MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE ... · currículo do curso de...

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EDUCAÇÃO ESCOLAR MESTRADO PROFISSIONAL ADRIANA GUSTAVO CARDOSO EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR: UMA REFLEXAO METODOLÓGICA PARA O CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIR-CÂMPUS DE VILHENA Trabalho de Conclusão Final de Curso: Dissertação PORTO VELHO RO 2016

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  • MINISTRIO DA EDUCAO FUNDAO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDNIA

    NCLEO DE CINCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE CINCIAS DA EDUCAO

    PROGRAMA DE PS GRADUAO EDUCAO ESCOLAR MESTRADO PROFISSIONAL

    ADRIANA GUSTAVO CARDOSO

    EDUCAO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR: UMA REFLEXAO

    METODOLGICA PARA O CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIR-CMPUS DE

    VILHENA

    Trabalho de Concluso Final de Curso: Dissertao

    PORTO VELHO RO

    2016

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDNIA NCLEO DE CINCIAS HUMANAS

    DEPARTAMENTO DE CINCIAS DA EDUCAO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO ESCOLAR

    MESTRADO PROFISSIONAL

    ADRIANA GUSTAVO CARDOSO

    EDUCAO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR: UMA REFLEXO

    METODOLGICA PARA O CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIR-CMPUS DE

    VILHENA

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Educao Escolar da Universidade Federal de Rondnia como requisito final para a obteno do ttulo de Mestre em Educao, sob orientao do Prof. Dr. Clarides Henrich de Barba.

    Porto Velho 2016

  • Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

  • Aos meus grandes amores Gabriel e Gilberto, Com amor, dedico.

  • AGRADECIMENTOS

    Quando pensamos em caminhar rumo ao conhecimento, no fazemos este

    trajeto sozinhos.

    Quero agradecer a algumas pessoas que dele fizeram parte e me ajudaram a

    chegar at aqui:

    Deus, nosso Pai, que nos enche de coragem, fora e f!

    Ao meu amado filho Gabriel, compreensivo, amoroso e companheiro em

    todos os momentos desde sempre;

    Ao meu amado companheiro Gilberto, incansvel, dedicado e atencioso em

    todas as jornadas sempre com um voto de otimismo;

    Ao meu Professor Orientador Prof. Dr. Clarides Henrich de Barba, por ter me

    motivado e acreditado na minha ideia de pesquisa;

    s Professoras Prof. Dr. Maria Madalena Ferreira e Prof. Dr Maria Cndida

    Muller pelas valiosas contribuies a este trabalho e por terem aceitado participar da

    banca;

    A todos os professores e professoras do Programa de Ps-Graduao em

    Mestrado em Educao Escolar pela oportunidade de aprendizagem e troca de

    saberes;

    A minha colega e amiga de Mestrado Michele Gomes Ne pela fora e ajuda

    nos momentos precisos;

    Em especial, aos acadmicos do curso de Pedagogia da Fundao

    Universidade Federal de Rondnia por terem aceitado participar deste estudo.

  • CARDOSO, Adriana Gustavo. EDUCAO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR: UMA REFLEXAO METODOLGICA PARA O CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIR-CMPUS DE VILHENA. Porto Velho/RO. 2016. 113 p. Dissertao (Mestrado Profissional em Educao Escolar) - Programa de Ps-Graduao em Educao Escolar - UNIR, Porto Velho, 2016.

    RESUMO

    A questo socioambiental apresenta-se como um grande desafio para a sociedade.

    Ao mesmo tempo em que se fala em desenvolvimento acelerado, expanso agrcola

    e utilizao dos recursos naturais, em sua plenitude, esse movimento est

    relacionado diretamente a problemas ambientais severos que tm se apresentado

    cotidianamente. Assim, a Universidade, imbuda de sentimento de criao, reflexo

    e ao dos sujeitos envolvidos na sociedade, na perspectiva de construo do

    conhecimento, permanece, enquanto instituio cientfica, com a funo social de

    promover o entrelaamento desse saber com o cotidiano vivenciado. Esta pesquisa

    identificou as percepes que os acadmicos de Pedagogia do 6. perodo da

    Universidade Federal de Rondnia (UNIR), Cmpus de Vilhena, tm em relao

    Educao Ambiental (EA), aos Recursos Naturais, Sustentabilidade e

    Responsabilidade Socioambiental. A partir dessa realidade, o objetivo principal foi

    identificar como concebida a educao ambiental no ensino superior e como ela

    pode ser significativa para o entendimento da interdependncia entre os seres vivos

    e o seu ambiente, podendo colaborar na construo de intervenes e aes mais

    conscientes e coletivas na questo ambiental. O caminho metodolgico escolhido foi

    da pesquisa-ao e, tratando-se de uma pesquisa qualitativa, foi aplicado um

    questionrio de perguntas abertas e fechadas para identificar as concepes iniciais

    de EA dos acadmicos para depois ser realizada uma oficina temtica. Os dados

    levantados nesta pesquisa demonstraram que os sujeitos ainda percebem a

    natureza com o enfoque racionalista pois sugeriram que o ser humano apenas

    utilizador do ambiente. Constatamos, contudo, que a insero da disciplina de EA no

    currculo do curso de Pedagogia da UNIR Cmpus de Vilhena questo

    fundamental no mesmo para que os acadmicos possam estar percebendo o

    ambiente natural de forma holstica.

    Palavras-chave: Educao Superior. Educao Ambiental. Percepo Ambiental. Curso de Pedagogia do Cmpus de Vilhena-UNIR.

  • CARDOSO, Adriana Gustavo. Enviromental education higuer education: a reflection methodology for pedagogy course of joining- Vilhena Cmpus.Porto Velho/RO. 2015. 113 p. Dissertation (Professional Master in School Education) Graduate Program in School Education UNIR, Porto Velho, 2016.

    ABSTRACT

    The environmental issue represents a major challenge to society. While fast

    development, agricultural expansion and the use of natural resources are iscussed,

    in its fullness, this movement is directly related to severe environmental problems

    that arise daily. This way, the University, imbued with a feeling of creation, reflection

    and action of those involved in society, aimed at constructing knowledge, remains, as

    a scientific institution, with the social function of promoting the intertwining of this

    knowledge with what is experienced every day. This study aimed at identifying the

    perception that Pedagogy students of the 6th semester at the Federal University of

    Rondnia (UNIR), Vilhena Cmpus, assume in relation to Environmental Education

    (EE), to Natural Resources, to Sustainability and to Environmental Responsibility.

    The objective of this study was, from this reality, identify how the environmental

    education is conceived in higher education and how it can be significant for

    understanding the interdependence of the organisms and their environment, possibly

    collaborating on the construction of more conscious and collective interventions and

    actions directed to the environmental issue. The chosen methodological approach

    was the action research and, as a qualitative research that this study is, a

    questionnaire with open and closed questions was applied in order to identify

    students initial conceptions related to the EA and, after that, a thematic workshop

    was conducted. The data collected in the survey showed that subjects still perceive

    nature with the rationalist approach it suggested that the human being is just setting

    the user. We note, however, that the inclusion of the EA discipline in the UNIR

    Vilhena Cmpus Pedagogy course curriculum is fundamental in the same so that

    academics can be realizing the natural environment holistically.

    Keywords: Higher Education. Environmental Education. Environmental Perception.

    Pedagogy course of the Federal University of Rondnia Vilhena Cmpus.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1:Cidade de Vilhena........................................................................................52

    Figura 2: Mapa do Estado de Rondnia e localizao da cidade de Vilhena............53

    Figura 3: Espao que foi realizada a oficina de EA .................................................. 74

    Figura 4: Turma assistindo o documentrio ............................................................. 75

    Figura 5: Turma discutindo sobre o documentrio ................................................... 76

    Figura 6: Saco da Reciclagem ................................................................................. 78

    Figura 7: Saco da Reciclagem ................................................................................ 78

    Figura 8: Lixeira da coleta seletiva ........................................................................... 81

    Figura 9: Cores Internacionais da Coleta Seletiva ................................................... 82

    Figura 10:Construo de Conceitos de EA pelos participantes.................................83

    Figura 11:Plantio de mudas........................................................................................84

    Figura 12:Confraternizao coletiva aps oficina.......................................................86

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1- Correntes de Educao Ambiental ......................................................... 36

    Quadro 2- Princpios e Valores da UNIR................................................................... 50

    Quadro 3- Matriz Curricular 8 perodo Pedagogia ................................................ 59

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 : Percentual dos participantes por gnero ............................................... 63

    Grfico 2 : Categorias identificadas na questo sobre a importncia da EA ........... 65

    Grfico 3 : Alternativas consideradas mais importantes para o Meio Ambiente....... 67

    Grfico 4 : Aes voltadas EA consideradas pelos acadmicos............................69

    Grfico 5 : Importncia da EA no currculo da Universidade.....................................70

    Grfico 6 : O curso de Pedagogia da UNIR- Cmpus Vilhena deve desenvolver mais

    aes para EA............................................................................................................71

  • LISTA DE SIGLAS

    A Aluno (a)

    AC Anlise de Contedo

    CECAE Coordenadoria Executiva de Cooperao Universitria e de Atividades Especiais

    CFE Conselho Federal de Educao

    CNE Conselho Nacional de Educao

    EA Educao Ambiental

    CIEARO Comisso Interinstitucional de Educao Ambiental do Estudo de Rondnia

    COM-VIDAS Comisso do Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola

    CMMAD Comisso Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento

    CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

    CONSEA Conselho Superior Acadmico

    CONSEPE Conselho de Ensino, Pesquisa e Extenso

    CTG Centro de Tradies Gachas

    LABEA Laboratrio de Educao Ambiental

    LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional

    FNO Fundo Constitucional de Financiamento do Norte

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

    MMA Ministrio do Meio Ambiente

    MEC Ministrio da Educao e Cultura

    ONU Organizao das Naes Unidas

    PC Plano de Curso

    PCN Parmetros Curriculares Nacionais

    PDI Plano de Desenvolvimento Institucional

    PIN Plano de Integrao Nacional

    PLANAFORO Plano Agropecurio e Florestal de Rondnia

    PNEA Poltica Nacional de Educao Ambiental

    PNRS Poltica Nacional de Resduos Slidos

    PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    PNUMA Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente

    POLONOROESTE Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil

    PPC Projeto Pedaggico de Curso

    PPP Projeto Poltico Pedaggico

    PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

    RO Rondnia

    SEDAM Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental (RO)

  • SEMARO Secretaria do Meio Ambiente de Rondnia

    SEMED Secretaria Municipal de Educao

    SEMMA Secretaria Municipal de Meio Ambiente

    SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservao

    SPVEA Superintendncia do Plano de Valorizao Econmica da Amaznia

    TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    UC Unidades de Conservao

    UNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao

    UNIR Fundao Universidade Federal de Rondnia

    USP Universidade de So Paulo

  • SUMRIO 1 INTRODUO ...................................................................................................... 14

    2 DELINEAMENTO DA PESQUISA ......................................................................... 21

    2.1 A Pesquisa-Ao no processo investigatrio ...................................................... 21

    2.3 Procedimentos metodolgicos ........................................................................... 22

    3 A EDUCAO AMBIENTAL NO CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO ...... 27

    3.1 Histria e Caracterizao da Educao Ambiental ............................................. 27

    3.2 Tendncias da Educao Ambiental ................................................................. 35

    4 A EDUCAO AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE ................................................ 40

    4.1 A Universidade no contexto brasileiro ................................................................ 40

    4.2 A Insero da Educao Ambiental no currculo das Universidades .................. 42

    5. A PRTICA DA EDUCAO AMBIENTAL NO CURSO DE PEDAGOGIA DA

    UNIR DO CMPUS DE VILHENA ............................................................................ 46

    5.1 O Estado de Rondnia e a insero da UNIR no contexto ambiental ................. 46

    5.2 O Contexto da Pesquisa: a cidade de Vilhena.....................................................51

    5.3 A Insero da UNIR no Estado de Rondnia e a EA no Curso de Pedagogia da

    UNIR - no Cmpus de Vilhena ................................................................................. 55

    5.4 Relatos dos alunos ............................................................................................ 62

    5.5 Oficina de Educao Ambiental ......................................................................... 74

    6 PRODUTO FINAL ...... .......................................................................................... 87

    6.1 Plano de Curso reformulado.................................................................................87

    6.2 Criao do Laboratrio de Ensino de EA.............................................................90

    7. CONSIDERAES FINAIS ................................................................................. 92

    REFERNCIAS ....................................................................................................... 95

    APNDICE...............................................................................................................102

    ANEXOS...................................................................................................................105

  • 14

    1 INTRODUO

    A questo socioambiental apresenta-se como um grande desafio para a

    sociedade. Ao tempo em que se fala em desenvolvimento acelerado, expanso

    agrcola e utilizao dos recursos naturais em sua plenitude este movimento est

    relacionado diretamente a problemas ambientais severos que tem se apresentado

    cotidianamente.

    Nesse sentido, a conservao e preservao ambiental, precisa estar

    cotidianamente presentes nas atitudes de uma sociedade consumista que se

    instalou ao longo de dcadas e, a Educao Ambiental (EA) apresenta-se como uma

    forma de se vivenciar este processo de conscientizao.

    De acordo com Demo (1993, p. 30), mais que deter conhecimento disponvel

    sobre EA, trata-se de habilitar metodologicamente a pessoa a manej-lo e a produzi-

    lo. Assim, o conhecimento por si, no constri sujeitos crticos, especialmente para

    uma conscientizao ambiental, necessitam utilizar de seu conhecimento de

    pertencimento local e regional a fim de estar contribuindo com aes de

    sustentabilidade. O ensino nessa perspectiva, e a educao ambiental precisam

    estar dialogando qualitativamente e ambiguamente.

    Em 1988, foi elaborado o Relatrio da Comisso Brundtland, neste relatrio

    foi sugerida a convocao pela Organizao das Naes Unidas (ONU) no Rio de

    Janeiro em 1992, conhecida aps sua realizao por Rio-92. Este documento elenca

    uma srie de medidas que precisam ser tomadas pelos pases envolvidos para

    promover o desenvolvimento sustentvel. Destacamos algumas delas:

    a) preservao dos ecossistemas e da biodiversidade;

    b) diminuio do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com

    uso de fontes energticas renovveis;

    c) aumento da produo industrial nos pases no-industrializados com base

    em tecnologias ecologicamente adaptadas;

    d) atendimento das necessidades bsicas (sade, escola, moradia)

    (CMMAD, 1988)1.

    A questo ambiental nesse vis perpassa em nosso cotidiano, por isso se

    1 CMMAD Comisso Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nosso Futuro Comum.

    Fundao Getlio Vargas: Rio de Janeiro, 1988.

  • 15

    entende que a educao tem um papel fundamental em um olhar crtico do uso dos

    recursos naturais num sentido maior que o de preservar para a gerao atual e

    para as geraes futuras.

    H algum tempo o ambiente vm sofrido substancialmente em funo da ao

    antrpica de modo que esta ao tem degradado de forma prejudicial a natureza

    como por exemplo o desmatamento das florestas, o assoreamento dos rios e

    audes, a mudana climtica em prol cada vez mais da industrializao, etc. Deste

    modo, a percepo da sociedade diante da urgncia de uma conscincia ambiental

    prxis emergente. Assim, no Brasil, a preocupao com o ambiente natural tem

    sido discutida cada vez mais. O processo de industrializao e a globalizao

    planetria trouxeram um modelo econmico insustentvel para o planeta.

    Leff (2009) entende que a crise ambiental problematiza o pensamento

    metafsico e a racionalidade cientfica, abrindo novas vias de transformao do

    conhecimento por meio do dilogo e hibridao dos saberes:

    A crise ambiental uma crise da razo, do pensamento, do conhecimento. A educao ambiental emerge e se funda em um novo saber que ultrapassa o conhecimento objetivo das cincias. A racionalidade da modernidade pretende por prova a realidade, colocando-a fora do mundo que percebemos com os sentidos e de um saber gerado na forja do mundo da vida (p. 18)

    A este respeito podemos compreender que em um ambiente natural, as

    questes ambientais podem ser evidenciadas pelo modo em que os educadores

    possam trabalhar a educao ambiental diante do ambiente natural como um espao

    nico de vivncia dos seres e que dele necessitamos para sobreviver. Esta proposta

    de entrelaamento de saberes evidenciada por ele nos incita a questionamentos

    respeito das polticas ambientais proposta por Leff (2001) que determinam a

    conservao e a regenerao dos recursos de uma determinao das atividades

    produtiva. importante compreender que as polticas pblicas precisam estar

    atreladas assim em um desenvolvimento que seja economicamente sustentvel.

    Segundo Layrargues (2006), as sociedades se transformam, podendo estas

    transformaes serrem profundas ou superficiais, lentas ou rpidas, graduais ou

    instantneas e podem ser geradas por diversas causas como por exemplo de

    natureza social, econmica, tecnolgica e inclusive natural, resultando num processo

    sempre de mudanas.

  • 16

    Neste contraponto, Barba (2011, p.14) considera que a construo do

    conhecimento frente crise ambiental leva a refletir sobre o papel da cincia frente

    ao ser e ao agir do homem no mundo e nos leva, especialmente, a compreender a

    complexidade da temtica ambiental na sociedade contempornea.

    A educao nessa perspectiva possvel condutora de reflexes e aes

    sustentveis podendo oportunizar comunidade e aos acadmicos que dela fazem

    parte projetos de pesquisa e extenso contributivos a demanda ambiental instalada

    atualmente. A sociedade necessita de instituies educacionais comprometidas com

    a questo ambiental, para o enriquecimento do processo individual e igualmente

    coletivo.

    Nesta perspectiva, concordamos com Reigota (1996) quando afirma que:

    [...] A educao ambiental deve ser entendida como educao poltica, no sentido de que ela reinvidica e prepara os cidados para exigir justia social, cidadania nacional e planetria, autogesto e tica nas relaes sociais e com a natureza (REIGOTA, 1996, p. 10).

    Desse modo, a EA precisa ser compreendida e exercida com criticidade e

    responsabilidade diante da finitude dos recursos naturais, e a Universidade deve

    participar deste processo.

    A Universidade, por sua vez, formadora de profissionais em diferentes reas,

    deve estar inserida nesse processo de apropriao do saber ambiental voltado

    responsabilidade que todos devem ter em relao ao uso do ambiente. Nesse vis,

    Mathis (2001, p.17) corrobora quando afirma que:

    As universidades possuem uma funo humanista e transformadora, podendo assumir papel de promotoras no processo de desenvolvimento local e regional. Isto se deve a sua alta capacidade de lidar com a complexidade e ao fato de terem condies de gerar integrao para processar as ligaes e interdependncias que existem entre as vrias dimenses do desenvolvimento (MATHIS, 2001, p.17).

    Contudo, a Universidade imbuda de sentimento de criao, reflexo e ao

    dos sujeitos envolvidos na sociedade na perspectiva de construo do conhecimento

    permanece enquanto instituio cientfica com a funo social de promover o

    entrelaamento deste saber com o cotidiano vivenciado.

    De acordo com Cunha e Leite (1996, p. 82) as decises sobre o que

  • 17

    ensinar/aprender mostram-se vinculadas s formas de controle que vo passando,

    numa perspectiva histrica, de gerao para gerao. Assim, o currculo da

    Universidade muitas vezes pode no ser construdo por um coletivo, por isso

    preciso se ouvir as falas de todos os sujeitos envolvidos no processo para se pensar

    um projeto pedaggico que seja voltado para as realidades locais e que seja

    proposto de maneira interdisciplinar.

    De todo modo, a Universidade enquanto espao de reflexo configura-se na

    ideia de autonomia no sentido em que, enquanto instituio educacional deve ter

    caminhos percorridos em prol da sociedade em que est inserida numa prtica de

    reflexo e predisposio autnoma no fazer pedaggico construtivo, contribuindo

    sobremaneira para o desenvolvimento e conscientizao ambiental territorial local.

    Ao trabalhar a EA enquanto problemtica ambiental local e regional no

    currculo da universidade, se oportuniza discusses acerca de questes que esto

    no entorno dos afazeres pedaggicos da academia. A EA utilizada como instrumento

    de conscientizao e ao, deve ser considerada a partir das concepes dos

    sujeitos envolvidos no processo acadmico de ensino e evidencia-se o fato da

    existncia da disciplina de EA no currculo do curso de Pedagogia da UNIR a ser

    ministrada no 8 perodo letivo do curso.

    Nesta dimenso, a formao de professores engajados com as questes

    ambientais nos parece fundamental, pois o professor em formao deve ser um

    profissional reflexivo no apenas nas questes metodolgicas, mas tambm com as

    questes ambientais que o cercam.

    Importante salientarmos que, no processo de ensinar-aprender-ensinar, o

    professor deve cotidianamente refletir sobre o meio que est inserido, tornando

    assim sua prtica reflexiva e crtica. O professor deve estar atento as constantes

    mudanas ocorridas na sociedade contempornea visando sempre o bem estar

    coletivo enquanto sujeito educador e enquanto cidado.

    Assim, esta pesquisa se faz relevante no sentido de contribuir para o

    desenvolvimento da disciplina de EA oportunizando para a pesquisadora e alunos a

    construo coletiva dos contedos com um olhar reflexivo e crtico no mbito dos

    contedos ambientais, propondo revelar tambm a importncia desta disciplina no

    contexto curricular do curso e na Universidade.

    Pretendemos com esta pesquisa, identificar as percepes que os

    acadmicos do 6 perodo do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de

  • 18

    Rondnia (UNIR) do Cmpus de Vilhena, tm em relao Educao Ambiental

    (EA), Recursos Naturais, Sustentabilidade e Responsabilidade Socioambiental

    enquanto sujeitos constituintes de uma comunidade local e regional com as

    seguintes questes de pesquisa:

    a) Que concepes os acadmicos do curso de Pedagogia da Fundao

    Universidade Federal de Rondnia Cmpus de Vilhena tm a respeito da

    educao Ambiental e como elas so percebidas para uma proposio de

    desenvolvimento da temtica na Escola para que se d maior ateno s formas de

    ver a natureza, provocando aes de manuteno crtica e reflexiva do meio em que

    se vive?

    b) Quais temas podem ser priorizados no ensino de EA para a formao de

    professores no curso de Pedagogia da Fundao Universidade Federal de Rondnia

    Cmpus de Vilhena?

    c) Como o caminho de construo e conscientizao da questo ambiental

    est sendo trilhado no ensino superior na perspectiva crtica de educao ambiental

    em especial no curso de Pedagogia- Cmpus de Vilhena?

    Deste modo, temos como objetivo geral identificar quais as concepes dos

    acadmicos do curso de Pedagogia Campus de Vilhena/UNIR tem sobre

    educao ambiental e como percebem se importante ou no a EA na formao de

    futuros educadores.

    Os objetivos especficos foram assim definidos:

    - Analisar quais concepes os acadmicos do curso de Pedagogia

    Campus Vilhena/UNIR tem sobre educao ambiental e como estas so percebidas

    atravs de um questionrio para uma proposio de desenvolvimento da temtica na

    Escola para que se d maior ateno s formas de ver a natureza, podendo

    colaborar na construo de intervenes e aes mais conscientes e coletivas na

    questo ambiental;

    - Identificar quais temas so priorizados no ensino de Educao Ambiental

    para a formao de professores no curso de Pedagogia da Fundao Universidade

    Federal de Rondnia Cmpus de Vilhena;

    - Compreender como o caminho de construo e conscientizao da questo

    ambiental est sendo trilhado no ensino superior na perspectiva crtica da educao

    ambiental,

  • 19

    - Promover uma oficina sobre EA dos principais problemas levantados na

    pesquisa afim de se identificar as concepes dos acadmicos frente a esta e sua

    importncia para a confeco dos produtos finais propostos na pesquisa,

    - Propor a reelaborao do Plano de Ensino da disciplina de Educao

    Ambiental a partir das concluses da pesquisa para servir de apoio no ensino e na

    extenso das temticas ambientais como um espao de reflexo e confeco de

    material didtico-pedaggico para uso dos acadmicos do curso de Pedagogia.-

    Cmpus de Vilhena.

    Assim, entendemos que a Universidade, co-participante na construo de

    uma viso crtica e emancipadora de EA na consolidao de uma sociedade

    sustentvel. Nesta questo, corrobora Zainko (1998, p. 72-73) quando diz que a

    vocao cientfica da Universidade depende da realizao de projetos e programas

    de formao e de pesquisa, pois enquanto uma instituio social, a Universidade

    deve desenvolver em seu interior o desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da

    extenso.

    Este texto est organizado em sete sees. Primeiramente, apresentamos a

    Introduo com consideraes sobre a necessidade da conscincia ambiental e o

    motivo desta preocupao, as questes de pesquisa, os objetivos propostos e a

    caracterizao da cidade de Vilhena que a localizao de residncia dos

    acadmicos participantes da pesquisa.

    Na segunda seo, descrevemos o Delineamento da Pesquisa com o enfoque

    metodolgico da Pesquisa-ao, procedimentos da coleta e da anlise de dados.

    A Reviso de Literatura apresentada na terceira e quarta seo com a

    abordagem dos autores da Educao Ambiental mais relevantes para a construo

    terica abordando temas como a EA se insere no contexto educacional brasileiro e a

    insero da EA na Universidade.

    A quinta seo est subdividida em quatro partes que compem a

    caracterizao da ocupao do Estado de Rondnia (RO) e seus decorrentes

    enlaces ambientais e histricos e a insero da UNIR neste contexto ambiental,

    descrevendo um breve histrico da instituio e seus cmpus especificamente o

    Cmpus de Vilhena. Esta seo traz tambm um tpico sobre a importncia e

    realizao de oficinas de EA para a construo de um sujeito crtico e atuante,

    descrevendo a oficina realizada para coleta de dados. Nesta seo ainda, analisa os

    dados obtidos a partir da anlise de contedo descrita por Bardin (1977) obtidos pelo

  • 20

    questionrio aplicado e a oficina realizada.

    A sexta e stima seo do estudo, respectivamente revelam uma proposta de

    plano de curso como produto final e a criao de uma Laboratrio de Educao

    Ambiental como subproduto da pesquisa para o processo investigatrio realizado e a

    reflexo sobre as consideraes finais apresentadas.

  • 21

    2. DELINEAMENTO DA PESQUISA

    2.1 A Pesquisa ao no processo investigatrio

    A pesquisa no campo da Educao, segundo Tozoni-Reis (2010, p.1), tem

    como principal objetivo a interpretao do fenmeno educativo, porque ns,

    educadores, necessitamos produzir conhecimentos sobre os fenmenos educativos

    presentes em nosso cotidiano.

    Este processo est evidenciado pela pesquisa qualitativa que de acordo com

    Almeida Jnior (1997) atende as novas necessidades do reconhecimento acadmico

    que podem ser atendidas no momento em que as escolas modifiquem suas aes e

    atuem conjuntamente com docentes e discentes, de maneira que ambos atualizem

    um espao novo de ensino-aprendizagem em resposta s exigncias sociais. Essa

    dinmica que foi referida faz-se importante do dilogo constante entre o professor e

    o aluno, no processo de ensinar-aprender-ensinar. O professor universitrio deve

    estar sempre atento a sua prtica no sentido de ajust-la de acordo com as

    demandas apresentadas e a realidade vivenciada o contexto da relao entre a

    teoria e a prtica.

    Tal evidncia pode ser compreendida pelo trip ensino-pesquisa-extenso

    enquanto uma prtica do universo pedaggico da universidade brasileira.

    importante pensar em uma educao que entrelace estes sentidos acadmicos com

    outros saberes. Assim, a extenso necessita estar atrelada ao ensino, que o

    alicerce bsico da formao acadmica, e estas atividades pesquisa qualitativa

    que enriquece e aprimora os conhecimentos e vivncias no contexto no ensino.

    Assim, consideramos esta pesquisa como qualitativa caracterizada como um

    estudo de caso. De acordo com Ludke e Andr (1986, p.17) um estudo de caso, seja

    ele simples ou especfico, deve ser bem delimitado e ter seus contornos claramente

    definidos no estudo.

    Assim, optou-se pelo estudo de caso caracterizado como pesquisa-ao

    como uma proposta metodolgica de interveno em uma turma do 6 perodo do

    Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Rondnia, Cmpus de Vilhena e,

    que contempla em sua matriz curricular a disciplina de Educao Ambiental prevista

    para ser ministrada no 8 perodo dos cursantes.

  • 22

    A pesquisa props uma investigao da pesquisa ao sobre os

    conhecimentos e reflexes que podem ser construdas com acadmicos do Curso

    de Pedagogia, pois estes so produtos das vivncias dos sujeitos que investigam e

    dos sujeitos participantes da pesquisa proposta.

    Em relao a pesquisa-ao, usamos a contribuio de Thiollent (1988, p.9):

    A pesquisa-ao corresponde a um contexto emprico voltado para a descrio de situaes concretas e para a interveno ou a ao orientada em funo da resoluo de problemas efetivamente detectados nas coletividades pesquisadas.

    A pesquisa-ao neste estudo foi nossa escolha metodolgica de percurso.

    Como sabemos, uma pesquisa-ao deve promover o envolvimento tanto dos

    sujeitos participantes como do prprio pesquisador afim deste poder modificar sua

    prtica. A pesquisa-ao, neste sentido favorece esta prtica e reflexo para a

    transformao da mesma.

    Neste aspecto, afirma Tozoni-Reis (2010, p. 48):

    A metodologia da pesquisa-ao articula a produo de conhecimentos com a ao educativa. Por um lado investiga, produz conhecimentos sobre a realidade a ser estudada e, por outro, realiza um processo educativo para o enfrentamento dessa mesma realidade.

    A este respeito, entendemos que a metodologia da pesquisa-ao proposta

    por Tozzoni-Reis na Educao Ambiental foi fundamental para desenvolvermos as

    atividades educativas com os alunos do 6 perodo do Curso de Pedagogia da

    Universidade Federal de Rondnia, Cmpus de Vilhena, de modo que se pode

    investigar o aprendizado dos mesmos no campo educacional.

    2.2 Procedimentos Metodolgicos

    De acordo com Duarte (2002) uma pesquisa sempre, de alguma forma, um

    relato de longa viagem empreendida por um sujeito cujo olhar vasculha lugares

    muitas vezes j visitados. Nada de absolutamente original, portanto, mas um modo

    diferente de olhar e pensar determinada realidade a partir de uma experincia e de

    uma apropriao do conhecimento que so, a sim, bastante pessoais.

    Inicialmente utilizou-se da pesquisa bibliogrfica para fundamentao terica

  • 23

    explicitando e discutindo aspectos relevantes da temticas embasadas

    principalmente em Loureiro (2000, 2012), Tozoni-Reis (2010) e Carvalho (2001,

    2008).

    Na pesquisa descritiva, optou-se por utilizar os seguintes instrumentos de

    coleta de dados com os alunos do 6 perodo: a) um questionrio com perguntas

    abertas e fechadas, b) a oficina partindo das demandas percebidas no questionrio e

    c) o udio da oficina em relao s falas dos participantes durante a discusso e

    reflexo das temticas apresentadas.

    Neste estudo, revelaram-se questionamentos na oficina vivenciada

    permeando temticas sobre a concepo de EA racionalista, ou seja, proposies

    de aes veiculadas pela mdia acerca do que EA. Os questionamentos a este

    respeito foram definidos do seguinte modo: a) A importncia da disciplina de EA no

    currculo da universidade pode contribuir com a sociedade? b) Que implicaes tem

    para o coletivo concepes efetivas e reflexivas sobre a importncia da preservao

    do meio ambiente? c) Que pontos e contrapontos existe entre os princpios e valores

    da universidade e da regio?

    Os sujeitos participantes da pesquisa foram os acadmicos do 6 perodo do

    curso de Pedagogia do Cmpus Vilhena da UNIR em um total de 21 que assinaram

    o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) submetido e aprovado ao

    Comit de tica em Pesquisa da UNIR com o nmero de protocolo CAAE

    44833815.0.0000.5300. Propomos turma a participao em uma oficina de EA

    realizada por esta pesquisadora para criar um espao de discusso acerca da

    problemtica ambiental e construo posterior do Plano de Curso da disciplina de

    EA. Considerando assim que a turma em tela dever cursar a disciplina de EA no

    final do curso, pretendemos enriquecer e otimizar a prtica desta disciplina

    envolvendo as concepes destes sujeitos na construo da mesma para uma

    conscincia ambiental plena.

    Deste modo, a apropriao dos sujeitos envolvidos foi proposta nas atividades

    prticas.

    Propomos aos acadmicos que respondessem um questionrio com

    perguntas fechadas e abertas. Este questionrio serviu como embasamento da

    proposio de uma oficina para podermos trabalhar as questes apresentadas nas

    respostas acerca sobre a concepo de educao ambiental.

  • 24

    O processo de realizao do questionrio foi em uma aula dentro do horrio

    dos acadmicos de semana letiva. O questionrio props questes que pudessem

    estar realizando reflexes destes sobre suas percepes em relao problemtica

    ambiental atual, para alm dos fatos que aparecem na mdia.

    De acordo com Gil (2008, p. 121) pode-se definir questionrio como a tcnica

    de investigao composta por um conjunto de questes que so submetidas a

    pessoas com o propsito de obter informaes sobre conhecimentos, crenas,

    sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspiraes, temores, comportamento

    presente ou passado.

    Assim, as questes propostas no questionrio, foram voltadas as concepes

    dos sujeitos sobre EA. O quantitativo de participantes foi 21 sujeitos. Dentre estes,

    perguntamos inicialmente, sobre a idade e o gnero com a finalidade de identificar

    dados sociodemogrficos dos mesmos. A idade levantada a partir da questo sobre

    a idade apresentou uma mdia de 20 a 42 anos. O roteiro do questionrio completo

    encontra-se no Apndice.

    As demais etapas da pesquisa, aps a aplicao do questionrio foram o

    levantamento das principais temticas pontuadas neste, a organizao de uma

    oficina de educao ambiental com 21 (vinte e um) acadmicos da turma do 6

    semestre do Curso de Pedagogia que aceitaram estar participando da atividade.

    Desse modo, realizarmos a oficina de EA com a seguinte sequncia de

    atividades:

    a) Introduo da importncia da temtica ambiental dentro da Universidade

    oralmente realizada pela pesquisadora, a proposio de exibio do documentrio

    A Histria das Coisas,

    b) discusso sobre o documentrio e identificao das temticas que se

    realaram no mesmo,

    c) atividade do saco da reciclagem juntamente com a lixeira da coleta seletiva,

    discusso sobre as cores internacionais de coleta seletiva a partir de um cartaz

    confeccionado previamente pela pesquisadora com as dez cores relacionadas e

    suas destinaes,

    d) distribuio de um material pr-organizado com as cores internacionais da

    coletiva seletiva com a finalidade de gerar reflexes e percepes para os

    participantes que nem tudo o que produzido pode ser descartado e reciclado e a

    confeco em grupo de cartazes com a formulao do conceito de EA com a

  • 25

    contribuio de todos do grupo e aps estes conceitos foram socializados no grande

    grupo formando um cartaz nico com os conceitos, a proposio de um plantio de

    mudas de modo que os sujeitos percebessem a importncia do reflorestamento para

    o restabelecimento da fauna silvestre local.

    A oficina, em sua essncia foi planejada a partir das reflexes e percepes

    dos acadmicos. Alguns tpicos apareceram mais nos questionrios e respostas

    apresentadas como sustentvel, cuidado com o planeta de forma generalizada,

    legislao ambiental, destinao do lixo e reciclagem. Devemos destacar que a

    reciclagem foi a que mais pontuou entre as respostas dadas. A partir destes olhares

    a oficina foi planejada de modo que oportunizasse maiores reflexes e contato com

    materiais concretos dentro das temticas identificadas no questionrio.

    No caso especfico desta pesquisa, a oficina, para alm da construo de

    conceitos vazios e longnquos de suas realidades. Assim, o pesquisador ao utilizar-

    se da pesquisa qualitativa possui mais clareza e completude do que o sujeito

    participante espera e trs para a contribuio coletiva de conceitos ambientais na

    perspectiva do fazer metodolgico aliado a sua prtica cotidiana.

    Para anlise dos Dados, utilizou-se a Anlise de contedo proposta por

    Bardin (1977):

    A anlise de contedo um conjunto de tcnicas de anlise das comunicaes. No se trata de um instrumento, mas de um leque de apetrechos; ou, com maior rigor, ser um nico instrumento, mas marcado por uma grande disparidade de formas e adaptvel a um campo de aplicao muito vasto: as comunicaes. Documentos e objectivos dos investigadores, podendo ser bastante diferentes os procedimentos de anlise [...] (p.31).

    As categorias de anlise identificadas nas categorias das respostas

    apresentadas nas respostas dos participantes expostas no questionrio foram

    obtidas por diferentes instrumentos embasados nas informaes prestadas pelos

    sujeitos pesquisados.

    As questes foram analisadas de acordo com a Anlise de Contedo (AC),

    descrita por Bardin (1977) e foram propostas dentre outras, concepo sobre EA,

    sustentabilidade, currculo da Universidade e a insero da EA neste, dados

    sciodemogrficos dos sujeitos participantes e a importncia da EA para a

    conscincia ecolgica.

    Optou-se pelas categorias de anlise propostas por Sauv (2005), a partir da

  • 26

    anlise dos relatos da oficina e do questionrio proposto primeiramente que

    identificamos algumas categorias de anlise.

  • 27

    3. A EDUCAO AMBIENTAL NO CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO

    3.1 contexto histrico da Educao Ambiental no Brasil

    O planeta vem sofrendo com o processo de globalizao que gerou um

    desenvolvimento global, danoso ao ambiente natural. Sabemos, pois que quanto

    maior o consumo maior o descarte de materiais e a produo de lixo.

    Na obra A Implantao da Educao Ambiental no Brasil (1998) publicada

    pela Coordenao de Educao Ambiental do Ministrio de Educao e Desporto

    trouxemos uma citao que expressa claramente esta problemtica:

    Chegamos aos dias de hoje. Visualize uma criana que nasceu e sempre viveu em situao confortvel, numa cidade grande. Para ela, o abrigo est nas casas; os alimentos e os outros produtos vitais para a sobrevivncia vm das lojas; a gua lhe chega, j tratada, pelas torneiras; o lixo deve ser recolhido para ser levado aonde os olhos no vm; gua usada vira esgoto que se vai por um cano para dentro do solo, e a maior parte do solo foi recoberto por asfalto ou cimento, evitando a sujeira. Para esta criana, a natureza est l longe [...] Por outro lado, a palavra poluio (do ar, da gua, ou do solo) lhe ser familiar. A cidade seu ambiente e a no ser que tenha aprendido e compreendido que h uma relao de dependncia entre o meio urbano e o rural ela nem imaginar que cidades modernas so parasitas do ambiente rural, como j escreveu o importante eclogo Eugene Odum, ao lembrar que, da maneira pela qual a cidade administrada, quase tudo vem de fora: a energia, os alimentos e os outros materiais orgnicos, como a madeira e demais matrias primas. Alm disso, a cidade no purifica o ar e recicla pouca ou nenhuma gua ou materiais inorgnicos (BRASIL, MEC, 1998, p. 22).

    Nesse sentido, necessrio mudar a configurao ambiental local e mundial.

    No tarefa fcil, mas devemos enquanto educadores em formao refletir atuar na

    contramo do desequilbrio ambiental. A sociedade precisa repensar seu papel junto

    natureza para alm da sobrevivncia. preciso, existir uma interveno poltica e

    cultural na perspectiva de conscientizao da necessidade de preservao do

    ambiente.

    As transformaes que vm ocorrendo em nosso planeta so emergentes.

    Vrias aes vem sendo feitas a favor de uma mudana comportamental em relao

    ao uso dos recursos naturais, mas acreditamos que ainda so poucas e morosas na

    contramo do que se pudesse estar realizando. O que queremos dizer que

  • 28

    sabemos que as tecnologias vm acompanhadas de desenvolvimento e este afeta

    de alguma forma o ambiente natural na medida em que sobrecarrega o ambiente

    com construes de estradas,

    Podemos afirmar que a preocupao com o ambiente recente, mas nem por

    isso deixamos de registrar alguns movimentos que ocorreram em funo desta

    preocupao.

    Na dcada de 60, a obra de Rachel Carson2 j alertava sobre os efeitos

    danosos que as aes do homem poderiam provocar no ambiente. No Brasil, cria-se

    em 1965 o Cdigo Florestal Brasileiro, regido pela Lei n 4.771, de 15 de setembro

    de 1965, este como primeira tentativa de preservao ambiental em solo brasileiro.

    A dcada de 70 do sculo XX foi marcante com a proposio da Conferncia

    das Naes sobre o Ambiente Humano em Estocolmo. A Declarao de Estocolmo

    prope que tanto as geraes futuras como a presente tenham em seu cotidiano um

    ambiente sustentvel. Em 1972, criado pela Organizao das Naes Unidas

    (ONU) um organismo denominado Programa das Naes Unidas para o Meio

    Ambiente (PNUMA), sediado em Nairobi.

    O PNUMA tem entre seus principais objetivos, manter o estado do meio

    ambiente global sob contnuo monitoramento; alertar povos e naes sobre

    problemas e ameaas ao meio ambiente e recomendar medidas para melhorar a

    qualidade de vida da populao sem comprometer os recursos e servios ambientais

    das geraes futuras. No Brasil, trabalha para disseminar, entre seus parceiros e a

    sociedade em geral, informaes sobre acordos ambientais, programas,

    metodologias e conhecimentos em temas ambientais relevantes da agenda global e

    regional e, por outro lado, para promover uma participao e contribuio mais

    intensa de especialistas e instituies brasileiras em fruns, iniciativas e aes

    internacionais. O PNUMA opera ainda em estreita coordenao com organismos

    regionais e subregionais e cooperantes bilaterais, bem como com outras agncias

    do Sistema ONU instaladas no pas (ONU, 2015).

    Em 1975, no Brasil, o Conselho Federal de Educao tornou obrigatria a

    disciplina de Cincias Ambientais em cursos universitrios de Engenharia. (MMA,

    2015, p. 1). Ainda neste ano, foi elaborada a Carta de Belgrado que prope temas

    que falam que a erradicao das causas bsicas da pobreza como a fome, o

    2 Livro A Primavera Silenciosa de Rachel Carson, escritora e biloga americana, publicado em 1962.

  • 29

    analfabetismo, a poluio, a explorao e dominao, devam ser tratados em

    conjunto. Nenhuma nao, nesses aspectos deve se desenvolver as custas de outra

    nao, havendo necessidade de uma tica global. A reforma dos processos e

    sistemas educacionais central para a constatao dessa nova tica de

    desenvolvimento. A juventude deve de acordo com o documento receber um novo

    tipo de educao que requer um novo e produtivo relacionamento entre estudantes e

    professores, entre escolas e comunidade, entre o sistema educacional e sociedade.

    Finaliza com a proposta para um programa mundial de Educao Ambiental.(MMA,

    2015)

    J em 1977, a Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e

    a Cultura (UNESCO) organiza a Conferncia Intergovernamental de Educao

    Ambiental em Tbilisi. Nesta conferncia, foram debatidos os objetivos, as

    caractersticas da EA, assim como as estratgias pertinentes no plano nacional e

    internacional.

    A dcada de 80 marcada pela declarao da Constituio da Repblica

    Federativa do Brasil que dedicou o Captulo VI ao Meio Ambiente e no Art. 225,

    Inciso VI, determina ao [...] Poder Pblico, promover a Educao Ambiental em

    todos os nveis de ensino [...]. Realizou-se tambm neste ano, o Primeiro

    Congresso Brasileiro de Educao Ambiental no Rio Grande do Sul e a realizao

    do Primeiro Frum de Educao Ambiental promovido pela CECAE/USP, que mais

    tarde foi assumido pela Rede Brasileira de Educao Ambiental. (MMA, 2015 )

    O movimento maior com a preocupao do ambiente natural foi promovido a

    partir dos anos 80, do sculo XX

    Segundo Morales (2009) a EA, no Brasil, emerge na dcada de 1980 com a

    crescente institucionalizao no cenrio das polticas pblicas, podendo ser

    destacadas: a Lei Federal n. 6.938/81, que estabelece a Poltica Nacional do Meio

    Ambiente, em que a educao ambiental situada como um dos componentes que

    contribui na soluo dos problemas ambientais e ofertada em todos os nveis de

    ensino (EA formal) e na comunidade (EA no-formal), consolidando a poltica

    ambiental do Pas e a Constituio Federal de 1988, que destaca, no Artigo 225,

    captulo VI, o meio ambiente, abordando a promoo da educao ambiental em

    todos os nveis de ensino e conscientizao pblica para a preservao do meio

    ambiente.

    A dcada de 90 por sua vez, marcada por fatos importantes relativos

  • 30

    questo ambiental. No ano de 1990, a Declarao Mundial sobre Educao para

    Todos: Satisfao das Necessidades Bsicas de Aprendizagem, aprovada na

    Conferncia Mundial sobre Educao para Todos, realizada em Jontien, Tailndia,

    de 5 a 9 de maro de 1990, reitera: confere aos membros de uma sociedade a

    possibilidade e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de respeitar e desenvolver a

    sua herana cultural, e espiritual, de promover a educao de outros, de defender a

    causa da justia social, de proteger o meio ambiente.... (MMA, 2015, p.2).

    Em 1991, o MEC, determina que a EA deveria ser contemplada no currculo

    escolar em todas as modalidades de ensino. No ano de 1992, acontece importante

    Conferncia realizada pela ONU, no Rio de Janeiro, denominada RIO-92 com o

    objetivo de socializar os resultados das experincias nacionais e internacionais de

    EA, discutir metodologias e currculos. Do encontro resultou a Carta Brasileira para a

    Educao Ambiental (MMA, 2015, p. 3).

    A partir da ECO-92 elaborou-se e promoveu-se mais encontros reflexivos e

    aes voltadas a questo ambiental, tanto governamentalmente quanto nas

    instituies educacionais.

    Finalmente, em consonncia com a preocupao de se debater a questo

    ambiental nos currculos escolares de modo interdisciplinar foi promulgada em 1999,

    a Lei n 9.795 de 27 de abril de 1999 que instituiu a Poltica Nacional de Educao

    Ambiental (PNEA), tornando explcita o conceito de EA:

    Art. 1o Entendem-se por educao ambiental os processos por meio dos quais o indivduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competncias voltadas para a conservao do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999, p. 1).

    Nos artigos 2 e 3 da referida lei, o comprometimento de todos os segmentos

    da sociedade para a preservao ambiental e severidade desta problemtica que

    estes sujeitos devem perceber:

    Art. 2o A educao ambiental um componente essencial e permanente da educao nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os nveis e modalidades do processo educativo, em carter formal e no-formal. Art. 3o Como parte do processo educativo mais amplo, todos tm direito educao ambiental, incumbindo: I ao Poder Pblico, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituio Federal, definir polticas pblicas que incorporem a dimenso

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art205http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art225http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art225

  • 31

    ambiental, promover a educao ambiental em todos os nveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservao, recuperao e melhoria do meio ambiente; II s instituies educativas, promover a educao ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem; III aos rgos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente Sisnama, promover aes de educao ambiental integradas aos programas de conservao, recuperao e melhoria do meio ambiente; IV aos meios de comunicao de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na disseminao de informaes e prticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimenso ambiental em sua programao; V s empresas, entidades de classe, instituies pblicas e privadas, promover programas destinados capacitao dos trabalhadores, visando melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercusses do processo produtivo no meio ambiente; VI sociedade como um todo, manter ateno permanente formao de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuao individual e coletiva voltada para a preveno, a identificao e a soluo de problemas ambientais (BRASIL, 1999, p. 1).

    Percebemos que necessrio o envolvimento de toda a sociedade em prol da

    preservao do ambiente, pois os discursos solitrios, no adiantam se no tivermos

    uma ao conjunta para a prtica do cuidado e da conscincia ambiental.

    Depois de muitos debates e embates da sociedade brasileira, em 2012

    promulgada a Lei n 12.651, de 25 de maio de 2012, que cria o Novo Cdigo

    Florestal Brasileiro. No mesmo ano, ele foi alterado pela Lei n 12.727, de 17 de

    outubro de 2012. O novo cdigo regula os limites de uso da propriedade, proteo

    da vegetao, reas de Preservao Permanente e as reas de Reserva Legal; a

    explorao florestal, o suprimento de matria-prima florestal, o controle da origem

    dos produtos florestais e o controle e preveno dos incndios florestais, e prev

    instrumentos econmicos e financeiros para o alcance de seus objetivos.

    Os Projetos de Colonizao para a Amaznia, como SUDAMSUDENE

    BASA PIN PROTERRA INCRA I e II PND da Amaznia; POLOAMAZONIA

    POLONOROESTE PLANAFLORO - PROJETO CALHA NORTE que foram

    pensados dentro de um processo evidenciado pelo capitalismo multinacional que

    tinham como finalidade assegurar a produo da nova fronteira agrcola no norte do

    pas que fora determinada pelos produtos industrializados no CentroSul, mantendo

    o poderio econmico da regio.

    A criao do Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil

  • 32

    (POLONOROESTE)3 foi feita pelo Decreto N 86.029, de 27 de maio de 1981 que

    dispunha este programa e teve como objetivos de acordo com o decreto: concorrer

    para a maior integrao nacional; II - promover a adequada ocupao demogrfica

    da regio-programa, absorvendo populaes economicamente marginalizadas de

    outras regies e proporcionando emprego; Ill - lograr o aumento significativo na

    produo da regio e na renda de sua populao; IV - favorecer a reduo das

    disparidades de desenvolvimento, a nveis inter e intra-regionais; e V - assegurar o

    crescimento da produo em harmonia com as preocupaes de preservao do

    sistema ecolgico e de proteo s comunidades indgenas(BRASIL, 1981, p.2).

    Em Rondnia, o movimento ambientalista teve ascenses e quedas. De

    acordo com Almeida (2009):

    Nos anos anteriores a dcada 70 o sistema de produo empregados no estado de Rondnia estava fincada sobre o extrativismo da borracha, da castanha e de outros produtos regionais, mas ao longo dos ltimos trinta anos, foi palco de profundas transformaes, inmeros projetos foram implantados visando organizao e integrao do espao geogrfico rondoniense, a poltica pblica federal para esta regio visava especialmente induo do povoamento e foi promotora do deslocamento de milhares de migrantes. Fundada na necessidade de aliviar a presso demogrfica dos centros de maior densidade populacional do pas, ligada poltica excludente de acesso a terra e calcada no modelo de produo de gros para exportao (p. 5).

    O estado de Rondnia sofreu substancialmente em funo justamente da

    proposta de colonizao da poca, principalmente na dcada de 70.

    Outro momento que no podemos deixar de registrar em nosso trabalho

    afirmao de Almeida (2009) que enfatiza que com a criao da SEMARO4 e, por

    conseguinte do Departamento de Educao Ambiental constituiu-se num avano

    significativo para o estado, uma vez que passou a fiscalizar, controlando e

    informando todas as atividades relacionadas ao Meio Ambiente.

    O projeto COM VIDAS5, que um projeto em parceria com as escolas e o

    3 Compreendeu a rea de influncia da ligao rodoviria Cuiab - Porto Velho, abrangendo o oeste e

    o noroeste do Estado de Mato Grosso (municpios de Cuiab, Vrzea Grande, Nossa Senhora do Livramento, Pocon, Cceres, Mirassol d'Oeste, Barra do Bugres, Tangar da Serra, Vila Bela da Santssima Trindade, a parte a Oeste do rio Roosevelt, no Municpio de Aripuan) e o Territrio Federal de Rondnia. 4 Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Estado de Rondnia.

    5 A COM-VIDA uma nova forma de organizao na escola e se baseia na participao de

    estudantes, professores, funcionrios, diretores, comunidade. Quem organiza a COM-VIDA o

  • 33

    MMA, outra alternativa que o estado de RO possui para que conscientize os jovens

    e crianas dentro dos espaos escolares na busca de uma conscincia crtica entre

    o espao escolar e a responsabilidade socioambiental e ajudando a formular a

    Agenda 216.

    Nesse vis, conforme Almeida e Gallo (2006) apesar da colonizao ter sido

    danosa do ponto de vista ambiental, houve algumas prticas de EA em Rondnia:

    [...]Pode-se dizer que a EA em Rondnia passou a existir de fato nas polticas estaduais a partir do PLANAFORO7 que apesar dos desvios de recursos, gastos excessivos com mquinas governamentais e nas obras de infra-estrutura, desmatamento e conflitos pela terra, entre outros, financiou experincias interessantes em EA como programas de rdio cursos de capacitao de professores e encontros com comunidades do entorno das unidades de conservao.[...] Outro aspecto positivo para o estado de Rondnia foi em 1981, que atravs do Decreto 3782, de 14.06.88 criou a primeira aproximao do Zoneamento Scio Econmico- Ecolgico do Estado de Rondnia, pois reconheceu que os projetos governamentais e as atividades produtivas devem se adaptar s caractersticas ambientais locais e que nos planos de desenvolvimento regional deve ser considerada a presena de populaes tradicionais.(2006, p. 4)

    Destarte, Almeida (2009) contribui relacionando a importncia da criao da

    CIEARO8 para o estado de RO, pois essa comisso foi um ponto estratgico para a

    articulao de um frum de discusso de poltica pblica em EA no Estado de

    Rondnia, mas no teve muito xito nem muita visibilidade por ter passado pelo

    controle de diversos rgos e nunca ter sido institucionalizada, o que est

    delegado ou a delegada e seu suplente da Conferncia de Meio Ambiente na Escola, com o apoio de professores. O principal papel da COM-VIDA contribuir para um dia-a-dia participativo, democrtico, animado e saudvel na escola, promovendo o intercmbio entre a escola e a comunidade. Por isso, a COM-VIDA chega para somar esforos com outras organizaes da escola, como o Grmio Estudantil, a Associao de Pais e Mestres e o Conselho da Escola, trazendo a Educao Ambiental para todas as disciplinas. . Disponvel em http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/com-vida.pdf. Acesso em 20 mar.2016 6 A Agenda 21 um plano de ao aprovado na Conferncia das Naes Unidas sobre Meio

    Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92, realizada no Rio de Janeiro. Na Agenda 21 esto definidos os compromissos que 179 pases assinaram e assumiram de construir um novo modelo de desenvolvimento que resulte em melhor qualidade de vida para a humanidade e que seja econmica, social e ambientalmente sustentvel. Desde 2002, o nosso pas tem uma Agenda 21 Brasileira, feita com a participao de milhares de pessoas. Disponvel em http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/com-vida.pdf. Acesso em 20 mar.2016. 7 PLANAFORO (Plano Agropecurio e Florestal de Rondnia), concebido para dar seguimento e

    aperfeioar programas especiais de investimento, a exemplo do Poloamaznia, e procurando corrigir os impactos ambientais negativos do Polonoroeste, bem como realizar grandes investimentos pblicos em infraestrutura e fortalecimento institucional do setor pblico e de setores no-governamentais.(FERREIRA, ARAUJO E MARQUES, 2006, p.1) 8 Comisso Interinstitucional de Educao Ambiental do Estado de Rondnia.

    http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/com-vida.pdfhttp://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/com-vida.pdfhttp://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/com-vida.pdf

  • 34

    acontecendo agora com o decreto e a definio do regulamento, por nunca ter

    havido uma sede no existe um registro histrico da comisso (ALMEIDA, 2009,

    p.9).

    O municpio de Vilhena, tambm participou do COM-VIDAS com o

    engajamento de algumas escolas, pois possui dentro de sua Secretaria Municipal de

    Educao (SEMED)9 um Departamento de Educao Ambiental o qual nos informou

    que algumas escolas possuem projetos de EA. Identificamos no municpio tambm,

    a existncia da SEMMA10 (Secretaria Municipal do Meio Ambiente) que tem como

    objetivos principais:

    A SEMMA tem a funo de operacionalmente planejar, formular, coordenar e acompanhar a execuo e avaliao da poltica ambiental e da conservao dos ecossistemas do municpio, com nfase na proteo do meio ambiente e combater a poluio urbana, de efetuar o licenciamento ambiental das atividades previstas em lei; orientar, fiscalizar e aprovar atividades que potencialmente causem agresso ambiental; conservar as espcies ameaadas ou raras ou em perigo de extino, inclusive apreenso de animais e plantas silvestres capturadas ilegalmente; elaborar projetos e definir prioridades de recuperao e conservao de reas de preservao; operar o aterro sanitrio e os locais de destinao de resduos especiais; educao ambiental; produzir, atravs do viveiro municipal, mudas para utilizao em ajardinamento e arborizao de vias e espaos pblicos e para a distribuio populao em geral em determinados eventos (VILHENA, SEMMA, 2016, p.1, grifo nosso).

    Consideramos extremamente, a existncia da SEMMA na cidade de Vilhena

    no sentido de mostrar que possui previso de aes relativas conservao do

    ambiente do municpio.

    Desse modo, as legislaes que hoje vigoram sobre a questo ambiental e a

    necessidade de preservao, perfazem um caminho de comprometimento de todos

    os sujeitos da sociedade diante da gerao de conflitos sociais, pois como nos

    afirma Bert (2009):

    Tambm na rea ambiental, a ideia de conflito est associada ao controle de recursos, que hoje se sabe, so limitados e no podem ser usados indiscriminadamente, pois o uso intensivo dos recursos

    9 Secretaria Municipal de Educao. Disponvel em

    http://vilhena.ro.gov.br/index.php?sessao=91ea5f2a59sv91&id=2510. Acesso em 30 mar.2016. 10

    Disponvel em http://vilhena.ro.gov.br/index.php?sessao=d35ef008e2svd3&id=2523. Acesso em 25 de mar.2016.

    http://vilhena.ro.gov.br/index.php?sessao=91ea5f2a59sv91&id=2510http://vilhena.ro.gov.br/index.php?sessao=d35ef008e2svd3&id=2523

  • 35

    ambientais tem provocado tanto sua escassez quanto o comprometimento da qualidade ambiental. Situao que tem suscitado uma srie de campanhas que motivam a sociedade a evitar o desperdcio estamos, pois na era do reutilizar, do reciclar, do dar destinao adequada, do evitar certos consumos (sacolas plsticas, desperdcio de gua e luz, etc) e do identificar os produtos que possibilitam uma melhor qualidade de vida (p. 64, grifos do autor).

    A EA neste sentido prope embasamento terico-reflexivo que aes efetivas

    de busca na sustentabilidade planetria sejam realizadas, no apenas com aes

    individuais, mas que esta conscincia se torne coletiva na medida que tenha a maior

    abrangncia possvel de interao desta tanto em nvel local como global. No

    queremos dizer com isso que as aes individuais no so importantes, pelo

    contrrio. destas aes que podemos, enquanto sujeitos inseridos em uma

    sociedade para que possamos estar contribuindo para uma melhor compreenso do

    alto risco que o ambiente est correndo neste uso irracional dos recursos naturais.

    3.2 Caractersticas e Tendncias da Educao Ambiental

    A educao ambiental, no contexto mundial, afirma e reafirma a necessidade

    de se considerar as diversas dimenses, tornando-se visvel a abordagem

    interdisciplinar e sistmica que impera nesse novo saber ambiental (MORALES,

    2009, p. 4). Ainda hoje percebemos que existe um discurso defensionista de EA.

    Diante deste fato podemos comprovar nos discursos e documentos que vm ao

    longo tempo construir uma EA crtica. No tarefa fcil, pois os atores sociais

    perpetuam uma viso fragmentada e utilitarista de natureza.

    Segundo Layrargues (2004), a educao ambiental promotora e resultante

    de vrias relaes em cada contexto histrico e, ao mesmo tempo em que permite a

    mudana, pela ao problematizadora, pode, dependendo de como est estruturada

    e de qual finalidade cumpre na sociedade, ser um meio de reproduo de formas

    excludentes, opressoras e dicotmicas de se viver (LAYRARGUES, 2004, p. 77).

    Esta relao a qual o autor aborda, especificamente no contexto histrico,

    compreendem ser relevante, pois no espao histrico-social que os indivduos se

    constituem como cidados.

    Nesta perspectiva, surgem algumas correntes que ao longo deste tempo

    foram surgindo afim de que se possa entender a EA como uma necessidade urgente

  • 36

    e como o cidado inserido na sociedade compreende esta necessidade.

    Segundo Sauv (2005) coexistem diversas tendncias em EA. Para a autora

    a noo de tendncia refere-se perspectiva terico-metodolgica, ou seja, uma

    maneira geral de conceber e praticar educao ambiental.

    Desta forma, apresentamos abaixo um quadro comparativo de acordo com

    Sauv, sobre estas correntes, no sentido de visualizar os diferentes modos de se

    conceber a EA como forma de entender o significado de ambiente:

    Quadro 1 A tipologia das concepes sobre o ambiente na EA

    Ambiente Relao Caractersticas Metodologias

    Como natureza

    para ser apreciado e preservado

    natureza como catedral, ou como um tero, pura e original

    exibies; imerso na natureza

    Como recurso para ser gerenciado

    herana biofsica coletiva, qualidade de vida

    campanha dos 3 R; auditorias

    Como problema

    para ser resolvido nfase na poluio, deteriorizao e ameaas

    resoluo de problemas; estudos de caso

    Como lugar para viver

    EA para, sobre e no para cuidar do ambiente

    a natureza com os seus componentes sociais, histricos e tecnolgicos

    projetos de jardinagem; lugares ou lendas sobre a natureza

    Como biosfera

    como local para ser dividido

    espaonave Terra, Gaia, a interdependncia dos seres vivos com os inanimados

    estudos de caso em problemas globais; estrias com diferentes cosmologias

    Como projeto comunitrio

    para ser envolvido

    a natureza com foco na anlise crtica, na participao poltica da comunidade

    pesquisa participativa para a transformao comunitria; frum de discusso

    Fonte: SAUV, 2015.

    Estas tipologias esto norteadas por uma prtica que pode ser evidenciada

    nas dimenses do saber. Destarte, nossa pesquisa partiu da premissa que trabalhar

    uma EA Crtica faz, com que os sujeitos percebam seu entorno e nele possam estar

    intervindo de forma crtica e reflexiva em relao ao ambiente que habitam e que

    possam , como educadores, poderem estar contribuindo com a comunidade escolar

    que estiverem includos.

    Assim, a tendncia de educao ambiental adotada pelo sujeito representa de

  • 37

    um modo geral a sua prtica, incorporando uma pluralidade de aes e uma

    diversidade de proposies. Por outro lado, uma mesma proposio pode

    corresponder a duas ou trs tendncias, segundo o ngulo sob o qual analisada.

    Assim, em cada uma das correntes apresenta um conjunto de caractersticas

    especficas que a distingue das outras, as correntes no so, no entanto,

    mutuamente excludentes em todos os planos: certas correntes compartilham

    caractersticas comuns (SAUV, 2005, p. 17).

    Optamos em nossa pesquisa, trabalharmos com trs das tipologias descritas

    por Sauv (2015) que se compactuam com a perspectiva crtica em nosso

    entendimento que so o ambiente como lugar para viver, o ambiente como biosfera

    e o ambiente como projeto comunitrio.

    Desta forma, o ambiente como lugar para viver percebido como algo

    antropocntrico em algumas respostas encontradas nos questionrios aplicados.

    Aqui, a autora nos reserva a viso de que o ambiente um lugar de se viver com

    sustentabilidade e que as pessoas precisam conceber o ambiente de forma holstica,

    no apenas como um lugar que se tira recursos naturais para sobreviver.

    Na questo do ambiente como biosfera a preocupao foi em trabalhar o

    planeta de forma que os sujeitos se sentissem parte dele e que dele necessitam

    para viver. A importncia desta perspectiva envolve uma viso macro do planeta

    quando percebemos a necessidade de preservao deste para a sobrevivncia e

    no ao contrrio. O ambiente como projeto comunitrio envolve as duas vises no

    sentido de que o ser humano precisa entender que o ambiente necessita o cuidado

    de todos e no apenas de aes isoladas. No que estas no sejam importantes,

    pelo contrrio, que a viso macro da insero coletiva de ao ambiental deve ser

    perseguida por todos os seres e estes precisam se sentirem parte do planeta e com

    responsabilidade sobre o mesmo para o bem de todos.

    Acreditamos que estas trs tipologias vo ao encontro da prtica do professor

    a partir das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a formao inicial em nvel

    superior (cursos de licenciatura, cursos de formao pedaggica para graduados e

    cursos de segunda licenciatura) e para a formao continuada, institudas pela

    Resoluo N 2, de 1 de Julho de 2015 e trs em seu artigo 7, inciso XI :

    XI - realizar pesquisas que proporcionem conhecimento sobre os estudantes e sua realidade sociocultural, sobre processos de ensinar e de aprender, em diferentes meios ambiental-ecolgicos, sobre

  • 38

    propostas curriculares e sobre organizao do trabalho educativo e prticas pedaggicas, entre outros (BRASIL, MEC, 2015, p. 8).

    Nesse contexto, a tipologia de EA apresentadas por Sauv (2005) traz

    perspectivas concebidas pela autora. Entendemos que algumas podem fundir-se na

    mesma proposio visto que, trazem em sua essncia a utilizao do ambiente

    como recurso e por isso, o homem precisa cuid-lo e preserv-lo. Acreditamos que

    um cidado efetivamente preocupado com a natureza enquanto ambiente deve estar

    se apropriando de conceitos que perpassem esta concepo reducionista, no

    sentido que o sujeito de sentir-se parte do ambiente natural e que dele depende para

    a sobrevivncia de ambos.

    A este respeito Sauv (2005, p. 319) entende que:

    No correr dos anos, um nmero cada vez maior de atores da educao ambiental introduziu uma dimenso de pesquisa ou de reflexo em suas intervenes no terreno da prtica. Desenvolveu-se, assim, um patrimnio pedaggico que contm rica diversidade de proposies tericas, de modelos e de estratgias, capaz de estimular a discusso e de servir de inspirao para os que trabalham na prtica. A anlise dessas proposies permite identificar uma pluralidade de correntes de pensamento e de prtica na educao ambiental: naturalista, conservacionista, solucionadora de problemas, sistmica, holstica, humanista, crtica, bio-regional, feminista etc. (Sauv, 2002), que correspondem a outros tantos modos complementares de ligar-se ao meio ambiente [...]

    Deste mesmo modo, entendemos que a inteno de Sauv o de demonstrar

    as relaes das proposies que envolvem a realidade da educao ambiental no

    contexto das tendncias relacionadas a educao ambiental em uma perspectiva

    relacionada a teoria e a prtica.

    Diante disso, pensamos uma EA crtica perpassa uma organizao tradicional

    de ao e pensamento, conforme afirma Loureiro (2012, p. 52):

    Entender os modos de pensar e fazer a educao que refutem as

    premissas pedaggicas tradicionais de: organizao curricular

    fragmentada e hierarquizada; neutralidade do conhecimento

    transmitido e produzido; e organizao escolar e planejamento do

    processo de ensino e aprendizagem concebidos como pura

    racionalidade (grifo do autor), pautados em finalidades pedaggicas

    desinteressadas quanto s implicaes sociais de suas prticas (p.52).

  • 39

    O discurso da EA crtica necessita confundir-se com o cotidiano dos cidados.

    necessrio pois, difundir e aprofundar-se sobre os problemas ambientais para

    reduzi-los e at mesmo ameniz-los. Ademais, um cidado crtico aquele que

    participa, prope solues e atua para que a sociedade em que vive seja cada vez

    melhor. Um cidado crtico preocupado com as questes ambientais, como

    destinao do lixo, desmatamento, alteraes climticas, est sempre apto e atento

    para participar de aes tanto individuais ou coletivas para a manuteno do

    equilbrio ambiental.

  • 40

    4 A EDUCAO AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE

    4.1 A Universidade no contexto brasileiro

    De acordo com Cunha e Leite (1999) as instituies de ensino superior no

    Brasil s surgem em 1808. Antes, o ensino superior era ministrado pelos colgios

    jesutas. Com a expulso desta ordem religiosa do reino portugus, em 1759, os

    conventos franciscanos substituram os colgios jesutas no Rio de Janeiro e em

    So Paulo, pois a igreja catlica era, ento, uma instituio privada que se mesclava

    ao Estado pelo regime do padroado.

    De acordo com Oliven (2002):

    [...] durante o perodo da Regncia, foram criados, em 1827, dois cursos de Direito: um em Olinda, na regio nordeste, e outro em So Paulo, no sudeste. Alm destes cursos, a Escola de Minas foi criada na cidade de Ouro Preto, que como o nome sugere situava-se na regio de extrao de ouro (p. 32).

    J no perodo da Repblica Velha temos a criao da primeira universidade

    brasileira, como afirma Oliven (2002):

    A primeira universidade brasileira foi criada em 1920, data prxima do centenrio da independncia (1922). Resultado do Decreto n 14.343, a Universidade do Rio de Janeiro reunia, administrativamente, Faculdades profissionais pr-existentes sem, contudo, oferecer uma alternativa diversa do sistema: ela era mais voltada ao ensino do que pesquisa, elitista, conservando a orientao profissional dos seus cursos e a autonomia das faculdades (p. 33).

    Desta forma, concordamos com Chau (2003, p. 5) quando afirma que a

    Universidade uma instituio social e como tal exprime de maneira determinada a

    estrutura e o modo de funcionamento da sociedade como um todo. Tanto assim

    que vemos no interior da instituio universitria a presena de opinies, atitudes e

    projetos conflitantes que exprimem divises e contradies da sociedade. Essa

    relao interna ou expressiva entre universidade e sociedade o que explica, alis,

    o fato de que, desde seu surgimento, a universidade pblica sempre foi uma

    instituio social, isto , uma ao social, uma prtica social fundada no

    reconhecimento pblico de sua legitimidade e de suas atribuies, num princpio de

    diferenciao, que lhe confere autonomia perante outras instituies sociais, e

  • 41

    estruturada por ordenamentos, regras, normas e valores de reconhecimento e

    legitimidade internos a ela. (CHAU, 2003).

    A Universidade, nesse ponto precisa se apropriar do local onde est inserida

    articulando saberes, vivncias e conhecimento. O espao acadmico precisa estar

    alm de textos cientficos, se fazendo presente nos momentos de construo

    coletiva da sociedade para o bem maior que o bem comum. Desse modo, a

    formao do acadmico para a vida e insero na sociedade deve prepar-lo para a

    sociedade globalizada que trs cotidianamente uma avalanche de informaes e

    inovaes, e estas, devem estar afinadas com um desenvolvimento socioambiental

    crtico.

    Desse modo, Pimenta (1985) orienta como uma universidade deveria ser

    conduzida dentro de seu espao de localizao, como segue:

    No nosso objetivo, seria um despropsito, delinear, aqui, as grandes foras que definiriam insero das universidades no espao urbano em que se enrazam. suficiente chamar a ateno para um importante problema; compreender a histria e o funcionamento de uma Universidade significa, em grande medida, estar atento s formas de entrelaamento que vieram a estabelecer no contexto das cidades em que se fixaram. (p.81)

    Assim, mais do que a perpetuao da Universidade em um determinado local

    a contribuio desta sociedade que est inserida seu objetivo principal. Esta

    contribuio no pode ser delimitada apenas na formao acadmica de quem tem

    vnculo com algum curso, mas, tambm a comunidade de entorno que dela deve

    estar introduzida e contemplada no seu desenvolvimento.

    Diante disso, concordam Dourado e Catani (1999, p.8) quando afirmam que

    as transformaes do mundo contemporneo redimensionam o papel social da

    educao e das instituies educativas, uma vez que questionam, particularmente, o

    papel da escola como agncia de formao para o mundo do trabalho e para a vida

    societria. Ademais, a sociedade constituda por um coletivo diverso de opinies e

    vivncias, neste coletivo que precisamos buscar a conscincia ambiental urgente

    que o planeta necessita, e a educao, tem um papel fundamental nesse sentido.

    Desta forma, Loureiro (2012, p.55) entende que estamos, contudo diante de

    uma sociedade consumista baseada na acelerao da produo de riquezas

    materiais alienadas para permitir a reproduo e acumulao do capital. A este

  • 42

    respeito importante ressaltar a importncia de desenvolver um currculo baseado

    em contedos que tratem a respeito de refletir e promover uma conscincia crtica

    em que se possa pensar a natureza e o meio ambiente com um bem da

    humanidade.

    4.2 A insero da Educao Ambiental no currculo das Universidades

    Ao revisitarmos a histria da educao brasileira, nos deparamos com vrias

    etapas de elaborao de construo e propostas curriculares nos diferentes

    perodos.

    De acordo com Lopes e Macedo (2005, p.13), as primeiras preocupaes

    com o currculo, no Brasil, datam dos anos 20. Desde ento, at a dcada de 1980,

    o campo foi marcado pela transferncia instrumental de teorizaes americanas.

    Essa transferncia centrava-se na assimilao de modelos para elaborao

    curricular, em sua maioria de vis funcionalista, e era viabilizada por acordos

    bilaterais entre os governos brasileiro e norte-americano dentro do Programa de

    Ajuda a Amrica Latina.

    A Educao Ambiental foi instituda como proposta de reflexo no currculo

    escolar a partir de 1997 com a constituio dos Parmetros Curriculares Nacionais

    (PCN) no ensino fundamental mais especificadamente, possibilitando assim a

    oportunidade de discusso desta temtica de forma transversal, ou seja, de que

    fosse tratada e discutida no contexto das disciplinas previstas nos currculos das

    escolas. Este contexto deveria ser trabalhado interdisciplinariamente e no como

    uma disciplina exclusiva da temtica ambiental.

    No podemos deixar de destacar a importncia que os PCN tiveram para o

    embasamento curricular da educao brasileira como documento norteador de

    propostas curriculares e metodolgicas tanto com as disciplinas elencadas no

    currculo bem como os temas transversais previstos neste documento. Desse modo,

    encontramos no documento introdutrio os princpios e a finalidade da proposta dos

    PCN em relao a qual educao deva ser realizada na escola voltada

    principalmente promoo da qualidade do ensino. Infelizmente, ainda no

    percebemos em sua totalidade a promoo da educao ambiental nas escolas de

    forma articulada ao currculo escolar. Encontramos ainda projetos pontuais,

  • 43

    importantes sim, mas que no trazem em seu contexto a participao de toda

    comunidade escolar.

    Os temas transversais trazem em sua proposta um currculo interdisciplinar

    para alm daquele que vm sido trabalhado de forma fragmentada nas escolas e

    traz tona temticas emergentes inseridas em nossa sociedade que antes na

    maioria das vezes no era contemplada nos livros e materiais didticos. Desse

    modo, entendemos que o currculo proposto nas instituies educacionais deva

    discutir problemticas relativas realidade do aluno, colocando este sujeito frente

    de discusses relacionadas ao seu cotidiano e como este pode estar modificando

    sua prxis.

    Nesse contexto, a temtica ambiental prevista nos PCN, vm para oportunizar

    a discusso dos problemas ambientais de forma interdisciplinar. No implica em

    acrescentar uma disciplina denominada Educao Ambiental nos currculos e sim

    trabalhar interdisciplinariamente de forma contnua e integrada as questes

    pontuadas de forma local global de modo que os sujeitos percebam que a

    sustentabilidade planetria est em questo e urgente a mudana de hbitos e

    posturas.

    O MEC, desse modo, ao implantar os PCN para as escolas brasileiras props

    que fosse trabalhado a insero no mundo do trabalho e do consumo, o cuidado

    com o prprio corpo e com a sade, passando pela educao sexual, e a

    preservao do meio ambiente so temas que ganham um novo estatuto, num

    universo em que os referenciais tradicionais, a partir dos quais eram vistos como

    questes locais ou individuais, j no do conta da dimenso nacional e at mesmo

    internacional que tais temas assumem, justificando, portanto, sua considerao

    (MEC, PCN 1997, p. 27).

    Aps a publicao dos PCN, em 1999 foi instituda a Lei 9.795 que

    estabeleceu a Poltica Nacional de Educao Ambiental- PNEA (BRASIL, 1999),

    tornando obrigatria a insero da educao ambiental em todos os nveis e

    modalidades de ensino, como encontramos no Artigo 9 e 10:

    Art. 9 Entende-se por educao ambiental na educao escolar a desenvolvida no mbito dos currculos das instituies de ensino pblicas e privadas, englobando: I educao bsica: a. educao infantil; b. ensino fundamental e c) ensino mdio; II - educao superior; III - educao especial; IV- educao profissional; V educao de jovens e adultos

  • 44

    Art. 10. A educao ambiental ser desenvolvida como uma prtica educativa integrada, contnua e permanente em todos os nveis e modalidades do ensino formal. 1 A educao ambiental no deve ser implantada como disciplina especfica no currculo de ensino. 2 Nos cursos de ps-graduao, extenso e nas reas voltadas ao aspecto metodolgico da educao ambiental, quando se fizer necessrio, facultada a criao de disciplina especfica. (BRASIL, 1999, p.3 ).

    Deste modo, por meio da Poltica Nacional de Educao Ambiental, esta no

    pode ser oferecida como disciplina especfica no ensino. Assim, a forma como o

    currculo vem sendo tratado nas universidades deve inserir temas que possam

    discutir as desigualdades sociais, tica, justia ambiental, biodiversidade,

    espacialidade, multiculturalismo ambiental, enfim, entre outros temas que reforam a

    temtica ambiental nos cursos de formao de professores.

    Faz-se necessria a reflexo, da problemtica ambiental em todas as

    disciplinas dos cursos. Por conseguinte, quando afirmamos isso, estamos

    defendendo a interdisciplinaridade como proposta de reflexo sobre ambiente

    natural e a finitude de seus recursos. Especificamente nesta questo, a disciplina de

    Educao Ambiental, quando ofertada na Universidade por meio do currculo,

    colabora com a reflexo em que se busca uma harmonia entre a ao antrpica e o

    meio ambiente.

    A este respeito Grun (2012, p. 115), entende que esta perspectiva de

    compreenso quando afirma que questes como a preservao de culturas

    tradicionais, que como sabemos hoje, so condies sine qua non da preservao

    da biodiversidade, ficam completamente inviabilizadas de serem trabalhadas como

    contedo educacional, pois houve um processo de varredura de saberes do

    currculo. Ainda de acordo com Grun (2012, p.116 grifos do autor) outro tpico caso

    de rea de silncio do currculo a tradicional descrio do mtodo cientfico

    sempre presente nos livros de cincia e de como estas descries no se refere de

    maneira alguma natureza.

    No documento denominado Diretrizes Curriculares Nacionais para a

    Educao Ambiental aprovado pela Resoluo n 14 de 2012, so apontados os

    princpios a serem realizados em seu artigo 15:

    Art. 15. O compromisso da instituio educacional, o papel socioeducativo, ambiental, artstico, cultural e as questes de gnero, etnia, raa e diversidade que compem as aes educativas, a

  • 45

    organizao e a gesto curricular so componentes integrantes dos projetos institucionais e pedaggicos da Educao Bsica e da Educao Superior; 1 A proposta curricular constitutiva do Projeto Poltico-Pedaggico (PPP) e dos Projetos e Planos de Cursos (PC) das instituies de Educao Bsica, e dos Projetos; Pedaggicos de Curso (PPC) e do Projeto Pedaggico (PP) constante do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) das instituies de Educao Superior (BRASIL, 2012, p.5)

    Percebemos assim, o papel da Universidade propor, para alm da oferta de

    incluso de uma disciplina de Educao Ambiental em seu currculo, a efetiva

    problematizao e vivncia dos problemas regionais e locais em que est inserida

    numa perspectiva de conscientizao e avano nas discusses feitas. O

    compromisso desta deve ir alm da formao e qualificao de sujeitos para o

    mercado de trabalho. A Universidade precisa compreender seu papel

    desenvolvimentista de EA necessitando propor aes e reflexes na busca de um

    desenvolvimento sustentvel e na formao de sujeitos crticos nesta questo.

    O sujeito em formao deve estar preparado para refletir sua realidade, o

    mundo que o cerca, pensando e agindo sobre ele. Pensarmos uma EA crtica no

    currculo prope um engajamento de todos os componentes curriculares de forma a

    pensar o ambiente como essencial para a vida.

  • 46

    5 A PRTICA DA EDUCAO AMBIENTAL NO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIR CMPUS DE VILHENA

    O campo da formao de professores tm sido uma temtica bastante

    discutida h algum tempo no Brasil. Com a extino do curso Normal Magistrio, de

    nvel mdio, que habilitava os professores a trabalharem com crianas dos anos

    iniciais do ensino fundamental, antigamente denominado 1 a 4 srie, os cursos de

    Pedagogia tornaram-se definitivamente os formadores, alm de outras habilitaes,

    o curso que formaria os professores para se trabalharem com estes anos.

    Podemos comprovar a questo acima com um fragmento da Resoluo do

    CNE N 1, de 15 de maio de 2006, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais

    para o Curso de Graduao em Pedagogia, licenciatura que diz:

    Art. 2 As Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia aplicam-se formao inicial para o exerccio da docncia na Educao Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Mdio, na modalidade Normal, e em cursos de Educao Profissional na rea de servios e apoio escolar, bem como em outras reas nas quais sejam previstos conhecimentos pedaggicos (BRASIL, 2006, p.3 ).

    A docncia dos professores compreendida, de acordo com esta resoluo,

    como ao educativa e processo pedaggico metdico e intencional, construdo em

    relaes sociais, tnico-raciais e produtivas, as quais influenciam conceitos,

    princpios e objetivos da Pedagogia, desenvolvendo-se