Mestres Do Comando - Alexandre, Aníbal, César e Os Gênios Da Liderança - Barry Strauss

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Literatura.

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  • Trs dos maiores imperadores da histria podem ser os exemplos que o mundo moderno precisa.Alexandre, Anbal e Csar grandes mestres de guerra. Esses trs imperadores tinham em comum o dom de enxergar alm do campo de batalha para decidir com quem lutar, quando e porqu. Obter a vitria, acabar com a guerra e trazer estabilidade para as terras conquistadas eram os objetivos. Cada general tinha que criar um campo de batalha ttico e ser ao mesmo tempo estadista, estrategista e, principalmente, lder.Em Mestres do Comando, Barry Strauss aponta onde cada um destes trs grandes comandantes bem-sucedidos acertaram e como cada um demonstrou liderana. As tticas mudam conforme as armas, mas a guerra em si continua a mesma ao longo dos sculos, e um grande guerreiro deve saber como definir e atingir o sucesso.

  • NOTADOAUTOR

    Nomesantigossoescritosdeacordocomotrabalhoderefernciapadro,The Oxford Classical Dictionary, 3. ed. (Oxford: Oxford University Press,1999).

    Traduesdogregooudolatimsoprpriasdoautor,anoserquandoindicado.

  • CRONOLOGIA(Todasasdatassoa.C.)

    480-479 O imprio persa invade a Grcia, liderado pelo rei Xerxes, e derrotado.356NascimentodeAlexandre.338OsmacedniosderrotamosgregosnabatalhadeQueroneia;Alexandrecomandaacavalaria.336FilipedaMacedniaassassinado;Alexandresetornarei.Maio-junhode334AlexandreinvadeoImpriopersa;batalhadorioGrnico.Outonode334StiodeHalicarnasso.Junhode333MortedeMemnondeRodes.Novembrode333BatalhadeIsso.Janeiro-agostode332CercodeTiro.331Revoltagregacontraosmacednios.1.deoutubrode331BatalhadeGaugamela.330AlexandrequeimaPerspolis;mortedeDario;execuodeParmnioeFilotas.330-327CampanhasemBctriaeSogdiana.Maiode326BatalhadeHidaspes.Julhode326Motimnandia.325AlexandrevoltaaoIr.324-323AlexandrepreparaainvasodaArbia.Verode324Banqueteempis.Outonode324MortedeHefstion.10dejunhode323MortedeAlexandre.280-275InvasodaItliaedaSicliaporPirro.264-241PrimeiraGuerraPnica.247NascimentodeAnbal.237AmlcarBarcavaiparaaEspanha,levandoAnbalcomele.

  • 228MortedeAmlcar;Asdrbal,oBelo,genrodeAmlcar,agoraestnocomandodaEspanha.226TratadodeEbro.221MortedeAsdrbal,oBelo;AnbalagoraestnocomandodaEspanha.219AnbalcapturaSaguntumdepoisdeumcercodeoitomeses;Romadumultimato.218-201SegundaGuerraPnica.Outonode218AnbalcruzaosAlpes;deixaseuirmo,Asdrbal,nocomandodaEspanha.Novembrode218BatalhadorioTicino.Dezembrode218BatalhadorioTrbia.Primaverade217OsromanosderrotamafrotacartaginensenasadadorioEbronaEspanha.

    21dejunhode2171BatalhadolagoTrasimeno.Vero-outonode217Fbioapontadoditadorecomeaumaestratgiadecansao.2deagostode216BatalhadeCanas.Finalde216CpuasejuntaaAnbal.215AlianaentreAnbaleoreimacednioFilipeV;SiracusaseuneaAnbal.212AnbaltomaTarento,masosromanosmantmafortaleza;RomaretomaSiracusa.211AnbalmarchasobreRoma;RomaretomaCpua.210CipiotomaNovaCartago.209BatalhadeBcula;RomaretomaTarento.207BatalhadorioMetauro;mortedeAsdrbal,irmodeAnbal.206BatalhadeIlipa.205MagoinvadeaItlia;AnbalcolocaumainscrionotemplodeHeraLacnia.203Anbalvoltaparaafrica;mortedeMago.Outonode202BatalhadeZama.201CartagoconcordaemassinarumtratadocomRomaterminandoaSegundaGuerraPnica.196Anbaltorna-semagistrado-chefedeCartago.195-183AnbalnoOriente.183MortedeAnbal.149-146TerceiraGuerraPnica.146Cartagodestruda.100NascimentodeCsar.82-81Sulasetornaditador.66-62PompeuconquistaoOriente.61-60CampanhasdeCsarnooestedaEspanha.58-50CsarconquistaaGlia.12dejaneirode49CsarcruzaoRubico.Fevereirode49CercodeCorfnio.17demarode49PompeuevacuaBrundisium.

  • Primavera-outonode49CercodeMasslia.Junho-agostode49BatalhadeIlerda.4dejaneirode48CsarcruzaomarAdritico.Abril-julho48CampanhadeDirrquio.9deagostode48BatalhadeFarsala.28desetembrode48MortedePompeu.Outonode48CsarconheceClepatra.Invernode48-primaverade47GuerradeCsarnoEgito.2deagostode47BatalhadeZela.25dedezembrode47CsardeixaRoma,partindoparaafrica.46Cartagorefundadacomocolniaromana.6deabrilde46BatalhadeTapso.Verode46Csarcomemoraquatrotriunfos.17demarode45BatalhadeMunda.Outubrode45Csarcomemoraseuquintotriunfo.Fevereirode44Csarnomeadoditadorportodasuavida.15demarode44Csarassassinado.

    1Todososmesesediasespecficosdestalista,apartirdesteponto,seguemocalendrioromanoemusonapoca.

  • GLOSSRIODOSNOMESPRINCIPAIS

    Alexandre,oGrandeouAlexandreIII(356323a.C.)ReidaMacedniaeconquistadordoimpriopersa.Antpatro (ca. 397319 a.C.) Governador da Macednia na ausncia de Alexandre, Antpatroorganizouadefesadofrontdomsticocontraumarevoltadascidades-Estadogregas.Bessos(m.329a.C.)StrapadeBctria,organizadordeumgolpecontraDarioIIIepretendenteaotronopersacomoArtaxerxesV,elefoicapturadoeexecutadoporAlexandre.Crtero(m.321a.C.)ProvavelmenteomelhorgeneraldeAlexandredepoisdamortedeParmnio,foi o responsvel por importantes comandos em Isso e Gaugamela, bem como em Sogdiana e nandia.Dario III (m. 330 a.C.)Dirigiu o imprio persa a partir de 336 e organizou a resistncia contraAlexandre,queenfrentounabatalhaemIssoeGaugamela.Hefstion(m.324a.C.)OamigomaisprximodeAlexandreepossivelmenteseuamante,Hefstiontinhaenormeinflunciasobreorei.MemnondeRodes(m.333a.C.)MercenriogregoaserviodaPrsia,elecomandouafrotapersaefoioresponsvelpelapiorderrotadeAlexandreantesdesuamorteprematura.Parmnio (ca. 400-330 a.C.) General veterano de Filipe II, exerceu um papel central comocomandantenasprincipaisbatalhascampaisdeAlexandre,masacabousendoexecutadocomoumrival.Prdicas (m. 321 a.C.)Umdosmelhores generais deAlexandre, comandante tanto da infantariaquantodacavalaria.FilipedaMacedniaouFilipe II, reidaMacednia (382-336a.C.)PaideAlexandre; fundouoimpriomacednioecomeouoprojetodeconquistaraPrsia.Poro,rei indianoque lutoubravamentecontraAlexandrenaltimagrandebatalhacampaldomacednio,emHidaspes(326a.C.)FoirecompensadoporAlexandrecommaisterras,apesardesuaderrota.Ptolomeu,filhodeLago,ouPtolomeuI(367-282a.C.)UmdosprincipaisgeneraisdeAlexandre,mais tarde tornou-se rei do Egito e estabeleceu uma dinastia; tambm escreveu uma importantebiografiadeAlexandre.Espitamenes (m. 328 a.C.) Chefe guerreiro de Sogdiana e um dos oponentes mais duros deAlexandreporumbomtempo,maseletitubeoueseusprprioshomensomataram.Caio Flamnio (m. 217 a.C.) Proeminente poltico e general romano que caiu na armadilha deAnbalnolagoTrasimenoefoimortojuntocomamaioriadeseuexrcito.

  • Caio Terncio Varro (fl. 218-200 a.C.) Cnsul e general romano em Canas (216 a.C.); Varro,juntocomooutrocnsulesegundoemcomando,LcioEmlioPaulo,criouastticasquelevaramaodesastre.AmlcarBarca(m.228a.C.)PaideAnbaleomaiorgeneraldeCartagoemseusdias;comeouaconquistadosuldaEspanhaepodetertransmitidoodiocontraRomaaseusfilhos.Anbal(247-183a.C.)OmaiorgeneraldeCartago;foiaforapropulsoraportrsdaguerracontraRomaeoestrategistadainvasodaItlia.Asdrbal (m.207a.C.)O irmomaisnovodeAnbal;aEspanha ficouaseucargo,masperdeu-aparaosromanos.MarchoucomastropassobreviventesporterraataItlia,ondefoiderrotadoemortoemMetauro.Mago (m. 203 a.C.) O irmo caula de Anbal; invadiu o noroeste da Itlia por mar em 205,apoiandoAnbal,masfoiderrotado,feridoemortonomaracaminhodecasa.Maharbal,filhodeHimilco(fl.217-216a.C.)UmdosprincipaismembrosdacavalariadeAnbal;derrotou uma grande fora de cavaleiros romanos depois de Trasimeno e pediu a Anbal queenviassesuacavalariaaRomalogodepoisdavitriaemCanas.Massinissa (238-148 a.C.) Rei da Numdia cuja desero de Cartago e apoio a Roma, com suaexcelentecavalaria,selouodestinodeAnbalemZama.Polbio(ca.200-ca.118a.C.)Historiadorqueescreveuomelhorlivroquechegouatnossosdiassobre a Segunda Guerra Pnica; foi um estadista grego enviado Itlia como refm romano, econquistouumaposiodeinflunciacomafamliaCipio.Pirrodepiro(319-272a.C.)InvadiuaItliaparaapoiarascidadesgregascontraRomaeganhoumuitasbatalhas,masperdeuaguerra.FoiummodeloeumafontedepreocupaesparaAnbal.Quinto Fbio Mximo Verrucoso (m. 203 a.C.) Ditador em 217 e um proeminente general epoltico durante amaior parte do resto da Segunda Guerra Pnica; liderou a poltica romana deadiamentoedeguerradeatritoquebloquearamAnbalnaItlia.CipioAfricanoouPblioCornlioCipioAfricano(236-183a.C.)OmaiorgeneraldeRomanaSegundaGuerraPnica;conquistouaEspanhaeonortedafrica,derrotandoAnbalemZama.Cato,MarcoPrcioouCato,oJovem(95-46a.C.)OinimigomaisdifcilemaisntegrodeCsar;seusuicdiootornousmbolodaliberdaderepublicana.Ccero,MarcoTlio(106-43a.C.)OmaiororadordeRoma,hesitouduranteaguerracivilantesdeapoiarPompeu;nofinal,foiperdoadoporCsar.maisimportanteparanspelaluzquesuascartasediscursosjogamsobreavidapblicaromana.ClepatraouClepatraVII(69-30a.C.)RainhadoEgitoeamantedeJlioCsare,maistarde,deMarcoAntnio;eraumaestadistabrilhantequemanobroucomhabilidadeopoderpolticoetentoupreservaraindependnciadeseureino.Caio Jlio Csar (100-44 a.C.)Omaior general do final da repblica e talvez de toda a histriaromana,tambmfoiumpolticoastutoeexcelenteescritor.LcioDomcio Enobarbo (m. 48 a.C.)Poltico romano e inimigo de Csar, com quem lutou emCorfnio,MassliaeFarsala.Marco Antnio ou Marcus Antonius (83-30 a.C.) Um dos principais comandantes de Csar;provousermelhorgeneraldoquepoltico.MeteloCipioouQuintoCeclioMeteloPioCipio(m.46a.C.)GovernadordaSria;comandouocentrodas linhasdePompeuemFarsalae fugiuparaonortedafrica,onde liderouaoposioaCsarefoiderrotadoemTapso.Matou-sedepoisdisso.Frnaces II (63-47 a.C.)Rei de Bsforo (namoderna Turquia) e filho deMitrdates, um famoso

  • inimigodeRoma;sofreuumaterrvelderrotacontraCsaremZelaefoimortologodepoisporuminimigodomstico.Pompeu ou Cneu PompeuMagno (106-48 a.C.) Somente abaixo de Csar como comandante eestadista romano no final da repblica; passou de aliado a principal oponente de Csar e oresultadofoiaguerracivil.TitoLabieno(ca.100-45a.C.)SegundoemcomandodeCsarnaGlia;desertouparaPompeuelutouatofinalcontraseuantigochefe.

  • MAPAS

  • CAPTULO1

    Dezqualidadesdecomandantesbem-sucedidos

    Vocnodeixariade vero rei.Abatalha erauma confusodehomens ecavalos semovendo,mas,mesmoassim, ele era inconfundvel. Erabaixo,masmusculoso, e estavaemcimadeumenormecorcelnegro.Brilhandocomsuaesplndidaarmadura,comaltasplumasbrancasfixasdecadaladodeseucapacete,Alexandre,oGrande,reidaMacednia,lideravaasegundaonda dos Companheiros do Rei, a cavalaria de elite. Uma exploso declarins e um rugidode gritos de guerra tinham feito comque avanasse,galopando pelo raso rio Grnico at a margem oposta, seguido pelosolhares expectantes dosmelhores cavaleiros da Prsia. Animados com avitriasobreaprimeiraondadoataquemacednio,ospersascobriramoinimigocomgritos.

    Dois irmos persas miraram no prprio Alexandre. Resaces eEspitrdates eram ambos aristocratas; Espitrdates era governador daJnia,umaprovnciaricaondeatualmenteacostaturcadomarEgeu.OsirmosatacarameEspitrdatesdestruiuocapacetedeAlexandrecomsuacimitarraeroouocabelodorei.AlexandrerespondeueenfioualanademadeiranopeitodeEspitrdates.Quandoestecaiumorto,seuirmogirouaespadasobreacabeadesprotegidadeAlexandre,preparandoumgolpemortal. Um segundo antes de fazer contato, seu brao foi decepado pelahbilespadadeClito,oNegro,umoficialmacednio.Alexandre foi salvo.Eraumdiademaiode334a.C.nonoroestedaAnatlia(Turquia).

  • Centoedezoitoanosdepois,obarulhodabatalhasooupelascolinasdosulda Itlia, ondeosexrcitosdeRomaeCartagoestavampresosaumalutamortalnosarredoresdapequenacidadedeCanas.Quandoaslegiesromanasmarcharamavanando, os cartaginensesmostraramosdentes eretrocederam, com muitos feridos nesse caminho. Estariam colapsandocom a ferocidade romana ou estariam levando os inimigos para umaarmadilha?

    Os comandantes dos dois lados lideravam frente. O cnsul romanoPaulo, bemnomeiode tudo, incitava sua infantaria a destruir o inimigo.Seuoponentecartaginensenoestavamuito longe,nocentroda linhadeinfantaria, posicionado no mesmo lugar desde o comeo da luta, horasantes.AnbaldeCartagocomandavasuastropaspessoalmente.

    Anbalestavaemcimadeseucavalo,usandoumpeitoralencouraadoeum capacete com plumas, carregando um escudo redondo. Seu rosto erafamosopeloolharbrilhanteeferoz.Stinhaumolhobom,tendoperdidoavisodoolhodireitoporumadoena,durantealongaedifcilmarchaumanoantes.

    Abatalha tinha chegado a seumomentodecisivo.Umpoucomais e oscartaginensespoderiamusaraarmadilha,maselesteriamqueaguentaropoder de Roma. Sabendo disso, Anbal caminhou entre os soldados,incentivando, animando seus homens e at lutando ele mesmo com oinimigo romano. Se o risco que estava assumindo no omatasse, Anbalchegariaaotriunfo.Eraatardede2deagostode216a.C.

    Cento e sessenta e oito anos depois, na primavera de 49 a.C., Romaestava tomada pela guerra civil. O conflito explodiu primeiro na Itlia,EspanhaesuldaFrana.Depois,ofrontcentralsemoveuparaooriente.Ofocopassouparaacostadepiro(aAlbniadehoje),aportadeentradapara o mar Adritico e a Itlia. Dois grandes generais, Pompeu e Csar,estavamdisputandoumaposionasterrasprximasaoestratgicoportode Dirrquio (a moderna Durrs, Albnia). Cada homem liderava umgrandeexrcito,acampadodoladodeforadacidade.

    Estavamfazendoojogodaespera,pontuadoporfocosdebatalha.Cadaexrcito tentava superar o outro e subjug-lo atravs de uma srie demuros,fossos,fortesetorresqueseespalhavampeloterrenomontanhoso.Derepente,nocomeodemaio,otdiodeulugaraumencontrosangrento.DesertoresdoexrcitodeCsarrevelaramumpontofracoemsuaslinhas.Pompeuusou a informaopara atacar e pegarCsardesprevenido.Mas

  • este aguentou e lanou um contra-ataque naquele mesmo dia. Comeoubem,masentoseushomensseencontraramemumlabirintodemurosevaletasabandonadas.Quandoforamatacados,entraramempnico.

    Csarestaval,entreseushomens,umexemplodecoragem.Altoeduro,elepermaneceufirme.Soldadoscorreramrecuando,aindasegurandoseusestandartesdebatalha longospostesalinhadoscomdiscosdemetaleaimagemdeumamohumananoalto.Csaragarrouosestandartescomasprprias mos e mandou seus homens pararem. Suas palavrasnormalmenteerampersuasivas,eseusolhosnegrosbrilhavamcomvigor.Masnenhumhomemparou;algunsolharamenvergonhadosparaocho,eoutrosatsoltaramseusestandartes.Finalmente,umdosquelevavamosestandartes,comsualanadecabeaparabaixo,ousougolpearoprprioCsar. A guarda pessoal do comandante cortou o brao dele no ltimomomento e salvou a vida de Csar. Se no fosse por eles, a guerra civilpoderiaterterminadonaquelemomento.

    Trs generais, trs batalhas e um padro: uma vida salva no auge docombate.Masabatalhaerasomenteopreodaadmisso.Noeramapenascomandantes eram soldados estadistas conquistando um imprio.Alexandre, oGrande;Anbal e Jlio Csar so os trs grandes da histriamilitarantiga.Alexandreestabeleceuopadro.Anbalapareceupoucomaisdeumsculodepois,afirmandoqueAlexandretinhasidoomaiorgeneralde todos os tempos. Csar apareceu mais ou menos 150 anos depois elastimou,quando jovem,aoverumaesttuadeAlexandre,poraindanoterconquistadonada.

    Cadaumfoiummestredaguerra.Tinhamdeolharmuitoalmdocampodebatalha.Tinhamdedecidirnoscomolutar,mascomquemeporqu.Tinham de definir vitria e saber quando terminar a guerra. Tinham deprever omundo ps-guerra e criar uma nova ordemmundial que trariaestabilidade e poder duradouro. Resumindo: no eram apenascomandantes,eramtambmestadistas.

    Mas cada um provavelmente iria querer ser lembrado como heri dabatalha. No importavam as longas horas de contemplao silenciosa, ocontnuodebatedeplanosemconferncias,asnegociaesparaformaodealianasvitoriosas,ostediososdetalhessobreosestoquesnossilosouaremoo de carroas presas no barro. O meio da batalha sangrenta primitiva,elementareraondesesentiamemcasa.

    Nabatalha,eleseramheroicos.Comocomandantes, lderesdoexrcito

  • emcombateeemcampanha,eleseramincomparveis.Comoestrategistas,possuemumregistromisturado.Seusplanosdeguerrachegaramaoscus,massomenteAlexandreeCsarchegaramaoalto.Comoestadistas,ostrsno foram geniais. Nem Alexandre nem Csar, muito menos Anbal,conseguiu resolver o problema de como criar ou manter a nova ordemmundialquecadaumpreviu.

    Alexandre(356-323a.C.)conquistouomaiorimprioqueomundojviu a Prsia.Mas elemorreupouco antes de completar 33 anos, depois desofrerumhumilhantemotimdeseushomensesemterumsucessorouumplanoparaadministrarseusvastosenovosdomnios.Seuimpriocolapsouimediatamente e entrou em guerra civil e caos. Cinquenta anos depois,consistia emmeia dzia de novos reinos, todos governados pelos gregosaliados deAlexandre,mas nenhumpor sua famlia. Longe de estabelecerumadinastia,Alexandrefoioltimodesualinhagemareinar.

    Anbal (247-183 a.C.) assumiu o comando de um imprio colonial naEspanha fundadoporseupaieexpandidoporseucunhado.Ento,Romadesafiou seu controle. Roma e Cartago eram inimigos mortais, j tendoguerreado pela Siclia, que Roma ganhara. Agora, com o apoio de seugoverno local emCartago,Anbal lanouumaguerraparaacabardeumavezportodascomopoderdeRoma.EleconseguiuaespetacularproezadecruzarosAlpesnanevecomseuexrcitoeseuselefantesemarcharcontraa Itlia. Ali protagonizou amaior derrota que Roma j tinha enfrentado,incluindoumadasmaiscompletasvitriasnosanaisdaguerra,Canas(216a.C.).Masperdeua guerra.ComoAlexandre, foi oltimomembroda suafamliaamanteropoderpolticoemseuEstado.

    Csar (100-44 a.C.), depois da espetacular conquista da Glia, lutou eganhou uma guerra civil contra a vasta riqueza e poder da repblicaromana. Csar comeou um programa legislativo para transformar arepblica emumamonarquia,mas se cansoudapoltica. Ele estavamaisinteressadoemcomearumanovacampanhacontrao imprioparta(umreino iraniano). Mas, antes de poder partir para a frente de batalha, foiesfaqueadoporumamultidodesenadoresromanos,aospsdaesttuadeseuinimigonosIdosdeMaro.Csar,entretanto,estabeleceuumadinastiaoumelhor,seusobrinho-netoOtaviano(63a.C.-14d.C.)estabeleceu.Emseutestamento,CsarnomeouOtavianocomoseufilhoadotivoeherdeiro,masOtaviano teve de lutar quinze longos e sangrentos anos antes que oresto domundo romano o aceitasse. Otaviano ficoumais conhecido pelonomequeadotoumaistardeAugusto,primeiroimperadordeRoma.

    Cada um dos trs generais era um prodgiomilitar e um apostador.

  • Enfrentaram imprios: inimigos com exrcitos muito maiores do que osseus;inimigosquedesfrutavamdocomandoestratgicodomar;einimigoscom vantagens no domnio da terra.Mas esses generais arriscaram tudopelavitria.

    Ostrs lideraramsuas forasemumainvaso importantedoterritrioinimigo: Csar cruzou o Rubico; Anbal cruzou os Alpes; e Alexandre, oDardanelos.Alexandrecomeouumalongaguerracontraoimpriopersa(334-323a.C.);Anbaldeu incioauma lutacontraRoma, conhecidahojecomoaSegundaGuerraPnica (218-201a.C.); eCsar comeouaguerracivil(49-45a.C.).Cadahomemchegoupertodeexperimentarumamisturadesucessoefracassoe,depois,conquistouumavitriacompletanocampode batalha. Mas, no final, Anbal perdeu a guerra, e Alexandre e Csarganharamvitriasvazias.

    Escrevi este livro para explicar os motivos. A histria desses trscomandantes supremos to atual hoje quanto era h dois mil anos.Oferece lies para lderes emmuitos aspectos da vida, do comando deguerrasaladereuniesdadiretorialieseavisos.

    ASDEZCHAVESPARAOSUCESSOQuando Theodore Ayrault Dodge chamou Alexandre, Anbal e Csar degrandescapitesem1889emumlivrodemesmonome,amaioriadeseus leitores admirava a ambio imperial. Hoje, depois do sangrentosculo XX, no estamos to seguros em apoiar essa ambio. A grandezadesses trs excelentes generais inspira, mas sua letalidade aterradora.So trs deuses da guerra, mas tambm so trs demnios. Admiramosesses homens pelas mesmas razes que podemos tem-los, porqueparecem ser super-humanos de alguma forma. Eles se destacam pelagrandezaepelaambiguidade.Eramexcelentes,masnoerambons.Ou,melhordizendo,obomnelesestavamisturadocomomal.

    Mais razes ainda para perguntar o que est ligado ao sucesso de umgrande comandante suas virtudes ou seus vcios? Cada um tem seuprprioestilo.AlexandreaparecenoLivrodeDaniel,daBblia,comoumacabracomumchifre,vigorosoeimpetuoso,masprefiropensarnelecomoumcavaloanimado, rpido,duroemaisdoquecapazdecarregarumacargapesada, senecessrio.Anbal eraumgrande felinopredador, comoumleopardoastuto,forte,gil,ligeiro,furtivoeoportunista.Csareraumloborpidoeimplacvel,umcaadorhabilidosoeassassino.

    Mas a principal razo para o sucesso deles foi aquilo que tinham em

  • comum. Sabiam como jogar o jogo da guerra e agregaram-lhe certasqualidades.Vamoscomeardescrevendoessasqualidadese,depois,vamosvirarojogo.

    Algumas dessas qualidades so admirveis, outras no. Algumas soadmirveis de forma moderada. Mas conquistadores raramente somoderados,menosaindaAlexandre,AnbaleCsar.

    Dezqualidadesformamabasedosucessonaguerradessestrsgrandescomandantes. As nove primeiras so: ambio, julgamento, liderana,audcia, agilidade, infraestrutura, estratgia, terror e estilo. A dcima diferente,poisalgoqueacontececomumcomandanteemvezdealgoqueelepossuiaqualidadedaDivinaProvidncia.

    1.AmbioOsgregosdizemmelhor.Apalavraqueusamparaambiophilotimia,que literalmente significa amor pela honra. A palavra deles paraimpulsohorme, quepossui tonsdeemoopenseemnossapalavrahormnio.Eumaterceirapalavragrega,megalopsychia,notemumaboatraduoparaoportugus,masprecisamosdelaparaentenderessestrsgrandes lderes. Significa grandeza da alma, referindo-se a um impulsoapaixonado para conseguir grandes feitos e ser recompensado comsupremahonra.

    EntramAlexandre,AnbalouCsar.ErammembrosdoqueAbrahamLincolnjchamoudeatribodaguia.

    Tinham muito talento. A autoconfiana deles no tinha limites. Homenscom elevada ambio, tinham fome de honrarias. Nada menos do que aconquistadenovosmundospoderiasatisfaz-los.

    Seus objetivos eram elevados, mas tambm egostas e injustos.Alexandreespalhouademocraciaeacivilizaogrega,masatacouaPrsiaparaconquistarumimprio,noparaacabarcomalgumainjustia.AnbalquerialibertarseupasdocontroledeRoma,masrejeitouasnegociaes,pois queria rivalizar as conquistas de Alexandre. Csar defendeu osinteresses do povo comum,mas queriamuito ser o primeiro homememRomaenohesitouemdestruirarepblica.

    Os grandes comandantes no eram contadores que encorajam CEOs adiminuirseusplanos.Elestinhamtantanecessidadedeconquistasquantoosleesdecaar.

  • 2.JulgamentoBom julgamento, guiado por educao, intuio e experincia, define osucesso dos trs comandantes na guerra. Quando se trata de poltica, noentanto, Csar possui uma classe especial, seguido porAlexandre e, numdistanteterceirolugar,Anbal.

    Erammuitointeligentes,mascadaumtinhaalgomaisumaqualidadeconhecida como intuio estratgica. Quando enfrentavam uma novasituao, cada um podia tirar experincias do passado e surgir com arespostacorreta.Elessabiamcomotrabalharsemainformaoperfeitaeeram inabalveis sobpresso.Eramcapazesdepensarde formacriativa,rpidaeeficiente.Econseguiamlerosoutroscomoumlivro.Conheciamaguerra,mastambmaspessoas.

    Noprecisavamdetreinamentoparasaberoquetinhamdefazer.AntesdecruzaroHelesponto,osAlpesouoRubico,nossostrslderestinhamadquiridotodaaproficincianaartedaguerra.

    AlexandreeAnbalaprenderamaospsdeseusfamosospaisguerreiros Filipe II, o conquistador rei da Macednia, e Amlcar Barca, o generalcartaginenseque lutou contraRomaato fim.Csarveiodeuma famliaaristocrticaepraticouasartestradicionaisdanobrezaromanaoratriae guerra. Quando cruzou o Rubico em 49 a.C., com 50 anos, ele tinhapassadoporumadasmaioresescolasdaguerra:tinhaconquistadoaGlia(quer dizer, o equivalente maior parte do que , hoje, a Frana e aBlgica).

    Apesar de supercompetentes como soldados, cada um dos trscomandantes tinhaumpontocego:Alexandre ignoravaamarinha;Anbalignorava os cercos; e Csar conhecia muito pouco de logstica. Eramdebilidadesimportantes.

    Antesdesetornarumconquistador,CsarerapolticoedominavaojogodopoderemRoma.AntesdeinvadiraPrsia,Alexandreenfrentouaintrigae as traies da corte da Macednia, mas isso estava muito distante degovernar um imprio gigantesco. Quando atacou Roma, Anbal no tinhacolocadoopemCartagodesdeos9anosquaseduasdcadasantese,sobreapolticadomstica,eleapenassabiaoABC.Eventualmenteteriadepagarporessaignorncia.

    3.LideranaEles tinham almas de ferro. Os grandes comandantes eram decididos,

  • vigorososeseguros.Tinhamequipesquepodiamserconsultadaseque,frequentemente, prevaleciam sobre a opinio deles. Cresceram dandoordens. Os homens obedeciam, e no apenas por causa do posto:obedeciamporqueo comandante tinhaganhado seu respeito.Oshomenstinhamaprendidoaconfiarsuasvidasaseulder.

    Eles respiravam dignidade. S Alexandre era rei, mas Anbal e Csareram nobres. Entretanto, todos tinham o toque comum, especialmente opolticoCsar.

    Noseguiaacausa.Seguiaohomemeeleerameuamigo.Comessaspalavrassimples,umtenentedeCsarresumiuosegredodo

    sucesso dos grandes comandantes. Eles apelavam a seus seguidores noapenas como conquistadores ou chefes, mas tambm como homens.Tinhamessasqualidadespessoaisespeciaisque inspiravamosoutrosemumnvelprofundoeemocional.Maisdoqueahabilidadeoratria,apesardeseralgoimportante,haviaumgestosimples,maseloquente.AvisodeAnbalemseumanto,dormindonochocomseushomens,ouAlexandrenodeserto, recusandoumcapacete cheiodeguaenquanto seushomensestavam sedentos, ou Csar dormindo no prtico de uma cabanarequisitadaparaqueseuamigodoenteOppiuspudessedescansareramcenas que inspiravammais a confiana dos soldados do que centenas dediscursos.

    No que os comandantes apostassem na amizade para dirigir seusexrcitos longe disso. Atores habilidosos, eles podiam colocar fogo emseus exrcitos ou extinguir a paixo deles. Csar parou ummotim, certavez, com uma nica palavra: cidados. Ao tratar seus homens com umttulocivil, eleos colocoudenovoemseus lugarese lembrouoquantoimportavaaaprovaodochefe.

    Erammestres da recompensa e da punio.Usavamhonras e prmiosemdinheiropara alimentar abravura.Pagavambems suas tropasouteriamdeenfrentarmotins.Tinhamgrandecoraoequeriamque todossoubessemdissomantinhamumaparterelativamentepequenadosaqueparasimesmoserepartiamorestoentreseusamigos.

    Quando se tratava de suas melhores tropas, como os macednios deAlexandre,ouosafricanosdeAnbal, eles faziamomximopossvelparaterummnimodebaixas.Enquantoisso,nodeixavamnenhumadvidadeque, se o pior acontecesse, as vivas e os rfos receberiam grandesbenefcios.

    Alimentavamo fatormedopunindoqualquerumqueosenfrentassem,soldados ou oficiais. Surras, execues e at crucificaes eram todas

  • armasdeliderana.

    4.AudciaAhonraestavanocoraodeseucarter.Coragemeraosanguevermelhoem suas veias. Mas a virtude do guerreiro que melhor personificaAlexandre,AnbaleCsaraaudcia.

    Cadaumdelesestava,desuaprpriaforma,escalandoomonteEverest.OreidapequenaMacednianodeveriaconquistarovastoimpriopersa.O governador da Glia no deveria derrubar o Senado romano e seusexrcitos. E era inimaginvel que o comandante cartaginense do sul daEspanhadevessecruzartantoriosquantomontanhaseinvadiraItlia.Maselesousaramfazeroquenopoderiaserfeito.

    Porqueeleamavaahonra,amavaoperigooquePlutarcofalousobreCsarnabatalhaseaplicaaAlexandreeaAnbaltambm.Eleslutaramnomeio de tudo. Era perigoso: durante sua invaso do imprio persa,Alexandre registrou sete ferimentos, pelomenos trs deles srios, assimcomoumadoenadaqualserecuperou.Tambmeraeficiente,porqueumgeneral que passava pelos mesmos riscos de seus homens ganhava ocoraodeles.

    Eram ousados nas campanhas militares que criavam. Apesar de amaioria dos generais evitar riscos na maior parte do tempo, esses trsadoravamsearriscar.Sempretentavamaproveitarasoportunidades.Cadaumapostouquepoderiadestruiro centrodegravidadedo inimigoantesque o inimigo pudesse destruir o seu. Como todos os lderes bem-sucedidos,ostrstambmsabiamquandonoseraudaciosos.

    Alexandre, Anbal e Csar chegaram ocasionalmente a correr riscosmuitoaltos,masnormalmentecalculavamassuaschances.Corriamparaafrente de batalha, mas raramente esqueciam-se de criar bases seguras.Mesmoassim,elesacreditavamnoseudestinoinvencvelenaboasorte,oqueoslevavaaapostare,svezes,falhar.Poucoshomensserecuperavamtorpidodofracassoquantoeles.

    5.AgilidadeEram soldados que enfrentavamo que fosse.Oupelomenos quase tudo:gostavamdemudanasnocampodebatalha,masmesmoaagilidadequepossuam tinha limites. E quando deixavam o campo de batalha e semetiamcomapoltica,enfrentavamdesafiosaindamaisdifceis.

  • Quando as condies de combate mudavam, eles se reorganizavam.Tendo conseguido brilhar na guerra convencional na sia, Alexandremudouparaatticadacontrainsurgnciaquandoenfrentouumaguerrilhana sia central. Anbal mudava sem esforo entre campos de batalha eemboscadas.Csarsesentiaconfortvelnocampodebatalha,massejogounaguerraurbanaemAlexandriaeconseguiuumaimportantevitria.

    Velocidade era o lema deles, enquanto mobilidade, uma marcaregistrada.AenormecavalariapesadadeAlexandre,oscavaleirosligeirosdeAnbal e a infantaria rpidadeCsar eramos agentesdo sucesso. Emsuasmos, at elefantes poderiam semover comgraa, comoquando oselefantesdeAnbalforamcolocadosemjangadasparacruzaroRdano.

    Viajavam com poucas coisas, no mais do que uma carroa desuprimentos.SeushomensviviamdaterraosdeAlexandreerammenosprecriosqueosdeAnbaloudeCsar, jqueosmacedniosprestavammais ateno logstica e faziam o trabalho necessrio para assegurarsuprimentos.

    Erammestresdamultitarefa.Csarditavacartassobreseucavalo,comum secretrio montado de cada lado, cada um anotando um documentodiferente. Eram workaholics hercleos que gerenciavam o tempo comhabilidade de pugilista. S as necessidades de dormir e fazer sexo, diziaAlexandre,ofaziamlembrarqueerahumano.

    Mas a agilidade tinha seus limites. Alexandre foi quase derrotado pelafrotapersa.Anbalpagoucaroporsua incapacidadederealizarcercosnaItlia. Csar quase matou seu exrcito de fome durante o cerco malorganizadodeDirrquio.

    Nem sempre guerreiros geis necessariamente so bons polticos.Guerra clareza; poltica frustrao. Alexandre conquistou o impriopersacomgarra,masrapidamenteperdeuointeressenaadministraodeseusnegcios.AnbaldescobriuqueganharaliadosnaItliaeramaisfcildoquefazercomqueobedecessemasuavontade.CsarachavaocampodebatalhamenosdesafiadordoqueoForo;suaquedanoveiodosexrcitossenatoriais,masdasadagasnaCmaradoSenado.

    6.InfraestruturaGanhar uma guerra tem certas exigncias: armas e armaduras, barcos,comida,dinheiro,dinheiroemaisdinheiro.Comdinheiro suficiente, vocpodecompraroresto.Vocpodeadquirirmodeobraatdisciplinadaeveterana,querdizer,mercenrios.

  • Uma coisa que o dinheiro no pode comprar sinergia. No podecomprarumaforaarmadacombinada(infantarialeveepesada,cavalariajuntocomengenheiros)queesteja treinadapara lutaremconjuntocomoum todo coerente e unida com seu lder. Voc precisa construir issosozinho.

    Econstruirdomodocomonossostrsgeneraisfizeram.Cadaumherdouuminstrumentodeslumbranteetransformouemalgoaindamaisafiadoemortal.

    Filipe II construiu o exrcito macednio, e Alexandre acrescentou otoquegloriosodelideraracavalariavitrianamaiorbatalhadeFilipeQueroneia.Ento,depoisdamortedeFilipe,Alexandrecavalgoufrentedoexrcito em seus anos de glria na sia. Anbal herdou os homens quetinham construdo o novo imprio cartaginense na Espanha por seu pai,Amlcar. Csar pegou as legies e assumiu como prprias. Forjados naprovao das guerras glicas, eles eram o melhor exrcito do mundoromano.

    7.EstratgiaEmseusentidooriginal,dogrego,estratgiasereferea tudorelacionadocomastarefasdogeneral,detticasdebatalhaartedasoperaes(unirbatalhasparaalcanarumobjetivomaior)atestratgiadeguerra(comoganhar uma guerra). Acrescentemos a isso o que agora chamamos degrandeestratgiaoobjetivopolticomaisamploqueserveaumaguerra.Grandescomandantesdevemdominartodoseles.

    Alexandre,AnbaleCsartinhamumdomnioinstintivodasoperaes.Noentanto, odomniodeCsar sobreas tticasno se equiparavaaodeAlexandreouAnbal.

    Anbal, em particular, era omestre da surpresa. Suamarcha sobre osAlpesdeixouoinimigoespantado.Elecrioucrculosaoredordosromanoscomumconjuntode truquesantesdesconhecidosqueconseguiuabrirosportesdeumafortecidade,lanarumataquedecavalariaapartirdeumponto escondido nas costas do inimigo e liberar seu exrcito uma noitebemdebaixodonarizdosromanos.

    Nem Alexandre nem Csar estavam altura de Anbal, mas tinhamalguns truques na manga. Quando os persas bloquearam uma passagemmontanhosanocoraodoIr,Alexandreconseguiuatravessarascolinasesurpreend-losportrs.QuandoCsarenfrentouPompeuemumabatalhamortal, ele escondeu suas melhores tropas at o ataque da cavalaria

  • inimigaentousouseushomenseneutralizouoataque.Mas,quandofalamosdeestratgiadeguerra,AlexandreeCsardeixam

    Anbal para trs. Eles pensavam com antecipao e eram persistentes.Sabendoqueno conseguiria vencer aPrsianomar,AlexandrepreferiuconquistarosportospersasnoMediterrneo adiandoa grandebatalhaquetantoansiava.PensandoantecipadamentenoconfrontocomPompeu,CsarenviouapilhagemquetinhaconquistadonaGliadevoltaparacasa,entregando-a aopovo comumda Itlia na verdade, comprandoos seusvotos.Anbaleramenosminucioso.Adoravaavelocidadeeabruxaria,masnotinhainteresseemesmagarcadaumdosaliadosdeRoma.

    Apesardetodoseusucesso,Anbalfracassounopensamentoestratgico.Seus triunfos nos campos de batalha foram impressionantes, mas nodestruram Roma. Quando o inimigo se recuperou, Anbal no tinha umplanoB.No sabemosquem foi omaior culpado,Anbal ou seu governo,massabemosquemriuporltimoRoma.

    Todos os trs comandantes tinham uma estratgia: Alexandre queriaconquistaroimpriopersa;Anbal,destruiropoderdeRomadeumavez;eCsar, conseguir a supremacia poltica. Mas esses objetivos deixavammuitosdetalhesemaberto.

    8.TerrorEstavam dispostos a matar inocentes e todo mundo sabia disso. Issotambmfoiumsegredodosucessodeles.

    Cenadeumaguerracivil:quandoum jovemoficial tentou impedirqueCsarentrassenotesouroemRoma,Csarlevantouavozeameaoumat-losenosassedocaminho. E jovem,ele falou, vocprecisasaberquefalar isso foi mais difcil para mim do que realmente fazer. O oficialaterrorizadofugiu.

    Mas ameaar a vida de um funcionrio do governo no era nadacomparado a massacrar cidades inteiras, como fizeram os grandescomandantes. Csar saqueou a pequena cidade grega de Gomfoi comopunioportra-lo.AlexandredestruiuagrandemetrpolegregadeTebass para mostrar o que fazia com rebeldes. Pior ainda aconteceria maistardenasiaCentraledoSul,ondeosfuriososmacedniosmassacraramtodasascidades.

    CsarfezomesmonaGlia,ondeobigrafodaAntiguidade,Plutarco,dizquematou ummilho de pessoas e escravizou outromilho. Exageros mas prximo o suficiente da verdade, o que fez que os italianos

  • rapidamente se renderem quando ele cruzou o Rubico. Csar ento fezumajogadainteligenteeperdoouseusinimigos,oqueganhouoaplausodeumpblicoaliviado.

    A primeira coisa que Anbal fez quando chegou Itlia em 218 foimassacrar o povo de Turim um lugar pequeno naqueles dias paraquebrararesistncianasreasprximas.QuandoelefinalmentedeixouaItlia, quinze anos depois, em 203, massacrou aqueles italianos que serecusarama ir comele enohesitou em segui-los atum temploparafazerisso.Oufoioqueafirmaramosromanos.

    9.EstiloHomens com ambies imperiais no vo guerra por coisas pequenas,comodisputasdefronteira.Precisamdegrandescausasesmbolosclaros.

    Todosostrseramcamalees.Nenhumerahomemdopovo,mastodoserampopulistas.

    Alexandrecomeoucomoumvingadoreliberadoreterminoucomoumsemideus.PrometeuvinganapelainvasodaGrciapelaPrsia,150anosantes, proclamou a liberao das cidades gregas que conquistou etransformou-asemdemocracias,quisessemouno.QuandochegouaoIr,vestiuitensdoguarda-roupapersaeinsistiuqueseushomensosaudassemaoestilopersa,emumacenoaseusnovossditosorientais.Enquantoisso,mandouqueseusaliadosgregosovenerassemcomofilhododeusZeus.

    Anbal tambm lutou por vingana e libertao, alm de fazer seuprpriocaminhoatosdeuses.ACartago,eleprometeuvinganaporsuaderrotaanteriorparaRoma;aositalianos,prometeuliberdadedodomnioromano.AfirmouteroapoiododeuscartaginenseMelcarteouHrcules.Eencorajouseusseguidoresceltasa consider-loumheri sadodeseusmitos.

    Csarpassoupormuitasdificuldadesparamostrarquenoeraummerogovernadorprovincialquehavia se revoltadocontraogovernodeRoma.Diziaqueestavalutandopelosdireitosdopovoromanoeporseuprpriobom nome este era um princpio importante para o corao romano.CsartambmmarcouumadiferenamuitoevidenteentreelemesmoeosgeneraisanterioresquetinhammarchadosobreRoma.Elestinhamseladosuasguerrascomreinosdeterror,masapolticadeleerademisericrdia.

    Emrelaoaosdeuses,afamliadeCsartraavasuaancestralidadeatVnus.CsarrecebeuhonrasdivinasdoSenadoenquantoaindaestavavivoefoidivinizadodepoisdesuamorte.MasCsaradquiriualgoqueeraainda

  • mais valioso: celebridade. Seu textoComentrios sobre a guerra glica otransformouemumsmbolodeproezamilitar.QuandocruzouoRubicodois anos depois, a reputaodeCsar serviu comoummultiplicador defora.

    10.DivinaProvidnciaNapoleo queria generais que no fossem apenas bons, mas tambmtivessem sorte. Ele teria ficado feliz, emmuitas ocasies, comAlexandre,Anbal e Csar. Mas s a Divina Providncia, e no apenas sorte, podeexplicarasorientaeseaproteonecessriaparachegarsalturasquechegaram.Apesardeseremosnovefatoresanterioresnecessrios,aDivinaProvidnciaeraessencial.

    A Divina Providncia guiou os passos dos jovens nascidos para seremconquistadores, como Alexandre e Anbal, e tambm os passos de umpoltico de meia-idade que foi guerra e acabou se tornando o maiorgeneraldetodosCsar.SaDivinaProvidnciapodelevarosinimigosdeumhomempara a beira do abismo. Semprecisar levantar umdedo, porexemplo,Alexandreviuseupiorinimigomorrersubitamente.

    OsromanossejogaramnasmosdeAnbalaoenviarcontraeleomaiorexrcitoquepossuam.EstavaesperandoemCanas.Ali,Anbalconquistouumadasmaioresvitriasdomundo,masnoconseguiudarcontinuidadecomumamarchacontraRomaeissolhecustouaguerra.

    Comodizoditado:ohomemplaneja,Deusri.

    OSCINCOESTGIOSDAGUERRAUmgrandeldersabeoritmodaguerra.Issomuitoimportanteporquenaguerra,comoemquasetudo,oritmoindispensvel.Sucessonosumaquestodasdezqualidadesqueacabamosdediscutir,masdesaberquandoimplement-las. Isso combina especialmente com o tipo de guerra queAlexandre,AnbaleCsartinhamemmente.

    As trs guerras seguiram um padro similar. Cada uma comeou comuma combinao de ataque e defesa, mantendo uma regra bsica decombate: sempre que voc d um soco, cria uma abertura para que seuoponente ataque, ento preciso se proteger. Da mesma forma, nossosgenerais invadiram o pas do inimigo ao mesmo tempo em queantecipavamumcontra-ataquedoinimigo.Cadaumpassouporproblemasantes, porque, na guerra, nem tudo sai como planejado, mas depois se

  • reagruparam rapidamente. Em seguida, veio uma grande vitria em umabatalhacampalqueabalouacapacidadeofensivadoinimigo.Ecadaumdostrs tentou finalizar o trabalho privando o inimigo de seu dinheiro ehomens dois deles conseguiram.Oltimopasso foi colher os frutos davitriaemumacordodepazparaomundops-guerra,masnenhumdoscapitesconseguiuisso.

    Suastrsguerras foramseguidasdeumpadrosimilar,mas,napoca,isso acontecia com a maioria delas. Apesar de muitas mudanas emtecnologia, desde os tempos antigos, os princpios da guerra mudarampouco,damesmaformaqueanaturezahumana.

    Cadaumadessasguerrasconsistiuemcincofases.Euaschamodecincoestgios do conflito: (1) ataque, (2) resistncia, (3) choque, (4) fechar ocercoe(5)saberquandoparar.

    Noestgiodoataque,adecisodeirparaaguerralevadeflagraodalutaguiadaporumplano.Oplanodaguerracrucialcomodizoditado,fracassaremplanejarplanejarparaofracasso.Mastodoplanoenfrentaobstculos vamos cham-los de resistncia. Nesse estgio, o atacanteprecisa superar esses obstculos ou vai fracassar.Nossos generais forambem-sucedidos e foraram seus oponentes a entrar em um choque abatalha ou batalhas que deixaram evidente a supremacia do exrcitoinvasor. Mas vencer uma batalha no suficiente. Um general bem-sucedidoprecisadeixarseuinimigodejoelhosusandooquefornecessrio perseguio, cerco, bloqueio, contrainsurgncia ou outras tticas. Eleprecisa usar seus recursos polticos e financeiros, alm dos militares.Precisa estar pronto para dvidas em suas fileiras e insurgncia noexterior.Fecharocercooestgiomaiscomplexoedesafiadordetodos.Finalmente,umsoldado-estadistatemavantagemdesaberquandoparar.Eleterminaalutanomomentocertoedeumamaneiraquefazmaisdoquecessarashostilidadesestabeleceabaseparaomundops-guerra.

    A maioria das pessoas provavelmente pensa na guerra como umprocessodetrsestgios:atacar,lutar,ganharouperder.Masessemodeloest errado, porque simplifica e distorce a natureza da guerra. Nopodemosentenderaguerrasemlevaremcontasuaimprevisibilidadeesuanaturezafundamentalmentepoltica.

    Os grandes comandantes sabiam disso. Eles no planejavam apenasganhar.Antecipavamofracassoesabiamcomoserecuperar.Colocavamosucessonocampodebatalhaemcontexto.Sabiamquepodiamganharumabatalhaeaindaperderaguerra.Tambmentendiamqueavitriamilitarnoseigualaaosucessopoltico.

  • Aguerra imprevisvel.Muitos soldadosantigosveneravamaFortunaouaSorte,enosemrazo.Seuscomandantesfaziamplanoscuidadosos,mas nenhum planejador conhece toda colina ou o que est detrs dela;nenhum prognosticador consegue controlar o clima ou prever o que aProvidncia tem guardado. E depois, est o inimigo. A guerra no umasimulao; a guerra uma disputa contra um alvo em movimento. Oinimigo possui truques, como fingir e arrasar com os planos maiselaborados.

    Por exemplo, os persas lanaram um contra-ataque por mar contra abasedeAlexandrenaGrcia, eos romanos lanaramumataquecontraafortalezadeAnbalnaEspanha.TantoAlexandrequantoAnbalresistiram,masAlexandretevesorte.Anbalrecebeuumfortegolpe.Pompeupoderiater atacado a base de Csar na Itlia a partir da Espanha, mas Csar ovenceu,invadindoaEspanhaprimeiro.

    A poltica constrange a guerra de duas formas. Nenhum generalconsegue realizar aes militares a menos que tenha o apoio de seushomensnocampodebatalhaeoapoioemcasa.Nenhumavitriamilitarpodedar frutosamenosque forceo inimigoaseguirnossavontade.Novale a pena ganhar uma batalha se o inimigo for capaz de continuarlutando. Negociaes de paz podem ser traioeiras; e muitos generaisganharamaguerra,masperderamapaz.Porexemplo,ogeneralLisandro(m. 395 a.C.) liderou Esparta at a vitria contra Atenas na Guerra doPeloponeso (431-404 a.C.), mas suas polticas ps-guerra foram topesadasque seus aliados sevoltaramcontra ele eEspartao expulsoudogoverno.IssodeuaAtenasumaaberturapararessurgircomoumaameaamilitar. Na poca moderna, o exrcito francs derrotou militarmente osrebeldesnaGuerradaArglia(1954-1962),masaumcustotoaltoqueogovernofrancs,comapoiopopular,decidiurenunciarcolnia.AArglia,depoisdemaisdeumsculocomocolniafrancesa,setornouumEstadoindependente.

    Quandoolhamosdepertoanaturezadaguerrasuaimprevisibilidadeenatureza poltica , entendemos por que estemodelo de cinco estgios til. O modelo de cinco estgios se ajusta no somente s guerras deAlexandre, Anbal e Csar, mas guerra em geral, incluindo as maisrecentes, como Iraque e Afeganisto. Descreve melhor as guerrasconvencionais, mas tambm pode se ajustar s guerrilhas e guerras deatrito,emqueochoquenoumcenriodebatalha,masnodeixadeserumaguerra,pormaislongaouamorfa.

    ApesardeAlexandre,AnbaleCsarseremconhecidoscomomestresda

  • guerraconvencional,elesoferecemliesparaguerrasnoconvencionaistambm, da reorganizao de seu exrcito por Alexandre em uma foraflexvel o suficiente para derrotar os nmades do Afeganisto e osguerrilheiros nas montanhas, at a ttica astuta de Anbal nas colinasitalianas, ou a luta de Csar nas ruas de Alexandria, passando pelasiniciativas que os trs generais usavam para conquistar o corao e amentedaspopulaesinimigas.

    GRANDEZANOMAISAMESMACOISANs,historiadores,devemosserobjetivos,masostrsassuntosdestelivrofazemcomque isso sejadifcil. Eles excitamaspaixes, indodoamoraodio e geralmente um pouco de cada aomesmo tempo. Talvez omundoaindaameosheris.Bigrafoscertamenteadoram.Elescorremoriscodese apaixonar por seus assuntos, e tais temas em especial Alexandre eCsar tiverammuitos bigrafos.Mas heris antigos servem amuitas evariadasagendasmodernas.

    Porexemplo,Alexandre.Eraumconquistador,masahistriaoregistracomo um cone. Para os liberais, ele era um visionrio; para osconservadores, era um campeo da civilizao ocidental; e para vriastradies religiosas, era quase um santo. A tradio judaica afirma queAlexandrevisitouotemploemJerusalmemostrourespeito.Desdeento,Alexandresetornouumnomejudeucomumecontinuasendoathoje,mesmo entre os judeus ortodoxos. Os cristos acreditam que Alexandreestava preparando o caminho do Senhor ao trazer a civilizao grega aoOrienteeestabelecendoabaseparaaunificaodahumanidade.ComoeleeraofilhodeDeus,porqueafirmavaqueestava liberandooshomens,epor ter morrido jovem, Alexandre parece, para alguns, um precursor deCristo.OIsltambmselembradeAlexandreepossivelmenteemseutextomaissagrado:muitosestudiososacreditamqueDhul-Qarnain,uma figuramencionadanoCoroeconsideradapormuitoscomoprofeta,naverdadesetratadeAlexandre.

    Mas no preciso ser religioso para reverenciar Alexandre.Nacionalistas da Grcia ndia o reivindicam. Ativistas de direitos gaysveem nele um proto-gay porque amava tanto homens quanto mulheres.Umaestudiosa,noentanto,mecontouquevAlexandrecomoumafiguramasculina de fantasia que representa a luta entre aventura eresponsabilidade. Alguns veem Alexandre como um aougueiro brutal. Amaioriadoshistoriadores,noentanto,elogiaAlexandre.

  • Csar no nenhum santo, mas ele joga uma sombra sobre todoestudioso at hoje. Csar o guardio de sua prpria reputao, porqueseus brilhantes livrosComentrios sobre a guerra glica e A guerra civildominamoregistrohistricoantigo.Comodefensormoderno,Csartemomelhor Shakespeare, que dotou o homem com uma dignidade trgica.Mesmoassim,asconquistasdeCsar falamporsienemsempreganhamadmiradores. Ele invadiu a Glia sem nenhum motivo e organizou umbanho de sangue na regio. Depois, comeou uma guerra civil emRoma,no por algum princpio, mas por egosmo. Terminou como ditador quedestruiu a liberdade da repblica romana. Cesarismo significa hojeditaduramilitarouimperialeabsolutismopoltico.

    ComAnbaltemosoproblemaoposto.ComoelenoconseguiuderrotarRoma,Anbalpodeaparecercomoumderrotadoemvezdocampeoqueera. Anbal ganha os coraes dos inferiores, o que, s vezes, leva aestranhosparceiros.Quandoeramenino,SigmundFreudidolatravaAnbalcomo um semita que enfrentou Roma da mesma forma como Freudresistia ao antissemitismo na Viena catlica. Afro-americanostradicionalmenteconsideraramAnbalumherinegro.Provavelmente,elenotinhaapelenegra,apesardequemuitasdesuastropastinham.

    Mesmoassim,oapelodeAnbalcomosoprimidostemumabaseslida.Depoisdeenfrentarumimprioarroganteeabal-lo,eleperdeutudo.Masmanteve sua dignidade. Anbal derrotado se reinventou comoadministrador, reiniciou a luta contra Roma no Oriente e se recusou adeixar o inimigo humilh-lo ao marchar triunfante. Morreu, mas no seajoelhou.

    Grandes generais devem estar prontos para morrer jovens, e issoaconteceucommuitosconquistadoresemtodaahistria.Tambmdevemenfrentarumapossibilidadesemprepresentedefracassar.Aconquistanoumtrabalhofcil.Osucessoexigeumacombinaodegrandezamilitaresupremahabilidadepoltica.Poucaspessoasconseguemdominarosdois.

    Nossos generais, hoje, no tentamdominar os dois, e isso algo bom.Elesacatamaautoridadecivil.Nodecidemsevoguerra,masscomovolutar,emesmonessepontodevemcederaospolticos.Nodecidemaestratgiapoltica,masapenasamilitar. algobomno colocaropoderpolticoemilitarnasmosdeumnicohomem.

    Elesperdemosonopormatarpessoas.Nolutamguerrasdeagresso,sdedefesa. verdadeque, s vezes, adefesa exige atacaroutroEstado

  • queestconspirandocontrans,oprimindoseuprpriopovoouocupandoterrasquesolegitimamentenossas,mastudoissoestlongededeclararosolodeoutrocomoterraconquistadapelalana,comofezAlexandre.

    Os grandes comandantes do mundo antigo no tinham a humildadenecessriadosgrandesestadistas.Erambonshomens,masnobenfeitoresda raa humana; vieram mais para destruir do que realizar. De muitasformas,seusexemplosdevemserhonradoscomrestries.Mesmoassim,elestmalgoanosensinar.

    Nenhum homem superou a proeza de Alexandre de conquistar umimpriotograndeemtopoucotempoetojovem.NenhumestrategistaorganizouumainvasotoousadaquantoamarchadeAnbaldaEspanha,cruzandoosPireneus,oRdanoeosAlpesnaItlia.Nenhumcomandanteconseguiu uma vitria ttica to completa quando a deAnbal emCanas.Nenhum general foi to ousado quanto Csar quando cruzou o marAdritico no auge do inverno sem barcos de guerra ou suprimentos eganhouaguerra.

    Ningum nunca entendeu melhor do que esses trs que a guerra poltica. Nenhum conquistador ousou cooptar os conquistados tobrilhantementequantoAlexandrequandosedeclarouoreidasiaeagiucomosefosse.NenhuminvasorreuniuosinvadidostobemquantoAnbalquando entrou na Itlia aos gritos de Itlia para os italianos. Nenhumsoldado-estadista combinou recompensas perdes e punies foramilitarcomtantadestrezaquantoCsar.

    E ento, no momento de triunfo, ningum esqueceu a regra de que aguerra poltica to completa ou desastrosamente quanto eles.Animadoscomavitriaebbadoscomosucesso,cadahomemfezaquiloque nenhum general bem-sucedido pode ousar fazer: sucumbiu suaprpria vaidade. Generais modernos no esto imunes ao excesso deorgulho. Mas, nas democracias, no importa quando, as leis evitam quequalquerindivduocausemuitosdanos.Ahistriaadvertesobreisso.

  • CAPTULO2

    Ataque

    Um jovem de 22 anos sentado junto ao timoneiro e conduzindo o barcoprincipalparaosul,cruzandoasguasazuisdeHelesponto,oestreitocanalqueseparaaEuropadasia.Quandoobarcoseaproximoudeseudestino,elejogouumalanaeaenfiounaterra.Depois,usandoarmaduracompleta,foioprimeirohomemapularepisarnacostaasitica.Oefeitoeramarcaraterra como conquistada pela lana, territrio que os deuses permitiamqueeleconquistassepelafora.Tinha37milhomenscomeleparagarantiressaafirmaonaquelediadeprimaveraem334a.C.

    Uns cemanosdepois e amilharesdequilmetros, umhomemcom29anoslideravaseuexrcito.Eleavanavaporumdosterrenosmaisdifceisdomundo,osAlpescobertosdeneve,com40milsoldadosape8milacavalo.Eacimadetudo37elefantes!Smetadedoshomenssobreviveriabrutaltravessia,mas,emnovembrode218a.C.,quandoelescruzaramascolinas, marcharam sobre o territrio romano e tomaram a Itlia.Dezesseteanosdeguerraedestruioseseguiriam.

    Poucomaisde150anosdepoisequasequinhentosquilmetrosaosul,umhomemcom51anoseapenas5milhomenssobseucomandocruzouumrionasplanciesdonortedaItlia.Masesseriorealmentepoucomaisqueumriachomarcavaafronteiraentresuaprovncia,ondeelepoderialegalmente liderar um exrcito, e a Itlia, onde no poderia. Sua curtajornada no final do outono assinalava o comeo de quase trinta anos deguerracivildeumapontaoutrado impriomediterrneodeRoma.Era12 de janeiro de 49 a.C., pelo equivocado calendrio romano em uso napocamaisoumenos24denovembrode50a.C.,pelocalendrio solar

  • queusamoshoje.Alexandre, o Grande, na primeira histria; Anbal, na segunda; e Jlio

    Csar,naterceira,ilustramumasituao:ahistriageralmenteenfocaumcruzamentodefronteirascomooinciodeumagrandeguerra.Aexpedio Prsia de Alexandre comeou com o cruzamento de Helesponto. ASegunda Guerra Pnica comeou quando Anbal deixou a Espanha,marchouatravsdosuldaGliaecruzouosAlpesnaItlia.AguerracivilromanacomeouquandoCsarcruzouoRubico.

    Masocruzamentodasfronteirasoanticlmax.Marcaadeflagraodeuma guerra, no sua causa. Csar pode ter dito: O dado est lanado,quando atravessou o Rubico; mas o jogo j tinha comeado. Cinco diasantes,oSenadoromanotinhadeclaradoCsarumforada lei, forando-o,portanto, a lutar ou desistir de sua carreira poltica e militar (e,possivelmente,desuavida).MasocursodecolisoentreCsareoSenadoj erabviohmeses, ou atmesmoumanoantes. Pelomenosummsantes de cruzar o Rubico, Csar tinha ordenado que duas legies naFranacruzassemosAlpesesejuntassemaelenaItlia.QuandoAlexandrecruzou Helesponto, estava continuando uma guerra que havia comeadotrs anos antes por seu pai. Quando Anbalmarchou pelos Alpes, estavacontinuandoumaguerracomRomaquetinhacomeadoumanoantesnaEspanha.Eseasantigasfontessocrveis,Anbalesperavapoderlutarnaguerradesdequeeramenino.

    Muito antes de terem visto o Rubico, os Alpes e Helesponto, Csar,AnbaleAlexandrejtinhamdecididopartirparaaguerra.Essadecisofoiaescolhamaisimportantequecadaumdelesjhaviatomado.Porquecadahomemescolheuaguerra?

    PORQUEAGUERRA?Alexandre:talpai,talfilhoA guerra de Alexandre contra o imprio persa no foi um caso deautodefesa.NemelenemseupastinhamnadaatemerdaPrsia.Comoohistoriador Polbio (ca. 200-118 a.C.) apontou em tempos antigos,Alexandrelutouumaguerradeconquista;naverdade,aguerrafoiolegadoque recebeu de seu pai, o Rei Filipe II. Acontecimentos anteriores dosgregoscontraospersas tinhamconvencidoFilipedequeo impriopersaestava pronto para atacar; no havia dvida do esplendor do grandeprmioqueaguerraprometia.

  • Inteligente e sofisticado, Filipe estava em contato com os intelectuaisgregos de sua poca. Ele poderia ter ficado interessado por um livro emespecial,AeducaodeCiro,doescritoresoldadoatenienseXenofonte,queapresentouumahistria ficcionalizada,mas incrvel,decomoCiro, reideumpequeno canto do sudoeste do Ir, fundouo poderoso imprio persapela fora das armas. O Ciro de Xonofonte era um homem de honra ecoragem que atraa os melhores homens de seus dias pela fora de seucarter.NosabemosseFilipe leuo livro,masprovavelmenteouviufalardele. E, se ouviu, certamente seperguntou: SeCiro conseguiu fazer isso,porqueeunoconseguiria?

    Quandosetratavadeambio,Alexandreeraigualaseupai.Eletambmtinhacomoobjetivoaconquistadoimpriopersa.Eraalgoambicioso,masAlexandre era um homem com um destino. Ele nasceu para lutar essaguerra.Comoseupai,ele tinhaapersonalidadedeumconquistador,comumaconvicoapaixonadadesuacapacidadeeatdesuadivindade.FilipeinsinuavaempblicoqueosdozedeusesdoOlimpodeveriamacrescent-loasuasfileiras.Alexandresimplesmenteseproclamouumdeus.

    Alexandre acreditava que descendia do mtico heri grego Aquiles.Desde a infncia, identificava-se com ele. Chamar-se de segundo Aquileseraumaespadadedoisgumes.AquilesnoerasomenteomaiorguerreirodaGrcia,mastambmomaisegosta.Tirandosuaprpriahonra,elenose preocupava em nada com seu pas. Escolheu a glria acima da vida.Aquilesamavaaguerraetinhapoucointeresseemseular.ParaAlexandre,osparalelosacabariamsendoiguais.

    Elecertamentetinhaumaquedapelaguerra.Suacoragemehabilidadedespontaramnaadolescncia.MesmoantesdamortedeFilipe,Alexandrejsemostravaumgrandecomandantedacavalariaeumgrandelderdoshomens.Masmesmosefossetmidoouinseguro,eleteriadeescondersuasemoes. As consequncias de no partir para a guerra teriam sidocalamitosas.Alexandre tinhadeprovarqueerao filhodeseupai.Aos22anos, ele tambm j tinha mostrado que podia assumir asresponsabilidadesdeumadulto.

    OpaideAlexandre,Filipe,tinhasobrevividovinteetrsanosfrentedotronodaMacednia,famosopelainstabilidade,devotandoseureinointeiroguerra.Suabem-sucedidaexpansoassegurousuapopularidadeemcasa,mas,no final,ele foiassassinado.OltimoatomilitardeFilipetinhasidocomearainvaso,hmuitoplanejada,daAnatliapersa,enviandoforasavanadas.

    Outra coisa: Filipe tinha gastado praticamente todo o tesouro da

  • Macednia para pagar sua fora militar. Quando Alexandre invadiu aPrsia, a Macednia o reino mais rico da Europa estava quebrada.Alexandretevedelutarparaencontrarasolvnciaouenfrentararuna.

    Se Alexandre no tivesse continuado a guerra, teria sido chamado decovardee,provavelmente,terminariacomoseupaimortopelasmosdeumdeseuscompatriotaslinha-dura.

    Anbal:negciosfamiliaresAnbaltambmtinhaumpaifamoso.AmlcarBarcasedestacoucomoumgrandegeneralduranteaPrimeiraGuerraPnica(264-241a.C.),umalutacontra Roma pelo controle da Siclia. Apesar de Cartago ter perdido aguerra, Amlcar ganhou todas as batalhas. No final, voltou para casa eobteveaindamaissucessoaoderrotaraselvagemrevoltadosmercenrios(239a.C.).SobAmlcar,osBarcassetornaramaprincipalfamliaguerreiradeCartago.

    Tobompolticoquantogeneral,Amlcardefendeuagentecomumemumacidadedominadaporumaeliterica.Usouumaondadeapoiopopularpara conseguir um exrcito e lutar na Espanha. Ali, Amlcar ganhou umnovo imprio,nosuldaEspanha,comosubstituioaoqueCartagotinhaperdidonaSiclia.AEspanhatinhaminasdeouroeprata,almdemuitossoldados,eCartagoagoracontrolavatudo.Acidaderecuperouseupoder.

    Amlcar levou seu filho de 9 anos, Anbal, com ele para a Espanha. Omenino cresceu em um campo de batalha, guiado por dois soldadosbrilhantes seu pai e seu tio , alm de trazer o dote gentico de suafamlia.Anbaltinhadoisirmos:AsdrbaleMago.AmlcarchamavaseusfilhosdeproledoleoeAnbaleraomachoalfaorgulhoso.Criadoparasercomandante,elenodesapontouquandochegouidadeadulta.

    Eleera,porsuaprprianatureza,umhomemrealmentemaravilhoso,diz Polbio sobre Anbal, com uma personalidade combinando com suaconstituio original que podia realizar tudo dentro dos assuntoshumanos.Eraumhomemdeextremos.Suamenteerarpidaeastuta,masseucorpoeraindiferentedor.Tinhasensodehumoreumtemperamentoviolento.Eraumhomemcomhonra,masseuscrticosdiziamqueignoravasuaspromessasquandoeradeseuinteresseequetinhaumafraquezapordinheiro.

    O coraoousadoe corajosodeAnbal ansiava realizar suas ambies.Fisicamente imponente, ele tinha todosos traosdo comandante.Nasceuparaserlderdehomens,eganhouoamorealealdadedesuastropas.

  • Heroico,expansionistaeabenoadopelosdeusesdeCartagoeraassimqueafamliaBarcaanunciavaamarcadeles.PrestavamespecialatenoaMelcarte,odeusdoherosmoedahistria.OdeusdarealezadeTiroacidade-me de Cartago , Melcarte fazia que os cartaginenses sentiremorgulhodeseupassado.NaEspanha,otemplodeMelcarteficavaemumailha no oceano Atlntico, em frente a Gades (a moderna Cdis), esimbolizavaacoragemfrenteaovastodesconhecido.OsgregosassociavamMelcarte com seu heri, Hracles, e os Barcasmostravam a conexo emsuas moedas. Mostrado de perfil, Melcarte-Hracles tem um olhar duro,pescoogrossoebarba,comumaguirlandadavitriasobreacabeaeumaclava sobre o ombro. O outro lado da moeda acrescenta a imagem deferocidadepormeiodeumelefantedeguerra.

    AambiodeAnbalbrilhoutantoquantoasmoedasdepratadeBarca.Quando era jovem,Anbal estudou comum tutor grego. Suspeito que, detodos os heris da Grcia, Alexandre, o Grande, era o favorito de Anbal.Comoadulto,elecertamenteimitavaosmacedniosseguiuospassosdeAlexandreaoinvadirumgrandeimpriocomumexrcitopequeno,masdeelite,eaoseproclamarliberadorcomumamissodivina.

    Mas Anbal era filho de Cartago. Como seu pas, ele era dinmico,expansionistaedifcildereconstruirparans.RomadestruiuCartagoem146 a.C., emumato de aniquilao completa quemuitos estudiosos hojeconsideramumgenocdio.Graasarqueologia,algodaculturamaterialdeCartagofoidesenterrado,masmuitopoucosescritossobreviveram.

    AverdadeiraCartagoerarica,dinmicaecruel.Suaeconomiasebaseavano comrcio e na riqueza agrcola. Seus exrcitos e marinha lutaram daEspanha Lbia, enquanto seusmarinheiros chegaram at a Irlanda e ooestedafrica.Suaeliteadmiravaa culturagregaenosecansavadela.Seus polticos puniam generais derrotados com a crucificao. Os paissacrificavamseusprprios filhos comopresentes aosdeuses furiosos emmomentos de crise a arqueologia demonstra que o testemunho deescritoresgregossobreessepontonoeranenhummito.

    Anbal foio filhomais famosodeCartago,masnosobreviveunenhumregistrocartaginensesobreele.NossasfontessobreCsarsoexcelenteseas de Alexandre no so ruins, mas, para conhecer Anbal, dependemosquase que exclusivamente de escritores gregos e romanos, em especialPolbioeLvio.SimplesmentesabemosmenossobreAnbaldoquesobreosoutros dois comandantes. As concluses dos historiadores sobre Anbalcontmumelementodeconjetura.

    ParavoltaraAmlcar:eleeraumcidadolealdeCartago,masdesfrutou

  • deumpoderquaseabsolutonaEspanha.Apesardeter inimigospolticosnoConselhodosAnciosquedominouapolticacartaginense,tinhamuitosmaisapoiadores.AfacoBarcaacreditavanagrandezanacionalpormeiodaguerraedaconstruodeumimprio.EestavadeterminadaaenfrentarRoma.

    RomadecepcionouCartagoaotomaraSiclianaPrimeiraGuerraPnica,mas acrescentou a humilhao logo depois ao cercar outra ilhacartaginenseaSardenha.Foiumaclaraviolaoaotratado,masCartagoestavafracademaisparafazeralgonomomento.Issomudou,noentanto.EntreosrecursosdaEspanhaeotalentodosBarcasparaaguerra,Cartagopdedizernuncamais!Naverdade,fontesgregaseromanasafirmamqueosBarcasplanejaramativamenteumaguerradevingana.

    Ahistriasegueafirmandoque,quandoAnbaleraummeninoem237a.C., Amlcar o obrigou a fazer um juramento solene de eterna inimizadecontraRoma.Seessahistriaverdadeouno,asaesdeAnbalnoaugedaguerramostramcomoeledesconfiavadeRoma.

    Quando Amlcar morreu em 228 a.C., seu genro, Asdrbal, o Belo, osubstituiu.Asdrbal,oBelo,criouumacapitalnaEspanhacartaginense,emuma cidade que chamou de Cartago (a Cartagena moderna), um grandeportonosudesteespanhol.(Osromanos,maistarde,achamariamdeNovaCartago,e,paraevitarconfuso,nstambmvamosadotarestenome.)SeAsdrbal tambm estava planejando a guerra com Roma, ele foiassassinado em 221 a.C. antes de conseguir fazer algo. O exrcito naEspanha escolheu um sucessor por aclamao, e o povo cartaginenseconfirmou. O homem era Anbal, agora com 26 anos e comandante doimprioespanholqueseupaitinhafundado.Anbalrapidamentemostrousua aptido para a guerra, atacando boa parte da Espanha central eexpandindooimpriodeCartago.

    RomatinhavistoocrescimentodopodercartaginensenaEspanhacomadmiraoemedo.Anbaleseupai(eseutio)tinhamprotagonizadoumarevoluo.Quandocomearam,CartagoestavaprostradaaospsdeRoma.AgoraRomacomeavaatermedodequepudesseterminarprostradaaospsdeCartago.

    EntoRomausouacidadeespanholadeSaguntum(modernaSagunto)comoumbloqueioEspanhacartaginense.Saguntumficavaestimulandoolevante de tribos espanholas contra Anbal. Quando os cartaginensesinsistiram em contra-atacar Saguntum, Roma ameaou com retaliao.Anbal no se abalaria. Ele era, segundo Polbio, jovem, cheio de ardormarcial, estava encorajado pelo sucesso de seus empreendimentos e

  • estimuladoporsuainimizadedelongadatacomRoma.RomaafirmavaqueCartago tinhavioladoasobrigaesestipuladasno

    tratadoaoatacarSaguntum,umaliadoromano,comohaviasidogarantidoporumtratadoentreRomaeAsdrbal,quandoelecomandavaaEspanha.Mas Cartago desafiou Roma em bases legais, enquanto estudiososmodernos questionam se Saguntum era aliada ou somente amiga deRoma um status que permitia que Roma ajudasse Saguntum sem tercompromissoscomsuadefesa.

    Ao se recusar a recuar, Anbal enfrentaria uma guerra certeira contraRoma. A alternativa, no entanto, teria significado permitir que Romacomeasse a se expandir na Espanha. Ningum com conhecimento dahistriaromanapoderiaduvidaraondeissoacabarialevando:umaameaacada vez maior ao imprio espanhol de Cartago. A questo era: comoCartagopoderiaimpedirisso?

    Uma possibilidade era a conciliao. Aceitar a superioridade de Roma,fazerconcessesemanter-secomoumpodermenoremsuarbita.Outrapossibilidade era lutar, mas ficar na defensiva. Deixar Roma se exaurirtentando vencer os exrcitos cartaginenses em seu prprio terreno naEspanha e, provavelmente, tambm no norte da frica. Com um generalbrilhantecomoAnbalaolado,nofinaloscartaginensesiriamdesgastarosromanos.

    A terceira possibilidade, e a que Anbal escolheu, foi a audcia. Eleatacaria e chocaria o inimigo invadindo a Itlia uma extenso dasincursesdeseupaiAmlcar.AnbalraciocinouquesuasvitriasnaItliafariam que os aliados de Roma passassem para o seu lado e que issoforariaRomaaprocurarapaz.NuncamaisCartagoteriadesepreocuparcomumaagressoromana.AtacarRomaeraasoluodosBarcas.

    Como Alexandre, ento, Anbal assumiu com vontade os negciosfamiliareseaofensivamilitarexigida.

    Csar:nenhumachanceparaapazCsar tem uma histria mais complicada. Ao contrrio de Alexandre ouAnbal,Csarnoeraofilhodeumgrandegeneral.ApesardetervindodeumafamliapatrciaantigaemRoma,Csarsedesenvolveusozinhocomoguerreiro.Nemtinhachegadoaoaugequandoera jovem,comoosoutrosdois generais. Mas Csar no sofria de complexo de inferioridade. SuafamliaafirmavadescenderdolendrioancestralEneiase,pormeiodeste,da deusa Vnus. Aos 16 anos, Csar era um sacerdote de Jpiter e,mais

  • tarde,permitiuqueoSenadoconcedessehonrasdivinasparasi.Era umhomemde imensa ambio. Comum sucesso depois do outro,

    Csar queria se tornar o romano mais poderoso ou, como ele mesmofalava,seroprimeirohomememRoma.

    Soldadoexcepcional, o ambiciosoCsar subiu rapidamentea escadariamilitar.Quando cruzouoRubico em49 a.C., aos 50 anos, tinhapassadopelamaior escola de todas: havia conquistado a Glia. Foi uma dasmaisbrutais,completaselucrativasvitriasnalongahistriadeRoma.

    Almde serumgeneralbrilhante,Csar eraumdemagogo talentosoepoltico astuto. Planejou alavancar seu sucesso na Glia para conseguirmaispoderehonrasemRomae,depois,outrograndecomando,dessavezcontraospartas (um imprio iraniano).Masosmuitos inimigospolticosquetinhafeitoemsuaascensometericanotinhamaintenodedeixarissoacontecer.EnquantoobtinhamuitossucessosnaGlia,ondeconseguiugigantesca riqueza, poder e foramilitar, um crescente coro poltico, emRoma,pediasuacabea.

    Csar correria muito mais riscos se no se decidisse pela guerra. Setivessemantidoapaz,teriadeabrirmodeseucargocomogovernadordaGlia,aprovnciaqueconquistaraparaRoma.EleteriaderetornarItliacomoumcidadocomum,ondeproeminentessenadoresdiziamqueiriamimediatamente process-lo por vrias ilegalidades em sua carreiraanterior. Csar podia esperar que, como em um recente julgamento emRoma,seuinimigopolticoPompeucercasseotribunalcomsoldados,afimde persuadir os jurados a votarem. O resultado certamente seria acondenao, com exlio ou execuo em seguida. Seria o fim da carreirapblicadeCsare,possivelmente,desuavida.Aooptarpelaguerra,Csartinha uma chance melhor de conseguir seu poder supremo, h tantoambicionado.

    A ascenso de Csar aconteceu num momento de crise da repblicaromana. A grande cidade que tinha conquistado um imprio estava empssima forma.QuandoCsar cruzouoRubico,Roma tinhapresenciadonoventa anos de agitao intermitente no front domstico, incluindomotinseassassinatos(133-121a.C.),umarevoltaaliada(90-88a.C.),umaguerradeescravos(73-71a.C.)eumarebeliodedevedores(63a.C.).Piorde tudo foi uma guerra civil (86-82 a.C.) que deixou claro que umdeterminadogeneral comumexrcitoveteranopoderiaesmagaropoderpoltico do Senado romano. Uma rivalidade antiga entre os generaisromanosMariuseSulaterminoucomosegundoconquistandoseuprpriopas,massacrando seus inimigos e tornando-se ditador para toda a vida.

  • Suamorteprematura (79a.C.)permitiuqueo Senado restabelecesse suaautoridade.QuandoCsarcruzouoRubico,Romatinhavoltadoaserumarepblicahtrintaanos,masgeneraiscomoPompeueCsarjogavamumasombrasobreessaliberdade.

    Como Csar, Pompeu tambm insistia em ser o primeiro homem emRoma.Nascidoem106a.C.,eleganhounomecomogeneralaindajovemaolutaraoladodeSulanaguerracivil.SulaochamoudePompeiusMagnus,Pompeu,oGrande.Outroapelido,menoslisonjeiro,tambmdatavadessapoca:oadolescenteaougueiro,provavelmentereferindo-semortedosoponentescapturados.

    O resto da carreira militar de Pompeu se estendeu por quase quinzeanos,entre76e63a.C.Primeiro,elederrotouorebelderomanoSertoriusdurante uma luta de cinco anos na Espanha. Ento, Pompeu ganhou oscrditos por derrotar o gladiador rebelde Esprtaco na Itlia (outrogeneral,MarcoLicnioCrasso, fezamaiorpartedotrabalho).Finalmente,conseguiu uma srie de vitrias espetaculares noMediterrneo oriental:sobre os piratas, que ele destruiu; sobre o rebelde Mitrdates, a quemobrigouasesuicidar;esobreumlongotrechodeterritrioqueseestendeudomarNegroaorioJordo,quecolocousobocontroledeRoma.

    Pompeupassouosanosentre63e49a.C.devoltaemRoma.Estavamaisdo que feliz em jogar com os brutais poderes do Senado durante esseperodo e dominar a poltica por meio de uma srie de acordos debastidorescomCsareCrasso.MasCrassocaiuembatalha(53a.C.)eCsarganhouaimortalidadenaGlia.

    Pompeu no podia aguentar a ideia de Csar voltando da Glia edominandoapolticaromana,entodescobriuasvirtudesdovelhosistemarepublicano de governo. Decidiu vir socorrer o Senado e defend-lo emarmas. Os senadores no confiavam nele, mas precisavam de seusconhecimentosmilitares.

    Arepblicanoaquestoem jogo, comoCcero logoescreveria. Alutaporquemvaiserorei.Em49a.C.,PompeueoSenadosetornaramaliadosinquietos.UminimigocruelcomoCsarpoderiaexplorarasuspeitamtua.

    AocontrriodeAlexandreouAnbal,Csarnoestavalutandoaguerraque queria; ele preferia liderar um exrcito contra Parta a contra seuscompatriotasromanos.Masnofugiriadaguerracivil,sefossenecessrio.

    Os inimigos domsticos de Csar o tratavamde forma injusta,mas, aocruzaroRubico,Csarfezpior:elesetornouumtraidor.Eraumgeneralrebeldeatacandoogovernolegtimodeseupas.Umhomemmaismodesto

  • teriapoupadoseuprpriopas.Emseu livroAguerra civil, Csar ofereceu duas justificativas para sua

    ao. Ele contou a seus soldados, em uma reunio pblica, que estavalutandoparadefenderopoderdostribunosdeRomaosrepresentantesdopovo.Csartambmenfatizouaquestodashonras(dignitasemlatim).A questo, Csar contou a seus soldados em uma reunio pblica, era areputao e a honra de seu comandante. Para Pompeu, Csar escreveuquetinhasempreconsideradoahonradarepblicamais importantedoque a vida, e a honra em questo era um benefcio concedido a mim[Csar]pelopovoromanoquerdizer,seucomandonaGlia.Oshomensnotaram o que Csar estava falando. Como Ccero escreveu a umconfidente:Ele[Csar]dizqueestfazendotudopelobemdahonra.Paraos romanos, a honra tinha um valor central, assim como liberdade,seguranaoucomunidadesovalorescentraisparaoeleitoradomoderno.Aosedefender,Csarafirmavaestardefendendooestiloromanodevida.

    Ou era o que falava. difcil nopensar que a liberdadedopovo, ostatus sacrossanto dos tribunos, a honra dos nobres, para ele, eramtodosescritoscomoCsar.

    ESTRATGIASMILITARESAt aqui falamosdas razes pelas quaisAlexandre, Anbal e Csar forampara a guerra. Como eles planejavam ganhar? Isso no uma questomenor porque havia excelentes motivos pelos quais poderiam no tervencido.

    Compartilhavamumasituaoestratgicacomplicadanocomeo.Cadahomemestavaapontode invadirumpascujaforamilitarsuperavasuafora e seus recursos. Cada homem enfrentava um inimigo que tinha ocomandodomar.AnbaleCsarnotinhammarinhas;adeAlexandrenopodiacompetircomadoinimigo.

    Mascadaumdelesesperavaavitria.Ahistriadecadaumeraumcasoclssicodealgoquetinhaacontecidovriasvezesnahistria.Umgeneralcruelcomumexrcitodurodeeliteepequenotentaderrubarumgigantemole. s vezes, funciona: Hernn Corts, por exemplo, comeou comapenas600homensquandomarchoucontraosastecasem1519;em1521,eletinhaconquistadooMxico.svezes,fracassa,comoquandoRobertE.Lee invadiu a Pensilvnia, em1863, e perdeu emGettysburg, ou quandoHitlerinvadiuaRssia,em1941,efoiderrotadoemStalingrado.

  • Nossos trs comandantes dividiam certas vantagens. Apesar dasrelativasdeficinciasemtermosdedinheiroe fora, tinhamumadistintavantagem em infraestrutura. Todos lideravam exrcitos experientes comum registro de predominncia em batalhas campais quer dizer, umaparticipao formal antecipada e luta no terreno escolhido. Todos sededicavam a campanhas constantes, eram mestres da mobilidade queincentivavamseuexrcitoasegui-los.Todoseramgrandeslderes,dotadosdeumacapacidadedeinspirarastropaseastutososuficienteparamanterum fluxo de recompensas materiais. Tinham um moral extraordinrio equalidades fsicas, como coragem, pacincia, vigor e energia, mas suasqualidadesintelectuaiseramaindamaisimportantes.Cadaumdoshomenscombinava intelecto superior com vontade decisiva e resoluta. No lhesfaltava audcia. Todos eram ousados; nenhum fugia dos riscos. Previso,aptido e muita capacidade intelectual so essenciais para um grandecomandante; boas decises, especialmente em uma crise, a qualidademaisimportantedetodas.Cadaumtinhaumaconvicoapaixonadadeseudestinoehabilidade,semfalardesuadivindade.

    Cadaumdostrscomandantestinhaumararacombinaodeinstintoearrogncia. Todos tinham a capacidade de avaliar corretamente seuinimigo. Grandes homens pensam que conhecem seus inimigos e osdesprezam. E uma das coisas que os torna grandes que normalmenteesto certos. Alexandre, por exemplo, sabia que os persas no podiamresistir batalha, assim comoAnbal sabia omesmodos romanos. CsarsabiaquePompeunopoderiaaguentar.

    Todosostrshomenstinhamvisoestratgica.Cadaumtinhaumplanoparaavitria:ummapaquetraduziaosucessonocampodebatalhaparaarealidade.Mascadahomemeraumimprovisadoreumoportunista,rpidoemtirarvantagemdequalquerpossibilidadequeseabria.

    Para Anbal, o argumento se resumia, poderamos suspeitar, cincia;para Csar, ao carter; e para Alexandre, cultura. Este ltimo tinhaaprendidodeseututor,ofilsofoAristteles,queospersaserambrbaros,sem o amor dos gregos pela liberdade ou a disposio de serem fiis emorrer por isso. O inimigo teria vencido aquele dia, se tivessem umgeneral,orpidoelogiodeCsarparaalideranadePompeuemumdiadefortelutaem48a.C.Anbalsabiaque,comsuahabilidadeparacombinarinfantariaecavalaria,manobrareempregaroengano,eleeraomestredacinciamilitar eraumartistado campodebatalha; emcomparao, osromanoserambrbaros.

  • Alexandre:procurandoalutaAlexandre liderouumdos exrcitosmais vitoriosos da histria e umdosmais versteis. Tinha herdado-o de seu pai, Filipe, rei da Macednia efundadordesuagrandezamilitar.Filipeerabrilhante.AoaplicarosltimosavanosnatecnologiamilitargregaaoatrasadoexrcitodaMacednia,elecriouumaforadisciplinadaeprofissional.

    AMacednia, com suasplancies e cavalos, eraumpasde cavalaria, eFilipe deu uma nova importncia a ela. A cavalaria pesada macednia,agora conhecida como os Companheiros do Rei, se beneficiou de novosrecrutamentosetreinamento,novasarmas,tticasedoutrina.Osfilhosdaaristocracia chegavam corte como adolescentes e eram treinados comocavaleiros. Eram equipados com lanas longas que tinham um alcancemaiorsecomparadocomasdeseusinimigos.Aprenderamalutaremumadisposioemformadecunha,queeramaisfcildemanobrardoqueumaformaoemlinhaemaiseficienteparapenetraraslinhasinimigas.Asuadoutrina era a da agresso astuta: eles procuravam, nas linhas inimigas,umaaberturae,depois,atacavamcomintensidadeassassina.Resumindo,anovacavalariamacedniaeraexcelentenoataquefulminante.

    Alexandre invadiu o territrio persa com 1.800 cavaleiros. Estavamorganizadosemoitoesquadres,dosquaisoEsquadroRealeraaelite;oprprio Alexandre liderava o Esquadro Real. Apesar de pequena emnmero, a unidade Companheiros do Rei foi uma dasmais eficientes, decavaleiros,nahistriamilitar.

    Acavalariaencabeouasvitriasmacednias,masnoteriaconseguidosem a ajuda de outras unidades do exrcito, que Filipe tambmrevolucionou. A infantaria pesada macednia lutava como uma unidadebastante compacta, a falange, como as primeiras infantarias gregas. Maselescarregavamlanasmuitocompridasparamanteroinimigodistnciae eram treinados o ano todo. Um corpo de infantaria de elite, conhecidocomohipaspistas,conectavaacavalariacoma infantaria.Otrabalhodeleseraminimizaradistnciaque,inevitavelmente,seabriaquandoacavalariaacelerava frente da infantaria, que marchava mais lenta. Unidadesespecializadas de fundas, arcos e dardos aumentavam a capacidade doexrcitodeenfrentartodososdesafios.EFilipedominouatecnologiadoscercos, que levou a um nvel de eficincia nunca visto nos sculosanterioresnoOrienteprximo.

    Uma batalha macednia representava um equilbrio orquestrado decavalaria e infantaria, com unidades especializadas tambm fazendo sua

  • parte. A ttica-padro era colocar a infantaria no centro da linha e acavalaria nos flancos, com os melhores cavaleiros na ala direita.Tipicamente, a infantaria pesada macednia atacava primeiro e tentavaenfraquecerumpontonas linhas inimigas.Acavalariaentravaemaoeabria a formao inimiga. A infantaria leve, especialmente treinada paraatirar entre os cavalos, ajudava a cavalaria. Ento, a infantaria pesadaseguiaeterminavaotrabalho.

    Apesar de o grosso de seu exrcito ser macednio, os soldados deAlexandre tambm incluam um bom nmero de aliados confiveis.Cavaleiros da Tesslia (na Grcia central), atiradores de dardos agrianosdas montanhas do que hoje o sul da Srvia e fundeiros e arqueiroscretensessedestacavam.Assimcomoosmercenrios,queeramusadosemgrandenmero.

    Alexandre tinha um excelente grupo de generais nos quais confiava,liderados pelosmarechais de Filipe. Apesar de o jovem rei querermuitosubstitu-los por seus prprios homens, tambm era esperto o suficientepara no fazer isso. Sabia que os homens de Filipe representavam anobrezamaisorgulhosaeunidadaMacednia.Tinhamoapoiodastropase,almdomais,notinhaningumquechegassepertodelesemtermosdehabilidade ou experincia. Alexandre tinha uma boa sensibilidade para apoltica,almdeconhecerarealidademilitar;porissomanteveosgeneraisde Filipe. Ao mesmo tempo, Alexandre se conectava com seus soldadosmostrando viso estratgica, coragem na batalha e uma autoconfianailimitada.

    Entreosldereseoshomensquelideravam,oexrcitodeAlexandrefoium dos maiores da histria. Se os persas decidissem lutar batalhasconvencionais, ento os macednios teriam uma chance real de vencer,apesardainferioridadeemtermosdedinheiroehomens.Mas,seospersasescolhessem uma estratgia diferente, baseada numa combinao deguerranoconvencionalnaterraeumaofensivanaval,entopoderiamtertransformado o exrcito de Alexandre em umamquina esplndida,masirrelevante.Mesmograndesexrcitospodemperderguerrasseo inimigoforinteligente,determinadoeestivercheioderecursos.

    Ospersasestavamfrentedomaiorimpriodahistriaataqueladata,indodasiacentralatoEgito,eincluindotalvezumquintodapopulaodomundo.Comsuaenorme fontedepodermilitar,ospersas superavambastanteosmacednios.Bonscomcavalos,ospersastinhamumaexcelentecavalaria e compensavam a fraqueza na infantaria contratandomercenriosgregosdealtonvel.Massua inexperincia, faltadegenerais

  • confiveis e no caso da cavalaria equipamento inferior, colocaramospersasemfortedesvantagemcontraosmacedniosnabatalha.

    Osgregoschamavamo imperadordaPrsiadegranderei.Oadjetivobomprovavelmenteseencaixavamelhorcomoatualocupantedotrono,DarioIII.Eraumbomcomandantemilitareumexcelenteorganizador.Eraumoperadorpoltico inteligenteeumdiplomataastuto.Masnopossuamuita experincia e legitimidade: como Alexandre, era um rei novo (seureinadohavia comeadoem336a.C.),mas, ao contrriodesse,Darionoera nem herdeiro do trono nem filho do rei. Nascido com o nome deCodomano, era um bommilitar, mas no ambicionava o trono. Dario setornoureisdepoisqueomonarcapersaArtaxerxesIII,delongoreinado(r.358-338),eseufilhoArses(r.338-336),foramosdois,assassinadosporseu ministro-chefe. Dario era primo distante deles. Muitos persas viamDariocomoumusurpadorenolhederamtotalapoio.Alexandretinhaumcorpomadurodegeneraiscomprometidoscomumpropsitocomum,masDariosofriacomassistentesdivididoseinexperientes.

    Quando se tratava de tamanho e recursos, o imprio persaexperimentavaumadiferenarealentrerealidadeeaparncia.Muitasdasprovnciasdosdoisladosdoimprioquasenemestavamsoboverdadeirocontrole persa. O Egito, por exemplo, estava em revolta perptua, maisrecentemente na dcada de 340 a.C.; os strapas (governadoresprovinciais)daAnatliamontaramumarevoltanadcadade360a.C.quecontinuouat340a.C.;asprovnciasdasiacentraledosulerammaisoumenosindependentes.

    Mesmo assim, apesar das desvantagens da Prsia, um lder brilhantecomumaposturaseguraebastantesortepoderiaterderrotadoAlexandre.Infelizmente,Dario,apesardecorajoso,inteligenteeexcelenteorganizador,notinhaahabilidadeeaexperinciadeAlexandrecomocomandante.

    Mesmo assim, Dario sabia o suficiente para usar a poltica testada daPrsia contra a invaso grega: uma contraofensiva naval. Essa estratgiatinhaparadoEspartaem395a.C.,depoisqueelainvadiuaAnatlia.Pareciapromissoragoraem334a.C.,quandoamarinhadaMacedniaerapequenaeduvidosa, consistindoquase inteiramenteemaliadosatenienses,apesardequeamaioriadelesseressentiadahegemoniamacednia.AmarinhadaPrsia era grande e confivel. Se fizesse um ataque srio nomar Egeu, aPrsiapoderia ter iniciadoumarebelionaretaguardadeAlexandre,nascidades-Estado gregas.Amarinhapersapoderia ter derrotadoAlexandrequandosuainvasoestavaapenascomeando.

  • Anbal:foraefraudePoucosgeneraisjpartiramparaocampodebatalhatobemarmadoscomfora e fraude quanto Anbal. Poucos j tiveram maiores faanhas demobilidade. Como as perucas e disfarces que usava para enganarassassinos,Anbaltinhamuitostruques.Mastambmdavagolpesmortaisnocampodebatalha.

    O exrcito de Anbal consistia em uma mistura variada de homens ehabilidades.Naverdade,umadesuasmaioresconquistasfoitransform-loemumtodocoeso.

    O exrcito romano nos dias de Anbal consistia em cidados-soldados.Homens romanos comuns, amaioria fazendeiros, serviamcomosoldadosparaopas.LutandoaoladodelesestavamsoldadosdecidadesaliadasnaItlia,dosquaisamaioriatambmeradecidados-soldados.

    O exrcito de Cartago era totalmente diferente. Somente alguns dosoficiais eram cartaginenses; as tropas representavam outrasnacionalidades. Alguns eram mercenrios, mas a maioria tinha sidorecrutada entre os vrios povos no norte da frica e Espanha sob odomniodeCartago.Algunstinhampoucaexperincia,masoutrostinhamtreinamentosuficienteparaseremconsideradosprofissionais.Asmelhorestropas de Anbal eram do norte da frica lbios e numdios (hoje,argelinos).Emseguidavinhamosespanhis,quelogoreceberamtambmapresenados celtas italianosdonorte.Como infantaria, osmelhoresoslbios rivalizavam com os famosos legionrios de Roma, mas nochegavampertoemtermosdenmero.OquedavaumavantagemaAnbaleram seus cavaleiros e sua capacidade de manobr-los. Ele usava acavalariadeumaformamelhorquequalquergeneraldesdeAlexandre,umsculoantes.

    OpaideAnbal,AmlcarBarca,tinhaaprendidoavencerbatalhascomosespecialistasmilitaresgregos.Seumtodoeramanteroinimigonocentro,enquanto o envolvia pelos lados e at pela retaguarda. No era umamanobra fcil de ser realizada,mas, quando feita, podia ser devastadora.Anbal, que aprendeu essas tticas com seu pai, conseguia realiz-las deforma brilhante. Anbal comandava a cavalaria leve e a pesada. Juntas,essas infantarias poderiam criar anis ao redor da cavalaria romana. Acavalaria de Anbal era treinada para lutar junto com a infantaria.Combinadas,elasrepresentavamumgolpemortal.Porseremprofissionais,os homens de Anbal eram treinados para realizar manobras que oscidados-soldados de Roma nem imaginavam. Enquanto isso, seus

  • elefantes iriamproteger a infantaria deAnbal e aterrorizar o inimigo. Oresultadoseriacinciamilitardequalidadesuperior.

    OexrcitodeAnbal tinhacertasvantagensde comandoeexperincia.Ele tinha um timo grupo de generais de apoio. Na Itlia, oficiais comoMaharbal,filhodeHimilco;Hano,filhodeBomlcar;eumAsdrbal(noo irmodeAnbal)destruiriamosexrcitosromanos.MasosgeneraisdeAnbal no se saam bem sozinhos, sem sua orientao, comeando comseusdois irmos,MagoeAsdrbal.Aexceo,Mottones,comandantedacavalariaescolhidoporAnbalnaSiclia,brilhounabatalha,masseperdeuna luta poltica interna em Cartago. Ele se tornou um traidor e acabouvirandocidadoromanoegeneral!

    Quantoaoexrcitocartaginense,PolbiodescreveoshomensdeAnbalassim:eles tinhamsido treinadosconstantementeparaaguerradesdeajuventude,tinhamumgeneralquehaviasidocriadojuntocomeleseestavaacostumado, desde a infncia, a operaes no terreno, tinham vencidomuitasbatalhasnaEspanha...

    NoqueAnbal pudesse ignorar a coeso e firmezamortal das legiesromanas!AocontrriodamaioriadosoponentesdeRoma,noentanto,eleteve uma chance verdadeira de derrotar Roma. Um gigante em tticas,Anbal avaliou se suas habilidades superiores como general poderiamderrotarosromanosembatalhaecausarenormesperdas.Masteriadesemover com devastadora velocidade e incrvel fora. De outra forma,poderiaterminarcomoPirro.

    O rei Pirro de piro invadiu o sul da Itlia em 280 a.C. General tocarismticoquantoAnbal,Pirrotambmtinhaumexrcitopequeno,masexperiente e completo, com cavalaria e elefantes. Ao contrrio deAnbal,ele at tinha alguns aliados italianos. Pirro ganhou duas importantesbatalhas contra Roma, mas sofreu perdas to severas a ponto de criarvitrias prricas o termo que ainda usamos hoje em dia. Maisimportante, Roma se recusou a ceder. Os aliados italianos de Romaaguentaram firmes e forneceram novas tropas, mas o poderio de Pirroestavaacabando.

    Alm domais, Roma ganhou o apoio de um aliado central de fora daItlia. Ironicamente, foi Cartago, que temia que Pirro invadisse seuterritrionaSiclia.Issorealmenteaconteceu,masPirronofoimelhornaSiclia do que tinha sido na Itlia. Enquanto isso, Roma destruiu seusaliadositalianos,assimPirrotevedevoltarparaajud-los,parafinalmenteser derrotado em batalha. Em 275 a.C., Pirro voltou para casa, sem terconseguidonada.

  • Anbalarriscavaumdestinosimilar.Naverdade,elearriscavaaindamaiscoisas, porque, nos dias de Pirro, Roma no tinha uma frota martima.Agora a cidade tinha uma grande marinha, o que significava que podiacontra-atacar na Espanha. Cartago no tinha uma marinha prpria, poishaviaperdidoseusbarcosnaPrimeiraGuerraPnica.

    Em 218 a.C., Roma tinha 220 barcos de guerra, enquanto Cartago stinhacem.Masosnmeroscontamsomenteumapartedahistria.Desdeavitria na Primeira Guerra Pnica, os marinheiros de Roma tinhamdesenvolvidoconhecimentoecoragem.OsmarinheirosdeCartagoestavamestagnados.Naquelemesmoano,Cartagonosprecisavademaisbarcos,mas tambm de uma cultura naval nova e mais ousada. Entre seusalmirantesnohavianenhumAnbal.

    A geografia era outro problema. Roma controlava os portos vitais naSicliaenaSardenha.Naviosantigosprecisavamfazerfrequentesparadasna costa, assim quem controlasse os portos dessas ilhas centraismediterrneascontrolariaomar.

    Por todas essas razes, Anbal no poderiamandar suas foras para aItlia usando barcos. Ele no tinha outra rota de invaso a no ser umamarchapenosadequase2milquilmetrosdosuldaEspanhaatonortedaItlia.Eissopoderiacustarmuitasvidas.

    A chaveda fora deRoma era sua confederao. Entre 350 e 270 a.C.,RomatinhaconquistadotodasascomunidadesdaItliaaosuldosriosPeRubico. Era uma rea grande para controlar, e Roma usou vriasestratgias para fazer isso, da anexao de territrios, construo deestradas e criao de colnias para intervir quando fosse necessrio atinstalarpolticosamigosnopoder.

    Mas duas polticas romanas se destacam em importncia. Primeiro,Roma cresceu em populao, pois dava cidadania romana a muitos dospovos conquistados. Em 225 a.C., a populao de Roma, na cidade e nosseus territriospor todaa Itlia, chegavapertodeummilhodepessoaslivres,dasquais300mileramhomensadultose,assim,passveisdefazeroserviomilitar. Em segundo,Romaexigia que seus aliados contribussemcom soldados para o exrcito romano. Tambm em 225 a.C., as tropasaliadaschegavama460milhomens.Assim,Romatinhaumtotalde760milsoldadosempotencial.

    Era umnmero impressionante, especialmente considerando as forasdeAnbal:uns60milhomensquandoelesaiudaEspanha,masapenas26mil quando chegou aonorteda Itlia depoisde suadevastadoramarcha.Como,ento,eleplanejavaderrotarRoma?

  • Arespostaeraromperaconfederaoromana.AnbalplanejouchocaraItliaderrotandotoforteRomaembatalhaqueosaliadoscomeariamadesertar para seu lado, primeiro aos poucos, depois aos milhares. Suasaes acrescentariam homens a suas fileiras e diminuiriam as de Roma.Esta poderia aguentar no comeo, mas, no final, Anbal ganharia tantastropasaliadasqueRomateriadesesentarparanegociar.

    Paratornarsuatarefaumpoucomaisfcil,AnbalnoplanejavadestruirRoma,apenasacabarcomseupoder.Estava lutando,dizia,somentepelahonraepeloimprio.QueriaprotegeroimpriodeCartagonaEspanhaeretomaraSardenha,provavelmentetambmaSiclia.

    ParaAnbal,ento,avitriadependiadeduascoisas:vitriasnabatalhaedeseroaliada.Elepoderiaconseguirseuobjetivo?

    Polbiodiscordava.OhistoriadorcriticouAnbalporpartirparaaguerrapor questes emocionais em vez de por anlise racional. Anbal estavatotalmentesoba influnciada irracionalidadeedaraivaviolenta.Romaera forte demais, e Anbal nunca deveria ter invadido a Itlia, de acordocomPolbio.

    Polbio umhistoriador formidvel,mas no valoriza a audcia. Seriamaisjustofalaristo:Anbaltinhaumplanobempensado,apesardemuitoarriscado. Comeou com uma longa e perigosa marcha seguida de umarpida sriede ataquespesados contra as terrasdeRoma, topesadoserpidos que a confederao italiana de Roma comeou a se despedaar.TambmuniurefinamentodiplomticoaolidarcomosaliadositalianosdeRomaeastciapolticaparaadministrarogovernoemCartago.

    DesdeAlexandre,nenhumoutrogeneraltinhamostradotantahabilidadeofensiva. Se algum poderia fazer isso, seria Anbal, mas Roma era toforte?

    Csar:avelocidademataEnquanto fazia seus planos do outro lado do Rubico, Csar pode tercalculadosuas forase fraquezasmilitares.Suamaior foraera,de longe,seuexrcito.OexrcitodeCsarnoerasomentebom,eraseu.OitoanosnaGliatinhamcriadoumaconexocomseushomenspormeiodosangue,doferroedaf.OexrcitoacreditavaemCsar.

    Ele, por outro lado, os comandava como um maestro. Tolerava seuslapsosefraquezas,maseradurocomosdesertores.Nuncaoschamavadesoldados, mas sempre de companheiros soldados. Depois de ummassacrenaGlia,elejurounocortarocabeloouabarbaattervingado

  • osmortos e, como todos sabiam, ele eramuitovaidoso comseuvisual,entofoiumverdadeirosacrifcio.

    OexrcitodeCsarveneravasuainteligncia,suacoragem,suacaridadeeseucarisma.Trintamil soldadosoviamcomoseucapito, seupatrono,seu lder e at seu pai. Na Glia, ele trouxe vitria e lucro. Os homenssempretinhamsuasrecompensasmateriais:Csargarantiaisso.Agora,eleprometiacargosdealtonvelemRoma.

    verdade que a guerra civil ofereciamenos fontes de saque do que oconflitonoestrangeiro,eissoiriagerartenso.Masashabilidadespolticasde Csar manteriam seus homens felizes, e, alm disso, a guerra civilofereciaaexcitaodoilcito,oconhecimentodequetodohomememseuexrcito tinha se tornado um fora da lei assim que cruzou o Rubico. Aperspectivadevitriaoumortecriavaligaesextraordinriasentreldereliderados.Resumindo:eraumahistriadeamor.

    As foras de Csar no Rubico eram pequenas em nmero,mas haviareforosacaminho.Enquantoisso,eletinhaoshomensdaDcimaTerceiraLegio. Veteranos da Glia que eram bastante experientes eautocontrolados. Sabiam como se infiltrar em uma cidade e, depois, derepente, tornarsuapresenaconhecida.Umalegio5milhomenseragrandeosuficienteparacercarumapequenacidade,eoexrcitodeCsarera especialista em cercos. Quando seus nmeros aumentassem, elespoderiamfazeromesmocomasgrandescidades.

    Tampouco havia alguma dvida sobre a capacidade de se moverrapidamente.AlexandreeAnbaleramvelozes,masCsareraexplosivoumatletadocampodebatalha.Raramenteumgeneralentendeumelhoravantagem de ser veloz. E a Csar no faltava. Seu exrcito combinava avelocidadedeumleopardocomares