Midia Alternativa e Grande Imprensa - Cícero de Aquino Costa Simões

Democrat izar , v . V I I , n . 2 , ago ./dez . 2013 .

Mdia Alternativa e Grande Imprensa: As Manifestaes de Junho na tica do Brasil de Fato e

da Folha de S.Paulo 1

Ccero de Aquino Costa Simes (*)

Apresentao

Tomando por base as manifestaes que varreram o Brasil no ms de junho de 2013, o

artigo tem como objetivo fazer uma anlise da leitura que os jornais, tanto os da grande

imprensa quanto os alternativos, fizeram desses eventos. Nesse sentido, exploro como recorte

de anlise os editoriais produzidos por ambas as modalidades de jornalismo. Para isso, foram

selecionados os editoriais dos jornais Folha de So Paulo e Brasil de Fato.

O dirio Folha de So Paulo est enquadrado no grupo de jornais que pertencem

quilo que se convencionou chamar de grande imprensa, enquanto o semanrio Brasil de Fato

pode ser classificado como imprensa que integra o grupo dos jornais alternativos. Ambos

possuem tiragem nacional, sendo que o segundo ainda possui uma edio fluminense, com a

mesma periodicidade da edio citada h pouco.

A escolha por analisar as manifestaes de junho, pelo olhar sobre o editorial desses

jornais, se deu pelo fato de ser atravs dele que se pode conhecer, nas palavras de Alves Filho

(2001, p. 63), explicitamente qual sua viso de mundo. Ora, no editorial que o jornal se

posiciona e deixa claro quais so os valores, as crenas e ideologias que norteiam a

publicao, de modo que, se na busca de se conhecer o posicionamento desses jornais acerca

das manifestaes de junho, utilizssemos para isso a opinio de um de seus colunistas, ao

invs de seus editoriais, poderamos incorrer em um erro crasso. Isso por no apreender qual

o verdadeiro posicionamento das gazetas sobre aquele fato jornalstico, visto que a opinio do

colunista, sua viso de mundo e seus valores podem no ser, necessariamente, a opinio, a

viso e os valores do jornal sobre aquele fato. Os jornais da grande imprensa,

majoritariamente, buscam, por uma questo meramente comercial, colunistas que dem s

1 O artigo consiste em resultado de pesquisa realizada no curso de extenso Poltica, Comunicao e Mudanas Sociotcnicas, promovido pelo Ncleo de Estudos em Tecnologia e Cidadania (Nuetec) da Faculdade de Educao Tecnolgica do Estado do Rio de Janeiro Faeterj-Rio/Faetec, sob a orientao do Prof. Dr. Roberto Bitencourt da Silva. (*) Bacharel e licenciado em Geografia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro Uerj, professor de Geografia da Secretaria Municipal de Educao SME/RJ e pesquisador do Ncleo de Estudos em Tecnologia e Cidadania Nuetec/Faeterj-Rio/Faetec. E-mail: [email protected]

D iretor ia de Educao Super ior/Faetec/SECT-RJ


suas publicaes um carter plural e diversificado, ou seja, que possuam os mais diferentes

posicionamentos, inclusive diferentes do prprio jornal, pois, assim se consegue abarcar um

maior nmero de possveis leitores, com vises de mundo igualmente diversas. Dessa forma,

o jornal pode conseguir um maior nmero de compradores para a sua mercadoria: a

informao.

Uma vez esclarecido os motivos pela escolha em analisar os editoriais das publicaes

citadas, seguiremos, tratando de conceituar o que denominamos de grande mdia e mdia

alternativa, por meio de uma discusso terica, pertinente ao pleno entendimento da anlise.

Grande mdia e mdia alternativa

No momento em que as ferramentas digitais disponveis (tablets, notebooks, netbooks,

smartphones etc.), associadas universalizao da banda larga, passam a ser utilizadas por

um nmero cada vez maior de pessoas que buscam se informar, produzir informao, contra-

informar e questionar os padres sociais estabelecidos, a presente discusso se faz oportuna,

porque o uso desses instrumentos tcnicos por uma parcela cada vez maior da sociedade

carrega consigo questionamentos sobre o papel que vem sendo exercido pelas mdias: grande

e alternativa.

O uso da internet para fins informativos tem se mostrado to grande que, em

conferncia realizada em Cuba, o jornalista e socilogo Ignacio Ramonet (2013, p. 85)

afirmou que: o jornalismo vem sendo dinamitado pela internet no mundo inteiro. (...) Ao

criar um continente miditico indito, a internet produz um jornalismo novo (blogs, redes

sociais), em concorrncia direta com o jornalismo tradicional.

No entanto, importante registrar que essa dinamitao sofrida pelo jornalismo,

neste caso o da grande mdia, fruto justamente da perda de credibilidade que esta sofre. O

mesmo Ramonet (2013. p. 86) pondera que esse fenmeno reflete-se na perda de

credibilidade dos jornalistas devido ao forte vnculo que muitos deles mantm com o poder

econmico e poltico, suscitando desconfiana geral no pblico. Por conseguinte, em

pesquisa feita pela Fundao Perseu Abramo2 sobre os meios de comunicao, a assertiva

acima confirmada, visto que, mais de 60% dos entrevistados acham que a os meios de

comunicao do mais espaos para empresrios, no noticirio, enquanto que, apenas, 18%

acreditam que esses meios privilegiam os trabalhadores.

2 Disponvel em: http://novo.fpabramo.org.br, acesso em 22/08/2013.



O que fica evidente, dessa forma, que h em curso uma insatisfao com um tipo de

mdia, a grande mdia, que no representa 3 grande parte da populao. Portanto, a fim de

melhor compreender como esse fenmeno se processa, imperioso esclarecer do que se fala

quando se usa a expresso grande mdia.

A grande mdia diz respeito aquele tipo de produo jornalstica em que os

operadores empresariais vem a indstria da informao, comunicao e cultura como forma

de obter dividendos econmicos, um negcio (BRITTOS et al, 2011, p. 23). Em outras

palavras, consiste em um tipo de empresa jornalstica que pauta o ato de informar, comunicar

e entreter pelo retorno financeiro que obter. A comunicao vista como mais uma atividade

comercial e tem no lucro seu principal objetivo.

No Brasil, a grande mdia representada por grandes conglomerados empresariais, tais

como: as Organizaes Globo, o Grupo Folha, Grupo Abril e Grupo Bandeirantes, dentre

outros. De uma maneira geral, todas essas empresas de comunicao exercem enorme

influncia na vida poltica do pas, dado seu peso e dominao que exercem nos meios de

comunicao. Atualmente, segundo a Fundao Perseu Abramo4, os veculos de comunicao

no pas encontram-se em mos de cerca de 10 famlias, que controlam tudo aquilo que chega

casa de milhares de brasileiros, seja pela TV, internet, rdio, revista, cinema ou jornal.

A atual configurao do sistema de comunicao no Brasil, acaba pondo em risco o

pleno exerccio da democracia, uma vez que as empresas de comunicao, ao abarcarem a

totalidade das mdias, acabam filtrando sobremaneira a informao. De modo que a

construo de um ambiente cultural e poltico mais progressista esbarra na aprovao ou

no desses mesmos meios, que, no Brasil, chegam a atuar como partidos polticos (cf.

AMARAL, 2002 p. 81). Fazem oposio a governos ou a medidas governamentais e

legislativas que no coadunam com os seus interesses.5

Ao estudar o nascimento dos partidos polticos, Duverger (1970, p. 458) aborda a

questo dos meios de comunicao e sua relao com a existncia ou no da democracia. Ao 3 Para utilizar uma expresso corrente nos protestos e nas aes ciberativistas #FORAFELICIANO, contra o deputado federal Pr. Marcos Feliciano, que mesmo j sendo, em mais de uma vez, protagonista de aes racistas e homofbicas, se tornou presidente da comisso de direitos humanos da cmara. 4 Idem. 5 O Globo 19/03/2010 em matria que cobria a reunio que diferentes entidades representativas de diversos meios de comunicao faziam para discutir o Plano Nacional de Direitos Humanos, que em um de seus artigos previa a democratizao dos meios de comunicao, a presidente da ANJ (Associao Nacional de Jornais) e executiva do Grupo Folha poca Maria Judith Brito deu a seguinte declarao: "A liberdade de imprensa um bem maior que no deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto sempre a questo da responsabilidade dos meios de comunicao e, obviamente, esses meios de comunicao esto fazendo de fato a posio oposicionista deste pas, j que a oposio est profundamente fragilizada. E esse papel de oposio, de investigao, sem dvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo.



salientar que no sculo XIX, quando s as potncias econmicas e financeiras que

dispunham da imprensa, dos meios de informao e de propaganda, bem como de uma

aparelhagem de enquadramento de eleitores, no existia a democracia (...), faz-nos levar

concluso de que no Brasil, naquilo que tange a relao entre democracia e meios de

comunicao, ainda estamos muito prximos das relaes de poder do sculo XIX. Isso

porque os grandes conglomerados de comunicao, em linhas gerais, travam a democracia,

ao dificultarem a livre circulao de informao, to cara ao exerccio da cidadania. Produzem

com isso riscos vida pblica, ao desestimularem o envolvimento coletivo com os padres e

princpios da sociabilidade democrtica (SILVA, 2006).

Na atual conjuntura, no precisamos manter-nos demasiadamente pessimistas, a esse

respeito. Sobretudo, por conta do aumento gradual e constante do uso de meios alternativos de

comunicao, principalmente entre os que, em sua maioria, esto disponveis na internet e se

apiam no uso dos novos dispositivos tcnicos, detentores de opinio explcita. A referida

pesquisa da Fundao Perseu Abramo joga luz sobre esse fato, ao constatar que entre os

entrevistados, 57% tinham algum tipo de acesso internet e que, entre estes, 68,6% utilizam a

rede virtual buscando informao/notcias em primeiro lugar. Cerca de 19% a utilizam para

acessar alguma rede social ou contato com os/as amigos/as. O primeiro dado no esclarece

muito sobre o uso dos meios de comunicao alternativos, uma vez que as grandes

corporaes de comunicao acabam transferindo seu poder para o ambiente virtual

(AMARAL, 2002 p. 98), de sorte que o fato de buscar notcias informaes na web significa,

muitas vezes, perpetuar o filtro da grande mdia sobre a informao.6 Entretanto, o ltimo

dado importante, pois as redes sociais so o espao utilizado pela maioria dos meios

alternativos de comunicao para divulgao de suas atividades, como marcao de eventos,

pginas informativas, divulgao de aes, postagens de vdeos e fotos etc. Isso nos leva a

concluir que os meios alternativos so utilizados por um nmero considervel de usurios da

internet, ainda que no tenhamos uma pesquisa especfica sobre esse uso. O dado da mesma

pesquisa que afere que, entre os hbitos de mdia dos entrevistados, a internet se mostrou

preferencial para 43%, refora a nossa hiptese, ainda que a tv aberta seja utilizada pela

maioria, cerca de 94% dos entrevistados.

6 De acordo com o site Alexa, do grupo Amazon, que ranqueia os acessos de internet no mundo, entre as dez pginas eletrnicas mais acessadas no Brasil, os sites brasileiros de informao ocupam respectivamente as seguintes posies: 5 lugar Universo online, do Grupo Folha; e, em 6 lugar, o Globo.com, das Organizaes Globo.



Esse tipo de mdia, a alternativa, aquela que possui claramente um compromisso

com a comunicao enquanto bem comum e direito humano (MORAES, 2013). Podemos

assim dizer que os meios alternativos de comunicao so aqueles que atuam como uma ferramenta para a comunicao no campo popular, sem deixar de lado a militncia social, ficando implcito que jornalistas e/ou comunicadores devem estar dentro do conflito, sempre com a clara tendncia a democratizar a palavra e a informao (MORAES, 2009, p. 232).

Os meios de comunicao alternativos, portanto, so instrumentos utilizados por coletivos e

movimentos sociais, j to acostumados cobertura tendenciosa e criminalizante que a grande

mdia costumeiramente faz de seus atos. Os meios alternativos buscam dar s aes e

atividades dos movimentos sociais uma cobertura jornalstica que realmente leve em

considerao o que tm a dizer e como querem dizer. Nesse raciocnio os movimentos sociais,

cooperativas e coletivos que se utilizam desses instrumentos e que tradicionalmente

possuem compromisso com uma viso de mundo que esta situada esquerda

ideologicamente, tendem a dar uma grande contribuio ao aperfeioamento e ao

desenvolvimento da democracia com carter representativo (BOBBIO, 2002). Na medida em

que trazem cena, agenda pblica a possibilidade de reverberar questionamentos e posies

que, por razes bvias, no estaro estampados nos meios de comunicao da grande mdia,

diminuem, com isso, a tendncia em crer que vivemos em noes absolutamente irreais de

democracia (DUVERGER, 1970, p. 457).

Podemos assinalar ainda como peculiaridades da mdia alternativa, segundo Moraes

(2009), as seguintes caractersticas:

a) estruturao para trabalho poltico-ideolgico;

b) contrapropor contedos crticos;

c) associar-se s mobilizaes anticapitalistas;

d) usar mtodos colaborativos de gesto;

e) utilizar-se de formas no mercantis de financiamento.

Cremos com o que foi posto nas linhas anteriores, de certa forma, ter esclarecido a diferena

entre grande mdia e mdia alternativa. No obstante, cabe ainda um esclarecimento, como

no trataremos neste trabalho de mdias alternativas virtuais, (como blogs, sites, redes scias

etc) mas sim com mdia impressa, oportuno se faz dizer que ao invs dos termos grande mdia

e mdia alternativa, utilizaremos os conceitos de grande imprensa e imprensa alternativa, estes

sero melhor conceituados na seo seguinte, onde tambm trataremos dos jornais

contemplados para nossa anlise.



Os jornais Folha de S. Paulo e Brasil de Fato

Adotamos como critrio de escolha sobre os editoriais a seguinte classificao: jornal

da grande imprensa e jornal alternativo. Mas o que significam essas classificaes? Como se

caracterizam? Ser essa nossa tarefa nesse momento.

Para jornal da grande imprensa, utilizaremos a definio de Alves Filho (2001, p.

55), segundo o qual so aqueles que fazem parte da indstria cultural, so sediados em

centros urbanos, possuem grandes tiragens, so lidos por milhares de pessoas diariamente e

desfrutam de alta credibilidade social.

O jornal da grande imprensa escolhido para a anlise de editorial foi a Folha de So

Paulo7. Esse dirio contempla todas as caractersticas necessrias para se enquadrar na

classificao de veculo da grande imprensa. considerado o jornal mais importante do pas,

seus leitores o chamam carinhosamente de Folha, est sediado na cidade economicamente

mais prspera do pas. Seu antigo e notrio slogan Folha no d pra no ler, fazia meno

ao fato de que a sua leitura deve ser considerada indispensvel a muitos brasileiro. O jornal

se autodenomina como sendo um jornal a servio do Brasil e possui cadernos e suplementos

que gozam de grande prestgio. O jornal parte importante do Grupo Folha que, alm do

impresso, controla mais de 20 outros meios de comunicao8, divididos entre impressos

(jornais como o Valor Econmico, por exemplo, e revistas como a Serafina e o Guia Folha);

servios de internet (provedores, como o UOL, o maior do pas); sistema de pagamento

seguro para transaes eletrnicas (como o Pagseguro); e institutos de pesquisa (como o

consagrado Datafolha).

Uma parte daqueles jornais que no se enquadram na formatao que tipifica a Folha,

chamada de jornais alternativos, ou ideolgicos. Entre os jornais desta classificao

escolhemos para a anlise em curso os editoriais do Brasil de Fato9. Este impresso foi

lanado durante o Frum Social Mundial de Porto Alegre, em 2003, por diferentes

organismos dos movimentos sociais: MST, Via Campesina, Consulta Popular e Pastorais

Sociais. Possui uma tiragem semanal e circulao nacional. O jornal foi criado com o intuito

de contribuir no debate de ideias e na anlise dos fatos do ponto de vista da necessidade de

mudanas sociais no pas.10 O jornal tambm lanou recentemente um semanrio que circula

7 O jornal Folha de S. Paulo teve seus editoriais analisado no perodo de 10 a 30 de junho, mediante a utilizao de seu acervo digital disponvel em: http://acervo.folha.com.br/. 8 Para maior detalhamento acessar o site institucional do Grupo Folha. Disponvel em: www1.folha.uol.com.br/institucional/ . Acesso em: 08/07/2013. 9 O jornal Brasil de Fato teve seus editoriais analisados no perodo de 06 de junho a 03 de julho de 2013, o que corresponde a 4 (quatro) edies do semanrio, mediante acesso em seu site: www.brasildefato.com.br. 10 Site do jornal disponvel em: http://www.brasildefato.com.br/node/1 . Acesso em: 07/07/2013. D iretor ia de Educao Super ior/Faetec/SECT-RJ


no Rio de Janeiro e distribudo gratuitamente. O Brasil de Fato tambm possui seu brao

virtual, onde funciona como agncia de notcias, disponibilizando diariamente informaes e

anlises de carter contra-informativo seja atravs de seu site (Brasildefato.com.br) ou em sua

Fun Page (facebook.com/brasildefato). Tais iniciativas, ao nosso ver, so partes de uma

estratgia que busca furar o bloqueio miditico que, de forma contumaz, discrimina ou

ignora reivindicaes de cunho popular (Moraes, 2013).

As manifestaes de junho no Brasil

Sendo o foco deste trabalho a cobertura editorial das manifestaes e dos protestos

ocorridos em junho, por todo o Brasil, entendemos ser necessrio tecer algumas palavras

sobre seu carter, causas, caractersticas e reivindicaes de maneira compreender melhor o

posicionamento dos impressos sobre a temtica.

As manifestaes iniciaram-se em So Paulo, mais precisamente no dia 06 de junho de

201311. Motivado pela no aceitao do aumento das tarifas dos nibus que circulam na

capital paulista o MPL (Movimento Passe Livre), utilizando as redes sociais, convocou

diversos jovens e estudantes, e quem mais se dispusesse, a protestarem sobre o ocorrido,

considerado inaceitvel. O palco escolhido para os atos foi a Av Paulista, smbolo do poder e

centro financeiro da maior metrpole da Amrica Latina. Deste marco temporal em diante os

protestos se espalharam pelas principais capitais at culminar com a revogao do aumento

das tarifas em diversas cidades brasileiras, incluindo So Paulo e Rio de Janeiro, em 20 de

junho (O Globo, 2013). Neste mesmo dia, estima-se que s, na cidade do Rio de Janeiro, 1

milho de pessoas foram s ruas. Alm desse fato expressivo, tambm ficaram marcados

como smbolos dessas manifestaes alguns fatos verdadeiramente surpreendentes: a quase

ocupao do Congresso Nacional; a plena ocupao da Esplanada do Planalto; a ocupao de

diversas cmaras municipais pelo Brasil; e os distrbios na Assembleia Legislativa do Estado

do Rio de Janeiro.

As manifestaes ficaram conhecidas por diversos nomes: Revolta das tarifas,

Revolta do vinagre (por conta das apreenses de vinagre feitas pela polcia, este foi

utilizado como antdoto para os efeitos dos gases de pimenta e lacrimogneo), ou ainda

Primavera brasileira (uma clara aluso ao ventos revolucionrios que sopraram no Oriente

Mdio e derrubaram ditaduras, h muito, estabelecidas). Inicialmente possuam como mote de

11 Para uma cronologia mais detalhada das manifestaes consultar o portal Terra: http://noticias.terra.com.br/brasil/cidades/confira-a-cronologia-e-os-principais-acontecimentos-dos-protestos-em-sp,7100898aa144f310VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html . Acesso em: 10/07/2013.



ao o fim do aumento das tarifas. Todavia, durante o seu curso, diversas pautas passaram a

agregar o coro dos insatisfeitos, entre algumas delas estavam o arquivamento da PEC 37

(Proposta de Emenda Constitucional que buscava retirar do Ministrio Pblico a atribuio de

fazer investigaes), destinao de 10% do PIB para educao e melhorias e mais verbas para

o SUS (Sistema nico de Sade). Igualmente, podemos definir como marcas dessas

manifestaes o grito contra a presena de partidos nos protestos de ruas, a violncia policial

contra os manifestantes e a imprensa e as depredaes contra smbolos do sistema econmico

e poltico como: bancos, sedes de multinacionais, cmaras municipais de vereadores e

assemblias legislativas estaduais.

Cabe-nos finalmente fazer uma observao fundamental sobre o carter dessas

manifestaes. A analogia feita acima, dos protestos aqui ocorridos com os recentes protestos

rabes, poderia tambm ter sido feita com os movimentos contestatrios ocorridos na Espanha

e que foram convocados pelo movimento conhecido como #15M, sem com isso gerar nenhum

prejuzo ao entendimento dos fatos, uma vez que, os protestos ocorridos deste lado do

atlntico e os movimentos que varreram a pennsula Ibrica e o Oriente Mdio guardam uma

semelhana deveras importante, todos se caracterizam por se apoiarem fortemente na

utilizao dos recursos tecnolgicos e das redes sociais para organizao e convocao de

seus atos o que lhes deu um carter de organizao horizontal, onde no h liderana, mas sim

troca entre os participantes (PUDDEPHATT, 2011, TORET, 2012). A descrena em

estruturas e instituies de carter verticalizado (partidos, sindicatos etc.) tambm se

observava nestes movimentos (IASI, 2013). A busca por avanos e ajustes na democracia

representativa, como a criao de mecanismos de ao direta (WU, 2012), tambm uma

marca que, de maneira geral, os aproximam. Possuem aspectos que mais os unem do que os

distam, de forma que um intercmbio entre plos diversos de luta espalhados pelo planeta

surgem e orquestram, muitas vezes, protestos que ultrapassam as fronteiras nacionais12, dando

um vis supranacional aos atos, pois identificam o mesmo adversrio para os problemas do

desemprego, do achatamento salarial, do retrocesso sobre as previdncias sociais e o direito

moradia. Assim, assistimos o nascimento de um fenmeno que podemos chamar de

globalizao das lutas, na medida que, a sanha do capital afeta da mesma forma, guardada as

devidas propores, os homens lentos (SANTOS, 1996, p. 220) de todo o mundo, que

12 Em 15/10/2011, inspirados pelos espanhis que ocupavam praas em Madrid e Barcelona desde maio daquele ano e nos estadunidenses com o Occupy Wall Street, presentes nas praas do centro financeiro nova iorquino, mais de 80 paises se reuniram em ato mundial contra o sistema econmico, a iniciativa ficou conhecido como Movimento dos Indignados. Disponvel em: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/movimento-de-indignados-consegue-respaldo-mundial.html Acesso em 13/07/13.



reagem buscando dar um novo direcionamento poltica, entretanto, estas aes multi-

continentais s so possveis nesta temporalidade, graas ao advento da internet e todo o

potencial tecnolgico que com ela veio e surge, seja material, seja virtual.

Como a Folha de S.Paulo e o Brasil de Fato interpretaram as manifestaes de junho?

Sobre a cobertura dos impressos analisados, talvez a palavra que melhor traduza a

forma como as gazetas verbalizaram as manifestaes em sua primeira semana seja surpresa.

Tanto o jornal da grande imprensa como o jornal alternativo, na semana em que iniciaram os

protestos, no reservaram uma linha de seus editoriais sobre a temtica. Contudo, a ausncia

do fato nesses jornais e a maneira como a surpresa se deu possuem razes divergentes.

O Brasil de Fato um semanrio, portanto, a sua edio semanal de 06 a 12 de junho

no pontuou o fato por questes bvias. Ora, os protestos se iniciaram em 06 de junho e o

jornal s lanaria outra edio em 13 de junho, portanto, no houve como o veculo incluir na

edio da semana do incio dos protestos qualquer anlise sobre os mesmos, seja em sua

edio nacional, seja em sua edio fluminense, por falta de tempo hbil. Outra questo que

pode ser levantada, como hiptese, a seguinte: apesar do jornal ser ligado a movimentos

sociais, entre eles, e principalmente, o MST, que normalmente organizam marchas, protestos

e reivindicaes tomando as ruas, nenhum dos protestos de junho parecem ter ligao com

alguns dos movimentos que colaboram com o jornal, o que refora o carter horizontal e

urbano dos atos acorridos no ms de junho.

Diferentemente do Brasil de Fato, a Folha um dirio, de modo que a ausncia de

uma notcia ocorrida aps o fechamento da edio pode, se assim interessar ao jornal, ser

contemplada na edio do dia seguinte, ou seja, apesar de ter sido pego de surpresa pelos atos,

o jornal poderia ter, se no no dia posterior na semana corrente, tratado do tema. Contudo, tal

fato no ocorreu. O editorial da Folha s tratou das manifestaes no dia 13 de junho, uma

semana depois de j terem ocorrido eventos que, de uma maneira geral e em circunstncias

outras, j teriam sido alvo da anlise do jornal que est a servio do Brasil, de acordo com sua

auto-imagem. O fechamento da Av. Paulista, o confronto entre polcia e manifestantes e os

ataques s vidraas de bancos, no mereceram a ateno da publicao em seu editorial. Nele

foram privilegiadas anlises outras como:

a) crticas ao Senado e ao SUS (07/06);

b) elogios MP dos Portos e crtica construo de mais tribunais (08/06);

c) queda de popularidade da presidenta e posicionamento contra o rigor da legislao

que pune quem bebe e dirige (09/06);



d) transparncia sobre os tributos e a espionagem americana (10/6);

e) popularidade positiva do governador de So Paulo e lei de transparncia dos gastos

pblicos (11/6);

f) e finalmente, ataque poltica econmica do Planalto e a construo de corredores

nas vias marginais da cidade de So Paulo, esse ltimo dentro das razes dos

protestos, mas sem cit-los (12/6).

Pelo que foi posto acima, podemos inferir juntamente com Silva & Santos, (2011, p. 186) que

a ausncia do fato nos editoriais do dirio se d porque dimenses propriamente humanas e

de natureza social e poltica distributivista, de maneira geral, so secundarizadas em sua linha

editorial.

Passada essa informao inicial, que de certa maneira aproxima as duas publicaes,

no que diz respeito a coberturas das manifestaes, a partir de agora iremos analisar em

separado cada publicao de maneira a tornar mais didtica a apresentao dos fatos.

Na semana posterior ao incio das manifestaes o jornal Brasil de Fato, em sua

edio de 13 a 19 de junho, num esforo de levar ao seu leitorado uma anlise sobre os

ocorridos, ainda que em sua edio nacional novamente no tenha tratado do assunto, onde a

questo indgena foi privilegiada, a edio da sucursal carioca trouxe em seu editorial um

panorama da situao dos transportes no Rio de Janeiro. Pontuando sobre a necessidade de

haver uma poltica de mobilidade que no puna quem more longe do centro das cidades com a

ausncia de cultura/lazer e menor possibilidade de emprego. O semanrio buscou

contextualizar para seu leitor, ao nosso ver, a razo dos protestos, que desde a semana

anterior, ainda que de forma mais pontual, j haviam chegado capital fluminense13.

Na semana de 20/26 de junho o jornal, em seu editorial nacional, assinalava que o

receiturio neoliberal adotado na dcada de 1990 afastou o pas do caminho das reformas

estruturais, portanto, as manifestaes da juventude teriam o papel de retomar o avano na

direo dessas reformas. O editorial classifica as manifestaes como pedaggica para o

conjunto da classe trabalhadora (Brasil de Fato, 2013, p. 2) porque teriam o poder de trazer

o proletariado luta novamente. Ainda contemplado nesse editorial a denncia tentativa

da imprensa conservadora disputar os rumos das manifestaes. O editorial local do

semanrio d nfase conquista da reduo da tarifa na capital fluminense e em diversas

13 Mais detalhamento em infogrfico do jornal O Globo, http://oglobo.globo.com/infograficos/cronologia-protestos-onibus/ acesso em: 25/08/2013.



cidades do estado. O jornal utiliza ainda seu editorial para prestar um servio s

manifestaes, convocando para um ato, informando hora e local.

A edio da semana de 27 de junho a 03 de julho traz em seu editorial nacional um

claro posicionamento do impresso contra o que chamou uma tentativa da direita em

instrumentalizar as atuais lutas que surgem por reivindicaes legtimas e progressistas,

uma aluso evidente eficincia dos monoplios da comunicao em pautar o movimento

selecionando as bandeiras que interessam ordem (luta contra a corrupo, nacionalismo,

diminuio de impostos etc) (IASI, 2013). O editorial tambm trata da presena de grupos

extremistas (O Globo, 2013, p. 4), que, segundo o jornal, buscam isolar a esquerda

organizada dos atos (Brasil de Fato, 2013. p. 2), a partir de suas aes violentas. Trata

igualmente neste editorial de se posicionar a favor da presena dos partidos polticos nas

manifestaes, mas entende que a rejeio aos mesmos fruto do forte sentimento de

rejeio ao sistema poltico (idem). Convoca os trabalhadores da cidade e do campo,

juntamente com a populao das periferias a tomarem seu lugar nas manifestaes, pois, s

assim a possibilidade de se avanar para a construo de um poder popular ser possvel.

A edio fluminense em seu editorial coloca em discusso a questo dos meios de

comunicao e a necessidade de se buscar a sua democratizao, de maneira que, com isso

todos possam ter vozes. Entretanto, o que chama ateno neste editorial a convocao para

um ato que haveria na cidade, utilizando a primeira pessoa do plural: Hoje (27), mais uma

vez, vamos ocupar a Candelria14, deixando transparente a parcialidade do veculo, que se

pe ao lado dos manifestantes e como parte da luta e no como um mero instrumento de

informao.

A Folha, conforme foi explicitado acima, s se posicionou sobre as manifestaes em

seu editorial no dia 13 de junho e neste o fez de forma conservadora. O editorial intitulado

Retomar a Paulista chamava os manifestantes de grupelho e afirmava que eles se

aproveitam da irritao cotidiana da populao com transportes para exigir uma reduo de

tarifa que foi reajustada, abaixo da inflao (Folha de S. Paulo, 2013, p. 2). Portanto, na

avaliao do jornal, tanto barulho injustificvel. Ao tratar das aes que quebraram vidraas

de bancos perguntou: O que vidraas de agncias bancrias tm a ver com nibus? (idem).

O editorial vai alm, defende a polcia e sua ao violenta, j que cabe ao poder pblico

impor regras e limites ao exerccio de direitos,15 quando est tratando com marginais e

sectrios, nas palavras do jornal. Ou seja, a polcia agiu conforme se espera, quando se trata

14 Grifo nosso. 15 Grifo nosso.



de grupos de natureza reivindicatria. O veculo finaliza, em tom imperativo, que hora de

pr um ponto final (idem) nas aes dos manifestantes e conclama que a fora da lei seja

usada contra os vndalos.

No dia anterior edio de 15 de junho, um fato novo ocorreu nas manifestaes: a

polcia passou a agredir imprensa, alm dos manifestantes. A imagem de uma reprter da

Folha de So Paulo com o olho sangrando aps ser atingida por uma bala de borracha correu

o mundo, entretanto, o fato de um de seus profissionais ter sido atingido durante a ao

policial no fez, ainda, com que o jornal se posicionasse de forma diferente. O que ocorreu na

verdade foi um lamento ao fato de a polcia no identificar a imprensa como sua aliada, pois,

ela pode oferecer um testemunho expurgado do radicalismo sectrio que se impregnou nas

manifestaes contra o aumento da tarifa (Folha de S. Paulo, 2013. p. 2), portanto, deveria

ser vista como aliada. O jornal ainda chama a reivindicao por tarifa zero de irreal (idem) e

afirma que o MPL, se no acolhe, tolera grupos que esto interessados apenas em depredar o

patrimnio pblico (idem).

O jornal s volta a tratar das manifestaes em 18 de junho, um dia aps a presidenta

Dilma Rousseff ter sido vaiada na abertura da Copa das Confederaes. O jornal procurou dar

a entender que as vaias presidenta estavam relacionadas aos protestos que se espalhavam

pelo pas, pois, entre os protestos a m aplicao do dinheiro pblico, como na construo de

estdios, era umas das pautas.

Aps as vaias presidenta, o jornal que at ento no dispusera espao em seu

editorial para tratar dos protestos em dias seguidos, curiosa e novamente, no dia 19 de junho

retorna ao tema. Neste dia a comum presena de dois editoriais por edio, sede lugar para

apenas um, e este inicia com uma mea culpa afirmando que as manifestaes em geral so

pacficas, que os atos mais extremos foram provocados por uma minoria e que foi um

equvoco subestimar as aes do Movimento Passe Livre. A expresso no so s por 20

centavos foi utilizada para justificar que as manifestaes vo alm do aumento das tarifas, a

insatisfao com os governos de Dilma Rousseff, Alckmim, Srgio Cabral e Fernando

Haddad, chegaram aos protestos. O jornal no deixou de afirmar que a medida do governo de

Haddad em recuar com o aumento temerosa, pois, aumentaria o valor do subsdio da

prefeitura para garantir a irreal tarifa zero. Destacam-se nesse editorial, o elogio polcia

paulista que se redimiu dos abusos anteriores e que a classe mdia a grande protagonista

dos protestos e que a inflao levou mais pessoas s ruas do que a ao truculenta da polcia.

Pelo terceiro dia seguido a Folha tratou das manifestaes em seu editorial, com o

ttulo Vitria das Ruas (20/06), que refletia o recuo do aumento das passagens em diversas



capitais. O jornal, contudo, cobra ao prefeito de So Paulo que explique de onde sairo as

verbas para pagar a conta. Neste editorial o jornal afirma que nenhum grupo poltico poder

tirar vantagens eleitorais dos protestos, e que a mandatria do Planalto, mesmo gozando de

alta popularidade, sofreu com um sentimento de insatisfao difuso. A ao dos

congressistas tambm foi posta em pauta, uma vez que, estes buscam, agora, estudar formas

de acelerar a votao de projetos com apelo popular.

Os editoriais dos dias 23 a 30 de junho, respectivamente, guardam em si uma

caracterstica: excetuando o do dia 28 de junho, que trata da sabatina feita aos integrantes do

MPL pelo jornal, todos os demais trazem como ponto em comum a crtica aos governos do

PT. Tanto na esfera federal, com Dilma Rousseff, quanto na esfera municipal com Fernando

Haddad, as aes desses governos foram postas, pelo jornal, como sendo os motivos das

manifestaes. As reivindicaes, a problematizao do tema e as consequncias, como a

depredao do patrimnio pblico e o enfretamento s foras policiais, em nenhum momento

foram postas mesa. Nesse raciocnio, onde a razo do aumento dos protestos no era mais

a insatisfao com o sistema poltico partidrio ou com limites da democracia representativa

no Brasil, o PT passou a ser o motivo do aumento dirio dos protestos. Num dia a causa era a

corrupo, em outro o mau uso do dinheiro pblico ou a precariedade dos sistemas de

educao e sade, o nmero de ministrios, considerado alto, tambm foi pontuado como

razo das ruas tomadas. Nesse perodo os governos tucanos foram esquecidos e eximidos de

crticas. Igualmente curioso a semelhana do perfil de publicaes na fun page do PSDB no

Facebook onde Em uma viso de conjunto, a perspectiva do PSDB a respeito centrou-se nas

temticas do combate corrupo e do recado aos governantes, um modo sinuoso de

associar as jornadas ao questionamento popular sobre o governo federal e o PT (SILVA,

2013).

As respostas ao grito das ruas como as propostas de convocao de constituinte

exclusiva e plebiscito no agradaram publicao, foram muito criticadas e chamadas de

balbrdias pela Folha no dia 26 de junho. Neste mesmo dia em seu editorial o jornal se

posicionou como sendo a favor de uma reforma poltica que contemple entre outros pontos o

voto distrital misto e a manuteno do financiamento privado de campanha eleitoral.

Podemos esquematizar, da seguinte forma, como o jornal se posicionou nos editoriais

de 23 a 30 de junho:



Posicionamento da FolhaData Ttulo

23 de junho Mensagem bem-vinda

As medidas tomadas pela presidente

deveriam comear por dar o exemplo

reduzindo o nmero de ministrios.

24 de junho Protesto e Contrato

Liberar mais dinheiro para sade, educao

e mobilidade um erro, pra isso preciso

ser austero e cortar gastos antes.

25 de junho

CPI dos nibus (SP)

Qualquer tentativa do prefeito Fernando

Haddad (PT-SP) em adiar a CPI destoar do

clamor das ruas.

26 de junho Confuso constituda

Constituinte e plebiscito e corrupo como

crime hediondo so balbrdias e no

resolvero os problemas conforme se

espera.

27 de junho Braslia se agita

Medidas como transformar corrupo em

crime hediondo e passe livre a estudantes

so medidas populistas e incuas.

Necessrio diminuir o nmero de

ministrios.

28 de junho Muito alm das catracas

O MPL afirma que mobilidade um direito

como sade e educao, por isso, defende a

tarifa zero, nesse raciocnio deve ser criado

o almoo grtis. Mas quem pagar por isso?

Mais impostos?

29 de junho No s pelo dinheiro

Sade, educao esto nos protestos, mas

destinar mais dinheiro a essas reas no o

caminho para resolver esses problemas

30 de junho Infeliz e no sabia

O governo federal no tem utilizado toda a

verba destinada aos transportes,

promovendo as justas manifestaes por

mais mobilidade.

Tabela elaborada pelo autor, a partir dos exemplares da Folha de S. Paulo.

Consideraes Finais

A anlise dos editoriais dos jornais Folha de S. Paulo e Brasil de Fato, sobre as

manifestaes de junho, trouxe como resposta a diferena na cobertura do fato sobre os

jornais que integram a grande mdia, ou grande imprensa, e os jornais alternativos.

Ficou claro que, no caso dos jornais alternativos, no h a menor preocupao em

parecer isento, neutro ou imparcial, muito pelo contrrio, em seus editoriais o jornal faz

questo de se mostrar inserido e parte daquilo que vem sendo noticiado. Neste caso as



manifestaes e os atos contra o aumento da passagem. O posicionamento do veculo em um

de seus editoriais, ao clamar a populao para um ato em primeira pessoa, deixa claro que o

jornal, comprometido com uma viso de mundo esquerda, est ao lado dos manifestantes e

dos protestos.

O inverso observado quando se analisa os editoriais da Folha de S. Paulo, um jornal

da grande imprensa. Tudo o que este jornal quer parecer imparcial, neutro e isento. Essa

preocupao se d justamente porque a publicao no um mero instrumento de informao,

ela parte de um negcio, portanto, os jornais que atuam como indstria cultural necessitam

de credibilidade, o que os leva a noticiar os fatos com o mximo de objetividade e

imparcialidade, como assevera Alves Filho (2001, p. 63). Contudo, apesar do esforo, estes

critrios no podem ser seguidos por publicaes da grande imprensa, pois, estes veculos se

vm impossibilitados de assim proceder, uma vez que, como empresas capitalistas, os jornais

da grande imprensa so porta-vozes de um sistema de crenas, de uma viso de mundo que

precede o acontecer (idem). Portanto, imparcialidade, iseno e neutralidade so muito mais

estratgias de carter mercadolgico do que uma prtica de posicionamento tico/ideolgico

desses meios, que pelo que foi posto, impossvel de ser praticada.

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Resumo: O presente artigo tem por objetivo, analisar como foi a cobertura das manifestaes de junho de 2013, feita pelos jornais da grande imprensa e da imprensa alternativa, tomando como recorte os seus editoriais. Os jornais escolhidos para essa anlise foram o dirio Folha de S. Paulo e o semanrio Brasil de Fato, respectivamente, representantes da grande imprensa e da imprensa alternativa.

Palavras-chave: Grande imprensa; Imprensa alternativa; Manifestaes de junho. Abstract: This article aims to analyze how was the coverage of the demonstrations of June 2013 made by the newspapers of the mainstream media and alternative media through the eyes of his editorials. The papers chosen for this tentame were the daily Folha de S. Paulo and the weekly Brasil de Fato, respectively, representatives of mass media and alternative media.

Keywords: Press; Alternative Press; Protests.

Recebido em: 26/08/2013.

Aceito em: 10/09/2013.


Midia Alternativa e Grande Imprensa - Cícero de Aquino Costa Simões

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