Metodos de Lavras de Rochas Ornamentais

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207 REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 56(3): 207-209, jul. set. 2003 Resumo Nesse trabalho são apresentados os principais mé- todos de lavra de rochas ornamentais usados atualmente em muitas pedreiras do Brasil e do exterior. Embora a tec- nologia de corte e o beneficiamento sejam aspectos im- portantes relacionados à produção de rochas ornamen- tais, o objetivo desse trabalho é apenas descrever os métodos de lavra mais usados. Na ausência de normas técnicas brasileiras que estabeleçam uma classificação apropriada, foi utilizada a classificação mais usada na li- teratura e na indústria. Palavras-chave: lavra de rochas ornamentais, métodos de lavra, lavra a céu aberto. Abstract In this study are reviewed the main dimensioned stones mining methods used at the quarries in Brazil and overseas. Although the stone cutting technology and the treatment are important points to be considered in the dimensioned stones production, the main objective of this study is only to describe the main mining methods. Still nowadays there are not Brazilian technical norms to classify the dimensioned stones mining methods used in the country. Therefore it was used the methods given in the literature and those used by the industry. Keywords: dimensioned stones mining, quarry mining methods, open pit mining. Mineração Métodos de lavra de rochas ornamentais Renato Capucho Reis MSc., Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mineral Departamento de Engenharia de Minas Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto E-mail: [email protected] Wilson Trigueiro de Sousa Doutor, Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mineral Departamento de Engenharia de Minas Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto E-mail: [email protected]

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207REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 56(3): 207-209, jul. set. 2003

ResumoNesse trabalho são apresentados os principais mé-

todos de lavra de rochas ornamentais usados atualmenteem muitas pedreiras do Brasil e do exterior. Embora a tec-nologia de corte e o beneficiamento sejam aspectos im-portantes relacionados à produção de rochas ornamen-tais, o objetivo desse trabalho é apenas descrever osmétodos de lavra mais usados. Na ausência de normastécnicas brasileiras que estabeleçam uma classificaçãoapropriada, foi utilizada a classificação mais usada na li-teratura e na indústria.

Palavras-chave: lavra de rochas ornamentais, métodosde lavra, lavra a céu aberto.

AbstractIn this study are reviewed the main dimensioned

stones mining methods used at the quarries in Braziland overseas. Although the stone cutting technologyand the treatment are important points to be consideredin the dimensioned stones production, the mainobjective of this study is only to describe the main miningmethods.

Still nowadays there are not Brazilian technicalnorms to classify the dimensioned stones mining methodsused in the country. Therefore it was used the methodsgiven in the literature and those used by the industry.

Keywords: dimensioned stones mining, quarry miningmethods, open pit mining.

Mineração

Métodos de lavra de rochas ornamentaisRenato Capucho Reis

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1. IntroduçãoUma classificação detalhada das

rochas ornamentais, considerando a ge-ologia, a orientação e a estética das mes-mas, foi feita por Costa (2001). Nesse tra-balho, o termo rocha ornamental refere-se a apenas granitos e mármores, segun-do a classificação simplificada largamenteutilizada pela indústria. Dessa forma,como granitos são considerados, nãoapenas os granitos propriamente ditos,mas também gnaisses, migmatitos e sie-nitos. Como mármores são considera-das as rochas carbonáticas (Destro,2000).

As jazidas de rochas ornamentaispodem ser lavradas em maciços rocho-sos e em matacões, utilizando-se méto-dos e técnicas que possibilitam resulta-dos satisfatórios em termos da relaçãocusto/benefício.

Os métodos de lavra consistem numconjunto específico dos trabalhos deplanejamento, dimensionamento e exe-cução de tarefas, devendo existir umaharmonia entre essas tarefas e os equi-pamentos dimensionados. O planejamen-to inclui a individualização dos blocoscom dimensões adequadas à etapa se-guinte da cadeia produtiva, representa-da pelo desdobramento dos blocos emchapas.

É importante verificar, durante afase do planejamento, se o maciço ro-choso ou o matacão possuem caracte-rísticas ideais para serem lavrados, comoa verificação da existência de impurezas,trincas, alterações, topografia local, etc.

Um planejamento de lavra bem ela-borado fornecerá o dimensionamentodos equipamentos e instalações, cálcu-lo de custos, seqüência de atividades,implicações econômicas do impacto am-biental e análise das condições hidroló-gicas.

Giaconi (1998) concluiu que um bomprojeto exige a melhor escolha do méto-do de lavra e a adoção de tecnologiasadequadas, nas quais sejam indicadosos níveis produtivos desejados, levan-do-se em conta as características da jazi-da. Entende-se por melhor escolha o mé-todo que proporciona melhor resultadoem termos de custo/benefício.

Um outro aspecto importante noplanejamento da lavra refere-se à neces-sidade de serem definidos os possíveisusos futuros da área minerada, uma vezconcluída a atividade de lavra.

A preocupação com a qualidade ea quantidade da rocha produzida implicaa necessidade de o setor investir em tec-nologia para reduzir seus custos. A la-vra em maciços rochosos é a que possi-bilita maiores vantagens operacionais,pois proporciona uma lavra racional comreflexo positivo na relação custo/benefí-cio, havendo uma tendência mundial nosentido de se praticar a lavra de rochasornamentais em maciços rochosos emdetrimento da lavra de matacões. Am-bas pode ser praticadas segundo formasdiferentes, podendo-se classificar os mé-todos em lavra do tipo fossa, tipo poço,por bancadas baixas, por bancadas al-tas, por desabamento e subterrânea.

A lavra em matacões é de concep-ção mais simples, exigindo, na maioriados casos, equipamentos pouco sofisti-cados e mão-de-obra pouco qualificada.

Nos países subdesenvolvidos,onde é difícil a obtenção de crédito paraadquirir equipamentos sofisticados epara treinar mão-de-obra especializada,estas jazidas de fácil acesso são lavra-das com o uso de técnicas rudimentares.Tais técnicas proporcionam rendimentobaixo e produtos de valor agregadoigualmente baixo.

2. Lavra de maciçosrochosos2.1 Lavra do tipo fossa

É um método de lavra que apresen-ta um impacto visual pequeno, pois aárea explotada só pode ser vista de ní-veis mais elevados. Uma das desvanta-gens é que atinge facilmente o lençol fre-ático e o bombeamento de água do inte-rior da cava às vezes deve ser constan-te. O acesso à frente de lavra é feito atra-vés de escadas (do tipo marinheiro) oude guindastes. Seu uso depende, entreoutros fatores, das condições geológi-cas da jazida.

2.2 Lavra do tipo poço

Esse método é mais oneroso que oanterior, pois possui rampas laterais comforte inclinação, que são utilizadas paraacesso à frente de lavra. Problemas cominundações e acidentes de trabalho sãocomuns às pedreiras que utilizam essemétodo. Nos casos em que a qualidadeda rocha oferece condições de estabili-dade, o avanço da lavra em profundida-de nos tipos fossa e poço pode levar ànecessidade de mudança para a lavrasubterrânea.

2.3 Lavra por bancadasbaixas

Consiste em um método com ban-cadas horizontais baixas, em que uma dasdimensões do bloco final não deve ul-trapassar 3,0 m, uma vez que o bloco fi-nal é retirado da cava com dimensõesadequadas ao uso nos teares. Esse mé-todo é recomendado para materiais ho-mogêneos, sendo muito flexível para aidentificação das partes sãs que serãoutilizadas na forma de blocos.

A mecanização é facilitada devidoà grande extensão horizontal apresenta-da. Essa flexibilidade facilita a movimen-tação de equipamentos (perfuratrizes,carregadeiras) e de blocos. É um métodovantajoso em termos de segurança dotrabalho, pois evita e reduz de forma con-siderável o risco de acidentes graves,além de possibilitar um controle minuci-oso da frente de lavra.

2.4 Lavra por bancadas altas

O método de bancadas altas é ge-ralmente usado quando o maciço possuiuma altura de 6,0 a 16,0 m. Consiste naabertura de bancadas variando de 3,0 a6,0 m de largura e 40,0 m de comprimen-to, podendo-se utilizar diferentes tecno-logias de corte, em especial o fio dia-mantado. É caracterizado pela grandeincidência de perfuração para fazer a sub-divisão em blocos com dimensões ade-quadas à serragem. É mais oneroso queo método de lavra por bancadas baixas,uma vez que requer uma maior quantida-de de mão-de-obra e equipamentos.

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2.5 Lavra por desabamento

Chiodi Filho (1998) relata que o de-sabamento pode ser feito por painéishorizontais ou verticais. O primeiro casoé recomendado quando o relevo tem in-clinação baixa, enquanto que, para se fa-zer a lavra com painéis verticais, o relevonecessariamente deve ser íngreme.

É um método que exige pouco co-nhecimento técnico. Algumas das prin-cipais vantagens são os baixos custosde operação e o investimento inicial bai-xo. Geralmente se utiliza um colchão deareia para amortecer a queda da pranchacom o objetivo de diminuir o impacto nosolo. Esse método apresenta um custosemelhante ao custo da lavra de mata-cões, mas com o uso de equipamentosde maior porte para limpeza das praças.

2.6 Lavra subterrânea

Devido à existência, em todo mun-do, de inúmeros depósitos de rochasornamentais aflorantes ou próximos àsuperfície, a lavra subterrânea é aindapouco utilizada. Seu uso é justificado emcasos de jazidas de rochas de qualidadeexcepcional, com alto valor no mercado.Segundo Duarte (1998), a principal minasubterrânea localiza-se nos EUA, no Es-tado de Vermont. Sua operação foi inici-ada em 1870 a céu aberto, passando asubterrânea em 1907. Consiste em umacamada horizontal de mármore com cer-ca de 500 m de profundidade, lavradapelo método de câmaras e pilares, comcâmaras e pilares de 15,0 a 20,0 m de lar-gura cada uma.

A lavra subterrânea tem como mai-or vantagem um impacto ambiental nasuperfície pequeno. Por outro lado, a la-vra subterrânea apresenta grandes difi-culdades operacionais, problemas geo-mecânicos, maior probabilidade de ocor-rer acidentes e ainda custo de lavra maisalto que a lavra a céu aberto.

3. Lavra de matacõesOs matacões consistem em partes

específicas do maciço rochoso, indivi-dualizadas a partir da atuação de agen-tes intempéricos (Destro, 2000, Chiodi

Filho, 1998). Quando os matacões sãodeslocados por rolamento, adquirem for-mas arredondas conhecidas por acebo-lamento.

A lavra de matacões consiste emum método menos oneroso por apresen-tar custos baixos para abertura de aces-sos, mão-de-obra pouco qualificada ecustos operacionais reduzidos, mas comgrandes problemas ambientais.

O esquadrejamento dos blocos éfeito através de cunhas manuais ou cu-nhas pneumáticas, sendo que, no primei-ro caso, o processo é mais lento e é reco-mendado para matacões de até 100,0 m3.No segundo caso, ocorre a utilização deexplosivos em furos coplanares e para-lelos. As vantagens principais do méto-do são: implantação rápida do empreen-dimento, investimento inicial baixo, ne-cessidade de pouco conhecimento téc-nico, equipamentos simples e custo ope-racional baixo. As desvantagens princi-pais estão relacionadas ao volume gran-de de estéril produzido, recuperação bai-xa e dificuldades em um planejamentomais abrangente.

4. Resultados econclusões

A determinação do método de la-vra correto em uma pedreira de rochasornamentais é de importância fundamen-tal para a condução adequada dos tra-balhos de planejamento e de execuçãoda lavra. Na fase de definição do méto-do, um erro poderá significar custos deprodução excessivamente altos e menorvida útil da pedreira.

A revisão dos métodos de lavrapara rochas ornamentais apresentadosnesse trabalho pretende ser uma contri-buição, de forma sucinta, a um melhorentendimento dos trabalhos necessári-os à produção de blocos.

A ausência de normas e procedi-mentos de classificação, tanto da Asso-ciação Brasileira de Normas Técnicas –ABNT, quanto das associações de pro-dutores, dificulta a sistematização dosmétodos de lavra.

5. AgradecimentosOs autores agradecem à CAPES,

cujo financiamento viabilizou esse tra-balho, e à empresa Minaspérola Ltda,pelas informações fornecidas.

ReferênciasbibliográficasCHIODI FILHO, C. Aspectos técnicos e

econômicos do setor de rochasornamentais. Lisboa. Rochas eEquipamentos, n. 51, p. 84-139, 1998.

COSTA, JUSSARA ISMÊNIA. Caracterizaçãomineralógica e tecnológica de uma jazidade serpentinito como rocha ornamental.Ouro Preto: Escola de Minas daUniversidade Federal de Ouro Preto. 2001.101p. (Dissertação de Mestrado emEngenharia Mineral).

DESTRO, ELTON. A influência da esfoliaçãoem maciços graníticos no planejamentoda lavra de blocos de rochas ornamentais.Ouro Preto: Escola de Minas daUniversidade Federal de Ouro Preto, 2000.101p. (Dissertação de Mestrado emEngenharia Mineral).

DUARTE, G. W. Método de lavra determinaeficácia e rendimento. São Paulo. Rochasde Qualidade, n. 138, p. 91-110, 1998.

GIACONI, W. J. Perfil atual da indústria derochas ornamentais no município deCachoeiro do Itapemirim (ES). Campinas:Universidade Estadual de Campinas. 1998.91 p. (Dissertação de Mestrado emAdministração e Política de RecursosMinerais).

REIS, RENATO CAPUCHO. Avaliação detecnologias de corte em rochasornamentais. Ouro Preto: Escola de Minasda Universidade Federal de Ouro Preto,2001. 93p. (Dissertação de mestrado emEngenharia Mineral).

Artigo recebido em 05/05/2003 eaprovado em 11/09/2003.

REM - RevistaEscola de Minas