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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS MIQUÉIAS FREITAS CALVI (RE)ORGANIZAÇÃO PRODUTIVA E MUDANÇAS NA PAISAGEM SOB INFLUÊNCIA DA HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE Campinas 2019

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

MIQUÉIAS FREITAS CALVI

(RE)ORGANIZAÇÃO PRODUTIVA E MUDANÇAS NA PAISAGEM SOB

INFLUÊNCIA DA HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE

Campinas 2019

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MIQUÉIAS FREITAS CALVI

(RE)ORGANIZAÇÃO PRODUTIVA E MUDANÇAS NA PAISAGEM SOB

INFLUÊNCIA DA HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE

Tese apresentada ao Instituto de Filosofia e Ciências

Humanas da Universidade Estadual de Campinas

como parte dos requisitos exigidos para obtenção do

título de Doutor em Ambiente e Sociedade, na área

Aspectos Sociais de Sustentabilidade e Conservação. Orientador: Prof. Dr. Emilio F. Moran Coorientador: Prof. Dr. Mateus Batistella

Este exemplar corresponde a versão final da tese defendida pelo aluno Miquéias Freitas Calvi, orientada pelo Prof. Dr. Emilio F. Moran. _________________________________

Campinas

2019

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Ficha Catalográfica Universidade Estadual de Campinas

Biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Cecília Maria Jorge Nicolau - CRB 8/3387

Calvi, Miquéias Freitas, 1979- C139r (Re)Organização produtiva e mudanças na paisagem sob influência da

hidrelétrica de Belo Monte / Miquéias Freitas Calvi. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.

Orientador: Emilio Federico Moran. Coorientador: Mateus Batistella. Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de

Filosofia e Ciências Humanas.

1. Usinas Hidrelétricas - Amazônia. 2. Agropecuária - Aspectos econômicos. 3. Mobilidade de mão de obra. 4. Solo - Uso - Amazônia. 5. Desmatamento - Amazônia. I. Moran, Emilio Federico. II. Batistella, Mateus, 1963-. III. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. IV. Título.

Informações para Biblioteca Digital Título em outro idioma: Productive (re)organization and landscape changes under the influence of Belo Monte hydroelectric power plant Palavras-chave em inglês: Hydroelectric power plants Agriculture - Economic aspects Labor mobility Land use - Amazon Deforestation - Amazon Área de concentração: Aspectos Sociais de Sustentabilidade e Conservação Titulação: Doutor em Ambiente e Sociedade Banca examinadora: Emilio Federico Moran [Orientador] Evandro Mateus Moretto Guillaume Pierre Leturcq Luciano Vieira Dutra Ramon Felipe Bicudo da Silva Data de defesa: 30-08-2019 Programa de Pós-Graduação: Ambiente e Sociedade

Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a) - ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0002-9409-9915 - Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/1925851965991165

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

A Comissão Julgadora dos trabalhos de Defesa de Tese de Doutorado, composta pelos Professores Doutores a seguir descritos, em sessão pública realiza em 30 de agosto de 2019, considerou o candidato Miquéias Freitas Calvi, aprovado.

Dr. Emilio Federico Moran [Orientador]

Dr. Evandro Mateus Moretto – Avaliador externo

Dr. Guillaume Pierre Leturcq – Avaliador externo

Dr. Luciano Viera Dutra – Avaliador externo

Dr. Ramon Felipe Bicudo da Silva – Avaliador interno

A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

Campinas, 2019

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À Caroline, minha esposa, e à Geovana e Davi, meus filhos.

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Emilio Moran, pela orientação e compartilhamento de conhecimentos, histórias amazônicas e valores científicos, sempre com muita dedicação e bom humor. Também sou grato por todo apoio ao meu estágio sanduiche na Michigan State University. Agradeço a oportunidade de integrar a equipe interdisciplinar de pesquisadores em seu projeto de pesquisa sobre hidrelétrica na Amazônia, cujo intercâmbio das experiências e descobertas empíricas em muito contribuíram à minha formação acadêmica. Foi um grande privilégio trabalhar com você.

Ao Professor Mateus Batistella, meu coorientador, pelas contribuições pertinentes, e compreensão.

À minha esposa Caroline, pelo amor, companheirismo, paciência e dedicação de sempre.

Aos meus pais Miguel e Julita Calvi, pelo amor e carinho compartilhados e apoio em cada

nova etapa da vida.

Às agências de fomento, pelo apoio financeiro cedido a realização dessa pesquisa:

• O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001;

• O presente trabalho foi realizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP (Processo 2012/51465-0);

• O presente trabalho foi realizado com apoio da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas – FAPESPA (ICAAF 004/2016).

Ao Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais – NEPAM/UNICAMP e aos professores que muito colaboraram com esse trabalho.

Um agradecimento especial ao Waldinei Araújo, pelo pronto atendimento de sempre e amizade construída.

Aos colegas de turma Aline Lima, Isabela Frederico, Mayara Martins, Ilunilson Fernandes, Izidro Muhale e Giverage Amaral, por compartilharem tanto momentos de construção de conhecimento como também de alegria e descontração.

Aos amigos Carlos Castro e Cristina Fachini, por todo apoio durante meu período em Campinas, pela parceria e pela amizade sincera.

Aos pesquisadores parceiros do projeto temático Belo Monte, Cristina Gauthier, Laura Castro, Vanessa Boanada, Maíra Fainguelernt, Guillaume Leturcq e Márcia Grisotti, pela troca de experiências, convívio e momentos de muita alegria.

À Universidade Federal do Pará, pelo apoio à essa qualificação profissional.

Aos colegas de trabalho, professores(as) e técnicos da Faculdade de Engenharia Florestal, do Campus de Altamira, pela compreensão nos momentos de “arrocho”.

À Alexandre Lobato e ao Prof. Fabio Leão, pelo suporte no processamento e análise dos dados.

Ao Guilherme Brito, pela amizade e apoio na criação do banco de dados da pesquisa.

A todos(as) os(as) agricultores(as) entrevistados(as), pela receptividade, paciência e informações cedidas.

A todos/as, meu muito obrigado.

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RESUMO A pesquisa tem por objetivo compreender como a instalação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, estado do Pará, induziu mudanças socioeconômicas sobre o setor agropecuário e seus efeitos espaciais na região do entorno da obra. Está estruturada a partir de três elementos fundamentais: i) como a mobilidade da mão de obra impactou as unidades domésticas rurais; ii) como a barragem e o boom demográfico dela decorrente afetaram a organização, a dinâmica produtiva e comercialização da produção agropecuária; e iii) a avaliação espacial das mudanças de uso e cobertura da terra e os efeitos possíveis da implantação da barragem sobre as dinâmicas produtivas e o desmatamento. A investigação empírica principal se deu a partir de uma pesquisa de painel, com monitoramento de longo prazo de uma amostra fixa de 402 lotes rurais, em um trecho da Rodovia Transamazônica, na região de Altamira, onde foram aplicados questionários nos anos de 1997/98, 2005 e 2015, este último levantamento com ênfase principal às mudanças induzidas por Belo Monte. Entrevistas semiestruturadas a vinte e cinco stakeholders da região de Altamira, e o mapeamento do uso e cobertura da terra para cinco intervalos, no período de 2003 a 2017, através de imagens Landsat 5-TM e Landsat 8-OLI, complementam as fontes de dados. Constatou-se que os impactos de Belo Monte sobre o setor agropecuário foram significativos, pois intensificou o êxodo rural, especialmente de parte da força de trabalho que antes se dedicava às atividades agrícolas, elevou os custos de produção no campo, e impactou principalmente famílias rurais de menor capacidade financeira. Contrariamente ao que foi anunciado pelo Estado, o aquecimento da economia local teve pouco efeito positivo sobre as famílias rurais, pois diversificar a produção agrícola ou investir na produção de alimentos para participar desse mercado temporário tonaram-se financeiramente inviáveis para maioria das unidades domésticas rurais. Por outro lado, processos de especialização produtiva pautados pelas commodities cacau e carne bovina foram viabilizados em função de valorização desses produtos no mercado internacional, paralelamente ao período de execução da obra da barragem. Em função disso, a queda na taxa dos desmatamentos registrada no final dos anos 2000 foi interrompida, e voltou a acelerar no período de construção da barragem. Embora Belo Monte tenha sido um projeto planejado por décadas, o Estado falhou ao não desenvolver ações antecipatórias para evitar ou mitigar as externalidades negativas sobre a região de Altamira. Palavras-chave: Barragens hidrelétricas; Mobilidade do trabalho; Agropecuária; Uso da terra; Desmatamento.

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ABSTRACT The aim of this research is to understand how the installation of the Belo Monte Hydroelectric Power Plant in the Xingu River, in the state of Pará, induced socioeconomic changes in the agricultural sector and spatial effects in the region surrounding the site. The research is structured around three fundamental elements: i) how labor mobility has impacted rural households; ii) how the dam and its demographic boom affected the organization, production dynamics and commercialization of agricultural production; and (iii) the spatial assessment of changes in land use and land cover and the possible effects of dam implementation on productive dynamics and deforestation. The main empirical research was based on a panel survey, with long-term monitoring of a fixed sample of 402 rural lots in a section of the TransAmazon Highway in the region of Altamira. Questionnaires were applied in the years 1997/98, 2005 and 2015. This last survey’s main emphasis was on the changes induced by Belo Monte. Data sources were complemented with semi-structured interviews with twenty-five stakeholders in the Altamira region, and land use and land cover mapping for five intervals from 2003 to 2017 through Landsat 5-TM and Landsat 8-OLI images. It was found that the impacts of Belo Monte on the agricultural sector were significant, since it intensified the rural exodus, especially of part of the labor force that was previously engaged in agricultural activities. It also raised production costs in the field and mainly impacted rural families of lower financial capacity. Contrary to what was announced by the Government, the growth of the local economy had little positive effect on rural households as diversifying agricultural production or investing in food production to participate in this temporary market, became financially unfeasible for most rural households. On the other hand, parallel to the period of dam construction, productive specialization processes guided by the cocoa and beef commodities were made possible due to the valorization of these products in the international market. As a result, the decline in the rate of deforestation recorded at the end of the 2000s was interrupted and accelerated again during the dam construction period. Although Belo Monte was a project planned for decades, the state failed to develop anticipatory actions to avoid or mitigate negative externalities over the Altamira region. Key words: Hydroelectric dams; Work mobility; Agriculture; Land use; Deforestation.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Localização da área de pesquisa. 22

Figura 2. Distribuição espacial dos coortes de ocupação ao nível das propriedades. Baseado em desmatamento nos períodos de chegada dos colonos. 23

Figura 3. Distribuição espacial de hidrelétricas na Amazônia legal. 29

Figura 4. 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu (Fevereiro/1989). 32

Figura 5. Reconfiguração da região da Volta Grande do Xingu, antes e depois da hidrelétrica de Belo Monte. 35

Artigo I

Figure 1. Map of the study area and Belo Monte Dam region. 55

Figure 2. Evolution of employment during the construction of the Belo Monte Dam. Admissions and dismiss totals in the construction sector and comparison to other economy sectors (industry, trade, services and agriculture). 59

Figure 3. Loss of Family labor from households between 2010-2014 in the Altamira region (A) and the motives perceived by the farmers interviewed (B). 62

Figure 4. Evolution of Family labor in the farm sector in the region of Altamira along the three waves of the panel study. 63

Figure 5. Conditions influencing access to labor (A) and the perceived motives with regards to obtaining hired labor (B). 64

Figure 6. Outside labor hired by the farm sector in the region of Altamira, (A) refers to the 2005 survey and (B) to the 2015 survey. Note: Kurskal-Wallis, p=0.000 for (A); and p=0.716 for (B). 65

Figure 7. Values paid for daily wage, by type of farm operation in Altamira, compared to the minimum wage paid at national level, as a reference. 67

Figure 8. Estimate of the Jobs generated by the cattle (A) and cocoa (B) production system in Altamira region between the years of 2010 and 2014. 70

Artigo II

Figura 1. Distribuição percentual dos estabelecimentos rurais por grau de diversidade de renda* agropecuária, da região de Altamira, 2015. 93

Figura 2. Distribuição percentual de valores totais da produção agropecuária comercializada pelos estabelecimentos rurais estudados na região de Altamira ( 2004 e 2014). 94

Figura 3. Números de contratos e valores totais de crédito rural aplicado na região de Altamira (2000 a 2016). 98

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Artigo III

Figure 1. Mapa da área de estudo e da barragem de Belo Monte. 114

Figure 2. Comparação de várias imagens Landsat para região de Altamira mostrando o problema de nuvem e sombra (composição de cor: C6: SWIR 1, C5: NIR e C4: RED). 118

Figura 3. Distribuição espacial das classes de cobertura da terra na região de Altamira em diferentes anos entre 2003 e 2017. 120

Figura 4. Proporção das classes de cobertura da terra entre 2003 e 2017. 121

Figura 5. Relação dos fatores humanos às principais mudanças na cobertura da terra na região de Altamira (2003-2017) 125

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LISTA DE TABELAS

Table 1. Potencial hidrelétrico inventariado na bacia do Xingu (1980). 31

Artigo I

Table 1. Median values for daily wage paid to rural workers in Altamira compared to the mean Brazilian minimum wage. 67

Artigo II

Tabela 1. Lavouras temporárias nas propriedades rurais estudadas em 2005 e 2015 e taxa de abandono das lavouras entre 2010-2015. 89

Tabela 2. Lavouras de cacau e a pecuária bovina nas propriedades rurais estudadas 2005 e 2015. 90

Tabela 3. Grau de Diversidade de Renda da produção agropecuária por estabelecimentos rurais, VBP total e por estabelecimento rural da região de Altamira, 2015. 92

Tabela 4. Origem dos produtos alimentícios (regional ou externo) vendidos nos principais estabelecimentos comerciais da cidade de Altamira-PA, entre os anos de 2015 e 2017. 109

Artigo III

Tabela 1. Conjunto de dados utilizados na pesquisa. 115

Tabela 2. Classes de cobertura da terra utilizadas na pesquisa. 116

Tabela 3. Acurácia dos resultados da classificação da cobertura da terra (2003-2017). 119

Tabela 4. Área total das classes de cobertura da terra para cada ano avaliado (em hectares). 121

Tabela 5. Matriz de transição entre as classes de cobertura da terra na região de Altamira (em hectares). 123

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 14

2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 18

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ÁREA DE ESTUDO .......................... 19

3.1. A pesquisa de campo ......................................................................................... 20

3.2. A área de estudo ................................................................................................ 22

3.3. Universo amostral .............................................................................................. 25

4. AMAZÔNIA - DESENVOLVIMENTO E GRANDES PROJETOS .......................... 26

4.1. A fronteira da hidroeletricidade brasileira ........................................................... 29

4.2. Hidrelétrica de Belo Monte. Um breve resgate ................................................... 31

4.3. A chegada de Belo Monte e alguns efeitos associados ..................................... 35

Referências ............................................................................................................... 41

ARTIGO I .................................................................................................................. 49

THE CONSTRUCTION OF THE BELO MONTE DAM IN THE BRAZILIAN AMAZON AND ITS CONSEQUENCES ON REGIONAL RURAL LABOR * .............................. 49

1. Introduction ............................................................................................................ 49

2. Hydroelectric dams and their consequent regional changes ................................. 51

2.1. Mega-projects and labor mobility ........................................................................ 52

3. Data and Methods ................................................................................................. 55

3.1. Study area .......................................................................................................... 55

3.2. Data collection and Analysis ............................................................................... 56

4. Results .................................................................................................................. 58

4.1. Belo Monte dam and impacts on rural labor ....................................................... 58

4.2. Outflows of workers from rural areas .................................................................. 62

5. Discussion ............................................................................................................. 69

6. Conclusions ........................................................................................................... 73

References ................................................................................................................ 75

ARTIGO II ................................................................................................................. 82

O BOOM DEMOGRÁFICO DE BELO MONTE NÃO INDUZIU O CRESCIMENTO DAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS ............................................................................... 82

1. Introdução ............................................................................................................. 82

2. Barragens hidrelétricas e impactos na agricultura ................................................. 84

3. Procedimentos metodológicos .............................................................................. 86

3.1. Área de estudo ................................................................................................... 86

3.2. Coleta de dados ................................................................................................. 87

3.3. Análise de dados ................................................................................................ 88

4. Resultados e Discussão ........................................................................................ 89

4.1. Efeitos sobre a economia agropastoril ............................................................... 89

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4.1.1. Declínio de cultivos alimentares ...................................................................... 89

4.1.2. Especialização produtiva pautada por comodities: cacau e gado ................... 90

4.1.3. Diversidade das rendas agropecuárias ........................................................... 92

4.2. Bases da consolidação do sistema cacau gado ................................................. 96

4.3. Economia aquecida, mas pouco integrada....................................................... 100

5. Considerações finais ........................................................................................... 104

Referências ............................................................................................................. 106

Apêndice ................................................................................................................. 111

ARTIGO III .............................................................................................................. 112

ANÁLISE DAS MUDANÇAS DE USO E COBERTURA DA TERRA NA REGIÃO DE ALTAMIRA NO CONTEXTO DA CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DE BELO MONTE ................................................................................................................... 112

1. Introdução ........................................................................................................... 112

2. Área de Estudo .................................................................................................... 115

3. Materiais e método .............................................................................................. 116

3.1. Pré-processamento e coleta de dados ............................................................. 116

3.2. Coleta de amostras e classificação da cobertura da Terra .............................. 118

4. Resultados .......................................................................................................... 121

4.1. Análise dos resultados da detecção da mudança da cobertura da terra .......... 121

4.2. Fatores humanos associados às mudanças regionais de LULC ...................... 125

5. Discussão ............................................................................................................ 128

6. Conclusões .......................................................................................................... 132

Referências ............................................................................................................. 134

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 139

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1. INTRODUÇÃO

Ao longo das últimas cinco décadas diversos pesquisadores têm se

empenhado aos estudos sobre a implantação de grandes projetos de

desenvolvimento na Amazônia, tais como mineração industrial (BUNKER, 2008;

HALL, 1989; MONTEIRO, 2005), construção de estradas e rodovias (PFAFF et al.,

2009; SOARES-FILHO et al., 2004), barragens hidrelétricas e linhas de transmissão

de energia (FEARNSIDE, 2015; JUNK; MELLO, 1990; KOIFMAN, 2001;

LATRUBESSE et al., 2017), projetos de colonização (HÉBETTE, 2004; MORAN,

1981) e projetos agropecuários de larga escala (CASTRO, 2012; COSTA, 2000), entre

outros. São projetos que, historicamente, entraram nos planejamentos do Estado

brasileiro como suporte à industrialização do país (KOHLHEPP, 1995) e destinados,

principalmente, a atender demandas nacional ou internacional por matéria prima

(BECKER, 2005; FERREIRA; SALATI, 2005). Tais projetos, embora distintos quanto

à natureza e objeto de ação, historicamente têm apresentado demasiadas

similaridades, independentemente da região geográfica ou conjunturas políticas

quando da implementação.

No caso das Usinas hidrelétricas de grande porte, as transformações

produzidas “ultrapassam os limites de suas abrangências, atingindo e alterando

estruturas até então existentes”, com impactos justificados pela retórica do

desenvolvimento e inclusão econômica das regiões onde são aportadas

(BORTOLETO, 2001 p. 53). Durante a fase de implantação destes empreendimentos,

ocorre expressiva dinamização econômica na região de entorno, seja pelo aumento

da demanda de produtos e serviços para obra em si ou outras demandas crescentes

derivadas do boom demográfico comumente gerado pelos grandes projetos,

especialmente quando implantados em regiões com baixas densidades

populacionais. Altamente demandante de mão de obra, é comum o aumento da oferta

de empregos e melhoria de renda da população durante o período de instalação do

empreendimento. A combinação de tais aspectos favorece o crescimento urbano e

produz um mercado consumidor local dinâmico, mesmo que temporariamente.

Embora haja na literatura científica diversos estudos que buscam inter-

relacionar as usinas hidrelétricas e as mudanças no uso e na cobertura da terra, ainda

há uma série lacunas sobre o comportamento humano no espaço afetado por esse

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tipo de empreendimento, e por isso demandam maiores estudos. A maior parte dos

estudos sobre barragens e suas relações com o meio onde estão inseridas focam

análises sobre as populações diretamente afetadas pelos reservatórios (ACSELRAD,

2010), os conflitos sociais, os impactos sobre áreas de preservação e de comunidades

tradicionais (BERMANN, 2007; FLEURY; ALMEIDA, 2013; JUNK; MELLO, 1990),

sobre qualidade da água, saúde e epidemiologia (GRISOTTI, 2016; MARIN;

OLIVEIRA, 2016), sobre os deslocamentos compulsórios, expansão e reestruturação

dos espaços urbanos (MIRANDA NETO, 2016; LETURCQ, 2016), as mudanças no

ecossistema em função das alterações no regime hidrológico (TUNDISI, 2007); os

efeitos sobre a fauna e flora, os desmatamentos (FEARNSIDE, 2006; WINEMILLER

et al., 2016), entre outros.

Seguindo essa linha de raciocínio, está o caso da hidrelétrica de Belo

Monte, na região de Altamira. Dada a magnitude do projeto, seu potencial de geração

de impactos sociais e ambientais, bem como sua região de locação - a Amazônia

brasileira - este empreendimento tem sido investigado e bastante citado na literatura

científica nacional e internacional (BERMANN, 2012B; FEARNSIDE, 2017; MORAN,

2016; TUR, 2019), principalmente em um momento de crescentes preocupações

quanto ao papel das ações humanas sobre as mudanças climáticas. No entanto, dada

a lacuna do conhecimento existente, uma importante agenda de investigação está

relacionada ao desempenho dos sistemas agropecuários do entorno das barragens,

sua participação na economia do território, como se reestrutura, e seus feedbacks

com o ambiente. Em outras palavras, buscar questionar o tipo de desenvolvimento

rural que um empreendimento como esse produz.

Antes mesmo do início das obras da barragem, era bastante comum entre

seus defensores (principalmente políticos, empresários e algumas lideranças locais)

a retórica de que Belo Monte seria a ‘válvula de escape’ para o desenvolvimento da

economia regional (FLEURY; ALMEIDA, 2013; OLIVEIRA et al., 2016),

destacadamente o setor agropecuário. Tal discurso atinge visibilidade e importância

quando considerado que, excetuando Altamira, os demais municípios da microrregião

possuíam população rural superior à urbana, o que demonstrava a importância desse

setor para a região. Números expressivos associados à temática migração,

apresentados no estudo de impacto ambiental de Belo Monte, davam suporte à

retórica, prevendo, no segundo ano da obra, a mobilização de até 96 mil pessoas para

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o empreendimento e um incremento de 48,26% da população1 para cinco municípios

do entorno imediato2. Apenas para o município de Vitória do Xingu, o incremento

populacional representaria 36.500 pessoas, ou seja, um crescimento de 376% de sua

população (ELETROBRÁS, 2009; NORTE ENERGIA, 2011).

Considerando que investidores buscam responder aos estímulos do

mercado quando há demandas solváveis (SINGER, 1997), logo, aspectos

relacionados à produção, oferta e comercialização de alimentos para atender o

excedente populacional ganharam relevância. Mas, como a agropecuária regional

reagiria a essa demanda e estímulo de mercado? Trata-se de um questionamento

importante visto que, ao início do projeto Belo Monte, o setor agropecuário era estável

e consolidado, com trajetória que manteve economia regional em taxa de crescimento

constante, no entanto, impulsionada pela produção das commodities cacau e bovinos

de corte (CALVI; AUGUSTO; ARAÚJO, 2010; MORAN, 2016; WALKER; MORAN;

ANSELIN, 2000). Compreender esse questionamento requer a decomposição em

vários outros, por exemplo, como prover alimentos para um contingente populacional

dessa ordem? Seria viável financeira e estrategicamente o setor agropecuário investir

na substituição ou diversificação de atividades produtivas, considerando o curto ciclo

da obra? Quais os riscos ou custos de produzir no campo, dada a fuga de

trabalhadores para a os empregos na obra da barragem? A produção regional

perderia espaço para produtos externos gestados por grupos econômicos? O setor

agropecuário regional estaria preparado para essas mudanças? Ou ainda, em se

tratando de um projeto planejado há décadas, de que forma interveio o Estado

brasileiro para oportunizar o desenvolvimento desse setor econômico e ao mesmo

tempo minimizar os efeitos das externalidades negativas da barragem?

Embora estes questionamentos sejam, em primeira vista, de ordem

econômica, os feedbacks podem levar importantes alterações nos agroecossistemas

e paisagem rural, pois na região de Altamira ainda predomina sistemas de produção

de alimentos de baixo nível tecnológico, baseados em técnicas tradicionais de corte e

queima da floresta, seguido de períodos de pousio (CALVI et al., 2010). A estabilidade

de produção nestes sistemas é mantida quando assegurado períodos de rotação

longos, permitindo o aumento da biomassa da vegetação secundária e a ciclagem de

água e nutrientes. Não obstante, quando o período de pousio decresce por

1 Referente à população estimada pelo IBGE para o ano de 2007, equivalente a 74.000 pessoas. 2 Altamira, Vitória do Xingu, Brasil Novo Senador José Porfírio e Anapu.

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intensificação do sistema, por exemplo em cenário de aumento da demanda de

mercado (ALTIERI, 2004), reduz-se substancialmente esses atributos e a estabilidade

de produção, além de deixar os solos mais suscetíveis a degradação (KATO et al.,

1999). A intensificação do sistema corte e queima se traduz numa dependência cada

vez maior de novas áreas para plantio (CALVI, 2009; VEIGA, 2003), promove avanços

sobre áreas de florestas e descrevem trajetória complexa de uso e cobertura da terra

(BRONDÍZIO et al., 2002).

Embora algumas teorias considerem o crescimento populacional e os

estímulos de mercado como fatores chave para as mudanças no uso e cobertura da

terra (BOSERUP, 1965), estes não são elementos exclusivos. A decisão de realizar

determinada atividade produtiva está relacionada a um conjunto de fatores ligados ao

meio envolvente e, sobretudo, a critérios relativos ao próprio estabelecimento agrícola

e às unidades domésticas, o que fazem com que respondam de maneira diferenciada

a desafios e restrições semelhantes (DUFUMIER, 2007). Os vários tipos de

produtores rurais são portadores de racionalidades específicas que, ademais, se

adaptam ao meio no qual estão inseridos (MORAN, 1990; PETTENON, 2003). Logo,

devemos nos precaver “a respeito de tornar os indivíduos apenas como atores

economicamente racionais, que procuram maximizar seus ganhos pessoais ao custo

de qualquer outro resultado potencialmente desejável” (VANWEY; OSTROM;

MERETSKY, 2009, p. 61).

Brondízio (2009) aponta que a compreensão das mudanças de uso e

cobertura da terra requer adoção de estratégias analíticas que identifiquem os driving

forces ou “forças condicionantes” de tais mudanças. Forças condicionantes

“compreendem os fatores que têm efeitos sobre as trajetórias de mudanças,

observadas no tempo e em um determinado local” (SILVA, 2015, p. 28), que visa

identificar a “relação entre as chamadas causas subjacentes (as condições iniciais e

as forças fundamentais que salientam a ação humana no ambiente) e as causas

próximas (atividades humanas diretas que afetam o ambiente biofísico)” (BRONDÍZIO,

2009, p. 301)

Essa pesquisa tem como foco de investigação as forças condicionantes e

as mudanças produzidas na estrutura socioeconômica e na paisagem associadas à

construção de uma grande barragem na Amazônia, pautando-se pela seguinte

questão de pesquisa: como o setor agropecuário respondeu às transformações na

região de Altamira, frente ao contexto de implantação da hidrelétrica de Belo Monte?

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Belo Monte se apresenta como importante oportunidade para estudar como

as incertezas e as políticas governamentais associadas ao projeto impactam as

decisões ao nível doméstico (MORAN, 2016) e compreender os efeitos de grandes

empreendimentos econômicos sobre as populações rurais da Amazônia. Também se

demonstra importante se considerarmos que não se trata de um caso isolado, pois

segundo dados do Ministério de Minas e Energia, só a bacia Amazônica3 apresenta

potencial de geração de hidroeletricidade de 77 GW, ou 42,5% do potencial de todo

país (BRASIL, 2007).

2. OBJETIVOS

Objetivo geral

Compreender como a instalação de uma grande hidrelétrica induz mudanças

socioeconômicas sobre o setor agropecuário e seus efeitos na paisagem.

Objetivos específicos

i) Analisar as dinâmicas da mobilidade da mão de obra rural e os efeitos sobre as

atividades agropecuárias;

ii) Analisar como o setor agropecuário reagiu à demanda crescente por alimentos,

com vistas a entender a organização dos sistemas produtivos e os processos de

comercialização derivados, antes e após o início das obras da hidrelétrica;

iii) Analisar os efeitos da implantação da barragem nas mudanças de uso e cobertura

da terra, desmatamento e sobre as dinâmicas agrícolas.

3 Destacadamente as bacias dos rios Xingu, Tapajós, Madeira e Negro.

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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ÁREA DE ESTUDO

A unidade referencial de análise dessa pesquisa empírica são os lotes

agrícolas, compreendendo estas não apenas como um conjunto de componentes

biofísicos e infraestruturas, mas sim em uma perspectiva complexa onde se interagem

as famílias proprietárias, fortemente influenciadas por contextos de ordem internas e

externas. As influências de ordem interna podem ser vistas como aquelas específicas

das famílias agricultoras (origem, composição, idade, gênero, capacitação, nível de

renda, relações sociais estabelecidas etc.) e as características da propriedade

agrícola (tamanho, fertilidade do meio, recursos naturais, infraestrutura, sistemas de

produção, benfeitorias etc.). Já as influências externas estão relacionadas ao espaço

agrário, o institucional e o ambiental.

Os aspectos relacionados às políticas públicas de crédito, fundiário,

assistência técnica, infraestrutura, organizações sociais, relação com a cidade e

equipamentos urbanos, acesso a mercado, mercado de terras, e outros aspectos do

contexto agrário estão relacionados e considerados como parâmetros analíticos

relevantes. Maluf (2003) e Graziano da Silva (2010), chamam atenção para o aspecto

de que no contexto de elevada heterogeneidade e desigualdade social que caracteriza

o mundo rural no Brasil, é preciso levar em conta além da disponibilidade física de

bens, aspectos socioeconômicos, culturais, espaciais e ambientais, como forma de

melhor compreender o contexto agrário.

Essa orientação metodológica, para melhor compreender a área de estudo,

é reforçada por estudos que identificaram que a mudança no sistema de uso e

cobertura da terra é fortemente influenciada por uma série de forças condicionantes

endógenas e exógenas às propriedades, comunidades ou regiões, haja vista que

existe no campo uma diversidade de lógicas organizacionais e produtivas que

justificam a consideração feita acerca da heterogeneidade da produção agropecuária

(VENTURIERI, 2003; MORAN; BRONDÍZIO; BATISTELLA, 2008; FIGUEIRAS;

HERRERA, 2012). Tratando-se de Amazônia, tal fato deve ser ainda mais ponderado,

pois as condições são bem distintas em cada unidade doméstica. Mesmo estando

uma ao lado da outra, os meios de produção se apresentam diferentes, há

diferenciado fator cultural (trajetória, costumes etc.) dado o processo migratório da

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região que promoveu - e ainda promove - a chegada de famílias com diferentes

origens (MORAN, 1990).

3.1. A pesquisa de campo

Este trabalho é parte de uma pesquisa de painel coordenada pelo Prof. Dr.

Emilio Moran, da Michigan State University (USA), que busca basicamente

compreender como grandes programas de colonização para Amazônia, que induziu

massiva migração de pessoas, exerce influências sobre os ecossistemas e como essa

população se adapta e reproduz no novo ambiente. É também continuidade de uma

série de pesquisas que o citado pesquisador desenvolve nessa região desde o ano

de 1972, início do Programa Integrado de Colonização - PIC, uma grande ação estatal

prevista no Plano de Integração Nacional - PIN, dos Governos Militares, implementado

a partir do final da década de 1960.

Esta pesquisa de painel, compreendida pelo acompanhamento de uma

amostra fixa de propriedades rurais em longo prazo, tem sido conduzida

principalmente a partir das perspectivas teóricas da antropologia ecológica, da

demografia e das mudanças de uso e cobertura da terra. A primeira etapa desta

pesquisa aconteceu entre os anos de 1997/1998, tendo como foco principal a região

de Altamira e a relação entre a estrutura demográfica e as taxas de desmatamento; a

segunda etapa aconteceu no ano de 2005, incluindo nesse momento as regiões de

Altamira, Santarém (PA) e Lucas de Rio Verde (MT), visando entender a diferença

entre a pequena produção e as propriedades altamente capitalizadas, como no caso

das fazendas de soja em Santarém e Lucas de Rio Verde.

A terceira etapa compreende a pesquisa atual, não somente enfocando as

áreas rurais, mas conectada a um projeto temático financiado pela Fundação de

Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), intitulado “Processos Sociais

e Ambientais que acompanham a construção de Grandes Projetos: um Estudo

Socioambiental da construção da Hidrelétrica de Belo Monte, Amazônia”, iniciado em

2013. Este projeto busca compreender os impactos e influências que a barragem de

Belo Monte exerce sobre a região de Altamira, analisando temas como migração;

saúde, epidemiologia e saneamento; urbanização, remoção compulsória e

reassentamento de pessoas; impactos sobre populações ribeirinhas, pescadores e

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moradores de unidades de conservação; e aspectos econômicos e ambientais nas

áreas de colonização antiga, sendo esta última parte, conectada especificamente à

pesquisa de painel, ao qual está ligada esta tese de doutoramento.

O levantamento de campo desta terceira etapa do painel foi realizada no

período de janeiro a maio de 2015, com aplicação de dois questionários estruturados

às famílias de agricultores, baseados nos questionários usados anteriormente,

devidamente modificados para entender o papel de Belo Monte. Sempre que possível,

foi aplicado aos casais chefes das famílias ou aos indivíduos que forem indicados

como maiores conhecedores dos aspectos produtivos e domésticos. Tinham como

foco:

a) “Economia e uso da terra” – aplicado a todos os agricultores localizados

durante a pesquisa de campo. Abordou aspectos produtivos dos lotes, tais

como o quantitativo de área, infraestruturas e benfeitorias, sistema de

produção e as mudanças produtivas e o uso e cobertura da terra,

investimentos financeiros, mão de obra, inserção no mercado entre outros

aspectos.

b) “Característica da unidade doméstica e composição familiar” – aplicado

apenas às famílias que residiam nas propriedades ou comunidades rurais

próximas, excluindo-se àquelas que residiam nas cidades ou outros

municípios. Abordava questões relacionadas às famílias, tais como a origem,

composição, gênero, capacitação, nível de renda, migração, relações sociais

estabelecidas, acesso às políticas públicas sociais e agrícolas; ocupação e

atividades econômicas intra e extra lote, entre outros.

Para levantamento de dados sobre a economia agropastoril e doméstica,

tomou-se como base o ciclo agrícola de 2014. Para análise da evolução temporal das

atividades produtivas, bem como uso e cobertura do solo, buscou-se resgatar

informações para os últimos oito anos (2007-2014), visto que essa escala temporal

atenderia períodos de 4 anos anteriores e posteriores ao início das obras da

Hidrelétrica de Belo Monte.

Para maior qualificação de dados de comercialização de produtos

agrícolas, importação de alimentos e a relação com a conjuntura de Belo Monte, uma

pesquisa complementar foi aplicada a proprietários ou gerentes dos 20 maiores

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supermercados da cidade de Altamira, entre março e abril de 2017. Também foram

realizadas entrevistas, individuais ou coletivas, em distintos momentos, com 15

informantes-chave conhecedores das trajetórias produtivas e dinâmicas da economia

da região, como empresários, gestores públicos, pesquisadores, extensionistas rurais,

sindicalistas e dirigentes de associações e ONGs.

3.2. A área de estudo

A região de estudo compreende áreas dos municípios de Altamira, Brasil

Novo, Medicilândia e Uruará, localizados na região Sudoeste do Pará, pertence à

microrregião geográfica de Altamira, também conhecida por região da

Transamazônica. Para além desta área que compreende a pesquisa empírica, dados

secundários mobilizados para este estudo compõem informações para todos os

municípios da microrregião geográfica de Altamira, formadas por oito municípios, além

dos citados anteriormente, integram também Vitória do Xingu, Senador José Porfírio,

Anapu e Pacajá. Para efeito deste estudo, tomamos as expressões região da

Transamazônica, microrregião e região de Altamira como sinônimos. A região

amostrada está situada no trecho entre os quilômetros 15 e 140 da rodovia, a oeste

de Altamira.

Nesta área localiza-se a parte da colonização antiga, onde foram

assentados os primeiros colonos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária – INCRA, sobre um padrão fundiário ortogonal de propriedades retangulares

de 100 hectares, normalmente medindo 500 x 2.000 metros, distribuídos em estradas

vicinais perpendiculares à rodovia (Figura 1). Algumas propriedades maiores de 500

hectares também foram demarcadas em áreas mais distantes do eixo da rodovia.

Esse padrão fundiário passou a ser conhecido como esquema de “espinha de peixe”

de colonização (BATISTELLA; MORAN, 2005; MORAN; BRONDÍZIO; VANWEY,

2005).

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Figura 1. Localização da área de pesquisa. Fonte: Guedes et al. (2012).

Diferente dos assentamentos com desenho baseado na topografia, esse

modelo de assentamentos desconsiderou plenamente a hidrografia local

(BATISTELLA; MORAN, 2005), de modo que resultou na demarcação de

propriedades abundantes em nascentes e igarapés, enquanto diversas outras não

possuem nenhum curso d’água, mesmo estando próximas.

No início da ocupação desse território a estabilização das famílias em suas

respectivas propriedades variou em função de uma série de aspectos, entre eles

destaca-se as características de fertilidade natural dos solos (MORAN, 1981).

Independente do período de chegada, os migrantes que receberam ou compraram

propriedades em áreas de solos de maior fertilidade encontraram melhores condições

para iniciar suas atividades agrícolas, atingiram maior produtividade e maior

capacidade de se capitalizarem. Isso contribuiu de modo significativo para que as

famílias se fixassem na região e iniciassem as atividades agrícolas (MORAN et al.,

2000; MCCRACKEN; BOUCEK; MORAN, 2002). Estes autores também identificaram

que, nos primeiros anos da chegada, os migrantes desenvolveram um padrão de

desflorestamento na parte da frente das propriedades, com aberturas médias de 3

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ha/ano, e que clareiras na floresta a partir de 5 hectares era um indicativo de que as

atividades agrícolas haviam sido iniciadas nas propriedades. A identificação desse

padrão de desmatamento e temporalidade foi fundamental para construção do método

para delimitar a área de estudo e amostragem para pesquisa de painel citada

anteriormente, a partir de ferramentas do sensoriamento remoto. Descrições

pormenorizadas deste procedimento metodológico estão descritas em Brondízio et al.

(2002), McCracken, Boucek e Moran (2002) e Moran (2000), no entanto, também faz

necessário aqui breve descrição.

Os autores utilizaram um conjunto de 10 imagens em intervalos de três a

seis anos, cobrindo o período de 1970 a 1996. Para o período de 1970 e 1978

adquiriram fotografias aéreas e interpretaram visualmente com espelho estereoscópio

as áreas com cobertura florestal e não florestal. Com a codificação temática,

produziram um mapa georreferenciado com quatro classes de cobertura da terra:

floresta, não-floresta, cursos d’agua e estradas. Utilizaram também dados digitais

Landsat Multispectral Scanner (MSS) para os anos 1973, 1975, 1976, 1978 e 1979

(por questão de cobertura incompleta combinaram imagens de 1975/76 e 1978/79) e

Landsat Thematic Mapper (TM) para os anos 1985, 1988, 1991 e 1996. Adicionando

o grid de propriedades da colonização, digitalizados a partir de mapas da cartografia

do INCRA, os autores produziram coortes ao nível de propriedade, representando os

grupos de colonos e as suas datas de chegada nos lotes (Figura 2).

Figura 2. Distribuição espacial dos coortes de ocupação ao nível das propriedades. Baseado em desmatamento nos períodos de chegada dos colonos.

Fonte: Adaptado de McCracken, Boucek e Moran (2002).

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3.3. Universo amostral

Como destacado anteriormente, este estudo é parte integrante de uma

pesquisa de painel, por isso adota-se aqui o mesmo universo amostral e a mesma

unidade referencial de análise. A amostragem da pesquisa foi definida com base na

região delimitada na Figura 2. Essa área equivale a 404,7 mil hectares, onde foram

delimitados 3.916 lotes, de acordo com a grade fundiária original do INCRA.

Distribuída aleatoriamente e estratificada com base nos coortes de ocupação das

propriedades por períodos de chegada dos colonos, os pesquisadores definiram uma

amostra representativa de 402 lotes rurais (BRONDÍZIO et al., 2002; MCCRACKEN;

BOUCEK; MORAN, 2002).

O número total de estabelecimentos agrícolas atualmente nesta área é

desconhecido, visto que ao longo do tempo muitas propriedades incorporaram novos

lotes, ao passo que outros destes lotes originais se desmembraram em dois ou mais

por vendas ou partilhas hereditárias. Apesar do último levantamento em campo ter

sido realizado no período das chuvas na Amazônia, o que dificultava transporte pela

rodovia e estradas vicinais, equipe de pesquisa conseguiu localizar e visitar 100% das

propriedades amostradas. O quantitativo de recusa em participar da pesquisa foi 1,0%

(4), proprietários ausentes 1,5% (6), lotes abandonados 1,0% (4), questionários

descartados por inconsistência e insuficiência de dados 0,5% (2). Atendendo aos

critérios metodológicos descritos no tópico anterior, foram aplicados 336 questionários

de “economia e uso e cobertura do solo” e 285 de “unidade doméstica”. Este

quantitativo agrega dados de 386 lotes e representa 96% do universo amostral.

Informações quanto à organização e análise dos dados estão descritas nos

tópicos “métodos” dos capítulos que compõe esse documento, já que para cada um

destes estudos utilizou-se uma abordagem diferente.

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4. AMAZÔNIA - DESENVOLVIMENTO E GRANDES PROJETOS

A partir da década de 1950, o Estado brasileiro intensifica uma série de

ações para a região amazônica, sobre a retórica de um desenvolvimento necessário

à soberania do país. O modelo para integrar a Amazônia à economia nacional e

internacional pressupunha investimentos maciços em infraestruturas para

industrialização, instituindo políticas fiscais e creditícias e um conjunto de programas

e metas que teve como marco a pressão do grande capital pela apropriação de terras

e dos recursos naturais (IANNI, 1979; RATTER; UDRY, 1987). Este projeto de

desenvolvimento, fruto da parceria entre Estado e o Capital, reduzia-se à visão do

crescimento econômico, através de estratégias geopolíticas, colocando a “natureza a

serviço de grandes conglomerados econômicos” e transformando a região em grande

exportadora de produtos primários (PICOLI, 2006, p. 17).

O suporte estatal ao capital se concretizava com a criação do Banco da

Amazônia e a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia-SUDAM, cujas

missões iniciais seriam financiar, principalmente, médias e grandes empresas rurais

e urbanas. Outras iniciativas compunham a estratégia como a aberturas de rodovias,

megaempreendimentos mineradores, usinas hidrelétricas, dentre outras estruturas de

“desenvolvimento” (BECKER, 2001; COSTA, 2000; KITAMURA, 1994). As rodovias

seriam as principais infraestruturas para assegurar a estratégia geopolítica (COUTO

SILVA, 1957). Entre as décadas de 1960 e 1970 grandes investimentos foram feitos

para abertura de extensas rodovias para conectar a Amazônia às demais regiões

brasileiras, com destaque para a Belém-Brasília (atual BR 153) e Cuiabá-Porto Velho

(atual BR 364), que conectariam a região a partir dos limites oriental e ocidental, e as

rodovias Cuiabá-Santarém (BR 163) e a Transamazônica (BR 230) que possibilitariam

o avanço da fronteira para a porção central da Amazônia.

As rodovias teriam também o papel de abrir espaço para um grande

programa de colonização com distribuição de terras devolutas, sob o slogan “terras

sem homens para homens sem terras” e “integrar para não entregar”. No entanto,

subjacente às propagandas desenvolvimentistas para atrair migrantes para as novas

fronteiras agrícolas, a colonização dirigida viria funcionar como “válvula de escape”

para as tensões fundiárias e sociais principalmente na região Nordeste do país,

castigada pela seca e fome por parte da população (BECKER, 2001; MORAN, 1976,

1981).

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Embora a ocupação da Amazônia, a partir das frentes pioneiras, se

concretizava com a instalação de milhares de famílias agricultoras, já no início da

década de 1970, a exploração dos recursos naturais era apontada como única forma

de integração da Amazônia à economia nacional (KITAMURA, 1994). Destacava-se

nesse contexto a exploração mineral, vista como principal missão da Amazônia por

alguns agentes públicos (MORAN, 2016). Mineração sempre foi um dos pontos

centrais dos planos de desenvolvimento da região, e diversas iniciativas antecipatórias

abriram caminho para consolidação desta atividade, seja na prospecção a partir de

radares – por exemplo, Projeto “RADAM identificou grandes jazidas de ferro, estanho,

cobre, chumbo, zinco, alumínio, ouro, prata, crómio, manganês e outros minérios”

(KLEINPENNING, 1975; em MORAN, 2016, p. 210) – ou em subsídios fiscais e

políticas favoráveis à instalação dos grandes projetos minerais por empresas

nacionais e internacionais, tendo o Estado brasileiro como grande parceiro acionário.

O Programa de Polos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia – Polamazônia

(1974-1980) se destacou entre as iniciativas públicas para criar as condições iniciais

necessárias à expansão deste mercado, que se consolidou já em princípios da década

de 1980 (KOHLHEPP, 2002; MONTEIRO, 2005), conectando, definitivamente, a

Amazônia à economia e ao capital globalizado, principalmente, através da exportação

de produtos primários com baixo valor agregado.

No entanto, Kohlhepp (2002, p. 40) destaca que houve má interpretação

daquilo que se propunha como polos de crescimento, que, ao invés de produzir

“impulsos de desenvolvimento irradiantes”, acentuou ainda mais as “disparidades do

desenvolvimento inter e intrarregional”. Para Lima e Mota (2009, p. 67), essas

disparidades se agravaram “na medida em que é o estado, e não os municípios”, o

beneficiário principal desse mercado internacional das riquezas minerais da

Amazônia.

Um problema central dos grandes projetos de mineração industrial

instalados na Amazônia, e particularmente no estado do Pará, é que seu

desenvolvimento só se tornou possível mediante uma série de outros investimentos

em projetos de infraestruturas, que têm como marco comum sérios impactos aos

ecossistemas e sociedades locais. Fearnside (1999, 2001) destaca que a razão

principal para a construção da hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, foi viabilizar a

instalação de grandes indústrias, em especial a de processamento de alumínio e

alumina, como a ALBRAS em Barcarena, no Pará, e a ALUMAR em São Luís,

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Maranhão. De acordo com esse autor, apenas às duas indústrias eram destinados

1.255 MW ou 65% da energia disponível na UHE Tucuruí, até finais dos anos 1990.

Bermann (2012a) e Fearnside (2014) apontam que nas últimas décadas,

esse setor das indústrias ‘eletrointensivas’ esteve em franca expansão no país e com

demanda crescente por eletricidade. No entanto, as garantias a esse crescimento,

historicamente, têm sido asseguradas por suporte estatal por meio de diversos tipos

de subsídios. Monteiro (2005) aponta que dentre vantagens concedidas à ALBRAS,

por exemplo, apenas o subsídio da tarifa da energia, que vigorou entre os anos 1985

a 2004, atingiu a cifra de US$ 1 bilhão.

Por ser altamente demandadora de energia e vastos apoios historicamente

asseguradas pelo Estado, essas indústrias ‘eletrointensivas’, bem como grandes

construtoras, tencionam os governos à ampliar a matriz de geração e distribuição de

energia, principalmente a partir de usinas hidrelétricas, sendo a Amazônia a região de

destaque pelo potencial hidráulico existente em seus rios (BERMANN, 2012b;

FEARNSIDE, 2006).

Em suma, a visão geopolítica tradicional para a Amazônia e as estratégias

de intervenção do Estado brasileiro, concebidas a partir dos anos 1950, e em especial

no regime militar (BECKER, 2010; COUTO SILVA, 1957), colocou o planejamento

oficial sob uma lógica que privilegia o fortalecimento de grupos políticos e a expansão

das forças do capital nacional e internacional, em detrimento dos ecossistemas, dos

modos de vida das sociedades locais e do uso e proteção dos territórios. Essas

estratégias de ação estatal se consolidaram no meio político, de tal forma, que nem

mesmo a queda do regime autoritário da Ditadura Militar ou as mudanças de

tendências ideológicas e partidárias que conduziram o país já no período democrático,

foram capazes de produzir uma ruptura da lógica geopolítica intervencionista e

vertical.

Embora no recente período democrático haja diferença significativa por

parte do Estado, por reconhecer o “caráter predatório do modelo anterior”, os esforços

do governo brasileiro para “conciliar uso produtivo e conservação ambiental colidem

com sua estratégia de criar eixos de desenvolvimento, cujos objetivos para a

Amazônia são o de integrá-la ao resto do país, vinculando-a ao mercado mundial”

(SERRA; FERNÁNDEZ, 2004, p. 107). Ou seja, embora com avanços, uma nova

roupagem para a estratégia geopolítica de outrora.

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4.1. A fronteira da hidroeletricidade brasileira

Até final da década de 1970, os investimentos para ampliação da matriz

hidrelétrica se concentraram principalmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil

(MORETTO et al., 2012), onde o desenvolvimento industrial, tanto nas áreas urbanas

como rural, obteve maior avanço. A industrialização possibilitou ao país um

crescimento expressivo da economia a partir da década de 1940, registrando Produto

Interno Bruto-PIB médio de 5,9%, com trajetória ascendente até a década de 1970,

quando registrou 8,63%, destaque para o ano de 1973, com 14% (BONELLI, 2002;

VELOSO; VILLELA; GIAMBIAGI, 2008).

Já no final da década de 1970, a economia se desestabilizaria, muito em

função da crise do petróleo, se estendendo por todos os anos 1980 (FAUSTO;

FAUSTO, 1999), marcado pela resseção e inflação, ficando o período conhecido como

a “década perdida” (VEIGA, 2010; WOOD JR; TONELLI; COOKE, 2011).

Nesse período, muitos investimentos foram reduzidos ou mesmo não

realizados em determinados setores, entre eles o de geração de energia, mais

especificamente das usinas hidrelétricas (MORETTO et al., 2012). De acordo com

esses autores, com o cenário de estabilidade econômica alcançado a partir da

segunda metade dos anos 1990, houve uma retomada nos investimentos na produção

industrial, ampliando significativamente a demanda energética. Este cenário coincidia

com um período de falta de políticas consistentes e baixos investimentos no setor

elétrico, por parte do Estado brasileiro, nos anos 1990, cujo resultado culminou com

uma forte crise de energia em 2001-2002, conhecida como o apagão (FEARNSIDE,

2003; HAGE, 2012).

Este episódio exigiu do governo brasileiro o desenvolvimento de

mecanismos para ampliar a capacidade de planejamento político e de investimentos

no setor (HAGE, 2012; SOUSA JR.; REID, 2010). Como as principais bacias

hidrográficas das regiões Sul e Sudeste já haviam sido regulamentadas pela

construção de várias barragens para produção de energia (TUNDISI, 2007), a

Amazônia tornou-se a fronteira final para o avanço da hidroeletricidade nacional

(MORETTO et al., 2012; SOUSA JR.; REID, 2010).

O potencial Hidrelétrico passível de ser aproveitado na bacia do Amazonas

é avaliado em 77 GW, distribuídos por 13 sub-bacias, sendo que as quatro principais

– Tapajós, Xingu, Madeira e Trombetas – totalizam quase 90% desse potencial. Na

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bacia do Amazonas, 38% do potencial hidrelétrico é considerado sem restrições e

62% com restrições ambientais4, onde destacam-se as interferências diretas com

terras indígenas e parques nacionais (BRASIL, 2007, 2018a, 2018b)5.

Assim como no Brasil, para os demais países que integram o bioma

Amazônico há semelhante planejamento, inclusive com capital brasileiro envolvido.

Castello et al. (2013) apontaram que 154 usinas hidrelétricas estavam em operação e

21 em construção, até princípios dos anos 2010, nos nove países desse bioma. Além

destas, os planos governamentais desses países previam o aproveitamento

hidrelétrico a partir de outras 277 barragens. Em trabalho mais recente, utilizando

dados da Agência Nacional de Energia Elétrica-ANEEL, Jiang et al. (2018) apontaram

que o governo brasileiro planeja construir 352 barragens na Amazônia Legal, sendo

96 grandes hidrelétricas (>30 MW) e outras 256 centrais geradoras de menor

capacidade (Figura 3).

Figura 3. Distribuição espacial de hidrelétricas na Amazônia Legal.

Fonte: ANEEL/IBGE.

4 São consideradas restrições ambientais 13 tipos de impactos: em reserva indígena, parque nacional, quilombo, reserva de desenvolvimento sustentável, floresta nacional, área de preservação ambiental, reserva biológica, cidades, área populosa, rio virgem, área alagada, custo da terra e infraestrutura de importância significativa (BRASIL, 2007). 5 Embora bastante expressiva e com grande parte pertencente à Amazônia Legal, a bacia do Tocantins/Araguaia, não está aqui contabilizada.

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No entanto, estudos destacam que a expansão da hidroeletricidade na

Amazônia brasileira esbarrará em vários problemas. O relevo pouco acidentado da

região tende a aumentar o impacto com grandes áreas inundadas (JUNK; MELLO,

1990); afetará diversas terras e comunidades indígenas (BERMANN, 2007) e diversos

tipos de unidades de conservação, localizadas próximas ou dentro das áreas de

aproveitamento hidrelétrico (BRASIL, 2007); ameaça o patrimônio arqueológico e

cultural (JUNK; MELLO, 1990; ROCHA et al., 2014); intensifica migração de pessoas

para áreas de baixa densidade populacional (ACSELRAD, 2010), potencializa

conflitos ambientais (FLEURY; ALMEIDA, 2013), que entre outras questões, dificultam

o licenciamento ambiental dos empreendimentos, pelos órgãos competentes

(BRASIL, 2018b; SOUSA JR.; REID, 2010).

Entre os casos mais controversos de aproveitamento hidrelétrico na

Amazônia, está a barragem de Belo Monte (FEARNSIDE, 2017), na região de

Altamira, uma hidrelétrica que carrega um histórico de violação de direitos humanos e

potenciais impactos socioeconômicos e ambientais.

4.2. Hidrelétrica de Belo Monte. Um breve resgate

Os estudos do Inventário Hidrelétrico da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

iniciaram em 1975 e foram concluídos em 1979, sob responsabilidade da Eletronorte,

subsidiária da estatal Eletrobrás. Este estudo identificou um potencial hidrelétrico

estimado em 20.270 MW (SEVÁ, 2005), que, à época, era o equivalente a 67% do

total da capacidade instalada de energia elétrica no Brasil6. O Inventário indicou a

possibilidade de construção de um complexo de seis barragens, sendo cinco no rio

Xingu e uma no rio Iriri, seu principal afluente (tabela 1). Este conjunto de barragens

traria sérias consequências ambientais e sociais à região, alagaria aproximadamente

18.365 km2 de floresta amazônica e grande parte de territórios indígenas (SEVÁ,

2005), afetando diretamente 37 etnias (PONTES JR.; BELTRÃO, 2005).

6 A capacidade instalada de geração de energia hidráulica brasileira, no ano de 1979, era 30.219 MW, sendo 24.235 MW de geração hidráulica e 5.984 MW de geração térmica (BRASIL; MME, 2018).

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Tabela 1. Potencial hidrelétrico inventariado na bacia do Xingu (1980).

Hidrelétrica Área alagada, maior cota

km2 Capacidade Instalada

MW

Jarina 1.900 600

Iriri 4.060 770

Kokraimoro 1.770 1.900

Ipixuna 3.270 2.300

Babaquara 6.140 6.300

Kararaô 1.225 8.400

Total 18.365 20.270

Fonte: Dados do Inventário Hidrelétrico do Xingu, CNEC/Eletronorte-1980, organizado por Sevá (2005).

Limitações técnicas dos projetos, dimensões e os tipos de impactos que

seriam gerados e falhas na condução das oitivas junto a sociedade a ser impactada,

provocaram várias ondas de protestos e forte mobilização social, durante as décadas

de 1980 e 90, (FEARNSIDE, 2015). Esta reação social também se motivava pela

percepção dos impactos negativos já produzidos por outras grandes hidrelétricas na

Amazônia, como Tucuruí e Balbina (MORETTO et al., 2012).

O momento mais emblemático e conhecido de todo o processo de

resistência social a essas barragens, foi o Iº Encontro dos Povos Indígenas do Xingu,

realizado em fevereiro de 1989, em Altamira. O evento reuniu cerca de 600 índios,

jornalistas, ambientalistas, representantes de diversas organizações sociais e

acadêmicos. Contou também com a presença do cantor britânico Sting, despertando

ainda mais atenção nacional e internacional (MORAN, 2016). O evento foi marcado

pela jovem índia Tuíra, do povo Kaiapó, brandindo um facão contra a face de José

Antônio Muniz Lopes, à época, diretor de Planejamento e Engenharia da estatal

Eletronorte (figura 4). As imagens deste episódio percorreram o mundo, tornando-se

símbolo da resistência social e uma espécie de “logotipo da hostilidade total dos índios

em relação às projetadas barragens” (KRÄUTLER, 2005, p. 11).

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Figura 4. 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu (Fevereiro/1989).

Índia Tuíra Kaiapó com o facão no rosto do diretor da Eletronorte. Foto: Protásio Nene/AE (21/02/1989).

De acordo com Fearnside (2015), este evento em Altamira foi um marco na

evolução do planejamento de barragem no Xingu. Agora com maior apelo social e

resistência indígena, a Eletronorte muda o nome da primeira hidrelétrica de Kararaô

para Belo Monte, haja vista que “Kararaô é uma palavra Kaiapó com significação

religiosa, que a tribo não quis que fosse aproveitada para promover uma represa que

estimularia a construção de uma série de reservatórios rio acima, no território tribal”

(op. cit. p. 234).

Fuchs (2015) e Fearnside (2017) destacam que as mobilizações sociais e

a repercussão nacional e internacional, da forma como o Estado estava conduzindo

os casos das barragens do Xingu, foram importantes para paralização e

replanejamento do projeto. No entanto, o principal motivo da paralização, naquele

momento, foi a “suspensão temporária do financiamento de grandes hidrelétricas pelo

Banco Mundial”, em função de altos custos sociais e ambientais produzidos por obras

dessa natureza, em diversos países (MORAN, 2016). Esta fonte de financiamento era

fundamental ao Brasil, pois naquele período, era limitada a capacidade de

investimento para assegurar a implantação de grandes projetos de infraestrutura,

como as megabarragens. O país convivia com uma dívida externa alta, momentos de

hiperinflação, sérias crises financeiras e trocas de planos econômicos e da moeda.

Durante o Governo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), a equipe

econômica tentou viabilizar a construção da UHE Belo Monte através dos planos

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Brasil em Ação (1996-1999) e Avança Brasil (2000-2003), pautados agora pela

estabilidade da nova moeda, o Real, e pela recuperação da economia e investimentos

em infraestrutura. Porém, por questões das fragilidades econômicas provenientes

ainda de governos anteriores, não se teve sucesso na concretização da obra (ARINI,

2013; CHAVES, 2016; FAINGUELERNT, 2016). A falta de planejamento e

investimento no setor energético na década de 1990, foi o principal motivo para a crise

da eletricidade brasileira, entre 2001 e 2002 (FEARNSIDE, 2003; HAGE, 2012;

MORETTO et al., 2012), e este tema se tornou central na corrida eleitoral para a

Presidência da República, em 2002.

O presidente Lula foi eleito (2003-2006) e o tema “energia” compunha uma

importante estratégia de sua política de governo. A viabilização de projetos

energéticos variados passaria, antes, pela etapa do licenciamento ambiental, e isso

foi acelerado para vários projetos de infraestrutura, entre eles as barragens

amazônicas de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte.

A dimensão da importância da política energética para o Governo Lula foi

evidenciada em seu segundo mandato (2007-2010), quando lança o Plano de

Aceleração do Crescimento-PAC, executado por ele e sua sucessora, a presidente

Dilma Rousseff (2011-2016), sua então ministra da Casa Civil, e anterior ministra de

Minas e Energia.

O PAC 1 e PAC 2, iniciados em 2007 e 2011, respectivamente,

apresentaram orçamento global de US$ 807 bilhões. Em ambos os programas, havia

uma concepção de que investimentos expressivos em projetos de infraestrutura – em

especial no setor de energia – iriam alavancar o crescimento econômico do país e, ao

mesmo tempo, seriam fundamentais para suprir a crescente demanda de energia do

setor produtivo e das famílias brasileiras, que ingressavam na economia de consumo.

Por isso, mais de 50% dos investimentos desses programas foram destinados a

aumentar a produção de energia (TUR et al., 2018). Enquanto nas regiões Nordeste

e Sudeste do país a atenção principal foi dada aos grandes projetos de extração e

refino do petróleo, para a região Amazônica o foco dos investimentos foram para a

exploração hidrelétrica7.

7 Entre 2009 e 2018, doze usinas hidrelétricas entraram em operação e outras três estavam em construção na Amazônia Legal. Juntas, essas barragens representam uma adição de 24.432 MW à capacidade instalada nacional de produção de energia elétrica (ANEEL, 2019). Para maior detalhe sobre o planejamento espacial das Hidrelétricas brasileiras, em especial para a região Amazônica, ver Moretto et al. (2012).

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A decisão política sobre Belo Monte já havia sido tomada e o governo se

utilizaria de todos os recursos para executar a obra o mais rápido possível. Entre 2008

e 2010, caíram dois ministros do meio ambiente e um presidente do IBAMA acusados,

pelo próprio governo, de dificultarem o licenciamento da barragem. O leilão para

construção e operação da hidrelétrica de Belo Monte havia sido realizado em 2010, e

a companhia vencedora, a Norte Energia8, aguardava a autorização para iniciar a

obra. Em janeiro de 2011, o IBAMA concedeu uma “Licença de Instalação Parcial”,

para os trabalhos iniciais de preparação de canteiros, estradas, desmatamentos etc.

Segundo Bermann (2013), tratou-se de uma iniciativa inédita, pois até o caso de Belo

Monte, não existia esse tipo de licença parcial na legislação ambiental brasileira. A

Licença de Instalação, viria a ser concedida 4 meses depois, em julho de 2011, a

mesma data em que começaram as obras para o barramento do rio.

4.3. A chegada de Belo Monte e alguns efeitos associados

O projeto de Belo Monte chegou, mas bastante diferente da proposta

original. Desde Kararaô, houve expressiva mudança na percepção social das

questões ambientais e dos impactos das ações induzidas pelo homem sobre os

ecossistemas. A questão ambiental também se fez presente em acordos

internacionais, com estabelecimento de metas e responsabilidades para as nações,

por exemplo, a redução de desmatamentos e emissões de CO2. Isso contribuiu, entre

outras coisas, para aprimoramento da legislação ambiental, incorporando conceitos

importantes, até então, ausentes ou de pouca importância política, tais como

desenvolvimento sustentável, mudanças climáticas, participação, consulta,

consentimento etc. (FERREIRA; TAVOLARO, 2008; FUCHS, 2015; GOODLAND,

2005).

Para diminuir as tensões sociais e políticas, e especialmente os conflitos

com grupos indígenas, o governo brasileiro se comprometeu em manter apenas Belo

Monte em seu planejamento, excluindo as demais barragens do Xingu e Iriri. Belo

8 A Norte Energia é uma sociedade anônima de capital fechado, composta, até 2019, por onze empresas de diferentes segmentos de atuação e por fundos de previdência complementar. As empresas estatais Eletrobras e suas subsidiárias, Chesf e Eletronorte, detém 49,98% da participação acionária. Em 2010, venceu o leilão para construção da hidrelétrica de Belo Monte e operá-la pelos 35 anos seguintes.

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Monte foi redesenhada e deslocada para uma parte superior do rio, para reduzir o

tamanho do reservatório (com 516 km2), evitar inundações de áreas indígenas e

agradar investidores (JIANG et al., 2018). Embora não mais alagada, essas terras

indígenas e seus povos, passariam agora a ser impactadas pela redução da vazão do

rio, na região conhecida como Volta Grande do Xingu, já que a maior parte da água

seria desviada para alimentar o reservatório intermediário e a casa de força principal

(figura 5). Isso impactou um trecho de aproximadamente 100 km do leito original do

rio, à jusante da barragem, comprometendo a pesca e o transporte aquaviário de

produtos e da população indígena e ribeirinha.

Figura 5. Reconfiguração da região da Volta Grande do Xingu, antes e depois da

hidrelétrica de Belo Monte. Fonte: Earth Observatory/NASA9.

Belo Monte provocou diversas transformações na geografia física e

humana da região, seja diretamente por sua obra e ações condicionantes ou por efeito

da rápida expansão demográfica. Os deslocamentos compulsórios da população

atingiram cerca de 6.000 famílias na área urbana de Altamira, com demolição de sete

mil construções (residências e entidades) (MIRANDA NETO, 2016). Grande parte

9 Disponível em: https://earthobservatory.nasa.gov/images/91083/reshaping-the-xingu-river

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dessa população urbana deslocada vivia em casas tipo palafitas, às margens do rio

Xingu e sobre igarapés que cortam a cidade. Eram áreas insalubres, assoladas por

despejos irregulares de lixos, e frequentes alagamentos. No entanto, a localização

dessas residências favorecia aquelas famílias com modos de vida conectadas ao rio,

como pescadores e ribeirinhos10, dada a facilidade de acesso ao rio, à suas

embarcações e aos pontos de guardas de apetrechos de pesca e comercialização do

pescado (MARIUZZO, 2018). Com a requalificação urbana, toda essa área foi

demolida e a população reassentada em novos bairros planejados (LETURCQ, 2016).

Embora tenha melhorado substancialmente as condições de habitabilidade - sistemas

de água e esgoto, pavimentação, calçamento e acessibilidades (MIRANDA NETO,

2017), alguns desses bairros estão localizados a mais de 4 km da margem do rio, o

que gerou forte impacto social e econômico às famílias.

Nas áreas rurais, os deslocamentos atingiram cerca de 2.000 famílias

agricultoras e ribeirinhas e 1.300 propriedades, em partes territoriais dos municípios

de Brasil Novo, Altamira e principalmente Vitória do Xingu (FGV, 2015). Na parte Sul

e Sudeste do município de Vitória do Xingu, grande área de agricultura familiar foi

transformada em canteiros de obra e reservatório. Nesta região, localiza-se as

maiores porções de solos férteis desse município, onde abrigava a mais importante

zona de produção agrícola. Nesta área, segundo dados da Norte Energia, mais de 2

mil hectares de lavouras de cacau foram removidos para formação do reservatório

(FERREIRA, 2013).

O Estudo de Impacto Ambiental e o Projeto Básico Ambiental de Belo

Monte definiram que a empresa construtora da barragem deveria construir

Assentamento Rural Coletivo, para instalar as famílias que seriam compulsoriamente

deslocadas, de modo assegurar a manutenção de laços sociais e os vínculos com o

lugar. No entanto, a implementação dessa ação foi demasiadamente tardia, gerou

uma série de desentendimentos entre a Norte Energia e as famílias deslocadas, com

envolvimento do Ministério Público Federal. Em função dessa demora, muitas famílias

optaram por receber compensações financeiras ou equivalentes lotes de terra rural,

10 Muitos pescadores e ribeirinhos apresentam uma peculiaridade local de dupla moradia. “É característica dessas famílias viverem simultaneamente nas margens e ilhas do rio e na cidade mais próxima, no caso Altamira, onde desenvolvem o comércio, mantém familiares em idade escolar, usam de apoio quando de uma enfermidade grave” etc. (FGV, 2015, p. 32). Essa característica também provocou diversos conflitos, já que inicialmente a Norte Energia se recusava ou dificulta a devida reparação àquelas famílias que foram duplamente deslocadas, na área ribeirinha e na cidade (LETURCQ, 2016).

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em diversos municípios da região (em suas novas propriedades, várias destas famílias

integraram a amostra de nossa pesquisa). Apesar dos fracassos do passado em

compensar adequadamente os afetados por grandes projetos de infraestrutura,

como aconteceu em Tucuruí, por exemplo, (ACSELRAD, 2010), Randell (2016)

conduziu um estudo qualitativo sobre estratégias de compensação financeira para

as comunidades afetadas por Belo Monte, e descobriu que a maioria das famílias

rurais deslocadas foi capaz de atingir suas aspirações através das indenizações

recebidas.

Sobre as áreas urbanas, um importante efeito associado à hidrelétrica de

Belo Monte é a expansão demográfica, um fenômeno comum que acompanha

grandes obras de infraestruturas. De acordo com Alves e Thomaz Jr. (2011), bastam

as primeiras notícias da aprovação do projeto para desencadear fluxos migratórios

para as regiões de construção de barragens. Em Altamira, os deslocamentos de

trabalhadores ficaram claramente perceptíveis já no final do ano de 2009, para uma

obra que teve sua “Licença de Instalação Parcial” expedida apenas em janeiro de

2011 e início das obras civis da barragem, em junho do mesmo ano.

A cidade de Altamira não possuía capacidade de absorver a mão de obra

excedente; alguns trabalhadores eram agenciados por fazendeiros da região para

atividades temporárias, principalmente manejo de pastagens. Pequenos grupos de

trabalhadores se organizavam no entorno da rodoviária e mercado municipal de

Altamira, tendo as lojas de produtos agropecuários com um importante ponto de

contato com fazendeiros ou “gatos”11. Os migrantes iniciais que não conseguiram se

inserir nos poucos postos de trabalhos, até então disponíveis, e não tinham condições

financeiras para regressarem às suas origens, findaram contribuindo com elevação

do número de moradores de rua e espaços públicos da cidade, obrigando a prefeitura

local iniciar uma ação de acolhimento e retorno de parte dessas pessoas às suas

cidades. Com início das obras da barragem, em 2011, parte dessa realidade inverte.

O crescimento da população e o momento de empregos abundantes,

possibilitou um rápido crescimento da economia local, mas foi acompanhado por forte

especulação imobiliária, por exemplo, o preço dos alugueis superaram taxas de 300%

(OLIVEIRA, 2011), casas de três ou quatro quatros alugadas por R$ 5 mil/mês ainda

11 Os “gatos” são agenciadores de mão de obra barata para realizar tarefas em fazendas. Ele se torna uma espécie de “empregado do fazendeiro, que é utilizado como uma forma de evitar a formação de vínculo empregatício” entre trabalhadores e a fazenda (RUSSO, 2005, p. 8).

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eram difíceis de obter (cerca de 9 salários mínimos em 2011) (MORAN, 2016). A

pressão sobre a oferta e consumo de bens e serviços produziu

(...) um impacto direto nos preços ao consumidor, especialmente no

que se refere aos alimentos e aos serviços básicos (educação, saúde,

transporte etc.). Como forma de atender a demanda inicial de

alimentação e outros itens importantes da cesta básica, alguns

comerciantes abriram anexos improvisados em seus

estabelecimentos, outros criaram tendas. Nos supermercados, as

prateleiras rapidamente se esvaziavam e alguns produtos como carne

e laticínios se tornaram escassos. Os bancos lotavam ao ponto de as

filas se estenderem para as calçadas, especialmente por

trabalhadores que pretendiam depositar parte dos seus salários para

enviar às suas famílias, muitas das quais situadas em outros estados

do país (MIRANDA NETO, 2016, p. 162/3).

Outros graves problemas também acompanharam a obra, altas taxas de

prostituição, exploração sexual de crianças e adolescentes (MARIN; OLIVEIRA, 2016;

OLIVEIRA, 2014), e assassinatos. O Atlas da Violência colocou Altamira no topo do

ranking dos municípios com maiores taxas de homicídios do Brasil, no ano de 2015,

com 114 homicídios por 100 mil habitantes. O IPEA (2017, p. 19) destacou que “a

forma e a velocidade como o crescimento econômico afeta o território” é uma questão

importante para entender essa realidade. O “crescimento rápido e desordenado das

cidades (como aconteceu em Altamira, no rastro da construção da Usina de Belo

Monte) pode ter sérias implicações sobre o nível de criminalidade local”.

Como visto, uma grande hidrelétrica se constitui um incentivo ao aumento

das mobilidades locais e perturbam o território onde são implantadas. Elas

desencadeiam movimentos de destruição e, também, de criação de relações sociais.

A partir do momento em que esses projetos intervêm no território, fatores como terra,

trabalho e recursos naturais “são incorporados em formas sociais distintas das

precedentes”. As alterações produzidas nos meios físicos, bióticos e deslocamento

compulsório, demandam da população originária “novas estratégias adaptativas”,

forçando-os às novas trajetórias sociais (ACSELRAD, 2010, p. 158/9). Faz-se

necessário, portanto, a qualificação ou criação de políticas públicas para evitar que

isso se torne um problema, seja na infraestrutura, na distribuição populacional local

(LETURCQ, 2016) ou de participar das oportunidades que tais projetos podem

proporcionar.

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Nos capítulos que seguem, voltaremos o olhar para o contexto rural, para

discutir os efeitos dessa megabarragem sobre o setor agropecuário da região de

Altamira e compreender o desenvolvimento que ela representa.

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Referências

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Artigo I

THE CONSTRUCTION OF THE BELO MONTE DAM IN THE BRAZILIAN AMAZON

AND ITS CONSEQUENCES ON REGIONAL RURAL LABOR *12

Abstract: The article analyzes the impacts of the Belo Monte dam construction on the rural labor mobility dynamics and the effects on the agropastoral activities, in the rural areas of the Altamira region, Pará state, in the Brazilian Amazon. The study is based on longitudinal data organized as a panel survey applied to fixed sample of 402 rural properties for each survey in the years of 1997/98, 2005 and 2015. The construction of Belo Monte dam produced a demographic boom in Altamira, with the urban population almost doubled during the construction period between 2011 and 2014. The increased demand for food in Altamira’s markets was expected to boost production in the local agropastoral economy. However, the supply of jobs during the dam construction to work in the dam or in the new jobs in the urban area led to an exodus of rural workers, causing a shortage of labor in rural areas and an increase in labor costs of the agricultural activities. This scenario has accelerated the trend of productive specialization of agricultural commodities (i.e., beef and cocoa) instead of Strengthening the local agricultural production to supply the local markets with vegetables and staple crops. Labor shortage in rural areas was the main driver of changes in the local agricultural activities and the impacts were more evident among the households with lower purchasing power and less market integration. The study shows that the impacts of large dams on the agricultural sector tend to vary according to the degree of consolidation of the productive activities and the market conditions of the products associated to these activities at the time the changes occur (i.e., the period of the dam construction). The study shows that the promises made that the dam would lead to regional economic development were not delivered, and that the agricultural sector if anything declined in its food production capacity. Governments and dam builders should either not promise, or make better plans and policy making to ensure that these goals are achieved.

Keywords: Amazon; Hydroelectric dams; Socioeconomic impacts; Labor mobility; Agropastoral activities.

1. Introduction

The growth of population and consumption patterns increase demand for

electricity (Gibson et al., 2017) pushing national governments to invest in electric

generation to ensure the development of their countries. The growth of electric

*12Artigo submetido à revista Land Use Policy. As citações estão de acordo com as normas da revista.

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generation has driven increases in CO2 emissions to the atmosphere, mainly through

the use of fossil fuels (Butt et al., 2013; Fearnside and Pueyo, 2012). Global electricity

production reached around 25,518 TWh in 2017, with about 73.5% from non-

renewable sources (REN21, 2018). Over the last few decades, several countries have

secured investments in electric generation plants using renewable sources (REN21,

2015; Yüksel, 2010), notably hydroelectric dams, which currently provide about 61.8%

of global renewable electricity (REN21, 2018). The installed capacity in hydroelectric

dams increased mainly in countries with a low level of socioeconomic development

(Chen et al., 2016), which resulted in the emergence of mega-dams around the world,

such as in the Amazon, Congo and Mekong basins (Moran et al., 2018; Winemiller et

al., 2016).

Since the 1960s Brazil has expanded its hydroelectric generation capacity

based on the exploitation of its rich hydrological resources, that gives it a geopolitical

strategic advantage based on the application of modern technology and resulting in

large-scale socio-environmental transformations (Becker, 2016; Oliveira, 2018;

Sneddon, 2015). By having a large hydrographic network, "hydroelectricity emerged

as the nation's 'natural vocation' and became one of the bastions of the Brazilian

modern paradigm" (Fuchs, 2016, p. 227). This geopolitical model of development

remains strong today. According to data from the Brazilian Government and energy

sector, the country is planning to add around 2.8 GW/year of hydroelectricity until 2027

(MME and EPE, 2018), with Amazonia being the center pin for this expansion. The

Amazon region, considered a hydroelectric development frontier (Jiang et al., 2018;

Moretto et al., 2012), has estimated potential to produce 77 GW from water resources

(Brasil, 2007), and has 352 planned dams, 96 of them "large" hydropower (> 30 MW)

and 256 will be small ones (Aneel, 2019).

Although providing a reliable source of electricity, hydroelectric dams

represent large investments - 42 billion reais in the case of Belo Monte (Brasil, 2019)

that do not come without controversies in public opinion about their socio-ecological

and economic impacts (Fearnside, 2004; Legese et al., 2018). This is aggravated

further because comprehensive official assessments that help minimize the impacts

that these megaprojects cause are rare, often constrained by the limited availability of

information and/or conflicts of interest (Bro et al., 2018; Hanna et al., 2016). There is

also a lack of academic research on the effects of these projects on the region where

they are built. Studies examining impacts of hydroelectric dams on rural communities

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mostly address socioecological and economic impacts and the effects of the dams over

the communities with livelihoods dependent on the river such as fishing communities,

farmers downstream who cultivate on the floodplain enriched by sediment deposited

during the rainy season, and riverbank communities (Bro et al., 2018). There is a lack

of knowledge about how farming communities away from the dam itself and the river

are impacted during the period of construction, when major political, economic and

demographic changes occur in the region influenced by the mega-project (Moran,

2016). This is the first paper to directly address this question in the literature.

This paper will focus on these impacts to contribute to the literature on how

hydropower dams affect a variety of stakeholder populations. We discuss how rural

agricultural households have been affected by the development of a large dam,

especially how it impacts the rural labor mobility dynamics and the effects on the

agropastoral activities. We focus on the case of the Belo Monte Dam, described as the

world's third-largest hydroelectric dam at the time of construction (2011-2019), but it is

likely this occurs very often where there is a substantial agropastoral sector that would

be affected by the loss of farm labor to construction and development in dam affected

regions.

2. Hydroelectric dams and their consequent regional changes

Mega-dams induce changes that go beyond the scale of the territory where

they are built (Bortoleto, 2001). These large constructions are installed in regions with

low population density and low levels of socioeconomic development (Moran et al.,

2018; Sneddon, 2015). Therefore, mega-dams promise to create regional economic

growth through the creation of local jobs and investments. Dam supporters advocate

the idea of "common good" and "national interest" as the reason to build dams (Pinto,

2012), Their discourses and support are based "on the promise of reducing regional

inequalities, on the propaganda of an illusory internalization of growth" (Vainer and

Araujo, 1992, p. 49), and the impacts from those projects are explained as the

necessary “hidden” costs of development (Bortoleto, 2001; Pinto, 2012). In the search

for popular support for mega-dams, improvements in infrastructure and local services

are announced as a kind of legacy of these projects for the region where dams will be

built. The expansion of electricity grids, roads and waterways (Lees et al., 2016),

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improvements in public health services, education and security (Marin and Oliveira,

2016) that will come are examples of potential benefits supporters use to justify the

dam.

In reality, mega-dams are constructed to serve economic sectors and users

outside the regions where they are located (Becker, 2005), to the detriment of people

living close to the areas affected by the reservoir (Duflo and Pande, 2007; Maia et al.,

2017; Moran et al., 2018). These projects commonly underestimate their social and

environmental impacts and the financial costs, while systematically overestimating

their benefits (Fearnside, 2005; Moran et al., 2018). Evidence suggests that the

benefits produced by mega-dams have not surpassed their real financial costs,

because a number of externalities are neglected or poorly evaluated by projects and

their supporters (Ansar et al., 2014; Del Bene et al., 2018; Namy, 2007; Sevá Filho,

2008). The impacts are treated as "temporary", limiting the attention or mitigating

measures during the period of the construction of the dam. Among the main impacts

neglected by mega-dam projects are the changes in local social dynamics, especially

those related to the migration flows and the demographic boom associated with labor

mobility (Alves and Thomaz Júnior, 2012; Miranda Neto, 2016; Santos, 2007; Wood Jr

et al., 2011; Zhouri and Oliveira, 2007).

2.1. Mega-projects and labor mobility

Large infrastructure projects transform the landscape rapidly and require

investment and coordinated actions at the State level and investments (Gellert and

Lynch, 2003). The installation of large projects follows the logic of capitalist

reproduction and its entrepreneurs use all the available strategies to maximize their

profits, holding control of the factors of production, especially labor. Even with the use

of modern technological equipment that result in high labor productivity, the installation

of large projects (e.g., mega-dams) demands a significant human labor force. Usually,

the labor requirement is greater than the labor available in the construction region, and

a notable portion requires expertise not normally found in the region where dams are

built. In this case, the mobilization of workers from one dam construction site to another

is routine and is strategic to allow the execution of the projects (Becker, 2006; Alves

and Thomaz Júnior, 2012).

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Labor force mobility is a recurring theme addressed by the social sciences

and is key to understanding how capitalism displaces population in order to amplify the

reproduction of capital. The cycle of capital accumulation and its productive expansion

is related to the exploitation of the labor force over the surplus population, composed

by the mass of unemployed or underpaid workers from regions with substantial

underemployed populations (e.g., farming areas dominated by large properties,

metropolitan regions) and therefore apt to be absorbed in new movements of capital

expansion (Miranda Neto, 2015, p. 2). Known as relative overpopulation, this group of

people represents a surplus of workers, above the average needed for capital

appreciation. This “relative overpopulation constitutes an available 'industrial reserve

army', which absolutely belongs to the capital, as if it had created it at its own expense"

(Marx, 1996, p. 191). "Capital can choose the labor force as it wishes and how it will

be more profitable, because stocks of surplus population grow in a frightening way"

(Becker, 2006, p. 334).

The reason why mobility exists in capitalism lies in the idea of the

workforce’s free will (Miranda Neto, 2015). If the worker is "free" the work is mobile

(Marx, 1996), which means being able to move and change his/her job. Thus, mobility

is understood as the exercise of the worker's freedom to choose becoming a

commodity, whose consumption will create value and thus reproduce capital

(Gaudemar, 1977). The mobility of the labor force allows the worker to adapt (plasticity)

to the needs of production, a necessary condition for the genesis of capital and an

indication of its growth potential (Thomaz Júnior, 2013). In this scenario, the capital

needs are met with the migration process, not the needs of individuals (Gomes, 2009).

Therefore, it is up to the workers to migrate or live relying on scarce resources in their

regions of origin, sometimes subject to conditions of deprivation and subsistence

(Miranda Neto, 2015).

The growing ‘industrial reserve army’ (Becker, 2006), means that there is a

group of workers available and able to sell its labor force at any price, place, and

conditions (Perpetua, 2013). This justifies the significant displacement of population

towards large investment projects of infrastructure, as in large hydroelectric dams.

A significant part of the impacts promoted by the construction of mega-dams

is the demographic in-flow to the construction site and surrounding areas. The capacity

for labor mobilization in mega-dam projects triggers migration of workers from different

parts of the country or from other nations, seeking to ensure social and family

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reproduction (Colson, 2003; Randell, 2016). Hydroelectric dam projects have always

attracted migration flows greater than the effective capacity to absorb them, leading

thousands of other workers to settle for a few years in the nearby cities working in local

commerce or underpaid urban activities, where jobs might be available (Leturcq,

2019a; Miranda Neto, 2015).

This migrant populations attracted by mega-dam construction has several

faces: it mobilizes the labor force, which is a fundamental condition to make possible

construction projects, triggers a demographic boom and brings about social

disturbances, environmental and economic problems. These effects are aggravated in

small cities where dams have been built in the Brazilian Amazon. Among the most

emblematic cases is the Tucuruí dam, built in the eastern Amazon between 1975 and

1985, where the population in the small city of Tucuruí jumped from 10,901 to 182,021

(Rocha, 2008), a population increase of around 1,700% in a decade.

Regardless of the scale of the projects of large infrastructure, problems

associated with dam construction to increase energy supply have been observed

worldwide and widely discussed by the scientific community (Ansar et al., 2014;

Fearnside, 2016a; Lees et al., 2016; Legese et al., 2018; Nany, 2007). The planning

and construction of mega-dams takes several years (more than 30 years passed since

the first studies of Belo Monte dam until the beginning of its construction). However,

governments and companies involved have not done enough to prevent or to mitigate

the widely known impacts of dams. The changes in environmental legislation in Brazil

since the 1990s has not yet proved capable of addressing known problems and still

grants environmental licenses for mega-dams construction even when controversial

social and environmental impacts are pointed out by environmental and social impact

assessments (Bragagnolo et al., 2017; Fearnside, 2016b; Moran et al., 2018).

In an attempt to reduce impacts of intense migration to the construction

region of Belo Monte Hydroelectric dam, especially in Altamira, the Environmental

Impacts Assessment (EIA) for the construction and implementation of the dam brought

an innovative mechanism – the alleged prioritization of hired labor from the local labor

market (Eletrobras, 2009). However, it proved an inefficient mechanism as thousands

of workers migrated to the region regardless of the prioritization of local labors. The

mechanism presented in the EIA to license Belo Monte dam in fact favored local

workers able to occupy new job openings. Various employment opportunities emerged

not only for unemployed population, but also for employees of urban or rural activities

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that moved to the dam construction to pursue salary improvements. It is in this context

of labor and employment in urban and rural spaces that Belo Monte dam construction

transformed the productive and economic dynamics of the Altamira region. The

demographic boom caused by the construction of Belo Monte enhanced employability

in urban areas due to the economy blooming in consumption and services while in rural

areas an intense displacement of rural workers to cities of the region was observed.

In the following sections, we will discuss the question of rural labor in the

surrounding regions of Belo Monte hydroelectric dam (i.e., Altamira region), as well as

the out-flows of rural workers during the construction of the dam and how this

displacement of the workforce affected the regional agricultural sector.

3. Data and Methods

3.1. Study area

The study area includes four municipalities located in the west of Altamira

city, along the TransAmazon Highway, in the eastern Brazilian Amazon (Figure 1). The

Altamira region consists of eight municipalities, that gained national and international

attention because of the construction of the Belo Monte hydroelectric dam, the largest

infrastructure project of the Brazilian government in recent decades. It began in 2011

and the full installation of all 24 turbines is expected to be completed sometime in 2019

(Feng et al., 2017). Because of this mega-project, all municipalities in the Altamira

region are considered impacted by the dam, directly or indirectly. This region was

colonized in the early 1970s, based on a major strategy of the Brazilian government to

occupy the Amazon territory with roads and government directed settlement. The

construction of rural settlements and extensive highways linking the Amazon to the

other regions of Brazil, generated an intense migratory flow of farm families in search

of land to work (Kohlhepp, 2002; Moran, 1981). As in other regions of the Amazon, an

orthogonal land pattern of land settlements, with rectangular properties of 100

hectares, distributed along roads perpendicular to the highway, in a scheme known as

"fishbone" settlements was developed (Batistella and Moran, 2005). Agropastoral

activities developed over the last four decades led to extensive deforestation in the

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region, producing landscapes that are increasingly fragmented (Batistella et al., 2003;

Brondízio et al., 2009).

Figure 1. Map of the study area and Belo Monte Dam region.

3.2. Data collection and Analysis

This study is part of a large panel study, which uses longitudinal data of a

fixed sample of 402 rural properties at various time intervals. The first field survey took

place in 1997/98 and the second in 2005, focusing on the relationship between

demographic structure and deforestation in the Amazon (McCracken et al., 2012). The

third survey was conducted in 2015 and maintained a significant part of the scope of

the previous surveys to ensure continuity of the longitudinal data and incorporated

research on human impacts of the dams, focusing on the socioeconomic and

environmental impacts caused by Belo Monte dam and its effects on the land use and

land cover change in the Altamira region.

The definition of the study area and sample size was based on the

identification of the pattern of farm occupation by the use of remote sensing tools

(Moran, 2000) when identified that migrant farmers in this region deforested a minimum

of 5 ha in the front of their properties in the early years of occupation. Deforestation of

more than five hectares would be indicative of the beginning of agricultural activities

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by a household that had begun to occupy that property. Using remote sensing

techniques, cohort definition maps were produced at farm level, which represented the

migrant farmer groups and the years of arrival at the farms. A set of 10 images were

used, covering the period from 1970 to 1996 (aerial photographs for 1970 and1978;

and Landsat Multispectral Scanner-MSS for 1973, 1975, 1976, 1978 and 1979; and

Landsat Thematic Mapper-TM for 1985, 1988, 1991 and 1996) (McCracken et al.,

2012). The area is equivalent to 40,200 hectares, with 3,916 properties delimited

according to the agrarian grid of the National Institute of Colonization and Agrarian

Reform - INCRA. A stratified random sample by proportional cohort membership of

402 farms was defined to conduct in-depth interviews with households, their

socioeconomic and demographic characteristics, their productive strategies and land

use history. Detailed descriptions of the methods are described in Brondízio et al.

(2000), McCracken, Boucek and Moran (2002) and Moran et al (2002).

The 2015 survey was applied between the months of January and May

conducted by a group of 17 researchers, subdivided into three field teams. Two

questionnaires were used: the first one was applied to all the owners of rural properties

or those who manage the properties, mainly addressing the productive strategies and

economic aspects of land use and land cover. The second was applied to the family

member responsible for domestic activities (usually the female head of household) to

understand their demographic characteristics, family composition, and household

characteristics. Both questionnaires sought to capture the perceptions of the

respondents about the recent changes in the socioeconomic and political situation of

the community and the region. The questionnaires were structured with open or

multiple-choice questions, to better capture the information of the interviewees. An

average of two households per day were interviewed by each researcher. For this

article, we use only labor-related data at the community and household level.

The fieldwork data were divided into two categories of rural producers,

“family farm” and “commercial farm”, for comparative analysis. In the scientific

literature, "family farm" is defined by many interpretations given the diversity of social

categories that they may represent (Caume, 1996; Gasson and Errington, 1993;

Kasimis and Papadopoulos, 1997; Neves, 1995). For this study we used the Brazilian

government’s definition, which mixes theoretical aspects established in the literature

and normative elements attributed by legislation. Therefore, the "family farm"

represents the agricultural establishments that have (a) the family taking the decisions

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to manage the property, (b) that uses predominantly the family's labor force in

productive activities, and c) the size of the property is smaller than or equal to a

regional standard (Brondízio et al., 2009; Guanziroli, 2001), established by National

Institute for Colonization and Agrarian Reform (INCRA in Portuguese). For the study

region, INCRA determined a maximum size of 300 hectares to be considered a family

farm. The "commercial farm" group represents the establishments in which agricultural

production systems use predominantly hired workers and or rural properties larger than

300 hectares. This group is composed mainly by medium and large farms or by small

farms with family members having primary economic activities in urban centers (then

the need to hire workers to keep the farm’s production systems). The definition of both

groups in key for the study because there are different governmental public policies for

each one (Paula Filho et al., 2016a, 2016b), which may influence the living standards

in rural areas, productive and economic dynamics, and the trajectories of land use and

land cover changes.

In addition to fieldwork data, census-based socioeconomic data from the

Brazilian government provided by the Brazilian Institute of Geography and Statistics

(IBGE in Portuguese) and the Ministry of Labor and Employment (MTE in Portuguese)

were used in the study. Descriptive statistics were adopted to present the impacts of

the Belo Monte dam perceived by farmers at the level of the region, community and

rural households. Given the non-normality of the data, we needed to use non-

parametric statistics, e. g. Kruskal-Wallis and Mann-Whitney tests, with a 95%

confidence interval.

4. Results

4.1. Belo Monte dam and impacts on rural labor

Since the 1990s, the formal labor market in the Altamira region had been in

a stable trajectory, mainly composed by jobs in the sectors of commerce and services.

For the agricultural sector, official employment numbers have historically been very

uncertain, largely due to the many informal jobs activities in rural areas as compared

to urban formal jobs. From the beginning of the Belo Monte dam construction,

significant changes became evident in the dynamics of the labor market. Although the

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construction sector absorbed the largest contingent of workers, the demographic boom

in Altamira city boosted the local economy, which led to a significant increase in the

supply of employment in other economic sectors (industry, trade and services).

From the CAGED – a database of the Ministry of Labor and Employment

(MTE, 2018), it was observed that the formal employment rates increased sharply

between 2011 and 2013, and reached a peak in 2014, with 43,207 formal jobs, the

highest number of new jobs in Altamira (Figure 2A). Although the location of the dam

construction, mainly in the municipality of Vitoria do Xingu, growth rates in the number

of jobs was just observed in 2014 and 2015, with a peak in admissions of 4,334 (Figure

2 B). During this period, the CAGED data registered a reverse process in Altamira,

with significant demobilization of labor, both in construction and in other sectors of the

economy including the rural sector. This is as expected due to the ending of the major

concrete placement stage creating the reservoir which demand a large number of

workers, followed by the beginning of the turbine installation stage, which requires

fewer but more specialized employees. In 2017, the formal employment rates returned

to the levels prior to Belo Monte dam in all economic sectors, mainly because of the

ending of the dam construction. In other words, very little new formal jobs were created

permanently by the dam. Despite the magnitude of the dam and its potential impact

over the entire region, Fig. 2C-H shows that the increase in the number of jobs was

not observed in other municipalities near the dam, and that the employment benefits

were restricted to the immediate area where the dam was built. Only one municipality

shows a slight increase in employment (see Figure 2F), but in that case, it is not related

to Belo Monte but to the construction of transmission lines to carry the energy from

Tucuruí Dam to others states in North Brazilian.

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Figure 2. Evolution of employment in the municipalities of the Altamira region during the construction of the Belo Monte Dam. Admissions and dismiss totals in the construction

sector and comparison to other economy sectors (industry, trade, services and agriculture). Note: Graphic representation for (A) and (B) at a different scale and (B) to (H) at same scale.

Source: CAGED database - Brazilian Ministry of Labor and Employment, 2018.

The curve described in Figure 2A (i.e., admissions or new hires) is in

accordance with the Belo Monte Environment Impact Assessment (EIA), which

described the first three years of the dam construction as the period of greater

recruitment of workers (Eletrobras, 2009). However, the official data reveals a problem

in the jobs created: a very high turnover of employees. The high turnover in

employment is a common problem in the Brazilian labor market (Gonzaga, 1998;

Ramos and Carneiro, 2002) and systemic in the case of large construction projects,

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which trigger intense migratory flows (Souza, 1988). During the period between 2011

and 2014, at the peak of the Belo Monte construction, CAGED data indicated that, on

average, 76% of civil construction admissions or hires had a maximum employment

time of three months (MTE, 2018).

Analyzing work and employment dynamics in the construction of the Tucuruí

dam, in Pará state, Souza (1988) found a higher level of turnover, where 20 thousand

workers could be fully replaced in an interval of two months. According to Alves and

Thomaz Jr. (2012, 2011), the high turnover rates of employments observed in the

construction of large dams favors a scenario of degradation of living and working

conditions. This is due to the fact that migrant populations in the regions where large

projects take place do not have many stable employment choices. Hence, workers

take the employment opportunities that arise and companies exploit this abundance of

labor as a way of minimizing benefits provided to workers.

As a strategy to mitigate the impacts of the migratory flow, the Belo Monte

EIA established that 60 to 70% of the workforce absorbed by the dam construction

should be from the Altamira region, however, such guidance was not sufficient to avoid

large migration flows from different Brazilian regions. According to Miranda Neto

(2015), the consortium that build the Belo Monte dam hired a total of 45,934 workers

between 2011 and 2014, equivalent to 46% of the Altamira population of 2010 (IBGE,

2017). For the author, the demographic boom of the regions of large dam constructions

is related to the Brazilian socioeconomic inequalities and the existence of a relative

surplus population that "is taken as a reserve for the moments of the expansion of

economic activity, as in the construction of large infrastructural projects or in the

existence of industrial outbreaks." But when this surplus is not available in a given

region, the territorial division of labor fulfills the demand, making it possible by

mobilizing flows of workers dispensed from other regions, feeding the 'hydroelectric

cycle' (Miranda Neto, 2016, p. 162). The applicability of this theoretical orientation is

clearly perceptible when analyzing the flows of labor mobilized for the construction of

Belo Monte. The workers absorbed by the construction of Belo Monte came from more

than 1,500 Brazilian municipalities (Miranda Neto, 2015), some of them from regions

where other large dams were built. This is the case, for example, of the workers from

Tucuruí city, Pará state, where the hydropower’s navigation locks were concluded in

2011, and Porto Velho city, capital of Rondônia state, where the main concreting stage

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of the Jirau and Santo Antônio dams in the Madeira River were completed between

2011-2013.

Although Belo Monte dam construction has triggered a migratory flow of

workers from different parts of the country, the number of workers from municipalities

of the Altamira micro-region accounted for about 15,000, equivalent to 33% of the total

hiring by the dam construction up to 2014 (Miranda Neto, 2015). These numbers

represent a significant participation of the work force of the Altamira micro-region in

the Belo Monte construction, but it is only one dimension of the effect of the migration

of workers from the micro-region to the Altamira city. A significant portion of workers

was absorbed indirectly by companies that provided services to the Belo Monte

construction company and by local commerce and service sectors of Altamira.

The possibility of jobs, fixed wages and labor rights were the most important

benefits expected by the different groups of migrants from various parts of the country

to Altamira during the dam construction (Leturcq, 2019b; Miranda Neto, 2015). We

observed from fieldwork that these motivations were the same to a significant portion

of rural populations in Altamira region that led them to move from rural to urban areas.

This phenomenon, perceived locally in different ways, represents the main reason for

the increases in production costs of rural activities, reinforcing the effect of the dam

construction to the rural economic dynamics. Later, we will analyze the behavior of the

labor force in rural areas, the effects produced on the agricultural sector and how the

local farmers perceive the effects.

4.2. Outflows of workers from rural areas

The issue of rural labor in the context of the construction of Belo Monte is

more complex than simply pointing out the variation in the period or breaking down

variables related to employment in rural areas. The perception of the rural workers

outflow was widespread among the households studied and it produces effects that

vary according to the type of production system (i.e., family farm or commercial farm),

financial conditions of households or main economic and productive activities.

Although the migration of people from rural areas to urban centers is not a recent

phenomenon, the rural labor force migration became bigger in the agricultural sector

during the first years of the Belo Monte construction. In the sample of 2015, 90% stated

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that after the Belo Monte construction started, they observed a sharp decrease of

workers in the rural communities, while 7% did not observe changes and 3% noted an

increase.

However, when questioned about the individual loss in each rural

establishment, at the household level, 34% of the interviewed from commercial farms

reported loss of family workers in contrast to 29% in the family farms, between 2010

and 2014 (Figure 3A). This means that 63% of the sample (n=336) verified loss of

family members from the rural properties to the urban areas. According to this group

(63% of the sample), directly suffered loss of family members/ workers in their rural

properties given the migrations to urban areas, the search for job opportunities

represented an important cause to 35% of them, the Belo Monte construction 16% and

another 16% of the respondents answered that the desire of rural population to get an

education as an important driver of outmigration from rural areas (Figure 3 B). For all

the different reasons that are driving rural migration, the city of Altamira represents the

major receiving system. The motivations were mainly driven by economic aspects

represented by the search for better job opportunities in the urban centers looking for

formal jobs, better income (higher wages) and labor rights. This phenomenon was not

exclusive to the landless class of rural workers, but also to a portion of landowners and

their household members.

Figure 3. Loss of family labor from households between 2010-2014 in the Altamira region (A)

and the motives perceived by the farmers interviewed (B).

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Comparing the longitudinal data collected in the three periods of the panel

study (1997/98, 2005 and 2015), it is possible to visualize the changes in the number

of workers in rural household along these decades (Figure 4). The 2005 survey reveals

a growth in the number of these workers compared to 1997/98, while the 2015 survey

points to a decrease in the number of workers in rural households (Figure 4). The

statistical assessment indicates highly significant changes during the period studied

(Kruskal-Wallis p=0.0001), and the Mann-Whitney test shows significant differences

between 1997/98-2015 and 2005-2015 (p=0.000 respectively), but no significance

between 1997/98 and 2005 (p=0.338), i.e. the pre-dam period.

Figure 4. Family labor in the farm sector in the region of Altamira along the three waves of

the panel study. Note: Different letters denote significant statistical differences between them (Mann-Whitney

p=0.000).

Regarding the access of workers to work in family farms or in commercial

farms, the difficulty of hiring workers is higher for family farms than for commercial

farms (Figure 5A). Figure 5A reveals that 90% of the respondents from family farms

had difficulty hiring employees, while only 69% did among the commercial farms.

According to 50% of the interviewed group, the construction of Belo Monte lies among

the major drivers to explain the difficulties of hiring employees in rural jobs. Another

17% pointed out the lack of rural labor while 11% believes that the increased costs of

rural wage lies among the major reasons (Figure 5B).

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Figure 5. Conditions influencing access to labor (A) and the perceived motives with regards to obtaining hired labor (B).

We investigated the number of workers employed by each rural household

for the five years prior to field surveys, being the period of 2000-2004 for the survey of

2005, and the period 2010-2014 in the 2015 survey. Comparative analysis of the rate

of hired workers during these periods show different trajectories over time. For the first

period (2000-2004), highly significant annual differences were recorded among family

and commercial farms (p=0.000) (Figure 6A). During the period of 2010 to 2014, there

was a decrease of 50% in the number of hired workers compared with 2005 survey

data (Figure 6B). Although farmers are emphatic in reporting their difficulties in hiring

workers in rural areas during the construction of the Belo Monte dam, the average

number of workers over time shows different changes according to the type of

agricultural establishments (family or commercial farms) and in each year analyzed.

For both types of agricultural establishments, there was a tiny decrease in the number

of workers between 2010 and 2013, with changes in the trend in 2014. In 2014, a

recovery was observed in the number of hired workers in commercial farms but a slight

decrease in the number of hired workers by the family farms. The variations are

statistically significant between family and commercial farms in each year analyzed

(2010-2014), with family farms showing lower values than commercial farms (p= 0.004;

0.018; 0.018; 0.028, and 0.011, respectively). Although there are differences in each

year, the evaluation for this period indicates no statistically significant differences (p=

0.716, in Figure B).

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Figure 6. Outside labor hired by the farm sector in the region of Altamira, (A) refers to the 2005 survey and (B) to the 2015 survey.

Note: Kurskal-Wallis, p=0.000 for (A); and p=0.716 for (B).

The agricultural production systems of Altamira region are characterized by

a low level of mechanization and technology adoption (Calvi et al., 2010). This

characteristic makes the agricultural activities highly dependent on the contribution of

human labor. As a result, the rural households with a large number of family workers

have productive and economic advantages compared to households with only a few

workers. Therefore, the maintenance of the domestic units’ socioeconomic living

standards depends on a sufficient amount of family workers, or in the absence of this

asset, they will rely on their financial capacity to hire employees and to manage the

farm (Chayanov, 1986).

The loss of rural workers observed in the last two surveys (2005 and 2015),

reveals the complexity of the problem caused by the scarcity of rural labor, as stated

by the different answers from the social actors affected by it. In the case of the Altamira

region, this scenario produced rural wage inflation, which increased the production

costs of rural activities, mainly perceived by family farms, and may also be due to the

small-scale land area of their rural establishments, lower levels of market integration

and the productive model of family subsistence. This phenomenon was largely

observed in the properties where the labor force was predominantly dedicated to the

cultivation of staple foods. The impacts of labor costs also affected family and

commercial farms, which at the time had financial limitations, even for the ones

producing cocoa and cattle, the most consolidated agricultural activities of the Altamira

micro-region. This scenario has triggered land use changes because households with

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financial limitations had totally or partially abandoned their plantations, and they had

to seek other sources of farm or non-farm income.

The analysis of the average values of the daily wage paid to rural workers,

during the initial years of the Belo Monte construction (between 2011-2014), highlights

key elements of the problem of rural labor scarcity. Figure 7 and Table 1 show an

upward trajectory during the period with significant statistical differences for the

comparisons (annually) between 2011 and 2014 (Mann-Whitney p= 0.000), as well as

for the entire period (Kruskall-Wallis p= 0.000). The data indicate that in the first two

years of construction of the dam there were significant statistical differences regarding

the wage values paid by family and commercial farms to rural employees. The

commercial farms paid, on average, 12% more than family farms (Kruskall-Wallis p=

0.043 and 0.016 for 2011 and 2012 respectively). From the third year of the Belo Monte

construction (i.e. 2013), the problems associated to the rural workers scarcity and the

increases in rural wages (i.e., increasing the production costs of rural activities)

become more evident. The increasing trajectory of rural wages broadened the disparity

compared to the Brazilian minimum wage (BMW) (i.e., lower than the rural wages),

with stronger effects on family farms given the higher appreciation of the rural wage in

family farms over the BMW, in 2014 (Figure 7). The average daily wage paid by the

commercial farms in 2011 was R$33.20 (Brazilian Real) or 59% higher than the BMW

for the same year, and R$51.15 in 2014 (61% higher than the BMW). On the other

hand, for family farms, the variation was higher in same period, from R$29.46 in 2011

(41% higher than the BMW) to R$49.58 in 2014 (56% higher than the BMW) (Figure 7

and Table 1). The appreciation of the commercial farm’s wage over the BMW was 2%

in 2014 while 15% in the case of the family farms, an increase of 13% higher for family

farms compared to commercial farms. The statistical test of Kruskall-Wallis shows no

significant statistical difference between family and commercial farms in the average

wages paid in 2013 and 2014 (p = 0.078 and 0.374, respectively).

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Figure 7. Values paid for daily wage, by type of farm operation in Altamira, compared to the minimum wage paid at national level, as a reference. Notes: BMW = Brazilian Minimum Wage; Comparison year to year are statistically significant (Mann-Whitney p=0,000). Significant comparisons between categories Family farm and Commercial farm for 2011 and 2012 and not significant for 2013 and 2014 were observed (Kruskall-Wallis p=0,043; p=0,016; p=0,078; p=0,374 respectively). See Table 1 for more detail.

Table 1. Median values for daily wage paid to rural workers in Altamira compared to the mean Brazilian minimum wage.

Description Years

2011 2012 2013 2014

Reference value¹

BMW - Daily wage (R$) 20.85 22.97 26.50 31.80

Family farm²

Daily wage (R$) 29.46 33.35 40.28 49.58 Comparison BMW (%)³ 41% 45% 52% 56%

Commercial farm²

Daily wage (R$) 33.20 36.87 43.09 51.15 Comparison BMW (%)³ 59% 61% 63% 61%

Notes (Figure 7 and Table 1): (1) Value calculated of the Brazilian Minimum Wage (BMW) based on the mean 21.2 working days in a month. Values for the BMW for each year 2010=R$510, 2011=R$545, 2012=R$622; 2013=R$678 and 2014=R$724. (2) Field work data. (3) Variation calculated with reference to the BMW of the previous year.

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The effects of the increase in rural wages and the consequent increase in

the cost of living in the Altamira region reflected significantly on the cocoa

sharecroppers group. The sharecroppers are agricultural partners of landowners who,

instead of salary, usually earn a portion of the harvested revenue in the landowner’s

area. As the sharecropper’s work regime is different (i.e. a partner, not an employee)

they have greater autonomy to define their own working hours. Normally, in the study

region, sharecroppers grow the cocoa plantations, have houses and families in the

landowner’s area, and have greater stability in their occupations. That is, an opposite

logic to that of 'day laborers', whose occupations are usually temporary, under verbal

contracts, and subjected to intensive workdays by the landowner. Even with these

characteristics, many of these sharecroppers also ended up leaving their crops to work

in the Belo Monte dam (Alves Júnior, 2013) or migrating to urban areas. In order to

avoid significant losses of these partners, many family and commercial farms

increased the sharecropper’s portion in the annual harvest, averaging an increase of

between 10% and 15%, to stimulate them to stay working in the cocoa plantations.

5. Discussion

The labor scarcity phenomenon of the rural areas of the Altamira region

reflects a set of different causes. First, the IBGE census data for the years of 1991,

2000 and 2010, prior to Belo Monte construction, noted a trend of decreasing rural

population at an average of 7% per decade, while the urban population increased 57%

in the same period (IBGE, 2017). These population trends hide some effects of the

rural outmigration flows, since a large portion of urban residents without rural

properties contribute their labor activities in the rural areas. There is also a growing

number of landowners who have moved their residences to urban centers, seeking

better housing conditions, access to education and health services or extra income in

non-agricultural activities and who commute to their rural properties (Calvi et al., 2013).

This is particularly important in the study region because of the scarcity of basic public

services in rural communities, lack of support for local entrepreneurship, and the

precarious traffic conditions of rural roads (Brondízio et al., 2009), especially during

the rainy season. The 2015 survey confirmed the trend and showed an increase from

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7% in 2005 to 18% in 2015 in the number of landowners living in urban areas but

keeping their rural lands in use.

The second cause is the consolidation and expansion of cattle and cacao

production, the two major agricultural economic activities of the Altamira region. The

cattle herd increased 44%, from 1.84 million animals in 2004 to 2.66 million in 2014

(IBGE, 2017), influenced by an increase of 80% in the price of cattle in the international

market in the same period (average of USD 84 in 2004 and USD 151 in 2014 per cattle

arroba – a weight unit of measurement used in Brazil that is equivalent to

approximately 15 kg (ESALQ/BM&FBOVESPA, 2017). The cocoa harvested area

increased 150%, from 29 thousand hectares areas in 2004 to 74 thousand hectares in

2014 (IBGE, 2017). Similarly, the cocoa plantation may also have been influenced by

an increase of 99% in the international Market price in the same period (average price

per ton USD 1,525 in 2004 an USD 3,034 in 2014) (Investing.com, 2017).

The expansion of these agricultural economic activities drove the increase

of rural workers in regular and temporary jobs in rural areas. Silva et al. (2011; 2010),

estimate the need of one worker to take care of 300 head of cattle in the Brazilian

livestock sector. Therefore, we estimate a growth rate in the number of workers in the

livestock (i.e., cattle) sector of 24% between 2010 and 2014 (Figure 8A). For the cocoa

production system, a rural activity highly dependent on labor, the estimates of the

Executive Committee of Cocoa Production (CEPLAC in Portuguese) for the Amazon

region is the need of one worker for each 2.5 hectares of cultivated cocoa land, on

average - from the third year of the cocoa plantation onwards (Reis et al., 2002). Based

on this rationale, we found a 70% growth in rural workers to supply the labor for the

cocoa production system between 2010 and 2014 (Figure 8B). Therefore, the cattle

and cocoa agricultural activities accounted for approximately 13,927 new jobs in the

rural areas of the Altamira region.

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Figure 8. Estimate of the Jobs generated by the cattle (A) and cocoa (B) production system in Altamira region between 2010 and 2014.

Notes: Estimate based on the data of the cattle herd and area of cacao harvested (IBGE, 2017). Graphic representation for “Estimated jobs” at same scale.

The data shows that at the same time that the study region presented losses

in rural population, it experienced significant expansion of agricultural activities. It

therefore pushes the dispersion of the available labor force in the field to these new

production areas implemented until 2014. Given the present scenario, the Belo Monte

project has exerted strong influence in the complexity of the rural labor dynamics of

the Altamira region. Belo Monte construction competed directly for workers in the

region, who pursued better economic opportunities. The local workers are less costly

to the companies taking care of the Belo Monte construction since it reduces the costs

of installation of a larger number of migrant workers (from other distant Brazilian

regions), as well as the expenses with transport to bring these workers from far regions.

This scenario also creates concern about the temporal extension of the

socioeconomic impacts caused by the labor scarcity in the rural areas, as highlighted

during an interview:

"It is difficult to imagine what one might expect in the future of wages

in rural areas in the region. However, one thing I am quite sure about:

many workers who have left their rural communities to work in the dam

construction, earning up to three times the Brazilian minimum wage,

with formal contracts, and benefits such as food and health insurance,

probably will not come back to rural areas searching for jobs paying a

daily wage of R$ 50 to R$ 60" (J.P. Rural producer and union member,

52 years old, Altamira city - Free translation).

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It is reasonable to assume that some of these workers of the Belo Monte

project will return to rural areas, either because of their cultural identities with the rural

lifestyle, family bonds, or even because of a lack of employment opportunities in

Altamira after the end of the Belo Monte construction boom. The continued expansion

of cattle and cocoa if it continues could absorb a significant proportion of rural labor.

Others will remain in urban areas and will compete for jobs with those migrants who

settled in the region, which according to the Environmental Impact Assessment-EIA of

Belo Monte, was estimated might be as many as 29 thousand people. Another part of

the rural migrant workers might build a new cultural identity as "barrageiros" (dam

builders) (França, 2007) and join the migratory pathway that follows large

infrastructural projects from one dam to another (Ribeiro, 1991).

From the history of hydroelectric power plants in Brazil, it is clear that this

type of mega-project is different from other industrial sectors (e.g., automotive,

telecommunications) given its capacity to absorb labor for a limited time period of about

5 years (Alves and Thomaz Júnior, 2012; Miranda Neto, 2015) and to change the

regional political and socioeconomic dynamics. It is known that it is not the technical

project of construction of the hydroelectric dam per se, which drives the major changes

in the rural and urban communities, but the social processes intrinsically related to the

construction, which includes the installation of a set of support infrastructure and

mitigation works over a wide geographical area (Miranda Neto, 2015 p. 16). From this

case study of the Belo Monte dam in Altamira, Amazon, we learn that mega-projects

have greater pervasive effects, which go beyond what the specialists (e.g., government

authorities, company representatives) define as the influence zones (Leturcq, 2019a).

Neglected by public authorities are the lack of a rural economic development plan for

the region that prepares the area for the impacts to come, before Belo Monte

construction starts (Moran, 2016). In the case of the agricultural sector much could

have been done to inform small and commercial farmers of the opportunities that they

would have to grow by meeting the demand for food from some 50 to 70,000 more

people coming to the region to build the dam. This would have required not only

informing farmers, but providing short term farm credit to expand production of annual

food crops, and preferential treatment given to this local production (just as the project

favored hiring local labor), and ensuring that such produce could reach the consumers

in the area. Measures could also be taken to reduce the negative impacts of inflated

wages and loss of labor by providing incentives to invest in technology to increase

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productivity of the farm sector. Beyond the conclusions that we can capture about the

case study region, our results shed light on major process of human intervention in

nature through the construction of mega-projects.

Mega-project construction projects have a great capacity to change

landscapes and socioecological systems (Bortoleto, 2001), which is potentially

dangerous in developing regions where the governance capacity to enforce legal

rulings is weak (Fuchs, 2015), and where plans to anticipate potentially undesirable

effects are neglected (Moran, 2016; Pulice, et al., 2019; Sgarbi et al., 2019). The region

of Belo Monte lost a great opportunity to develop its agropastoral sector by harnessing

the money flows brought by the dam construction - 42 billion reais (Brasil, 2019) by

directing farmers to meet the demand for food created by the inflow of population, and,

instead, it is now a national leader in homicides, faces water and sanitation crises

rather than improvements in these services, and has a public health system,

overwhelmed by a lack of preparation (Calvi, 2019). In short, rural producers are being

forced to adapt to a scenario of higher agricultural production costs and an uncertain

future. Land use policies could have been designed in advance of dam construction to

prepare farmers to capture the benefits of population growth, to improve use of

technology in the farm sector thereby increasing productivity and reduce the limitations

posed by the rising wages that should have been predicted by the arrival of a large

dam, and bring about lasting economic developing after the dam construction is

completed.

6. Conclusions

The construction of Belo Monte dam promoted an intense mobilization of

workers and caused a demographic boom in Altamira region, Pará State. An important

part of the workforce available in rural areas was directly mobilized to build the dam or

drawn to commercial activities and services in urban areas. This situation led to a labor

shortage pushing production costs in rural areas, which affected the entire agricultural

sector of the Altamira region. Rural establishments with lower financial capacity and

low available family labor were the most affected. Some rural households reduced their

management practices or areas of crop production and pastures, others abandoned

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food crop production. Staple food crops (i.e. rice, beans, cassava, maize) were the

main crops abandoned in the period of demographic boom, precisely the same period

of great demand for food.

We found that the impacts of mega-dam construction on the agricultural

sector varied according to the degree of consolidation of the region's productive

activities and the market conditions of these products during the construction period.

The Belo Monte construction occurred during a period of commodities’ price

appreciation (i.e. livestock and cocoa), which may mitigated part of the economic

impacts of the dam in the Altamira region. However, the economic situation of the

Altamira region previous to the Belo Monte dam construction may not serve as a

baseline scenario for other regions in the Brazilian Amazon. Planned mega-dams in

other regions (the regions of the rivers Tapajós, Aripuanã, Jari, Paru, etc.) with

unconsolidated agricultural frontiers, highly preserved natural vegetation, may lead to

even higher impacts than those observed in the Altamira region. This would suggest

that even more anticipatory land use policies need to be put in place in these other

planned dams go forward with construction. Dams could lead to a stronger farm sector,

but to date they have not due to a lack of land use planning to convert these large

projects as a source of stimulus to increase food production, and achieve local

sustainable and lasting economic development.

As we have seen in another study (Bro et al., 2018), some positive changes

occurred in the Altamira region, especially in infrastructure such as temporary

improvements in the quality of roads, previously unpaved and impassable in the rainy

season. Although positive, these changes are not enough to leverage the development

of the agricultural sector, as advocated by the propagandists and pro-Belo Monte

promises made. The reality of the rural areas of the Altamira region could have been

quite different if governments and companies had implemented a strong program of

anticipatory actions to address the inevitable and sometimes negative changes that

occur when large capital infusion and large population inflows come as a result of the

construction of a project like Belo Monte dam. It was a lost opportunity to achieve

regional economic development.

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Artigo II

O BOOM DEMOGRÁFICO DE BELO MONTE NÃO INDUZIU O CRESCIMENTO

DAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS

Resumo: O objetivo deste capítulo é analisar como o setor agropecuário da região de

Altamira participou do mercado regional no período da construção da barragem

hidrelétrica de Belo Monte e se o crescimento da demanda e consumo de produtos e

serviços, a partir do boom demográfico, pode ter induzido mudanças e

desenvolvimento à agricultura regional. Uma análise da trajetória dos sistemas de

produção agrícola é realizada para entender o contexto socioeconômico anterior à

chegada de Belo Monte e durante a fase de sua construção. Com base em dados de

pesquisa de painel aplicada em 2005 e 2015, levantados ao nível de unidades

domésticas rurais e dados complementares obtidos junto à agentes do comércio local,

constatou-se que, por falta de ações antecipatórias para evitar ou mitigar os impactos

da obra, não apenas deixou a população rural mais suscetível às externalidades

negativas, como limitou a possibilidade de participarem da economia dinamizada

pelo empreendimento.

Palavras-chave: Barragens; Amazônia; Impactos socioeconômicos; Trajetórias

produtivas; Especialização produtiva.

1. Introdução

Desde o anúncio da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte na

Amazônia Brasileira, em 2009, iniciou-se intenso fluxo migratório para a região do

entorno da obra, principalmente para Altamira, cidade mais próxima da barragem. Os

estudos de impactos ambientais apontaram que a instalação da hidrelétrica poderia

provocar migração de até 96 mil pessoas (ELETROBRAS, 2009), aspecto esse que

viria alterar significativamente os padrões de vida local, o consumo de bens, serviços

e principalmente produtos da alimentação.

O discurso de representantes do Governo brasileiro e de vários segmentos

econômicos e de organizações sociais interessados na instalação da hidrelétrica

quase sempre reportavam ao projeto Belo Monte como a via para o progresso e o

crescimento econômico da região do entorno (FLEURY; ALMEIDA, 2013), visto que a

proposta previa, entre outras coisas, que as empresas ligadas à Belo Monte deveriam

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priorizar o mercado local para fornecimento de insumos e serviços necessários

(OLIVEIRA et al., 2016). Incluía-se nesse discurso o setor agropecuário, como

segmento estratégico para fornecer alimentos para as cidades e canteiros de obra.

O desenvolvimento rural preconizado por esses stakeholders esteve, em

grande parte, vinculada à noção de que este grande projeto de infraestrutura

produziria diversas oportunidades econômicas (BRO; MORAN; CALVI, 2018),

fundamentadas basicamente em dois temas importantes e historicamente

estranguladores da economia rural da região: a) a distância de um centro

consumidor, e b) as deficitárias condições de trafegabilidade das estradas e rodovia.

Na retórica pró-Belo Monte, o boom demográfico produzido pela intensa migração

de trabalhadores de diversas partes do país, em busca oportunidades de emprego

nas obras da barragem (MIRANDA NETO, 2015), seria parte da “solução”, já que

um potencial mercado consumidor se instalaria na região. Essa ideia foi difundida

como vetor capaz de induzir o aumento da produção local de alimentos, a

diversificação das atividades econômicas e o fortalecimento da economia rural. Isto

seria especialmente vantajoso para o grupo de agricultores que mais se dedicavam

à produção de alimentos, como os agricultores familiares.

A comercialização dos produtos agrícolas também seria fortalecida pelos

investimentos na melhoria das condições de trafegabilidade das estradas,

fundamental à construção de Belo Monte, especialmente a rodovia

Transamazônica. No entanto, subjacente a esse discurso estava, também, o

interesse de atenuar as percepções negativas do projeto, já que a expansão

acelerada da população comprometeria ainda mais as precárias condições de

infraestruturas e atendimento dos serviços básicos locais (FLEURY; ALMEIDA,

2013; MARIN; OLIVEIRA, 2016).

No entanto, pouco se sabe sobre como a fase de construção dos projetos

de barragens hidrelétricas afetam o setor agropecuário e os meios de subsistência de

famílias rurais na região do entorno dessas obras (BRO; MORAN; CALVI, 2018). A

maior parte dos estudos sobre barragens focam análises sobre as populações

diretamente afetadas pelos reservatórios (ACSELRAD, 2010), os conflitos sociais, os

impactos sobre áreas de preservação e de comunidades tradicionais (BERMANN,

2007; FLEURY; ALMEIDA, 2013; JUNK; MELLO, 1990), sobre qualidade da água,

saúde e epidemiologia (GRISOTTI, 2016; MARIN; OLIVEIRA, 2016), sobre os

deslocamentos compulsórios, expansão e reestruturação dos espaços urbanos

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(LETURCQ, 2019; MIRANDA NETO, 2016), as mudanças no ecossistema em função

das alterações no regime hidrológico (TUNDISI, 2007); os efeitos sobre a fauna e flora,

os desmatamentos (FEARNSIDE, 2006; WINEMILLER et al., 2016), entre outros.

Estudos que abordam as externalidades dessas obras sobre setor agropecuário

focam, principalmente, nos efeitos pós-construção da barragem, havendo, ainda,

lacunas na divulgação acadêmica sobre como essas regiões são impactadas durante

o período de construção da obra, haja visto que esses projetos de larga escala são

construídos em intervalo de vários anos (por exemplo, foram 17 anos na Hidrelétrica

de Tucuruí e 8 anos em Belo Monte, se mantidos os cronogramas para essa

barragem).

Diante do exposto, e considerando que o projeto de Belo Monte mobilizou

recursos superiores a R$ 42 bilhões (BRASIL, 2019) e que órgãos de Estado

responsáveis por seu planejamento afirmavam que a instalação dessa obra tornaria

um vetor para “melhoria de qualidade de vida”, “oportunidade para crescimento

econômico” e o “desenvolvimento sustentável da região” (EPE/MME, 2011), o objetivo

deste capítulo é analisar como o setor agropecuário de Altamira participou do mercado

regional no período da construção de Belo Monte e quais mudanças foram induzidas

nos sistemas produtivos agropecuários por ocasião da implantação desse projeto.

2. Barragens hidrelétricas e impactos na agricultura

A literatura destinada aos estudos de barragens e seus efeitos sobre a

agricultura se concentra, principalmente, nos casos de barragens destinadas à

irrigação (ASHRAF; KAHLOWN; ASHFAQ, 2007; DUFLO; PANDE, 2007). Com base

nesses estudos, nota-se que as barragens comumente são benéficas para a

produtividade agrícola, pois as propriedades rurais ganham acesso à água de maneira

regular, sendo particularmente benéficas para as regiões áridas e semiáridas, onde a

falta de água é uma das principais restrições à produção agrícola e subsistência das

famílias rurais (BRO; MORAN; CALVI, 2018).

Hansel et al. (2014), analisaram os impactos de grandes barragens para

irrigação sobre produtividade agrícola nos Estados Unidos, e constataram que as

fazendas que usavam mais água em seus sistemas produtivos apresentaram maior

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produtividade e maior área dedicada aos cultivos agrícolas. Neste mesmo país,

Severnini (2014) constatou que os efeitos de transbordamento de reservatórios de

hidrelétricas beneficiaram o setor agrícola, aumentando a capacidade de distribuição

de água para irrigação e a produtividade. Taghi e Hamid (2015) também apontam que

as construções de barragens de terra no Irã foram eficientes para o aumento da

produtividade agrícola, produziram efeitos positivos como aumento nas taxas de

emprego e prosperidade econômica. As barragens também demostraram eficiência

no controle de vazão e reduções de danos provocados por inundações e dos efeitos

adversos da seca, podendo ser consideradas, neste caso estudado, uma estratégia

para o desenvolvimento rural sustentável.

Estudos na região do semiárido brasileiro, destacam que a construção da

hidrelétrica de Sobradinho, no rio São Francisco, contribuiu para expansão do polo de

fruticultura irrigada na região de Petrolina-PE e para sua integração aos mercados

nacional e internacional (RAMOS, 2005), com aumento da intensidade e de qualidade

de uso do solo (SOBEL; COSTA, 2004), a redução da pobreza da região, em função

do aumento da oferta de emprego, geração de renda e da promoção de crescimento

econômico (BERNARDO, 1997; BRAGA et al., 2012). Entretanto, esses resultados

estão relacionados à várias iniciativas políticas que possibilitaram altos investimentos

públicos e privados na região, em períodos que antecederam a chegada da barragem,

bem como durante e após sua construção. Relaciona-se também com a criação de

institucionalidades públicas destinadas à gestão dos recursos hídricos, ao fomento às

atividades produtivas e ao desenvolvimento rural. O Estado, portanto, tem atuação

central para o modelo de desenvolvimento implementado na região, na medida em

que garantiu, direta e indiretamente, o sucesso produtivo e comercial das fazendas

irrigadas (REIS; GUÉNEAU, 2017).

Duflo e Pande (2007, p. 639) estudaram os impactos de grandes barragens

de irrigação sobre produtividade agrícola na Índia, e constataram que as famílias

agricultoras que “viviam próximas da barragem não conseguiram desfrutar de

quaisquer ganhos de produtividade e sofreram com o aumento da volatilidade da

produção agrícola”, em função principal da degradação da terra. Em contraste, as

populações localizadas à jusante dos reservatórios obtiveram ganhos de

produtividade, uma vez que as externalidades ambientais negativas das barragens

foram menores nessas áreas. Para esses autores, a construção de grandes barragens

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de irrigação naquele país é uma política pública ineficiente, visto que a redução da

pobreza nas comunidades a jusante é pequena demais para compensar o aumento

da pobreza no entorno da barragem.

Em uma comparação de casos de barragens na África e Ásia, Tilt, Braun e He

(2009) verificaram que o principal efeito positivo sobre comunidades rurais foram

melhorias na infraestrutura, especialmente de estradas. Na região da barragem de

Manwan, na China, por exemplo, um processo de concentração de terras foi

desencadeado, houve perda de áreas destinas ao cultivo de arroz, bem como quedas

de produção e produtividade. Áreas destinada ao cultivo de arroz não irrigado caíram

da proporção de 6:4 para 4:6. Mudanças na hidrologia com a regulação da vazão

também provocou declínio na produtividade do arroz nos campos a jusante que antes

se beneficiavam dos solos fertilizados por sedimentos no período das cheias. Efeitos

semelhantes foram registrados por Martins et al. (2011) ao longo das barragens no rio

São Francisco, no semiárido brasileiro, cujos rígidos controles de vazão do rio

comprometeram o desenvolvimento da agricultura de várzea, antes dedicada

principalmente ao cultivo do arroz, importante à subsistência das famílias agricultoras

ribeirinhas. Nesses ecossistemas, os agricultores costumam cultivar uma mesma área

por vários anos, pois a absorção dos nutrientes do solo pelos cultivos e perda por

lixiviação é contrabalanceada pela fertilização natural promovida pelo movimento de

subida e descida do nível dos rios (ZARIN; DUCHESNE; HIRAOKA, 1998).

3. Procedimentos metodológicos

3.1. Área de estudo

A área de estudo em que foi aplicado o survey rural está localizada a oeste

da cidade de Altamira, entre os quilômetros 15 e 140 da rodovia Transamazônica,

compreendendo áreas dos municípios de Altamira, Brasil Novo, Medicilândia e

Uruará. Para além desta área que compreende a pesquisa empírica, dados

secundários mobilizados para este capítulo (tais como dados das pesquisas agrícola

e pecuária municipal, do IBGE, e dados do crédito rural, do Banco Central do Brasil)

compõem informações para todos os municípios da microrregião geográfica de

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Altamira, formadas por nove municípios, além dos citados anteriormente, integram

também Vitória do Xingu, Senador José Porfírio, Anapu e Pacajá. Para efeito deste

estudo, tomamos as expressões microrregião e região de Altamira como sinônimos.

3.2. Coleta de dados

Como citado no capítulo anterior, este estudo é parte integrante de uma

pesquisa de painel, que realiza acompanhamento de longo prazo de uma amostra fixa

de propriedades rurais. Os surveys rurais foram aplicados em 1997/98, 2005 e 2015.

A pesquisa mais recente foi aplicada entre os meses de janeiro e maio de 2015,

manteve parte significativa do escopo das pesquisas anteriores e incorporou a

investigação sobre os impactos socioeconômicos e ambientais provocados pela

construção da barragem de Belo Monte. Na pesquisa de 2015 foi realizada uma

reconstituição do desempenho produtivo ao nível dos domicílios rurais até o ano de

2010. Assim, para este capítulo, trabalharemos com dados primários para um intervalo

de 15 anos, representados pelos anos de 2005, 2010 e 2015.

Dois questionários foram utilizados no survey rural em 2015, aplicados aos

proprietários ou aqueles que administravam as propriedades. O primeiro versou sobre

estratégias produtivas e os aspectos econômicos do uso e cobertura da terra. O

segundo, sobre as características das unidades domésticas rurais e a composição

familiar. Ambos os questionários buscaram captar as percepções dos entrevistados

sobre as mudanças recentes na conjuntura socioeconômica e política da comunidade

e da região.

Uma amostra estratificada e aleatória de 402 propriedades foi definida para

conduzir entrevistas juntos aos domicílios rurais. Descrições pormenorizadas do

procedimento de definição da área de estudo e amostragem estão descritas no

capítulo anterior e em Brondízio et al. (2002), McCracken, Boucek e Moran (2002), e

Moran et al. (2000).

Para maior qualificação de dados de comercialização de produtos

agrícolas, importação de alimentos e a relação com a conjuntura de Belo Monte, foi

conduzida uma pesquisa complementar, com aplicação de um questionário

semiestruturado aos proprietários ou gerentes dos 20 supermercados da cidade de

Altamira (de um total de 26 identificados), entre março e abril de 2017. Também foram

realizadas entrevistas, individuais ou coletivas, em distintos momentos, com 15

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88

informantes-chave conhecedores das trajetórias produtivas e dinâmicas da economia

da região, como empresários, pesquisadores, gestores públicos, extensionistas rurais,

sindicalistas e dirigentes de ONGs.

3.3. Análise de dados

Estatísticas descritivas foram utilizadas para apresentar dados levantados

ao nível dos domicílios rurais (dados primários) e ao nível da região (dados

secundários). Quando aplicável, uma avaliação estatística foi conduzida para

comparar as mudanças na produção das principais atividades agropecuária,

levantadas nas pesquisas de campo de 2005 e 2015. Por se tratar de dados não

normais, adotou-se a estatística não paramétrica Teste U de Mann-Whitney, com

intervalo de confiança de 95%.

Para compreensão das condições econômicas das unidades domésticas

rurais foi conduzida uma avaliação da diversidade de renda agropecuária,

identificando o quão diverso ou especializado são os sistemas agropecuários na

região de Altamira. Para essa avaliação, foram analisados os dados primários da

produção agropecuária, coletados no levantamento de campo de 2015. Utilizou-se

como parâmetro o índice de diversidade de renda proposto por Guanziroli et al. (2001),

estabelecido a partir da relação entre a composição da renda do produto principal

comercializado e o Valor Bruto da Produção-VBP agropecuária anual. Ou seja, caso

a família agricultora desenvolva comercialmente apenas uma atividade agropecuária,

o valor do índice será igual a 1 (um) e, à medida que aumenta a diversidade da renda

o valor tende a se aproximar de 0 (zero).

Diversidade

de renda = Valor da produção

do produto principal / VBP (1)

A partir da distribuição dos dados, quatro categorias foram criadas:

Muito especializado =

Especializado =

Diversificado =

Muito diversificado =

1

0,65 a ≤ 1

0,35 a ≤ 0,65

< 0,35

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Foram excluídos da análise os estabelecimentos sem produção

agropecuária comercializada em 2014/2015 (9%) ou com dados incompletos (3%),

devido a desconhecimento por parte dos entrevistados (survey 2015).

4. Resultados e Discussão

4.1. Efeitos sobre a economia agropastoril

4.1.1. Declínio de cultivos alimentares

Dados oficiais da Pesquisa Agrícola Municipal/IBGE apontam que entre

2005 e 2015 as lavouras temporárias perderam aproximadamente 66% da área de

cultivo (37 mil ha) em todos os municípios que compõem a região de Altamira (IBGE,

2019). Os dados primários (surveys 2005 e 2015), para esse mesmo período,

apontam quedas tanto na proporção das propriedades como na mediana de áreas

cultivadas com essas lavouras, de dois para um hectare. Entre as lavouras de

menor participação na agricultura regional estão o arroz e o feijão, presente em

apenas 4,8% e 5,1% das propriedades em 2015 (tabela 1). Para o período entre

2010 e 2015 (survey 2015), que marca o ciclo da intensa migração de pessoas em

função da construção da barragem de Belo Monte, constatamos uma taxa média de

60% de abandono das lavouras temporárias nas propriedades que se dedicavam

às essas atividades.

Verificamos que 10,5% das unidades domésticas rurais realizaram algum

investimento no cultivo da mandioca nos anos de 2010, 2011 e, em menor

proporção, 2012, com finalidade principal de produção de farinha, uma provável

resposta ao crescimento da demanda influenciada pela chegada de Belo Monte.

Entretanto, durante o início do boom demográfico, a região já convivia com uma

importante retração na produção de farinha, resultado do declínio da safra de

mandioca ocorrido a partir de 2008, quando foi instaurada uma grande ação de

fiscalização ambiental denominada Operação Arco de Fogo13 (CALVI et al., 2010),

13 A “Operação Arco de Fogo” foi instaurada em 2008 para combater os desmatamentos, queimadas e a exploração

ilegal de madeira em dezenas de municípios da Amazônia, localizados na zona conhecida como “Arco dos

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que entre outras coisas, atuava no combate aos desmatamentos e queimadas na

Amazônia. Como a safra da mandioca voltada à produção de farinha ocorre entre

12 e 18 meses, o tempo de resposta e retomada da produção local foi tardia. Para

suprir a demanda crescente, o comércio passou a importar farinha de outras regiões

do Pará (Nordeste e Baixo Amazonas) e dos estados do Maranhão e Piauí. Isso

resultou um novo declínio na comercialização da farinha regional e das lavouras de

mandioca, cuja produção ainda em campo, passou a ser destinada ao consumo

familiar e, principalmente, como ração animal nas propriedades, ou foram

abandonadas e/ou convertidas em cultivos de cacau ou pastagens para o gado.

Tabela 1. Lavouras temporárias nas propriedades rurais estudadas em 2005 e 2015

e taxa de abandono das lavouras entre 2010-2015.

Survey

Atividade a

2005 (n=374) 2015 (n=336)

p-valor (lavouras)

Taxa abandono 2010/15 b

(%)

Propriedades %

Lavouras (Mediana - ha)

Propriedades %

Lavouras (Mediana-ha)

Lavouras anuais (ha) 33,3 2,8 23,2 ↓ 2 ↓ 0,007** 60%

- Arroz 13,7 2 4,8 ↓ 1 ↓ 0,003** 63%

- Feijão 11,0 2 5,1 ↓ 1 ↓ 0,002** 67%

- Milho 14,4 2 12,5 ↓ 1 ↓ 0,031* 65%

- Mandioca 13,0 1 11,9 ↓ 1→ 0,373 41%

o Farinha de mandioca (sacos)

6,6 15 2,6 ↓ 10 ↓ 0,691 80%

Nota: a Dados referente à safra do ano anterior à pesquisa: 2004 ou 2014; b Calculado com base no total de propriedades que a atividade agrícola havia sido registrada no período avaliado, cuja opção pelo abandono havia sido manifestada pelo entrevistado (exclui-se desse cálculo as lavouras agrícolas cujo o cultivo tenha sido suspenso temporariamente como estratégia produtiva); * e ** representam significâncias estatísticas aos níveis 0,05 e 0,01 pelo Teste U de Mann-Whitney. Fonte: Pesquisas de campo (2005 e 2015).

4.1.2. Especialização produtiva pautada por comodities: cacau e gado

Trajetórias de especialização produtiva das atividades rurais na região de

Altamira são representadas, atualmente, pela expansão da cacauicultura e da

pecuária bovina extensiva (CALVI, 2009; CALVI; AUGUSTO; ARAÚJO, 2010;

ROCHA, 2013). Nossos dados de campo, na tabela 2, mostram que a cacauicultura

avançou de 42,8% para 74,2% das propriedades rurais entre 2005 e 2015, com a

Desmatamentos”. Foi coordenada pela Polícia Federal, com o apoio do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e

dos Recursos Naturais Renováveis, além da colaboração da Polícia Rodoviária Federal, do Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária e do Exército Brasileiro. Empresas madeireiras foram embargadas e/ou multadas.

Empresários, fazendeiros e pequenos proprietários de terra foram multados ou mesmo presos nesta operação.

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agricultura familiar exercendo uma contribuição importante na expansão desta

atividade (de 38,5% para 60%). De modo geral, houve aumento significativo das

medianas das áreas de lavouras no período avaliado, de 5 ha para 10,1 ha

(p=0,000), sendo estes dados semelhantes aos registrados para a agricultura

familiar, enquanto na agricultura patronal apresentou aumento de 3,5 ha para 14 ha

(p=0,002). Diferentemente dos cultivos temporários que apresentaram retração

média de quase 60% entre 2010-2015, constatamos que 42% das unidades

domésticas realizaram investimentos importantes em suas lavouras de cacau,

nesse período, seja ampliando suas lavouras ou adotando o cultivo do cacau como

uma nova atividade econômica.

Quanto à pecuária bovina, em 2005 esta atividade estava presente em

46,9% dos estabelecimentos rurais, e em 2015 avançou para 70,1%. Aumentos

significativos nas medianas do rebanho foram identificados para a agricultura

familiar, de 45 para 80 cabeças (p=0,000), e para agricultura patronal, de 280 para

390 cabeças (p=0,028). Verificamos que cerca de 45% das unidades domésticas

amostradas conseguiram efetuar investimentos importantes em seus rebanhos

entre os anos de 2010 a 2015, o que resultou crescimentos superiores a 15% no

número de animais do plantel. Ainda com base nos dados dos surveys aplicados

em 2005 e 2015, é possível inferir que houve redução na proporção das

propriedades com gado bovino de aptidão leiteira, de 33,5% para 12,2%. Por outro

lado, verifica-se um aumento da ordem de 100% da produção leiteira e de 609% na

fabricação artesanal de queijos, o que pode ser um indicativo de que as

propriedades que mantiveram tais atividades tenham realizado maiores

investimentos no manejo e/ou na melhoria genética de seus rebanhos (tabela 2).

Tabela 2. Lavouras de cacau e a pecuária bovina nas propriedades rurais estudadas

2005 e 2015. Survey

Atividade

2005 (n=374) 2015 (n=336)

p-valor (lavouras)

Propriedades %

Mediana

Propriedades %

Mediana

Cacau (ha) 42,8 5 74,2 ↑ 10,1 ↑ 0,000**

Bovinos (cabeças) 46,9 50 70,1 ↑ 104 ↑ 0,000**

Leite (L/mês) 33,5 1.825 12,2 ↓ 3.650 ↑ 0,026*

Queijo (kg/mês) 13,9 132 3,8 ↓ 936 ↑ 0,035*

Nota: * e ** representam significância estatística aos níveis 0,05 e 0,01, respectivamente, pelo Teste U de Mann-Whitney.

Fonte: Pesquisa de campo (2005 e 2015).

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4.1.3. Diversidade das rendas agropecuárias

O grau de diversidade de renda dos estabelecimentos rurais estudados

na região de Altamira, identificada a partir da relação entre a composição da renda

dos produtos comercializados e o Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária

anual, revelou que 83% dos estabelecimentos rurais apresentam sistemas

produtivos especializados, distribuídos da seguinte forma: 39% “muito

especializado”, 44% “especializado”, 15% “diversificado” e 2% “muito diversificado”.

Independente se as propriedades rurais possuam várias atividades agropecuárias,

estes dados revelam a predominância de propriedades cuja composição da renda

agropecuária depende de apenas um ou dois produtos.

Os dados revelam ainda que os sistemas produtivos especializados

apresentam semelhantes proporções tanto para os estabelecimentos da agricultura

familiar como da agricultura patronal, com 82,8% e 88%, respectivamente.

Entretanto, a tabela 3 ilustra comportamentos inversamente proporcionais das

medianas de VBP para estes tipos de estabelecimentos. Observou-se que para a

agricultura familiar, as medianas de VBP aumentam quanto maior o grau de

diversificação, enquanto na agricultura patronal aumenta quanto maior o grau de

especialização. Contudo, diferenças estatisticamente significativas, pelo Teste U de

Mann-Whitney, foram constatadas somente entre os extremos graus de

diversificação em cada tipo de estabelecimento (p-valores <0,01), e na avaliação

global entre os tipos familiar e patronal (p-valor= 0,011).

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Tabela 3. Grau de Diversidade de Renda da produção agropecuária por

estabelecimentos rurais, VBP total e por estabelecimento rural da região de

Altamira, 2015.

Grau de diversidade de

renda

Estabelecimentos VBP Mediana VBP p-valor

n a % R$ milhões % R$

Fam

ilia

r

Muito especializado 108 41,4 4,98 25,8 16.480**

Especializado 108 41,4 11,83 61,4 40.540

Diversificado 40 15,2 2,21 11,5 46.050

Muito diversificado 5 2,0 0,25 1,3 49.812** 0,000

Total 261 100,0 19,27 100,0 30.000*

Patr

on

al

Muito especializado 7 22,0 2,08 33,0 213.000**

Especializado 21 65,0 4,12 65,3 102.000

Diversificado 4 13,0 0,11 1,7 28.836** 0,002

Muito diversificado 0 - - - -

Total 32 100,0 6,31 100,0 84.550* 0,011

Total geral 293 100,0 25,58 100,0 37.300

Nota: a Foram excluídos da análise os estabelecimentos sem produção agropecuária comercializada em 2014/2015 (9%) ou com dados incompletos (3%), devido a desconhecimento por parte dos entrevistados. * e ** apresentam significância estatística aos níveis 0,05 e 0,01, respectivamente, pelo Teste U de Mann-Whitney. Fonte: Pesquisa de campo.

A distribuição percentual dos estabelecimentos, por grau de

diversificação de rendas produtivas e faixas VBP/ano, é ilustrada na figura 1.

Verifica-se que classes de especialização produtiva também se destacam em todas

as faixas de agregados de VBP. Chama atenção o fato de predominar, na faixa mais

baixa de renda (até R$20 mil/ano), os estabelecimentos classificados como “muito

especializado” (57%), enquanto nos grupos de maiores rendas essa classe

representou 30%, em média. Estes dados para a região de Altamira diferem

daqueles identificados por Sambuichi et al. (2014), que apontam que, na região

Norte do Brasil, estabelecimentos rurais com rendas diversificadas predominam

entre as menores faixas de VBP/ano. A semelhança apontada entre estes dois

estudos é que o grau de diversidade é menor quanto maior a faixa de renda das

unidades domésticas estudadas.

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Figura 1. Distribuição percentual dos estabelecimentos rurais por grau de

diversidade de renda* agropecuária, da região de Altamira, 2015. Nota: * Relação entre a renda dos produtos comercializados e o VBP agropecuária anual.

Fonte: Pesquisa de campo.

A pesquisa aponta que a especialização produtiva já abrange 83%

propriedades rurais da região de Altamira, sendo que 39% já atingiram o mais alto

grau de especialização, ou seja, em seus portifólios produtivos dispõem de apenas

um produto comercializável e, portanto, responsável por 100% da renda

agropecuária. O gado e o cacau prevalecem na relação dos principais produtos

comercializados em todos os grupos e faixas de VBP, e aparecem em patamares

superiores a 41% cada. Estas atividades, juntas, representam 88,4% dos principais

produtos observados na pesquisa.

No caso da agricultura familiar, a tabela 3 mostrou que 41,4% destes

estabelecimentos encontravam-se no grau “muito especializado”. Esta situação é

particularmente importante se consideramos que uma vasta literatura aponta a

relevância social e econômica desta categoria, por exemplo, responsável pela maior

parte da produção de vários alimentos que compõe a dieta dos brasileiros - tais

como feijões, tubérculos, verduras e legumes etc. - e maior geradora de emprego e

renda no campo, e que tem na diversificação produtiva não apenas uma estratégia

de reprodução, mas também a de inserção ao mercado (BOWMAN; ZILBERMAN,

2013; CAUME, 1996; GAZOLLA; SCHNEIDER, 2013; GUANZIROLI; BUAINAIN;

SABBATO, 2013; KAGEYAMA; BERGAMASCO; OLIVEIRA, 2013; SAMBUICHI et

al., 2014),.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

≤20 mil >20-80 mil >80-200 mil >200 mil

R$ 1,00/ano

Muito especializado Especializado Diversificado Muito diversificado

n=37% n=36% n=18% n=9%

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Entretanto, a importância econômica que essas trajetórias de

especialização, pautada pelo gado e o cacau, atribuíram à região de Altamira não

é tão recente, como ilustra a figura 2. Comparado a distribuição percentual dos

valores totais (R$) dos produtos agropecuários comercializados, nossos surveys

apontam que no ano agrícola de 2004 o gado e o cacau já representavam 85% do

valor total da produção nas propriedades estudadas, e atingiu o patamar de 92%

em 2014. Se adicionarmos a este período mais recente a produção de leite e queijos

artesanais, como produtos da pecuária bovina, estas atividades passam a

representaram 98% de toda produção agropecuária comercializada em 2014.

Figura 2. Distribuição percentual de valores totais da produção agropecuária

comercializada pelos estabelecimentos estudados. Fonte: Pesquisa de campo 2005 e 2015.

Embora estes dados não retratem a parcela da produção destinada ao

consumo doméstico dos agregados familiares rurais, eles são relevantes para a

compreensão do contexto aqui analisado, pois demonstram que foi baixo o

percentual (2%) de todos os demais produtos da agropecuária comercializados,

incluindo aí os alimentos básicos. Logo, na escala regional, é importante também

considerar o contexto e a temporalidade dos dados aqui apresentados, por se tratar

43 42

5 30 1 0 1

56

36

03

0

10

20

30

40

50

60

Bo

vin

os

Cac

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Qu

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tual

2005

2015

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96

do período áureo da construção da hidrelétrica de Belo Monte, quando um boom

demográfico decorreu sobre a região.

4.2. Bases da consolidação do sistema cacau gado

Até a década de 1980 os cultivos temporários ainda apresentavam

importante participação no volume da produção agrícola comercializada

(SABLAYROLLES; ROCHA, 2003; WALKER et al., 1997a) e passa a perder espaço

em função da combinação de diversos fatores internos e externos à região. Destacam-

se as perdas significativas de áreas de florestas primárias, pela intensificação do uso

do corte e queima de vegetação, como técnica de manejo e preparo de área para

plantio, bem como pelo processo de pecuarização, com expansão das pastagens

sobre áreas de florestas primárias e secundárias, especialmente nas pequenas e

médias propriedades, onde mais se produziam as lavouras temporárias (BRONDÍZIO

et al., 2002; MCCRACKEN; BOUCEK; MORAN, 2002; VEIGA; POCCARD-CHAPUIS;

TOURRAND, 2003). Isso é significativamente importante para o caso das lavouras de

arroz, já que produtores manifestavam preferência de plantio em áreas de floresta

primária, alegando produtividades superiores que as áreas de vegetação secundária

(SILVA; OLIVEIRA; SANTANA, 2018). Baixas produtividades agrícolas eram

comumente constatadas devido a conhecimentos técnicos limitados, uso de

variedades pouco produtivas ou suscetíveis à problemas fitossanitários

(SABLAYROLLES; ROCHA, 2003; WALKER et al., 1997b), e pelo emprego de

técnicas tradicionais de trabalho predominantemente manuais, resultando sistemas

produtivos de alta dependência de mão de obra, cada vez mais escassa e cara nas

áreas rurais (CALVI, 2009; OLIVEIRA et al., 2016; SIMÕES; SCHIMITZ, 2002). A

baixa qualidade de trafegabilidade das estradas rurais e rodovia também aparece

como um importante elemento estrangulador, pois as safras dependiam de rápido

transporte para as áreas urbanas, já que poucas propriedades dispunham de

estruturas adequadas de armazenamento. No aspecto político-institucional, as

mudanças no marco ambiental e o aumento das ações de fiscalização e combate aos

desmatamentos e o uso do fogo foram identificados como elementos que inibiram

muitas famílias de implantarem suas roças, por temerem alguma autuação em casos

de novos desmates (ROCHA; ALMEIDA, 2013). Registra-se também a redução no

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atendimento dos serviços públicos de assistência técnica e fomento agrícola, com

linhas créditos orientadas cada vez mais para outras atividades agropecuárias,

especialmente ao cultivo do cacau e à pecuária bovina (SABLAYROLLES; ROCHA,

2003; SOUZA, 2006).

Esse conjunto de elementos, e outros, atribuíram às lavouras temporárias

da região de Altamira um alto custo de produção e tornaram os produtos pouco

competitivos no mercado, sendo comum constatações de agricultores que

encontravam dificuldade para vender seus produtos. Em função disso,

estabelecimentos rurais que dedicavam maior força de trabalho e recursos aos

cultivos temporários, especialmente ao arroz, tendiam a descrever trajetórias de

subsistência (HÉBETTE, 2004; REYNAL et al., 1995; ROCHA, 2013).

A década de 1990 foi o marco para as mudanças de trajetórias

econômicas, que conduziu o setor agropecuário, especialmente na agricultura

familiar, à especialização produtiva através da cacauicultura e pecuária bovina

(CALVI, 2009; TONI, 2003; TOURRAND; VEIGA, 2003; VENTURIERI, 2003). A

partir de então, estas atividades se consolidam e passam a dominar não somente

os tipos de uso da terra e a paisagem rural, mas principalmente a economia da

região. Policy-makers entrevistados argumentaram que o setor agropecuário atingiu

maior grau de desenvolvimento quando descobriu essa “vocação agrícola” e passou

a investir nessas atividades.

Aspectos relacionados ao ambiente natural da região reforça a noção da

“vocação agrícola”. Por exemplo, as grandes áreas com vegetação primária ou

antropizadas que a região dispunha e poderiam ser convertidas em lavoura ou

pastagem. Também possui importantes faixas de Nitossolos e Latossolos-Vermelho

de alta aptidão agrícola, de relevo pouco acidentado e localizados próximos à

rodovia Transamazônica. O clima quente e úmido e as precipitações pluviométricas

são bem distribuídas por vários meses14 do ano (INMET, 2019). Por isso, as

características edafoclimáticas são apontadas como altamente propícias ao

desenvolvimento dessas atividades econômicas (BARBOSA; SCERNE, 2013;

14 Dados do Instituto Nacional de Meteorologia apontam que entre 1990 e 2018, a precipitação média mensal foi de 180 mm. Para o período das chuvas (dezembro-junho) foi registrado média mensal de 266 mm, sendo março o mês de maior precipitação, 400 mm. Enquanto para o período de estiagem (julho-novembro) a precipitação média é de 53 mm, sendo agosto o mês de menor precipitação, 30 mm (INMET, 2019).

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CALVI; AUGUSTO; ARAÚJO, 2010; VEIGA; POCCARD-CHAPUIS; TOURRAND,

2003).

Para a pecuária bovina, essas características contribuem para maior

produção de forragem das pastagens e reduz os custos de produção, pois favorece

a manutenção de um sistema de criação a pasto, que torna o produto competitivo

no mercado de carnes. Por exemplo, em outras regiões de importância na produção

bovina no próprio estado Pará (Sul e Sudeste), que possuiu menores taxas de

precipitações pluviométricas, é crescente o número de fazendas que recorrem à

adição de suplemento proteico ao rebanho para assegurar manutenção ou ganho

de peso animal no período de estiagem15. Já para a lavoura cacaueira, essas

condições de solo e clima contribuem para maior produtividade e desenvolvimento

da lavoura. Em Medicilândia, por exemplo, a produtividade média em 2015 foi de

1,14t/ha, enquanto a média nacional foi de 0,4t/ha (IBGE, 2019). Mesmo com a

característica de baixa utilização de insumos, tornou-se uma cultura competitiva no

mercado. Por essas características, a região de Altamira aparece como principal

zona de expansão da cacauicultura brasileira desde início dos anos 2000 (CALVI;

AUGUSTO; ARAÚJO, 2010), sendo Medicilândia, atualmente, o município maior

produtor de cacau do Brasil.

Desde sua introdução na região no final da década de 1970, o cacau está

entre os cultivos agrícolas mais comtemplados com fomento de assistência técnica,

insumos e financiamentos bancários. Já a pecuária bovina se tornou a atividade que

mais mobiliza recursos através do crédito rural. Na década de 1990, linhas de

créditos especiais foram criadas no âmbito do Fundo Constitucional de

Financiamentos do Norte (FNO) para financiar agricultura familiar, sendo a pecuária

o investimento principal. Neste mesmo período, fazendas de gado acessavam altos

financiamentos via SUDAM. Nos anos 2000 o volume de recursos para o crédito

agrícola foi ampliado através do PRONAF, que estabeleceu diversas faixas e linhas

de financiamento e permitiu que agricultores familiares acessem valores mais altos.

Embora a orientação dessa política era priorizar investimentos para produção de

alimentos, foi o cacau e gado que absorveram a maior parte desses recursos. No

caso do Município de Uruará, por exemplo, Santos (2012) constatou que o crédito

15 Com base em entrevista com gerência regional de negócios (Nordeste/Sudeste do PA) da DSM/Tortuga, uma das maiores empresas de atuação no Pará, no ramo de suplemento mineral para pecuária (03/2019).

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agrícola do Pronaf operacionalizado pelo Banco da Amazônia, entre os anos de

2005 e 2010, foram 100% destinados à cacauicultura e a pecuária bovina.

Conforme a figura 3, entre os anos de 2000 a 2016, uma média de 2800

contratos de crédito rural foram aplicados, anualmente, na região de Altamira.

Enquanto na década de 2000 o montante de recursos aplicados se manteve estável,

com contratos médios de R$ 11,4 mil reais, a partir de 2011, no período da

construção da barragem de Belo Monte, houve um aumento significativo tanto do

montante de recursos investidos como do valor médio contratado, atingindo R$ 53,5

mil, aplicados principalmente na pecuária. Portanto, o crédito rural aparece com um

dos principais drivers para desenvolvimento e expansão da cacauicultura e a

pecuária bovina na região.

Figura 3. Números de contratos e valores totais de crédito rural aplicado na região

de Altamira (2000 a 2016). Nota: Valores foram deflacionados pelo IPC-A (IBGE).

Fonte: Banco Central do Brasil.

Embora estes elementos acima descritos sejam importantes para a

consolidação destas atividades, para os agricultores, o principal aspecto para

adoção do cacau e/ou gado como atividade econômica está relacionado às

condições de facilidade e segurança na comercialização, como demostram as falas

a seguir:

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

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Pecuária Agricultura Nº Contratos

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“Eu vim do sul [do Brasil]. Lá eu trabalhava com café e madeira.

Quando cheguei aqui me animei todo porque minha terra é muito boa

(...). Plantei de tudo aqui; plantei muito café, mais tarde plantei pimenta

[-do-reino] e outras coisas. Eu quebrei cabeça com tudo isso. Já

aconteceu d’eu pagar um frete pra levar pimenta ou café pra

Medicilândia e chegar lá os atravessadores não querer comprar ou

pagavam um preço tão miserável que mal pagava o frete (...). Quebrei

cabeça por muitos anos até que eu resolvi meter fogo nesses ‘trem’

tudo e plantar cacau (...). Com cacau é assim: o preço pode tá ruim,

mas se você levar 10 kg você vende; se levar 1000, vende melhor

ainda, e se levar 100 toneladas vende também (...). Com cacau

ninguém corre atrás dos compradores, eles que corre atrás da gente”

(D.V., agricultor, Medicilândia - janeiro de 2015).

“Minha terra aqui é amarela mista (...). Faz mais de 20 anos que eu

não boto mais roça [lavouras anuais]. Eu já fiz roça pra mais de 200

sacos de arroz (...). Já tive mais de 15 mil pés de pimenta; já plantei

guaraná; urucum e até seringueira (...). Nós nunca passamos fome,

mais não tinha como ‘ir pra frente’ (...). Por isso que resolvi mexer com

gado. Hoje tenho muito pasto e não tenho mais por que minha terra é

pequena [250 ha]. Mas é muito melhor (...). Se o preço tá bom eu

vendo, se tá ruim eu espero e vendo mais pra frente. E quando tá bom

eu só ligo pro atravessador e ele e já bota o dinheiro na conta (...)

Melhorou demais pra nós” (F.B., agricultor, Altamira - abril de 2015).

A segurança na comercialização também é identificada em outros estudos

como um elemento fundamental para consolidação da lavoura cacaueira e a pecuária

bovina na região (CALVI, 2009; HERRERA, 2012; ROCHA, 2013; SILVA; MENDES,

2005; TONI, 2003; TOURRAND; VEIGA, 2003).

4.3. Economia aquecida, mas pouco integrada

Como destacado anteriormente, o discurso pró-Belo Monte enfatizava

que este projeto iria induzir mudanças na qualidade de vida da população local,

promovendo um ciclo virtuoso de dinamização das atividades produtivas e

crescimento econômico, incluindo o setor agropecuário (OLIVEIRA et al., 2016). O

aumento da demanda por alimentos decorrente do boom demográfico gerado pela

obra era apontado como uma via para induzir tais mudanças no campo. Entretanto,

no momento em que Belo Monte começa a ser implantada, o setor agropecuário já

era estável e consolidado e a região considerada produtiva para a carne bovina e o

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cacau (MORAN, 2016). A figura 3 ilustrou que no intervalo de 10 anos entre a

aplicação dos surveys, os sistemas agropecuários seguiram a mesma trajetória de

especialização, porém acentuando ainda mais este processo no período mais recente,

destacadamente via pecuária bovina.

Os dados ilustram que no período áureo da construção da barragem e do

boom demográfico não houve qualquer ampliação dos cultivos de lavouras

alimentícias. Muito pelo contrário, constatou-se que 60% das famílias agricultoras que

se dedicavam a estes cultivos os abandonaram entre os anos iniciais da construção

da barragem, até 2014. Para 98% deste grupo é financeiramente mais vantajoso

comprar os alimentos no comércio que produzi-los, sendo a elevação dos custos de

produção, especialmente da mão de obra, o fator principal limitante. Por exemplo, com

base nos dados dos surveys de 2005 e 2015 verificamos que, em valores médios

para a região, em 2004 o preço de uma saca de arroz em casca era R$ 37,00,

enquanto o valor da diária de trabalho rural custava R$ 16,00. Em 2014, o valor da

saca de arroz era R$ 50,00 e a diária, R$ 58,00, logo, superior ao preço do produto.

Na pesquisa feita junto aos proprietários ou gerentes dos 20 maiores

supermercados de Altamira, verificamos que a carne bovina foi o principal produto

da regional comercializado. Um elemento importante é que 100% da carne bovina

vendida nestes estabelecimentos era da região e mais nenhum outro produto

apresentou desempenho semelhante. Considerando que durante o boom

demográfico a população urbana de Altamira quase dobrou, próximo a 150 mil

pessoas, de acordo com estimativas da prefeitura municipal (MIRANDA NETO;

HERRERA, 2016), o consequente aumento no consumo de carne não significa,

necessariamente, melhores condições ou desempenho econômico para os

produtores de gado, haja vista que com ou sem Belo Monte o comércio do gado e

os preços pagos aos produtores continuariam sendo formados com base em

cotação na bolsa de valores, uma comum característica das commodities. Sobre

isso, um dos agricultores de nossa amostra, que também desempenham a função

de agente intermediário (atravessador) no comércio de gado, ressaltou:

“Altamira está consumindo muito. E eu acredito que está sendo bom

para outros produtos, mas para o comércio de gado pouco importa.

Aliás, mandar boi pra outros estados ou pro Líbano ou garrotes pro

sul do Pará é mais vantajoso. A única diferença é que quando vai

mandar boi pra fora, quanto mais gordo melhor. Aqui em Altamira

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não tem essa exigência. Tão matando qualquer coisa, vaca velha,

boi magro” (J.S. agricultor e atravessador, Brasil Novo - maio de

2015).

Logo, nessa perspectiva, o comércio de gado para consumo local facilitou

apenas o descarte de reses de baixa qualidade de carcaça.

Entre os demais produtos regionais mais frequentemente encontrado nos

supermercados estão a farinha de mandioca, polpas de frutas, verduras folhosas,

produtos lácteos e carne suína (ver relação completa na Tabela 4, no Apêndice). A

farinha de mandioca foi apontada como um produto de grande preferência entre os

residentes originários da região (BRO; MORAN; CALVI, 2018). Porém, como no

período do boom demográfico milhares de pessoas de diferentes regiões do Brasil

se instalaram em Altamira (MIRANDA NETO, 2015), os supermercados passaram

a importar esse produto de diferentes regiões seja para atender as preferências dos

novos consumidores, ou para obter um produto mais barato e regular estoque.

Farinha regional era encontrada em 75% dos estabelecimentos, enquanto a externa

em 100%. Em 65% dos casos foram reportadas alguma dificuldade com

fornecedores da farinha regional, em razão da sazonalidade e preços elevados.

De acordo com os entrevistados, as verduras locais, especialmente

folhosas, eram produtos bastante comercializados, pois apresentavam frescor e boa

aceitação entre os consumidores. As verduras eram produzidas

predominantemente em áreas urbanas e periurbanas, em pequenas hortas

estabelecidas em lotes arrendados ou cedidos. De acordo com a Secretaria

Municipal de Agricultura de Altamira, estimava-se que em 2015 havia cerca de 150

pequenas hortas instaladas na cidade de Altamira, que produziam para o comércio

local ou comercializavam diretamente aos consumidores. Grande parte, eram

hortas familiares, conduzidas por duas ou três pessoas, cuja maioria destes havia

sido empregada temporariamente da companhia construtora da barragem ou

empresas subsidiárias e posteriormente demitidas. Predominavam trabalhadores

em situação de subsistência e, devida a especulação mobiliária, frequentemente

obrigados a deslocar e instalar novas hortas. Embora as verduras folhosas locais

estivessem presentes em 100% dos estabelecimentos comerciais, chama atenção

ao fato de que 65% destes importavam folhosas de outras regiões do Brasil, como

os estados da Bahia, Goiás e São Paulo. As demais verduras e legumes eram quase

que exclusivas desses estados. Mesmo nas feiras do produtor rural de Altamira,

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grande parte dos feirantes comercializavam verduras e legumes de outros estados

brasileiros.

Quanto ao aspecto organizacional, 100% dos estabelecimentos

comerciais relataram dificuldades em comercializar produtos regionais. Aspetos

relacionado à baixa escala de produção e sazonalidade, falta de padronização,

adequação e regularização sanitária, especialmente para produtos de origem

animal, e falta de documentação fiscal foram os principais problemas reportados.

Sobre esse assunto, assim abordou um dono de supermercado:

“As condições de comercialização dos produtos [alimentícios] da

região é uma vergonha. Eu tenho supermercado há 19 anos e

continua tudo quase a mesma coisa antes. Desde quando que eu

me mudei para Altamira a gente houve falar que Belo Monte ia sair,

e não foi feito nada de consistente para apoiar a produção local. (...)

Se tirar o cacau e o gado, o resto que produz é pouco e

desorganizado. Pra ter uma ideia, em pleno 2017, nota fiscal de

produto da roça é coisa rara aqui na região. Muitos [produtores]

ainda nem sabe o que é isso. (...) Falta muito interesse político, falta

compromisso” (A.E. empresário e fazendeiro, Altamira - março de

2017).

“A falta de organização é o principal motivo dos supermercados

venderem cada vez mais produtos de fora. É incrível como as

pessoas sabiam que essa obra (Belo Monte) ia chegar e não

‘preparou o terreno’ para ganhar dinheiro com Belo Monte. (...)

Alguns de nossos fornecedores só estão conseguindo regularizar

seus produtos agora em 2017 (referente às certificações municipais

e/ou estadual para produtos de origem animal). Mas o problema é

que 40% do movimento já caiu, muita gente já foi embora, várias

empresas também. Então, as pessoas perderam o time da coisa”

(D.P. empresário, Altamira - março de 2017).

As falas acima trazem similaridades do que foi constatado na maioria das

entrevistas com empresários, informantes-chave e alguns agricultores. Tratam da

indignação perante a falta de compromisso por parte do Estado em planejar e

desenvolver ações antecipatórias que preparassem a região para receber um

empreendimento do porte de Belo Monte, e que possibilitasse a produção de um

desenvolvimento, de fato, vinculado à região.

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5. Considerações finais

Os dados e argumentos apresentados nesse capítulo, e no anterior,

mostram como as externalidades derivadas da instalação da hidrelétrica de Belo

Monte afetaram o setor agropecuário da região. A intensificação do êxodo rural,

principalmente de trabalhadores para as áreas urbanas de Altamira ou canteiros de

obras da barragem, produziu um aumento dos custos de produção no campo,

impactando principalmente os estabelecimentos rurais e suas atividades de maior

dependência de força de trabalho. Neste caso, destacam-se como principais

impactadas as unidades domésticas rurais de menor capacidade financeira e

aquelas que até então se dedicavam aos cultivos de lavouras temporárias, cuja taxa

média de abandono dessas atividades atingiu 60%.

Trajetórias de especialização produtivas pautadas pelo cacau e gado

foram intensificadas, tendo a pecuária bovina ganhado ainda mais espaço. Dentre

os principais fatores recentes que contribuíram para este cenário estão: i) o crédito

rural, com aumentos significativos dos investimentos destinados à pecuária; ii) a

trajetória de valorização dos preços internacionais do boi e do cacau; e iii) a

escassez de trabalhadores no campo, induzindo agricultores a manter ou investir

em atividades que demandam menos mão de obra (gado) ou que assegure melhor

retorno líquido (cacau).

A queda na produção de alimentos e o aumento do consumo provocado

pelo boom demográfico fez o mercado local se abrir ainda mais para importação de

alimentos de outras regiões do Brasil, inclusive com várias companhias distribuidoras

de alimentos se instalando em Altamira. No entanto, considerando o contexto de

elevação dos custos de produção, o aumento da importação de alimentos não pode

ser avaliado como negativo, pois tornou financeiramente mais vantajoso às famílias

agricultoras adquirir alimentos na cidade, mesmo com o “custo Belo Monte”.

Embora Belo Monte tenha sido um projeto planejado por décadas, o

Estado falhou ao não desenvolver ações antecipatórias para evitar ou mitigar os

impactos sobre a região de Altamira, limitando-se principalmente à área delimitada

como “diretamente atingida”. A falta de políticas antecipatórias, articuladas e

integradas ao contexto amazônico, não só deixou a sociedade local mais suscetível

às externalidades negativas, como limitou a possibilidade de participarem da

economia dinamizada pelo empreendimento.

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Nossos dados, portanto, permitem refutar o argumento de que este

projeto iria induzir mudanças significativas na economia rural e beneficiar o setor

agropecuário, através do aumento da produção e comercialização de alimentos

para atender a demanda solvável instituída pela barragem e seu boom demográfico.

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111

Apêndice

Tabela 4. Origem dos produtos alimentícios (regional/externo) vendidos nos

estabelecimentos comerciais estudados em Altamira-PA, entre 2015 e 2017.

Produto

Frequência (%) da origem do produto (n=20)* Estados de origem dos

produtos externos ** Regional Externo

Carnes

Bovina 100 0

Suína 85 85 GO

Aves 0 100 GO, SC

Peixes 50 65 PA, SC

Alimentos básicos

Arroz 0 100 RS

Feijão 0 100 GO, MG, MT, TO

Milho 5 100 TO

Farinha de milho 5 100 GO, SP, TO

Mandioca 75 20 PA, PR

Farinha de mandioca 85 100 BA, GO, MA, PA, PI

Hortifrutigranjeiros

Folhosas 100 65 BA, GO, SP

Demais verduras/legumes 0 100 BA, GO, SP

Frutas 0 100 GO, SP

Polpas de frutas 100 20 PA, GO

Ovos 15 100 GO, SP, TO

Lácteos

Leite 90 100 GO, MG, SP, TO

Queijo 80 100 GO, SP, TO

Iogurte 80 100 GO, SP, TO

Nota: * Representa o percentual de estabelecimentos estudados (principais mercados e supermercados), que vendem os produtos listados, sejam produzidos regionalmente ou externo à região de Altamira. ** Representa o estado (UF) das companhias fornecedoras e não, necessariamente, o estado em que foi produzido. Fonte: Pesquisa de Campo

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112

Artigo III

ANÁLISE DAS MUDANÇAS DE USO E COBERTURA DA TERRA NA REGIÃO DE

ALTAMIRA NO CONTEXTO DA CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DE BELO

MONTE

Resumo: Este artigo fornece uma análise das mudanças de uso e cobertura da terra

(LULC) ao longo de um trecho da rodovia Transamazônica, na região de Altamira-PA,

analisando fatores antropogênicos que afetam as dinâmicas de LULC, tais como

economia, população, política e obras de infraestrutura, por exemplo, a construção da

Hidrelétrica de Belo Monte. Imagens Landsat-5 TM e Landsat-8 OLI foram utilizadas

para os intervalos entre os anos de 2003, 2007, 2011, 2014 e 2017. O classificador

de máxima verossimilhança (maximum likelihood) foi usado para classificar essas

imagens Landsat, sendo definido um sistema de cinco classes de cobertura da terra:

Primary Forest-PF, Secondary Forest-SF, Agropasture-AP, Urban/Roads-UR e Water-

WA. Os resultados indicam que acurácias de classificação geral entre 88,1% e 95,3%

foram obtidas. A pesquisa aponta que o desflorestamento foi significativo no intervalo

2003-2017 e a proporção de PF na região caiu de 53% para 30%. Áreas de PF foram

convertidas principalmente à SF e AP, entretanto, a maior proporção de transição

entre as classes de cobertura da terra definidas, foi entre SF e AP. Fatores induzidos

pelo homem desempenharam importantes influências sobre o desflorestamento,

mudanças produtivas (AP e SF) e expansão da urbanização nesta região da

Amazônia brasileira.

Palavras-chave: Desflorestamento; Expansão agropecuária; Barragens hidrelétricas,

Amazônia.

1. Introdução

Frente aos problemas ambientais em níveis regionais e globais, a floresta

amazônica, com cerca de 6,1 milhões de quilômetros quadrados, detém um terço das

florestas tropicais do mundo e complexos ecossistemas que fornecem serviços

ambientais imprescindíveis para manutenção da vida, estabilização do clima, proteção

de espécies vegetais e animais e sequestro de grandes quantidades de carbono,

através da conversão de biomassa (FEARNSIDE, 2005; ROCHA et al., 2004).

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Apesar de sua importância em nível global, a Amazônia tem sido afetada

diretamente pelas mudanças no Uso e Cobertura da Terra (em inglês, Land Use and

Land Cover-LULC), considerada importantes fatores de mudanças ambientais. As

preocupações com as mudanças de LULC se evidenciaram a partir da década de

1970, quando se constatou que as tais mudanças modificavam o albedo da superfície

do globo, alterando as trocas de energia da superfície-atmosfera e impactando o clima

global, através do ciclo de carbono (LAMBIN; GEIST; LEPERS, 2003). Para além das

influências no clima, em diversas escalas de análises, as mudanças no LULC podem

causar conflitos socioambientais, fortes impactos sobre a biodiversidade e serviços

ecossistêmicos (ROCHA; CORREIA; FIALHO, 2012).

Importante aspecto nos estudos das mudanças de LULC é detectar quais

e como são constituídas as forças condicionantes ou driving forces, que são fatores

que influenciam a tomada de decisão quanto ao uso da terra e criam trajetórias que

modificam a paisagem, observados ao longo do tempo e em determinado local

(LAMBIN; GEIST; LEPERS, 2003; SILVA, 2015; VANWEY; OSTROM; MERETSKY,

2009). Organizando pesquisas sobre as mudanças de LULC, Bürgi, Hersperger e

Schneeberger (2005), incorporam os driving forces em cinco grupos: socioeconômico,

político, tecnológico, natural e cultural. Brondízio (2009) destaca que os estudos de

driving forces visam estabelecer as relações entre causas próximas e subjacentes das

mudanças de uso e cobertura da terra. Causas próximas compreendem atividades ou

ações humanas imediatas, decorrente de um interesse sobre o uso que afeta a

cobertura da terra. As causas subjacentes são sistêmicas na natureza e constituem

condições iniciais na relação homem-ambiente, tais como, variáveis demográficas,

sociais, culturais, políticas, tecnológicas e biofísicas.

No contexto amazônico, importantes driving forces relacionam-se às

intervenções de desenvolvimento pelo Estado Brasileiro, especialmente a partir da

década de 1970, quando implantou o “Programa de Integração Nacional – PIN”,

destinado à ocupação e exploração dos recursos naturais dessa região, com

expressivos investimentos em infraestrutura, como estradas, portos, hidrelétricas,

plantas de exploração de minério etc. (BECKER, 2001; BRONDÍZIO, 2009;

GONÇALVES, 2001). As rodovias desempenharam um papel importante na

transformação das paisagens amazônicas, por usar seu eixo de desenvolvimento para

inserção de milhares de famílias na região. As atividades agrícolas e pecuárias

ganharam força, mudando a base econômica pautada no extrativismo dos recursos

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da floresta para uma base voltada no manejo de áreas agrícolas (MORAN, 1981,

2016).

Atualmente, as construções de barragens hidrelétricas constituem

importante driving force para mudanças das paisagens amazônicas. Diante do

crescimento da demanda de energia, em função dos crescimentos populacional e

industrial, o governo brasileiro tem buscado ampliar a capacidade da matriz energética

nacional, principalmente, na região amazônica. Dada as condições naturais

favoráveis, de grande disponibilidade hídrica, a Amazônia se tornou a fronteira do

desenvolvimento hidrelétrico (MORETTO et al., 2012), principalmente, nos afluentes

do Rio Amazonas, onde foram diagnosticados um potencial hidrelétrico estimado em

77 GW (BRASIL, 2007). Entre as 96 grandes barragens (>30 MW) as quais o governo

brasileiro planejava construir, estava a Hidrelétrica de Belo Monte (JIANG et al., 2018).

A construção dessa barragem iniciou em 2011 e passou a operar parcialmente em

2016. Quando for concluída (previsão para dezembro de 2019) será a terceira maior

hidrelétrica do mundo em capacidade instalada, com 11.233 MW (FRANCO;

FEITOSA, 2013; MAIA; GUERRA; CALVI, 2017).

Dada as dimensões do projeto, a barragem de Belo Monte apareceu como

maior obra de infraestrutura do governo brasileiro, desde a virada do Século 21 (TUR

et al., 2018). Fearnside, (2016, 2017) avalia que, em Belo Monte, não somente a obra

de engenharia tem grande dimensão, mas também seus impactos ambientais e

socioeconômico sobre a região. Embora inserida em uma região onde atividades

agrícolas e pecuárias ditaram as dinâmicas do uso da terra, influenciadas

especialmente por fatores políticos e econômicos, a implantação de um projeto de

larga escala, como Belo Monte, pode desencadear um conjunto de outras forças

condicionantes e induzir novas dinâmicas de uso e cobertura da terra. Por se tratar da

maior e mais emblemática hidrelétrica da Amazônia brasileira (FEARNSIDE, 2017b),

estudar os efeitos que a barragem de Belo Monte tem produzido em seu entorno

mostra-se bastante relevante, especialmente porque não se trata de caso isolado,

visto que, muitas outras barragens estão planejadas para essa região (JIANG et al.,

2018). Em contexto de crescentes preocupações quanto às contribuições das ações

humanas às mudanças climáticas globais, compreender os padrões das mudanças

de uso e cobertura da terra, e mais especificamente as dinâmicas dos desmatamentos

no entorno de megaprojetos como Belo Monte, também se apresenta de igual modo

relevante.

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Para entender as mudanças recentes na distribuição da cobertura da terra,

utilizamos um conjunto de imagens multitemporais do satélite Landsat para os

intervalos de 2003, 2007, 2011, 2014 e 2017. Nosso objetivo é examinar as mudanças

induzidas pela ação humana direta na região de Altamira e os efeitos diretos e

indiretos da construção de Belo Monte sobre as dinâmicas de mudança do uso e

cobertura da terra, para além dos limites considerados de influência direta da obra, de

acordo com os relatórios técnicos de estudos dos impactos ambientais. Nesse caso,

o estudo assume que a construção de Belo Monte tem efeito pervasivo sobre a

paisagem da região de Altamira, provocando mudanças nas dinâmicas de LULC além

dos limites considerados pela obra.

2. Área de Estudo

A área de estudo está localizada a oeste da sede do município de Altamira,

contendo 6,9 mil quilômetros quadrados (Figura 1). A colonização oficial dessa região

iniciou em 1970, com a abertura da Rodovia Transamazônica, que era parte integrante

do Projeto Integrado de Colonização, vinculado ao PIN, que pretendia construir

assentamentos rurais ao longo da rodovia para instalar famílias agricultoras de

diversas regiões do país (KOHLHEPP, 2002; MORAN, 1981). A divisão das terras se

deu através de lotes de 100 hectares, predominantemente, dentro de um padrão

ortogonal cortado por estradas vicinais que tinham como eixo principal a rodovia

Transamazônica, tornado conhecido esse sistema como assentamentos “espinha de

peixe” (BATISTELLA; MORAN, 2005; MORAN; BRONDÍZIO; VANWEY, 2005; PFAFF

et al., 2009).

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Figura 1. Mapa da área de estudo e da barragem de Belo Monte.

3. Materiais e método 3.1. Pré-processamento e coleta de dados

Os dados utilizados na pesquisa estão descritos na tabela 1. As imagens

utilizadas foram da série histórica do Satélite Landsat Thematic Mapper-TM e

Operational Land Imager-OLI referentes ao ponto órbita 225/062. As imagens foram

reprojetadas para o Hemisfério Sul, através do sistema de coordenadas Universal

Transverse Mercator, zona 22 S.

As cenas oriundas da série Landsat foram convertidas para radiância

(MARKHAM; BARKER, 1987) e corrigidas atmosfericamente pelo modelo Fast Line-

of-sight Atmospheric Analysis of Spectral Hypercubes-FLAASH, no qual utiliza o

modelo de transferência radioativa Moderate Resolution Atmospheric Radiance and

Transmittance Model-MODTRAN4 (ANDERSON et al., 1999; BERK et al., 1998),

processando dados de sensores multiespectrais e hiperespectrais, trabalhando em

diversas faixas, como infravermelho de ondas curtas (SWIR), visível e ultravioleta

(UV), minimizando os efeitos de espelhamento e absorção atmosférica (ADLER-

GOLDEN et al., 1999).

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Tabela 1. Conjunto de dados utilizados na pesquisa.

Descrição Tipo de dado e fonte

a) Utilizados para a detecção da cobertura da terra

- Imagens Landsat Landsat 5 TM, para 22/08/2003; Landsat 5 TM, para 26/05/2006;

Landsat 5 TM, para 17/09/2007; Landsat 5 TM, para 02/07/2008;

Landsat 5 TM, para 27/07/2011; Landsat 8 OLI, para 29/08/2014; Landsat 8 OLI, para 15/08/2015; Landsat 8 OLI, para 27/07/2017.

- Imagens de alta resolução Pleiades, para 18/08/2014, usada para coletar amostras; RapidEye, para 19/08/2014, usada para coletar amostras; Spot 6, para 9/08/2015, usada para coletar amostras.

- Estradas Digitalizadas a partir de imagens do Google Earth.

- Malha urbana e vilas rurais Obtidos do grid de setores censitários do IBGE.

b) Utilizados para análise de correlação das mudanças de uso e cobertura da terra

- Valores de crédito rural Obtidos do Banco Central do Brasil, para diferentes anos.

- Preço do boi gordo Preços médios mensais - Live Cattle Futures-BMFBOVESPA.

- Preço do cacau Preços médios mensais - International Cocoa Organization-ICCO.

- - População, PIB, área colhida de cacau, rebanho bovino

Obtidos de IBGE para diferentes anos.

- Pesquisa de campo Diferentes dados de LULC foram coletados em survey aplicado entre janeiro e maio/2015, a 386 unidades domésticas rurais; amostras foram validadas em campo em julho/2016 e fevereiro/2017.

Para avaliação da acurácia da classificação, foram coletadas amostras de

classes através das imagens do Satellite Pour l'Observation de la Terre (SPOT-6),

com duas bandas, uma com resolução de 6 metros e outra pancromática com

resolução espacial de 1,5 metros (LI et al., 2018a) e das imagens Pleiades e RapidEye

com resolução espacial de 0,5 m e com 6,5 metros respectivamente. Também foram

utilizados levantamentos de dados amostrais analisados em trabalhos de campo na

aplicação do survey em 2015, com retornos posteriores para validar as amostras, em

julho de 2016 e fevereiro de 2017, além de dados tipo shapefile dos setores censitários

do IBGE (2010), para distinção de perímetros urbanos e localização de vilas rurais.

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3.2. Coleta de amostras e classificação da cobertura da Terra

A definição das classes de uso e cobertura da terra foi feita com base em

interpretação visual da série histórica das imagens Landsat (tabela 1) e apoiadas em

pesquisas empíricas de painel junto às unidades domésticas rurais e com trabalhos já

realizados sobre as mudanças de LULC na Amazônia (JIANG et al., 2018; LI et al.,

2018a; LU et al., 2013; MCCRACKEN; BOUCEK; MORAN, 2002). As seguintes

classes de cobertura da terra foram definidas: PF-Primary Forest, SF-Secondary

Forest, AP-Agropasture, UR-Urban/Roads, WA-Water e OT-Other (tabela 2). Na

região de estudo, as lavouras de cacau estão em plena expansão, devido ao seu valor

econômico e as facilidades de comercialização (BRO; MORAN; CALVI, 2018; CALVI

et al., 2013; CALVI; AUGUSTO; ARAÚJO, 2010). Por se tratar de uma espécie

arbórea, normalmente cultivada em sistemas agroflorestais, apresentam alta

diversidade florística e diferentes níveis de dossel (CALVI, 2009). Em função disso, as

áreas ocupadas por estas lavouras descrevem características espectrais semelhantes

àquelas observadas nas imagens Landsat para distintos estágios de sucessão

secundária (BRONDÍZIO, 2009; SILVA JR.; D’ANTONA; CAK, 2016). Por esse motivo,

essas áreas foram agrupadas dentro da classe de SF-Secondary Forest, como

sugerem Lu et al. (2013) e Li et al. (2018a).

Tabela 2. Classes de cobertura da terra utilizadas na pesquisa.

Classes Descrição

PF - Primary Forest Floresta primária nativa.

SF - Secondary Forest Formações de vegetação, incluindo diferentes estágios de sucessão secundária, sistemas agroflorestais e lavouras de cacau.

AP - Agropasture Áreas com gramíneas cultivadas para gado. Inclui pasto limpo, sujo e com palmeira, sistemas silvipastoris, “áreas em transição”* de cultivos.

UR - Urban/Roads Áreas urbanizadas, construídas ou preparadas para construção, ruas e estradas urbanas ou rurais, pavimentadas ou não.

WA - Water Rios, igarapés, lagos e barragens.

OT - Other Nuvens e sombras de nuvem.

Nota: * As áreas em transição, compreendem aquelas áreas que foram utilizadas para cultivos temporários cujas coberturas posteriores variam entre pasto novo, estágio primário de sucessão secundária e/ou solo parcialmente exposto. Isso é afetado pelo período de aquisição das imagens Landsat (TM e OLI) utilizadas na pesquisa, entre julho e setembro. Neste período as lavouras temporárias, especialmente os grãos, já foram completamente colhidos e as áreas estão em fases iniciais de outros usos.

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Utilizou-se o método de classificação Máxima Verossimilhança (Maximum

Likelihood), para 100% das amostras coletadas. O classificador Máxima

Verossimilhança usa padrões estatísticos para processo de classificação, como o

diagrama de dispersão e sua densidade de probabilidades, sendo esses parâmetros

obtidos através do conjunto de treinamentos da nuvem de pontos, onde foram

considerados a assinatura espectral e identificação visual dos alvos (LILLESAND;

KIEFER; CHIPMAN, 2014). As amostras foram capturadas com base nas imagens

dos satélites Landsat 5 Thematic Mapper-TM (para os anos de 2003, 2007 e 2011) e

Landsat 8 Operational Land Imager-OLI (para os anos de 2014 e 2017). As amostras

feitas com base nas imagens dos anos de 2014 e 2015 foram também validadas

através de imagens disponíveis dos sensores de alta resolução SPOT, RapidEye e

Pleiades. Para as classes PF, AP, UR, WA e OT foram coletadas 1000 amostras,

distribuídas ao longo de toda a área da pesquisa. Para a classe SF foram coletadas

1500 amostras em áreas de regeneração da vegetação (sucessão secundária inicial

e/ou avançada) e áreas onde localizavam lavouras cacaueiras consolidadas, áreas

estas identificadas durante o levantamento de campo.

Os métodos para estimar a acurácia da classificação, como Exatidão

Global e Coeficiente de Kappa, partem do princípio da geração de matriz de confusão

das classificações, com base no campo amostral, obtidos através dos sensores

remotos e de amostras de campo (MOREIRA, 2012). Nesta pesquisa, a exatidão

Global e o Coeficiente de Kappa foram obtidos através da matriz de confusão

provenientes das reambulações das classificações, em comparação com a captura de

pontos amostrais das classes de uso e cobertura da terra, onde foram utilizados 80%

das amostras.

As classificações tiveram que passar por uma reambulação de dados,

principalmente, por causa da cobertura de nuvens (Figura 02) que é frequente em

dados provenientes de sensores ópticos para região Amazônica (ASNER, 2001; LU

et al., 2013). Por este fator, há algumas imagens com presenças significativas da

classe OT nos anos de 2003, 2007 e 2014. Para reinterpretação da classe OT e

reambulação para as classes apropriadas, foram realizadas edições manuais com

base em outras imagens do mesmo ano, ou de anos anteriores ou posteriores. Por

exemplo, para o ano de 2007, a classe OT foi editada com base nas imagens Landsat

de 2006 e 2008; já para o ano de 2014, a edição foi feita com base em imagens

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Pleiades e RapidEye, referente ao ano de 2014 e imagem SPOT do ano de 2015. A

presença de nuvens e sombras foi também o fator que limitou a definição de intervalos

regulares para todo o período da detecção. Assim, para o período de 2003 a 2011

usamos intervalos de detecção de quatro anos, enquanto para o período de 2011 a

2017, intervalos de três anos.

Figure 2. Comparação de várias imagens Landsat para região de Altamira mostrando o problema de nuvem e sombra (composição de cor: C6: SWIR 1, C5: NIR e C4: RED).

Foram constatados alguns erros em grupos de píxeis correspondente às

classes UR e AP e entre PF e SF devido a semelhança na assinatura espectral. Para

resolução do problema entre UR e AP, utilizou-se a verificação visual das áreas

urbanas com base na localização das sedes municipais e vilas, provenientes das

malhas municipais dos dados censitários do IBGE e de pontos das vilas inventariadas

em trabalho de campo. Para o erro entre as classes PF e SF, constatou-se que os

píxeis de áreas de SF modificavam para PF o ano posterior. Esse problema ocorre

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devido a sucessão vegetacional avançada e a semelhança em estrutura, que leva as

duas classes a terem a assinatura espectral semelhante. Para essa pesquisa, as

áreas de PF não tendem a ganhar novas áreas, apenas a perda (ver Jiang et al.,

2018). Deste modo, utilizou-se as áreas da classe PF do primeiro ano avaliado (2003)

como máscara de referência para a determinação das classes de SF do ano seguinte.

Assim, os píxeis classificados como PF fora da máscara de PF foram reambulados

para a classe SF, reduzindo a confusão entre os anos de classificações. Essas

semelhanças, também, foram percebidas em algumas áreas de pastos degradados,

com presença de sucessão secundária em estágios iniciais, tendo em vista, a falta de

delimitação entre essas classes (Lu et al., 2013).

4. Resultados 4.1. Análise dos resultados da detecção da mudança da cobertura da terra

Os resultados da validação das classificações (Tabela 3) indicam uma

acurácia geral entre 88,1% e 95,3% e os coeficientes de Kappa entre 0.80 e 0.93. De

acordo com Lu et al. (2013) e Feng et al. (2017) valores entre 85% de exatidão global

e 0.80 de coeficiente de Kappa indicam valores de precisões adequadas para

confiabilidade dos resultados.

Tabela 3. Acurácia dos resultados da classificação da cobertura da terra (2003-2017).

Acurácia 2003 2007 2011 2014 2017

Acurácia global (%) 88.15 95.36 94.81 90.20 88.71

Coeficiente de Kappa 0.80 0.93 0.91 0.87 0.82

Os resultados das classificações de 2003 a 2017 (figura 3) mostram uma

clara redução da área de PF, com maiores fragmentos concentrados a noroeste da

área de estudo. Área de AP expandiram em maiores proporções próximo às cidades

de Altamira e Brasil Novo, enquanto os maiores fragmentos de SF estão localizados,

principalmente, próximos ao eixo da rodovia Transamazônica e no entorno da cidade

de Medicilândia, justamente nas zonas onde predominam solos de alta fertilidade, que

concentram grande parte das lavouras cacaueiras.

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Figura 3. Distribuição espacial das classes de cobertura da terra na região de Altamira

em diferentes anos entre 2003 e 2017.

A tabela 4 e a figura 4 mostram que, durante o período avaliado, a classe

com maior perda de área foi PF, saindo de classe predominante em 2003, com 53%

(364.076 ha), para apenas 30% em 2017 (209.504 ha), acumulando perda de mais de

154,5 mil ha no período. A perda mais acentuada de PF foi registrada no intervalo de

2003 a 2007, quando a região de estudo perdeu mais de 57,5 mil ha. Por outro lado,

as classes AP e SF descrevem trajetória ascendente durante todo o período da

detecção, e como abordado nos capítulos anteriores, isso é explicado pelo processo

de especialização produtiva em curso na região, através da expansão da

cacauicultura e da pecuária bovina.

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Tabela 4. Área total das classes de cobertura da terra para cada ano avaliado (ha).

Classes 2003 2007 2011 2014 2017

Primary forest 364.076 306.501 285.024 237.159 209.504

Secondary forest 107.240 152.242 155.571 178.978 187.679

Agropasture 213.562 224.407 240.215 261.603 279.947

Urban 3.115 3.879 5.663 8.564 8.869

Water 1.156 2.122 2.677 2.845 3.151

Figura 4. Proporção das classes de cobertura da terra entre 2003 e 2017. Nota: PF=Primary forest; SF=Secondary forest; AP=Agropasture; UR=Urban; WA=Water.

Proporcionalmente, a classe com maior ganho de área foi SF, saindo de

16% em 2003 (107.240 ha) para 27% (187.679 ha) em 2017, tendo o maior aumento

registrado entre os anos de 2003 a 2007, com incremento de 45 mil ha. A classe AP

teve expansão importante e aparece já em 2014 como a cobertura da terra

predominante na região de estudo (38%). Durante o período da detecção AP foi de

31%, em 2003 (213.562 ha), para 41% em 2017 (279.947 ha). O período em que AP

registra maior expansão é entre 2011 e 2017, período de construção da barragem de

Belo Monte, quando foi de 35% para 41%.

A classe UR se expandiu principalmente entre 2011 e 2017, ganhando

3.207 ha (tabela 4). Embora a área de estudo incorpore áreas urbanas de três cidades

da região - Altamira, Medicilândia e Brasil Novo - a expansão urbana ocorreu

principalmente na cidade de Altamira (Figura 3a,b,c), com criação de novos bairros

53

44 41

34 30

16

22 23 26 28

31 32 35

38 41

0

10

20

30

40

50

60

2003 2007 2011 2014 2017

Po

rcen

tage

m

PF SF AP UR WA

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privados ou outros destinados ao reassentamento da população compulsoriamente

deslocada pela construção da barragem de Belo Monte (LETURCQ, 2016; MIRANDA

NETO, 2014). Conforme resultados da matriz de transição (tabela 5), neste intervalo

também foram constatadas perdas de áreas UR para WA, SF e, principalmente, AP,

sendo explicado pela formação do reservatório da barragem e pelo plano de

requalificação urbana da cidade de Altamira. Antigas residências localizadas às

margens fluviais dos igarapés Altamira e Ambé ou outras áreas baixas da cidade

foram demolidas para permitir a formação do reservatório da barragem e manter uma

cota de segurança para evitar possíveis impactos causados por enchentes no rio

Xingu (FENG et al., 2017).

De modo geral, observou-se que todas as classes perderam ou ganharam

áreas no decorrer do intervalo total de tempo analisado, de forma mais significativa a

classe PF que apresentou perda líquida de 42,5% da sua área. Embora a matriz de

transição aponte que as maiores transições de área ocorreram entre AP e SF, verifica-

se que a expansão dessas classes se deu em detrimento das áreas de PF. O intervalo

de tempo com maiores áreas convertidas de PF para SF foi entre os anos de 2003

para 2007, com 36.551 ha. Neste mesmo intervalo houve as maiores áreas de PF

para AP, com 20.932 ha.

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Tabela 5. Matriz de transição entre as classes de cobertura da terra na região de Altamira (em hectares).

2007 2003

Urban Primary Forest Water Secondary Forest Agropasture Total

Urban 3.112 - - - 2 3.115

Primary Forest 93 306.501 - 36.551 20.932 364.076

Water 4 - 1.099 3 50 1.156

Secondary Forest 71 - 1.023 68.051 38.095 107.240

Agropasture 599 - - 47.636 165.328 213.562

Total 3.879 306.501 2.122 152.242 224.407 -

2011 2007

Urban Primary Forest Water Secondary Forest Agropasture Total

Urban 3.879 - - - - 3.879

Primary Forest 108 285.024 - 14.182 7.186 306.501

Water 139 - 1.983 - - 2.122

Secondary Forest 244 - 694 111.775 39.529 152.242

Agropasture 1.292 - - 29.614 193.500 224.407

Total 5.663 285.024 2.677 155.571 240.215 -

2014 2011

Urban Primary Forest Water Secondary Forest Agropasture Total

Urban 5.108 - - 555 - 5.663

Primary Forest 149 237.159 217 37.508 9.991 285.024

Water 49 - 2.628 - - 2.677

Secondary Forest 321 - - 109.747 45.504 155.571

Agropasture 2.939 - - 31.168 206.108 240.215

Total 8.564 237.159 2.845 178.978 261.603 -

2017 2014

Urban Primary Forest Water Secondary Forest Agropasture Total

Urban 7.024 - 152 376 1.012 8.564

Primary Forest 33 209.504 187 17.225 10.209 237.159

Water 18 - 1.198 737 893 2.845

Secondary Forest 867 - 721 129.279 48.111 178.978

Agropasture 927 - 893 40.063 219.721 261.603

Total 8.869 209.504 3.151 187.679 279.947 -

Nota: Valores na horizontal e vertical representam, respectivamente, as perdas e os ganhos de área (em ha) da classe analisada para as demais classes, ao fim do intervalo da detecção.

4.2. Fatores humanos associados às mudanças regionais de LULC

No capítulo anterior, destacamos vários elementos que influenciaram a

organização e redesenho dos sistemas produtivos do setor agropecuário, como

aspectos relacionados ao ambiente natural, trajetórias socioeconômicas, vinculações

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ao mercado local/externo ou ainda associações ao marco político-institucional, por via

do fomento e/ou regulação estatal. Constatamos também que outros fatores humanos

apresentam relações com as dinâmicas de cobertura da terra na região de Altamira,

principalmente no tocante ao desflorestamento e expansão das áreas de pastagens.

Na figura 5, os resultados da regressão, mostram altos coeficientes de

determinação (R2<0,80), apontando forte correlação negativa - linear ou não linear -

entre a queda de PF com os fatores analisados: crescimentos da população,

expansão urbana, produto interno bruto-PIB dos municípios da microrregião de

Altamira, crédito rural, rebanho bovino e aumento dos preços internacionais da carne

bovina e cacau (figura 5a-g). De semelhante forma, AP apresenta correlação positiva

com todos esses fatores em que foi avaliado (figura 5a-f). O aumento da cobertura de

SF apresenta correlação positiva não linear com crescimento da população, PIB,

crédito rural e o preço do cacau (figura 5a,c,d,g). Relação não linear fortemente

positiva foram constatadas entre a classe UR e o crescimento da população e

aumento PIB (figura 5b,c), com R2 superiores a 0,99. Adicionando dados secundários

da lavoura cacaueira, para essa área de estudo, foi observado que a expansão da

área colhida de cacau apresenta correlação não linear fortemente positiva com as

trajetórias dos investimentos em crédito agrícola subsidiado (R2=0,984) e com a

trajetória crescente do preço do cacau no mercado internacional (R2=0,898) (figura

5d,g).

Fatores como expansão urbana, crescimento populacional e PIB dos

municípios na região de estudo, estão fortemente relacionados ao período da

implantação da hidrelétrica de Belo Monte, pois foi a partir de 2011, mesmo ano de

início da construção da barragem, que os valores registrados para estes fatores

apresentaram grande crescimento na região. Portanto, os dados ilustram que o

crescimento populacional e fatores político-econômicos regionais e trajetória de

preços dos produtos agrícolas influenciam às tomadas de decisão ao nível das

unidades domésticas rurais, cujas respostas são alterações nas dinâmicas de uso e

cobertura da terra, representados nessa pesquisa, majoritariamente, por uma

trajetória de perda das florestas primárias e expansão das áreas de pastagem,

vegetação secundária e cultivos de cacau.

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5. Discussão

Sensoriamento remoto é uma importante ferramenta para as análises das

mudanças de LULC, utilizado em estudos das interações homem-ambiente. Para a

região Amazônica, o uso do sensoriamento remoto tem produzido informações

consistentes de cobertura espacial, que associado a outros dados, tem revelado

elevadas taxas de alteração demográfica e ambiental (BRONDÍZIO, 2009). Entretanto,

essa ferramenta pode apresentar algumas limitações em função da resolução espacial

e espectral dos dados disponíveis (SILVA JR.; D’ANTONA; CAK, 2016), dificultando

diferenciações mais precisas entre certos tipos de uso da terra. Por exemplo, nesta

pesquisa, foram necessários agrupamentos de tipos de uso diferentes como lavouras

de cacau, sistemas agroflorestais e sucessão secundária. A seleção da resolução

temporal é outro elemento fundamental para o sucesso da detecção das mudanças

de LULC (LU; LI; MORAN, 2014) e pode se tonar um fator limitante, especialmente

para a região Amazônica, onde a cobertura de nuvem pode comprometer a definição

de intervalos curtos e regulares para a detecção das mudanças da coberturas

terrestres (SÁNCHEZ-AZOFEIFA et al., 2009). Intervalos longos de detecção podem

fornecer tendências gerais de mudança em longo prazo, mas não podem detectar

processos de mudanças intermediários, particularmente para usos da terra

frequentemente alterados (LI et al., 2018a), como AP e SF neste estudo.

A resolução temporal definida nessa pesquisa e a análise da detecção

forneceram uma importante visão das mudanças do uso e cobertura da terra na região

de Altamira. Embora seja uma região de atividade agropecuária consolidada,

constatamos que ainda persiste na área de estudo uma trajetória constante de

desflorestamento, que resultou em perda líquida de 42,5% (154,5 mil ha) da área de

floresta primária entre 2003-2017, equivalente 22,4% do total da área de estudo. Por

outro lado, nesse mesmo período AP e SF registraram um ganho líquido de

aproximadamente 84 e 66 mil hectares ou 31% e 75%, respectivamente.

A dinâmica do desflorestamento na região de estudo não é recente, e

desde sua colonização na década de 1970, descreve trajetórias de intensificação ou

retração temporária das taxas anuais de perda de floresta (ALENCAR et al., 2016),

relacionados à diversos fatores sociais, políticos, micro e macroeconômicos, internos

e/ou externos à região. Nossos dados (deste capítulo e dos anteriores) evidenciam

que mudanças conjunturais têm exercido importante influência sobre as dinâmicas

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recentes dos desmatamentos e do uso e cobertura da terra, e consolidaram ainda

mais a economia rural e sistemas agropecuários especializados.

Ao longo da década de 2010, a implantação da hidrelétrica de Belo Monte

e o contexto político a ela conectado surgem como algumas das principais forças

condicionantes das mudanças da paisagem regional. Um dos impactos imediatos

desse megaprojeto foi um boom demográfico, com mudanças diversas sobre áreas

urbanas onde a população migrante se instalou, especialmente sobre à cidade de

Altamira (FENG et al., 2017; LETURCQ, 2016). Sendo o maior projeto de investimento

do governo brasileiro nas duas primeiras décadas do século 21, estimado em R$ 42

bilhões16, Belo Monte também representou um impacto econômico expressivo sobre

a região. Por exemplo, em um intervalo de cinco anos, entre 2010-2015, o PIB dos

municípios da região de Altamira apresentou um crescimento de 257%, contra 84%

de crescimento nos cinco anos anteriores, 2005-2010 (IBGE, 2019).

Nesta pesquisa observamos correlação positiva forte (R2>0,991) entre

crescimentos populacional e econômico e expansão da área urbana construída (figura

5a,c). Ou seja, o crescimento populacional se estabelecera com complexas ligações

aos processos econômicos e ambientais que acompanharam a obra da barragem. Em

um evento como este, a expansão da área urbana construída aparece como uma

manifestação espacial da dinâmica de crescimentos populacional e econômico (BAI;

CHEN; SHI, 2012), pois aumenta a demanda por habitação, produtos e serviços

diversos. Deste modo, a expansão urbana converte vegetação e terras agrícolas em

uso residencial e instalações de infraestruturas sociais (LI et al., 2018b).

Pesquisadores também argumentam que os desmatamentos na Amazônia

brasileira podem ser encarados como “um reflexo da economia nacional” (ALENCAR

et al., 2004, p. 22), especialmente com o desempenho e estabilidade econômica que

o país atingiu a partir da década de 1990 (BRONDÍZIO et al., 2002; FERREIRA;

COELHO, 2015). Deste modo, a evolução do PIB nacional tem sido apontado como

um “bom indicador” da relação positiva entre o desempenho econômico do país e as

taxas de perda de cobertura da floresta Amazônica (ALENCAR et al., 2004, p. 22)”.

16 Valor oficial dos investimentos na construção da hidrelétrica de Belo Monte, atualizado e divulgado em 17 de julho de 2019, por ocasião da visita do Ministro de Minas e Energia do Brasil, Bento Albuquerque, à Hidrelétrica. O evento marcou o acionamento da 14ª turbina da Casa de Força Principal, disponibilizando 8.788,5 MW de capacidade instalada, tonando Belo Monte a maior hidrelétrica 100% brasileira, superando a usina de Tucuruí (8.535 MW) e a parte brasileira de Itaipu (7.000 MW) (BRASIL, 2019).

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130

Nesta pesquisa, utilizamos indicadores econômicos do PIB ao nível dos municípios

afetados pela barragem de Belo Monte, e constatamos que o desempenho econômico

dos municípios do entorno da obra também apresentou correlação forte com

desmatamentos de PF (R2>0,86 - figura 5a,c) e a expansão de AP e SF.

Aspectos institucionais e políticos e seus efeitos sobre os desmatamentos

e as mudanças de uso e cobertura da terra na Amazônia também têm sido

investigados em diversos estudos. No aspecto institucional, Fearnside (2001) destaca

que a legislação sobre a posse da terra precisa se tornar mais rígida, visto que

desmatamentos têm sido utilizados para especulação e garantir a posse de terra, em

muitos casos de forma ilegal. Convertendo florestas em pastagens, fazendeiros obtêm

ganhos financeiros com a exploração produtiva e lucros com a valorização da terra.

Uma vez estabelecido, com frequência essa posse de terra é reconhecida pelo Estado

e permite, entre outras coisas, a participação em créditos agrícolas subsidiados,

alimentando novos ciclos e a concentração fundiária. Embora a área de estudo

compreenda uma parte da região conhecida por “colonização antiga”, onde os regimes

de posse de terra são mais consolidados, a pesquisa de campo constatou que terras

continuavam sendo utilizadas para especulação e avanço da fronteira agrícola,

através da exploração madeireira e da pecuária bovina, especialmente em direção

Noroeste, onde ainda predominam as maiores paisagens florestadas (vide figura 3).

Outra variável institucional importante no tocante às mudanças do uso e

cobertura da terra diz respeito ao marco ambiental. Apesar de o Brasil possuir uma

legislação ambiental considerada uma das mais modernas e avançadas do mundo

(PIAIA; CERVI, 2017), ainda se faz necessário maior rigor, celeridade e regularidade

nas ações de fiscalização e proteção ambiental. Em momentos em que a ação

coordenada do Estado se pôs a fiscalizar e combater a exploração ilegal dos recursos

naturais na Amazônia conseguiu reduzir o ritmo dos desmatamentos nos anos

seguintes – por exemplo, a Operação Arco de Fogo, em 2008. Entretanto, o retorno

do crescimento dos desmatamentos, a partir de 2014, pode estar associado também

às mudanças no novo Código Florestal Brasileiro (2012), que entre outras coisas,

anistiou agentes que desmataram ilegalmente até o ano de 2008 e flexibilizou uso dos

recursos naturais, podendo, inclusive, motivar a continuidade desmatamentos

(CASTELO et al., 2018). Em nosso estudo, a sequência desses eventos é também

percebível pela trajetória dos desmatamentos na região de Altamira, como ilustrou a

figura 4.

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No campo das políticas governamentais destinadas ao setor agropecuário,

estudos têm constatados forte correlação na disponibilidade de crédito agrícola e

taxas de desmatamento (BRONDÍZIO et al., 2002; HARGRAVE; KIS-KATOS, 2013).

Enquanto política agrícola, o crédito rural subsidiado relaxa a restrição de capital das

unidades domésticas rurais (FERREIRA; COELHO, 2015), representa meios

necessários para maiores investimentos e expansão de atividades agropecuárias

diversas, e, como resultado, a perda da cobertura florestal (PRATES, 2008). Nossos

dados indicam correlação positiva forte entre a aplicação do crédito rural subsidiado e

a expansão da cobertura de AP e da lavoura de cacau, e relação negativa com a de

área de PF (figura 5d). Considerando que a ampla maioria dos investimentos em

crédito rural aplicado na Amazônia é recurso da União, é o Estado quem planeja e

determina quanto recurso aportar para cada município, podendo vinculá-lo a algum

programa ou meta de desenvolvimento e assim o direcionar a algum setor ou atividade

produtiva (PRATES, 2008). No caso da região de Altamira, por muito tempo o crédito

rural tem sido orientado, principalmente, à pecuária bovina e à cacauicultura (CALVI,

2009; CALVI; AUGUSTO; ARAÚJO, 2010), muito em função da forte relação que

estes produtos têm com mercado, o que reduz riscos de inadimplência das unidades

domésticas rurais junto aos agentes financeiros (SANTOS, 2012).

Ferreira e Coelho (2015, p. 95) argumentaram que os desmatamentos na

Amazônia também estão relacionados com as “rendas esperadas” das atividades

agropecuárias, que estão associadas aos preços das commodities agrícolas, aos

custos de produção e às especificidades de cada região. Hargrave e Kis-Katos (2013)

salientam que as mudanças de uso da terra são bem capturadas pelas forças de

mercado, pois quando aumentam os preços de grandes commodities como a carne e

a soja, há pressão ascendente sobre a cobertura de floresta. Na região de nossa

pesquisa, as commodities de importância na economia e nas dinâmicas da paisagem

são representadas pela pecuária bovina e a cacauicultura, cuja trajetória de preços

crescentes nas décadas de 2000 e 2010 resultou em resposta positiva ao aumento do

efetivo do rebanho bovino e na expansão das áreas de cultivo de pastagem e da

lavoura cacaueira, em detrimento das áreas de PF (figura 5e-f).

Além desses elementos aqui descritos, ao longo deste trabalho

apresentamos outros fatores importantes ao desenvolvimento das atividades

agropecuárias regional e às mudanças do uso e cobertura terra, que estão associados

ao contexto de instalação da hidrelétrica de Belo Monte. O fluxo demográfico intra e

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inter-regional modificou a dinâmica do trabalho no campo, evidenciando aumento do

êxodo rural e escassez de trabalhadores. O aumento do consumo e novas dinâmicas

econômicas estabelecidas produziram uma inflação adicional sobre produtos e

serviços na região, marcando um aumento nos custos de produção. Como resposta a

essas mudanças, atividades produtivas que demandavam maior quantidade de

trabalho foram reduzidas ou completamente abandonadas em diversas unidades

domésticas rurais, especialmente as lavouras temporárias. Isso favoreceu trajetórias

de especialização produtiva do cacau e, principalmente, da pecuária bovina.

Embora a cacauicultura demande maior quantidade de força de trabalho,

ela é favorecida por uma estrutura diferenciada de gestão e controle da mão de obra,

através de sistema de parceria, que ao invés de salários os trabalhadores meeiros

recebem uma parte da produção, 50% ou mais (CALVI, 2009). Condições favoráveis

de mercado, preço, apoio de políticas públicas e características edafoclimáticas

estimularam a expansão dessa atividade econômica na região, transformando-a na

mais importante zona de expansão da cacauicultura brasileira (CALVI et al., 2013).

6. Conclusões

Esta pesquisa usou séries temporais Landsat para analisar a dinâmica das

mudanças de uso e cobertura da terra na região de Altamira, estado do Pará, entre os

anos de 2003 e 2017, antes e após a construção da hidrelétrica de Belo Monte.

Correlacionamos as classes de cobertura da terra com fatores induzidos pelo homem,

como população, urbanização, PIB, crédito rural, efetivo do rebanho bovino e preços

das commodities carne bovina e cacau, e contamos que todos esses a fatores

apresentam correlação com a redução de áreas de PF. No período da pesquisa, a

área de PF apresentou perda líquida de 42,5% e, durante os intervalos de detecção

(3 a 4 anos), as maiores taxas de transição de cobertura ocorreram entre AP e SF.

Considerando que AP e SF são usos da terra frequentemente alterados na área de

estudo, recomenda-se que pesquisas futuras utilizem dados em intervalos de

detecção mais curtos para melhor compreensão das mudanças de LULC.

Foi observado que fatores como crescimento econômico dos municípios

(PIB), a urbanização e o aumento da população (por migração inter/intrarregional e

êxodo rural) foram fortemente influenciados pela implantação da hidrelétrica de Belo

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Monte. Uma obra desse porte não apenas altera a paisagem sob seu domínio direto

e indireto, como, aliado a outros fatores políticos e de mercado, desencadeiam uma

série de transformações sociais e econômicas que influenciam as tomadas de decisão

ao nível das unidades domésticas rurais, cujas respostas são alterações nas

dinâmicas de uso e cobertura da terra, representados nessa pesquisa por trajetórias

de expansão das áreas de pastagem e a criação de gado, cultivos de cacau e da

vegetação secundária, em detrimento das paisagens florestadas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta tese ampliou o conhecimento existente sobre impactos de grandes

barragens hidrelétricas no mundo rural, particularmente, sobre o setor agropecuário

da região do entorno da usina hidrelétrica de Belo Monte.

Discursos oficiais de governos e outros promotores da barragem

apontavam que o projeto da hidrelétrica de Belo Monte estava em consonância com

as perspectivas do desenvolvimento sustentável, cujos resultados seriam,

principalmente, o crescimento econômico e a melhoria da qualidade de vida das

comunidades locais (EPE; MME, 2011; OLIVEIRA et al., 2016). Adicionalmente, a

retórica oficial tratava o crescimento demográfico, decorrente dessa obra, como via

única para o crescimento e inclusão econômica, especialmente à agricultura regional,

por induzir maior produção e comercialização de alimentos.

Para examinar a aplicabilidade desses discursos, a pesquisa empírica foi

conduzida junto a unidades doméstica rurais, localizadas além da “área de influência

direta” da barragem. Teve como foco de investigação duas grandes mudanças, uma

socioeconômica e outra na paisagem, associadas à construção da barragem,

orientada pela seguinte questão de pesquisa: como o setor agropecuário respondeu

às transformações na região de Altamira frente ao contexto de implantação da

hidrelétrica de Belo Monte?

Considerando que um dos principais impactos negligenciados pelos

projetos de barragens tem sido sobre as dinâmicas sociais relacionadas ao fluxo

migratório e à mobilidade do trabalho (ALVES; THOMAZ JÚNIOR, 2012; MIRANDA

NETO, 2016), no Artigo 1, foram investigadas as dinâmicas da mobilidade da mão de

obra rural e seus efeitos sobre as atividades agropecuárias. Foi observado que a

migração rural-urbana da região intensificou e a disponibilidade de trabalhadores

familiares e contratados sofreu uma retração de 50%, em relação ao período anterior

à barragem. 90% dos estabelecimentos da agricultura familiar relataram sérias

dificuldades para contratar trabalhadores para as atividades rurais. A escassez de

trabalhadores teve como consequência a elevação dos custos de mão de obra e de

produção. Aliado ao aumento do custo de vida, que assolou a região durante toda a

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fase da construção da barragem, diversas atividades econômicas no campo foram

inviabilizadas, especialmente a produção de alimentos.

No Artigo 2 foi discutido como o setor agropecuário se organizou e

respondeu às mudanças de mercado diante da conjuntura da construção da

barragem. Foi verificado que o aumento do consumo local, decorrente do boom

demográfico, não apresentou efeito sobre a produção regional de alimentos.

Contrariando os discursos oficiais, a produção regional de alimentos registrou queda

acentuada, influenciada, principalmente, pela escassez de trabalhadores e elevação

dos custos de produção.

Três anos após o início das obras da barragem, aproximadamente, 60%

das unidades domésticas que produziam alimentos para o mercado local,

abandonaram suas lavouras, enquanto aquelas que mantiveram alguma produção de

lavouras anuais foram, predominantemente, destinadas ao consumo doméstico.

Dificuldades com gestão da mão de obra e altos custos de produção foram os

principais elementos para a reorganização produtiva nas unidades domésticas rurais.

Trajetórias de especialização ligadas à cacauicultura e à pecuária bovina, já existentes

na região antes da chegada da obra, se consolidaram ainda mais, e passaram a

responder por 98% do valor total da produção agropecuária comercializada.

No Artigo 3, foi realizada uma avaliação espaço-temporal das mudanças

de uso e cobertura da terra e dinâmicas do desmatamento na região de Altamira.

Utilizando imagens Landsat para o período entre 2003 e 2017, com intervalos de

detecção de 3 a 4 anos, foi observado que trajetórias de desmatamentos da floresta

primária foram mantidas ao longo do período avaliado, representando perda líquida

de 43% dessa cobertura da terra. Neste período a floresta primária deixou de ser a

cobertura da terra dominante na paisagem rural, para onde se expandiram cultivos de

cacau, vegetação secundária e, principalmente, pastagens para a pecuária bovina.

Diversos fatores humanos avaliados apresentaram correlação forte com a dinâmica

das mudanças da cobertura da terra, entre eles aspectos políticos e de mercados, e

principalmente fatores influenciados diretamente pela instalação da hidrelétrica de

Belo Monte, como crescimento populacional, urbanização e o crescimento da

economia dos municípios do entorno, mensurados pelos valores do PIB. Portanto, o

tipo e o porte da intervenção de desenvolvimento ao qual a região de estudo foi

submetida, aliado a forças condicionantes de mercados e políticas de Estado,

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produziram um contexto socioeconômico cuja manifestação espacial foram

significativas alterações nas dinâmicas de uso e cobertura da terra.

Ao longo dessa tese, elencamos uma série de efeitos diretos e indiretos da

implantação da hidrelétrica de Belo Monte sobre as unidades domésticas rurais da

região de Altamira. Embora essa obra de infraestrutura tenha sido apresentada à

população como um projeto modelo, verifica-se que sua implantação seguiu,

praticamente, a mesma lógica de outros projetos econômicos de larga escala na

Amazônia: seus benefícios primários são endereçados à escala nacional, e, portanto,

exógenas ao território onde foi instalada (BECKER, 2016; MORETTO et al., 2012) e

se constituem em altos custos socioeconômicos e ecológicos à população local

(FEARNSIDE, 2015; MORAN, 2016; MORAN et al., 2018).

Os efeitos econômicos e o desenvolvimento proposto por esse projeto

hidrelétrico apresentam pouca adesão aos interesses locais e às características das

sociedades amazônicas. Seus impactos econômicos, tão propagandeados pelo

Estado e interesses econômicos externos à região, são temporários e transitórios, e,

ao longo de todo o processo, se revelam profundos promotores de desigualdades

sociais, especialmente sobre a parcela mais pobre e desinformada da sociedade. O

aumento do custo da mão de obra durante a construção, por exemplo, afetou mais o

pequeno produtor agrícola do que o grande. De semelhante modo, a queda da

produção de culturas anuais afetou mais ao pequeno que o grande.

As relações econômicas criadas durante a fase de construção baseiam-se

sob a lógica do emprego, que não é definitivo, foge aos padrões da região e não

permanecem com o término da obra. Essas relações se estabelecem em detrimento

de mudanças significativas no tecido sociais e sistemas produtivos historicamente

constituídos, por exemplo, na agricultura familiar e na pesca tradicional, tão importante

para milhares de famílias.

Ao fechar dessa tese, a região de Altamira passa por uma importante crise

econômica e social: desemprego elevado, pouco movimento no comércio, partes de

bairros planejados para o período da barragem abandonados, muitos imóveis

comerciais e residenciais fechados, à venda ou para alugar, e outros mais resultados.

O desenvolvimento econômico regional previsto pelo governo e promotores da obra,

não ocorreu. A falsa promessa de desenvolvimento regional é uma das falhas

principais da obra, acima dos efeitos negativos sobre a população em termos de

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produção de alimentos básicos, de educação, e da qualidade da água na cidade

(GAUTHIER; MORAN, 2018)

Obviamente, a crise político-econômica que se estabeleceu no Brasil, a

partir de 2015, contribuiu para esse cenário, mas não é plenamente suficiente para

explicar e justificar a situação atual. Também não é mera coincidência. Há muito

tempo, essa mesma realidade tem sido constatada no entorno das grandes barragens

na Amazônia e no Brasil, e reportada em diversos estudos (CASTRO, 2012;

FEARNSIDE, 1999; LETURCQ, 2019; PORTO; FINAMORE; FERREIRA, 2013;

ROCHA, 2008; SANTOS, 1994; SIGAUD, 1986).

A construção de grandes hidrelétricas, e as várias consequências

associadas, levantam questões quanto aos modelos de desenvolvimento adotados

por sucessivos governos. Em todos os casos, a população direta e indiretamente

afetada tem sido mantida fora do processo de tomada de decisão, não são

consultados devidamente, ou compensadas de forma justa, e, principalmente, não se

constrói as bases para um desenvolvimento econômico e sustentável para depois da

obra. Embora governos e situações econômicas mudem com o tempo, não tem

mudado as formas como são tratadas as populações afetadas pelas barragens

(LETURCQ, 2019, p. 125). Essas realidades continuam sendo produzidas no entorno

das grandes obras porque são projetos de “inversão pública de capital para atender

interesses privados, e, portanto, não correspondem a um projeto de desenvolvimento”,

no sentido de que não foi capaz de induzir melhorias nas condições de vida ao

conjunto da população local (EL SAIFI; DAGNINO, 2011, p. 7).

A barragem de Belo Monte teve mais de três décadas para estudos e

planejamento (1975-2010) (FAINGUELERNT, 2016), quase uma década de

construção (2011-2019), foi um dos maiores projetos de desenvolvimento do Estado

brasileiro, nas duas primeiras décadas do século 21 (BRASIL, 2013), e teve um custo

estimado em R$ 42 bilhões (BRASIL, 2019). Mesmo assim, o Estado falhou ao não

desenvolver ações antecipatórias para evitar ou mitigar os impactos sobre a região

de Altamira, pois limitou suas ações à área definida como “diretamente atingida”. A

falta de políticas antecipatórias, articuladas e integradas ao contexto amazônico,

não só deixou a sociedade local mais suscetível às externalidades negativas, como

limitou a possibilidade de as unidades doméstica rurais participarem da economia

dinamizada pelo empreendimento. Parafraseando um de nossos interlocutores em

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pesquisa de campo, “circulou muito dinheiro, mas não produziu desenvolvimento

local” (M.T., agricultor, 59 anos, Brasil Novo-PA).

Esta tese, portanto, permite refutar o argumento de que a instalação da

hidrelétrica de Belo Monte induziria mudanças significativas na economia rural e

beneficiaria o setor agropecuário, através do aumento da produção e

comercialização de alimentos para atender a demanda instituída pela barragem e

seu boom demográfico.

Tem-se uma oportunidade perdida, uma população enganada e uma falta

de reconhecimento dos erros, pelos promotores do projeto. Sem esse

reconhecimento, esses erros tenderão a se repetir, a população continuará sendo

enganada, e negativamente afetada. Esta tese apresenta a evidência que deve ser

considerada, em todos os níveis decisórios, para começar a repensar os projetos

de desenvolvimento do país, especialmente aqueles atrelados a projetos

hidrelétricos.

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