Métodos Dialíticos Em Cuidados Intensivos

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  • 8/18/2019 Métodos Dialíticos Em Cuidados Intensivos

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    Métodos dialíticos em cuidados intensivos

    Eduardo Almeida*mailto:[email protected]

    Pedro Matos Moreira**

    Pedro Póvoa** 

    1. Introdução

    O tratamento da Insuficiência Renal Aguda (IRA) em cuidados intensivos temmudado muito nos últimos anos. As técnicas são variadas e as opiniões

    divergem. Os métodos contínuos representam um grande avano notratamento dos doentes! so"retudo pela grande vantagem da possi"ilidade deuma maior esta"ilidade #emodin$mica e um aporte nutricional efica%.

    &onsidera'se! por definião! ue os métodos de depuraão etra'renal são!fundamentalmente! de * tipos+

    ,emodi-lise (,) convencional! intermitente

    ,emofiltraão contínua

    i-lise peritoneal (de ue não iremos tratar)

    &onsiderando'se a #emodi-lise intermitente como um método ue utili%a otransporte "aseado na difusão de solutos e fluidos através de mem"ranas decuprofano e de celulose acetato. As novas mem"ranas ue usam polisulfonas!poliacrilonitrito ou poliamido como material "-sico são mais perme-veis ue asantigas mem"ranas da , intermitente e têm maior possi"ilidade de tirarmoléculas de maior peso molecular aumentando a clearance de moléculas depeso molecular médio.

    O tratamento convencional com di-lise (#emodi-lise intermitente e di-liseperitoneal) é cada ve% menos usado nos doentes de cuidados intensivos comIRA.

    /elo contr-rio usam'se cada ve% mais as técnicas contínuas de su"stituião dafunão renal. 0stas são "aseadas na #emofiltraão e oferecem vantagens+

    1) remoão r-pida de fluidos isot2nicos! sem provocar #ipotensão

    3) controle r-pido e mantido da a%otémia

    mailto:[email protected]:[email protected]

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    *) permitem a administraão de grandes uantidades de fluidos! como poreemplo na alimentaão parentérica total (A/4) e de produtos derivados dosangue.

     A sua simplicidade levou ao grande uso em 5nidades de &uidados Intensivos

    (5&I) sem necessidade de recorrer a enfermeiros de #emodi-lise.

    O tratamento com #emofiltraão leva a um grau de purificaão do sangue muitoútil em doentes com sepsis e com mediadores #umorais em circulaão!#avendo uem defenda ue eles são retirados da circulaão sanguínea comestes métodos.

    0stes factores têm levado a uma mel#oria da so"revida dos doentes críticos6facto provado em alguns estudos mas! infeli%mente infirmado em outros.

    2. istória

     As primeiras descriões de técnicas contínuas surge em 1788 (9ramer ',emofiltraão arteriovenosa &ontínua ' &A:,). O sangue arterial circulaatravés de uma mem"rana porosa6 o ultrafiltrado é produ%ido essencialmentelivre de proteínas! com uma composião semel#ante ao soro. Remove grandesuantidades de ultrafiltrado (5;) (1< l=dia)! com clearance de ureia de 1

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    &onvecão ' os solutos são transportados através da mem"rana pelosmovimentos do solvente (ultrafiltraão) em resposta B pressãotransmem"ran-ria. Aui a permea"ilidade da mem"rana (coeficiente desieving) tem um papel muito importante.

    5ltrafiltraão ' o transporte de -gua através da mem"rana depende da pressãotransmem"ran-ria (/4E) e da permea"ilidade #idr-ulica do coeficiente damem"rana.

    $. Indicaç%es: oentes em Insuficiência renal aguda! em Insuficiência renal cr2nica agudi%adaou em insuficiência renal cr2nica internados por outra patologia.

    1) Findroma urémico ' n-useas! v2mitos! alteraões do estado de consciência!#-lito urémico! atrito peric-rdico! neuropatia periférica! 4empo de /rotrom"ina(4/) alterado! com clearance da creatinina G D ml=min.

    >os doentes com nefropatia dia"ética deve iniciar'se di-lise maisprecocemente! com clearance de creatinina H 1D ml=min.

    >ão #- valores de ureia ou creatinina séricos standard para o início de di-lise!mas podemos considerar ue valores de ureia H 1

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     As técnicas contínuas podem ser divididas em arteriovenosas e venovenosas!distinguindo'as a utili%aão de "om"a de sangue nos métodos venovenosos.

    Kualuer dos métodos permite a remoão de agua ! electr2litos e outrossolutos de "aio peso molecular pelo princípio de convecão (&A:, e &::,) 6

    adicionalmente a utili%aão de infusão de líuido de di-lise confere ocomponente dialítico B técnica (&A:,=&A:,; e &::,=&::,;)

    :-rios destes métodos estão agora em uso+

    1) ,emofiltraão arteriovenosa contínua ' &A:,

    3) ,emofiltraão arteriovenosa contínua ' &A:, com pré'diluião

    *) ,emofiltraão arteriovenosa contínua ' &A:, com sucão

    ) ,emodi-lise arteriovenosa contínua ' &A:,

    D) ,emofiltraão venovenosa contínua ' &::,

    J) ,emodi-lise venovenosa contínua ' &::,

    8) ,emodiafiltraão venovenosa contínua ' &::,;

    1) 5ltrafiltraão contínua lenta (FL5;) ' o processo contínuo de remoão defluidos através de uma mem"rana semiperme-vel. ,a"itualmente eecuta'secom graus de ultrafiltraão (5;R) menores ue ? ml=min. >ão se usa líuido desu"stituião.

    3) ,emofiltraão arteriovenosa contínua (&A:,) ' o processo contínuo deremoão de fluidos com reduão conectiva de toinas urémicas. Reuer o usode líuido de su"stituião para prevenir a perda ecessiva de fluidos.,a"itualmente eecuta'se com graus de ultrafiltraão (5;R) maiores ue ?ml=min. O fluo de sangue (KC) é epont$neo através de um s#unt A: ou dacateteri%aão de uma artéria e veia femorais.

    *) ,emofiltraão venovenosa contínua (&::,) ' #emofiltraão contínua com a

    a@uda de uma "om"a de sangue. 0sta "om"a garante adeuado fluo desangue para manter graus de ultrafiltraão (5;R) adeuados. O acesso venosoé #a"itualmente a veia su"'cl-via! @ugular ou femoral usando um cateter deduplo lumen.

    ) ,emodi-lise arteriovenosa contínua (&A:,) ' a remoão contínua defluidos com difusão de toinas urémicas para um dialisador estéril. O fluo desangue é epont$neo através de um s#unt A: ou de um cateterismo femoral deuma artéria e de uma veia. O fluo do fluido de di-lise (K) é #a"itualmentemantido entre 1D'*D ml=min. O fluo de sangue e o fluo do fluido de di-lise sãoem contra'corrente para maimi%ar a difusão.

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    D) ,emodi-lise venovenosa contínua (&::,) ' #emodi-lise contínua com aa@uda de uma "om"a de sangue e utili%ando acesso venoso.

    J) ,emodiafiltraão arteriovenosa contínua ( &A:,;) ' o mesmo ue )&A:,! mas com maiores 5;R! em ue é colocada no p2s'filtro uma "om"a

    ue infunde soluto de #emofiltraão! de modo a compensar as perdasecessivas de fluidos no 5;.

    8) ,emodiafiltraão venovenosa contínua (&::,;) ' o mesmo ue D)&::,! mas com maiores 5;R! utili%ando uma "om"a para infusão de solutode #emofiltraão de modo a compensar as perdas ecessivas de fluidos.Eétodo de escol#a em doentes críticos #emodin$micamente inst-veis.

    ;ig. 1

    Eecanismo &onvecão

    &learance de 5reia Caio

    5ltrafiltrado 3

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    Eecanismo ifusãoN&onvecão

    &learance de 5reia 0levado

    ;luo de ialisante 1.D'3 L.=#ora

    5ltrafiltrado 3

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    *) dependente do nível do staff da 5&I

    ) dependente do tipo de doente necessitando de terapêutica

    D) devem utili%ar'se as técnicas ue permitem mais 5; e di-lise

    J) dependente igualmente do número de doentes a necessitar

     A técnica preferível é a &::,;.

     A mortalidade é menor com &::, ue com &A:,.

     A mor"ilidade é menor com &::, ue com &A:, e #- mais clearance deureia.

    e notar ue o uso de "om"as não aumenta o tra"al#o da enfermagem.

    0stas técnicas são medidas de suporte e não têm papel directo no processoevolutivo da doena. 0statisticamente e em grande número de doentes verifica'se uma ue"ra de 3

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    >o entanto não #- estudos comparativos em termos de clearances! vida dofiltro e efic-cia de purificaão do sangue.

    ,- duas configuraões+ fi"ras ocas e placas paralelas(com maioresclearances)

     As características a levar em conta são+

     A -rea e o coeficiente de ultrafiltraão (95;)! epresso em ml=#=mm ,g.

    O filtro é escol#ido em funão da superfície corporal do doente e da uantidadede líuido ue se pretende ultrafiltrar.

    /eso em 9g G < '''''''''''''' -rea em m3 '

    /eso em 9g H < G J< ''''''''' -rea em m3 '

    /eso em 9g H J< G 7< ''''''''' -rea em m3 ' 1!3

    /eso em 9g H 7< '''''''''''''' -rea em m3 ' 1!

    O #a"itual é conseguir clearance de ureia de 1< a 18D ml=min com um dé"itode sangue de 3as primeiras sessões (3=*) usar filtros de menores dimensões.

    Os filtros comerciali%ados e mais freuentemente utili%ados são+

    Earca 4ipo de Eem"rana

    ,ospal M;rana /oliacrilonitrilo

     Amicon M 5FA /olisulfona

    Qam"ro M Fuécia /oliamido

    ;resenius M Aleman#a /olisulfona

    4a"ela *

    (. Anticoa)ulação

    /ara prevenir a perda de efic-cia da 5; e a coagulaão do filtro e das lin#as

    ,eparina+ em muito "aias dose (*

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    dose convencional (1< 5=9g=#)

    ou /44 H3 ve%es o normal

    ,eparini%aão regional+ #eparina no pré'filtro e sulfato de protamina no p2s'

    filtro ' actualmente fora de uso dadas as alteraões da coagulaão ue surgemigualmente com o sulfato de protamina.

    &om os filtros de placas conseguem'se vidas do filtro H 3 #oras sem#eparini%aão.

     Alternativas+ 1) #eparinas de "aio peso molecular 

    3) prostaciclina (#ipotensão)

    *) citrato (regional) e infusão de c-lcio (alcalose meta"2lica)

    ) ini"idores das proteases

     Actualmente não utili%amos (mais de ?

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    11. /utrição

    aceite desde meados de 8< ue os doentes renais "eneficiam com umadeuado aporte nutricional so" a forma de #idratos de car"ono! lípidos ouamino-cidos. 5ma limitaão a isto era a uantidade de a%oto fornecido "emcomo o aporte ecessivo de fluidos. &om o advento da #emofiltraão e aadião da difusão ou convecão (#emodiafiltraão)! com as altas clearances deureia! podem'se actualmente #iperalimentar os doentes críticos com IRA semgrandes pro"lemas.

    Os AA são perdidos na 5; em cerca de 1ão parece #aver perda delípidos. Os ,& difundem do dialisado para o sangue. A transferência de ,&aumenta linearmente com o aumento da concentraão da detrose do

    dialisado.

    ,- poucos elementos so"re a eliminaão das vitaminas e dos oligoelementosmas parece serem eliminados em peuenas uantidades.

    12. Presente e ,uturo

    O uso de métodos dialíticos contínuos na IRA em doentes críticos parece serum tratamento 2ptimo.

    O acesso deve ser um cateter venoso de duplo lumen! o #emofiltro deve ser depoliacrilonitrilo de placas paralelas. eve usar'se uma "om"a para regular ofluo de sangue! com um dialisado "om"eado contracorrente.

     A anticoagulaão deve ser fleível.

     A su"stituião de fluidos deve ser feita levando em lin#a de conta o estado#emodin$mico do doente.

     A nutrião deve ser de forma a providenciar energia adeuada ao doente deforma a levar a um "alano a%otado neutro.

     A terapêutica anti"i2tica deve ser feita levando em lin#a de conta as clearancesdas su"st$ncias e com monitori%aão dos níveis séricos dos f-rmacos.

     As terapêuticas alternativas de su"stituião da funão renal estão relacionadascom a utili%aão de mem"ranas mais "iocompatíveis (polisulfonas!poliacrilonitrito ou poliamido) e utili%am'se de variadas formas! consoante oeuipamento disponível! com duraão maior ou menor consoante asnecessidades dos doentes e com técnicas diferentes consoante as vantagensue ueremos tirar delas.

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    1!. 0MPAA34 5A+ '60/I0A+ 

    F&5; &A:, &::, &A:, &A:,; &::, &::,; I,

     Acesso A': A': :': A': A': :': :': :':

    Com"a >ão >ão Fim >ão >ão Fim Fim Fim

    ialisado >ão >ão >ão Fim Fim Fim Fim Fim

    ;iltrado (ml=#ora) 1um Fimp2sio recentemente reali%ado em /ortugal (Quimarães! e%em"ro de1778) foi mostrado! surpreendentemente ue algumas 5&I utili%am ainda! com

    alguma freuência! os métodos arteriovenosos e ue é utili%ada comfreuência a #emodi-lise convencional. >os 05A! 8< P dos doentes sãotratados com métodos intermitentes! em cuidados intensivos.

    F2 nas 5&I euipadas com m-uinas mais sofisticadas se conseguem utili%aros métodos mais modernos e mais in2cuos.

    Fe não #- diferenas not2rias na mortalidade dos doentes (esta est-relacionada fundamentalmente com a patologia dos doentes)! a mor"ilidadeassociada B técnica utili%ada é mais "aia uanto mais sofisticados são os

    meios utili%ados.

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    Fegundo Fc#SilT et all! em tra"al#o recentemente pu"licado! é demonstradoclaramente ue não #- relaão entre a mortalidade e o tipo de técnicautili%ado+

     Autor Ano 4ipo dedoentes

    >.Udoentes

    4aaEortalidade

    4ipo de 4ratamento

    Qi"neV ?? Eédicos 13 J8 &A:,

    Wendon ?7 Eédicos 3? J &::,

    List 7< &irúrgicos J* *8 I::,

    ReVnolds 71 &irúrgicos 3? ?3 &A:, N ,

    Fc#aefer 71 Eédicos 1* D8 ,

    FtorcT 71 &irúrgicos ? ?? &A:,FtorcT 71 &irúrgicos J? 81 /,;

    Fandroni 73 >efrol2gicos 11< J* ,=&::,

    Cellomo 73 Eédicos D< DJ &A:,=&::,;

     Alara"i 7* Eédicos * < &A:,;

    Cellomo 7* Eédicos 11< J? &A:,=&::,;

    Carton 7* >efrol2gicos 3D< 8 &,;

    ertoS 7D &irurg=Eed 1*3 8< =&A:,=&::,;

    Fc#SilT 78 &irúrgicos 1D8 D? &::,;

    4a"ela D

    >uma 5&I como auela em ue tra"al#amos! com muitos doentes sépticos ecom insuficiência renal aguda! onde #- necessidade de fa%er técnicas dialíticasfreuentemente e com pessoal pouco diferenciado neste tipo de técnicas! éutili%ada freuentemente uma associaão de #emodi-lise com #emodiafiltraãovenovenosas intermitentes (intermitentes porue #a"itualmente cada doentefa% geralmente períodos dialíticos inferiores a 3 #oras)! utili%ando uma

    m-uina A91

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    3. ,emofiltro ' em poliacrilonitrilo de placas paralelas

    *) 5so de "om"a para regular fluo de sangue

    ) 5so de dialisador "om"eado em contracorrente

    D) Anticoagulaão fleível ou s2 soro pré'filtro e lavagens

    J) Fu"stituião de fluidos atendendo B #emodin$mica

    8) >utrião ' aporte adeuado de energia e a%oto

    ?) Anti"i2ticos ' atender B clearance de drogas e monitori%aão

     As vantagens da #emofiltraão serão+

    1) Remoão r-pida de fluidos isot2nicos! sem #ipotensão

    3) &ontrole r-pido e mantido da a%otémia

    *) /ossível a administraão de grandes uantidades de fluidos (A/4! derivadosdo sangue)

    ) Eais esta"ilidade #emodin$mica

    D) 4écnica mais simples! não sendo necess-rio enfermeiro de ,

    0m relaão ao método ser contínuo ou descontínuo! a polémica é grande. Fer-necess-rio estudarmos os nossos pr2prios doentes e sa"er se!independentemente de preconceitos em relaão ao método ser contínuo ouintermitente! os doentes mel#oraram ou se mantiveram est-veis utili%ando umou outro método. /rovavelmente o doente não ter- necessidade de 3 #orasconsecutivas de tratamento e tolerar- perfeitamente 3 ou ? #oras semualuer método dialítico.