para Spangenberg (2011), em termos de ciência, o desenvolvimento

sustentável requer o sincronismo entre o metassistema e seus subsistemas, que

são a natureza, a economia e a sociedade.

Como pode a Terra, os ecossistemas e as pessoas interagirem em múltipla

escala e sucessivas gerações em direção a beneficiar e sustentar a todos os

envolvidos? O desenvolvimento sustentável é um conceito global e diz respeito ao

atendimento das necessidades humanas, em particular da redução de diferenças

sociais, mas respeitando os limites ambientais existentes e a preservação dos

ecossistemas.

As agressões ao planeta têm sido praticadas desde o início da Revolução

Industrial. Antes desse período, os itens necessários para as produções nas

fazendas eram encontrados em regiões próximas. Insumos e materiais necessários

eram atribuídos aos trabalhadores da região rural. A inovação dos maquinários nas

fazendas da Europa, mais precisamente na Inglaterra, gerou uma desestabilização

na estrutura natural das áreas rurais, ocasionando a migração de pessoas para

centros próximos às indústrias. As pessoas deixaram o campo para trabalhar nas

fábricas criando novos centros urbanos. Essa transformação não se deu apenas na

Inglaterra, se replicou também nos outros países industrializados de maneira

semelhante.

Os fundadores do movimento British Arts and Crafts (1850-1914), John

Ruskin e William Morris, são apontados como pioneiros em notar as agressões

ambientais promovidas pelas indústrias. O British Arts and Crafts foi um movimento

estético surgido na Inglaterra, na segunda metade do século XIX, o qual defendia o

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artesanato criativo como alternativa à mecanização e à produção em massa

imposta pelas indústrias. Pregavam o fim da distinção entre artesão e o artista. O

movimento fez frente aos avanços da indústria e pretendia empregar em móveis e

objetos o traço do artesão-artista, que mais tarde seria conhecido como designer. É

considerado por diversos historiadores como uma das raízes do modernismo no

Design Gráfico, Desenho Industrial e Arquitetura (FUAD-LUKE, 2002).

No ínicio da década de 1970, o Design, ao invés de contribuir para a

produção de novos produtos e sistemas sustentáveis, estava voltado para o

mercado, o consumo e a obsolescência planejada (PAPANEK, 1971) e na década

de 90, em decorrência da difusão do conceito de sustentabilidade, a prática do

Design Sustentável começou a ser difundida no mundo, expandindo o enfoque

predominantemente ambiental, ilustrada na figura 06.

A Revolução Industrial também é considerada um marco que desencadeou as

transformações severas no paradigma de consumo. Aliado a esse fator, está a

explosão demográfica, que passou de 1 bilhão de habitantes na Terra para 6

bilhões na virada dos séculos XX e XXI. Segundo a ONU, estima-se uma

Figura 06 - Cronologia do Design Sustentável

Fonte: Elaborada pela autora, 2014.

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população mundial de 7.125 bilhões, dados de 2013. Essa combinação de

elevação de consumo e explosão demográfica levou o planeta a uma crise

ambiental, deflagrada após as grandes Guerras Mundiais. Com isso, cresceram as

preocupações tanto ambientais quanto sociais, gerando movimentos mundiais para

rever o desenvolvimento industrial, social e econômico, sobretudo preservando os

recursos naturais disponíveis.

Na busca do melhor compromisso, o criador seleciona e articula soluções sobre todo o ciclo de Vida do produto, integrando o conjunto dos impactos ambientais O Ecodesign é uma abordagem global que exige uma nova maneira de conceber. Primeiramente, prevendo-se o futuro do produto para reduzir o impacto ambiental por todo o ciclo de Vida: fabricação, uso, fim de Vida (KAZAZIAN, 2005, p.36).

O termo "Desenvolvimento Sustentável" foi empregado pela primeira vez em

1987, no Relatório Brundtland, documento de caráter socioeconômico elaborado

para a ONU pela Comissão Mundial sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente,

descrito como: "O desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem

comprometer a satisfação das gerações futuras". Em 1992, a ONU realizou, no Rio

de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento (CNUMAD). Conhecida como a Rio 92, referenciando a cidade

que a sediou, é também conhecida como a “Cúpula da Terra” por ter mediado

acordos entre os Chefes de Estado presentes. Foram 179 países participantes que

assinaram a Agenda 21 Global, um programa de ação que constitui a mais

abrangente tentativa já realizada de promover, em escala mundial, um novo padrão

de desenvolvimento denominado “Desenvolvimento Sustentável”. O termo “Agenda

21” foi usado no sentido de intenções, desejo de mudança para esse novo modelo

de desenvolvimento para o século XXI.

A Agenda 21 pode ser definida como um instrumento de planejamento para a

construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográficas, que

concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica.

Conforme o documento existe uma ampla diferença entre os países

industrializados e os países em desenvolvimento. Ao passo que os padrões de

consumo nos países industrializados representam uma pressão elevada sobre o

ecossistema global, simultaneamente que no mundo em desenvolvimento os

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assentamentos humanos necessitam de mais matéria-prima, energia e

desenvolvimento econômico, simplesmente para superar seus problemas básicos,

tanto econômicos quanto sociais.

A diminuição da miséria mental dos desenvolvidos permitiria rapidamente, em nossa era científica, resolver o problema da miséria material dos subdesenvolvidos. Mas é justamente desse subdesenvolvimento mental que não conseguimos sair, é dele que não temos consciência.(MORIN, 2005, p.33)

A sustentabilidade pode ser compreendida como uma série de condições

sistêmicas segundo as quais, as atividades humanas não devem interferir nos

ciclos naturais de autorregulação dos ecossistemas, preservando os recursos

naturais e de capital pertencentes ao planeta. Vezzoli e Manzini (2008)

acrescentam ainda, sobre a sustentabilidade, que todos têm o mesmo direito ao

espaço ambiental, e isto representa a quantidade de energia, de água, de território

e a matéria-prima necessária à vida, à produção e ao consumo, sem superar os

próprios limites da sustentabilidade. As propostas sustentáveis devem estar

baseadas:

· Em soluções que utilizam recursos renováveis;

· Na redução do uso de recursos não renováveis (otimização);

· No descarte de resíduos centrado na renaturalização (ou decomposição

sem agressão à natureza) dos materiais;

· E na permanência de indivíduos e comunidades em seus limites de

espaços ambientais.

Nesse sentido, para Manzini e Vezzoli (2002, pg. 17), `(...) “o Ecodesign é um

modelo projetual ou de projeto (design) orientado por critérios ecológicos”,

entretanto considerando o termo longe de apresentar uma definição precisa para

seu significado. Ainda assim, os autores julgam necessário algumas etapas de

interferência do Ecodesign:

· O redesign ambiental do existente;

· O projeto de novos produtos ou serviços que substituam os atuais;

· O projeto de novos produtos-serviços intrinsicamente sustentáveis;

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· A proposta de novos cenários que correspondam ao estilo de vida

sustentável.

Acrescenta-se também, que não basta apenas considerar questões

ambientais. As condições sociais e econômicas também devem orientar propostas

que utilizam o termo sustentável. As boas ações aos ecossistemas perpetuam a

vida no planeta, e consequentemente, mantém os recursos naturais necessários

para as futuras gerações. Essa deve ser uma cultura permanente sustentada e

passada de geração em geração, para que as ações empregadas desde a Rio 92

sejam realmente efetivas do ponto de vista da perpetuação da espécie e do

planeta.

O desenvolvimento industrial nos últimos dois séculos impactou o planeta de forma contundente causando danos e ganhos à humanidade. Dos danos causados precisamos considerar a degradação do ambiente natural, a perda de biodiversidade, as mudanças climáticas, o aumento do efeito estufa, a chuva ácida, a deterioração dos solos, o desperdício, o uso leviano dos recursos naturais, o crescimento excessivo do lixo e geral e, em especial, a fome e a miséria (BERLIM, 2014,P.35).

De acordo com Naime et al. (2012), na segunda metade do século XIX, a

Europa foi marcada por uma explosão de consumo. Antes disso, as lojas ofereciam

uma pequena gama de opções, e muitas vezes o comércio era realizado pela

própria fábrica, uma vez que não existia ainda o conceito de loja. A partir de 1860,

surgiram as primeiras lojas de departamento, quando o consumo passou a se

transformar em uma atividade de lazer. Assim, o consumo do supérfluo começou a

se tornar uma espécie de desejo da sociedade. Nesse cenário, além do Design

incentivar o consumo por aspectos puramente visuais, este consumo também é

estimulado pela mídia, que se intensifica e ganha escala na era pós-moderna.

“A mesma abundância que era percebida pela maioria como sinônimo de luxo

e de progresso logo passou a ser condenada por alguns indicativos de excesso e

da decadência dos padrões de bom gosto” (CARDOSO, 2008 p.77). Dessa

maneira, começaram a se organizar movimentos reformistas envolvendo

arquitetos, designers e pintores, entre outros que começaram a disseminar a ideia

de produtos com um diferencial: o Design. O conceito de Design, no entanto, não

pode ser encarado apenas pela superficialidade, a ostentação, o luxo ou

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representante de um consumo puramente supérfluo. A importância do Design está

além da estética e da funcionalidade na produção industrial, contemplando ainda,

na modernidade, as questões ambientais.

Nesse momento, surgiu o conceito de Ecodesign, percebido de duas formas:

como Design inspirado em motivação ecológica ou como Design que se preocupa

na reinserção dos materiais a novos Ciclos de Vida de Produtos, após o

esgotamento do Ciclo de Vida de um produto individual. Em Naime et al. (2012), os

autores apresentam também um histórico bem detalhado da transformação pelo

consumo e a importância do desenvolvimento de produtos com base no Ecodesign.

O desenvolvimento de produtos, serviços e soluções de Ecodesign, em sua

concepção devem considerar todas as etapas do ciclo: desde a produção, a

distribuição e o descarte. Para Papanek (1997), o Design deve ter métodos de

construção da forma a demonstrar a elegância de uma solução através de uma

possível interação criativa de ferramentas, de materiais e de processos. Projetos de

Ecodesign devem considerar todas as seis etapas descritas a seguir, as quais são

consideradas causadoras dos impactos ambientais e requerem análise com

especial atenção desde a escolha dos materiais empregados no projeto, ou seja,

sua concepção e natureza, até o descarte final do produto.

Os designers têm a chance de criar algo novo ou de refazer algo para que fique melhor, trazendo significado e padrão a um mundo que parece arbitrário e confuso. Nós, designers, devemos ser extremamente cuidadosos com aquilo que criamos e por qual motivo criamos, estando em posição de informar e influenciar o cliente de forma ética e saudável. O design deve ser a ponte entre as necessidades humanas, a cultura e a ecologia (PAPANEK, 1995, p.29).

Um produto-serviço sustentável, em todas as esferas, deverá ser entendido e

analisado como aquele que atende às necessidades humanas, respeitando as

necessidades de outras espécies e ecossistemas, de forma a prolongar a vida na

Terra. O papel do designer é identificar de que forma pode desenvolver produtos

que sejam realmente sustentáveis. Para cada projeto de Produto-Serviço, deve

considerar materiais, Ciclo de Vida, embalagem, transporte e reaproveitamento

dentro das possibilidades de redução dos impactos ambientais bem como geração

de resíduos (figura 07) no meio ambiente. Para cada área, é possível identificar a

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forma com o qual pode ser promovido: ou no uso de materiais, ou no

prolongamento da duração dos produtos, ou na criação de um laço afetivo com os

produtos.

Figura 07 - Fluxograma geração resíduos sólidos

Fonte: Elaborada pela autora com base em Salcedo (2014).

Alguns autores na literatura apontam formas de empregar a sustentabilidade

na área de Moda e produção têxtil, as quais são analisadas nas próximas seções.

2.1.3 Do Design Social ao Design Estratégico

Incentivar uma abordagem mais ampla para a concepção de sustentabilidade

envolve o tema Design Social, brevemente abordado anteriormente. Empregar o

Design para a sustentabilidade deve fazer parte de um quadro muito maior a

respeito de desenvolvimento sustentável. Esse assunto tem tido atenção

considerável da mídia nos últimos anos devido às crises mundiais geradas com o

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aumento da população, que se manifestaram em problemas políticos de esfera

global, tais como as mudanças climáticas, a fome, a doença e a pobreza. Os

esforços para alcançar um mundo de prosperidade, igualdade, liberdade, dignidade

e paz vão continuar de forma incessante, principalmente após o ano de 2015,

citando a ONU (2014) sobre a agenda global de desenvolvimento pós-2015. Outros

movimentos têm sido referenciados sobre sustentabilidade, sobretudo preocupados

com a redução da pobreza, os quais possuem fundamentação nos conceitos já

conhecidos de sustentabilidade social relacionada à agenda de desenvolvimento

pós-2015.

Existe um consenso geral sobre a ideia de que inovação social refere-se às

inovações que foram feitas com a intenção explícita de encontrar soluções para os

problemas sociais atuais ou futuros desafios. Emprega-se aqui esse termo

pensando no processo de transformar o Ciclo de Vida da produção de uma

organização, de forma a gerar oportunidade de negócio para comunidades

próximas da mesma organização.

A participação do designer e sua intervenção transformadora - no que diz

respeito a repensar os processos de produção empregando os conceitos

anteriormente mencionados, amplia as questões de sustentabilidade para gerar

uma nova contribuição social. Essa é uma das formas de desenvolver o Design

Social. De certa forma, está associado a como desenvolver produtos, serviços e

soluções que permitam agregar valor social nas suas ações, considerando a

responsabilidade social em seu projeto e, principalmente, gerando uma

transformação social. Projetar produtos, serviços e soluções para que a vida futura

de gerações em países em desenvolvimento tenham condições mais humanas

para a sobrevivência. Acredita-se que a redução dos impactos sociais e ambientais

promova um ambiente menos desigual para estas gerações futuras em países

ainda não industrializados.

As profundas mudanças provocadas pela industrialização têm sido examinadas considerando-se o design como fenômeno social. E, por isso mesmo, uma expressão da cultura, que convoca no designer responsabilidade e Intervenção (HESKETT, 1998 ,p.23).

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De acordo com Peroba (2008, p.65), “o Design Social se torna uma atividade

econômica que conduz ao crescimento e desenvolvimento do local onde o projeto é

realizado”, onde também é desenvolvido através da criação de produtos que

auxiliam a população nestes países para facilitar o seu dia-a-dia, tais como

produtos para melhorar o transporte de água potável em comunidades de extrema

pobreza, conforme Bonoto (2014). Ou ainda, através de ações com base no

desenvolvimento do Design, ilustrada na figura 08, que permitam oportunidades

para uma determinada comunidade, caracterizando uma ação social ampla para

um grupo de pessoas, tais como ações de capacitação de artesões (AGÊNCIA,

2014).

Figura 08: Esferas e conceitos que integram o Design Social

Fonte: Adaptado pela autora, 2014.

No Brasil, destacam-se diversos projetos na área do Design Social.

Principalmente, os projetos para as comunidades carentes de oportunidades

profissionais. Existem projetos para a comunidade em que os designers atuam

como mediadores e capacitores para o desenvolvimento de um produto. Uma

forma de transferência de conhecimento do pensar do designer para um grupo de

pessoas, gerando aquilo já mencionado como comunidades criativas.

O Design voltado para a sustentabilidade deve englobar as questões de

Ecodesign bem como do Design Social, o que significa uma nova e mais ampla

visão de Design. Em Birkeland (2002, p.98) são apontadas as seguintes

características para o contexto de Design Sustentável:

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· Responsável: Redefinindo metas em torno das necessidades, com

equidade eco-social e justiça.

· Sinérgico: Criando sinergias positivas; envolvendo diferentes elementos

para criar mudanças sistêmicas.

· Contextual: Reavaliando as convenções e conceitos de Design para a

transformação social.

· Holístico: Considerando o todo e levando em consideração as partes e

suas inter-relações, tendo uma visão do Ciclo de Vida para garantir um

baixo impacto, baixo custo e obter resultados multifuncionais.

· Empoderador: Fomentando o potencial humano, a autossuficiência e a

compreensão ecológica de forma apropriada.

· Reintegrador: Integrando o mundo social e natural; recultivando um

sentimento de admiração entre os dois mundos.

· Eco-eficiente: Aumentando a economia de energia, o uso de materiais

renováveis e redução de custos.

· Criativo: Representando um novo paradigma, que transcende os limites do

pensamento tradicional do Design. Superar os limites estabelecidos.

· Visionário: Concentrando-se em visões e resultados (construir hipóteses e

cenários), conceber métodos, ferramentas e processos adequados para

desenvolvê-las.

No desenvolvimento integrado, o papel do gestor é de fundamental

importância. Esse é abordado como fonte de disseminação do conhecimento, pois

é quem comandará o processo. Sua função não se restringe em apenas dividir e

organizar as tarefas e resultados. Cabe também ao gestor conduzir a equipe em

harmonia com as atividades, bem como administrar. Esse é o papel clássico de um

gestor dentro de uma organização. Nos últimos anos, têm surgido práticas e

técnicas de Design aplicados à gestão das organizações e também como método

de soluções de problemas. Portanto, uma das formas de agregar o papel do Design

nas organizações tem sido através de áreas de especialização como o Design

Thinking, Design Estratégico, Gestão de Design e Inovação.

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Ao abordar essas demandas e a natureza das soluções que eles exigem,

torna-se evidente que, na maioria dos casos, são necessários novos modelos de

sistemas produtos-serviços mais complexos e mais contextualizados. Para

construí-los, é de crucial importância a colaboração do público envolvido, tais como

as empresas privadas, as instituições públicas, as associações de voluntários e,

direta ou indiretamente, os próprios usuários finais e a própria comunidade.

O gerenciamento através do design em uma organização deve ocorrer em etapas. A primeira delas implica em gerenciar as estratégias de design voltadas para a organização, destacando nessa fase o momento em que as iniciativas e os potenciais de design são concebidos. O foco desse primeiro contato é a identificação e a criação das condições para que os projetos de Design possam ser propostos, encomendados e promovidos (BEST, 2006, p.89).

É nessa etapa que são aplicados os conceitos de Design Thinking como visão

estratégica para a organização, identificando as oportunidades para o projeto,

interpretando as necessidades de seus clientes e olhando como o projeto de

Design pode contribuir para o negócio da empresa.

Em Mozota (2003), a autora compara o gerenciamento através do Design e o

gerenciamento pelo modelo de Taylor, indicando que a gestão tradicional é

horizontal e flexível, a qual encoraja a iniciativa individual, a independência e a

tomada de riscos. Seguindo os conceitos aplicados por designers, visa à gestão

orientada para o indivíduo ou cliente, é baseado em projeto objetivando a qualidade

por completo. Tal mudança de gestão implica em uma mudança corporativa de

comportamento e visão. Dessa forma, o gerenciamento pelo designer, implica tanto

nos aspectos de criatividade iniciativa, atenção aos detalhes e preocupação com os

pontos fortes voltados para o cliente e na maneira como os gestores podem

implantar mudanças para sustentar inovações e melhorias nos processos de

produção.

Ao integrar o que é desejável do ponto de vista humano com o que é

tecnologicamente e economicamente viável, os designers são capazes de criar os

mais variados produtos conhecidos nos dias de hoje. Debiagi (2012, p.65) afirma

que o “Design Thinking permite que as pessoas que talvez nunca tenham pensado

como designers a aplicá-los em uma diversidade de tipos de problemas”. A

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abordagem extrai a capacidade de resolver problemas de forma intuitiva,

reconhecendo padrões, construindo ideias com significado emocional e

expressando a funcionalidade através de outras mídias e símbolos que não apenas

as palavras. Segundo Brown (2009), o Design Thinking é profundamente humano

em si, e não apenas centrado no humano. Três aspectos importantes sobre essa

abordagem devem ser destacados: o cognitivo, o afetivo e o interpessoal. Entre os

aspectos cognitivos, priorizam-se três formas de pensar: o raciocínio indutivo, o

raciocínio abdutivo e o raciocínio dedutivo.

Destaca-se que o raciocínio abdutivo é empregado nesse método, porque é

capaz de criar hipóteses e utilizá-las para fazer inferências ao que é lógico, por

consequência, enfatizando o que é intuitivo. As escolas de negócios se baseiam

nos pensamentos: indutivo, que se fundamenta apenas em fatos observáveis, e

dedutivo, que está fundamentando na lógica e análise, normalmente com base em

provas anteriores (FRISENDAL, 2012).

No entanto, deveriam dar ênfase ao pensamento abdutivo, ou seja, imaginar o

que pode ser possível de se realizar. A organização Proctor and Gamble (P&G) foi

uma das pioneiras em empregar o Design Thinking como estratégia de negócios,

estabelecendo o seu Global Business Services (GBS), em uma visão ampla que

pode ser compreendida como uma cultura orientada a projetos criados dentro da

organização e responsável por algumas das ações da empresa, a citar o caso da

Gillete suave (MARTIN, 2009).

Nos ensinamentos de Frisendal (2012), citando por Brown (2009) em seu

livro, afirma que o Design não deve ser restrito a produtos físicos, podendo e

devendo ser aplicado a processos, serviços, interações de Tecnologia da

Informação e Comunicação (TIC) em geral e de forma cooperativa. O autor

apresenta como adicionar para a lista de abordagens do Design Thinking a análise

de informações de negócios. De acordo com sua pesquisa, os empresários têm

aceitado a ideia de Design Thinking como uma abordagem bem como uma

estratégia para o desenvolvimento das atividades em geral. As atividade s em geral

englobam não apenas o desenvolvimento de produto, como também prestação de

serviços, organização, modelos de negócio, bem como todo o processo de gestão

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empresarial, os quais devem ser "designed" e não apenas planejado.

Para Brown (2008), o conceito de Design Thinking pode ser obtido através do

conhecimento sobre o negócio da organização os quais são extraídos de uma série

de fontes potenciais, das quais merecem destaque:

· da cabeça das pessoas: aqui se destacam os atores envolvidos no

processo da organização, os empresários, fornecedores, funcionários,

designers e até mesmo os clientes;

· dos documentos da organização: os quais se destacam os modelos e

planos de negócios, as estratégias empregadas, as diretrizes

administrativas bem como quaisquer documentos que registrem

informações da organização;

Dentre as subcategorias apresentadas por Brown (2008), a forma

considerada mais eficaz bem como a mais produtiva e criativa, é a primeira opção.

A partir da cabeça das pessoas bem como trabalhando diretamente com os

empresários na análise e na síntese de tais etapas também se criam oportunidades

para:

· Criar uma nova consciência e "momentos de descoberta".

· Adquirir conhecimento real e atualizado sobre o que está realmente

acontecendo.

· Repensar terminologia.

· Descobrir "buracos" conceituais, contradições e erros.

· Ser criativo – ter novas ideias.

· Jogar com cenários.

· Obter a aceitação da estrutura, a terminologia, as definições e as regras de

negócios.

· E, sobretudo, agregar valor à organização.

As abordagens do Design Thinking empregadas no Estudo de Caso relativo à

presente pesquisa, se baseiam em brainstorming (esboços rápidos), na narrativa

visual e no diálogo dentre os envolvidos no processo.

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O gestor com base em Design Thinking desenvolve uma atitude que prioriza a

busca de validade e avanços no conhecimento, mesmo que essa posição coloque

o designer em desacordo com a cultura da organização. Além de dominar as

ferramentas para analisar o passado e usar essa análise para prever o futuro, o

designer desenvolve a capacidade de observação, para ver características que

outros podem perder, empregando o raciocínio baseado em hipóteses e as

confrontando com as suas direções (MARTIN, 2009). Compreende, portanto, como

uma nova abordagem de pensamento auxiliará a organização colaborativa a

construir uma vantagem competitiva através do Design Estratégico.

Para Meroni (2008), esse tema é recente e em seu texto aponta os pilares

nos quais o Design Estratégico está amparado:

· Pelos Sistemas de Produto-Serviço (PSS, em inglês Product Service

System). O enfoque no PSS com orientação para diferentes tipos de atores

sociais e de mercado aborda intenção de produzir inovação bem como

enfatiza a interpretação sistematizada do desenvolvimento sustentável, no

qual:

o o sistema de produto e serviço dá à empresa uma identidade,

distinguindo-a de seus concorrentes. É a única maneira de

realmente se diferenciar, tanto no mercado quanto na sociedade,

graças à combinação de produtos, serviços e comunicação;

o é possível dizer que a inovação social é provavelmente um dos

fatores-chave para orientar a estratégia de sistema de produto-

serviço para uma identidade de organização diferenciada;

o o valor da organização deverá crescer de acordo com o "valor" que

ela pode agregar em seu sistema de produção, produto e serviço.

Existem, pois, formas de agregar as questões sustentáveis na produção e na

organização das empresas. Conforme o estudo de caso realizado, é possível atuar

nas linhas de produção (Ciclo de Vida do Produto-Serviço), promovendo avaliações

e ações que incrementem as ações sustentáveis, desde a aquisição da matéria-

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prima até o reuso, assim como ações na linha da gestão da organização. Essas

estão mais atreladas ao desenvolvimento social das comunidades envolvidas.

Assim sendo, o Design Estratégico atende os requisitos no Estudo de Caso para o

presente trabalho, pois une o Ciclo de Vida da produção ao envolvimento das

pessoas. Desta maneira, o pensamento e mediação do designer promove a

melhoria no âmbito das questões sociais, ambientais, no modelo de negócio bem

como da organização. Como resultado, além de aplicar o modelo de

sustentabilidade, o designer agrega valor à organização e ao modelo de negócio

adotado.

2.2 PRODUÇÃO E PROCESSOS DE DESIGN VOLTADO À SUSTENTABILIDADE

As oportunidades para a concepção e a intervenção do Design em uma

organização envolvem a aproximação das unidades de negócio da mesma,

verificando de que forma ela partilha os conhecimentos e a identificação de

potenciais áreas de conexão que possam surgir a partir da análise do designer.

Dessa forma, os produtos e serviços integrados podem ser desenvolvidos

aplicando o conhecimento, as habilidades e as competências dos gestores da

empresa, de especialistas e, até mesmo dos consumidores. Em Best (2006) são

sugeridas três ferramentas para auxiliar as equipes de projeto a compreenderem as

considerações sobre os produtos e serviços das empresas dentro de uma

organização:

· O Ciclo de Vida do Produto (CVP), o qual pode ser um diagrama das

fases de vida de um produto ou serviço, desde aquisição da matéria-

prima até o seu destino final (o consumidor). Essa ferramenta pode

demonstrar o modo com o qual as vendas ocorrem de acordo com os

novos segmentos de mercado e como irá se comportar ao longo de seu

ciclo e até mesmo a sua queda como produto consumido. Esse modelo

é útil para antecipar as reações do mercado e desenvolver

mecanismos de inovação para redesign dos produtos. Auxilia também

a determinar quando deverá ser desenvolvida e lançada uma nova

versão de produtos, visando à substituição de um produto já existente.

· A matriz Ansoff desenha produtos existentes do mesmo modo que

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desenha novos produtos, a fim de concorrer contra os mercados

existentes e novos. Por meio desta matriz, as equipes de projeto

podem entender como uma organização pode aumentar sua receita por

meio da criação de novos mercados, produtos e serviços.

· A matriz Boston é utilizada em portfólios de produtos para traçar a

relação entre participação de mercado (em relação à concorrência) e

crescimento desse. Esta matriz permite que as equipes de projeto

compreendam os diferentes produtos ou serviços constantes no

portfólio da organização e os diferentes papéis que cada um

desempenha.

Para compreender e analisar o que ocorre dentro de uma organização, é

necessário entender todo o seu funcionamento, mapeando o processo de produção

e serviços dentro do sistema de produção. Por processo, entende-se que é o fluxo

integrado de materiais, desde o início até o final da produção. Em alguns pontos

desse fluxo, podem destacar pessoas e máquinas, dependendo da atividade que

está sendo analisada. Em outros pontos de análise, se pode indicar a existência do

material que é utilizado ou de que forma este material se encontra naquele

determinado momento. Do ponto de vista de operação, essa função de análise

recai sobre as pessoas e equipamentos que fazem parte da estrutura de produção.

Consequentemente, a estrutura da produção será uma rede de processos e

operações, a partir da qual é possível identificar os elementos básicos de análise

que constituem os processos e operações de um determinado produto ou serviço

(JUNICO, 2008).

Nesta pesquisa, se emprega como ferramenta o Ciclo de Vida do Produto

para identificar os aspectos de produção da empresa analisada. Em Bellgran e

Säfsten (2010) os autores afirmam que o sistema de produção deve compreender o

todo que está envolvido: materiais, pessoas, máquinas/equipamentos e

instalações. Para os autores, há redução de risco das pessoas no sistema, quando

a organização do trabalho e o ambiente de trabalho, que são partes importantes do

sistema, são desenvolvidas em paralelo com o sistema técnico de produção.

Observando o sistema de produção com uma visão holística, se torna mais fácil de

visualizar as várias fases do Ciclo de Vida, da mesma forma que as mesmas

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podem afetar uns aos outros e como os recursos devem ser empregados para

eliminar/reduzir os problemas.

Dessa maneira, é possível também aplicar este conceito bem como incluir

questões de sustentabilidade ao longo do Ciclo de Vida do Produto. Para isso,

foram pesquisados alguns autores que consideram a sustentabilidade no processo

de Design de Produtos e Design de Serviços. Existem outras ferramentas que

podem ser empregadas em uma análise inicial da “organização para a identificação

das potencialidades e pontos fracos dentro do processo de produção e Design”.

(BEST, 2006, p.30).

Essa ferramenta é igualmente utilizada para a compreensão do

posicionamento da empresa no mercado assim como o estabelecimento das forças

e fraquezas do modelo de negócio praticado pela mesma. Tal ferramenta pode,

então, ser utilizada na fase de planejamento estratégico e deve ser empregada

para o desenvolvimento de um novo Ciclo de Vida de Produto-Serviço (RIBEIRO,

2011).

2.2.1 Ciclo de Vida do Produto e do Sistema Produto-Serviço

Existem diversos modelos para Ciclos de Vida de Sistemas Produto-Serviço.

A questão da sustentabilidade nos processos de produção foi norteadora para a

escolha dos modelos aqui apresentados. Em Ribeiro (2011), existe uma vasta

referência sobre esse tema de desenvolvimento de produtos e serviços dentre

outros modelos existentes. Para a realização do presente trabalho, são

considerados dois modelos que empregam a análise da sustentabilidade: o modelo

proposto por Vezzoli e Manzini (2008) e o modelo apresentado por Maxwell e Vorst

(2003).

Uma maneira de conceber o desenvolvimento de novos produtos tendo como objetivo que, durante todas as fases de projeto, sejam consideradas as possíveis implicações ambientais ligadas às fases do próprio ciclo de Vida do produto (pré-produção, produção, distribuição, uso e descarte) buscando assim, minimizar todos os efeitos negativos possíveis (MANZINI; VEZZOLI, 2002, p.23).

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Vezzoli e Manzini (2008) iniciam seu livro com um conceito para Ecodesign.

Para os autores, Ecodesign é o Design com base em critérios ecológicos.

Manifesta-se através da expressão composta de um conjunto de atividades de

concepção, em que se asseguram as questões ecológicas como abordagem para

redesenhar seus próprios produtos. Esses conceitos não devem apenas ser

aplicados aos produtos (considerando material, forma e função), mas também

devem ser ampliados para os sistemas de produção, isto é, todos os processos de

bens, serviços e comunicação que são utilizados pelas organizações.

A consciência ambiental e suas atividades têm seguido uma rotina nos

sistemas produtivos: que vão desde os tratamentos da poluição (com políticas end-

of-pipe para a neutralização dos efeitos ambientais negativos causados pelos

produtos industriais), à intervenção em processos de produção que agravam a

poluição (uso de tecnologias limpas), e à reformulação dos produtos e/ou serviços

que tornam esses processos necessários (desenvolvimento de produtos de baixo

impacto ambiental). E por fim, a consciência ecológica tem trazido a discussão e a

reorientação do comportamento social, em busca da demanda para produtos e

serviços que, em última análise, motivam a existência desses processos e produtos

(um consumo sustentável). Tais processos fazem parte de uma transformação

industrial com perspectivas sociológicas. Em Elzen et al. (2004) e em Olsthoorn e

Wieczorek (2006), são apresentados os argumentos que definem estas

transformações sociais oriundas da transição da indústria. Nesse sentido,

destacam-se as questões relacionadas ao consumo e às questões da

sustentabilidade.

O projetista não tem a legitimidade e nem os instrumentos para obrigar (através de leis) ou para convencer (através de considerações morais) qualquer um a modificar o próprio comportamento. Deduz-se, daí, que ele só pode oferecer soluções, isto é, produtos e serviços que qualquer pessoa possa reconhecer como melhores do que os oferecidos anteriormente (MANZINI e VEZZOLI, 2008, p. 71).

Para Vezzoli e Manzini (2008), esses processos de transformação podem ser

resumidos nas seguintes atividades:

· Redesenhar os sistemas existentes sob o aspecto ambiental. Para isso,

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deve-se rever a escolha de materiais de baixo impacto e redução de

consumo de energia.

· Concepção de novos produtos e serviços, o que representa a substituição

de sistemas antigos por sistemas ambientalmente sustentáveis.

· Concepção de novos sistemas de produção-consumo, proporcionando a

sustentabilidade como prioridade.

· Criação de novos cenários para um estilo de vida sustentável, promovendo

um novo conceito social com relação aos processos de produção

associados a um estilo de vida.

O Design do Ciclo de Vida ou Life Cycle Design (LCD), proposto por Vezzoli e

Manzini (2008), tem por finalidade a redução do impacto ambiental relacionado ao

Ciclo de Vida do Produto, já que considera todas as etapas do desenvolvimento de

um produto e as suas respectivas trocas com o meio ambiente. Sendo assim, para

os autores, o desenvolvimento de um produto com características sustentáveis

deve estar associado ao LCD e o idealizador do projeto deve estar atento a todas

as etapas do Ciclo de Vida do Produto, de acordo com o esquema apresentado na

Figura 09 (VEZZOLLI e MANZINI, 2008).

Figura 09 – Esquema do Design de Ciclo de Vida de produto

Fonte: Adaptado pela autora de Vezzoli & Manzini, 2008.

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De acordo com Vezzoli (2010), no Ciclo de Vida do Produto, os processos

relativos às fases do ciclo devem ser considerados como uma unidade. Para o

autor, são analisadas cinco fases do Ciclo de Vida: (1) Pré-produção: identificação

dos recursos para suprimento; (2) Produção: processo de montagem e

acabamento; (3) Distribuição: embalagem, transporte e armazenagem; (4) Uso do

produto: como é a relação de uso do consumidor com o produto; (5) Descarte do

produto: pode ter diferentes destinos (Figura 10).

Figura 10– Esquema do Design de Ciclo de Vida de produto com respectivas fases

Fonte: Adaptado pela autora de Vezzoli & Manzini, 2008.

Na visão do o autor, é legítimo falar em um Design do Ciclo de Vida, cujo

objetivo é reduzir a utilização de matéria e energia, conforme Figura 11, assim

como o impacto de emissões ou resíduos pelos processos de cada etapa do Ciclo

de Vida do Produto. Isso ocorre porque, segundo Vezzoli (2010), os pressupostos

econômicos e ambientais de uma abordagem de desenvolvimento do Ciclo de Vida

buscam intervir na origem de forma a prevenir as emissões perigosas e reduzir o

consumo de recursos. É mais efetivo e barato prevenir os danos ao ambiente

nesse estágio de projeto do que tentar remediá-los depois que o produto já está no

mercado.

Outra proposta pesquisada foi o método Sustainable Productand Service

Development - (SPSD), ou seja, Desenvolvimento Sustentável de Produtos e

Serviços, proposto pelas autoras Maxwell e Vorst (2003). É uma abordagem que

enfatiza o Design de Produto e a sua manufatura com base na exigência de

desenvolver produtos sustentáveis. As iniciativas, principalmente através de

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Ecodesign, evoluíram para apoiar as empresas no desenvolvimento de produtos

menos poluentes. Os autores apresentam um método para orientar o comércio e a

indústria na busca do desenvolvimento de produtos e serviços sustentáveis. Esse

método é aplicado também para ser incorporado em estratégias já existentes nas

corporações, em sistemas de produção bem como na busca pelo desenvolvimento

de produtos "limpos". A Figura 11 demonstra esquematicamente o Ciclo de Vida

SPSD.

Figura 11 - Ciclo de Vida SPSD de produto-serviço

Fonte: Adaptado pela autora de Maxwell &Vorst, 2003

O objetivo do método é produzir produtos e/ou prestar serviços, que sejam

sustentáveis e, ao mesmo tempo, atingir a funcionalidade necessária, atendendo

aos requisitos dos clientes e que sejam rentáveis. Em outras palavras, produzir

satisfazendo os critérios tradicionais bem como os requisitos de sustentabilidade,

acima de tudo.

O Ciclo de Vida proposto pela segunda abordagem avalia cada estágio de

produção do produto, ou serviço, ou Sistema Produto-Serviço. Ele parte da

avaliação do requisito funcional do produto-serviço ou combinação de produto-

serviço, verificando a otimização da sustentabilidade e redução de impactos. Seja o

produto viável de se desenvolver ou mesmo o serviço ou produto-serviço, então

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parte-se para o desenvolvimento e análise das etapas do ciclo de fabricação. Esse

ciclo considera os resíduos gerados em cada etapa e o que eles retornam como

matéria-prima dentro do ciclo, idealizando o que ocorre no ecossistema. Até o final

da vida no ciclo, deve-se verificar o potencial de reuso e recuperação dos resíduos

gerados em cada etapa da produção. Esse esquema fica bem demonstrado na

Figura 11, através dos pontilhados, saindo das etapas e retornando como matéria-

prima. As questões de impacto social também devem ser consideradas em cada

etapa do ciclo de Vida. Os autores recomendam um checklist para cada etapa,

considerando os aspectos ambientais, econômicos e sociais.

Alguns exemplos de questões presentes no documento, sobre impactos

ambientais para a otimização dentro das etapas do ciclo considerando a matéria-

prima: é necessário verificar a origem da matéria-prima, eliminar ou reduzir uso de

materiais de natureza não renováveis, reduzir o uso de materiais empregados,

substituir materiais agressivos e poluentes, facilitar o reuso, a recuperação e a

reciclagem. Com relação aos impactos sociais, é preciso considerar se as

matérias-primas são extraídas ou provenientes dos países em desenvolvimento e

se recebem recursos por direito de uso. Com relação aos impactos econômicos, é

importante analisar o custo efetivo do desenvolvimento do produto, se o produto é

competitivo. E para cada etapa, existem diversas questões a serem observadas no

desenvolvimento do ciclo, visando sempre a otimização dos impactos sociais,

ambientais e econômicos. Na visão de Maxwell e Vorst (2003), esse modelo pode

ser incorporado aos sistemas de produção já existentes e alinhados às estratégias

das organizações.

Os estudos de processos para o desenvolvimento de produtos já estão

bastante difundidos em diversos trabalhos publicados que abordam o tema de

produto e serviço. Em Mello (2005), são apresentados outros modelos que

consideram o desenvolvimento dos processos nos Ciclos de Vida do sistema de

produção. Da mesma forma esses modelos padronizam estratégias para redução

do impacto ambiental durante o desenvolvimento de Design de Produtos,

enfatizando que as organizações devem implantar produtos com base no

Ecodesign. Outros autores tratam do tema de Sistema Produto-Serviço como

alternativa para os processos de transformação e como estratégia para

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reorientação das organizações (HISRSCHL et al, 2003; MONT, 2002).

Considerando que essas definições foram estabelecidas a partir do ano de

1987 e que a atividade industrial vem acontecendo de forma cada vez mais

agressiva e constante, percebe-se que pensar e agir de forma sustentável é uma

atitude recente e ainda não se estabeleceu uma ação consistente. Além disso, se

questiona-se a validade dessas definições para a sustentabilidade, uma vez que

transferem a solução do problema para as gerações futuras e não considera a

qualidade de vida atual, a qual já está comprometida pelas atitudes nocivas

(Platchek, 2003).

Diante disso, se começam a buscar alternativas que sejam coerentes com a

sustentabilidade. Por outro lado, vive-se em uma dicotomia entre ações

sustentáveis e heranças insustentáveis. De acordo com Mok, Kim e Moon (1997),

quando se começa a desmontar produtos, entra-se em conflito com o fato de

muitos deles terem sido projetados há mais de 10 anos, quando não se

considerava qualquer tipo de reuso futuro. Além da reciclagem, cabe lembrar que a

desmontagem serve também para reaproveitamento, da mesma forma que a

remanufatura.

Além de manipular produtos com projetos antigos, existem outros problemas

que dificultam a aplicação de um desenvolvimento sustentável. Para Fry (2005), o

que se emprega são tecnologias de “fim de tudo”, nas quais se procura dar um

destino aos resíduos que são considerados inevitáveis. Ou seja, os projetos são os

mesmos há anos, fazendo com que seja necessário descobrir formas de eliminar

os produtos ao invés de considerar o início do processo e modificar o projeto

desenvolvido.

Fry (2005, p.53) recomenda que se “utilize a teoria de Ecologia industrial, a

qual considera retirar o mínimo possível de recursos naturais bem como repor o

mínimo deste mesmo resíduo”. Nesta sugestão, não há a perda de material, pois

se faz a circulação dos recursos materiais e energéticos, buscando a eco-

eficiência, que é a maximização dos benefícios econômicos e ambientais enquanto

reduz os custos econômicos e ambientais simultaneamente.

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Reduzir a carga ambiental associada a todo o ciclo de Vida de um produto. Em outras palavras, a intenção é criar uma ideia sistêmica de produto, em que os inputs de materiais e de energia bem como o impacto de todas as emissões e refugos sejam reduzidos ao mínimo possível, seja em termos quantitativos ou qualitativos, ponderando assim a nocividade de seus efeitos (MANZINI e VEZZOLI, 2005, p.100).

Os referidos autores sugerem que esse fluxo de matéria seja retirado da

busca e do uso dos produtos. Para isso é necessário que as tecnologias da

informação e comunicação tenham um papel fundamental no aprimoramento de

toda a sociedade para a inserção na tecnologia industrial. Aliando as tecnologias

existentes à sustentabilidade, alguns objetivos podem ser atingidos rapidamente.

Através do uso de logística de transporte, por exemplo, é possível reduzir o uso de

combustível utilizado na distribuição de produtos, consequentemente, emitindo

menos gases poluentes na atmosfera. Além disso, a economia de combustível se

reverte em economia financeira para o distribuidor.

Muitas ações de sustentabilidade estão estritamente ligadas à economia e a

geração de lucro, tornando mais atrativo atingir determinados objetivos. Isso se

deve a metas como, a minimização de matéria-prima utilizada e a otimização dos

processos de transportes, acarretando uma economia de materiais e energia.

Assim, o Ecodesign surge para transformar os produtos, conforme visto

anteriormente na sessão 2.1.2.1, desde a concepção em direção a

sustentabilidade. Uma das indagações que podem surgir é de que forma o Design

de um produto é capaz de caracterizá-lo como um projeto sustentável.

O Design for Environment (DFE), Design para o ambiente é o Design que

prevê a sustentabilidade – o Ecodesign – e considera os seguintes conceitos

(UFRGS, 2004):

· DFA (Design for Assembly) Design para a Montagem: utiliza uma

montagem mais fácil com menor custo de manufatura, os quais reduzem

despesas e melhoram as qualidades do produto.

· DFM (Design for Manufactury) Design para Manufatura: faz uma seleção

de materiais; possui processos e projetos modulados; utiliza componentes

padronizados, multiuso de engates rápidos e montagem direcionada para

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minimização.

· DFS (Design for Service) Design para Serviço: prevê uma vida útil maior,

maior confiabilidade do produto, fácil manutenção e reparo; Design clássico

referente ao estilo e zelo do usuário. Oferece um serviço de manutenção

durante a vida útil do produto e seu redirecionamento quando necessário.

· DFD (Design for Disassembly) Design para Desmontagem: maximiza as

fontes de reciclagem e minimiza a potencialidade de poluição de produtos.

Tem um projeto facilitado de desmonte.

Para desenvolver projetos que contemplem esse caminho da

sustentabilidade, pode-se considerar o Ciclo de Vida de produtos, ou Design para o

Ciclo de Vida. Essa análise pode ser inserida no início do projeto, para desenvolver

produtos que se adaptem às premissas do caminho da sustentabilidade, seguindo

a ordem específica na Figura 12. O Ciclo de Vida de um produto envolve a pré-

produção, produção, distribuição uso e descarte. O descarte tem se tornado muito

precoce e, sendo assim, faz-se pensar no destino dos produtos.

Figura 12 – Caminho da Sustentabilidade

Fonte: Adaptado pela autora - CD-ROM UFRGS (2004).

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Independente do destino que o produto terá ao fim de sua vida, é possível

ressaltar a importância da desmontagem no caso, o DFD em qualquer um deles.

No caso um produto ser reutilizado, provavelmente irá necessitar de manutenção,

reparos, ou mesmo troca de peças. Para isso, a desmontagem deve ser possível.

Dessa forma, se um produto for adaptado em outra função que não original, a

desmontagem é fundamental. Por fim, para reciclar um produto, é necessário

realizar a separação de todos os seus materiais para que não ocorra contaminação

de um pelo outro, o qual pode dificultar ou impossibilitar a reciclagem.

Sendo assim, DFD se mostra como uma ferramenta determinante no final da

vida dos produtos. A possibilidade de separação ou não das partes possibilita ou

mesmo impede o concerto, bem como a reciclagem. Facilitar a desmontagem não

significa apenas que um produto incorpore a possibilidade de ser desmontado, mas

que esta desmontagem seja eficaz. No que tange à manutenção, um exemplo

dessa eficácia seria um cenário onde as peças a serem limpas ou removidas são

de acesso fácil e rápido. Já, para reutilização de partes, é necessário que cada

uma delas possa ser separada inteira e sem sofrer avarias neste processo,

conforme afirmam Manzini e Vezzoli (2002). Mesmo posteriormente, para a

reciclagem, é fundamental que cada material seja totalmente separado sem

contaminação de outros materiais, uma vez que a contaminação inviabiliza a

reciclagem.

Quanto à reciclagem, vale a pena mencionar que existem dois tipos, uma em

anel aberto e outra em anel fechado. Na primeira, os materiais recuperados são

utilizados, sem tratamento prévio, no lugar de outros materiais, isto é, “são

utilizados na fabricação dos mesmos produtos ou componentes do qual foram

derivados”, conforme Manzini e Vezzoli (2002, p.97). No segundo caso, os

materiais são encaminhados para um sistema-produto diferente do de origem.

[...] em nível regional e planetário, as atividade s humanas não devem interferir nos ciclos naturais em que se baseia tudo o que a resiliência do planeta permite e, ao mesmo tempo, não devem empobrecer seu capital natural, que será transmitido às gerações futuras. (MANZINI; VEZZOLI, 2005, p.27)

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Os ciclos, para serem realmente eficientes, devem ser inteiramente fechados

em si, transformando a matéria continuamente e não desperdiçando nenhum tipo

de recurso, durante as várias fases dos processos de fabricação, uso e reciclagem.

Mas isso, é importante lembrar, é absolutamente impossível de acontecer, uma vez

que toda ação gera uma reação contrária, de acordo com a lei da termodinâmica.

Este momento da reciclagem é quando acontece a transformação do material

e faz parte de um ciclo que pode se repetir diversas vezes, quando se trata de um

ciclo dito “fechado” (Figura 13). Com esse termo entende-se formas, de acordo

com as características do material e das especificações do produto que esteja

sendo produzido.

Em termos de aproveitamento material e energético, esse ciclo do tipo

fechado atende com mais eficiência aos requisitos da indústria, e dependendo do

objeto em questão e dos processos produtivos envolvidos, atende também ao

modelo de produção sustentável, que agora pode se colocar como diferencial

mercadológico na competição entre as empresas.

Figura 13 - Ciclo de anel fechado e aberto

Fonte: Adaptado pela autora de Mawwell e Vosrt (2003).

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O tipo de ciclo conhecido como “aberto” se refere àquele que, em alguma fase

do Ciclo de Vida do Produto ou embalagem ocorre um desvio, acidental ou

intencional, que o retira deste ciclo (ver Figura 13). O objeto que poderia ser

aproveitado de várias formas através dos materiais que o constituem, ou

recuperando parte da energia que se utilizou na sua conformação, acaba

esquecido, saindo do ciclo produtivo, representando uma ruptura no processo de

aproveitamento e um desperdício de recursos. Esse tipo de ciclo aberto acontece

normalmente quando os objetos são descartados de maneira inadequada ou, como

foi exemplificado, não chegam a ser definitivamente descartados, ficando por

longos períodos guardados, sem serem, de fato, utilizados ou aproveitados de

qualquer outra maneira. Os processos pelos quais os produtos passam para

chegar à reciclagem não serão aqui abordados por não serem pertinentes ao tema

abordado na dissertação.

2.2.2 Metodologias, Métodos e Técnicas do Design para Análise e Projetação

das Sustentabilidades

A ISO TR 14062 (2004), descreve os processos, ferramentas, ações que

podem ser modificáveis, bem como as revisões que podem ser empregadas nos

sistemas de produção para a incorporação de produtos voltados para o Ecodesign.

Isso inclui mudanças nos processos de gestão existentes (por exemplo, da compra

de uma cadeia de suprimentos à gestão ambiental do processo de avaliação) ou a

criação de novos processos, como retomar o processo (se necessário), análise e

avaliação ambiental, a documentação de informação ambiental, o Ciclo de Vida, a

abordagem do envolvimento dos atores envolvidos no Sistema Produto-Serviço.

Em Brandão (2007), é feita uma ampla análise das questões de

sustentabilidade relacionadas ao meio ambiente e às diferentes formas de agresão

que têm sido proporcionadas pelo homem e pelo desenvolvimento da indústria,

principalmente sob o ponto de vista ambiental.

Esta dissertação de mestrado apresenta o couro vegetal como matéria prima

sustentável e faz uma longa referência a este tema abordando as questões do

Ecodesign e demais temas relacionados à produção e uso de materiais renováveis

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na indústria, principalmente na Indústria da Moda, que é parte integrante do

presente trabalho.

O Ecodesign como processo, pode ser integrado através das normas ISO

14001(2004), bem como na ISO 9001(1987). Requisitos relacionados estão

listados nos Anexos IV e V da Directiva Ecodesign (anexo A). Ela deve ser

analisada em detalhe para determinar quais processos ambientais já estão

instalados, além dos processos normais de proteção ambiental industrial. Os

seguintes processos são geralmente instalados de forma incompleta nas empresas

e algumas abordagens sistemáticas estão faltando:

· Produtos químicos e materiais: compras, desenvolvimento, tratamento e

armazenagem, produção, substâncias perigosas, eliminação das

substâncias perigosas, liberação de substâncias perigosas, e

disponibilidade de dados necessários. Reutilização e revenda de materiais.

Verificar se é um software de produção disponível que lida com o fluxo de

materiais e se são dados diretamente prestados pelos fornecedores

necessários.

A Figura 14 apresenta o desenvolvimento de projetos de Design para a

incorporação das questões ambientais como condutora, conforme a ISO TR 14062

(2004).

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Figura 14 - Esquema para a integração de aspectos ambientais no desenvolvimento de produtos.

Fonte: adaptado pela autora com base na ISO TR 14062 apud Tese do Couro Vegetal de Brandão

(2007).

· Energia: análise do consumo, a metodologia de medição e medidas por

redução.

· Leve de volta, reciclagem e recuperação: coleção organizada (diferença

entre consumo e bens de capital), recicladores avaliados e selecionados,

clientes informados. Reutilização: componentes para reutilização

analisados. Verificação se há reutilização (também como novo) na própria

produção, renovação de produtos inteiros, revenda de componentes e

produtos, e aplicação de componentes reutilizáveis como peças de

reposição.

· Tendências: tendências Legais, novos padrões, a concorrência, a

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comparação com a própria estratégia.

· Riscos: avaliação de custo, cronograma tempo potencial, medida para o

desenvolvimento e produção.

· Inovação: busca sistemática de alternativas com elevado potencial de

redução de materiais e processos, avaliação, e introdução do processo de

inovação.

· Avaliação: de tecnologias de produção: Avaliação da sustentabilidade.

2.3 DESIGN E A SUSTENTABILIDADE NA MODA

Nos ensinamentos de Berlim (2012, p 13), “o consumo exagerado de roupas e

acessórios, bem como a lógica fastfashion fazem com que a data de validade

desses produtos seja curta e nossas relações com eles superficiais”. Observa-se

um movimento em busca de melhorias no que tange a questões sociais atreladas a

essa indústria, bem como questões voltadas ao meio ambiente.

Esse é o caso da marca Dudalina, que vem multiplicando ações sustentáveis

da fabricação ao varejo, incentivando o reuso de materiais descartados, até a

inovação social, quando faz a doação de resíduos têxteis à comunidade, ao mesmo

tempo que qualificando mão de obra e evitando os impactos que ocorrem quando

do descarte inapropriado. Identificar as possíveis ações sustentáveis no campo da

moda possibilita a reflexão a respeito da formação de profissionais que atuarão

neste cenário.

Ainda sobre esse assunto, Salcedo (2012) apresenta estudos e orientações

para os designers, em relação às questões sociais e ambientais que devem ser

consideradas para o desenvolvimento de produtos da área de Moda, desde o Ciclo

de Vida dos processos até o descarte ou reuso dos produtos. A importância de uso

e escolha de materiais e fibras que agridam menos o meio ambiente, o

desenvolvimento de peças reutilizáveis, as formas de tornar o processo da moda

menos acelerado, as agressões geradas pelos Ciclos de Vida de produção têxtil, os

impactos sobre a água e solo são abordados na obra. A Indústria da Moda e

Acessórios tem o agravante de ser atrelada ao consumo exagerado de produtos. A

cada ano lança no mercado pelo menos duas coleções (inverno e verão) para cada

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linha do vestuário.

O processamento têxtil tem grande impacto sobre a sustentabilidade. Sua

área técnica tem efeito sobre a água, a qualidade do ar, a toxicidade do solo e a

saúde das pessoas e dos ecossistemas. Fletcher e Grose (2011) afirmam que é

necessário um envolvimento maior dos designers nos processos de produção têxtil,

de forma a reduzir o impacto e os danos ambientais. A exemplo do que acontece

hoje, as questões ambientais são atacadas pela legislação e por ações

governamentais apresentando um modelo restrito de sustentabilidade baseado em

ações punitivas. O designer, hoje, tem uma proximidade muito periférica com

relação a essa questão porque se envolve muito mais no uso dos tecidos e fibras

do que no processo industrial, deixando as questões de produção para os

engenheiros têxteis.

As empresas que realmente representam um reposicionamento no mercado, em termos de tratamento dos funcionários, de relação com meio ambiente ou de ações de transformação social na comunidade não são muitas, e as que existem no Brasil ainda não desfrutam de tempo o suficiente para serem percebidas na consistência de suas relações ao longo do tempo e no reflexo do seu conjunto de crenças e valores (BERLIM, 2014,p.41).

As seguintes fases devem ser consideradas nos Ciclos de Vida de processos

de produção da área de Moda:

· A escolha de materiais: o material empregado em confecções de vestuário

e acessórios está atrelado a todo o tipo de impacto sobre a

sustentabilidade: mudanças climáticas, efeitos adversos sobre a água e

solo, poluição química; perda da biodiversidade, uso inadequado de

recursos não renováveis, efeitos negativos sobre a saúde humana, efeitos

sociais relacionados às comunidades produtoras.

Em Fletcher e Grose (2011), a maioria das inovações em sustentabilidade

podem ser agrupadas de uma forma geral, em quatro áreas interligadas:

o Interesse crescente em materiais de fontes renováveis, a citar

como exemplo, o uso de fibras têxteis de rápida renovação;

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o Materiais com nível maior de redução de insumos de produção:

água, energia e produtos químicos, resultando em fibras sintéticas

de baixo consumo de energia ou cultivo de fibras orgânicas;

o Melhores condições de trabalho na produção de fibras para

agricultores e produtores;

o Redução de desperdício na produção de materiais, gerando o

interesse em fibras biodegradáveis e recicláveis provenientes dos

fluxos de resíduos da indústria e do consumidor.

· Os processos de produção dos materiais: na área têxtil são empregados

muitos produtos químicos, uma vez que são realizados processos de

lavagem dos tecidos, empregando inúmeros produtos químicos em

tingimentos ou em branqueamentos. Todos esses processos agridem o

ecossistema e necessitam de controle ambiental. Geram resíduos líquidos

e sólidos, necessitam do controle de descarte destes resíduos, podendo

danificar a água e aumentar a toxicidade dos solos. Destacam-se,

também, os processos de produção dos produtos que também geram

resíduos - gastam recursos não renováveis (como é o caso de lavagem

de peças), geram resíduos sólidos (provenientes da etapa de corte e

costura) e líquidos (provenientes de lavagens e tingimentos), sem

considerar os processos químicos associados aos aviamentos, que

muitas vezes associados aos metais, é um dos processos mais poluentes

da indústria têxtil. Exemplo disso é a galvanoplastia, processo que pode

ser divido em douração, cromagem, prateação ou zincagem. Consiste em

mergulhar as peças de metal a serem galvanizadas em tanques com

soluções de sais metálicos, através da corrente elétrica os íons metálicos

se depositam nas peças garantindo a sua não oxidação metálica. Após

cada etapa de processamento, é feita uma lavagem que remove o

excesso de produtos químicos e produz uma quantidade enorme de água

contaminada por ácidos, bases, cianeto, metais, agentes branqueadores,

solventes, óleo e sujeira. Essa água pode destruir a ação biológica em

estações de tratamento de esgoto e é tóxica para as espécies aquáticas.

Esse tipo de resíduo exige tratamento antes de ser descartado em aterro

sanitário, conforme resolução ambiental do Conama (1997) sobre a

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gestão de resíduos perigosos provenientes da indústria em geral.

Exemplos de materiais modernos preocupados com a sustentabilidade são os

dois produtos da Tavex Corporation, lançados no Bureau Tavex Inverno 2012, em

São Paulo, alinhados à sustentabilidade ambiental. O Wood Denim é produzido

com algodão orgânico, cultivado sem componentes químicos e com fibras

recicladas do processo de fabricação. Certificado pelo Instituto Biodinâmico

Brasileiro e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o

algodão usado no produto é colorido naturalmente, o que deixa o jeans final com

um visual adequado às tendências da moda e com redução de produtos agressivos

ao meio ambiente. O Wood recebe, ainda, acabamento natural feito com manteiga

de cupuaçu, em substituição aos amaciantes sintéticos, conhecido no mercado

como Alsoft®Amazontex. A Tavex (2014) tem três objetivos com essas iniciativas,

sobretudo a respeito do Amazontex:

· Preservação da biodiversidade da Floresta Amazônica, evitando o

desmatamento e a exploração descontrolada de seus recursos.

· Desenvolvimento das comunidades locais através da geração de novas

alternativas de renda sustentável.

· Gerenciamento dos recursos naturais de uma forma economicamente

sustentável, aliando desenvolvimento, geração de renda e preservação.

Outro exemplo é o Jeather Denim®, que chegou ao mercado com a proposta

de ser uma substituição do couro natural, aliando a evolução da tecnologia das

resinas ao conforto do Ultra Stretch Denim®. O acabamento inovador proporciona

brilho e deixa o tecido maleável, como pode ser empregado no desenvolvimento de

roupas e acessórios em substituição ao couro (TAVEX, 2014). É possível ainda

acrescentar a fibra de garrafas de Politereftalato de Etileno reciclado (PET). Com

aplicações em diversos tipos de produtos, retira do meio ambiente as garrafas na

produção da fibra, que é aplicada à área têxtil (ECOFABRIL, 2014).

Outros pontos importantes são:

· A distribuição: redução das emissões de carbono na logística de

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distribuição de matérias-primas, indumentárias, e produto final.

· Os cuidados com o consumidor: informações sobre os cuidados com as

peças nas etiquetas, processos de lavagem e secagem mais econômicos

sem desperdiçar energia, conforme a tecnologia de material empregada, o

qual evita o uso de ferro de passar nas roupas. Criar consciência ecológica

alertando para o uso de fibras naturais, sem uso de detergentes ou

redução de produtos químicos no Ciclo de Vida do Produto.

· Descarte: muitas vezes o destino final de roupas e acessórios é o cesto do

lixo e o aterro sanitário. O papel do designer é fundamental como

transformador nessa etapa. Pensar em um produto que, ao final, ele seja

reaproveitado, reciclado, reutilizado, restaurado ou que se torne matéria

prima para um novo produto. Gerando assim, um Ciclo de Vida fechado em

que poucos resíduos devem ser descartados na natureza. Destaca-se aqui,

o uso de resíduos da indústria como matéria prima, como é o exemplo da

empresa selecionada para o Estudo de Caso do presente trabalho - uma

empresa de Acessórios de Moda em couro que tem como matéria prima

sobras da indústria calçadista. Ou seja, é possível também na indústria

têxtil.

Resíduos têxteis podem ser transformados em peças de roupas, como o

trabalho desenvolvido pela designer Karina Michel, no qual as peças são

costuradas individualmente, demonstrando a capacidade do designer em inovar

nas questões relacionadas à sustentabilidade. O desafio imposto para a mesma,

quando chegou na Índia, era de reduzir o desperdício da indústria Pratibha Syntex,

uma indústria indiana de roupas de tricô, em que os resíduos desperdiçados

atingiam em torno de 30% incluindo rejeitos e restos de tecido. A designer atribui o

nome de Zero Waste Design (produção com desperdício zero) a esse trabalho

(FLETCHER e GROSE, 2011). A Figura 15 ilustra o trabalho realizado na Índia com

o tecido citado no texto.

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Figura 15 - Foto disponível no blog da designer Karina Michel ilustra seu trabalho com estudantes

de design na indústria Pratibha Syntex, na Índia e uma amostra do produto mencionado no texto.

Fonte: Fletcher e Grose, 2011 e Michel, 2014.

2.3.1 Indústria da Moda e Acessórios de Couro

A indústria têxtil é movida, em especial, pela vendas das roupas. De acordo

com Rodrigues et. al (2006), no ano de 2000 os consumidores mundiais gastaram

US$ 1 trilhão na compra de roupas e artefatos. A mão de obra envolveu cerca de

26,5 milhões de pessoas, além disso de acordo com a Associação Brasileira de

Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), o Brasil tem o sétimo maior parque

industrial têxtil e de confecção exportador de jeans e o terceiro de malha de

algodão e é o setor que compreende mais de 30 mil empresas e gera 1,65 milhões

de empregos.

Nesse novo cenário de consumo na Moda, observa-se que a Moda possui

uma dinâmica temporal na sociedade, porém existem outros fatores que

contribuem para sua expansão e este rápido e acelerado consumo.

Partindo da premissa de que uma das facetas de maior poder da moda é aquela que a reconhece como a mola propulsora do consumo, pode-se afirmar que a relação moda/responsabilidade sócio-ambiental é dicotômica e que todas as ações empreendidas no sentido de unir a moda com o conceito de sustentabilidade, como uso de materiais menos impactantes, parcerias com cooperativas, etc., seriam ilegítimas uma vez que visariam

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sanar problemas que são parte das contradições inerentes à própria sociedade de consumo.( BERLIM,2014,p.32)

Logo, no contexto da Indústria da Moda especificamente, com referência às

redes fastfashion, estas resultam na produção de roupas em grandes escala

voltadas para o consumo frenético e mediante a tendência de moda sazonal e

efêmera. De acordo com Lipovetsky (1989), a sedução opera subordinando a

razão. Uma empresa que não cria regularmente novos modelos perde em força de

penetração no mercado e enfraquece, em uma sociedade em que a opinião

espontânea dos consumidores se traduz na superioridade do novo sobre o antigo.

Em contrapartida, segundo Fletcher e Grose (2011), o movimento

denominado slowfashion, consiste em uma abordagem voltada para o processo

criativo e produtivo da moda de maneira mais lenta, pessoal, exclusiva e menos

descartável. Com o mesmo conceito de antítese do slowfood ao fastfood, iniciado

na Itália em 1986, este sistema retoma prazeres de consumir algo tradicionalmente

local, com insumos da região e valorização do tempo de apreciação da experiência.

“Muda as relações de poder entre criadores de moda e consumidores e forja novas

relações e confiança, só possíveis em escalas menores” (FLETCHER e GROSE

(2011, p.128).

A Figura 16 mostra as abordagens conceituais que envolvem as noções

rápido e lento.

Figura 16 - Resumo de diferentes abordagens às noções de rápido e lento.

Fonte: Fletcher e Grose (2011).

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Segundo Pereira e Nogueira (2013), todas as características alusivas ao

slowfashion são realizadas ao desenvolver uma roupa sob medida em um ateliê.

Partindo inicialmente de que nenhuma peça será confeccionada sem ter a certeza

do seu uso, como ocorre no fastfashion, da escolha dos materiais e valorização da

mão de obra local, a possibilidade de usar por diversas estações ou passar através

de gerações (como vestidos de tradições familiares) ou ainda de modificar a peça.

O projeto em questão compreende a maneira com que o trabalho de ateliê é

direcionado e enquadra-se no conceito de slowfashion, no qual o cliente concentra

boa parte da importância do produto encomendado à experiência em criá-lo e

produzi-lo de maneira particular e exclusiva.

Quando se lida com couro e Acessórios de Moda, o cenário ambiental fica

ainda mais crítico. Desde a pré-história, os animais têm sido usados como alimento

e suas peles transformadas em roupas rústicas, acessórios para proteger os pés,

portas para cavernas, utensílios domésticos e até velas de embarcações. Na visão

de Brito (2013), nos dias de hoje, cerca de 80% do couro usado no mundo é

empregado na fabricação de calçados. O remanescente é destinado a outros

setores, como o automotivo e a produção de artigos e acessórios de moda, tais

como bolsas, roupas, cintos e carteiras (Liger, 2012 apud BRITO, 2013). Nas

últimas décadas, houve um aumento mundial na produção de couros, tornando-se

o Brasil um dos líderes mundiais na exportação de couro.

Atualmente, estima-se um processamento de cerca de 42 milhões do

substrato. De acordo com Câmara e (Gonçalves F°, 2007 apud BRITO, 2013), a

Indústria de Couro no País é formada por cerca de quatrocentos e cinquenta

curtumes. Grande parte desses curtumes está localizada na região sul e sudeste

do País. Os principais fornecedores de pele para a transformação de couro são os

estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Piauí e Santa Catarina. O processo de

curtimento consiste basicamente, em tornar a pele do animal, que é uma matéria-

prima em decomposição em couro, ou seja, em um substrato imputrescível. Para

isso, o curtume faz uso de operações mecânicas e de tratamentos químicos.

Atualmente, são dois os processos de curtimento.

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· Curtimento ao cromo: cerca de 90% das peles do mundo são curtidas com

o cromo. Suas vantagens são: a rapidez do processo de curtimento e a boa

resistência e maleabilidade do couro. Porém, o cromo é um agente

altamente poluente. O couro curtido ao cromo, quando conservado em

determinadas condições, é imputrescível e pode ser guardado por meses.

O produto desse tipo de curtimento é denominado wet-blue e pode ser

comercializado quando se fizer necessário, afinal, seu processo de

decomposição está estabilizado (LIGER, 2012).

· Curtimento vegetal à base de taninos naturais: o tanino é um elemento

muito comum na natureza, podendo ser encontrado em diversas partes de

alguns tipos de vegetais, como na casca do carvalho e da mimosa, no

tronco castanho e do quebracho, nas folhas sumagre e do lentisco, nos

frutos do valouce e do gomakie, e nas raízes do urse, entre outros (COUTO

FILHO, 1999). O couro resultante desse tipo de curtimento é rígido e

menos resistente do que aquele curtido ao cromo e também despende de

maior tempo de processamento. Por esses motivos, ele não atende às

exigências do mercado da Moda. Estima-se que apenas 10% dos curtumes

utilizem o curtimento vegetal. A grande vantagem do curtimento vegetal é

que, por tratar-se de um material orgânico natural, ele torna-se de fácil

manejo no que se refere à poluição ambiental. Essa tecnologia, que

dispensa a utilização de cromo, pode ser empregada para peles de

diferentes animais, tais como, peles e pés de frango, avestruz, rã, peixe,

carneiro, entre outras, sendo que cada uma delas possui características

peculiares e a qualidade do produto será diferenciada conforme a origem

animal (MALUF; HILBIG, 2010).

2.3.2 Tipos de Couro

A Figura 22, ao final desta sessão, apresenta um esquema dos tipos de couro

animal e vegetal que podem ser empregados no desenvolvimento de sapatos e

acessórios de moda. O objetivo é investigar as possibilidades de uso deste material

e as agressões que o processo de fabricação de cada um deles causa ao meio

ambiente. A Figura 17 demonstra o Ciclo de Vida do couro bovino.

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Figura 17 - Ciclo de Vida do couro bovino

Fonte: adaptado pela autora do ciclo Vida bovino, 2014.

O couro legítimo ou tradicional, como pode ser chamado, sua matéria prima é

o couro de origem animal, que é submetido por processos artesanais ou industriais

(curtido com sais de cromo) para manter a mesma resistência original porém, com

design e acabamento de fábrica. A indústria de calçados de couro tem como

principal resíduo a apara de couro, que restam dos processos de produção. Esses

resíduos representam uma ameaça para o meio ambiente e para a saúde humana.

Quando se trata de curtimento com compostos de cromo para evitar o

apodrecimento da pele bovina ou de qualquer animal, usa-se o cromo trivalente ou

hexavalente. Esses resíduos são classificados como os mais perigosos. Apesar

disso, o uso de couro oriundo deste processo ainda é o mais utilizado na indústria

brasileira. O processo que foi descrito na seção anterior é extremamente agressivo

ao meio ambiente e a quantidade de resíduos gerados pelos curtumes tem de ser

acompanhados por órgãos de fiscalização, da mesma forma que os resíduos da

Indústria Calçadista. Uma alternativa é o curtimento com tanino também

mencionado na seção anterior. A Figura 18 trata das características desse

curtimento.

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Figura 18: Características do curtimento com sais de cromo e tanino vegetal

Fonte: Adaptado pela autora baseado em MOREIRA; TEIXEIRA (2003)

Conforme o Manual de Processamento do Couro (MOREIRA; TEIXEIRA,

2003), as informações da Figura 18 servem para compreender o impacto causado

por cada uma das formas de curtume, as características e processos químicos

envolvidos, bem como o tipo de produto final a ser gerado.

Na prática, o tipo de couro desejado e que vai determinar os objetivos a serem alcançados e em que grau. Por isso, na maioria das vezes, para a consecução dos objetivos, são necessários vários compostos curtentes, operações e processos. Essas combinações ocorrem não apenas no processo de curtimento, mas nas etapas que precedem e as subsequentes, isto é, desde a retirada da pele do animal até o acabamento do couro (HOINACKI; MOREIRA; KIEFER, 1994, p. 324).

O processo de transformação de peles em couros é normalmente dividido em

três etapas principais, conhecidas por: ribeira, curtimento e acabamento. O

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acabamento, por sua vez, é usualmente dividido em acabamento molhado, pré-

acabamento e acabamento final. A Figura 19 apresenta o demonstrativo de toda

operação, totalizando 14 processos, os quais são citados abaixo:

· Abate e esfola: realizado no matadouro ou frigorifico, onde é retirada a pele

do animal e, após um período de até 72 horas, deve receber a aplicação de

agentes bactericidas, para preservação da mesma (MOREIRA, 2003).

· Pré-molho: peles separadas por peso e coladas em máquina chamada

fulão (PACHECO, 2005).

· Remolho: com finalidade hidratar e/ou limpar as peles no que se refere à

sangue ou gordura, gerando um resíduo líquido composto por bactericidas,

sais, tenso ativos e enzimas (FIGUEIREDO, 2000).

· Pré-descarne: objetivo remover gorduras não caleadas (cebo), que por

sinal é utilizado pela indústria cosmética. Gerando nessa etapa um resíduo

que é constituído de matéria orgânica, denominada carnaga e cebo

(HOINACKI, 1994).

· Depilação: finalidade de remover o pelo, sendo esse processo um dos

principais responsáveis pela carga poluidora dos efluentes. Também são

gerados resíduos sólidos, causados pela destruição de pelos e gorduras

retirados da pele (AMARAL, 2003).

· Descarne: remover qualquer tipo de material aderido à pele, como gordura

e carnais, facilitando a aplicação de produtos químicos à pele. Gerando

assim, a carnaga, que se compõe em mais ou menos 50% do colágeno

(HOINACKI, 1994).

· Divisão: operação de separação em 2 (duas) camadas da pele. Parte de

cima chamada de flor e parte inferior de raspa. O resíduo gerado desse

processo é denominado em aparas caleadas (gelatina), que tem por

destino principal a utilização nas indústrias alimentícias e na fabricação de

produtos farmacêuticos e cosméticos (MOREIRA, 2003).

· Desencalagem: tem por objetivo a remoção da cal, e outros produtos

químicos alcalinos empregados a pele em etapas anteriores. O principal

resíduo gerado nesta etapa consiste na liberação de gases sulfídricos na

atmosfera, constituído pela ação da amônia e do bissulfito de sódio

empregados neste processo (HOINACKI, 1994).

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· Curtimento: consiste basicamente em transformar as peles em couro,

proporcionando assim maior resistência ao calor e bactérias. Atualmente

são utilizados dois processos de curtimento de peles, curtimento mineral e

curtimento vegetal.

· Classificação: de acordo com o padrão e exigências da empresa e

mercado consumidor, o couro é classificado para ter baixo índice de

anormalidades como: manchas, riscos, carrapatos, bernes e furos

(MOREIRA, 2003).

· Rebaixamento: na etapa de curtimento os couros apresentam uma

espessura relativamente alta entre 0.10mm e 0.20mm, sendo feito um

processo de rebaixamento, ou seja, diminuição desta espessura. Os

resíduos gerados nesta etapa são conhecidos como aparas curtidas e

raspas azuis (pó de rebaixadeira). Atualmente estes resíduos são

destinados a aterros sanitários, devido ao grande risco ambiental que estes

apresentam se dispersando ao solo (PACHECO, 2005).

· Recurtimento: etapa em que se promove ao couro curtido a aplicação de

outros produtos químicos. No decorrer desta etapa, é gerado apenas

resíduo líquido, devido ao grande consumo de água e produtos químicos

empregados nestes processos (FIGUEIREDO, 2000).

· Pré-acabamento: podemos citar as etapas de estiragem, secagem,

condicionamento, secagem final estirada, lixamento e desempoar, que

preparam o couro para a etapa de acabamento. Resíduos gerados: líquidos

e sólidos. Os líquidos são provenientes de águas usadas no processo, já

os sólidos são originários dos recortes de aparas semiacabadas e do pó do

lixamento (HAINACKI, 1994).

· Acabamento: O acabamento confere ao couro aspectos físicos definitivos,

já que esta etapa é o último processo de industrialização dado ao couro,

atribuindo a este características como, maciez, estampa ou não, textura e

cor superficial que determinam sua aparência final. São gerados como

resíduos no final desse processo alguns resíduos líquidos, formados da

sobra de produtos químicos e solventes, gasosos originados da mistura de

solventes com outros produtos químicos e sólidos, provenientes de aparas

acabadas (MOREIRA, 2003).

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Figura 19 - Fluxograma esquemático da fabricação de couros - operações de ribeira, curtimento e

acabamento molhado.

Fonte: Elaborado pela autora, 2014.

Para Moreira (2003), os curtumes são normalmente classificados em função

da realização parcial ou total destas etapas de processo. Na Figura 20 estão

demonstradas as operações, processos dos curtumes considerando os seguintes

tipos de curtumes:

· Curtume integrado: capaz de realizar todas as operações descritas nas

figuras anteriores (Figuras 20 e 21), desde o couro cru (pele fresca ou

salgada) até o couro totalmente acabado.

· Curtume de wet-blue: processa desde o couro cru até o curtimento ao

cromo ou descanso / enxugamento após o curtimento wet-blue, devido ao

aspecto úmido e azulado do couro após o curtimento ao cromo.

· Curtume de semiacabado: utiliza o couro wet-blue como matéria-prima e o

transforma em couro semiacabado, também chamado de crust. Nas

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Figuras 19 e 20, sua operação compreenderia as etapas desde o

enxugamento ou rebaixamento até o engraxe ou cavaletes ou estiramento.

· Curtume de acabamento: transforma o couro crust em couro acabado. Na

Figura 20, corresponde as operações desde cavaletes ou estiramento ou

secagem até o final (estoque/expedição de couros acabados). Podem ser

incluídos nesta categoria os curtumes que processam o wet-blue até o seu

acabamento final.

Figura 20 - Fluxograma esquemático da fabricação de couros - operações de acabamento.

Fonte: Elaborado pela autora, 2014.

Outro couro animal, por exemplo, o couro do pescado e de outros animais

deve ser analisado conforme o tipo de processamento empregado na sua

produção. Com relação ao pescado, existe o apelo por dar um destino aos resíduos

gerados pela indústria da pesca. Em muitos lugares, esses resíduos eram

enterrados, gerando um problema ambiental, pois o material orgânico depositado

no solo causa odor e envenenamento ao mesmo. Muitos pescadores jogam o

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material de volta ao mar ou rio e, da mesma forma, gera mau cheiro e problemas

ambientais oriundos do material orgânico depositado. A Figura 21 mostra os couros

de Tilápia e também um artefato produzido com ele.

Figura 21 - Couro da Tilápia, curtimento 100% vegetal e exemplo de produtos com base no couro de

Tilápia

Fonte: (AGUAPÉ, 2014)

No entanto, existem empresas e cooperativas engajadas em desenvolver

matéria-prima do couro do peixe com menos agressão ao meio ambiente. É o caso

da empresa Aguapé, que produz couro de Tilápia e de Rãs com curtimento à base

vegetal, não adicionando cromo ao processo de curtimento, conforme ilustrado na

Figura 20. O único agente curtente é o tanino, extraído da casca de algumas

espécies de árvores, como da Acácia. A empresa está tentando inovar no uso de

corantes para o tingimento das peles, pesquisando tipos de corantes naturais

extraídos de folhas, cascas e raízes de plantas para aprimorar o processo do couro

tingido (AGUAPE, 2014).

Seguindo essa lógica, na Ilha da Pintada, que faz parte do Bairro Arquipélago,

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em Porto Alegre, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) de 2010, esse local possui aproximadamente cinco (5) mil moradores.

Grande parte deles sobrevive da pesca artesanal no Delta do Jacuí e da

reciclagem e triagem de resíduos sólidos da escamas de peixes. “Trata-se de uma

região com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) na cidade, de acordo

com dados do OBSERVAPOA, da Prefeitura Municipal de Porto Alegre”

(QUARESMA, 2013). As artesãs dessa ilha possuem parcerias com diferentes

organizações públicas e privadas, além disso tem finalidade de aperfeiçoar o

sistema de produção do grupo. Para isso, há um calendário de capacitações com

diferentes técnicas de processamento de Acessórios de Moda, em especial joias de

prata, afora o incentivo a organização das mulheres na forma de uma cooperativa.

O Grupo Art’ Escama é composto por mulheres que pretendem resgatar a

cultura açoriana na região. Procuram executar as mesmas práticas e processos

utilizados tradicionalmente em Açores para transformar escamas de peixes em

artefatos. Os produtos criados são vendidos em feiras de artesanatos, em uma loja

própria na Colônia de Pescadores da Ilha da Pintada e no CTG que abriga algumas

de suas oficinas.

Neste contexto, parte das esposas dos pescadores decidiu aproveitar a sobra das escamas de peixe que eram inutilizadas pelos seus maridos para confeccionarem acessórios, tais como brincos e colares, visando a venda e a geração de renda para suas residências, haja vista a sazonalidade da pesca e a dificuldade cada vez maior em encontrar peixes no Delta do Jacuí (QUARESMA, 2013,p.6).

Segundo Quaresma (2013), o culto pelas flores naturais do Arquipélago dos

Açores permite que elas sejam expressas de diferentes formas, utilizando materiais

simples como o miolo das figueiras e as escamas de peixes, tudo isso feito

artesanalmente pelas esposas dos pescadores da região da Ilha da Pintada.

Além desse, existem outros tipos de couro que podem ser aplicados em

diversos segmentos, como exemplo, o couro vegetal, que é um tecido formado a

partir de duas fontes renováveis: o látex extraído das seringueiras (hevea

brasiliensis) e o algodão. Chama-se “couro vegetal” porque tem semelhança visual

com o couro animal. A produção desse tipo de material concentra-se na região

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Norte e existem diversos projetos que atuam com as comunidades locais. As

pessoas envolvidas na produção de couro vegetal recebem treinamento em

técnicas de produção, capacitação gerencial, controle de qualidade e manejo

florestal de produção (BRANDAO, 2007).

Ainda há o couro sintético produzido em fábricas com componentes químicos

(polímeros, derivados de petróleo ou PVC reciclado), originando um material que

aparenta o couro legítimo, porém com uma menor resistência. Esse é um produto

derivado do petróleo e, portanto, agride ao meio ambiente e utiliza recursos não

renováveis, além de ter que analisar o seu processo de fabricação para identificar

as questões de resíduos e outras questões relacionadas à sustentabilidade. Na

Figura 22 são apresentados os tipos de couro que podem ser empregados em

Acessórios de Moda.

Figura 22 - Tipos de couro que podem ser empregados em acessórios de moda.

Fonte: Elaborado pela autora, 2014.

2.3.3 Particularidades do Ciclo de Vida do Produto da Moda e Acessórios de

Couro

No caso de acessórios, esse ciclo é um pouco distinto, porque não existe o

processo de lavagem. Algumas esferas essenciais para sua composição compõem

esse ciclo. A primeira etapa consiste na seleção da matéria-prima, na busca de

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diferentes formas de extração dos materiais, sejam eles de origem vegetal e/ou

animal. Para o couro, há um tratamento por cromo ou tanino, visando a sua

produção em série. Outra etapa do processo é o Design como forma projetual de

abordagem, responsável por pensar da composição do produto até o reuso do

acessório criando o seu diferencial. Em seguida está a esfera da confecção dos

acessórios, logística, distribuição, a usabilidade dos mesmos, levando em

consideração sua Vida útil e reuso. Aqui, novamente o Design marca presença.

É possível, portanto, contar toda a vida de um produto como um conjunto de

atividades e processos, cada um deles absorvendo certa quantidade de matéria e

de energia, operando uma série de transformações e liberando emissões de

natureza diversa (MANZINI & VEZZOLI, 2005, p.91).

Figura 23- Visão sistêmica do ciclo de Vida com esferas ambientais, sociais e econômicas

Fonte: Elaborado pela autora, 2014.

Considerando o Ciclo de Vida de Produto juntamente com esfera ambiental,

social e econômica e suas fases de ciclo fechado (Figura 23), um passo na Moda

para seguir no caminho da sustentabilidade é aquele em que cada indivíduo e,

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portanto, cada consumidor em potencial - “agindo com base em seus próprios

valores, em seus próprios critérios de qualidade e em sua própria expectativa de

Vida - fará escolhas que também sejam as mais compatíveis com as necessidades

ambientais” (MANZINI e VEZZOLI, 2008, p.65).

Por suas características, por exemplo a sazonalidade das estações, os

produtos de Moda parecem ter um Ciclo de Vida mais curto do que outros

produtos. A utilidade dos produtos de moda tem a duração enquanto estes

estiverem “na moda”, ou seja, de acordo com o padrão vigente. Assim, para uma

análise menos superficial do Ciclo de Vida de um produto da Moda, é preciso ir

além do entendimento de que o produto começa e termina apenas ao “entrar ou

sair da moda”. Dado isso, o entendimento de Ciclo de Vida com o qual que este

trabalho dialoga é ampliado, considerando em princípio a própria extração do

material da matéria-prima, com referencia ao Ciclo de Vida dos produtos de Moda,

segue o esquema apresentado na Figura 24.

Figura 24 – Adaptação do Ciclo de Vida de Acessórios de Moda.

Fonte: Elaborado pela autora, 2014.

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3 ESTUDO DE CASO

De maneira geral, os estudos de caso não se orientam em busca de

generalizações para os seus resultados, pelo contrário têm como objetivo

compreender e interpretar mais profundamente os fenômenos específicos com os

quais a pesquisa se preocupa, sendo mais recomendados quando há o interesse

em responder perguntas do tipo “como?” e “por quê?” (YIN, 2001). De acordo com

Yin, o Estudo de Caso é uma investigação empírica de um fenômeno

contemporâneo dentro de um contexto da vida real, sendo que os limites entre o

fenômeno e o contexto não estão claramente definidos (YIN, 2001). A grande

diferença do Estudo de Caso em relação a outros métodos é a sua “capacidade de

lidar com uma ampla variedade de evidências - documentos, artefatos, entrevistas

e observações” (Yin, 2001, p.27).

O Estudo de Caso que norteia este trabalho diz respeito a uma empresa de

Acessórios de Moda que utiliza, como matéria-prima para a confecção de seus

produtos, sobras de couro da indústria do calçado da região do Vale dos Sinos e de

comércios de venda de produtos do tipo ponta de estoque, na região metropolitana

de Porto Alegre. Para preservar o anonimato dos indivíduos envolvidos na

pesquisa, suas identidades serão mantidas em sigilo, sendo utilizados, pois, nomes

fictícios. O objetivo deste projeto, no que tange à intervenção de Design na

empresa participante desta pesquisa, é incentivar ações que ampliem a

sustentabilidade da empresa nas três esferas: ambiental, social e econômica,

propondo, assim, uma ampliação do mercado consumidor. Também serão

propostas sistematizações no Ciclo de Vida do Produto-serviço, agregando valor

social à marca e promovendo um consumo consciente. Para o desenvolvimento do

Estudo de Caso, são seguidas as práticas associadas ao Design Estratégico

descritas na Seção 1.4 (figura 01) do presente trabalho.

A análise deste estudo se dará a partir de dados de documentos coletados na

sede da empresa (e referentes a ela); do referencial teórico relacionado ao Design

e à sustentabilidade, segundo uma visão ampla; de entrevistas com funcionários,

clientes, empresárias e especialistas; e um Workshop de Cocriação com a

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finalidade de observar, em campo, a interação entre clientes, fornecedores (neste

caso, especialistas ao invés de fornecedores), empresárias e funcionários.

3.1 EMPRESA DE ECODESIGN DE ACESSORIOS DE MODA COM BASE EM

SOBRAS DE COURO DA INDÚSTRIA CALÇADISTA

A empresa objeto deste estudo será chamada de XX Acessórios de Moda,

com a finalidade de preservar seu anonimato e identidade, embora essa não tenha

feito tal requisição para participar no estudo. Todavia, atendendo às exigências do

Comitê de Ética em Pesquisa da instituição, será preservada a identidade da

empresa e ela será chamada de XX Acessórios de Moda, como mencionado

previamente.

A XX Acessórios de Moda é uma micro-empresa optante pelo Simples

Nacional, composta por duas sócias-diretoras e quatro funcionários, situada em

Porto Alegre. Essa organização privada de Ecodesign de Acessórios de Moda será,

portanto, o Estudo de Caso neste presente trabalho. Em seu sítio na Internet, a

empresa se apresenta como:

[...] uma grife diferenciada, a começar pela proposta: trabalhar com o couro excedente da indústria calçadista, abraçando o desejado conceito upcycle, criando acessórios e peças de roupa. Trabalhando o couro na sua forma mais pura, tudo é produzido à mão pelas Designers e todas as peças tem edição limitada. Utilizando peles de couro que não têm mais uso pela indústria, não se cria nova demanda de material e se evita o crescimento de lixo tóxico para a natureza.

Essa empresa surgiu, no ano de 2010, a partir da vontade de duas amigas de

infância que tinham o mesmo desejo: transformar retalhos de roupas em algum

produto que fosse inovador. Desde 2012, tem sua matriz localizada em um bairro

efluente, na cidade de Porto Alegre, e uma filial em São Paulo. A empresa é

composta por duas sócias-proprietárias, e mais duas funcionárias por loja. Ainda

compõe essa equipe uma costureira, a qual está estabelecida em uma cidade

próxima, no Rio Grande do Sul. As produções são desenvolvidas no ateliê que está

situado na matriz. Essa empresa está inserida no segmento da Moda, mais

especificamente acessórios.

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As empresárias proprietárias do negócio asseguram que as suas “vivências

foram inspiradas em cima de suas trajetórias profissionais e pessoais, pela busca

do desejo de trabalhar com produtos sustentáveis” (entrevistada A). Com esse

pensamento, se uniram com a finalidade de desenvolver a primeira coleção de

acessórios, dentre eles as pulseiras, de couro, em círculo. Posteriormente,

surgiram convites para exposições em eventos de moda, como o Donna Fashion e

a Fenin (Feira Nacional da Indústria da Moda). Para elas, esse momento foi o

marco principal de sua consolidação no mercado, alcançando, consequentemente,

uma divulgação nacional com o evento. Durante este período, as vendas dos seus

produtos foram feitas eletronicamente, via Internet, e em pequenos eventos de

moda, como os que ocorrem em algumas ruas de Porto Alegre. Essa cronologia da

implantação da empresa está demonstrada na Figura 25.

Figura 25: Cronologia da empresa XX Acessórios de Moda.

Fonte: Elaborada pela autora, 2014.

Para a XX Acessórios de Moda, o conceito principal da marca é ser

“exclusivo, com poucas peças iguais e agregando valor à marca”. A identidade

visual da empresa não é aparente em seus produtos confeccionados, e os mesmos

possuem nomes que são pensados para serem funcionais. Além disso, segundo a

empresária 2 (dois), trata-se de uma “marca inovadora de transformação social,

Trabalhando o couro excedente da indústria calçadista da forma mais pura: cru e

com acabamento a fio, em um processo totalmente sustentável”.

O seu portfólio, a partir do aproveitamento “do que sobra do couro das

fábricas de calçados, por exemplo” (entrevistada A), é composto pelos seguintes

produtos/acessórios: vestuário (camisetas, regatas, saia e vestido), carteiras,

bolsas, lixo para carro, necessaire, porta cheque, porta iPad, porta óculos, porta

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vinho, pulseiras e colares. No início do ano de 2014, a empresa lançou sua coleção

de pulseiras infantis. A meta para 2015 é a implantação de uma “linha casa”, para

atender o mercado de decoração residencial da cidade.

A aquisição da matéria-prima é feita em fábricas e lojas da região do Vale dos

Sinos, a partir das sobras dos couros do setor calçadista que não são aproveitadas

ou de peças que possuem algum defeito. Parte da matéria-prima é adquirida,

também, em lojas que vendem peças inteiras. São utilizadas em sua produção dois

tipos de couro animal: o vacum4 e o Caprino5.

O processo de criação acontece entre as duas empresárias. Elas estão em

constante busca por novas criações e novos segmentos, nos quais seja possível a

inserção do couro. As embalagens são de papel craft, com serigrafia a base

d’água, não utilizando sacolas. Em sua produção, as peças não possuem forro nem

metal. De acordo com o que relatou uma das sócias, elas “privam por Design limpo

e cortes retos, todos os processos são intuitivos”. A XX Acessórios de Moda tem

70% dos seus produtos desenvolvidos de forma manual, utilizando técnicas de

corte a fio e balancim.6

A XX Acessórios de Moda não possui plano de negócios, missão e visão,

pois, conforme o pensamento das empresárias, “o futuro depende de maior venda

para maior produção”. A comunicação se dá por meio de mídias alternativas,

utilizando principalmente plataformas da internet. Entretanto, em São Paulo, as

sócias contrataram uma Assessoria de Imprensa. A Figura 26 mostra, de forma

esquemática, o processo de produção e comercialização da empresa estudada

com respectivos atores envolvidos na cadeia.

Segundo Vezzoli (2010), no mapa de atores, os atores são inseridos na

medida em que há necessidade dentro dos estágios de solução, sendo assim

representados por ícones e de forma gráfica, alocando em posições estratégicas.

4 Vacum: de gado. Citada em MOREIRA, M.V.; TEIXEIRA, R.C. Estado da Arte Tecnológico em Processamento do Couro. SENAI, 2003. 5 Caprino: de cabra. Citada em MOREIRA, M.V.; TEIXEIRA, R.C. Estado da Arte Tecnológico em Processamento do Couro. SENAI, 2003. 6 Balancim: Equipamento Industrial de corte de acordo com definição da empresa Maquinas Klein disponível <www.maquinasklein.com.br>

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Por conseguinte, os atores centrais que atuam no sistema, são representados

dentro, e os atores secundários, fora. Da mesma forma, a XX Acessórios de Moda

se encontra no centro e, em seguida, os demais atores.

Figura 26 - Mapa de atores envolvidos no processo de produção e comercialização da XX

Acessórios de Moda.

Fonte: Elaborada pela autora, 2014.

3.2 ENTREVISTAS CONTEXTUAIS

A metodologia empreendida para o desenvolvimento dessa pesquisa, que

utiliza uma abordagem qualitativa, aprofunda-se na compreensão dos fenômenos,

interpretando-os de acordo com os fatos em evidência, sem ter a preocupação com

a representatividade numérica ou generalizações estatísticas, além de contar com

a mínima interferência do pesquisador. A pesquisa foi impulsionada pela

interpretação do respondente em relação aos seus comportamentos, motivos e

interesses de uma empresa de Acessórios de Moda voltada para a

sustentabilidade. Desta forma, verificou-se a necessidade de realizar uma pesquisa

de campo, com os atores envolvidos neste processo. Foram entrevistadas uma

empresária, duas funcionárias e três clientes, a fim de captar respostas mais

objetivas e consistentes no que se refere às questões abordadas.

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As entrevistas foram fundamentais para o mapeamento das práticas, crenças

e valores em um ambiente específico. O conteúdo das entrevistas foi pensado para

verificar o conhecimento das partes envolvidas nos processos, sobre os diversos

aspectos da XX Acessórios de Moda.

Os depoimentos ocorreram na sede da empresa, constituída por ateliê e loja.

As opiniões foram coletadas através de um diálogo, baseado em um protocolo pré-

definido para cada segmento de público, documentado através de fotos, vídeos e

anotações. Ao realizar as entrevistas individuais, pretendeu-se propiciar situações

de contato direto, de forma a provocar um discurso livre, mas que atendesse aos

objetivos da pesquisa.

O plano inicial de entrevistas contava com clientes, funcionários, empresárias

e fornecedores, porém, dada a inviabilidade da empresa em contatar estes últimos,

optou-se por substituí-los por especialistas da área. Alegando “questões

estratégicas de mercado”, a empresa não forneceu os contatos com fornecedores.

As entrevistas foram realizadas com as duas empresárias, sendo que uma fica em

Porto Alegre e a outra em São Paulo. A empresa conta com 05 (cinco) funcionários

no total.

Para esta pesquisa, além das funcionárias, entrevistou-se, ainda, 06 (seis)

clientes. Na referida ausência dos fornecedores, optou-se por entrevistar dois 02

(dois) especialistas da área. A justificativa da empresa em não dar o contato dos

fornecedores foi em virtude de problemas estratégicos que a divulgação desses

dados poderia causar aos negócios. A entrevista foi realizada ao longo de uma

semana, uma vez que havia a necessidade de conversar com os integrantes da

filial de São Paulo, ou seja, com uma funcionária e uma das sócias.

As entrevistas ocorreram em momentos diferentes com as funcionárias e

sócias para que não houvesse nenhum tipo de constrangimento entre ambas.

Cumpre salientar, todavia, que todas foram realizadas dentro da empresa e no

horário de expediente. Por sua vez, os especialistas da área que aceitaram

participar das entrevistas têm experiência no setor coureiro calçadista. Um deles

possui, ainda, experiência acadêmica, na área dos processos curtentes do couro

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como matéria-prima. A sua participação foi importante para este projeto uma vez

que ofereceu uma visão mais técnica sobre o assunto.

Os especialistas da área foram entrevistados fora da empresa. Faz-se

destacar que a não participação dos fornecedores nas entrevistas tornou

necessária a consulta a especialistas para obtenção de subsídios sobre os

processos relativos ao curtimento do couro, assim como a respeito de assuntos

relacionados ao setor da Indústria Calçadista, além de aspectos relacionados ao

meio ambiente e às esferas social e econômica.

3.2.1 Perfil dos entrevistados

Abaixo segue uma breve exposição do perfil dos entrevistados.

● Empresárias: A empresária A tem sua formação em Negócio de Moda

e foi influenciada por seu pai – um Designer de calçados; a empresária

B formou-se em Design de Produto e trabalhou por 04 (quatro) anos

com uma artista plástica na área do Design Ecológico. Uma das

empresárias teve experiência anterior no setor coureiro calçadista, por

conta de negócios familiares. Sua experiência anterior no ramo foi de

08 (oito) anos.

● Funcionárias: A empresa possui 03 (três) estagiárias de Design de

Moda na sua sede de Porto Alegre, uma (1) costureira na Região do

Vale dos Sinos, uma (1) Designer de Produto e uma (1) funcionária em

São Paulo.

● Especialistas: Um (1) especialista possui experiência de trabalho na

cadeia coureiro-calçadista da Região do Vale dos Sinos e o outro é

docente de ensino superior com experiência de pesquisa na área dos

processos curtentes e do calçado.

● Clientes: Entrevistaram-se 06 (seis) mulheres de diferentes faixas

etárias, sendo que três 03 (três) eram clientes fidelizadas da marca,

cujas entrevistas foram agendadas; e 03 (três) delas, selecionadas ao

longo da semana em que ocorreram as entrevistas. Estavam visitando

a loja pela primeira vez.

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3.2.2 Temas Emergentes

Os temas surgidos ao longo da pesquisa, fora a opinião dos especialistas,

possibilitaram demonstrar, de maneira geral, a visão das empresárias, funcionárias

e das clientes consonante com a visão da cultura da empresa, ou seja: a aposta

em práticas sustentáveis na confecção de seus produtos, bem como no manejo

dos materiais. A visão geral dos participantes da pesquisa é de que a empresa

utiliza processos sustentáveis de produção.

Defendem que o processamento dos resíduos de couro e do próprio couro,

enquanto matéria-prima que recebem, não é agressivo ao meio ambiente. Ainda,

afirmam que o couro já fora processado uma vez, sendo apenas reutilizado nessa

etapa. As clientes, igualmente acreditam que estão consumindo produtos

“ecologicamente sustentáveis” (cliente 1), pois a empresa utiliza “restos de couros

das fábricas de calçados que iriam parar no lixo e não teriam uso nenhum” (cliente

2).

Outro tema relevante, surgido ao longo do processo qualitativo, foi o “estilo

das peças”, que apesar de serem feitas com o couro enquanto matéria-prima (de

certa maneira um insumo rústico), “são extremamente delicadas e bonitas” (cliente

3). O fato das donas do negócio serem Designers também foi apontado como

diferencial pelas clientes, uma vez que “as gurias não são simples vendedoras,

elas são Designers!” (cliente 3).

Os temas emergentes, conforme a visão dos especialistas, dizem respeito

aos processos químicos de tratamento do couro antes dele se transformar em

sobra. Sendo assim, aquela sobra que “parece tão singela, na verdade, é

carregada de produtos químicos provenientes do curtimento” (especialista 1).

Assim, alguns temas especiais surgiram. Quais sejam: Criatividade, Ciclo de

Vida, Preocupação geral com a sociedade, Desenvolvimento Sustentável, Rotina e

Experimentação, Valores, Questões Instrucionais, Políticas e de Ambiente Social,

Ética e Responsabilidade Social.

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Dessa forma, os insights ou achados surgidos ao longo do processo de

pesquisa dizem respeito à (1) Pré-produção, (2) Produção, (3) Distribuição, (4) Uso

e (5) Descarte, podendo, na visão de Manzini e Vezzoli (2008), ser agrupados da

seguinte maneira:

Pré-produção:

a. A empresa desconhece a procedência dos insumos que adquire dos

fornecedores;

b. A empresa potencializa ao máximo o aproveitamento dos insumos;

c. A empresa utiliza como insumo um material já descartado.

Produção:

a. A empresa desenvolveu técnicas não agressivas na confecção dos

produtos;

b. Há interferência industrial na montagem dos produtos;

c. A Distribuição é feita com caixas de papelão doadas de parceiros;

d. A empresa possui um baixo estoque de produtos;

e. As caixas, onde os produtos são acondicionados para envio, são

doadas;

f. A empresa minimiza a utilização de embalagens

Uso:

a. As informações da empresa sobre critérios de sustentabilidade

concentram- se no topo da hierarquia organizacional.

Descarte:

a. Após a sua utilização, os produtos não retornam a empresa;

a. Os resíduos resultantes da produção são doados a uma escola de

samba de uma comunidade carente.

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3.2.3 Principais observações

O processo teve início na observação contextual, a partir do

acompanhamento, ao longo de dois dias, de uma semana típica na empresa.

Nessa etapa, foi possível notar que as entrevistas serviram como um filtro para

identificar os dados que tiveram maior ocorrência e que posteriormente foram

tabulados com a finalidade de serem utilizados como roteiro para o Workshop de

Cocriação. Com base nos ensinamentos de Manzini e Vezzoli (2008), os dados

foram organizados de acordo com as seguintes fases do Ciclo de Vida do Produto:

(1) Pré-produção, (2) Produção e (3) Descarte. De maneira geral, para

empresárias, funcionárias e clientes, a sustentabilidade dessa empresa se dá por

meio da utilização de sobras de couro, e pela imagem dos produtos, que parecem

associar o rústico do couro, apesar da delicadeza de diversas peças, a um produto

de certa forma “natural”.

Parece haver certa congruência na imagem que a empresa constrói para si,

enquanto empreendedora responsável e sustentável e o padrão de respostas de

que clientes e funcionárias sustentam. Apesar da sustentabilidade da empresa ser,

de certa forma, limitada, está no “contínuo da sustentabilidade7” realizando “ações

sustentáveis”, assim como as apontadas neste trabalho, tais como a discussão em

relação à amplitude possível para o conceito, uma vez que o entendimento das

clientes, e mesmo das funcionárias, sobre o tema parece igualmente limitado.

Os especialistas entrevistados ressaltaram que cerca de 90% da indústria do

couro no Brasil realiza o processamento do couro com cromo e tanino, revendendo,

inclusive, muitos dos seus produtos inacabados. Esse fato, para os especialistas,

diminui a sustentabilidade dos produtos e da produção da empresa. Portanto,

apesar dos produtos serem confeccionados a partir de um recurso que seria

totalmente descartado, a elaboração desses, com esse tipo de insumo, pode conter

vestígios do processamento do couro. Além disso, foi evidenciada a importância do

conhecimento sobre o processo químico na superfície de acabamentos finais.

7 Contínuo da sustentabilidade - com relação ao mesmo definido como: um contínuo que não tem um ponto final, que está sistematicamente em direção a algo, a caminho, a um fim sem limites de interrupções finais. Elaborado e definido pela autora desta dissertação.

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Ademais, compreende-se um esforço da empresa em agregar valor aos seus

produtos por meio do uso de determinadas variáveis de sustentabilidade em parte

de seus processos, como, utilizar sobras de couro na confecção de suas peças

comercializadas. Ainda, há a participação direta de Designers na linha de

produção. O fato de haver Designers por trás das coleções valoriza a imagem da

empresa perante os funcionários e clientes, como uma organização inovadora, que

está apta a criar as próprias coleções.

Quanto à segunda fase do Ciclo de Vida, a produção, especificamente na

transformação de materiais em produtos, observou-se no ateliê o desenvolvimento

de um acessório para brinde institucional (Figura 27) e logo se constatou que o

processo é manual, utilizando materiais tais como: couro vacum e cabra, ferragens,

gorgorão, fita de reforço, linhas, elástico, zíper, cola, cursor de couro, fita carimbo,

pulseira de ferro (para cabelo) e cera para lustrar. A empresa afirma que “no

processo criativo, o Design é limpo”. As técnicas utilizadas na montagem

privilegiam um aproveitamento máximo da pele, conforme será visto nas figuras 29

e 30 no próximo item. Ainda, as peças não contêm forro, gerando uma redução na

utilização de insumos. Com relação ás máquina e equipamentos utilizados,

destacam-se: tesoura, cartolina, alicate, fita métrica, fita crepe, caneta riscador,

régua, borracha, crepe, ferro de passar, balancim, máquina de costura, navalhas

de corte e faca, máquina de carimbo.

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Figura 27: Observações na produção - transformação de materiais em produtos

Fonte: Elaborada pela autora, 2014

Além do mais, é possível estabelecer uma média estatística na produção das

peças, nas quais 1% da produção é cortada a laser com maquinário específico,

sendo que 90% dos produtos tem seu fechamento através do emprego de

maquinário. As Figuras 27-01 e 27-02 demonstram o momento de cortar as peles

com estilete; a Figura 27-03 apresenta o processo em desenvolvimento; e a Figura

27-04, uma técnica pouco usual, mas improvisada, no momento para desenvolver

um molde para o brinde institucional.

O processo de aproveitamento de matéria-prima na XX Acessórios de Moda

ocorre na medida em que, no desenvolvimento criativo, há sobras de diversos

tamanhos, conforme mostra a Figura 28. Ao visualizar essa foto, é possível notar

que a partir de uma determinada sobra de couro, realizaram-se cortes para fabricar

uma carteira, criada como um brinde institucional. As etapas desse processo de

aproveitamento de matéria-prima foram as seguintes: (1) matéria-prima como é

adquirida nos fornecedores; (2) o produto após alteração inicial, neste caso o

molde finalizado da carteira, faltando o fechamento e costura; (3) sobras de couro

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durante o corte dos moldes do brinde da carteira; (4) o descarte das sobras da

criação é enviado para uma escola de samba de uma comunidade carente.

Figura 28: Etapas de reaproveitamento de matéria-prima na produção de uma carteira.

Fonte: Elaborada pela autora, 2014

Dentro do seu portfólio de produtos, ao longo dos processos de criação, o

couro, como um todo, é aproveitado ao máximo, fazendo com que sempre um novo

produto seja criado com base em uma sobra gerada a partir da criação de um

produto anterior. Aqui, a lógica seguida na linha de produção é a de que um

mesmo couro servirá de insumo para diferentes produtos, do maior ao menor.

A XX Acessórios de Moda utiliza dois tipos de matérias-primas provenientes

da Indústria Calçadista: O caprino e vacum. Na cadeia de produção do vacum, o

primeiro produto produzido são bolsas, pois essas necessitam de maior quantidade

de matéria-prima. Em seguida, é produzida carteira do tipo clucht8, demonstrado no

esquema da Figura 29.

8 Termo inglês para designar uma bolsa de mão pequena e estruturada, geralmente sem algas ou com apenas um encaixe para os dedos, como bolsas de couro. Citada em SORCINELLI, Paolo (org.). Estudar a Moda: corpos, vestuários, estratégias. São Paulo: SENAC, 2008.

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Figura 29: Cadeia da produção para o couro vacum.

Fonte: Elaborada pela autora, 2014.

Na produção com a matéria-prima de couro caprino são confeccionadas

peças do vestuário no início da cadeia, haja vista o insumo ser menor. Além do

mais, ocorre o mesmo em relação à utilização do couro vacum no que tange ao

aproveitamento máximo do couro. A empresa afirmou que esse tipo de pele animal

foi escolhido em virtude do “caimento do tecido” quando transformado em

vestimenta. Ainda, foi salientado que esta cadeia não é rígida, uma vez que,

dependendo da demanda, essa pode ser flexibilizada. Por fim, nesse quesito, o

couro caprino é utilizado em menor escala do que o vacum na linha de produção,

uma vez que a empresa vende mais acessórios (vacum), do que roupas (caprino).

Na figura 30 apresenta a produção a partir do desenvolvimento do vestuário e seus

respectivos produtos.

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Figura 30: Cadeia da produção do vestuário utilizando o caprino

Fonte: Elaborada pela autora, 2014.

3.3 CICLO DE VIDA DO PRODUTO-SERVIÇO ATUAL DA XX ACESSÓRIOS

DE MODA

Os dados provenientes das entrevistas e da observação contextual

possibilitaram o cruzamento das informações levantadas com o Ciclo de Vida do

Produto-Serviço apresentado por Manzini e Vezzoli (2008). Por conseguinte, foi

elaborada uma sistematização das informações de modo que fosse fornecido

fidedignamente o cenário atual da XX Acessórios de Moda. Assim, as fases do

Ciclo de Vida do Produto, que atualmente abrangem a empresa, foram

apresentadas e, posteriormente, através de critérios norteadores do Design,

potencializados em uma ampliação deste ciclo no sentido de expandir o seu

entendimento sobre sustentabilidade. Isto é, as fases atuais foram ampliadas

considerando-se outros aspectos além do apresentado inicialmente pela empresa e

que a caracteriza. Tal intento foi possível por conta da compilação realizada na

literatura sobre as possíveis dimensões de sustentabilidade em Ciclos de Vida dos

Produtos.

Nesse sentido, pode-se considerar o cenário atual do Ciclo de Vida do

Produto-Serviços da XX Acessórios de Moda da seguinte forma (figura 31):

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3.3.1 Interpretação e oportunidades

Cada fase do Ciclo de Vida do Produto-Serviço é apresentada com seus

respectivos critérios norteadores de Design, sistematizados de acordo com o

referencial teórico discutido anteriormente, tais como os textos de Manzini (2005),

Manzini e Vezzoli (2008), Souza (2007), Peroba (2008), Berlin (2012), Salcedo

(2014), Maxwell e Vorst (2003), e Fletcher e Grose (2011), os temas da Rio+20

nesta área, o entendimento da Comissão Europeia de Design e Inovação em 2009,

entre outros.

Estes critérios norteadores de Design foram debatidos no Workshop de

Cocriação e inseridos no Ciclo de Vida do Produto-Serviço com a finalidade de

serem expandidos, considerando-se as respostas e dados obtidos na pesquisa.

Dessa forma, pôde-se intervir pontualmente em todas as fases do Ciclo de Vida do

Produto da empresa no sentido de torná-lo mais sustentável. Observaram-se,

ainda, oportunidades relacionadas às fases, principalmente nas de Pré-produção,

Produção e Descarte.

A figura 32 demonstra a sistematização das fases do Ciclo de Vida do

Produto-Serviço, com seus respectivos critérios norteadores de Design, da mesma

forma como foram apresentados para discussão no Workshop de Cocriação.

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Figura 32: Critérios Norteadores de Design

Fonte: Elaborada pela autora, 2014

3.4 APRESENTAÇÃO DO WORKSHOP DE COCRIAÇÃO

Como ponto de partida, antes da apresentação da dinâmica desta etapa, cabe

salientar o objetivo, de maneira geral, de um workshop e de suas práticas, uma vez

que o termo é relatado em formatos variados. Buscou-se uma definição relativa à

área do Design, auxiliando no posicionamento deste trabalho. Foram, pois,

seguidos os ensinamentos de Scaletsky (2008, p.4), que descreve um workshop

como “um momento de imersão criativa”, em cuja utilização de técnicas variadas,

permite o alcance e a concepção de múltiplos conceitos. Tal definição é condizente

com o objetivo deste trabalho, pois promove a geração coletiva de novas ideias.

Porquanto, nessas características reside a aproximação com a cocriação, uma vez

que ambos estão baseados no compartilhamento de conhecimentos, bem como em

pilares criativos.

A cocriação é uma forma de operacionalizar a inovação aberta. Segundo

Prahálad e Ramaswamy (2004), a cocriação de valor é particularmente centrada

nas estratégias que promovem interações entre organizações e usuários ao longo

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de toda cadeia de criação de valor. Dessa forma, revela a capacidade de utilizar

processos, sistemas e produtos que valorizem a capacidade de interação entre

diferentes atores envolvidos na cadeia. Logo, um Workshop de Cocriação é uma

ferramenta de interação entre a organização e os atores internos e externos, assim

como a geração de ideias colaborativas, com o intuito de promover troca de

experiências, além de familiarizar os participantes com os conceitos, processos e

métodos. Para Moura (2010), é uma prática para utilização do pensamento,

tornando colaborativo, considerando tanto aspectos humanos como os de negócio,

aumentando a competividade da empresa e consequentemente ampliando a

sustentabilidade. Além disso, há a utilização do Design Thinking na prática.

Nesse sentido, as ferramentas, instrumentos e táticas utilizadas ao longo

deste workshop foram determinantes para o direcionamento do resultado do

processo de ampliação da sustentabilidade nas esferas ambiental, econômica e

social. O Workshop de Cocriação ocorreu dentro da loja/ateliê, na parte dos fundos,

em dia de expediente normal, com duração de 3 (três) horas. As seguintes pessoas

estavam presentes no Workshop: 1 (uma) empresária da XX Acessórios de Moda;

1 (uma) funcionária dessa empresa; 1 (uma) cliente; e 4 (quatro) especialistas da

área, entre os quais (I) um especialista em processos curtentes, com experiência

na cadeia calçadista da Região do Vale dos Sinos (RS); (II) um administrador de

empresas com experiência em comercio exterior; (III) uma artista plástica; e (IV)

uma Designer de Moda, ambas professoras de uma universidade da região

metropolitana de Porto Alegre, nas disciplinas de Design e Design de Moda e

Materiais e Processos têxteis, respectivamente.

A partir da negativa da empresa quanto à participação dos seus fornecedores

nesta dinâmica, foi preciso suprir esta carência com convidados que pudessem

oferecer experiência técnica ao empreendimento de pesquisa. O papel dos

convidados especialistas no processo de cocriação foi essencial, pois as

contribuições foram baseadas em sua experiência em relação às práticas de

trabalho na área. Esse tipo de informação específica era justamente a que se

esperava obter junto aos fornecedores.

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Houve uma divisão de dois grupos multidisciplinares, visando a troca de

experiências das diversas áreas presentes, sendo que se procurou dividir

igualmente a presença dos especialistas nos grupos. Inicialmente, cada grupo

recebeu instruções sobre a atividade e uma folha A3 com o Ciclo de Vida do

Produto atual e o contínuo na sustentabilidade da XX Acessórios de Moda. Cada

etapa do Workshop de Cocriação foi apresentada e explicada detalhadamente,

ratificando como seria a prática da dinâmica. O material produzido foi apresentado

em um “PowerPoint”, com a projeção de 60 (sessenta) lâminas, conforme a figura

33. Os participantes foram estimulados a sentar-se em forma de círculo para a

apresentação, a fim de que a interação entre os elementos fosse facilitada.

Figura 33: Etapas apresentadas para participantes durante o Workshop de Cocriação

Fonte: Print screen da tela do PowerPoint, elaborada pela autora e apresentado durante o

workshop, 2014

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Em um primeiro momento, durante o referencial teórico, foram abordados

alguns temas concernentes ao trabalho, tais como: a Rio+20, o relatório de Burtland,

discussões que indicam que a grande questão atual para empresas ao redor do

mundo é reduzir impactos ambientais. Além disso, o conceito de Design Sustentável,

que retrata a importância da ampliação do Design para esferas social, política e

econômica, contrastando-o com o entendimento sobre o Ecodesign, Design

Estratégico e Design Social. Além disso, foi exposto o Ciclo de Vida dos Produtos-

Serviços, segundo a concepção de Vezzoli (2010) e Manzini & Vezzoli (2008).

Discutiram-se, ainda, os tipos de processos curtentes, tipos de curtumes, a logística

reversa, Lei do Resíduo Sólido e Design for Diassembly (DFD), a diferença entre

slowfashion e fastfashion e o emprego de diferentes processos e matérias-primas

menos poluentes e agressivas ao meio ambiente, por exemplo, o couro da Tilápia9.

Na etapa seguinte, foi apresentado um modelo de Ciclo de Vida do Produto-

Serviço atual da XX Acessórios de Moda, de acordo com a Figura 31, com base nos

dados levantados nas entrevistas com empresárias, funcionários e clientes, bem

como na observação contextual. Em um terceiro momento foi ilustrado um Ciclo de

Vida do Produto no contínuo da sustentabilidade, com possíveis ampliações a partir

das esferas: ambiental, política e econômica. Em seguida apresentou-se um mapa

de atores envolvidos no processo para ressaltar que o mesmo não se inicia no couro

pronto enquanto matéria-prima. Há uma trajetória a ser considerada na cadeia como

um todo, desde o começo com o pecuarista. Na sequência foram exibidos os

critérios norteadores com placas identificadoras, impressas em A3 para serem

coladas no papel pardo que servia de fundo à atividade e onde os post its10 seriam,

igualmente, colados.

O passo seguinte foi à entrega de uma ficha para ser preenchida sobre o perfil

típico de clientes – Figura 34. Nesse momento, além da ficha, a empresária presente

relatou sobre o tipo padrão de clientes, ocorrendo, assim, uma discussão sobre os

principais perfis de clientes. Esta atividade oportunizou a construção de perfis

extremos de possíveis clientes, ou seja, da mais jovem a mais velha; daquela com

9 Espécie de peixe de água doce. 10 post its: Papel adesivo pequeno e colorido, geralmente utilizado para pequenas anotações.

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poder aquisitivo mais elevado, até a de menor poder aquisitivo; daquela que sabia

mais sobre sustentabilidade, àquela que desconhecia o contexto, por exemplo.

Figura 34: Ficha sobre o perfil apresentado aos participantes durante o Workshop de Cocriação

Fonte: Elaborada pela autora, 2014

Para esse momento, a partir do cruzamento das informações das clientes, foi

denominado o nome fictício de “Mônica” para uma cliente de 45 anos, empresária,

mãe de família, bem sucedida pessoal e profissionalmente, que procurava um

produto sem marca aparente, produtos leves, sem ferragem, preocupada com

questões ambientais. A outra cliente foi denominada “Simone”, cliente de 25 anos,

que acredita na causa dos movimentos ecológicos, empreendendo um pensamento

mais consciente, na busca por inovação, produtos coloridos e multifuncionais. Na

etapa seguinte, foi realizado um brainstorming com regras pré-estabelecidas (Figura

35), uma ferramenta comumente utilizada e que auxilia no processo de Design. Para

incitar um pensamento visual, utilizaram-se post its.

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Figura 35: Regras apresentadas aos participantes durante o Workshop de Cocriação

Fonte: Print screen da tela do PowerPoint, elaborada pela autora e apresentado durante o workshop,

2014

Dessa forma, foi realizado um recorte no Ciclo de Vida do Produto-Serviço da

XX Acessórios de Moda, dando ênfase a Pré-Produção, Produção e ao Descarte,

pois, percebeu-se através dos dados levantados, que estas fases poderiam ser

ampliadas pela empresa em direção ao Desenvolvimento Sustentável (VEZZOLI,

2010). Cada grupo recebeu blocos de post its de diferentes cores e tamanhos, com

o objetivo de que ali fossem escritas suas ideias sobre cada um dos critérios

apresentados pela mediadora. Ainda, foi realizada uma seleção de alguns Critérios

Norteadores de Design para serem apresentados para o grupo. A Figura 36 exibe os

post it relacionados ao brainstorming.

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Figura 36: Quadro de post it no processo de brainstorming no Workshop de Cocriação

Fonte: Elaborada pela autora, 2014

A partir disso, foi possível discutir as fases do Ciclo de Vida do Produto-Serviço

em relação aos Critérios Norteadores de Design, segundo os resultados levantados

com a dinâmica. Logo, na fase da Pré-Produção foram aplicados dois Critérios

Norteadores de Design, são eles: (1) Alternativas de novas matérias-primas com

menos impacto ambiental, pois a empresa somente utiliza couro vacum e caprino.

Seria possível, ainda, explorar outras alternativas já mencionadas, o couro de peixe,

por exemplo; e (2) Fornecedor com procedência da matéria-prima, uma vez que a

empresa desconhece a origem da matéria-prima que lhe e fornecida. Os resultados

são apresentados na Figura 37.

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Figura 37: Resultados dos Critérios Norteadores de Design na Pré-produção durante Workshop de

Cocriação

Fonte: Elaborada pela autora, 2014

Na fase da Produção foram aplicados cinco Critérios Norteadores de Design,

são eles: (1) Minimização dos insumos na produção, pois é possível diminuir a

utilização de insumos e equipamentos na produção, assim como a empresa faz com

o não uso de forro; (2) Multiplicação de conhecimento com funcionários, porque os

funcionários, apesar de estarem bem informados sobre questões relativas à

sustentabilidade, não conhecem os processos curtentes; (3) Identidade cultural, em

virtude de os produtos não possuírem aspectos simbólicos culturais, apesar de

serem confeccionados levando-se em conta a demanda pontual dos clientes; (4)

Envolvimento com grupo em vulnerabilidade social, pois a empresa pode fazer

parcerias visando à produção, em especial alguma comunidade próxima ou com

quem já haja algum tipo de parceria; (5) Ligação emocional entre produto e usuário,

pois poderia potencializar o valor agregado da marca ao fortalecer o vínculo com o

consumidor final.

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Figura 38: Resultados dos Critérios Norteadores de Design na fase da produção durante Workshop

de Cocriação

Fonte: Elaborada pela autora, 2014

Na fase do Descarte foram aplicados três Critérios Norteadores de Design, são

eles: (1) Aproveitamento na última fase do resíduo, pois se pode aproveitar ainda

mais os resíduos antes de descartá-los; (2) Extensão do Ciclo de Vida do Produto-

Serviço, porque há outros usos possíveis para as sobras; e (3) Pós- venda: aumento

da fidelização dos clientes, pois, entre outros, a empresa não realiza a Logística

Reversa.

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Figura 39: Resultados dos Critérios Norteadores de Design na fase do Descarte durante Workshop de

Cocriação

Fonte: Elaborada pela autora, 2014

3.5 Analise e Resultados dados da pesquisa

Na análise desenvolvida pontuaram-se as atuais ações da empresa com seus

respectivos Produtos-Serviços, confrontando-as com o escopo teórico utilizado.

Assim, através de uma triangulação entre o observado pela pesquisadora, a fala da

empresa XX Acessórios de Moda e dos especialistas junto com à teoria, foi possível

sugerir algumas intervenções visando a melhorias para que a organização, como um

todo, esteja completamente alinhada com a concepção de uma sustentabilidade

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ampla. A metodologia empregada, assim como as técnicas que envolveram a

presente pesquisa, sobretudo o Workshop de Cocriação, forneceu um panorama

geral da empresa analisada no Estudo de Caso (CRESWELL, 2010) a ponto de ser

possível mapeá-la quanto a questões relativas às sustentabilidades.

Desse ponto, o trabalho orientou-se por meio das visões do Design Estratégico

(BURKHÁRDT, 2009) em relação ao Ciclo de Vida do Produto-Serviço, discutindo

novas alternativas de processos, técnicas e/ou produtos a fim de obter resultados na

esfera ambiental, social e econômica do Ciclo, ampliando a concepção desses e

tornando a organização mais competitiva e diferenciada em relação a concorrentes.

Nesse sentido, o Design Estratégico é empregado, pois representa um novo

paradigma em relação à concepção do produto para algo além de um bem concreto.

O contexto do Design Estratégico é justamente a maior complexidade e

competitividade dos mercados, que exigem soluções cada vez mais criativas e

inovadoras (ZURLO, 2010).

Segundo Francesco Zurlo (2010),

Il design strategico opera in ambiti collettivi, ne supporta l’agire grazie alle proprie capacita e finalizza la propria operativita alla produzione di un effetto di senso. Il risultato di tale operazione si concretizza in sistemi di offerta piu che in soluzioni puntuali, in un prodotto-servizio piu che in un semplice prodotto, rappresentazione visibile della strategia.11 (ZURLO, 2010, p. 2)

Por conseguinte, soluções criativas e inovadoras utilizadas por Designers

procuram interferir no Ciclo de Vida do Produto com métodos e processos que

potencializem as questões ambientais, sociais e econômicas. Segundo Manzini e

Vezzoli (2008, p.100), o objetivo desse empreendimento é “reduzir a carga ambiental

associada a todo o Ciclo de Vida de um produto”. Ainda, na visão dos autores,

Um produto que é mais durável que o outro, determina geralmente um impacto ambiental menor, se um produto dura menos,de fato não só gera precocemente mais lixo, mais determina também outros impactos indiretos, como a necessidade de ter que substitui-lo. (VEZZOLI, 2005, p. 182)

11 “O Design Estratégico opera no âmbito da coletividade, apoia as ações as suas capacidades e finaliza suas ações para a produção de um efeito de sentido. O resultado dessa operação se concretiza em sistemas que oferecem alem de soluções pontuais, em um produto-servi9o que representa mais do que um simples produto, representação da estratégia”. Tradução da autora.

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O Designer assume um papel de maior protagonismo nesse processo ao

propor as alternativas de um Design para Sustentabilidade. Por meio do seu trabalho

é possível concretizar o ideal de uma sociedade mais justa, igualitária e que respeite

o meio ambiente. A sua maneira de se comunicar e o projeto que realiza.

O projetista na o tem nem a legitimidade e nem os instrumentos para obrigar (através de leis) ou para convencer (através de considerações morais) qualquer um a modificar o próprio comportamento. Deduz-se, dai, que ele só pode oferecer soluções, isto e, produtos e serviços que qualquer pessoa possa reconhecer como melhores do que os oferecidos anteriormente. (MANZINI & VEZZOLI, 2008:71).

Esta pesquisa insere-se nesse cenário. Assim sendo, a partir dos dados

provenientes das entrevistas, definiram-se as seguintes etapas do Ciclo de Vida do

Produto utilizadas no Workshop de Cocriação e posteriormente analisadas: (1) Pré-

produção, (2) Produção e (3) Descarte, considerando-se um Ciclo de Vida fechado

do produto. Além disso, a sistematização baseou-se, em especial, nas propostas de

Manzini e Vezzoli (2005; 2008), Vezzoli (2008) e de Maxwell e Vorst (2003), por

ponderar-se que seriam as mais apropriadas para um projeto como este.

1) Pré-produção:

Nesta fase identificaram-se novas possibilidades quanto à utilização de outras

matérias-primas, além do couro vacum e caprino, assim como a necessidade de

averiguar-se a procedência do fornecedor da matéria-prima atual. Na esfera

ambiental, o couro de peixe, por exemplo, não é explorado. Ainda, existem

cooperativas engajadas em desenvolver produtos, como acessórios de moda,

artesanato e outros, a partir do couro do peixe como matéria-prima. É o caso da

Art’Escama, situada na Ilha da Pintada em Porto Alegre12. A entidade utiliza a

escama e o couro de peixes provenientes do Delta do Jacuí para elaborar seus

produtos. Começou com a confecção de artesanato e hoje produz também

acessórios de moda. A organização apresenta-se da seguinte maneira:

Começa assim uma produção com base na matriz de eco desenvolvimento do Bairro Arquipélago Porto Alegre RS, ao serem utilizados como matéria

12 Para ver mais sobre a organização: http://artescama.blogspot.com.br

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prima as escamas e o couro de peixe, até então jogados fora. Surgem dessa produção bio joias, bordados, luminárias, porta guardanapos, dentre outros, que se constituem numa possibilidade estratégica de ampliação das oportunidades de trabalho e de melhoria de renda dos pescadores, num contexto onde as oportunidades de emprego e de trabalho para a maioria das famílias, são cada vez mais escassas.13

Ainda, outro couro que também poderia ser utilizado é o de rã. Já que existem,

inclusive, empresas especializadas no curtimento desse tipo de pele.

A Aguapé é uma empresa brasileira que se especializou no curtimento de peles exóticas (peixes e rã), atualmente com foco no curtimento, tingimento e acabamento de peles de tilápia.[...] Alguns anos de desenvolvimento e pesquisas nos trouxeram reconhecimento por oferecer um couro de peixe de extrema qualidade, com ampla diversidade de cores e acabamentos, sempre aliado a um processo de curtimento 100% vegetal. Este tipo de processo não utiliza cromo ou outro metal em nenhuma etapa de curtimento das peles; o único agente curtente é o tanino, pó extraído da casca de algumas espécies de árvores, como a Acácia.14

Além do mais, existe também a possibilidade de serem utilizados outros

materiais afora os couros, como, as fibras vegetais. Apesar de os recursos naturais

de nosso planeta serem limitados, florestas e produtos cultivados são renováveis,

desde que respeitados seus períodos de regeneração. De acordo com Fletcher e

Grose (2011, p.14), “o segredo para a inovação com materiais é fazer perguntas - a

fornecedores, clientes e compradores - sobre a adequação de determinada fibra

para um fim específico e sobre as alternativas existentes”. Citam ainda que “Vincular

uma peça de roupa a seu usuário é o primeiro passo para que pequenas alterações

nos materiais possam se traduzir em grandes efeitos sobre os produtos e o

comportamento dos consumidores” (idem). Por fim, nesse sentido afirmam que

“Fibras cultivadas, como o algodão e o cânhamo, ou feitas da celulose das arvores,

como o liocel15, podem estabelecer o equilíbrio crucial entre velocidade de colheita e

velocidade de reposição e são renováveis” (idem).

Na esfera econômica, de outra maneira, conhecer a procedência da matéria-

prima do fornecedor, como nesse caso a empresa desconhece, configura-se em um

13 Site da instituição, disponível em: http://artescama.blogspot.com.br/p/quem-somos.html 14 Sítio da instituição, disponível em: http://águapele.com.br/curtume-processo/) 15 O liocel ou lyocel é mais comumente conhecido como tencel, que é uma fibra artificial obtida da celulose da polpa da madeira de árvores de florestas autossustentáveis. Citado em MOREIRA, M.V.; TEIXEIRA, R.C.. Estado da Arte Tecnológico em Processamento do Couro: Revisão Bibliográfica no âmbito Internacional. SENAI, 2003.

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pressuposto importante para a Pré-Produção porque, de certa maneira, apesar de o

insumo utilizado ser de outra produção anterior, a sustentabilidade deste insumo

pode ser prejudicada caso ele tenha passado por um curtimento não vegetal, por

exemplo, no caso do couro. Dessa forma, Moreira e Teixeira (2003) explicam que as

características e processos químicos envolvidos, bem como o tipo de produto final a

ser gerado, implicam diretamente nos impactos ambientais do Ciclo de Vida.

No caso da empresa estudada, não considera uma análise dos processos de

curtimento do couro vacum, pois a matéria-prima é adquirida de fornecedores em

armazéns (ponta de estoque), assim sem procedência e conhecimentos dos

processos químicos utilizados na transformação de peles em couros e seus

respectivos acabamentos (citados no referencial teórico na sessão 2.3.1.1).

2) Produção:

Nessa fase, na esfera econômica, constataram-se alternativas que dizem

respeito à minimização dos insumos na produção, a maior multiplicação de

conhecimento com os funcionários, a aspectos de identidade cultural que podem

estar presentes nos produtos, formas de envolvimento com grupos em situações de

vulnerabilidade e enfoques de ligação emocional entre os produtos e seus usuários.

O fato de a empresa não utilizar o processamento convencional para a

produção dos seus bens, tais como forro, cola, e aviamentos em excesso, já a

diferencia. Nesse caso, alguns ajustes ainda poderiam ser realizados, como o uso

de resina vegetal, ou mesmo uma modelagem das peças que minimizasse o uso de

certos metais e zíperes, por exemplo.

Nessa lógica, seguindo na esfera econômica, a XX Acessórios de Moda

possibilita que o cliente desenvolva um acessório sob medida no ateliê. Assim,

conforme Fletcher e Grose (2011), se enquadra no conceito de slowfashion, no qual

o cliente concentra boa parte da importância do produto encomendado a experiência

em criá-lo e produzi-lo de maneira particular e exclusiva.

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119

Segundo Debiagi (2012, p.37) apud VERGANTI (2009), “um aspecto relevante

que diferencia a inovação por meio do Design da inovação que ele chama de técnica

é que o conceito de inovação técnica está fortemente ligado aos processos

industriais, às mudanças de equipamentos de produção, à descoberta de novos

materiais, ou seja, aos aspectos tecnológicos, à otimização de recursos e

processos”.

Quanto à identidade cultural, na esfera social, a empresa poderia explorar mais

seus laços com culturas regionais que utilizam o couro em seus artefatos, incluindo

aqui, a possibilidade de uma linha especifica para tal. Ao mesmo tempo, as peças

seriam capazes de assumir um papel educativo com os seus consumidores sobre

temas das sustentabilidades. Essa ênfase no desenvolvimento de uma identidade

cultural a empresa caracteriza-se como uma estratégia de diferenciação no

mercado.

Desta maneira, “a posse ou o consumo de produtos, sejam eles materiais ou

imateriais, representam para o sujeito moderno muito mais do que simples

aquisições. Os valores atribuídos aos produtos transcendem eles próprios e as

motivações do seu consumo de moda vão além da clássica explicação da busca por

status” (BERLIM, 2014, p.46). Ademais,

Mais preocupado com o “ser” do que com o “ter”, o novo consumidor e mais responsável com relação ao meio ambiente e consigo mesmo. Ele se expressa não pela posse de bens, mas principalmente pela riqueza de valores interiores. (COBRA, 2007, p.62)

Ainda na esfera social, outra dimensão importante dessa fase diz respeito ao

envolvimento da empresa com a comunidade para a qual faz as doações das sobras

das matérias-primas que utiliza. Essa atitude, em si, é louvável e apresenta certa

sustentabilidade na relação da organização com o entorno. Entretanto, é um pouco

limitada esta ação, se consideradas as diferentes possibilidades existentes. As

doações são realizadas para uma escola de samba de um bairro distante da sede da

empresa. A empresa, em virtude dos produtos com os quais trabalha poderia

realizar outras ações, seja com essa escola de samba, seja com a comunidade a

sua volta. A fim de ampliar as sustentabilidades no que diz respeito a esse ponto, a

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XX Acessórios de Moda seria capaz de, por exemplo, capacitar os interessados

desta escola a manusear tecnicamente estas sobras, com tecnologias de

transformação do couro ou algo similar. Assim, de acordo com Peroba (2008, p.40),

“o Design Social se torna uma atividade econômica que conduz ao crescimento e

desenvolvimento do local onde o projeto é realizado”. Ademais, em termos sociais,

seria possível instrumentalizar essas pessoas, desde que interessadas, a gerar

renda a partir dos materiais doados.

Em Santa Catarina, por exemplo, é o que faz o Núcleo de Gestão de Design da

Universidade Federal de Santa Catarina (FIGUEIREDO; MERINO; MUNIZ;

MERINO, 2009, p.1511):

No ano 2002 fez-se um convênio de parceria entre o governo do estado de Santa Catarina (Brasil), através do Centro de Estudos de Safras e Mercados (EPAGRI) vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura e Política Rural do Estado de Santa Catarina no desenvolvimento de projetos na área de Valorização de Produtos da Agricultura Familiar. Ao longo destes anos foram realizadas inúmeras ações em diversos municípios do estado de Santa Catarina, incorporando o Design no processo de valorização dos produtos inicialmente no que se referem a embalagens, rótulos, informações nutricionais, dentre outras, juntamente com ações no processo de gestão dos produtores (no aprimoramento, bem como nos aspectos legais e normativos). [...] Isto tem gerado alguns impactos considerados positivos, a modo de exemplo pode se citar o reconhecimento por parte dos produtores rurais da importância do Design, a geração e melhoria da renda (verificado através de pesquisa de mercado após a incorporação do Design), novas oportunidade de desenvolvimento e crescimento no local de origem, auxiliando na diminuição do êxodo, melhora na autoestima, reconhecimento de órgãos de fomento e apoio (criação de planos governamentais na valorização de produtos deste setor) e principalmente a ativa participação das comunidades, aportando ideias, discutindo as propostas, com uma postura considerada proativa e altamente positiva.

Outros exemplos na esfera econômica, também podem ser citados, como as

ações da marca de roupas Dudalina, em especial no que diz respeito ao reuso de

materiais descartados e na qualificação de mão de obra de determinadas

comunidades para o mercado de trabalho.

Sob a coordenação do Instituto Adelina, são produzidas ecobags com sobras de embalagens e de tecidos da própria produção de camisas da marca. Além de fornecer esses materiais, a Dudalina doa máquinas de costura e oferece capacitação para as costureiras que participam do projeto, que já atua em estados como Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Rio de Janeiro, Paraíba e Ceará. Esse ciclo sustentável se completa com a compra, pela Dudalina, de todas as sacolas produzidas para a distribuição

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121

em eventos e lojas. 16

Por fim, é preciso citar que, na fase da produção, a empresa desempenha um

importante papel com enfoque na ligação emocional entre o produto e o cliente. Na

XX Acessórios de Moda, os clientes, de maneira geral, participam do processo

criativo através de diálogos prolongados e intervenção direta na modelagem das

peças e alocação de acessórios.

3) Descarte

Por fim, na fase do Descarte, as alternativas que surgiram estão relacionadas

ao aproveitamento na última fase do resíduo, a extensão do Ciclo de Vida do

Produto-Serviço e ao pós-venda, pretendendo-se o aumento da fidelização dos

clientes. Na esfera ambiental, a empresa tem empreendido esforços importantes

quanto a dimensões da sustentabilidade para o descarte, entre as quais, nota-se a

preocupação da organização na separação do lixo em seu ambiente de trabalho.

Existem diferentes recipientes para acomodar tipos diferentes de resíduos, como,

papel, plástico, vidro, couro. A XX Acessórios de Moda desenvolveu, também, ações

para diminuir o descarte das sobras da sua produção. Lançou recentemente, em

2014, uma nova linha de acessórios infantis e, neste ano de 2015, lançará uma linha

de produtos de decoração para residências.

Entretanto, pensando na esfera ambiental, neste momento a empresa não

emprega a Logística Reversa. A Lei do Resíduo Sólido17 presente neste trabalho no

anexo D, estabelece a definição de Logística Reversa:

instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada. (Capítulo II - Definições, art. 3°, XIII)

16

Blog Glamurama. Disponível em: http://glamurama.uol.com.br/dudalina-investe-em-trabalhos-sociais-desde-2006- 17 Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Disponível no Anexo D do presente trabalho.

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Essa dimensão oferece vantagens competitivas às organizações com relação à

esfera econômica. Nesse contexto, Soares e Soares (2009, p.124) afirmam que, no

DFD (Design for Disassembly), a desmontagem permite uma maximização nas

fontes de reciclagem e minimiza a potencialidade de poluição de produtos,

facilitando de desmonte do produto. Como exemplo, pode-se tomar o caso da

empresa de tecidos e confecções Levi Strauss e Co. (LEVI’S), conhecida

mundialmente pela fabricação de calças jeans. Ao praticar uma estratégia de

“retorno liberal” de seus produtos, a LEVI’S experimentou um aumento de 50% do

total retornado. Através de uma parceria com o operador logístico GENCO,

companhia americana especializada em logística reversa, a empresa constitui um

centro especializado em Atlanta (EUA) para “retorno, seleção e destino”. Esses

retornos são enviados a mercados secundários da LEVI’S, como outlets, uma vez

que nestes lugares os clientes preocupam-se menos com cores, tamanhos. (LEITE,

2009, p.26).

Para Vieira, Soares & Soares (2009, p.124),

O verdadeiro papel da logística reversa, que é de facilitar o retorno do produto ao ciclo produtivo ou remanufatura, reduzindo desta forma a poluição da natureza e o desperdício de insumos. A logística reversa possibilita a devolução do produto pelo consumidor não apenas para o fornecedor direto, mas também para seu fabricante. O fabricante, por sua vez, se encarregará pela reciclagem ou reutilização do produto como insumo. Dada a destinação adequada ao produto, o mesmo poderá ser remetido novamente ao mercado consumidor quando possível.

Assim, a Logística Reversa caracteriza-se como um processo que auxilia na

redução dos impactos ambientais no Ciclo de Vida do Produto, ao passo em que

oferece vantagens econômicas competitivas no mercado.

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123

4 EM DIREÇAO A UMA METODOLOGIA E PROJETAÇAO DAS

SUSTENTABILIDADES NA INDUSTRIA DA MODA: CICLO DE VIDA DO

PRODUTO DE ACESSORIO DE MODA PARA AS SUSTENTABILIDADES

O mapeamento ampliado do Ciclo de Vida Produto-Serviço da empresa XX

Acessórios de Moda foi realizado a partir de reuniões com as empresárias,

funcionárias, clientes e de acordo com as pesquisas de estudos de casos realizadas

e descritas e analisadas no Capítulo 3 do presente trabalho. Este levantamento leva

em consideração o sistema de produção atual da empresa e como são identificadas

as interfaces com a sustentabilidade nas três esferas, enfatizando principalmente as

fases da Pré-produção, Produção, Descarte. A partir dessas informações, em

conjunto com os temas emergentes, Critérios Norteadores apontados e

consequentemente suas resposta com intuito de ampliar a sustentabilidade da

empresa, pretende-se desenvolver os cenários para a empresa de forma a ampliar

as possibilidades nesta linha, agregando valor social à marca, que atualmente atua

no segmento de acessórios e utiliza resíduos de couro como matéria-prima. A figura

40 apresenta o Ciclo de Vida do Produto-Serviço da XX Acessórios de Moda no

contínuo da sustentabilidade, ampliando seu modelo atual para as esferas: sociais,

econômicas e políticas, além dos critérios norteadores e suas possibilidades de

respostas a cada fase.

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125

4.1 CENÁRIO PARA AS SUSTENTABILIDADES

Os propósitos da utilização dos cenários são os mais diversos, no entanto,

aplicam-se em geral, em situações de difícil previsão. Parece contraditório, mas o

que pode ser previsto não necessita de cenários, ou seja, para a previsão o fato já

está dado na sua base. Celaschi e Deserti (2007) afirmam que os cenários são

projeções e que lidam com a incerteza do ambiente futuro e não com a

previsibilidade evidente. Sendo assim, considera-se a diversidade das ocorrências

futuras por mais estranhas que elas pareçam. Os cenários são construídos cruzando

os conceitos do Gráfico de Polaridades e com uma História que simula a situação

futura. “O planejamento de cenários se estabelece por meio de hipóteses nas quais

existem riscos, incertezas causas e efeitos, bem como as possibilidades reais de

cada cenário” (MORAES, 2010). Assim, com base em uma análise pautada no

reconhecimento de cenários potenciais, evidencia-se de forma mais explícita uma

oportunidade. Logo, no Design Estratégico, o planejamento de cenários representa a

construção de mundos possíveis, ou possibilidades de contextos que possam

antecipar as possibilidades do projeto.

Normalmente, a representação de um cenário está embasada em uma visão de

futuro constituída por vários elementos que emergem ao contexto do problema.

Dessa forma, neste trabalho, após análise do Ciclo de Vida do Produto e Serviço e o

Workshop de Cocriação, além da avaliação da sustentabilidade nas três esferas

mencionadas, vislumbrando um cenário para agregar e ampliar as questões

ambientais, econômicas, sociais e a novas frentes de mercado para a XX Acessórios

de Moda.

Esse cenário faz parte de uma etapa analítica com base em constatações na

fase do Ciclo de Vida, especificamente no descarte, pois foi constatado que há

preocupação em resolver problema com o ciclo conhecido como “aberto”, se

referindo aquele que, em alguma fase do Ciclo de Vida do Produto-Serviço ou

embalagem ocorre um desvio, acidental ou intencional, que o retira deste Ciclo (ver

Figura 13). Dessa forma, a empresa fazendo um reuso das peças para uma nova

coleção estaria previamente alterando seu formato aberto, assim não representando

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126

uma ruptura no processo de aproveitamento e um desperdício de recursos. Com os

resultados do cenário, podem-se aprofundar estratégias de melhorias para empresa.

• Cenário 01

Na etapa do Reuso, onde há alternativas para estratégias visando a

sustentabilidade ampla, ocorre uma alternativa de criação para uma nova coleção

com doação de peças da XX Acessórios de Moda que não são mais utilizadas pelos

clientes. Sendo assim, seria possível, ainda, a partir da disponibilidade de

recebimento de material, que não será utilizado, fazer uma doação? Em caso

positivo, poderíamos considerar a possibilidade de a partir de uma coleção de peças

de reuso, desenvolver uma nova coleção para linha casa trabalhando outras

técnicas?

Desafio:

É possível criar uma coleção sobre um produto já manufaturado e reaproveitá-

lo em uma nova coleção?

Com base neste cenário, é possível propor algumas hipóteses visando à

ampliação da sustentabilidade, criando estratégias pontuais conforme figura 41: (1)

Catálogo de produtos da empresa; (2) Oficinas de consertos de peças; aquelas que

não são mais aproveitadas; (3) Catálogo de possíveis tratamentos e processos de

revitalização; (4) Glossário com especificações técnicas sobre processos curtentes e

tratamentos; (5) Trabalho na superfície em peças prontas, como a utilização de

resina, material menos agressivo ao meio ambiente; e (6) Workshop, ou seja, um

curso de reuso para outras possibilidades de desenvolvimentos de outros produtos.

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127

Figura 41 – Hipóteses para o cenário proposto

Fonte: Elaborado pela autora, 2014.

4.2 SISTEMATIZAÇÃO DE METODOLOGIA PARA ANALISE E PROJETAÇÃO

DAS SUSTENTABILIDADES NA INDÚSTRIA DA MODA E ACESSÓRIOS DE

COURO

Fuad-Luke (2002), em seu Sourcebook para EcoDesign, no Anexo C do

presente trabalho, apresenta diversas sugestões e estratégias para lidar com a

questão do vestuário de moda e acessórios. As sugestões vão desde o uso de

outros materiais menos poluentes e de origem vegetal, até soluções de produtos de

moda que sejam mais flexíveis, funcionais e reaproveitáveis.

No caso, do couro, é possível o emprego de materiais de couro vegetal para a

confecção de bolsas e acessórios. Esses diferentes materiais, além de menos

poluentes, normalmente são oriundos ou beneficiam de alguma forma as

comunidades criativas que dependem do desenvolvimento destes materiais como

fonte de recursos para a sua subsistência.

Nesse sentido, o papel do Design é direcionar as alternativas para a ampliação

das sustentabilidades dentro da organização, demonstrando e avaliando a situação

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atual de desenvolvimento dos produtos e como esta ampliação pode ser realizada.

Uma ampla discussão deverá ser conduzida de forma a esclarecer os atores

envolvidos no processo de cada etapa e o que está relacionado a isso. Em Anicet et

al. (2012) é apresentado um estudo com a quantificação da sustentabilidade

aplicada ao Design Têxtil. Neste trabalho é empregado o FDOT (Sustainability

Design Orienting Toolkit), que funciona através de checklist que, conforme o artigo,

possui três objetivos. Quais sejam: 1) identificar as prioridades de sustentabilidade

para a empresa de Design; 2) gerar ideias sustentáveis; e, 3) visualizar a melhoria

alcançada. A figura 42 demonstra um exemplo utilizando as dimensões com

requisitos e diretrizes.

Figura 42 - SDO estrutura, dimensões, requisitos e diretrizes da sustentabilidade.

Fonte: Vezzolli(2010), adaptada pela autora.

A ferramenta está disponível na Internet e livre para ser utilizada. Esse

programa auxilia na tomada de decisões apontando para as soluções mais

sustentáveis com base em requisitos e diretrizes apresentadas no anexo B do

presente trabalho. Segundo Vezzoli (2012), ele pode ser utilizado tanto na

exploração de oportunidades (na análise estratégica), como durante a fase de

geração de ideias sustentáveis e até mesmo na fase de desenvolvimento do projeto.

No estudo de Anicet et al. (2012), por exemplo, foi empregado para avaliação de

produtos da área têxtil, porém para o presente projeto em decorrência da aplicação

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sistêmica do Design Estratégico, assim como da Grounded Theory, não se realiza a

análise somente dos produtos em termos de sustentabilidade, uma vez que realiza-

se mais apropriadamente uma avaliação do Ciclo de Vida do Produto, com base nos

Critérios Norteadores de Design na sessão 3.3.4.

Dessa forma, a ferramenta é baseada no Ciclo de Vida do Produto-Serviço de

Vezzoli e Manzini (2008), e, portanto, poderá ser empregada para o fechamento da

dissertação proposta neste documento. Ainda há a possibilidade de uma viabilidade

de aplicar esta sistematização na Indústria da Moda e do Couro e não somente na

empresa estudada.

4.2.1 Visão sistêmica

Para que fosse possível o entendimento amplo das sustentabilidades no Ciclo

de Vida do Produto-Serviço, fez-se uma releitura do mesmo a partir da referência

teórica discutida ao longo deste trabalho em contraste com o Estudo de Caso. Nesse

diapasão, como parte do processo de discussão aqui dirigida, apresenta-se uma

alternativa de visão sistêmica do processo Ciclo de Vida do Produto-Serviço aplicado

ao desenvolvimento de Acessórios de Moda, empregando o couro como matéria-

prima e baseando-se em uma ampliação dos conceitos de sustentabilidade. Para

construir essa visão sistêmica (figura 43), foi utilizado o Design Estratégico.

Figura 43 – Esquema visão sistêmica com cinco fases desenvolvida com base nos resultados

Fonte: Elaborado pela autora.

Na figura 44 são apresentadas, em primeiro plano, a sistematização com Ciclo

de anel fechado partindo de uma extração consciente, uma produção consciente,

após um consumo consciente, depois uma distribuição consciente e por fim um

reuso consciente. Tal sistematização compreende uma conjuntura de processos de

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Ciclo de Vida Produto-Serviço de Manzini e Vezzoli (2008), Ciclo de Vida de

Produtos de Moda de Berlim (2012) e particularidades do setor do couro animal

compreendendo as esferas ambientais, sociais e econômicas. Além de conceitos e

referenciais de Design Thinking, ISSO 14001, slowfasion, Design Social, Logística

Reversa e DFD.

Na Sistematização de Metodologia para Análise e Projetação das

Sustentabilidades na Indústria da Moda e Acessórios de Couro podem ser inseridos

cenários em qualquer uma das etapas do Ciclo de Vida Produtos-Serviços. Portanto,

neste trabalho foi inserido, na sistematização, a etapa do Descarte (conforme figura

45), a qual apresenta os resultados e estratégias para possíveis melhorias na

empresa. Nesse caso simboliza: (a) Catálogo de produtos da empresa, (b) Oficina

de consertos de peça, (c) Catálogos de possíveis tratamentos e processos de

revitalização, (d) Glossário técnico da empresa, (e) trabalho na superfície em peças

prontas, (f) workshop e curso de reuso.

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Figura 44 – Sistematização da abordagem projetual juntamente com Ciclo de Vida de Produto-Serviço de moda visando sustentabilidade ampla

Fonte: Elaborado pela autora, 2014

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Figura 45 - Sistematização da abordagem projetual juntamente com ciclo de Vida de produto de moda e o possível cenário no descarte visando sustentabilidade ampla

Fonte: Elaborado pela autora, 2014

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133

5 CONSIDERACOES FINAIS

A interpretação dos resultados obtidos na etapa do Workshop de Cocriação

é responsável por gerar modelos e projetações para sustentabilidade ampla.

Conforme previsto no objetivo geral, este estudo apresentou sistematizações e

abordagens projetuais do Design para as sustentabilidades, considerando as esferas

ambiental, social e econômica, bem como os Ciclos de Vida de produtos de Moda,

observando especificamente acessórios de couro. Os resultados deste estudo são

influenciados através de estratégias em ambas esferas tornando a empresa

analisada mais competitiva no mercado assim como ampliando sua sustentabilidade.

Nesse sentindo, é percebido que as organizações estão procurando inovar e

transformar seus modelos de negócio para garantir a eficiência, ao mesmo tempo

em que buscam uma marca responsável, gerando novos valores sociais aos seus

negócios. As atividades organizacionais devem ser transparentes para atender o

interesse de diferentes públicos, incluindo: o mercado, os trabalhadores, as

organizações não governamentais, os investidores e os pesquisadores. Para

alcançar esse objetivo, ou seja, para um melhor cuidado com o planeta, novos

conhecimentos e inovações em tecnologia, em modelos de gestão e em políticas

públicas desafiam as organizações nas suas escolhas em busca de desenvolver

suas operações, novos produtos, melhorar e ampliar os serviços e promover as

atividades sobre as economias e as pessoas. A sustentabilidade passa a constituir-

se em requisito padrão, incorporando-se nas estratégias das organizações.

Logo, salienta o próprio papel das empresas como organizações

exclusivamente econômicas e colocadas em debate, destacando seu potencial como

forças capazes de gerar soluções positivas para os desafios sociais. A cocriação e a

coinovação em todas as esferas e instâncias da ação humana pedem por formas

inovadoras também no modo como a cooperação interinstitucional ou interatores

pode se dar. A atividade que promove o elo entre esses temas é a gestão e os

processos que o descrevem. É a gestão que constitui o processo que promove as

escolhas, a aquisição, alocação e otimização de recursos, inclusos aÍ o esforço

humano e os recursos físicos, priorizando valores e estabelecendo padrões para

ação.

Um importante procedimento do presente trabalho foi a realização do

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134

Workshop de Cocriação, empregado como ferramenta avaliativa do Ciclo de Vida

Produto-Serviço segundo alguns Critérios Norteadores de Design. Nesse Workshop

foram tratadas questões sobre como ampliar a sustentabilidade nas três esferas:

ambiental, social e econômica de forma a ampliar o valor social agregado à marca

da organização. A pesquisa realizada apresentou algumas limitações, entre elas

destaca-se a negativa da empresa XX Acessórios quanto a participação dos

fornecedores no processo como um todo. Procurou-se amenizar esta ausência

através dos convites realizados às especialistas da área, que de alguma maneira

pudesse oferecer uma opinião técnica para a discussão. Além disso, a avaliação do

Ciclo de Vida do Produto/Serviço de Moda é relativamente incipiente, carecendo de

mais pesquisas e, consequentemente, referencial teórico conceitual.

A primeira etapa para o Ciclo de Vida do Produto-Serviço é a Pré-produção,

como o produto é extraído. A relevância de saber onde é extraído o material que

será utilizado em cada peça. Aqui, deve-se observar de onde são extraídas as

matérias primas, que comunidades são envolvidas, verificar se agrega valor à

inovação social, e se é um produto que, caso colocado em aterro sanitário, gerará

toxicidade dos solos, dentre outras coisas. Analisando as questões de

sustentabilidade ambiental para essa etapa: seleção de matéria-prima, redução de

uso de materiais poluentes e agressivos ao meio ambiente, considerar a pré-

produção de materiais e o nível de agressão ao meio ambiente e as questões

sociais. Como por exemplo, devem-se utilizar resíduos da indústria do calçado como

matéria-prima, apenas os resíduos de couro animal? Considerar outros resíduos no

processo de fabricação, como visto em resposta no Workshop de Cocriação, o

emprego do couro da tilápia como uma alternativa de matéria-prima mais limpa.

Além disso, foram analisados quais os materiais empregados no desenvolvimento de

cada peça e avaliado o impacto ambiental gerado no próximo passo, que é o

desenvolvimento do produto.

A fase seguinte é da transformação dos materiais, montagem e criação das

peças. Nessa fase devem-se aplicar as recomendações da ISO 14001 para o

desenvolvimento de produtos verdes. E, dessa forma, garantir o desenvolvimento de

produtos com base no Ecodesign. Mas isso não é o suficiente para se alcançar a

sustentabilidade nas demais esferas: econômica e social. Para o desenvolvimento

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das peças, avaliar o que será gerado como resíduo da produção. No caso de recorte

de matéria-prima, como o couro, por exemplo, buscar soluções que inovem no

sentido de usar mais do mesmo e desperdiçar menos. A forma de descartar o

material que sobra da produção deverá agredir menos o ambiente, buscar o uso de

material que possa ser reciclado ou reutilizado. Reduzir a quantidade de resíduos

sólidos e líquidos depositados no meio ambiente. No caso de utilização de material

galvanizado, procurar o uso de forma consciente, pois é um material extremamente

poluente em sua forma de produção.

A questão social é presente nas etapas de Pré-produção e Produção, além no

descarte, assim sendo associadas às comunidades de entorno, exemplos de

conceitos do Design Social, de onde são extraídas as matérias-primas, por exemplo.

No caso de uso de resíduos, é possível mobilizar pessoas a formar cooperativas e

realizar a pré-seleção de material a ser utilizado na área da moda. E, dessa forma,

criar uma ação de inovação social, oportunizando uma nova fonte de renda para as

pessoas que vivem próximas das áreas de Indústria de Calçados e que possam ter

uma nova fonte de renda. No caso de uso do couro do peixe, se beneficiam as

comunidades que dependem em uma finalização aos resíduos da pesca. É possível

ainda, capacitar as pessoas com formas de uso de resíduos no sentido de promover

as comunidades criativas nas dependências das indústrias de calçados. Ainda no

descarte, conclui-se que o ciclo da empresa estudada é de “anel aberto”, pois ocorre

um desvio durante a fase de retorno dos produtos à empresa. Assim, sugere-se

implantar a Logística Reserva utilizando o DFD no processo de produção para

facilitar desmontagem no reuso da peça.

Com relação à questão da sustentabilidade econômica, analisou-se e conclui-

se que a organização pode ampliar seu negócio e agregar valor social à marca, e

realizar uma ampliação das peças e materiais empregados. Considerando que o

mercado responde positivamente às empresas que usam como valor agregado o

comprometimento ambiental e social, visar o posicionamento do mercado da

organização e sua marca. Para cada uma das etapas anteriores, é possível criar

cenários de melhorias econômicas em função do valor agregado ao tema de

sustentabilidade nas três esferas.

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Na Distribuição consciente desenvolve-se através da inspiração dos processos

de que eram realizados antes da chegada da indústria. Nessa época, utilizavam-se

os serviços e mão de obra mais próximos aos locais, evitando a busca de

fornecedores em grandes distâncias. Aconselha-se fazer um levantamento do que é

necessário em termos de fornecedores e buscar os mais próximos. Tentar reduzir os

gastos com logística para a distribuição dos produtos. Essas duas ações beneficiam

questões sociais e ambientais. Nessa fase, a empresa já desenvolve ações

sustentáveis no momento que reaproveita caixas doadas por parceiros.

Como dito anteriormente, o consumo é o vilão da área da Moda, considerado

como fastfashion. Aqui, deve-se valorizar o tempo de produção, o cuidado com cada

peça, fomentar questões sociais e ambientais. Convencer o consumidor que está

adquirindo um produto diferenciado e de certa forma desenvolvido na filosofia

"orgânica". Cada peça tem de ser especial na sua maneira de ser. E por isso tem

valor, vida longa e o comprometimento social. Em contra partida percebeu-se a

presença do conceito slowfashion na produção, uma vez que prioriza a qualidade

em vez da quantidade.

Além disso, constatou-se a importância de empregar na criação das peças, um

laço mais afetivo de consumidores com o seu produto adquirido. Criar peças que

possam ser reutilizadas. Criar um mecanismo de comunicação através de portal da

organização em que os clientes possam devolver as peças sob forma de doação e

que as mesmas gerem uma nova coleção que pode ser revertida para as

comunidades criativas que estão atreladas ao processo de produção e extração de

matéria-prima. Partindo desse pressuposto, ocorreram recomendações pontuais à

empresa a partir da sistematização dos dados da pesquisa na análise apresentada

anteriormente.

Por fim, avalia-se que apesar dos esforços da empresa em adequar-se às

exigências do mercado em relação a processos e produtos sustentáveis, existem

pontos específicos que podem sofrer ações de ampliação, de acordo com o

sistematizado acima. Em particular, o descarte poderia oferecer novas

oportunidades à empresa, se potencializado, como através da logística reversa, a

exemplo do que foi visto em relação a LEVI’S. Ademais, os possíveis

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desdobramentos futuros desta pesquisa parecem indicar uma expansão para outros

segmentos, onde se permita a avaliação do Ciclo de Vida do Produto-Serviço para

além dos paradigmas atuais. Além disso, esse tipo de empreendimento permitirá que

se discutam as sustentabilidades além da concepção final dos produtos. Ainda,

indica novos desafios e oportunidades quanto à aplicação sistêmica do Design

Estratégico.

Diante de tantas inquietações em explorar toda a cadeia, desde as fases, os

ciclos, as esferas, esta pesquisa descobriu uma forma através das sistematizações

com finalidade de ampliar a sustentabilidade da empresa estudada, além de uma

projetação de um cenário visando estratégias para agregar valor social, ambiental e

econômico. A adaptação do Ciclo de Vida de Mazini e Vezzoli (2008) acrescentado

com Maxwell e Vorst (2003) foram essenciais e serviram de base para a projetação

de um novo Ciclo de Vida Produto-Serviço visando sistematizações para a

sustentabilidade ampla. Ainda vale o aproveitamento desta pesquisa a fim de

possibilitar a criação e novos cenários nas diversas fases do Ciclo de Vida visando

produtos e serviços. E por fim, retifica-se que os resultados obtidos muito se devem

pela interação dos atores no processo de criação conjunta durante o Workshop.

Considerando a possibilidade deste estudo ser um auxílio para outros

pesquisadores, assim como para outras empresas que tenham o objetivo em ampliar

a sustentabilidade, reforça-se a necessidade de continuar investigando as possíveis

esferas em suas variadas fases.

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APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

APRESENTAÇÃO DO ESTUDO:

Você está sendo conVidado a participar da pesquisa da dissertação de conclusão do Curso de Pós-

Graduação Stricto Sensu em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), da

mestranda Débora Maria de Macedo Quaresma17. O pesquisador responsável é a professora e

orientadora doutora Heloisa Tavares de Moura18, e o pesquisador assistente é a aluna de mestrado

Débora Maria de Macedo Quaresma, que integram a dupla de pesquisa do presente projeto, cujo

título é “Design para a Sustentabilidade Ampla: Estudo de Caso de uma Empresa de Design de

Acessórios de Moda”

I. O objetivo da presente pesquisa é apoiar empresas de Design de produtos, em específico,

no setor da Moda e Acessórios, no desenvolvimento de soluções ambientalmente corretas,

economicamente viáveis, socialmente justas e institucionalmente estratégicas. Para esse

fim, pretende, através de abordagem predominantemente qualitativa, realizar um Estudo de

Caso, mapeando e avaliando o Ciclo de Vida do sistema produto-serviço de uma empresa

de Design de Acessórios, assim como seu processo de inovação, considerando os

diferentes aspectos da sustentabilidade (ambiental, econômica, social e institucional). Nele,

em sequencia à realização de Revisão Bibliográfica, com foco multidisciplinar, serão

combinados diferentes métodos e técnicas para coleta dos dados (como a Observação

Participante, a Entrevista Contextual Semiestruturada e o Workshop de Cocriação –

envolvendo, conforme procedimento, empresários, funcionários, fornecedores, clientes e

especialistas), para sua documentação pelos pesquisadores, e para análise dos mesmos

(como Teoria Fundamentada nos Dados) – todos descritos, em detalhes, a seguir. Como

resultado, o estudo pretende sistematizar contribuições de diferentes campos do

conhecimento, principalmente do Design, referentes a abordagens projetuais para a

sustentabilidade ampla ou irrestrita, através do Ciclo de Vida de sistemas produto-serviço.

Em adição, a partir da articulação entre teoria e prática, ele almeja desenvolver novos

modelos conceituais, processos e ferramentas de apoio ao Design no sentido amplo.

II. A participação dos sujeitos de pesquisa no presente projeto será da seguinte forma,

conforme descrição apresentada.

III. A análise e síntese dos dados será efetuada com base em metodologia qualitativa nomeada

Teoria Fundamentada nos Dados, ou Grounded Theory – a qual visa compreender a

realidade a partir da percepção ou significado que determinado contexto ou objeto tem para

o ator social, identificando categorias de significado a partir do agrupamento e triangulação

dos dados coletados.

IV. O projeto não apresenta nenhum desconforto ou risco físico aos participantes. No entanto,

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como habitualmente ocorre em pesquisas qualitativas, poderá existir desconforto ou

incômodo em compartilhar informações. Nesse sentido, o participante tem garantia de

liberdade para responder ou não a qualquer pergunta, e para passar ou não uma

informação, em parte ou integralmente, quer por motivos pessoais, de confidencialidade ou

quaisquer outros. Do mesmo modo, é garantida a liberdade do mesmo interromper a

participação no estudo em qualquer momento que desejar.

V. Dentre os benefícios da presente dissertação destacam-se: a articulação entre teoria e

prática; a contribuição teórica para o campo do Design na forma de revisão bibliográfica, de

sistematização das contribuições de diferentes campos do conhecimento, de

desenvolvimento de novos modelos conceituais/processos/ferramentas de apoio ao Design

no sentido amplo, e de sistematização de abordagem projetual para a sustentabilidade

irrestrita; a contribuição prática para empresas de Design de produtos, em específico, no

setor da Moda e Acessórios, na forma de Estudo de Caso e de aplicação de abordagem

projetual para o desenvolvimento de sistemas produto-serviço ambientalmente corretos,

economicamente viáveis, socialmente justos e institucionalmente estratégicos, durante todo

o seu Ciclo de Vida.

VI. O acesso às informações e dados coletados será feito, exclusivamente, pelo pesquisador

responsável – professora e orientadora doutora Heloisa Tavares de Moura – e pesquisador

assistente – mestranda Débora Maria de Macedo Quaresma.

VII. O presente projeto não possui patrocinadores.

LEIA COM ATENÇÃO ANTES DE ASSINAR O TERMO:

Pelo presente Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, declaro que autorizo a minha

participação neste projeto de pesquisa, pois fui informado(a), de forma clara, detalhada e livre de

qualquer forma de constrangimento ou coerção, dos objetivos, da justificativa, dos procedimentos

que serei submetido(a), dos riscos e desconfortos, e dos benefícios, assim como das alternativas as

quais poderia ser submetido(a), todos acima listados. Manifesto, igualmente, que fui adequadamente

informado(a):

1. Da garantia de receber resposta à pergunta ou esclarecimento de dúvida acerca dos

procedimentos, riscos, benefícios e outros assuntos relacionados com a pesquisa;

2. Da liberdade de retirar meu consentimento, a qualquer momento, e deixar de participar do estudo;

3. Da garantia de que não serei identificado quando da divulgação dos resultados e que as

informações obtidas serão atualizadas apenas para fins científicos vinculados ao presente projeto de

pesquisa;

4. De que os dados que estão sendo coletados serão acessados apenas pelos pesquisador

responsável e assistente – Heloisa Tavares de Moura e Débora Maria de Macedo Quaresma – e

utilizadas por esta dupla de pesquisa; e

5. Do compromisso de proporcionar informação atualizada obtida durante o estudo, ainda que esta

possa afetar a minha vontade em continuar participando.

O contato com o pesquisador responsável – Heloisa Tavares de Moura – poderá ser efetuado, no

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caso de eventuais dúvidas, pelo telefone (51) 32303323 (Ramal 3323), ou pelos endereços

eletrônicos (emails) [email protected] e [email protected].

O presente documento deve ser assinado em duas vias de igual teor, ficando uma com o

participante da pesquisa ou seu representante legal e outra com o pesquisador responsável.

O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UniRitter, responsável pela apreciação do presente

projeto de pesquisa, pode ser consultado a qualquer momento, para fins de esclarecimento, por

meio do telefone (51) 3092.5699 (Ramal 9024), ou pelo endereço eletrônico (email) CEP@

uniritter.edu.br.

Eu, ______________________________________________________(nome completo) declaro ter

lido e discutido o conteúdo do presente Termo de Consentimento, e concordo em participar deste

estudo de forma livre e esclarecida. Também declaro ter recebido cópia deste Termo.

________________________________________RG: ________________

(Assinatura do Participante)

Data ____/___/______

Heloisa Tavares de Moura _____________________ RG: ______________

Data ____/___/______

17 Mestranda em Design pela UniRitter (2013), especialista em Gestão de Negócios pela ULBRA (2011) e Designer pela ESPM (2006). Atualmente é professora e coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda da ULBRA Canoas. 18 Pós-doutora em Ciência da Computação pela PUC-Rio (2011), doutora em Design pelo Illinois Institute of Technology (2008) e mestre em Educação pela UERJ (1998). Atualmente é professora do Programa de Mestrado em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis, UniRitter.

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APÊNDICE B – Solicitação de Autorização para Pesquisa em Empresa

SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO PARA PESQUISA EM EMPRESA

Eu, HELOISA TAVARES DE MOURA, Ph.D., professora associada do Centro Universitário Ritter dos

Reis – UniRitter, e pesquisadora responsável pelo projeto de pesquisa para o desenvolvimento de

dissertação de conclusão de curso de Mestrado em Design, sob o título Design para a

Sustentabilidade Ampla: Estudo de Caso de uma Empresa de Design de Acessórios de Moda,

da aluna DÉBORA MARIA DE MACEDO QUARESMA, pesquisadora assistente do presente projeto,

venho, pelo presente, solicitar, respeitosamente, a autorização da empresa de Design de Acessórios

XX ACESSÓRIOS DE MODA, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, para realizar coleta de

dados com os seus funcionários no período de 1° de junho a 1º julho de 2014, através de

entrevistas, bem como para publicar os resultados do estudo em trabalhos, artigos e similares, com

fins exclusivamente científicos e vinculados ao presente projeto de pesquisa, mantendo o anonimato

da empresa e seus participantes. O objetivo do presente estudo é mapear e avaliar o ciclo de Vida

do produto da empresa de Design, com foco na inovação e sustentabilidade ampla ou irrestrita – ou

seja, ambiental, econômica, social e institucional. Utilizando métodos como Observação Participante,

Entrevista Contextual Semi-Estruturada e Workshop de Cocriação, o intuito do projeto é sistematizar

contribuições de diferentes campos do conhecimento, principalmente do Design, referentes a

abordagens projetuais para a sustentabilidade irrestrita através do ciclo de Vida de sistemas produto-

serviço. A partir da articulação entre teoria e prática, pretende-se desenvolver novos modelos

conceituais, processos e ferramentas de apoio ao design no sentido amplo. Desde já agradeço a

atenção e, contando com a sua autorização para o desenvolvimento deste projeto de pesquisa que

intenciona contribuir para o diálogo científico do Design enquanto área de conhecimento, coloco-me

à disposição para qualquer esclarecimento.

________________________________

Heloisa Tavares de Moura

Pesquisadora Principal

______________________________________

Nome e assinatura do Responsável pela empresa

Cargo: CPF:

Data ____/___/______

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APÊNDICE C – Solicitação de Autorização para Pesquisa com Funcionários de

Uma Empresa

SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO PARA PESQUISA COM FUNCIONÁRIOS DE UMA EMPRESA

Eu, HELOISA TAVARES DE MOURA, Ph.D., professora associada do Centro Universitário Ritter dos

Reis – UniRitter, e pesquisadora responsável pelo projeto de pesquisa para o desenvolvimento de

dissertação de conclusão de curso de Mestrado em Design, sob o título Design para a

Sustentabilidade Ampla: Estudo de Caso de uma Empresa de Design de Acessórios de Moda,

da aluna DÉBORA MARIA DE MACEDO QUARESMA, pesquisadora assistente do presente projeto,

venho, pelo presente, solicitar, respeitosamente, a autorização dos funcionários da empresa de

design de acessórios XX ACESSÓRIOS, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, para

realizar coleta de dados com os seus funcionários no período de 1° de agosto a 1º dezembro de

2014, através de entrevistas, bem como para publicar os resultados do estudo em trabalhos, artigos

e similares, com fins exclusivamente científicos e vinculados ao presente projeto de pesquisa,

mantendo o anonimato da empresa e seus participantes. O objetivo do presente estudo é mapear e

avaliar o ciclo de Vida do produto da empresa de Design, com foco na inovação e sustentabilidade

ampla ou irrestrita – ou seja, ambiental, econômica, social e institucional. Utilizando métodos como

Observação Participante, Entrevista Contextual Semi-Estruturada e Workshop de Co-Criação, o

intuito do projeto é sistematizar contribuições de diferentes campos do conhecimento, principalmente

do Design, referentes a abordagens projetuais para a sustentabilidade irrestrita através do ciclo de

Vida de sistemas produto-serviço. A partir da articulação entre teoria e prática, pretende-se

desenvolver novos modelos conceituais, processos e ferramentas de apoio ao design no sentido

amplo. Desde já agradeço a atenção e, contando com a sua autorização para o desenvolvimento

deste projeto de pesquisa que intenciona contribuir para o diálogo científico do Design enquanto

área de conhecimento, coloco-me à disposição para qualquer esclarecimento.

________________________________

Heloisa Tavares de Moura

Pesquisadora Principal

_____________________________ _____________________________

Nome e assinatura do funcionário 01 Nome e assinatura do funcionário 02

Cargo: CPF: Cargo: CPF:

Data ____/___/______

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ANEXO A - Requisitos relacionados estão listados nos Anexos IV e V da

Directiva Ecodesign.

ANNEX IV - Official Journal of the European Union - L 285/30 - 31.10.2009

Internal design control

(referred to in Article 8(2))

1. This Annex describes the procedure whereby the manufacturer or its authorised representative who

carries out the obligations laid down in point 2 ensures and declares that the product satisfies the

relevant requirements of the applicable implementing measure. The EC declaration of conformity may

cover one or more products and must be kept by the manufacturer.

2. A technical documentation file making possible an assessment of the conformity of the product with

the requirements of the applicable implementing measure must be compiled by the manufacturer

The documentation must contain, in particular:

(a) a general description of the product and of its intended use;

(b) the results of relevant environmental assessment studies carried out by the manufacturer, and/or

references to environmental assessment literature or case studies, which are used by the

manufacturer in evaluating, documenting and determining product design solutions; (c) the ecological

profile, where required by the implementing measure; (d) elements of the product design specification

relating to environmental design aspects of the product; (e) a list of the appropriate standards referred

to in Article 10, applied in full or in part, and a description of the solutions adopted to meet the

requirements of the applicable implementing measure where the standards referred to in Article 10

have not been applied or where those standards do not cover entirely the requirements of the

applicable implementing measure; (f) a copy of the information concerning the environmental design

aspects of the product provided in accordance with the requirements specified in Annex I, Part 2; and

(g) the results of measurements on the ecodesign requirements carried out, including details of the

conformity of these measurements as compared with the ecodesign requirements set out in the

applicable implementing measure. 3. The manufacturer must take all measures necessary to ensure

that the product is manufactured in compliance with the design specifications referred to in point 2 and

with the requirements of the measure which apply to it. EN L 285/28 Official Journal of the European

Union 31.10.2009.

ANNEX V - - Official Journal of the European Union - L 285/30 - 31.10.2009

Management system for assessing conformity

(referred to in Article 8(2))

1. This Annex describes the procedure whereby the manufacturer who satisfies the obligations of point

2 ensures and declares that the product satisfies the requirements of the applicable implementing

measure. The EC declaration of conformity may cover one or more products and must be kept by the

manufacturer.

2. A management system may be used for the conformity assessment of a product provided that the

manufacturer implements the environmental elements specified in point 3.

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3. Environmental elements of the management system

This point specifies the elements of a management system and the procedures by which the

manufacturer can demonstrate that the product complies with the requirements of the applicable

implementing measure.

3.1. The environmental product performance policy

The manufacturer must be able to demonstrate conformity with the requirements of the applicable

implementing measure. The manufacturer must also be able to provide a framework for setting and

reviewing environmental product performance objectives and indicators with a view to improving the

overall environmental product performance.

All the measures adopted by the manufacturer to improve the overall environmental performance of,

and to establish the ecological profile of, a product, if required by the implementing measure, through

design and manufacturing, must be documented in a systematic and orderly manner in the form of

written procedures and instructions.

These procedures and instructions must contain, in particular, an adequate description of:

(a) the list of documents that must be prepared to demonstrate the product’s conformity, and, if

relevant, that have to be made available;

(b) the environmental product performance objectives and indicators and the organisational structure,

responsibilities, powers of the management and the allocation of resources with regard to their

implementation and maintenance; (c) the checks and tests to be carried out after manufacture to verify

product performance against environmental performance indicators; (d) the procedures for controlling

the required documentation and ensuring that it is kept up-to-date; and (e) the method of verifying the

implementation and effectiveness of the environmental elements of the management system. 3.2.

Planning The manufacturer must establish and maintain: (a) procedures for establishing the ecological

profile of the product; (b) environmental product performance objectives and indicators, which

consider technological options, taking into account technical and economic requirements; and (c) a

programme for achieving these objectives. 3.3. Implementation and documentation EN 31.10.2009

Official Journal of the European Union L 285/29

3.3.1. The documentation concerning the management system must, in particular, comply with the

following:

(a) responsibilities and authorities must be defined and documented in order to ensure effective

environmental product performance and reporting on its operation for review and improvement;

(b) documents must be established indicating the design control and verification techniques

implemented and processes and systematic measures used when designing the product; and

(c) the manufacturer must establish and maintain information to describe the core environmental

elements of the management system and the procedures for controlling all documents required.

3.3.2. The documentation concerning the product must contain, in particular:

(a) a general description of the product and of its intended use;

(b) the results of relevant environmental assessment studies carried out by the manufacturer, and/or

references to environmental assessment literature or case studies, which are used by the

manufacturer in evaluating, documenting and determining product design solutions; (c) the ecological

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profile, where required by the implementing measure; (d) documents describing the results of

measurements on the ecodesign requirements carried out including details of the conformity of these

measurements as compared with the ecodesign requirements set out in the applicable implementing

measure; (e) the manufacturer must establish specifications indicating, in particular, standards which

have been applied; where standards referred to in Article 10 are not applied or where they do not

cover entirely the requirements of the relevant implementing measure, the means used to ensure

compliance; and (f) copy of the information concerning the environmental design aspects of the

product provided in accordance with the requirements specified in Annex I, Part 2. 3.4. Checking and

corrective action 3.4.1. The manufacturer must: (a) take all measures necessary to ensure that the

product is manufactured in compliance with its design specification and with the requirements of the

implementing measure which applies to it; (b) establish and maintain procedures to investigate and

respond to non-conformity, and implement changes in the documented procedures resulting from

corrective action; and (c) carry out at least every three years a full internal audit of the management

system with regard to its environmental elements.

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ANEXO B - Requisitos e diretrizes do Design a equidade e coesão social de

Carlo Vezzoli (2010)

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ANEXO C – Eco-Design Strategies de Alastair Foud-Luke (2002)

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ANEXO D – Lei do Resíduo Sólido

LEI Nº 12.305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010.

Art. 1º Esta Lei institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis.

§ 1º Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou

privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos.

§ 2º Esta Lei não se aplica aos rejeitos radioativos, que são regulados por legislação

específica. Art. 2º Aplicam-se aos resíduos sólidos, além do disposto nesta Lei, nas Leis nos 11.445, de 5

de janeiro de 2007, 9.974, de 6 de junho de 2000, e 9.966, de 28 de abril de 2000, as normas estabelecidas pelos órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa) e do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro).

CAPÍTULO II DEFINIÇÕES Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por: I - acordo setorial: ato de natureza contratual firmado entre o poder público e fabricantes,

importadores, distribuidores ou comerciantes, tendo em vista a implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de Vida do produto;

II - área contaminada: local onde há contaminação causada pela disposição, regular ou

irregular, de quaisquer substâncias ou resíduos; III - área órfã contaminada: área contaminada cujos responsáveis pela disposição não sejam

identificáveis ou individualizáveis; IV - ciclo de Vida do produto: série de etapas que envolvem o desenvolvimento do produto, a

obtenção de matérias-primas e insumos, o processo produtivo, o consumo e a disposição final; V - coleta seletiva: coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme sua

constituição ou composição; VI - controle social: conjunto de mecanismos e procedimentos que garantam à sociedade

informações e participação nos processos de formulação, implementação e avaliação das políticas públicas relacionadas aos resíduos sólidos;

VII - destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que inclui a

reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa, entre elas a disposição final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos;

VIII - disposição final ambientalmente adequada: distribuição ordenada de rejeitos em aterros,

observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos;

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IX - geradores de resíduos sólidos: pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, que geram resíduos sólidos por meio de suas atividade s, nelas incluído o consumo;

X - gerenciamento de resíduos sólidos: conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente,

nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma desta Lei;

XI - gestão integrada de resíduos sólidos: conjunto de ações voltadas para a busca de

soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável;

XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por

um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada;

XIII - padrões sustentáveis de produção e consumo: produção e consumo de bens e serviços

de forma a atender as necessidades das atuais gerações e permitir melhores condições de Vida, sem comprometer a qualidade ambiental e o atendimento das necessidades das gerações futuras;

XIV - reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de

suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa;

XV - rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento

e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada;

XVI - resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividade s

humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível;

XVII - responsabilidade compartilhada pelo ciclo de Vida dos produtos: conjunto de atribuições

individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de Vida dos produtos, nos termos desta Lei;

XVIII - reutilização: processo de aproveitamento dos resíduos sólidos sem sua transformação

biológica, física ou físico-química, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa;

XIX - serviço público de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividade

s previstas no art. 7º da Lei nº 11.445, de 2007. ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado

dos resíduos sólidos. Art. 5º A Política Nacional de Resíduos Sólidos integra a Política Nacional do Meio Ambiente e

articula-se com a Política Nacional de Educação Ambiental, regulada pela Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999, com a Política Federal de Saneamento Básico, regulada pela Lei nº 11.445, de 2007, e com a Lei no 11.107, de 6 de abril de 2005