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    UM ESTUDO SOBRE O MOVIMENTO MINIMALISTA NA HQ DO GAVIOARQUEIRO DE MATT FRACTION E DAVID AJA

    RESUMO

    Este artigo tem como proposta estudar o movimento minimalista na hq do Gavio Arqueiro de roteirode Matt Fraction e desenhos de David Aja, de 2012. As histrias em quadrinhos, segundo Barbieri(1998), possuem uma linguagem prpria. Essa linguagem tem a capacidade de adaptar outraslinguagens, e dessa forma, adaptar outras caractersticas. Esse processo est ligado s mudanas nosmeios para se contar histrias, que utiliza-se da linguagem de onde ela pensada. As histrias emquadrinhos eram vistas como arte sem valor, at que os movimentos artsticos (e os artistas de outrosmeios, como cinema e televiso), comearam a ser influenciados por elas. No obstante, as histriasem quadrinhos passaram a se utilizar da linguagem de outros meios e se apropriar dos movimentosartsticos de acordo com sua poca. Um desses movimentos artsticos dos quais os quadrinhos seapropriaram foi o movimento minimalista. Esse movimento surgiu nos Estados Unidos, na dcada de40 e 50. Aps estudo do objeto desse artigo, pode-se compreender que os aspectos do movimentominimalista no so usados pelos autores de forma aleatria e muito menos despretensiosa. Anarrativa sofre um impacto por conta do minimalismo utilizado, que ajuda a contar essa histria de

    uma maneira mpar. Em estudos futuros, devem ser observados nas outras hqs do Gavio Arqueiro deMatt Fraction e David Aja os aspectos do movimento minimalista e de outros movimentos artsticos.

    PALAVRAS-CHAVE:minimalismo; histrias em quadrinhos; Gavio Arqueiro.

    INTRODUO

    Este artigo um primeiro estudo sobre o movimento minimalista nas histrias em

    quadrinhos do Gavio Arqueiro com roteiro de Matt Fraction e desenhos de David Aja, que

    contam com aspectos grficos e uma histria que se diferencia das outras hqs de super-heris

    veiculadas no mesmo perodo de tempo.

    O trabalho de Fraction e Aja nessa hq rene elementos que chamam a ateno do

    leitor. Seja por comear dizendo que Clint Barton, conhecido como Gavio Arqueiro [...] se

    juntou aos Vingadores. Isso o que ele faz quando no est com eles., ou seja pelos desenhos

    de Aja, que assim como em seu trabalho no Imortal Punho de Ferro, possui um traado

    diferenciado, mostrando ao leitor influncias de movimentos artsticos que surgiram emdcadas anteriores.

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    Ao longo de seu desenvolvimento, as histrias em quadrinhos, assim como outrostipos de linguagem, passaram por mudanas e adaptaes. Durante o sculo XX, os

    quadrinhos absorveram, se adaptaram e influenciaram os movimentos artsticos e a cultura

    pop.

    Uma vez que os quadrinhos se ligam s outras linguagens da manifestao artstica, o

    objetivo da comunicao deste trabalho analisar o movimento minimalista nas histrias em

    quadrinhos, j que esse movimento artstico abrange os campos das artes plsticas

    (BODMAR, 2002), do cinema (EVANGELISTA et al., 2010), da literatura (SOBREIRA,2006) e do teatro (FARIA, 2011).

    A LINGUAGEM DOS QUADRINHOS

    Contar histrias uma ao que est natural nas sociedades humanas. Um ato que est

    presente em todos os agrupamentos humanos desde os tempos da pr-histria. Utilizadas para

    discutir valores morais e ticos, comportamento, para transmitir ensinamentos ou entreter, as

    histrias possuem seu valor na nossa cultura (EISNER, 2005).

    Esse tipo de comunicao s possvel existir se houver uma maneira em que os

    membros de uma comunidade possam se entender. necessrio ao contador de histrias uma

    ferramenta que possibilite a compreenso de sua mensagem. Essa ferramenta a linguagem.

    Barbieri (1998), trabalha com a ideia de que as linguagens no so apenas ferramentas

    comunicativas. Elas tambm so ambientes nos quais estamos inseridos e que vo determinar

    aquilo que queremos e aquilo que ns podemos comunicar. Uma interpretao para essa

    afirmao que, dependendo do ambiente que eu disponho, a linguagem possuir elementos

    que permitem variadas formas de se contar uma histria.

    A diferena entre um ambiente e um instrumento que o primeiro se habita, enquantoque o segundo se utiliza. Mais concretamente, a diferena entre habitar algo e utilizaralgo uma diferena que se refere aos nossos propsitos e, posto que estamos falandode linguagens, uma diferena que se refere aos nossos propsitos comunicativos, aaquele que queremos comunicar. (BARBIERI, 1998, p. 11)

    Os apontamentos feitos por Barbieri (1998) levam a alguns questionamentos. Ao

    pensar a linguagem como um ambiente, de que modo ns formamos uma ideia? a ideia que

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    leva para a linguagem a ser utilizada ou a linguagem que condiciona a formao de umaideia?

    O prprio Barbieri responde essas questes: No existem ideias que no tenham se

    formado no interior de uma linguagem, todas as ideias nascem em uma linguagem

    (BARBIERI, 1998, p. 12). Isso significa, ento, que as caractersticas da linguagem

    interferem na ideia, uma vez que a primeira seria o ambiente de nascimento da segunda.

    Na ao de contar histrias, o ambiente escolhido para a narrativa ser determinante para a

    forma da narrao.Os primeiros contadores de histria, provavelmente, usaram imagens grosseirasapoiadas por gestos e sons vocais que, mais tarde, evoluram at se transformar nalinguagem. Com o passar dos sculos, a tecnologia propiciou o surgimento do papel,das mquinas de impresso, armazenamento eletrnico e aparelhos de transmisso.Enquanto evoluam, esses aperfeioamentos tambm afetaram a arte da narrativa.(EISNER, 2005, p.12)

    As mudanas de tecnologia que permitem narrar histrias esto ligadas ao pensamento

    de Barbieri que diz sobre a autonomia de uma determinada linguagem tem sobre outras.

    Quando nos identificamos com uma linguagem, fazemos uso dela, pensamos e nos

    comunicamos com ela. a linguagem que constitui nosso universo e determina nossos

    limites. (BARBIERI, 1998, p.13)

    De acordo com Barbieri (1998), possvel distinguir quatro tipos de relao entre a

    linguagem dos quadrinhos e outras linguagens: Incluso, gerao, convergncia e adequao.

    Os quadrinhos reproduzem uma outra linguagem, adaptando suas caractersticas para

    sua prpria linguagem. Seria como os quadrinhos fazendo citaes de outras linguagens, mas

    ainda sendo histrias em quadrinhos e no outra coisa. por conta destas relaes entre linguagens que identificamos elementos de outras

    linguagens nos quadrinhos. Podemos perceber elementos da ilustrao, da caricatura, da

    pintura, da fotografia, do design grfico, da msica, da poesia, do teatro e do cinema.

    (BARBIERI, 1998).

    As histrias em quadrinhos, vistas como um arte sem valor j que eram voltadas para

    um pblico tido como inculto, comeam a se aproximar das belas artes na dcada de 60.

    Artistas de reas como o cinema, teatro, televiso e artes plsticas, declaram a influncia dos

    quadrinhos nos seus trabalhos. O pintor estadunidense Roy Lichtenstein, pertencente ao

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    movimento do Pop Art, incorporou elementos das histrias em quadrinhos em suas obras.Assim como Andy Warhol que utilizava as figuras do Superman e do Popeye em seus

    trabalhos (SILVA,2012).

    Na segunda metade do sculo XX, o intuito dos movimentos artsticos ps-modernos

    era aproximar a arte da vida. Segundo Silva (2012), para chegar nesse objetivo, os artistas

    exploravam as novas possibilidades de expresso, questionamento, indagao e como

    provocar por meio da arte. Outro fato ocorrido no sculo XX que o espectador passa a ser

    estimulado de forma majoritria por informaes visuais.Nesse mesmo perodo de transformaes nas artes visuais, quadrinistas reagiram s

    pginas de quadrinhos construdas de formas esttica. Eles utilizavam agora cortes diagonais

    de quadro, circulares ou curvilneos. Oefeito grfico resultava de uma dinamicidade muito

    maior. A ao contada era energizada a partir do primeiro impacto visual com a pgina.

    (BARBIERI, 1998, p. 165) A pgina, agora, representava algo mais do que no passado, sua

    composio estimula o leitor mais do que antes, dando mais fruio obra, assim como os

    movimentos artsticos ps-modernos intuam aos expectadores.

    O MOVIMENTO MINIMALISTA

    De acordo com Strickland (2000), o movimento minimalista surgiu na metade do

    sculo XX, nas dcadas de 40 e 50, tendo como precursores o pintor nova-iorquino Barnett

    Newman, com a tela Onement, I(1948) e o msico La Monte Young, que comps a msica

    Trio for Strings, em 1958. O nome do movimento foi dado por Richard Wollheim em um

    artigo de 1965 chamado deMinimal Art. O movimento minimalista tambm chamado de

    ABC art ou arte literal (JUVENAL, 2008). Para alguns crticos de arte, como aponta Bodnar

    (2002), o movimento minimalista uma sntese da op arte dapop art.

    As composies em arte minimalista podem ser definidas como disposies simples

    de unidade idnticas e intermutveis, utilizando frequncias modulares de inspirao

    matemtica e geomtrica, com grandes prolongaes (STRICKLAND, 2000).

    Segundo Bodnar (2002), esse movimento est ligado aos Estados Unidos, sendo ele

    uma reao ao Expressionismo abstrato. As obras minimalistas tem um carter irnico, crtico

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    e engenhoso. O desejo de rompimento desse movimento com os movimentos anteriores podeser notado no seu objetivo que era criar sentido a partir do mnimo. O Minimalismo reflete

    temas extrados da vida cotidiana e das culturas de massa.

    As obras minimalistas, em linhas gerais, possuem grandes dimenses, permitindo ao

    seu escultor um domnio do ambiente. Em alguns casos, o expectador invade o espao fsico

    da obra (BODNAR 2002). Por conta dessa enorme dimenso fsica, afirma Bodnar (2002),

    muitos museus no possuem espao suficiente para expor a obra. O que levaria a pensar que

    as esculturas minimalistas se negam a virar uma mercadoria de exposio e passam a serobjetos de fruio. As obras do minimalismo so formas artsticas das mais controversas,

    uma vez que o pblico geral no as considera como um tipo de arte.

    Diversas contradies sobre a natureza da arte minimalista so apontadas por

    crticos e historiadores da arte, como a designao nominal mais adequada para estes

    trabalhos, e at mesmo sobre os significados destas obras. Indiferente destas questes,

    alguns pontos podem ser percebidos em comum: so abstratas, no esto separadas

    do espao do espectador, e a natureza dos materiais que a compem no disfarada,

    so literais, no escondem sua origem industrial. (JUVENAL, 2008, p. 96).

    Os principais artistas plsticos desse movimento so: Don Judd, Dan Flavin, Carl

    Andr e Robert Morris. Eles iniciaram sua carreira como pintores e passaram ao campo da

    escultura com objetos tridimensionais. As caractersticas mais comuns s obras desses artistas

    eram o uso de formas cbicas e retangulares, repetio e igualdade das formas (BODNAR,

    2002), como pode ser visto na figura 1.

    Figura 1 - Obras de (1) Robert MorrisRope Piece(1964), (2) Carl AndreEquivalent V(1966-

    69) e (3) Don JuddSem ttulo (1967).

    Fonte: Museum of Modern Art. Disponvel em: Acesso em: 28 de maio de

    2015.

    http://www.moma.org/http://www.moma.org/http://www.moma.org/
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    O movimento minimalista, com o passar do tempo, foi ganhando adeptos em outroscampos artsticos, como a dana, o cinema, o teatro e a literatura. Os filmes Sleep eEmpire

    de Andy Warhol no campo do cinema; as coreografias de Merce Cunningham e Anna Halprin

    no campo da dana; na literatura temos Sam Shepard, Anne Beattie e Joan Didion e Samuel

    Beckett, no fim de sua carreira, no teatro (FARIA, 2011).

    Nas histrias em quadrinhos, notamos influncias desse movimento na composio

    de pginas, onde se usam repeties de quadro de tamanho pequeno em favor do ritmo da

    narrativa, como emBatman

    Cavaleiro das Trevas(1986), de Frank Miller e em O ImortalPunho de Ferro (2007), de Ed Brubaker, Matt Fraction e David Aja. Com mais nfase,

    notamos o uso da esttica minimalista nas revistas do Gavio Arqueiro de Matt Fraction e

    David Aja, objetos de estudo deste artigo.

    O GAVIO ARQUEIRO DE MATT FRACTION E DAVID AJA

    O objeto escolhido para este estudo foram as revistas de nmero um, dois e trs do

    Gavio Arqueiro (2012), da editoraMarvel, verso americana, com roteiros de Matt Fraction,

    desenhos de David Aja e colorizao de Matt Hollingsworth. Do roteiro, ser analisada a

    construo dos arcos de histria da revista, com reflexes sobre a temtica, a narrativa e as

    personagens. A partir do desenho sero analisadas os elementos grficos da revista: As

    composies de quadro, os desenhos dos personagens, dos cenrios e as cores.

    Por todas as trs revistas analisadas existem diferentes maneiras na qual o

    minimalismo representado. Essas diferentes maneiras tem um papel de importncia na

    histria. Atravs de uma anlise, possvel perceber a importncia que as personagens tero

    ao longo da histria, a percepo que elas tem do ambiente e quais detalhes da cena o leitor

    deve ficar mais atento.

    A primeira tcnica estudada ser o uso da silhueta de objetos e personagens. Fraction

    e Aja fazem uso dessa tcnica em diferentes momentos e com distintas significaes entre

    esses momentos.

    A primeira situao em que a silhueta utilizada quando se quer destacar algum(ns)

    elemento(s) dos quadros. Em diversas vezes os quadros so compostos por objetos que esto

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    detalhados juntamente com outros que s possuem a silhueta. Assim, os elementos que noso apenas silhueta so aqueles que o leitor deve prestar maior ateno. importante observar

    que no se trata de focos de incidncia ou ausncia de luz, mas de fato daquilo que o

    destaque real do quadro. A figura 2 ilustra essa situao.

    Figura 2 - Destaque para personagens fora da ao.

    Fonte: FRACTION, Matt e AJA, David. Hawkeye n.1. Marvel. 2012.

    As silhuetas desse quadro pertencem a Clint Barton/Gavio Arqueiro, protagonista da

    histria e Ivan, o antagonista. Nesse quadro o foco do leitor fica na reao dos personagens

    que no esto envolvidos na luta e que no possuem algum tipo de vnculo com os que esto

    lutando. Na mesma pgina dessa revista mostrado o confronto entre eles. Mostrar no ltimo

    quadro somente a silhueta dos personagens que estavam lutando foi a forma encontrada por

    Fraction e Aja para que o leitor prestasse ateno naquilo que estava ao redor. Se Clint e Ivan

    fossem retratados como os outros personagens da cena, seria provvel que o leitor ignoraria

    os outros personagens, fazendo com que a inteno dos autores em demonstrar a reao dos

    outros passassem despercebidas.Esse mesmo uso de silhuetas visto em outras pginas dessa revista, como mostra a

    figura 3.

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    Figura 3Quadros das pginas 18, 10 e 17.

    Fonte: FRACTION, Matt e AJA, David. Hawkeye n.1. Marvel. 2012.

    O outro uso das silhuetas se faz em momentos em que na cena o que importa a ao.

    A reao dos personagens fica restrita aos recordatrios. Essa , novamente, uma deciso

    grfica dos autores, pois assim como na primeira situao de uso das silhuetas, eles se

    apresentam como uma condio de iluminao do cenrio.

    Figura 4Uso de silhuetas para destacar a ao das cenas.

    Fonte: FRACTION, Matt e AJA, David. Hawkeye n.2 e n.3. Marvel. 2012.

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    Outra tcnica utilizada nessa hq que remete ao movimento minimalista o constanteuso de quadros pequenos, de tamanho igual e com repetio. Essa disposio simples de

    quadros na composio das pginas confere dinamismos diferentes ao longo da histria.

    Figura 5Clint Barton est em um encontro com seus vizinhos no topo do prdio.

    Fonte: FRACTION, Matt e AJA, David. Hawkeye n.1. Marvel. 2012.

    Nessa pgina, diferentes aes acontecem ao mesmo tempo. O uso desses quadros em

    tamanhos iguais confere ao leitor uma determinada rapidez pela qual ele vai passar na sua

    leitura pelos quadros. Isso d aos autores um controle sobre o ritmo da narrativa.

    Na pgina 4 da revista n.2, os autores querem mostrar que existe uma diferente

    velocidade de aes entre os personagens da pgina. Nessa situao, a ideia de que os

    quadros apresentem todos os detalhes do movimento labial da personagem Kate Bishop junto

    com o movimento de Clint Barton, porm ambos se desenvolvem em velocidades diferentes.Fazendo uso desse estilo, possvel mostrar um diferente ritmo na narrativa, sem que a pgina

    tenho seu entendimento comprometido, como mostra a figura 6.

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    Figura 6Diferentes velocidades narrativas em uma mesma pgina.

    Fonte: FRACTION, Matt e AJA, David. Hawkeye n.2. Marvel. 2012.

    Na imagem, Kate fala Isso legal., enquanto Clint se concentra, se preparar para

    tirar algumas flechas e as atira. Dividindo a fala da personagem Kate em vrios quadros, os

    autores conseguem no tirar o foco do leitor das aes de Clint. De outro modo, usando um

    quadro s, ou ainda outros que se misturassem aos quadros em que Clint aparece, o leitor

    distingue as duas aes e as compreende mesmo estando em duas velocidades narrativasdiferentes.

    Na pgina 20 da revista n.2, Kate Bishop e Clint Barton esto falando ao telefone um

    com o outro. A opo de desenho foi dividir quase a pgina inteira em pequenos quadros de

    tamanho igual. A repetio refora a ideia de uma imposio de ritmo narrativo desejado

    pelos autores.

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    Figura 7Uso de pequenos quadros para determinar o ritmo da narrativa.

    Fonte: FRACTION, Matt e AJA, David. Hawkeye n.2. Marvel. 2012.

    Os aspectos do movimento minimalista no esto presentes apenas na composio de

    quadros ou nos desenhos. Em alguns momentos do roteiro, Matt Fraction usa do minimalismo

    para mostrar ao leitor aquilo que importante ser fixado da histria. No balo de fala de

    outros personagens mostrado o que Clint Barton compreende deles. Desse modo, ao leitor

    resta entender a personalidade de personagens secundrios por esses pequenos detalhes.

    um jeito do mnimo para dizer o mximo, assim como Beckett fazia em suas obras no fim

    de carreira, como aponta Faria (2011). Na figura 8 temos exemplos do dito acima.

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    Figura 8Falas substitudas pelo o que o leitor deve compreender.Fonte: FRACTION, Matt e AJA, David. Hawkeye n.1 e n.2. Marvel. 2012.

    Um outro aspecto de destaque no roteiro, sobre o movimento minimalista, com

    relao maneira que o balonamento feito em alguns casos. Nesses, os bales aparecem

    sem o indicativo de quem est falando. Isso significa para o leitor que aquelas falas esto ali

    apenas para compor a sonoridade do ambiente, uma vez que aqueles personagens so

    secundrios. A figura 9 mostra um corte da pgina 10 da revista n.1 onde percebe-se essa

    exata situao. importante perceber que apenas um dos bales possui arremate. E

    justamente o balo do personagem secundrio que ser desenvolvido nas outras edies da

    revista, o que de certo modo confirma o raciocnio sobre os bales sem arremate.

    Figura 9Arremate no balo apenas do personagem secundrio que ser desenvolvido.

    Fonte: FRACTION, Matt e AJA, David. Hawkeye n.1. Marvel. 2012.

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    O ltimo tpico a ser abordado diz respeito ao uso das cores nas revistas. Existe umdomnio da cor roxa ao longo das trs edies estudadas nesse artigo. Esse domnio

    perceptvel quando olhamos, principalmente, a revista n.2, onde no apenas as roupas de

    Clint Barton possuem essa tonalidade, mas quase os quadros todos possuem uma camada de

    roxo por cima de suas cores. A figura 10 ilustra essa situao.

    Figura 10Dominncia da cor roxa.

    Fonte: FRACTION, Matt e AJA, David. Hawkeye n.2. Marvel. 2012.

    A revista n.3, dentre as estudadas, a que possui menos esse domnio. Ainda assim,

    quase todos os cenrios e vesturios relacionados aos dois protagonistas dessa revista, Clint

    Barton e Kate Bishop, so embebidos desse tom. Um entendimento para essa situao de

    que nessa histria os protagonistas estariam sendo conduzidos aos acontecimentos e no osprovocados, como acontece nas duas revistas anteriores. Na figura 11 temos duas pginas da

    revista n.3 que ajudam a entender melhor essa situao.

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    Figura 11Pginas 3 e 12. Diferena entre a dominncia de cores.

    Fonte: FRACTION, Matt e AJA, David. Hawkeye n.2. Marvel. 2012.

    CONSIDERAES FINAIS

    Aps os estudos das trs revistas escolhidas como objeto desse artigo, podemos

    observar que o movimento minimalista tambm tem impacto nos quadrinhos, mesmo longe

    dos anos em que esse estilo artstico teve incio.

    Aps constatar que de fato h uso do minimalismo nessas hqs, tambm pode-se

    concluir que ele no est colocado apenas como aspecto decorativo. Existe uma influncia na

    narrativa da histria que se encaixa na linguagem dos quadrinhos, tornando-o essa obra

    mpar.

    Assim como Bodnar (2002) afirma que o movimento minimalista possui carter

    irnico, crtico e engenhoso, essa hq tambm possui essas caractersticas, possuindo um jeito

    no convencional de mostrar um heri daMarvele fugindo dos clichs de histria de super-

    heri.

    recomendado para trabalhos futuros estudar outros movimentos artsticos que tem

    influncia sobre as histrias em quadrinhos modernas. Bem como continuar os estudos nasoutras revistas dessa hq de Matt Fraction e David Aja.

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    REFERNCIAS

    BARBIERI, D. Los lenguajes del cmic. Paids: Barcelona, 1993.

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    EISNER, W. Narrativas Grficas de Will Eisner. Devir: So Paulo, 2005.

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    FARIA, F. M. O mximo com o mnimo:a cena minimalista de Samuel Beckett. In: XIICongresso Internacional ABRALIC, 2011, Curitiba. Trajetrias cruzadas: narrativas e dramabeckettianos no limite do silncio, 2011.

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    MUSEUM OF MODERN ART. Minimalism.Disponvel em: Acesso

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    SOBREIRA, R. S. As tcnicas narrativas minimalistas de Sam Shepard.Estudos Lingsticos(So Paulo), v. 1, p. 1687-1694, 2006.

    STRICKLAND, E. Minimalism:Origins. Bloomington and Indianapolis: Indiana. Indianapolis,University Press, 2000.

    http://www.moma.org/http://www.moma.org/