Melhoramento de espécies autógamas Método SSD e Método do ...
Método análitco
-
Upload
cunhacamila -
Category
Documents
-
view
34 -
download
0
description
Transcript of Método análitco
1.2 Metodo analıtico
Nesta secao descrevemos o metodo de Descartes para o problema da tangente. No
seu trabalho “O discurso do Metodo”, publicado em 1637, Descartes desenvolve um
metodo de como atingir o conhecimento cientıfico. Esse trabalho contem um apendice
sobre geometria. A ideia central e caracterizar objetos geometricos tais como ponto,
reta, curvas, plano, etc. atraves de objetos algebricos ou aritmeticos, tais como os
conjuntos numericos e as suas operacoes. Mais precisamente, a ideia e descrever
objetos geometricos atraves de equacoes algebricas. No nosso caso, queremos obter
equacoes que descrevam as retas e as conicas e determinar a equacao da reta tangente,
as conicas, em cada ponto dado. Para isso, precisamos inicialmente de dois conceitos:
reta numerica e plano cartesiano.
1.2.1 Reta numerica
Uma reta numerica e obtida identificando uma reta com o conjunto dos numeros
reais. Intuitivamente, um numero real positivo e um numero obtido como resultado
de uma medida. Para fazermos essa identificacao, seja r uma reta. Escolhemos:
• um ponto arbitrario sobre r, que denotamos por O e o chamamos origem da
reta;
• um sentido para r, o qual representamos por uma seta e a chamamos sentido
positivo. Dizemos que o outro sentido da reta e o sentido negativo;
• uma unidade de medida .
Fixemos um ponto A em r de tal forma que o segmento OA tenha comprimento uma
unidade e A esta no sentido positivo da reta, a partir de O e denotemos por s a
semirreta que tem origem em O e que passa por A.
Por definicao de numero real cada ponto P da semirreta s corresponde a um unico
numero real, a saber, o comprimento do segmento OP . Reciprocamente, a cada numero
real positivo a associamos um ponto P da semirreta s tal que o comprimento do
segmento com extremidades em O e em P seja a. Dessa maneira, cada ponto da
semirreta com origem em O e que passa por A corresponde a um unico numero real
positivo.
Vamos, agora, identificar alguns numeros distinguidos na reta numerica.
12
Secao 1.2 · Metodo analıtico 13
Denotemos por N o conjunto de todos os numeros naturais, isto e,
N = {1, 2, 3, . . .}. Esses numeros tem seu surgimento associado a contagem primi-
tiva e na reta numerica estao dispostos da seguinte forma: o numero 1 esta associado
ao ponto A; o numero 2 esta associado a B, sendo B o ponto no sentido positivo
a partir de A tal que o comprimento do segmento AB seja a unidade de medida; o
numero 3 esta associado a C, sendo C o ponto no sentido positivo a partir de B tal
que o comprimento do segmento BC seja a unidade de medida e assim sucessivamente,
identificamos cada numero natural em r.
Figura 1.9: Numeros naturais na reta
Um numero real positivo a e dito comensuravel se e possıvel obter uma unidade
de medida de tal forma que o segmento Oa seja completamente preenchido (sem falta
e sem sobra) justapondo segmentos com comprimento de uma unidade. Um numero
comensuravel e chamado tambem, de racional . Esses numeros surgem com a neces-
sidade de dividir o todo em partes. Dividindo o todo em n partes iguais e tomando m
de suas partes, obtemos um numero racional que pode ser representados comom
n.
Existem alguns numeros reais que nao sao comensuraveis, chamados numeros ir-
racionais. Por exemplo, o comprimento da diagonal de um quadrado de lado uma
unidade, denotado por√2, e um numero irracional. Da mesma forma o comprimento
de um semicırculo de raio 1, denotado por π, e um numero irracional. Dessa forma um
numero real positivo pode ser racional ou irracional.
Para completarmos nossa identificacao da reta com um conjunto numerico ainda
precisamos incorporar os numeros negativos e o zero. Os numeros negativos surgem
para representar dıvidas. Eles estao associados aos numeros positivos. Se a e um
numero real positivo entao o numero negativo correspondente e denotado por −a.
Da mesma maneira se a e um numero negativo o numero positivo correspondente e
denotado por −a. Nesse caso, dizemos que os numeros a e −a sao opostos. A cada
numero negativo a identificamos um ponto P sobre a reta r, no sentido negativo a
partir da origem, de tal forma que o comprimento do segmento OP seja −a.
14 Capıtulo 1 · Evolucao no problema da tangente
Por fim, o numero zero representa a ausencia de medida ou de dıvida, e denotado
por 0 e identificado ao ponto O.
Assim, consideramos:
• como conjunto dos numeros inteiros, e o denotamos por Z, o conjunto formado
por todos os numeros naturais, os opostos dos numeros naturais e o zero, isto e,
Z = {. . . ,−3,−2,−1, 0, 1, 2, 3, . . .};
• como conjunto dos numeros racionais, e o denotamos por Q, o conjunto formado
por todos os numeros racionais positivos, os opostos dos numeros racionais posi-
tivos e o zero, isto e, Q ={m
n: m,n ∈ Z, n = 0
};
• como conjunto dos numeros reais, e o denotamos por R, o conjunto formado por
todos os numeros reais positivos, os opostos dos numeros reais positivos e o zero.
Notemos que com essa construcao cada ponto da reta r se identifica a um numero
real. Por causa dessa identificacao chamamos reta numerica tanto a reta quanto o
conjunto dos numeros reais. Valem as seguintes inclusoes N ⊂ Z ⊂ Q ⊂ R.
Figura 1.10: Reta numerica
A seguir, fazemos algumas construcoes geometricas elementares, usando a reta
numerica. Mais precisamente, definimos as relacoes de igualdade e ordem no con-
junto dos reais, definimos as operacoes de adicao e subtracao de numeros reais e o
valor absoluto ou modulo.
Existem na reta numerica algumas relacoes entre pares de numeros, isto e, maneiras
de comparar os numeros. Dados a, b ∈ R, dizemos que:
• a e igual a b, e denotamos a = b, se a e b representam o mesmo ponto na reta
numerica;
• a e menor que b, e denotamos a < b, se a esta a esquerda de b na reta numerica.
Secao 1.2 · Metodo analıtico 15
A primeira e a relacao de igualdade e a segunda e uma relacao de ordem. A partir
disso, podemos definir outras ordens em R:
• a e menor ou igual que b, e denotamos a ≤ b, se a = b ou a < b;
• a e maior que b, e denotamos a > b, se b < a;
• a e maior ou igual que b, e denotamos a ≥ b, se b ≤ a.
Notemos que, com essas definicoes, um numero real a e positivo se, e somente se,
a > 0 e e negativo se, e somente se, a < 0.
Dados dois segmentos AB e CD dizemos que AB e CD sao congruentes se AB
e BC tem o mesmo comprimento. Usamos a notacao AB ≡ CD para indicar que
os segmentos AB e CD sao congruentes. Com a nocao de congruencia de segmentos
podemos definir a operacao de adicao no conjunto dos reais.
Dados a, b ∈ R, definimos a adicao ou soma a+ b de a por b da seguinte forma:
a+ b =
c tal que bc ≡ 0a e c ≥ b, se a ≥ 0
c tal que bc ≡ 0a e c ≤ b, se a ≤ 0.
Podemos mostrar que a adicao tem as seguintes propriedades: para todos a, b, c ∈ R,
valem
(A1) associatividade : a+ (b+ c) = (a+ b) + c;
(A2) neutro: a+ 0 = a;
(A3) oposto: a+ (−a) = 0;
(A4) comutatividade : a+ b = b+ a.
Um conjunto com uma operacao satisfazendo as condicoes acima e chamado grupo
abeliano. Nesse caso, o conjunto dos reais com a adicao tem uma estrutura de grupo
abeliano.
A partir disso, podemos definir a subtracao em R. Se a, b ∈ R entao definimos a− b
por a− b = a+ (−b), ou seja, pela soma de a com o oposto de b.
Dados dois numeros reais a e b o comprimento do segmento definido por eles e dado
por: 0, se a = b; b− a, se a < b e a− b, se a > b. De um modo geral, podemos denotar
16 Capıtulo 1 · Evolucao no problema da tangente
esse comprimento por |b− a|, onde
|x| =
0 se x = 0
x se x > 0
−x se x < 0
,
isto e, |x| e um numero real nao negativo que representa o comprimento do segmento
0x. |x| e chamado modulo ou valor absoluto de x.
1.2.2 Plano cartesiano
A ideia aqui e identificar um plano Π com o conjunto dos pares ordenados de
numeros reais R2, isto e, com o conjunto
R2 = {(x, y) : x, y ∈ R}.
Dizer que R2 e um conjunto de pares ordenados significa que dois pares (x1, y1) e
(x2, y2) ∈ R2 sao iguais se, e somente se, x2 = x1 e y2 = y1.
Para fazermos uma identificacao entre Π e R2 consideremos duas retas r e s em Π
que sao perpendiculares no ponto O, chamado origem do plano. Lembremos que r e
s sao reta numericas, isto e, podemos fixar um sentido positivo em cada uma delas e
identifica-las com o conjunto dos reais.
Figura 1.11: Plano Cartesiano
Dado um ponto P ∈ Π denotemos por
• a ∈ R o pe da perpendicular baixada, por P , sobre r.
• b ∈ R o pe da perpendicular baixada, por P , sobre s.
Secao 1.2 · Metodo analıtico 17
Logo, a cada ponto P ∈ Π associamos um unico par (a, b) ∈ R2.
Reciprocamente, dado (a, b) ∈ R2, consideremos a ∈ r e b ∈ s. Sejam
• va a reta paralela a s, passando por a.
• hb a reta paralela a r, passando por b.
As retas va e hb se interceptam num unico ponto P ∈ Π. Logo, a cada par (a, b) ∈ R2
associamos um unico ponto P ∈ Π.
Isso define uma identificacao entre o plano Π e o conjunto numerico R2. Com essa
identificacao tanto Π quanto R2 sao chamados plano cartesiano.
Nessa identificacao usamos a notacao P = (a, b) tanto para representar o ponto
quanto o par ordenado. Nesse caso
• a e chamado abscissa de P ,
• b e chamado ordenada de P e
• (a, b) e chamado coordenadas de P .
Ainda, no plano cartesiano:
• A reta r e chamada eixo horizontal e e denotada por 0x.
• A reta s e chamada eixo vertical e e denotada por 0y.
• Um reta paralela a 0x e chamada horizontal .
• Um reta paralela a 0y e chamada vertical .
A seguir, fazemos algumas construcoes geometricas elementares, usando o plano
cartesiano. Mais precisamente, definimos as operacoes de multiplicacao e divisao de
numeros reais, potencia e raiz de um numeros reais e caracterizamos o comprimento
de um segmento (ou a distancia entre dois pontos) usando suas coordenadas.
Comecemos com a multiplicacao. Dados a, b ∈ R, consideremos ra, a reta que passa
por (0, 0) e (1, a), e vb a reta vertical que de abscissa b. Denotemos por P a intersecao
de ra com vb. A multiplicacao ou o produto de a por b, denotado por a · b ou ab, e
a ordenada de P .
18 Capıtulo 1 · Evolucao no problema da tangente
Figura 1.12: Multiplicacao de a por b
De um modo geral, o produto de dois segmentos e uma area, por exemplo a area de
um retangulo. Com essa construcao, o produto de dois segmentos pode ser interpretado
como um novo segmento (ou numero real) e, alem disso, isso estende a definicao de
multiplicacao para numeros negativos.
Podemos mostrar que a multiplicacao tem as seguintes propriedades: para todos a,
b, c ∈ R, valem
(M1) associatividade : a(bc) = (ab)c;
(M2) neutro: a1 = a;
(M3) inverso: para todo a = 0, existe b = 0 tal que ab = 1;
(M4) comutatividade : ab = ba.
Denotemos por R∗ o conjunto de todos os numeros reais nao nulos (diferente de
zero). Pela propriedade (M3) todo numero real nao nulo a ∈ R∗ possui um inverso b.
Esse inverso e unico e e denotado por b = 1/a ou b = a−1. As propriedades (M1)-(M4)
dizem que o conjunto R∗, com a multiplicacao, e um grupo abeliano.
Podemos mostrar, tambem, que existe uma relacao entre a adicao e a multiplicacao,
dada pela propriedade
(D) distributividade : a(b+ c) = ab+ ac,
para todos a, b, c ∈ R.
Um conjunto munido de duas operacoes, com as propriedades (A1)-(A4), (M1)-
(M4) e (D) e chamado corpo. Assim, o conjunto dos numeros reais com a adicao e
multiplicacao e um corpo.
Secao 1.2 · Metodo analıtico 19
A divisao e definida de modo analogo. Dados a, b ∈ R, b = 0, consideremos ra,b a
reta que passa por (0, 0) e (b, a), e v1 a reta vertical de abscissa 1. Denotemos por P a
intersecao de ra,b com v1. A divisao ou o quociente de a por b, denotado pora
bou
a/b, e a ordenada de P .
Observacao: A divisao por zero nao e definida, isto e, o sımboloa
0nao faz sentido
algum no conjunto dos numeros reais.
Figura 1.13: Divisao de a por b
A soma e a multiplicacao de quocientes sao dadas pelas expressoes:
• a
b+
c
d=
ad+ bc
bd;
• a
b
c
d=
ac
bd.
Existem algumas relacoes entre as operacoes, a igualdade e a ordem no conjunto
dos numeros reais. Algumas delas sao listadas a seguir:
1. se a > 0 e b > 0 entao a+ b > 0, ab > 0 e a/b > 0;
2. se a < 0 e b < 0 entao a+ b < 0, ab > 0 e a/b > 0;
3. se a > 0 e b < 0, ou a < 0 e b > 0, entao ab < 0 e a/b < 0;
4. a = 0 e b = 0 se, e somente se, ab = 0;
5. se b = 0 entao a = 0 se, e somente se, a/b = 0.
20 Capıtulo 1 · Evolucao no problema da tangente
As propriedades 1. e 2. sao as que garantem que R e um corpo ordenado
enquanto que a 4. afirma que R nao possui divisor de zero.
Definimos agora potencia de numeros reais. Dados a ∈ R e n ∈ N, definimos
an = aa · · · a (n vezes), isto e, an e o produto de a por ele mesmo n vezes. Segue desta
definicao que se m,n ∈ N entao aman = am+n. Da propriedade 4. acima, se a ∈ R,
a = 0 e n ∈ N entao a2 = 0 e, consequentemente, an = 0 para todo n ∈ N. Assim, se
a = 0 e n ∈ N, definimos a−n por
a−n = (an)−1 =1
an.
Convencionamos que a0 = 1, desde que a = 0. Assim, fica definido an para todo n ∈ Z,
se a = 0.
Observacao: Se a = 0 entao a0 nao esta definido, isto e, 00 nao tem sentido algum
em R.
Das propriedades 1. e 2. temos, em particular, que se a ∈ R entao ou a2 = 0, no
caso em que a = 0, ou a2 > 0, no caso em que a = 0.
Seguem mais algumas propriedades do conjunto dos reais:
• dados a ∈ R e n ∈ N ımpar, existe um unico b ∈ R tal que an = b.
• dados a ∈ R, a ≥ 0, e n ∈ N , existe um unico b ∈ R, b ≥ 0, tal que an = b.
O numero b acima se chama raiz n-esima de a e e denotado por b = n√a. Pela
definicao
b = n√a se, e somente se, bn = a (e b ≥ 0, se n e par).
Nos casos em que n = 2, 3, . . . a raiz n-esima e chamada raiz quadrada , raiz
cubica , . . .
Considererando a1n como sendo o numero n
√a podemos definir potencia de numeros
racionais da seguinte forma: dados a ∈ R e mn∈ Q, definimos a
mn por
amn = ( n
√a)m = n
√am.
Para todos a, b ∈ R, p, q ∈ Q valem (desde que esteja bem definido)
• ap+q = apaq.
Secao 1.2 · Metodo analıtico 21
• apbp = (ab)p.
• ap
bp=
(ab
)p
.
• (ap)q = apq.
Observacao: Pelas definicoes, qualquer que seja a ∈ R, temos que√a2 = |a|.
Um metodo geometrico para construir a raiz quadrada e o seguinte: dado a > 0,
consideremos o cırculo de centro C e que passa pelos pontos A = (a, 0) e B = (−1, 0),
sendo C o ponto medio do segmento AB. O cırculo intercepta o eixo 0y no ponto P .
A ordenada de P e a raiz quadrada de a.
Figura 1.14: Raiz quadrada de a
Sejam A = (x1, y1) e B = (x2, y2) dois pontos em R2. Por definicao a distancia
euclidiana entre A e B e o comprimento do segmento AB. Se d = d(A,B) representa
essa distancia entao, pelo Teorema de Pitagoras, d2 = (x2 − x1)2 + (y2 − y1)
2. Logo,
d =√
(x2 − x1)2 + (y2 − y1)2 .
Assim, podemos calcular a distancia de A e B ou o comprimento do segmento AB, em
termos das coordenadas de A e B.
1.2.3 Equacao da reta no plano cartesiano
Uma equacao nas incognitas x e y, no plano cartesiano, e uma sentenca aberta
(nao tem valor logico)
F (x, y) = c,
22 Capıtulo 1 · Evolucao no problema da tangente
Figura 1.15: Distancia em termos das coordenadas
onde F (x, y) representa uma expressao em x e y e c e uma constante. Uma solucao
da equacao e um par (x0, y0) tal que torna a expressao F (x0, y0) = c verdadeira.
Uma equacao F (x, y) = c e a equacao de uma curva , no plano cartesiano, se
todo ponto da curva e solucao da equacao e se todo par que e solucao da equacao
representa um ponto que esta sobre a curva.
O principal objetivo aqui e obter uma equacao para uma reta dada.
Para isso, seja r uma reta no plano cartesiano R2, que passa pelo ponto (x0, y0).
Se r e vertical entao a equacao de r e
x = x0.
Isso significa que todo ponto sobre r tem abscissa x = x0. Alem disso todo ponto que
tem abscissa x = x0 esta sobre r, independente de sua ordenada.
Se r e horizontal entao a equacao de r e
y = y0.
Isso significa que todo ponto sobre r tem ordenada y = y0. Alem disso todo ponto que
tem ordenada y = y0 esta sobre r, independente de sua abscissa.
Suponhamos que r nao e vertical. Assim, r intercepta o eixo 0y, digamos no ponto
(0, b). O ponto em r que tem abscissa 1 e P = (1, a+ b), onde a e a variacao que sofre
a ordenada de um ponto (x, y) em r quando sua abscissa passa de 0 para 1. Com essa
notacao, uma equacao para r e dada por y = ax+ b. Isso significa que para um ponto
sobre r se sua abscissa e x entao sua ordenada e ax+ b.
Secao 1.2 · Metodo analıtico 23
Figura 1.16: Retas horizontal e vertical
Figura 1.17: Equacao da reta
Para verificarmos que a equacao de r e dada como acima, consideremos o conjunto
X ⊂ R2, definido por
X = {(x, ax+ b) : x ∈ R}.
Notemos que os pontos (0, b) e (1, a+ b) pertencem tanto a r quanto a X. Assim, para
concluirmos que X = r, basta mostrarmos que X e uma reta, ou seja, que quaisquer
tres pontos em X sao colineares. Para isso, sejam A, B e C tres pontos em X com
coordenadas A = (x1, ax1 + b), B = (x2, ax2 + b) e C = (x3, ax3 + b). Suponhamos,
sem perda de generalidade, que x1 < x2 < x3. Assim,
d(A,B) =√
(x2 − x1)2 + a2(x2 − x1)2 = (x2 − x1)√1 + a2,
d(B,C) =√
(x3 − x2)2 + a2(x3 − x2)2 = (x3 − x2)√1 + a2,
d(A,C) =√
(x3 − x1)2 + a2(x3 − x1)2 = (x3 − x1)√1 + a2.
Logo d(A,B) + d(B,C) = d(A,C), ou seja, A, B e C sao colineares e, portanto,
24 Capıtulo 1 · Evolucao no problema da tangente
y = ax+ b e uma equacao de r.
Para indicar que y = ax+b e uma equacao da reta r usamos a notacao r : y = ax+b.
Notemos na reta r : y = ax+ b:
• b e a ordenada do ponto de intersecao da reta r com o eixo 0y, chamado coefi-
ciente linear da reta;
• a e a variacao que sofre a ordenada quando a abscissa passa de 0 para 1, chamado
coeficiente angular da reta.
Logo, se a > 0 entao a reta e inclinada para cima e se a < 0 entao a reta e inclinada
para baixo.
Notemos que se (x1, y1) e (x2, y2) sao pontos sobre r e r nao e vertical, isto e,
x2 = x1 entao y1 = ax1 + b, y2 = ax2 + b e
y2 − y1x2 − x1
=ax2 + b− ax1 − b
x2 − x1
= ax2 − x1
x2 − x1
= a.
Logo, a e a taxa de variacao media (que nesse caso e constante) da ordenada em
relacao a abscissa de dois pontos quaisquer que estao sobre a reta.
Assim, conhecendo (x0, y0) em r e o coeficiente angular a temos que (x, y) esta sobre
a reta se, e somente se,
y − y0x− x0
= a, ou seja, y − y0 = a(x− x0).
Portanto, para determinarmos a equacao de uma reta precisamos apenas de:
• dois pontos, ou
• um ponto e o coeficiente angular (no caso em que a reta nao e vertical).
Exemplos: Determine uma equacao para a reta com a propriedade dada em cada
item abaixo:
1. E vertical e passa pelo ponto (−1, 1).
2. E horizontal e passa pelo ponto (−1, 1).
3. Passa pelos pontos (−1, 2) e (2,−2).
Secao 1.2 · Metodo analıtico 25
4. Passa pelo ponto (2, 1) e tem coeficiente angular a = 1/5.
Esses dois tipos de equacoes de retas x = x0 (quando a reta e vertical) e y = ax+ b
(quando a reta nao e vertical) podem ser descritas num mesmo tipo de equacao, na
seguinte forma:
r : mx+ ny = c,
onde m = 0 ou n = 0.
Quando a equacao e dada dessa forma, se n = 0 entao m = 0 e a equacao de r fica
x = c/m, isto e, nesse caso r e vertical.
Se n = 0 entao podemos reescrever a equacao de r na forma y = −mnx + c
n.
Considerando a = −m/n, b = c/n temos que a equacao de r pode ser reescrita na
forma r : y = ax+ b.
Os seguintes resultados caracterizam retas paralelas e perpendiculares, respectiva-
mente, em termos das equacoes.
Proposicao 1.2.1 (Retas paralelas) Sejam r e s duas retas no plano cartesiano.
1. Se r e vertical entao s e paralela a r se, e somente se, s e vertical.
2. Se nem r e nem s e vertical entao r e s sao paralelas se, e somente se, r e s tem
o mesmo coeficiente angular.
Demonstracao: O primeiro item e imediato. Para o segundo, notemos inicialmente
que se uma das retas e horizontal entao elas sao paralelas se e, somente se, a outra e
horizontal, ou seja, as duas tem coeficiente angular zero. Suponhamos r : y = a1x+ b1
e s : y = a2x + b2, com a1 = 0 e a2 = 0. Consideremos as retas horizontais h1 e h2
com ordenadas b1 e b2, respectivamente, e vertical v1 com abscissa 1. Consideremos
os triangulos A1B1C1 e A2B2C2, onde A1 = (0, b1), B1 = (1, b1), C1 = (1, a1 + b1),
A2 = (0, b2), B2 = (1, b2) e C2 = (1, a2 + b2) (veja a Figura 1.18). Denotemos por θ1 e
θ2 os angulos formados entre as retas r e h1, e s e h2, respectivamente.
Se r e s sao paralelas entao θ1 = θ2 e assim os triangulos A1B1C1 e A2B2C2 sao
semelhantes. Mas, A1B1 = A2B2 e, assim, os dois triangulos sao congruentes. Portanto,
B1C1 = B2C2, isto e, a1 = a2.
26 Capıtulo 1 · Evolucao no problema da tangente
Reciprocamente, se a1 = a2 os triangulos sao congruentes pelo caso lado angulo
lado, usando o angulo reto. Logo, θ1 = θ2 e, portanto as retas sao paralelas.
Figura 1.18: Equacoes de retas paralelas
Exemplo: Encontre uma equacao da reta que passa pelo ponto (−1, 3) e e paralela a
reta de equacao
4x+ 2y − 6 = 0.
Resolucao: Notemos que a equacao da reta dada pode ser reescrita como y = −2x+3,
assim seu coeficiente angular e −2. Pela Proposicao 1.2.1, o coeficiente angular da reta
procurada e −2. Logo, como ela passa pelo ponto (−1, 3) uma equacao e dada por
y − 3 = −2(x+ 1), que pode ser reescrita na forma y = −2x+ 1.
Proposicao 1.2.2 (Retas perpendiculares) Sejam r e s duas retas no plano car-
tesiano.
1. Se r e vertical (horizontal) entao s e perpendicular a r se, e somente se, s e
horizontal (vertical).
2. Se r : y = a1x + b1 e s : y = a2x + b2, com a1 = 0 e a2 = 0 entao r e s sao
perpendiculares se, e somente se, a1a2 = −1.
Secao 1.2 · Metodo analıtico 27
Demonstracao: O primeiro item e imediato. Para o segundo, consideremos as retas
r1 : y = a1x e s1 : y = a2x. Pela Proposicao 1.2.1, r1 e paralela a r e s1 e paralela
a s. Assim para obtermos o resultado podemos usar as retas r1 e s1 em vez de r e s.
Considerando o triangulo OAB, onde O = (0, 0), A = (1, a1) e B = (1, a2), temos que
OA2= 1+a21, OB
2= 1+a22 e AB
2= (a2−a1)
2 = a22−2a1a2+a22 (veja a Figura 1.19).
Se r1 e s1 sao perpendiculares entao o triangulo OAB e retangulo com hipotenusa
AB. Assim, pelo Teorema de Pitagoras, a22 − 2a1a2 + a22 = 2 + a21 + a22 e, portanto,
a1a2 = −1.
Reciprocamente, se a1a2 = −1 entao
AB2= (a2 − a1)
2 = a22 − 2a1a2 + a22 = 1 + a21 + 1 + a22 = OA2+OB
2.
Logo, pelo Teorema de Pitagoras, o triangulo OAB e retangulo com hipotenusa AB.
Portanto, r1 e s1 sao perpendiculares.
Figura 1.19: Equacoes de retas perpendiculares
Exemplo: Encontre uma equacao da reta que passa pelo ponto (2,−3) e e perpendi-
cular a reta de equacao
2y − 3x = 6.
Resolucao: Notemos que a equacao da reta dada pode ser reescrita como y = 3x2+ 3,
assim seu coeficiente angular e 3/2. Pela Proposicao 1.2.2, o coeficiente angular da reta
28 Capıtulo 1 · Evolucao no problema da tangente
procurada e −2/3. Logo, como ela passa pelo ponto (2,−3), uma equacao e dada por
y + 3 = −2/3(x− 2), que pode ser reescrita na forma y = −2x3+ 1.
Exercıcio: Determine uma equacao da reta r com a propriedade dada, em cada caso
abaixo.
1. r passa por (0, 5) e e paralela a reta de equacao x− 2y = 6.
2. r passa por (1, 2) e e perpendicular a reta de equacao x+ 2y = 1.
1.2.4 Equacoes das conicas no plano cartesiano
O principal objetivo aqui e obter uma equacao para cada uma das conicas.
Elipse
Seja E uma elipse. Considerando os eixos 0x e 0y, do plano cartesiano, de tal forma
que 0x contenha um eixo e 0y contenha o outro eixo da elipse E temos que E pode ser
representada por uma equacao na forma
x2
a2+
y2
b2= 1,
onde a e b sao numeros reais positivos. A equacao da elipse acima pode ser dada,
tambem, na forma px2 + qy2 = c onde p, q e c sao numeros reais positivos.
No caso particular em que a = b (ou p = q) a elipse e na verdade um cırculo.
Exemplos: Cada equacao abaixo representa uma elipse.
1. x2 + y2 = 9.
2. 6x2 + 10y2 = 15.
Quando a elipse e dada por uma equacao, para fazermos um esboco basta determi-
narmos os seus vertices.
Secao 1.2 · Metodo analıtico 29
Hiperbole
Seja H uma hiperbole. Considerando os eixos 0x e 0y, do plano cartesiano, de tal
forma que 0x (ou 0y) contenha um eixo de H e 0y (ou 0x) contenha a mediatriz do
segmento definido pelos dois vertices de H temos que H pode ser representada por uma
equacao na formax2
a2− y2
b2= 1 ou
y2
b2− x2
a2= 1,
onde a e b sao numeros reais positivos. A hiperbole acima pode ser dada, tambem, por
uma equacao na forma px2 − qy2 = c ou qy2 − px2 = c onde p, q e c sao numeros reais
positivos (na verdade basta que todos tenham o mesmo sinal).
Exemplos: Cada equacao abaixo representa uma hiperbole.
1. x2 − y2 = 9.
2. y2 − 2x2 = 3.
Quando a hiperbole e dada por uma equacao (como acima), para fazermos um
esboco basta determinarmos os seus vertices.
Uma equacao na forma
xy = c,
com c constante, tambem representa hiperbole.
Parabola
Seja P uma parabola. Considerando os eixos 0x e 0y, do plano cartesiano, de tal
forma que 0x ou 0y seja paralelo ao eixo da parabola temos que P pode ser representada
por uma equacao na forma
y = ax2 + bx+ c ou x = ay2 + by + c
onde a = 0.
Exemplos: As equacoes x = 3y2 e y = 2x2 − 5x+ 7 representam parabolas.
30 Capıtulo 1 · Evolucao no problema da tangente
Quando a parabola e dada por uma equacao (como acima), para fazermos um
esboco determinamos: se e convexa ou concava, o vertice e a intersecao com os eixos.
Faremos um esboco de uma parabola dada por uma equacao na forma y = ax2 +
bx+ c. O outro caso e analogo.
Para isso, consideremos uma parabola de equacao
y = ax2 + bx+ c,
onde a = 0.
A inclinacao da parabola depende do sinal de a: se a > 0 entao a parabola e
inclinada para cima e nesse caso dizemos que a parabola e convexa ou concava
para cima . Se a < 0 entao a parabola e inclinada para baixo e nesse caso dizemos
que a parabola e concava ou concava para baixo.
Intersecao com o eixo 0y: se x = 0 entao y = c. Logo a parabola intercepta o eixo
0y no ponto (0, c).
Para determinarmos o vertice e estudarmos a intersecao com o eixo 0x precisaremos
do numero ∆ definido por
∆ = b2 − 4ac.
O vertice da parabola e o ponto V = (xV , yV ) = (− b2a,−∆
4a).
• Se ∆ < 0 entao a parabola nao intercepta o eixo 0x.
• Se ∆ = 0 entao a parabola intercepta o eixo 0x em x = −b2a.
• Se ∆ > 0 entao a parabola intercepta o eixo 0x em x1 =−b+
√∆
2ae x2 =
−b−√∆
2a.
Quando ∆ ≥ 0 os pontos de intersecao da parabola com o eixo Ox sao chamados
raızes da equacao
ax2 + bx+ c = 0.
Notemos ainda que
• Se ∆ = 0 entao y = ax2 + bx+ c = a(x+ b2a)2.
• Se ∆ > 0 entao y = ax2 + bx+ c = a(x− x1)(x− x2).
Secao 1.2 · Metodo analıtico 31
1.2.5 Tangente
Vamos agora desenvolver o metodo de Descartes para a tangente as conicas. A ideia
aqui e determinar primeiro a reta perpendicular a tangente e a partir daı determinar
a tangente. Antes de fazermos a descricao precisamos de duas definicoes.
Dizemos que
• duas conicas sao tangentes num ponto P se as duas passam por P e as tangentes
a cada conica em P coincidem;
• uma reta e normal a uma conica num ponto P se a reta passa por P e e
perpendicular a tangente.
Figura 1.20: Tangente e normal a parabola
Consideremos uma conica, no plano cartesiano, de equacao F (x, y) = 0 e seja
P = (x0, y0) um ponto da conica, no qual queremos determinar a tangente e a normal.
O metodo de Descartes consiste em determinar o cırculo com centro no eixo 0x e que
seja tangente a conica dada no ponto dado P = (x0, y0). Para isso, consideremos o
cırculo com centro C = (c, 0) e tangente a conica no ponto P . Sabemos que a reta que
passa por P e C e normal ao cırculo e como o cırculo e tangente a curva segue que
esta reta e normal a curva. Assim, para resolvermos o problema, basta encontrarmos a
abscissa c. A equacao do cırculo e (x−c)2+y2 = r2. A ideia e eliminar y, por exemplo,
no sistema
F (x, y) = 0 e (x− c)2 + y2 = r2,
obtendo uma equacao em x, c e r: f(x, c, r) = 0. Como o cırculo e tangente a conica no
ponto P , o que significa que esta ultima equacao tem x0 (a abscissa do ponto P ) como
32 Capıtulo 1 · Evolucao no problema da tangente
raiz dupla, devemos ter f(x, c, r) = (x − x0)2g(x, c, r). Comparando os coeficientes
nesta ultima equacao, obtemos o valor de c.
Figura 1.21: Metodo analıtico
No que segue denotamos por aT e aN os coeficientes angulares das retas tangente e
normal, respectivamente, a conica no ponto P dado.
Exemplo: Determine uma equacao da reta tangente e uma equacao da reta normal a
parabola de equacao y2 = px, p > 0, no ponto P = (x0, y0).
Resolucao: Eliminando a incognita y no sistema
y2 = px e (x− c)2 + y2 = r2,
obtemos a equacao
(x− c)2 + px = r2.
Esta ultima equacao pode ser reescrita na forma
x2 + (p− 2c)x+ c2 − r2 = 0.
Notemos que o coeficiente de x2 e 1, assim, pelo que foi descrito acima temos
x2 + (p− 2c)x+ c2 − r2 = (x− x0)2 = x2 − 2x0x+ x2
0.
Comparando o coeficiente de x, obtemos p− 2c = −2x0 e, resolvendo, obtemos o valor
de c: c = x0 +p2. Logo, a reta normal a parabola no ponto P = (x0, y0) passa pelo
Secao 1.2 · Metodo analıtico 33
ponto (x0 +p2, 0) e, assim, seu coeficiente angular e aN = −2y0
p. Alem disso, se y0 = 0
entao o coeficiente angular da reta tangente e dado por aT = p2y0
.
Portanto, as equacoes pedidas sao:
Reta normal: y = −2y0p
(x− x0) + y0.
Reta tangente: y = p2y0
(x− x0) + y0.
Exercıcio: Determine uma equacao da reta tangente e uma equacao da reta normal
a parabola de equacao y2 = px, p > 0, no ponto P = (0, 0).
Exemplo: Determine uma equacao da reta tangente e uma equacao da reta normal a
elipse de equacaox2
a+
y2
b= 1,
com a = b, a > 0 e b > 0, no ponto P = (x0, y0), com x0 = 0 e y0 = 0.
Resolucao: Eliminando a incognita y no sistema
x2
a+
y2
b= 1 e (x− c)2 + y2 = r2,
obtemos a equacao
(x− c)2 + b− b
ax2 = r2.
Esta ultima equacao pode ser reescrita na forma
(1− b
a)x2 − 2cx+ c2 + b− r2 = 0.
Notemos que o coeficiente de x2 e 1 − ba= a−b
a, assim, pelo que foi descrito acima
temos
a− b
ax2 − 2cx+ c2 + b− r2 =
a− b
a(x− x0)
2 =a− b
ax2 − 2
a− b
ax0x+
a− b
ax20.
Comparando o coeficiente de x, obtemos −2c = −2 a−ba
x0 e, resolvendo, obtemos o
valor de c: c = a−ba
x0. Logo, a reta normal a elipse no ponto P = (x0, y0) passa
pelo ponto (a−ba
x0, 0) e, assim, seu coeficiente angular e aN = ay0bx0
. Alem disso, a reta
tangente tem coeficiente angular aT = − bx0
ay0.
Portanto, as equacoes pedidas sao:
Reta normal: y = ay0bx0
(x− x0) + y0.
34 Capıtulo 1 · Evolucao no problema da tangente
Reta tangente: y = − bx0
ay0(x− x0) + y0.
Exercıcio: Determine uma equacao da reta tangente e uma equacao da reta normal
a hiperbole de equacaox2
a− y2
b= 1,
com a > 0 e b > 0, no ponto P = (x0, y0).
1.2.6 Problemas
1. Em cada caso abaixo, represente no plano cartesiano os pontos P e Q, o segmento
que os liga e calcule a distancia entre eles.
(a) P = (1, 0) e Q = (2, 0).
(b) P = (0,−1) e Q = (0, 3).
(c) P = (0,−2) e Q = (3, 0).
(d) P = (2,−1) e Q = (−1, 5).
2. Justifique, baseado nas aulas, as seguintes afirmacoes:
(a) nao existe divisao por zero.
(b) a1 = 1.
(c) Se a > 0 e b < 0 entao ab < 0.
(d) Se a < 0 e b < 0 entao ab > 0.
(e) (−1)(−1) = 1.
3. Utilize as propriedades de adicao e multiplicacao para verificar que se a, b ∈ R
entao:
(a) (ab)2 = a2b2;
(b) (ab)n = anbn, onde n e um numero inteiro qualquer;
(c) (a+ b)2 = a2 + 2ab+ b2;
(d) (a+ b)3 = a3 + 3a2b+ 3ab2 + b3;
Secao 1.2 · Metodo analıtico 35
(e) (a + b)n =n∑
k=0
n!
k!(n− k)!an−k bk, onde n e um numero natural qualquer e
p! denota o fatorial de p p! = 1 · 2 · 3 · · · p.
4. Determine uma equacao da reta r, e faca um esboco no plano cartesiano, em cada
caso abaixo:
(a) r e vertical e passa pelo ponto (−1, 2).
(b) r e horizontal e passa pelo ponto (−1, 2).
(c) r e a reta que passa pelos pontos (1, 3) e (2, 1). y = −2x+ 5
(d) r passa por (0,−1) e e paralela a reta de equacao 4x− 2y = 8. y = 2x− 1
(e) r passa pelo ponto de intersecao das retas de equacoes y = x−2 e y = −2x+4
e e perpendicular a reta de equacao y = 3x− 7. y = −x
3+
2
3
5. Faca um esboco, no plano cartesiano, da regiao R, em cada caso abaixo:
(a) R = {(x, y) : −3 ≤ x < 2 e − 1 < y ≤ 2}.
(b) R = {(x, y) : −3 ≤ x < 2 e y ≥ −1}.
(c) R = {(x, y) : x < 1 e 0 ≤ y ≤ 2}.
(d) R = {(x, y) : x < 2 e y ≥ −1}.
6. Identifique cada conica (como cırculo, elipse, hiperbole ou parabola) e faca um
esboco no plano cartesiano.
(a) x2 + y2 = 1.
(b) 4x2 + y2 = 16.
(c) 4x2 − y2 = 4.
(d) y2 − 4x2 = 4.
(e) y2 = 3x.
(f) x+ y2 = 9.
(g) y2 = y + x+ 2.
7. Em cada caso abaixo, utilize o metodo analıtico de Descartes para determinar
uma equacao da reta tangente e uma equacao da reta normal a conica no ponto
P dado.
36 Capıtulo 1 · Evolucao no problema da tangente
(a) 4x2 + y2 = 25, P = (−2, 3). aT = 8/3
(b) 4x2 − y2 = 15, P = (2, 1). aT = 8
(c) y2 − 4x2 = 21, P = (−1, 5). aT = −4/5
(d) y2 = 3x, P = (4, 2). aT = 3/4
1.3 Metodo das fluxoes e da diferencial
Os metodos das fluxoes de Newton e da diferencial de Leibniz foram desenvolvidos
no mesmo perıodo e de forma independente. Esses metodos sao muito parecidos e
um dos conceitos centrais usado e o de infinitesimal , que sao quantidades que sao
infinitamente divisıvel, de tal forma que se torne menor que qualquer outra quantidade
dada.
1.3.1 Metodo das fluxoes
Um dos problemas que Newton propoe e: dada a relacao entre dois fluentes (ou
quantidade de fluxo), que sao quantidades que estao aumentando (ou diminuindo) gra-
dualmente e indefinidamente, determinar a relacao entre as fluxoes, que e a velocidade
do fluente em qualquer tempo proposto.
No movimento de um corpo, por exemplo, o fluente e o comprimento do espaco
percorrido, que esta aumentando. Fluentes sao representados pelas letras x, y, z, v, w,
etc., enquanto que a fluxao dos fluentes x, y, z, v, w, etc. e denotado, respectivamente,
por x, y, z, v, w, etc. As constantes sao denotadas pelas letras iniciais do alfabeto: a,
b, c, etc.
A relacao entre os fluentes, em geral, e dada por uma equacao.
A resolucao de Newton para esse problema e a seguinte: denotemos os fluentes por
x e y. Escreva, inicialmente, a equacao em relacao a x. Multiplique cada termo da
equacao porx
xvezes o expoente de x (para cada termo da equacao). Em seguida faca
a mesma coisa com y. Por fim, soma todos os produtos e iguala a zero.
O metodo de Newton e ilustrado no seguinte exemplo.
Exemplo: Determinar a relacao entre as fluxoes sendo que a relacao entre os fluentes
Secao 1.3 · Metodo das fluxoes e da diferencial 37
e dado pela equacao
x3 − ax2 + axy − y3 = 0.
Resolucao: O metodo descrito acima e ilustrado no esquema abaixo
Mult. x3 −ax2 +axy −y3 x3 −ax2 +axy −y3
por 3 xx
2 xx
xx
0 0 0 yy
3 yy
resulta 3x2x −2axx +ayx 0 0 0 +axy −3y2y
Fazendo a soma dos produtos igual a zero obtemos a equacao
3x2x− 2axx+ ayx+ axy − 3y2y = 0,
que da a relacao entre x e y. Essa equacao pode ser reescrita na forma
y
x=
2ax− 3x2 − ay
ax− 3y2,
que da o quociente entre as fluxoes.
Nao faremos aqui uma demonstracao desse metodo, mas descreveremos uma ideia
de como ele funciona.
Sejam x e y duas variaveis ou quantidades e consideremos w = x + y e z = xy.
Queremos determinar w e z em funcao de x, y, x e y.
Consideremos os valores que as variaveis assumem, sucessivamente, em tres perıodos
de tempos: x − 12x, x e x + 1
2x para a variavel x e y − 1
2y, y e y + 1
2y para a
variavel y.
Nesses perıodos de tempo a variavel w assume os valores x− 12x + y − 1
2y, x + y
e x + 12x + y + 1
2y, isto e, x + y − 1
2x − 1
2y, x + y e x + y + 1
2x + 1
2y. Assim, no
primeiro perıodo a variavel w passa de x+ y − 12x− 1
2y para x+ y e por subtracao
obtemos o incremento no primeiro perıodo: 12x + 1
2y. Da mesma forma, no segundo
perıodo a variavel w passa de x+ y para x+ y + 12x+ 1
2y e por subtracao obtemos
o incremento no segundo perıodo: 12x+ 1
2y. Portanto, o incremento em w no perıodo
total e a soma dos incrementos em cada perıodo, isto e, w = x+ y.
De forma analoga, nesses perıodos de tempo a variavel z assume os valores
(x − 12x)(y − 1
2y), xy e (x + 1
2x)(y + 1
2y), isto e, xy − 1
2xy − 1
2yx + 1
4xy, xy e
xy + 12xy + 1
2yx + 1
4xy. Assim, no primeiro perıodo a variavel z passa de
xy − 12xy − 1
2yx + 1
4xy para xy e por subtracao obtemos o incremento no primeiro
38 Capıtulo 1 · Evolucao no problema da tangente
perıodo: 12xy + 1
2yx − 1
4xy. Da mesma forma, no segundo perıodo a variavel z passa
de xy para xy+ 12xy+ 1
2yx+ 1
4xy e por subtracao obtemos o incremento no segundo
perıodo: 12xy + 1
2yx − 1
4xy. Portanto, o incremento em z no perıodo total e a soma
dos incrementos em cada perıodo, isto e, z = xy + yx.
Algumas consequencias disso sao:
• se z = ax, onde a e uma constante entao z = ax, ja que, pelo que foi feito acima,
z = ax+ xa e a = 0, pois a e uma constante;
• se z = x2 entao z = 2xx, pois z = xx e z = xx+ xx = 2xx;
• se z = xn, com n ∈ N entao z = nxn−1x;
• se z = x−n, com n ∈ N entao z = −nx−n−1x. De fato, nesse caso zxn = 1 e, pelo
que foi feito anteriormente, zxn+znxn−1x = 0, isto e, z = −n zxn−1xxn = −nx−n−1x.
Em particular, se z = xn, com n ∈ Z entao z = nxn−1x.
Aplicando o que foi feito acima para a igualdade z = x3 − ax2 + axy− y3, obtemos
z = 3x2x− 2axx+ axy + ayx− 3y2y, obtendo a expressao do exemplo anterior.
Tangente
Seja P = (x, y) um ponto sobre uma curva F (x, y) = c. Queremos determinar
uma equacao para a reta tangente a curva em P . Para isso, consideremos Q o pe da
perpendicular baixada por P sobre o eixo 0x (veja a Figura 1.22). Movendo o segmento
PQ, de modo que a variacao na abscissa seja indefinidamente pequeno, obtemos um
novo segmento pq paralelo a PQ de tal forma que q esta sobre o eixo 0x e o segmento
pq sofre uma variacao de bp, onde b e o ponto sobre o segmento pq tal que bq = PQ.
Consideremos a reta que passa por P e p. Essa reta corta o eixo 0x num ponto, que
denotamos por T . Notemos que os triangulos PQT e Pbp sao semelhantes. Assim, a
reta definida acima tem coeficiente angular
PQ
TQ=
y
x.
Logo, se uma curva e dada por uma relacao nas variaveis x e y, atraves de uma
equacao, entao o coeficiente angular da reta tangente num ponto dado P = (x0, y0)
e determinado, no metodo das fluxoes de Newton, como quociente das fluxoesy
x.
Secao 1.3 · Metodo das fluxoes e da diferencial 39
Figura 1.22: Metodo das fluxoes
Exemplo: Determinar uma equacao da reta tangente e uma da reta normal a curva
de equacao
x3 − 7x2 + 7xy − y3 = 0,
no ponto P = (1, 2).
Resolucao: Notemos que nessa equacao, a relacao entre as fluxoes e dada por
3x2x− 14xx+ 7yx+ 7xy − 3y2y = 0,
ou seja,y
x=
14x− 3x2 − 7y
7x− 3y2.
Assim, no ponto P = (1, 2) as retas tangente e normal a curva tem coeficiente angular
aT = 3/5 e aN = −5/3, respectivamente. Logo, uma equacao para a reta tangente e
dada por y = 35(x− 1) + 2 e para a reta normal dada na forma y = −5
3(x− 1) + 2.
1.3.2 Metodo da diferencial
O metodo da diferencial de Leibniz e desenvolvido a partir do seu estudo sobre
sequencias numericas. Leibiniz considerava uma sequencia de pontos cujas diferencas
entre os pontos era um infinitesimal. Quando se considerava sequencia finita esses
infinitesimais eram chamados incremento ou decremento e denotados por ∆x e
∆y, respectivamente. No caso de considerar sequencia infinita esses infinitesimais eram
chamados diferenciais e denotados por dx e dy, respectivamente.
40 Capıtulo 1 · Evolucao no problema da tangente
Sejam x e y duas variaveis ou quantidades e consideremos w = x + y e z = xy.
Queremos determinar dw e dz em funcao de x, y, dx e dy. Temos que
dw = x+ dx+ y + dy − (x+ y) = dx+ dy
e
dz = (x+ dx)(y + dy)− xy = xy + xdy + ydx+ dxdy − xy = xdy + ydx+ dxdy.
Leibniz desprezava o termo dxdy, pois e um infinitesimal de ordem dois, isto e, o
produto de dois infinitesimais e portanto muito pequeno. Assim, dz = xdy + ydx.
Portanto,
d(x+ y) = dx+ dy
e
d(xy) = xdy + ydx.
Procedendo como no caso do metodo das fluxoes, obtemos que se z = xr, com r inteiro,
entao
dz = rxr−1dx.
Tangente
Consideremos uma curva dada por uma equacao nas variaveis x e y. Para deter-
minar a tangente a curva num ponto P = (x, y), Leibniz considerava uma sequencia
de pontos (inicialmente finita) na abscissa e determinava um triangulo de lados ∆x,
∆y e ∆s, utilizando dois pontos consecutivos da sequencia, como na Figura 1.23. Por
extrapolacao, passando a uma sequencia infinita, o triangulo torna-se um triangulo
diferencial de lados dx, dy e ds. A reta que contem ds e a tangente a curva em P e,
portanto, tem coeficiente angulardy
dx.
Logo, se uma curva e dada por uma relacao nas variaveis x e y, atraves de uma
equacao, entao o coeficiente angular da reta tangente num ponto dado P = (x0, y0)
e determinado, no metodo da diferencial de Leibniz, como quociente das diferenciaisdy
dx.
Exemplo: Determine uma equacao da reta tangente e da reta normal a curva de
equacao
x3 − 6xy + y3 = 0,
Secao 1.3 · Metodo das fluxoes e da diferencial 41
Figura 1.23: Metodo da diferencial
no ponto P = (−1, 1).
Resolucao: Pelas propriedades para se obter as diferenciais da soma, do produto e da
potencia, descritos acima temos
3x2dx− 6ydx− 6xdy + 3y2dy = 0,
ou seja,dy
dx=
6y − 3x2
3y2 − 6x.
Assim, a reta tangente a curva no ponto P = (−1, 1) tem coeficiente angular aT = 1/3
e, assim, sua equacao e dada por
y =1
3(x+ 1) + 1.
Logo, a reta normal tem coeficiente angular aN = −3 e sua equacao pode ser dada na
forma
y = −3(x+ 1) + 1.
1.3.3 Problemas
1. Em cada caso abaixo, utilize os metodos de Newton e de Leibniz para determinar
uma equacao da reta tangente e uma equacao da reta normal a curva no ponto
P dado.
42 Capıtulo 1 · Evolucao no problema da tangente
(a) x2 + xy + y2 = 3, P = (1, 1). aT = −1
(b) x2 + 2xy − y2 + x = 2, P = (1, 2). aT = 7/2
(c) 2(x2 + y2)2 = 25(x2 − y2), P = (3, 1). aT = −9/13
(d) y2(y2 − 4) = x2(x2 − 5), P = (0,−2). aT = 0