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Universidade de São Paulo - Escola de Comunicações e Artes Disciplina: Novas lógicas e literacias emergentes no contexto da educação em rede: práticas, leituras e reflexões Profa.: Dra. Brasilina Passarelli Aluna: Else Lemos Inácio Pereira – n. USP 3368660

Atividade: Resenha 16/04/2013

Antônio J. Severino e o Trabalho Científico – da epistemologia à técnica

Antônio J. Severino e o Trabalho Científico – da epistemologia à técnica:

resenha do livro Metodologia do Trabalho Científico

Por Else Lemos

Já em sua 23ª edição (revista e atualizada), Metodologia do Trabalho Científico,

de Antônio J. Severino, é uma das mais importantes obras brasileiras sobre o

tema, sobretudo pela ênfase à prática da pesquisa científica como metodologia e

técnica. Severino (2007) traça um panorama geral conceitual e prático, indo do

conceito geral de epistemologia às técnicas com grande habilidade. Como o autor

afirma, a obra “traz alguns elementos epistemológicos de fundamentação da

ciência, bem como de seu procedimento metodológico e de aplicação de técnicas

operacionais necessárias para a implementação dos métodos de investigação

científica.” (Severino, 2007, p. 14).

Estruturado em sete capítulos, o livro tem linguagem objetiva e faz rico uso de

janelas e boxes que apresentam conceitos-chave em cada seção ou parte do

livro. Severino também articula os conceitos apresentados com outras obras de

referência, usando para isso recursos como destaques e boxes que convidam o

leitor “para saber mais”. Nesse sentido, pode-se dizer que o autor promove

hiperlinks que estendem e ampliam o entendimento dos conceitos, quando o

leitor tem interesse em aprofundar-se ou buscar novos pontos de vista. Esse

formato revela o amplo trabalho de pesquisa que o autor empreendeu ao

finalizar a nova edição revisada, e oferece diversos caminhos para leituras

adicionais.

Severino (2007, p. 21-31) trata, logo no primeiro capítulo, de contextualizar

ciência, pesquisa e produção do conhecimento no contexto da universidade,

realçando as dimensões científica, profissional e política das quais se imbui a

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Atividade: Resenha 16/04/2013

formação universitária. Nas palavras de Severino (2007, p. 22), “A educação

superior tem uma tríplice finalidade: profissionalizar, iniciar à prática científica e

formar a consciência político-social do estudante.” Nesse sentido, Severino

menciona a diferença entre o aprender em outras fases da vida escolar e o

aprender na Universidade:

... na Universidade, o conhecimento deve ser construído pela experiência ativa do estudante e não mais ser assimilado passivamente, como ocorre o mais das vezes nos ambientes didático-pedagógicos do ensino básico. (Severino, 2007, p. 25).

Mais adiante, o autor afirma: “Hoje a atuação profissional, em qualquer setor da

produção econômica, exige capacidade de resolução de problemas, com

criatividade e riqueza de iniciativas, em face da complexidade das novas

situações.” (Severino, 2007, p. 29). É com esse espírito que Severino

desenvolve o texto, reforçando a necessidade de a Universidade estar envolvida

não apenas com ensino, mas com a pesquisa e também a extensão, pois só

assim o egresso universitário poderá ter uma atuação política e cidadã.

No segundo capítulo, Severino trata de questões práticas da vida acadêmica –

leitura, documentação e produção textual. Ao falar sobre leitura e

documentação, Severino destaca (2007, p. 49):

Os maiores obstáculos do estudo e da aprendizagem, em ciência e em filosofia, estão diretamente relacionados com a correspondente dificuldade que o estudante encontra na exata compreensão dos textos teóricos. Habituados à abordagem de textos literários, os estudantes, ao se defrontarem com textos científicos ou filosóficos, encontram dificuldades logo julgadas insuperáveis e que reforçam uma atitude de desânimo e de desencanto, geralmente acompanhada de um juízo de valor depreciativo em relação ao pensamento teórico.

Para dar direcionamento ao pesquisador, Severino (2007, p. 49-66) propõe que

o estudo siga passos que, crescentes em complexidade, oferecem um método de

leitura analítica que favorecem a compreensão e interpretação crítica dos textos.

Para isso, é necessário preparar o texto, identificando sua estrutura (análise

textual), compreender o tema central e as ideias secundárias (análise temática),

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interpretar o texto em relação à vida e obra do autor e também em seu contexto

cultural, histórico, teórico (análise interpretativa), discutir o texto

(problematização) e reelaborar a mensagem com reflexão pessoal (síntese).

Um dos temas mais relevantes deste trecho da obra é, certamente, o que diz

respeito à prática da documentação, uma das mais laboriosas na vida acadêmica,

visto que requer disciplina e objetividade. Uma importante distinção apresentada

por Severino (2007, p. 68-71) diz respeito à documentação temática versus a

documentação bibliográfica. A relevância da documentação temática como forma

de registrar conteúdos, conceitos, fatos, ideias e pontos de vista acerca de um

tema de pesquisa mostra-se muito eficiente para trabalhos de maior

complexidade, sendo, neste caso, a documentação bibliográfica um importante

suporte ou “subconjunto da Documentação Temática” (Severino, 2007, p. 69).

O capítulo III, Teoria e Prática Científica, trata da fundamentação epistemológica

do conhecimento científico. Neste ponto do livro, o autor deixa claro que os

métodos de pesquisa da era moderna tiveram êxito em uma chamada “eficácia

operatória, com a qual forneceu aos homens recursos reais para a sustentação

de sua existência material.”. O autor completa: “A técnica serviu de base para a

indústria, para a revolução industrial, o que ampliou, sobremaneira, o poder do

homem em manipular a natureza.” (Severino, 2007, p. 105).

No entanto, nosso sistema científico, nossa forma de fazer ciência, se tornou

limitado para dar conta das novas demandas de pesquisa – sobretudo as ligadas

ao mundo social, à cultura e ao homem como sujeito central dos fenômenos. E

novos paradigmas e formas de pensar a observação dos fenômenos trouxeram

novos olhares para a pesquisa. Do positivismo ao “pluralismo epistemológico”

contemporâneo, têm-se, hoje, “várias possibilidades de se entender a relação

sujeito/objeto quando da experiência do conhecimento, configurando-se várias

perspectivas epistemológicas.” (Severino, 2007, p. 112).

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Como Severino explica (2007, p. 100), “A ciência se faz quando o pesquisador

aborda os fenômenos aplicando recursos técnicos, seguindo um método e

apoiando-se em fundamentos epistemológicos.” Assim, o autor explica os

conceitos de método científico, problema (a questão causa-efeito), hipótese

(resposta que propõe a relação causa-efeito), lei (enunciado de uma relação

causal entre fenômenos) e teoria (conjunto de concepções, sistematicamente

organizadas). Severino também destaca as forças motoras da ciência – os

raciocínios. Quer pela indução (de fatos particulares a princípio geral) ou pela

dedução (de uma proposição geral chega-se a uma conclusão). Em geral, os

conceitos fundamentais são baseados no jeito positivista de produzir

conhecimento científico.

Um dos trechos mais interessantes do livro é o que se refere às modalidades e

metodologias de pesquisa (Severino, 2007, p. 117-126). Nesse ponto, o autor

discorre sobre pesquisa quantitativa, pesquisa qualitativa, pesquisa etnográfica,

pesquisa participante, pesquisa-ação, estudo de caso e análise de conteúdo.

Quanto à natureza das fontes de pesquisa, Severino distingue quatro

modalidades: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, pesquisa

experimental e pesquisa de campo. Pela importância da pesquisa bibliográfica

com base do conhecimento científico produzido na Universidade, destacamos

aqui a conceituação de Severino (2007, p. 122):

A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos.

É também no capítulo III que Severino fala sobre técnicas de coleta de dados:

documentação, entrevistas (diversos tipos), observação e questionários. Trata-

se, portanto, de um guia abrangente, que vai da crítica aos velhos modelos de

pesquisa às questões mais objetivas, ligadas a como fazer pesquisa.

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O capítulo IV é um completo roteiro para elaboração do projeto de pesquisa,

tanto em relação à sua estrutura quanto em relação ao texto propriamente dito.

Título, apresentação, descrição do objeto, problema de pesquisa, justificativa,

hipóteses e objetivos, quadro teórico de referência, procedimentos de pesquisa,

cronograma e referências/fontes são os itens destacados por Severino (2007, p.

127-198). Por se tratar de um trecho de natureza mais técnica, há diversas

imagens e figuras para exemplificar aspectos como, por exemplo, a questão da

formatação dos trabalhos acadêmicos.

Um dos temas abordados pelo autor no capítulo VI é a pesquisa na internet.

Severino oferece indicação de sites para consulta de informações sobre catálogos

e lançamentos editoriais, no entanto, apenas com dicas muito amplas e um tanto

superficiais.

O capítulo V apresenta as modalidades de trabalhos científicos, falando sobre as

diferenças entre trabalhos didáticos (como resumos e resenhas), TCCs,

monografias, dissertações e teses. Fala também sobre produções acadêmicas

como ensaios, relatórios técnicos de pesquisa, artigos científicos e resumos

técnicos de trabalhos científicos. O autor destaca o processo de elaboração da

resenha, que, segundo Severino (2007, p. 205), pode ser “puramente

informativa, quando apenas expõe o conteúdo do texto; é crítica quando se

manifesta sobre o valor e o alcance do texto analisado; é crítico-informativa

quando expõe o conteúdo e tece comentários sobre o texto analisado”.

O capítulo VI destaca a atividade científica na pós-graduação. Severino destaca

que há “uma certa diferenciação entre o trabalho do mestrando e do doutorando,

pelo menos em nossas condições brasileiras.” (2007, p. 216). Para o autor, do

mestrando “não se pode exigir a plenitude da criação original” (2007, p. 216); já

do doutorando, “deve ter plena autonomia intelectual, cabendo-lhe, pois, maior

audácia e maior capacidade de originalidade e de inventividade, bem como um

projeto político-existencial.” (2007, p. 217). O autor destaca duas características

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essenciais do trabalho científico na pós-graduação: o caráter monográfico, sem

longas retomadas históricas ou repetições, com base em fontes competentes e

com foco na linguagem referencial, e a coerência textual, que deve manifestar-se

em uma estrutura lógica.

Severino fala de temas como a relação orientador-orientando, etapas do trabalho

na pós-graduação (como qualificação e defesa pública da tese), além de enfatizar

a importância de participação em eventos da área de estudos e constante

atualização do curriculum vitae e memorial. Também fala sobre a importância

das associações e entidades de pesquisa, além das agências de fomento, para

que as pesquisas ganhem visibilidade e para que o conhecimento seja

compartilhado.

O último capítulo traz reflexões sobre a docência universitária e sobre o

professor como pesquisador. Severino afirma (2007, p. 262):

São dois os motivos pelos quais o professor precisa manter-se envolvido com a pesquisa: primeiro, para acompanhar o desenvolvimento histórico do conhecimento; segundo, porque o conhecimento só se realiza como construção de objetos.

Assim, planejamento e avaliação devem considerar o envolvimento dos alunos

com a pesquisa. É nesse sentido que Severino conclui (2007, p. 278):

Resumindo, pode-se dizer que a característica mais marcante do assistente-mestre seria a persistência em dar continuidade a sua formação científica; a do assistente-doutor seria a sistematicidade da produção científica; a do associado seria a maturidade na produção científica e a do titular seria a liderança científica.

A leitura de Metodologia do Trabalho Científico é, sem dúvidas, fundamental para

todos que desejam compreender a vida acadêmica e as formas de observar os

fenômenos e pesquisar, buscar, questionar e, por fim, produzir conhecimento.