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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS DE CAICÓ ALCIMÁRIA DE MELO DIAS A CLASSE HOSPITALAR SULIVAN MEDEIROS: relação entre as equipes pedagógica e de saúde no contexto da ação educativa CAICÓ-RN 2015

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS DE CAICÓ

ALCIMÁRIA DE MELO DIAS

A CLASSE HOSPITALAR SULIVAN MEDEIROS: relação entre as equipes

pedagógica e de saúde no contexto da ação educativa

CAICÓ-RN

2015

ALCIMÁRIA DE MELO DIAS

A CLASSE HOSPITALAR SULIVAN MEDEIROS: relação entre as equipes

pedagógica e de saúde no contexto da ação educativa

Monografia apresentada ao Curso de

Pedagogia do Centro de Ensino Superior do

Seridó da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, como requisito parcial para

obtenção do título de Licenciatura em

Pedagogia.

Orientadora: Prof.ª Drª Tânia Cristina Meira

Garcia

CAICÓ-RN

2015

Catalogação da Publicação na fonte

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro Ensino Superior do Seridó

Biblioteca Setorial Professora Maria Lúcia Bezerra da Costa – Caicó

Dias, Alcimária de Melo .

A classe hospitalar Sulivan Medeiros: relação entre as equipes

pedagógica e de saúde no contexto da ação educativa / Alcimária de Melo Dias. – Caicó: UFRN, 2015. 35f. Orientadora: Tânia Cristina Meira Garcia (Dra.) Monografia - Licenciatura em Pedagogia – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 1. Classe Hospitalar – monografia. 2. Reintegração – monografia. 3. Interação – monografia. I. Garcia, Tânia Cristina Meira. II. Título.

UFRN/BS07-CAICÓ CDU 37

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, pelo amor, respeito e carinho que

sempre me dedicaram, sendo minha base.

Ao meu marido por ter me apoiado em todos os

momentos durante o curso.

Obrigada! Amo vocês!

AGRADECIMENTOS

A todos os professores das diversas disciplinas nas quais estive e

que estiveram presentes no meu processo de aprendizagem.

À Professora Tânia Cristina Meira Garcia, pela orientação, pelo

apoio oferecido e pelo carinho.

A toda minha família que me apoia durante todo o curso, sempre

me dando forças para superar as dificuldades que apareceram.

E a todos os meus amigos que tive a oportunidade de conhecer e o

prazer de aprender.

RESUMO

Apresenta a Pedagogia Hospitalar como uma modalidade de ensino, que busca

legalmente proporcionar à criança e ao adolescente hospitalizado a continuidade de

seus estudos, visando sua reintegração ao ambiente escolar e à sociedade. Utilizou-

se para tanto o emprego da pesquisa em caráter qualitativo e de natureza

bibliográfica em que se utilizou como método o estudo de caso, tendo como

instrumento de pesquisa observações. Para sua compreensão é abordado um breve

histórico da Pedagogia Hospitalar, os parâmetros legais referentes a esta

modalidade de ensino no Brasil e no RN, e a interação entre os profissionais que

fazem parte do apoio à Classe Hospitalar. Sabe-se que o atendimento educacional

hospitalar, como uma modalidade de educação especial, contribui muito para o

fortalecimento da saúde de forma integral. Aqui, revemos também a análise e a

coleta de dados para compreendermos a importância e a eficácia do atendimento

educacional especializado com crianças hospitalizadas, no que se refere ao seu

processo de recuperação e manutenção do vínculo com a escola. A pesquisa se

fundamenta com base nos teóricos: Fonseca (2008), Matos e Mugiatti (2007),

Medeiros, Morais e Aires (2012), Perrenoud (2001) e Vasconcellos (2002). O

trabalho em conjunto com os professores visa estabelecer condições para

ultrapassar dificuldades e resolver problemas na vida.

Palavras-chaves: Classe Hospitalar, Reintegração, Interação.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................ 07

1. CLASSE HOSPITALAR NO BRASIL............................................................ 09

1.1 CONTEXTO DA PEDAGOGIA HOSPITALAR................................................ 09

1.2 A CLASSE HOSPITALAR: SUA CONTRIBUIÇÃO E CARACTERÍSTICAS.. 11

1.3 EQUIPES MULTIDISCIPLINARES................................................................. 15

2. CLASSE HOSPITALAR SULIVAN MEDEIROS............................................ 18

2.1 CLASSE HOSPITALAR SULIVAN MEDEIROS NO HOSPITAL SERIDÓ..... 18

2.2

REFLEXÕES SOBRE AS COMPETÊNCIAS DO PROFESSOR ATUANTE NA PEDAGOGIA HOSPITALAR......................................................................

23

2.3 AÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICO................................................................... 25

2.4 INTERAÇÕES ENTRE A EQUIPE MULTIDISCIPLINAR................................ 26

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 28

REFERÊNCIAS.............................................................................................. 30

ANEXOS......................................................................................................... 32

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INTRODUÇÃO

A presente pesquisa aborda o tema da Pedagogia Hospitalar,

explicando a atuação do pedagogo em ambientes extraescolares que vêm se

expandindo, não podendo mais se restringir somente à educação sistemática

escolar.

Nesse sentindo, a prática pedagógica deve ir além de ensinar, já que

necessita resgatar a autoestima de cada criança/adolescente hospitalizado,

levando-o a aceitar, naquele momento, a sua relação com as demais pessoas

e com a própria doença de forma saudável.

No Brasil, a legislação reconheceu, através do Estatuto da Criança e

do Adolescente Hospitalizado, o direito da criança de partilhar de alguma forma

de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do

currículo escolar durante sua permanência hospitalar.

A Pedagogia Hospitalar é um recurso a mais dentro da área da

educação para transmitir e levar conhecimento, não importando o espaço em

que está sendo trabalhado, mas sim envolver o aluno que necessita desse

apoio fora do espaço escolar.

Segundo MATOS e MUGIATTI (2007, pag. 45), este enfoque

educativo e de aprendizagem surgiu da convicção de que a criança e o

adolescente hospitalizados, em idade escolar, não devem interromper seu

processo de escolarização devido a este atendimento cumprir a função de

estimular a continuidade dos estudos para que estes estudantes não percam

seus cursos e não se tornem repetentes, ou venham a interromper o ritmo de

aprendizagem; assim, consequentemente, sem dificultar a recuperação de sua

saúde.

Podemos analisar que a atuação do pedagogo em ambiente

hospitalar é algo novo em nossa sociedade. Por isso a presente pesquisa

busca conceituar o que é Pedagogia Hospitalar, quais seus parâmetros legais

vigentes no Brasil e no RN, desempenhando a rotina do pedagogo neste

ambiente, a interação entre os profissionais atuantes com os pedagogos e a

relação familiar dentro de todo esse contexto.

O texto que apreciamos está composto de introdução e fundamentação teórica,

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organizado em 02 capítulos; em seguida está a análise dos dados coletados e

as considerações finais.

No primeiro capítulo, abordamos um breve histórico da Pedagogia Hospitalar e

seu crescimento com seu atendimento, visando proporcionar à criança e ao

adolescente hospitalizado a continuidade de seus estudos, já que existe a

necessidade, por parte dos pedagogos, na produção de um projeto novo e

espaços lúdicos, tendo por finalidade elevar a autoestima da

criança/adolescente e amenizar seu sofrimento perante a doença e seu

tratamento. Abordamos também os parâmetros legais propostos à Pedagogia

Hospitalar viabilizando a oferta do atendimento pedagógico em hospitais e

domiciliar, garantindo à criança o acesso à educação básica, promovendo,

dessa forma, o desenvolvimento e a construção do conhecimento desses

educandos, contextualizando ainda o planejamento curricular no que diz

respeito ao atendimento pedagógico no ambiente hospitalar, sendo necessário,

portanto, que o professor atuante em ambiente hospitalar precisa estar ciente

de que cada dia se constrói com planejamento estruturado e flexível. A parceria

com as equipes multidisciplinares na classe hospitalar faz com que o

atendimento realizado de forma integral insira o aluno no meio social de forma

a realizar uma ponte entre a escola e o aluno que necessita da continuidade de

seus estudos, criando assim ambientes acolhedores que estimulem a

capacidade da criança e do adolescente hospitalizados a sonhar com o retorno

de sua vida escolar, o sonho de uma nova vida.

No segundo capítulo, retratamos a importância do planejamento

pedagógico e da vivência na classe hospitalar, apontando sempre o agir dos

profissionais atuantes na Classe Hospitalar Sulivan Medeiros e seus parceiros

que articulam a equipe multidisciplinar dentro do hospital e promovem um

atendimento que envolve o aluno/paciente, a família e a escola, e que juntos

formam uma união de forças focada num só objetivo: o bem-estar e o

desenvolvimento do aluno, para vencer seus medos e descobrir novos

caminhos.

Concluímos que a pedagogia hospitalar trabalha com atendimento

pedagógico voltado para o todo, o que objetiva o aperfeiçoamento humano e

constrói uma nova consciência, onde a sensação, o sentimento e a integração

valorizam o indivíduo.

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1. CLASSE HOSPITALAR NO BRASIL

1.1- CONTEXTO DA PEDAGOGIA HOSPITALAR

Compreende-se que a Pedagogia Hospitalar seja um novo campo de

atuação em que o Pedagogo vai até o ambiente hospitalar ou domiciliar cujo

objetivo é proporcionar à criança doente, afastada da escola, a oportunidade de

continuar seus estudos. A Segunda Guerra Mundial é um marco na sua

história, pois devido ao grande número de crianças atingidas pela guerra e

impossibilitadas de frequentar a escola, foi que muitos médicos se engajaram

a atendê-las, oferecendo a escola dentro do hospital.

A Pedagogia Hospitalar tem como objetivo atender de forma integral

os alunos que estão impossibilitados de frequentar as salas de aula nas

escolas da rede regular de ensino, por meio das classes inseridas dentro dos

hospitais, como resultado da identificação de que, com essa iniciativa, haja

uma compensação das faltas, considerando que o acesso à educação é direito

de todo cidadão, e uma forma de proporcionar a oportunidade de igualdade.

Inserir esse ambiente escolar dentro do hospital significa ainda possibilitar à

criança sua evolução, pois reduz a ansiedade e o medo resultantes de sua

situação presente, ou seja, busca-se proporcionar a essa criança uma melhor

qualidade de vida.

A classe hospitalar foi reconhecida decisivamente no Brasil pelo

Ministério da Educação e do Desporto em 1994, através da publicação da

Política Nacional de Educação Especial (MEC/SEESP, 1994). No Brasil, a

legislação reconhece através do Estatuto da Criança e do Adolescente

Hospitalizado (ECA), Resolução Nº 41 de outubro de 1995. O parágrafo 9º diz

que: “É Direito da criança e do adolescente de desfrutar de alguma forma de

recreação, programas de educação para a saúde, e acompanhamento

curricular durante a sua permanência hospitalar” (BRASIL, 1995).

Os profissionais que atuam na Pedagogia Hospitalar abrem

espaços, até bem pouco tempo não utilizados pelo sistema educacional, para

modificar a ideia de que a educação formal só acontece na escola. Esse

entendimento traz benefícios às crianças e aos adolescentes internados

relativos à saúde física, mental e social, por permitir ações que possibilitem: a

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comunicação afetiva como caminho de superação às dificuldades enfrentadas

pelas crianças doentes, o olhar da criança para o espaço hospitalar, não como

lugar de dor e angústia, mas também de aprendizado, a não interrupção do

processo de escolaridade e a construção de espaços de convivência coletiva

entre filhos, familiares, estudantes e professores, o que contribui efetivamente

para o reestabelecimento das relações sociais da criança. A classe hospitalar

tem o intuito de recuperar a socialização da criança por um processo de

inclusão, dando continuidade a sua aprendizagem.

Do ponto de vista técnico, o espaço da classe hospitalar necessita

ser diferenciado, pois tem que ser acolhedor, com estimulações visuais,

brinquedos e jogos; sendo assim um ambiente alegre e aconchegante. É

através do brincar que as crianças e adolescentes internados encontram

maneiras de viver a situação de doença, de forma criativa e positiva. Portanto,

o trabalho em classe hospitalar faz com que haja a diminuição do risco de

comprometimento mental, emocional e físico dos enfermos.

A inclusão social é resultado do processo educativo. A escola é um

fator externo ao ambiente hospitalar; logo, é um vínculo que a criança mantém

com seu mundo exterior. A escolarização indica criação de hábitos, respeito à

rotina; fatores que estimulam a autoestima e o desenvolvimento da criança e

do adolescente.

A classe hospitalar se dirige às crianças, mas deve se estender às

famílias, sobretudo àquelas que não acham pertinente falar sobre doenças com

seus filhos. A intenção grandiosa nesse projeto deve ser a humanização do

hospital para o contato com as possibilidades da criança vítima de algum tipo

de patologia. Sendo assim, a inclusão das crianças na classe hospitalar define

em um processo de adaptação, onde todos possam encontrar os melhores

meios para prender.

A classe hospitalar tem exigido do pedagogo o desenvolvimento de

habilidades e competências, as quais incidem sobre sua forma de trabalho e

no desempenho do seu papel social, na ação pedagógica, para além do

ensinar, do modo a instrumentalizá-lo para definir e programar estratégias de

ensino diversificadas e flexíveis que atendam às exigências.

O nome “Classe Hospitalar” foi definido pela Secretaria de Educação

Especial (SEEP), órgão do então Ministério da Educação e do Desporto (MEC).

11

Em 2002, a SEEP lançou um documento intitulado Classe Hospitalar e

Atendimento Pedagógico Domiciliar – Estratégias e Orientação que definem a

Classe Hospitalar como um atendimento pedagógico-educacional para crianças

e adolescentes em hospitais. Com o objetivo específico de estruturar ações e

políticas de organização do sistema de atendimento educacional em ambientes

hospitalares e domiciliares, as Secretarias de Educação atendem às

solicitações de hospitais para o serviço de atendimento pedagógico e

domiciliar, a contratação e a capacitação dos professores, o fornecimento de

recursos financeiros e de matérias para os referidos atendimentos (BRASIL,

2002).

Nesse documento, entende-se que o aluno da classe hospitalar é o

educando cuja condição clínica interfere em sua permanência ou frequência

escolar de forma temporária ou permanente, necessitando de um

acompanhamento educacional durante seu processo de hospitalização, tendo

como objetivo estimular a criação do atendimento pedagógico hospitalar e

domiciliar, o que garante a educação aos alunos da escola regular que estejam

hospitalizados.

1.2- A CLASSE HOSPITALAR: SUA CONTRIBUIÇÃO E CARACTERÍSTICAS

A partir da Constituição Federal de 1988 a educação passou por

processos de transformações e reformulações: aprovada a Lei de Diretrizes e

Bases de Educação Nacional nº 9.394 (1996), criados os Parâmetros

Curriculares Nacionais - PCNs (1997), dentre outros que buscaram redefinir o

papel da educação brasileira propondo a reflexão para o exercício da cidadania

por meio do entendimento da própria realidade e da participação da

comunidade, respondendo a uma necessidade mundial de despertar em

homens e mulheres a consciência crítica do mundo em que habitam,

tornando-os capazes de construir uma sociedade mais justa e um planeta

mais saudável (BRASIL, 1997).

A educação contribui no processo formativo de seus educandos, o

que visa à progressiva transformação da sociedade por meio dos saberes da

Pedagogia, que permeiam diferentes espaços, direcionam metodologias,

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instigam a pesquisa, investigam na prática e na teoria os fenômenos

educativos.

A ação pedagógica no hospital torna-se importante para a

continuidade do processo educativo das crianças internadas, algo que é

reconhecido pela Constituição Federal de 1988, art. 205, e outras legislações

vigentes como as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação

Básica (Resolução nº 02, de 11 de setembro de 2001, do Conselho Nacional

de Educação) que asseguram em seu artigo 13, parágrafo 1°, que cabe à

classe hospitalar o atendimento às crianças internas matriculadas em escolas

da educação básica, permitindo-lhes a continuidade do processo de

escolarização, contribuindo para um retorno sem prejuízos a sua escola de

origem.

As atividades oferecidas na classe hospitalar são lúdicas e

favorecem a continuidade à escolarização, sendo, desse modo, oferecido:

leitura, artes, entre outras atividades recreativas que permitem o exercício de

habilidades e capacidades, para ajudar a criança no processo de recuperação.

O ato pedagógico baseia-se no apoio ao tratamento, ao enfermo e

seus familiares, para adaptá-los a novas situações e explorar novas

oportunidades de forma recreativa e interativa. O pedagogo atua na

brinquedoteca e utiliza o brinquedo, o livro infantil e os jogos como ferramentas

indispensáveis para o desenvolvimento das crianças e adolescentes,

promovendo um processo de socialização, criatividade, decisões e descobertas

do mundo. Sendo tarefa do educador, nesse local, a seleção do brinquedo e

sua higienização, a organização do espaço, as atividades, o modo de

atendimento e os propósitos a que a brinquedoteca pode e deve ser explorada,

variando as formas de intervenção.

Segundo MATOS e MUGIATTI (2007, pag. 20), a Pedagogia

Hospitalar desponta, ainda, como mais um recurso contributivo à cura.

Favorece a associação do resgate, de forma multi/inter/transdisciplinar, da

condição inata do organismo, de saúde e bem-estar, ao resgate da

humanização e da cidadania.

Logo, essa modalidade de ensino envolve conhecimentos médicos e

psicológicos, permitindo ao pedagogo um melhor direcionamento nas suas

atividades diárias que, apesar de serem pouco conhecidas, são de essencial

13

importância nas instâncias educacionais de formação pedagógica. É um novo

caminho tomado no meio educacional que propõe desafios aos educadores e

possibilita a construção de novos conhecimentos.

A Pedagogia Hospitalar se fundamenta na garantia dos direitos da

criança e do adolescente hospitalizado em continuar seus estudos nas

enfermarias e ambulatórios de especialidades por meio de metodologias de

ensino flexível com recursos didáticos como brinquedos, jogos, literatura, artes

visuais e dramatizações.

A pedagogia hospitalar não se identifica como um simples

instrumento de transformação de conhecimento (MATOS e MUGIATTI, 2007).

É um suporte psicossociopedagógico, pois mantém a criança ligada à

escolarização e à íntegra sem prejuízos à vida anterior à internação.

O trabalho neste contexto ganha respaldo pela Resolução Nº02, de

2011, no artigo 13 que regulamenta o atendimento educacional especializado

aos alunos em período de internação. O processo educacional desenvolvido,

neste ambiente, exige do profissional uma postura ética e dinâmica acerca das

crianças, compreendendo seu estado e respeitando seus limites, bem como o

entendimento quanto às patologias, às reações, durante a permanência no

hospital.

A prática pedagógica no espaço hospitalar exige dos profissionais

envolvidos maior flexibilidade; logo, é necessário um planejamento para

enfrentar esse desafio com temas geradores e trajetórias distintas, tornando

uma troca de experiências com os alunos e famílias atendidas.

O professor que irá coordenar a proposta pedagógica em classe

hospitalar ou em atendimento pedagógico domiciliar deve conhecer a dinâmica

e o funcionamento peculiar dessas modalidades, assim como conhecer as

técnicas e terapêuticas que dela fazem parte ou as rotinas da enfermaria ou

dos serviços ambulatoriais e das estruturas de assistência social citadas

anteriormente, quando for o caso (BRASIL, 2002, pag.21).

A função da educação com a criança hospitalizada é resgatar sua

subjetividade, significando o espaço hospitalar por meio da linguagem, do afeto

e das interações sociais que o professor pode propiciar. Portanto, é possível

pensar o hospital, como um espaço de educação para crianças internadas.

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O crescimento profissional do professor deve incluir sua busca de

fazer parte da equipe de assistência ao educando, tanto para contribuir com os

cuidados da saúde quanto para aperfeiçoar o planejamento de ensino,

manifestando-se segundo a escuta pedagógica proporcionada. A consulta ao

prontuário e ao registro de informações nesse documento também pertencem

ao desenvolvimento das competências deste professor (BRASIL 2002, pag.22).

Às classes hospitalares cumpre elaborar estratégias e orientações

para possibilitar o acompanhamento pedagógico-educacional do processo de

desenvolvimento e construção do conhecimento de crianças, jovens e adultos

matriculados ou não nos sistemas de ensino regular, no âmbito da educação

básica e que se encontram impossibilitados de frequentar a escola temporária

ou permanentemente. Além de garantir a manutenção do vínculo com as

escolas por meio de um currículo flexibilizado e adaptado, favorecendo seu

ingresso, retorno ou adequada integração a seu grupo escolar correspondente,

como parte do direito de atenção integral.

O acompanhamento na escola hospitalar mesmo que seja por um

curto período tem um caráter significativo para a criança hospitalizada, pois dá

a esta a oportunidade de atualizar suas necessidades escolares e permite à

mesma desvincular-se de suas restrições momentâneas, o que possibilita a

apropriação de conceitos tanto pessoal quanto escolar (FONSECA. 2008 p.9).

Logo se entende que os pedagogos hospitalares com sua

observação contribuem para afastar o medo, pois ao compreender o significado

das palavras e expressões ditas pelos alunos elabora estratégias para fazer

com que o aluno desenvolva uma estabilidade emocional, aceite melhor a

situação e encare seus limites e medos. Percebe-se que o planejamento das

aulas atrai o aluno-paciente a expor seus próprios conhecimentos, descobrir

soluções das situações apresentadas, mostrar ideais e até mesmo construir

hipóteses.

De acordo com MATOS e MUGATTI (2007, pag. 47):

A educação que se processa, por meio da Pedagogia Hospitalar, não pode ser identificada como simples instrução (transmissão de alguns conhecimentos formalizados). É muito mais que isso. É um suporte psicossociopedgógico dos mais importantes, porque não isola o escolar na condição pura de doente, mas, sim, o mantém integrado

15

em suas atividades da escola e da família e apoiado pedagogicamente na sua condição de doente.

O profissional de educação transforma o ambiente de dor

apresentando uma nova perspectiva de vida para a criança hospitalizada. A

figura do professor acalma e tranquiliza por ser uma pessoa conhecida do

cotidiano escolar. A educação e a saúde se juntam para melhorar a qualidade

de vida, pois, se a educação gera o desejo de aprender/conhecer, a criança

hospitalizada terá mais força para viver e assim buscar a recuperação da

saúde. No ato do diálogo, a criança expõe suas dúvidas, medos, ansiedades e,

através da reflexão sobre seu desconforto emocional, desenvolve o

autoconhecimento.

1.3- EQUIPES MULTIDISCIPLINARES

Na perspectiva da construção de uma educação de qualidade, da

consolidação da política educacional e da construção de uma cultura escolar

que conhece, reconhece, valoriza e respeita a diversidade etnicorracial, as

Equipes Multidisciplinares têm como benfeitoria articular os segmentos

profissionais da educação, instâncias colegiadas e comunidade escolar.

O trabalho multidisciplinar trouxe benefícios e vantagens na

recuperação, no atendimento e na assistência aos pacientes hospitalizados,

pois com trabalho entende-se a presença de mais de um profissional ou de

mais profissionais além dos tradicionais das áreas médicas e de enfermagem

atuando no contexto hospitalar. O trabalho em equipe se amplia, tornando-se

uma necessidade a integração entre estes profissionais, o que resulta na

existência de equipes interdisciplinares.

Uma equipe multidisciplinar no contexto hospitalar envolve, portanto,

a atuação dos membros da equipe interagindo entre si, em busca de uma

melhor qualidade de vida para os pacientes.

A presença das equipes interdisciplinares e equipes

multidisciplinares nos hospitais mostra que cada vez mais pode ser

comprovada a eficácia e a eficiência, principalmente do trabalho interdisciplinar

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trazendo resultados imediatos, consistentes e benéficos aos pacientes, às

famílias, à equipe como um todo e para a própria instituição hospitalar.

O objetivo da equipe multidisciplinar é solucionar um problema que

demanda informações de especialidades ou setores do conhecimento em

âmbitos mais restritos. Consiste em uma equipe que estuda um mesmo objeto,

sob diferentes ângulos, sem ter propriamente estabelecido um acordo prévio

acerca dos métodos e conceitos a serem utilizados. A equipe médica e a

pedagógica precisam desenvolver esse trabalho juntos, para que ambos

possam desempenhar um trabalho de qualidade e com bons resultados.

Segundo Vasconcelos (2002), “a equipe multidisciplinar aquela que

conta com diversos profissionais, o que não é característica específica dessa

equipe, com a contrapartida de que os mesmos trabalham isoladamente em

suas disciplinas, sendo essa característica o que a diferencia”. Todos os que

fazem parte de uma equipe multidisciplinar, tanto a equipe médica quanto a

pedagógica, devem desenvolver um trabalho onde todos participem dando a

sua contribuição para que possam fazer suas atividades de forma construtiva e

significativa para todos.

O trabalho em equipe é fundamental para o ambiente hospitalar e

implica compartilhar o planejamento, a divisão de tarefas, a cooperação e a

colaboração, mas deve acontecer entre profissionais da Pedagogia e os da

Medicina no contexto hospitalar. Essa interação democrática entre os

profissionais que atuam na classe hospitalar traz novos atores, saberes,

práticas, interesses e necessidades. Portanto, a comunicação tem papel

fundamental nas relações estabelecidas entre essas duas equipes dentro da

classe hospitalar.

Para um trabalho multiprofissional alguns aspectos precisam ser

considerados, como reconhecer o perfil profissional e as funções e

responsabilidades de cada um dos envolvidos, compartilhar informações,

discutir os procedimentos e condutas, visando rever os problemas no conjunto

da estrutura e organização do trabalho para que haja a construção de uma

ética reflexiva sobre as decisões. Na Classe Hospitalar Sulivan Medeiros esse

trabalho multidisciplinar é desenvolvido de forma a assegurar o bem-estar das

famílias atendidas no período de internação, visando sempre o

desenvolvimento do aluno em suas competências a serem desenvolvidas.

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A comunicação entre a equipe multiprofissional e os acompanhantes

aparece como elemento essencial para a participação nos cuidados,

compreendendo as orientações que lhe são fornecidas, bem como as

características pessoais dos membros da equipe. O trabalho em equipe surge

como modalidade de trabalho coletivo que se configura na relação recíproca

entre as intervenções técnicas e a interação dos agentes. Na capacidade da

relação entre trabalho e interação os profissionais constroem consensos que

configuram um projeto assistencial comum, em torno do qual se dá a

integração da equipe de trabalho.

O trabalho em equipe visa analisar as responsabilidades do cuidado

entre os seus membros, o que contribui para a qualidade da prestação das

ações em saúde. A responsabilidade da atenção passa a ser centralizada entre

os médicos e os pedagogos e entre os outros membros da equipe. O trabalho

em equipe busca a escuta do outro, e estabelece um canal de comunicação;

assim, esse diálogo constitui o bom desenvolvimento do trabalho em equipe.

Desse modo, a humanização veio preencher uma lacuna existente nos

hospitais em todo o mundo. O trabalho multidisciplinar, que possibilita a

participação de profissionais de diversas áreas no contexto hospitalar,

transforma o ambiente em um lugar mais afetivo, familiar, social e inclusivo.

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2. CLASSE HOSPITALAR SULIVAN MEDEIROS

2.1- CLASSE HOSPITALAR SULIVAN MEDEIROS NO HOSPITAL SERIDÓ

Segundo a Resolução Nº 02 das Diretrizes Nacionais para a

Educação Especial na Educação Básica, de Setembro de 2001, no art. 13

retrata que os sistemas de ensino definem que, mediante ação integrada com

os sistemas de saúde, deve-se organizar o atendimento educacional

especializado a alunos impossibilitados de frequentar as aulas em razão de

tratamento de saúde que implique internação hospitalar, atendimento

ambulatorial ou permanente prolongado em domicílio. No inciso 1º daquele

mesmo artigo temos que as classes hospitalares e o atendimento em ambiente

domiciliar devem dar continuidade ao processo de desenvolvimento e ao

processo de aprendizagem de alunos matriculados em escola da Educação

Básica, contribuindo para seu retorno e reintegração ao grupo escolar, e

desenvolver currículo flexibilizado com crianças, jovens e adultos não

matriculados no sistema educacional local, facilitando seu posterior acesso à

escola regular.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Nº 8.069/90, em

especial, o artigo 9, que trata do direito à educação: “Direito de desfrutar de

alguma forma de recreação, programa de educação para a saúde” e a Lei dos

Direitos das Crianças e Adolescentes Hospitalizados, através da Resolução Nº

41da Declaração dos Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizados de

13/10/1995. Essa resolução tende a proteger a infância e a juventude, sendo

um instrumento de tentar garantir uma sociedade mais justa. A classe

hospitalar está inserida na LDB 9.394/96 como educação especial, em uma

visão de educação inclusiva.

A publicação do MEC mais recente referente que tem como título

“Classe Hospitalar e Atendimento Pedagógico Domiciliar: estratégias e

orientações” foi publicada em Dezembro de 2002, no Brasil. Esta publicação

enfatiza que: Tem direito ao atendimento escolar os alunos do ensino básico

internados em hospital, em serviços ambulatoriais de atenção integral à saúde

ou em domicílio; alunos que estão impossibilitados de frequentar a escola por

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razões de proteção à saúde ou segurança abrigados em casas de apoio, casas

de passagem, casa-lar e residências terapêuticas (BRASIL, 2002, pag.10).

Atendendo às diretrizes nacionais da educação, a secretária do

Estado da Educação e da Cultura-SEEC/RN, sob a Coordenação da

Subcoordenadoria de Educação Especial-SUESP, firmou compromisso através

do Termo de Cooperação Técnica assinado em 20/12/2010 e publicado no

Diário Oficial do Estado do RN, Edição de 28/12/2010, garantindo a

implantação do Atendimento Educacional Hospitalar e Domiciliar- Classe

Hospitalar nas seguintes instituições parceiras do Estado do RN: Hospital

Infantil Varela Santiago, Hospital Pediátrico Maria Alice Fernandes, Hospital

do Seridó-Caicó-RN, Casa de Apoio a Crianças com Câncer Durval Paiva e

Grupo de Apoio a Crianças com Câncer do Rio Grande do Norte-GACC/RN;

dentre outras.

O governo do Estado do RN juntamente com a Secretária de Estado

de Educação e cultura-SEEC resolvem em acordo um Termo de Cooperação

Técnica em 20 de dezembro de 2010, que tem como componente o

compromisso cedido entre a SEEC e a Fundação Hospitalar Dr. Carlindo

Dantas, para o atendimento educacional no ambiente hospitalar, garantindo o

direito à educação pública às crianças hospitalizadas, assegurando-lhes a

continuidade do processo de escolarização.

A classe Hospitalar Sulivan Medeiros, que está situada no Hospital

do Seridó, Caicó-RN, surgiu por meio do projeto de Extensão da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A elaboração do projeto foi realizada

pelo Prof. Adailson Tavares que, após se ausentar para a realização do seu

doutorado, deixou sob a coordenação da Prof. Drª Tânia Cristina Meira Garcia.

A classe Hospitalar Sulivan Medeiros iniciou uma rotina de trabalho

desenvolvido no Hospital do Seridó com a participação de alunos da UFRN-

CERES, através do projeto de extensão “Cuidando da Criança Internada e

seus Acompanhantes”. Este é um projeto que teve à frente alunos do curso de

pedagogia, cujas atividades de atendimento às crianças internadas aconteciam

nas instalações da referida unidade hospitalar, em Caicó/RN, em uma sala

especialmente cedida por esta instituição. A classe Hospitalar Sulivan Medeiros

representa uma atividade pioneira na região do Seridó, que tem originado

inúmeros benefícios para as crianças em situações de adoecimento.

20

A classe Hospitalar Sulivan Medeiros tem desenvolvido ao longo de

11 anos atividades de caráter pedagógico e educativo. Atende a uma média de

400 crianças ao ano e conta atualmente com uma equipe de 3 profissionais

pertencentes ao Estado, tendo como coordenador da sala e idealizador do

projeto inicial o Professor Anderson Clayton Duarte de Medeiros, profissional

este que acompanha, participa da avaliação e orienta os trabalhos

desenvolvidos. A rotina da classe hospitalar na atualidade envolve atividades

de apoio escolar, recreação, leitura e teatro. Seu o horário de funcionamento é

das 14h às 16h, de segunda a sexta.

Naquela classe Hospitalar encontramos brinquedoteca, cantinho de leitura

voltado para a literatura infantil, cantinho do artista para trabalhos artesanais e

cantinho pedagógico. A brinquedoteca é um espaço onde crianças e

adolescentes têm disponíveis para o seu uso brinquedos e jogos variados. Em

todas as situações observa-se sempre o acompanhamento de profissionais

como pedagogo, professor e psicólogo.

Além de um espaço próprio para a classe hospitalar, o atendimento

propriamente dito poderá, excepcionalmente, desenvolver-se na enfermaria, no

leito ou no quarto de isolamento, uma vez que pode haver restrição imposta ao

educando por sua condição clínica ou de tratamento.

O professor que coordena os atendimentos na classe hospitalar

conhece a dinâmica e o funcionamento peculiar dessa modalidade, articula

com a equipe de saúde do hospital, com a Secretária de Educação e com a

escola de origem do educando, assim como orienta os professores da classe

hospitalar ou do atendimento domiciliar em suas atividades e define demandas

de aquisição de bens de consumo e de manutenção e renovação de bens

permanentes. Sendo assim, o coordenador da Classe Hospitalar Sulivan

Medeiros exerce sua função atendendendo às exigências que lhe são

propícias, sempre buscando melhorar o atendimento, pensando sempre na

melhoria que as atividades desenvolvidas nesse espaço trazem para os

pacientes.

A prefeitura Municipal de Caicó reconheceu como Utilidade Pública

Municipal a Classe Hospitalar Sulivan Medeiros, e dá outras providências,

oriundas da Lei Nº4.454 de Julho de 2011 que foi assinada no dia 02 de Julho

de 2011(ANEXO A). Nesse documento esta legitimando para o município a

21

importância da classe hospitalar e seus benefícios para o mesmo, pois garante

a legalidade dessa atividade que traz benefícios para os que frequentam esse

espaço educativo e de humanização. O prefeito Rivaldo Costa através da Lei

Nº 4.532 de 8 de Maio de 2012 criou o Dia Municipal da Classe Hospitalar, que

passa a ser comemorado anualmente no dia 11 de Novembro ( ANEXO B).

Na Resolução Nº 02/2012-CEE/CEB/RN, 31 de Outubro de 2012, no

2º capítulo das Disposições Gerais no Art. 8 refine que poderá ocorrer convênio

de cooperação técnica entre as Secretárias de Saúde e da Educação para que

os profissionais da saúde, incluindo fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas

ocupacionais, entre outros, colaborem com os profissionais da educação dos

Centros de Atendimento Educacional Especializado públicos ou de instituições

comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos. A inclusão de

uma equipe com diversos profissionais tanto da saúde quanto da educação

ressalta uma cooperação entre vários saberes, e que trabalham em prol de um

único objetivo. Esta equipe permite uma ação clínica ou educativa unificada

decorrente de ângulos diferentes do saber. A equipe multidisciplinar permite

dotar os seus elementos de estratégias com as quais pode construir uma

resposta mais integradora à situação em questão.

No art.13, da Resolução Nº 02, do Conselho Estadual de Educação

do RN, o §2º retrata que o atendimento escolar em hospitais, clínica ou

domicílios, deve ser oferecido de forma planejada e com acompanhamento

pedagógico dos técnicos do órgão da Educação Especial, de modo a

possibilitar ao educando o reingresso à escola, sem prejuízos do seu processo

de aprendizagem.

A Governadora Rosalba Ciarline, através da Lei n°9.808, de 05 de

Dezembro de 2013, Cria o Dia Estadual da Classe Hospitalar, no Âmbito do

Estado do Rio Grande do Norte, ficando, portanto, instituído no calendário

oficial do Estado o Dia da Classe Hospitalar a ser comemorado, anualmente,

no dia 11 de Novembro. Nesta data serão realizados eventos alusivos à

comemoração e conhecimento da fundação da 1ª Classe hospitalar do Rio

Grande do Norte (Classe Hospitalar Sulivan Medeiros-Hospital do Seridó em

Caicó) e promoverá encontros, palestras acerca da pedagogia hospitalar

(ANEXO C).

22

A Classe Hospitalar Sulivan Medeiros é uma extensão da escola

dentro do hospital. “Quando o aluno está interno, a classe hospitalar prossegue

com as atividades da escola, fazendo com que a criança não perca conteúdo”,

relatou Anderson Duarte. O pioneirismo do projeto, em Caicó, inspirou outros

municípios e, hoje, o Rio Grande do Norte conta com sete classes hospitalares,

todas ligadas à SUESP (Subcoordenadoria de Educação Especial do estado).

A Classe Hospitalar Sulivan Medeiros tem como objetivo dar

continuidade à escolarização dos internos, oferecendo orientação e suporte

educacional especializado para que vençam as dificuldades originárias do

período de tratamento, bem como sejam minimizados os danos decorrentes do

período de afastamento da escola normal. Os alunos contam com o apoio de

uma equipe multidisciplinar composta de pediatras, nutricionistas, psicólogos,

pedagogos, entre outros; recebe colaboração do comércio local. Além de

contribuir na continuidade das aprendizagens escolares, a classe hospitalar

certamente terá um papel decisivo para a construção de novos conhecimentos,

novos significados do adoecimento, novas impressões sobre suas condições

de saúde e doença, valorizando sua autoestima.

Mesmo hospitalizada e independente de sua origem ou classe

social, a criança apresenta necessidade de movimento e de conhecimento.

Estudando ou brincando, ela libera suas raivas e inseguranças, revive

situações, coopera com outras crianças e constrói significados. Todo cuidado

prestado nesse sentido faz com que crianças e adolescentes percebam que

estão vivos, e que são ativos e capazes.

O papel de mediação que o professor da classe hospitalar

desempenha junto à criança e ao adolescente tem o poder de confirmar a

efetivação do processo de ensino-aprendizagem. Em relação às atividades,

devem ser selecionadas e elaboradas de forma a promover a aprendizagem.

23

2.2- REFLEXÕES SOBRE AS COMPETÊNCIAS DO PROFESSOR ATUANTE

NA PEDAGOGIA HOSPITALAR

A equipe pedagógica que trabalha na Classe Hospitalar Sulivan

Medeiros é composta por dois Pedagogos e uma Psicóloga, que

desempenham um atendimento visando dar continuidade ao seu processo de

ensino-aprendizagem das crianças, sempre visando suprir as necessidades

dos educandos, pois a continuidade é garantida por lei e o seu processo de

ensino-aprendizagem independe do espaço escolar. De acordo com Matos e

Mugiatti:

Para o sucesso deste intento recomenda-se rever aspectos de possibilidades num espaço planejado, o qual se constituirá no paradigma mais amplo da educação que busca a natureza do aprendizado, em contraposição de métodos que levem apenas à instrução (2007, p.105).

A contribuição na equipe pedagógica vai além do ser educado, parte

também para o emocional que possibilita ao paciente a sua melhora e

recuperação no processo da saúde e doença que o indivíduo passa ao longo

de sua vida. Desse modo, de acordo com Matos e Mugiatti (2007, p. 104), “a

enfermidade acaba, quase sempre, por atingir os aspectos-cognitivos,

psicológico e social – da criança (ou adolescente) hospitalizada, e isso se

reporta a um momento de atendimento especial em sua vida”.

O profissional da educação atuante no ambiente hospitalar oferece

subsídios para o retorno do aluno ao seu ambiente comum, como também uma

maior compreensão do seu estado de saúde, sua doença. Assim, a

participação efetiva do Pedagogo Hospitalar, auxilia concretamente na

recuperação e na sobrevida da criança e do adolescente hospitalizados.

Para dar essa continuidade ao trabalho é preciso a parceria de

todos, não só dos profissionais de saúde e de educação, mas dos gestores, a

fim de colaborar com materiais didáticos e um ambiente educador, pois para se

educar é preciso ter um ambiente que favoreça um trabalho em conjunto com

toda a equipe envolvida com a criança e o adolescente hospitalizado, como

afirma Matos e Mugiatti:

24

A Pedagogia Hospitalar, por suas peculiaridades e características, situa-se numa inter-relação entre os profissionais da equipe médica e da educação. Tanto pelos conteúdos da educação formal, como para a saúde e para a vida, como pelo modo de trazer continuidade do processo a que estava inserida de forma diferenciada e transitória a cada enfermo. (2001, p.37)

O trabalho em conjunto entre a equipe Pedagógica e a equipe de

saúde no atendimento da classe hospitalar, torna-se uma base fundamental

para que os objetivos propostos pela Pedagogia Hospitalar sejam alcançados

como, por exemplo, a recuperação e a elevação da autoestima.

As competências do Professor para atuar no ambiente hospitalar

agregam uma série de conhecimentos específicos, habilidades e técnicas que

se tornam necessárias ao docente em sua ação pedagógica diante da

complexidade do contexto hospitalar. Segundo PERRENOUD (2001, p.7),

competência é uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo

de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles.

O professor que atua na Pedagogia Hospitalar se relaciona com

diferentes profissionais e com diversas situações complexas, nas quais o

hospital não pode conceber o professor como um simples especialista que

segue uma determinada rotina sem pensar o que está fazendo. Não podemos

imaginá-lo como um simples detentor de saberes que se limita a colocar em

prática somente seus saberes pedagógicos. PERRENOUD (2001, p.139) relata

que sem essa capacidade de mobilização e de atualização dos saberes, não

há competência, mas apenas conhecimentos.

Os professores devem participar da construção e do

desenvolvimento de uma ação educativa consciente, que promova no aluno

suas potencialidades e capacidades de criar soluções adequadas. Exercer este

papel só é possível se o professor for um profissional reflexivo, agente de sua

própria formação, e estimulador da formação do educando, mediando à

construção do conhecimento com atividades lúdicas desafiadoras, criativas e

significativas, possibilitando aos alunos tornarem-se sujeitos participantes,

autônomos e críticos em relação ao contexto em que estão inseridos.

25

2.3-AÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

A classe hospitalar Sulivan Medeiros do Hospital do Seridó em Caicó

(RN) funciona no turno da tarde, com atividades que buscam estimular os

educandos no seu processo de aprendizagem. As atividades da classe

hospitalar precisam ter começo, meio e fim, mas o professor precisa estar

ciente de que cada dia de trabalho se constrói com um planejamento bem

estruturado e flexível.

Como rotina o professor da classe hospitalar precisa diariamente

registrar as suas impressões e observações sobre o desempenho de cada

criança, nas atividades desenvolvidas, por meio de relatórios que contribuem

positivamente para que a cada dia tanto o professor quanto a criança consigam

atingir os objetivos propostos pela classe hospitalar.

De acordo com as observações feitas durante cinco dias na Classe

Hospitalar Sulivan Medeiros no Hospital do Seridó, foi identificado que, para

que esse acompanhamento ocorra de forma efetiva, dando à criança internada,

realize-se uma abordagem direta com o paciente e acompanhante para colher

dados referentes à escolarização da criança (se está inserida no sistema

público ou privado de ensino; a série que esta cursando, se ocorreu repetência

e/ou evasão; se está em idade escolar, mas não está inserida na escola e as

causas). Depois, entra-se em contato com a escola de origem da criança no

sentido de comunicar a internação, caso a família não o tenha feito, bem como

solicitar a relação dos conteúdos que estão sendo trabalhados na classe na

qual a criança está inserida, além do material didático utilizado pela escola,

podendo as informações serem feitas via relatório enviado através da família,

por contato telefônico ou, ainda, através de visita à escola. Caso este contato

com a escola seja inviável, realiza-se uma avaliação pedagógica junto à

criança no sentido de sondar que conteúdos, referentes à série que está

cursando, se a criança domina, ou não, e se a mesma apresenta dificuldades

específicas de conteúdos para que desta forma seja montado o programa de

acompanhamento da sua escolarização focado nas dificuldades apresentadas.

26

Após alta hospitalar, é enviado o relatório descritivo das atividades

realizadas na Classe Hospitalar, bem como do seu desempenho, posturas

adotadas e dificuldades apresentadas no decorrer dos dias de internação.

Objetivou-se que as atividades e brincadeiras que as crianças

hospitalizadas realizam trazem como ponto positivo a especificidade em lidar

com as enfermidades, pois é nesses momentos que a criança se distrai e às

vezes encontra até uma saída para lidar com seus problemas. O trabalho do

educador dentro do hospital faz com que não haja um comprometimento

mental, emocional e físico das crianças, isso ocorre nas atividades fornecidas

na classe hospitalar Sulivan Medeiros.

2.4- INTERAÇÕES ENTRE A EQUIPE MULTIDISCIPLINAR

A pesquisa de campo foi realizada a partir da observação direta do

cotidiano do trabalho em cinco visitas à Classe Hospitalar Sulivan Medeiros,

como está mencionado através do acompanhando dos profissionais incluindo

desde visita às enfermarias para a coleta de dados até o atendimento dentro da

sala, sempre conversando com profissionais inseridos nas equipes de trabalho.

O nosso estudo e as observações nos permitem identificar que o

trabalho em equipe emerge como modalidade de trabalho coletivo, que se

configura na relação recíproca entre as intervenções técnicas e a interação dos

agentes participantes ativos das atividades desenvolvidas dentro e fora da sala.

Dentro do atendimento da Classe Sulivan Medeiros os profissionais buscam

sempre trabalhar pensando no bem-estar e no desenvolvimento de seu

paciente e da família que o acompanha.

Para isso todos os profissionais que fazem parte da equipe

multidisciplinar têm que estar aptos a realizar intervenções próprias de suas

respectivas áreas, mas também ações comuns nas quais estão integrados.

Observamos que o trabalho em equipe contribui para proporcionar

ao paciente o conhecimento e a motivação para vencer o desafio e adotar

atitudes de mudanças de hábitos de vida e adesão aos tratamentos. Sendo

assim, os membros de uma equipe multidisciplinar devem trabalhar de acordo

com os limites e especificidades de sua formação, respeitar e conhecer a ação

27

individual de cada um dos outros membros que compõem o grupo. Além disso,

cada local de trabalho deve adequar-se à sua realidade.

Com essa junção, criam-se vantagens na atuação desses

profissionais atuantes na Classe Hospitalar Sulivan Medeiros, como: o aumento

do número de pessoas atendidas; a adesão ao tratamento mais significante,

sendo cada paciente um aplicador de conhecimentos e atitudes.

Observando ainda que esta interação profissional contribui para uma

avaliação mais ampla das necessidades apresentadas. A equipe

multiprofissional configura-se como uma importante ferramenta para o cuidado

integral, pois contribui para aperfeiçoar o processo de adaptação às mudanças

ocasionadas pelo diagnóstico, doença, tratamento, reabilitação e melhoria da

qualidade de vida e, assim, a criação de um campo teórico-prático novo e mais

amplo.

Compreendemos então que o trabalho em equipe só é possível

quando os trabalhadores constroem uma interação entre si, trocando

conhecimentos e articulando um campo de produção do cuidado, já que este é

comum à maioria dos trabalhadores de um hospital. Esse lugar de cuidar, além

da interação, possibilita, a cada um, usar todo o seu potencial criativo na

relação com o usuário/paciente, para juntos produzirem o cuidado.

A prática pedagógica em ambientes hospitalares demanda dos

profissionais maior flexibilidade tanto nos conteúdos quanto nos procedimentos

e recursos individualizados, levando em consideração cada

criança/adolescente, envolvido no processo de aprendizagem, sempre com

atenção para o momento do tratamento, para a condição atual do paciente,

pois o pedagogo que atua em ambiente hospitalar deve visualizar o conceito

integral de educação, promovendo tanto a educação quanto a saúde.

28

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa possibilitou a reflexão dos aspectos que envolvem a

classe hospitalar desde a sua rotina, as atividades pedagógicas, os recursos

utilizados e algumas dificuldades observadas, objetivando a coleta de dados

com a maior riqueza de detalhes e profundidade possível.

De acordo com as observações realizadas na classe

hospitalar Sulivan Medeiros, percebemos claramente a importância das

atividades pedagógicas com a interação de todos os profissionais, entre o

aluno / paciente e seus familiares e a representatividade desta modalidade de

ensino para os discentes em tratamento médico. Não poderíamos deixar de

mencionar todo cuidado, carinho, esforço empenhado pelos docentes na

elaboração do seu planejamento, na escolha dos recursos e na preocupação

com o aprendizado dos alunos.

A Classe Hospitalar é uma nova modalidade da Educação Especial

que visa à troca e à construção coletiva do conhecimento, conduzida por um

atendimento pedagógico pautado nas potencialidades individuais da criança

enferma, no qual a aquisição do conhecimento se transforma num eficiente

remédio para aliviar a dor, o sofrimento físico, emocional e social.

As observações realizadas constituíram-se como um elemento

importante para o resultado desta pesquisa. A atuação junto às

crianças/adolescentes, que se encontram em tratamento, possibilitou um

acompanhamento desta realidade, confirmando também a presença dos

profissionais pedagogos e psicólogos atendentes da Classe Hospitalar no

Hospital do Seridó, visto que as necessidades educacionais da criança e dos

adolescentes internados são respeitadas e priorizadas.

Desta forma, ao longo do estudo pudemos compreender que a

pedagogia hospitalar é importante para a recuperação da criança e do

adolescente internados, fundamental no seu processo de ensino-

aprendizagem, compreendendo o seu acompanhamento durante este período.

Dentro do hospital e de sua dinâmica, a classe escolar é um espaço

pedagógico com propostas educativas e escolares para a criança/adolescente,

que assegura a manutenção dos vínculos escolares, se torna um espaço de

29

interação social, atuando na prevenção do fracasso escolar, que para a criança

é tão traumatizante quanto à doença.

A presença do profissional pedagogo e dos outros profissionais que

dão o apoio à Classe Hospitalar, dentro do hospital, pode colaborar

positivamente na educação das crianças e adolescentes internados, desde que

sua presença seja compreendida como uma possibilidade de desenvolvimento

de trabalho em parceria, sem hierarquizações, de mãos dadas com os demais

profissionais atuantes nesse ambiente.

A pedagogia hospitalar dá o suporte ao desenvolvimento de

aprendizagem do aluno dentro do hospital, garantindo o direito da criança dar

continuidade aos seus estudos, motivando a mesma a continuar depois de sua

alta do hospital.

O trabalho dos profissionais atuantes na Classe Hospitalar é

realizado com qualidade, garantindo assim atendimentos pedagógicos de

condição e muita interação com esses alunos. A recuperação e os resultados

aparecem de forma rápida.

Concluímos que é possível pensar em um ambiente hospitalar como

um espaço de educação para crianças e adolescentes, jovens e adultos que

estão em idade escolar. Esses locais podem ser pensados como espaços de

encontros, transformações e desejos para que o desenvolvimento seja integral.

Para isso, é preciso o nosso olhar para essas pessoas como pessoas capazes.

Precisamos compreendê-las, respeitá-las e, principalmente, auxiliá-las no que

necessitar.

30

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988.

______. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Declaração dos Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizados. Resolução Nº 41, de 13 de outubro de 1995. Brasília: Imprensa Oficial, 1995.

_____. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: Senado, 1996.

______. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: SEF/MEC, 1997.

______. Resolução nº02. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 14 set. 2001. Seção 1e, p. 39-40.

_____. Ministério da Educação. Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica. Brasília: MEC/SEESP, 2001.

______.Estatuto da criança e do adolescente: Lei federal nº 8069, de 13 de Julho de 1990. Natal: CONSECRN, 2014

______. Ministério da Educação. Classe Hospitalar e Atendimento Pedagógico Domiciliar: estratégias e orientações. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/livro9.pdf>. Acesso em: 13 fev. 2015.

CAICÓ. Prefeitura Municipal. Lei nº 4.454 de 01 de Julho de 2011.

______. Prefeitura Municipal, Lei nº 4.532 de 08 de Maio de 2012.

FONSECA. Eneida Simões. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. 2.ed. São Paulo: Memnon, 2008.

MATOS, Elizete Lúcia Moreira; MUGIATTI, Margarida Maria Teixeira de Freitas. Pedagogia Hospitalar: a humanização integrando educação e saúde. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

MEDEIROS, Célia Maria; MORAIS, Grinaura Medeiros; AIRES, Ana Maria Pereira (Org.). Primeiras aproximações com a pesquisa educacional. João Pessoa: Ideia, 2012.

31

PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para uma nova profissão. Porto Alegre: ArtMed, 2001.

RIO GRANDE DO NORTE. Conselho Estadual de Educação. Resolução nº02/2012-CEE/CEB/RN, de 31 de Outubro de 2012.

______. Lei nº 9.808, de 05 de Dezembro de 2013.

VASCONCELLOS, Celso S. Coordenação do Trabalho Pedagógico: do trabalho político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertard, 2002.

32

ANEXOS

33

ANEXO A

34

ANEXO B

35

ANEXO C