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METODOLOGIAS DE ENSINO PARA O DESENVOLVIMENTO DA ATENÇÃO E COMPORTAMENTO VOLUNTÁRIOS: O TRANSTORNO DO DÉFICIT DE
ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE PARA ALÉM DAS APARÊNCIAS
Autora: Adriana Drabeski Oliveira Kariatsumari1
Orientadora: Profª. Drª. Graziela Lucchesi Rosa da Silva2
RESUMO
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é definido, comumente, como transtorno neurobiológico, de origem genética, caracterizado por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade, cuja manifestação ocorre na infância, predominantemente quando a criança ingressa na escola. Embora comportamentos desatentos, impulsivos e hiperativos sejam um agravante para o desenvolvimento educacional, é fundamental analisarmos que a forma de avaliação de crianças com tais comportamentos foca-se em uma perspectiva individual tomada como naturalmente patológica, dissociada do contexto social em que está inserida. Assim, atenta-se para o fato dos profissionais que atuam na escola atribuírem ao TDAH o fracasso desses alunos, isentando-se de analisar mais profundamente o contexto escolar e social em que está inserido. Com este ensejo, o presente artigo procura, à luz da teoria vigotskiana, fornecer subsídios teórico-práticos para professores e pedagogos para o desenvolvimento da atenção e do comportamento voluntário.
Palavras Chave: TDAH, Funções Psicológicas Superiores, Psicologia Histórico-Cultural
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho teve como objeto de estudo a prática pedagógica e o 1 Pós-graduação em Educação Matemática pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, graduação em Licenciatura em Matemática pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Atua na rede estadual de ensino, no Colégio Pilar Maturana. 2 Doutorado em Educação pela Universidade Federal do Paraná. Atua como docente do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná, na área de Psicologia Escolar/Educacional.
Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), sob os fundamentos da
Psicologia Histórico-Cultural.
Tal estudo revela-se importante, pois, atualmente, temos um aumento
significativo de diagnósticos do Transtorno que resulta na medicalização maciça de
crianças para torná-las mais atentas e com comportamentos socialmente mais
aceitos. Conforme Leite (2010), a venda da Ritalina – forma mais conhecida do
Metilfenidato, um psicoestimulante utilizado no tratamento do TDAH –cresceu nos
primeiros oito anos deste século em 1.616%.
A escola, neste contexto, pode ajudar na legitimação do entendimento
hegemônico do Transtorno na medida em que naturaliza os comportamentos
apresentados pela criança sem fazer uma análise mais ampla dos múltiplos fatores
que podem estar envolvidos para desencadear tal situação.
À luz dos pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural, entendemos que a
escola é a instituição cujo papel centra-se na transmissão do saber historicamente
elaborado, de forma sistematizada e intencional a fim de “[...] produzir em cada
indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo
conjunto dos homens” (SAVIANI, 2003, p.13). Sob esta perspectiva, a apropriação
dos conceitos científicos pelo estudante, na escola, é considerada um fator
primordial para o seu desenvolvimento, pois auxilia no desenvolvimento das funções
psicológicas superiores e da voluntariedade do comportamento.
A escolha do tema de estudo justifica-se pela necessidade da pesquisadora
compreender melhor a concepção hegemônica acerca do Transtorno e como as
relações sociais são determinantes para alunos que apresentam desatenção e
comportamentos hiperativos, frequentemente, diagnosticados com Transtorno de
Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Concomitante a isso, o estudo proposto
origina-se, ainda, pela necessidade de apreensão de enfrentamentos por meio de
metodologias desenvolvidas na prática educacional, que auxiliem o processo de
ensino e aprendizagem dos alunos diagnosticados com o Transtorno e dos
professores e equipe pedagógica em sua prática diária.
Procuramos fornecer subsídios teórico-práticos, a partir dos pressupostos
da Psicologia Histórico-Cultural, para professores e pedagogos do ensino regular
2
compreenderem a essencialidade dos conteúdos científicos e instrumentos
psicológicos para o desenvolvimento da atenção e do comportamento voluntários.
Especificamente, objetiva realizar pesquisa bibliográfica sobre o tema; propiciar aos
professores e equipe pedagógica conhecimentos teóricos sobre o TDAH para os
auxiliar em sua prática diária; elaborar com professores e equipe pedagógica
estratégias educativas apropriadas que permitam o desenvolvimento das Funções
Psicológicas Superiores e potencializem o processo de aprendizagem.
Sob essa diretriz, no presente texto será apresentado pesquisa bibliográfica
sobre o TDAH, para aprofundar os conhecimentos teóricos sobre o Transtorno,
seguida da descrição da intervenção realizada com grupo de docentes do colégio e
de um grupo de professores que participaram do Grupo de Trabalho em Rede
(GTR), bem como da análise da intervenção.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 ENTENDIMENTO HEGEMÔNICO DO TDAH
Segundo a Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA):
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). Em inglês, também é chamado de ADD, ADHD ou de AD/HD. (ABDA, 2010).
Esta forma de definição do transtorno é recorrentemente utilizada nos dias
atuais, constituindo-se a forma hegemônica de entendimento do TDAH. Nesta linha
de pensamento Leite (2010, p. 13) assevera que o conceito usual do TDAH é
3
entendido como “decorrente de uma disfunção orgânica, ou seja, tem caráter
biologizante, como se houvesse ocorrido algum “desajuste” no organismo do
indivíduo que o levou a ter o Transtorno”.
É importante salientar que a partir deste viés biologizante, as causas mais
prováveis do Transtorno são de origem genética. No entanto, não são descartadas a
possibilidade da influência de fatores externos no transtorno como, por exemplo,
complicações durante a gravidez ou no parto, exposições a determinadas
substâncias e uso de drogas (MATTOS, 2005).
Em relação a investigação dos sintomas do TDAH, a medicina tem-se
utilizado recorrentemente do sistema americano de diagnóstico conhecido como
DSM IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) que traduzido para o
português significa Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais
(BENCZIK, 2000).
Segundo este Manual, o TDAH caracteriza-se por dois grupos de sintomas:
(1) desatenção e (2) hiperatividade (agitação) e impulsividade. Ainda, de acordo
com o que consta no DSM IV, ao se avaliar o sujeito deve-se verificar se nele está
presente pelo menos seis dos seguintes sintomas de desatenção ou de
hiperatividade-impulsividade em no mínimo dois ambientes distintos (Tabelas 1 e 2).
Tabela 1: Sintomas de desatenção
a) Frequentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalhado e outras.b) Com frequência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas.c) Com frequência parece não escutar quando lhe dirigem a palavra.d) Com frequência não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais (não devido a comportamento de oposição ou incapacidade de compreender instruções).e) Com frequência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades.f) Com frequência evita, antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa).g) Com frequência perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (por exemplo, brinquedos, tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais).h) é facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa.
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i) Com frequência apresenta esquecimento em atividades diárias. Fonte: Benczik (2000, p. 58)
Tabela 2: Sintomas de hiperatividade-impulsividade
a) Frequentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira.b) Frequentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado.c) Frequentemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isto é inapropriado (em adolescentes e adultos, pode estar limitado a sensações subjetivas de inquietação).d) Com frequência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de laser.e) Está frequentemente “a mil” ou muitas vezes age como se estivesse “a todo vapor”.f) Frequentemente fala em demasia.g) Frequentemente dá respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas.h) Com frequência tem dificuldade para aguardar a sua vez.i) Frequentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros (por exemplo, intromete-se em conversas ou brincadeiras). Fonte: Benczik (2000, p. 58 e 59)
Os sintomas podem estar presentes na criança da seguinte forma (ROHDE,
1999):
- Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade do Tipo combinado:
quando apresenta sintomas dos dois grupos, sendo este tipo o mais frequente
diagnosticado em consultórios, talvez pelo fato de que é o que traz mais prejuízo na
vida social, escolar e familiar;
- Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade do Tipo
Predominantemente Desatento: é aquele em que existe uma predominância dos
sintomas de desatenção
- Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade do Tipo
Predominantemente Hiperativo/Impulsivo: é o que apresenta predominância dos
sintomas de hiperativo/compulsivo.
De acordo com Rohde (1999), os sintomas costumam se apresentar mais
na criança quando da sua entrada na vida escolar, uma vez que neste período
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existe a necessidade de se seguir regras, o que para a criança com TDAH torna-se
difícil, pois para que ocorra o aprendizado é preciso – entre outros aspectos – focar
sua atenção.
Um aspecto que chama atenção nos estudos a respeito do TDAH é a
relação cérebro-comportamento. Várias investigações afirmam que o sujeito possui
uma disfunção na região orbital frontal e, conforme Rodhe (1999, p. 55), “essa
região é situada na parte da frente do cérebro, logo atrás da testa. É uma das
regiões mais desenvolvidas em seres humanos comparativamente com outras
espécies”. Para Goldeberg (2002, p. 22), “os lobos frontais são para o cérebro o que
um maestro é para uma orquestra, um general para um exército, o diretor-executivo
de uma corporação. Eles coordenam e orientam outras estruturas neurais em ação
combinada”.
Pesquisas realizadas por Barkley (2002) levantam a questão de que o
TDAH possui um déficit no comportamento inibitório e como a área pré-frontal
exerce a função de inibidor do comportamento humano, é justificado então a
impulsividade, a falta de atenção – ou melhor, a dificuldade de manter a atenção
focalizada por longos períodos – e a hiperatividade.
Sabe-se, conforme Rohde e Benczik (1999), que as regiões do cérebro não
funcionam separadamente e sim todas estão interligadas, podendo outras regiões
que se conectem com a região frontal não estar funcionando de maneira adequada
causando assim sintomas de TDAH.
Para Benczik (2000), na região do lobo frontal, o que parece não funcionar
de maneira satisfatória no sujeito TDAH é a passagem de informações entre
neurônios pelos neurotransmissores – substâncias químicas responsáveis por levar
essas informações. Os neurotransmissores que estariam deficientes seriam a
dopamina e noradrenalina.
O sistema dopaminérgico no córtex pré-frontal atua na memória,
planejamento, comportamento, pensamento abstrato, sensação de satisfação,
prazer e controle emocional; já o sistema noradrenérgico está relacionado com
atenção seletiva e inibição comportamental (COUTO, 2010)
Nesta direção, Saboya (2007) pontua que além dos déficits atencionais e a
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impulsividade, o indivíduo que possui TDAH pode ter sua função executiva alterada
devido a um comprometimento na região pré-frontal.
As funções executivas, de acordo com Capovilla (2007), têm grande
importância nas ações do dia-a-dia, pois elas contribuem com que o indivíduo inicie,
persista e complete tarefas a ele delegadas. Quando existe uma disfunção
executiva o sujeito tem dificuldade na seleção de informações, integração dessas
informações com outras já memorizadas, planejamento, monitoramento das ideias
de modo sequencial e lógico. Para Saboya,
As funções executivas podem ser divididas entre quatro subconjuntos: (1) volição; (2) planejamento; (3) ação intencional; (4) desempenho efetivo. A volição é a capacidade de estabelecer objetivos. Para essa formulação intencional, é necessária a motivação e consciência de si e do ambiente. O planejamento é a capacidade de organizar e prever ações para atingir um objetivo. A habilidade de planejar requer capacidade para tomar decisões, desenvolver estratégias, estabelecer prioridades e controlar impulsos. A ação intencional é a efetivação de um objetivo e planejamento, gerando uma ação produtiva. Para isso, é necessário que se inicie, mantenha, modifique ou interrompa um conjunto complexo de ações e atitudes integrada e organizadamente. O desempenho efetivo é a capacidade automonitorar, auto dirigir e auto-regular a intensidade, o ritmo e outros aspectos qualitativos do comportamento e da ação, ou seja é um controle funcional. (SABOYA, 2007, p. 31).
Com essa diretriz, O TDAH seria uma síndrome disexecutiva que pode
apresentar uma variedade de manifestações. Entre elas, segundo Saboya (2007, p.
32), frequentemente ocorre:
(1) procrastinação, ou seja, o indivíduo tende a postergar tarefa, principalmente quando envolvem maior necessidade de atenção ou levam a uma recompensa não a curto, mas a longo prazo;
(2) alternância de tarefas, deixando-as incompletas, em função de uma baixa capacidade de persistir em uma tarefa e uma alta necessidade de “variar”;
(3) labilidade motivacional, apresentando interesse fugaz com necessidade de buscar novidades (o que se relaciona diretamente com a alternância de tarefa, descrita no item anterior);
(4) dificuldade de focalização e sustentação da atenção, revelando maior sensibilidade à distração, com dificuldade para filtrar estímulos internos e
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eternos. Necessita de lembretes para manter uma tarefa habitual apresentando inconstância e abandono precoce de tarefa;
(5) dificuldades de organização e hierarquização, apresentando problemas para estabelecer prioridades e distinguir importâncias;
(6) menor velocidade de processamento;(7) manejo deficiente da frustração e da modulação do afeto, apresentando baixa
tolerância e limiar para frustração com baixa auto-estima, hipersensibilidade a críticas e irritabilidade;
(8) deficiência de memória de trabalho com dificuldade de manipular informações verbais e não-verbais em curto espaço de tempo, e seguimento de sequências;
(9) deficiência de memória prospectiva, gerando esquecimentos de responsabilidades e objetivos estipulados
Barkley (2002) acredita que o TDAH se caracteriza por uma falta no
comportamento inibitório o que causaria a hiperatividade e a impulsividade, levando
a criança a não se ater em uma mesma atividade quando ao seu redor possui
elementos que a levem a distração.
É importante mencionar que o Transtorno só pode ser diagnosticado por
uma equipe de profissionais da saúde, mas é apenas o médico que pode indicar o
tratamento através do uso de medicamentos. Segundo Benczik (2000, p. 96) “[...]
cerca de 75 % dos casos com TDAH apresentam melhoras significativas com o uso
de alguma medicação”. A partir desta forma de entendimento do Transtorno, ainda
que o diagnóstico deva ser realizado por equipe multidisciplinar, a forma mais usual
de tratamento é por meio de medicamento.
Existem três classes de medicamentos usados no tratamento do TDAH: os
estimulantes, os antidepressivos tricíclicos, e a clonidina. O estimulante mais usado
é o metilfenidato (Ritalina), que tem seu efeito com duração de tempo que varia de 3
a 5 horas; Ritalina LA e Concerta são medicamentos de liberação prolongada no
organismo (BENCZIK, 2000).
A ação do medicamento leva a uma atenção sustentada e dirigida e ao
controle inibitório, criando assim uma resposta social satisfatória. Os estimulantes
levam ao aumento da atividade cerebral responsável pela inibição comportamental e
manutenção da atenção. Conforme Benczik,
8
Os estimulantes funcionam primeiramente aumentando a ação de certas substâncias químicas que ocorrem naturalmente no cérebro, mas se concentram fortemente na região frontal, onde se acredita estejam as principais alterações responsáveis pelo TDAH. (BENCZIK, 2000, p. 97).
A Ritalina, ainda segundo Benczik (2000), é geralmente administrada antes
da criança ir para a escola, para que seu efeito perdure durante aquele período em
que ela precisa estar mais tranquila e atenta para realizar as atividades escolares.
Entre os efeitos colaterais que podem aparecer é a dificuldade de dormir e
pode causar (no início do tratamento) cefaleia, náuseas, vômitos e tontura. Um fato
observado no uso da Ritalina é que o crescimento da criança fica mais lento3.
É importante destacar que, conforme discorre Mattos (2005), é muito
comum o TDAH estar associado a outros problemas como de comportamento,
ansiedade ou depressão. Dá-se o nome de comorbidade à ocorrência de dois ou
mais distúrbios no mesmo indivíduo.
Embora não seja regra, é comum que o TDAH apresente comorbidade com
transtornos de aprendizagem como a Dislexia (transtorno de leitura), a Discalculia
(transtorno da realização de cálculos), a Disgrafia (transtorno da expressão escrita),
a Disortografia (dificuldade na aprendizagem da escrita). Podem também aparecer
problemas na linguagem comprometendo a comunicação verbal e escrita.
De acordo com Mattos (2005) outras comorbidades possíveis são:
a) Transtorno Desafiante de Oposição (TOD) – o sujeito se apresenta como
desafiador e opositor a figuras que representam autoridade como por exemplo
pais e professores;
b) Transtorno de Conduta (TC) – caracteriza-se pelo desrespeito aos direitos do
próximo (mentiras, roubos, crueldade);
c) Transtorno de Humor (TH) – manifesta-se através de depressão (tristeza,
irritação, perda de interesse por atividades habitualmente prazerosas, fadiga 3 A pediatra Maria Aparecida Moysés (2011) questiona o uso de remédios para focar a atenção. Ela alerta que o efeito acalmar é sinal de toxidade, pois segundo ela as reações adversas são muitas, por exemplo, insônia, cefaleia, alucinações, psicose, suicídio e o principal efeito chamado Zumbi Like, além de causar arritmia, taquicardia, hipertensão e parada cardíaca. Interfere ainda no sistema endócrino, na secreção dos hormônios de crescimento e dos sexuais. Para ela, o uso do medicamento se vale do mesmo mecanismo de ação e leva as mesmas reações adversas da cocaína e das anfetaminas.
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fácil, insônia) e de transtorno bipolar (alterna momentos de euforia e
exaltação com momentos de depressão);
d) Transtorno de Ansiedade – caracteriza-se pela ocorrência de medos ou
preocupações excessivas que atrapalham o convívio escolar, social e familiar;
e) Transtorno de tiques;
f) Abuso de substâncias psicoativas e álcool.
Até o momento apresentamos o Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade como algo inato, natural, que faz parte da constituição do sujeito,
oriunda de causas genéticas e com grandes possibilidades de estar associado a
outros transtornos, sendo o uso de medicamentos a forma mais eficaz de enfrentar
o transtorno. No próximo item discorreremos, a partir dos fundamentos da
Psicologia Histórico-Cultural, sobre a desnaturalização desse Transtorno e o papel
da escola para o desenvolvimento da atenção e do comportamento voluntários.
2.2 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL PARA O
ENTENDIMENTO DO TDAH
Na perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural, fundamentada no
materialismo histórico-dialético, as relações humanas são apreendidas
historicamente, ou seja, como produto da forma como os homens produzem e
reproduzem a vida. Nesta perspectiva, o psiquismo humano é compreendido
enquanto produto das relações sociais mais amplas (SILVA, FACCI, EIDT, TULESKI,
BARROCO, 2008). Segundo Facci e Barroco,
[…] os fenômenos psíquicos, a psique humana, sendo social por sua origem, não são dados de uma vez para sempre; existe um desenvolvimento histórico desses fenômenos, uma relação de dependência essencial dos mesmos com respeito à vida e à atividade social. (SHUARE, 1990, apud FACCI e BARROCO, 2004, p. 31)
10
A criança ao nascer é um ser biológico dotado de herança genética e para
humanizar-se necessita desenvolver processos psíquicos e assumir características
do gênero humano. Para que isso ocorra deve apropriar-se da cultura material e
intelectual produzida historicamente, o que é possível somente por meio das
relações sociais estabelecidas (FACCI e BARROCO, 2004). Vigotski (1896-1934),
fundador desta escola psicológica, juntamente com seus colaboradores Alexander
R. Luria (1902-1977) e Alexei N. Leontiev (1904-1979), afirmaram o caráter
mediatizado da psique.
A psique humana pode transformar-se, não é algo que está pronto e
acabado, depende diretamente da qualidade das interações com outros homens
através de instrumentos materiais e psicológicos. De acordo com Facci e Barroco,
Para tal interação, que não é simples relação interpessoal, os homens utilizam-se de mediadores, permitindo-lhes registrar, manter e transformar as suas histórias pessoais e a própria história da humanidade. Ter contato com o que já foi conquistado individual e coletivamente leva os homens ao processo que Leontiev (1978) denominou de humanização.A nossa humanização implica deixar de sermos apenas espécie biológica e assumirmos características culturais, permitindo-nos, por meio da formação dos processos psicológicos superiores diferenciarmo-nos dos animais (FACCI, BARROCO, 2004, p. 31).
As funções psicológicas superiores – tipicamente humanas, tais como
atenção voluntária, memória, abstração, etc – conquanto tenham base biológica,
são, essencialmente, resultado das mediações propiciadas pelos instrumentos que
se interpõem entre os sujeitos e o objeto da sua atividade (FACCI, BARROCO,
2004). Cabe salientar, a partir dos pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural,
que o desenvolvimento das funções psicológicas superiores demanda compreender
a apropriação de instrumentos psicológicos que, segundo Vigotski (1999, p. 93-94),
são “[...] criações artificiais; estruturalmente, são dispositivos sociais e não
orgânicos ou individuais; destinam-se ao domínio dos processos próprios ou
alheios”.
A linguagem é considerada o instrumento psicológico essencial para o
11
desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Para Luria (1991), o
desenvolvimento da linguagem permite a generalização da percepção; a
voluntariedade da atenção; a evocação e organização conscientes da memória; o
desenvolvimento da criação e da imaginação; a abstração e generalização do
pensamento.
Sob essa diretriz, segundo Meira (2007, p. 41), “[...] o pensamento é
culturalmente mediado e a linguagem é o principal meio desta mediação; os
processos intelectuais e os afetivos são inseparáveis”. A autora destaca, ainda, o
papel da linguagem na ontogênese:
A capacitação especificamente humana para a linguagem habilita as crianças a providenciarem instrumentos auxiliares na solução de tarefas difíceis, a superarem a ação impulsiva, a planejarem a solução para um problema antes de sua execução e a controlarem seu próprio comportamento. Signos e palavras constituem para as crianças, primeiro e acima de tudo, um meio de contato social com outras pessoas. As funções cognitivas e comunicativas da linguagem tornam-se então, a base de uma forma nova e superior de atividade nas crianças, distinguindo-se dos animais. (VIGOTSKI, 1984, apud MEIRA, 2007, P. 46)
Sendo a linguagem associada ao pensamento, é ela quem possibilita a
criança seu autocontrole, aonde vai deixando de atender a voz do adulto para
controlar seu próprio pensamento. Eidt (2004, p. 63), ao citar Tuleski (2000), pontua
que “[...] a superação do comportamento primitivo, de base biológica, depende da
organização social”.
A relação da criança com seu contexto cultural, social e histórico é que
determinará a forma como ela poderá perceber, representar, explicar e intervir sobre
o meio em que vive e perceber seus sentimentos em relação a si, ao outro e ao
mundo. Eidt, ao fundamentar-se em Vigotski, explica que
[...] os fatores biológicos são preponderantes no início da vida da criança e são responsáveis pelas funções psicológicas elementares – reações automáticas e ações reflexas. Já as funções psicológicas superiores são
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ações conscientemente controladas. Nesta condição estão a memória e atenção voluntárias, a abstração, a aquisição de instrumentos, a fala e o pensamento abstrato. As funções psicológicas superiores terão condições de se desenvolver mediante a aquisição de conhecimentos transmitidos historicamente, os quais, necessariamente, para serem apropriados pela criança, precisam da mediação dos indivíduos mais desenvolvidos culturalmente e do intermédio do uso de signos. (EIDT, 2004, p.61)
Desse modo, para a Psicologia Histórico-Cultural, o desenvolvimento da
criança segue uma direção que vai do sentido interpsicológico ao intrapsicológico,
ou seja, ao estabelecer relações com outros membros mais desenvolvidos da sua
cultura ela apropria-se das objetivações humanas (TULESKI, EIDT, 2007)
Para Vigotski, o comportamento deve ser estudado no indivíduo de forma
integral e complexa, levando em consideração os processos psíquicos e sua
constituição orgânica. Segundo Eidt,
Se o desenvolvimento do psiquismo humano depende desta apropriação cultural para que o homem se humanize, entende-se que os transtornos mentais e de comportamento devam ser pensados à luz das relações estabelecidas nesta sociedade. Somente uma análise que supere a dicotomia indivíduo-sociedade, compreendendo ambos em constante relação dialética, possibilita a apreensão do fenômeno em questão em sua totalidade. (EIDT, 2004, p. 22)
Nesta perspectiva podemos dizer que a atenção voluntária e a regulação do
comportamento, vistos como o maior problema em alunos diagnosticados com
TDAH, são desenvolvidos por meio das relações estabelecidas, “[...] devendo-se
considerar a qualidade das mediações e os signos e instrumentos culturais a que o
sujeito teve acesso no percurso de seu desenvolvimento.” (LEITE, TULESKI, 2011,
p. 115)
Muitos estudos sobre o Transtorno – que constituem em sua grande maioria
as pesquisas hegemônicas sobre o fenômeno – desconsideram que o processo de
humanização ocorre a partir da inserção da criança em seu meio histórico e cultural
por meio das apropriações das objetivações produzidas historicamente pela
13
humanidade (TULESKI, EIDT, 2007). Tal desconsideração remete a compreensão
do Transtorno pelo viés biológico, natural e espontâneo.
É importante salientar que desde que começaram os estudos de crianças
que não atendiam aos padrões “normais” de conduta na escola e em casa, no final
do século XIX, houve um aumento estrondoso de estudos e artigos que falam sobre
o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. Contudo, esta literatura em sua
grande maioria apresenta o transtorno como algo individualizado e orgânico, fato
que determina a crescente venda de medicamentos para tratamento do Transtorno,
conforme denunciam Eidt e Tuleski
A venda de ritalina triplicou nos últimos cinco anos no Brasil: em 2002, eram 356.925 caixas; em 2003, 547.779; em 2004, 701.303; em 2005, 886.958; e em 2006, 1.042.480 (Segatto, Padilha, Frutuoso, 2006, p.99). Nos Estados Unidos, segundo Garber (2006), mais de 9% das crianças são medicadas devido ao Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH. Na Argentina, um documento enviado ao governo por especialistas alerta para a gravidade de estigmatizar e homogeneizar uma grande quantidade de crianças distintas sob o mesmo diagnóstico: transtorno por déficit de atenção. Estima-se que aproximadamente 200 mil estudantes argentinos vão à escola medicados, fato que preocupa o Ministério da Saúde e Educação do país. De acordo com Dueñas (apud Isaías, 2007), a droga mais utilizada ali é a ritalina (EIDT e TULESKI, 2010, p. 122).
Quanto a administração do medicamento o que se tem observado é uma
melhora, segundo Benczik (2000), de 75% nos sintomas de déficit de inibição do
comportamento. No entanto, os mesmos não têm apresentado melhora significativa
no rendimento escolar, ou seja, no aprendizado o medicamento tem pouco efeito, e
quanto ao seu convívio social também não nota-se significativas mudanças (LEITE,
2010).
Conforme apontamos anteriormente, nos casos em que é observado a
comorbidade é necessário muitas vezes a administração conjunta de dois ou mais
medicamentos (MATTOS, 2005), com isso a criança fica mais exposta a efeitos
colaterais, e ainda, segundo Leite,
14
Podem criar a ideia de que somente com o uso de medicamentos conseguirá resolver seus problemas “tendo aprendido na infância que um problema – como dificuldade na escola – poder ser resolvido tomando-se uma droga, é provável que uma criança nessas condições possa, anos depois, recorrer a meios químicos para solução de outras dificuldades” (ROSS, 1979, apud LEITE, 2010, p. 105)
Deve-se estar muito atento para não tornar o uso de medicamentos uma
coisa normal, que deva se fazer uso dele quando a criança ou adulto não atende
aos “padrões” de aluno ou de pessoa que a escola ou sociedade esperam.
Conforme Eidt e Tuleski,
A normatização da vida cotidiana tem por corolário a transformação dos 'problemas da vida' em doenças, em distúrbios. Surgem então, os 'distúrbios de comportamento', os 'distúrbios de aprendizagem', a 'doença do pânico', apenas para citarmos alguns entre os mais conhecidos. O que escapa as normas, o que não vai bem, o que não funciona como deveria... tudo é transformando em doença, em um problema biológico, individual. (COLLARES & MOYSÉS,1996, apud EIDT e TULESKI, 2007, p. 230)
Para avaliar uma criança com possível transtorno é essencial compreendê-
la
[...] em seus diferentes microssistemas (família, escola e comunidade), e, por meio da história de vida de cada criança, entender as situações de conflito, as condições de escolarização, as características individuais, assim como as relações intrafamiliares, para que haja uma aproximação da problemática explicitada na queixa de hiperatividade. A proposta é a de se entender a criança e suas relações e não a hiperatividade em si, já que esta, enquanto um comportamento seria apenas uma expressão destas relações. (SUCUPIRA 1985, apud EIDT, 2004, p. 92)
A respeito da avaliação e diagnóstico do Transtorno, Eidt (2004) chama
atenção para o fato de que a grande maioria das famílias – frequentemente, devido
a condições financeiras desfavoráveis –, levam seus filhos para serem atendimentos
15
pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Devido à excessiva demanda de
atendimentos e poucos profissionais disponíveis, os diagnósticos têm sido feitos de
forma apressada e quando a criança se enquadra nos “sintomas” do Transtorno é,
usualmente, medicada com psicoestimulantes (EIDT, 2004).
Diante deste contexto, questionamos o papel da escola em relação ao
enfrentamento do TDAH, ao se entender que a atenção e o controle voluntário do
comportamento não se limitam às determinações biológicas. É com essa diretriz que
desenvolveremos o próximo item.
2.3 PAPEL DA ESCOLA NO DESENVOLVIMENTO DA ATENÇÃO A PARTIR DOS
PRESSUPOSTOS DA PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL
A escola tem papel de extrema importância na vida da criança, posto que
sua principal finalidade é a aprendizagem dos conhecimentos historicamente
produzidos visando o seu desenvolvimento intelectual.
Segundo Facci e Barroco (2004), o professor é quem deve transmitir o
conhecimento sistematizado sendo o mediador entre os conteúdos já elaborados
pelos homens e os alunos, fazendo movimentar suas funções psicológicas
superiores. Neste sentido, na escola, a aprendizagem deve ser uma fonte de
desenvolvimento de conceitos científicos. Segundo Tuleski e Eidt (2007, p. 235), os
conceitos científicos “[...] se caracterizam por um nível mais alto do pensamento em
relação aos conceitos cotidianos e contribuem para o desenvolvimento das funções
psicológicas superiores, permitindo que o aluno tenha acesso à realidade de forma
mais elaborada”.
Quando a criança entra na escola, possui conhecimentos espontâneos, mas
ao apropriar-se da leitura, escrita e cálculo, o desenvolvimento das funções
psicológicas superiores é movimentado. A esse respeito Silva (2011) esclarece que
16
[...] o desenvolvimento dos conceitos científicos ocorre no interior do processo educativo sistematizado e a apropriação desta forma de conhecimento assegura a emancipação do pensamento pautado na experiência prática, ascendendo a formas mais complexas de análise do real, ou seja, a formas mais abstratas e generalizadas do pensamento. Ao explicitar a importância dos conceitos científicos no reequipamento das funções psíquicas, Vigotski (2001a) enfatiza sua estreita relação com os conhecimentos espontâneos (cotidianos), isto é, com os conceitos que se originam da experiência direta, formados na esfera do concreto. Facci (2004a, p. 223) explica que os conceitos espontâneos se caracterizam ―[...] pela ausência de uma percepção consciente de suas relações, são orientados pelas semelhanças concretas e por generalizações isoladas (SILVA, 2011, p. 291).
Sob esta perspectiva, o processo de ensino-aprendizagem deve ter uma
intencionalidade, deve ser organizado de maneira a promover a efetiva
aprendizagem dos alunos. É fundamental, portanto, o entendimento que o aprender
não é um processo natural.
O professor ao organizar sua aula deve primar pelos conteúdos científicos
elaborados que proporcione ao aluno a elevação a um novo grau de sistematicidade
dos conceitos cotidianos. Sendo assim, a sua prática pedagógica deve ser
planejada de forma consciente para que possa desenvolver no aluno a capacidade
de abstrair, memorizar, planejar e organizar seu pensamento através dos conteúdos,
possibilitando assim reequipar suas funções psicológicas. Conforme assinala Facci,
A escola tem como função, como enfatiza Saviani (2003), socializar os conteúdos já elaborados pela humanidade, de forma que os alunos possam participar do processo de humanização, isto é, levar o aluno a se apropriar dos elementos que os indivíduos da espécie humana necessitam assimilar para se tornarem humanos. Para tanto, a educação tem que partir, sempre, do saber objetivo, produzido historicamente, transformando-o em conteúdos curriculares. (FACCI, 2007, p. 146)
Desta forma o professor deve compreender a educação e o processo
ensino-aprendizagem como fundamentais para que o aluno se aproprie da cultura
historicamente produzida e desenvolva suas potencialidades ao máximo com vistas
sempre a sua humanização. Segundo Tuleski e Eidt (2007, p. 534), “O ser humano,
17
para ser aquilo que é, depende daquilo que aprende, do que conhece e utiliza, a
cultura acumulada, e não de uma essência da qual os homens seriam dotados
desde o nascimento”.
Para que o aluno possa assimilar os conteúdos que lhe são apresentados é
indispensável que ele domine o seu comportamento e focalize sua atenção e isso
não se dá de forma espontânea, mas através da atuação do professor. Para Eidt,
[...] já desde os primeiros dias de aprendizagem escolar a criança deve controlar sua conduta externa: colocar-se devidamente em fila, estar sentado corretamente à carteira, subordinar-se a determinadas normas de comportamento nos recreios. Tudo isso supõe a capacidade para conter suas reações motoras impulsivas, controlar sua conduta, dirigir seus próprios movimentos. É sabido que para uma criança de 7 anos não sempre, nem muito menos, é fácil cumprir com essas solicitações. Também se sabe que essas capacidades se educam e não se formam por si mesmas. É indispensável, em consequência, educá-las corretamente na criança pré-escolar a fim de prepará-la também nesse aspecto para a escola (LEONTIEV, 1987, p. 64, apud EIDT, s/p).
Uma das grandes queixa a respeito dos alunos diagnosticados com TDAH é
não prestar atenção ou não conseguir ficar por um tempo maior com a atenção
focada no que deva fazer. A esse respeito Eidt explica que “[...] atenção é o fator
responsável pela escolha dos elementos necessários para a atividade mental, ou
processo que mantém uma severa vigilância sobre o curso preciso e organizado da
atividade mental” (LURIA, 1984, apud EIDT, 2004, p. 70).
A atenção é indispensável para que o estudante tenha êxito, pois é através
desta função que compreende o que o professor fala e explica, e também para fixar
os conteúdos estudados.
Para que a atenção voluntária seja desenvolvida é necessário a princípio
que haja um chamariz que leve o aluno a interessar-se por aquilo que devemos
ensinar, mas, num segundo momento, deve-se direcionar o ensino de forma que ele
compreenda que tudo o que está sendo trabalhado naquele momento tem uma
importância histórica e social para sua vida.(LEITE, 2010)
A atenção voluntária não se desenvolve como passe de mágica. Para
18
tornar-se voluntária, necessita ser desenvolvida na criança durante suas
interações com pessoas que fazem parte de seu convívio diário. De acordo com
Leite,
Smirnov e Gonobolin (1960) relatam a importância das exigências do professor para o desenvolvimento da atenção voluntária. Para explicar essa ideia, utilizam-se do exposto por Ushinski quando este defende que o ensino não pode ser divertido o tempo todo, certamente, algumas coisas não serão prazerosas para a criança. Se a criança aprende a fazer somente o que lhe é agradável, não será capaz de cumprir obrigações (ao longo da vida).(LEITE, 2010, p. 160).
A criança ao adentrar na escola necessita da mediação do professor que
alavanque a apropriação dos conceitos científicos e dos instrumentos psicológicos
para poder progredir na regulação de seu comportamento e, consequentemente, no
desenvolvimento de sua atenção, bem como das demais funções psicológicas. Eidt
esclarece que
Vygotsky, ao tratar do ensino, evidencia a importância do “bom ensino”, refere-se àquele que se “adianta ao desenvolvimento”, opondo-se a qualquer ensino. Disto pode-se concluir que não basta ao indivíduo frequentar a escola ou ter acesso a conceitos científicos para que seus processos internos de desenvolvimento sejam acionados; é necessário ter acesso a uma situação de ensino adequada, na qual sua função como ferramenta para o desenvolvimento das operações mentais possa ser explorada. Nesta perspectiva, a apropriação dos conceitos científicos não se limita à definição e memorização (EIDT, 2004, p. 66, grifo nosso).
No entanto, Eidt (2004, p. 41), a partir dos pressupostos de Saviani,
esclarece que, na atualidade, há “[...] o esvaziamento dos conteúdos escolares, a
desvalorização do professor e a perda da função da escola – que é a de transmitir
os saberes acumulados pela humanidade para as novas gerações, garantindo
assim sua humanização”.
Segundo os pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural, o homem deve
19
ser compreendido como um produto do desenvolvimento histórico da sociedade,
sendo que ao mesmo tempo em que a transforma por ela é transformado. Sua
personalidade, comportamentos e caráter estão profundamente ligados ao momento
histórico em que vive e nas relações históricas e sociais do qual faz parte (LEITE,
TULESKI, 2011).
Logo, ao serem nulificados estes pressupostos, problemas de
comportamentos são entendidos como decorrentes de problemas orgânicos ou
naturais do indivíduo. Neste contexto, corroboramos com Tuleski e Eidt
Em nosso entender, somente uma teoria como a Psicologia Histórico-Cultural, que compreende o homem não somente como mais um animal na escala evolutiva biológica, mas sim, como um ser capaz de superar os limites dados pelo seu organismo através do desenvolvimento de instrumentos externos que modificam suas condições de vida e de instrumentos psicológicos (signos) que lhe permitem controlar seu próprio comportamento, é capaz de auxiliar na crítica e superação de algumas vertentes explicativas que servem muito mais à manutenção da atual sociedade excludente do que à sua transformação. (TULESKI E EIDT, 2007, P. 539)
É preocupante a forma como crianças que não se enquadram em modelos
de filhos/alunos “padrão” têm sido diagnosticadas com TDAH e, por conseguinte,
medicados para a normatização dos comportamentos. No entanto, é preciso
considerar que
Se as crianças diagnosticadas com Transtorno, em tese, têm problemas de atenção e de controle da conduta, e como estas últimas são consideradas funções psicológicas superiores – formadas socialmente -, cabe então questionar se o Transtorno não está antes relacionado a condutas socialmente existentes e apropriadas pelas crianças em seu desenvolvimento, em detrimento de problemas orgânicos propriamente ditos. (LEITE, 2010, p. 141)
20
2.4 DESCRIÇÃO DA INTERVENÇÃO
Com o intuito de propiciar aos profissionais que atuam no contexto escolar
conhecimentos teóricos sobre o TDAH, entramos em contato com a direção do
colégio em que a pesquisadora trabalha para verificar a possibilidade de encontros
semanais. Ante a explicação da proposta, foi nos oportunizado um momento em
uma das reuniões pedagógicas para a apresentação do projeto de implementação e
para convidar os profissionais a comporem o grupo de estudos que seria oferecido
semanalmente nas dependências da colégio4.
Dos professores presentes nesta reunião, 8 (oito) participaram do grupo,
realizado no período compreendido entre o final do horário de aula vespertino e
início do noturno, entre os meses de setembro a novembro.
Metodologicamente, os encontros foram divididos em quatro momentos:
O primeiro momento foi realizado em quatro encontros onde foram
estudados a definição, prevalência, características, etiologia, evolução e tratamento
do TDAH. Para tanto, foram utilizados vídeos e a revisão bibliográfica sobre o
entendimento hegemônico do Transtorno.
O segundo momento foi composto por três encontros, nos quais foram
apresentados vídeos e textos que enfocaram a desnaturalização do Transtorno e o
aumento do uso de medicamentos para o tratamento do TDAH no Brasil nos últimos
anos.
No terceiro momento, realizado em quatro encontros, foram utilizados textos
para discussão e análise do papel da escola no desenvolvimento da atenção a partir
dos pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural.
No último momento, com três encontros, foram estudados textos para dar
subsídios aos professores na busca de enfrentamentos para trabalhar com alunos
diagnosticados com TDAH.
4 Trata-se de colégio estadual, situado em um bairro da região norte da cidade de Curitiba que atende alunos do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, com um grande número de turmas por turno. Acolhe alunos vindos de outros bairros e de cidades da região metropolitana, o que torna sua clientela bem diversificada.
21
É importante destacar que nos encontros oportunizamos aos participantes
tirarem dúvidas, opinar ou fazer comentários sobre o tema que estava sendo
estudado.
Concomitantemente ao grupo de estudos presenciais, oferecemos a
professores da Rede Estadual de Ensino um grupo de estudos virtual como forma
de Capacitação, o qual foi denominado “Grupo de Trabalho em Rede” (GTR). Nele
contamos com a participação de treze professores de diferentes cidades do Estado
e oportunizamos o Projeto de Estudo, o Material Didático e os mesmos textos
utilizados com o grupo presencial.
2.5 ANÁLISE
A partir da discussão dos fundamentos acerca do Transtorno e da descrição
da intervenção, analisaremos, nesse momento, a concepção inicial dos professores
sobre o Transtorno, as mudanças desta concepção na medida em que os encontros
foram se realizando e, finalmente, algumas sugestões de como trabalhar com os
alunos diagnosticados com TDAH, em sala de aula. Consideramos tal análise
fundamental, pois a finalidade deste trabalho é entender o TDAH para além de um
conceito hegemônico e também instrumentalizar teoricamente os professores para
buscarem práticas pedagógicas que auxiliem no desenvolvimento da atenção e do
comportamento voluntários.
Nos encontros destinados ao primeiro momento, após a apresentação do
que a maioria da bibliografia explana sobre o TDAH, percebemos muito presente no
discurso, tanto dos professores presenciais como também dos participantes do
Grupo de Trabalho em Rede (GTR), uma forte tendência ao entendimento do
Transtorno através do viés biológico.
Verificamos a prevalência desta concepção ao manifestarem que os
comportamentos hiperativos ou a dificuldade de focar a atenção são problemas do
aluno e para poderem realizar suas atividades escolares precisam de tratamento,
22
dentre os quais o mais citado foi o uso de medicamentos. Segundo os docentes,
sem um tratamento deste tipo o aluno não consegue ter sucesso escolar.
Tanto entre professores presenciais quanto entre os professores online
tivemos exemplos de casos de alunos diagnosticados com TDAH em que somente
por meio do uso dos medicamentos obtiveram-se avanços nas atividades escolares.
No entanto, ao assistirmos alguns vídeos e lermos textos e reportagens
sobre o grande uso dos medicamentos por crianças diagnosticadas, muitas vezes
erroneamente, com o Transtorno e sobre os efeitos adversos no organismo a curto e
longo prazo, todos ficaram muito chocados com os malefícios do uso dos
medicamentos pelas crianças. Começaram, então, a questionar até que ponto deve-
se cobrar um preço tão grande da criança pelo seu comportamento impulsivo e
desatento.
Em nenhum instante, neste primeiro momento, foi apresentada pelos
participantes a importância de uma análise mais ampla de todos os fatores que
possam estar envolvidos na vida particular e escolar deste aluno para que, assim,
possa apresentar desatenção ou comportamentos hiperativos.
Após este primeiro momento em que estudamos a forma hegemônica de
definição do transtorno procuramos levar os professores a refletir e compreender
que o processo de ensino-aprendizagem acontece em um contexto que extrapola os
muros escolares.
Buscamos refletir qual a importância do papel da família no
desenvolvimento desta criança e como esta família tem sido influenciada pelo atual
contexto social, em que o individualismo está cada vez mais presente e como ela
tem conseguido enfrentar desafios como competitividade no mercado de trabalho, o
medo do desemprego e a loucura desenfreada do consumismo.
Também procuramos refletir sobre o papel da escola que, ante tal contexto,
é instituída a lógica de procura de encontrar culpados para o fracasso escolar,
acabando por culpabilizar o aluno com a existência de um possível transtorno, não
fazendo uma análise mais profunda sobre o seu papel no desenvolvimento das
funções psicológicas superiores através do ensino dos conteúdos escolares.
Questionamos como podemos trabalhar com estes alunos procurando desenvolver
23
a atenção para que consigam adquirir os esses conteúdos.
Para este momento utilizamos bibliografias que pudessem nos fazer
compreender o desenvolvimento do ser humano por meio de uma outra visão e isso
só foi possível utilizando os pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural.
Para a Psicologia Histórico-Cultural as funções psicológicas superiores,
como por exemplo, memória, atenção e pensamento são desenvolvidas e
aprendidas através da aquisição dos conhecimentos transmitidos historicamente e
que para que isso se concretize é necessário a mediação de pessoas culturalmente
mais preparadas.
Como já citado acima, uma das maiores queixas dos professores é que o
aluno não presta atenção, não fica quieto para realizar as atividades propostas.
Com isso, procuramos reforçar aos professores que o aluno só aprende quando
consegue focar sua atenção ao objeto estudado, cujo foco necessita ser aprendido
e desenvolvido.
Com a leitura e discussões dos textos buscou-se apresentar aos
professores a importância dos seus conteúdos escolares ministrados no dia a dia no
interior da sala de aula, que um ensino com intencionalidade e organização pode
promover novas estruturas mentais para o desenvolvimento de seus alunos.
Conforme Tuleski e Eidt,
Vale frisar que somente quando se busca compreender o desenvolvimento humano a partir de uma perspectiva histórica é possível compreender a importância da mediação do adulto desde a formação e desenvolvimento dos conceitos espontâneos, adquiridos assistematicamente em seu meio familiar e social e, posteriormente, na aquisição sistematizada dos conceitos científicos no interior da escola mediatizada pelos educadores, como o fator que conduz a criança, gradativamente, à regulagem de seu próprio comportamento e à formação da consciência, o que é caracterizado por Vigotski (1991) como processo de humanização. (TULESKI E EIDT, 2007, p. 535)
Pudemos perceber que através dos estudos propostos, os professores
passaram a entender a importância que os conteúdos por eles trabalhados no dia a
24
dia escolar tem para auxiliar no desenvolvimento das funções psicológicas
superiores, em especial a atenção e comportamento voluntários, dos alunos. Ainda
segundo Tuleski e Eidt
Leontiev (1978) expressa a importância da aquisição da leitura, escrita, cálculo e dos fundamentos das ciências pela criança, na medida em que tais processo permitem a apropriação de uma vasta experiência humano-social. (TULESKI E EIDT, 2007, P. 532)
A grande dificuldade apresentada pelos professores no trabalho docente é
de encontrar metodologias para serem utilizadas em sala de aula que propiciem o
desenvolvimento da atenção e do comportamento voluntários e isso se deve a
vários fatores. Muitos estudos nessa área responsabilizam o aluno pelo seu
fracasso escolar, pois parte-se do princípio de que ele possui um problema que é de
origem orgânica e genética, sendo assim apresenta o uso do medicamento como
única alternativa para que o aluno com TDAH possa focar sua atenção, se “acalmar”
e, com isso, ter condições de acompanhar com os outros alunos as atividades
escolares propostas.
Atualmente temos uma nova vertente de pesquisadores que nos
apresentam maneiras de como trabalharmos com estes alunos em sala de aula.
Sob esta perspectiva, Eidt ([20--]) sugere que:
- O ensino deve ser organizado de forma que a criança tenha certeza da
conduta esperada em cada situação, por meio da explicação de regras claras, que
posteriormente serão internalizadas, engendrando mecanismos internos de controle
de conduta ou vontade;
- As instruções devem ser repetidas várias vezes sendo breves e claras,
sempre retomando o que a criança deve fazer ou o que foi combinado, pois a
linguagem é um importante regulador da conduta;
- A metodologia adotada pelo professor deve favorecer a conclusão, pelos
alunos, das atividades propostas não provocando assim neles frustração por não
conseguirem ser capaz de resolver as atividades;
25
- Intensificar as atividades com jogos, pois auxiliam na internalização de
regras;
- Utilizar materiais diferenciados para chamar a atenção do aluno, tomando
o cuidado de não super-estimular o ambiente;
- Aproveitar interesses imediatos, sentimentos e emoções dos alunos;
- Ao iniciar um novo conteúdo, apresentá-lo com entusiasmo, de forma
ordenada e ligá-lo a outros já conhecidos e também com a vida do aluno, estar
sempre afirmando a necessidade do conhecimento para a melhoria da vida humana;
- Chamar a atenção do aluno para o que é essencial;
- Fazer com que o objeto de atenção faça sentido, tenha significado para o
aluno, para que possa compreender melhor sua vida em sociedade;
- Usar contraste entre os estímulos para chamar a atenção involuntária;
Ainda, conforme Eidt ([20--]), os conteúdos escolares não podem ser
ensinados como se existissem independentemente da história de vida social dos
homens. Ressalta, também, que a atenção, como todas as outras funções mentais,
não se desenvolve de um só golpe, mas, sim gradativamente. Daí a necessidade de
dosar, num crescente, as exigências quanto ao tempo e à intensidade da atenção.
O grupo citou algumas questões que acreditam influenciar em sua prática,
dentre elas:
− A falta de preparo dos professores para trabalhar com alunos vistos
como desatentos ou hiperativos, uma vez que na graduação, principalmente nas
licenciaturas, o foco maior refere-se a formação acadêmica específica à área
escolhida, secundarizando o preparo teórico pedagógico referente as questões do
desenvolvimento humano. O acadêmico ao tornar-se professor, quando possível,
acaba por buscar esse conhecimento por si, pois as capacitações institucionais não
oferecem subsídios teórico-práticos que contribuam na prática diária para auxiliá-lo
na busca de formas para trabalhar os conteúdos que promovam o desenvolvimento
das funções psicológicas e superiores dos alunos;
− Desvalorização da profissão e sobrecarga de trabalho, inviabilizando
tempo destinado a estudos e capacitações;
− O grande número de alunos por turma, na qual, cotidianamente, tem
26
alunos com diferentes formas de comportamentos e ritmos de aprendizagem,
exigindo demasiadamente do professor, o qual, na maioria das vezes, não consegue
atendê-los individualmente;
Embora estas limitações sejam corriqueiras no contexto escolar, o presente
trabalho significou um avanço, pois viabilizou aos docentes a compreensão do
Transtorno para além do imediatismo, compreendendo-o em suas múltiplas
determinações e propiciando lidar com tais situações no dia a dia da escola.
Foi entendido que o processo de ensino -aprendizagem promove o
desenvolvimento das funções psicológicas superiores dentre elas a atenção e
comportamento voluntários, conforme Eidt e Tuleski
Consideramos que uma das principais tarefas do educador é a de promover, de forma direta e intencional, o desenvolvimento das funções psicológicas dos alunos, por meio de mediações ricas e consistentes, seja no que se refere ao próprio conteúdo como também na forma de transmiti-lo aos alunos. (EIDT E TULESKI, 2010, p. 25)
Nesse sentido foi importante a compreensão do papel do professor como
mediador, pois o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, dentre elas
a atenção, será potencializada por meio através da organização do trabalho docente
centralizando suas atividades na transmissão dos conhecimentos historicamente
produzidos. Conforme Leite e Tuleski (2011, p. 116), “[...] a atenção voluntária é,
antes de tudo, a atenção que organiza a ação, e sendo o estudo uma atividade
organizada para fins determinados, tem-se que o ensino escolar é o melhor meio
para educar a atenção voluntária”.
3 CONCLUSÃO
O interesse inicial para a escolha do tema se deve as angustias presentes
27
no dia a dia escolar da pesquisadora e também de demais educadores em
entender e saber como trabalhar com alunos diagnosticados com TDAH ou que
apresentam comportamentos desatentos ou hiperativos.
Oportunizamos o grupo de estudos a todos os professores do colégio e
procuramos oferecer um horário que possibilitasse a participação de muitos, mas
mesmo assim contamos com apenas 10% do total de professores, acredito que isso
demonstre o quanto o professor se encontra sobrecarregado e desmotivado.
Entretanto, apesar das aparências cansadas dos professores após um dia com
muitas aulas ou ainda com mais algumas para ministrar a noite, eles se mostraram
muito interessados e participativos.
Ao iniciarmos os estudos tínhamos uma visão condizente à naturalização do
Transtorno, mas que no decorrer do desenvolvimento do trabalho, por meio da
oportunidade de estudar os pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural, foi se
modificando.
Compreendemos que por meio dos conteúdos escolares, dos
conhecimentos historicamente acumulados estamos desenvolvendo nos alunos
suas Funções Psicológicas Superiores, dentre elas a atenção e comportamentos
voluntários, mas para que isso aconteça precisamos ter um ensino organizado e
com finalidade definida.
Ao final do grupo de estudos os professores afirmam a importância do
conhecimento teórico para o entendimento das questões do desenvolvimento
humano como suporte para auxiliá-los na compreensão de seus alunos e também
para desenvolver formas de trabalhar o dia-a-dia escolar.
Foi também reforçado que o fato de o professor trabalhar com muitas
turmas e turmas distintas sobrecarrega o professor acaba por não disponibilizar de
tempo para poder criar metodologias diferenciadas para trabalhar com estes alunos.
Além disso, foi consenso que sozinhos não é possível ter sucesso, sendo
fundamental que todos os professores trabalhem juntos, da mesma forma com os
alunos. Para tanto, dentro dos limites e possibilidades, é preciso mais atenção, por
parte dos profissionais que atuam na escola, com os aspectos pedagógico e
metodológico dos alunos tidos como desatentos e impulsivos, não sendo suficiente
28
o encaminhamento destes para uma avaliação médica com a esperança de que
eles retornem com um remédio que os acalme e os faça aprender os conteúdos
escolares.
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