Metodologia de Atendimento...

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Proteção Social Básica – O atendimento e o acompanhamento das famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade social. Metodologia de Atendimento Sistêmico Maria José Esteves de Vasconcellos SEDESE,19-06-13

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Proteção Social Básica – O atendimento e o acompanhamento das famílias e indivíduos

em situação de vulnerabilidade social. Metodologia de Atendimento Sistêmico

Maria José Esteves de Vasconcellos

SEDESE,19-06-13

Maria José Esteves de Vasconcellos • Palestras, workshops, cursos, consultorias

sobre • concepção e aplicação da Metodologia Atendimento

Sistêmico • recursos instrumentais para aplicar a Metodologia: • perguntas reflexivas; coordenação do Encontro

Conversacional; “processo da rede” • “pensamento sistêmico como novo paradigma da ciência” • Terapeuta de famílias e de casais

Maria José Esteves de Vasconcellos • Carreira acadêmica

• Formação em Terapia Familiar Sistêmica

• Mestrado em Relações Interpessoais e Desenvolvimento Humano

• Dissertação (1992):

- quadro de referência para mudança de paradigma na ciência

- pensamento sistêmico/cibernético como

base epistemológica da terapia familiar sistêmica

Terapia Familiar Sistêmica

Bases Cibernéticas

1995

Maria José Esteves de Vasconcellos

Maria José Esteves de Vasconcellos

• Fundadora da EquipSIS – Equipe Sistêmica

terapia de famílias e casais

consultorias, cursos, workshops

capacitações em instituições públicas e privadas

• Autora da concepção do

pensamento sistêmico como o novo paradigma da ciência

Pensamento Sistêmico

O novo paradigma

da ciência

2002 - 10ª ed. 2013

Maria José Esteves de Vasconcellos

Implicações do pensamento sistêmico novo-paradigmático – relações interpessoais – relações familiares – relações empresariais – relações família/escola – mediação sistêmica de relações conflituosas – relações com o meio ambiente e preservação ambiental – abordagem sistêmica de programas/políticas sociais

Maria José Esteves de Vasconcellos

Maria José Esteves de Vasconcellos

• Criação de Curso de Pós-Graduação: Especialização em

Atendimento Sistêmico de Famílias e Redes Sociais

ministrado (2001 / 2010) em Belo Horizonte, Goiânia, Vitória

• Divulgando a possibilidade de prática social inovadora

aplicando a Metodologia de Atendimento Sistêmico

em variados contextos de prática profissional

Atendimento Sistêmico

de

Famílias e Redes Sociais

Vol. I 2005 3ª ed 2012

Vol. II 2007 Tomos I e II

Vol. III 2010

Maria José Esteves de Vasconcellos

Buscando a solução da situação-problema, em contexto de autonomia

Metodologia de Atendimento Sistêmico

Maria José Esteves de Vasconcellos

SEDESE,19-06-13

Os profissionais e a demanda

Profissionais que atuam nas políticas sociais (e, em

geral, os que lidam com relações humanas)

são procurados por

pessoas / famílias / instituições / empresas

que vivenciam situação-problema

Os profissionais e a demanda

• O profissional é considerado

“expert” em soluções

“autoridade” no assunto

“especialista” em um tipo de situação-problema

• Admite-se que ele tem

acesso privilegiado a “uma fatia da realidade”

O bom profissional

Segundo expectativas tradicionais:

• É capaz de produzir mudança na situação-problema

• Detém poder de “mudança do sistema”

• Exerce seu poder agindo sobre o sistema, para que aconteçam mudanças desejadas

O bom profissional

Correspondendo às expectativas, exerce seu poder:

Informando Prescrevendo

Conscientizando Treinando

Ensinando Dirigindo

Orientando Resolvendo conflitos

Convencendo

Profissional tem vivido situação paradoxal

• Se profissional quer autonomia do usuário

• Se acredita que tem poder de “conseguir” mudança

• Emerge situação paradoxal (sem saída)

- para o usuário

- para o profissional

A situação paradoxal

• Para o usuário:

“Como ser autônomo (agir por iniciativa própria)

se estou recebendo instruções sobre como agir?”

• Para o profissional:

“Como atuar, sendo competente e responsável pela

mudança do usuário, se ele é quem deve assumir

responsabilidade por sua própria mudança?”

Evidências em laboratórios científicos (60/70)

Levaram cientistas a questionar:

• Compartimentação do saber e

fragmentação das práticas

• Interação instrutiva com sistemas autônomos

• Acesso a realidades objetivas

Biologia do Conhecer evidencia

É IMPOSSÍVEL A OBJETIVIDADE

Constituição biológica

nos impede de falar de conhecimento objetivo

Constituição de humanos, dotados de linguagem,

nos permite coconstruir conhecimento

Consequência para os cientistas

• Reveem seus pressupostos tradicionais

• Assumem novos pressupostos

MUDANÇA DE PARADIGMA DA CIÊNCIA

Consequência para os profissionais

• Aliviados com perspectivas de sair do paradoxo

• Assumem

nova visão de mundo

visão sistêmica novo-paradigmática

O profissional assume novos pressupostos

• não existe realidade independente do observador

• “realidades” se constroem em conversações,

em espaço de intersubjetividade

• o profissional não detém o poder que lhe atribuem

O profissional e a nova visão sistêmica

Como desenvolver práticas consistentes esse

pensamento sistêmico novo-paradigmático?

• que focalizem as relações sem fragmentar o sistema

• que reconheçam a autonomia do sistema

• que reconheçam sua inevitável participação

A experiência de Aun (1996)

Tratando crianças com deficiência

• Objetivo: desenvolver autonomia

• Mas crianças têm alta por atingir idade

• Profissionais vivendo a situação paradoxal:

“Como conseguir que o outro seja autônomo

e responsável por sua mudança?”

Um prática em política social

• Situação-problema:

- promovendo inclusão da pessoa com deficiência

• Metodologia:

- convite à conversação em contexto de autonomia

• Resultados:

- coconstrução de formas de inclusão

- dissolução do sistema linguístico

POSIÇÃO DE:

decidir e planejar

executar

receber

Estrutura hierarquizada

Quebrando a hierarquia

Posição de:

Decidir e planejar

Executar

Receber Comunidade

Estrutura em rede

órgão governamental

ONG

entidade particular

famílias de usuários

associação de usuários

grupo da comunidade

Posições de decidir, planejar, executar, receber

PBH SMDS

ENTIDADES

USUÁRIOS

SOCIEDADE

C

Reelaboração

do

Convênio

PESQUISADORA

Programa de apoio às pessoas

portadoras de deficiência.

IVIL

ESPECIALISTAS

ÓRGÃOS

GOVERNAMENTAIS

PBH SMDS

ENTIDADES

USUÁRIOS

SOCIEDADE

C

Reelaboração

do

Convênio

PESQUISADORA

Programa de apoio às pessoas

portadoras de deficiência.

IVIL

ESPECIALISTAS

ÓRGÃOS

GOVERNAMENTAIS

Metodologia de Atendimento Sistêmico

• Uma Metodologia para solução de situação-problema

em contexto colaborativo, de autonomia

• Processo básico: COCONSTRUÇÃO

presente em todos os passos da Metodologia

• Tudo se dá em conversações

Metodologia de Atendimento Sistêmico

PRÁTICA sistêmica novo-paradigmática

CONCEITOS TEÓRICOS sistêmicos novo-paradigmáticos

PENSAMENTO sistêmico novo-paradigmático

Pensamento Sistêmico Novo-Paradigmático

Três pressupostos da ciência novo-paradigmática:

• Mundo complexo, em todos os níveis da natureza

• Mundo instável, sistemas autônomos,

imprevisíveis, incontroláveis

• Objetividade impossível, coconstrução do

conhecimento sobre o mundo

Conceitos teóricos: Problema

• Observador distingue situação como problemática

• Observador compartilha sua distinção • Conversando, fazem emergir situação-problema • Situação-problema é construção na conversação (construção social da realidade)

Das conversações emerge um “problema”

Exemplificando: Criança portadora de TDAH Criança portadora de grande curiosidade “Problemas” emergem na linguagem

Conceitos teóricos: Sistema Linguístico

• Conversação constitui um sistema linguístico

• Sistema linguístico:

relações entre pessoas que

conjuntamente

constroem significados para a situação que estão vivendo

Conceitos teóricos: SDP como sistema linguístico

Assim emerge o que nós distinguimos como SDP:

• sistema linguístico em torno da situação-problema

• pessoas interagindo, dizendo coisas umas às outras

“Sistema Determinado pelo Problema” – SDP

(Goolishian e Winderman,1988)

Conceitos teóricos: Componentes do SDP

• Pessoas em interação,

conversando, interagindo, fazendo parte da conversa

sobre algo que elas próprias definem que

não está como deveria estar (situação-problema)

• Quem não entra espontaneamente na conversação,

não integra o sistema

Conceitos teóricos: Situação-problema

• Não se trata de situação-problema pré-existente,

objetiva, concreta, exterior às pessoas,

definida como tal por autoridades ou especialistas

• A definição emerge de consenso surgido nas conversações:

é o significado que o sistema está dando à situação

Conceitos teóricos:

SDP como rede em torno da situação-problema

Para ser concebida como SDP, a rede:

• deverá emergir nas conversações

• sem critérios de participação pré-definidos

• uma rede dinâmica e não-reificada

Rede social de um indivíduo (Klefbeck)

EGO

PARENTES

TRABALHO/ESCOLA

PROFISSIONAIS / AUTORIDADES

COMUNIDADE

FAMILIA

Construindo acolhimento e acompanhamento à família

da criança (sexualmente abusada)

PM

Avó

CRAS

CREAS Gestora da AS

SDP/Rede: situação-problema de uma família

MP Promotoria Infância Juventude

Mãe

CAPS

Conselho Tutelar

Avô

Judiciário

Hospital

PSF

Possível distribuir as ações necessárias

• Hospital: atendimento pediátrico à criança e psicológico aos avós

• CAPS: acompanhamento psiquiátrico à mãe

• CREAS: acompanhar família e atendimento psicossocial à mãe

• Judiciário: decisão judicial sobre proteção/segurança da criança

• Conselho Tutelar: visitas periódicas à família

• Mãe: trabalhar (encaminhada para cursos SINE);

requerer permissão judicial para ver a filha

SDP/rede em torno da situação-problema LA

Coconstruindo projetos de vida e cidadania com adolescentes em LA,

possibilitando sua inserção social

Conselho Direitos Criança e Adolescente

Centro Profissionalizante

Escola

Conselho Tutelar

Associação Moradores

Centro Convivência Adolescente

TJ Vara Infância e Juventude

Coordenadora LA

MP Promotoria Infância Juventude

Delegacia Infância Juventude

Igreja

Equipe Técnica LA

Famílias 1,2,3,4,5

Ass. Comunitária Aproveitamento Mão Obra e Aprendizagem

De um SDP emerge situação-problema

Exemplificando:

Está difícil viabilizar cumprimento de

determinação judicial de

Prestação de Serviços à Comunidade,

pelos jovens em conflito com a lei

Do SDP emerge uma situação-problema

Quem está participando das conversas:

Juiz, Assistentes Sociais e Psicólogos judiciários

Técnicos do Programa PSC e do CREAS

Instituições: Postos Saúde, Escolas, ONGs, Empresas

Famílias (com os próprios jovens)

Do SDP emerge uma situação-problema

Como estão conversando:

- o judiciário não deveria ...

- as famílias não podem ...

- as instituições da comunidade precisam ...

- o PSC deveria ...

- o CREAS poderia ...

- os jovens podem ...

Que sistema distinguimos?

Todos ativamente comprometidos numa interação linguística assumindo posições antagônicas sobre como lidar com a situação

Que sistema distinguimos?

Distinguimos opiniões divergentes / posições antagônicas,

quanto a algo que está acontecendo...

Uma forma de relação entre pessoas que, por discordarem,

fazem emergir uma situação-problema

Nesse sistema distinguimos:

• conversações de caracterização (F é ... F não é ...) • conversações de acusação injustificada • conversações de recriminação injustificada

(Méndez, Coddou e Maturana)

De fato, o problema são as relações

Distinguimos como problema:

• relações de antagonismo

(expectativas, acusações e recriminações recíprocas),

• que impedem ações colaborativas

Para problema relacional: ATENDIMENTO SISTÊMICO

Metodologia para solução de situação-problema

• desenvolvida com sistema linguístico

• os próprios envolvidos na situação definem situação-problema

• tendo como objetivos

o encaminhamento de

solução para a situação-problema

a consequente

dissolução do sistema linguístico

A aplicação da Metodologia

• Começa com identificação de uma situação-problema

• Tem dois aspectos fundamentais: forma de Constituição do SDP

forma de Coordenação dos Encontros Conversacionais do SDP

O primeiro aspecto fundamental

A forma de Constituição do SDP

• Exclusivamente em conversações,

sem critérios de inclusão externos às conversações

• As pessoas são convidadas a participar,

jamais convocadas ou intimadas

O que dá identidade ao SDP

Apesar das idiossincrasias, algo é comum a todos:

• famílias e técnicos vivem o risco

de não cumprir determinação judicial

• se vieram conversar é porque “isso tem a ver comigo”

“situação-problema nossa”

“Situação-problema nossa”

• Video

Pinguins, formigas e caranguejos

“Situação-problema nossa”

• Condição fundamental para coconstrução da solução:

alguém se mobilizaria por um problema do outro,

se não tiver algum tipo de vínculo?

• Coconstrução depende de implicação pessoal

Presença das instituições no SDP

• Interliga todas as motivações idiossincráticas

• Traz recursos: a serem colaborativamente mobilizados

• Permite distribuir responsabilidades, sem sobrecarregar as

famílias (que motivos famílias teriam para não colaborar no

cumprimento da Medida?)

A forma de Constituição do SDP

Não garante que se atinja o objetivo de:

• mudança das relações

(dissolução do problema relacional)

• criação de contexto colaborativo, de autonomia

O segundo aspecto fundamental

A forma de Coordenação dos

“Encontros Conversacionais do SDP”

Depois de constituído o SDP:

Equipe Sistêmica coordenando conversações do SDP

A forma de Coordenar as conversações

Equipe Sistêmica novo-paradigmática

• assume que não é “expert em soluções”

• atua como “expert em relações”

• atua para criar contexto de autonomia

Contexto de autonomia

AUTONOMIA:

“contexto de interações (regras de relação) que permite que

cada um defina o que quer para si e assuma as consequências

dessa definição” (Aun)

AUTONOMIA – SER AUTOR – ASSUMIR AUTORIA

Criando “contexto de autonomia”

A Equipe Sistêmica:

- cria contexto seguro

- garante a todos igual direito a voz

- valida todas as participações

- viabiliza flexibilização de posições

- viabiliza relações colaborativas

Coordenando as conversações

Equipe Sistêmica atua acompanhando as

fases do “processo da rede”

• Retribalização

• Polarização

• Mobilização

• Depressão (e intervalo)

• Abertura para a ação autônoma

• Ultrapassagem da situação-problema

Coordenando as conversações

Equipe Sistêmica usa

perguntas reflexivas - uma forma privilegiada de desencadear

• reflexão

• mudança de premissas

• mudança do sistema

Exemplificando perguntas reflexivas

SDP conversa sobre mudanças desejadas

Equipe quer explorar temores que podem dificultar a mudança

• Se acontecer a mudança desejada,

para quem a situação nova poderia não ser muito boa?

• Em que essa possível situação nova

poderia ameaçar alguém?

Metas das Conversações do SDP

Meta do SDP:

resolver a “situação-problema nossa”: conseguir formas

de se cumprir a Medida, com participação de todos

Meta da Equipe Sistêmica:

desenvolver formas de relação que viabilizem resolver

a “situação-problema nossa”

O compromisso da Equipe Sistêmica

• Não se compromete com:

encaminhamento de tal ou qual solução para a

“situação-problema nossa”

• Compromete-se com:

as relações, a qualidade das conversas,

num contexto em que cada um venha a

“legitimar o outro na convivência”

A forma de Coordenar as conversações

Propicia emergir um sistema linguístico

• que conversa sobre as próprias relações

• que conversa na emoção do

respeito mútuo e legitimação do outro

“transformador das próprias relações”

A forma de Coordenar as conversações

Propicia mudança do sistema, em que:

• desaparece o sistema de

conversações de caracterização, acusação e recriminação

• surge outro sistema,

autônomo, colaborativo, cuja organização são as

“transformações das relações”

Forma de Constituir + Forma de Coordenar

• Forma de Constituição viabiliza rede de conversações

• Presença de instituições interliga as motivações

• “Situação-problema nossa” permite coconstrução

• Forma de Coordenação faz emergir

“sistema transformador das próprias relações”

Aplicação da Metodologia propicia

• sistema colaborativo

• coconstrução de solução para a situação-problema

• dissolução do SDP

Aplicação da Metodologia propicia

Que levemos conosco regras de relação que privilegiem

• participação, colaboração

• responsabilidade na construção do bem comum

Que mudemos as relações que constituímos e vivemos

Que vivamos novo contexto social que viabilize

DESENVOLVIMENTO DA CIDADANIA

Programa Parceria Cidadã

• Ministério Público do Estado de Goiás

Video – 8 minutos

Metodologia de Atendimento Sistêmico

Aplicada por equipes sistêmicas atinge objetivos: • Famílias cuidando do portador de sofrimento mental • Aplicando medida sócio-educativa (judicial) • Aplicando programas de promoção social • Famílias e técnicos cuidando de bebês em UTI • Prevenindo obesidade com cuidados nutricionais

Metodologia de Atendimento Sistêmico

Aplicada por equipes sistêmicas atinge objetivos: • Famílias e técnicos tratando de doenças crônicas • Programas de socialização de crianças carentes • Lidando com dificuldades de aprendizagem escolar • Acolhimento institucional – garantia de direitos • Reassentamento de famílias (barragem)

Metodologia de Atendimento Sistêmico

Aplicada por equipes sistêmicas atinge objetivos: • Reinserindo dependentes químicos pós-internação • Reinserindo idosos após alta hospitalar • Lidando com situações de violência doméstica • Relações interpessoais em ambiente empresarial

... e muitas outras situações-problema