MISSÃO ESPACIAL

28
MISSÃO ESPACIAL Equipe da UFSC desenvolve satélite que será lançado em 2016 Pesquisa incentiva uso de bicicleta em Joinville 40 anos dedicados à Ciência: um perfil de Ilse Scherer-Warren A arte e o ofício de traduzir Shakespeare

Transcript of MISSÃO ESPACIAL

Page 1: MISSÃO ESPACIAL

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

A revista UFSC Ciecircncia apresenta em 24 paacuteginas uma amostra do que a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) produz nos seus mais de 500 grupos de pesquisa em que satildeo desenvolvidos cerca de 25 mil projetos

sobre diferentes temas em todas as aacutereas do conhecimento Satildeo exemplos que demonstram como o diaacutelogo entre jornalistas e pesquisadores eacute fundamental para a responsabilidade social na disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees cientiacuteficas

A publicaccedilatildeo eacute um dos resultados do projeto de incentivo agrave Divulgaccedilatildeo Cientiacutefica criado pela Proacute-Reitoria de Pesquisa (Propesq) e a Diretoria-Geral de Comunicaccedilatildeo (DGC) e que comeccedilou a ser implementado no segundo semestre de 2014 a fim de ampliar o acesso do puacuteblico a informaccedilotildees sobre ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo

Ciecircncia eacute gecircnero de primeira necessidade comunicar-se com alunos ex-alunos pais poliacuteticos governantes liacutederes comu-nitaacuterios e o grande puacuteblico pode ser questatildeo de sobrevivecircncia para a universidade instituiccedilatildeo que por sua proacutepria natureza eacute ambiente propiacutecio agrave pesquisa cientiacutefica

APRESENTACcedilAtildeOMas como traduzir uma linguagem muitas vezes hermeacutetica com sintaxe muito proacutepria e jargatildeo por vezes ininteligiacutevel Como conciliar os requisitos do rigor e da sutileza acadecircmicos com uma linguagem simples direta clara e aacutegil

Problemas de dimensatildeo e significados diferentes exigem esforccedilo cooperado para serem resolvidos apresentar o complexo de maneira simples transformar o singular em plural e oferecer ao puacuteblico informaccedilatildeo com qualidade para por meio da disseminaccedilatildeo do conhecimento contribuir para a formaccedilatildeo cidadatilde

Este eacute o objetivo principal da revista criar para o leitor uma atmosfera em que ele encontre os meios de se informar sobre o mundo e entendecirc-lo para exercer o seu papel poliacutetico e transformador Em meio a comunidades globais a UFSC apresenta continuamente um universo rico em informaccedilotildees Satildeo 55 anos de existecircncia da Universidade e a UFSC Ciecircncia ajuda a contar o futuro desta histoacuteria

Boa leitura

IacuteNDICEEXPEDIENTE

COacuteDIGO QR

Reitora Roselane Neckel

Vice-Reitora Luacutecia Helena Martins Pacheco

Proacute-Reitor de Pesquisa Jamil Assreuy Filho

Proacute-Reitora Adjunta de Pesquisa Heliete Nunes

Diretora-Geral de Comunicaccedilatildeo Tattiana Teixeira

Produccedilatildeo Diretoria-Geral de Comunicaccedilatildeo(48) 3721-4081 | dgcgrcontatoufscbr

EdiccedilatildeoAlita Diana Artecircmio Reinaldo de Souza e Tattiana Teixeira

Reportagem Alita Diana Caetano Machado Daniela Caniccedilali e Fabio Bianchini

Estagiaacuterios de Jornalismo Ana Carolina Prieto Camila Geraldo Gabriel Volinger e Tamy Dassoler

Colaboraccedilatildeo Jamil Assreuy e Luciana Rassier

FotografiaJair Quint e Henrique Almeida

RevisatildeoClaudio Borrelli

Projeto GraacuteficoAirton Jordani

Distribuiccedilatildeo gratuita | Publicaccedilatildeo semestral | Dezembro2015

UniversidadeUFSC

+UFSCBR

UFSC

tvufscUniversidadeUFSC

wwwufscbr

22A LESTE DO EacuteDENMapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

11CIEcircNCIA SEM COMPLICACcedilAtildeOA importacircncia da divulgaccedilatildeo cientiacutefica e do jornalismo cientiacutefico

16

A ARTE E

O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEARE

4

MUDANCcedilA DE HAacuteBITOTese propotildee atividades para estimular uso de bicicleta

Em vaacuterias mateacuterias da revista o leitor en-contraraacute uma figura como essa aiacute do lado Eacute um coacutedigo QR mais ou menos como um coacutedigo de barras soacute que quadrado Ou seja aleacutem da representaccedilatildeo graacutefica hori-zontal do coacutedigo de barras (em que o leitor identifica a informaccedilatildeo a partir das dife-rentes larguras das barras) trabalha em duas dimensotildees horizontal e vertical Assim consegue armaze-nar uma quantidade muito superior de dados Para usar eacute preci-so ter um celular com cacircmera e um aplicativo que leia o coacutedigo A partir daiacute basta fotografar a imagem com o aplicativo e este faz a conversatildeo e apresenta a informaccedilatildeo colocada no coacutedigo

24 Uma homenagem aos mestres das novelas policiais

12 15Equipe da UFSC desenvolve sateacutelite que seraacute lanccedilado em 2016

Livros do acervo impresso da EdUFSC para leitura on-line

MISSAtildeO

ESPACIALACERVO

DIGITAL

19 20 Urina como alternativa para fertilizantes

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMA

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

8CERAcircMICA SUSTENTAacuteVELO papel na produccedilatildeo de azulejos

ILSE SCHERER-WARREN 40 anos dedicados a pesquisas sobre movimentos sociais6

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUEL

4

Editoria

Joinville foi conhecida como ldquoa cidade das bicicletasrdquo por causa de seus muitos operaacuterios e poucos morros No en-tanto apoacutes os anos 1970 trabalhadores que costumavam pedalar ateacute as empresas trocaram o antigo haacutebito por au-

tomoacuteveis e motocicletas ndash situaccedilatildeo comum nas cidades brasilei-ras Essa foi uma das motivaccedilotildees que levou a pesquisadora Ilca Maria Saldanha Diniz em tese defendida no Programa de Poacutes--Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica (PPGEF) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) a analisar os efeitos que atividades educativas como palestras e viacutedeos podem causar ao incenti-var os funcionaacuterios de uma induacutestria a ir ao trabalho de bicicleta

A pesquisa orientada pela professora Maria de Faacutetima da Sil-va Duarte observou durante seis meses os meios de desloca-mento de 932 funcionaacuterios de uma induacutestria metal-mecacircnica de Joinville Foram elaboradas atividades que consistiam em aulas informativas e praacuteticas apresentaccedilotildees em viacutedeo palestras jo-gos e leitura de cartilhas de seguranccedila ndash tudo elaborado a partir das necessidades do trabalhador As temaacuteticas expostas aos in-dustriaacuterios foram a relaccedilatildeo do uso da bicicleta com o meio am-biente sauacutede itens de seguranccedila necessaacuterios e leis de tracircnsito

Para descobrir os efeitos a pesquisadora montou um Grupo Intervenccedilatildeo (GI) e um Grupo Controle (GC) que apoacutes perdas amostrais no final do estudo contavam com 876 trabalhadores 438 em cada O resultado do estudo foi o aumento de 22 no nuacutemero de funcionaacuterios do GI que passaram a se deslocar de bi-cicleta ldquoNoacutes natildeo tiacutenhamos ideia de quanto aumentaria ou se te-riam alguma resposta agraves atividades Em pesquisas o maacuteximo de mudanccedilas que vimos em programas no Brasil e no exterior por meio de educaccedilatildeo foi de 3 de aumento nos fins desejados Deu muito certo um resultado positivordquo diz Ilca A pesquisadora tambeacutem considerou que pelas interaccedilotildees terem sido realizadas por somente seis meses esses efeitos foram surpreendente

Em outros programas de incentivo ao uso da bicicleta as ativi-dades educativas foram desenvolvidas por um maior periacuteodo de tempo entre 12 e 18 meses

No estudo os trabalhadores foram divididos em os que usavam e os que natildeo usavam bicicleta para se deslocar ateacute a induacutestria A metodologia empregada consistiu em formar grupos de pessoas com interesses e haacutebitos semelhantes e desenvolver atividades especiacuteficas a cada A partir disso em 23 encontros foram apli-cados questionaacuterios para compreender as caracteriacutesticas dos trabalhadores e estimular a forma de transporte ldquoNo processo as pessoas foram classificadas em estaacutegios que dependem do haacutebito que o funcionaacuterio tem de pedalar pois as informaccedilotildees que precisamos dar para que a pessoa mude de comportamento depende da experiecircncia de cada umrdquo explica Ilca

De acordo com a pesquisa eacute necessaacuterio melhorar todo o proces-so educativo no Brasil em relaccedilatildeo agrave bicicleta considerando-se o municiacutepio em que a atividade estaacute sendo aplicada e as pessoas para quem satildeo destinadas as aulas principalmente nas escolas e ambientes de trabalho Na realidade daqueles industriaacuterios foi verificado que as maiores barreiras para escolher o meio de transporte eram o tracircnsito intenso a distacircncia percorrida para chegar ao destino e o clima desfavoraacutevel Tambeacutem foram lista-dos os principais motivos para escolher a bicicleta melhora da sauacutede praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos e proteccedilatildeo ao meio ambiente

Pelos questionaacuterios respondidos foi possiacutevel descobrir que a maioria dos trabalhadores relatou ter ensino meacutedio completo ou curso teacutecnico com renda familiar entre R$ 1080 e R$ 2700 Algumas caracteriacutesticas predominavam nos trabalhadores que mais pedalavam ateacute a induacutestria menor renda residecircncia agrave dis-tacircncia menor ou igual a cinco quilocircmetros menor escolaridade e posse de bicicleta ndash cerca de 72 a tinham

Tese propotildee atividades para estimular uso de bicicleta

4

Ciecircncias da Sauacutede

Camila Geraldo

MUDANCcedilA DE

HAacuteBITO

5

UFSC Ciecircncia

Na opiniatildeo da pesquisadora o que mais influencia o uso da bi-cicleta eacute a ciclovia ldquoEm torno da induacutestria que estudamos havia ciclovia em todos os pontos ciclovia mesmo natildeo somente uma faixa pintada onde se diz que pode passar a bicicleta Hoje as maiores cidades catarinenses ou natildeo tecircm ciclovias ou quando tecircm elas satildeo interrompidas em alguns pontos e natildeo garantem seguranccedila Temos que criar a cultura da infraestrutura cicliacutestica e do respeito ao ciclistardquo completa

5

UFSC Ciecircncia

Um estudo realizado pelo Sesi em 2009 apontou que no estado de Santa Catarina a prevalecircncia do uso da bicicleta no deslo-camento ao trabalho eacute em Joinville com 128 As outras duas cidades catarinenses com maior nuacutemero de pessoas que cos-tumam pedalar ateacute o trabalho satildeo Lages (123) e Blumenau (75) Muitas das informaccedilotildees contidas na tese serviram de subsiacutedio agrave formulaccedilatildeo de um manual para induacutestrias do SenaiSesi que estaacute sendo distribuiacutedo em todo Brasil

Praacutetica de exerciacutecios

Melhora da sauacutede

Proteccedilatildeo ao meio ambiente

Acesso a ciclovias

Mais raacutepido

Residir proacuteximo agrave empresa

Mais barato

Motivos para escolher a bicicletaEm sua tese de doutorado Ilca Diniz elencou as principais razotildees que levam os

industriaacuterios de uma empresa metal-mecacircnica a pedalar ateacute o trabalho

Fonte Ilca Maria Saldanha Diniz Graacutefico Gabriela Fantini Camila Ignaacutecio GeraldoFonte Ilca Maria Saldanha Diniz Design Gabriela Fantini Texto Camila Geraldo

6

Engenharias

CERAcircMICA SUSTENTAacuteVELTamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Aparas de papel satildeo utilizadas na produccedilatildeo de azulejos

UFSC Ciecircncia

7

Um estudo realizado no Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Engenharia Quiacutemica desenvolveu ceracircmica monoporosa tambeacutem conhecida como azulejo com 20 de aparas de papel Para realizar sua dissertaccedilatildeo Rodrigo Daros

sob orientaccedilatildeo do professor Humberto Gracher Riella substituiu parte do calcaacuterio usado na ceracircmica por esse resiacuteduo do papel mais viaacutevel econocircmica e ecologicamente

Utilizar as aparas em ceracircmicas monoporosas eacute uma alternativa com benefiacutecios ambientais pois diminui a quantidade de cal-caacuterio ndash um recurso natildeo renovaacutevel ndash e reaproveita os restos de papel que seriam descartados no ambiente Essa reutilizaccedilatildeo ocorre tambeacutem na correccedilatildeo de solo e na formulaccedilatildeo de cimento no entanto como a induacutestria de papel e celulose produz aparas em grande quantidade a maioria natildeo eacute reaproveitada

Na pesquisa de Daros as ceracircmicas produzidas tiveram uma ab-sorccedilatildeo de 3 a 8 maior do que as sem o resiacuteduo o que signi-fica que a aderecircncia agrave parede seraacute melhor O iacutendice alcanccedilado no estudo se manteacutem dentro do limite que permite classificar a ceracircmica como monoporosa ndash aquela que possui absorccedilatildeo su-perior a 10

Foram utilizados soacute 20 de resiacuteduos de papel na composiccedilatildeo da ceracircmica porque segundo o pesquisador esse seria o valor ideal para atingir o iacutendice padratildeo de absorccedilatildeo de aacutegua Acima de 25 haveria trincas ou quebras durante a queima do azulejo devido agrave retraccedilatildeo da peccedila

O uso das aparas soacute foi possiacutevel porque sua composiccedilatildeo eacute simi-lar agrave do calcaacuterio cuja decomposiccedilatildeo gera oacutexido de caacutelcio que constitui mais de 50 do resiacuteduo De acordo com o pesquisador ldquoo calcaacuterio eacute o ideal mas como eacute algo que pode ser extinto o resiacuteduo supre essa necessidaderdquo

Esse meacutetodo tambeacutem eacute economicamente mais viaacutevel O resiacuteduo de papel custa R$ 0014kg uacutemido e R$ 002kg seco de acordo com um levantamento de 2012 feito por uma empresa especia-lizada Jaacute o preccedilo do calcaacuterio eacute de R$ 0130kg Aleacutem disso o gasto para tratamento e envio das aparas aos aterros ndash que varia de R$ 006kg a R$ 0130kg ndash iria reduzir-se

Em 2005 uma pesquisa da Universidade de Aveiro Portugal usou 10 do resiacuteduo em argila outra de 2006 realizada na Uni-versidade Federal da Bahia (UFBA) utilizou 20 em argamassa Jaacute a de Daros foi feita em ceracircmica porque de acordo com ele eacute uma produccedilatildeo ldquoem larga escala e satildeo produtos mais naturais entatildeo eacute mais faacutecil de colocar nesse setorrdquo

A pesquisa foi desenvolvida em laboratoacuterio mas Daros pretende expandir o projeto A ideia foi oferecida a algumas induacutestrias de ceracircmica poreacutem ainda natildeo houve resposta positiva ldquoSempre haacute alguma resistecircncia porque eacute uma novidade uma inovaccedilatildeordquo afirma o pesquisador

Santa Catarina eacute o maior produtor brasileiro de ceracircmicas mo-noporosas em relaccedilatildeo a papel e celulose o estado representa 81 da induacutestria nacional O Brasil tem a quarta maior produ-ccedilatildeo mundial de celulose e a nona de papel

8

ldquoMuito amor pela Universidaderdquo Assim com poucas pala-vras Ilse Scherer-Warren explica por que adiou o dia de se aposentar quase tanto quanto pocircde ldquoQuaserdquo porque trabalhou ateacute bem pouco antes da data de sua aposenta-

doria compulsoacuteria em janeiro de 2014 quando completou 70 anos ldquoDois ou trecircs dias porque achei que natildeo tinha que ser tatildeo precisa assim Se jaacute tivesse mudado a legislaccedilatildeo (ela refere-se ao projeto de lei aprovado no Congresso que altera de 70 para 75 anos a idade de aposentadoria compulsoacuteria para servidores puacuteblicos) eu teria esperado mais Mas atuar como voluntaacuteria daacute mais liberdade posso me dedicar mais ao que gosto mesmordquo diz

No caso de Ilse isso significa estudar movimentos sociais prin-cipalmente agrave frente do Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos So-ciais que ajudou a fundar na UFSC em 1983 Em setembro foi homenageada durante o 17ordm Congresso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em Porto Alegre a mesma onde fez sua gradu-accedilatildeo com o Precircmio Florestan Fernades ndash a distinccedilatildeo foi criada como reconhecimento agrave atuaccedilatildeo de profissionais que contribu-iacuteram para o progresso da Sociologia no Brasil Entre os premia-dos anteriormente estatildeo Fernando Henrique Cardoso Manuel Correia de Andrade Heraldo Pessoa Souto Maior Octaacutevio Ianni Neuma Aguiar Joseacute de Souza Martins Juarez Rubens Brandatildeo Lopes Wilma de Mendonccedila Figueiredo Francisco de Oliveira e Silke Weber

ILSE SCHERER-WARREN

Faacutebio Bianchini

40 anos dedicados a pesquisas sobre movimentos sociais

Perfil

UFSC Ciecircncia

9

Ainda assim prefere falar das atividades e realizaccedilotildees do Nuacute-cleo que de acordo com nuacutemeros de 2013 havia gerado 35 pro-jetos 96 dissertaccedilotildees e teses 29 livros e 69 capiacutetulos de livros (ldquomas acho que eacute maisrdquo avalia) A preocupaccedilatildeo coletiva aparece tambeacutem no final da entrevista depois de falar da aposentadoria a premiaccedilatildeo e sua histoacuteria pessoal Para responder agrave pergunta sobre o que pensa do futuro fala mais do Brasil do que de si proacutepria ldquoSou otimista mas estaacute estranho Para quem viveu a di-tadura ver determinados discursos manipulaccedilotildees e convicccedilotildees poliacuteticas natildeo satildeo nada melhores que as barbaridades que a gente ouvia em 1968 Acho que realmente precisa de muito estu-dordquo Quando diz o nome do paiacutes assim como todas as palavras terminadas em ldquoLrdquo aparece a caracteriacutestica que mais facilmente identifica suas origens no interior do Rio Grande do Sul a pro-nuacutencia da consoante como ldquoLrdquo mudo mesmo jaacute armando para a vogal que natildeo vem natildeo como ldquoUrdquo

Foi em Portatildeo a 43 quilocircmetros de Porto Alegre (estimativa de populaccedilatildeo em 2015 de acordo com o IBGE 33994 pessoas) que ela comeccedilou sua trajetoacuteria acadecircmica na garupa de uma eacutegua Era como aos oito anos percorria os dois quilocircmetros que separavam a pequena propriedade de sua famiacutelia da escola do municiacutepio ldquoEu era pequeninha magrinha e meu pai ficava preocupado se eu fosse a peacute Naquela eacutepoca jaacute tinha uma fas-cinaccedilatildeo muito grande por estudarrdquo relembra No segundo ano comeccedilou a ir a peacute mesmo por conta proacutepria Seus passatempos preferidos eram caminhar pelo campo e brincar de dar aula para alunos imaginaacuterios O pai pequeno agricultor era lideranccedila po-liacutetica local participou da construccedilatildeo da igreja fez parte do anti-go Partido Libertador e depois do Partido Democraacutetico Cristatildeo Nas paacuteginas do jornal que ele assinava encantou-se com as re-flexotildees do pensador jornalista professor criacutetico literaacuterio e liacuteder catoacutelico Alceu Amoroso Lima que escrevia sob o pseudocircnimo Tristatildeo de Ataiacutede ldquoEle era muito humanistardquo recorda

Chegou a ir para o coleacutegio interno ndash por vontade proacutepria para se-guir os passos da irmatilde mais velha (tinha uma irmatilde e sete irmatildeos) ndash e quando terminou o ensino fundamental parou momenta-neamente os estudos formais jaacute que a escola local natildeo tinha o ensino meacutedio (ldquohoje jaacute temrdquo faz questatildeo de destacar) e foi para a cozinha ldquoFiquei nessa dos 12 13 anos ateacute os 17 mas sem esquecer meu sonho Queria algo como Filosofia Psicologia Psi-quiatria Jornalismo ou Literatura por aiacuterdquo Mudou-se para Porto Alegre e foi trabalhar sem remuneraccedilatildeo formal na casa de uma famiacutelia que por sua vez pagava seus estudos Com os livros do irmatildeo mais velho preparou-se para o exame supletivo e pas-sou Tambeacutem do irmatildeo mais velho havia ganhado um manual de Sociologia com o qual havia se identificado e assim fez o ves-tibular da UFRGS para Ciecircncias Sociais que na eacutepoca permitia mais adiante optar pelo curso de Jornalismo Mas natildeo foi o caso

ldquoNas Ciecircncias Sociais senti-me em casardquo explica Entrou no cur-so em 1965 um ano apoacutes o golpe militar quando a repressatildeo jaacute se sentia mas ainda natildeo era tatildeo forte quanto se tornou a partir de 1968 Tatildeo logo aprovada no vestibular tomou uma iniciativa que renderia frutos ainda pintada de caloura foi ateacute a Alianccedila Francesa explicou que tinha interesse em aprender o idioma mas natildeo podia pagar pelo curso e acabou ganhando uma bolsa Participou ativamente do movimento estudantil e foi a muitos protestos e passeatas ldquoQuando nos aproximaacutevamos do centro da cidade a poliacutecia vinha em cima com cavalaria Muitos anos depois fui ao Foacuterum Social Mundial e soacute de ver a cavalaria de novo deu um calafrio Em um deles o que mais me marcou um policial encostou uma arma contra meu peitordquo

O Trabalho de Conclusatildeo de Curso foi sobre Sociologia do Tra-balho Imediatamente comeccedilou o mestrado tambeacutem na UFRGS com o tema de movimentos sociais rurais patronais e campone-ses A essa altura jaacute em 1969 poacutes AI-5 o regime poliacutetico jaacute era bem mais pesado Ao clima pluacutembeo da eacutepoca somava-se para Ilse a carga de aulas da poacutes-graduaccedilatildeo ldquoTinha que bater ponto e tudordquo conta Para aliviar a tensatildeo ela arranjou mais um com-promisso aulas de teatro agrave noite Chegou a participar de uma peccedila infantil mas natildeo levou a carreira dramaacutetica adiante

Em vez disso em 1971 terminado o mestrado comeccedilou a anali-sar as possibilidades para o doutorado A essa altura sabia que queria sair de Porto Alegre conhecer coisas diferentes Procurou entatildeo contato com Fernando Henrique Cardoso que fizera uma palestra na UFRGS chegou a visitaacute-lo em Satildeo Paulo (foi recebi-da primeiramente por Ruth Cardoso) mas ele havia sido apo-sentado compulsoriamente pelo decreto-lei nordm 477 de fevereiro de 1969 Ainda assim indicou-a agrave USP mas a possibilidade de estudar na Europa e de colocar em praacutetica seus anos de estudo do francecircs atraiacuteram-na mais e Ilse comeccedilou a entrar em contato com a Sorbonne na Franccedila mesmo sem saber que tipo de apoio teria ldquoO pessoal perguntava se eu natildeo tinha medo de ir para fora e eu dizia lsquopara fora de quecircrsquo natildeo existia isso de dentro ou fora para mimrdquo enfatiza

Ainda com as possibilidades em aberto foi para a Inglaterra naquele ano enquanto o clima poliacutetico no Brasil endurecia ain-da mais Chegou laacute sem nenhuma indicaccedilatildeo falando pouco do idioma e conseguiu hospedagem na Casa do Brasil na Inglaterra ndash nessa eacutepoca conheceu o futuro marido Foi entatildeo agrave Franccedila e decepcionou-se com o que considerou burocracia excessiva da Sorbonne mas marcou uma entrevista para dali a dois meses com Alain Touraine socioacutelogo francecircs renomado por seus es-critos a respeito de movimentos sociais e da Sociologia de Tra-balho em que cunhou a expressatildeo ldquosociedade poacutes-industrialrdquo No periacuteodo de sua graduaccedilatildeo na UFRGS Touraine jaacute era um dos estudiosos mais discutidos

Ilse levou a seacuterio o conselho da secretaacuteria do professor com quem marcara a entrevista jaacute chegar com o projeto claro e bem--embasado Voltou agrave Inglaterra e pocircs-se a trabalhar nisso ateacute o dia do encontro Levou tambeacutem sua dissertaccedilatildeo de mestrado Funcionou ele gostou da proposta sobre sindicalismo rural e aceitou a nova orientanda na Universidade de Paris X em Nan-terre Conseguiu tambeacutem uma bolsa da Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) Nessa mes-ma eacutepoca Touraine escrevia sua principal obra A produccedilatildeo da sociedade cujos capiacutetulos foram todos discutidos em sala pela turma de que Ilse participava Esse modo de trabalhar em gru-pos conta ela foi uma grande influecircncia em sua vida acadecircmica

Apoacutes concluir o doutorado voltou ao Brasil e em 1974 comeccedilou a dar aulas como horista no Instituto de Filosofia e Ciecircncias So-ciais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) O clima que encontrou no paiacutes era de medo O IFCS receacutem-passara por um processo em que cerca de quarenta professores foram cassados entre eles Darcy Ribeiro ldquoTodo mundo cochichava para falar de poliacutetica meu marido natildeo conseguia entender por que aquilo mas era difiacutecil evitar E como ensinar Sociologia sem falar em classes sociaisrdquo observa Precisava tomar cuidado em sala de aula para natildeo avanccedilar em temas considerados tabus em certo momento foi ldquoaconselhadardquo por telefone a natildeo par-ticipar de um concurso puacuteblico para professora adjunta entre 1975 e 1976 porque poderia haver consequecircncias graves se fosse aprovada preferiu ficar de fora Em outro concurso mais

10

adiante natildeo houve ameaccedila e Ilse passou na seleccedilatildeo curricular para adjunta

Nos sete anos que passou na UFRJ Ilse viveu o periacuteodo da aber-tura poliacutetica e da luta pela anistia Criou grupos de trabalho aju-dou a organizar a poacutes-graduaccedilatildeo em Sociologia na UFRJ e foi a primeira coordenadora da poacutes e do mestrado Entatildeo em 1981 surgiu a oportunidade de vir para a UFSC inicialmente como pro-fessora convidada por iniciativa do professor Silvio Coelho dos Santos que iniciava um grupo interdisciplinar ldquoMas na verdade eu sabia que queria ficar por aqui Deu tudo certo Queria me in-tegrar aqui e me integrei logo me sentia em casa as possibilida-des estavam se abrindordquo lembra Jaacute existia o Novo Sindicalismo com Luis Inaacutecio Lula da Silva como liacuteder os movimentos sociais se reorganizavam dali a poucos anos em 1984 seria fundado oficialmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Um dos primeiros projetos de Ilse na UFSC foi um trabalho sobre desabrigados nas construccedilotildees de barragens assunto para o qual acabou voltando ao longo dos anos Depois de passar os dois primeiros anos em Florianoacutepolis ainda agrave disposiccedilatildeo da UFRJ passou em concurso puacuteblico e tornou-se professora titular na UFSC

Em 1984 durante o VII Encontro Nacional da Associaccedilatildeo Nacio-nal de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Ciecircncias Sociais (Anpocs) apresentou o texto ldquoO caraacuteter dos novos movimentos sociaisrdquo considerado peccedila fundamental para o estabelecimento desta denominaccedilatildeo que abordava ainda o feminismo e o movimento ecoloacutegico Foi incluiacutedo tambeacutem em Uma Revoluccedilatildeo no Cotidiano ndash os novos movimentos sociais na Ameacuterica Latina de 1987 orga-nizado junto com o professor Paulo Krischke tambeacutem da UFSC e lanccedilado pela editora Brasiliense Observou surgir essa nova maneira de associativismo e organizaccedilatildeo nos grupos de periferia

Perfil

de Florianoacutepolis com participaccedilatildeo do padre Vilson Groh ligado desde os anos 1980 agrave Teologia da Libertaccedilatildeo e depois aos mo-vimentos dos Sem-Terra e Sem-Teto

Ilse tambeacutem ajudou a definir os conceitos de rede nesses mo-vimentos sociais brasileiros a partir de sua organizaccedilatildeo mais fluida com trocas de experiecircncia e articulaccedilotildees e diferentes pos-sibilidades de participaccedilatildeo Ela apresentou essa visatildeo no livro Redes de movimentos sociais lanccedilado pela editora Loyola em 1996 Com o tempo construiu uma produccedilatildeo extensa e influen-te Na UFSC participou de todo o processo de implantaccedilatildeo de cotas e poliacuteticas afirmativas ldquoHouve um debate muito acirrado entre intelectuais e sempre surgia o discurso de que os cotistas teriam aproveitamento acadecircmico inferior mas isso acabou sen-do desmentido com os nuacutemeros que mostraram que natildeo havia muita diferenccedila entre eles e os natildeo cotistasrdquo destaca

O Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos Sociais diz surgiu de maneira informal quando ex-alunos demonstraram interes-se em prosseguir debatendo ldquoComeccedilamos a fazer encontros perioacutedicos depois conseguimos uma sala aiacute foi indo Surgi-ram daiacute vaacuterios trabalhos e eacute como eu gosto de fazer as coisas em grupordquo

Conheccedila mais sobre o pensamento de Ilse Scherer-Warren por meio

do livro do qual eacute coorganizadora Movimentos sociais e participaccedilatildeo

editado pela EdUFSC e disponiacutevel para leitura gratuita on-line

11

Como mostrar o que eacute pesquisa a ciecircncia como ela eacute feita quais benefiacutecios ela traz para as pessoas Parece faacutecil mas natildeo eacute Explicar temas agraves vezes complicados de forma que as pessoas entendam - sem cair no sensacionalismo

barato de tabloides e programas pseudocientiacuteficos ndash eacute muito mais difiacutecil do que parece

As pessoas se interessam por ciecircncia A resposta eacute um grande sim Resultado de uma pesquisa feita em 2015 sobre a percep-ccedilatildeo puacuteblica de ciecircncia e tecnologia no Brasil mostrou alguns re-sultados surpreendentes Por exemplo as pessoas acham que ciecircncia eacute uma atividade muito importante e essencial para aju-dar a resolver problemas do paiacutes e do mundo Trecircs quartos dos entrevistados acreditam que a ciecircncia traz mais benefiacutecios que malefiacutecios e mais da metade acredita que cientistas fazem coi-sas uacuteteis agrave humanidade entretanto 90 dos entrevistados natildeo conseguem se lembrar de uma instituiccedilatildeo cientiacutefica ou nome de um cientista brasileiro famoso

O que falta entatildeo Maior oferta de informaccedilatildeo cientiacutefica de qua-lidade Embora uma parcela significativa das pessoas acredite que a internet televisatildeo e jornais divulgam de forma satisfatoacute-ria descobertas cientiacuteficas o problema eacute a quantidade dessas informaccedilotildees que alcanccedila esses meios E infelizmente natildeo po-demos ignorar que muitas destas informaccedilotildees principalmente as veiculadas na internet tecircm qualidade no miacutenimo duvidosa

E quem melhor qualificado para transmitir estas informaccedilotildees que os proacuteprios pesquisadores Aiacute temos outro problema A maioria dos pesquisadores natildeo tem treinamento para transmitir a men-sagem em linguagem que as pessoas entendam Isso nos leva imediatamente agrave necessidade imperiosa de junccedilatildeo de esforccedilos entre pessoas que sabem transmitir a informaccedilatildeo (jornalistas por exemplo) e aquelas que tecircm as informaccedilotildees (pesquisadores e cientistas)

Aiacute entra o jornalismo cientiacutefico e a divulgaccedilatildeo cientiacutefica Infeliz-mente nosso paiacutes natildeo estaacute entre os que fazem boa divulgaccedilatildeo cientiacutefica ndash e natildeo eacute por falta de boa ciecircncia Temos centenas de exemplos de grupos de pesquisa em universidades laboratoacuterios oficiais e empresas que estatildeo trabalhando na fronteira do co-nhecimento em pesquisas de classe mundial Porque isso acon-tece A resposta eacute difiacutecil e pode ter inuacutemeras variaacuteveis Poucos satildeo os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo cientiacutefica permanentes no Brasil E poucos satildeo os jornalistas especializados em divulgaccedilatildeo cien-tiacutefica Em alguns paiacuteses haacute jornalistas e setores de divulgaccedilatildeo de instituiccedilotildees e universidades especializados em levar para o puacuteblico o que acontece em pesquisa nos seus laboratoacuterios Aleacutem de elevar a compreensatildeo do puacuteblico em geral sobre os avanccedilos da ciecircncia essa eacute uma forma importante de prestaccedilatildeo de contas do dinheiro aplicado em ciecircncia e pesquisa

Tamanha eacute a importacircncia atribuiacuteda agrave divulgaccedilatildeo cientiacutefica que o curriacuteculo Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-tiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) agora tem uma aba especiacutefica para que sejam cadastradas as atividades de divulgaccedilatildeo cientiacutefica

Nesse sentido a UFSC deu uma modesta mas significativa con-tribuiccedilatildeo A Propesq manteacutem desde 2014 uma equipe de jo-vens estudantes de jornalismo orientados por profissionais que produziram uma seacuterie de mateacuterias sobre a pesquisa que se faz na UFSC ndash algumas inclusive tendo sido veiculadas pela grande imprensa ndash o que possibilitou levar o conhecimento produzido na Universidade para um nuacutemero ainda maior de pessoas

Este eacute um bom comeccedilo para uma atividade que deve ter caraacuteter permanente A oferta de material de divulgaccedilatildeo de boa quali-dade aumentaraacute a percepccedilatildeo do puacuteblico sobre a relevacircncia e importacircncia da pesquisa cientiacutefica Eacute minha convicccedilatildeo que esta iniciativa deve continuar e ser expandida para tornar-se o Pro-grama de Divulgaccedilatildeo Cientiacutefica da UFSC

CIEcircNCIA SEMCOMPLICACcedilAtildeOJamil Assreuy

Opiniatildeo

Doutor em Ciecircncias Bioloacutegicas (Biofiacutesica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Fez o poacutes-doutorado no Wellcome Research Labs UK Atualmente eacute Professor Associado do Departamento de Farmacologia e Proacute-Reitor de Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina

12

MISSAtildeO

ESPACIALDaniela Caniccedilali

Equipe da UFSC desenvolve sateacutelite que seraacute lanccedilado em 2016

Engenharias

UFSC Ciecircncia

Um cubo com 10 cm de aresta pesando aproximadamente um quilo constituiacutedo de computador de bordo paineacuteis solares bateria e carga uacutetil (dispositivos que exercem funccedilotildees preestabelecidas como fotografar medir a tem-

peratura etc) Essas satildeo as caracteriacutesticas do nanossateacutelite do tipo cubesat que estaacute sendo desenvolvido desde 2012 no proje-to Floripa Sat uma iniciativa de pesquisadores e alunos de dife-rentes cursos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) A previsatildeo de lanccedilamento eacute dezembro de 2016

O Floripa Sat surgiu de forma independente inspirado em ou-tros projetos experimentais do Centro Tecnoloacutegico (CTC) mdash como o BAJA SAE do curso de Engenharia Mecacircnica que se destina a produzir protoacutetipos de veiacuteculos automotivos off-road ldquoExiste aqui na UFSC o BAJA o barco eleacutetrico o carro eleacutetrico Satildeo vaacuterios projetos Pensamos entatildeo em propor o desenvolvimento de um sateacutelite para que os alunos se interessassem e se motivassem tambeacutem pela aacuterea aeroespacialrdquo explica o professor Eduardo Bezerra do Departamento de Engenharia Eleacutetrica e um dos coor-denadores do projeto Outro coordenador professor Kleber Viei-ra de Paiva do curso de Engenharia Aeroespacial (Campus Join-ville) reforccedila que o principal objetivo do projeto eacute educativo ldquoO aluno tem a oportunidade de participar de uma missatildeo espacial completardquo Ao mesmo tempo em que passou a contribuir para a formaccedilatildeo dos estudantes o Floripa Sat tambeacutem deu visibilidade agrave aacuterea aeroespacial ainda recente nas universidades brasileiras O curso da UFSC foi criado em 2009 e eacute uma das uacutenicas seis gra-duaccedilotildees em Engenharia Aeroespacial em todo o paiacutes

Ateacute chegar a sua ldquoversatildeo finalrdquo e ser lanccedilado o sateacutelite passa pelas seguintes etapas anaacutelise de requisitos projeto desen-volvimento integraccedilatildeo e testes Na etapa de levantamento de requisitos satildeo definidas desde as faixas de temperatura que o sateacutelite deve aguentar a velocidade de comunicaccedilatildeo com a Ter-ra ateacute as funccedilotildees que iraacute executar Na etapa de projeto satildeo de-senvolvidas as placas mdash com microprocessadores que mantecircm o sateacutelite em funcionamento mdash um dos diferenciais do Floripa Sat

Enquanto outras universidades utilizam placas prontas na UFSC elas estatildeo sendo desenvolvidas pelos proacuteprios alunos ldquoNoacutes ad-quirimos uma placa da empresa que fabrica um dos melhores modelos de cubesat Mas essa placa vai servir apenas como mo-delo de referecircncia Nosso interesse eacute o desenvolvimento cientiacute-fico poder estudar os circuitos e talvez ateacute desenvolver placas mais eficientesrdquo explica Eduardo

Na etapa de integraccedilatildeo os diversos subsistemas do cubesat satildeo colocados para funcionar em conjunto passando-se entatildeo agrave fase de testes quando o sateacutelite como um todo eacute submetido a um ambiente de voo Apoacutes ser aprovado nos testes chega entatildeo o momento mais esperado a integraccedilatildeo ao veiacuteculo lanccedilador e o lanccedilamento do sateacutelite ldquoA sensaccedilatildeo de colocar um sateacutelite em oacuterbita eacute de muita satisfaccedilatildeo de dever cumprido Eacute algo que deve ser planejado com cuidado pois se qualquer coisa der errado o objetivo final que eacute estabelecer a comunicaccedilatildeo do sateacutelite com a Terra pode natildeo ser atingidordquo explica Kleber O doutoran-do Leonardo Slongo pesquisador do projeto tambeacutem descreve essa etapa como a que gera mais expectativa ldquoSatildeo realizados vaacuterios testes mas ainda assim existe muita apreensatildeo sobre-tudo nos primeiros minutos do lanccedilamentordquo Kleber acrescenta ldquoVocecirc natildeo tem uma segunda chancerdquo

Se a missatildeo for bem-sucedida chega a fase de monitorar as ati-vidades do sateacutelite coletar dados e com essas informaccedilotildees di-vulgar os resultados do trabalho por intermeacutedio de publicaccedilotildees e patentes ldquoO trabalho natildeo acaba no lanccedilamento ele continua Enquanto estiver em oacuterbita os alunos vatildeo estar envolvidos na comunicaccedilatildeo com o sateacuteliterdquo explica Kleber O Floripa Sat seraacute transportado como carga de um sateacutelite de maior porte o Uni-sat-7 (da empresa GAUSS) que por sua vez seraacute acoplado ao foguete Dnepr com data de lanccedilamento prevista para dezem-bro de 2016 na Ruacutessia A integraccedilatildeo final seraacute realizada na Itaacutelia com o acompanhamento de dois membros da equipe da UFSC prioritariamente estudantes

CUBESATO cubesat mdash abreviaccedilatildeo das palavras em inglecircs ldquocuberdquo (cubo) e ldquosatrdquo (sateacutelite) mdash caracteriza-se por sua estrutura simplificada e custo reduzido enquanto para o seu lanccedilamento satildeo gastos aproximadamente 100 mil doacutelares para o de um sateacutelite convencional os custos chegam a 250 milhotildees Os sateacutelites de pequeno porte conhecidos como nanossateacutelites tambeacutem se distinguem pelo alto valor agregado ldquoOs componentes que precisamos adqui-rir para desenvolver uma placa custam cerca de 100 doacutelares Quando fica pronta ela pode ser vendida por 15 mil doacutelaresrdquo afirma o professor Eduardo

O padratildeo cubesat foi desenvolvido em 1999 no contexto da tendecircncia dos nanossateacutelites com o intuito de fomentar a pesquisa universitaacuteria na aacuterea de Engenharia Aeroespacial Seus idealizadores Jordi Puig-Suari e Bob Twi-ggs professores das universidades norte-americanas California Polytechnic State University e Stanford University tinham o propoacutesito de proporcionar aos estudantes de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo a possibilidade de projetar construir testar e operar um sateacutelite semelhante ao Sputnik Os dois pesquisa-dores estaratildeo em Florianoacutepolis no primeiro semestre de 2016 para o evento ldquoII Latin America IAA CubeSat Workshoprdquo organizado pela equipe do pro-jeto Floripa Sat

13

14

Engenharias

PROJETO SERPENSOutro projeto que tem a participaccedilatildeo da UFSC em parceria com outras universidades eacute o Sistema Espacial para a Realizaccedilatildeo de Pesquisas e Experimentos com Nanossateacutelites (Serpens) Coor-denado pela Agecircncia Espacial Brasileira (AEB) como uma ativi-dade do programa Uniespaccedilo o Serpens foi criado em dezembro de 2013 com o objetivo de qualificar a pesquisa acadecircmica na aacuterea Ao longo dos anos estudantes dos cursos de Engenha-ria Aeroespacial do paiacutes teratildeo a oportunidade de aplicar a teo-ria na praacutetica participando do desenvolvimento e lanccedilamento de cubesats O primeiro o Serpens I foi lanccedilado em agosto de 2015 rumo agrave Estaccedilatildeo Espacial Internacional (ISS) e colocado em oacuterbita no dia 17 de setembro Aleacutem da UFSC quatro instituiccedilotildees brasileiras participam do projeto Serpens Universidade de Bra-siacutelia (UnB) Universidade Federal do ABC (UFABC) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Instituto Federal Fluminense (IFF) Em cada missatildeo uma equipe fica responsaacutevel por liderar o projeto o Serpens I foi liderado pela UnB o Serpens II mdash que jaacute estaacute em desenvolvimento com previsatildeo de lanccedilamento para de-zembro de 2017 mdash estaacute sendo coordenado pela equipe da UFSC

EQUIPEAtualmente integram o Floripa Sat dez professores e trinta alu-nos da graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Engenharia Aeroespacial Engenharia Eleacutetrica Engenharia Eletrocircnica Engenharia Mecacircni-ca Ciecircncia da Computaccedilatildeo e Engenharia de Controle e Automa-ccedilatildeo Aleacutem do projeto Floripa Sat e do Serpens membros da equi-pe jaacute participaram de outras missotildees aeroespaciais Em 2006 quando ainda era estudante de mestrado da UFSC o professor Kleber teve participaccedilatildeo na missatildeo do astronauta brasileiro Mar-cos Pontes como responsaacutevel por um dos experimentos utiliza-do pelo astronauta no ambiente de microgravidade da Estaccedilatildeo Espacial Internacional O doutorando Leonardo Slongo partici-pou junto com Kleber de projetos do Programa Microgravidade da AEB e acompanhou no Centro de Lanccedilamento de Alcacircntara (CLA) no Maranhatildeo o lanccedilamento de foguetes que executaram diferentes experimentos O professor Eduardo Bezerra atua haacute mais de dez anos no projeto e desenvolvimento de sistemas computacionais embarcados para os sateacutelites de grande porte do Programa Espacial Brasileiro

LINHA DO TEMPO

2015

2012

2013

2014

2016

Consolidaccedilatildeo do Floripa Sat como projeto de pesquisa

Levantamento dos requisitos desenvolvimento das primeiras versotildees do Floripa Sat

Definiccedilatildeo dos requisitos da versatildeo a ser lanccedilada organizaccedilatildeo do projeto desenvolvimentotestes do protoacutetipo

Fabricaccedilatildeo do protoacutetipo projeto desenvolvimento do modelo de engenharia e do modelo de voo fabricaccedilatildeo testes

Integraccedilatildeo e testes do modelo de voo testes mecacircnicos e teacutermicos lanccedilamento

Etapas de desenvolvimento do projeto Floripasat

Font

e E

duar

do B

ezer

ra

Kleb

er V

ieira

de

Paiv

aDe

sign

Airt

on J

orda

ni

Text

o D

anie

la C

aniccedil

ali

15

Contribuindo para a difusatildeo do conhecimento a Editora da UFSC (EdUFSC) oferece na forma digital livros de seu acervo impresso acessiacuteveis para leitura gratuita on-line Conheccedila alguns deles

ACERVO DIGITAL EDITORA DA UFSC

EdUFSC

Filosofia da Tecnologia um convite Alberto Cupani

httplufscbrfilosofiatecnologia

O fantaacutestico na Ilha de Santa Catarina

Franklin Cascaes httplufscbrfantasticonailha

Gesto palavra e memoacuteria Luciana Hartmann

httplufscbrgestopalavra

Arquitetura da Cidade Contemporacircnea Gilceacuteia Pesce do Amaral e Silva Lisete Assen de Oliveira (Orgs) httplufscbrarquiteturacidade

Algaravia discursos de naccedilatildeo Rauacutel Antelo

httplufscbralgaravia

Tecnologia de Fabricaccedilatildeo de Revestimentos Ceracircmicos

Antonio P N de Oliveira e Dachamir Hotza httplufscbrrevestimentos

16

Linguiacutestica e Literatura

A ARTE E O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEAREDaniela Caniccedilali

Em 1990 um grupo de cerca de dez pesquisadores se reuacutene em torno de um interesse em comum o dramaturgo inglecircs William Shakespeare Em 1991 nasce em Belo Horizonte (MG) o Centro de Estudos Shakespeareanos (CESh) Entre

aqueles que participaram da fundaccedilatildeo da entidade estava Joseacute Roberto OrsquoShea que acabava de se tornar professor do Depar-tamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras (DLLE) da Universi-dade Federal de Santa Catarina (UFSC) No CESh OrsquoShea foi de-signado para iniciar os projetos de traduccedilatildeo ldquoO grupo entendeu que eram necessaacuterias novas traduccedilotildees Como os padrotildees de fala se modificam mesmo o teatro supostamente claacutessico que eacute o caso de Shakespeare tende a ficar datadordquo explica Segundo o pesquisador as traduccedilotildees que circulavam ateacute o final da deacutecada de 1980 estavam desatualizadas em termos de leacutexico estruturas frasais e referecircncias culturais Estavam portanto distantes do puacuteblico leitor e espectador

Antocircnio e Cleoacutepatra foi a primeira das oito obras do dramatur-go inglecircs que OrsquoShea traduziu desde entatildeo ldquoDecidimos co-meccedilar pelas menos encenadas e menos conhecidas mas que satildeo tambeacutem peccedilas extraordinaacuteriasrdquo Seu trabalho se realiza no acircmbito do projeto de pesquisa ldquoTraduccedilotildees anotadas da drama-turgia shakespearianardquo que tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) e estaacute em atividade ininterrupta haacute 23 anos OrsquoShea eacute o uacutenico tradutor de Shakespeare no Brasil cuja atividade estaacute vinculada a programas de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu O professor tambeacutem traduziu aleacutem das obras de Shakespeare obras sobre Shakespeare De Harold Bloom reconhecido criacutetico literaacuterio de liacutengua inglesa tra-duziu entre outros tiacutetulos Shakespeare a invenccedilatildeo do humano com cerca de 900 paacuteginas

OrsquoShea afirma evitar qualquer relaccedilatildeo de reverecircncia ou mitifica-ccedilatildeo ldquoTento natildeo entrar nessa senatildeo fico paralisado Mas sem sombra de duacutevida como outros grandes autores Shakespeare tem percepccedilotildees graviacutessimas sobre a natureza humanardquo O pro-

fessor explica que uma das preocupaccedilotildees baacutesicas do autor eacute explicitar que a viagem do crescimento do ser humano parte de uma situaccedilatildeo de relativa cegueira autoengano ignoracircncia com relaccedilatildeo a si mesmo e agrave realidade que o cerca e segue na direccedilatildeo do autoconhecimento da percepccedilatildeo de sua relativa importacircn-cia ldquoEssa eacute uma sacaccedilatildeo muito granderdquo Outros temas recor-rentes satildeo o amor romacircntico ndash ldquoquase sempre morre o amor ou morrem os amantesrdquo ndash e a poliacutetica a exposiccedilatildeo do mau gover-nante ndash ldquoaquele que soacute visa ao seu bem proacuteprio e ao de alguns que o cercamrdquo

O TRADUTORA formaccedilatildeo do tradutor demanda muita leitura e escrita ldquoLer e escrever satildeo atividades indissociaacuteveis Eacute preciso ter bastante co-nhecimento da liacutengua de partida e imensuraacutevel conhecimento da liacutengua de chegada Aiacute o ceacuteu eacute o limiterdquo OrsquoShea reforccedila seus argumentos citando o poeta chileno Nicanor Parra ldquoPara tradu-cir Shakespeare y comer pescado cuidado poco se gana con saber ingleacutesrdquo Conhecer a liacutengua e a cultura de chegada portan-to eacute o que permite ao tradutor escrever com fluidez fazendo o texto ldquofuncionarrdquo em seu contexto

O professor lembra que ldquoum tradutor eacute um escritorrdquo apesar de nem sempre ser assim reconhecido ldquoNos uacuteltimos 30 anos o tra-dutor estaacute se tornando mais conhecido mais visiacutevel mais res-peitado Mas ainda haacute um caminho longo a ser trilhadordquo OrsquoShea faz referecircncia agraves criacuteticas literaacuterias ldquoAgraves vezes o criacutetico diz lsquoO au-tor tem um belo estilorsquo Mas o autor natildeo escreveu uma daque-las palavras sequer Nenhuma Todas as palavras que o criacutetico leu foram escritas pelo tradutor Ele elogia o estilo a fluecircncia a linguagem e nem menciona o tradutor como se aquela obra tivesse sido escrita em liacutengua portuguesa Essa eacute a famosa invi-sibilidade do tradutorrdquo

17

UFSC Ciecircncia

TRAJETOacuteRIA ACADEcircMICAComo estudante OrsquoShea nunca frequentou uma universidade brasileira cursou a graduaccedilatildeo o mestrado e o doutorado em di-ferentes instituiccedilotildees dos Estados Unidos (EUA) Seus quatro poacutes--doutorados tambeacutem foram no exterior trecircs deles na Inglaterra e um nos EUA Shakespeare foi o eixo central da pesquisa que desenvolveu na UFSC de 1990 a 2015 Nesse periacuteodo orientou 46 trabalhos entre estaacutegios de poacutes-doutorado teses de dou-torado dissertaccedilotildees de mestrado monografias e trabalhos de conclusatildeo de curso (TCC) ndash a maioria abordou diversos aspec-tos da obra de Shakespeare OrsquoShea se aposentou em marccedilo de 2015 mas segue como professor colaborador dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Inglecircs (PPGI) e em Estudos da Traduccedilatildeo (PPGET) Orienta atualmente dois estudantes de mestrado cin-co de doutorado e um de poacutes-doutorado ldquoOs 25 anos que passei na UFSC natildeo gostaria de ter passado em nenhuma outra univer-sidade do mundo Fiz quatro poacutes-docs dei aula como convida-do em universidades no Brasil e no exterior sempre tive apoio para fazer pesquisa apresentar trabalhos em eventos nacionais e internacionais Natildeo substituiria minha experiecircncia aqui por nenhuma outrardquo

Precircmio JabutiOrsquoShea recebeu uma menccedilatildeo honrosa no Precircmio Jabuti em 2003 pela traduccedilatildeo de Cimbeline rei da Britacircnia Em 2008 sua traduccedilatildeo de O conto do inverno ficou entre as dez finalistas do precircmio na categoria Traduccedilatildeo Literaacuteria

Conheccedila um pouco do trabalho de Joseacute Roberto OrsquoShea por meio

de sua primeira traduccedilatildeo de Shakespeare Antocircnio e Cleoacutepatra

disponiacutevel para leitura gratuita on-line

18

A TRADUCcedilAtildeOShakespeare eacute frequentemente traduzido em prosa A traduccedilatildeo em versos metrificados eacute um dos diferenciais do trabalho de OrsquoShea Somam-se a isso a linguagem atualizada e a inclusatildeo de anotaccedilotildees comentaacuterios paratexto e bibliografia seleciona-da Em todas as obras que publicou haacute um ensaio introdutoacuterio e notas explicativas cobrindo questotildees de texto contexto e en-cenaccedilatildeo Em Antocircnio e Cleoacutepatra por exemplo haacute 365 notas Por isso o resultado final vai aleacutem da traduccedilatildeo em si ldquoEu gosto de pensar que minhas traduccedilotildees volume a volume satildeo ediccedilotildees criacuteticas daquele textordquo

Seu meacutetodo de trabalho se inicia com a escolha do texto base ldquoPara Antocircnio e Cleoacutepatra analisei cinco ediccedilotildees integrais da peccedila todas anotadas e publicadas nos uacuteltimos 50 anos Oxford Cambridge Riverside Penguin Arden Satildeo excelentes ediccedilotildees Mas escolhi a Arden porque a meu ver eacute a que estaacute mais bem resolvida textualmenterdquo Segundo o professor natildeo eacute comum os tradutores terem o cuidado de confrontar a ediccedilatildeo que escolhe-ram com outras cinco ou seis verso a verso como ele faz ldquoCom todo o respeito muitas traduccedilotildees carecem de pesquisa O tradu-tor elege uma boa ediccedilatildeo moderna e se ateacutem agraves anotaccedilotildees e agraves soluccedilotildees textuais dessa uacutenica ediccedilatildeordquo

Uma das principais diferenccedilas entre a traduccedilatildeo em verso e em prosa eacute a questatildeo do espaccedilo ldquoNa prosa se precisar de dez pala-vras para descrever um objeto posso dispor de dez palavras Na poesia metrificada natildeo Trabalho com decassiacutelabos e muitas vezes minha melhor opccedilatildeo semacircntica tem quatro ou cinco siacutela-bas mas natildeo posso usaacute-la Tenho que me contentar com minha segunda terceira melhor opccedilatildeo semacircntica pois natildeo tenho es-paccedilo para escrever por exemplo em-be-ve-ci-men-tordquo OrsquoShea explica que pode haver perdas semacircnticas mas haacute ganhos esteacute-ticos ldquoNatildeo posso ser prolixo natildeo tenho espaccedilo para explicar o texto tenho que ser parcimonioso Afinal trata-se de poesia e poesia eacute sugestiva eacute eliacuteptica ela nos permite imaginarrdquo

Outro desafio na traduccedilatildeo em verso eacute a rima ldquoAs rimas visuais graficamente oacutebvias satildeo mais faacuteceis de traduzir Mas haacute rimas que natildeo repetem padrotildees graacuteficos Vocecirc natildeo vecirc vocecirc ouve Eacute preciso esquecer um pouco a questatildeo graacutefica e ir para o som com flexibilidade pois muitas vezes haacute vaacuterias possibilidades de pronuacutencia Home e come por exemplo podem rimar depende da pronuacutencia do poeta Eu trabalho com dicionaacuterios de rimas natildeo tenho escruacutepulos em dizer issordquo O professor afirma ldquonatildeo ter escruacutepulosrdquo pois haacute certo preconceito entre tradutores quanto ao seu uso Ele conta o que lhe ocorreu em um congresso em Li-verpool ldquoEu falava sobre minhas traduccedilotildees sobre poesia rima-da quando um colega de Oxford perguntou como eu trabalha-va Eu disse lsquoTrabalho com um dicionaacuterio de rimas Aliaacutes com mais de umrsquo Ele riu como quem diz lsquocadecirc o ouvido de poetarsquo Mas em um dos meus dicionaacuterios haacute na capa a citaccedilatildeo lsquo() a salvaccedilatildeo da lavoura poeacuteticarsquo Carlos Drummond de Andrade ldquoSe Drummond diz isso acho que estou liberadordquo argumenta com humor

O professor tambeacutem aponta a importacircncia de identificar as pala-vras que sofreram inversatildeo semacircntica ldquoOs vocaacutebulos que a gen-te natildeo conhece natildeo satildeo um problema Existe pelo menos uma duacutezia de dicionaacuterios que cobrem todo o leacutexico shakespeariano O problema satildeo as palavras que parecem corriqueiras que ain-da satildeo utilizadas mas que sofreram inversatildeo semacircntica hoje significam o oposto do que significavam na primeira deacutecada do seacuteculo XVII Satildeo inuacutemeras dessas palavras Essas eacute que satildeo pe-rigosas podem ser armadilhas para o tradutor Merely que hoje eacute lsquomeramentersquo antes era lsquototalmentersquo Fellow que significa lsquoca-maradarsquo na eacutepoca significava lsquomarginalrsquo lsquocriminosorsquo Rival que hoje significa lsquorivalrsquo na eacutepoca significava lsquoparceirorsquo Identificar isso eacute um desafio vocecirc tem que pesquisar muitordquo OrsquoShea acres-centa que tambeacutem eacute importante ter o maacuteximo de empatia pos-siacutevel com cada personagem ldquoVocecirc natildeo pode tomar partido tem que tentar fazer o melhor possiacutevel a partir do personagem que estaacute falando naquele momento Eacute o que alguns autores chamam de lsquodefender o personagemrsquo O tradutor tambeacutem deve defender o personagemrdquo

Traduccedilotildees Editora Ano

Antocircnio e Cleoacutepatra MandarimSiciliano 1997

Cimbeline rei da Britacircnia Iluminuras 2002

O conto do inverno Iluminuras 2007

Peacutericles priacutencipe de Tiro Iluminuras 2012

O primeiro Hamlet In-Quarto de 1603 Hedra 2013

Os dois primos nobres Iluminuras 2016

Troacuteilo e Creacutessida Editora 34 2016

Timon de Atenas (em progresso)

Linguiacutestica e Literatura

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 2: MISSÃO ESPACIAL

A revista UFSC Ciecircncia apresenta em 24 paacuteginas uma amostra do que a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) produz nos seus mais de 500 grupos de pesquisa em que satildeo desenvolvidos cerca de 25 mil projetos

sobre diferentes temas em todas as aacutereas do conhecimento Satildeo exemplos que demonstram como o diaacutelogo entre jornalistas e pesquisadores eacute fundamental para a responsabilidade social na disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees cientiacuteficas

A publicaccedilatildeo eacute um dos resultados do projeto de incentivo agrave Divulgaccedilatildeo Cientiacutefica criado pela Proacute-Reitoria de Pesquisa (Propesq) e a Diretoria-Geral de Comunicaccedilatildeo (DGC) e que comeccedilou a ser implementado no segundo semestre de 2014 a fim de ampliar o acesso do puacuteblico a informaccedilotildees sobre ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo

Ciecircncia eacute gecircnero de primeira necessidade comunicar-se com alunos ex-alunos pais poliacuteticos governantes liacutederes comu-nitaacuterios e o grande puacuteblico pode ser questatildeo de sobrevivecircncia para a universidade instituiccedilatildeo que por sua proacutepria natureza eacute ambiente propiacutecio agrave pesquisa cientiacutefica

APRESENTACcedilAtildeOMas como traduzir uma linguagem muitas vezes hermeacutetica com sintaxe muito proacutepria e jargatildeo por vezes ininteligiacutevel Como conciliar os requisitos do rigor e da sutileza acadecircmicos com uma linguagem simples direta clara e aacutegil

Problemas de dimensatildeo e significados diferentes exigem esforccedilo cooperado para serem resolvidos apresentar o complexo de maneira simples transformar o singular em plural e oferecer ao puacuteblico informaccedilatildeo com qualidade para por meio da disseminaccedilatildeo do conhecimento contribuir para a formaccedilatildeo cidadatilde

Este eacute o objetivo principal da revista criar para o leitor uma atmosfera em que ele encontre os meios de se informar sobre o mundo e entendecirc-lo para exercer o seu papel poliacutetico e transformador Em meio a comunidades globais a UFSC apresenta continuamente um universo rico em informaccedilotildees Satildeo 55 anos de existecircncia da Universidade e a UFSC Ciecircncia ajuda a contar o futuro desta histoacuteria

Boa leitura

IacuteNDICEEXPEDIENTE

COacuteDIGO QR

Reitora Roselane Neckel

Vice-Reitora Luacutecia Helena Martins Pacheco

Proacute-Reitor de Pesquisa Jamil Assreuy Filho

Proacute-Reitora Adjunta de Pesquisa Heliete Nunes

Diretora-Geral de Comunicaccedilatildeo Tattiana Teixeira

Produccedilatildeo Diretoria-Geral de Comunicaccedilatildeo(48) 3721-4081 | dgcgrcontatoufscbr

EdiccedilatildeoAlita Diana Artecircmio Reinaldo de Souza e Tattiana Teixeira

Reportagem Alita Diana Caetano Machado Daniela Caniccedilali e Fabio Bianchini

Estagiaacuterios de Jornalismo Ana Carolina Prieto Camila Geraldo Gabriel Volinger e Tamy Dassoler

Colaboraccedilatildeo Jamil Assreuy e Luciana Rassier

FotografiaJair Quint e Henrique Almeida

RevisatildeoClaudio Borrelli

Projeto GraacuteficoAirton Jordani

Distribuiccedilatildeo gratuita | Publicaccedilatildeo semestral | Dezembro2015

UniversidadeUFSC

+UFSCBR

UFSC

tvufscUniversidadeUFSC

wwwufscbr

22A LESTE DO EacuteDENMapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

11CIEcircNCIA SEM COMPLICACcedilAtildeOA importacircncia da divulgaccedilatildeo cientiacutefica e do jornalismo cientiacutefico

16

A ARTE E

O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEARE

4

MUDANCcedilA DE HAacuteBITOTese propotildee atividades para estimular uso de bicicleta

Em vaacuterias mateacuterias da revista o leitor en-contraraacute uma figura como essa aiacute do lado Eacute um coacutedigo QR mais ou menos como um coacutedigo de barras soacute que quadrado Ou seja aleacutem da representaccedilatildeo graacutefica hori-zontal do coacutedigo de barras (em que o leitor identifica a informaccedilatildeo a partir das dife-rentes larguras das barras) trabalha em duas dimensotildees horizontal e vertical Assim consegue armaze-nar uma quantidade muito superior de dados Para usar eacute preci-so ter um celular com cacircmera e um aplicativo que leia o coacutedigo A partir daiacute basta fotografar a imagem com o aplicativo e este faz a conversatildeo e apresenta a informaccedilatildeo colocada no coacutedigo

24 Uma homenagem aos mestres das novelas policiais

12 15Equipe da UFSC desenvolve sateacutelite que seraacute lanccedilado em 2016

Livros do acervo impresso da EdUFSC para leitura on-line

MISSAtildeO

ESPACIALACERVO

DIGITAL

19 20 Urina como alternativa para fertilizantes

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMA

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

8CERAcircMICA SUSTENTAacuteVELO papel na produccedilatildeo de azulejos

ILSE SCHERER-WARREN 40 anos dedicados a pesquisas sobre movimentos sociais6

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUEL

4

Editoria

Joinville foi conhecida como ldquoa cidade das bicicletasrdquo por causa de seus muitos operaacuterios e poucos morros No en-tanto apoacutes os anos 1970 trabalhadores que costumavam pedalar ateacute as empresas trocaram o antigo haacutebito por au-

tomoacuteveis e motocicletas ndash situaccedilatildeo comum nas cidades brasilei-ras Essa foi uma das motivaccedilotildees que levou a pesquisadora Ilca Maria Saldanha Diniz em tese defendida no Programa de Poacutes--Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica (PPGEF) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) a analisar os efeitos que atividades educativas como palestras e viacutedeos podem causar ao incenti-var os funcionaacuterios de uma induacutestria a ir ao trabalho de bicicleta

A pesquisa orientada pela professora Maria de Faacutetima da Sil-va Duarte observou durante seis meses os meios de desloca-mento de 932 funcionaacuterios de uma induacutestria metal-mecacircnica de Joinville Foram elaboradas atividades que consistiam em aulas informativas e praacuteticas apresentaccedilotildees em viacutedeo palestras jo-gos e leitura de cartilhas de seguranccedila ndash tudo elaborado a partir das necessidades do trabalhador As temaacuteticas expostas aos in-dustriaacuterios foram a relaccedilatildeo do uso da bicicleta com o meio am-biente sauacutede itens de seguranccedila necessaacuterios e leis de tracircnsito

Para descobrir os efeitos a pesquisadora montou um Grupo Intervenccedilatildeo (GI) e um Grupo Controle (GC) que apoacutes perdas amostrais no final do estudo contavam com 876 trabalhadores 438 em cada O resultado do estudo foi o aumento de 22 no nuacutemero de funcionaacuterios do GI que passaram a se deslocar de bi-cicleta ldquoNoacutes natildeo tiacutenhamos ideia de quanto aumentaria ou se te-riam alguma resposta agraves atividades Em pesquisas o maacuteximo de mudanccedilas que vimos em programas no Brasil e no exterior por meio de educaccedilatildeo foi de 3 de aumento nos fins desejados Deu muito certo um resultado positivordquo diz Ilca A pesquisadora tambeacutem considerou que pelas interaccedilotildees terem sido realizadas por somente seis meses esses efeitos foram surpreendente

Em outros programas de incentivo ao uso da bicicleta as ativi-dades educativas foram desenvolvidas por um maior periacuteodo de tempo entre 12 e 18 meses

No estudo os trabalhadores foram divididos em os que usavam e os que natildeo usavam bicicleta para se deslocar ateacute a induacutestria A metodologia empregada consistiu em formar grupos de pessoas com interesses e haacutebitos semelhantes e desenvolver atividades especiacuteficas a cada A partir disso em 23 encontros foram apli-cados questionaacuterios para compreender as caracteriacutesticas dos trabalhadores e estimular a forma de transporte ldquoNo processo as pessoas foram classificadas em estaacutegios que dependem do haacutebito que o funcionaacuterio tem de pedalar pois as informaccedilotildees que precisamos dar para que a pessoa mude de comportamento depende da experiecircncia de cada umrdquo explica Ilca

De acordo com a pesquisa eacute necessaacuterio melhorar todo o proces-so educativo no Brasil em relaccedilatildeo agrave bicicleta considerando-se o municiacutepio em que a atividade estaacute sendo aplicada e as pessoas para quem satildeo destinadas as aulas principalmente nas escolas e ambientes de trabalho Na realidade daqueles industriaacuterios foi verificado que as maiores barreiras para escolher o meio de transporte eram o tracircnsito intenso a distacircncia percorrida para chegar ao destino e o clima desfavoraacutevel Tambeacutem foram lista-dos os principais motivos para escolher a bicicleta melhora da sauacutede praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos e proteccedilatildeo ao meio ambiente

Pelos questionaacuterios respondidos foi possiacutevel descobrir que a maioria dos trabalhadores relatou ter ensino meacutedio completo ou curso teacutecnico com renda familiar entre R$ 1080 e R$ 2700 Algumas caracteriacutesticas predominavam nos trabalhadores que mais pedalavam ateacute a induacutestria menor renda residecircncia agrave dis-tacircncia menor ou igual a cinco quilocircmetros menor escolaridade e posse de bicicleta ndash cerca de 72 a tinham

Tese propotildee atividades para estimular uso de bicicleta

4

Ciecircncias da Sauacutede

Camila Geraldo

MUDANCcedilA DE

HAacuteBITO

5

UFSC Ciecircncia

Na opiniatildeo da pesquisadora o que mais influencia o uso da bi-cicleta eacute a ciclovia ldquoEm torno da induacutestria que estudamos havia ciclovia em todos os pontos ciclovia mesmo natildeo somente uma faixa pintada onde se diz que pode passar a bicicleta Hoje as maiores cidades catarinenses ou natildeo tecircm ciclovias ou quando tecircm elas satildeo interrompidas em alguns pontos e natildeo garantem seguranccedila Temos que criar a cultura da infraestrutura cicliacutestica e do respeito ao ciclistardquo completa

5

UFSC Ciecircncia

Um estudo realizado pelo Sesi em 2009 apontou que no estado de Santa Catarina a prevalecircncia do uso da bicicleta no deslo-camento ao trabalho eacute em Joinville com 128 As outras duas cidades catarinenses com maior nuacutemero de pessoas que cos-tumam pedalar ateacute o trabalho satildeo Lages (123) e Blumenau (75) Muitas das informaccedilotildees contidas na tese serviram de subsiacutedio agrave formulaccedilatildeo de um manual para induacutestrias do SenaiSesi que estaacute sendo distribuiacutedo em todo Brasil

Praacutetica de exerciacutecios

Melhora da sauacutede

Proteccedilatildeo ao meio ambiente

Acesso a ciclovias

Mais raacutepido

Residir proacuteximo agrave empresa

Mais barato

Motivos para escolher a bicicletaEm sua tese de doutorado Ilca Diniz elencou as principais razotildees que levam os

industriaacuterios de uma empresa metal-mecacircnica a pedalar ateacute o trabalho

Fonte Ilca Maria Saldanha Diniz Graacutefico Gabriela Fantini Camila Ignaacutecio GeraldoFonte Ilca Maria Saldanha Diniz Design Gabriela Fantini Texto Camila Geraldo

6

Engenharias

CERAcircMICA SUSTENTAacuteVELTamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Aparas de papel satildeo utilizadas na produccedilatildeo de azulejos

UFSC Ciecircncia

7

Um estudo realizado no Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Engenharia Quiacutemica desenvolveu ceracircmica monoporosa tambeacutem conhecida como azulejo com 20 de aparas de papel Para realizar sua dissertaccedilatildeo Rodrigo Daros

sob orientaccedilatildeo do professor Humberto Gracher Riella substituiu parte do calcaacuterio usado na ceracircmica por esse resiacuteduo do papel mais viaacutevel econocircmica e ecologicamente

Utilizar as aparas em ceracircmicas monoporosas eacute uma alternativa com benefiacutecios ambientais pois diminui a quantidade de cal-caacuterio ndash um recurso natildeo renovaacutevel ndash e reaproveita os restos de papel que seriam descartados no ambiente Essa reutilizaccedilatildeo ocorre tambeacutem na correccedilatildeo de solo e na formulaccedilatildeo de cimento no entanto como a induacutestria de papel e celulose produz aparas em grande quantidade a maioria natildeo eacute reaproveitada

Na pesquisa de Daros as ceracircmicas produzidas tiveram uma ab-sorccedilatildeo de 3 a 8 maior do que as sem o resiacuteduo o que signi-fica que a aderecircncia agrave parede seraacute melhor O iacutendice alcanccedilado no estudo se manteacutem dentro do limite que permite classificar a ceracircmica como monoporosa ndash aquela que possui absorccedilatildeo su-perior a 10

Foram utilizados soacute 20 de resiacuteduos de papel na composiccedilatildeo da ceracircmica porque segundo o pesquisador esse seria o valor ideal para atingir o iacutendice padratildeo de absorccedilatildeo de aacutegua Acima de 25 haveria trincas ou quebras durante a queima do azulejo devido agrave retraccedilatildeo da peccedila

O uso das aparas soacute foi possiacutevel porque sua composiccedilatildeo eacute simi-lar agrave do calcaacuterio cuja decomposiccedilatildeo gera oacutexido de caacutelcio que constitui mais de 50 do resiacuteduo De acordo com o pesquisador ldquoo calcaacuterio eacute o ideal mas como eacute algo que pode ser extinto o resiacuteduo supre essa necessidaderdquo

Esse meacutetodo tambeacutem eacute economicamente mais viaacutevel O resiacuteduo de papel custa R$ 0014kg uacutemido e R$ 002kg seco de acordo com um levantamento de 2012 feito por uma empresa especia-lizada Jaacute o preccedilo do calcaacuterio eacute de R$ 0130kg Aleacutem disso o gasto para tratamento e envio das aparas aos aterros ndash que varia de R$ 006kg a R$ 0130kg ndash iria reduzir-se

Em 2005 uma pesquisa da Universidade de Aveiro Portugal usou 10 do resiacuteduo em argila outra de 2006 realizada na Uni-versidade Federal da Bahia (UFBA) utilizou 20 em argamassa Jaacute a de Daros foi feita em ceracircmica porque de acordo com ele eacute uma produccedilatildeo ldquoem larga escala e satildeo produtos mais naturais entatildeo eacute mais faacutecil de colocar nesse setorrdquo

A pesquisa foi desenvolvida em laboratoacuterio mas Daros pretende expandir o projeto A ideia foi oferecida a algumas induacutestrias de ceracircmica poreacutem ainda natildeo houve resposta positiva ldquoSempre haacute alguma resistecircncia porque eacute uma novidade uma inovaccedilatildeordquo afirma o pesquisador

Santa Catarina eacute o maior produtor brasileiro de ceracircmicas mo-noporosas em relaccedilatildeo a papel e celulose o estado representa 81 da induacutestria nacional O Brasil tem a quarta maior produ-ccedilatildeo mundial de celulose e a nona de papel

8

ldquoMuito amor pela Universidaderdquo Assim com poucas pala-vras Ilse Scherer-Warren explica por que adiou o dia de se aposentar quase tanto quanto pocircde ldquoQuaserdquo porque trabalhou ateacute bem pouco antes da data de sua aposenta-

doria compulsoacuteria em janeiro de 2014 quando completou 70 anos ldquoDois ou trecircs dias porque achei que natildeo tinha que ser tatildeo precisa assim Se jaacute tivesse mudado a legislaccedilatildeo (ela refere-se ao projeto de lei aprovado no Congresso que altera de 70 para 75 anos a idade de aposentadoria compulsoacuteria para servidores puacuteblicos) eu teria esperado mais Mas atuar como voluntaacuteria daacute mais liberdade posso me dedicar mais ao que gosto mesmordquo diz

No caso de Ilse isso significa estudar movimentos sociais prin-cipalmente agrave frente do Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos So-ciais que ajudou a fundar na UFSC em 1983 Em setembro foi homenageada durante o 17ordm Congresso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em Porto Alegre a mesma onde fez sua gradu-accedilatildeo com o Precircmio Florestan Fernades ndash a distinccedilatildeo foi criada como reconhecimento agrave atuaccedilatildeo de profissionais que contribu-iacuteram para o progresso da Sociologia no Brasil Entre os premia-dos anteriormente estatildeo Fernando Henrique Cardoso Manuel Correia de Andrade Heraldo Pessoa Souto Maior Octaacutevio Ianni Neuma Aguiar Joseacute de Souza Martins Juarez Rubens Brandatildeo Lopes Wilma de Mendonccedila Figueiredo Francisco de Oliveira e Silke Weber

ILSE SCHERER-WARREN

Faacutebio Bianchini

40 anos dedicados a pesquisas sobre movimentos sociais

Perfil

UFSC Ciecircncia

9

Ainda assim prefere falar das atividades e realizaccedilotildees do Nuacute-cleo que de acordo com nuacutemeros de 2013 havia gerado 35 pro-jetos 96 dissertaccedilotildees e teses 29 livros e 69 capiacutetulos de livros (ldquomas acho que eacute maisrdquo avalia) A preocupaccedilatildeo coletiva aparece tambeacutem no final da entrevista depois de falar da aposentadoria a premiaccedilatildeo e sua histoacuteria pessoal Para responder agrave pergunta sobre o que pensa do futuro fala mais do Brasil do que de si proacutepria ldquoSou otimista mas estaacute estranho Para quem viveu a di-tadura ver determinados discursos manipulaccedilotildees e convicccedilotildees poliacuteticas natildeo satildeo nada melhores que as barbaridades que a gente ouvia em 1968 Acho que realmente precisa de muito estu-dordquo Quando diz o nome do paiacutes assim como todas as palavras terminadas em ldquoLrdquo aparece a caracteriacutestica que mais facilmente identifica suas origens no interior do Rio Grande do Sul a pro-nuacutencia da consoante como ldquoLrdquo mudo mesmo jaacute armando para a vogal que natildeo vem natildeo como ldquoUrdquo

Foi em Portatildeo a 43 quilocircmetros de Porto Alegre (estimativa de populaccedilatildeo em 2015 de acordo com o IBGE 33994 pessoas) que ela comeccedilou sua trajetoacuteria acadecircmica na garupa de uma eacutegua Era como aos oito anos percorria os dois quilocircmetros que separavam a pequena propriedade de sua famiacutelia da escola do municiacutepio ldquoEu era pequeninha magrinha e meu pai ficava preocupado se eu fosse a peacute Naquela eacutepoca jaacute tinha uma fas-cinaccedilatildeo muito grande por estudarrdquo relembra No segundo ano comeccedilou a ir a peacute mesmo por conta proacutepria Seus passatempos preferidos eram caminhar pelo campo e brincar de dar aula para alunos imaginaacuterios O pai pequeno agricultor era lideranccedila po-liacutetica local participou da construccedilatildeo da igreja fez parte do anti-go Partido Libertador e depois do Partido Democraacutetico Cristatildeo Nas paacuteginas do jornal que ele assinava encantou-se com as re-flexotildees do pensador jornalista professor criacutetico literaacuterio e liacuteder catoacutelico Alceu Amoroso Lima que escrevia sob o pseudocircnimo Tristatildeo de Ataiacutede ldquoEle era muito humanistardquo recorda

Chegou a ir para o coleacutegio interno ndash por vontade proacutepria para se-guir os passos da irmatilde mais velha (tinha uma irmatilde e sete irmatildeos) ndash e quando terminou o ensino fundamental parou momenta-neamente os estudos formais jaacute que a escola local natildeo tinha o ensino meacutedio (ldquohoje jaacute temrdquo faz questatildeo de destacar) e foi para a cozinha ldquoFiquei nessa dos 12 13 anos ateacute os 17 mas sem esquecer meu sonho Queria algo como Filosofia Psicologia Psi-quiatria Jornalismo ou Literatura por aiacuterdquo Mudou-se para Porto Alegre e foi trabalhar sem remuneraccedilatildeo formal na casa de uma famiacutelia que por sua vez pagava seus estudos Com os livros do irmatildeo mais velho preparou-se para o exame supletivo e pas-sou Tambeacutem do irmatildeo mais velho havia ganhado um manual de Sociologia com o qual havia se identificado e assim fez o ves-tibular da UFRGS para Ciecircncias Sociais que na eacutepoca permitia mais adiante optar pelo curso de Jornalismo Mas natildeo foi o caso

ldquoNas Ciecircncias Sociais senti-me em casardquo explica Entrou no cur-so em 1965 um ano apoacutes o golpe militar quando a repressatildeo jaacute se sentia mas ainda natildeo era tatildeo forte quanto se tornou a partir de 1968 Tatildeo logo aprovada no vestibular tomou uma iniciativa que renderia frutos ainda pintada de caloura foi ateacute a Alianccedila Francesa explicou que tinha interesse em aprender o idioma mas natildeo podia pagar pelo curso e acabou ganhando uma bolsa Participou ativamente do movimento estudantil e foi a muitos protestos e passeatas ldquoQuando nos aproximaacutevamos do centro da cidade a poliacutecia vinha em cima com cavalaria Muitos anos depois fui ao Foacuterum Social Mundial e soacute de ver a cavalaria de novo deu um calafrio Em um deles o que mais me marcou um policial encostou uma arma contra meu peitordquo

O Trabalho de Conclusatildeo de Curso foi sobre Sociologia do Tra-balho Imediatamente comeccedilou o mestrado tambeacutem na UFRGS com o tema de movimentos sociais rurais patronais e campone-ses A essa altura jaacute em 1969 poacutes AI-5 o regime poliacutetico jaacute era bem mais pesado Ao clima pluacutembeo da eacutepoca somava-se para Ilse a carga de aulas da poacutes-graduaccedilatildeo ldquoTinha que bater ponto e tudordquo conta Para aliviar a tensatildeo ela arranjou mais um com-promisso aulas de teatro agrave noite Chegou a participar de uma peccedila infantil mas natildeo levou a carreira dramaacutetica adiante

Em vez disso em 1971 terminado o mestrado comeccedilou a anali-sar as possibilidades para o doutorado A essa altura sabia que queria sair de Porto Alegre conhecer coisas diferentes Procurou entatildeo contato com Fernando Henrique Cardoso que fizera uma palestra na UFRGS chegou a visitaacute-lo em Satildeo Paulo (foi recebi-da primeiramente por Ruth Cardoso) mas ele havia sido apo-sentado compulsoriamente pelo decreto-lei nordm 477 de fevereiro de 1969 Ainda assim indicou-a agrave USP mas a possibilidade de estudar na Europa e de colocar em praacutetica seus anos de estudo do francecircs atraiacuteram-na mais e Ilse comeccedilou a entrar em contato com a Sorbonne na Franccedila mesmo sem saber que tipo de apoio teria ldquoO pessoal perguntava se eu natildeo tinha medo de ir para fora e eu dizia lsquopara fora de quecircrsquo natildeo existia isso de dentro ou fora para mimrdquo enfatiza

Ainda com as possibilidades em aberto foi para a Inglaterra naquele ano enquanto o clima poliacutetico no Brasil endurecia ain-da mais Chegou laacute sem nenhuma indicaccedilatildeo falando pouco do idioma e conseguiu hospedagem na Casa do Brasil na Inglaterra ndash nessa eacutepoca conheceu o futuro marido Foi entatildeo agrave Franccedila e decepcionou-se com o que considerou burocracia excessiva da Sorbonne mas marcou uma entrevista para dali a dois meses com Alain Touraine socioacutelogo francecircs renomado por seus es-critos a respeito de movimentos sociais e da Sociologia de Tra-balho em que cunhou a expressatildeo ldquosociedade poacutes-industrialrdquo No periacuteodo de sua graduaccedilatildeo na UFRGS Touraine jaacute era um dos estudiosos mais discutidos

Ilse levou a seacuterio o conselho da secretaacuteria do professor com quem marcara a entrevista jaacute chegar com o projeto claro e bem--embasado Voltou agrave Inglaterra e pocircs-se a trabalhar nisso ateacute o dia do encontro Levou tambeacutem sua dissertaccedilatildeo de mestrado Funcionou ele gostou da proposta sobre sindicalismo rural e aceitou a nova orientanda na Universidade de Paris X em Nan-terre Conseguiu tambeacutem uma bolsa da Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) Nessa mes-ma eacutepoca Touraine escrevia sua principal obra A produccedilatildeo da sociedade cujos capiacutetulos foram todos discutidos em sala pela turma de que Ilse participava Esse modo de trabalhar em gru-pos conta ela foi uma grande influecircncia em sua vida acadecircmica

Apoacutes concluir o doutorado voltou ao Brasil e em 1974 comeccedilou a dar aulas como horista no Instituto de Filosofia e Ciecircncias So-ciais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) O clima que encontrou no paiacutes era de medo O IFCS receacutem-passara por um processo em que cerca de quarenta professores foram cassados entre eles Darcy Ribeiro ldquoTodo mundo cochichava para falar de poliacutetica meu marido natildeo conseguia entender por que aquilo mas era difiacutecil evitar E como ensinar Sociologia sem falar em classes sociaisrdquo observa Precisava tomar cuidado em sala de aula para natildeo avanccedilar em temas considerados tabus em certo momento foi ldquoaconselhadardquo por telefone a natildeo par-ticipar de um concurso puacuteblico para professora adjunta entre 1975 e 1976 porque poderia haver consequecircncias graves se fosse aprovada preferiu ficar de fora Em outro concurso mais

10

adiante natildeo houve ameaccedila e Ilse passou na seleccedilatildeo curricular para adjunta

Nos sete anos que passou na UFRJ Ilse viveu o periacuteodo da aber-tura poliacutetica e da luta pela anistia Criou grupos de trabalho aju-dou a organizar a poacutes-graduaccedilatildeo em Sociologia na UFRJ e foi a primeira coordenadora da poacutes e do mestrado Entatildeo em 1981 surgiu a oportunidade de vir para a UFSC inicialmente como pro-fessora convidada por iniciativa do professor Silvio Coelho dos Santos que iniciava um grupo interdisciplinar ldquoMas na verdade eu sabia que queria ficar por aqui Deu tudo certo Queria me in-tegrar aqui e me integrei logo me sentia em casa as possibilida-des estavam se abrindordquo lembra Jaacute existia o Novo Sindicalismo com Luis Inaacutecio Lula da Silva como liacuteder os movimentos sociais se reorganizavam dali a poucos anos em 1984 seria fundado oficialmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Um dos primeiros projetos de Ilse na UFSC foi um trabalho sobre desabrigados nas construccedilotildees de barragens assunto para o qual acabou voltando ao longo dos anos Depois de passar os dois primeiros anos em Florianoacutepolis ainda agrave disposiccedilatildeo da UFRJ passou em concurso puacuteblico e tornou-se professora titular na UFSC

Em 1984 durante o VII Encontro Nacional da Associaccedilatildeo Nacio-nal de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Ciecircncias Sociais (Anpocs) apresentou o texto ldquoO caraacuteter dos novos movimentos sociaisrdquo considerado peccedila fundamental para o estabelecimento desta denominaccedilatildeo que abordava ainda o feminismo e o movimento ecoloacutegico Foi incluiacutedo tambeacutem em Uma Revoluccedilatildeo no Cotidiano ndash os novos movimentos sociais na Ameacuterica Latina de 1987 orga-nizado junto com o professor Paulo Krischke tambeacutem da UFSC e lanccedilado pela editora Brasiliense Observou surgir essa nova maneira de associativismo e organizaccedilatildeo nos grupos de periferia

Perfil

de Florianoacutepolis com participaccedilatildeo do padre Vilson Groh ligado desde os anos 1980 agrave Teologia da Libertaccedilatildeo e depois aos mo-vimentos dos Sem-Terra e Sem-Teto

Ilse tambeacutem ajudou a definir os conceitos de rede nesses mo-vimentos sociais brasileiros a partir de sua organizaccedilatildeo mais fluida com trocas de experiecircncia e articulaccedilotildees e diferentes pos-sibilidades de participaccedilatildeo Ela apresentou essa visatildeo no livro Redes de movimentos sociais lanccedilado pela editora Loyola em 1996 Com o tempo construiu uma produccedilatildeo extensa e influen-te Na UFSC participou de todo o processo de implantaccedilatildeo de cotas e poliacuteticas afirmativas ldquoHouve um debate muito acirrado entre intelectuais e sempre surgia o discurso de que os cotistas teriam aproveitamento acadecircmico inferior mas isso acabou sen-do desmentido com os nuacutemeros que mostraram que natildeo havia muita diferenccedila entre eles e os natildeo cotistasrdquo destaca

O Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos Sociais diz surgiu de maneira informal quando ex-alunos demonstraram interes-se em prosseguir debatendo ldquoComeccedilamos a fazer encontros perioacutedicos depois conseguimos uma sala aiacute foi indo Surgi-ram daiacute vaacuterios trabalhos e eacute como eu gosto de fazer as coisas em grupordquo

Conheccedila mais sobre o pensamento de Ilse Scherer-Warren por meio

do livro do qual eacute coorganizadora Movimentos sociais e participaccedilatildeo

editado pela EdUFSC e disponiacutevel para leitura gratuita on-line

11

Como mostrar o que eacute pesquisa a ciecircncia como ela eacute feita quais benefiacutecios ela traz para as pessoas Parece faacutecil mas natildeo eacute Explicar temas agraves vezes complicados de forma que as pessoas entendam - sem cair no sensacionalismo

barato de tabloides e programas pseudocientiacuteficos ndash eacute muito mais difiacutecil do que parece

As pessoas se interessam por ciecircncia A resposta eacute um grande sim Resultado de uma pesquisa feita em 2015 sobre a percep-ccedilatildeo puacuteblica de ciecircncia e tecnologia no Brasil mostrou alguns re-sultados surpreendentes Por exemplo as pessoas acham que ciecircncia eacute uma atividade muito importante e essencial para aju-dar a resolver problemas do paiacutes e do mundo Trecircs quartos dos entrevistados acreditam que a ciecircncia traz mais benefiacutecios que malefiacutecios e mais da metade acredita que cientistas fazem coi-sas uacuteteis agrave humanidade entretanto 90 dos entrevistados natildeo conseguem se lembrar de uma instituiccedilatildeo cientiacutefica ou nome de um cientista brasileiro famoso

O que falta entatildeo Maior oferta de informaccedilatildeo cientiacutefica de qua-lidade Embora uma parcela significativa das pessoas acredite que a internet televisatildeo e jornais divulgam de forma satisfatoacute-ria descobertas cientiacuteficas o problema eacute a quantidade dessas informaccedilotildees que alcanccedila esses meios E infelizmente natildeo po-demos ignorar que muitas destas informaccedilotildees principalmente as veiculadas na internet tecircm qualidade no miacutenimo duvidosa

E quem melhor qualificado para transmitir estas informaccedilotildees que os proacuteprios pesquisadores Aiacute temos outro problema A maioria dos pesquisadores natildeo tem treinamento para transmitir a men-sagem em linguagem que as pessoas entendam Isso nos leva imediatamente agrave necessidade imperiosa de junccedilatildeo de esforccedilos entre pessoas que sabem transmitir a informaccedilatildeo (jornalistas por exemplo) e aquelas que tecircm as informaccedilotildees (pesquisadores e cientistas)

Aiacute entra o jornalismo cientiacutefico e a divulgaccedilatildeo cientiacutefica Infeliz-mente nosso paiacutes natildeo estaacute entre os que fazem boa divulgaccedilatildeo cientiacutefica ndash e natildeo eacute por falta de boa ciecircncia Temos centenas de exemplos de grupos de pesquisa em universidades laboratoacuterios oficiais e empresas que estatildeo trabalhando na fronteira do co-nhecimento em pesquisas de classe mundial Porque isso acon-tece A resposta eacute difiacutecil e pode ter inuacutemeras variaacuteveis Poucos satildeo os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo cientiacutefica permanentes no Brasil E poucos satildeo os jornalistas especializados em divulgaccedilatildeo cien-tiacutefica Em alguns paiacuteses haacute jornalistas e setores de divulgaccedilatildeo de instituiccedilotildees e universidades especializados em levar para o puacuteblico o que acontece em pesquisa nos seus laboratoacuterios Aleacutem de elevar a compreensatildeo do puacuteblico em geral sobre os avanccedilos da ciecircncia essa eacute uma forma importante de prestaccedilatildeo de contas do dinheiro aplicado em ciecircncia e pesquisa

Tamanha eacute a importacircncia atribuiacuteda agrave divulgaccedilatildeo cientiacutefica que o curriacuteculo Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-tiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) agora tem uma aba especiacutefica para que sejam cadastradas as atividades de divulgaccedilatildeo cientiacutefica

Nesse sentido a UFSC deu uma modesta mas significativa con-tribuiccedilatildeo A Propesq manteacutem desde 2014 uma equipe de jo-vens estudantes de jornalismo orientados por profissionais que produziram uma seacuterie de mateacuterias sobre a pesquisa que se faz na UFSC ndash algumas inclusive tendo sido veiculadas pela grande imprensa ndash o que possibilitou levar o conhecimento produzido na Universidade para um nuacutemero ainda maior de pessoas

Este eacute um bom comeccedilo para uma atividade que deve ter caraacuteter permanente A oferta de material de divulgaccedilatildeo de boa quali-dade aumentaraacute a percepccedilatildeo do puacuteblico sobre a relevacircncia e importacircncia da pesquisa cientiacutefica Eacute minha convicccedilatildeo que esta iniciativa deve continuar e ser expandida para tornar-se o Pro-grama de Divulgaccedilatildeo Cientiacutefica da UFSC

CIEcircNCIA SEMCOMPLICACcedilAtildeOJamil Assreuy

Opiniatildeo

Doutor em Ciecircncias Bioloacutegicas (Biofiacutesica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Fez o poacutes-doutorado no Wellcome Research Labs UK Atualmente eacute Professor Associado do Departamento de Farmacologia e Proacute-Reitor de Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina

12

MISSAtildeO

ESPACIALDaniela Caniccedilali

Equipe da UFSC desenvolve sateacutelite que seraacute lanccedilado em 2016

Engenharias

UFSC Ciecircncia

Um cubo com 10 cm de aresta pesando aproximadamente um quilo constituiacutedo de computador de bordo paineacuteis solares bateria e carga uacutetil (dispositivos que exercem funccedilotildees preestabelecidas como fotografar medir a tem-

peratura etc) Essas satildeo as caracteriacutesticas do nanossateacutelite do tipo cubesat que estaacute sendo desenvolvido desde 2012 no proje-to Floripa Sat uma iniciativa de pesquisadores e alunos de dife-rentes cursos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) A previsatildeo de lanccedilamento eacute dezembro de 2016

O Floripa Sat surgiu de forma independente inspirado em ou-tros projetos experimentais do Centro Tecnoloacutegico (CTC) mdash como o BAJA SAE do curso de Engenharia Mecacircnica que se destina a produzir protoacutetipos de veiacuteculos automotivos off-road ldquoExiste aqui na UFSC o BAJA o barco eleacutetrico o carro eleacutetrico Satildeo vaacuterios projetos Pensamos entatildeo em propor o desenvolvimento de um sateacutelite para que os alunos se interessassem e se motivassem tambeacutem pela aacuterea aeroespacialrdquo explica o professor Eduardo Bezerra do Departamento de Engenharia Eleacutetrica e um dos coor-denadores do projeto Outro coordenador professor Kleber Viei-ra de Paiva do curso de Engenharia Aeroespacial (Campus Join-ville) reforccedila que o principal objetivo do projeto eacute educativo ldquoO aluno tem a oportunidade de participar de uma missatildeo espacial completardquo Ao mesmo tempo em que passou a contribuir para a formaccedilatildeo dos estudantes o Floripa Sat tambeacutem deu visibilidade agrave aacuterea aeroespacial ainda recente nas universidades brasileiras O curso da UFSC foi criado em 2009 e eacute uma das uacutenicas seis gra-duaccedilotildees em Engenharia Aeroespacial em todo o paiacutes

Ateacute chegar a sua ldquoversatildeo finalrdquo e ser lanccedilado o sateacutelite passa pelas seguintes etapas anaacutelise de requisitos projeto desen-volvimento integraccedilatildeo e testes Na etapa de levantamento de requisitos satildeo definidas desde as faixas de temperatura que o sateacutelite deve aguentar a velocidade de comunicaccedilatildeo com a Ter-ra ateacute as funccedilotildees que iraacute executar Na etapa de projeto satildeo de-senvolvidas as placas mdash com microprocessadores que mantecircm o sateacutelite em funcionamento mdash um dos diferenciais do Floripa Sat

Enquanto outras universidades utilizam placas prontas na UFSC elas estatildeo sendo desenvolvidas pelos proacuteprios alunos ldquoNoacutes ad-quirimos uma placa da empresa que fabrica um dos melhores modelos de cubesat Mas essa placa vai servir apenas como mo-delo de referecircncia Nosso interesse eacute o desenvolvimento cientiacute-fico poder estudar os circuitos e talvez ateacute desenvolver placas mais eficientesrdquo explica Eduardo

Na etapa de integraccedilatildeo os diversos subsistemas do cubesat satildeo colocados para funcionar em conjunto passando-se entatildeo agrave fase de testes quando o sateacutelite como um todo eacute submetido a um ambiente de voo Apoacutes ser aprovado nos testes chega entatildeo o momento mais esperado a integraccedilatildeo ao veiacuteculo lanccedilador e o lanccedilamento do sateacutelite ldquoA sensaccedilatildeo de colocar um sateacutelite em oacuterbita eacute de muita satisfaccedilatildeo de dever cumprido Eacute algo que deve ser planejado com cuidado pois se qualquer coisa der errado o objetivo final que eacute estabelecer a comunicaccedilatildeo do sateacutelite com a Terra pode natildeo ser atingidordquo explica Kleber O doutoran-do Leonardo Slongo pesquisador do projeto tambeacutem descreve essa etapa como a que gera mais expectativa ldquoSatildeo realizados vaacuterios testes mas ainda assim existe muita apreensatildeo sobre-tudo nos primeiros minutos do lanccedilamentordquo Kleber acrescenta ldquoVocecirc natildeo tem uma segunda chancerdquo

Se a missatildeo for bem-sucedida chega a fase de monitorar as ati-vidades do sateacutelite coletar dados e com essas informaccedilotildees di-vulgar os resultados do trabalho por intermeacutedio de publicaccedilotildees e patentes ldquoO trabalho natildeo acaba no lanccedilamento ele continua Enquanto estiver em oacuterbita os alunos vatildeo estar envolvidos na comunicaccedilatildeo com o sateacuteliterdquo explica Kleber O Floripa Sat seraacute transportado como carga de um sateacutelite de maior porte o Uni-sat-7 (da empresa GAUSS) que por sua vez seraacute acoplado ao foguete Dnepr com data de lanccedilamento prevista para dezem-bro de 2016 na Ruacutessia A integraccedilatildeo final seraacute realizada na Itaacutelia com o acompanhamento de dois membros da equipe da UFSC prioritariamente estudantes

CUBESATO cubesat mdash abreviaccedilatildeo das palavras em inglecircs ldquocuberdquo (cubo) e ldquosatrdquo (sateacutelite) mdash caracteriza-se por sua estrutura simplificada e custo reduzido enquanto para o seu lanccedilamento satildeo gastos aproximadamente 100 mil doacutelares para o de um sateacutelite convencional os custos chegam a 250 milhotildees Os sateacutelites de pequeno porte conhecidos como nanossateacutelites tambeacutem se distinguem pelo alto valor agregado ldquoOs componentes que precisamos adqui-rir para desenvolver uma placa custam cerca de 100 doacutelares Quando fica pronta ela pode ser vendida por 15 mil doacutelaresrdquo afirma o professor Eduardo

O padratildeo cubesat foi desenvolvido em 1999 no contexto da tendecircncia dos nanossateacutelites com o intuito de fomentar a pesquisa universitaacuteria na aacuterea de Engenharia Aeroespacial Seus idealizadores Jordi Puig-Suari e Bob Twi-ggs professores das universidades norte-americanas California Polytechnic State University e Stanford University tinham o propoacutesito de proporcionar aos estudantes de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo a possibilidade de projetar construir testar e operar um sateacutelite semelhante ao Sputnik Os dois pesquisa-dores estaratildeo em Florianoacutepolis no primeiro semestre de 2016 para o evento ldquoII Latin America IAA CubeSat Workshoprdquo organizado pela equipe do pro-jeto Floripa Sat

13

14

Engenharias

PROJETO SERPENSOutro projeto que tem a participaccedilatildeo da UFSC em parceria com outras universidades eacute o Sistema Espacial para a Realizaccedilatildeo de Pesquisas e Experimentos com Nanossateacutelites (Serpens) Coor-denado pela Agecircncia Espacial Brasileira (AEB) como uma ativi-dade do programa Uniespaccedilo o Serpens foi criado em dezembro de 2013 com o objetivo de qualificar a pesquisa acadecircmica na aacuterea Ao longo dos anos estudantes dos cursos de Engenha-ria Aeroespacial do paiacutes teratildeo a oportunidade de aplicar a teo-ria na praacutetica participando do desenvolvimento e lanccedilamento de cubesats O primeiro o Serpens I foi lanccedilado em agosto de 2015 rumo agrave Estaccedilatildeo Espacial Internacional (ISS) e colocado em oacuterbita no dia 17 de setembro Aleacutem da UFSC quatro instituiccedilotildees brasileiras participam do projeto Serpens Universidade de Bra-siacutelia (UnB) Universidade Federal do ABC (UFABC) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Instituto Federal Fluminense (IFF) Em cada missatildeo uma equipe fica responsaacutevel por liderar o projeto o Serpens I foi liderado pela UnB o Serpens II mdash que jaacute estaacute em desenvolvimento com previsatildeo de lanccedilamento para de-zembro de 2017 mdash estaacute sendo coordenado pela equipe da UFSC

EQUIPEAtualmente integram o Floripa Sat dez professores e trinta alu-nos da graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Engenharia Aeroespacial Engenharia Eleacutetrica Engenharia Eletrocircnica Engenharia Mecacircni-ca Ciecircncia da Computaccedilatildeo e Engenharia de Controle e Automa-ccedilatildeo Aleacutem do projeto Floripa Sat e do Serpens membros da equi-pe jaacute participaram de outras missotildees aeroespaciais Em 2006 quando ainda era estudante de mestrado da UFSC o professor Kleber teve participaccedilatildeo na missatildeo do astronauta brasileiro Mar-cos Pontes como responsaacutevel por um dos experimentos utiliza-do pelo astronauta no ambiente de microgravidade da Estaccedilatildeo Espacial Internacional O doutorando Leonardo Slongo partici-pou junto com Kleber de projetos do Programa Microgravidade da AEB e acompanhou no Centro de Lanccedilamento de Alcacircntara (CLA) no Maranhatildeo o lanccedilamento de foguetes que executaram diferentes experimentos O professor Eduardo Bezerra atua haacute mais de dez anos no projeto e desenvolvimento de sistemas computacionais embarcados para os sateacutelites de grande porte do Programa Espacial Brasileiro

LINHA DO TEMPO

2015

2012

2013

2014

2016

Consolidaccedilatildeo do Floripa Sat como projeto de pesquisa

Levantamento dos requisitos desenvolvimento das primeiras versotildees do Floripa Sat

Definiccedilatildeo dos requisitos da versatildeo a ser lanccedilada organizaccedilatildeo do projeto desenvolvimentotestes do protoacutetipo

Fabricaccedilatildeo do protoacutetipo projeto desenvolvimento do modelo de engenharia e do modelo de voo fabricaccedilatildeo testes

Integraccedilatildeo e testes do modelo de voo testes mecacircnicos e teacutermicos lanccedilamento

Etapas de desenvolvimento do projeto Floripasat

Font

e E

duar

do B

ezer

ra

Kleb

er V

ieira

de

Paiv

aDe

sign

Airt

on J

orda

ni

Text

o D

anie

la C

aniccedil

ali

15

Contribuindo para a difusatildeo do conhecimento a Editora da UFSC (EdUFSC) oferece na forma digital livros de seu acervo impresso acessiacuteveis para leitura gratuita on-line Conheccedila alguns deles

ACERVO DIGITAL EDITORA DA UFSC

EdUFSC

Filosofia da Tecnologia um convite Alberto Cupani

httplufscbrfilosofiatecnologia

O fantaacutestico na Ilha de Santa Catarina

Franklin Cascaes httplufscbrfantasticonailha

Gesto palavra e memoacuteria Luciana Hartmann

httplufscbrgestopalavra

Arquitetura da Cidade Contemporacircnea Gilceacuteia Pesce do Amaral e Silva Lisete Assen de Oliveira (Orgs) httplufscbrarquiteturacidade

Algaravia discursos de naccedilatildeo Rauacutel Antelo

httplufscbralgaravia

Tecnologia de Fabricaccedilatildeo de Revestimentos Ceracircmicos

Antonio P N de Oliveira e Dachamir Hotza httplufscbrrevestimentos

16

Linguiacutestica e Literatura

A ARTE E O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEAREDaniela Caniccedilali

Em 1990 um grupo de cerca de dez pesquisadores se reuacutene em torno de um interesse em comum o dramaturgo inglecircs William Shakespeare Em 1991 nasce em Belo Horizonte (MG) o Centro de Estudos Shakespeareanos (CESh) Entre

aqueles que participaram da fundaccedilatildeo da entidade estava Joseacute Roberto OrsquoShea que acabava de se tornar professor do Depar-tamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras (DLLE) da Universi-dade Federal de Santa Catarina (UFSC) No CESh OrsquoShea foi de-signado para iniciar os projetos de traduccedilatildeo ldquoO grupo entendeu que eram necessaacuterias novas traduccedilotildees Como os padrotildees de fala se modificam mesmo o teatro supostamente claacutessico que eacute o caso de Shakespeare tende a ficar datadordquo explica Segundo o pesquisador as traduccedilotildees que circulavam ateacute o final da deacutecada de 1980 estavam desatualizadas em termos de leacutexico estruturas frasais e referecircncias culturais Estavam portanto distantes do puacuteblico leitor e espectador

Antocircnio e Cleoacutepatra foi a primeira das oito obras do dramatur-go inglecircs que OrsquoShea traduziu desde entatildeo ldquoDecidimos co-meccedilar pelas menos encenadas e menos conhecidas mas que satildeo tambeacutem peccedilas extraordinaacuteriasrdquo Seu trabalho se realiza no acircmbito do projeto de pesquisa ldquoTraduccedilotildees anotadas da drama-turgia shakespearianardquo que tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) e estaacute em atividade ininterrupta haacute 23 anos OrsquoShea eacute o uacutenico tradutor de Shakespeare no Brasil cuja atividade estaacute vinculada a programas de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu O professor tambeacutem traduziu aleacutem das obras de Shakespeare obras sobre Shakespeare De Harold Bloom reconhecido criacutetico literaacuterio de liacutengua inglesa tra-duziu entre outros tiacutetulos Shakespeare a invenccedilatildeo do humano com cerca de 900 paacuteginas

OrsquoShea afirma evitar qualquer relaccedilatildeo de reverecircncia ou mitifica-ccedilatildeo ldquoTento natildeo entrar nessa senatildeo fico paralisado Mas sem sombra de duacutevida como outros grandes autores Shakespeare tem percepccedilotildees graviacutessimas sobre a natureza humanardquo O pro-

fessor explica que uma das preocupaccedilotildees baacutesicas do autor eacute explicitar que a viagem do crescimento do ser humano parte de uma situaccedilatildeo de relativa cegueira autoengano ignoracircncia com relaccedilatildeo a si mesmo e agrave realidade que o cerca e segue na direccedilatildeo do autoconhecimento da percepccedilatildeo de sua relativa importacircn-cia ldquoEssa eacute uma sacaccedilatildeo muito granderdquo Outros temas recor-rentes satildeo o amor romacircntico ndash ldquoquase sempre morre o amor ou morrem os amantesrdquo ndash e a poliacutetica a exposiccedilatildeo do mau gover-nante ndash ldquoaquele que soacute visa ao seu bem proacuteprio e ao de alguns que o cercamrdquo

O TRADUTORA formaccedilatildeo do tradutor demanda muita leitura e escrita ldquoLer e escrever satildeo atividades indissociaacuteveis Eacute preciso ter bastante co-nhecimento da liacutengua de partida e imensuraacutevel conhecimento da liacutengua de chegada Aiacute o ceacuteu eacute o limiterdquo OrsquoShea reforccedila seus argumentos citando o poeta chileno Nicanor Parra ldquoPara tradu-cir Shakespeare y comer pescado cuidado poco se gana con saber ingleacutesrdquo Conhecer a liacutengua e a cultura de chegada portan-to eacute o que permite ao tradutor escrever com fluidez fazendo o texto ldquofuncionarrdquo em seu contexto

O professor lembra que ldquoum tradutor eacute um escritorrdquo apesar de nem sempre ser assim reconhecido ldquoNos uacuteltimos 30 anos o tra-dutor estaacute se tornando mais conhecido mais visiacutevel mais res-peitado Mas ainda haacute um caminho longo a ser trilhadordquo OrsquoShea faz referecircncia agraves criacuteticas literaacuterias ldquoAgraves vezes o criacutetico diz lsquoO au-tor tem um belo estilorsquo Mas o autor natildeo escreveu uma daque-las palavras sequer Nenhuma Todas as palavras que o criacutetico leu foram escritas pelo tradutor Ele elogia o estilo a fluecircncia a linguagem e nem menciona o tradutor como se aquela obra tivesse sido escrita em liacutengua portuguesa Essa eacute a famosa invi-sibilidade do tradutorrdquo

17

UFSC Ciecircncia

TRAJETOacuteRIA ACADEcircMICAComo estudante OrsquoShea nunca frequentou uma universidade brasileira cursou a graduaccedilatildeo o mestrado e o doutorado em di-ferentes instituiccedilotildees dos Estados Unidos (EUA) Seus quatro poacutes--doutorados tambeacutem foram no exterior trecircs deles na Inglaterra e um nos EUA Shakespeare foi o eixo central da pesquisa que desenvolveu na UFSC de 1990 a 2015 Nesse periacuteodo orientou 46 trabalhos entre estaacutegios de poacutes-doutorado teses de dou-torado dissertaccedilotildees de mestrado monografias e trabalhos de conclusatildeo de curso (TCC) ndash a maioria abordou diversos aspec-tos da obra de Shakespeare OrsquoShea se aposentou em marccedilo de 2015 mas segue como professor colaborador dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Inglecircs (PPGI) e em Estudos da Traduccedilatildeo (PPGET) Orienta atualmente dois estudantes de mestrado cin-co de doutorado e um de poacutes-doutorado ldquoOs 25 anos que passei na UFSC natildeo gostaria de ter passado em nenhuma outra univer-sidade do mundo Fiz quatro poacutes-docs dei aula como convida-do em universidades no Brasil e no exterior sempre tive apoio para fazer pesquisa apresentar trabalhos em eventos nacionais e internacionais Natildeo substituiria minha experiecircncia aqui por nenhuma outrardquo

Precircmio JabutiOrsquoShea recebeu uma menccedilatildeo honrosa no Precircmio Jabuti em 2003 pela traduccedilatildeo de Cimbeline rei da Britacircnia Em 2008 sua traduccedilatildeo de O conto do inverno ficou entre as dez finalistas do precircmio na categoria Traduccedilatildeo Literaacuteria

Conheccedila um pouco do trabalho de Joseacute Roberto OrsquoShea por meio

de sua primeira traduccedilatildeo de Shakespeare Antocircnio e Cleoacutepatra

disponiacutevel para leitura gratuita on-line

18

A TRADUCcedilAtildeOShakespeare eacute frequentemente traduzido em prosa A traduccedilatildeo em versos metrificados eacute um dos diferenciais do trabalho de OrsquoShea Somam-se a isso a linguagem atualizada e a inclusatildeo de anotaccedilotildees comentaacuterios paratexto e bibliografia seleciona-da Em todas as obras que publicou haacute um ensaio introdutoacuterio e notas explicativas cobrindo questotildees de texto contexto e en-cenaccedilatildeo Em Antocircnio e Cleoacutepatra por exemplo haacute 365 notas Por isso o resultado final vai aleacutem da traduccedilatildeo em si ldquoEu gosto de pensar que minhas traduccedilotildees volume a volume satildeo ediccedilotildees criacuteticas daquele textordquo

Seu meacutetodo de trabalho se inicia com a escolha do texto base ldquoPara Antocircnio e Cleoacutepatra analisei cinco ediccedilotildees integrais da peccedila todas anotadas e publicadas nos uacuteltimos 50 anos Oxford Cambridge Riverside Penguin Arden Satildeo excelentes ediccedilotildees Mas escolhi a Arden porque a meu ver eacute a que estaacute mais bem resolvida textualmenterdquo Segundo o professor natildeo eacute comum os tradutores terem o cuidado de confrontar a ediccedilatildeo que escolhe-ram com outras cinco ou seis verso a verso como ele faz ldquoCom todo o respeito muitas traduccedilotildees carecem de pesquisa O tradu-tor elege uma boa ediccedilatildeo moderna e se ateacutem agraves anotaccedilotildees e agraves soluccedilotildees textuais dessa uacutenica ediccedilatildeordquo

Uma das principais diferenccedilas entre a traduccedilatildeo em verso e em prosa eacute a questatildeo do espaccedilo ldquoNa prosa se precisar de dez pala-vras para descrever um objeto posso dispor de dez palavras Na poesia metrificada natildeo Trabalho com decassiacutelabos e muitas vezes minha melhor opccedilatildeo semacircntica tem quatro ou cinco siacutela-bas mas natildeo posso usaacute-la Tenho que me contentar com minha segunda terceira melhor opccedilatildeo semacircntica pois natildeo tenho es-paccedilo para escrever por exemplo em-be-ve-ci-men-tordquo OrsquoShea explica que pode haver perdas semacircnticas mas haacute ganhos esteacute-ticos ldquoNatildeo posso ser prolixo natildeo tenho espaccedilo para explicar o texto tenho que ser parcimonioso Afinal trata-se de poesia e poesia eacute sugestiva eacute eliacuteptica ela nos permite imaginarrdquo

Outro desafio na traduccedilatildeo em verso eacute a rima ldquoAs rimas visuais graficamente oacutebvias satildeo mais faacuteceis de traduzir Mas haacute rimas que natildeo repetem padrotildees graacuteficos Vocecirc natildeo vecirc vocecirc ouve Eacute preciso esquecer um pouco a questatildeo graacutefica e ir para o som com flexibilidade pois muitas vezes haacute vaacuterias possibilidades de pronuacutencia Home e come por exemplo podem rimar depende da pronuacutencia do poeta Eu trabalho com dicionaacuterios de rimas natildeo tenho escruacutepulos em dizer issordquo O professor afirma ldquonatildeo ter escruacutepulosrdquo pois haacute certo preconceito entre tradutores quanto ao seu uso Ele conta o que lhe ocorreu em um congresso em Li-verpool ldquoEu falava sobre minhas traduccedilotildees sobre poesia rima-da quando um colega de Oxford perguntou como eu trabalha-va Eu disse lsquoTrabalho com um dicionaacuterio de rimas Aliaacutes com mais de umrsquo Ele riu como quem diz lsquocadecirc o ouvido de poetarsquo Mas em um dos meus dicionaacuterios haacute na capa a citaccedilatildeo lsquo() a salvaccedilatildeo da lavoura poeacuteticarsquo Carlos Drummond de Andrade ldquoSe Drummond diz isso acho que estou liberadordquo argumenta com humor

O professor tambeacutem aponta a importacircncia de identificar as pala-vras que sofreram inversatildeo semacircntica ldquoOs vocaacutebulos que a gen-te natildeo conhece natildeo satildeo um problema Existe pelo menos uma duacutezia de dicionaacuterios que cobrem todo o leacutexico shakespeariano O problema satildeo as palavras que parecem corriqueiras que ain-da satildeo utilizadas mas que sofreram inversatildeo semacircntica hoje significam o oposto do que significavam na primeira deacutecada do seacuteculo XVII Satildeo inuacutemeras dessas palavras Essas eacute que satildeo pe-rigosas podem ser armadilhas para o tradutor Merely que hoje eacute lsquomeramentersquo antes era lsquototalmentersquo Fellow que significa lsquoca-maradarsquo na eacutepoca significava lsquomarginalrsquo lsquocriminosorsquo Rival que hoje significa lsquorivalrsquo na eacutepoca significava lsquoparceirorsquo Identificar isso eacute um desafio vocecirc tem que pesquisar muitordquo OrsquoShea acres-centa que tambeacutem eacute importante ter o maacuteximo de empatia pos-siacutevel com cada personagem ldquoVocecirc natildeo pode tomar partido tem que tentar fazer o melhor possiacutevel a partir do personagem que estaacute falando naquele momento Eacute o que alguns autores chamam de lsquodefender o personagemrsquo O tradutor tambeacutem deve defender o personagemrdquo

Traduccedilotildees Editora Ano

Antocircnio e Cleoacutepatra MandarimSiciliano 1997

Cimbeline rei da Britacircnia Iluminuras 2002

O conto do inverno Iluminuras 2007

Peacutericles priacutencipe de Tiro Iluminuras 2012

O primeiro Hamlet In-Quarto de 1603 Hedra 2013

Os dois primos nobres Iluminuras 2016

Troacuteilo e Creacutessida Editora 34 2016

Timon de Atenas (em progresso)

Linguiacutestica e Literatura

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 3: MISSÃO ESPACIAL

IacuteNDICEEXPEDIENTE

COacuteDIGO QR

Reitora Roselane Neckel

Vice-Reitora Luacutecia Helena Martins Pacheco

Proacute-Reitor de Pesquisa Jamil Assreuy Filho

Proacute-Reitora Adjunta de Pesquisa Heliete Nunes

Diretora-Geral de Comunicaccedilatildeo Tattiana Teixeira

Produccedilatildeo Diretoria-Geral de Comunicaccedilatildeo(48) 3721-4081 | dgcgrcontatoufscbr

EdiccedilatildeoAlita Diana Artecircmio Reinaldo de Souza e Tattiana Teixeira

Reportagem Alita Diana Caetano Machado Daniela Caniccedilali e Fabio Bianchini

Estagiaacuterios de Jornalismo Ana Carolina Prieto Camila Geraldo Gabriel Volinger e Tamy Dassoler

Colaboraccedilatildeo Jamil Assreuy e Luciana Rassier

FotografiaJair Quint e Henrique Almeida

RevisatildeoClaudio Borrelli

Projeto GraacuteficoAirton Jordani

Distribuiccedilatildeo gratuita | Publicaccedilatildeo semestral | Dezembro2015

UniversidadeUFSC

+UFSCBR

UFSC

tvufscUniversidadeUFSC

wwwufscbr

22A LESTE DO EacuteDENMapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

11CIEcircNCIA SEM COMPLICACcedilAtildeOA importacircncia da divulgaccedilatildeo cientiacutefica e do jornalismo cientiacutefico

16

A ARTE E

O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEARE

4

MUDANCcedilA DE HAacuteBITOTese propotildee atividades para estimular uso de bicicleta

Em vaacuterias mateacuterias da revista o leitor en-contraraacute uma figura como essa aiacute do lado Eacute um coacutedigo QR mais ou menos como um coacutedigo de barras soacute que quadrado Ou seja aleacutem da representaccedilatildeo graacutefica hori-zontal do coacutedigo de barras (em que o leitor identifica a informaccedilatildeo a partir das dife-rentes larguras das barras) trabalha em duas dimensotildees horizontal e vertical Assim consegue armaze-nar uma quantidade muito superior de dados Para usar eacute preci-so ter um celular com cacircmera e um aplicativo que leia o coacutedigo A partir daiacute basta fotografar a imagem com o aplicativo e este faz a conversatildeo e apresenta a informaccedilatildeo colocada no coacutedigo

24 Uma homenagem aos mestres das novelas policiais

12 15Equipe da UFSC desenvolve sateacutelite que seraacute lanccedilado em 2016

Livros do acervo impresso da EdUFSC para leitura on-line

MISSAtildeO

ESPACIALACERVO

DIGITAL

19 20 Urina como alternativa para fertilizantes

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMA

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

8CERAcircMICA SUSTENTAacuteVELO papel na produccedilatildeo de azulejos

ILSE SCHERER-WARREN 40 anos dedicados a pesquisas sobre movimentos sociais6

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUEL

4

Editoria

Joinville foi conhecida como ldquoa cidade das bicicletasrdquo por causa de seus muitos operaacuterios e poucos morros No en-tanto apoacutes os anos 1970 trabalhadores que costumavam pedalar ateacute as empresas trocaram o antigo haacutebito por au-

tomoacuteveis e motocicletas ndash situaccedilatildeo comum nas cidades brasilei-ras Essa foi uma das motivaccedilotildees que levou a pesquisadora Ilca Maria Saldanha Diniz em tese defendida no Programa de Poacutes--Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica (PPGEF) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) a analisar os efeitos que atividades educativas como palestras e viacutedeos podem causar ao incenti-var os funcionaacuterios de uma induacutestria a ir ao trabalho de bicicleta

A pesquisa orientada pela professora Maria de Faacutetima da Sil-va Duarte observou durante seis meses os meios de desloca-mento de 932 funcionaacuterios de uma induacutestria metal-mecacircnica de Joinville Foram elaboradas atividades que consistiam em aulas informativas e praacuteticas apresentaccedilotildees em viacutedeo palestras jo-gos e leitura de cartilhas de seguranccedila ndash tudo elaborado a partir das necessidades do trabalhador As temaacuteticas expostas aos in-dustriaacuterios foram a relaccedilatildeo do uso da bicicleta com o meio am-biente sauacutede itens de seguranccedila necessaacuterios e leis de tracircnsito

Para descobrir os efeitos a pesquisadora montou um Grupo Intervenccedilatildeo (GI) e um Grupo Controle (GC) que apoacutes perdas amostrais no final do estudo contavam com 876 trabalhadores 438 em cada O resultado do estudo foi o aumento de 22 no nuacutemero de funcionaacuterios do GI que passaram a se deslocar de bi-cicleta ldquoNoacutes natildeo tiacutenhamos ideia de quanto aumentaria ou se te-riam alguma resposta agraves atividades Em pesquisas o maacuteximo de mudanccedilas que vimos em programas no Brasil e no exterior por meio de educaccedilatildeo foi de 3 de aumento nos fins desejados Deu muito certo um resultado positivordquo diz Ilca A pesquisadora tambeacutem considerou que pelas interaccedilotildees terem sido realizadas por somente seis meses esses efeitos foram surpreendente

Em outros programas de incentivo ao uso da bicicleta as ativi-dades educativas foram desenvolvidas por um maior periacuteodo de tempo entre 12 e 18 meses

No estudo os trabalhadores foram divididos em os que usavam e os que natildeo usavam bicicleta para se deslocar ateacute a induacutestria A metodologia empregada consistiu em formar grupos de pessoas com interesses e haacutebitos semelhantes e desenvolver atividades especiacuteficas a cada A partir disso em 23 encontros foram apli-cados questionaacuterios para compreender as caracteriacutesticas dos trabalhadores e estimular a forma de transporte ldquoNo processo as pessoas foram classificadas em estaacutegios que dependem do haacutebito que o funcionaacuterio tem de pedalar pois as informaccedilotildees que precisamos dar para que a pessoa mude de comportamento depende da experiecircncia de cada umrdquo explica Ilca

De acordo com a pesquisa eacute necessaacuterio melhorar todo o proces-so educativo no Brasil em relaccedilatildeo agrave bicicleta considerando-se o municiacutepio em que a atividade estaacute sendo aplicada e as pessoas para quem satildeo destinadas as aulas principalmente nas escolas e ambientes de trabalho Na realidade daqueles industriaacuterios foi verificado que as maiores barreiras para escolher o meio de transporte eram o tracircnsito intenso a distacircncia percorrida para chegar ao destino e o clima desfavoraacutevel Tambeacutem foram lista-dos os principais motivos para escolher a bicicleta melhora da sauacutede praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos e proteccedilatildeo ao meio ambiente

Pelos questionaacuterios respondidos foi possiacutevel descobrir que a maioria dos trabalhadores relatou ter ensino meacutedio completo ou curso teacutecnico com renda familiar entre R$ 1080 e R$ 2700 Algumas caracteriacutesticas predominavam nos trabalhadores que mais pedalavam ateacute a induacutestria menor renda residecircncia agrave dis-tacircncia menor ou igual a cinco quilocircmetros menor escolaridade e posse de bicicleta ndash cerca de 72 a tinham

Tese propotildee atividades para estimular uso de bicicleta

4

Ciecircncias da Sauacutede

Camila Geraldo

MUDANCcedilA DE

HAacuteBITO

5

UFSC Ciecircncia

Na opiniatildeo da pesquisadora o que mais influencia o uso da bi-cicleta eacute a ciclovia ldquoEm torno da induacutestria que estudamos havia ciclovia em todos os pontos ciclovia mesmo natildeo somente uma faixa pintada onde se diz que pode passar a bicicleta Hoje as maiores cidades catarinenses ou natildeo tecircm ciclovias ou quando tecircm elas satildeo interrompidas em alguns pontos e natildeo garantem seguranccedila Temos que criar a cultura da infraestrutura cicliacutestica e do respeito ao ciclistardquo completa

5

UFSC Ciecircncia

Um estudo realizado pelo Sesi em 2009 apontou que no estado de Santa Catarina a prevalecircncia do uso da bicicleta no deslo-camento ao trabalho eacute em Joinville com 128 As outras duas cidades catarinenses com maior nuacutemero de pessoas que cos-tumam pedalar ateacute o trabalho satildeo Lages (123) e Blumenau (75) Muitas das informaccedilotildees contidas na tese serviram de subsiacutedio agrave formulaccedilatildeo de um manual para induacutestrias do SenaiSesi que estaacute sendo distribuiacutedo em todo Brasil

Praacutetica de exerciacutecios

Melhora da sauacutede

Proteccedilatildeo ao meio ambiente

Acesso a ciclovias

Mais raacutepido

Residir proacuteximo agrave empresa

Mais barato

Motivos para escolher a bicicletaEm sua tese de doutorado Ilca Diniz elencou as principais razotildees que levam os

industriaacuterios de uma empresa metal-mecacircnica a pedalar ateacute o trabalho

Fonte Ilca Maria Saldanha Diniz Graacutefico Gabriela Fantini Camila Ignaacutecio GeraldoFonte Ilca Maria Saldanha Diniz Design Gabriela Fantini Texto Camila Geraldo

6

Engenharias

CERAcircMICA SUSTENTAacuteVELTamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Aparas de papel satildeo utilizadas na produccedilatildeo de azulejos

UFSC Ciecircncia

7

Um estudo realizado no Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Engenharia Quiacutemica desenvolveu ceracircmica monoporosa tambeacutem conhecida como azulejo com 20 de aparas de papel Para realizar sua dissertaccedilatildeo Rodrigo Daros

sob orientaccedilatildeo do professor Humberto Gracher Riella substituiu parte do calcaacuterio usado na ceracircmica por esse resiacuteduo do papel mais viaacutevel econocircmica e ecologicamente

Utilizar as aparas em ceracircmicas monoporosas eacute uma alternativa com benefiacutecios ambientais pois diminui a quantidade de cal-caacuterio ndash um recurso natildeo renovaacutevel ndash e reaproveita os restos de papel que seriam descartados no ambiente Essa reutilizaccedilatildeo ocorre tambeacutem na correccedilatildeo de solo e na formulaccedilatildeo de cimento no entanto como a induacutestria de papel e celulose produz aparas em grande quantidade a maioria natildeo eacute reaproveitada

Na pesquisa de Daros as ceracircmicas produzidas tiveram uma ab-sorccedilatildeo de 3 a 8 maior do que as sem o resiacuteduo o que signi-fica que a aderecircncia agrave parede seraacute melhor O iacutendice alcanccedilado no estudo se manteacutem dentro do limite que permite classificar a ceracircmica como monoporosa ndash aquela que possui absorccedilatildeo su-perior a 10

Foram utilizados soacute 20 de resiacuteduos de papel na composiccedilatildeo da ceracircmica porque segundo o pesquisador esse seria o valor ideal para atingir o iacutendice padratildeo de absorccedilatildeo de aacutegua Acima de 25 haveria trincas ou quebras durante a queima do azulejo devido agrave retraccedilatildeo da peccedila

O uso das aparas soacute foi possiacutevel porque sua composiccedilatildeo eacute simi-lar agrave do calcaacuterio cuja decomposiccedilatildeo gera oacutexido de caacutelcio que constitui mais de 50 do resiacuteduo De acordo com o pesquisador ldquoo calcaacuterio eacute o ideal mas como eacute algo que pode ser extinto o resiacuteduo supre essa necessidaderdquo

Esse meacutetodo tambeacutem eacute economicamente mais viaacutevel O resiacuteduo de papel custa R$ 0014kg uacutemido e R$ 002kg seco de acordo com um levantamento de 2012 feito por uma empresa especia-lizada Jaacute o preccedilo do calcaacuterio eacute de R$ 0130kg Aleacutem disso o gasto para tratamento e envio das aparas aos aterros ndash que varia de R$ 006kg a R$ 0130kg ndash iria reduzir-se

Em 2005 uma pesquisa da Universidade de Aveiro Portugal usou 10 do resiacuteduo em argila outra de 2006 realizada na Uni-versidade Federal da Bahia (UFBA) utilizou 20 em argamassa Jaacute a de Daros foi feita em ceracircmica porque de acordo com ele eacute uma produccedilatildeo ldquoem larga escala e satildeo produtos mais naturais entatildeo eacute mais faacutecil de colocar nesse setorrdquo

A pesquisa foi desenvolvida em laboratoacuterio mas Daros pretende expandir o projeto A ideia foi oferecida a algumas induacutestrias de ceracircmica poreacutem ainda natildeo houve resposta positiva ldquoSempre haacute alguma resistecircncia porque eacute uma novidade uma inovaccedilatildeordquo afirma o pesquisador

Santa Catarina eacute o maior produtor brasileiro de ceracircmicas mo-noporosas em relaccedilatildeo a papel e celulose o estado representa 81 da induacutestria nacional O Brasil tem a quarta maior produ-ccedilatildeo mundial de celulose e a nona de papel

8

ldquoMuito amor pela Universidaderdquo Assim com poucas pala-vras Ilse Scherer-Warren explica por que adiou o dia de se aposentar quase tanto quanto pocircde ldquoQuaserdquo porque trabalhou ateacute bem pouco antes da data de sua aposenta-

doria compulsoacuteria em janeiro de 2014 quando completou 70 anos ldquoDois ou trecircs dias porque achei que natildeo tinha que ser tatildeo precisa assim Se jaacute tivesse mudado a legislaccedilatildeo (ela refere-se ao projeto de lei aprovado no Congresso que altera de 70 para 75 anos a idade de aposentadoria compulsoacuteria para servidores puacuteblicos) eu teria esperado mais Mas atuar como voluntaacuteria daacute mais liberdade posso me dedicar mais ao que gosto mesmordquo diz

No caso de Ilse isso significa estudar movimentos sociais prin-cipalmente agrave frente do Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos So-ciais que ajudou a fundar na UFSC em 1983 Em setembro foi homenageada durante o 17ordm Congresso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em Porto Alegre a mesma onde fez sua gradu-accedilatildeo com o Precircmio Florestan Fernades ndash a distinccedilatildeo foi criada como reconhecimento agrave atuaccedilatildeo de profissionais que contribu-iacuteram para o progresso da Sociologia no Brasil Entre os premia-dos anteriormente estatildeo Fernando Henrique Cardoso Manuel Correia de Andrade Heraldo Pessoa Souto Maior Octaacutevio Ianni Neuma Aguiar Joseacute de Souza Martins Juarez Rubens Brandatildeo Lopes Wilma de Mendonccedila Figueiredo Francisco de Oliveira e Silke Weber

ILSE SCHERER-WARREN

Faacutebio Bianchini

40 anos dedicados a pesquisas sobre movimentos sociais

Perfil

UFSC Ciecircncia

9

Ainda assim prefere falar das atividades e realizaccedilotildees do Nuacute-cleo que de acordo com nuacutemeros de 2013 havia gerado 35 pro-jetos 96 dissertaccedilotildees e teses 29 livros e 69 capiacutetulos de livros (ldquomas acho que eacute maisrdquo avalia) A preocupaccedilatildeo coletiva aparece tambeacutem no final da entrevista depois de falar da aposentadoria a premiaccedilatildeo e sua histoacuteria pessoal Para responder agrave pergunta sobre o que pensa do futuro fala mais do Brasil do que de si proacutepria ldquoSou otimista mas estaacute estranho Para quem viveu a di-tadura ver determinados discursos manipulaccedilotildees e convicccedilotildees poliacuteticas natildeo satildeo nada melhores que as barbaridades que a gente ouvia em 1968 Acho que realmente precisa de muito estu-dordquo Quando diz o nome do paiacutes assim como todas as palavras terminadas em ldquoLrdquo aparece a caracteriacutestica que mais facilmente identifica suas origens no interior do Rio Grande do Sul a pro-nuacutencia da consoante como ldquoLrdquo mudo mesmo jaacute armando para a vogal que natildeo vem natildeo como ldquoUrdquo

Foi em Portatildeo a 43 quilocircmetros de Porto Alegre (estimativa de populaccedilatildeo em 2015 de acordo com o IBGE 33994 pessoas) que ela comeccedilou sua trajetoacuteria acadecircmica na garupa de uma eacutegua Era como aos oito anos percorria os dois quilocircmetros que separavam a pequena propriedade de sua famiacutelia da escola do municiacutepio ldquoEu era pequeninha magrinha e meu pai ficava preocupado se eu fosse a peacute Naquela eacutepoca jaacute tinha uma fas-cinaccedilatildeo muito grande por estudarrdquo relembra No segundo ano comeccedilou a ir a peacute mesmo por conta proacutepria Seus passatempos preferidos eram caminhar pelo campo e brincar de dar aula para alunos imaginaacuterios O pai pequeno agricultor era lideranccedila po-liacutetica local participou da construccedilatildeo da igreja fez parte do anti-go Partido Libertador e depois do Partido Democraacutetico Cristatildeo Nas paacuteginas do jornal que ele assinava encantou-se com as re-flexotildees do pensador jornalista professor criacutetico literaacuterio e liacuteder catoacutelico Alceu Amoroso Lima que escrevia sob o pseudocircnimo Tristatildeo de Ataiacutede ldquoEle era muito humanistardquo recorda

Chegou a ir para o coleacutegio interno ndash por vontade proacutepria para se-guir os passos da irmatilde mais velha (tinha uma irmatilde e sete irmatildeos) ndash e quando terminou o ensino fundamental parou momenta-neamente os estudos formais jaacute que a escola local natildeo tinha o ensino meacutedio (ldquohoje jaacute temrdquo faz questatildeo de destacar) e foi para a cozinha ldquoFiquei nessa dos 12 13 anos ateacute os 17 mas sem esquecer meu sonho Queria algo como Filosofia Psicologia Psi-quiatria Jornalismo ou Literatura por aiacuterdquo Mudou-se para Porto Alegre e foi trabalhar sem remuneraccedilatildeo formal na casa de uma famiacutelia que por sua vez pagava seus estudos Com os livros do irmatildeo mais velho preparou-se para o exame supletivo e pas-sou Tambeacutem do irmatildeo mais velho havia ganhado um manual de Sociologia com o qual havia se identificado e assim fez o ves-tibular da UFRGS para Ciecircncias Sociais que na eacutepoca permitia mais adiante optar pelo curso de Jornalismo Mas natildeo foi o caso

ldquoNas Ciecircncias Sociais senti-me em casardquo explica Entrou no cur-so em 1965 um ano apoacutes o golpe militar quando a repressatildeo jaacute se sentia mas ainda natildeo era tatildeo forte quanto se tornou a partir de 1968 Tatildeo logo aprovada no vestibular tomou uma iniciativa que renderia frutos ainda pintada de caloura foi ateacute a Alianccedila Francesa explicou que tinha interesse em aprender o idioma mas natildeo podia pagar pelo curso e acabou ganhando uma bolsa Participou ativamente do movimento estudantil e foi a muitos protestos e passeatas ldquoQuando nos aproximaacutevamos do centro da cidade a poliacutecia vinha em cima com cavalaria Muitos anos depois fui ao Foacuterum Social Mundial e soacute de ver a cavalaria de novo deu um calafrio Em um deles o que mais me marcou um policial encostou uma arma contra meu peitordquo

O Trabalho de Conclusatildeo de Curso foi sobre Sociologia do Tra-balho Imediatamente comeccedilou o mestrado tambeacutem na UFRGS com o tema de movimentos sociais rurais patronais e campone-ses A essa altura jaacute em 1969 poacutes AI-5 o regime poliacutetico jaacute era bem mais pesado Ao clima pluacutembeo da eacutepoca somava-se para Ilse a carga de aulas da poacutes-graduaccedilatildeo ldquoTinha que bater ponto e tudordquo conta Para aliviar a tensatildeo ela arranjou mais um com-promisso aulas de teatro agrave noite Chegou a participar de uma peccedila infantil mas natildeo levou a carreira dramaacutetica adiante

Em vez disso em 1971 terminado o mestrado comeccedilou a anali-sar as possibilidades para o doutorado A essa altura sabia que queria sair de Porto Alegre conhecer coisas diferentes Procurou entatildeo contato com Fernando Henrique Cardoso que fizera uma palestra na UFRGS chegou a visitaacute-lo em Satildeo Paulo (foi recebi-da primeiramente por Ruth Cardoso) mas ele havia sido apo-sentado compulsoriamente pelo decreto-lei nordm 477 de fevereiro de 1969 Ainda assim indicou-a agrave USP mas a possibilidade de estudar na Europa e de colocar em praacutetica seus anos de estudo do francecircs atraiacuteram-na mais e Ilse comeccedilou a entrar em contato com a Sorbonne na Franccedila mesmo sem saber que tipo de apoio teria ldquoO pessoal perguntava se eu natildeo tinha medo de ir para fora e eu dizia lsquopara fora de quecircrsquo natildeo existia isso de dentro ou fora para mimrdquo enfatiza

Ainda com as possibilidades em aberto foi para a Inglaterra naquele ano enquanto o clima poliacutetico no Brasil endurecia ain-da mais Chegou laacute sem nenhuma indicaccedilatildeo falando pouco do idioma e conseguiu hospedagem na Casa do Brasil na Inglaterra ndash nessa eacutepoca conheceu o futuro marido Foi entatildeo agrave Franccedila e decepcionou-se com o que considerou burocracia excessiva da Sorbonne mas marcou uma entrevista para dali a dois meses com Alain Touraine socioacutelogo francecircs renomado por seus es-critos a respeito de movimentos sociais e da Sociologia de Tra-balho em que cunhou a expressatildeo ldquosociedade poacutes-industrialrdquo No periacuteodo de sua graduaccedilatildeo na UFRGS Touraine jaacute era um dos estudiosos mais discutidos

Ilse levou a seacuterio o conselho da secretaacuteria do professor com quem marcara a entrevista jaacute chegar com o projeto claro e bem--embasado Voltou agrave Inglaterra e pocircs-se a trabalhar nisso ateacute o dia do encontro Levou tambeacutem sua dissertaccedilatildeo de mestrado Funcionou ele gostou da proposta sobre sindicalismo rural e aceitou a nova orientanda na Universidade de Paris X em Nan-terre Conseguiu tambeacutem uma bolsa da Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) Nessa mes-ma eacutepoca Touraine escrevia sua principal obra A produccedilatildeo da sociedade cujos capiacutetulos foram todos discutidos em sala pela turma de que Ilse participava Esse modo de trabalhar em gru-pos conta ela foi uma grande influecircncia em sua vida acadecircmica

Apoacutes concluir o doutorado voltou ao Brasil e em 1974 comeccedilou a dar aulas como horista no Instituto de Filosofia e Ciecircncias So-ciais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) O clima que encontrou no paiacutes era de medo O IFCS receacutem-passara por um processo em que cerca de quarenta professores foram cassados entre eles Darcy Ribeiro ldquoTodo mundo cochichava para falar de poliacutetica meu marido natildeo conseguia entender por que aquilo mas era difiacutecil evitar E como ensinar Sociologia sem falar em classes sociaisrdquo observa Precisava tomar cuidado em sala de aula para natildeo avanccedilar em temas considerados tabus em certo momento foi ldquoaconselhadardquo por telefone a natildeo par-ticipar de um concurso puacuteblico para professora adjunta entre 1975 e 1976 porque poderia haver consequecircncias graves se fosse aprovada preferiu ficar de fora Em outro concurso mais

10

adiante natildeo houve ameaccedila e Ilse passou na seleccedilatildeo curricular para adjunta

Nos sete anos que passou na UFRJ Ilse viveu o periacuteodo da aber-tura poliacutetica e da luta pela anistia Criou grupos de trabalho aju-dou a organizar a poacutes-graduaccedilatildeo em Sociologia na UFRJ e foi a primeira coordenadora da poacutes e do mestrado Entatildeo em 1981 surgiu a oportunidade de vir para a UFSC inicialmente como pro-fessora convidada por iniciativa do professor Silvio Coelho dos Santos que iniciava um grupo interdisciplinar ldquoMas na verdade eu sabia que queria ficar por aqui Deu tudo certo Queria me in-tegrar aqui e me integrei logo me sentia em casa as possibilida-des estavam se abrindordquo lembra Jaacute existia o Novo Sindicalismo com Luis Inaacutecio Lula da Silva como liacuteder os movimentos sociais se reorganizavam dali a poucos anos em 1984 seria fundado oficialmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Um dos primeiros projetos de Ilse na UFSC foi um trabalho sobre desabrigados nas construccedilotildees de barragens assunto para o qual acabou voltando ao longo dos anos Depois de passar os dois primeiros anos em Florianoacutepolis ainda agrave disposiccedilatildeo da UFRJ passou em concurso puacuteblico e tornou-se professora titular na UFSC

Em 1984 durante o VII Encontro Nacional da Associaccedilatildeo Nacio-nal de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Ciecircncias Sociais (Anpocs) apresentou o texto ldquoO caraacuteter dos novos movimentos sociaisrdquo considerado peccedila fundamental para o estabelecimento desta denominaccedilatildeo que abordava ainda o feminismo e o movimento ecoloacutegico Foi incluiacutedo tambeacutem em Uma Revoluccedilatildeo no Cotidiano ndash os novos movimentos sociais na Ameacuterica Latina de 1987 orga-nizado junto com o professor Paulo Krischke tambeacutem da UFSC e lanccedilado pela editora Brasiliense Observou surgir essa nova maneira de associativismo e organizaccedilatildeo nos grupos de periferia

Perfil

de Florianoacutepolis com participaccedilatildeo do padre Vilson Groh ligado desde os anos 1980 agrave Teologia da Libertaccedilatildeo e depois aos mo-vimentos dos Sem-Terra e Sem-Teto

Ilse tambeacutem ajudou a definir os conceitos de rede nesses mo-vimentos sociais brasileiros a partir de sua organizaccedilatildeo mais fluida com trocas de experiecircncia e articulaccedilotildees e diferentes pos-sibilidades de participaccedilatildeo Ela apresentou essa visatildeo no livro Redes de movimentos sociais lanccedilado pela editora Loyola em 1996 Com o tempo construiu uma produccedilatildeo extensa e influen-te Na UFSC participou de todo o processo de implantaccedilatildeo de cotas e poliacuteticas afirmativas ldquoHouve um debate muito acirrado entre intelectuais e sempre surgia o discurso de que os cotistas teriam aproveitamento acadecircmico inferior mas isso acabou sen-do desmentido com os nuacutemeros que mostraram que natildeo havia muita diferenccedila entre eles e os natildeo cotistasrdquo destaca

O Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos Sociais diz surgiu de maneira informal quando ex-alunos demonstraram interes-se em prosseguir debatendo ldquoComeccedilamos a fazer encontros perioacutedicos depois conseguimos uma sala aiacute foi indo Surgi-ram daiacute vaacuterios trabalhos e eacute como eu gosto de fazer as coisas em grupordquo

Conheccedila mais sobre o pensamento de Ilse Scherer-Warren por meio

do livro do qual eacute coorganizadora Movimentos sociais e participaccedilatildeo

editado pela EdUFSC e disponiacutevel para leitura gratuita on-line

11

Como mostrar o que eacute pesquisa a ciecircncia como ela eacute feita quais benefiacutecios ela traz para as pessoas Parece faacutecil mas natildeo eacute Explicar temas agraves vezes complicados de forma que as pessoas entendam - sem cair no sensacionalismo

barato de tabloides e programas pseudocientiacuteficos ndash eacute muito mais difiacutecil do que parece

As pessoas se interessam por ciecircncia A resposta eacute um grande sim Resultado de uma pesquisa feita em 2015 sobre a percep-ccedilatildeo puacuteblica de ciecircncia e tecnologia no Brasil mostrou alguns re-sultados surpreendentes Por exemplo as pessoas acham que ciecircncia eacute uma atividade muito importante e essencial para aju-dar a resolver problemas do paiacutes e do mundo Trecircs quartos dos entrevistados acreditam que a ciecircncia traz mais benefiacutecios que malefiacutecios e mais da metade acredita que cientistas fazem coi-sas uacuteteis agrave humanidade entretanto 90 dos entrevistados natildeo conseguem se lembrar de uma instituiccedilatildeo cientiacutefica ou nome de um cientista brasileiro famoso

O que falta entatildeo Maior oferta de informaccedilatildeo cientiacutefica de qua-lidade Embora uma parcela significativa das pessoas acredite que a internet televisatildeo e jornais divulgam de forma satisfatoacute-ria descobertas cientiacuteficas o problema eacute a quantidade dessas informaccedilotildees que alcanccedila esses meios E infelizmente natildeo po-demos ignorar que muitas destas informaccedilotildees principalmente as veiculadas na internet tecircm qualidade no miacutenimo duvidosa

E quem melhor qualificado para transmitir estas informaccedilotildees que os proacuteprios pesquisadores Aiacute temos outro problema A maioria dos pesquisadores natildeo tem treinamento para transmitir a men-sagem em linguagem que as pessoas entendam Isso nos leva imediatamente agrave necessidade imperiosa de junccedilatildeo de esforccedilos entre pessoas que sabem transmitir a informaccedilatildeo (jornalistas por exemplo) e aquelas que tecircm as informaccedilotildees (pesquisadores e cientistas)

Aiacute entra o jornalismo cientiacutefico e a divulgaccedilatildeo cientiacutefica Infeliz-mente nosso paiacutes natildeo estaacute entre os que fazem boa divulgaccedilatildeo cientiacutefica ndash e natildeo eacute por falta de boa ciecircncia Temos centenas de exemplos de grupos de pesquisa em universidades laboratoacuterios oficiais e empresas que estatildeo trabalhando na fronteira do co-nhecimento em pesquisas de classe mundial Porque isso acon-tece A resposta eacute difiacutecil e pode ter inuacutemeras variaacuteveis Poucos satildeo os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo cientiacutefica permanentes no Brasil E poucos satildeo os jornalistas especializados em divulgaccedilatildeo cien-tiacutefica Em alguns paiacuteses haacute jornalistas e setores de divulgaccedilatildeo de instituiccedilotildees e universidades especializados em levar para o puacuteblico o que acontece em pesquisa nos seus laboratoacuterios Aleacutem de elevar a compreensatildeo do puacuteblico em geral sobre os avanccedilos da ciecircncia essa eacute uma forma importante de prestaccedilatildeo de contas do dinheiro aplicado em ciecircncia e pesquisa

Tamanha eacute a importacircncia atribuiacuteda agrave divulgaccedilatildeo cientiacutefica que o curriacuteculo Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-tiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) agora tem uma aba especiacutefica para que sejam cadastradas as atividades de divulgaccedilatildeo cientiacutefica

Nesse sentido a UFSC deu uma modesta mas significativa con-tribuiccedilatildeo A Propesq manteacutem desde 2014 uma equipe de jo-vens estudantes de jornalismo orientados por profissionais que produziram uma seacuterie de mateacuterias sobre a pesquisa que se faz na UFSC ndash algumas inclusive tendo sido veiculadas pela grande imprensa ndash o que possibilitou levar o conhecimento produzido na Universidade para um nuacutemero ainda maior de pessoas

Este eacute um bom comeccedilo para uma atividade que deve ter caraacuteter permanente A oferta de material de divulgaccedilatildeo de boa quali-dade aumentaraacute a percepccedilatildeo do puacuteblico sobre a relevacircncia e importacircncia da pesquisa cientiacutefica Eacute minha convicccedilatildeo que esta iniciativa deve continuar e ser expandida para tornar-se o Pro-grama de Divulgaccedilatildeo Cientiacutefica da UFSC

CIEcircNCIA SEMCOMPLICACcedilAtildeOJamil Assreuy

Opiniatildeo

Doutor em Ciecircncias Bioloacutegicas (Biofiacutesica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Fez o poacutes-doutorado no Wellcome Research Labs UK Atualmente eacute Professor Associado do Departamento de Farmacologia e Proacute-Reitor de Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina

12

MISSAtildeO

ESPACIALDaniela Caniccedilali

Equipe da UFSC desenvolve sateacutelite que seraacute lanccedilado em 2016

Engenharias

UFSC Ciecircncia

Um cubo com 10 cm de aresta pesando aproximadamente um quilo constituiacutedo de computador de bordo paineacuteis solares bateria e carga uacutetil (dispositivos que exercem funccedilotildees preestabelecidas como fotografar medir a tem-

peratura etc) Essas satildeo as caracteriacutesticas do nanossateacutelite do tipo cubesat que estaacute sendo desenvolvido desde 2012 no proje-to Floripa Sat uma iniciativa de pesquisadores e alunos de dife-rentes cursos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) A previsatildeo de lanccedilamento eacute dezembro de 2016

O Floripa Sat surgiu de forma independente inspirado em ou-tros projetos experimentais do Centro Tecnoloacutegico (CTC) mdash como o BAJA SAE do curso de Engenharia Mecacircnica que se destina a produzir protoacutetipos de veiacuteculos automotivos off-road ldquoExiste aqui na UFSC o BAJA o barco eleacutetrico o carro eleacutetrico Satildeo vaacuterios projetos Pensamos entatildeo em propor o desenvolvimento de um sateacutelite para que os alunos se interessassem e se motivassem tambeacutem pela aacuterea aeroespacialrdquo explica o professor Eduardo Bezerra do Departamento de Engenharia Eleacutetrica e um dos coor-denadores do projeto Outro coordenador professor Kleber Viei-ra de Paiva do curso de Engenharia Aeroespacial (Campus Join-ville) reforccedila que o principal objetivo do projeto eacute educativo ldquoO aluno tem a oportunidade de participar de uma missatildeo espacial completardquo Ao mesmo tempo em que passou a contribuir para a formaccedilatildeo dos estudantes o Floripa Sat tambeacutem deu visibilidade agrave aacuterea aeroespacial ainda recente nas universidades brasileiras O curso da UFSC foi criado em 2009 e eacute uma das uacutenicas seis gra-duaccedilotildees em Engenharia Aeroespacial em todo o paiacutes

Ateacute chegar a sua ldquoversatildeo finalrdquo e ser lanccedilado o sateacutelite passa pelas seguintes etapas anaacutelise de requisitos projeto desen-volvimento integraccedilatildeo e testes Na etapa de levantamento de requisitos satildeo definidas desde as faixas de temperatura que o sateacutelite deve aguentar a velocidade de comunicaccedilatildeo com a Ter-ra ateacute as funccedilotildees que iraacute executar Na etapa de projeto satildeo de-senvolvidas as placas mdash com microprocessadores que mantecircm o sateacutelite em funcionamento mdash um dos diferenciais do Floripa Sat

Enquanto outras universidades utilizam placas prontas na UFSC elas estatildeo sendo desenvolvidas pelos proacuteprios alunos ldquoNoacutes ad-quirimos uma placa da empresa que fabrica um dos melhores modelos de cubesat Mas essa placa vai servir apenas como mo-delo de referecircncia Nosso interesse eacute o desenvolvimento cientiacute-fico poder estudar os circuitos e talvez ateacute desenvolver placas mais eficientesrdquo explica Eduardo

Na etapa de integraccedilatildeo os diversos subsistemas do cubesat satildeo colocados para funcionar em conjunto passando-se entatildeo agrave fase de testes quando o sateacutelite como um todo eacute submetido a um ambiente de voo Apoacutes ser aprovado nos testes chega entatildeo o momento mais esperado a integraccedilatildeo ao veiacuteculo lanccedilador e o lanccedilamento do sateacutelite ldquoA sensaccedilatildeo de colocar um sateacutelite em oacuterbita eacute de muita satisfaccedilatildeo de dever cumprido Eacute algo que deve ser planejado com cuidado pois se qualquer coisa der errado o objetivo final que eacute estabelecer a comunicaccedilatildeo do sateacutelite com a Terra pode natildeo ser atingidordquo explica Kleber O doutoran-do Leonardo Slongo pesquisador do projeto tambeacutem descreve essa etapa como a que gera mais expectativa ldquoSatildeo realizados vaacuterios testes mas ainda assim existe muita apreensatildeo sobre-tudo nos primeiros minutos do lanccedilamentordquo Kleber acrescenta ldquoVocecirc natildeo tem uma segunda chancerdquo

Se a missatildeo for bem-sucedida chega a fase de monitorar as ati-vidades do sateacutelite coletar dados e com essas informaccedilotildees di-vulgar os resultados do trabalho por intermeacutedio de publicaccedilotildees e patentes ldquoO trabalho natildeo acaba no lanccedilamento ele continua Enquanto estiver em oacuterbita os alunos vatildeo estar envolvidos na comunicaccedilatildeo com o sateacuteliterdquo explica Kleber O Floripa Sat seraacute transportado como carga de um sateacutelite de maior porte o Uni-sat-7 (da empresa GAUSS) que por sua vez seraacute acoplado ao foguete Dnepr com data de lanccedilamento prevista para dezem-bro de 2016 na Ruacutessia A integraccedilatildeo final seraacute realizada na Itaacutelia com o acompanhamento de dois membros da equipe da UFSC prioritariamente estudantes

CUBESATO cubesat mdash abreviaccedilatildeo das palavras em inglecircs ldquocuberdquo (cubo) e ldquosatrdquo (sateacutelite) mdash caracteriza-se por sua estrutura simplificada e custo reduzido enquanto para o seu lanccedilamento satildeo gastos aproximadamente 100 mil doacutelares para o de um sateacutelite convencional os custos chegam a 250 milhotildees Os sateacutelites de pequeno porte conhecidos como nanossateacutelites tambeacutem se distinguem pelo alto valor agregado ldquoOs componentes que precisamos adqui-rir para desenvolver uma placa custam cerca de 100 doacutelares Quando fica pronta ela pode ser vendida por 15 mil doacutelaresrdquo afirma o professor Eduardo

O padratildeo cubesat foi desenvolvido em 1999 no contexto da tendecircncia dos nanossateacutelites com o intuito de fomentar a pesquisa universitaacuteria na aacuterea de Engenharia Aeroespacial Seus idealizadores Jordi Puig-Suari e Bob Twi-ggs professores das universidades norte-americanas California Polytechnic State University e Stanford University tinham o propoacutesito de proporcionar aos estudantes de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo a possibilidade de projetar construir testar e operar um sateacutelite semelhante ao Sputnik Os dois pesquisa-dores estaratildeo em Florianoacutepolis no primeiro semestre de 2016 para o evento ldquoII Latin America IAA CubeSat Workshoprdquo organizado pela equipe do pro-jeto Floripa Sat

13

14

Engenharias

PROJETO SERPENSOutro projeto que tem a participaccedilatildeo da UFSC em parceria com outras universidades eacute o Sistema Espacial para a Realizaccedilatildeo de Pesquisas e Experimentos com Nanossateacutelites (Serpens) Coor-denado pela Agecircncia Espacial Brasileira (AEB) como uma ativi-dade do programa Uniespaccedilo o Serpens foi criado em dezembro de 2013 com o objetivo de qualificar a pesquisa acadecircmica na aacuterea Ao longo dos anos estudantes dos cursos de Engenha-ria Aeroespacial do paiacutes teratildeo a oportunidade de aplicar a teo-ria na praacutetica participando do desenvolvimento e lanccedilamento de cubesats O primeiro o Serpens I foi lanccedilado em agosto de 2015 rumo agrave Estaccedilatildeo Espacial Internacional (ISS) e colocado em oacuterbita no dia 17 de setembro Aleacutem da UFSC quatro instituiccedilotildees brasileiras participam do projeto Serpens Universidade de Bra-siacutelia (UnB) Universidade Federal do ABC (UFABC) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Instituto Federal Fluminense (IFF) Em cada missatildeo uma equipe fica responsaacutevel por liderar o projeto o Serpens I foi liderado pela UnB o Serpens II mdash que jaacute estaacute em desenvolvimento com previsatildeo de lanccedilamento para de-zembro de 2017 mdash estaacute sendo coordenado pela equipe da UFSC

EQUIPEAtualmente integram o Floripa Sat dez professores e trinta alu-nos da graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Engenharia Aeroespacial Engenharia Eleacutetrica Engenharia Eletrocircnica Engenharia Mecacircni-ca Ciecircncia da Computaccedilatildeo e Engenharia de Controle e Automa-ccedilatildeo Aleacutem do projeto Floripa Sat e do Serpens membros da equi-pe jaacute participaram de outras missotildees aeroespaciais Em 2006 quando ainda era estudante de mestrado da UFSC o professor Kleber teve participaccedilatildeo na missatildeo do astronauta brasileiro Mar-cos Pontes como responsaacutevel por um dos experimentos utiliza-do pelo astronauta no ambiente de microgravidade da Estaccedilatildeo Espacial Internacional O doutorando Leonardo Slongo partici-pou junto com Kleber de projetos do Programa Microgravidade da AEB e acompanhou no Centro de Lanccedilamento de Alcacircntara (CLA) no Maranhatildeo o lanccedilamento de foguetes que executaram diferentes experimentos O professor Eduardo Bezerra atua haacute mais de dez anos no projeto e desenvolvimento de sistemas computacionais embarcados para os sateacutelites de grande porte do Programa Espacial Brasileiro

LINHA DO TEMPO

2015

2012

2013

2014

2016

Consolidaccedilatildeo do Floripa Sat como projeto de pesquisa

Levantamento dos requisitos desenvolvimento das primeiras versotildees do Floripa Sat

Definiccedilatildeo dos requisitos da versatildeo a ser lanccedilada organizaccedilatildeo do projeto desenvolvimentotestes do protoacutetipo

Fabricaccedilatildeo do protoacutetipo projeto desenvolvimento do modelo de engenharia e do modelo de voo fabricaccedilatildeo testes

Integraccedilatildeo e testes do modelo de voo testes mecacircnicos e teacutermicos lanccedilamento

Etapas de desenvolvimento do projeto Floripasat

Font

e E

duar

do B

ezer

ra

Kleb

er V

ieira

de

Paiv

aDe

sign

Airt

on J

orda

ni

Text

o D

anie

la C

aniccedil

ali

15

Contribuindo para a difusatildeo do conhecimento a Editora da UFSC (EdUFSC) oferece na forma digital livros de seu acervo impresso acessiacuteveis para leitura gratuita on-line Conheccedila alguns deles

ACERVO DIGITAL EDITORA DA UFSC

EdUFSC

Filosofia da Tecnologia um convite Alberto Cupani

httplufscbrfilosofiatecnologia

O fantaacutestico na Ilha de Santa Catarina

Franklin Cascaes httplufscbrfantasticonailha

Gesto palavra e memoacuteria Luciana Hartmann

httplufscbrgestopalavra

Arquitetura da Cidade Contemporacircnea Gilceacuteia Pesce do Amaral e Silva Lisete Assen de Oliveira (Orgs) httplufscbrarquiteturacidade

Algaravia discursos de naccedilatildeo Rauacutel Antelo

httplufscbralgaravia

Tecnologia de Fabricaccedilatildeo de Revestimentos Ceracircmicos

Antonio P N de Oliveira e Dachamir Hotza httplufscbrrevestimentos

16

Linguiacutestica e Literatura

A ARTE E O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEAREDaniela Caniccedilali

Em 1990 um grupo de cerca de dez pesquisadores se reuacutene em torno de um interesse em comum o dramaturgo inglecircs William Shakespeare Em 1991 nasce em Belo Horizonte (MG) o Centro de Estudos Shakespeareanos (CESh) Entre

aqueles que participaram da fundaccedilatildeo da entidade estava Joseacute Roberto OrsquoShea que acabava de se tornar professor do Depar-tamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras (DLLE) da Universi-dade Federal de Santa Catarina (UFSC) No CESh OrsquoShea foi de-signado para iniciar os projetos de traduccedilatildeo ldquoO grupo entendeu que eram necessaacuterias novas traduccedilotildees Como os padrotildees de fala se modificam mesmo o teatro supostamente claacutessico que eacute o caso de Shakespeare tende a ficar datadordquo explica Segundo o pesquisador as traduccedilotildees que circulavam ateacute o final da deacutecada de 1980 estavam desatualizadas em termos de leacutexico estruturas frasais e referecircncias culturais Estavam portanto distantes do puacuteblico leitor e espectador

Antocircnio e Cleoacutepatra foi a primeira das oito obras do dramatur-go inglecircs que OrsquoShea traduziu desde entatildeo ldquoDecidimos co-meccedilar pelas menos encenadas e menos conhecidas mas que satildeo tambeacutem peccedilas extraordinaacuteriasrdquo Seu trabalho se realiza no acircmbito do projeto de pesquisa ldquoTraduccedilotildees anotadas da drama-turgia shakespearianardquo que tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) e estaacute em atividade ininterrupta haacute 23 anos OrsquoShea eacute o uacutenico tradutor de Shakespeare no Brasil cuja atividade estaacute vinculada a programas de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu O professor tambeacutem traduziu aleacutem das obras de Shakespeare obras sobre Shakespeare De Harold Bloom reconhecido criacutetico literaacuterio de liacutengua inglesa tra-duziu entre outros tiacutetulos Shakespeare a invenccedilatildeo do humano com cerca de 900 paacuteginas

OrsquoShea afirma evitar qualquer relaccedilatildeo de reverecircncia ou mitifica-ccedilatildeo ldquoTento natildeo entrar nessa senatildeo fico paralisado Mas sem sombra de duacutevida como outros grandes autores Shakespeare tem percepccedilotildees graviacutessimas sobre a natureza humanardquo O pro-

fessor explica que uma das preocupaccedilotildees baacutesicas do autor eacute explicitar que a viagem do crescimento do ser humano parte de uma situaccedilatildeo de relativa cegueira autoengano ignoracircncia com relaccedilatildeo a si mesmo e agrave realidade que o cerca e segue na direccedilatildeo do autoconhecimento da percepccedilatildeo de sua relativa importacircn-cia ldquoEssa eacute uma sacaccedilatildeo muito granderdquo Outros temas recor-rentes satildeo o amor romacircntico ndash ldquoquase sempre morre o amor ou morrem os amantesrdquo ndash e a poliacutetica a exposiccedilatildeo do mau gover-nante ndash ldquoaquele que soacute visa ao seu bem proacuteprio e ao de alguns que o cercamrdquo

O TRADUTORA formaccedilatildeo do tradutor demanda muita leitura e escrita ldquoLer e escrever satildeo atividades indissociaacuteveis Eacute preciso ter bastante co-nhecimento da liacutengua de partida e imensuraacutevel conhecimento da liacutengua de chegada Aiacute o ceacuteu eacute o limiterdquo OrsquoShea reforccedila seus argumentos citando o poeta chileno Nicanor Parra ldquoPara tradu-cir Shakespeare y comer pescado cuidado poco se gana con saber ingleacutesrdquo Conhecer a liacutengua e a cultura de chegada portan-to eacute o que permite ao tradutor escrever com fluidez fazendo o texto ldquofuncionarrdquo em seu contexto

O professor lembra que ldquoum tradutor eacute um escritorrdquo apesar de nem sempre ser assim reconhecido ldquoNos uacuteltimos 30 anos o tra-dutor estaacute se tornando mais conhecido mais visiacutevel mais res-peitado Mas ainda haacute um caminho longo a ser trilhadordquo OrsquoShea faz referecircncia agraves criacuteticas literaacuterias ldquoAgraves vezes o criacutetico diz lsquoO au-tor tem um belo estilorsquo Mas o autor natildeo escreveu uma daque-las palavras sequer Nenhuma Todas as palavras que o criacutetico leu foram escritas pelo tradutor Ele elogia o estilo a fluecircncia a linguagem e nem menciona o tradutor como se aquela obra tivesse sido escrita em liacutengua portuguesa Essa eacute a famosa invi-sibilidade do tradutorrdquo

17

UFSC Ciecircncia

TRAJETOacuteRIA ACADEcircMICAComo estudante OrsquoShea nunca frequentou uma universidade brasileira cursou a graduaccedilatildeo o mestrado e o doutorado em di-ferentes instituiccedilotildees dos Estados Unidos (EUA) Seus quatro poacutes--doutorados tambeacutem foram no exterior trecircs deles na Inglaterra e um nos EUA Shakespeare foi o eixo central da pesquisa que desenvolveu na UFSC de 1990 a 2015 Nesse periacuteodo orientou 46 trabalhos entre estaacutegios de poacutes-doutorado teses de dou-torado dissertaccedilotildees de mestrado monografias e trabalhos de conclusatildeo de curso (TCC) ndash a maioria abordou diversos aspec-tos da obra de Shakespeare OrsquoShea se aposentou em marccedilo de 2015 mas segue como professor colaborador dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Inglecircs (PPGI) e em Estudos da Traduccedilatildeo (PPGET) Orienta atualmente dois estudantes de mestrado cin-co de doutorado e um de poacutes-doutorado ldquoOs 25 anos que passei na UFSC natildeo gostaria de ter passado em nenhuma outra univer-sidade do mundo Fiz quatro poacutes-docs dei aula como convida-do em universidades no Brasil e no exterior sempre tive apoio para fazer pesquisa apresentar trabalhos em eventos nacionais e internacionais Natildeo substituiria minha experiecircncia aqui por nenhuma outrardquo

Precircmio JabutiOrsquoShea recebeu uma menccedilatildeo honrosa no Precircmio Jabuti em 2003 pela traduccedilatildeo de Cimbeline rei da Britacircnia Em 2008 sua traduccedilatildeo de O conto do inverno ficou entre as dez finalistas do precircmio na categoria Traduccedilatildeo Literaacuteria

Conheccedila um pouco do trabalho de Joseacute Roberto OrsquoShea por meio

de sua primeira traduccedilatildeo de Shakespeare Antocircnio e Cleoacutepatra

disponiacutevel para leitura gratuita on-line

18

A TRADUCcedilAtildeOShakespeare eacute frequentemente traduzido em prosa A traduccedilatildeo em versos metrificados eacute um dos diferenciais do trabalho de OrsquoShea Somam-se a isso a linguagem atualizada e a inclusatildeo de anotaccedilotildees comentaacuterios paratexto e bibliografia seleciona-da Em todas as obras que publicou haacute um ensaio introdutoacuterio e notas explicativas cobrindo questotildees de texto contexto e en-cenaccedilatildeo Em Antocircnio e Cleoacutepatra por exemplo haacute 365 notas Por isso o resultado final vai aleacutem da traduccedilatildeo em si ldquoEu gosto de pensar que minhas traduccedilotildees volume a volume satildeo ediccedilotildees criacuteticas daquele textordquo

Seu meacutetodo de trabalho se inicia com a escolha do texto base ldquoPara Antocircnio e Cleoacutepatra analisei cinco ediccedilotildees integrais da peccedila todas anotadas e publicadas nos uacuteltimos 50 anos Oxford Cambridge Riverside Penguin Arden Satildeo excelentes ediccedilotildees Mas escolhi a Arden porque a meu ver eacute a que estaacute mais bem resolvida textualmenterdquo Segundo o professor natildeo eacute comum os tradutores terem o cuidado de confrontar a ediccedilatildeo que escolhe-ram com outras cinco ou seis verso a verso como ele faz ldquoCom todo o respeito muitas traduccedilotildees carecem de pesquisa O tradu-tor elege uma boa ediccedilatildeo moderna e se ateacutem agraves anotaccedilotildees e agraves soluccedilotildees textuais dessa uacutenica ediccedilatildeordquo

Uma das principais diferenccedilas entre a traduccedilatildeo em verso e em prosa eacute a questatildeo do espaccedilo ldquoNa prosa se precisar de dez pala-vras para descrever um objeto posso dispor de dez palavras Na poesia metrificada natildeo Trabalho com decassiacutelabos e muitas vezes minha melhor opccedilatildeo semacircntica tem quatro ou cinco siacutela-bas mas natildeo posso usaacute-la Tenho que me contentar com minha segunda terceira melhor opccedilatildeo semacircntica pois natildeo tenho es-paccedilo para escrever por exemplo em-be-ve-ci-men-tordquo OrsquoShea explica que pode haver perdas semacircnticas mas haacute ganhos esteacute-ticos ldquoNatildeo posso ser prolixo natildeo tenho espaccedilo para explicar o texto tenho que ser parcimonioso Afinal trata-se de poesia e poesia eacute sugestiva eacute eliacuteptica ela nos permite imaginarrdquo

Outro desafio na traduccedilatildeo em verso eacute a rima ldquoAs rimas visuais graficamente oacutebvias satildeo mais faacuteceis de traduzir Mas haacute rimas que natildeo repetem padrotildees graacuteficos Vocecirc natildeo vecirc vocecirc ouve Eacute preciso esquecer um pouco a questatildeo graacutefica e ir para o som com flexibilidade pois muitas vezes haacute vaacuterias possibilidades de pronuacutencia Home e come por exemplo podem rimar depende da pronuacutencia do poeta Eu trabalho com dicionaacuterios de rimas natildeo tenho escruacutepulos em dizer issordquo O professor afirma ldquonatildeo ter escruacutepulosrdquo pois haacute certo preconceito entre tradutores quanto ao seu uso Ele conta o que lhe ocorreu em um congresso em Li-verpool ldquoEu falava sobre minhas traduccedilotildees sobre poesia rima-da quando um colega de Oxford perguntou como eu trabalha-va Eu disse lsquoTrabalho com um dicionaacuterio de rimas Aliaacutes com mais de umrsquo Ele riu como quem diz lsquocadecirc o ouvido de poetarsquo Mas em um dos meus dicionaacuterios haacute na capa a citaccedilatildeo lsquo() a salvaccedilatildeo da lavoura poeacuteticarsquo Carlos Drummond de Andrade ldquoSe Drummond diz isso acho que estou liberadordquo argumenta com humor

O professor tambeacutem aponta a importacircncia de identificar as pala-vras que sofreram inversatildeo semacircntica ldquoOs vocaacutebulos que a gen-te natildeo conhece natildeo satildeo um problema Existe pelo menos uma duacutezia de dicionaacuterios que cobrem todo o leacutexico shakespeariano O problema satildeo as palavras que parecem corriqueiras que ain-da satildeo utilizadas mas que sofreram inversatildeo semacircntica hoje significam o oposto do que significavam na primeira deacutecada do seacuteculo XVII Satildeo inuacutemeras dessas palavras Essas eacute que satildeo pe-rigosas podem ser armadilhas para o tradutor Merely que hoje eacute lsquomeramentersquo antes era lsquototalmentersquo Fellow que significa lsquoca-maradarsquo na eacutepoca significava lsquomarginalrsquo lsquocriminosorsquo Rival que hoje significa lsquorivalrsquo na eacutepoca significava lsquoparceirorsquo Identificar isso eacute um desafio vocecirc tem que pesquisar muitordquo OrsquoShea acres-centa que tambeacutem eacute importante ter o maacuteximo de empatia pos-siacutevel com cada personagem ldquoVocecirc natildeo pode tomar partido tem que tentar fazer o melhor possiacutevel a partir do personagem que estaacute falando naquele momento Eacute o que alguns autores chamam de lsquodefender o personagemrsquo O tradutor tambeacutem deve defender o personagemrdquo

Traduccedilotildees Editora Ano

Antocircnio e Cleoacutepatra MandarimSiciliano 1997

Cimbeline rei da Britacircnia Iluminuras 2002

O conto do inverno Iluminuras 2007

Peacutericles priacutencipe de Tiro Iluminuras 2012

O primeiro Hamlet In-Quarto de 1603 Hedra 2013

Os dois primos nobres Iluminuras 2016

Troacuteilo e Creacutessida Editora 34 2016

Timon de Atenas (em progresso)

Linguiacutestica e Literatura

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 4: MISSÃO ESPACIAL

24 Uma homenagem aos mestres das novelas policiais

12 15Equipe da UFSC desenvolve sateacutelite que seraacute lanccedilado em 2016

Livros do acervo impresso da EdUFSC para leitura on-line

MISSAtildeO

ESPACIALACERVO

DIGITAL

19 20 Urina como alternativa para fertilizantes

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMA

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

8CERAcircMICA SUSTENTAacuteVELO papel na produccedilatildeo de azulejos

ILSE SCHERER-WARREN 40 anos dedicados a pesquisas sobre movimentos sociais6

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUEL

4

Editoria

Joinville foi conhecida como ldquoa cidade das bicicletasrdquo por causa de seus muitos operaacuterios e poucos morros No en-tanto apoacutes os anos 1970 trabalhadores que costumavam pedalar ateacute as empresas trocaram o antigo haacutebito por au-

tomoacuteveis e motocicletas ndash situaccedilatildeo comum nas cidades brasilei-ras Essa foi uma das motivaccedilotildees que levou a pesquisadora Ilca Maria Saldanha Diniz em tese defendida no Programa de Poacutes--Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica (PPGEF) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) a analisar os efeitos que atividades educativas como palestras e viacutedeos podem causar ao incenti-var os funcionaacuterios de uma induacutestria a ir ao trabalho de bicicleta

A pesquisa orientada pela professora Maria de Faacutetima da Sil-va Duarte observou durante seis meses os meios de desloca-mento de 932 funcionaacuterios de uma induacutestria metal-mecacircnica de Joinville Foram elaboradas atividades que consistiam em aulas informativas e praacuteticas apresentaccedilotildees em viacutedeo palestras jo-gos e leitura de cartilhas de seguranccedila ndash tudo elaborado a partir das necessidades do trabalhador As temaacuteticas expostas aos in-dustriaacuterios foram a relaccedilatildeo do uso da bicicleta com o meio am-biente sauacutede itens de seguranccedila necessaacuterios e leis de tracircnsito

Para descobrir os efeitos a pesquisadora montou um Grupo Intervenccedilatildeo (GI) e um Grupo Controle (GC) que apoacutes perdas amostrais no final do estudo contavam com 876 trabalhadores 438 em cada O resultado do estudo foi o aumento de 22 no nuacutemero de funcionaacuterios do GI que passaram a se deslocar de bi-cicleta ldquoNoacutes natildeo tiacutenhamos ideia de quanto aumentaria ou se te-riam alguma resposta agraves atividades Em pesquisas o maacuteximo de mudanccedilas que vimos em programas no Brasil e no exterior por meio de educaccedilatildeo foi de 3 de aumento nos fins desejados Deu muito certo um resultado positivordquo diz Ilca A pesquisadora tambeacutem considerou que pelas interaccedilotildees terem sido realizadas por somente seis meses esses efeitos foram surpreendente

Em outros programas de incentivo ao uso da bicicleta as ativi-dades educativas foram desenvolvidas por um maior periacuteodo de tempo entre 12 e 18 meses

No estudo os trabalhadores foram divididos em os que usavam e os que natildeo usavam bicicleta para se deslocar ateacute a induacutestria A metodologia empregada consistiu em formar grupos de pessoas com interesses e haacutebitos semelhantes e desenvolver atividades especiacuteficas a cada A partir disso em 23 encontros foram apli-cados questionaacuterios para compreender as caracteriacutesticas dos trabalhadores e estimular a forma de transporte ldquoNo processo as pessoas foram classificadas em estaacutegios que dependem do haacutebito que o funcionaacuterio tem de pedalar pois as informaccedilotildees que precisamos dar para que a pessoa mude de comportamento depende da experiecircncia de cada umrdquo explica Ilca

De acordo com a pesquisa eacute necessaacuterio melhorar todo o proces-so educativo no Brasil em relaccedilatildeo agrave bicicleta considerando-se o municiacutepio em que a atividade estaacute sendo aplicada e as pessoas para quem satildeo destinadas as aulas principalmente nas escolas e ambientes de trabalho Na realidade daqueles industriaacuterios foi verificado que as maiores barreiras para escolher o meio de transporte eram o tracircnsito intenso a distacircncia percorrida para chegar ao destino e o clima desfavoraacutevel Tambeacutem foram lista-dos os principais motivos para escolher a bicicleta melhora da sauacutede praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos e proteccedilatildeo ao meio ambiente

Pelos questionaacuterios respondidos foi possiacutevel descobrir que a maioria dos trabalhadores relatou ter ensino meacutedio completo ou curso teacutecnico com renda familiar entre R$ 1080 e R$ 2700 Algumas caracteriacutesticas predominavam nos trabalhadores que mais pedalavam ateacute a induacutestria menor renda residecircncia agrave dis-tacircncia menor ou igual a cinco quilocircmetros menor escolaridade e posse de bicicleta ndash cerca de 72 a tinham

Tese propotildee atividades para estimular uso de bicicleta

4

Ciecircncias da Sauacutede

Camila Geraldo

MUDANCcedilA DE

HAacuteBITO

5

UFSC Ciecircncia

Na opiniatildeo da pesquisadora o que mais influencia o uso da bi-cicleta eacute a ciclovia ldquoEm torno da induacutestria que estudamos havia ciclovia em todos os pontos ciclovia mesmo natildeo somente uma faixa pintada onde se diz que pode passar a bicicleta Hoje as maiores cidades catarinenses ou natildeo tecircm ciclovias ou quando tecircm elas satildeo interrompidas em alguns pontos e natildeo garantem seguranccedila Temos que criar a cultura da infraestrutura cicliacutestica e do respeito ao ciclistardquo completa

5

UFSC Ciecircncia

Um estudo realizado pelo Sesi em 2009 apontou que no estado de Santa Catarina a prevalecircncia do uso da bicicleta no deslo-camento ao trabalho eacute em Joinville com 128 As outras duas cidades catarinenses com maior nuacutemero de pessoas que cos-tumam pedalar ateacute o trabalho satildeo Lages (123) e Blumenau (75) Muitas das informaccedilotildees contidas na tese serviram de subsiacutedio agrave formulaccedilatildeo de um manual para induacutestrias do SenaiSesi que estaacute sendo distribuiacutedo em todo Brasil

Praacutetica de exerciacutecios

Melhora da sauacutede

Proteccedilatildeo ao meio ambiente

Acesso a ciclovias

Mais raacutepido

Residir proacuteximo agrave empresa

Mais barato

Motivos para escolher a bicicletaEm sua tese de doutorado Ilca Diniz elencou as principais razotildees que levam os

industriaacuterios de uma empresa metal-mecacircnica a pedalar ateacute o trabalho

Fonte Ilca Maria Saldanha Diniz Graacutefico Gabriela Fantini Camila Ignaacutecio GeraldoFonte Ilca Maria Saldanha Diniz Design Gabriela Fantini Texto Camila Geraldo

6

Engenharias

CERAcircMICA SUSTENTAacuteVELTamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Aparas de papel satildeo utilizadas na produccedilatildeo de azulejos

UFSC Ciecircncia

7

Um estudo realizado no Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Engenharia Quiacutemica desenvolveu ceracircmica monoporosa tambeacutem conhecida como azulejo com 20 de aparas de papel Para realizar sua dissertaccedilatildeo Rodrigo Daros

sob orientaccedilatildeo do professor Humberto Gracher Riella substituiu parte do calcaacuterio usado na ceracircmica por esse resiacuteduo do papel mais viaacutevel econocircmica e ecologicamente

Utilizar as aparas em ceracircmicas monoporosas eacute uma alternativa com benefiacutecios ambientais pois diminui a quantidade de cal-caacuterio ndash um recurso natildeo renovaacutevel ndash e reaproveita os restos de papel que seriam descartados no ambiente Essa reutilizaccedilatildeo ocorre tambeacutem na correccedilatildeo de solo e na formulaccedilatildeo de cimento no entanto como a induacutestria de papel e celulose produz aparas em grande quantidade a maioria natildeo eacute reaproveitada

Na pesquisa de Daros as ceracircmicas produzidas tiveram uma ab-sorccedilatildeo de 3 a 8 maior do que as sem o resiacuteduo o que signi-fica que a aderecircncia agrave parede seraacute melhor O iacutendice alcanccedilado no estudo se manteacutem dentro do limite que permite classificar a ceracircmica como monoporosa ndash aquela que possui absorccedilatildeo su-perior a 10

Foram utilizados soacute 20 de resiacuteduos de papel na composiccedilatildeo da ceracircmica porque segundo o pesquisador esse seria o valor ideal para atingir o iacutendice padratildeo de absorccedilatildeo de aacutegua Acima de 25 haveria trincas ou quebras durante a queima do azulejo devido agrave retraccedilatildeo da peccedila

O uso das aparas soacute foi possiacutevel porque sua composiccedilatildeo eacute simi-lar agrave do calcaacuterio cuja decomposiccedilatildeo gera oacutexido de caacutelcio que constitui mais de 50 do resiacuteduo De acordo com o pesquisador ldquoo calcaacuterio eacute o ideal mas como eacute algo que pode ser extinto o resiacuteduo supre essa necessidaderdquo

Esse meacutetodo tambeacutem eacute economicamente mais viaacutevel O resiacuteduo de papel custa R$ 0014kg uacutemido e R$ 002kg seco de acordo com um levantamento de 2012 feito por uma empresa especia-lizada Jaacute o preccedilo do calcaacuterio eacute de R$ 0130kg Aleacutem disso o gasto para tratamento e envio das aparas aos aterros ndash que varia de R$ 006kg a R$ 0130kg ndash iria reduzir-se

Em 2005 uma pesquisa da Universidade de Aveiro Portugal usou 10 do resiacuteduo em argila outra de 2006 realizada na Uni-versidade Federal da Bahia (UFBA) utilizou 20 em argamassa Jaacute a de Daros foi feita em ceracircmica porque de acordo com ele eacute uma produccedilatildeo ldquoem larga escala e satildeo produtos mais naturais entatildeo eacute mais faacutecil de colocar nesse setorrdquo

A pesquisa foi desenvolvida em laboratoacuterio mas Daros pretende expandir o projeto A ideia foi oferecida a algumas induacutestrias de ceracircmica poreacutem ainda natildeo houve resposta positiva ldquoSempre haacute alguma resistecircncia porque eacute uma novidade uma inovaccedilatildeordquo afirma o pesquisador

Santa Catarina eacute o maior produtor brasileiro de ceracircmicas mo-noporosas em relaccedilatildeo a papel e celulose o estado representa 81 da induacutestria nacional O Brasil tem a quarta maior produ-ccedilatildeo mundial de celulose e a nona de papel

8

ldquoMuito amor pela Universidaderdquo Assim com poucas pala-vras Ilse Scherer-Warren explica por que adiou o dia de se aposentar quase tanto quanto pocircde ldquoQuaserdquo porque trabalhou ateacute bem pouco antes da data de sua aposenta-

doria compulsoacuteria em janeiro de 2014 quando completou 70 anos ldquoDois ou trecircs dias porque achei que natildeo tinha que ser tatildeo precisa assim Se jaacute tivesse mudado a legislaccedilatildeo (ela refere-se ao projeto de lei aprovado no Congresso que altera de 70 para 75 anos a idade de aposentadoria compulsoacuteria para servidores puacuteblicos) eu teria esperado mais Mas atuar como voluntaacuteria daacute mais liberdade posso me dedicar mais ao que gosto mesmordquo diz

No caso de Ilse isso significa estudar movimentos sociais prin-cipalmente agrave frente do Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos So-ciais que ajudou a fundar na UFSC em 1983 Em setembro foi homenageada durante o 17ordm Congresso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em Porto Alegre a mesma onde fez sua gradu-accedilatildeo com o Precircmio Florestan Fernades ndash a distinccedilatildeo foi criada como reconhecimento agrave atuaccedilatildeo de profissionais que contribu-iacuteram para o progresso da Sociologia no Brasil Entre os premia-dos anteriormente estatildeo Fernando Henrique Cardoso Manuel Correia de Andrade Heraldo Pessoa Souto Maior Octaacutevio Ianni Neuma Aguiar Joseacute de Souza Martins Juarez Rubens Brandatildeo Lopes Wilma de Mendonccedila Figueiredo Francisco de Oliveira e Silke Weber

ILSE SCHERER-WARREN

Faacutebio Bianchini

40 anos dedicados a pesquisas sobre movimentos sociais

Perfil

UFSC Ciecircncia

9

Ainda assim prefere falar das atividades e realizaccedilotildees do Nuacute-cleo que de acordo com nuacutemeros de 2013 havia gerado 35 pro-jetos 96 dissertaccedilotildees e teses 29 livros e 69 capiacutetulos de livros (ldquomas acho que eacute maisrdquo avalia) A preocupaccedilatildeo coletiva aparece tambeacutem no final da entrevista depois de falar da aposentadoria a premiaccedilatildeo e sua histoacuteria pessoal Para responder agrave pergunta sobre o que pensa do futuro fala mais do Brasil do que de si proacutepria ldquoSou otimista mas estaacute estranho Para quem viveu a di-tadura ver determinados discursos manipulaccedilotildees e convicccedilotildees poliacuteticas natildeo satildeo nada melhores que as barbaridades que a gente ouvia em 1968 Acho que realmente precisa de muito estu-dordquo Quando diz o nome do paiacutes assim como todas as palavras terminadas em ldquoLrdquo aparece a caracteriacutestica que mais facilmente identifica suas origens no interior do Rio Grande do Sul a pro-nuacutencia da consoante como ldquoLrdquo mudo mesmo jaacute armando para a vogal que natildeo vem natildeo como ldquoUrdquo

Foi em Portatildeo a 43 quilocircmetros de Porto Alegre (estimativa de populaccedilatildeo em 2015 de acordo com o IBGE 33994 pessoas) que ela comeccedilou sua trajetoacuteria acadecircmica na garupa de uma eacutegua Era como aos oito anos percorria os dois quilocircmetros que separavam a pequena propriedade de sua famiacutelia da escola do municiacutepio ldquoEu era pequeninha magrinha e meu pai ficava preocupado se eu fosse a peacute Naquela eacutepoca jaacute tinha uma fas-cinaccedilatildeo muito grande por estudarrdquo relembra No segundo ano comeccedilou a ir a peacute mesmo por conta proacutepria Seus passatempos preferidos eram caminhar pelo campo e brincar de dar aula para alunos imaginaacuterios O pai pequeno agricultor era lideranccedila po-liacutetica local participou da construccedilatildeo da igreja fez parte do anti-go Partido Libertador e depois do Partido Democraacutetico Cristatildeo Nas paacuteginas do jornal que ele assinava encantou-se com as re-flexotildees do pensador jornalista professor criacutetico literaacuterio e liacuteder catoacutelico Alceu Amoroso Lima que escrevia sob o pseudocircnimo Tristatildeo de Ataiacutede ldquoEle era muito humanistardquo recorda

Chegou a ir para o coleacutegio interno ndash por vontade proacutepria para se-guir os passos da irmatilde mais velha (tinha uma irmatilde e sete irmatildeos) ndash e quando terminou o ensino fundamental parou momenta-neamente os estudos formais jaacute que a escola local natildeo tinha o ensino meacutedio (ldquohoje jaacute temrdquo faz questatildeo de destacar) e foi para a cozinha ldquoFiquei nessa dos 12 13 anos ateacute os 17 mas sem esquecer meu sonho Queria algo como Filosofia Psicologia Psi-quiatria Jornalismo ou Literatura por aiacuterdquo Mudou-se para Porto Alegre e foi trabalhar sem remuneraccedilatildeo formal na casa de uma famiacutelia que por sua vez pagava seus estudos Com os livros do irmatildeo mais velho preparou-se para o exame supletivo e pas-sou Tambeacutem do irmatildeo mais velho havia ganhado um manual de Sociologia com o qual havia se identificado e assim fez o ves-tibular da UFRGS para Ciecircncias Sociais que na eacutepoca permitia mais adiante optar pelo curso de Jornalismo Mas natildeo foi o caso

ldquoNas Ciecircncias Sociais senti-me em casardquo explica Entrou no cur-so em 1965 um ano apoacutes o golpe militar quando a repressatildeo jaacute se sentia mas ainda natildeo era tatildeo forte quanto se tornou a partir de 1968 Tatildeo logo aprovada no vestibular tomou uma iniciativa que renderia frutos ainda pintada de caloura foi ateacute a Alianccedila Francesa explicou que tinha interesse em aprender o idioma mas natildeo podia pagar pelo curso e acabou ganhando uma bolsa Participou ativamente do movimento estudantil e foi a muitos protestos e passeatas ldquoQuando nos aproximaacutevamos do centro da cidade a poliacutecia vinha em cima com cavalaria Muitos anos depois fui ao Foacuterum Social Mundial e soacute de ver a cavalaria de novo deu um calafrio Em um deles o que mais me marcou um policial encostou uma arma contra meu peitordquo

O Trabalho de Conclusatildeo de Curso foi sobre Sociologia do Tra-balho Imediatamente comeccedilou o mestrado tambeacutem na UFRGS com o tema de movimentos sociais rurais patronais e campone-ses A essa altura jaacute em 1969 poacutes AI-5 o regime poliacutetico jaacute era bem mais pesado Ao clima pluacutembeo da eacutepoca somava-se para Ilse a carga de aulas da poacutes-graduaccedilatildeo ldquoTinha que bater ponto e tudordquo conta Para aliviar a tensatildeo ela arranjou mais um com-promisso aulas de teatro agrave noite Chegou a participar de uma peccedila infantil mas natildeo levou a carreira dramaacutetica adiante

Em vez disso em 1971 terminado o mestrado comeccedilou a anali-sar as possibilidades para o doutorado A essa altura sabia que queria sair de Porto Alegre conhecer coisas diferentes Procurou entatildeo contato com Fernando Henrique Cardoso que fizera uma palestra na UFRGS chegou a visitaacute-lo em Satildeo Paulo (foi recebi-da primeiramente por Ruth Cardoso) mas ele havia sido apo-sentado compulsoriamente pelo decreto-lei nordm 477 de fevereiro de 1969 Ainda assim indicou-a agrave USP mas a possibilidade de estudar na Europa e de colocar em praacutetica seus anos de estudo do francecircs atraiacuteram-na mais e Ilse comeccedilou a entrar em contato com a Sorbonne na Franccedila mesmo sem saber que tipo de apoio teria ldquoO pessoal perguntava se eu natildeo tinha medo de ir para fora e eu dizia lsquopara fora de quecircrsquo natildeo existia isso de dentro ou fora para mimrdquo enfatiza

Ainda com as possibilidades em aberto foi para a Inglaterra naquele ano enquanto o clima poliacutetico no Brasil endurecia ain-da mais Chegou laacute sem nenhuma indicaccedilatildeo falando pouco do idioma e conseguiu hospedagem na Casa do Brasil na Inglaterra ndash nessa eacutepoca conheceu o futuro marido Foi entatildeo agrave Franccedila e decepcionou-se com o que considerou burocracia excessiva da Sorbonne mas marcou uma entrevista para dali a dois meses com Alain Touraine socioacutelogo francecircs renomado por seus es-critos a respeito de movimentos sociais e da Sociologia de Tra-balho em que cunhou a expressatildeo ldquosociedade poacutes-industrialrdquo No periacuteodo de sua graduaccedilatildeo na UFRGS Touraine jaacute era um dos estudiosos mais discutidos

Ilse levou a seacuterio o conselho da secretaacuteria do professor com quem marcara a entrevista jaacute chegar com o projeto claro e bem--embasado Voltou agrave Inglaterra e pocircs-se a trabalhar nisso ateacute o dia do encontro Levou tambeacutem sua dissertaccedilatildeo de mestrado Funcionou ele gostou da proposta sobre sindicalismo rural e aceitou a nova orientanda na Universidade de Paris X em Nan-terre Conseguiu tambeacutem uma bolsa da Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) Nessa mes-ma eacutepoca Touraine escrevia sua principal obra A produccedilatildeo da sociedade cujos capiacutetulos foram todos discutidos em sala pela turma de que Ilse participava Esse modo de trabalhar em gru-pos conta ela foi uma grande influecircncia em sua vida acadecircmica

Apoacutes concluir o doutorado voltou ao Brasil e em 1974 comeccedilou a dar aulas como horista no Instituto de Filosofia e Ciecircncias So-ciais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) O clima que encontrou no paiacutes era de medo O IFCS receacutem-passara por um processo em que cerca de quarenta professores foram cassados entre eles Darcy Ribeiro ldquoTodo mundo cochichava para falar de poliacutetica meu marido natildeo conseguia entender por que aquilo mas era difiacutecil evitar E como ensinar Sociologia sem falar em classes sociaisrdquo observa Precisava tomar cuidado em sala de aula para natildeo avanccedilar em temas considerados tabus em certo momento foi ldquoaconselhadardquo por telefone a natildeo par-ticipar de um concurso puacuteblico para professora adjunta entre 1975 e 1976 porque poderia haver consequecircncias graves se fosse aprovada preferiu ficar de fora Em outro concurso mais

10

adiante natildeo houve ameaccedila e Ilse passou na seleccedilatildeo curricular para adjunta

Nos sete anos que passou na UFRJ Ilse viveu o periacuteodo da aber-tura poliacutetica e da luta pela anistia Criou grupos de trabalho aju-dou a organizar a poacutes-graduaccedilatildeo em Sociologia na UFRJ e foi a primeira coordenadora da poacutes e do mestrado Entatildeo em 1981 surgiu a oportunidade de vir para a UFSC inicialmente como pro-fessora convidada por iniciativa do professor Silvio Coelho dos Santos que iniciava um grupo interdisciplinar ldquoMas na verdade eu sabia que queria ficar por aqui Deu tudo certo Queria me in-tegrar aqui e me integrei logo me sentia em casa as possibilida-des estavam se abrindordquo lembra Jaacute existia o Novo Sindicalismo com Luis Inaacutecio Lula da Silva como liacuteder os movimentos sociais se reorganizavam dali a poucos anos em 1984 seria fundado oficialmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Um dos primeiros projetos de Ilse na UFSC foi um trabalho sobre desabrigados nas construccedilotildees de barragens assunto para o qual acabou voltando ao longo dos anos Depois de passar os dois primeiros anos em Florianoacutepolis ainda agrave disposiccedilatildeo da UFRJ passou em concurso puacuteblico e tornou-se professora titular na UFSC

Em 1984 durante o VII Encontro Nacional da Associaccedilatildeo Nacio-nal de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Ciecircncias Sociais (Anpocs) apresentou o texto ldquoO caraacuteter dos novos movimentos sociaisrdquo considerado peccedila fundamental para o estabelecimento desta denominaccedilatildeo que abordava ainda o feminismo e o movimento ecoloacutegico Foi incluiacutedo tambeacutem em Uma Revoluccedilatildeo no Cotidiano ndash os novos movimentos sociais na Ameacuterica Latina de 1987 orga-nizado junto com o professor Paulo Krischke tambeacutem da UFSC e lanccedilado pela editora Brasiliense Observou surgir essa nova maneira de associativismo e organizaccedilatildeo nos grupos de periferia

Perfil

de Florianoacutepolis com participaccedilatildeo do padre Vilson Groh ligado desde os anos 1980 agrave Teologia da Libertaccedilatildeo e depois aos mo-vimentos dos Sem-Terra e Sem-Teto

Ilse tambeacutem ajudou a definir os conceitos de rede nesses mo-vimentos sociais brasileiros a partir de sua organizaccedilatildeo mais fluida com trocas de experiecircncia e articulaccedilotildees e diferentes pos-sibilidades de participaccedilatildeo Ela apresentou essa visatildeo no livro Redes de movimentos sociais lanccedilado pela editora Loyola em 1996 Com o tempo construiu uma produccedilatildeo extensa e influen-te Na UFSC participou de todo o processo de implantaccedilatildeo de cotas e poliacuteticas afirmativas ldquoHouve um debate muito acirrado entre intelectuais e sempre surgia o discurso de que os cotistas teriam aproveitamento acadecircmico inferior mas isso acabou sen-do desmentido com os nuacutemeros que mostraram que natildeo havia muita diferenccedila entre eles e os natildeo cotistasrdquo destaca

O Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos Sociais diz surgiu de maneira informal quando ex-alunos demonstraram interes-se em prosseguir debatendo ldquoComeccedilamos a fazer encontros perioacutedicos depois conseguimos uma sala aiacute foi indo Surgi-ram daiacute vaacuterios trabalhos e eacute como eu gosto de fazer as coisas em grupordquo

Conheccedila mais sobre o pensamento de Ilse Scherer-Warren por meio

do livro do qual eacute coorganizadora Movimentos sociais e participaccedilatildeo

editado pela EdUFSC e disponiacutevel para leitura gratuita on-line

11

Como mostrar o que eacute pesquisa a ciecircncia como ela eacute feita quais benefiacutecios ela traz para as pessoas Parece faacutecil mas natildeo eacute Explicar temas agraves vezes complicados de forma que as pessoas entendam - sem cair no sensacionalismo

barato de tabloides e programas pseudocientiacuteficos ndash eacute muito mais difiacutecil do que parece

As pessoas se interessam por ciecircncia A resposta eacute um grande sim Resultado de uma pesquisa feita em 2015 sobre a percep-ccedilatildeo puacuteblica de ciecircncia e tecnologia no Brasil mostrou alguns re-sultados surpreendentes Por exemplo as pessoas acham que ciecircncia eacute uma atividade muito importante e essencial para aju-dar a resolver problemas do paiacutes e do mundo Trecircs quartos dos entrevistados acreditam que a ciecircncia traz mais benefiacutecios que malefiacutecios e mais da metade acredita que cientistas fazem coi-sas uacuteteis agrave humanidade entretanto 90 dos entrevistados natildeo conseguem se lembrar de uma instituiccedilatildeo cientiacutefica ou nome de um cientista brasileiro famoso

O que falta entatildeo Maior oferta de informaccedilatildeo cientiacutefica de qua-lidade Embora uma parcela significativa das pessoas acredite que a internet televisatildeo e jornais divulgam de forma satisfatoacute-ria descobertas cientiacuteficas o problema eacute a quantidade dessas informaccedilotildees que alcanccedila esses meios E infelizmente natildeo po-demos ignorar que muitas destas informaccedilotildees principalmente as veiculadas na internet tecircm qualidade no miacutenimo duvidosa

E quem melhor qualificado para transmitir estas informaccedilotildees que os proacuteprios pesquisadores Aiacute temos outro problema A maioria dos pesquisadores natildeo tem treinamento para transmitir a men-sagem em linguagem que as pessoas entendam Isso nos leva imediatamente agrave necessidade imperiosa de junccedilatildeo de esforccedilos entre pessoas que sabem transmitir a informaccedilatildeo (jornalistas por exemplo) e aquelas que tecircm as informaccedilotildees (pesquisadores e cientistas)

Aiacute entra o jornalismo cientiacutefico e a divulgaccedilatildeo cientiacutefica Infeliz-mente nosso paiacutes natildeo estaacute entre os que fazem boa divulgaccedilatildeo cientiacutefica ndash e natildeo eacute por falta de boa ciecircncia Temos centenas de exemplos de grupos de pesquisa em universidades laboratoacuterios oficiais e empresas que estatildeo trabalhando na fronteira do co-nhecimento em pesquisas de classe mundial Porque isso acon-tece A resposta eacute difiacutecil e pode ter inuacutemeras variaacuteveis Poucos satildeo os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo cientiacutefica permanentes no Brasil E poucos satildeo os jornalistas especializados em divulgaccedilatildeo cien-tiacutefica Em alguns paiacuteses haacute jornalistas e setores de divulgaccedilatildeo de instituiccedilotildees e universidades especializados em levar para o puacuteblico o que acontece em pesquisa nos seus laboratoacuterios Aleacutem de elevar a compreensatildeo do puacuteblico em geral sobre os avanccedilos da ciecircncia essa eacute uma forma importante de prestaccedilatildeo de contas do dinheiro aplicado em ciecircncia e pesquisa

Tamanha eacute a importacircncia atribuiacuteda agrave divulgaccedilatildeo cientiacutefica que o curriacuteculo Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-tiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) agora tem uma aba especiacutefica para que sejam cadastradas as atividades de divulgaccedilatildeo cientiacutefica

Nesse sentido a UFSC deu uma modesta mas significativa con-tribuiccedilatildeo A Propesq manteacutem desde 2014 uma equipe de jo-vens estudantes de jornalismo orientados por profissionais que produziram uma seacuterie de mateacuterias sobre a pesquisa que se faz na UFSC ndash algumas inclusive tendo sido veiculadas pela grande imprensa ndash o que possibilitou levar o conhecimento produzido na Universidade para um nuacutemero ainda maior de pessoas

Este eacute um bom comeccedilo para uma atividade que deve ter caraacuteter permanente A oferta de material de divulgaccedilatildeo de boa quali-dade aumentaraacute a percepccedilatildeo do puacuteblico sobre a relevacircncia e importacircncia da pesquisa cientiacutefica Eacute minha convicccedilatildeo que esta iniciativa deve continuar e ser expandida para tornar-se o Pro-grama de Divulgaccedilatildeo Cientiacutefica da UFSC

CIEcircNCIA SEMCOMPLICACcedilAtildeOJamil Assreuy

Opiniatildeo

Doutor em Ciecircncias Bioloacutegicas (Biofiacutesica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Fez o poacutes-doutorado no Wellcome Research Labs UK Atualmente eacute Professor Associado do Departamento de Farmacologia e Proacute-Reitor de Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina

12

MISSAtildeO

ESPACIALDaniela Caniccedilali

Equipe da UFSC desenvolve sateacutelite que seraacute lanccedilado em 2016

Engenharias

UFSC Ciecircncia

Um cubo com 10 cm de aresta pesando aproximadamente um quilo constituiacutedo de computador de bordo paineacuteis solares bateria e carga uacutetil (dispositivos que exercem funccedilotildees preestabelecidas como fotografar medir a tem-

peratura etc) Essas satildeo as caracteriacutesticas do nanossateacutelite do tipo cubesat que estaacute sendo desenvolvido desde 2012 no proje-to Floripa Sat uma iniciativa de pesquisadores e alunos de dife-rentes cursos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) A previsatildeo de lanccedilamento eacute dezembro de 2016

O Floripa Sat surgiu de forma independente inspirado em ou-tros projetos experimentais do Centro Tecnoloacutegico (CTC) mdash como o BAJA SAE do curso de Engenharia Mecacircnica que se destina a produzir protoacutetipos de veiacuteculos automotivos off-road ldquoExiste aqui na UFSC o BAJA o barco eleacutetrico o carro eleacutetrico Satildeo vaacuterios projetos Pensamos entatildeo em propor o desenvolvimento de um sateacutelite para que os alunos se interessassem e se motivassem tambeacutem pela aacuterea aeroespacialrdquo explica o professor Eduardo Bezerra do Departamento de Engenharia Eleacutetrica e um dos coor-denadores do projeto Outro coordenador professor Kleber Viei-ra de Paiva do curso de Engenharia Aeroespacial (Campus Join-ville) reforccedila que o principal objetivo do projeto eacute educativo ldquoO aluno tem a oportunidade de participar de uma missatildeo espacial completardquo Ao mesmo tempo em que passou a contribuir para a formaccedilatildeo dos estudantes o Floripa Sat tambeacutem deu visibilidade agrave aacuterea aeroespacial ainda recente nas universidades brasileiras O curso da UFSC foi criado em 2009 e eacute uma das uacutenicas seis gra-duaccedilotildees em Engenharia Aeroespacial em todo o paiacutes

Ateacute chegar a sua ldquoversatildeo finalrdquo e ser lanccedilado o sateacutelite passa pelas seguintes etapas anaacutelise de requisitos projeto desen-volvimento integraccedilatildeo e testes Na etapa de levantamento de requisitos satildeo definidas desde as faixas de temperatura que o sateacutelite deve aguentar a velocidade de comunicaccedilatildeo com a Ter-ra ateacute as funccedilotildees que iraacute executar Na etapa de projeto satildeo de-senvolvidas as placas mdash com microprocessadores que mantecircm o sateacutelite em funcionamento mdash um dos diferenciais do Floripa Sat

Enquanto outras universidades utilizam placas prontas na UFSC elas estatildeo sendo desenvolvidas pelos proacuteprios alunos ldquoNoacutes ad-quirimos uma placa da empresa que fabrica um dos melhores modelos de cubesat Mas essa placa vai servir apenas como mo-delo de referecircncia Nosso interesse eacute o desenvolvimento cientiacute-fico poder estudar os circuitos e talvez ateacute desenvolver placas mais eficientesrdquo explica Eduardo

Na etapa de integraccedilatildeo os diversos subsistemas do cubesat satildeo colocados para funcionar em conjunto passando-se entatildeo agrave fase de testes quando o sateacutelite como um todo eacute submetido a um ambiente de voo Apoacutes ser aprovado nos testes chega entatildeo o momento mais esperado a integraccedilatildeo ao veiacuteculo lanccedilador e o lanccedilamento do sateacutelite ldquoA sensaccedilatildeo de colocar um sateacutelite em oacuterbita eacute de muita satisfaccedilatildeo de dever cumprido Eacute algo que deve ser planejado com cuidado pois se qualquer coisa der errado o objetivo final que eacute estabelecer a comunicaccedilatildeo do sateacutelite com a Terra pode natildeo ser atingidordquo explica Kleber O doutoran-do Leonardo Slongo pesquisador do projeto tambeacutem descreve essa etapa como a que gera mais expectativa ldquoSatildeo realizados vaacuterios testes mas ainda assim existe muita apreensatildeo sobre-tudo nos primeiros minutos do lanccedilamentordquo Kleber acrescenta ldquoVocecirc natildeo tem uma segunda chancerdquo

Se a missatildeo for bem-sucedida chega a fase de monitorar as ati-vidades do sateacutelite coletar dados e com essas informaccedilotildees di-vulgar os resultados do trabalho por intermeacutedio de publicaccedilotildees e patentes ldquoO trabalho natildeo acaba no lanccedilamento ele continua Enquanto estiver em oacuterbita os alunos vatildeo estar envolvidos na comunicaccedilatildeo com o sateacuteliterdquo explica Kleber O Floripa Sat seraacute transportado como carga de um sateacutelite de maior porte o Uni-sat-7 (da empresa GAUSS) que por sua vez seraacute acoplado ao foguete Dnepr com data de lanccedilamento prevista para dezem-bro de 2016 na Ruacutessia A integraccedilatildeo final seraacute realizada na Itaacutelia com o acompanhamento de dois membros da equipe da UFSC prioritariamente estudantes

CUBESATO cubesat mdash abreviaccedilatildeo das palavras em inglecircs ldquocuberdquo (cubo) e ldquosatrdquo (sateacutelite) mdash caracteriza-se por sua estrutura simplificada e custo reduzido enquanto para o seu lanccedilamento satildeo gastos aproximadamente 100 mil doacutelares para o de um sateacutelite convencional os custos chegam a 250 milhotildees Os sateacutelites de pequeno porte conhecidos como nanossateacutelites tambeacutem se distinguem pelo alto valor agregado ldquoOs componentes que precisamos adqui-rir para desenvolver uma placa custam cerca de 100 doacutelares Quando fica pronta ela pode ser vendida por 15 mil doacutelaresrdquo afirma o professor Eduardo

O padratildeo cubesat foi desenvolvido em 1999 no contexto da tendecircncia dos nanossateacutelites com o intuito de fomentar a pesquisa universitaacuteria na aacuterea de Engenharia Aeroespacial Seus idealizadores Jordi Puig-Suari e Bob Twi-ggs professores das universidades norte-americanas California Polytechnic State University e Stanford University tinham o propoacutesito de proporcionar aos estudantes de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo a possibilidade de projetar construir testar e operar um sateacutelite semelhante ao Sputnik Os dois pesquisa-dores estaratildeo em Florianoacutepolis no primeiro semestre de 2016 para o evento ldquoII Latin America IAA CubeSat Workshoprdquo organizado pela equipe do pro-jeto Floripa Sat

13

14

Engenharias

PROJETO SERPENSOutro projeto que tem a participaccedilatildeo da UFSC em parceria com outras universidades eacute o Sistema Espacial para a Realizaccedilatildeo de Pesquisas e Experimentos com Nanossateacutelites (Serpens) Coor-denado pela Agecircncia Espacial Brasileira (AEB) como uma ativi-dade do programa Uniespaccedilo o Serpens foi criado em dezembro de 2013 com o objetivo de qualificar a pesquisa acadecircmica na aacuterea Ao longo dos anos estudantes dos cursos de Engenha-ria Aeroespacial do paiacutes teratildeo a oportunidade de aplicar a teo-ria na praacutetica participando do desenvolvimento e lanccedilamento de cubesats O primeiro o Serpens I foi lanccedilado em agosto de 2015 rumo agrave Estaccedilatildeo Espacial Internacional (ISS) e colocado em oacuterbita no dia 17 de setembro Aleacutem da UFSC quatro instituiccedilotildees brasileiras participam do projeto Serpens Universidade de Bra-siacutelia (UnB) Universidade Federal do ABC (UFABC) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Instituto Federal Fluminense (IFF) Em cada missatildeo uma equipe fica responsaacutevel por liderar o projeto o Serpens I foi liderado pela UnB o Serpens II mdash que jaacute estaacute em desenvolvimento com previsatildeo de lanccedilamento para de-zembro de 2017 mdash estaacute sendo coordenado pela equipe da UFSC

EQUIPEAtualmente integram o Floripa Sat dez professores e trinta alu-nos da graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Engenharia Aeroespacial Engenharia Eleacutetrica Engenharia Eletrocircnica Engenharia Mecacircni-ca Ciecircncia da Computaccedilatildeo e Engenharia de Controle e Automa-ccedilatildeo Aleacutem do projeto Floripa Sat e do Serpens membros da equi-pe jaacute participaram de outras missotildees aeroespaciais Em 2006 quando ainda era estudante de mestrado da UFSC o professor Kleber teve participaccedilatildeo na missatildeo do astronauta brasileiro Mar-cos Pontes como responsaacutevel por um dos experimentos utiliza-do pelo astronauta no ambiente de microgravidade da Estaccedilatildeo Espacial Internacional O doutorando Leonardo Slongo partici-pou junto com Kleber de projetos do Programa Microgravidade da AEB e acompanhou no Centro de Lanccedilamento de Alcacircntara (CLA) no Maranhatildeo o lanccedilamento de foguetes que executaram diferentes experimentos O professor Eduardo Bezerra atua haacute mais de dez anos no projeto e desenvolvimento de sistemas computacionais embarcados para os sateacutelites de grande porte do Programa Espacial Brasileiro

LINHA DO TEMPO

2015

2012

2013

2014

2016

Consolidaccedilatildeo do Floripa Sat como projeto de pesquisa

Levantamento dos requisitos desenvolvimento das primeiras versotildees do Floripa Sat

Definiccedilatildeo dos requisitos da versatildeo a ser lanccedilada organizaccedilatildeo do projeto desenvolvimentotestes do protoacutetipo

Fabricaccedilatildeo do protoacutetipo projeto desenvolvimento do modelo de engenharia e do modelo de voo fabricaccedilatildeo testes

Integraccedilatildeo e testes do modelo de voo testes mecacircnicos e teacutermicos lanccedilamento

Etapas de desenvolvimento do projeto Floripasat

Font

e E

duar

do B

ezer

ra

Kleb

er V

ieira

de

Paiv

aDe

sign

Airt

on J

orda

ni

Text

o D

anie

la C

aniccedil

ali

15

Contribuindo para a difusatildeo do conhecimento a Editora da UFSC (EdUFSC) oferece na forma digital livros de seu acervo impresso acessiacuteveis para leitura gratuita on-line Conheccedila alguns deles

ACERVO DIGITAL EDITORA DA UFSC

EdUFSC

Filosofia da Tecnologia um convite Alberto Cupani

httplufscbrfilosofiatecnologia

O fantaacutestico na Ilha de Santa Catarina

Franklin Cascaes httplufscbrfantasticonailha

Gesto palavra e memoacuteria Luciana Hartmann

httplufscbrgestopalavra

Arquitetura da Cidade Contemporacircnea Gilceacuteia Pesce do Amaral e Silva Lisete Assen de Oliveira (Orgs) httplufscbrarquiteturacidade

Algaravia discursos de naccedilatildeo Rauacutel Antelo

httplufscbralgaravia

Tecnologia de Fabricaccedilatildeo de Revestimentos Ceracircmicos

Antonio P N de Oliveira e Dachamir Hotza httplufscbrrevestimentos

16

Linguiacutestica e Literatura

A ARTE E O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEAREDaniela Caniccedilali

Em 1990 um grupo de cerca de dez pesquisadores se reuacutene em torno de um interesse em comum o dramaturgo inglecircs William Shakespeare Em 1991 nasce em Belo Horizonte (MG) o Centro de Estudos Shakespeareanos (CESh) Entre

aqueles que participaram da fundaccedilatildeo da entidade estava Joseacute Roberto OrsquoShea que acabava de se tornar professor do Depar-tamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras (DLLE) da Universi-dade Federal de Santa Catarina (UFSC) No CESh OrsquoShea foi de-signado para iniciar os projetos de traduccedilatildeo ldquoO grupo entendeu que eram necessaacuterias novas traduccedilotildees Como os padrotildees de fala se modificam mesmo o teatro supostamente claacutessico que eacute o caso de Shakespeare tende a ficar datadordquo explica Segundo o pesquisador as traduccedilotildees que circulavam ateacute o final da deacutecada de 1980 estavam desatualizadas em termos de leacutexico estruturas frasais e referecircncias culturais Estavam portanto distantes do puacuteblico leitor e espectador

Antocircnio e Cleoacutepatra foi a primeira das oito obras do dramatur-go inglecircs que OrsquoShea traduziu desde entatildeo ldquoDecidimos co-meccedilar pelas menos encenadas e menos conhecidas mas que satildeo tambeacutem peccedilas extraordinaacuteriasrdquo Seu trabalho se realiza no acircmbito do projeto de pesquisa ldquoTraduccedilotildees anotadas da drama-turgia shakespearianardquo que tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) e estaacute em atividade ininterrupta haacute 23 anos OrsquoShea eacute o uacutenico tradutor de Shakespeare no Brasil cuja atividade estaacute vinculada a programas de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu O professor tambeacutem traduziu aleacutem das obras de Shakespeare obras sobre Shakespeare De Harold Bloom reconhecido criacutetico literaacuterio de liacutengua inglesa tra-duziu entre outros tiacutetulos Shakespeare a invenccedilatildeo do humano com cerca de 900 paacuteginas

OrsquoShea afirma evitar qualquer relaccedilatildeo de reverecircncia ou mitifica-ccedilatildeo ldquoTento natildeo entrar nessa senatildeo fico paralisado Mas sem sombra de duacutevida como outros grandes autores Shakespeare tem percepccedilotildees graviacutessimas sobre a natureza humanardquo O pro-

fessor explica que uma das preocupaccedilotildees baacutesicas do autor eacute explicitar que a viagem do crescimento do ser humano parte de uma situaccedilatildeo de relativa cegueira autoengano ignoracircncia com relaccedilatildeo a si mesmo e agrave realidade que o cerca e segue na direccedilatildeo do autoconhecimento da percepccedilatildeo de sua relativa importacircn-cia ldquoEssa eacute uma sacaccedilatildeo muito granderdquo Outros temas recor-rentes satildeo o amor romacircntico ndash ldquoquase sempre morre o amor ou morrem os amantesrdquo ndash e a poliacutetica a exposiccedilatildeo do mau gover-nante ndash ldquoaquele que soacute visa ao seu bem proacuteprio e ao de alguns que o cercamrdquo

O TRADUTORA formaccedilatildeo do tradutor demanda muita leitura e escrita ldquoLer e escrever satildeo atividades indissociaacuteveis Eacute preciso ter bastante co-nhecimento da liacutengua de partida e imensuraacutevel conhecimento da liacutengua de chegada Aiacute o ceacuteu eacute o limiterdquo OrsquoShea reforccedila seus argumentos citando o poeta chileno Nicanor Parra ldquoPara tradu-cir Shakespeare y comer pescado cuidado poco se gana con saber ingleacutesrdquo Conhecer a liacutengua e a cultura de chegada portan-to eacute o que permite ao tradutor escrever com fluidez fazendo o texto ldquofuncionarrdquo em seu contexto

O professor lembra que ldquoum tradutor eacute um escritorrdquo apesar de nem sempre ser assim reconhecido ldquoNos uacuteltimos 30 anos o tra-dutor estaacute se tornando mais conhecido mais visiacutevel mais res-peitado Mas ainda haacute um caminho longo a ser trilhadordquo OrsquoShea faz referecircncia agraves criacuteticas literaacuterias ldquoAgraves vezes o criacutetico diz lsquoO au-tor tem um belo estilorsquo Mas o autor natildeo escreveu uma daque-las palavras sequer Nenhuma Todas as palavras que o criacutetico leu foram escritas pelo tradutor Ele elogia o estilo a fluecircncia a linguagem e nem menciona o tradutor como se aquela obra tivesse sido escrita em liacutengua portuguesa Essa eacute a famosa invi-sibilidade do tradutorrdquo

17

UFSC Ciecircncia

TRAJETOacuteRIA ACADEcircMICAComo estudante OrsquoShea nunca frequentou uma universidade brasileira cursou a graduaccedilatildeo o mestrado e o doutorado em di-ferentes instituiccedilotildees dos Estados Unidos (EUA) Seus quatro poacutes--doutorados tambeacutem foram no exterior trecircs deles na Inglaterra e um nos EUA Shakespeare foi o eixo central da pesquisa que desenvolveu na UFSC de 1990 a 2015 Nesse periacuteodo orientou 46 trabalhos entre estaacutegios de poacutes-doutorado teses de dou-torado dissertaccedilotildees de mestrado monografias e trabalhos de conclusatildeo de curso (TCC) ndash a maioria abordou diversos aspec-tos da obra de Shakespeare OrsquoShea se aposentou em marccedilo de 2015 mas segue como professor colaborador dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Inglecircs (PPGI) e em Estudos da Traduccedilatildeo (PPGET) Orienta atualmente dois estudantes de mestrado cin-co de doutorado e um de poacutes-doutorado ldquoOs 25 anos que passei na UFSC natildeo gostaria de ter passado em nenhuma outra univer-sidade do mundo Fiz quatro poacutes-docs dei aula como convida-do em universidades no Brasil e no exterior sempre tive apoio para fazer pesquisa apresentar trabalhos em eventos nacionais e internacionais Natildeo substituiria minha experiecircncia aqui por nenhuma outrardquo

Precircmio JabutiOrsquoShea recebeu uma menccedilatildeo honrosa no Precircmio Jabuti em 2003 pela traduccedilatildeo de Cimbeline rei da Britacircnia Em 2008 sua traduccedilatildeo de O conto do inverno ficou entre as dez finalistas do precircmio na categoria Traduccedilatildeo Literaacuteria

Conheccedila um pouco do trabalho de Joseacute Roberto OrsquoShea por meio

de sua primeira traduccedilatildeo de Shakespeare Antocircnio e Cleoacutepatra

disponiacutevel para leitura gratuita on-line

18

A TRADUCcedilAtildeOShakespeare eacute frequentemente traduzido em prosa A traduccedilatildeo em versos metrificados eacute um dos diferenciais do trabalho de OrsquoShea Somam-se a isso a linguagem atualizada e a inclusatildeo de anotaccedilotildees comentaacuterios paratexto e bibliografia seleciona-da Em todas as obras que publicou haacute um ensaio introdutoacuterio e notas explicativas cobrindo questotildees de texto contexto e en-cenaccedilatildeo Em Antocircnio e Cleoacutepatra por exemplo haacute 365 notas Por isso o resultado final vai aleacutem da traduccedilatildeo em si ldquoEu gosto de pensar que minhas traduccedilotildees volume a volume satildeo ediccedilotildees criacuteticas daquele textordquo

Seu meacutetodo de trabalho se inicia com a escolha do texto base ldquoPara Antocircnio e Cleoacutepatra analisei cinco ediccedilotildees integrais da peccedila todas anotadas e publicadas nos uacuteltimos 50 anos Oxford Cambridge Riverside Penguin Arden Satildeo excelentes ediccedilotildees Mas escolhi a Arden porque a meu ver eacute a que estaacute mais bem resolvida textualmenterdquo Segundo o professor natildeo eacute comum os tradutores terem o cuidado de confrontar a ediccedilatildeo que escolhe-ram com outras cinco ou seis verso a verso como ele faz ldquoCom todo o respeito muitas traduccedilotildees carecem de pesquisa O tradu-tor elege uma boa ediccedilatildeo moderna e se ateacutem agraves anotaccedilotildees e agraves soluccedilotildees textuais dessa uacutenica ediccedilatildeordquo

Uma das principais diferenccedilas entre a traduccedilatildeo em verso e em prosa eacute a questatildeo do espaccedilo ldquoNa prosa se precisar de dez pala-vras para descrever um objeto posso dispor de dez palavras Na poesia metrificada natildeo Trabalho com decassiacutelabos e muitas vezes minha melhor opccedilatildeo semacircntica tem quatro ou cinco siacutela-bas mas natildeo posso usaacute-la Tenho que me contentar com minha segunda terceira melhor opccedilatildeo semacircntica pois natildeo tenho es-paccedilo para escrever por exemplo em-be-ve-ci-men-tordquo OrsquoShea explica que pode haver perdas semacircnticas mas haacute ganhos esteacute-ticos ldquoNatildeo posso ser prolixo natildeo tenho espaccedilo para explicar o texto tenho que ser parcimonioso Afinal trata-se de poesia e poesia eacute sugestiva eacute eliacuteptica ela nos permite imaginarrdquo

Outro desafio na traduccedilatildeo em verso eacute a rima ldquoAs rimas visuais graficamente oacutebvias satildeo mais faacuteceis de traduzir Mas haacute rimas que natildeo repetem padrotildees graacuteficos Vocecirc natildeo vecirc vocecirc ouve Eacute preciso esquecer um pouco a questatildeo graacutefica e ir para o som com flexibilidade pois muitas vezes haacute vaacuterias possibilidades de pronuacutencia Home e come por exemplo podem rimar depende da pronuacutencia do poeta Eu trabalho com dicionaacuterios de rimas natildeo tenho escruacutepulos em dizer issordquo O professor afirma ldquonatildeo ter escruacutepulosrdquo pois haacute certo preconceito entre tradutores quanto ao seu uso Ele conta o que lhe ocorreu em um congresso em Li-verpool ldquoEu falava sobre minhas traduccedilotildees sobre poesia rima-da quando um colega de Oxford perguntou como eu trabalha-va Eu disse lsquoTrabalho com um dicionaacuterio de rimas Aliaacutes com mais de umrsquo Ele riu como quem diz lsquocadecirc o ouvido de poetarsquo Mas em um dos meus dicionaacuterios haacute na capa a citaccedilatildeo lsquo() a salvaccedilatildeo da lavoura poeacuteticarsquo Carlos Drummond de Andrade ldquoSe Drummond diz isso acho que estou liberadordquo argumenta com humor

O professor tambeacutem aponta a importacircncia de identificar as pala-vras que sofreram inversatildeo semacircntica ldquoOs vocaacutebulos que a gen-te natildeo conhece natildeo satildeo um problema Existe pelo menos uma duacutezia de dicionaacuterios que cobrem todo o leacutexico shakespeariano O problema satildeo as palavras que parecem corriqueiras que ain-da satildeo utilizadas mas que sofreram inversatildeo semacircntica hoje significam o oposto do que significavam na primeira deacutecada do seacuteculo XVII Satildeo inuacutemeras dessas palavras Essas eacute que satildeo pe-rigosas podem ser armadilhas para o tradutor Merely que hoje eacute lsquomeramentersquo antes era lsquototalmentersquo Fellow que significa lsquoca-maradarsquo na eacutepoca significava lsquomarginalrsquo lsquocriminosorsquo Rival que hoje significa lsquorivalrsquo na eacutepoca significava lsquoparceirorsquo Identificar isso eacute um desafio vocecirc tem que pesquisar muitordquo OrsquoShea acres-centa que tambeacutem eacute importante ter o maacuteximo de empatia pos-siacutevel com cada personagem ldquoVocecirc natildeo pode tomar partido tem que tentar fazer o melhor possiacutevel a partir do personagem que estaacute falando naquele momento Eacute o que alguns autores chamam de lsquodefender o personagemrsquo O tradutor tambeacutem deve defender o personagemrdquo

Traduccedilotildees Editora Ano

Antocircnio e Cleoacutepatra MandarimSiciliano 1997

Cimbeline rei da Britacircnia Iluminuras 2002

O conto do inverno Iluminuras 2007

Peacutericles priacutencipe de Tiro Iluminuras 2012

O primeiro Hamlet In-Quarto de 1603 Hedra 2013

Os dois primos nobres Iluminuras 2016

Troacuteilo e Creacutessida Editora 34 2016

Timon de Atenas (em progresso)

Linguiacutestica e Literatura

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 5: MISSÃO ESPACIAL

4

Editoria

Joinville foi conhecida como ldquoa cidade das bicicletasrdquo por causa de seus muitos operaacuterios e poucos morros No en-tanto apoacutes os anos 1970 trabalhadores que costumavam pedalar ateacute as empresas trocaram o antigo haacutebito por au-

tomoacuteveis e motocicletas ndash situaccedilatildeo comum nas cidades brasilei-ras Essa foi uma das motivaccedilotildees que levou a pesquisadora Ilca Maria Saldanha Diniz em tese defendida no Programa de Poacutes--Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica (PPGEF) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) a analisar os efeitos que atividades educativas como palestras e viacutedeos podem causar ao incenti-var os funcionaacuterios de uma induacutestria a ir ao trabalho de bicicleta

A pesquisa orientada pela professora Maria de Faacutetima da Sil-va Duarte observou durante seis meses os meios de desloca-mento de 932 funcionaacuterios de uma induacutestria metal-mecacircnica de Joinville Foram elaboradas atividades que consistiam em aulas informativas e praacuteticas apresentaccedilotildees em viacutedeo palestras jo-gos e leitura de cartilhas de seguranccedila ndash tudo elaborado a partir das necessidades do trabalhador As temaacuteticas expostas aos in-dustriaacuterios foram a relaccedilatildeo do uso da bicicleta com o meio am-biente sauacutede itens de seguranccedila necessaacuterios e leis de tracircnsito

Para descobrir os efeitos a pesquisadora montou um Grupo Intervenccedilatildeo (GI) e um Grupo Controle (GC) que apoacutes perdas amostrais no final do estudo contavam com 876 trabalhadores 438 em cada O resultado do estudo foi o aumento de 22 no nuacutemero de funcionaacuterios do GI que passaram a se deslocar de bi-cicleta ldquoNoacutes natildeo tiacutenhamos ideia de quanto aumentaria ou se te-riam alguma resposta agraves atividades Em pesquisas o maacuteximo de mudanccedilas que vimos em programas no Brasil e no exterior por meio de educaccedilatildeo foi de 3 de aumento nos fins desejados Deu muito certo um resultado positivordquo diz Ilca A pesquisadora tambeacutem considerou que pelas interaccedilotildees terem sido realizadas por somente seis meses esses efeitos foram surpreendente

Em outros programas de incentivo ao uso da bicicleta as ativi-dades educativas foram desenvolvidas por um maior periacuteodo de tempo entre 12 e 18 meses

No estudo os trabalhadores foram divididos em os que usavam e os que natildeo usavam bicicleta para se deslocar ateacute a induacutestria A metodologia empregada consistiu em formar grupos de pessoas com interesses e haacutebitos semelhantes e desenvolver atividades especiacuteficas a cada A partir disso em 23 encontros foram apli-cados questionaacuterios para compreender as caracteriacutesticas dos trabalhadores e estimular a forma de transporte ldquoNo processo as pessoas foram classificadas em estaacutegios que dependem do haacutebito que o funcionaacuterio tem de pedalar pois as informaccedilotildees que precisamos dar para que a pessoa mude de comportamento depende da experiecircncia de cada umrdquo explica Ilca

De acordo com a pesquisa eacute necessaacuterio melhorar todo o proces-so educativo no Brasil em relaccedilatildeo agrave bicicleta considerando-se o municiacutepio em que a atividade estaacute sendo aplicada e as pessoas para quem satildeo destinadas as aulas principalmente nas escolas e ambientes de trabalho Na realidade daqueles industriaacuterios foi verificado que as maiores barreiras para escolher o meio de transporte eram o tracircnsito intenso a distacircncia percorrida para chegar ao destino e o clima desfavoraacutevel Tambeacutem foram lista-dos os principais motivos para escolher a bicicleta melhora da sauacutede praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos e proteccedilatildeo ao meio ambiente

Pelos questionaacuterios respondidos foi possiacutevel descobrir que a maioria dos trabalhadores relatou ter ensino meacutedio completo ou curso teacutecnico com renda familiar entre R$ 1080 e R$ 2700 Algumas caracteriacutesticas predominavam nos trabalhadores que mais pedalavam ateacute a induacutestria menor renda residecircncia agrave dis-tacircncia menor ou igual a cinco quilocircmetros menor escolaridade e posse de bicicleta ndash cerca de 72 a tinham

Tese propotildee atividades para estimular uso de bicicleta

4

Ciecircncias da Sauacutede

Camila Geraldo

MUDANCcedilA DE

HAacuteBITO

5

UFSC Ciecircncia

Na opiniatildeo da pesquisadora o que mais influencia o uso da bi-cicleta eacute a ciclovia ldquoEm torno da induacutestria que estudamos havia ciclovia em todos os pontos ciclovia mesmo natildeo somente uma faixa pintada onde se diz que pode passar a bicicleta Hoje as maiores cidades catarinenses ou natildeo tecircm ciclovias ou quando tecircm elas satildeo interrompidas em alguns pontos e natildeo garantem seguranccedila Temos que criar a cultura da infraestrutura cicliacutestica e do respeito ao ciclistardquo completa

5

UFSC Ciecircncia

Um estudo realizado pelo Sesi em 2009 apontou que no estado de Santa Catarina a prevalecircncia do uso da bicicleta no deslo-camento ao trabalho eacute em Joinville com 128 As outras duas cidades catarinenses com maior nuacutemero de pessoas que cos-tumam pedalar ateacute o trabalho satildeo Lages (123) e Blumenau (75) Muitas das informaccedilotildees contidas na tese serviram de subsiacutedio agrave formulaccedilatildeo de um manual para induacutestrias do SenaiSesi que estaacute sendo distribuiacutedo em todo Brasil

Praacutetica de exerciacutecios

Melhora da sauacutede

Proteccedilatildeo ao meio ambiente

Acesso a ciclovias

Mais raacutepido

Residir proacuteximo agrave empresa

Mais barato

Motivos para escolher a bicicletaEm sua tese de doutorado Ilca Diniz elencou as principais razotildees que levam os

industriaacuterios de uma empresa metal-mecacircnica a pedalar ateacute o trabalho

Fonte Ilca Maria Saldanha Diniz Graacutefico Gabriela Fantini Camila Ignaacutecio GeraldoFonte Ilca Maria Saldanha Diniz Design Gabriela Fantini Texto Camila Geraldo

6

Engenharias

CERAcircMICA SUSTENTAacuteVELTamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Aparas de papel satildeo utilizadas na produccedilatildeo de azulejos

UFSC Ciecircncia

7

Um estudo realizado no Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Engenharia Quiacutemica desenvolveu ceracircmica monoporosa tambeacutem conhecida como azulejo com 20 de aparas de papel Para realizar sua dissertaccedilatildeo Rodrigo Daros

sob orientaccedilatildeo do professor Humberto Gracher Riella substituiu parte do calcaacuterio usado na ceracircmica por esse resiacuteduo do papel mais viaacutevel econocircmica e ecologicamente

Utilizar as aparas em ceracircmicas monoporosas eacute uma alternativa com benefiacutecios ambientais pois diminui a quantidade de cal-caacuterio ndash um recurso natildeo renovaacutevel ndash e reaproveita os restos de papel que seriam descartados no ambiente Essa reutilizaccedilatildeo ocorre tambeacutem na correccedilatildeo de solo e na formulaccedilatildeo de cimento no entanto como a induacutestria de papel e celulose produz aparas em grande quantidade a maioria natildeo eacute reaproveitada

Na pesquisa de Daros as ceracircmicas produzidas tiveram uma ab-sorccedilatildeo de 3 a 8 maior do que as sem o resiacuteduo o que signi-fica que a aderecircncia agrave parede seraacute melhor O iacutendice alcanccedilado no estudo se manteacutem dentro do limite que permite classificar a ceracircmica como monoporosa ndash aquela que possui absorccedilatildeo su-perior a 10

Foram utilizados soacute 20 de resiacuteduos de papel na composiccedilatildeo da ceracircmica porque segundo o pesquisador esse seria o valor ideal para atingir o iacutendice padratildeo de absorccedilatildeo de aacutegua Acima de 25 haveria trincas ou quebras durante a queima do azulejo devido agrave retraccedilatildeo da peccedila

O uso das aparas soacute foi possiacutevel porque sua composiccedilatildeo eacute simi-lar agrave do calcaacuterio cuja decomposiccedilatildeo gera oacutexido de caacutelcio que constitui mais de 50 do resiacuteduo De acordo com o pesquisador ldquoo calcaacuterio eacute o ideal mas como eacute algo que pode ser extinto o resiacuteduo supre essa necessidaderdquo

Esse meacutetodo tambeacutem eacute economicamente mais viaacutevel O resiacuteduo de papel custa R$ 0014kg uacutemido e R$ 002kg seco de acordo com um levantamento de 2012 feito por uma empresa especia-lizada Jaacute o preccedilo do calcaacuterio eacute de R$ 0130kg Aleacutem disso o gasto para tratamento e envio das aparas aos aterros ndash que varia de R$ 006kg a R$ 0130kg ndash iria reduzir-se

Em 2005 uma pesquisa da Universidade de Aveiro Portugal usou 10 do resiacuteduo em argila outra de 2006 realizada na Uni-versidade Federal da Bahia (UFBA) utilizou 20 em argamassa Jaacute a de Daros foi feita em ceracircmica porque de acordo com ele eacute uma produccedilatildeo ldquoem larga escala e satildeo produtos mais naturais entatildeo eacute mais faacutecil de colocar nesse setorrdquo

A pesquisa foi desenvolvida em laboratoacuterio mas Daros pretende expandir o projeto A ideia foi oferecida a algumas induacutestrias de ceracircmica poreacutem ainda natildeo houve resposta positiva ldquoSempre haacute alguma resistecircncia porque eacute uma novidade uma inovaccedilatildeordquo afirma o pesquisador

Santa Catarina eacute o maior produtor brasileiro de ceracircmicas mo-noporosas em relaccedilatildeo a papel e celulose o estado representa 81 da induacutestria nacional O Brasil tem a quarta maior produ-ccedilatildeo mundial de celulose e a nona de papel

8

ldquoMuito amor pela Universidaderdquo Assim com poucas pala-vras Ilse Scherer-Warren explica por que adiou o dia de se aposentar quase tanto quanto pocircde ldquoQuaserdquo porque trabalhou ateacute bem pouco antes da data de sua aposenta-

doria compulsoacuteria em janeiro de 2014 quando completou 70 anos ldquoDois ou trecircs dias porque achei que natildeo tinha que ser tatildeo precisa assim Se jaacute tivesse mudado a legislaccedilatildeo (ela refere-se ao projeto de lei aprovado no Congresso que altera de 70 para 75 anos a idade de aposentadoria compulsoacuteria para servidores puacuteblicos) eu teria esperado mais Mas atuar como voluntaacuteria daacute mais liberdade posso me dedicar mais ao que gosto mesmordquo diz

No caso de Ilse isso significa estudar movimentos sociais prin-cipalmente agrave frente do Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos So-ciais que ajudou a fundar na UFSC em 1983 Em setembro foi homenageada durante o 17ordm Congresso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em Porto Alegre a mesma onde fez sua gradu-accedilatildeo com o Precircmio Florestan Fernades ndash a distinccedilatildeo foi criada como reconhecimento agrave atuaccedilatildeo de profissionais que contribu-iacuteram para o progresso da Sociologia no Brasil Entre os premia-dos anteriormente estatildeo Fernando Henrique Cardoso Manuel Correia de Andrade Heraldo Pessoa Souto Maior Octaacutevio Ianni Neuma Aguiar Joseacute de Souza Martins Juarez Rubens Brandatildeo Lopes Wilma de Mendonccedila Figueiredo Francisco de Oliveira e Silke Weber

ILSE SCHERER-WARREN

Faacutebio Bianchini

40 anos dedicados a pesquisas sobre movimentos sociais

Perfil

UFSC Ciecircncia

9

Ainda assim prefere falar das atividades e realizaccedilotildees do Nuacute-cleo que de acordo com nuacutemeros de 2013 havia gerado 35 pro-jetos 96 dissertaccedilotildees e teses 29 livros e 69 capiacutetulos de livros (ldquomas acho que eacute maisrdquo avalia) A preocupaccedilatildeo coletiva aparece tambeacutem no final da entrevista depois de falar da aposentadoria a premiaccedilatildeo e sua histoacuteria pessoal Para responder agrave pergunta sobre o que pensa do futuro fala mais do Brasil do que de si proacutepria ldquoSou otimista mas estaacute estranho Para quem viveu a di-tadura ver determinados discursos manipulaccedilotildees e convicccedilotildees poliacuteticas natildeo satildeo nada melhores que as barbaridades que a gente ouvia em 1968 Acho que realmente precisa de muito estu-dordquo Quando diz o nome do paiacutes assim como todas as palavras terminadas em ldquoLrdquo aparece a caracteriacutestica que mais facilmente identifica suas origens no interior do Rio Grande do Sul a pro-nuacutencia da consoante como ldquoLrdquo mudo mesmo jaacute armando para a vogal que natildeo vem natildeo como ldquoUrdquo

Foi em Portatildeo a 43 quilocircmetros de Porto Alegre (estimativa de populaccedilatildeo em 2015 de acordo com o IBGE 33994 pessoas) que ela comeccedilou sua trajetoacuteria acadecircmica na garupa de uma eacutegua Era como aos oito anos percorria os dois quilocircmetros que separavam a pequena propriedade de sua famiacutelia da escola do municiacutepio ldquoEu era pequeninha magrinha e meu pai ficava preocupado se eu fosse a peacute Naquela eacutepoca jaacute tinha uma fas-cinaccedilatildeo muito grande por estudarrdquo relembra No segundo ano comeccedilou a ir a peacute mesmo por conta proacutepria Seus passatempos preferidos eram caminhar pelo campo e brincar de dar aula para alunos imaginaacuterios O pai pequeno agricultor era lideranccedila po-liacutetica local participou da construccedilatildeo da igreja fez parte do anti-go Partido Libertador e depois do Partido Democraacutetico Cristatildeo Nas paacuteginas do jornal que ele assinava encantou-se com as re-flexotildees do pensador jornalista professor criacutetico literaacuterio e liacuteder catoacutelico Alceu Amoroso Lima que escrevia sob o pseudocircnimo Tristatildeo de Ataiacutede ldquoEle era muito humanistardquo recorda

Chegou a ir para o coleacutegio interno ndash por vontade proacutepria para se-guir os passos da irmatilde mais velha (tinha uma irmatilde e sete irmatildeos) ndash e quando terminou o ensino fundamental parou momenta-neamente os estudos formais jaacute que a escola local natildeo tinha o ensino meacutedio (ldquohoje jaacute temrdquo faz questatildeo de destacar) e foi para a cozinha ldquoFiquei nessa dos 12 13 anos ateacute os 17 mas sem esquecer meu sonho Queria algo como Filosofia Psicologia Psi-quiatria Jornalismo ou Literatura por aiacuterdquo Mudou-se para Porto Alegre e foi trabalhar sem remuneraccedilatildeo formal na casa de uma famiacutelia que por sua vez pagava seus estudos Com os livros do irmatildeo mais velho preparou-se para o exame supletivo e pas-sou Tambeacutem do irmatildeo mais velho havia ganhado um manual de Sociologia com o qual havia se identificado e assim fez o ves-tibular da UFRGS para Ciecircncias Sociais que na eacutepoca permitia mais adiante optar pelo curso de Jornalismo Mas natildeo foi o caso

ldquoNas Ciecircncias Sociais senti-me em casardquo explica Entrou no cur-so em 1965 um ano apoacutes o golpe militar quando a repressatildeo jaacute se sentia mas ainda natildeo era tatildeo forte quanto se tornou a partir de 1968 Tatildeo logo aprovada no vestibular tomou uma iniciativa que renderia frutos ainda pintada de caloura foi ateacute a Alianccedila Francesa explicou que tinha interesse em aprender o idioma mas natildeo podia pagar pelo curso e acabou ganhando uma bolsa Participou ativamente do movimento estudantil e foi a muitos protestos e passeatas ldquoQuando nos aproximaacutevamos do centro da cidade a poliacutecia vinha em cima com cavalaria Muitos anos depois fui ao Foacuterum Social Mundial e soacute de ver a cavalaria de novo deu um calafrio Em um deles o que mais me marcou um policial encostou uma arma contra meu peitordquo

O Trabalho de Conclusatildeo de Curso foi sobre Sociologia do Tra-balho Imediatamente comeccedilou o mestrado tambeacutem na UFRGS com o tema de movimentos sociais rurais patronais e campone-ses A essa altura jaacute em 1969 poacutes AI-5 o regime poliacutetico jaacute era bem mais pesado Ao clima pluacutembeo da eacutepoca somava-se para Ilse a carga de aulas da poacutes-graduaccedilatildeo ldquoTinha que bater ponto e tudordquo conta Para aliviar a tensatildeo ela arranjou mais um com-promisso aulas de teatro agrave noite Chegou a participar de uma peccedila infantil mas natildeo levou a carreira dramaacutetica adiante

Em vez disso em 1971 terminado o mestrado comeccedilou a anali-sar as possibilidades para o doutorado A essa altura sabia que queria sair de Porto Alegre conhecer coisas diferentes Procurou entatildeo contato com Fernando Henrique Cardoso que fizera uma palestra na UFRGS chegou a visitaacute-lo em Satildeo Paulo (foi recebi-da primeiramente por Ruth Cardoso) mas ele havia sido apo-sentado compulsoriamente pelo decreto-lei nordm 477 de fevereiro de 1969 Ainda assim indicou-a agrave USP mas a possibilidade de estudar na Europa e de colocar em praacutetica seus anos de estudo do francecircs atraiacuteram-na mais e Ilse comeccedilou a entrar em contato com a Sorbonne na Franccedila mesmo sem saber que tipo de apoio teria ldquoO pessoal perguntava se eu natildeo tinha medo de ir para fora e eu dizia lsquopara fora de quecircrsquo natildeo existia isso de dentro ou fora para mimrdquo enfatiza

Ainda com as possibilidades em aberto foi para a Inglaterra naquele ano enquanto o clima poliacutetico no Brasil endurecia ain-da mais Chegou laacute sem nenhuma indicaccedilatildeo falando pouco do idioma e conseguiu hospedagem na Casa do Brasil na Inglaterra ndash nessa eacutepoca conheceu o futuro marido Foi entatildeo agrave Franccedila e decepcionou-se com o que considerou burocracia excessiva da Sorbonne mas marcou uma entrevista para dali a dois meses com Alain Touraine socioacutelogo francecircs renomado por seus es-critos a respeito de movimentos sociais e da Sociologia de Tra-balho em que cunhou a expressatildeo ldquosociedade poacutes-industrialrdquo No periacuteodo de sua graduaccedilatildeo na UFRGS Touraine jaacute era um dos estudiosos mais discutidos

Ilse levou a seacuterio o conselho da secretaacuteria do professor com quem marcara a entrevista jaacute chegar com o projeto claro e bem--embasado Voltou agrave Inglaterra e pocircs-se a trabalhar nisso ateacute o dia do encontro Levou tambeacutem sua dissertaccedilatildeo de mestrado Funcionou ele gostou da proposta sobre sindicalismo rural e aceitou a nova orientanda na Universidade de Paris X em Nan-terre Conseguiu tambeacutem uma bolsa da Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) Nessa mes-ma eacutepoca Touraine escrevia sua principal obra A produccedilatildeo da sociedade cujos capiacutetulos foram todos discutidos em sala pela turma de que Ilse participava Esse modo de trabalhar em gru-pos conta ela foi uma grande influecircncia em sua vida acadecircmica

Apoacutes concluir o doutorado voltou ao Brasil e em 1974 comeccedilou a dar aulas como horista no Instituto de Filosofia e Ciecircncias So-ciais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) O clima que encontrou no paiacutes era de medo O IFCS receacutem-passara por um processo em que cerca de quarenta professores foram cassados entre eles Darcy Ribeiro ldquoTodo mundo cochichava para falar de poliacutetica meu marido natildeo conseguia entender por que aquilo mas era difiacutecil evitar E como ensinar Sociologia sem falar em classes sociaisrdquo observa Precisava tomar cuidado em sala de aula para natildeo avanccedilar em temas considerados tabus em certo momento foi ldquoaconselhadardquo por telefone a natildeo par-ticipar de um concurso puacuteblico para professora adjunta entre 1975 e 1976 porque poderia haver consequecircncias graves se fosse aprovada preferiu ficar de fora Em outro concurso mais

10

adiante natildeo houve ameaccedila e Ilse passou na seleccedilatildeo curricular para adjunta

Nos sete anos que passou na UFRJ Ilse viveu o periacuteodo da aber-tura poliacutetica e da luta pela anistia Criou grupos de trabalho aju-dou a organizar a poacutes-graduaccedilatildeo em Sociologia na UFRJ e foi a primeira coordenadora da poacutes e do mestrado Entatildeo em 1981 surgiu a oportunidade de vir para a UFSC inicialmente como pro-fessora convidada por iniciativa do professor Silvio Coelho dos Santos que iniciava um grupo interdisciplinar ldquoMas na verdade eu sabia que queria ficar por aqui Deu tudo certo Queria me in-tegrar aqui e me integrei logo me sentia em casa as possibilida-des estavam se abrindordquo lembra Jaacute existia o Novo Sindicalismo com Luis Inaacutecio Lula da Silva como liacuteder os movimentos sociais se reorganizavam dali a poucos anos em 1984 seria fundado oficialmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Um dos primeiros projetos de Ilse na UFSC foi um trabalho sobre desabrigados nas construccedilotildees de barragens assunto para o qual acabou voltando ao longo dos anos Depois de passar os dois primeiros anos em Florianoacutepolis ainda agrave disposiccedilatildeo da UFRJ passou em concurso puacuteblico e tornou-se professora titular na UFSC

Em 1984 durante o VII Encontro Nacional da Associaccedilatildeo Nacio-nal de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Ciecircncias Sociais (Anpocs) apresentou o texto ldquoO caraacuteter dos novos movimentos sociaisrdquo considerado peccedila fundamental para o estabelecimento desta denominaccedilatildeo que abordava ainda o feminismo e o movimento ecoloacutegico Foi incluiacutedo tambeacutem em Uma Revoluccedilatildeo no Cotidiano ndash os novos movimentos sociais na Ameacuterica Latina de 1987 orga-nizado junto com o professor Paulo Krischke tambeacutem da UFSC e lanccedilado pela editora Brasiliense Observou surgir essa nova maneira de associativismo e organizaccedilatildeo nos grupos de periferia

Perfil

de Florianoacutepolis com participaccedilatildeo do padre Vilson Groh ligado desde os anos 1980 agrave Teologia da Libertaccedilatildeo e depois aos mo-vimentos dos Sem-Terra e Sem-Teto

Ilse tambeacutem ajudou a definir os conceitos de rede nesses mo-vimentos sociais brasileiros a partir de sua organizaccedilatildeo mais fluida com trocas de experiecircncia e articulaccedilotildees e diferentes pos-sibilidades de participaccedilatildeo Ela apresentou essa visatildeo no livro Redes de movimentos sociais lanccedilado pela editora Loyola em 1996 Com o tempo construiu uma produccedilatildeo extensa e influen-te Na UFSC participou de todo o processo de implantaccedilatildeo de cotas e poliacuteticas afirmativas ldquoHouve um debate muito acirrado entre intelectuais e sempre surgia o discurso de que os cotistas teriam aproveitamento acadecircmico inferior mas isso acabou sen-do desmentido com os nuacutemeros que mostraram que natildeo havia muita diferenccedila entre eles e os natildeo cotistasrdquo destaca

O Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos Sociais diz surgiu de maneira informal quando ex-alunos demonstraram interes-se em prosseguir debatendo ldquoComeccedilamos a fazer encontros perioacutedicos depois conseguimos uma sala aiacute foi indo Surgi-ram daiacute vaacuterios trabalhos e eacute como eu gosto de fazer as coisas em grupordquo

Conheccedila mais sobre o pensamento de Ilse Scherer-Warren por meio

do livro do qual eacute coorganizadora Movimentos sociais e participaccedilatildeo

editado pela EdUFSC e disponiacutevel para leitura gratuita on-line

11

Como mostrar o que eacute pesquisa a ciecircncia como ela eacute feita quais benefiacutecios ela traz para as pessoas Parece faacutecil mas natildeo eacute Explicar temas agraves vezes complicados de forma que as pessoas entendam - sem cair no sensacionalismo

barato de tabloides e programas pseudocientiacuteficos ndash eacute muito mais difiacutecil do que parece

As pessoas se interessam por ciecircncia A resposta eacute um grande sim Resultado de uma pesquisa feita em 2015 sobre a percep-ccedilatildeo puacuteblica de ciecircncia e tecnologia no Brasil mostrou alguns re-sultados surpreendentes Por exemplo as pessoas acham que ciecircncia eacute uma atividade muito importante e essencial para aju-dar a resolver problemas do paiacutes e do mundo Trecircs quartos dos entrevistados acreditam que a ciecircncia traz mais benefiacutecios que malefiacutecios e mais da metade acredita que cientistas fazem coi-sas uacuteteis agrave humanidade entretanto 90 dos entrevistados natildeo conseguem se lembrar de uma instituiccedilatildeo cientiacutefica ou nome de um cientista brasileiro famoso

O que falta entatildeo Maior oferta de informaccedilatildeo cientiacutefica de qua-lidade Embora uma parcela significativa das pessoas acredite que a internet televisatildeo e jornais divulgam de forma satisfatoacute-ria descobertas cientiacuteficas o problema eacute a quantidade dessas informaccedilotildees que alcanccedila esses meios E infelizmente natildeo po-demos ignorar que muitas destas informaccedilotildees principalmente as veiculadas na internet tecircm qualidade no miacutenimo duvidosa

E quem melhor qualificado para transmitir estas informaccedilotildees que os proacuteprios pesquisadores Aiacute temos outro problema A maioria dos pesquisadores natildeo tem treinamento para transmitir a men-sagem em linguagem que as pessoas entendam Isso nos leva imediatamente agrave necessidade imperiosa de junccedilatildeo de esforccedilos entre pessoas que sabem transmitir a informaccedilatildeo (jornalistas por exemplo) e aquelas que tecircm as informaccedilotildees (pesquisadores e cientistas)

Aiacute entra o jornalismo cientiacutefico e a divulgaccedilatildeo cientiacutefica Infeliz-mente nosso paiacutes natildeo estaacute entre os que fazem boa divulgaccedilatildeo cientiacutefica ndash e natildeo eacute por falta de boa ciecircncia Temos centenas de exemplos de grupos de pesquisa em universidades laboratoacuterios oficiais e empresas que estatildeo trabalhando na fronteira do co-nhecimento em pesquisas de classe mundial Porque isso acon-tece A resposta eacute difiacutecil e pode ter inuacutemeras variaacuteveis Poucos satildeo os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo cientiacutefica permanentes no Brasil E poucos satildeo os jornalistas especializados em divulgaccedilatildeo cien-tiacutefica Em alguns paiacuteses haacute jornalistas e setores de divulgaccedilatildeo de instituiccedilotildees e universidades especializados em levar para o puacuteblico o que acontece em pesquisa nos seus laboratoacuterios Aleacutem de elevar a compreensatildeo do puacuteblico em geral sobre os avanccedilos da ciecircncia essa eacute uma forma importante de prestaccedilatildeo de contas do dinheiro aplicado em ciecircncia e pesquisa

Tamanha eacute a importacircncia atribuiacuteda agrave divulgaccedilatildeo cientiacutefica que o curriacuteculo Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-tiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) agora tem uma aba especiacutefica para que sejam cadastradas as atividades de divulgaccedilatildeo cientiacutefica

Nesse sentido a UFSC deu uma modesta mas significativa con-tribuiccedilatildeo A Propesq manteacutem desde 2014 uma equipe de jo-vens estudantes de jornalismo orientados por profissionais que produziram uma seacuterie de mateacuterias sobre a pesquisa que se faz na UFSC ndash algumas inclusive tendo sido veiculadas pela grande imprensa ndash o que possibilitou levar o conhecimento produzido na Universidade para um nuacutemero ainda maior de pessoas

Este eacute um bom comeccedilo para uma atividade que deve ter caraacuteter permanente A oferta de material de divulgaccedilatildeo de boa quali-dade aumentaraacute a percepccedilatildeo do puacuteblico sobre a relevacircncia e importacircncia da pesquisa cientiacutefica Eacute minha convicccedilatildeo que esta iniciativa deve continuar e ser expandida para tornar-se o Pro-grama de Divulgaccedilatildeo Cientiacutefica da UFSC

CIEcircNCIA SEMCOMPLICACcedilAtildeOJamil Assreuy

Opiniatildeo

Doutor em Ciecircncias Bioloacutegicas (Biofiacutesica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Fez o poacutes-doutorado no Wellcome Research Labs UK Atualmente eacute Professor Associado do Departamento de Farmacologia e Proacute-Reitor de Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina

12

MISSAtildeO

ESPACIALDaniela Caniccedilali

Equipe da UFSC desenvolve sateacutelite que seraacute lanccedilado em 2016

Engenharias

UFSC Ciecircncia

Um cubo com 10 cm de aresta pesando aproximadamente um quilo constituiacutedo de computador de bordo paineacuteis solares bateria e carga uacutetil (dispositivos que exercem funccedilotildees preestabelecidas como fotografar medir a tem-

peratura etc) Essas satildeo as caracteriacutesticas do nanossateacutelite do tipo cubesat que estaacute sendo desenvolvido desde 2012 no proje-to Floripa Sat uma iniciativa de pesquisadores e alunos de dife-rentes cursos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) A previsatildeo de lanccedilamento eacute dezembro de 2016

O Floripa Sat surgiu de forma independente inspirado em ou-tros projetos experimentais do Centro Tecnoloacutegico (CTC) mdash como o BAJA SAE do curso de Engenharia Mecacircnica que se destina a produzir protoacutetipos de veiacuteculos automotivos off-road ldquoExiste aqui na UFSC o BAJA o barco eleacutetrico o carro eleacutetrico Satildeo vaacuterios projetos Pensamos entatildeo em propor o desenvolvimento de um sateacutelite para que os alunos se interessassem e se motivassem tambeacutem pela aacuterea aeroespacialrdquo explica o professor Eduardo Bezerra do Departamento de Engenharia Eleacutetrica e um dos coor-denadores do projeto Outro coordenador professor Kleber Viei-ra de Paiva do curso de Engenharia Aeroespacial (Campus Join-ville) reforccedila que o principal objetivo do projeto eacute educativo ldquoO aluno tem a oportunidade de participar de uma missatildeo espacial completardquo Ao mesmo tempo em que passou a contribuir para a formaccedilatildeo dos estudantes o Floripa Sat tambeacutem deu visibilidade agrave aacuterea aeroespacial ainda recente nas universidades brasileiras O curso da UFSC foi criado em 2009 e eacute uma das uacutenicas seis gra-duaccedilotildees em Engenharia Aeroespacial em todo o paiacutes

Ateacute chegar a sua ldquoversatildeo finalrdquo e ser lanccedilado o sateacutelite passa pelas seguintes etapas anaacutelise de requisitos projeto desen-volvimento integraccedilatildeo e testes Na etapa de levantamento de requisitos satildeo definidas desde as faixas de temperatura que o sateacutelite deve aguentar a velocidade de comunicaccedilatildeo com a Ter-ra ateacute as funccedilotildees que iraacute executar Na etapa de projeto satildeo de-senvolvidas as placas mdash com microprocessadores que mantecircm o sateacutelite em funcionamento mdash um dos diferenciais do Floripa Sat

Enquanto outras universidades utilizam placas prontas na UFSC elas estatildeo sendo desenvolvidas pelos proacuteprios alunos ldquoNoacutes ad-quirimos uma placa da empresa que fabrica um dos melhores modelos de cubesat Mas essa placa vai servir apenas como mo-delo de referecircncia Nosso interesse eacute o desenvolvimento cientiacute-fico poder estudar os circuitos e talvez ateacute desenvolver placas mais eficientesrdquo explica Eduardo

Na etapa de integraccedilatildeo os diversos subsistemas do cubesat satildeo colocados para funcionar em conjunto passando-se entatildeo agrave fase de testes quando o sateacutelite como um todo eacute submetido a um ambiente de voo Apoacutes ser aprovado nos testes chega entatildeo o momento mais esperado a integraccedilatildeo ao veiacuteculo lanccedilador e o lanccedilamento do sateacutelite ldquoA sensaccedilatildeo de colocar um sateacutelite em oacuterbita eacute de muita satisfaccedilatildeo de dever cumprido Eacute algo que deve ser planejado com cuidado pois se qualquer coisa der errado o objetivo final que eacute estabelecer a comunicaccedilatildeo do sateacutelite com a Terra pode natildeo ser atingidordquo explica Kleber O doutoran-do Leonardo Slongo pesquisador do projeto tambeacutem descreve essa etapa como a que gera mais expectativa ldquoSatildeo realizados vaacuterios testes mas ainda assim existe muita apreensatildeo sobre-tudo nos primeiros minutos do lanccedilamentordquo Kleber acrescenta ldquoVocecirc natildeo tem uma segunda chancerdquo

Se a missatildeo for bem-sucedida chega a fase de monitorar as ati-vidades do sateacutelite coletar dados e com essas informaccedilotildees di-vulgar os resultados do trabalho por intermeacutedio de publicaccedilotildees e patentes ldquoO trabalho natildeo acaba no lanccedilamento ele continua Enquanto estiver em oacuterbita os alunos vatildeo estar envolvidos na comunicaccedilatildeo com o sateacuteliterdquo explica Kleber O Floripa Sat seraacute transportado como carga de um sateacutelite de maior porte o Uni-sat-7 (da empresa GAUSS) que por sua vez seraacute acoplado ao foguete Dnepr com data de lanccedilamento prevista para dezem-bro de 2016 na Ruacutessia A integraccedilatildeo final seraacute realizada na Itaacutelia com o acompanhamento de dois membros da equipe da UFSC prioritariamente estudantes

CUBESATO cubesat mdash abreviaccedilatildeo das palavras em inglecircs ldquocuberdquo (cubo) e ldquosatrdquo (sateacutelite) mdash caracteriza-se por sua estrutura simplificada e custo reduzido enquanto para o seu lanccedilamento satildeo gastos aproximadamente 100 mil doacutelares para o de um sateacutelite convencional os custos chegam a 250 milhotildees Os sateacutelites de pequeno porte conhecidos como nanossateacutelites tambeacutem se distinguem pelo alto valor agregado ldquoOs componentes que precisamos adqui-rir para desenvolver uma placa custam cerca de 100 doacutelares Quando fica pronta ela pode ser vendida por 15 mil doacutelaresrdquo afirma o professor Eduardo

O padratildeo cubesat foi desenvolvido em 1999 no contexto da tendecircncia dos nanossateacutelites com o intuito de fomentar a pesquisa universitaacuteria na aacuterea de Engenharia Aeroespacial Seus idealizadores Jordi Puig-Suari e Bob Twi-ggs professores das universidades norte-americanas California Polytechnic State University e Stanford University tinham o propoacutesito de proporcionar aos estudantes de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo a possibilidade de projetar construir testar e operar um sateacutelite semelhante ao Sputnik Os dois pesquisa-dores estaratildeo em Florianoacutepolis no primeiro semestre de 2016 para o evento ldquoII Latin America IAA CubeSat Workshoprdquo organizado pela equipe do pro-jeto Floripa Sat

13

14

Engenharias

PROJETO SERPENSOutro projeto que tem a participaccedilatildeo da UFSC em parceria com outras universidades eacute o Sistema Espacial para a Realizaccedilatildeo de Pesquisas e Experimentos com Nanossateacutelites (Serpens) Coor-denado pela Agecircncia Espacial Brasileira (AEB) como uma ativi-dade do programa Uniespaccedilo o Serpens foi criado em dezembro de 2013 com o objetivo de qualificar a pesquisa acadecircmica na aacuterea Ao longo dos anos estudantes dos cursos de Engenha-ria Aeroespacial do paiacutes teratildeo a oportunidade de aplicar a teo-ria na praacutetica participando do desenvolvimento e lanccedilamento de cubesats O primeiro o Serpens I foi lanccedilado em agosto de 2015 rumo agrave Estaccedilatildeo Espacial Internacional (ISS) e colocado em oacuterbita no dia 17 de setembro Aleacutem da UFSC quatro instituiccedilotildees brasileiras participam do projeto Serpens Universidade de Bra-siacutelia (UnB) Universidade Federal do ABC (UFABC) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Instituto Federal Fluminense (IFF) Em cada missatildeo uma equipe fica responsaacutevel por liderar o projeto o Serpens I foi liderado pela UnB o Serpens II mdash que jaacute estaacute em desenvolvimento com previsatildeo de lanccedilamento para de-zembro de 2017 mdash estaacute sendo coordenado pela equipe da UFSC

EQUIPEAtualmente integram o Floripa Sat dez professores e trinta alu-nos da graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Engenharia Aeroespacial Engenharia Eleacutetrica Engenharia Eletrocircnica Engenharia Mecacircni-ca Ciecircncia da Computaccedilatildeo e Engenharia de Controle e Automa-ccedilatildeo Aleacutem do projeto Floripa Sat e do Serpens membros da equi-pe jaacute participaram de outras missotildees aeroespaciais Em 2006 quando ainda era estudante de mestrado da UFSC o professor Kleber teve participaccedilatildeo na missatildeo do astronauta brasileiro Mar-cos Pontes como responsaacutevel por um dos experimentos utiliza-do pelo astronauta no ambiente de microgravidade da Estaccedilatildeo Espacial Internacional O doutorando Leonardo Slongo partici-pou junto com Kleber de projetos do Programa Microgravidade da AEB e acompanhou no Centro de Lanccedilamento de Alcacircntara (CLA) no Maranhatildeo o lanccedilamento de foguetes que executaram diferentes experimentos O professor Eduardo Bezerra atua haacute mais de dez anos no projeto e desenvolvimento de sistemas computacionais embarcados para os sateacutelites de grande porte do Programa Espacial Brasileiro

LINHA DO TEMPO

2015

2012

2013

2014

2016

Consolidaccedilatildeo do Floripa Sat como projeto de pesquisa

Levantamento dos requisitos desenvolvimento das primeiras versotildees do Floripa Sat

Definiccedilatildeo dos requisitos da versatildeo a ser lanccedilada organizaccedilatildeo do projeto desenvolvimentotestes do protoacutetipo

Fabricaccedilatildeo do protoacutetipo projeto desenvolvimento do modelo de engenharia e do modelo de voo fabricaccedilatildeo testes

Integraccedilatildeo e testes do modelo de voo testes mecacircnicos e teacutermicos lanccedilamento

Etapas de desenvolvimento do projeto Floripasat

Font

e E

duar

do B

ezer

ra

Kleb

er V

ieira

de

Paiv

aDe

sign

Airt

on J

orda

ni

Text

o D

anie

la C

aniccedil

ali

15

Contribuindo para a difusatildeo do conhecimento a Editora da UFSC (EdUFSC) oferece na forma digital livros de seu acervo impresso acessiacuteveis para leitura gratuita on-line Conheccedila alguns deles

ACERVO DIGITAL EDITORA DA UFSC

EdUFSC

Filosofia da Tecnologia um convite Alberto Cupani

httplufscbrfilosofiatecnologia

O fantaacutestico na Ilha de Santa Catarina

Franklin Cascaes httplufscbrfantasticonailha

Gesto palavra e memoacuteria Luciana Hartmann

httplufscbrgestopalavra

Arquitetura da Cidade Contemporacircnea Gilceacuteia Pesce do Amaral e Silva Lisete Assen de Oliveira (Orgs) httplufscbrarquiteturacidade

Algaravia discursos de naccedilatildeo Rauacutel Antelo

httplufscbralgaravia

Tecnologia de Fabricaccedilatildeo de Revestimentos Ceracircmicos

Antonio P N de Oliveira e Dachamir Hotza httplufscbrrevestimentos

16

Linguiacutestica e Literatura

A ARTE E O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEAREDaniela Caniccedilali

Em 1990 um grupo de cerca de dez pesquisadores se reuacutene em torno de um interesse em comum o dramaturgo inglecircs William Shakespeare Em 1991 nasce em Belo Horizonte (MG) o Centro de Estudos Shakespeareanos (CESh) Entre

aqueles que participaram da fundaccedilatildeo da entidade estava Joseacute Roberto OrsquoShea que acabava de se tornar professor do Depar-tamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras (DLLE) da Universi-dade Federal de Santa Catarina (UFSC) No CESh OrsquoShea foi de-signado para iniciar os projetos de traduccedilatildeo ldquoO grupo entendeu que eram necessaacuterias novas traduccedilotildees Como os padrotildees de fala se modificam mesmo o teatro supostamente claacutessico que eacute o caso de Shakespeare tende a ficar datadordquo explica Segundo o pesquisador as traduccedilotildees que circulavam ateacute o final da deacutecada de 1980 estavam desatualizadas em termos de leacutexico estruturas frasais e referecircncias culturais Estavam portanto distantes do puacuteblico leitor e espectador

Antocircnio e Cleoacutepatra foi a primeira das oito obras do dramatur-go inglecircs que OrsquoShea traduziu desde entatildeo ldquoDecidimos co-meccedilar pelas menos encenadas e menos conhecidas mas que satildeo tambeacutem peccedilas extraordinaacuteriasrdquo Seu trabalho se realiza no acircmbito do projeto de pesquisa ldquoTraduccedilotildees anotadas da drama-turgia shakespearianardquo que tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) e estaacute em atividade ininterrupta haacute 23 anos OrsquoShea eacute o uacutenico tradutor de Shakespeare no Brasil cuja atividade estaacute vinculada a programas de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu O professor tambeacutem traduziu aleacutem das obras de Shakespeare obras sobre Shakespeare De Harold Bloom reconhecido criacutetico literaacuterio de liacutengua inglesa tra-duziu entre outros tiacutetulos Shakespeare a invenccedilatildeo do humano com cerca de 900 paacuteginas

OrsquoShea afirma evitar qualquer relaccedilatildeo de reverecircncia ou mitifica-ccedilatildeo ldquoTento natildeo entrar nessa senatildeo fico paralisado Mas sem sombra de duacutevida como outros grandes autores Shakespeare tem percepccedilotildees graviacutessimas sobre a natureza humanardquo O pro-

fessor explica que uma das preocupaccedilotildees baacutesicas do autor eacute explicitar que a viagem do crescimento do ser humano parte de uma situaccedilatildeo de relativa cegueira autoengano ignoracircncia com relaccedilatildeo a si mesmo e agrave realidade que o cerca e segue na direccedilatildeo do autoconhecimento da percepccedilatildeo de sua relativa importacircn-cia ldquoEssa eacute uma sacaccedilatildeo muito granderdquo Outros temas recor-rentes satildeo o amor romacircntico ndash ldquoquase sempre morre o amor ou morrem os amantesrdquo ndash e a poliacutetica a exposiccedilatildeo do mau gover-nante ndash ldquoaquele que soacute visa ao seu bem proacuteprio e ao de alguns que o cercamrdquo

O TRADUTORA formaccedilatildeo do tradutor demanda muita leitura e escrita ldquoLer e escrever satildeo atividades indissociaacuteveis Eacute preciso ter bastante co-nhecimento da liacutengua de partida e imensuraacutevel conhecimento da liacutengua de chegada Aiacute o ceacuteu eacute o limiterdquo OrsquoShea reforccedila seus argumentos citando o poeta chileno Nicanor Parra ldquoPara tradu-cir Shakespeare y comer pescado cuidado poco se gana con saber ingleacutesrdquo Conhecer a liacutengua e a cultura de chegada portan-to eacute o que permite ao tradutor escrever com fluidez fazendo o texto ldquofuncionarrdquo em seu contexto

O professor lembra que ldquoum tradutor eacute um escritorrdquo apesar de nem sempre ser assim reconhecido ldquoNos uacuteltimos 30 anos o tra-dutor estaacute se tornando mais conhecido mais visiacutevel mais res-peitado Mas ainda haacute um caminho longo a ser trilhadordquo OrsquoShea faz referecircncia agraves criacuteticas literaacuterias ldquoAgraves vezes o criacutetico diz lsquoO au-tor tem um belo estilorsquo Mas o autor natildeo escreveu uma daque-las palavras sequer Nenhuma Todas as palavras que o criacutetico leu foram escritas pelo tradutor Ele elogia o estilo a fluecircncia a linguagem e nem menciona o tradutor como se aquela obra tivesse sido escrita em liacutengua portuguesa Essa eacute a famosa invi-sibilidade do tradutorrdquo

17

UFSC Ciecircncia

TRAJETOacuteRIA ACADEcircMICAComo estudante OrsquoShea nunca frequentou uma universidade brasileira cursou a graduaccedilatildeo o mestrado e o doutorado em di-ferentes instituiccedilotildees dos Estados Unidos (EUA) Seus quatro poacutes--doutorados tambeacutem foram no exterior trecircs deles na Inglaterra e um nos EUA Shakespeare foi o eixo central da pesquisa que desenvolveu na UFSC de 1990 a 2015 Nesse periacuteodo orientou 46 trabalhos entre estaacutegios de poacutes-doutorado teses de dou-torado dissertaccedilotildees de mestrado monografias e trabalhos de conclusatildeo de curso (TCC) ndash a maioria abordou diversos aspec-tos da obra de Shakespeare OrsquoShea se aposentou em marccedilo de 2015 mas segue como professor colaborador dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Inglecircs (PPGI) e em Estudos da Traduccedilatildeo (PPGET) Orienta atualmente dois estudantes de mestrado cin-co de doutorado e um de poacutes-doutorado ldquoOs 25 anos que passei na UFSC natildeo gostaria de ter passado em nenhuma outra univer-sidade do mundo Fiz quatro poacutes-docs dei aula como convida-do em universidades no Brasil e no exterior sempre tive apoio para fazer pesquisa apresentar trabalhos em eventos nacionais e internacionais Natildeo substituiria minha experiecircncia aqui por nenhuma outrardquo

Precircmio JabutiOrsquoShea recebeu uma menccedilatildeo honrosa no Precircmio Jabuti em 2003 pela traduccedilatildeo de Cimbeline rei da Britacircnia Em 2008 sua traduccedilatildeo de O conto do inverno ficou entre as dez finalistas do precircmio na categoria Traduccedilatildeo Literaacuteria

Conheccedila um pouco do trabalho de Joseacute Roberto OrsquoShea por meio

de sua primeira traduccedilatildeo de Shakespeare Antocircnio e Cleoacutepatra

disponiacutevel para leitura gratuita on-line

18

A TRADUCcedilAtildeOShakespeare eacute frequentemente traduzido em prosa A traduccedilatildeo em versos metrificados eacute um dos diferenciais do trabalho de OrsquoShea Somam-se a isso a linguagem atualizada e a inclusatildeo de anotaccedilotildees comentaacuterios paratexto e bibliografia seleciona-da Em todas as obras que publicou haacute um ensaio introdutoacuterio e notas explicativas cobrindo questotildees de texto contexto e en-cenaccedilatildeo Em Antocircnio e Cleoacutepatra por exemplo haacute 365 notas Por isso o resultado final vai aleacutem da traduccedilatildeo em si ldquoEu gosto de pensar que minhas traduccedilotildees volume a volume satildeo ediccedilotildees criacuteticas daquele textordquo

Seu meacutetodo de trabalho se inicia com a escolha do texto base ldquoPara Antocircnio e Cleoacutepatra analisei cinco ediccedilotildees integrais da peccedila todas anotadas e publicadas nos uacuteltimos 50 anos Oxford Cambridge Riverside Penguin Arden Satildeo excelentes ediccedilotildees Mas escolhi a Arden porque a meu ver eacute a que estaacute mais bem resolvida textualmenterdquo Segundo o professor natildeo eacute comum os tradutores terem o cuidado de confrontar a ediccedilatildeo que escolhe-ram com outras cinco ou seis verso a verso como ele faz ldquoCom todo o respeito muitas traduccedilotildees carecem de pesquisa O tradu-tor elege uma boa ediccedilatildeo moderna e se ateacutem agraves anotaccedilotildees e agraves soluccedilotildees textuais dessa uacutenica ediccedilatildeordquo

Uma das principais diferenccedilas entre a traduccedilatildeo em verso e em prosa eacute a questatildeo do espaccedilo ldquoNa prosa se precisar de dez pala-vras para descrever um objeto posso dispor de dez palavras Na poesia metrificada natildeo Trabalho com decassiacutelabos e muitas vezes minha melhor opccedilatildeo semacircntica tem quatro ou cinco siacutela-bas mas natildeo posso usaacute-la Tenho que me contentar com minha segunda terceira melhor opccedilatildeo semacircntica pois natildeo tenho es-paccedilo para escrever por exemplo em-be-ve-ci-men-tordquo OrsquoShea explica que pode haver perdas semacircnticas mas haacute ganhos esteacute-ticos ldquoNatildeo posso ser prolixo natildeo tenho espaccedilo para explicar o texto tenho que ser parcimonioso Afinal trata-se de poesia e poesia eacute sugestiva eacute eliacuteptica ela nos permite imaginarrdquo

Outro desafio na traduccedilatildeo em verso eacute a rima ldquoAs rimas visuais graficamente oacutebvias satildeo mais faacuteceis de traduzir Mas haacute rimas que natildeo repetem padrotildees graacuteficos Vocecirc natildeo vecirc vocecirc ouve Eacute preciso esquecer um pouco a questatildeo graacutefica e ir para o som com flexibilidade pois muitas vezes haacute vaacuterias possibilidades de pronuacutencia Home e come por exemplo podem rimar depende da pronuacutencia do poeta Eu trabalho com dicionaacuterios de rimas natildeo tenho escruacutepulos em dizer issordquo O professor afirma ldquonatildeo ter escruacutepulosrdquo pois haacute certo preconceito entre tradutores quanto ao seu uso Ele conta o que lhe ocorreu em um congresso em Li-verpool ldquoEu falava sobre minhas traduccedilotildees sobre poesia rima-da quando um colega de Oxford perguntou como eu trabalha-va Eu disse lsquoTrabalho com um dicionaacuterio de rimas Aliaacutes com mais de umrsquo Ele riu como quem diz lsquocadecirc o ouvido de poetarsquo Mas em um dos meus dicionaacuterios haacute na capa a citaccedilatildeo lsquo() a salvaccedilatildeo da lavoura poeacuteticarsquo Carlos Drummond de Andrade ldquoSe Drummond diz isso acho que estou liberadordquo argumenta com humor

O professor tambeacutem aponta a importacircncia de identificar as pala-vras que sofreram inversatildeo semacircntica ldquoOs vocaacutebulos que a gen-te natildeo conhece natildeo satildeo um problema Existe pelo menos uma duacutezia de dicionaacuterios que cobrem todo o leacutexico shakespeariano O problema satildeo as palavras que parecem corriqueiras que ain-da satildeo utilizadas mas que sofreram inversatildeo semacircntica hoje significam o oposto do que significavam na primeira deacutecada do seacuteculo XVII Satildeo inuacutemeras dessas palavras Essas eacute que satildeo pe-rigosas podem ser armadilhas para o tradutor Merely que hoje eacute lsquomeramentersquo antes era lsquototalmentersquo Fellow que significa lsquoca-maradarsquo na eacutepoca significava lsquomarginalrsquo lsquocriminosorsquo Rival que hoje significa lsquorivalrsquo na eacutepoca significava lsquoparceirorsquo Identificar isso eacute um desafio vocecirc tem que pesquisar muitordquo OrsquoShea acres-centa que tambeacutem eacute importante ter o maacuteximo de empatia pos-siacutevel com cada personagem ldquoVocecirc natildeo pode tomar partido tem que tentar fazer o melhor possiacutevel a partir do personagem que estaacute falando naquele momento Eacute o que alguns autores chamam de lsquodefender o personagemrsquo O tradutor tambeacutem deve defender o personagemrdquo

Traduccedilotildees Editora Ano

Antocircnio e Cleoacutepatra MandarimSiciliano 1997

Cimbeline rei da Britacircnia Iluminuras 2002

O conto do inverno Iluminuras 2007

Peacutericles priacutencipe de Tiro Iluminuras 2012

O primeiro Hamlet In-Quarto de 1603 Hedra 2013

Os dois primos nobres Iluminuras 2016

Troacuteilo e Creacutessida Editora 34 2016

Timon de Atenas (em progresso)

Linguiacutestica e Literatura

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 6: MISSÃO ESPACIAL

5

UFSC Ciecircncia

Na opiniatildeo da pesquisadora o que mais influencia o uso da bi-cicleta eacute a ciclovia ldquoEm torno da induacutestria que estudamos havia ciclovia em todos os pontos ciclovia mesmo natildeo somente uma faixa pintada onde se diz que pode passar a bicicleta Hoje as maiores cidades catarinenses ou natildeo tecircm ciclovias ou quando tecircm elas satildeo interrompidas em alguns pontos e natildeo garantem seguranccedila Temos que criar a cultura da infraestrutura cicliacutestica e do respeito ao ciclistardquo completa

5

UFSC Ciecircncia

Um estudo realizado pelo Sesi em 2009 apontou que no estado de Santa Catarina a prevalecircncia do uso da bicicleta no deslo-camento ao trabalho eacute em Joinville com 128 As outras duas cidades catarinenses com maior nuacutemero de pessoas que cos-tumam pedalar ateacute o trabalho satildeo Lages (123) e Blumenau (75) Muitas das informaccedilotildees contidas na tese serviram de subsiacutedio agrave formulaccedilatildeo de um manual para induacutestrias do SenaiSesi que estaacute sendo distribuiacutedo em todo Brasil

Praacutetica de exerciacutecios

Melhora da sauacutede

Proteccedilatildeo ao meio ambiente

Acesso a ciclovias

Mais raacutepido

Residir proacuteximo agrave empresa

Mais barato

Motivos para escolher a bicicletaEm sua tese de doutorado Ilca Diniz elencou as principais razotildees que levam os

industriaacuterios de uma empresa metal-mecacircnica a pedalar ateacute o trabalho

Fonte Ilca Maria Saldanha Diniz Graacutefico Gabriela Fantini Camila Ignaacutecio GeraldoFonte Ilca Maria Saldanha Diniz Design Gabriela Fantini Texto Camila Geraldo

6

Engenharias

CERAcircMICA SUSTENTAacuteVELTamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Aparas de papel satildeo utilizadas na produccedilatildeo de azulejos

UFSC Ciecircncia

7

Um estudo realizado no Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Engenharia Quiacutemica desenvolveu ceracircmica monoporosa tambeacutem conhecida como azulejo com 20 de aparas de papel Para realizar sua dissertaccedilatildeo Rodrigo Daros

sob orientaccedilatildeo do professor Humberto Gracher Riella substituiu parte do calcaacuterio usado na ceracircmica por esse resiacuteduo do papel mais viaacutevel econocircmica e ecologicamente

Utilizar as aparas em ceracircmicas monoporosas eacute uma alternativa com benefiacutecios ambientais pois diminui a quantidade de cal-caacuterio ndash um recurso natildeo renovaacutevel ndash e reaproveita os restos de papel que seriam descartados no ambiente Essa reutilizaccedilatildeo ocorre tambeacutem na correccedilatildeo de solo e na formulaccedilatildeo de cimento no entanto como a induacutestria de papel e celulose produz aparas em grande quantidade a maioria natildeo eacute reaproveitada

Na pesquisa de Daros as ceracircmicas produzidas tiveram uma ab-sorccedilatildeo de 3 a 8 maior do que as sem o resiacuteduo o que signi-fica que a aderecircncia agrave parede seraacute melhor O iacutendice alcanccedilado no estudo se manteacutem dentro do limite que permite classificar a ceracircmica como monoporosa ndash aquela que possui absorccedilatildeo su-perior a 10

Foram utilizados soacute 20 de resiacuteduos de papel na composiccedilatildeo da ceracircmica porque segundo o pesquisador esse seria o valor ideal para atingir o iacutendice padratildeo de absorccedilatildeo de aacutegua Acima de 25 haveria trincas ou quebras durante a queima do azulejo devido agrave retraccedilatildeo da peccedila

O uso das aparas soacute foi possiacutevel porque sua composiccedilatildeo eacute simi-lar agrave do calcaacuterio cuja decomposiccedilatildeo gera oacutexido de caacutelcio que constitui mais de 50 do resiacuteduo De acordo com o pesquisador ldquoo calcaacuterio eacute o ideal mas como eacute algo que pode ser extinto o resiacuteduo supre essa necessidaderdquo

Esse meacutetodo tambeacutem eacute economicamente mais viaacutevel O resiacuteduo de papel custa R$ 0014kg uacutemido e R$ 002kg seco de acordo com um levantamento de 2012 feito por uma empresa especia-lizada Jaacute o preccedilo do calcaacuterio eacute de R$ 0130kg Aleacutem disso o gasto para tratamento e envio das aparas aos aterros ndash que varia de R$ 006kg a R$ 0130kg ndash iria reduzir-se

Em 2005 uma pesquisa da Universidade de Aveiro Portugal usou 10 do resiacuteduo em argila outra de 2006 realizada na Uni-versidade Federal da Bahia (UFBA) utilizou 20 em argamassa Jaacute a de Daros foi feita em ceracircmica porque de acordo com ele eacute uma produccedilatildeo ldquoem larga escala e satildeo produtos mais naturais entatildeo eacute mais faacutecil de colocar nesse setorrdquo

A pesquisa foi desenvolvida em laboratoacuterio mas Daros pretende expandir o projeto A ideia foi oferecida a algumas induacutestrias de ceracircmica poreacutem ainda natildeo houve resposta positiva ldquoSempre haacute alguma resistecircncia porque eacute uma novidade uma inovaccedilatildeordquo afirma o pesquisador

Santa Catarina eacute o maior produtor brasileiro de ceracircmicas mo-noporosas em relaccedilatildeo a papel e celulose o estado representa 81 da induacutestria nacional O Brasil tem a quarta maior produ-ccedilatildeo mundial de celulose e a nona de papel

8

ldquoMuito amor pela Universidaderdquo Assim com poucas pala-vras Ilse Scherer-Warren explica por que adiou o dia de se aposentar quase tanto quanto pocircde ldquoQuaserdquo porque trabalhou ateacute bem pouco antes da data de sua aposenta-

doria compulsoacuteria em janeiro de 2014 quando completou 70 anos ldquoDois ou trecircs dias porque achei que natildeo tinha que ser tatildeo precisa assim Se jaacute tivesse mudado a legislaccedilatildeo (ela refere-se ao projeto de lei aprovado no Congresso que altera de 70 para 75 anos a idade de aposentadoria compulsoacuteria para servidores puacuteblicos) eu teria esperado mais Mas atuar como voluntaacuteria daacute mais liberdade posso me dedicar mais ao que gosto mesmordquo diz

No caso de Ilse isso significa estudar movimentos sociais prin-cipalmente agrave frente do Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos So-ciais que ajudou a fundar na UFSC em 1983 Em setembro foi homenageada durante o 17ordm Congresso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em Porto Alegre a mesma onde fez sua gradu-accedilatildeo com o Precircmio Florestan Fernades ndash a distinccedilatildeo foi criada como reconhecimento agrave atuaccedilatildeo de profissionais que contribu-iacuteram para o progresso da Sociologia no Brasil Entre os premia-dos anteriormente estatildeo Fernando Henrique Cardoso Manuel Correia de Andrade Heraldo Pessoa Souto Maior Octaacutevio Ianni Neuma Aguiar Joseacute de Souza Martins Juarez Rubens Brandatildeo Lopes Wilma de Mendonccedila Figueiredo Francisco de Oliveira e Silke Weber

ILSE SCHERER-WARREN

Faacutebio Bianchini

40 anos dedicados a pesquisas sobre movimentos sociais

Perfil

UFSC Ciecircncia

9

Ainda assim prefere falar das atividades e realizaccedilotildees do Nuacute-cleo que de acordo com nuacutemeros de 2013 havia gerado 35 pro-jetos 96 dissertaccedilotildees e teses 29 livros e 69 capiacutetulos de livros (ldquomas acho que eacute maisrdquo avalia) A preocupaccedilatildeo coletiva aparece tambeacutem no final da entrevista depois de falar da aposentadoria a premiaccedilatildeo e sua histoacuteria pessoal Para responder agrave pergunta sobre o que pensa do futuro fala mais do Brasil do que de si proacutepria ldquoSou otimista mas estaacute estranho Para quem viveu a di-tadura ver determinados discursos manipulaccedilotildees e convicccedilotildees poliacuteticas natildeo satildeo nada melhores que as barbaridades que a gente ouvia em 1968 Acho que realmente precisa de muito estu-dordquo Quando diz o nome do paiacutes assim como todas as palavras terminadas em ldquoLrdquo aparece a caracteriacutestica que mais facilmente identifica suas origens no interior do Rio Grande do Sul a pro-nuacutencia da consoante como ldquoLrdquo mudo mesmo jaacute armando para a vogal que natildeo vem natildeo como ldquoUrdquo

Foi em Portatildeo a 43 quilocircmetros de Porto Alegre (estimativa de populaccedilatildeo em 2015 de acordo com o IBGE 33994 pessoas) que ela comeccedilou sua trajetoacuteria acadecircmica na garupa de uma eacutegua Era como aos oito anos percorria os dois quilocircmetros que separavam a pequena propriedade de sua famiacutelia da escola do municiacutepio ldquoEu era pequeninha magrinha e meu pai ficava preocupado se eu fosse a peacute Naquela eacutepoca jaacute tinha uma fas-cinaccedilatildeo muito grande por estudarrdquo relembra No segundo ano comeccedilou a ir a peacute mesmo por conta proacutepria Seus passatempos preferidos eram caminhar pelo campo e brincar de dar aula para alunos imaginaacuterios O pai pequeno agricultor era lideranccedila po-liacutetica local participou da construccedilatildeo da igreja fez parte do anti-go Partido Libertador e depois do Partido Democraacutetico Cristatildeo Nas paacuteginas do jornal que ele assinava encantou-se com as re-flexotildees do pensador jornalista professor criacutetico literaacuterio e liacuteder catoacutelico Alceu Amoroso Lima que escrevia sob o pseudocircnimo Tristatildeo de Ataiacutede ldquoEle era muito humanistardquo recorda

Chegou a ir para o coleacutegio interno ndash por vontade proacutepria para se-guir os passos da irmatilde mais velha (tinha uma irmatilde e sete irmatildeos) ndash e quando terminou o ensino fundamental parou momenta-neamente os estudos formais jaacute que a escola local natildeo tinha o ensino meacutedio (ldquohoje jaacute temrdquo faz questatildeo de destacar) e foi para a cozinha ldquoFiquei nessa dos 12 13 anos ateacute os 17 mas sem esquecer meu sonho Queria algo como Filosofia Psicologia Psi-quiatria Jornalismo ou Literatura por aiacuterdquo Mudou-se para Porto Alegre e foi trabalhar sem remuneraccedilatildeo formal na casa de uma famiacutelia que por sua vez pagava seus estudos Com os livros do irmatildeo mais velho preparou-se para o exame supletivo e pas-sou Tambeacutem do irmatildeo mais velho havia ganhado um manual de Sociologia com o qual havia se identificado e assim fez o ves-tibular da UFRGS para Ciecircncias Sociais que na eacutepoca permitia mais adiante optar pelo curso de Jornalismo Mas natildeo foi o caso

ldquoNas Ciecircncias Sociais senti-me em casardquo explica Entrou no cur-so em 1965 um ano apoacutes o golpe militar quando a repressatildeo jaacute se sentia mas ainda natildeo era tatildeo forte quanto se tornou a partir de 1968 Tatildeo logo aprovada no vestibular tomou uma iniciativa que renderia frutos ainda pintada de caloura foi ateacute a Alianccedila Francesa explicou que tinha interesse em aprender o idioma mas natildeo podia pagar pelo curso e acabou ganhando uma bolsa Participou ativamente do movimento estudantil e foi a muitos protestos e passeatas ldquoQuando nos aproximaacutevamos do centro da cidade a poliacutecia vinha em cima com cavalaria Muitos anos depois fui ao Foacuterum Social Mundial e soacute de ver a cavalaria de novo deu um calafrio Em um deles o que mais me marcou um policial encostou uma arma contra meu peitordquo

O Trabalho de Conclusatildeo de Curso foi sobre Sociologia do Tra-balho Imediatamente comeccedilou o mestrado tambeacutem na UFRGS com o tema de movimentos sociais rurais patronais e campone-ses A essa altura jaacute em 1969 poacutes AI-5 o regime poliacutetico jaacute era bem mais pesado Ao clima pluacutembeo da eacutepoca somava-se para Ilse a carga de aulas da poacutes-graduaccedilatildeo ldquoTinha que bater ponto e tudordquo conta Para aliviar a tensatildeo ela arranjou mais um com-promisso aulas de teatro agrave noite Chegou a participar de uma peccedila infantil mas natildeo levou a carreira dramaacutetica adiante

Em vez disso em 1971 terminado o mestrado comeccedilou a anali-sar as possibilidades para o doutorado A essa altura sabia que queria sair de Porto Alegre conhecer coisas diferentes Procurou entatildeo contato com Fernando Henrique Cardoso que fizera uma palestra na UFRGS chegou a visitaacute-lo em Satildeo Paulo (foi recebi-da primeiramente por Ruth Cardoso) mas ele havia sido apo-sentado compulsoriamente pelo decreto-lei nordm 477 de fevereiro de 1969 Ainda assim indicou-a agrave USP mas a possibilidade de estudar na Europa e de colocar em praacutetica seus anos de estudo do francecircs atraiacuteram-na mais e Ilse comeccedilou a entrar em contato com a Sorbonne na Franccedila mesmo sem saber que tipo de apoio teria ldquoO pessoal perguntava se eu natildeo tinha medo de ir para fora e eu dizia lsquopara fora de quecircrsquo natildeo existia isso de dentro ou fora para mimrdquo enfatiza

Ainda com as possibilidades em aberto foi para a Inglaterra naquele ano enquanto o clima poliacutetico no Brasil endurecia ain-da mais Chegou laacute sem nenhuma indicaccedilatildeo falando pouco do idioma e conseguiu hospedagem na Casa do Brasil na Inglaterra ndash nessa eacutepoca conheceu o futuro marido Foi entatildeo agrave Franccedila e decepcionou-se com o que considerou burocracia excessiva da Sorbonne mas marcou uma entrevista para dali a dois meses com Alain Touraine socioacutelogo francecircs renomado por seus es-critos a respeito de movimentos sociais e da Sociologia de Tra-balho em que cunhou a expressatildeo ldquosociedade poacutes-industrialrdquo No periacuteodo de sua graduaccedilatildeo na UFRGS Touraine jaacute era um dos estudiosos mais discutidos

Ilse levou a seacuterio o conselho da secretaacuteria do professor com quem marcara a entrevista jaacute chegar com o projeto claro e bem--embasado Voltou agrave Inglaterra e pocircs-se a trabalhar nisso ateacute o dia do encontro Levou tambeacutem sua dissertaccedilatildeo de mestrado Funcionou ele gostou da proposta sobre sindicalismo rural e aceitou a nova orientanda na Universidade de Paris X em Nan-terre Conseguiu tambeacutem uma bolsa da Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) Nessa mes-ma eacutepoca Touraine escrevia sua principal obra A produccedilatildeo da sociedade cujos capiacutetulos foram todos discutidos em sala pela turma de que Ilse participava Esse modo de trabalhar em gru-pos conta ela foi uma grande influecircncia em sua vida acadecircmica

Apoacutes concluir o doutorado voltou ao Brasil e em 1974 comeccedilou a dar aulas como horista no Instituto de Filosofia e Ciecircncias So-ciais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) O clima que encontrou no paiacutes era de medo O IFCS receacutem-passara por um processo em que cerca de quarenta professores foram cassados entre eles Darcy Ribeiro ldquoTodo mundo cochichava para falar de poliacutetica meu marido natildeo conseguia entender por que aquilo mas era difiacutecil evitar E como ensinar Sociologia sem falar em classes sociaisrdquo observa Precisava tomar cuidado em sala de aula para natildeo avanccedilar em temas considerados tabus em certo momento foi ldquoaconselhadardquo por telefone a natildeo par-ticipar de um concurso puacuteblico para professora adjunta entre 1975 e 1976 porque poderia haver consequecircncias graves se fosse aprovada preferiu ficar de fora Em outro concurso mais

10

adiante natildeo houve ameaccedila e Ilse passou na seleccedilatildeo curricular para adjunta

Nos sete anos que passou na UFRJ Ilse viveu o periacuteodo da aber-tura poliacutetica e da luta pela anistia Criou grupos de trabalho aju-dou a organizar a poacutes-graduaccedilatildeo em Sociologia na UFRJ e foi a primeira coordenadora da poacutes e do mestrado Entatildeo em 1981 surgiu a oportunidade de vir para a UFSC inicialmente como pro-fessora convidada por iniciativa do professor Silvio Coelho dos Santos que iniciava um grupo interdisciplinar ldquoMas na verdade eu sabia que queria ficar por aqui Deu tudo certo Queria me in-tegrar aqui e me integrei logo me sentia em casa as possibilida-des estavam se abrindordquo lembra Jaacute existia o Novo Sindicalismo com Luis Inaacutecio Lula da Silva como liacuteder os movimentos sociais se reorganizavam dali a poucos anos em 1984 seria fundado oficialmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Um dos primeiros projetos de Ilse na UFSC foi um trabalho sobre desabrigados nas construccedilotildees de barragens assunto para o qual acabou voltando ao longo dos anos Depois de passar os dois primeiros anos em Florianoacutepolis ainda agrave disposiccedilatildeo da UFRJ passou em concurso puacuteblico e tornou-se professora titular na UFSC

Em 1984 durante o VII Encontro Nacional da Associaccedilatildeo Nacio-nal de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Ciecircncias Sociais (Anpocs) apresentou o texto ldquoO caraacuteter dos novos movimentos sociaisrdquo considerado peccedila fundamental para o estabelecimento desta denominaccedilatildeo que abordava ainda o feminismo e o movimento ecoloacutegico Foi incluiacutedo tambeacutem em Uma Revoluccedilatildeo no Cotidiano ndash os novos movimentos sociais na Ameacuterica Latina de 1987 orga-nizado junto com o professor Paulo Krischke tambeacutem da UFSC e lanccedilado pela editora Brasiliense Observou surgir essa nova maneira de associativismo e organizaccedilatildeo nos grupos de periferia

Perfil

de Florianoacutepolis com participaccedilatildeo do padre Vilson Groh ligado desde os anos 1980 agrave Teologia da Libertaccedilatildeo e depois aos mo-vimentos dos Sem-Terra e Sem-Teto

Ilse tambeacutem ajudou a definir os conceitos de rede nesses mo-vimentos sociais brasileiros a partir de sua organizaccedilatildeo mais fluida com trocas de experiecircncia e articulaccedilotildees e diferentes pos-sibilidades de participaccedilatildeo Ela apresentou essa visatildeo no livro Redes de movimentos sociais lanccedilado pela editora Loyola em 1996 Com o tempo construiu uma produccedilatildeo extensa e influen-te Na UFSC participou de todo o processo de implantaccedilatildeo de cotas e poliacuteticas afirmativas ldquoHouve um debate muito acirrado entre intelectuais e sempre surgia o discurso de que os cotistas teriam aproveitamento acadecircmico inferior mas isso acabou sen-do desmentido com os nuacutemeros que mostraram que natildeo havia muita diferenccedila entre eles e os natildeo cotistasrdquo destaca

O Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos Sociais diz surgiu de maneira informal quando ex-alunos demonstraram interes-se em prosseguir debatendo ldquoComeccedilamos a fazer encontros perioacutedicos depois conseguimos uma sala aiacute foi indo Surgi-ram daiacute vaacuterios trabalhos e eacute como eu gosto de fazer as coisas em grupordquo

Conheccedila mais sobre o pensamento de Ilse Scherer-Warren por meio

do livro do qual eacute coorganizadora Movimentos sociais e participaccedilatildeo

editado pela EdUFSC e disponiacutevel para leitura gratuita on-line

11

Como mostrar o que eacute pesquisa a ciecircncia como ela eacute feita quais benefiacutecios ela traz para as pessoas Parece faacutecil mas natildeo eacute Explicar temas agraves vezes complicados de forma que as pessoas entendam - sem cair no sensacionalismo

barato de tabloides e programas pseudocientiacuteficos ndash eacute muito mais difiacutecil do que parece

As pessoas se interessam por ciecircncia A resposta eacute um grande sim Resultado de uma pesquisa feita em 2015 sobre a percep-ccedilatildeo puacuteblica de ciecircncia e tecnologia no Brasil mostrou alguns re-sultados surpreendentes Por exemplo as pessoas acham que ciecircncia eacute uma atividade muito importante e essencial para aju-dar a resolver problemas do paiacutes e do mundo Trecircs quartos dos entrevistados acreditam que a ciecircncia traz mais benefiacutecios que malefiacutecios e mais da metade acredita que cientistas fazem coi-sas uacuteteis agrave humanidade entretanto 90 dos entrevistados natildeo conseguem se lembrar de uma instituiccedilatildeo cientiacutefica ou nome de um cientista brasileiro famoso

O que falta entatildeo Maior oferta de informaccedilatildeo cientiacutefica de qua-lidade Embora uma parcela significativa das pessoas acredite que a internet televisatildeo e jornais divulgam de forma satisfatoacute-ria descobertas cientiacuteficas o problema eacute a quantidade dessas informaccedilotildees que alcanccedila esses meios E infelizmente natildeo po-demos ignorar que muitas destas informaccedilotildees principalmente as veiculadas na internet tecircm qualidade no miacutenimo duvidosa

E quem melhor qualificado para transmitir estas informaccedilotildees que os proacuteprios pesquisadores Aiacute temos outro problema A maioria dos pesquisadores natildeo tem treinamento para transmitir a men-sagem em linguagem que as pessoas entendam Isso nos leva imediatamente agrave necessidade imperiosa de junccedilatildeo de esforccedilos entre pessoas que sabem transmitir a informaccedilatildeo (jornalistas por exemplo) e aquelas que tecircm as informaccedilotildees (pesquisadores e cientistas)

Aiacute entra o jornalismo cientiacutefico e a divulgaccedilatildeo cientiacutefica Infeliz-mente nosso paiacutes natildeo estaacute entre os que fazem boa divulgaccedilatildeo cientiacutefica ndash e natildeo eacute por falta de boa ciecircncia Temos centenas de exemplos de grupos de pesquisa em universidades laboratoacuterios oficiais e empresas que estatildeo trabalhando na fronteira do co-nhecimento em pesquisas de classe mundial Porque isso acon-tece A resposta eacute difiacutecil e pode ter inuacutemeras variaacuteveis Poucos satildeo os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo cientiacutefica permanentes no Brasil E poucos satildeo os jornalistas especializados em divulgaccedilatildeo cien-tiacutefica Em alguns paiacuteses haacute jornalistas e setores de divulgaccedilatildeo de instituiccedilotildees e universidades especializados em levar para o puacuteblico o que acontece em pesquisa nos seus laboratoacuterios Aleacutem de elevar a compreensatildeo do puacuteblico em geral sobre os avanccedilos da ciecircncia essa eacute uma forma importante de prestaccedilatildeo de contas do dinheiro aplicado em ciecircncia e pesquisa

Tamanha eacute a importacircncia atribuiacuteda agrave divulgaccedilatildeo cientiacutefica que o curriacuteculo Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-tiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) agora tem uma aba especiacutefica para que sejam cadastradas as atividades de divulgaccedilatildeo cientiacutefica

Nesse sentido a UFSC deu uma modesta mas significativa con-tribuiccedilatildeo A Propesq manteacutem desde 2014 uma equipe de jo-vens estudantes de jornalismo orientados por profissionais que produziram uma seacuterie de mateacuterias sobre a pesquisa que se faz na UFSC ndash algumas inclusive tendo sido veiculadas pela grande imprensa ndash o que possibilitou levar o conhecimento produzido na Universidade para um nuacutemero ainda maior de pessoas

Este eacute um bom comeccedilo para uma atividade que deve ter caraacuteter permanente A oferta de material de divulgaccedilatildeo de boa quali-dade aumentaraacute a percepccedilatildeo do puacuteblico sobre a relevacircncia e importacircncia da pesquisa cientiacutefica Eacute minha convicccedilatildeo que esta iniciativa deve continuar e ser expandida para tornar-se o Pro-grama de Divulgaccedilatildeo Cientiacutefica da UFSC

CIEcircNCIA SEMCOMPLICACcedilAtildeOJamil Assreuy

Opiniatildeo

Doutor em Ciecircncias Bioloacutegicas (Biofiacutesica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Fez o poacutes-doutorado no Wellcome Research Labs UK Atualmente eacute Professor Associado do Departamento de Farmacologia e Proacute-Reitor de Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina

12

MISSAtildeO

ESPACIALDaniela Caniccedilali

Equipe da UFSC desenvolve sateacutelite que seraacute lanccedilado em 2016

Engenharias

UFSC Ciecircncia

Um cubo com 10 cm de aresta pesando aproximadamente um quilo constituiacutedo de computador de bordo paineacuteis solares bateria e carga uacutetil (dispositivos que exercem funccedilotildees preestabelecidas como fotografar medir a tem-

peratura etc) Essas satildeo as caracteriacutesticas do nanossateacutelite do tipo cubesat que estaacute sendo desenvolvido desde 2012 no proje-to Floripa Sat uma iniciativa de pesquisadores e alunos de dife-rentes cursos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) A previsatildeo de lanccedilamento eacute dezembro de 2016

O Floripa Sat surgiu de forma independente inspirado em ou-tros projetos experimentais do Centro Tecnoloacutegico (CTC) mdash como o BAJA SAE do curso de Engenharia Mecacircnica que se destina a produzir protoacutetipos de veiacuteculos automotivos off-road ldquoExiste aqui na UFSC o BAJA o barco eleacutetrico o carro eleacutetrico Satildeo vaacuterios projetos Pensamos entatildeo em propor o desenvolvimento de um sateacutelite para que os alunos se interessassem e se motivassem tambeacutem pela aacuterea aeroespacialrdquo explica o professor Eduardo Bezerra do Departamento de Engenharia Eleacutetrica e um dos coor-denadores do projeto Outro coordenador professor Kleber Viei-ra de Paiva do curso de Engenharia Aeroespacial (Campus Join-ville) reforccedila que o principal objetivo do projeto eacute educativo ldquoO aluno tem a oportunidade de participar de uma missatildeo espacial completardquo Ao mesmo tempo em que passou a contribuir para a formaccedilatildeo dos estudantes o Floripa Sat tambeacutem deu visibilidade agrave aacuterea aeroespacial ainda recente nas universidades brasileiras O curso da UFSC foi criado em 2009 e eacute uma das uacutenicas seis gra-duaccedilotildees em Engenharia Aeroespacial em todo o paiacutes

Ateacute chegar a sua ldquoversatildeo finalrdquo e ser lanccedilado o sateacutelite passa pelas seguintes etapas anaacutelise de requisitos projeto desen-volvimento integraccedilatildeo e testes Na etapa de levantamento de requisitos satildeo definidas desde as faixas de temperatura que o sateacutelite deve aguentar a velocidade de comunicaccedilatildeo com a Ter-ra ateacute as funccedilotildees que iraacute executar Na etapa de projeto satildeo de-senvolvidas as placas mdash com microprocessadores que mantecircm o sateacutelite em funcionamento mdash um dos diferenciais do Floripa Sat

Enquanto outras universidades utilizam placas prontas na UFSC elas estatildeo sendo desenvolvidas pelos proacuteprios alunos ldquoNoacutes ad-quirimos uma placa da empresa que fabrica um dos melhores modelos de cubesat Mas essa placa vai servir apenas como mo-delo de referecircncia Nosso interesse eacute o desenvolvimento cientiacute-fico poder estudar os circuitos e talvez ateacute desenvolver placas mais eficientesrdquo explica Eduardo

Na etapa de integraccedilatildeo os diversos subsistemas do cubesat satildeo colocados para funcionar em conjunto passando-se entatildeo agrave fase de testes quando o sateacutelite como um todo eacute submetido a um ambiente de voo Apoacutes ser aprovado nos testes chega entatildeo o momento mais esperado a integraccedilatildeo ao veiacuteculo lanccedilador e o lanccedilamento do sateacutelite ldquoA sensaccedilatildeo de colocar um sateacutelite em oacuterbita eacute de muita satisfaccedilatildeo de dever cumprido Eacute algo que deve ser planejado com cuidado pois se qualquer coisa der errado o objetivo final que eacute estabelecer a comunicaccedilatildeo do sateacutelite com a Terra pode natildeo ser atingidordquo explica Kleber O doutoran-do Leonardo Slongo pesquisador do projeto tambeacutem descreve essa etapa como a que gera mais expectativa ldquoSatildeo realizados vaacuterios testes mas ainda assim existe muita apreensatildeo sobre-tudo nos primeiros minutos do lanccedilamentordquo Kleber acrescenta ldquoVocecirc natildeo tem uma segunda chancerdquo

Se a missatildeo for bem-sucedida chega a fase de monitorar as ati-vidades do sateacutelite coletar dados e com essas informaccedilotildees di-vulgar os resultados do trabalho por intermeacutedio de publicaccedilotildees e patentes ldquoO trabalho natildeo acaba no lanccedilamento ele continua Enquanto estiver em oacuterbita os alunos vatildeo estar envolvidos na comunicaccedilatildeo com o sateacuteliterdquo explica Kleber O Floripa Sat seraacute transportado como carga de um sateacutelite de maior porte o Uni-sat-7 (da empresa GAUSS) que por sua vez seraacute acoplado ao foguete Dnepr com data de lanccedilamento prevista para dezem-bro de 2016 na Ruacutessia A integraccedilatildeo final seraacute realizada na Itaacutelia com o acompanhamento de dois membros da equipe da UFSC prioritariamente estudantes

CUBESATO cubesat mdash abreviaccedilatildeo das palavras em inglecircs ldquocuberdquo (cubo) e ldquosatrdquo (sateacutelite) mdash caracteriza-se por sua estrutura simplificada e custo reduzido enquanto para o seu lanccedilamento satildeo gastos aproximadamente 100 mil doacutelares para o de um sateacutelite convencional os custos chegam a 250 milhotildees Os sateacutelites de pequeno porte conhecidos como nanossateacutelites tambeacutem se distinguem pelo alto valor agregado ldquoOs componentes que precisamos adqui-rir para desenvolver uma placa custam cerca de 100 doacutelares Quando fica pronta ela pode ser vendida por 15 mil doacutelaresrdquo afirma o professor Eduardo

O padratildeo cubesat foi desenvolvido em 1999 no contexto da tendecircncia dos nanossateacutelites com o intuito de fomentar a pesquisa universitaacuteria na aacuterea de Engenharia Aeroespacial Seus idealizadores Jordi Puig-Suari e Bob Twi-ggs professores das universidades norte-americanas California Polytechnic State University e Stanford University tinham o propoacutesito de proporcionar aos estudantes de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo a possibilidade de projetar construir testar e operar um sateacutelite semelhante ao Sputnik Os dois pesquisa-dores estaratildeo em Florianoacutepolis no primeiro semestre de 2016 para o evento ldquoII Latin America IAA CubeSat Workshoprdquo organizado pela equipe do pro-jeto Floripa Sat

13

14

Engenharias

PROJETO SERPENSOutro projeto que tem a participaccedilatildeo da UFSC em parceria com outras universidades eacute o Sistema Espacial para a Realizaccedilatildeo de Pesquisas e Experimentos com Nanossateacutelites (Serpens) Coor-denado pela Agecircncia Espacial Brasileira (AEB) como uma ativi-dade do programa Uniespaccedilo o Serpens foi criado em dezembro de 2013 com o objetivo de qualificar a pesquisa acadecircmica na aacuterea Ao longo dos anos estudantes dos cursos de Engenha-ria Aeroespacial do paiacutes teratildeo a oportunidade de aplicar a teo-ria na praacutetica participando do desenvolvimento e lanccedilamento de cubesats O primeiro o Serpens I foi lanccedilado em agosto de 2015 rumo agrave Estaccedilatildeo Espacial Internacional (ISS) e colocado em oacuterbita no dia 17 de setembro Aleacutem da UFSC quatro instituiccedilotildees brasileiras participam do projeto Serpens Universidade de Bra-siacutelia (UnB) Universidade Federal do ABC (UFABC) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Instituto Federal Fluminense (IFF) Em cada missatildeo uma equipe fica responsaacutevel por liderar o projeto o Serpens I foi liderado pela UnB o Serpens II mdash que jaacute estaacute em desenvolvimento com previsatildeo de lanccedilamento para de-zembro de 2017 mdash estaacute sendo coordenado pela equipe da UFSC

EQUIPEAtualmente integram o Floripa Sat dez professores e trinta alu-nos da graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Engenharia Aeroespacial Engenharia Eleacutetrica Engenharia Eletrocircnica Engenharia Mecacircni-ca Ciecircncia da Computaccedilatildeo e Engenharia de Controle e Automa-ccedilatildeo Aleacutem do projeto Floripa Sat e do Serpens membros da equi-pe jaacute participaram de outras missotildees aeroespaciais Em 2006 quando ainda era estudante de mestrado da UFSC o professor Kleber teve participaccedilatildeo na missatildeo do astronauta brasileiro Mar-cos Pontes como responsaacutevel por um dos experimentos utiliza-do pelo astronauta no ambiente de microgravidade da Estaccedilatildeo Espacial Internacional O doutorando Leonardo Slongo partici-pou junto com Kleber de projetos do Programa Microgravidade da AEB e acompanhou no Centro de Lanccedilamento de Alcacircntara (CLA) no Maranhatildeo o lanccedilamento de foguetes que executaram diferentes experimentos O professor Eduardo Bezerra atua haacute mais de dez anos no projeto e desenvolvimento de sistemas computacionais embarcados para os sateacutelites de grande porte do Programa Espacial Brasileiro

LINHA DO TEMPO

2015

2012

2013

2014

2016

Consolidaccedilatildeo do Floripa Sat como projeto de pesquisa

Levantamento dos requisitos desenvolvimento das primeiras versotildees do Floripa Sat

Definiccedilatildeo dos requisitos da versatildeo a ser lanccedilada organizaccedilatildeo do projeto desenvolvimentotestes do protoacutetipo

Fabricaccedilatildeo do protoacutetipo projeto desenvolvimento do modelo de engenharia e do modelo de voo fabricaccedilatildeo testes

Integraccedilatildeo e testes do modelo de voo testes mecacircnicos e teacutermicos lanccedilamento

Etapas de desenvolvimento do projeto Floripasat

Font

e E

duar

do B

ezer

ra

Kleb

er V

ieira

de

Paiv

aDe

sign

Airt

on J

orda

ni

Text

o D

anie

la C

aniccedil

ali

15

Contribuindo para a difusatildeo do conhecimento a Editora da UFSC (EdUFSC) oferece na forma digital livros de seu acervo impresso acessiacuteveis para leitura gratuita on-line Conheccedila alguns deles

ACERVO DIGITAL EDITORA DA UFSC

EdUFSC

Filosofia da Tecnologia um convite Alberto Cupani

httplufscbrfilosofiatecnologia

O fantaacutestico na Ilha de Santa Catarina

Franklin Cascaes httplufscbrfantasticonailha

Gesto palavra e memoacuteria Luciana Hartmann

httplufscbrgestopalavra

Arquitetura da Cidade Contemporacircnea Gilceacuteia Pesce do Amaral e Silva Lisete Assen de Oliveira (Orgs) httplufscbrarquiteturacidade

Algaravia discursos de naccedilatildeo Rauacutel Antelo

httplufscbralgaravia

Tecnologia de Fabricaccedilatildeo de Revestimentos Ceracircmicos

Antonio P N de Oliveira e Dachamir Hotza httplufscbrrevestimentos

16

Linguiacutestica e Literatura

A ARTE E O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEAREDaniela Caniccedilali

Em 1990 um grupo de cerca de dez pesquisadores se reuacutene em torno de um interesse em comum o dramaturgo inglecircs William Shakespeare Em 1991 nasce em Belo Horizonte (MG) o Centro de Estudos Shakespeareanos (CESh) Entre

aqueles que participaram da fundaccedilatildeo da entidade estava Joseacute Roberto OrsquoShea que acabava de se tornar professor do Depar-tamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras (DLLE) da Universi-dade Federal de Santa Catarina (UFSC) No CESh OrsquoShea foi de-signado para iniciar os projetos de traduccedilatildeo ldquoO grupo entendeu que eram necessaacuterias novas traduccedilotildees Como os padrotildees de fala se modificam mesmo o teatro supostamente claacutessico que eacute o caso de Shakespeare tende a ficar datadordquo explica Segundo o pesquisador as traduccedilotildees que circulavam ateacute o final da deacutecada de 1980 estavam desatualizadas em termos de leacutexico estruturas frasais e referecircncias culturais Estavam portanto distantes do puacuteblico leitor e espectador

Antocircnio e Cleoacutepatra foi a primeira das oito obras do dramatur-go inglecircs que OrsquoShea traduziu desde entatildeo ldquoDecidimos co-meccedilar pelas menos encenadas e menos conhecidas mas que satildeo tambeacutem peccedilas extraordinaacuteriasrdquo Seu trabalho se realiza no acircmbito do projeto de pesquisa ldquoTraduccedilotildees anotadas da drama-turgia shakespearianardquo que tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) e estaacute em atividade ininterrupta haacute 23 anos OrsquoShea eacute o uacutenico tradutor de Shakespeare no Brasil cuja atividade estaacute vinculada a programas de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu O professor tambeacutem traduziu aleacutem das obras de Shakespeare obras sobre Shakespeare De Harold Bloom reconhecido criacutetico literaacuterio de liacutengua inglesa tra-duziu entre outros tiacutetulos Shakespeare a invenccedilatildeo do humano com cerca de 900 paacuteginas

OrsquoShea afirma evitar qualquer relaccedilatildeo de reverecircncia ou mitifica-ccedilatildeo ldquoTento natildeo entrar nessa senatildeo fico paralisado Mas sem sombra de duacutevida como outros grandes autores Shakespeare tem percepccedilotildees graviacutessimas sobre a natureza humanardquo O pro-

fessor explica que uma das preocupaccedilotildees baacutesicas do autor eacute explicitar que a viagem do crescimento do ser humano parte de uma situaccedilatildeo de relativa cegueira autoengano ignoracircncia com relaccedilatildeo a si mesmo e agrave realidade que o cerca e segue na direccedilatildeo do autoconhecimento da percepccedilatildeo de sua relativa importacircn-cia ldquoEssa eacute uma sacaccedilatildeo muito granderdquo Outros temas recor-rentes satildeo o amor romacircntico ndash ldquoquase sempre morre o amor ou morrem os amantesrdquo ndash e a poliacutetica a exposiccedilatildeo do mau gover-nante ndash ldquoaquele que soacute visa ao seu bem proacuteprio e ao de alguns que o cercamrdquo

O TRADUTORA formaccedilatildeo do tradutor demanda muita leitura e escrita ldquoLer e escrever satildeo atividades indissociaacuteveis Eacute preciso ter bastante co-nhecimento da liacutengua de partida e imensuraacutevel conhecimento da liacutengua de chegada Aiacute o ceacuteu eacute o limiterdquo OrsquoShea reforccedila seus argumentos citando o poeta chileno Nicanor Parra ldquoPara tradu-cir Shakespeare y comer pescado cuidado poco se gana con saber ingleacutesrdquo Conhecer a liacutengua e a cultura de chegada portan-to eacute o que permite ao tradutor escrever com fluidez fazendo o texto ldquofuncionarrdquo em seu contexto

O professor lembra que ldquoum tradutor eacute um escritorrdquo apesar de nem sempre ser assim reconhecido ldquoNos uacuteltimos 30 anos o tra-dutor estaacute se tornando mais conhecido mais visiacutevel mais res-peitado Mas ainda haacute um caminho longo a ser trilhadordquo OrsquoShea faz referecircncia agraves criacuteticas literaacuterias ldquoAgraves vezes o criacutetico diz lsquoO au-tor tem um belo estilorsquo Mas o autor natildeo escreveu uma daque-las palavras sequer Nenhuma Todas as palavras que o criacutetico leu foram escritas pelo tradutor Ele elogia o estilo a fluecircncia a linguagem e nem menciona o tradutor como se aquela obra tivesse sido escrita em liacutengua portuguesa Essa eacute a famosa invi-sibilidade do tradutorrdquo

17

UFSC Ciecircncia

TRAJETOacuteRIA ACADEcircMICAComo estudante OrsquoShea nunca frequentou uma universidade brasileira cursou a graduaccedilatildeo o mestrado e o doutorado em di-ferentes instituiccedilotildees dos Estados Unidos (EUA) Seus quatro poacutes--doutorados tambeacutem foram no exterior trecircs deles na Inglaterra e um nos EUA Shakespeare foi o eixo central da pesquisa que desenvolveu na UFSC de 1990 a 2015 Nesse periacuteodo orientou 46 trabalhos entre estaacutegios de poacutes-doutorado teses de dou-torado dissertaccedilotildees de mestrado monografias e trabalhos de conclusatildeo de curso (TCC) ndash a maioria abordou diversos aspec-tos da obra de Shakespeare OrsquoShea se aposentou em marccedilo de 2015 mas segue como professor colaborador dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Inglecircs (PPGI) e em Estudos da Traduccedilatildeo (PPGET) Orienta atualmente dois estudantes de mestrado cin-co de doutorado e um de poacutes-doutorado ldquoOs 25 anos que passei na UFSC natildeo gostaria de ter passado em nenhuma outra univer-sidade do mundo Fiz quatro poacutes-docs dei aula como convida-do em universidades no Brasil e no exterior sempre tive apoio para fazer pesquisa apresentar trabalhos em eventos nacionais e internacionais Natildeo substituiria minha experiecircncia aqui por nenhuma outrardquo

Precircmio JabutiOrsquoShea recebeu uma menccedilatildeo honrosa no Precircmio Jabuti em 2003 pela traduccedilatildeo de Cimbeline rei da Britacircnia Em 2008 sua traduccedilatildeo de O conto do inverno ficou entre as dez finalistas do precircmio na categoria Traduccedilatildeo Literaacuteria

Conheccedila um pouco do trabalho de Joseacute Roberto OrsquoShea por meio

de sua primeira traduccedilatildeo de Shakespeare Antocircnio e Cleoacutepatra

disponiacutevel para leitura gratuita on-line

18

A TRADUCcedilAtildeOShakespeare eacute frequentemente traduzido em prosa A traduccedilatildeo em versos metrificados eacute um dos diferenciais do trabalho de OrsquoShea Somam-se a isso a linguagem atualizada e a inclusatildeo de anotaccedilotildees comentaacuterios paratexto e bibliografia seleciona-da Em todas as obras que publicou haacute um ensaio introdutoacuterio e notas explicativas cobrindo questotildees de texto contexto e en-cenaccedilatildeo Em Antocircnio e Cleoacutepatra por exemplo haacute 365 notas Por isso o resultado final vai aleacutem da traduccedilatildeo em si ldquoEu gosto de pensar que minhas traduccedilotildees volume a volume satildeo ediccedilotildees criacuteticas daquele textordquo

Seu meacutetodo de trabalho se inicia com a escolha do texto base ldquoPara Antocircnio e Cleoacutepatra analisei cinco ediccedilotildees integrais da peccedila todas anotadas e publicadas nos uacuteltimos 50 anos Oxford Cambridge Riverside Penguin Arden Satildeo excelentes ediccedilotildees Mas escolhi a Arden porque a meu ver eacute a que estaacute mais bem resolvida textualmenterdquo Segundo o professor natildeo eacute comum os tradutores terem o cuidado de confrontar a ediccedilatildeo que escolhe-ram com outras cinco ou seis verso a verso como ele faz ldquoCom todo o respeito muitas traduccedilotildees carecem de pesquisa O tradu-tor elege uma boa ediccedilatildeo moderna e se ateacutem agraves anotaccedilotildees e agraves soluccedilotildees textuais dessa uacutenica ediccedilatildeordquo

Uma das principais diferenccedilas entre a traduccedilatildeo em verso e em prosa eacute a questatildeo do espaccedilo ldquoNa prosa se precisar de dez pala-vras para descrever um objeto posso dispor de dez palavras Na poesia metrificada natildeo Trabalho com decassiacutelabos e muitas vezes minha melhor opccedilatildeo semacircntica tem quatro ou cinco siacutela-bas mas natildeo posso usaacute-la Tenho que me contentar com minha segunda terceira melhor opccedilatildeo semacircntica pois natildeo tenho es-paccedilo para escrever por exemplo em-be-ve-ci-men-tordquo OrsquoShea explica que pode haver perdas semacircnticas mas haacute ganhos esteacute-ticos ldquoNatildeo posso ser prolixo natildeo tenho espaccedilo para explicar o texto tenho que ser parcimonioso Afinal trata-se de poesia e poesia eacute sugestiva eacute eliacuteptica ela nos permite imaginarrdquo

Outro desafio na traduccedilatildeo em verso eacute a rima ldquoAs rimas visuais graficamente oacutebvias satildeo mais faacuteceis de traduzir Mas haacute rimas que natildeo repetem padrotildees graacuteficos Vocecirc natildeo vecirc vocecirc ouve Eacute preciso esquecer um pouco a questatildeo graacutefica e ir para o som com flexibilidade pois muitas vezes haacute vaacuterias possibilidades de pronuacutencia Home e come por exemplo podem rimar depende da pronuacutencia do poeta Eu trabalho com dicionaacuterios de rimas natildeo tenho escruacutepulos em dizer issordquo O professor afirma ldquonatildeo ter escruacutepulosrdquo pois haacute certo preconceito entre tradutores quanto ao seu uso Ele conta o que lhe ocorreu em um congresso em Li-verpool ldquoEu falava sobre minhas traduccedilotildees sobre poesia rima-da quando um colega de Oxford perguntou como eu trabalha-va Eu disse lsquoTrabalho com um dicionaacuterio de rimas Aliaacutes com mais de umrsquo Ele riu como quem diz lsquocadecirc o ouvido de poetarsquo Mas em um dos meus dicionaacuterios haacute na capa a citaccedilatildeo lsquo() a salvaccedilatildeo da lavoura poeacuteticarsquo Carlos Drummond de Andrade ldquoSe Drummond diz isso acho que estou liberadordquo argumenta com humor

O professor tambeacutem aponta a importacircncia de identificar as pala-vras que sofreram inversatildeo semacircntica ldquoOs vocaacutebulos que a gen-te natildeo conhece natildeo satildeo um problema Existe pelo menos uma duacutezia de dicionaacuterios que cobrem todo o leacutexico shakespeariano O problema satildeo as palavras que parecem corriqueiras que ain-da satildeo utilizadas mas que sofreram inversatildeo semacircntica hoje significam o oposto do que significavam na primeira deacutecada do seacuteculo XVII Satildeo inuacutemeras dessas palavras Essas eacute que satildeo pe-rigosas podem ser armadilhas para o tradutor Merely que hoje eacute lsquomeramentersquo antes era lsquototalmentersquo Fellow que significa lsquoca-maradarsquo na eacutepoca significava lsquomarginalrsquo lsquocriminosorsquo Rival que hoje significa lsquorivalrsquo na eacutepoca significava lsquoparceirorsquo Identificar isso eacute um desafio vocecirc tem que pesquisar muitordquo OrsquoShea acres-centa que tambeacutem eacute importante ter o maacuteximo de empatia pos-siacutevel com cada personagem ldquoVocecirc natildeo pode tomar partido tem que tentar fazer o melhor possiacutevel a partir do personagem que estaacute falando naquele momento Eacute o que alguns autores chamam de lsquodefender o personagemrsquo O tradutor tambeacutem deve defender o personagemrdquo

Traduccedilotildees Editora Ano

Antocircnio e Cleoacutepatra MandarimSiciliano 1997

Cimbeline rei da Britacircnia Iluminuras 2002

O conto do inverno Iluminuras 2007

Peacutericles priacutencipe de Tiro Iluminuras 2012

O primeiro Hamlet In-Quarto de 1603 Hedra 2013

Os dois primos nobres Iluminuras 2016

Troacuteilo e Creacutessida Editora 34 2016

Timon de Atenas (em progresso)

Linguiacutestica e Literatura

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 7: MISSÃO ESPACIAL

6

Engenharias

CERAcircMICA SUSTENTAacuteVELTamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Aparas de papel satildeo utilizadas na produccedilatildeo de azulejos

UFSC Ciecircncia

7

Um estudo realizado no Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Engenharia Quiacutemica desenvolveu ceracircmica monoporosa tambeacutem conhecida como azulejo com 20 de aparas de papel Para realizar sua dissertaccedilatildeo Rodrigo Daros

sob orientaccedilatildeo do professor Humberto Gracher Riella substituiu parte do calcaacuterio usado na ceracircmica por esse resiacuteduo do papel mais viaacutevel econocircmica e ecologicamente

Utilizar as aparas em ceracircmicas monoporosas eacute uma alternativa com benefiacutecios ambientais pois diminui a quantidade de cal-caacuterio ndash um recurso natildeo renovaacutevel ndash e reaproveita os restos de papel que seriam descartados no ambiente Essa reutilizaccedilatildeo ocorre tambeacutem na correccedilatildeo de solo e na formulaccedilatildeo de cimento no entanto como a induacutestria de papel e celulose produz aparas em grande quantidade a maioria natildeo eacute reaproveitada

Na pesquisa de Daros as ceracircmicas produzidas tiveram uma ab-sorccedilatildeo de 3 a 8 maior do que as sem o resiacuteduo o que signi-fica que a aderecircncia agrave parede seraacute melhor O iacutendice alcanccedilado no estudo se manteacutem dentro do limite que permite classificar a ceracircmica como monoporosa ndash aquela que possui absorccedilatildeo su-perior a 10

Foram utilizados soacute 20 de resiacuteduos de papel na composiccedilatildeo da ceracircmica porque segundo o pesquisador esse seria o valor ideal para atingir o iacutendice padratildeo de absorccedilatildeo de aacutegua Acima de 25 haveria trincas ou quebras durante a queima do azulejo devido agrave retraccedilatildeo da peccedila

O uso das aparas soacute foi possiacutevel porque sua composiccedilatildeo eacute simi-lar agrave do calcaacuterio cuja decomposiccedilatildeo gera oacutexido de caacutelcio que constitui mais de 50 do resiacuteduo De acordo com o pesquisador ldquoo calcaacuterio eacute o ideal mas como eacute algo que pode ser extinto o resiacuteduo supre essa necessidaderdquo

Esse meacutetodo tambeacutem eacute economicamente mais viaacutevel O resiacuteduo de papel custa R$ 0014kg uacutemido e R$ 002kg seco de acordo com um levantamento de 2012 feito por uma empresa especia-lizada Jaacute o preccedilo do calcaacuterio eacute de R$ 0130kg Aleacutem disso o gasto para tratamento e envio das aparas aos aterros ndash que varia de R$ 006kg a R$ 0130kg ndash iria reduzir-se

Em 2005 uma pesquisa da Universidade de Aveiro Portugal usou 10 do resiacuteduo em argila outra de 2006 realizada na Uni-versidade Federal da Bahia (UFBA) utilizou 20 em argamassa Jaacute a de Daros foi feita em ceracircmica porque de acordo com ele eacute uma produccedilatildeo ldquoem larga escala e satildeo produtos mais naturais entatildeo eacute mais faacutecil de colocar nesse setorrdquo

A pesquisa foi desenvolvida em laboratoacuterio mas Daros pretende expandir o projeto A ideia foi oferecida a algumas induacutestrias de ceracircmica poreacutem ainda natildeo houve resposta positiva ldquoSempre haacute alguma resistecircncia porque eacute uma novidade uma inovaccedilatildeordquo afirma o pesquisador

Santa Catarina eacute o maior produtor brasileiro de ceracircmicas mo-noporosas em relaccedilatildeo a papel e celulose o estado representa 81 da induacutestria nacional O Brasil tem a quarta maior produ-ccedilatildeo mundial de celulose e a nona de papel

8

ldquoMuito amor pela Universidaderdquo Assim com poucas pala-vras Ilse Scherer-Warren explica por que adiou o dia de se aposentar quase tanto quanto pocircde ldquoQuaserdquo porque trabalhou ateacute bem pouco antes da data de sua aposenta-

doria compulsoacuteria em janeiro de 2014 quando completou 70 anos ldquoDois ou trecircs dias porque achei que natildeo tinha que ser tatildeo precisa assim Se jaacute tivesse mudado a legislaccedilatildeo (ela refere-se ao projeto de lei aprovado no Congresso que altera de 70 para 75 anos a idade de aposentadoria compulsoacuteria para servidores puacuteblicos) eu teria esperado mais Mas atuar como voluntaacuteria daacute mais liberdade posso me dedicar mais ao que gosto mesmordquo diz

No caso de Ilse isso significa estudar movimentos sociais prin-cipalmente agrave frente do Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos So-ciais que ajudou a fundar na UFSC em 1983 Em setembro foi homenageada durante o 17ordm Congresso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em Porto Alegre a mesma onde fez sua gradu-accedilatildeo com o Precircmio Florestan Fernades ndash a distinccedilatildeo foi criada como reconhecimento agrave atuaccedilatildeo de profissionais que contribu-iacuteram para o progresso da Sociologia no Brasil Entre os premia-dos anteriormente estatildeo Fernando Henrique Cardoso Manuel Correia de Andrade Heraldo Pessoa Souto Maior Octaacutevio Ianni Neuma Aguiar Joseacute de Souza Martins Juarez Rubens Brandatildeo Lopes Wilma de Mendonccedila Figueiredo Francisco de Oliveira e Silke Weber

ILSE SCHERER-WARREN

Faacutebio Bianchini

40 anos dedicados a pesquisas sobre movimentos sociais

Perfil

UFSC Ciecircncia

9

Ainda assim prefere falar das atividades e realizaccedilotildees do Nuacute-cleo que de acordo com nuacutemeros de 2013 havia gerado 35 pro-jetos 96 dissertaccedilotildees e teses 29 livros e 69 capiacutetulos de livros (ldquomas acho que eacute maisrdquo avalia) A preocupaccedilatildeo coletiva aparece tambeacutem no final da entrevista depois de falar da aposentadoria a premiaccedilatildeo e sua histoacuteria pessoal Para responder agrave pergunta sobre o que pensa do futuro fala mais do Brasil do que de si proacutepria ldquoSou otimista mas estaacute estranho Para quem viveu a di-tadura ver determinados discursos manipulaccedilotildees e convicccedilotildees poliacuteticas natildeo satildeo nada melhores que as barbaridades que a gente ouvia em 1968 Acho que realmente precisa de muito estu-dordquo Quando diz o nome do paiacutes assim como todas as palavras terminadas em ldquoLrdquo aparece a caracteriacutestica que mais facilmente identifica suas origens no interior do Rio Grande do Sul a pro-nuacutencia da consoante como ldquoLrdquo mudo mesmo jaacute armando para a vogal que natildeo vem natildeo como ldquoUrdquo

Foi em Portatildeo a 43 quilocircmetros de Porto Alegre (estimativa de populaccedilatildeo em 2015 de acordo com o IBGE 33994 pessoas) que ela comeccedilou sua trajetoacuteria acadecircmica na garupa de uma eacutegua Era como aos oito anos percorria os dois quilocircmetros que separavam a pequena propriedade de sua famiacutelia da escola do municiacutepio ldquoEu era pequeninha magrinha e meu pai ficava preocupado se eu fosse a peacute Naquela eacutepoca jaacute tinha uma fas-cinaccedilatildeo muito grande por estudarrdquo relembra No segundo ano comeccedilou a ir a peacute mesmo por conta proacutepria Seus passatempos preferidos eram caminhar pelo campo e brincar de dar aula para alunos imaginaacuterios O pai pequeno agricultor era lideranccedila po-liacutetica local participou da construccedilatildeo da igreja fez parte do anti-go Partido Libertador e depois do Partido Democraacutetico Cristatildeo Nas paacuteginas do jornal que ele assinava encantou-se com as re-flexotildees do pensador jornalista professor criacutetico literaacuterio e liacuteder catoacutelico Alceu Amoroso Lima que escrevia sob o pseudocircnimo Tristatildeo de Ataiacutede ldquoEle era muito humanistardquo recorda

Chegou a ir para o coleacutegio interno ndash por vontade proacutepria para se-guir os passos da irmatilde mais velha (tinha uma irmatilde e sete irmatildeos) ndash e quando terminou o ensino fundamental parou momenta-neamente os estudos formais jaacute que a escola local natildeo tinha o ensino meacutedio (ldquohoje jaacute temrdquo faz questatildeo de destacar) e foi para a cozinha ldquoFiquei nessa dos 12 13 anos ateacute os 17 mas sem esquecer meu sonho Queria algo como Filosofia Psicologia Psi-quiatria Jornalismo ou Literatura por aiacuterdquo Mudou-se para Porto Alegre e foi trabalhar sem remuneraccedilatildeo formal na casa de uma famiacutelia que por sua vez pagava seus estudos Com os livros do irmatildeo mais velho preparou-se para o exame supletivo e pas-sou Tambeacutem do irmatildeo mais velho havia ganhado um manual de Sociologia com o qual havia se identificado e assim fez o ves-tibular da UFRGS para Ciecircncias Sociais que na eacutepoca permitia mais adiante optar pelo curso de Jornalismo Mas natildeo foi o caso

ldquoNas Ciecircncias Sociais senti-me em casardquo explica Entrou no cur-so em 1965 um ano apoacutes o golpe militar quando a repressatildeo jaacute se sentia mas ainda natildeo era tatildeo forte quanto se tornou a partir de 1968 Tatildeo logo aprovada no vestibular tomou uma iniciativa que renderia frutos ainda pintada de caloura foi ateacute a Alianccedila Francesa explicou que tinha interesse em aprender o idioma mas natildeo podia pagar pelo curso e acabou ganhando uma bolsa Participou ativamente do movimento estudantil e foi a muitos protestos e passeatas ldquoQuando nos aproximaacutevamos do centro da cidade a poliacutecia vinha em cima com cavalaria Muitos anos depois fui ao Foacuterum Social Mundial e soacute de ver a cavalaria de novo deu um calafrio Em um deles o que mais me marcou um policial encostou uma arma contra meu peitordquo

O Trabalho de Conclusatildeo de Curso foi sobre Sociologia do Tra-balho Imediatamente comeccedilou o mestrado tambeacutem na UFRGS com o tema de movimentos sociais rurais patronais e campone-ses A essa altura jaacute em 1969 poacutes AI-5 o regime poliacutetico jaacute era bem mais pesado Ao clima pluacutembeo da eacutepoca somava-se para Ilse a carga de aulas da poacutes-graduaccedilatildeo ldquoTinha que bater ponto e tudordquo conta Para aliviar a tensatildeo ela arranjou mais um com-promisso aulas de teatro agrave noite Chegou a participar de uma peccedila infantil mas natildeo levou a carreira dramaacutetica adiante

Em vez disso em 1971 terminado o mestrado comeccedilou a anali-sar as possibilidades para o doutorado A essa altura sabia que queria sair de Porto Alegre conhecer coisas diferentes Procurou entatildeo contato com Fernando Henrique Cardoso que fizera uma palestra na UFRGS chegou a visitaacute-lo em Satildeo Paulo (foi recebi-da primeiramente por Ruth Cardoso) mas ele havia sido apo-sentado compulsoriamente pelo decreto-lei nordm 477 de fevereiro de 1969 Ainda assim indicou-a agrave USP mas a possibilidade de estudar na Europa e de colocar em praacutetica seus anos de estudo do francecircs atraiacuteram-na mais e Ilse comeccedilou a entrar em contato com a Sorbonne na Franccedila mesmo sem saber que tipo de apoio teria ldquoO pessoal perguntava se eu natildeo tinha medo de ir para fora e eu dizia lsquopara fora de quecircrsquo natildeo existia isso de dentro ou fora para mimrdquo enfatiza

Ainda com as possibilidades em aberto foi para a Inglaterra naquele ano enquanto o clima poliacutetico no Brasil endurecia ain-da mais Chegou laacute sem nenhuma indicaccedilatildeo falando pouco do idioma e conseguiu hospedagem na Casa do Brasil na Inglaterra ndash nessa eacutepoca conheceu o futuro marido Foi entatildeo agrave Franccedila e decepcionou-se com o que considerou burocracia excessiva da Sorbonne mas marcou uma entrevista para dali a dois meses com Alain Touraine socioacutelogo francecircs renomado por seus es-critos a respeito de movimentos sociais e da Sociologia de Tra-balho em que cunhou a expressatildeo ldquosociedade poacutes-industrialrdquo No periacuteodo de sua graduaccedilatildeo na UFRGS Touraine jaacute era um dos estudiosos mais discutidos

Ilse levou a seacuterio o conselho da secretaacuteria do professor com quem marcara a entrevista jaacute chegar com o projeto claro e bem--embasado Voltou agrave Inglaterra e pocircs-se a trabalhar nisso ateacute o dia do encontro Levou tambeacutem sua dissertaccedilatildeo de mestrado Funcionou ele gostou da proposta sobre sindicalismo rural e aceitou a nova orientanda na Universidade de Paris X em Nan-terre Conseguiu tambeacutem uma bolsa da Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) Nessa mes-ma eacutepoca Touraine escrevia sua principal obra A produccedilatildeo da sociedade cujos capiacutetulos foram todos discutidos em sala pela turma de que Ilse participava Esse modo de trabalhar em gru-pos conta ela foi uma grande influecircncia em sua vida acadecircmica

Apoacutes concluir o doutorado voltou ao Brasil e em 1974 comeccedilou a dar aulas como horista no Instituto de Filosofia e Ciecircncias So-ciais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) O clima que encontrou no paiacutes era de medo O IFCS receacutem-passara por um processo em que cerca de quarenta professores foram cassados entre eles Darcy Ribeiro ldquoTodo mundo cochichava para falar de poliacutetica meu marido natildeo conseguia entender por que aquilo mas era difiacutecil evitar E como ensinar Sociologia sem falar em classes sociaisrdquo observa Precisava tomar cuidado em sala de aula para natildeo avanccedilar em temas considerados tabus em certo momento foi ldquoaconselhadardquo por telefone a natildeo par-ticipar de um concurso puacuteblico para professora adjunta entre 1975 e 1976 porque poderia haver consequecircncias graves se fosse aprovada preferiu ficar de fora Em outro concurso mais

10

adiante natildeo houve ameaccedila e Ilse passou na seleccedilatildeo curricular para adjunta

Nos sete anos que passou na UFRJ Ilse viveu o periacuteodo da aber-tura poliacutetica e da luta pela anistia Criou grupos de trabalho aju-dou a organizar a poacutes-graduaccedilatildeo em Sociologia na UFRJ e foi a primeira coordenadora da poacutes e do mestrado Entatildeo em 1981 surgiu a oportunidade de vir para a UFSC inicialmente como pro-fessora convidada por iniciativa do professor Silvio Coelho dos Santos que iniciava um grupo interdisciplinar ldquoMas na verdade eu sabia que queria ficar por aqui Deu tudo certo Queria me in-tegrar aqui e me integrei logo me sentia em casa as possibilida-des estavam se abrindordquo lembra Jaacute existia o Novo Sindicalismo com Luis Inaacutecio Lula da Silva como liacuteder os movimentos sociais se reorganizavam dali a poucos anos em 1984 seria fundado oficialmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Um dos primeiros projetos de Ilse na UFSC foi um trabalho sobre desabrigados nas construccedilotildees de barragens assunto para o qual acabou voltando ao longo dos anos Depois de passar os dois primeiros anos em Florianoacutepolis ainda agrave disposiccedilatildeo da UFRJ passou em concurso puacuteblico e tornou-se professora titular na UFSC

Em 1984 durante o VII Encontro Nacional da Associaccedilatildeo Nacio-nal de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Ciecircncias Sociais (Anpocs) apresentou o texto ldquoO caraacuteter dos novos movimentos sociaisrdquo considerado peccedila fundamental para o estabelecimento desta denominaccedilatildeo que abordava ainda o feminismo e o movimento ecoloacutegico Foi incluiacutedo tambeacutem em Uma Revoluccedilatildeo no Cotidiano ndash os novos movimentos sociais na Ameacuterica Latina de 1987 orga-nizado junto com o professor Paulo Krischke tambeacutem da UFSC e lanccedilado pela editora Brasiliense Observou surgir essa nova maneira de associativismo e organizaccedilatildeo nos grupos de periferia

Perfil

de Florianoacutepolis com participaccedilatildeo do padre Vilson Groh ligado desde os anos 1980 agrave Teologia da Libertaccedilatildeo e depois aos mo-vimentos dos Sem-Terra e Sem-Teto

Ilse tambeacutem ajudou a definir os conceitos de rede nesses mo-vimentos sociais brasileiros a partir de sua organizaccedilatildeo mais fluida com trocas de experiecircncia e articulaccedilotildees e diferentes pos-sibilidades de participaccedilatildeo Ela apresentou essa visatildeo no livro Redes de movimentos sociais lanccedilado pela editora Loyola em 1996 Com o tempo construiu uma produccedilatildeo extensa e influen-te Na UFSC participou de todo o processo de implantaccedilatildeo de cotas e poliacuteticas afirmativas ldquoHouve um debate muito acirrado entre intelectuais e sempre surgia o discurso de que os cotistas teriam aproveitamento acadecircmico inferior mas isso acabou sen-do desmentido com os nuacutemeros que mostraram que natildeo havia muita diferenccedila entre eles e os natildeo cotistasrdquo destaca

O Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos Sociais diz surgiu de maneira informal quando ex-alunos demonstraram interes-se em prosseguir debatendo ldquoComeccedilamos a fazer encontros perioacutedicos depois conseguimos uma sala aiacute foi indo Surgi-ram daiacute vaacuterios trabalhos e eacute como eu gosto de fazer as coisas em grupordquo

Conheccedila mais sobre o pensamento de Ilse Scherer-Warren por meio

do livro do qual eacute coorganizadora Movimentos sociais e participaccedilatildeo

editado pela EdUFSC e disponiacutevel para leitura gratuita on-line

11

Como mostrar o que eacute pesquisa a ciecircncia como ela eacute feita quais benefiacutecios ela traz para as pessoas Parece faacutecil mas natildeo eacute Explicar temas agraves vezes complicados de forma que as pessoas entendam - sem cair no sensacionalismo

barato de tabloides e programas pseudocientiacuteficos ndash eacute muito mais difiacutecil do que parece

As pessoas se interessam por ciecircncia A resposta eacute um grande sim Resultado de uma pesquisa feita em 2015 sobre a percep-ccedilatildeo puacuteblica de ciecircncia e tecnologia no Brasil mostrou alguns re-sultados surpreendentes Por exemplo as pessoas acham que ciecircncia eacute uma atividade muito importante e essencial para aju-dar a resolver problemas do paiacutes e do mundo Trecircs quartos dos entrevistados acreditam que a ciecircncia traz mais benefiacutecios que malefiacutecios e mais da metade acredita que cientistas fazem coi-sas uacuteteis agrave humanidade entretanto 90 dos entrevistados natildeo conseguem se lembrar de uma instituiccedilatildeo cientiacutefica ou nome de um cientista brasileiro famoso

O que falta entatildeo Maior oferta de informaccedilatildeo cientiacutefica de qua-lidade Embora uma parcela significativa das pessoas acredite que a internet televisatildeo e jornais divulgam de forma satisfatoacute-ria descobertas cientiacuteficas o problema eacute a quantidade dessas informaccedilotildees que alcanccedila esses meios E infelizmente natildeo po-demos ignorar que muitas destas informaccedilotildees principalmente as veiculadas na internet tecircm qualidade no miacutenimo duvidosa

E quem melhor qualificado para transmitir estas informaccedilotildees que os proacuteprios pesquisadores Aiacute temos outro problema A maioria dos pesquisadores natildeo tem treinamento para transmitir a men-sagem em linguagem que as pessoas entendam Isso nos leva imediatamente agrave necessidade imperiosa de junccedilatildeo de esforccedilos entre pessoas que sabem transmitir a informaccedilatildeo (jornalistas por exemplo) e aquelas que tecircm as informaccedilotildees (pesquisadores e cientistas)

Aiacute entra o jornalismo cientiacutefico e a divulgaccedilatildeo cientiacutefica Infeliz-mente nosso paiacutes natildeo estaacute entre os que fazem boa divulgaccedilatildeo cientiacutefica ndash e natildeo eacute por falta de boa ciecircncia Temos centenas de exemplos de grupos de pesquisa em universidades laboratoacuterios oficiais e empresas que estatildeo trabalhando na fronteira do co-nhecimento em pesquisas de classe mundial Porque isso acon-tece A resposta eacute difiacutecil e pode ter inuacutemeras variaacuteveis Poucos satildeo os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo cientiacutefica permanentes no Brasil E poucos satildeo os jornalistas especializados em divulgaccedilatildeo cien-tiacutefica Em alguns paiacuteses haacute jornalistas e setores de divulgaccedilatildeo de instituiccedilotildees e universidades especializados em levar para o puacuteblico o que acontece em pesquisa nos seus laboratoacuterios Aleacutem de elevar a compreensatildeo do puacuteblico em geral sobre os avanccedilos da ciecircncia essa eacute uma forma importante de prestaccedilatildeo de contas do dinheiro aplicado em ciecircncia e pesquisa

Tamanha eacute a importacircncia atribuiacuteda agrave divulgaccedilatildeo cientiacutefica que o curriacuteculo Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-tiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) agora tem uma aba especiacutefica para que sejam cadastradas as atividades de divulgaccedilatildeo cientiacutefica

Nesse sentido a UFSC deu uma modesta mas significativa con-tribuiccedilatildeo A Propesq manteacutem desde 2014 uma equipe de jo-vens estudantes de jornalismo orientados por profissionais que produziram uma seacuterie de mateacuterias sobre a pesquisa que se faz na UFSC ndash algumas inclusive tendo sido veiculadas pela grande imprensa ndash o que possibilitou levar o conhecimento produzido na Universidade para um nuacutemero ainda maior de pessoas

Este eacute um bom comeccedilo para uma atividade que deve ter caraacuteter permanente A oferta de material de divulgaccedilatildeo de boa quali-dade aumentaraacute a percepccedilatildeo do puacuteblico sobre a relevacircncia e importacircncia da pesquisa cientiacutefica Eacute minha convicccedilatildeo que esta iniciativa deve continuar e ser expandida para tornar-se o Pro-grama de Divulgaccedilatildeo Cientiacutefica da UFSC

CIEcircNCIA SEMCOMPLICACcedilAtildeOJamil Assreuy

Opiniatildeo

Doutor em Ciecircncias Bioloacutegicas (Biofiacutesica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Fez o poacutes-doutorado no Wellcome Research Labs UK Atualmente eacute Professor Associado do Departamento de Farmacologia e Proacute-Reitor de Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina

12

MISSAtildeO

ESPACIALDaniela Caniccedilali

Equipe da UFSC desenvolve sateacutelite que seraacute lanccedilado em 2016

Engenharias

UFSC Ciecircncia

Um cubo com 10 cm de aresta pesando aproximadamente um quilo constituiacutedo de computador de bordo paineacuteis solares bateria e carga uacutetil (dispositivos que exercem funccedilotildees preestabelecidas como fotografar medir a tem-

peratura etc) Essas satildeo as caracteriacutesticas do nanossateacutelite do tipo cubesat que estaacute sendo desenvolvido desde 2012 no proje-to Floripa Sat uma iniciativa de pesquisadores e alunos de dife-rentes cursos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) A previsatildeo de lanccedilamento eacute dezembro de 2016

O Floripa Sat surgiu de forma independente inspirado em ou-tros projetos experimentais do Centro Tecnoloacutegico (CTC) mdash como o BAJA SAE do curso de Engenharia Mecacircnica que se destina a produzir protoacutetipos de veiacuteculos automotivos off-road ldquoExiste aqui na UFSC o BAJA o barco eleacutetrico o carro eleacutetrico Satildeo vaacuterios projetos Pensamos entatildeo em propor o desenvolvimento de um sateacutelite para que os alunos se interessassem e se motivassem tambeacutem pela aacuterea aeroespacialrdquo explica o professor Eduardo Bezerra do Departamento de Engenharia Eleacutetrica e um dos coor-denadores do projeto Outro coordenador professor Kleber Viei-ra de Paiva do curso de Engenharia Aeroespacial (Campus Join-ville) reforccedila que o principal objetivo do projeto eacute educativo ldquoO aluno tem a oportunidade de participar de uma missatildeo espacial completardquo Ao mesmo tempo em que passou a contribuir para a formaccedilatildeo dos estudantes o Floripa Sat tambeacutem deu visibilidade agrave aacuterea aeroespacial ainda recente nas universidades brasileiras O curso da UFSC foi criado em 2009 e eacute uma das uacutenicas seis gra-duaccedilotildees em Engenharia Aeroespacial em todo o paiacutes

Ateacute chegar a sua ldquoversatildeo finalrdquo e ser lanccedilado o sateacutelite passa pelas seguintes etapas anaacutelise de requisitos projeto desen-volvimento integraccedilatildeo e testes Na etapa de levantamento de requisitos satildeo definidas desde as faixas de temperatura que o sateacutelite deve aguentar a velocidade de comunicaccedilatildeo com a Ter-ra ateacute as funccedilotildees que iraacute executar Na etapa de projeto satildeo de-senvolvidas as placas mdash com microprocessadores que mantecircm o sateacutelite em funcionamento mdash um dos diferenciais do Floripa Sat

Enquanto outras universidades utilizam placas prontas na UFSC elas estatildeo sendo desenvolvidas pelos proacuteprios alunos ldquoNoacutes ad-quirimos uma placa da empresa que fabrica um dos melhores modelos de cubesat Mas essa placa vai servir apenas como mo-delo de referecircncia Nosso interesse eacute o desenvolvimento cientiacute-fico poder estudar os circuitos e talvez ateacute desenvolver placas mais eficientesrdquo explica Eduardo

Na etapa de integraccedilatildeo os diversos subsistemas do cubesat satildeo colocados para funcionar em conjunto passando-se entatildeo agrave fase de testes quando o sateacutelite como um todo eacute submetido a um ambiente de voo Apoacutes ser aprovado nos testes chega entatildeo o momento mais esperado a integraccedilatildeo ao veiacuteculo lanccedilador e o lanccedilamento do sateacutelite ldquoA sensaccedilatildeo de colocar um sateacutelite em oacuterbita eacute de muita satisfaccedilatildeo de dever cumprido Eacute algo que deve ser planejado com cuidado pois se qualquer coisa der errado o objetivo final que eacute estabelecer a comunicaccedilatildeo do sateacutelite com a Terra pode natildeo ser atingidordquo explica Kleber O doutoran-do Leonardo Slongo pesquisador do projeto tambeacutem descreve essa etapa como a que gera mais expectativa ldquoSatildeo realizados vaacuterios testes mas ainda assim existe muita apreensatildeo sobre-tudo nos primeiros minutos do lanccedilamentordquo Kleber acrescenta ldquoVocecirc natildeo tem uma segunda chancerdquo

Se a missatildeo for bem-sucedida chega a fase de monitorar as ati-vidades do sateacutelite coletar dados e com essas informaccedilotildees di-vulgar os resultados do trabalho por intermeacutedio de publicaccedilotildees e patentes ldquoO trabalho natildeo acaba no lanccedilamento ele continua Enquanto estiver em oacuterbita os alunos vatildeo estar envolvidos na comunicaccedilatildeo com o sateacuteliterdquo explica Kleber O Floripa Sat seraacute transportado como carga de um sateacutelite de maior porte o Uni-sat-7 (da empresa GAUSS) que por sua vez seraacute acoplado ao foguete Dnepr com data de lanccedilamento prevista para dezem-bro de 2016 na Ruacutessia A integraccedilatildeo final seraacute realizada na Itaacutelia com o acompanhamento de dois membros da equipe da UFSC prioritariamente estudantes

CUBESATO cubesat mdash abreviaccedilatildeo das palavras em inglecircs ldquocuberdquo (cubo) e ldquosatrdquo (sateacutelite) mdash caracteriza-se por sua estrutura simplificada e custo reduzido enquanto para o seu lanccedilamento satildeo gastos aproximadamente 100 mil doacutelares para o de um sateacutelite convencional os custos chegam a 250 milhotildees Os sateacutelites de pequeno porte conhecidos como nanossateacutelites tambeacutem se distinguem pelo alto valor agregado ldquoOs componentes que precisamos adqui-rir para desenvolver uma placa custam cerca de 100 doacutelares Quando fica pronta ela pode ser vendida por 15 mil doacutelaresrdquo afirma o professor Eduardo

O padratildeo cubesat foi desenvolvido em 1999 no contexto da tendecircncia dos nanossateacutelites com o intuito de fomentar a pesquisa universitaacuteria na aacuterea de Engenharia Aeroespacial Seus idealizadores Jordi Puig-Suari e Bob Twi-ggs professores das universidades norte-americanas California Polytechnic State University e Stanford University tinham o propoacutesito de proporcionar aos estudantes de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo a possibilidade de projetar construir testar e operar um sateacutelite semelhante ao Sputnik Os dois pesquisa-dores estaratildeo em Florianoacutepolis no primeiro semestre de 2016 para o evento ldquoII Latin America IAA CubeSat Workshoprdquo organizado pela equipe do pro-jeto Floripa Sat

13

14

Engenharias

PROJETO SERPENSOutro projeto que tem a participaccedilatildeo da UFSC em parceria com outras universidades eacute o Sistema Espacial para a Realizaccedilatildeo de Pesquisas e Experimentos com Nanossateacutelites (Serpens) Coor-denado pela Agecircncia Espacial Brasileira (AEB) como uma ativi-dade do programa Uniespaccedilo o Serpens foi criado em dezembro de 2013 com o objetivo de qualificar a pesquisa acadecircmica na aacuterea Ao longo dos anos estudantes dos cursos de Engenha-ria Aeroespacial do paiacutes teratildeo a oportunidade de aplicar a teo-ria na praacutetica participando do desenvolvimento e lanccedilamento de cubesats O primeiro o Serpens I foi lanccedilado em agosto de 2015 rumo agrave Estaccedilatildeo Espacial Internacional (ISS) e colocado em oacuterbita no dia 17 de setembro Aleacutem da UFSC quatro instituiccedilotildees brasileiras participam do projeto Serpens Universidade de Bra-siacutelia (UnB) Universidade Federal do ABC (UFABC) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Instituto Federal Fluminense (IFF) Em cada missatildeo uma equipe fica responsaacutevel por liderar o projeto o Serpens I foi liderado pela UnB o Serpens II mdash que jaacute estaacute em desenvolvimento com previsatildeo de lanccedilamento para de-zembro de 2017 mdash estaacute sendo coordenado pela equipe da UFSC

EQUIPEAtualmente integram o Floripa Sat dez professores e trinta alu-nos da graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Engenharia Aeroespacial Engenharia Eleacutetrica Engenharia Eletrocircnica Engenharia Mecacircni-ca Ciecircncia da Computaccedilatildeo e Engenharia de Controle e Automa-ccedilatildeo Aleacutem do projeto Floripa Sat e do Serpens membros da equi-pe jaacute participaram de outras missotildees aeroespaciais Em 2006 quando ainda era estudante de mestrado da UFSC o professor Kleber teve participaccedilatildeo na missatildeo do astronauta brasileiro Mar-cos Pontes como responsaacutevel por um dos experimentos utiliza-do pelo astronauta no ambiente de microgravidade da Estaccedilatildeo Espacial Internacional O doutorando Leonardo Slongo partici-pou junto com Kleber de projetos do Programa Microgravidade da AEB e acompanhou no Centro de Lanccedilamento de Alcacircntara (CLA) no Maranhatildeo o lanccedilamento de foguetes que executaram diferentes experimentos O professor Eduardo Bezerra atua haacute mais de dez anos no projeto e desenvolvimento de sistemas computacionais embarcados para os sateacutelites de grande porte do Programa Espacial Brasileiro

LINHA DO TEMPO

2015

2012

2013

2014

2016

Consolidaccedilatildeo do Floripa Sat como projeto de pesquisa

Levantamento dos requisitos desenvolvimento das primeiras versotildees do Floripa Sat

Definiccedilatildeo dos requisitos da versatildeo a ser lanccedilada organizaccedilatildeo do projeto desenvolvimentotestes do protoacutetipo

Fabricaccedilatildeo do protoacutetipo projeto desenvolvimento do modelo de engenharia e do modelo de voo fabricaccedilatildeo testes

Integraccedilatildeo e testes do modelo de voo testes mecacircnicos e teacutermicos lanccedilamento

Etapas de desenvolvimento do projeto Floripasat

Font

e E

duar

do B

ezer

ra

Kleb

er V

ieira

de

Paiv

aDe

sign

Airt

on J

orda

ni

Text

o D

anie

la C

aniccedil

ali

15

Contribuindo para a difusatildeo do conhecimento a Editora da UFSC (EdUFSC) oferece na forma digital livros de seu acervo impresso acessiacuteveis para leitura gratuita on-line Conheccedila alguns deles

ACERVO DIGITAL EDITORA DA UFSC

EdUFSC

Filosofia da Tecnologia um convite Alberto Cupani

httplufscbrfilosofiatecnologia

O fantaacutestico na Ilha de Santa Catarina

Franklin Cascaes httplufscbrfantasticonailha

Gesto palavra e memoacuteria Luciana Hartmann

httplufscbrgestopalavra

Arquitetura da Cidade Contemporacircnea Gilceacuteia Pesce do Amaral e Silva Lisete Assen de Oliveira (Orgs) httplufscbrarquiteturacidade

Algaravia discursos de naccedilatildeo Rauacutel Antelo

httplufscbralgaravia

Tecnologia de Fabricaccedilatildeo de Revestimentos Ceracircmicos

Antonio P N de Oliveira e Dachamir Hotza httplufscbrrevestimentos

16

Linguiacutestica e Literatura

A ARTE E O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEAREDaniela Caniccedilali

Em 1990 um grupo de cerca de dez pesquisadores se reuacutene em torno de um interesse em comum o dramaturgo inglecircs William Shakespeare Em 1991 nasce em Belo Horizonte (MG) o Centro de Estudos Shakespeareanos (CESh) Entre

aqueles que participaram da fundaccedilatildeo da entidade estava Joseacute Roberto OrsquoShea que acabava de se tornar professor do Depar-tamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras (DLLE) da Universi-dade Federal de Santa Catarina (UFSC) No CESh OrsquoShea foi de-signado para iniciar os projetos de traduccedilatildeo ldquoO grupo entendeu que eram necessaacuterias novas traduccedilotildees Como os padrotildees de fala se modificam mesmo o teatro supostamente claacutessico que eacute o caso de Shakespeare tende a ficar datadordquo explica Segundo o pesquisador as traduccedilotildees que circulavam ateacute o final da deacutecada de 1980 estavam desatualizadas em termos de leacutexico estruturas frasais e referecircncias culturais Estavam portanto distantes do puacuteblico leitor e espectador

Antocircnio e Cleoacutepatra foi a primeira das oito obras do dramatur-go inglecircs que OrsquoShea traduziu desde entatildeo ldquoDecidimos co-meccedilar pelas menos encenadas e menos conhecidas mas que satildeo tambeacutem peccedilas extraordinaacuteriasrdquo Seu trabalho se realiza no acircmbito do projeto de pesquisa ldquoTraduccedilotildees anotadas da drama-turgia shakespearianardquo que tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) e estaacute em atividade ininterrupta haacute 23 anos OrsquoShea eacute o uacutenico tradutor de Shakespeare no Brasil cuja atividade estaacute vinculada a programas de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu O professor tambeacutem traduziu aleacutem das obras de Shakespeare obras sobre Shakespeare De Harold Bloom reconhecido criacutetico literaacuterio de liacutengua inglesa tra-duziu entre outros tiacutetulos Shakespeare a invenccedilatildeo do humano com cerca de 900 paacuteginas

OrsquoShea afirma evitar qualquer relaccedilatildeo de reverecircncia ou mitifica-ccedilatildeo ldquoTento natildeo entrar nessa senatildeo fico paralisado Mas sem sombra de duacutevida como outros grandes autores Shakespeare tem percepccedilotildees graviacutessimas sobre a natureza humanardquo O pro-

fessor explica que uma das preocupaccedilotildees baacutesicas do autor eacute explicitar que a viagem do crescimento do ser humano parte de uma situaccedilatildeo de relativa cegueira autoengano ignoracircncia com relaccedilatildeo a si mesmo e agrave realidade que o cerca e segue na direccedilatildeo do autoconhecimento da percepccedilatildeo de sua relativa importacircn-cia ldquoEssa eacute uma sacaccedilatildeo muito granderdquo Outros temas recor-rentes satildeo o amor romacircntico ndash ldquoquase sempre morre o amor ou morrem os amantesrdquo ndash e a poliacutetica a exposiccedilatildeo do mau gover-nante ndash ldquoaquele que soacute visa ao seu bem proacuteprio e ao de alguns que o cercamrdquo

O TRADUTORA formaccedilatildeo do tradutor demanda muita leitura e escrita ldquoLer e escrever satildeo atividades indissociaacuteveis Eacute preciso ter bastante co-nhecimento da liacutengua de partida e imensuraacutevel conhecimento da liacutengua de chegada Aiacute o ceacuteu eacute o limiterdquo OrsquoShea reforccedila seus argumentos citando o poeta chileno Nicanor Parra ldquoPara tradu-cir Shakespeare y comer pescado cuidado poco se gana con saber ingleacutesrdquo Conhecer a liacutengua e a cultura de chegada portan-to eacute o que permite ao tradutor escrever com fluidez fazendo o texto ldquofuncionarrdquo em seu contexto

O professor lembra que ldquoum tradutor eacute um escritorrdquo apesar de nem sempre ser assim reconhecido ldquoNos uacuteltimos 30 anos o tra-dutor estaacute se tornando mais conhecido mais visiacutevel mais res-peitado Mas ainda haacute um caminho longo a ser trilhadordquo OrsquoShea faz referecircncia agraves criacuteticas literaacuterias ldquoAgraves vezes o criacutetico diz lsquoO au-tor tem um belo estilorsquo Mas o autor natildeo escreveu uma daque-las palavras sequer Nenhuma Todas as palavras que o criacutetico leu foram escritas pelo tradutor Ele elogia o estilo a fluecircncia a linguagem e nem menciona o tradutor como se aquela obra tivesse sido escrita em liacutengua portuguesa Essa eacute a famosa invi-sibilidade do tradutorrdquo

17

UFSC Ciecircncia

TRAJETOacuteRIA ACADEcircMICAComo estudante OrsquoShea nunca frequentou uma universidade brasileira cursou a graduaccedilatildeo o mestrado e o doutorado em di-ferentes instituiccedilotildees dos Estados Unidos (EUA) Seus quatro poacutes--doutorados tambeacutem foram no exterior trecircs deles na Inglaterra e um nos EUA Shakespeare foi o eixo central da pesquisa que desenvolveu na UFSC de 1990 a 2015 Nesse periacuteodo orientou 46 trabalhos entre estaacutegios de poacutes-doutorado teses de dou-torado dissertaccedilotildees de mestrado monografias e trabalhos de conclusatildeo de curso (TCC) ndash a maioria abordou diversos aspec-tos da obra de Shakespeare OrsquoShea se aposentou em marccedilo de 2015 mas segue como professor colaborador dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Inglecircs (PPGI) e em Estudos da Traduccedilatildeo (PPGET) Orienta atualmente dois estudantes de mestrado cin-co de doutorado e um de poacutes-doutorado ldquoOs 25 anos que passei na UFSC natildeo gostaria de ter passado em nenhuma outra univer-sidade do mundo Fiz quatro poacutes-docs dei aula como convida-do em universidades no Brasil e no exterior sempre tive apoio para fazer pesquisa apresentar trabalhos em eventos nacionais e internacionais Natildeo substituiria minha experiecircncia aqui por nenhuma outrardquo

Precircmio JabutiOrsquoShea recebeu uma menccedilatildeo honrosa no Precircmio Jabuti em 2003 pela traduccedilatildeo de Cimbeline rei da Britacircnia Em 2008 sua traduccedilatildeo de O conto do inverno ficou entre as dez finalistas do precircmio na categoria Traduccedilatildeo Literaacuteria

Conheccedila um pouco do trabalho de Joseacute Roberto OrsquoShea por meio

de sua primeira traduccedilatildeo de Shakespeare Antocircnio e Cleoacutepatra

disponiacutevel para leitura gratuita on-line

18

A TRADUCcedilAtildeOShakespeare eacute frequentemente traduzido em prosa A traduccedilatildeo em versos metrificados eacute um dos diferenciais do trabalho de OrsquoShea Somam-se a isso a linguagem atualizada e a inclusatildeo de anotaccedilotildees comentaacuterios paratexto e bibliografia seleciona-da Em todas as obras que publicou haacute um ensaio introdutoacuterio e notas explicativas cobrindo questotildees de texto contexto e en-cenaccedilatildeo Em Antocircnio e Cleoacutepatra por exemplo haacute 365 notas Por isso o resultado final vai aleacutem da traduccedilatildeo em si ldquoEu gosto de pensar que minhas traduccedilotildees volume a volume satildeo ediccedilotildees criacuteticas daquele textordquo

Seu meacutetodo de trabalho se inicia com a escolha do texto base ldquoPara Antocircnio e Cleoacutepatra analisei cinco ediccedilotildees integrais da peccedila todas anotadas e publicadas nos uacuteltimos 50 anos Oxford Cambridge Riverside Penguin Arden Satildeo excelentes ediccedilotildees Mas escolhi a Arden porque a meu ver eacute a que estaacute mais bem resolvida textualmenterdquo Segundo o professor natildeo eacute comum os tradutores terem o cuidado de confrontar a ediccedilatildeo que escolhe-ram com outras cinco ou seis verso a verso como ele faz ldquoCom todo o respeito muitas traduccedilotildees carecem de pesquisa O tradu-tor elege uma boa ediccedilatildeo moderna e se ateacutem agraves anotaccedilotildees e agraves soluccedilotildees textuais dessa uacutenica ediccedilatildeordquo

Uma das principais diferenccedilas entre a traduccedilatildeo em verso e em prosa eacute a questatildeo do espaccedilo ldquoNa prosa se precisar de dez pala-vras para descrever um objeto posso dispor de dez palavras Na poesia metrificada natildeo Trabalho com decassiacutelabos e muitas vezes minha melhor opccedilatildeo semacircntica tem quatro ou cinco siacutela-bas mas natildeo posso usaacute-la Tenho que me contentar com minha segunda terceira melhor opccedilatildeo semacircntica pois natildeo tenho es-paccedilo para escrever por exemplo em-be-ve-ci-men-tordquo OrsquoShea explica que pode haver perdas semacircnticas mas haacute ganhos esteacute-ticos ldquoNatildeo posso ser prolixo natildeo tenho espaccedilo para explicar o texto tenho que ser parcimonioso Afinal trata-se de poesia e poesia eacute sugestiva eacute eliacuteptica ela nos permite imaginarrdquo

Outro desafio na traduccedilatildeo em verso eacute a rima ldquoAs rimas visuais graficamente oacutebvias satildeo mais faacuteceis de traduzir Mas haacute rimas que natildeo repetem padrotildees graacuteficos Vocecirc natildeo vecirc vocecirc ouve Eacute preciso esquecer um pouco a questatildeo graacutefica e ir para o som com flexibilidade pois muitas vezes haacute vaacuterias possibilidades de pronuacutencia Home e come por exemplo podem rimar depende da pronuacutencia do poeta Eu trabalho com dicionaacuterios de rimas natildeo tenho escruacutepulos em dizer issordquo O professor afirma ldquonatildeo ter escruacutepulosrdquo pois haacute certo preconceito entre tradutores quanto ao seu uso Ele conta o que lhe ocorreu em um congresso em Li-verpool ldquoEu falava sobre minhas traduccedilotildees sobre poesia rima-da quando um colega de Oxford perguntou como eu trabalha-va Eu disse lsquoTrabalho com um dicionaacuterio de rimas Aliaacutes com mais de umrsquo Ele riu como quem diz lsquocadecirc o ouvido de poetarsquo Mas em um dos meus dicionaacuterios haacute na capa a citaccedilatildeo lsquo() a salvaccedilatildeo da lavoura poeacuteticarsquo Carlos Drummond de Andrade ldquoSe Drummond diz isso acho que estou liberadordquo argumenta com humor

O professor tambeacutem aponta a importacircncia de identificar as pala-vras que sofreram inversatildeo semacircntica ldquoOs vocaacutebulos que a gen-te natildeo conhece natildeo satildeo um problema Existe pelo menos uma duacutezia de dicionaacuterios que cobrem todo o leacutexico shakespeariano O problema satildeo as palavras que parecem corriqueiras que ain-da satildeo utilizadas mas que sofreram inversatildeo semacircntica hoje significam o oposto do que significavam na primeira deacutecada do seacuteculo XVII Satildeo inuacutemeras dessas palavras Essas eacute que satildeo pe-rigosas podem ser armadilhas para o tradutor Merely que hoje eacute lsquomeramentersquo antes era lsquototalmentersquo Fellow que significa lsquoca-maradarsquo na eacutepoca significava lsquomarginalrsquo lsquocriminosorsquo Rival que hoje significa lsquorivalrsquo na eacutepoca significava lsquoparceirorsquo Identificar isso eacute um desafio vocecirc tem que pesquisar muitordquo OrsquoShea acres-centa que tambeacutem eacute importante ter o maacuteximo de empatia pos-siacutevel com cada personagem ldquoVocecirc natildeo pode tomar partido tem que tentar fazer o melhor possiacutevel a partir do personagem que estaacute falando naquele momento Eacute o que alguns autores chamam de lsquodefender o personagemrsquo O tradutor tambeacutem deve defender o personagemrdquo

Traduccedilotildees Editora Ano

Antocircnio e Cleoacutepatra MandarimSiciliano 1997

Cimbeline rei da Britacircnia Iluminuras 2002

O conto do inverno Iluminuras 2007

Peacutericles priacutencipe de Tiro Iluminuras 2012

O primeiro Hamlet In-Quarto de 1603 Hedra 2013

Os dois primos nobres Iluminuras 2016

Troacuteilo e Creacutessida Editora 34 2016

Timon de Atenas (em progresso)

Linguiacutestica e Literatura

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 8: MISSÃO ESPACIAL

UFSC Ciecircncia

7

Um estudo realizado no Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Engenharia Quiacutemica desenvolveu ceracircmica monoporosa tambeacutem conhecida como azulejo com 20 de aparas de papel Para realizar sua dissertaccedilatildeo Rodrigo Daros

sob orientaccedilatildeo do professor Humberto Gracher Riella substituiu parte do calcaacuterio usado na ceracircmica por esse resiacuteduo do papel mais viaacutevel econocircmica e ecologicamente

Utilizar as aparas em ceracircmicas monoporosas eacute uma alternativa com benefiacutecios ambientais pois diminui a quantidade de cal-caacuterio ndash um recurso natildeo renovaacutevel ndash e reaproveita os restos de papel que seriam descartados no ambiente Essa reutilizaccedilatildeo ocorre tambeacutem na correccedilatildeo de solo e na formulaccedilatildeo de cimento no entanto como a induacutestria de papel e celulose produz aparas em grande quantidade a maioria natildeo eacute reaproveitada

Na pesquisa de Daros as ceracircmicas produzidas tiveram uma ab-sorccedilatildeo de 3 a 8 maior do que as sem o resiacuteduo o que signi-fica que a aderecircncia agrave parede seraacute melhor O iacutendice alcanccedilado no estudo se manteacutem dentro do limite que permite classificar a ceracircmica como monoporosa ndash aquela que possui absorccedilatildeo su-perior a 10

Foram utilizados soacute 20 de resiacuteduos de papel na composiccedilatildeo da ceracircmica porque segundo o pesquisador esse seria o valor ideal para atingir o iacutendice padratildeo de absorccedilatildeo de aacutegua Acima de 25 haveria trincas ou quebras durante a queima do azulejo devido agrave retraccedilatildeo da peccedila

O uso das aparas soacute foi possiacutevel porque sua composiccedilatildeo eacute simi-lar agrave do calcaacuterio cuja decomposiccedilatildeo gera oacutexido de caacutelcio que constitui mais de 50 do resiacuteduo De acordo com o pesquisador ldquoo calcaacuterio eacute o ideal mas como eacute algo que pode ser extinto o resiacuteduo supre essa necessidaderdquo

Esse meacutetodo tambeacutem eacute economicamente mais viaacutevel O resiacuteduo de papel custa R$ 0014kg uacutemido e R$ 002kg seco de acordo com um levantamento de 2012 feito por uma empresa especia-lizada Jaacute o preccedilo do calcaacuterio eacute de R$ 0130kg Aleacutem disso o gasto para tratamento e envio das aparas aos aterros ndash que varia de R$ 006kg a R$ 0130kg ndash iria reduzir-se

Em 2005 uma pesquisa da Universidade de Aveiro Portugal usou 10 do resiacuteduo em argila outra de 2006 realizada na Uni-versidade Federal da Bahia (UFBA) utilizou 20 em argamassa Jaacute a de Daros foi feita em ceracircmica porque de acordo com ele eacute uma produccedilatildeo ldquoem larga escala e satildeo produtos mais naturais entatildeo eacute mais faacutecil de colocar nesse setorrdquo

A pesquisa foi desenvolvida em laboratoacuterio mas Daros pretende expandir o projeto A ideia foi oferecida a algumas induacutestrias de ceracircmica poreacutem ainda natildeo houve resposta positiva ldquoSempre haacute alguma resistecircncia porque eacute uma novidade uma inovaccedilatildeordquo afirma o pesquisador

Santa Catarina eacute o maior produtor brasileiro de ceracircmicas mo-noporosas em relaccedilatildeo a papel e celulose o estado representa 81 da induacutestria nacional O Brasil tem a quarta maior produ-ccedilatildeo mundial de celulose e a nona de papel

8

ldquoMuito amor pela Universidaderdquo Assim com poucas pala-vras Ilse Scherer-Warren explica por que adiou o dia de se aposentar quase tanto quanto pocircde ldquoQuaserdquo porque trabalhou ateacute bem pouco antes da data de sua aposenta-

doria compulsoacuteria em janeiro de 2014 quando completou 70 anos ldquoDois ou trecircs dias porque achei que natildeo tinha que ser tatildeo precisa assim Se jaacute tivesse mudado a legislaccedilatildeo (ela refere-se ao projeto de lei aprovado no Congresso que altera de 70 para 75 anos a idade de aposentadoria compulsoacuteria para servidores puacuteblicos) eu teria esperado mais Mas atuar como voluntaacuteria daacute mais liberdade posso me dedicar mais ao que gosto mesmordquo diz

No caso de Ilse isso significa estudar movimentos sociais prin-cipalmente agrave frente do Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos So-ciais que ajudou a fundar na UFSC em 1983 Em setembro foi homenageada durante o 17ordm Congresso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em Porto Alegre a mesma onde fez sua gradu-accedilatildeo com o Precircmio Florestan Fernades ndash a distinccedilatildeo foi criada como reconhecimento agrave atuaccedilatildeo de profissionais que contribu-iacuteram para o progresso da Sociologia no Brasil Entre os premia-dos anteriormente estatildeo Fernando Henrique Cardoso Manuel Correia de Andrade Heraldo Pessoa Souto Maior Octaacutevio Ianni Neuma Aguiar Joseacute de Souza Martins Juarez Rubens Brandatildeo Lopes Wilma de Mendonccedila Figueiredo Francisco de Oliveira e Silke Weber

ILSE SCHERER-WARREN

Faacutebio Bianchini

40 anos dedicados a pesquisas sobre movimentos sociais

Perfil

UFSC Ciecircncia

9

Ainda assim prefere falar das atividades e realizaccedilotildees do Nuacute-cleo que de acordo com nuacutemeros de 2013 havia gerado 35 pro-jetos 96 dissertaccedilotildees e teses 29 livros e 69 capiacutetulos de livros (ldquomas acho que eacute maisrdquo avalia) A preocupaccedilatildeo coletiva aparece tambeacutem no final da entrevista depois de falar da aposentadoria a premiaccedilatildeo e sua histoacuteria pessoal Para responder agrave pergunta sobre o que pensa do futuro fala mais do Brasil do que de si proacutepria ldquoSou otimista mas estaacute estranho Para quem viveu a di-tadura ver determinados discursos manipulaccedilotildees e convicccedilotildees poliacuteticas natildeo satildeo nada melhores que as barbaridades que a gente ouvia em 1968 Acho que realmente precisa de muito estu-dordquo Quando diz o nome do paiacutes assim como todas as palavras terminadas em ldquoLrdquo aparece a caracteriacutestica que mais facilmente identifica suas origens no interior do Rio Grande do Sul a pro-nuacutencia da consoante como ldquoLrdquo mudo mesmo jaacute armando para a vogal que natildeo vem natildeo como ldquoUrdquo

Foi em Portatildeo a 43 quilocircmetros de Porto Alegre (estimativa de populaccedilatildeo em 2015 de acordo com o IBGE 33994 pessoas) que ela comeccedilou sua trajetoacuteria acadecircmica na garupa de uma eacutegua Era como aos oito anos percorria os dois quilocircmetros que separavam a pequena propriedade de sua famiacutelia da escola do municiacutepio ldquoEu era pequeninha magrinha e meu pai ficava preocupado se eu fosse a peacute Naquela eacutepoca jaacute tinha uma fas-cinaccedilatildeo muito grande por estudarrdquo relembra No segundo ano comeccedilou a ir a peacute mesmo por conta proacutepria Seus passatempos preferidos eram caminhar pelo campo e brincar de dar aula para alunos imaginaacuterios O pai pequeno agricultor era lideranccedila po-liacutetica local participou da construccedilatildeo da igreja fez parte do anti-go Partido Libertador e depois do Partido Democraacutetico Cristatildeo Nas paacuteginas do jornal que ele assinava encantou-se com as re-flexotildees do pensador jornalista professor criacutetico literaacuterio e liacuteder catoacutelico Alceu Amoroso Lima que escrevia sob o pseudocircnimo Tristatildeo de Ataiacutede ldquoEle era muito humanistardquo recorda

Chegou a ir para o coleacutegio interno ndash por vontade proacutepria para se-guir os passos da irmatilde mais velha (tinha uma irmatilde e sete irmatildeos) ndash e quando terminou o ensino fundamental parou momenta-neamente os estudos formais jaacute que a escola local natildeo tinha o ensino meacutedio (ldquohoje jaacute temrdquo faz questatildeo de destacar) e foi para a cozinha ldquoFiquei nessa dos 12 13 anos ateacute os 17 mas sem esquecer meu sonho Queria algo como Filosofia Psicologia Psi-quiatria Jornalismo ou Literatura por aiacuterdquo Mudou-se para Porto Alegre e foi trabalhar sem remuneraccedilatildeo formal na casa de uma famiacutelia que por sua vez pagava seus estudos Com os livros do irmatildeo mais velho preparou-se para o exame supletivo e pas-sou Tambeacutem do irmatildeo mais velho havia ganhado um manual de Sociologia com o qual havia se identificado e assim fez o ves-tibular da UFRGS para Ciecircncias Sociais que na eacutepoca permitia mais adiante optar pelo curso de Jornalismo Mas natildeo foi o caso

ldquoNas Ciecircncias Sociais senti-me em casardquo explica Entrou no cur-so em 1965 um ano apoacutes o golpe militar quando a repressatildeo jaacute se sentia mas ainda natildeo era tatildeo forte quanto se tornou a partir de 1968 Tatildeo logo aprovada no vestibular tomou uma iniciativa que renderia frutos ainda pintada de caloura foi ateacute a Alianccedila Francesa explicou que tinha interesse em aprender o idioma mas natildeo podia pagar pelo curso e acabou ganhando uma bolsa Participou ativamente do movimento estudantil e foi a muitos protestos e passeatas ldquoQuando nos aproximaacutevamos do centro da cidade a poliacutecia vinha em cima com cavalaria Muitos anos depois fui ao Foacuterum Social Mundial e soacute de ver a cavalaria de novo deu um calafrio Em um deles o que mais me marcou um policial encostou uma arma contra meu peitordquo

O Trabalho de Conclusatildeo de Curso foi sobre Sociologia do Tra-balho Imediatamente comeccedilou o mestrado tambeacutem na UFRGS com o tema de movimentos sociais rurais patronais e campone-ses A essa altura jaacute em 1969 poacutes AI-5 o regime poliacutetico jaacute era bem mais pesado Ao clima pluacutembeo da eacutepoca somava-se para Ilse a carga de aulas da poacutes-graduaccedilatildeo ldquoTinha que bater ponto e tudordquo conta Para aliviar a tensatildeo ela arranjou mais um com-promisso aulas de teatro agrave noite Chegou a participar de uma peccedila infantil mas natildeo levou a carreira dramaacutetica adiante

Em vez disso em 1971 terminado o mestrado comeccedilou a anali-sar as possibilidades para o doutorado A essa altura sabia que queria sair de Porto Alegre conhecer coisas diferentes Procurou entatildeo contato com Fernando Henrique Cardoso que fizera uma palestra na UFRGS chegou a visitaacute-lo em Satildeo Paulo (foi recebi-da primeiramente por Ruth Cardoso) mas ele havia sido apo-sentado compulsoriamente pelo decreto-lei nordm 477 de fevereiro de 1969 Ainda assim indicou-a agrave USP mas a possibilidade de estudar na Europa e de colocar em praacutetica seus anos de estudo do francecircs atraiacuteram-na mais e Ilse comeccedilou a entrar em contato com a Sorbonne na Franccedila mesmo sem saber que tipo de apoio teria ldquoO pessoal perguntava se eu natildeo tinha medo de ir para fora e eu dizia lsquopara fora de quecircrsquo natildeo existia isso de dentro ou fora para mimrdquo enfatiza

Ainda com as possibilidades em aberto foi para a Inglaterra naquele ano enquanto o clima poliacutetico no Brasil endurecia ain-da mais Chegou laacute sem nenhuma indicaccedilatildeo falando pouco do idioma e conseguiu hospedagem na Casa do Brasil na Inglaterra ndash nessa eacutepoca conheceu o futuro marido Foi entatildeo agrave Franccedila e decepcionou-se com o que considerou burocracia excessiva da Sorbonne mas marcou uma entrevista para dali a dois meses com Alain Touraine socioacutelogo francecircs renomado por seus es-critos a respeito de movimentos sociais e da Sociologia de Tra-balho em que cunhou a expressatildeo ldquosociedade poacutes-industrialrdquo No periacuteodo de sua graduaccedilatildeo na UFRGS Touraine jaacute era um dos estudiosos mais discutidos

Ilse levou a seacuterio o conselho da secretaacuteria do professor com quem marcara a entrevista jaacute chegar com o projeto claro e bem--embasado Voltou agrave Inglaterra e pocircs-se a trabalhar nisso ateacute o dia do encontro Levou tambeacutem sua dissertaccedilatildeo de mestrado Funcionou ele gostou da proposta sobre sindicalismo rural e aceitou a nova orientanda na Universidade de Paris X em Nan-terre Conseguiu tambeacutem uma bolsa da Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) Nessa mes-ma eacutepoca Touraine escrevia sua principal obra A produccedilatildeo da sociedade cujos capiacutetulos foram todos discutidos em sala pela turma de que Ilse participava Esse modo de trabalhar em gru-pos conta ela foi uma grande influecircncia em sua vida acadecircmica

Apoacutes concluir o doutorado voltou ao Brasil e em 1974 comeccedilou a dar aulas como horista no Instituto de Filosofia e Ciecircncias So-ciais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) O clima que encontrou no paiacutes era de medo O IFCS receacutem-passara por um processo em que cerca de quarenta professores foram cassados entre eles Darcy Ribeiro ldquoTodo mundo cochichava para falar de poliacutetica meu marido natildeo conseguia entender por que aquilo mas era difiacutecil evitar E como ensinar Sociologia sem falar em classes sociaisrdquo observa Precisava tomar cuidado em sala de aula para natildeo avanccedilar em temas considerados tabus em certo momento foi ldquoaconselhadardquo por telefone a natildeo par-ticipar de um concurso puacuteblico para professora adjunta entre 1975 e 1976 porque poderia haver consequecircncias graves se fosse aprovada preferiu ficar de fora Em outro concurso mais

10

adiante natildeo houve ameaccedila e Ilse passou na seleccedilatildeo curricular para adjunta

Nos sete anos que passou na UFRJ Ilse viveu o periacuteodo da aber-tura poliacutetica e da luta pela anistia Criou grupos de trabalho aju-dou a organizar a poacutes-graduaccedilatildeo em Sociologia na UFRJ e foi a primeira coordenadora da poacutes e do mestrado Entatildeo em 1981 surgiu a oportunidade de vir para a UFSC inicialmente como pro-fessora convidada por iniciativa do professor Silvio Coelho dos Santos que iniciava um grupo interdisciplinar ldquoMas na verdade eu sabia que queria ficar por aqui Deu tudo certo Queria me in-tegrar aqui e me integrei logo me sentia em casa as possibilida-des estavam se abrindordquo lembra Jaacute existia o Novo Sindicalismo com Luis Inaacutecio Lula da Silva como liacuteder os movimentos sociais se reorganizavam dali a poucos anos em 1984 seria fundado oficialmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Um dos primeiros projetos de Ilse na UFSC foi um trabalho sobre desabrigados nas construccedilotildees de barragens assunto para o qual acabou voltando ao longo dos anos Depois de passar os dois primeiros anos em Florianoacutepolis ainda agrave disposiccedilatildeo da UFRJ passou em concurso puacuteblico e tornou-se professora titular na UFSC

Em 1984 durante o VII Encontro Nacional da Associaccedilatildeo Nacio-nal de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Ciecircncias Sociais (Anpocs) apresentou o texto ldquoO caraacuteter dos novos movimentos sociaisrdquo considerado peccedila fundamental para o estabelecimento desta denominaccedilatildeo que abordava ainda o feminismo e o movimento ecoloacutegico Foi incluiacutedo tambeacutem em Uma Revoluccedilatildeo no Cotidiano ndash os novos movimentos sociais na Ameacuterica Latina de 1987 orga-nizado junto com o professor Paulo Krischke tambeacutem da UFSC e lanccedilado pela editora Brasiliense Observou surgir essa nova maneira de associativismo e organizaccedilatildeo nos grupos de periferia

Perfil

de Florianoacutepolis com participaccedilatildeo do padre Vilson Groh ligado desde os anos 1980 agrave Teologia da Libertaccedilatildeo e depois aos mo-vimentos dos Sem-Terra e Sem-Teto

Ilse tambeacutem ajudou a definir os conceitos de rede nesses mo-vimentos sociais brasileiros a partir de sua organizaccedilatildeo mais fluida com trocas de experiecircncia e articulaccedilotildees e diferentes pos-sibilidades de participaccedilatildeo Ela apresentou essa visatildeo no livro Redes de movimentos sociais lanccedilado pela editora Loyola em 1996 Com o tempo construiu uma produccedilatildeo extensa e influen-te Na UFSC participou de todo o processo de implantaccedilatildeo de cotas e poliacuteticas afirmativas ldquoHouve um debate muito acirrado entre intelectuais e sempre surgia o discurso de que os cotistas teriam aproveitamento acadecircmico inferior mas isso acabou sen-do desmentido com os nuacutemeros que mostraram que natildeo havia muita diferenccedila entre eles e os natildeo cotistasrdquo destaca

O Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos Sociais diz surgiu de maneira informal quando ex-alunos demonstraram interes-se em prosseguir debatendo ldquoComeccedilamos a fazer encontros perioacutedicos depois conseguimos uma sala aiacute foi indo Surgi-ram daiacute vaacuterios trabalhos e eacute como eu gosto de fazer as coisas em grupordquo

Conheccedila mais sobre o pensamento de Ilse Scherer-Warren por meio

do livro do qual eacute coorganizadora Movimentos sociais e participaccedilatildeo

editado pela EdUFSC e disponiacutevel para leitura gratuita on-line

11

Como mostrar o que eacute pesquisa a ciecircncia como ela eacute feita quais benefiacutecios ela traz para as pessoas Parece faacutecil mas natildeo eacute Explicar temas agraves vezes complicados de forma que as pessoas entendam - sem cair no sensacionalismo

barato de tabloides e programas pseudocientiacuteficos ndash eacute muito mais difiacutecil do que parece

As pessoas se interessam por ciecircncia A resposta eacute um grande sim Resultado de uma pesquisa feita em 2015 sobre a percep-ccedilatildeo puacuteblica de ciecircncia e tecnologia no Brasil mostrou alguns re-sultados surpreendentes Por exemplo as pessoas acham que ciecircncia eacute uma atividade muito importante e essencial para aju-dar a resolver problemas do paiacutes e do mundo Trecircs quartos dos entrevistados acreditam que a ciecircncia traz mais benefiacutecios que malefiacutecios e mais da metade acredita que cientistas fazem coi-sas uacuteteis agrave humanidade entretanto 90 dos entrevistados natildeo conseguem se lembrar de uma instituiccedilatildeo cientiacutefica ou nome de um cientista brasileiro famoso

O que falta entatildeo Maior oferta de informaccedilatildeo cientiacutefica de qua-lidade Embora uma parcela significativa das pessoas acredite que a internet televisatildeo e jornais divulgam de forma satisfatoacute-ria descobertas cientiacuteficas o problema eacute a quantidade dessas informaccedilotildees que alcanccedila esses meios E infelizmente natildeo po-demos ignorar que muitas destas informaccedilotildees principalmente as veiculadas na internet tecircm qualidade no miacutenimo duvidosa

E quem melhor qualificado para transmitir estas informaccedilotildees que os proacuteprios pesquisadores Aiacute temos outro problema A maioria dos pesquisadores natildeo tem treinamento para transmitir a men-sagem em linguagem que as pessoas entendam Isso nos leva imediatamente agrave necessidade imperiosa de junccedilatildeo de esforccedilos entre pessoas que sabem transmitir a informaccedilatildeo (jornalistas por exemplo) e aquelas que tecircm as informaccedilotildees (pesquisadores e cientistas)

Aiacute entra o jornalismo cientiacutefico e a divulgaccedilatildeo cientiacutefica Infeliz-mente nosso paiacutes natildeo estaacute entre os que fazem boa divulgaccedilatildeo cientiacutefica ndash e natildeo eacute por falta de boa ciecircncia Temos centenas de exemplos de grupos de pesquisa em universidades laboratoacuterios oficiais e empresas que estatildeo trabalhando na fronteira do co-nhecimento em pesquisas de classe mundial Porque isso acon-tece A resposta eacute difiacutecil e pode ter inuacutemeras variaacuteveis Poucos satildeo os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo cientiacutefica permanentes no Brasil E poucos satildeo os jornalistas especializados em divulgaccedilatildeo cien-tiacutefica Em alguns paiacuteses haacute jornalistas e setores de divulgaccedilatildeo de instituiccedilotildees e universidades especializados em levar para o puacuteblico o que acontece em pesquisa nos seus laboratoacuterios Aleacutem de elevar a compreensatildeo do puacuteblico em geral sobre os avanccedilos da ciecircncia essa eacute uma forma importante de prestaccedilatildeo de contas do dinheiro aplicado em ciecircncia e pesquisa

Tamanha eacute a importacircncia atribuiacuteda agrave divulgaccedilatildeo cientiacutefica que o curriacuteculo Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-tiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) agora tem uma aba especiacutefica para que sejam cadastradas as atividades de divulgaccedilatildeo cientiacutefica

Nesse sentido a UFSC deu uma modesta mas significativa con-tribuiccedilatildeo A Propesq manteacutem desde 2014 uma equipe de jo-vens estudantes de jornalismo orientados por profissionais que produziram uma seacuterie de mateacuterias sobre a pesquisa que se faz na UFSC ndash algumas inclusive tendo sido veiculadas pela grande imprensa ndash o que possibilitou levar o conhecimento produzido na Universidade para um nuacutemero ainda maior de pessoas

Este eacute um bom comeccedilo para uma atividade que deve ter caraacuteter permanente A oferta de material de divulgaccedilatildeo de boa quali-dade aumentaraacute a percepccedilatildeo do puacuteblico sobre a relevacircncia e importacircncia da pesquisa cientiacutefica Eacute minha convicccedilatildeo que esta iniciativa deve continuar e ser expandida para tornar-se o Pro-grama de Divulgaccedilatildeo Cientiacutefica da UFSC

CIEcircNCIA SEMCOMPLICACcedilAtildeOJamil Assreuy

Opiniatildeo

Doutor em Ciecircncias Bioloacutegicas (Biofiacutesica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Fez o poacutes-doutorado no Wellcome Research Labs UK Atualmente eacute Professor Associado do Departamento de Farmacologia e Proacute-Reitor de Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina

12

MISSAtildeO

ESPACIALDaniela Caniccedilali

Equipe da UFSC desenvolve sateacutelite que seraacute lanccedilado em 2016

Engenharias

UFSC Ciecircncia

Um cubo com 10 cm de aresta pesando aproximadamente um quilo constituiacutedo de computador de bordo paineacuteis solares bateria e carga uacutetil (dispositivos que exercem funccedilotildees preestabelecidas como fotografar medir a tem-

peratura etc) Essas satildeo as caracteriacutesticas do nanossateacutelite do tipo cubesat que estaacute sendo desenvolvido desde 2012 no proje-to Floripa Sat uma iniciativa de pesquisadores e alunos de dife-rentes cursos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) A previsatildeo de lanccedilamento eacute dezembro de 2016

O Floripa Sat surgiu de forma independente inspirado em ou-tros projetos experimentais do Centro Tecnoloacutegico (CTC) mdash como o BAJA SAE do curso de Engenharia Mecacircnica que se destina a produzir protoacutetipos de veiacuteculos automotivos off-road ldquoExiste aqui na UFSC o BAJA o barco eleacutetrico o carro eleacutetrico Satildeo vaacuterios projetos Pensamos entatildeo em propor o desenvolvimento de um sateacutelite para que os alunos se interessassem e se motivassem tambeacutem pela aacuterea aeroespacialrdquo explica o professor Eduardo Bezerra do Departamento de Engenharia Eleacutetrica e um dos coor-denadores do projeto Outro coordenador professor Kleber Viei-ra de Paiva do curso de Engenharia Aeroespacial (Campus Join-ville) reforccedila que o principal objetivo do projeto eacute educativo ldquoO aluno tem a oportunidade de participar de uma missatildeo espacial completardquo Ao mesmo tempo em que passou a contribuir para a formaccedilatildeo dos estudantes o Floripa Sat tambeacutem deu visibilidade agrave aacuterea aeroespacial ainda recente nas universidades brasileiras O curso da UFSC foi criado em 2009 e eacute uma das uacutenicas seis gra-duaccedilotildees em Engenharia Aeroespacial em todo o paiacutes

Ateacute chegar a sua ldquoversatildeo finalrdquo e ser lanccedilado o sateacutelite passa pelas seguintes etapas anaacutelise de requisitos projeto desen-volvimento integraccedilatildeo e testes Na etapa de levantamento de requisitos satildeo definidas desde as faixas de temperatura que o sateacutelite deve aguentar a velocidade de comunicaccedilatildeo com a Ter-ra ateacute as funccedilotildees que iraacute executar Na etapa de projeto satildeo de-senvolvidas as placas mdash com microprocessadores que mantecircm o sateacutelite em funcionamento mdash um dos diferenciais do Floripa Sat

Enquanto outras universidades utilizam placas prontas na UFSC elas estatildeo sendo desenvolvidas pelos proacuteprios alunos ldquoNoacutes ad-quirimos uma placa da empresa que fabrica um dos melhores modelos de cubesat Mas essa placa vai servir apenas como mo-delo de referecircncia Nosso interesse eacute o desenvolvimento cientiacute-fico poder estudar os circuitos e talvez ateacute desenvolver placas mais eficientesrdquo explica Eduardo

Na etapa de integraccedilatildeo os diversos subsistemas do cubesat satildeo colocados para funcionar em conjunto passando-se entatildeo agrave fase de testes quando o sateacutelite como um todo eacute submetido a um ambiente de voo Apoacutes ser aprovado nos testes chega entatildeo o momento mais esperado a integraccedilatildeo ao veiacuteculo lanccedilador e o lanccedilamento do sateacutelite ldquoA sensaccedilatildeo de colocar um sateacutelite em oacuterbita eacute de muita satisfaccedilatildeo de dever cumprido Eacute algo que deve ser planejado com cuidado pois se qualquer coisa der errado o objetivo final que eacute estabelecer a comunicaccedilatildeo do sateacutelite com a Terra pode natildeo ser atingidordquo explica Kleber O doutoran-do Leonardo Slongo pesquisador do projeto tambeacutem descreve essa etapa como a que gera mais expectativa ldquoSatildeo realizados vaacuterios testes mas ainda assim existe muita apreensatildeo sobre-tudo nos primeiros minutos do lanccedilamentordquo Kleber acrescenta ldquoVocecirc natildeo tem uma segunda chancerdquo

Se a missatildeo for bem-sucedida chega a fase de monitorar as ati-vidades do sateacutelite coletar dados e com essas informaccedilotildees di-vulgar os resultados do trabalho por intermeacutedio de publicaccedilotildees e patentes ldquoO trabalho natildeo acaba no lanccedilamento ele continua Enquanto estiver em oacuterbita os alunos vatildeo estar envolvidos na comunicaccedilatildeo com o sateacuteliterdquo explica Kleber O Floripa Sat seraacute transportado como carga de um sateacutelite de maior porte o Uni-sat-7 (da empresa GAUSS) que por sua vez seraacute acoplado ao foguete Dnepr com data de lanccedilamento prevista para dezem-bro de 2016 na Ruacutessia A integraccedilatildeo final seraacute realizada na Itaacutelia com o acompanhamento de dois membros da equipe da UFSC prioritariamente estudantes

CUBESATO cubesat mdash abreviaccedilatildeo das palavras em inglecircs ldquocuberdquo (cubo) e ldquosatrdquo (sateacutelite) mdash caracteriza-se por sua estrutura simplificada e custo reduzido enquanto para o seu lanccedilamento satildeo gastos aproximadamente 100 mil doacutelares para o de um sateacutelite convencional os custos chegam a 250 milhotildees Os sateacutelites de pequeno porte conhecidos como nanossateacutelites tambeacutem se distinguem pelo alto valor agregado ldquoOs componentes que precisamos adqui-rir para desenvolver uma placa custam cerca de 100 doacutelares Quando fica pronta ela pode ser vendida por 15 mil doacutelaresrdquo afirma o professor Eduardo

O padratildeo cubesat foi desenvolvido em 1999 no contexto da tendecircncia dos nanossateacutelites com o intuito de fomentar a pesquisa universitaacuteria na aacuterea de Engenharia Aeroespacial Seus idealizadores Jordi Puig-Suari e Bob Twi-ggs professores das universidades norte-americanas California Polytechnic State University e Stanford University tinham o propoacutesito de proporcionar aos estudantes de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo a possibilidade de projetar construir testar e operar um sateacutelite semelhante ao Sputnik Os dois pesquisa-dores estaratildeo em Florianoacutepolis no primeiro semestre de 2016 para o evento ldquoII Latin America IAA CubeSat Workshoprdquo organizado pela equipe do pro-jeto Floripa Sat

13

14

Engenharias

PROJETO SERPENSOutro projeto que tem a participaccedilatildeo da UFSC em parceria com outras universidades eacute o Sistema Espacial para a Realizaccedilatildeo de Pesquisas e Experimentos com Nanossateacutelites (Serpens) Coor-denado pela Agecircncia Espacial Brasileira (AEB) como uma ativi-dade do programa Uniespaccedilo o Serpens foi criado em dezembro de 2013 com o objetivo de qualificar a pesquisa acadecircmica na aacuterea Ao longo dos anos estudantes dos cursos de Engenha-ria Aeroespacial do paiacutes teratildeo a oportunidade de aplicar a teo-ria na praacutetica participando do desenvolvimento e lanccedilamento de cubesats O primeiro o Serpens I foi lanccedilado em agosto de 2015 rumo agrave Estaccedilatildeo Espacial Internacional (ISS) e colocado em oacuterbita no dia 17 de setembro Aleacutem da UFSC quatro instituiccedilotildees brasileiras participam do projeto Serpens Universidade de Bra-siacutelia (UnB) Universidade Federal do ABC (UFABC) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Instituto Federal Fluminense (IFF) Em cada missatildeo uma equipe fica responsaacutevel por liderar o projeto o Serpens I foi liderado pela UnB o Serpens II mdash que jaacute estaacute em desenvolvimento com previsatildeo de lanccedilamento para de-zembro de 2017 mdash estaacute sendo coordenado pela equipe da UFSC

EQUIPEAtualmente integram o Floripa Sat dez professores e trinta alu-nos da graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Engenharia Aeroespacial Engenharia Eleacutetrica Engenharia Eletrocircnica Engenharia Mecacircni-ca Ciecircncia da Computaccedilatildeo e Engenharia de Controle e Automa-ccedilatildeo Aleacutem do projeto Floripa Sat e do Serpens membros da equi-pe jaacute participaram de outras missotildees aeroespaciais Em 2006 quando ainda era estudante de mestrado da UFSC o professor Kleber teve participaccedilatildeo na missatildeo do astronauta brasileiro Mar-cos Pontes como responsaacutevel por um dos experimentos utiliza-do pelo astronauta no ambiente de microgravidade da Estaccedilatildeo Espacial Internacional O doutorando Leonardo Slongo partici-pou junto com Kleber de projetos do Programa Microgravidade da AEB e acompanhou no Centro de Lanccedilamento de Alcacircntara (CLA) no Maranhatildeo o lanccedilamento de foguetes que executaram diferentes experimentos O professor Eduardo Bezerra atua haacute mais de dez anos no projeto e desenvolvimento de sistemas computacionais embarcados para os sateacutelites de grande porte do Programa Espacial Brasileiro

LINHA DO TEMPO

2015

2012

2013

2014

2016

Consolidaccedilatildeo do Floripa Sat como projeto de pesquisa

Levantamento dos requisitos desenvolvimento das primeiras versotildees do Floripa Sat

Definiccedilatildeo dos requisitos da versatildeo a ser lanccedilada organizaccedilatildeo do projeto desenvolvimentotestes do protoacutetipo

Fabricaccedilatildeo do protoacutetipo projeto desenvolvimento do modelo de engenharia e do modelo de voo fabricaccedilatildeo testes

Integraccedilatildeo e testes do modelo de voo testes mecacircnicos e teacutermicos lanccedilamento

Etapas de desenvolvimento do projeto Floripasat

Font

e E

duar

do B

ezer

ra

Kleb

er V

ieira

de

Paiv

aDe

sign

Airt

on J

orda

ni

Text

o D

anie

la C

aniccedil

ali

15

Contribuindo para a difusatildeo do conhecimento a Editora da UFSC (EdUFSC) oferece na forma digital livros de seu acervo impresso acessiacuteveis para leitura gratuita on-line Conheccedila alguns deles

ACERVO DIGITAL EDITORA DA UFSC

EdUFSC

Filosofia da Tecnologia um convite Alberto Cupani

httplufscbrfilosofiatecnologia

O fantaacutestico na Ilha de Santa Catarina

Franklin Cascaes httplufscbrfantasticonailha

Gesto palavra e memoacuteria Luciana Hartmann

httplufscbrgestopalavra

Arquitetura da Cidade Contemporacircnea Gilceacuteia Pesce do Amaral e Silva Lisete Assen de Oliveira (Orgs) httplufscbrarquiteturacidade

Algaravia discursos de naccedilatildeo Rauacutel Antelo

httplufscbralgaravia

Tecnologia de Fabricaccedilatildeo de Revestimentos Ceracircmicos

Antonio P N de Oliveira e Dachamir Hotza httplufscbrrevestimentos

16

Linguiacutestica e Literatura

A ARTE E O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEAREDaniela Caniccedilali

Em 1990 um grupo de cerca de dez pesquisadores se reuacutene em torno de um interesse em comum o dramaturgo inglecircs William Shakespeare Em 1991 nasce em Belo Horizonte (MG) o Centro de Estudos Shakespeareanos (CESh) Entre

aqueles que participaram da fundaccedilatildeo da entidade estava Joseacute Roberto OrsquoShea que acabava de se tornar professor do Depar-tamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras (DLLE) da Universi-dade Federal de Santa Catarina (UFSC) No CESh OrsquoShea foi de-signado para iniciar os projetos de traduccedilatildeo ldquoO grupo entendeu que eram necessaacuterias novas traduccedilotildees Como os padrotildees de fala se modificam mesmo o teatro supostamente claacutessico que eacute o caso de Shakespeare tende a ficar datadordquo explica Segundo o pesquisador as traduccedilotildees que circulavam ateacute o final da deacutecada de 1980 estavam desatualizadas em termos de leacutexico estruturas frasais e referecircncias culturais Estavam portanto distantes do puacuteblico leitor e espectador

Antocircnio e Cleoacutepatra foi a primeira das oito obras do dramatur-go inglecircs que OrsquoShea traduziu desde entatildeo ldquoDecidimos co-meccedilar pelas menos encenadas e menos conhecidas mas que satildeo tambeacutem peccedilas extraordinaacuteriasrdquo Seu trabalho se realiza no acircmbito do projeto de pesquisa ldquoTraduccedilotildees anotadas da drama-turgia shakespearianardquo que tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) e estaacute em atividade ininterrupta haacute 23 anos OrsquoShea eacute o uacutenico tradutor de Shakespeare no Brasil cuja atividade estaacute vinculada a programas de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu O professor tambeacutem traduziu aleacutem das obras de Shakespeare obras sobre Shakespeare De Harold Bloom reconhecido criacutetico literaacuterio de liacutengua inglesa tra-duziu entre outros tiacutetulos Shakespeare a invenccedilatildeo do humano com cerca de 900 paacuteginas

OrsquoShea afirma evitar qualquer relaccedilatildeo de reverecircncia ou mitifica-ccedilatildeo ldquoTento natildeo entrar nessa senatildeo fico paralisado Mas sem sombra de duacutevida como outros grandes autores Shakespeare tem percepccedilotildees graviacutessimas sobre a natureza humanardquo O pro-

fessor explica que uma das preocupaccedilotildees baacutesicas do autor eacute explicitar que a viagem do crescimento do ser humano parte de uma situaccedilatildeo de relativa cegueira autoengano ignoracircncia com relaccedilatildeo a si mesmo e agrave realidade que o cerca e segue na direccedilatildeo do autoconhecimento da percepccedilatildeo de sua relativa importacircn-cia ldquoEssa eacute uma sacaccedilatildeo muito granderdquo Outros temas recor-rentes satildeo o amor romacircntico ndash ldquoquase sempre morre o amor ou morrem os amantesrdquo ndash e a poliacutetica a exposiccedilatildeo do mau gover-nante ndash ldquoaquele que soacute visa ao seu bem proacuteprio e ao de alguns que o cercamrdquo

O TRADUTORA formaccedilatildeo do tradutor demanda muita leitura e escrita ldquoLer e escrever satildeo atividades indissociaacuteveis Eacute preciso ter bastante co-nhecimento da liacutengua de partida e imensuraacutevel conhecimento da liacutengua de chegada Aiacute o ceacuteu eacute o limiterdquo OrsquoShea reforccedila seus argumentos citando o poeta chileno Nicanor Parra ldquoPara tradu-cir Shakespeare y comer pescado cuidado poco se gana con saber ingleacutesrdquo Conhecer a liacutengua e a cultura de chegada portan-to eacute o que permite ao tradutor escrever com fluidez fazendo o texto ldquofuncionarrdquo em seu contexto

O professor lembra que ldquoum tradutor eacute um escritorrdquo apesar de nem sempre ser assim reconhecido ldquoNos uacuteltimos 30 anos o tra-dutor estaacute se tornando mais conhecido mais visiacutevel mais res-peitado Mas ainda haacute um caminho longo a ser trilhadordquo OrsquoShea faz referecircncia agraves criacuteticas literaacuterias ldquoAgraves vezes o criacutetico diz lsquoO au-tor tem um belo estilorsquo Mas o autor natildeo escreveu uma daque-las palavras sequer Nenhuma Todas as palavras que o criacutetico leu foram escritas pelo tradutor Ele elogia o estilo a fluecircncia a linguagem e nem menciona o tradutor como se aquela obra tivesse sido escrita em liacutengua portuguesa Essa eacute a famosa invi-sibilidade do tradutorrdquo

17

UFSC Ciecircncia

TRAJETOacuteRIA ACADEcircMICAComo estudante OrsquoShea nunca frequentou uma universidade brasileira cursou a graduaccedilatildeo o mestrado e o doutorado em di-ferentes instituiccedilotildees dos Estados Unidos (EUA) Seus quatro poacutes--doutorados tambeacutem foram no exterior trecircs deles na Inglaterra e um nos EUA Shakespeare foi o eixo central da pesquisa que desenvolveu na UFSC de 1990 a 2015 Nesse periacuteodo orientou 46 trabalhos entre estaacutegios de poacutes-doutorado teses de dou-torado dissertaccedilotildees de mestrado monografias e trabalhos de conclusatildeo de curso (TCC) ndash a maioria abordou diversos aspec-tos da obra de Shakespeare OrsquoShea se aposentou em marccedilo de 2015 mas segue como professor colaborador dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Inglecircs (PPGI) e em Estudos da Traduccedilatildeo (PPGET) Orienta atualmente dois estudantes de mestrado cin-co de doutorado e um de poacutes-doutorado ldquoOs 25 anos que passei na UFSC natildeo gostaria de ter passado em nenhuma outra univer-sidade do mundo Fiz quatro poacutes-docs dei aula como convida-do em universidades no Brasil e no exterior sempre tive apoio para fazer pesquisa apresentar trabalhos em eventos nacionais e internacionais Natildeo substituiria minha experiecircncia aqui por nenhuma outrardquo

Precircmio JabutiOrsquoShea recebeu uma menccedilatildeo honrosa no Precircmio Jabuti em 2003 pela traduccedilatildeo de Cimbeline rei da Britacircnia Em 2008 sua traduccedilatildeo de O conto do inverno ficou entre as dez finalistas do precircmio na categoria Traduccedilatildeo Literaacuteria

Conheccedila um pouco do trabalho de Joseacute Roberto OrsquoShea por meio

de sua primeira traduccedilatildeo de Shakespeare Antocircnio e Cleoacutepatra

disponiacutevel para leitura gratuita on-line

18

A TRADUCcedilAtildeOShakespeare eacute frequentemente traduzido em prosa A traduccedilatildeo em versos metrificados eacute um dos diferenciais do trabalho de OrsquoShea Somam-se a isso a linguagem atualizada e a inclusatildeo de anotaccedilotildees comentaacuterios paratexto e bibliografia seleciona-da Em todas as obras que publicou haacute um ensaio introdutoacuterio e notas explicativas cobrindo questotildees de texto contexto e en-cenaccedilatildeo Em Antocircnio e Cleoacutepatra por exemplo haacute 365 notas Por isso o resultado final vai aleacutem da traduccedilatildeo em si ldquoEu gosto de pensar que minhas traduccedilotildees volume a volume satildeo ediccedilotildees criacuteticas daquele textordquo

Seu meacutetodo de trabalho se inicia com a escolha do texto base ldquoPara Antocircnio e Cleoacutepatra analisei cinco ediccedilotildees integrais da peccedila todas anotadas e publicadas nos uacuteltimos 50 anos Oxford Cambridge Riverside Penguin Arden Satildeo excelentes ediccedilotildees Mas escolhi a Arden porque a meu ver eacute a que estaacute mais bem resolvida textualmenterdquo Segundo o professor natildeo eacute comum os tradutores terem o cuidado de confrontar a ediccedilatildeo que escolhe-ram com outras cinco ou seis verso a verso como ele faz ldquoCom todo o respeito muitas traduccedilotildees carecem de pesquisa O tradu-tor elege uma boa ediccedilatildeo moderna e se ateacutem agraves anotaccedilotildees e agraves soluccedilotildees textuais dessa uacutenica ediccedilatildeordquo

Uma das principais diferenccedilas entre a traduccedilatildeo em verso e em prosa eacute a questatildeo do espaccedilo ldquoNa prosa se precisar de dez pala-vras para descrever um objeto posso dispor de dez palavras Na poesia metrificada natildeo Trabalho com decassiacutelabos e muitas vezes minha melhor opccedilatildeo semacircntica tem quatro ou cinco siacutela-bas mas natildeo posso usaacute-la Tenho que me contentar com minha segunda terceira melhor opccedilatildeo semacircntica pois natildeo tenho es-paccedilo para escrever por exemplo em-be-ve-ci-men-tordquo OrsquoShea explica que pode haver perdas semacircnticas mas haacute ganhos esteacute-ticos ldquoNatildeo posso ser prolixo natildeo tenho espaccedilo para explicar o texto tenho que ser parcimonioso Afinal trata-se de poesia e poesia eacute sugestiva eacute eliacuteptica ela nos permite imaginarrdquo

Outro desafio na traduccedilatildeo em verso eacute a rima ldquoAs rimas visuais graficamente oacutebvias satildeo mais faacuteceis de traduzir Mas haacute rimas que natildeo repetem padrotildees graacuteficos Vocecirc natildeo vecirc vocecirc ouve Eacute preciso esquecer um pouco a questatildeo graacutefica e ir para o som com flexibilidade pois muitas vezes haacute vaacuterias possibilidades de pronuacutencia Home e come por exemplo podem rimar depende da pronuacutencia do poeta Eu trabalho com dicionaacuterios de rimas natildeo tenho escruacutepulos em dizer issordquo O professor afirma ldquonatildeo ter escruacutepulosrdquo pois haacute certo preconceito entre tradutores quanto ao seu uso Ele conta o que lhe ocorreu em um congresso em Li-verpool ldquoEu falava sobre minhas traduccedilotildees sobre poesia rima-da quando um colega de Oxford perguntou como eu trabalha-va Eu disse lsquoTrabalho com um dicionaacuterio de rimas Aliaacutes com mais de umrsquo Ele riu como quem diz lsquocadecirc o ouvido de poetarsquo Mas em um dos meus dicionaacuterios haacute na capa a citaccedilatildeo lsquo() a salvaccedilatildeo da lavoura poeacuteticarsquo Carlos Drummond de Andrade ldquoSe Drummond diz isso acho que estou liberadordquo argumenta com humor

O professor tambeacutem aponta a importacircncia de identificar as pala-vras que sofreram inversatildeo semacircntica ldquoOs vocaacutebulos que a gen-te natildeo conhece natildeo satildeo um problema Existe pelo menos uma duacutezia de dicionaacuterios que cobrem todo o leacutexico shakespeariano O problema satildeo as palavras que parecem corriqueiras que ain-da satildeo utilizadas mas que sofreram inversatildeo semacircntica hoje significam o oposto do que significavam na primeira deacutecada do seacuteculo XVII Satildeo inuacutemeras dessas palavras Essas eacute que satildeo pe-rigosas podem ser armadilhas para o tradutor Merely que hoje eacute lsquomeramentersquo antes era lsquototalmentersquo Fellow que significa lsquoca-maradarsquo na eacutepoca significava lsquomarginalrsquo lsquocriminosorsquo Rival que hoje significa lsquorivalrsquo na eacutepoca significava lsquoparceirorsquo Identificar isso eacute um desafio vocecirc tem que pesquisar muitordquo OrsquoShea acres-centa que tambeacutem eacute importante ter o maacuteximo de empatia pos-siacutevel com cada personagem ldquoVocecirc natildeo pode tomar partido tem que tentar fazer o melhor possiacutevel a partir do personagem que estaacute falando naquele momento Eacute o que alguns autores chamam de lsquodefender o personagemrsquo O tradutor tambeacutem deve defender o personagemrdquo

Traduccedilotildees Editora Ano

Antocircnio e Cleoacutepatra MandarimSiciliano 1997

Cimbeline rei da Britacircnia Iluminuras 2002

O conto do inverno Iluminuras 2007

Peacutericles priacutencipe de Tiro Iluminuras 2012

O primeiro Hamlet In-Quarto de 1603 Hedra 2013

Os dois primos nobres Iluminuras 2016

Troacuteilo e Creacutessida Editora 34 2016

Timon de Atenas (em progresso)

Linguiacutestica e Literatura

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 9: MISSÃO ESPACIAL

8

ldquoMuito amor pela Universidaderdquo Assim com poucas pala-vras Ilse Scherer-Warren explica por que adiou o dia de se aposentar quase tanto quanto pocircde ldquoQuaserdquo porque trabalhou ateacute bem pouco antes da data de sua aposenta-

doria compulsoacuteria em janeiro de 2014 quando completou 70 anos ldquoDois ou trecircs dias porque achei que natildeo tinha que ser tatildeo precisa assim Se jaacute tivesse mudado a legislaccedilatildeo (ela refere-se ao projeto de lei aprovado no Congresso que altera de 70 para 75 anos a idade de aposentadoria compulsoacuteria para servidores puacuteblicos) eu teria esperado mais Mas atuar como voluntaacuteria daacute mais liberdade posso me dedicar mais ao que gosto mesmordquo diz

No caso de Ilse isso significa estudar movimentos sociais prin-cipalmente agrave frente do Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos So-ciais que ajudou a fundar na UFSC em 1983 Em setembro foi homenageada durante o 17ordm Congresso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em Porto Alegre a mesma onde fez sua gradu-accedilatildeo com o Precircmio Florestan Fernades ndash a distinccedilatildeo foi criada como reconhecimento agrave atuaccedilatildeo de profissionais que contribu-iacuteram para o progresso da Sociologia no Brasil Entre os premia-dos anteriormente estatildeo Fernando Henrique Cardoso Manuel Correia de Andrade Heraldo Pessoa Souto Maior Octaacutevio Ianni Neuma Aguiar Joseacute de Souza Martins Juarez Rubens Brandatildeo Lopes Wilma de Mendonccedila Figueiredo Francisco de Oliveira e Silke Weber

ILSE SCHERER-WARREN

Faacutebio Bianchini

40 anos dedicados a pesquisas sobre movimentos sociais

Perfil

UFSC Ciecircncia

9

Ainda assim prefere falar das atividades e realizaccedilotildees do Nuacute-cleo que de acordo com nuacutemeros de 2013 havia gerado 35 pro-jetos 96 dissertaccedilotildees e teses 29 livros e 69 capiacutetulos de livros (ldquomas acho que eacute maisrdquo avalia) A preocupaccedilatildeo coletiva aparece tambeacutem no final da entrevista depois de falar da aposentadoria a premiaccedilatildeo e sua histoacuteria pessoal Para responder agrave pergunta sobre o que pensa do futuro fala mais do Brasil do que de si proacutepria ldquoSou otimista mas estaacute estranho Para quem viveu a di-tadura ver determinados discursos manipulaccedilotildees e convicccedilotildees poliacuteticas natildeo satildeo nada melhores que as barbaridades que a gente ouvia em 1968 Acho que realmente precisa de muito estu-dordquo Quando diz o nome do paiacutes assim como todas as palavras terminadas em ldquoLrdquo aparece a caracteriacutestica que mais facilmente identifica suas origens no interior do Rio Grande do Sul a pro-nuacutencia da consoante como ldquoLrdquo mudo mesmo jaacute armando para a vogal que natildeo vem natildeo como ldquoUrdquo

Foi em Portatildeo a 43 quilocircmetros de Porto Alegre (estimativa de populaccedilatildeo em 2015 de acordo com o IBGE 33994 pessoas) que ela comeccedilou sua trajetoacuteria acadecircmica na garupa de uma eacutegua Era como aos oito anos percorria os dois quilocircmetros que separavam a pequena propriedade de sua famiacutelia da escola do municiacutepio ldquoEu era pequeninha magrinha e meu pai ficava preocupado se eu fosse a peacute Naquela eacutepoca jaacute tinha uma fas-cinaccedilatildeo muito grande por estudarrdquo relembra No segundo ano comeccedilou a ir a peacute mesmo por conta proacutepria Seus passatempos preferidos eram caminhar pelo campo e brincar de dar aula para alunos imaginaacuterios O pai pequeno agricultor era lideranccedila po-liacutetica local participou da construccedilatildeo da igreja fez parte do anti-go Partido Libertador e depois do Partido Democraacutetico Cristatildeo Nas paacuteginas do jornal que ele assinava encantou-se com as re-flexotildees do pensador jornalista professor criacutetico literaacuterio e liacuteder catoacutelico Alceu Amoroso Lima que escrevia sob o pseudocircnimo Tristatildeo de Ataiacutede ldquoEle era muito humanistardquo recorda

Chegou a ir para o coleacutegio interno ndash por vontade proacutepria para se-guir os passos da irmatilde mais velha (tinha uma irmatilde e sete irmatildeos) ndash e quando terminou o ensino fundamental parou momenta-neamente os estudos formais jaacute que a escola local natildeo tinha o ensino meacutedio (ldquohoje jaacute temrdquo faz questatildeo de destacar) e foi para a cozinha ldquoFiquei nessa dos 12 13 anos ateacute os 17 mas sem esquecer meu sonho Queria algo como Filosofia Psicologia Psi-quiatria Jornalismo ou Literatura por aiacuterdquo Mudou-se para Porto Alegre e foi trabalhar sem remuneraccedilatildeo formal na casa de uma famiacutelia que por sua vez pagava seus estudos Com os livros do irmatildeo mais velho preparou-se para o exame supletivo e pas-sou Tambeacutem do irmatildeo mais velho havia ganhado um manual de Sociologia com o qual havia se identificado e assim fez o ves-tibular da UFRGS para Ciecircncias Sociais que na eacutepoca permitia mais adiante optar pelo curso de Jornalismo Mas natildeo foi o caso

ldquoNas Ciecircncias Sociais senti-me em casardquo explica Entrou no cur-so em 1965 um ano apoacutes o golpe militar quando a repressatildeo jaacute se sentia mas ainda natildeo era tatildeo forte quanto se tornou a partir de 1968 Tatildeo logo aprovada no vestibular tomou uma iniciativa que renderia frutos ainda pintada de caloura foi ateacute a Alianccedila Francesa explicou que tinha interesse em aprender o idioma mas natildeo podia pagar pelo curso e acabou ganhando uma bolsa Participou ativamente do movimento estudantil e foi a muitos protestos e passeatas ldquoQuando nos aproximaacutevamos do centro da cidade a poliacutecia vinha em cima com cavalaria Muitos anos depois fui ao Foacuterum Social Mundial e soacute de ver a cavalaria de novo deu um calafrio Em um deles o que mais me marcou um policial encostou uma arma contra meu peitordquo

O Trabalho de Conclusatildeo de Curso foi sobre Sociologia do Tra-balho Imediatamente comeccedilou o mestrado tambeacutem na UFRGS com o tema de movimentos sociais rurais patronais e campone-ses A essa altura jaacute em 1969 poacutes AI-5 o regime poliacutetico jaacute era bem mais pesado Ao clima pluacutembeo da eacutepoca somava-se para Ilse a carga de aulas da poacutes-graduaccedilatildeo ldquoTinha que bater ponto e tudordquo conta Para aliviar a tensatildeo ela arranjou mais um com-promisso aulas de teatro agrave noite Chegou a participar de uma peccedila infantil mas natildeo levou a carreira dramaacutetica adiante

Em vez disso em 1971 terminado o mestrado comeccedilou a anali-sar as possibilidades para o doutorado A essa altura sabia que queria sair de Porto Alegre conhecer coisas diferentes Procurou entatildeo contato com Fernando Henrique Cardoso que fizera uma palestra na UFRGS chegou a visitaacute-lo em Satildeo Paulo (foi recebi-da primeiramente por Ruth Cardoso) mas ele havia sido apo-sentado compulsoriamente pelo decreto-lei nordm 477 de fevereiro de 1969 Ainda assim indicou-a agrave USP mas a possibilidade de estudar na Europa e de colocar em praacutetica seus anos de estudo do francecircs atraiacuteram-na mais e Ilse comeccedilou a entrar em contato com a Sorbonne na Franccedila mesmo sem saber que tipo de apoio teria ldquoO pessoal perguntava se eu natildeo tinha medo de ir para fora e eu dizia lsquopara fora de quecircrsquo natildeo existia isso de dentro ou fora para mimrdquo enfatiza

Ainda com as possibilidades em aberto foi para a Inglaterra naquele ano enquanto o clima poliacutetico no Brasil endurecia ain-da mais Chegou laacute sem nenhuma indicaccedilatildeo falando pouco do idioma e conseguiu hospedagem na Casa do Brasil na Inglaterra ndash nessa eacutepoca conheceu o futuro marido Foi entatildeo agrave Franccedila e decepcionou-se com o que considerou burocracia excessiva da Sorbonne mas marcou uma entrevista para dali a dois meses com Alain Touraine socioacutelogo francecircs renomado por seus es-critos a respeito de movimentos sociais e da Sociologia de Tra-balho em que cunhou a expressatildeo ldquosociedade poacutes-industrialrdquo No periacuteodo de sua graduaccedilatildeo na UFRGS Touraine jaacute era um dos estudiosos mais discutidos

Ilse levou a seacuterio o conselho da secretaacuteria do professor com quem marcara a entrevista jaacute chegar com o projeto claro e bem--embasado Voltou agrave Inglaterra e pocircs-se a trabalhar nisso ateacute o dia do encontro Levou tambeacutem sua dissertaccedilatildeo de mestrado Funcionou ele gostou da proposta sobre sindicalismo rural e aceitou a nova orientanda na Universidade de Paris X em Nan-terre Conseguiu tambeacutem uma bolsa da Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) Nessa mes-ma eacutepoca Touraine escrevia sua principal obra A produccedilatildeo da sociedade cujos capiacutetulos foram todos discutidos em sala pela turma de que Ilse participava Esse modo de trabalhar em gru-pos conta ela foi uma grande influecircncia em sua vida acadecircmica

Apoacutes concluir o doutorado voltou ao Brasil e em 1974 comeccedilou a dar aulas como horista no Instituto de Filosofia e Ciecircncias So-ciais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) O clima que encontrou no paiacutes era de medo O IFCS receacutem-passara por um processo em que cerca de quarenta professores foram cassados entre eles Darcy Ribeiro ldquoTodo mundo cochichava para falar de poliacutetica meu marido natildeo conseguia entender por que aquilo mas era difiacutecil evitar E como ensinar Sociologia sem falar em classes sociaisrdquo observa Precisava tomar cuidado em sala de aula para natildeo avanccedilar em temas considerados tabus em certo momento foi ldquoaconselhadardquo por telefone a natildeo par-ticipar de um concurso puacuteblico para professora adjunta entre 1975 e 1976 porque poderia haver consequecircncias graves se fosse aprovada preferiu ficar de fora Em outro concurso mais

10

adiante natildeo houve ameaccedila e Ilse passou na seleccedilatildeo curricular para adjunta

Nos sete anos que passou na UFRJ Ilse viveu o periacuteodo da aber-tura poliacutetica e da luta pela anistia Criou grupos de trabalho aju-dou a organizar a poacutes-graduaccedilatildeo em Sociologia na UFRJ e foi a primeira coordenadora da poacutes e do mestrado Entatildeo em 1981 surgiu a oportunidade de vir para a UFSC inicialmente como pro-fessora convidada por iniciativa do professor Silvio Coelho dos Santos que iniciava um grupo interdisciplinar ldquoMas na verdade eu sabia que queria ficar por aqui Deu tudo certo Queria me in-tegrar aqui e me integrei logo me sentia em casa as possibilida-des estavam se abrindordquo lembra Jaacute existia o Novo Sindicalismo com Luis Inaacutecio Lula da Silva como liacuteder os movimentos sociais se reorganizavam dali a poucos anos em 1984 seria fundado oficialmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Um dos primeiros projetos de Ilse na UFSC foi um trabalho sobre desabrigados nas construccedilotildees de barragens assunto para o qual acabou voltando ao longo dos anos Depois de passar os dois primeiros anos em Florianoacutepolis ainda agrave disposiccedilatildeo da UFRJ passou em concurso puacuteblico e tornou-se professora titular na UFSC

Em 1984 durante o VII Encontro Nacional da Associaccedilatildeo Nacio-nal de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Ciecircncias Sociais (Anpocs) apresentou o texto ldquoO caraacuteter dos novos movimentos sociaisrdquo considerado peccedila fundamental para o estabelecimento desta denominaccedilatildeo que abordava ainda o feminismo e o movimento ecoloacutegico Foi incluiacutedo tambeacutem em Uma Revoluccedilatildeo no Cotidiano ndash os novos movimentos sociais na Ameacuterica Latina de 1987 orga-nizado junto com o professor Paulo Krischke tambeacutem da UFSC e lanccedilado pela editora Brasiliense Observou surgir essa nova maneira de associativismo e organizaccedilatildeo nos grupos de periferia

Perfil

de Florianoacutepolis com participaccedilatildeo do padre Vilson Groh ligado desde os anos 1980 agrave Teologia da Libertaccedilatildeo e depois aos mo-vimentos dos Sem-Terra e Sem-Teto

Ilse tambeacutem ajudou a definir os conceitos de rede nesses mo-vimentos sociais brasileiros a partir de sua organizaccedilatildeo mais fluida com trocas de experiecircncia e articulaccedilotildees e diferentes pos-sibilidades de participaccedilatildeo Ela apresentou essa visatildeo no livro Redes de movimentos sociais lanccedilado pela editora Loyola em 1996 Com o tempo construiu uma produccedilatildeo extensa e influen-te Na UFSC participou de todo o processo de implantaccedilatildeo de cotas e poliacuteticas afirmativas ldquoHouve um debate muito acirrado entre intelectuais e sempre surgia o discurso de que os cotistas teriam aproveitamento acadecircmico inferior mas isso acabou sen-do desmentido com os nuacutemeros que mostraram que natildeo havia muita diferenccedila entre eles e os natildeo cotistasrdquo destaca

O Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos Sociais diz surgiu de maneira informal quando ex-alunos demonstraram interes-se em prosseguir debatendo ldquoComeccedilamos a fazer encontros perioacutedicos depois conseguimos uma sala aiacute foi indo Surgi-ram daiacute vaacuterios trabalhos e eacute como eu gosto de fazer as coisas em grupordquo

Conheccedila mais sobre o pensamento de Ilse Scherer-Warren por meio

do livro do qual eacute coorganizadora Movimentos sociais e participaccedilatildeo

editado pela EdUFSC e disponiacutevel para leitura gratuita on-line

11

Como mostrar o que eacute pesquisa a ciecircncia como ela eacute feita quais benefiacutecios ela traz para as pessoas Parece faacutecil mas natildeo eacute Explicar temas agraves vezes complicados de forma que as pessoas entendam - sem cair no sensacionalismo

barato de tabloides e programas pseudocientiacuteficos ndash eacute muito mais difiacutecil do que parece

As pessoas se interessam por ciecircncia A resposta eacute um grande sim Resultado de uma pesquisa feita em 2015 sobre a percep-ccedilatildeo puacuteblica de ciecircncia e tecnologia no Brasil mostrou alguns re-sultados surpreendentes Por exemplo as pessoas acham que ciecircncia eacute uma atividade muito importante e essencial para aju-dar a resolver problemas do paiacutes e do mundo Trecircs quartos dos entrevistados acreditam que a ciecircncia traz mais benefiacutecios que malefiacutecios e mais da metade acredita que cientistas fazem coi-sas uacuteteis agrave humanidade entretanto 90 dos entrevistados natildeo conseguem se lembrar de uma instituiccedilatildeo cientiacutefica ou nome de um cientista brasileiro famoso

O que falta entatildeo Maior oferta de informaccedilatildeo cientiacutefica de qua-lidade Embora uma parcela significativa das pessoas acredite que a internet televisatildeo e jornais divulgam de forma satisfatoacute-ria descobertas cientiacuteficas o problema eacute a quantidade dessas informaccedilotildees que alcanccedila esses meios E infelizmente natildeo po-demos ignorar que muitas destas informaccedilotildees principalmente as veiculadas na internet tecircm qualidade no miacutenimo duvidosa

E quem melhor qualificado para transmitir estas informaccedilotildees que os proacuteprios pesquisadores Aiacute temos outro problema A maioria dos pesquisadores natildeo tem treinamento para transmitir a men-sagem em linguagem que as pessoas entendam Isso nos leva imediatamente agrave necessidade imperiosa de junccedilatildeo de esforccedilos entre pessoas que sabem transmitir a informaccedilatildeo (jornalistas por exemplo) e aquelas que tecircm as informaccedilotildees (pesquisadores e cientistas)

Aiacute entra o jornalismo cientiacutefico e a divulgaccedilatildeo cientiacutefica Infeliz-mente nosso paiacutes natildeo estaacute entre os que fazem boa divulgaccedilatildeo cientiacutefica ndash e natildeo eacute por falta de boa ciecircncia Temos centenas de exemplos de grupos de pesquisa em universidades laboratoacuterios oficiais e empresas que estatildeo trabalhando na fronteira do co-nhecimento em pesquisas de classe mundial Porque isso acon-tece A resposta eacute difiacutecil e pode ter inuacutemeras variaacuteveis Poucos satildeo os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo cientiacutefica permanentes no Brasil E poucos satildeo os jornalistas especializados em divulgaccedilatildeo cien-tiacutefica Em alguns paiacuteses haacute jornalistas e setores de divulgaccedilatildeo de instituiccedilotildees e universidades especializados em levar para o puacuteblico o que acontece em pesquisa nos seus laboratoacuterios Aleacutem de elevar a compreensatildeo do puacuteblico em geral sobre os avanccedilos da ciecircncia essa eacute uma forma importante de prestaccedilatildeo de contas do dinheiro aplicado em ciecircncia e pesquisa

Tamanha eacute a importacircncia atribuiacuteda agrave divulgaccedilatildeo cientiacutefica que o curriacuteculo Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-tiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) agora tem uma aba especiacutefica para que sejam cadastradas as atividades de divulgaccedilatildeo cientiacutefica

Nesse sentido a UFSC deu uma modesta mas significativa con-tribuiccedilatildeo A Propesq manteacutem desde 2014 uma equipe de jo-vens estudantes de jornalismo orientados por profissionais que produziram uma seacuterie de mateacuterias sobre a pesquisa que se faz na UFSC ndash algumas inclusive tendo sido veiculadas pela grande imprensa ndash o que possibilitou levar o conhecimento produzido na Universidade para um nuacutemero ainda maior de pessoas

Este eacute um bom comeccedilo para uma atividade que deve ter caraacuteter permanente A oferta de material de divulgaccedilatildeo de boa quali-dade aumentaraacute a percepccedilatildeo do puacuteblico sobre a relevacircncia e importacircncia da pesquisa cientiacutefica Eacute minha convicccedilatildeo que esta iniciativa deve continuar e ser expandida para tornar-se o Pro-grama de Divulgaccedilatildeo Cientiacutefica da UFSC

CIEcircNCIA SEMCOMPLICACcedilAtildeOJamil Assreuy

Opiniatildeo

Doutor em Ciecircncias Bioloacutegicas (Biofiacutesica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Fez o poacutes-doutorado no Wellcome Research Labs UK Atualmente eacute Professor Associado do Departamento de Farmacologia e Proacute-Reitor de Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina

12

MISSAtildeO

ESPACIALDaniela Caniccedilali

Equipe da UFSC desenvolve sateacutelite que seraacute lanccedilado em 2016

Engenharias

UFSC Ciecircncia

Um cubo com 10 cm de aresta pesando aproximadamente um quilo constituiacutedo de computador de bordo paineacuteis solares bateria e carga uacutetil (dispositivos que exercem funccedilotildees preestabelecidas como fotografar medir a tem-

peratura etc) Essas satildeo as caracteriacutesticas do nanossateacutelite do tipo cubesat que estaacute sendo desenvolvido desde 2012 no proje-to Floripa Sat uma iniciativa de pesquisadores e alunos de dife-rentes cursos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) A previsatildeo de lanccedilamento eacute dezembro de 2016

O Floripa Sat surgiu de forma independente inspirado em ou-tros projetos experimentais do Centro Tecnoloacutegico (CTC) mdash como o BAJA SAE do curso de Engenharia Mecacircnica que se destina a produzir protoacutetipos de veiacuteculos automotivos off-road ldquoExiste aqui na UFSC o BAJA o barco eleacutetrico o carro eleacutetrico Satildeo vaacuterios projetos Pensamos entatildeo em propor o desenvolvimento de um sateacutelite para que os alunos se interessassem e se motivassem tambeacutem pela aacuterea aeroespacialrdquo explica o professor Eduardo Bezerra do Departamento de Engenharia Eleacutetrica e um dos coor-denadores do projeto Outro coordenador professor Kleber Viei-ra de Paiva do curso de Engenharia Aeroespacial (Campus Join-ville) reforccedila que o principal objetivo do projeto eacute educativo ldquoO aluno tem a oportunidade de participar de uma missatildeo espacial completardquo Ao mesmo tempo em que passou a contribuir para a formaccedilatildeo dos estudantes o Floripa Sat tambeacutem deu visibilidade agrave aacuterea aeroespacial ainda recente nas universidades brasileiras O curso da UFSC foi criado em 2009 e eacute uma das uacutenicas seis gra-duaccedilotildees em Engenharia Aeroespacial em todo o paiacutes

Ateacute chegar a sua ldquoversatildeo finalrdquo e ser lanccedilado o sateacutelite passa pelas seguintes etapas anaacutelise de requisitos projeto desen-volvimento integraccedilatildeo e testes Na etapa de levantamento de requisitos satildeo definidas desde as faixas de temperatura que o sateacutelite deve aguentar a velocidade de comunicaccedilatildeo com a Ter-ra ateacute as funccedilotildees que iraacute executar Na etapa de projeto satildeo de-senvolvidas as placas mdash com microprocessadores que mantecircm o sateacutelite em funcionamento mdash um dos diferenciais do Floripa Sat

Enquanto outras universidades utilizam placas prontas na UFSC elas estatildeo sendo desenvolvidas pelos proacuteprios alunos ldquoNoacutes ad-quirimos uma placa da empresa que fabrica um dos melhores modelos de cubesat Mas essa placa vai servir apenas como mo-delo de referecircncia Nosso interesse eacute o desenvolvimento cientiacute-fico poder estudar os circuitos e talvez ateacute desenvolver placas mais eficientesrdquo explica Eduardo

Na etapa de integraccedilatildeo os diversos subsistemas do cubesat satildeo colocados para funcionar em conjunto passando-se entatildeo agrave fase de testes quando o sateacutelite como um todo eacute submetido a um ambiente de voo Apoacutes ser aprovado nos testes chega entatildeo o momento mais esperado a integraccedilatildeo ao veiacuteculo lanccedilador e o lanccedilamento do sateacutelite ldquoA sensaccedilatildeo de colocar um sateacutelite em oacuterbita eacute de muita satisfaccedilatildeo de dever cumprido Eacute algo que deve ser planejado com cuidado pois se qualquer coisa der errado o objetivo final que eacute estabelecer a comunicaccedilatildeo do sateacutelite com a Terra pode natildeo ser atingidordquo explica Kleber O doutoran-do Leonardo Slongo pesquisador do projeto tambeacutem descreve essa etapa como a que gera mais expectativa ldquoSatildeo realizados vaacuterios testes mas ainda assim existe muita apreensatildeo sobre-tudo nos primeiros minutos do lanccedilamentordquo Kleber acrescenta ldquoVocecirc natildeo tem uma segunda chancerdquo

Se a missatildeo for bem-sucedida chega a fase de monitorar as ati-vidades do sateacutelite coletar dados e com essas informaccedilotildees di-vulgar os resultados do trabalho por intermeacutedio de publicaccedilotildees e patentes ldquoO trabalho natildeo acaba no lanccedilamento ele continua Enquanto estiver em oacuterbita os alunos vatildeo estar envolvidos na comunicaccedilatildeo com o sateacuteliterdquo explica Kleber O Floripa Sat seraacute transportado como carga de um sateacutelite de maior porte o Uni-sat-7 (da empresa GAUSS) que por sua vez seraacute acoplado ao foguete Dnepr com data de lanccedilamento prevista para dezem-bro de 2016 na Ruacutessia A integraccedilatildeo final seraacute realizada na Itaacutelia com o acompanhamento de dois membros da equipe da UFSC prioritariamente estudantes

CUBESATO cubesat mdash abreviaccedilatildeo das palavras em inglecircs ldquocuberdquo (cubo) e ldquosatrdquo (sateacutelite) mdash caracteriza-se por sua estrutura simplificada e custo reduzido enquanto para o seu lanccedilamento satildeo gastos aproximadamente 100 mil doacutelares para o de um sateacutelite convencional os custos chegam a 250 milhotildees Os sateacutelites de pequeno porte conhecidos como nanossateacutelites tambeacutem se distinguem pelo alto valor agregado ldquoOs componentes que precisamos adqui-rir para desenvolver uma placa custam cerca de 100 doacutelares Quando fica pronta ela pode ser vendida por 15 mil doacutelaresrdquo afirma o professor Eduardo

O padratildeo cubesat foi desenvolvido em 1999 no contexto da tendecircncia dos nanossateacutelites com o intuito de fomentar a pesquisa universitaacuteria na aacuterea de Engenharia Aeroespacial Seus idealizadores Jordi Puig-Suari e Bob Twi-ggs professores das universidades norte-americanas California Polytechnic State University e Stanford University tinham o propoacutesito de proporcionar aos estudantes de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo a possibilidade de projetar construir testar e operar um sateacutelite semelhante ao Sputnik Os dois pesquisa-dores estaratildeo em Florianoacutepolis no primeiro semestre de 2016 para o evento ldquoII Latin America IAA CubeSat Workshoprdquo organizado pela equipe do pro-jeto Floripa Sat

13

14

Engenharias

PROJETO SERPENSOutro projeto que tem a participaccedilatildeo da UFSC em parceria com outras universidades eacute o Sistema Espacial para a Realizaccedilatildeo de Pesquisas e Experimentos com Nanossateacutelites (Serpens) Coor-denado pela Agecircncia Espacial Brasileira (AEB) como uma ativi-dade do programa Uniespaccedilo o Serpens foi criado em dezembro de 2013 com o objetivo de qualificar a pesquisa acadecircmica na aacuterea Ao longo dos anos estudantes dos cursos de Engenha-ria Aeroespacial do paiacutes teratildeo a oportunidade de aplicar a teo-ria na praacutetica participando do desenvolvimento e lanccedilamento de cubesats O primeiro o Serpens I foi lanccedilado em agosto de 2015 rumo agrave Estaccedilatildeo Espacial Internacional (ISS) e colocado em oacuterbita no dia 17 de setembro Aleacutem da UFSC quatro instituiccedilotildees brasileiras participam do projeto Serpens Universidade de Bra-siacutelia (UnB) Universidade Federal do ABC (UFABC) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Instituto Federal Fluminense (IFF) Em cada missatildeo uma equipe fica responsaacutevel por liderar o projeto o Serpens I foi liderado pela UnB o Serpens II mdash que jaacute estaacute em desenvolvimento com previsatildeo de lanccedilamento para de-zembro de 2017 mdash estaacute sendo coordenado pela equipe da UFSC

EQUIPEAtualmente integram o Floripa Sat dez professores e trinta alu-nos da graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Engenharia Aeroespacial Engenharia Eleacutetrica Engenharia Eletrocircnica Engenharia Mecacircni-ca Ciecircncia da Computaccedilatildeo e Engenharia de Controle e Automa-ccedilatildeo Aleacutem do projeto Floripa Sat e do Serpens membros da equi-pe jaacute participaram de outras missotildees aeroespaciais Em 2006 quando ainda era estudante de mestrado da UFSC o professor Kleber teve participaccedilatildeo na missatildeo do astronauta brasileiro Mar-cos Pontes como responsaacutevel por um dos experimentos utiliza-do pelo astronauta no ambiente de microgravidade da Estaccedilatildeo Espacial Internacional O doutorando Leonardo Slongo partici-pou junto com Kleber de projetos do Programa Microgravidade da AEB e acompanhou no Centro de Lanccedilamento de Alcacircntara (CLA) no Maranhatildeo o lanccedilamento de foguetes que executaram diferentes experimentos O professor Eduardo Bezerra atua haacute mais de dez anos no projeto e desenvolvimento de sistemas computacionais embarcados para os sateacutelites de grande porte do Programa Espacial Brasileiro

LINHA DO TEMPO

2015

2012

2013

2014

2016

Consolidaccedilatildeo do Floripa Sat como projeto de pesquisa

Levantamento dos requisitos desenvolvimento das primeiras versotildees do Floripa Sat

Definiccedilatildeo dos requisitos da versatildeo a ser lanccedilada organizaccedilatildeo do projeto desenvolvimentotestes do protoacutetipo

Fabricaccedilatildeo do protoacutetipo projeto desenvolvimento do modelo de engenharia e do modelo de voo fabricaccedilatildeo testes

Integraccedilatildeo e testes do modelo de voo testes mecacircnicos e teacutermicos lanccedilamento

Etapas de desenvolvimento do projeto Floripasat

Font

e E

duar

do B

ezer

ra

Kleb

er V

ieira

de

Paiv

aDe

sign

Airt

on J

orda

ni

Text

o D

anie

la C

aniccedil

ali

15

Contribuindo para a difusatildeo do conhecimento a Editora da UFSC (EdUFSC) oferece na forma digital livros de seu acervo impresso acessiacuteveis para leitura gratuita on-line Conheccedila alguns deles

ACERVO DIGITAL EDITORA DA UFSC

EdUFSC

Filosofia da Tecnologia um convite Alberto Cupani

httplufscbrfilosofiatecnologia

O fantaacutestico na Ilha de Santa Catarina

Franklin Cascaes httplufscbrfantasticonailha

Gesto palavra e memoacuteria Luciana Hartmann

httplufscbrgestopalavra

Arquitetura da Cidade Contemporacircnea Gilceacuteia Pesce do Amaral e Silva Lisete Assen de Oliveira (Orgs) httplufscbrarquiteturacidade

Algaravia discursos de naccedilatildeo Rauacutel Antelo

httplufscbralgaravia

Tecnologia de Fabricaccedilatildeo de Revestimentos Ceracircmicos

Antonio P N de Oliveira e Dachamir Hotza httplufscbrrevestimentos

16

Linguiacutestica e Literatura

A ARTE E O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEAREDaniela Caniccedilali

Em 1990 um grupo de cerca de dez pesquisadores se reuacutene em torno de um interesse em comum o dramaturgo inglecircs William Shakespeare Em 1991 nasce em Belo Horizonte (MG) o Centro de Estudos Shakespeareanos (CESh) Entre

aqueles que participaram da fundaccedilatildeo da entidade estava Joseacute Roberto OrsquoShea que acabava de se tornar professor do Depar-tamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras (DLLE) da Universi-dade Federal de Santa Catarina (UFSC) No CESh OrsquoShea foi de-signado para iniciar os projetos de traduccedilatildeo ldquoO grupo entendeu que eram necessaacuterias novas traduccedilotildees Como os padrotildees de fala se modificam mesmo o teatro supostamente claacutessico que eacute o caso de Shakespeare tende a ficar datadordquo explica Segundo o pesquisador as traduccedilotildees que circulavam ateacute o final da deacutecada de 1980 estavam desatualizadas em termos de leacutexico estruturas frasais e referecircncias culturais Estavam portanto distantes do puacuteblico leitor e espectador

Antocircnio e Cleoacutepatra foi a primeira das oito obras do dramatur-go inglecircs que OrsquoShea traduziu desde entatildeo ldquoDecidimos co-meccedilar pelas menos encenadas e menos conhecidas mas que satildeo tambeacutem peccedilas extraordinaacuteriasrdquo Seu trabalho se realiza no acircmbito do projeto de pesquisa ldquoTraduccedilotildees anotadas da drama-turgia shakespearianardquo que tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) e estaacute em atividade ininterrupta haacute 23 anos OrsquoShea eacute o uacutenico tradutor de Shakespeare no Brasil cuja atividade estaacute vinculada a programas de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu O professor tambeacutem traduziu aleacutem das obras de Shakespeare obras sobre Shakespeare De Harold Bloom reconhecido criacutetico literaacuterio de liacutengua inglesa tra-duziu entre outros tiacutetulos Shakespeare a invenccedilatildeo do humano com cerca de 900 paacuteginas

OrsquoShea afirma evitar qualquer relaccedilatildeo de reverecircncia ou mitifica-ccedilatildeo ldquoTento natildeo entrar nessa senatildeo fico paralisado Mas sem sombra de duacutevida como outros grandes autores Shakespeare tem percepccedilotildees graviacutessimas sobre a natureza humanardquo O pro-

fessor explica que uma das preocupaccedilotildees baacutesicas do autor eacute explicitar que a viagem do crescimento do ser humano parte de uma situaccedilatildeo de relativa cegueira autoengano ignoracircncia com relaccedilatildeo a si mesmo e agrave realidade que o cerca e segue na direccedilatildeo do autoconhecimento da percepccedilatildeo de sua relativa importacircn-cia ldquoEssa eacute uma sacaccedilatildeo muito granderdquo Outros temas recor-rentes satildeo o amor romacircntico ndash ldquoquase sempre morre o amor ou morrem os amantesrdquo ndash e a poliacutetica a exposiccedilatildeo do mau gover-nante ndash ldquoaquele que soacute visa ao seu bem proacuteprio e ao de alguns que o cercamrdquo

O TRADUTORA formaccedilatildeo do tradutor demanda muita leitura e escrita ldquoLer e escrever satildeo atividades indissociaacuteveis Eacute preciso ter bastante co-nhecimento da liacutengua de partida e imensuraacutevel conhecimento da liacutengua de chegada Aiacute o ceacuteu eacute o limiterdquo OrsquoShea reforccedila seus argumentos citando o poeta chileno Nicanor Parra ldquoPara tradu-cir Shakespeare y comer pescado cuidado poco se gana con saber ingleacutesrdquo Conhecer a liacutengua e a cultura de chegada portan-to eacute o que permite ao tradutor escrever com fluidez fazendo o texto ldquofuncionarrdquo em seu contexto

O professor lembra que ldquoum tradutor eacute um escritorrdquo apesar de nem sempre ser assim reconhecido ldquoNos uacuteltimos 30 anos o tra-dutor estaacute se tornando mais conhecido mais visiacutevel mais res-peitado Mas ainda haacute um caminho longo a ser trilhadordquo OrsquoShea faz referecircncia agraves criacuteticas literaacuterias ldquoAgraves vezes o criacutetico diz lsquoO au-tor tem um belo estilorsquo Mas o autor natildeo escreveu uma daque-las palavras sequer Nenhuma Todas as palavras que o criacutetico leu foram escritas pelo tradutor Ele elogia o estilo a fluecircncia a linguagem e nem menciona o tradutor como se aquela obra tivesse sido escrita em liacutengua portuguesa Essa eacute a famosa invi-sibilidade do tradutorrdquo

17

UFSC Ciecircncia

TRAJETOacuteRIA ACADEcircMICAComo estudante OrsquoShea nunca frequentou uma universidade brasileira cursou a graduaccedilatildeo o mestrado e o doutorado em di-ferentes instituiccedilotildees dos Estados Unidos (EUA) Seus quatro poacutes--doutorados tambeacutem foram no exterior trecircs deles na Inglaterra e um nos EUA Shakespeare foi o eixo central da pesquisa que desenvolveu na UFSC de 1990 a 2015 Nesse periacuteodo orientou 46 trabalhos entre estaacutegios de poacutes-doutorado teses de dou-torado dissertaccedilotildees de mestrado monografias e trabalhos de conclusatildeo de curso (TCC) ndash a maioria abordou diversos aspec-tos da obra de Shakespeare OrsquoShea se aposentou em marccedilo de 2015 mas segue como professor colaborador dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Inglecircs (PPGI) e em Estudos da Traduccedilatildeo (PPGET) Orienta atualmente dois estudantes de mestrado cin-co de doutorado e um de poacutes-doutorado ldquoOs 25 anos que passei na UFSC natildeo gostaria de ter passado em nenhuma outra univer-sidade do mundo Fiz quatro poacutes-docs dei aula como convida-do em universidades no Brasil e no exterior sempre tive apoio para fazer pesquisa apresentar trabalhos em eventos nacionais e internacionais Natildeo substituiria minha experiecircncia aqui por nenhuma outrardquo

Precircmio JabutiOrsquoShea recebeu uma menccedilatildeo honrosa no Precircmio Jabuti em 2003 pela traduccedilatildeo de Cimbeline rei da Britacircnia Em 2008 sua traduccedilatildeo de O conto do inverno ficou entre as dez finalistas do precircmio na categoria Traduccedilatildeo Literaacuteria

Conheccedila um pouco do trabalho de Joseacute Roberto OrsquoShea por meio

de sua primeira traduccedilatildeo de Shakespeare Antocircnio e Cleoacutepatra

disponiacutevel para leitura gratuita on-line

18

A TRADUCcedilAtildeOShakespeare eacute frequentemente traduzido em prosa A traduccedilatildeo em versos metrificados eacute um dos diferenciais do trabalho de OrsquoShea Somam-se a isso a linguagem atualizada e a inclusatildeo de anotaccedilotildees comentaacuterios paratexto e bibliografia seleciona-da Em todas as obras que publicou haacute um ensaio introdutoacuterio e notas explicativas cobrindo questotildees de texto contexto e en-cenaccedilatildeo Em Antocircnio e Cleoacutepatra por exemplo haacute 365 notas Por isso o resultado final vai aleacutem da traduccedilatildeo em si ldquoEu gosto de pensar que minhas traduccedilotildees volume a volume satildeo ediccedilotildees criacuteticas daquele textordquo

Seu meacutetodo de trabalho se inicia com a escolha do texto base ldquoPara Antocircnio e Cleoacutepatra analisei cinco ediccedilotildees integrais da peccedila todas anotadas e publicadas nos uacuteltimos 50 anos Oxford Cambridge Riverside Penguin Arden Satildeo excelentes ediccedilotildees Mas escolhi a Arden porque a meu ver eacute a que estaacute mais bem resolvida textualmenterdquo Segundo o professor natildeo eacute comum os tradutores terem o cuidado de confrontar a ediccedilatildeo que escolhe-ram com outras cinco ou seis verso a verso como ele faz ldquoCom todo o respeito muitas traduccedilotildees carecem de pesquisa O tradu-tor elege uma boa ediccedilatildeo moderna e se ateacutem agraves anotaccedilotildees e agraves soluccedilotildees textuais dessa uacutenica ediccedilatildeordquo

Uma das principais diferenccedilas entre a traduccedilatildeo em verso e em prosa eacute a questatildeo do espaccedilo ldquoNa prosa se precisar de dez pala-vras para descrever um objeto posso dispor de dez palavras Na poesia metrificada natildeo Trabalho com decassiacutelabos e muitas vezes minha melhor opccedilatildeo semacircntica tem quatro ou cinco siacutela-bas mas natildeo posso usaacute-la Tenho que me contentar com minha segunda terceira melhor opccedilatildeo semacircntica pois natildeo tenho es-paccedilo para escrever por exemplo em-be-ve-ci-men-tordquo OrsquoShea explica que pode haver perdas semacircnticas mas haacute ganhos esteacute-ticos ldquoNatildeo posso ser prolixo natildeo tenho espaccedilo para explicar o texto tenho que ser parcimonioso Afinal trata-se de poesia e poesia eacute sugestiva eacute eliacuteptica ela nos permite imaginarrdquo

Outro desafio na traduccedilatildeo em verso eacute a rima ldquoAs rimas visuais graficamente oacutebvias satildeo mais faacuteceis de traduzir Mas haacute rimas que natildeo repetem padrotildees graacuteficos Vocecirc natildeo vecirc vocecirc ouve Eacute preciso esquecer um pouco a questatildeo graacutefica e ir para o som com flexibilidade pois muitas vezes haacute vaacuterias possibilidades de pronuacutencia Home e come por exemplo podem rimar depende da pronuacutencia do poeta Eu trabalho com dicionaacuterios de rimas natildeo tenho escruacutepulos em dizer issordquo O professor afirma ldquonatildeo ter escruacutepulosrdquo pois haacute certo preconceito entre tradutores quanto ao seu uso Ele conta o que lhe ocorreu em um congresso em Li-verpool ldquoEu falava sobre minhas traduccedilotildees sobre poesia rima-da quando um colega de Oxford perguntou como eu trabalha-va Eu disse lsquoTrabalho com um dicionaacuterio de rimas Aliaacutes com mais de umrsquo Ele riu como quem diz lsquocadecirc o ouvido de poetarsquo Mas em um dos meus dicionaacuterios haacute na capa a citaccedilatildeo lsquo() a salvaccedilatildeo da lavoura poeacuteticarsquo Carlos Drummond de Andrade ldquoSe Drummond diz isso acho que estou liberadordquo argumenta com humor

O professor tambeacutem aponta a importacircncia de identificar as pala-vras que sofreram inversatildeo semacircntica ldquoOs vocaacutebulos que a gen-te natildeo conhece natildeo satildeo um problema Existe pelo menos uma duacutezia de dicionaacuterios que cobrem todo o leacutexico shakespeariano O problema satildeo as palavras que parecem corriqueiras que ain-da satildeo utilizadas mas que sofreram inversatildeo semacircntica hoje significam o oposto do que significavam na primeira deacutecada do seacuteculo XVII Satildeo inuacutemeras dessas palavras Essas eacute que satildeo pe-rigosas podem ser armadilhas para o tradutor Merely que hoje eacute lsquomeramentersquo antes era lsquototalmentersquo Fellow que significa lsquoca-maradarsquo na eacutepoca significava lsquomarginalrsquo lsquocriminosorsquo Rival que hoje significa lsquorivalrsquo na eacutepoca significava lsquoparceirorsquo Identificar isso eacute um desafio vocecirc tem que pesquisar muitordquo OrsquoShea acres-centa que tambeacutem eacute importante ter o maacuteximo de empatia pos-siacutevel com cada personagem ldquoVocecirc natildeo pode tomar partido tem que tentar fazer o melhor possiacutevel a partir do personagem que estaacute falando naquele momento Eacute o que alguns autores chamam de lsquodefender o personagemrsquo O tradutor tambeacutem deve defender o personagemrdquo

Traduccedilotildees Editora Ano

Antocircnio e Cleoacutepatra MandarimSiciliano 1997

Cimbeline rei da Britacircnia Iluminuras 2002

O conto do inverno Iluminuras 2007

Peacutericles priacutencipe de Tiro Iluminuras 2012

O primeiro Hamlet In-Quarto de 1603 Hedra 2013

Os dois primos nobres Iluminuras 2016

Troacuteilo e Creacutessida Editora 34 2016

Timon de Atenas (em progresso)

Linguiacutestica e Literatura

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 10: MISSÃO ESPACIAL

UFSC Ciecircncia

9

Ainda assim prefere falar das atividades e realizaccedilotildees do Nuacute-cleo que de acordo com nuacutemeros de 2013 havia gerado 35 pro-jetos 96 dissertaccedilotildees e teses 29 livros e 69 capiacutetulos de livros (ldquomas acho que eacute maisrdquo avalia) A preocupaccedilatildeo coletiva aparece tambeacutem no final da entrevista depois de falar da aposentadoria a premiaccedilatildeo e sua histoacuteria pessoal Para responder agrave pergunta sobre o que pensa do futuro fala mais do Brasil do que de si proacutepria ldquoSou otimista mas estaacute estranho Para quem viveu a di-tadura ver determinados discursos manipulaccedilotildees e convicccedilotildees poliacuteticas natildeo satildeo nada melhores que as barbaridades que a gente ouvia em 1968 Acho que realmente precisa de muito estu-dordquo Quando diz o nome do paiacutes assim como todas as palavras terminadas em ldquoLrdquo aparece a caracteriacutestica que mais facilmente identifica suas origens no interior do Rio Grande do Sul a pro-nuacutencia da consoante como ldquoLrdquo mudo mesmo jaacute armando para a vogal que natildeo vem natildeo como ldquoUrdquo

Foi em Portatildeo a 43 quilocircmetros de Porto Alegre (estimativa de populaccedilatildeo em 2015 de acordo com o IBGE 33994 pessoas) que ela comeccedilou sua trajetoacuteria acadecircmica na garupa de uma eacutegua Era como aos oito anos percorria os dois quilocircmetros que separavam a pequena propriedade de sua famiacutelia da escola do municiacutepio ldquoEu era pequeninha magrinha e meu pai ficava preocupado se eu fosse a peacute Naquela eacutepoca jaacute tinha uma fas-cinaccedilatildeo muito grande por estudarrdquo relembra No segundo ano comeccedilou a ir a peacute mesmo por conta proacutepria Seus passatempos preferidos eram caminhar pelo campo e brincar de dar aula para alunos imaginaacuterios O pai pequeno agricultor era lideranccedila po-liacutetica local participou da construccedilatildeo da igreja fez parte do anti-go Partido Libertador e depois do Partido Democraacutetico Cristatildeo Nas paacuteginas do jornal que ele assinava encantou-se com as re-flexotildees do pensador jornalista professor criacutetico literaacuterio e liacuteder catoacutelico Alceu Amoroso Lima que escrevia sob o pseudocircnimo Tristatildeo de Ataiacutede ldquoEle era muito humanistardquo recorda

Chegou a ir para o coleacutegio interno ndash por vontade proacutepria para se-guir os passos da irmatilde mais velha (tinha uma irmatilde e sete irmatildeos) ndash e quando terminou o ensino fundamental parou momenta-neamente os estudos formais jaacute que a escola local natildeo tinha o ensino meacutedio (ldquohoje jaacute temrdquo faz questatildeo de destacar) e foi para a cozinha ldquoFiquei nessa dos 12 13 anos ateacute os 17 mas sem esquecer meu sonho Queria algo como Filosofia Psicologia Psi-quiatria Jornalismo ou Literatura por aiacuterdquo Mudou-se para Porto Alegre e foi trabalhar sem remuneraccedilatildeo formal na casa de uma famiacutelia que por sua vez pagava seus estudos Com os livros do irmatildeo mais velho preparou-se para o exame supletivo e pas-sou Tambeacutem do irmatildeo mais velho havia ganhado um manual de Sociologia com o qual havia se identificado e assim fez o ves-tibular da UFRGS para Ciecircncias Sociais que na eacutepoca permitia mais adiante optar pelo curso de Jornalismo Mas natildeo foi o caso

ldquoNas Ciecircncias Sociais senti-me em casardquo explica Entrou no cur-so em 1965 um ano apoacutes o golpe militar quando a repressatildeo jaacute se sentia mas ainda natildeo era tatildeo forte quanto se tornou a partir de 1968 Tatildeo logo aprovada no vestibular tomou uma iniciativa que renderia frutos ainda pintada de caloura foi ateacute a Alianccedila Francesa explicou que tinha interesse em aprender o idioma mas natildeo podia pagar pelo curso e acabou ganhando uma bolsa Participou ativamente do movimento estudantil e foi a muitos protestos e passeatas ldquoQuando nos aproximaacutevamos do centro da cidade a poliacutecia vinha em cima com cavalaria Muitos anos depois fui ao Foacuterum Social Mundial e soacute de ver a cavalaria de novo deu um calafrio Em um deles o que mais me marcou um policial encostou uma arma contra meu peitordquo

O Trabalho de Conclusatildeo de Curso foi sobre Sociologia do Tra-balho Imediatamente comeccedilou o mestrado tambeacutem na UFRGS com o tema de movimentos sociais rurais patronais e campone-ses A essa altura jaacute em 1969 poacutes AI-5 o regime poliacutetico jaacute era bem mais pesado Ao clima pluacutembeo da eacutepoca somava-se para Ilse a carga de aulas da poacutes-graduaccedilatildeo ldquoTinha que bater ponto e tudordquo conta Para aliviar a tensatildeo ela arranjou mais um com-promisso aulas de teatro agrave noite Chegou a participar de uma peccedila infantil mas natildeo levou a carreira dramaacutetica adiante

Em vez disso em 1971 terminado o mestrado comeccedilou a anali-sar as possibilidades para o doutorado A essa altura sabia que queria sair de Porto Alegre conhecer coisas diferentes Procurou entatildeo contato com Fernando Henrique Cardoso que fizera uma palestra na UFRGS chegou a visitaacute-lo em Satildeo Paulo (foi recebi-da primeiramente por Ruth Cardoso) mas ele havia sido apo-sentado compulsoriamente pelo decreto-lei nordm 477 de fevereiro de 1969 Ainda assim indicou-a agrave USP mas a possibilidade de estudar na Europa e de colocar em praacutetica seus anos de estudo do francecircs atraiacuteram-na mais e Ilse comeccedilou a entrar em contato com a Sorbonne na Franccedila mesmo sem saber que tipo de apoio teria ldquoO pessoal perguntava se eu natildeo tinha medo de ir para fora e eu dizia lsquopara fora de quecircrsquo natildeo existia isso de dentro ou fora para mimrdquo enfatiza

Ainda com as possibilidades em aberto foi para a Inglaterra naquele ano enquanto o clima poliacutetico no Brasil endurecia ain-da mais Chegou laacute sem nenhuma indicaccedilatildeo falando pouco do idioma e conseguiu hospedagem na Casa do Brasil na Inglaterra ndash nessa eacutepoca conheceu o futuro marido Foi entatildeo agrave Franccedila e decepcionou-se com o que considerou burocracia excessiva da Sorbonne mas marcou uma entrevista para dali a dois meses com Alain Touraine socioacutelogo francecircs renomado por seus es-critos a respeito de movimentos sociais e da Sociologia de Tra-balho em que cunhou a expressatildeo ldquosociedade poacutes-industrialrdquo No periacuteodo de sua graduaccedilatildeo na UFRGS Touraine jaacute era um dos estudiosos mais discutidos

Ilse levou a seacuterio o conselho da secretaacuteria do professor com quem marcara a entrevista jaacute chegar com o projeto claro e bem--embasado Voltou agrave Inglaterra e pocircs-se a trabalhar nisso ateacute o dia do encontro Levou tambeacutem sua dissertaccedilatildeo de mestrado Funcionou ele gostou da proposta sobre sindicalismo rural e aceitou a nova orientanda na Universidade de Paris X em Nan-terre Conseguiu tambeacutem uma bolsa da Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) Nessa mes-ma eacutepoca Touraine escrevia sua principal obra A produccedilatildeo da sociedade cujos capiacutetulos foram todos discutidos em sala pela turma de que Ilse participava Esse modo de trabalhar em gru-pos conta ela foi uma grande influecircncia em sua vida acadecircmica

Apoacutes concluir o doutorado voltou ao Brasil e em 1974 comeccedilou a dar aulas como horista no Instituto de Filosofia e Ciecircncias So-ciais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) O clima que encontrou no paiacutes era de medo O IFCS receacutem-passara por um processo em que cerca de quarenta professores foram cassados entre eles Darcy Ribeiro ldquoTodo mundo cochichava para falar de poliacutetica meu marido natildeo conseguia entender por que aquilo mas era difiacutecil evitar E como ensinar Sociologia sem falar em classes sociaisrdquo observa Precisava tomar cuidado em sala de aula para natildeo avanccedilar em temas considerados tabus em certo momento foi ldquoaconselhadardquo por telefone a natildeo par-ticipar de um concurso puacuteblico para professora adjunta entre 1975 e 1976 porque poderia haver consequecircncias graves se fosse aprovada preferiu ficar de fora Em outro concurso mais

10

adiante natildeo houve ameaccedila e Ilse passou na seleccedilatildeo curricular para adjunta

Nos sete anos que passou na UFRJ Ilse viveu o periacuteodo da aber-tura poliacutetica e da luta pela anistia Criou grupos de trabalho aju-dou a organizar a poacutes-graduaccedilatildeo em Sociologia na UFRJ e foi a primeira coordenadora da poacutes e do mestrado Entatildeo em 1981 surgiu a oportunidade de vir para a UFSC inicialmente como pro-fessora convidada por iniciativa do professor Silvio Coelho dos Santos que iniciava um grupo interdisciplinar ldquoMas na verdade eu sabia que queria ficar por aqui Deu tudo certo Queria me in-tegrar aqui e me integrei logo me sentia em casa as possibilida-des estavam se abrindordquo lembra Jaacute existia o Novo Sindicalismo com Luis Inaacutecio Lula da Silva como liacuteder os movimentos sociais se reorganizavam dali a poucos anos em 1984 seria fundado oficialmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Um dos primeiros projetos de Ilse na UFSC foi um trabalho sobre desabrigados nas construccedilotildees de barragens assunto para o qual acabou voltando ao longo dos anos Depois de passar os dois primeiros anos em Florianoacutepolis ainda agrave disposiccedilatildeo da UFRJ passou em concurso puacuteblico e tornou-se professora titular na UFSC

Em 1984 durante o VII Encontro Nacional da Associaccedilatildeo Nacio-nal de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Ciecircncias Sociais (Anpocs) apresentou o texto ldquoO caraacuteter dos novos movimentos sociaisrdquo considerado peccedila fundamental para o estabelecimento desta denominaccedilatildeo que abordava ainda o feminismo e o movimento ecoloacutegico Foi incluiacutedo tambeacutem em Uma Revoluccedilatildeo no Cotidiano ndash os novos movimentos sociais na Ameacuterica Latina de 1987 orga-nizado junto com o professor Paulo Krischke tambeacutem da UFSC e lanccedilado pela editora Brasiliense Observou surgir essa nova maneira de associativismo e organizaccedilatildeo nos grupos de periferia

Perfil

de Florianoacutepolis com participaccedilatildeo do padre Vilson Groh ligado desde os anos 1980 agrave Teologia da Libertaccedilatildeo e depois aos mo-vimentos dos Sem-Terra e Sem-Teto

Ilse tambeacutem ajudou a definir os conceitos de rede nesses mo-vimentos sociais brasileiros a partir de sua organizaccedilatildeo mais fluida com trocas de experiecircncia e articulaccedilotildees e diferentes pos-sibilidades de participaccedilatildeo Ela apresentou essa visatildeo no livro Redes de movimentos sociais lanccedilado pela editora Loyola em 1996 Com o tempo construiu uma produccedilatildeo extensa e influen-te Na UFSC participou de todo o processo de implantaccedilatildeo de cotas e poliacuteticas afirmativas ldquoHouve um debate muito acirrado entre intelectuais e sempre surgia o discurso de que os cotistas teriam aproveitamento acadecircmico inferior mas isso acabou sen-do desmentido com os nuacutemeros que mostraram que natildeo havia muita diferenccedila entre eles e os natildeo cotistasrdquo destaca

O Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos Sociais diz surgiu de maneira informal quando ex-alunos demonstraram interes-se em prosseguir debatendo ldquoComeccedilamos a fazer encontros perioacutedicos depois conseguimos uma sala aiacute foi indo Surgi-ram daiacute vaacuterios trabalhos e eacute como eu gosto de fazer as coisas em grupordquo

Conheccedila mais sobre o pensamento de Ilse Scherer-Warren por meio

do livro do qual eacute coorganizadora Movimentos sociais e participaccedilatildeo

editado pela EdUFSC e disponiacutevel para leitura gratuita on-line

11

Como mostrar o que eacute pesquisa a ciecircncia como ela eacute feita quais benefiacutecios ela traz para as pessoas Parece faacutecil mas natildeo eacute Explicar temas agraves vezes complicados de forma que as pessoas entendam - sem cair no sensacionalismo

barato de tabloides e programas pseudocientiacuteficos ndash eacute muito mais difiacutecil do que parece

As pessoas se interessam por ciecircncia A resposta eacute um grande sim Resultado de uma pesquisa feita em 2015 sobre a percep-ccedilatildeo puacuteblica de ciecircncia e tecnologia no Brasil mostrou alguns re-sultados surpreendentes Por exemplo as pessoas acham que ciecircncia eacute uma atividade muito importante e essencial para aju-dar a resolver problemas do paiacutes e do mundo Trecircs quartos dos entrevistados acreditam que a ciecircncia traz mais benefiacutecios que malefiacutecios e mais da metade acredita que cientistas fazem coi-sas uacuteteis agrave humanidade entretanto 90 dos entrevistados natildeo conseguem se lembrar de uma instituiccedilatildeo cientiacutefica ou nome de um cientista brasileiro famoso

O que falta entatildeo Maior oferta de informaccedilatildeo cientiacutefica de qua-lidade Embora uma parcela significativa das pessoas acredite que a internet televisatildeo e jornais divulgam de forma satisfatoacute-ria descobertas cientiacuteficas o problema eacute a quantidade dessas informaccedilotildees que alcanccedila esses meios E infelizmente natildeo po-demos ignorar que muitas destas informaccedilotildees principalmente as veiculadas na internet tecircm qualidade no miacutenimo duvidosa

E quem melhor qualificado para transmitir estas informaccedilotildees que os proacuteprios pesquisadores Aiacute temos outro problema A maioria dos pesquisadores natildeo tem treinamento para transmitir a men-sagem em linguagem que as pessoas entendam Isso nos leva imediatamente agrave necessidade imperiosa de junccedilatildeo de esforccedilos entre pessoas que sabem transmitir a informaccedilatildeo (jornalistas por exemplo) e aquelas que tecircm as informaccedilotildees (pesquisadores e cientistas)

Aiacute entra o jornalismo cientiacutefico e a divulgaccedilatildeo cientiacutefica Infeliz-mente nosso paiacutes natildeo estaacute entre os que fazem boa divulgaccedilatildeo cientiacutefica ndash e natildeo eacute por falta de boa ciecircncia Temos centenas de exemplos de grupos de pesquisa em universidades laboratoacuterios oficiais e empresas que estatildeo trabalhando na fronteira do co-nhecimento em pesquisas de classe mundial Porque isso acon-tece A resposta eacute difiacutecil e pode ter inuacutemeras variaacuteveis Poucos satildeo os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo cientiacutefica permanentes no Brasil E poucos satildeo os jornalistas especializados em divulgaccedilatildeo cien-tiacutefica Em alguns paiacuteses haacute jornalistas e setores de divulgaccedilatildeo de instituiccedilotildees e universidades especializados em levar para o puacuteblico o que acontece em pesquisa nos seus laboratoacuterios Aleacutem de elevar a compreensatildeo do puacuteblico em geral sobre os avanccedilos da ciecircncia essa eacute uma forma importante de prestaccedilatildeo de contas do dinheiro aplicado em ciecircncia e pesquisa

Tamanha eacute a importacircncia atribuiacuteda agrave divulgaccedilatildeo cientiacutefica que o curriacuteculo Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-tiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) agora tem uma aba especiacutefica para que sejam cadastradas as atividades de divulgaccedilatildeo cientiacutefica

Nesse sentido a UFSC deu uma modesta mas significativa con-tribuiccedilatildeo A Propesq manteacutem desde 2014 uma equipe de jo-vens estudantes de jornalismo orientados por profissionais que produziram uma seacuterie de mateacuterias sobre a pesquisa que se faz na UFSC ndash algumas inclusive tendo sido veiculadas pela grande imprensa ndash o que possibilitou levar o conhecimento produzido na Universidade para um nuacutemero ainda maior de pessoas

Este eacute um bom comeccedilo para uma atividade que deve ter caraacuteter permanente A oferta de material de divulgaccedilatildeo de boa quali-dade aumentaraacute a percepccedilatildeo do puacuteblico sobre a relevacircncia e importacircncia da pesquisa cientiacutefica Eacute minha convicccedilatildeo que esta iniciativa deve continuar e ser expandida para tornar-se o Pro-grama de Divulgaccedilatildeo Cientiacutefica da UFSC

CIEcircNCIA SEMCOMPLICACcedilAtildeOJamil Assreuy

Opiniatildeo

Doutor em Ciecircncias Bioloacutegicas (Biofiacutesica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Fez o poacutes-doutorado no Wellcome Research Labs UK Atualmente eacute Professor Associado do Departamento de Farmacologia e Proacute-Reitor de Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina

12

MISSAtildeO

ESPACIALDaniela Caniccedilali

Equipe da UFSC desenvolve sateacutelite que seraacute lanccedilado em 2016

Engenharias

UFSC Ciecircncia

Um cubo com 10 cm de aresta pesando aproximadamente um quilo constituiacutedo de computador de bordo paineacuteis solares bateria e carga uacutetil (dispositivos que exercem funccedilotildees preestabelecidas como fotografar medir a tem-

peratura etc) Essas satildeo as caracteriacutesticas do nanossateacutelite do tipo cubesat que estaacute sendo desenvolvido desde 2012 no proje-to Floripa Sat uma iniciativa de pesquisadores e alunos de dife-rentes cursos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) A previsatildeo de lanccedilamento eacute dezembro de 2016

O Floripa Sat surgiu de forma independente inspirado em ou-tros projetos experimentais do Centro Tecnoloacutegico (CTC) mdash como o BAJA SAE do curso de Engenharia Mecacircnica que se destina a produzir protoacutetipos de veiacuteculos automotivos off-road ldquoExiste aqui na UFSC o BAJA o barco eleacutetrico o carro eleacutetrico Satildeo vaacuterios projetos Pensamos entatildeo em propor o desenvolvimento de um sateacutelite para que os alunos se interessassem e se motivassem tambeacutem pela aacuterea aeroespacialrdquo explica o professor Eduardo Bezerra do Departamento de Engenharia Eleacutetrica e um dos coor-denadores do projeto Outro coordenador professor Kleber Viei-ra de Paiva do curso de Engenharia Aeroespacial (Campus Join-ville) reforccedila que o principal objetivo do projeto eacute educativo ldquoO aluno tem a oportunidade de participar de uma missatildeo espacial completardquo Ao mesmo tempo em que passou a contribuir para a formaccedilatildeo dos estudantes o Floripa Sat tambeacutem deu visibilidade agrave aacuterea aeroespacial ainda recente nas universidades brasileiras O curso da UFSC foi criado em 2009 e eacute uma das uacutenicas seis gra-duaccedilotildees em Engenharia Aeroespacial em todo o paiacutes

Ateacute chegar a sua ldquoversatildeo finalrdquo e ser lanccedilado o sateacutelite passa pelas seguintes etapas anaacutelise de requisitos projeto desen-volvimento integraccedilatildeo e testes Na etapa de levantamento de requisitos satildeo definidas desde as faixas de temperatura que o sateacutelite deve aguentar a velocidade de comunicaccedilatildeo com a Ter-ra ateacute as funccedilotildees que iraacute executar Na etapa de projeto satildeo de-senvolvidas as placas mdash com microprocessadores que mantecircm o sateacutelite em funcionamento mdash um dos diferenciais do Floripa Sat

Enquanto outras universidades utilizam placas prontas na UFSC elas estatildeo sendo desenvolvidas pelos proacuteprios alunos ldquoNoacutes ad-quirimos uma placa da empresa que fabrica um dos melhores modelos de cubesat Mas essa placa vai servir apenas como mo-delo de referecircncia Nosso interesse eacute o desenvolvimento cientiacute-fico poder estudar os circuitos e talvez ateacute desenvolver placas mais eficientesrdquo explica Eduardo

Na etapa de integraccedilatildeo os diversos subsistemas do cubesat satildeo colocados para funcionar em conjunto passando-se entatildeo agrave fase de testes quando o sateacutelite como um todo eacute submetido a um ambiente de voo Apoacutes ser aprovado nos testes chega entatildeo o momento mais esperado a integraccedilatildeo ao veiacuteculo lanccedilador e o lanccedilamento do sateacutelite ldquoA sensaccedilatildeo de colocar um sateacutelite em oacuterbita eacute de muita satisfaccedilatildeo de dever cumprido Eacute algo que deve ser planejado com cuidado pois se qualquer coisa der errado o objetivo final que eacute estabelecer a comunicaccedilatildeo do sateacutelite com a Terra pode natildeo ser atingidordquo explica Kleber O doutoran-do Leonardo Slongo pesquisador do projeto tambeacutem descreve essa etapa como a que gera mais expectativa ldquoSatildeo realizados vaacuterios testes mas ainda assim existe muita apreensatildeo sobre-tudo nos primeiros minutos do lanccedilamentordquo Kleber acrescenta ldquoVocecirc natildeo tem uma segunda chancerdquo

Se a missatildeo for bem-sucedida chega a fase de monitorar as ati-vidades do sateacutelite coletar dados e com essas informaccedilotildees di-vulgar os resultados do trabalho por intermeacutedio de publicaccedilotildees e patentes ldquoO trabalho natildeo acaba no lanccedilamento ele continua Enquanto estiver em oacuterbita os alunos vatildeo estar envolvidos na comunicaccedilatildeo com o sateacuteliterdquo explica Kleber O Floripa Sat seraacute transportado como carga de um sateacutelite de maior porte o Uni-sat-7 (da empresa GAUSS) que por sua vez seraacute acoplado ao foguete Dnepr com data de lanccedilamento prevista para dezem-bro de 2016 na Ruacutessia A integraccedilatildeo final seraacute realizada na Itaacutelia com o acompanhamento de dois membros da equipe da UFSC prioritariamente estudantes

CUBESATO cubesat mdash abreviaccedilatildeo das palavras em inglecircs ldquocuberdquo (cubo) e ldquosatrdquo (sateacutelite) mdash caracteriza-se por sua estrutura simplificada e custo reduzido enquanto para o seu lanccedilamento satildeo gastos aproximadamente 100 mil doacutelares para o de um sateacutelite convencional os custos chegam a 250 milhotildees Os sateacutelites de pequeno porte conhecidos como nanossateacutelites tambeacutem se distinguem pelo alto valor agregado ldquoOs componentes que precisamos adqui-rir para desenvolver uma placa custam cerca de 100 doacutelares Quando fica pronta ela pode ser vendida por 15 mil doacutelaresrdquo afirma o professor Eduardo

O padratildeo cubesat foi desenvolvido em 1999 no contexto da tendecircncia dos nanossateacutelites com o intuito de fomentar a pesquisa universitaacuteria na aacuterea de Engenharia Aeroespacial Seus idealizadores Jordi Puig-Suari e Bob Twi-ggs professores das universidades norte-americanas California Polytechnic State University e Stanford University tinham o propoacutesito de proporcionar aos estudantes de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo a possibilidade de projetar construir testar e operar um sateacutelite semelhante ao Sputnik Os dois pesquisa-dores estaratildeo em Florianoacutepolis no primeiro semestre de 2016 para o evento ldquoII Latin America IAA CubeSat Workshoprdquo organizado pela equipe do pro-jeto Floripa Sat

13

14

Engenharias

PROJETO SERPENSOutro projeto que tem a participaccedilatildeo da UFSC em parceria com outras universidades eacute o Sistema Espacial para a Realizaccedilatildeo de Pesquisas e Experimentos com Nanossateacutelites (Serpens) Coor-denado pela Agecircncia Espacial Brasileira (AEB) como uma ativi-dade do programa Uniespaccedilo o Serpens foi criado em dezembro de 2013 com o objetivo de qualificar a pesquisa acadecircmica na aacuterea Ao longo dos anos estudantes dos cursos de Engenha-ria Aeroespacial do paiacutes teratildeo a oportunidade de aplicar a teo-ria na praacutetica participando do desenvolvimento e lanccedilamento de cubesats O primeiro o Serpens I foi lanccedilado em agosto de 2015 rumo agrave Estaccedilatildeo Espacial Internacional (ISS) e colocado em oacuterbita no dia 17 de setembro Aleacutem da UFSC quatro instituiccedilotildees brasileiras participam do projeto Serpens Universidade de Bra-siacutelia (UnB) Universidade Federal do ABC (UFABC) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Instituto Federal Fluminense (IFF) Em cada missatildeo uma equipe fica responsaacutevel por liderar o projeto o Serpens I foi liderado pela UnB o Serpens II mdash que jaacute estaacute em desenvolvimento com previsatildeo de lanccedilamento para de-zembro de 2017 mdash estaacute sendo coordenado pela equipe da UFSC

EQUIPEAtualmente integram o Floripa Sat dez professores e trinta alu-nos da graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Engenharia Aeroespacial Engenharia Eleacutetrica Engenharia Eletrocircnica Engenharia Mecacircni-ca Ciecircncia da Computaccedilatildeo e Engenharia de Controle e Automa-ccedilatildeo Aleacutem do projeto Floripa Sat e do Serpens membros da equi-pe jaacute participaram de outras missotildees aeroespaciais Em 2006 quando ainda era estudante de mestrado da UFSC o professor Kleber teve participaccedilatildeo na missatildeo do astronauta brasileiro Mar-cos Pontes como responsaacutevel por um dos experimentos utiliza-do pelo astronauta no ambiente de microgravidade da Estaccedilatildeo Espacial Internacional O doutorando Leonardo Slongo partici-pou junto com Kleber de projetos do Programa Microgravidade da AEB e acompanhou no Centro de Lanccedilamento de Alcacircntara (CLA) no Maranhatildeo o lanccedilamento de foguetes que executaram diferentes experimentos O professor Eduardo Bezerra atua haacute mais de dez anos no projeto e desenvolvimento de sistemas computacionais embarcados para os sateacutelites de grande porte do Programa Espacial Brasileiro

LINHA DO TEMPO

2015

2012

2013

2014

2016

Consolidaccedilatildeo do Floripa Sat como projeto de pesquisa

Levantamento dos requisitos desenvolvimento das primeiras versotildees do Floripa Sat

Definiccedilatildeo dos requisitos da versatildeo a ser lanccedilada organizaccedilatildeo do projeto desenvolvimentotestes do protoacutetipo

Fabricaccedilatildeo do protoacutetipo projeto desenvolvimento do modelo de engenharia e do modelo de voo fabricaccedilatildeo testes

Integraccedilatildeo e testes do modelo de voo testes mecacircnicos e teacutermicos lanccedilamento

Etapas de desenvolvimento do projeto Floripasat

Font

e E

duar

do B

ezer

ra

Kleb

er V

ieira

de

Paiv

aDe

sign

Airt

on J

orda

ni

Text

o D

anie

la C

aniccedil

ali

15

Contribuindo para a difusatildeo do conhecimento a Editora da UFSC (EdUFSC) oferece na forma digital livros de seu acervo impresso acessiacuteveis para leitura gratuita on-line Conheccedila alguns deles

ACERVO DIGITAL EDITORA DA UFSC

EdUFSC

Filosofia da Tecnologia um convite Alberto Cupani

httplufscbrfilosofiatecnologia

O fantaacutestico na Ilha de Santa Catarina

Franklin Cascaes httplufscbrfantasticonailha

Gesto palavra e memoacuteria Luciana Hartmann

httplufscbrgestopalavra

Arquitetura da Cidade Contemporacircnea Gilceacuteia Pesce do Amaral e Silva Lisete Assen de Oliveira (Orgs) httplufscbrarquiteturacidade

Algaravia discursos de naccedilatildeo Rauacutel Antelo

httplufscbralgaravia

Tecnologia de Fabricaccedilatildeo de Revestimentos Ceracircmicos

Antonio P N de Oliveira e Dachamir Hotza httplufscbrrevestimentos

16

Linguiacutestica e Literatura

A ARTE E O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEAREDaniela Caniccedilali

Em 1990 um grupo de cerca de dez pesquisadores se reuacutene em torno de um interesse em comum o dramaturgo inglecircs William Shakespeare Em 1991 nasce em Belo Horizonte (MG) o Centro de Estudos Shakespeareanos (CESh) Entre

aqueles que participaram da fundaccedilatildeo da entidade estava Joseacute Roberto OrsquoShea que acabava de se tornar professor do Depar-tamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras (DLLE) da Universi-dade Federal de Santa Catarina (UFSC) No CESh OrsquoShea foi de-signado para iniciar os projetos de traduccedilatildeo ldquoO grupo entendeu que eram necessaacuterias novas traduccedilotildees Como os padrotildees de fala se modificam mesmo o teatro supostamente claacutessico que eacute o caso de Shakespeare tende a ficar datadordquo explica Segundo o pesquisador as traduccedilotildees que circulavam ateacute o final da deacutecada de 1980 estavam desatualizadas em termos de leacutexico estruturas frasais e referecircncias culturais Estavam portanto distantes do puacuteblico leitor e espectador

Antocircnio e Cleoacutepatra foi a primeira das oito obras do dramatur-go inglecircs que OrsquoShea traduziu desde entatildeo ldquoDecidimos co-meccedilar pelas menos encenadas e menos conhecidas mas que satildeo tambeacutem peccedilas extraordinaacuteriasrdquo Seu trabalho se realiza no acircmbito do projeto de pesquisa ldquoTraduccedilotildees anotadas da drama-turgia shakespearianardquo que tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) e estaacute em atividade ininterrupta haacute 23 anos OrsquoShea eacute o uacutenico tradutor de Shakespeare no Brasil cuja atividade estaacute vinculada a programas de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu O professor tambeacutem traduziu aleacutem das obras de Shakespeare obras sobre Shakespeare De Harold Bloom reconhecido criacutetico literaacuterio de liacutengua inglesa tra-duziu entre outros tiacutetulos Shakespeare a invenccedilatildeo do humano com cerca de 900 paacuteginas

OrsquoShea afirma evitar qualquer relaccedilatildeo de reverecircncia ou mitifica-ccedilatildeo ldquoTento natildeo entrar nessa senatildeo fico paralisado Mas sem sombra de duacutevida como outros grandes autores Shakespeare tem percepccedilotildees graviacutessimas sobre a natureza humanardquo O pro-

fessor explica que uma das preocupaccedilotildees baacutesicas do autor eacute explicitar que a viagem do crescimento do ser humano parte de uma situaccedilatildeo de relativa cegueira autoengano ignoracircncia com relaccedilatildeo a si mesmo e agrave realidade que o cerca e segue na direccedilatildeo do autoconhecimento da percepccedilatildeo de sua relativa importacircn-cia ldquoEssa eacute uma sacaccedilatildeo muito granderdquo Outros temas recor-rentes satildeo o amor romacircntico ndash ldquoquase sempre morre o amor ou morrem os amantesrdquo ndash e a poliacutetica a exposiccedilatildeo do mau gover-nante ndash ldquoaquele que soacute visa ao seu bem proacuteprio e ao de alguns que o cercamrdquo

O TRADUTORA formaccedilatildeo do tradutor demanda muita leitura e escrita ldquoLer e escrever satildeo atividades indissociaacuteveis Eacute preciso ter bastante co-nhecimento da liacutengua de partida e imensuraacutevel conhecimento da liacutengua de chegada Aiacute o ceacuteu eacute o limiterdquo OrsquoShea reforccedila seus argumentos citando o poeta chileno Nicanor Parra ldquoPara tradu-cir Shakespeare y comer pescado cuidado poco se gana con saber ingleacutesrdquo Conhecer a liacutengua e a cultura de chegada portan-to eacute o que permite ao tradutor escrever com fluidez fazendo o texto ldquofuncionarrdquo em seu contexto

O professor lembra que ldquoum tradutor eacute um escritorrdquo apesar de nem sempre ser assim reconhecido ldquoNos uacuteltimos 30 anos o tra-dutor estaacute se tornando mais conhecido mais visiacutevel mais res-peitado Mas ainda haacute um caminho longo a ser trilhadordquo OrsquoShea faz referecircncia agraves criacuteticas literaacuterias ldquoAgraves vezes o criacutetico diz lsquoO au-tor tem um belo estilorsquo Mas o autor natildeo escreveu uma daque-las palavras sequer Nenhuma Todas as palavras que o criacutetico leu foram escritas pelo tradutor Ele elogia o estilo a fluecircncia a linguagem e nem menciona o tradutor como se aquela obra tivesse sido escrita em liacutengua portuguesa Essa eacute a famosa invi-sibilidade do tradutorrdquo

17

UFSC Ciecircncia

TRAJETOacuteRIA ACADEcircMICAComo estudante OrsquoShea nunca frequentou uma universidade brasileira cursou a graduaccedilatildeo o mestrado e o doutorado em di-ferentes instituiccedilotildees dos Estados Unidos (EUA) Seus quatro poacutes--doutorados tambeacutem foram no exterior trecircs deles na Inglaterra e um nos EUA Shakespeare foi o eixo central da pesquisa que desenvolveu na UFSC de 1990 a 2015 Nesse periacuteodo orientou 46 trabalhos entre estaacutegios de poacutes-doutorado teses de dou-torado dissertaccedilotildees de mestrado monografias e trabalhos de conclusatildeo de curso (TCC) ndash a maioria abordou diversos aspec-tos da obra de Shakespeare OrsquoShea se aposentou em marccedilo de 2015 mas segue como professor colaborador dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Inglecircs (PPGI) e em Estudos da Traduccedilatildeo (PPGET) Orienta atualmente dois estudantes de mestrado cin-co de doutorado e um de poacutes-doutorado ldquoOs 25 anos que passei na UFSC natildeo gostaria de ter passado em nenhuma outra univer-sidade do mundo Fiz quatro poacutes-docs dei aula como convida-do em universidades no Brasil e no exterior sempre tive apoio para fazer pesquisa apresentar trabalhos em eventos nacionais e internacionais Natildeo substituiria minha experiecircncia aqui por nenhuma outrardquo

Precircmio JabutiOrsquoShea recebeu uma menccedilatildeo honrosa no Precircmio Jabuti em 2003 pela traduccedilatildeo de Cimbeline rei da Britacircnia Em 2008 sua traduccedilatildeo de O conto do inverno ficou entre as dez finalistas do precircmio na categoria Traduccedilatildeo Literaacuteria

Conheccedila um pouco do trabalho de Joseacute Roberto OrsquoShea por meio

de sua primeira traduccedilatildeo de Shakespeare Antocircnio e Cleoacutepatra

disponiacutevel para leitura gratuita on-line

18

A TRADUCcedilAtildeOShakespeare eacute frequentemente traduzido em prosa A traduccedilatildeo em versos metrificados eacute um dos diferenciais do trabalho de OrsquoShea Somam-se a isso a linguagem atualizada e a inclusatildeo de anotaccedilotildees comentaacuterios paratexto e bibliografia seleciona-da Em todas as obras que publicou haacute um ensaio introdutoacuterio e notas explicativas cobrindo questotildees de texto contexto e en-cenaccedilatildeo Em Antocircnio e Cleoacutepatra por exemplo haacute 365 notas Por isso o resultado final vai aleacutem da traduccedilatildeo em si ldquoEu gosto de pensar que minhas traduccedilotildees volume a volume satildeo ediccedilotildees criacuteticas daquele textordquo

Seu meacutetodo de trabalho se inicia com a escolha do texto base ldquoPara Antocircnio e Cleoacutepatra analisei cinco ediccedilotildees integrais da peccedila todas anotadas e publicadas nos uacuteltimos 50 anos Oxford Cambridge Riverside Penguin Arden Satildeo excelentes ediccedilotildees Mas escolhi a Arden porque a meu ver eacute a que estaacute mais bem resolvida textualmenterdquo Segundo o professor natildeo eacute comum os tradutores terem o cuidado de confrontar a ediccedilatildeo que escolhe-ram com outras cinco ou seis verso a verso como ele faz ldquoCom todo o respeito muitas traduccedilotildees carecem de pesquisa O tradu-tor elege uma boa ediccedilatildeo moderna e se ateacutem agraves anotaccedilotildees e agraves soluccedilotildees textuais dessa uacutenica ediccedilatildeordquo

Uma das principais diferenccedilas entre a traduccedilatildeo em verso e em prosa eacute a questatildeo do espaccedilo ldquoNa prosa se precisar de dez pala-vras para descrever um objeto posso dispor de dez palavras Na poesia metrificada natildeo Trabalho com decassiacutelabos e muitas vezes minha melhor opccedilatildeo semacircntica tem quatro ou cinco siacutela-bas mas natildeo posso usaacute-la Tenho que me contentar com minha segunda terceira melhor opccedilatildeo semacircntica pois natildeo tenho es-paccedilo para escrever por exemplo em-be-ve-ci-men-tordquo OrsquoShea explica que pode haver perdas semacircnticas mas haacute ganhos esteacute-ticos ldquoNatildeo posso ser prolixo natildeo tenho espaccedilo para explicar o texto tenho que ser parcimonioso Afinal trata-se de poesia e poesia eacute sugestiva eacute eliacuteptica ela nos permite imaginarrdquo

Outro desafio na traduccedilatildeo em verso eacute a rima ldquoAs rimas visuais graficamente oacutebvias satildeo mais faacuteceis de traduzir Mas haacute rimas que natildeo repetem padrotildees graacuteficos Vocecirc natildeo vecirc vocecirc ouve Eacute preciso esquecer um pouco a questatildeo graacutefica e ir para o som com flexibilidade pois muitas vezes haacute vaacuterias possibilidades de pronuacutencia Home e come por exemplo podem rimar depende da pronuacutencia do poeta Eu trabalho com dicionaacuterios de rimas natildeo tenho escruacutepulos em dizer issordquo O professor afirma ldquonatildeo ter escruacutepulosrdquo pois haacute certo preconceito entre tradutores quanto ao seu uso Ele conta o que lhe ocorreu em um congresso em Li-verpool ldquoEu falava sobre minhas traduccedilotildees sobre poesia rima-da quando um colega de Oxford perguntou como eu trabalha-va Eu disse lsquoTrabalho com um dicionaacuterio de rimas Aliaacutes com mais de umrsquo Ele riu como quem diz lsquocadecirc o ouvido de poetarsquo Mas em um dos meus dicionaacuterios haacute na capa a citaccedilatildeo lsquo() a salvaccedilatildeo da lavoura poeacuteticarsquo Carlos Drummond de Andrade ldquoSe Drummond diz isso acho que estou liberadordquo argumenta com humor

O professor tambeacutem aponta a importacircncia de identificar as pala-vras que sofreram inversatildeo semacircntica ldquoOs vocaacutebulos que a gen-te natildeo conhece natildeo satildeo um problema Existe pelo menos uma duacutezia de dicionaacuterios que cobrem todo o leacutexico shakespeariano O problema satildeo as palavras que parecem corriqueiras que ain-da satildeo utilizadas mas que sofreram inversatildeo semacircntica hoje significam o oposto do que significavam na primeira deacutecada do seacuteculo XVII Satildeo inuacutemeras dessas palavras Essas eacute que satildeo pe-rigosas podem ser armadilhas para o tradutor Merely que hoje eacute lsquomeramentersquo antes era lsquototalmentersquo Fellow que significa lsquoca-maradarsquo na eacutepoca significava lsquomarginalrsquo lsquocriminosorsquo Rival que hoje significa lsquorivalrsquo na eacutepoca significava lsquoparceirorsquo Identificar isso eacute um desafio vocecirc tem que pesquisar muitordquo OrsquoShea acres-centa que tambeacutem eacute importante ter o maacuteximo de empatia pos-siacutevel com cada personagem ldquoVocecirc natildeo pode tomar partido tem que tentar fazer o melhor possiacutevel a partir do personagem que estaacute falando naquele momento Eacute o que alguns autores chamam de lsquodefender o personagemrsquo O tradutor tambeacutem deve defender o personagemrdquo

Traduccedilotildees Editora Ano

Antocircnio e Cleoacutepatra MandarimSiciliano 1997

Cimbeline rei da Britacircnia Iluminuras 2002

O conto do inverno Iluminuras 2007

Peacutericles priacutencipe de Tiro Iluminuras 2012

O primeiro Hamlet In-Quarto de 1603 Hedra 2013

Os dois primos nobres Iluminuras 2016

Troacuteilo e Creacutessida Editora 34 2016

Timon de Atenas (em progresso)

Linguiacutestica e Literatura

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 11: MISSÃO ESPACIAL

10

adiante natildeo houve ameaccedila e Ilse passou na seleccedilatildeo curricular para adjunta

Nos sete anos que passou na UFRJ Ilse viveu o periacuteodo da aber-tura poliacutetica e da luta pela anistia Criou grupos de trabalho aju-dou a organizar a poacutes-graduaccedilatildeo em Sociologia na UFRJ e foi a primeira coordenadora da poacutes e do mestrado Entatildeo em 1981 surgiu a oportunidade de vir para a UFSC inicialmente como pro-fessora convidada por iniciativa do professor Silvio Coelho dos Santos que iniciava um grupo interdisciplinar ldquoMas na verdade eu sabia que queria ficar por aqui Deu tudo certo Queria me in-tegrar aqui e me integrei logo me sentia em casa as possibilida-des estavam se abrindordquo lembra Jaacute existia o Novo Sindicalismo com Luis Inaacutecio Lula da Silva como liacuteder os movimentos sociais se reorganizavam dali a poucos anos em 1984 seria fundado oficialmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Um dos primeiros projetos de Ilse na UFSC foi um trabalho sobre desabrigados nas construccedilotildees de barragens assunto para o qual acabou voltando ao longo dos anos Depois de passar os dois primeiros anos em Florianoacutepolis ainda agrave disposiccedilatildeo da UFRJ passou em concurso puacuteblico e tornou-se professora titular na UFSC

Em 1984 durante o VII Encontro Nacional da Associaccedilatildeo Nacio-nal de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Ciecircncias Sociais (Anpocs) apresentou o texto ldquoO caraacuteter dos novos movimentos sociaisrdquo considerado peccedila fundamental para o estabelecimento desta denominaccedilatildeo que abordava ainda o feminismo e o movimento ecoloacutegico Foi incluiacutedo tambeacutem em Uma Revoluccedilatildeo no Cotidiano ndash os novos movimentos sociais na Ameacuterica Latina de 1987 orga-nizado junto com o professor Paulo Krischke tambeacutem da UFSC e lanccedilado pela editora Brasiliense Observou surgir essa nova maneira de associativismo e organizaccedilatildeo nos grupos de periferia

Perfil

de Florianoacutepolis com participaccedilatildeo do padre Vilson Groh ligado desde os anos 1980 agrave Teologia da Libertaccedilatildeo e depois aos mo-vimentos dos Sem-Terra e Sem-Teto

Ilse tambeacutem ajudou a definir os conceitos de rede nesses mo-vimentos sociais brasileiros a partir de sua organizaccedilatildeo mais fluida com trocas de experiecircncia e articulaccedilotildees e diferentes pos-sibilidades de participaccedilatildeo Ela apresentou essa visatildeo no livro Redes de movimentos sociais lanccedilado pela editora Loyola em 1996 Com o tempo construiu uma produccedilatildeo extensa e influen-te Na UFSC participou de todo o processo de implantaccedilatildeo de cotas e poliacuteticas afirmativas ldquoHouve um debate muito acirrado entre intelectuais e sempre surgia o discurso de que os cotistas teriam aproveitamento acadecircmico inferior mas isso acabou sen-do desmentido com os nuacutemeros que mostraram que natildeo havia muita diferenccedila entre eles e os natildeo cotistasrdquo destaca

O Nuacutecleo de Pesquisas em Movimentos Sociais diz surgiu de maneira informal quando ex-alunos demonstraram interes-se em prosseguir debatendo ldquoComeccedilamos a fazer encontros perioacutedicos depois conseguimos uma sala aiacute foi indo Surgi-ram daiacute vaacuterios trabalhos e eacute como eu gosto de fazer as coisas em grupordquo

Conheccedila mais sobre o pensamento de Ilse Scherer-Warren por meio

do livro do qual eacute coorganizadora Movimentos sociais e participaccedilatildeo

editado pela EdUFSC e disponiacutevel para leitura gratuita on-line

11

Como mostrar o que eacute pesquisa a ciecircncia como ela eacute feita quais benefiacutecios ela traz para as pessoas Parece faacutecil mas natildeo eacute Explicar temas agraves vezes complicados de forma que as pessoas entendam - sem cair no sensacionalismo

barato de tabloides e programas pseudocientiacuteficos ndash eacute muito mais difiacutecil do que parece

As pessoas se interessam por ciecircncia A resposta eacute um grande sim Resultado de uma pesquisa feita em 2015 sobre a percep-ccedilatildeo puacuteblica de ciecircncia e tecnologia no Brasil mostrou alguns re-sultados surpreendentes Por exemplo as pessoas acham que ciecircncia eacute uma atividade muito importante e essencial para aju-dar a resolver problemas do paiacutes e do mundo Trecircs quartos dos entrevistados acreditam que a ciecircncia traz mais benefiacutecios que malefiacutecios e mais da metade acredita que cientistas fazem coi-sas uacuteteis agrave humanidade entretanto 90 dos entrevistados natildeo conseguem se lembrar de uma instituiccedilatildeo cientiacutefica ou nome de um cientista brasileiro famoso

O que falta entatildeo Maior oferta de informaccedilatildeo cientiacutefica de qua-lidade Embora uma parcela significativa das pessoas acredite que a internet televisatildeo e jornais divulgam de forma satisfatoacute-ria descobertas cientiacuteficas o problema eacute a quantidade dessas informaccedilotildees que alcanccedila esses meios E infelizmente natildeo po-demos ignorar que muitas destas informaccedilotildees principalmente as veiculadas na internet tecircm qualidade no miacutenimo duvidosa

E quem melhor qualificado para transmitir estas informaccedilotildees que os proacuteprios pesquisadores Aiacute temos outro problema A maioria dos pesquisadores natildeo tem treinamento para transmitir a men-sagem em linguagem que as pessoas entendam Isso nos leva imediatamente agrave necessidade imperiosa de junccedilatildeo de esforccedilos entre pessoas que sabem transmitir a informaccedilatildeo (jornalistas por exemplo) e aquelas que tecircm as informaccedilotildees (pesquisadores e cientistas)

Aiacute entra o jornalismo cientiacutefico e a divulgaccedilatildeo cientiacutefica Infeliz-mente nosso paiacutes natildeo estaacute entre os que fazem boa divulgaccedilatildeo cientiacutefica ndash e natildeo eacute por falta de boa ciecircncia Temos centenas de exemplos de grupos de pesquisa em universidades laboratoacuterios oficiais e empresas que estatildeo trabalhando na fronteira do co-nhecimento em pesquisas de classe mundial Porque isso acon-tece A resposta eacute difiacutecil e pode ter inuacutemeras variaacuteveis Poucos satildeo os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo cientiacutefica permanentes no Brasil E poucos satildeo os jornalistas especializados em divulgaccedilatildeo cien-tiacutefica Em alguns paiacuteses haacute jornalistas e setores de divulgaccedilatildeo de instituiccedilotildees e universidades especializados em levar para o puacuteblico o que acontece em pesquisa nos seus laboratoacuterios Aleacutem de elevar a compreensatildeo do puacuteblico em geral sobre os avanccedilos da ciecircncia essa eacute uma forma importante de prestaccedilatildeo de contas do dinheiro aplicado em ciecircncia e pesquisa

Tamanha eacute a importacircncia atribuiacuteda agrave divulgaccedilatildeo cientiacutefica que o curriacuteculo Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-tiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) agora tem uma aba especiacutefica para que sejam cadastradas as atividades de divulgaccedilatildeo cientiacutefica

Nesse sentido a UFSC deu uma modesta mas significativa con-tribuiccedilatildeo A Propesq manteacutem desde 2014 uma equipe de jo-vens estudantes de jornalismo orientados por profissionais que produziram uma seacuterie de mateacuterias sobre a pesquisa que se faz na UFSC ndash algumas inclusive tendo sido veiculadas pela grande imprensa ndash o que possibilitou levar o conhecimento produzido na Universidade para um nuacutemero ainda maior de pessoas

Este eacute um bom comeccedilo para uma atividade que deve ter caraacuteter permanente A oferta de material de divulgaccedilatildeo de boa quali-dade aumentaraacute a percepccedilatildeo do puacuteblico sobre a relevacircncia e importacircncia da pesquisa cientiacutefica Eacute minha convicccedilatildeo que esta iniciativa deve continuar e ser expandida para tornar-se o Pro-grama de Divulgaccedilatildeo Cientiacutefica da UFSC

CIEcircNCIA SEMCOMPLICACcedilAtildeOJamil Assreuy

Opiniatildeo

Doutor em Ciecircncias Bioloacutegicas (Biofiacutesica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Fez o poacutes-doutorado no Wellcome Research Labs UK Atualmente eacute Professor Associado do Departamento de Farmacologia e Proacute-Reitor de Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina

12

MISSAtildeO

ESPACIALDaniela Caniccedilali

Equipe da UFSC desenvolve sateacutelite que seraacute lanccedilado em 2016

Engenharias

UFSC Ciecircncia

Um cubo com 10 cm de aresta pesando aproximadamente um quilo constituiacutedo de computador de bordo paineacuteis solares bateria e carga uacutetil (dispositivos que exercem funccedilotildees preestabelecidas como fotografar medir a tem-

peratura etc) Essas satildeo as caracteriacutesticas do nanossateacutelite do tipo cubesat que estaacute sendo desenvolvido desde 2012 no proje-to Floripa Sat uma iniciativa de pesquisadores e alunos de dife-rentes cursos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) A previsatildeo de lanccedilamento eacute dezembro de 2016

O Floripa Sat surgiu de forma independente inspirado em ou-tros projetos experimentais do Centro Tecnoloacutegico (CTC) mdash como o BAJA SAE do curso de Engenharia Mecacircnica que se destina a produzir protoacutetipos de veiacuteculos automotivos off-road ldquoExiste aqui na UFSC o BAJA o barco eleacutetrico o carro eleacutetrico Satildeo vaacuterios projetos Pensamos entatildeo em propor o desenvolvimento de um sateacutelite para que os alunos se interessassem e se motivassem tambeacutem pela aacuterea aeroespacialrdquo explica o professor Eduardo Bezerra do Departamento de Engenharia Eleacutetrica e um dos coor-denadores do projeto Outro coordenador professor Kleber Viei-ra de Paiva do curso de Engenharia Aeroespacial (Campus Join-ville) reforccedila que o principal objetivo do projeto eacute educativo ldquoO aluno tem a oportunidade de participar de uma missatildeo espacial completardquo Ao mesmo tempo em que passou a contribuir para a formaccedilatildeo dos estudantes o Floripa Sat tambeacutem deu visibilidade agrave aacuterea aeroespacial ainda recente nas universidades brasileiras O curso da UFSC foi criado em 2009 e eacute uma das uacutenicas seis gra-duaccedilotildees em Engenharia Aeroespacial em todo o paiacutes

Ateacute chegar a sua ldquoversatildeo finalrdquo e ser lanccedilado o sateacutelite passa pelas seguintes etapas anaacutelise de requisitos projeto desen-volvimento integraccedilatildeo e testes Na etapa de levantamento de requisitos satildeo definidas desde as faixas de temperatura que o sateacutelite deve aguentar a velocidade de comunicaccedilatildeo com a Ter-ra ateacute as funccedilotildees que iraacute executar Na etapa de projeto satildeo de-senvolvidas as placas mdash com microprocessadores que mantecircm o sateacutelite em funcionamento mdash um dos diferenciais do Floripa Sat

Enquanto outras universidades utilizam placas prontas na UFSC elas estatildeo sendo desenvolvidas pelos proacuteprios alunos ldquoNoacutes ad-quirimos uma placa da empresa que fabrica um dos melhores modelos de cubesat Mas essa placa vai servir apenas como mo-delo de referecircncia Nosso interesse eacute o desenvolvimento cientiacute-fico poder estudar os circuitos e talvez ateacute desenvolver placas mais eficientesrdquo explica Eduardo

Na etapa de integraccedilatildeo os diversos subsistemas do cubesat satildeo colocados para funcionar em conjunto passando-se entatildeo agrave fase de testes quando o sateacutelite como um todo eacute submetido a um ambiente de voo Apoacutes ser aprovado nos testes chega entatildeo o momento mais esperado a integraccedilatildeo ao veiacuteculo lanccedilador e o lanccedilamento do sateacutelite ldquoA sensaccedilatildeo de colocar um sateacutelite em oacuterbita eacute de muita satisfaccedilatildeo de dever cumprido Eacute algo que deve ser planejado com cuidado pois se qualquer coisa der errado o objetivo final que eacute estabelecer a comunicaccedilatildeo do sateacutelite com a Terra pode natildeo ser atingidordquo explica Kleber O doutoran-do Leonardo Slongo pesquisador do projeto tambeacutem descreve essa etapa como a que gera mais expectativa ldquoSatildeo realizados vaacuterios testes mas ainda assim existe muita apreensatildeo sobre-tudo nos primeiros minutos do lanccedilamentordquo Kleber acrescenta ldquoVocecirc natildeo tem uma segunda chancerdquo

Se a missatildeo for bem-sucedida chega a fase de monitorar as ati-vidades do sateacutelite coletar dados e com essas informaccedilotildees di-vulgar os resultados do trabalho por intermeacutedio de publicaccedilotildees e patentes ldquoO trabalho natildeo acaba no lanccedilamento ele continua Enquanto estiver em oacuterbita os alunos vatildeo estar envolvidos na comunicaccedilatildeo com o sateacuteliterdquo explica Kleber O Floripa Sat seraacute transportado como carga de um sateacutelite de maior porte o Uni-sat-7 (da empresa GAUSS) que por sua vez seraacute acoplado ao foguete Dnepr com data de lanccedilamento prevista para dezem-bro de 2016 na Ruacutessia A integraccedilatildeo final seraacute realizada na Itaacutelia com o acompanhamento de dois membros da equipe da UFSC prioritariamente estudantes

CUBESATO cubesat mdash abreviaccedilatildeo das palavras em inglecircs ldquocuberdquo (cubo) e ldquosatrdquo (sateacutelite) mdash caracteriza-se por sua estrutura simplificada e custo reduzido enquanto para o seu lanccedilamento satildeo gastos aproximadamente 100 mil doacutelares para o de um sateacutelite convencional os custos chegam a 250 milhotildees Os sateacutelites de pequeno porte conhecidos como nanossateacutelites tambeacutem se distinguem pelo alto valor agregado ldquoOs componentes que precisamos adqui-rir para desenvolver uma placa custam cerca de 100 doacutelares Quando fica pronta ela pode ser vendida por 15 mil doacutelaresrdquo afirma o professor Eduardo

O padratildeo cubesat foi desenvolvido em 1999 no contexto da tendecircncia dos nanossateacutelites com o intuito de fomentar a pesquisa universitaacuteria na aacuterea de Engenharia Aeroespacial Seus idealizadores Jordi Puig-Suari e Bob Twi-ggs professores das universidades norte-americanas California Polytechnic State University e Stanford University tinham o propoacutesito de proporcionar aos estudantes de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo a possibilidade de projetar construir testar e operar um sateacutelite semelhante ao Sputnik Os dois pesquisa-dores estaratildeo em Florianoacutepolis no primeiro semestre de 2016 para o evento ldquoII Latin America IAA CubeSat Workshoprdquo organizado pela equipe do pro-jeto Floripa Sat

13

14

Engenharias

PROJETO SERPENSOutro projeto que tem a participaccedilatildeo da UFSC em parceria com outras universidades eacute o Sistema Espacial para a Realizaccedilatildeo de Pesquisas e Experimentos com Nanossateacutelites (Serpens) Coor-denado pela Agecircncia Espacial Brasileira (AEB) como uma ativi-dade do programa Uniespaccedilo o Serpens foi criado em dezembro de 2013 com o objetivo de qualificar a pesquisa acadecircmica na aacuterea Ao longo dos anos estudantes dos cursos de Engenha-ria Aeroespacial do paiacutes teratildeo a oportunidade de aplicar a teo-ria na praacutetica participando do desenvolvimento e lanccedilamento de cubesats O primeiro o Serpens I foi lanccedilado em agosto de 2015 rumo agrave Estaccedilatildeo Espacial Internacional (ISS) e colocado em oacuterbita no dia 17 de setembro Aleacutem da UFSC quatro instituiccedilotildees brasileiras participam do projeto Serpens Universidade de Bra-siacutelia (UnB) Universidade Federal do ABC (UFABC) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Instituto Federal Fluminense (IFF) Em cada missatildeo uma equipe fica responsaacutevel por liderar o projeto o Serpens I foi liderado pela UnB o Serpens II mdash que jaacute estaacute em desenvolvimento com previsatildeo de lanccedilamento para de-zembro de 2017 mdash estaacute sendo coordenado pela equipe da UFSC

EQUIPEAtualmente integram o Floripa Sat dez professores e trinta alu-nos da graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Engenharia Aeroespacial Engenharia Eleacutetrica Engenharia Eletrocircnica Engenharia Mecacircni-ca Ciecircncia da Computaccedilatildeo e Engenharia de Controle e Automa-ccedilatildeo Aleacutem do projeto Floripa Sat e do Serpens membros da equi-pe jaacute participaram de outras missotildees aeroespaciais Em 2006 quando ainda era estudante de mestrado da UFSC o professor Kleber teve participaccedilatildeo na missatildeo do astronauta brasileiro Mar-cos Pontes como responsaacutevel por um dos experimentos utiliza-do pelo astronauta no ambiente de microgravidade da Estaccedilatildeo Espacial Internacional O doutorando Leonardo Slongo partici-pou junto com Kleber de projetos do Programa Microgravidade da AEB e acompanhou no Centro de Lanccedilamento de Alcacircntara (CLA) no Maranhatildeo o lanccedilamento de foguetes que executaram diferentes experimentos O professor Eduardo Bezerra atua haacute mais de dez anos no projeto e desenvolvimento de sistemas computacionais embarcados para os sateacutelites de grande porte do Programa Espacial Brasileiro

LINHA DO TEMPO

2015

2012

2013

2014

2016

Consolidaccedilatildeo do Floripa Sat como projeto de pesquisa

Levantamento dos requisitos desenvolvimento das primeiras versotildees do Floripa Sat

Definiccedilatildeo dos requisitos da versatildeo a ser lanccedilada organizaccedilatildeo do projeto desenvolvimentotestes do protoacutetipo

Fabricaccedilatildeo do protoacutetipo projeto desenvolvimento do modelo de engenharia e do modelo de voo fabricaccedilatildeo testes

Integraccedilatildeo e testes do modelo de voo testes mecacircnicos e teacutermicos lanccedilamento

Etapas de desenvolvimento do projeto Floripasat

Font

e E

duar

do B

ezer

ra

Kleb

er V

ieira

de

Paiv

aDe

sign

Airt

on J

orda

ni

Text

o D

anie

la C

aniccedil

ali

15

Contribuindo para a difusatildeo do conhecimento a Editora da UFSC (EdUFSC) oferece na forma digital livros de seu acervo impresso acessiacuteveis para leitura gratuita on-line Conheccedila alguns deles

ACERVO DIGITAL EDITORA DA UFSC

EdUFSC

Filosofia da Tecnologia um convite Alberto Cupani

httplufscbrfilosofiatecnologia

O fantaacutestico na Ilha de Santa Catarina

Franklin Cascaes httplufscbrfantasticonailha

Gesto palavra e memoacuteria Luciana Hartmann

httplufscbrgestopalavra

Arquitetura da Cidade Contemporacircnea Gilceacuteia Pesce do Amaral e Silva Lisete Assen de Oliveira (Orgs) httplufscbrarquiteturacidade

Algaravia discursos de naccedilatildeo Rauacutel Antelo

httplufscbralgaravia

Tecnologia de Fabricaccedilatildeo de Revestimentos Ceracircmicos

Antonio P N de Oliveira e Dachamir Hotza httplufscbrrevestimentos

16

Linguiacutestica e Literatura

A ARTE E O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEAREDaniela Caniccedilali

Em 1990 um grupo de cerca de dez pesquisadores se reuacutene em torno de um interesse em comum o dramaturgo inglecircs William Shakespeare Em 1991 nasce em Belo Horizonte (MG) o Centro de Estudos Shakespeareanos (CESh) Entre

aqueles que participaram da fundaccedilatildeo da entidade estava Joseacute Roberto OrsquoShea que acabava de se tornar professor do Depar-tamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras (DLLE) da Universi-dade Federal de Santa Catarina (UFSC) No CESh OrsquoShea foi de-signado para iniciar os projetos de traduccedilatildeo ldquoO grupo entendeu que eram necessaacuterias novas traduccedilotildees Como os padrotildees de fala se modificam mesmo o teatro supostamente claacutessico que eacute o caso de Shakespeare tende a ficar datadordquo explica Segundo o pesquisador as traduccedilotildees que circulavam ateacute o final da deacutecada de 1980 estavam desatualizadas em termos de leacutexico estruturas frasais e referecircncias culturais Estavam portanto distantes do puacuteblico leitor e espectador

Antocircnio e Cleoacutepatra foi a primeira das oito obras do dramatur-go inglecircs que OrsquoShea traduziu desde entatildeo ldquoDecidimos co-meccedilar pelas menos encenadas e menos conhecidas mas que satildeo tambeacutem peccedilas extraordinaacuteriasrdquo Seu trabalho se realiza no acircmbito do projeto de pesquisa ldquoTraduccedilotildees anotadas da drama-turgia shakespearianardquo que tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) e estaacute em atividade ininterrupta haacute 23 anos OrsquoShea eacute o uacutenico tradutor de Shakespeare no Brasil cuja atividade estaacute vinculada a programas de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu O professor tambeacutem traduziu aleacutem das obras de Shakespeare obras sobre Shakespeare De Harold Bloom reconhecido criacutetico literaacuterio de liacutengua inglesa tra-duziu entre outros tiacutetulos Shakespeare a invenccedilatildeo do humano com cerca de 900 paacuteginas

OrsquoShea afirma evitar qualquer relaccedilatildeo de reverecircncia ou mitifica-ccedilatildeo ldquoTento natildeo entrar nessa senatildeo fico paralisado Mas sem sombra de duacutevida como outros grandes autores Shakespeare tem percepccedilotildees graviacutessimas sobre a natureza humanardquo O pro-

fessor explica que uma das preocupaccedilotildees baacutesicas do autor eacute explicitar que a viagem do crescimento do ser humano parte de uma situaccedilatildeo de relativa cegueira autoengano ignoracircncia com relaccedilatildeo a si mesmo e agrave realidade que o cerca e segue na direccedilatildeo do autoconhecimento da percepccedilatildeo de sua relativa importacircn-cia ldquoEssa eacute uma sacaccedilatildeo muito granderdquo Outros temas recor-rentes satildeo o amor romacircntico ndash ldquoquase sempre morre o amor ou morrem os amantesrdquo ndash e a poliacutetica a exposiccedilatildeo do mau gover-nante ndash ldquoaquele que soacute visa ao seu bem proacuteprio e ao de alguns que o cercamrdquo

O TRADUTORA formaccedilatildeo do tradutor demanda muita leitura e escrita ldquoLer e escrever satildeo atividades indissociaacuteveis Eacute preciso ter bastante co-nhecimento da liacutengua de partida e imensuraacutevel conhecimento da liacutengua de chegada Aiacute o ceacuteu eacute o limiterdquo OrsquoShea reforccedila seus argumentos citando o poeta chileno Nicanor Parra ldquoPara tradu-cir Shakespeare y comer pescado cuidado poco se gana con saber ingleacutesrdquo Conhecer a liacutengua e a cultura de chegada portan-to eacute o que permite ao tradutor escrever com fluidez fazendo o texto ldquofuncionarrdquo em seu contexto

O professor lembra que ldquoum tradutor eacute um escritorrdquo apesar de nem sempre ser assim reconhecido ldquoNos uacuteltimos 30 anos o tra-dutor estaacute se tornando mais conhecido mais visiacutevel mais res-peitado Mas ainda haacute um caminho longo a ser trilhadordquo OrsquoShea faz referecircncia agraves criacuteticas literaacuterias ldquoAgraves vezes o criacutetico diz lsquoO au-tor tem um belo estilorsquo Mas o autor natildeo escreveu uma daque-las palavras sequer Nenhuma Todas as palavras que o criacutetico leu foram escritas pelo tradutor Ele elogia o estilo a fluecircncia a linguagem e nem menciona o tradutor como se aquela obra tivesse sido escrita em liacutengua portuguesa Essa eacute a famosa invi-sibilidade do tradutorrdquo

17

UFSC Ciecircncia

TRAJETOacuteRIA ACADEcircMICAComo estudante OrsquoShea nunca frequentou uma universidade brasileira cursou a graduaccedilatildeo o mestrado e o doutorado em di-ferentes instituiccedilotildees dos Estados Unidos (EUA) Seus quatro poacutes--doutorados tambeacutem foram no exterior trecircs deles na Inglaterra e um nos EUA Shakespeare foi o eixo central da pesquisa que desenvolveu na UFSC de 1990 a 2015 Nesse periacuteodo orientou 46 trabalhos entre estaacutegios de poacutes-doutorado teses de dou-torado dissertaccedilotildees de mestrado monografias e trabalhos de conclusatildeo de curso (TCC) ndash a maioria abordou diversos aspec-tos da obra de Shakespeare OrsquoShea se aposentou em marccedilo de 2015 mas segue como professor colaborador dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Inglecircs (PPGI) e em Estudos da Traduccedilatildeo (PPGET) Orienta atualmente dois estudantes de mestrado cin-co de doutorado e um de poacutes-doutorado ldquoOs 25 anos que passei na UFSC natildeo gostaria de ter passado em nenhuma outra univer-sidade do mundo Fiz quatro poacutes-docs dei aula como convida-do em universidades no Brasil e no exterior sempre tive apoio para fazer pesquisa apresentar trabalhos em eventos nacionais e internacionais Natildeo substituiria minha experiecircncia aqui por nenhuma outrardquo

Precircmio JabutiOrsquoShea recebeu uma menccedilatildeo honrosa no Precircmio Jabuti em 2003 pela traduccedilatildeo de Cimbeline rei da Britacircnia Em 2008 sua traduccedilatildeo de O conto do inverno ficou entre as dez finalistas do precircmio na categoria Traduccedilatildeo Literaacuteria

Conheccedila um pouco do trabalho de Joseacute Roberto OrsquoShea por meio

de sua primeira traduccedilatildeo de Shakespeare Antocircnio e Cleoacutepatra

disponiacutevel para leitura gratuita on-line

18

A TRADUCcedilAtildeOShakespeare eacute frequentemente traduzido em prosa A traduccedilatildeo em versos metrificados eacute um dos diferenciais do trabalho de OrsquoShea Somam-se a isso a linguagem atualizada e a inclusatildeo de anotaccedilotildees comentaacuterios paratexto e bibliografia seleciona-da Em todas as obras que publicou haacute um ensaio introdutoacuterio e notas explicativas cobrindo questotildees de texto contexto e en-cenaccedilatildeo Em Antocircnio e Cleoacutepatra por exemplo haacute 365 notas Por isso o resultado final vai aleacutem da traduccedilatildeo em si ldquoEu gosto de pensar que minhas traduccedilotildees volume a volume satildeo ediccedilotildees criacuteticas daquele textordquo

Seu meacutetodo de trabalho se inicia com a escolha do texto base ldquoPara Antocircnio e Cleoacutepatra analisei cinco ediccedilotildees integrais da peccedila todas anotadas e publicadas nos uacuteltimos 50 anos Oxford Cambridge Riverside Penguin Arden Satildeo excelentes ediccedilotildees Mas escolhi a Arden porque a meu ver eacute a que estaacute mais bem resolvida textualmenterdquo Segundo o professor natildeo eacute comum os tradutores terem o cuidado de confrontar a ediccedilatildeo que escolhe-ram com outras cinco ou seis verso a verso como ele faz ldquoCom todo o respeito muitas traduccedilotildees carecem de pesquisa O tradu-tor elege uma boa ediccedilatildeo moderna e se ateacutem agraves anotaccedilotildees e agraves soluccedilotildees textuais dessa uacutenica ediccedilatildeordquo

Uma das principais diferenccedilas entre a traduccedilatildeo em verso e em prosa eacute a questatildeo do espaccedilo ldquoNa prosa se precisar de dez pala-vras para descrever um objeto posso dispor de dez palavras Na poesia metrificada natildeo Trabalho com decassiacutelabos e muitas vezes minha melhor opccedilatildeo semacircntica tem quatro ou cinco siacutela-bas mas natildeo posso usaacute-la Tenho que me contentar com minha segunda terceira melhor opccedilatildeo semacircntica pois natildeo tenho es-paccedilo para escrever por exemplo em-be-ve-ci-men-tordquo OrsquoShea explica que pode haver perdas semacircnticas mas haacute ganhos esteacute-ticos ldquoNatildeo posso ser prolixo natildeo tenho espaccedilo para explicar o texto tenho que ser parcimonioso Afinal trata-se de poesia e poesia eacute sugestiva eacute eliacuteptica ela nos permite imaginarrdquo

Outro desafio na traduccedilatildeo em verso eacute a rima ldquoAs rimas visuais graficamente oacutebvias satildeo mais faacuteceis de traduzir Mas haacute rimas que natildeo repetem padrotildees graacuteficos Vocecirc natildeo vecirc vocecirc ouve Eacute preciso esquecer um pouco a questatildeo graacutefica e ir para o som com flexibilidade pois muitas vezes haacute vaacuterias possibilidades de pronuacutencia Home e come por exemplo podem rimar depende da pronuacutencia do poeta Eu trabalho com dicionaacuterios de rimas natildeo tenho escruacutepulos em dizer issordquo O professor afirma ldquonatildeo ter escruacutepulosrdquo pois haacute certo preconceito entre tradutores quanto ao seu uso Ele conta o que lhe ocorreu em um congresso em Li-verpool ldquoEu falava sobre minhas traduccedilotildees sobre poesia rima-da quando um colega de Oxford perguntou como eu trabalha-va Eu disse lsquoTrabalho com um dicionaacuterio de rimas Aliaacutes com mais de umrsquo Ele riu como quem diz lsquocadecirc o ouvido de poetarsquo Mas em um dos meus dicionaacuterios haacute na capa a citaccedilatildeo lsquo() a salvaccedilatildeo da lavoura poeacuteticarsquo Carlos Drummond de Andrade ldquoSe Drummond diz isso acho que estou liberadordquo argumenta com humor

O professor tambeacutem aponta a importacircncia de identificar as pala-vras que sofreram inversatildeo semacircntica ldquoOs vocaacutebulos que a gen-te natildeo conhece natildeo satildeo um problema Existe pelo menos uma duacutezia de dicionaacuterios que cobrem todo o leacutexico shakespeariano O problema satildeo as palavras que parecem corriqueiras que ain-da satildeo utilizadas mas que sofreram inversatildeo semacircntica hoje significam o oposto do que significavam na primeira deacutecada do seacuteculo XVII Satildeo inuacutemeras dessas palavras Essas eacute que satildeo pe-rigosas podem ser armadilhas para o tradutor Merely que hoje eacute lsquomeramentersquo antes era lsquototalmentersquo Fellow que significa lsquoca-maradarsquo na eacutepoca significava lsquomarginalrsquo lsquocriminosorsquo Rival que hoje significa lsquorivalrsquo na eacutepoca significava lsquoparceirorsquo Identificar isso eacute um desafio vocecirc tem que pesquisar muitordquo OrsquoShea acres-centa que tambeacutem eacute importante ter o maacuteximo de empatia pos-siacutevel com cada personagem ldquoVocecirc natildeo pode tomar partido tem que tentar fazer o melhor possiacutevel a partir do personagem que estaacute falando naquele momento Eacute o que alguns autores chamam de lsquodefender o personagemrsquo O tradutor tambeacutem deve defender o personagemrdquo

Traduccedilotildees Editora Ano

Antocircnio e Cleoacutepatra MandarimSiciliano 1997

Cimbeline rei da Britacircnia Iluminuras 2002

O conto do inverno Iluminuras 2007

Peacutericles priacutencipe de Tiro Iluminuras 2012

O primeiro Hamlet In-Quarto de 1603 Hedra 2013

Os dois primos nobres Iluminuras 2016

Troacuteilo e Creacutessida Editora 34 2016

Timon de Atenas (em progresso)

Linguiacutestica e Literatura

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 12: MISSÃO ESPACIAL

11

Como mostrar o que eacute pesquisa a ciecircncia como ela eacute feita quais benefiacutecios ela traz para as pessoas Parece faacutecil mas natildeo eacute Explicar temas agraves vezes complicados de forma que as pessoas entendam - sem cair no sensacionalismo

barato de tabloides e programas pseudocientiacuteficos ndash eacute muito mais difiacutecil do que parece

As pessoas se interessam por ciecircncia A resposta eacute um grande sim Resultado de uma pesquisa feita em 2015 sobre a percep-ccedilatildeo puacuteblica de ciecircncia e tecnologia no Brasil mostrou alguns re-sultados surpreendentes Por exemplo as pessoas acham que ciecircncia eacute uma atividade muito importante e essencial para aju-dar a resolver problemas do paiacutes e do mundo Trecircs quartos dos entrevistados acreditam que a ciecircncia traz mais benefiacutecios que malefiacutecios e mais da metade acredita que cientistas fazem coi-sas uacuteteis agrave humanidade entretanto 90 dos entrevistados natildeo conseguem se lembrar de uma instituiccedilatildeo cientiacutefica ou nome de um cientista brasileiro famoso

O que falta entatildeo Maior oferta de informaccedilatildeo cientiacutefica de qua-lidade Embora uma parcela significativa das pessoas acredite que a internet televisatildeo e jornais divulgam de forma satisfatoacute-ria descobertas cientiacuteficas o problema eacute a quantidade dessas informaccedilotildees que alcanccedila esses meios E infelizmente natildeo po-demos ignorar que muitas destas informaccedilotildees principalmente as veiculadas na internet tecircm qualidade no miacutenimo duvidosa

E quem melhor qualificado para transmitir estas informaccedilotildees que os proacuteprios pesquisadores Aiacute temos outro problema A maioria dos pesquisadores natildeo tem treinamento para transmitir a men-sagem em linguagem que as pessoas entendam Isso nos leva imediatamente agrave necessidade imperiosa de junccedilatildeo de esforccedilos entre pessoas que sabem transmitir a informaccedilatildeo (jornalistas por exemplo) e aquelas que tecircm as informaccedilotildees (pesquisadores e cientistas)

Aiacute entra o jornalismo cientiacutefico e a divulgaccedilatildeo cientiacutefica Infeliz-mente nosso paiacutes natildeo estaacute entre os que fazem boa divulgaccedilatildeo cientiacutefica ndash e natildeo eacute por falta de boa ciecircncia Temos centenas de exemplos de grupos de pesquisa em universidades laboratoacuterios oficiais e empresas que estatildeo trabalhando na fronteira do co-nhecimento em pesquisas de classe mundial Porque isso acon-tece A resposta eacute difiacutecil e pode ter inuacutemeras variaacuteveis Poucos satildeo os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo cientiacutefica permanentes no Brasil E poucos satildeo os jornalistas especializados em divulgaccedilatildeo cien-tiacutefica Em alguns paiacuteses haacute jornalistas e setores de divulgaccedilatildeo de instituiccedilotildees e universidades especializados em levar para o puacuteblico o que acontece em pesquisa nos seus laboratoacuterios Aleacutem de elevar a compreensatildeo do puacuteblico em geral sobre os avanccedilos da ciecircncia essa eacute uma forma importante de prestaccedilatildeo de contas do dinheiro aplicado em ciecircncia e pesquisa

Tamanha eacute a importacircncia atribuiacuteda agrave divulgaccedilatildeo cientiacutefica que o curriacuteculo Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-tiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) agora tem uma aba especiacutefica para que sejam cadastradas as atividades de divulgaccedilatildeo cientiacutefica

Nesse sentido a UFSC deu uma modesta mas significativa con-tribuiccedilatildeo A Propesq manteacutem desde 2014 uma equipe de jo-vens estudantes de jornalismo orientados por profissionais que produziram uma seacuterie de mateacuterias sobre a pesquisa que se faz na UFSC ndash algumas inclusive tendo sido veiculadas pela grande imprensa ndash o que possibilitou levar o conhecimento produzido na Universidade para um nuacutemero ainda maior de pessoas

Este eacute um bom comeccedilo para uma atividade que deve ter caraacuteter permanente A oferta de material de divulgaccedilatildeo de boa quali-dade aumentaraacute a percepccedilatildeo do puacuteblico sobre a relevacircncia e importacircncia da pesquisa cientiacutefica Eacute minha convicccedilatildeo que esta iniciativa deve continuar e ser expandida para tornar-se o Pro-grama de Divulgaccedilatildeo Cientiacutefica da UFSC

CIEcircNCIA SEMCOMPLICACcedilAtildeOJamil Assreuy

Opiniatildeo

Doutor em Ciecircncias Bioloacutegicas (Biofiacutesica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Fez o poacutes-doutorado no Wellcome Research Labs UK Atualmente eacute Professor Associado do Departamento de Farmacologia e Proacute-Reitor de Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina

12

MISSAtildeO

ESPACIALDaniela Caniccedilali

Equipe da UFSC desenvolve sateacutelite que seraacute lanccedilado em 2016

Engenharias

UFSC Ciecircncia

Um cubo com 10 cm de aresta pesando aproximadamente um quilo constituiacutedo de computador de bordo paineacuteis solares bateria e carga uacutetil (dispositivos que exercem funccedilotildees preestabelecidas como fotografar medir a tem-

peratura etc) Essas satildeo as caracteriacutesticas do nanossateacutelite do tipo cubesat que estaacute sendo desenvolvido desde 2012 no proje-to Floripa Sat uma iniciativa de pesquisadores e alunos de dife-rentes cursos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) A previsatildeo de lanccedilamento eacute dezembro de 2016

O Floripa Sat surgiu de forma independente inspirado em ou-tros projetos experimentais do Centro Tecnoloacutegico (CTC) mdash como o BAJA SAE do curso de Engenharia Mecacircnica que se destina a produzir protoacutetipos de veiacuteculos automotivos off-road ldquoExiste aqui na UFSC o BAJA o barco eleacutetrico o carro eleacutetrico Satildeo vaacuterios projetos Pensamos entatildeo em propor o desenvolvimento de um sateacutelite para que os alunos se interessassem e se motivassem tambeacutem pela aacuterea aeroespacialrdquo explica o professor Eduardo Bezerra do Departamento de Engenharia Eleacutetrica e um dos coor-denadores do projeto Outro coordenador professor Kleber Viei-ra de Paiva do curso de Engenharia Aeroespacial (Campus Join-ville) reforccedila que o principal objetivo do projeto eacute educativo ldquoO aluno tem a oportunidade de participar de uma missatildeo espacial completardquo Ao mesmo tempo em que passou a contribuir para a formaccedilatildeo dos estudantes o Floripa Sat tambeacutem deu visibilidade agrave aacuterea aeroespacial ainda recente nas universidades brasileiras O curso da UFSC foi criado em 2009 e eacute uma das uacutenicas seis gra-duaccedilotildees em Engenharia Aeroespacial em todo o paiacutes

Ateacute chegar a sua ldquoversatildeo finalrdquo e ser lanccedilado o sateacutelite passa pelas seguintes etapas anaacutelise de requisitos projeto desen-volvimento integraccedilatildeo e testes Na etapa de levantamento de requisitos satildeo definidas desde as faixas de temperatura que o sateacutelite deve aguentar a velocidade de comunicaccedilatildeo com a Ter-ra ateacute as funccedilotildees que iraacute executar Na etapa de projeto satildeo de-senvolvidas as placas mdash com microprocessadores que mantecircm o sateacutelite em funcionamento mdash um dos diferenciais do Floripa Sat

Enquanto outras universidades utilizam placas prontas na UFSC elas estatildeo sendo desenvolvidas pelos proacuteprios alunos ldquoNoacutes ad-quirimos uma placa da empresa que fabrica um dos melhores modelos de cubesat Mas essa placa vai servir apenas como mo-delo de referecircncia Nosso interesse eacute o desenvolvimento cientiacute-fico poder estudar os circuitos e talvez ateacute desenvolver placas mais eficientesrdquo explica Eduardo

Na etapa de integraccedilatildeo os diversos subsistemas do cubesat satildeo colocados para funcionar em conjunto passando-se entatildeo agrave fase de testes quando o sateacutelite como um todo eacute submetido a um ambiente de voo Apoacutes ser aprovado nos testes chega entatildeo o momento mais esperado a integraccedilatildeo ao veiacuteculo lanccedilador e o lanccedilamento do sateacutelite ldquoA sensaccedilatildeo de colocar um sateacutelite em oacuterbita eacute de muita satisfaccedilatildeo de dever cumprido Eacute algo que deve ser planejado com cuidado pois se qualquer coisa der errado o objetivo final que eacute estabelecer a comunicaccedilatildeo do sateacutelite com a Terra pode natildeo ser atingidordquo explica Kleber O doutoran-do Leonardo Slongo pesquisador do projeto tambeacutem descreve essa etapa como a que gera mais expectativa ldquoSatildeo realizados vaacuterios testes mas ainda assim existe muita apreensatildeo sobre-tudo nos primeiros minutos do lanccedilamentordquo Kleber acrescenta ldquoVocecirc natildeo tem uma segunda chancerdquo

Se a missatildeo for bem-sucedida chega a fase de monitorar as ati-vidades do sateacutelite coletar dados e com essas informaccedilotildees di-vulgar os resultados do trabalho por intermeacutedio de publicaccedilotildees e patentes ldquoO trabalho natildeo acaba no lanccedilamento ele continua Enquanto estiver em oacuterbita os alunos vatildeo estar envolvidos na comunicaccedilatildeo com o sateacuteliterdquo explica Kleber O Floripa Sat seraacute transportado como carga de um sateacutelite de maior porte o Uni-sat-7 (da empresa GAUSS) que por sua vez seraacute acoplado ao foguete Dnepr com data de lanccedilamento prevista para dezem-bro de 2016 na Ruacutessia A integraccedilatildeo final seraacute realizada na Itaacutelia com o acompanhamento de dois membros da equipe da UFSC prioritariamente estudantes

CUBESATO cubesat mdash abreviaccedilatildeo das palavras em inglecircs ldquocuberdquo (cubo) e ldquosatrdquo (sateacutelite) mdash caracteriza-se por sua estrutura simplificada e custo reduzido enquanto para o seu lanccedilamento satildeo gastos aproximadamente 100 mil doacutelares para o de um sateacutelite convencional os custos chegam a 250 milhotildees Os sateacutelites de pequeno porte conhecidos como nanossateacutelites tambeacutem se distinguem pelo alto valor agregado ldquoOs componentes que precisamos adqui-rir para desenvolver uma placa custam cerca de 100 doacutelares Quando fica pronta ela pode ser vendida por 15 mil doacutelaresrdquo afirma o professor Eduardo

O padratildeo cubesat foi desenvolvido em 1999 no contexto da tendecircncia dos nanossateacutelites com o intuito de fomentar a pesquisa universitaacuteria na aacuterea de Engenharia Aeroespacial Seus idealizadores Jordi Puig-Suari e Bob Twi-ggs professores das universidades norte-americanas California Polytechnic State University e Stanford University tinham o propoacutesito de proporcionar aos estudantes de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo a possibilidade de projetar construir testar e operar um sateacutelite semelhante ao Sputnik Os dois pesquisa-dores estaratildeo em Florianoacutepolis no primeiro semestre de 2016 para o evento ldquoII Latin America IAA CubeSat Workshoprdquo organizado pela equipe do pro-jeto Floripa Sat

13

14

Engenharias

PROJETO SERPENSOutro projeto que tem a participaccedilatildeo da UFSC em parceria com outras universidades eacute o Sistema Espacial para a Realizaccedilatildeo de Pesquisas e Experimentos com Nanossateacutelites (Serpens) Coor-denado pela Agecircncia Espacial Brasileira (AEB) como uma ativi-dade do programa Uniespaccedilo o Serpens foi criado em dezembro de 2013 com o objetivo de qualificar a pesquisa acadecircmica na aacuterea Ao longo dos anos estudantes dos cursos de Engenha-ria Aeroespacial do paiacutes teratildeo a oportunidade de aplicar a teo-ria na praacutetica participando do desenvolvimento e lanccedilamento de cubesats O primeiro o Serpens I foi lanccedilado em agosto de 2015 rumo agrave Estaccedilatildeo Espacial Internacional (ISS) e colocado em oacuterbita no dia 17 de setembro Aleacutem da UFSC quatro instituiccedilotildees brasileiras participam do projeto Serpens Universidade de Bra-siacutelia (UnB) Universidade Federal do ABC (UFABC) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Instituto Federal Fluminense (IFF) Em cada missatildeo uma equipe fica responsaacutevel por liderar o projeto o Serpens I foi liderado pela UnB o Serpens II mdash que jaacute estaacute em desenvolvimento com previsatildeo de lanccedilamento para de-zembro de 2017 mdash estaacute sendo coordenado pela equipe da UFSC

EQUIPEAtualmente integram o Floripa Sat dez professores e trinta alu-nos da graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Engenharia Aeroespacial Engenharia Eleacutetrica Engenharia Eletrocircnica Engenharia Mecacircni-ca Ciecircncia da Computaccedilatildeo e Engenharia de Controle e Automa-ccedilatildeo Aleacutem do projeto Floripa Sat e do Serpens membros da equi-pe jaacute participaram de outras missotildees aeroespaciais Em 2006 quando ainda era estudante de mestrado da UFSC o professor Kleber teve participaccedilatildeo na missatildeo do astronauta brasileiro Mar-cos Pontes como responsaacutevel por um dos experimentos utiliza-do pelo astronauta no ambiente de microgravidade da Estaccedilatildeo Espacial Internacional O doutorando Leonardo Slongo partici-pou junto com Kleber de projetos do Programa Microgravidade da AEB e acompanhou no Centro de Lanccedilamento de Alcacircntara (CLA) no Maranhatildeo o lanccedilamento de foguetes que executaram diferentes experimentos O professor Eduardo Bezerra atua haacute mais de dez anos no projeto e desenvolvimento de sistemas computacionais embarcados para os sateacutelites de grande porte do Programa Espacial Brasileiro

LINHA DO TEMPO

2015

2012

2013

2014

2016

Consolidaccedilatildeo do Floripa Sat como projeto de pesquisa

Levantamento dos requisitos desenvolvimento das primeiras versotildees do Floripa Sat

Definiccedilatildeo dos requisitos da versatildeo a ser lanccedilada organizaccedilatildeo do projeto desenvolvimentotestes do protoacutetipo

Fabricaccedilatildeo do protoacutetipo projeto desenvolvimento do modelo de engenharia e do modelo de voo fabricaccedilatildeo testes

Integraccedilatildeo e testes do modelo de voo testes mecacircnicos e teacutermicos lanccedilamento

Etapas de desenvolvimento do projeto Floripasat

Font

e E

duar

do B

ezer

ra

Kleb

er V

ieira

de

Paiv

aDe

sign

Airt

on J

orda

ni

Text

o D

anie

la C

aniccedil

ali

15

Contribuindo para a difusatildeo do conhecimento a Editora da UFSC (EdUFSC) oferece na forma digital livros de seu acervo impresso acessiacuteveis para leitura gratuita on-line Conheccedila alguns deles

ACERVO DIGITAL EDITORA DA UFSC

EdUFSC

Filosofia da Tecnologia um convite Alberto Cupani

httplufscbrfilosofiatecnologia

O fantaacutestico na Ilha de Santa Catarina

Franklin Cascaes httplufscbrfantasticonailha

Gesto palavra e memoacuteria Luciana Hartmann

httplufscbrgestopalavra

Arquitetura da Cidade Contemporacircnea Gilceacuteia Pesce do Amaral e Silva Lisete Assen de Oliveira (Orgs) httplufscbrarquiteturacidade

Algaravia discursos de naccedilatildeo Rauacutel Antelo

httplufscbralgaravia

Tecnologia de Fabricaccedilatildeo de Revestimentos Ceracircmicos

Antonio P N de Oliveira e Dachamir Hotza httplufscbrrevestimentos

16

Linguiacutestica e Literatura

A ARTE E O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEAREDaniela Caniccedilali

Em 1990 um grupo de cerca de dez pesquisadores se reuacutene em torno de um interesse em comum o dramaturgo inglecircs William Shakespeare Em 1991 nasce em Belo Horizonte (MG) o Centro de Estudos Shakespeareanos (CESh) Entre

aqueles que participaram da fundaccedilatildeo da entidade estava Joseacute Roberto OrsquoShea que acabava de se tornar professor do Depar-tamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras (DLLE) da Universi-dade Federal de Santa Catarina (UFSC) No CESh OrsquoShea foi de-signado para iniciar os projetos de traduccedilatildeo ldquoO grupo entendeu que eram necessaacuterias novas traduccedilotildees Como os padrotildees de fala se modificam mesmo o teatro supostamente claacutessico que eacute o caso de Shakespeare tende a ficar datadordquo explica Segundo o pesquisador as traduccedilotildees que circulavam ateacute o final da deacutecada de 1980 estavam desatualizadas em termos de leacutexico estruturas frasais e referecircncias culturais Estavam portanto distantes do puacuteblico leitor e espectador

Antocircnio e Cleoacutepatra foi a primeira das oito obras do dramatur-go inglecircs que OrsquoShea traduziu desde entatildeo ldquoDecidimos co-meccedilar pelas menos encenadas e menos conhecidas mas que satildeo tambeacutem peccedilas extraordinaacuteriasrdquo Seu trabalho se realiza no acircmbito do projeto de pesquisa ldquoTraduccedilotildees anotadas da drama-turgia shakespearianardquo que tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) e estaacute em atividade ininterrupta haacute 23 anos OrsquoShea eacute o uacutenico tradutor de Shakespeare no Brasil cuja atividade estaacute vinculada a programas de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu O professor tambeacutem traduziu aleacutem das obras de Shakespeare obras sobre Shakespeare De Harold Bloom reconhecido criacutetico literaacuterio de liacutengua inglesa tra-duziu entre outros tiacutetulos Shakespeare a invenccedilatildeo do humano com cerca de 900 paacuteginas

OrsquoShea afirma evitar qualquer relaccedilatildeo de reverecircncia ou mitifica-ccedilatildeo ldquoTento natildeo entrar nessa senatildeo fico paralisado Mas sem sombra de duacutevida como outros grandes autores Shakespeare tem percepccedilotildees graviacutessimas sobre a natureza humanardquo O pro-

fessor explica que uma das preocupaccedilotildees baacutesicas do autor eacute explicitar que a viagem do crescimento do ser humano parte de uma situaccedilatildeo de relativa cegueira autoengano ignoracircncia com relaccedilatildeo a si mesmo e agrave realidade que o cerca e segue na direccedilatildeo do autoconhecimento da percepccedilatildeo de sua relativa importacircn-cia ldquoEssa eacute uma sacaccedilatildeo muito granderdquo Outros temas recor-rentes satildeo o amor romacircntico ndash ldquoquase sempre morre o amor ou morrem os amantesrdquo ndash e a poliacutetica a exposiccedilatildeo do mau gover-nante ndash ldquoaquele que soacute visa ao seu bem proacuteprio e ao de alguns que o cercamrdquo

O TRADUTORA formaccedilatildeo do tradutor demanda muita leitura e escrita ldquoLer e escrever satildeo atividades indissociaacuteveis Eacute preciso ter bastante co-nhecimento da liacutengua de partida e imensuraacutevel conhecimento da liacutengua de chegada Aiacute o ceacuteu eacute o limiterdquo OrsquoShea reforccedila seus argumentos citando o poeta chileno Nicanor Parra ldquoPara tradu-cir Shakespeare y comer pescado cuidado poco se gana con saber ingleacutesrdquo Conhecer a liacutengua e a cultura de chegada portan-to eacute o que permite ao tradutor escrever com fluidez fazendo o texto ldquofuncionarrdquo em seu contexto

O professor lembra que ldquoum tradutor eacute um escritorrdquo apesar de nem sempre ser assim reconhecido ldquoNos uacuteltimos 30 anos o tra-dutor estaacute se tornando mais conhecido mais visiacutevel mais res-peitado Mas ainda haacute um caminho longo a ser trilhadordquo OrsquoShea faz referecircncia agraves criacuteticas literaacuterias ldquoAgraves vezes o criacutetico diz lsquoO au-tor tem um belo estilorsquo Mas o autor natildeo escreveu uma daque-las palavras sequer Nenhuma Todas as palavras que o criacutetico leu foram escritas pelo tradutor Ele elogia o estilo a fluecircncia a linguagem e nem menciona o tradutor como se aquela obra tivesse sido escrita em liacutengua portuguesa Essa eacute a famosa invi-sibilidade do tradutorrdquo

17

UFSC Ciecircncia

TRAJETOacuteRIA ACADEcircMICAComo estudante OrsquoShea nunca frequentou uma universidade brasileira cursou a graduaccedilatildeo o mestrado e o doutorado em di-ferentes instituiccedilotildees dos Estados Unidos (EUA) Seus quatro poacutes--doutorados tambeacutem foram no exterior trecircs deles na Inglaterra e um nos EUA Shakespeare foi o eixo central da pesquisa que desenvolveu na UFSC de 1990 a 2015 Nesse periacuteodo orientou 46 trabalhos entre estaacutegios de poacutes-doutorado teses de dou-torado dissertaccedilotildees de mestrado monografias e trabalhos de conclusatildeo de curso (TCC) ndash a maioria abordou diversos aspec-tos da obra de Shakespeare OrsquoShea se aposentou em marccedilo de 2015 mas segue como professor colaborador dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Inglecircs (PPGI) e em Estudos da Traduccedilatildeo (PPGET) Orienta atualmente dois estudantes de mestrado cin-co de doutorado e um de poacutes-doutorado ldquoOs 25 anos que passei na UFSC natildeo gostaria de ter passado em nenhuma outra univer-sidade do mundo Fiz quatro poacutes-docs dei aula como convida-do em universidades no Brasil e no exterior sempre tive apoio para fazer pesquisa apresentar trabalhos em eventos nacionais e internacionais Natildeo substituiria minha experiecircncia aqui por nenhuma outrardquo

Precircmio JabutiOrsquoShea recebeu uma menccedilatildeo honrosa no Precircmio Jabuti em 2003 pela traduccedilatildeo de Cimbeline rei da Britacircnia Em 2008 sua traduccedilatildeo de O conto do inverno ficou entre as dez finalistas do precircmio na categoria Traduccedilatildeo Literaacuteria

Conheccedila um pouco do trabalho de Joseacute Roberto OrsquoShea por meio

de sua primeira traduccedilatildeo de Shakespeare Antocircnio e Cleoacutepatra

disponiacutevel para leitura gratuita on-line

18

A TRADUCcedilAtildeOShakespeare eacute frequentemente traduzido em prosa A traduccedilatildeo em versos metrificados eacute um dos diferenciais do trabalho de OrsquoShea Somam-se a isso a linguagem atualizada e a inclusatildeo de anotaccedilotildees comentaacuterios paratexto e bibliografia seleciona-da Em todas as obras que publicou haacute um ensaio introdutoacuterio e notas explicativas cobrindo questotildees de texto contexto e en-cenaccedilatildeo Em Antocircnio e Cleoacutepatra por exemplo haacute 365 notas Por isso o resultado final vai aleacutem da traduccedilatildeo em si ldquoEu gosto de pensar que minhas traduccedilotildees volume a volume satildeo ediccedilotildees criacuteticas daquele textordquo

Seu meacutetodo de trabalho se inicia com a escolha do texto base ldquoPara Antocircnio e Cleoacutepatra analisei cinco ediccedilotildees integrais da peccedila todas anotadas e publicadas nos uacuteltimos 50 anos Oxford Cambridge Riverside Penguin Arden Satildeo excelentes ediccedilotildees Mas escolhi a Arden porque a meu ver eacute a que estaacute mais bem resolvida textualmenterdquo Segundo o professor natildeo eacute comum os tradutores terem o cuidado de confrontar a ediccedilatildeo que escolhe-ram com outras cinco ou seis verso a verso como ele faz ldquoCom todo o respeito muitas traduccedilotildees carecem de pesquisa O tradu-tor elege uma boa ediccedilatildeo moderna e se ateacutem agraves anotaccedilotildees e agraves soluccedilotildees textuais dessa uacutenica ediccedilatildeordquo

Uma das principais diferenccedilas entre a traduccedilatildeo em verso e em prosa eacute a questatildeo do espaccedilo ldquoNa prosa se precisar de dez pala-vras para descrever um objeto posso dispor de dez palavras Na poesia metrificada natildeo Trabalho com decassiacutelabos e muitas vezes minha melhor opccedilatildeo semacircntica tem quatro ou cinco siacutela-bas mas natildeo posso usaacute-la Tenho que me contentar com minha segunda terceira melhor opccedilatildeo semacircntica pois natildeo tenho es-paccedilo para escrever por exemplo em-be-ve-ci-men-tordquo OrsquoShea explica que pode haver perdas semacircnticas mas haacute ganhos esteacute-ticos ldquoNatildeo posso ser prolixo natildeo tenho espaccedilo para explicar o texto tenho que ser parcimonioso Afinal trata-se de poesia e poesia eacute sugestiva eacute eliacuteptica ela nos permite imaginarrdquo

Outro desafio na traduccedilatildeo em verso eacute a rima ldquoAs rimas visuais graficamente oacutebvias satildeo mais faacuteceis de traduzir Mas haacute rimas que natildeo repetem padrotildees graacuteficos Vocecirc natildeo vecirc vocecirc ouve Eacute preciso esquecer um pouco a questatildeo graacutefica e ir para o som com flexibilidade pois muitas vezes haacute vaacuterias possibilidades de pronuacutencia Home e come por exemplo podem rimar depende da pronuacutencia do poeta Eu trabalho com dicionaacuterios de rimas natildeo tenho escruacutepulos em dizer issordquo O professor afirma ldquonatildeo ter escruacutepulosrdquo pois haacute certo preconceito entre tradutores quanto ao seu uso Ele conta o que lhe ocorreu em um congresso em Li-verpool ldquoEu falava sobre minhas traduccedilotildees sobre poesia rima-da quando um colega de Oxford perguntou como eu trabalha-va Eu disse lsquoTrabalho com um dicionaacuterio de rimas Aliaacutes com mais de umrsquo Ele riu como quem diz lsquocadecirc o ouvido de poetarsquo Mas em um dos meus dicionaacuterios haacute na capa a citaccedilatildeo lsquo() a salvaccedilatildeo da lavoura poeacuteticarsquo Carlos Drummond de Andrade ldquoSe Drummond diz isso acho que estou liberadordquo argumenta com humor

O professor tambeacutem aponta a importacircncia de identificar as pala-vras que sofreram inversatildeo semacircntica ldquoOs vocaacutebulos que a gen-te natildeo conhece natildeo satildeo um problema Existe pelo menos uma duacutezia de dicionaacuterios que cobrem todo o leacutexico shakespeariano O problema satildeo as palavras que parecem corriqueiras que ain-da satildeo utilizadas mas que sofreram inversatildeo semacircntica hoje significam o oposto do que significavam na primeira deacutecada do seacuteculo XVII Satildeo inuacutemeras dessas palavras Essas eacute que satildeo pe-rigosas podem ser armadilhas para o tradutor Merely que hoje eacute lsquomeramentersquo antes era lsquototalmentersquo Fellow que significa lsquoca-maradarsquo na eacutepoca significava lsquomarginalrsquo lsquocriminosorsquo Rival que hoje significa lsquorivalrsquo na eacutepoca significava lsquoparceirorsquo Identificar isso eacute um desafio vocecirc tem que pesquisar muitordquo OrsquoShea acres-centa que tambeacutem eacute importante ter o maacuteximo de empatia pos-siacutevel com cada personagem ldquoVocecirc natildeo pode tomar partido tem que tentar fazer o melhor possiacutevel a partir do personagem que estaacute falando naquele momento Eacute o que alguns autores chamam de lsquodefender o personagemrsquo O tradutor tambeacutem deve defender o personagemrdquo

Traduccedilotildees Editora Ano

Antocircnio e Cleoacutepatra MandarimSiciliano 1997

Cimbeline rei da Britacircnia Iluminuras 2002

O conto do inverno Iluminuras 2007

Peacutericles priacutencipe de Tiro Iluminuras 2012

O primeiro Hamlet In-Quarto de 1603 Hedra 2013

Os dois primos nobres Iluminuras 2016

Troacuteilo e Creacutessida Editora 34 2016

Timon de Atenas (em progresso)

Linguiacutestica e Literatura

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 13: MISSÃO ESPACIAL

12

MISSAtildeO

ESPACIALDaniela Caniccedilali

Equipe da UFSC desenvolve sateacutelite que seraacute lanccedilado em 2016

Engenharias

UFSC Ciecircncia

Um cubo com 10 cm de aresta pesando aproximadamente um quilo constituiacutedo de computador de bordo paineacuteis solares bateria e carga uacutetil (dispositivos que exercem funccedilotildees preestabelecidas como fotografar medir a tem-

peratura etc) Essas satildeo as caracteriacutesticas do nanossateacutelite do tipo cubesat que estaacute sendo desenvolvido desde 2012 no proje-to Floripa Sat uma iniciativa de pesquisadores e alunos de dife-rentes cursos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) A previsatildeo de lanccedilamento eacute dezembro de 2016

O Floripa Sat surgiu de forma independente inspirado em ou-tros projetos experimentais do Centro Tecnoloacutegico (CTC) mdash como o BAJA SAE do curso de Engenharia Mecacircnica que se destina a produzir protoacutetipos de veiacuteculos automotivos off-road ldquoExiste aqui na UFSC o BAJA o barco eleacutetrico o carro eleacutetrico Satildeo vaacuterios projetos Pensamos entatildeo em propor o desenvolvimento de um sateacutelite para que os alunos se interessassem e se motivassem tambeacutem pela aacuterea aeroespacialrdquo explica o professor Eduardo Bezerra do Departamento de Engenharia Eleacutetrica e um dos coor-denadores do projeto Outro coordenador professor Kleber Viei-ra de Paiva do curso de Engenharia Aeroespacial (Campus Join-ville) reforccedila que o principal objetivo do projeto eacute educativo ldquoO aluno tem a oportunidade de participar de uma missatildeo espacial completardquo Ao mesmo tempo em que passou a contribuir para a formaccedilatildeo dos estudantes o Floripa Sat tambeacutem deu visibilidade agrave aacuterea aeroespacial ainda recente nas universidades brasileiras O curso da UFSC foi criado em 2009 e eacute uma das uacutenicas seis gra-duaccedilotildees em Engenharia Aeroespacial em todo o paiacutes

Ateacute chegar a sua ldquoversatildeo finalrdquo e ser lanccedilado o sateacutelite passa pelas seguintes etapas anaacutelise de requisitos projeto desen-volvimento integraccedilatildeo e testes Na etapa de levantamento de requisitos satildeo definidas desde as faixas de temperatura que o sateacutelite deve aguentar a velocidade de comunicaccedilatildeo com a Ter-ra ateacute as funccedilotildees que iraacute executar Na etapa de projeto satildeo de-senvolvidas as placas mdash com microprocessadores que mantecircm o sateacutelite em funcionamento mdash um dos diferenciais do Floripa Sat

Enquanto outras universidades utilizam placas prontas na UFSC elas estatildeo sendo desenvolvidas pelos proacuteprios alunos ldquoNoacutes ad-quirimos uma placa da empresa que fabrica um dos melhores modelos de cubesat Mas essa placa vai servir apenas como mo-delo de referecircncia Nosso interesse eacute o desenvolvimento cientiacute-fico poder estudar os circuitos e talvez ateacute desenvolver placas mais eficientesrdquo explica Eduardo

Na etapa de integraccedilatildeo os diversos subsistemas do cubesat satildeo colocados para funcionar em conjunto passando-se entatildeo agrave fase de testes quando o sateacutelite como um todo eacute submetido a um ambiente de voo Apoacutes ser aprovado nos testes chega entatildeo o momento mais esperado a integraccedilatildeo ao veiacuteculo lanccedilador e o lanccedilamento do sateacutelite ldquoA sensaccedilatildeo de colocar um sateacutelite em oacuterbita eacute de muita satisfaccedilatildeo de dever cumprido Eacute algo que deve ser planejado com cuidado pois se qualquer coisa der errado o objetivo final que eacute estabelecer a comunicaccedilatildeo do sateacutelite com a Terra pode natildeo ser atingidordquo explica Kleber O doutoran-do Leonardo Slongo pesquisador do projeto tambeacutem descreve essa etapa como a que gera mais expectativa ldquoSatildeo realizados vaacuterios testes mas ainda assim existe muita apreensatildeo sobre-tudo nos primeiros minutos do lanccedilamentordquo Kleber acrescenta ldquoVocecirc natildeo tem uma segunda chancerdquo

Se a missatildeo for bem-sucedida chega a fase de monitorar as ati-vidades do sateacutelite coletar dados e com essas informaccedilotildees di-vulgar os resultados do trabalho por intermeacutedio de publicaccedilotildees e patentes ldquoO trabalho natildeo acaba no lanccedilamento ele continua Enquanto estiver em oacuterbita os alunos vatildeo estar envolvidos na comunicaccedilatildeo com o sateacuteliterdquo explica Kleber O Floripa Sat seraacute transportado como carga de um sateacutelite de maior porte o Uni-sat-7 (da empresa GAUSS) que por sua vez seraacute acoplado ao foguete Dnepr com data de lanccedilamento prevista para dezem-bro de 2016 na Ruacutessia A integraccedilatildeo final seraacute realizada na Itaacutelia com o acompanhamento de dois membros da equipe da UFSC prioritariamente estudantes

CUBESATO cubesat mdash abreviaccedilatildeo das palavras em inglecircs ldquocuberdquo (cubo) e ldquosatrdquo (sateacutelite) mdash caracteriza-se por sua estrutura simplificada e custo reduzido enquanto para o seu lanccedilamento satildeo gastos aproximadamente 100 mil doacutelares para o de um sateacutelite convencional os custos chegam a 250 milhotildees Os sateacutelites de pequeno porte conhecidos como nanossateacutelites tambeacutem se distinguem pelo alto valor agregado ldquoOs componentes que precisamos adqui-rir para desenvolver uma placa custam cerca de 100 doacutelares Quando fica pronta ela pode ser vendida por 15 mil doacutelaresrdquo afirma o professor Eduardo

O padratildeo cubesat foi desenvolvido em 1999 no contexto da tendecircncia dos nanossateacutelites com o intuito de fomentar a pesquisa universitaacuteria na aacuterea de Engenharia Aeroespacial Seus idealizadores Jordi Puig-Suari e Bob Twi-ggs professores das universidades norte-americanas California Polytechnic State University e Stanford University tinham o propoacutesito de proporcionar aos estudantes de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo a possibilidade de projetar construir testar e operar um sateacutelite semelhante ao Sputnik Os dois pesquisa-dores estaratildeo em Florianoacutepolis no primeiro semestre de 2016 para o evento ldquoII Latin America IAA CubeSat Workshoprdquo organizado pela equipe do pro-jeto Floripa Sat

13

14

Engenharias

PROJETO SERPENSOutro projeto que tem a participaccedilatildeo da UFSC em parceria com outras universidades eacute o Sistema Espacial para a Realizaccedilatildeo de Pesquisas e Experimentos com Nanossateacutelites (Serpens) Coor-denado pela Agecircncia Espacial Brasileira (AEB) como uma ativi-dade do programa Uniespaccedilo o Serpens foi criado em dezembro de 2013 com o objetivo de qualificar a pesquisa acadecircmica na aacuterea Ao longo dos anos estudantes dos cursos de Engenha-ria Aeroespacial do paiacutes teratildeo a oportunidade de aplicar a teo-ria na praacutetica participando do desenvolvimento e lanccedilamento de cubesats O primeiro o Serpens I foi lanccedilado em agosto de 2015 rumo agrave Estaccedilatildeo Espacial Internacional (ISS) e colocado em oacuterbita no dia 17 de setembro Aleacutem da UFSC quatro instituiccedilotildees brasileiras participam do projeto Serpens Universidade de Bra-siacutelia (UnB) Universidade Federal do ABC (UFABC) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Instituto Federal Fluminense (IFF) Em cada missatildeo uma equipe fica responsaacutevel por liderar o projeto o Serpens I foi liderado pela UnB o Serpens II mdash que jaacute estaacute em desenvolvimento com previsatildeo de lanccedilamento para de-zembro de 2017 mdash estaacute sendo coordenado pela equipe da UFSC

EQUIPEAtualmente integram o Floripa Sat dez professores e trinta alu-nos da graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Engenharia Aeroespacial Engenharia Eleacutetrica Engenharia Eletrocircnica Engenharia Mecacircni-ca Ciecircncia da Computaccedilatildeo e Engenharia de Controle e Automa-ccedilatildeo Aleacutem do projeto Floripa Sat e do Serpens membros da equi-pe jaacute participaram de outras missotildees aeroespaciais Em 2006 quando ainda era estudante de mestrado da UFSC o professor Kleber teve participaccedilatildeo na missatildeo do astronauta brasileiro Mar-cos Pontes como responsaacutevel por um dos experimentos utiliza-do pelo astronauta no ambiente de microgravidade da Estaccedilatildeo Espacial Internacional O doutorando Leonardo Slongo partici-pou junto com Kleber de projetos do Programa Microgravidade da AEB e acompanhou no Centro de Lanccedilamento de Alcacircntara (CLA) no Maranhatildeo o lanccedilamento de foguetes que executaram diferentes experimentos O professor Eduardo Bezerra atua haacute mais de dez anos no projeto e desenvolvimento de sistemas computacionais embarcados para os sateacutelites de grande porte do Programa Espacial Brasileiro

LINHA DO TEMPO

2015

2012

2013

2014

2016

Consolidaccedilatildeo do Floripa Sat como projeto de pesquisa

Levantamento dos requisitos desenvolvimento das primeiras versotildees do Floripa Sat

Definiccedilatildeo dos requisitos da versatildeo a ser lanccedilada organizaccedilatildeo do projeto desenvolvimentotestes do protoacutetipo

Fabricaccedilatildeo do protoacutetipo projeto desenvolvimento do modelo de engenharia e do modelo de voo fabricaccedilatildeo testes

Integraccedilatildeo e testes do modelo de voo testes mecacircnicos e teacutermicos lanccedilamento

Etapas de desenvolvimento do projeto Floripasat

Font

e E

duar

do B

ezer

ra

Kleb

er V

ieira

de

Paiv

aDe

sign

Airt

on J

orda

ni

Text

o D

anie

la C

aniccedil

ali

15

Contribuindo para a difusatildeo do conhecimento a Editora da UFSC (EdUFSC) oferece na forma digital livros de seu acervo impresso acessiacuteveis para leitura gratuita on-line Conheccedila alguns deles

ACERVO DIGITAL EDITORA DA UFSC

EdUFSC

Filosofia da Tecnologia um convite Alberto Cupani

httplufscbrfilosofiatecnologia

O fantaacutestico na Ilha de Santa Catarina

Franklin Cascaes httplufscbrfantasticonailha

Gesto palavra e memoacuteria Luciana Hartmann

httplufscbrgestopalavra

Arquitetura da Cidade Contemporacircnea Gilceacuteia Pesce do Amaral e Silva Lisete Assen de Oliveira (Orgs) httplufscbrarquiteturacidade

Algaravia discursos de naccedilatildeo Rauacutel Antelo

httplufscbralgaravia

Tecnologia de Fabricaccedilatildeo de Revestimentos Ceracircmicos

Antonio P N de Oliveira e Dachamir Hotza httplufscbrrevestimentos

16

Linguiacutestica e Literatura

A ARTE E O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEAREDaniela Caniccedilali

Em 1990 um grupo de cerca de dez pesquisadores se reuacutene em torno de um interesse em comum o dramaturgo inglecircs William Shakespeare Em 1991 nasce em Belo Horizonte (MG) o Centro de Estudos Shakespeareanos (CESh) Entre

aqueles que participaram da fundaccedilatildeo da entidade estava Joseacute Roberto OrsquoShea que acabava de se tornar professor do Depar-tamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras (DLLE) da Universi-dade Federal de Santa Catarina (UFSC) No CESh OrsquoShea foi de-signado para iniciar os projetos de traduccedilatildeo ldquoO grupo entendeu que eram necessaacuterias novas traduccedilotildees Como os padrotildees de fala se modificam mesmo o teatro supostamente claacutessico que eacute o caso de Shakespeare tende a ficar datadordquo explica Segundo o pesquisador as traduccedilotildees que circulavam ateacute o final da deacutecada de 1980 estavam desatualizadas em termos de leacutexico estruturas frasais e referecircncias culturais Estavam portanto distantes do puacuteblico leitor e espectador

Antocircnio e Cleoacutepatra foi a primeira das oito obras do dramatur-go inglecircs que OrsquoShea traduziu desde entatildeo ldquoDecidimos co-meccedilar pelas menos encenadas e menos conhecidas mas que satildeo tambeacutem peccedilas extraordinaacuteriasrdquo Seu trabalho se realiza no acircmbito do projeto de pesquisa ldquoTraduccedilotildees anotadas da drama-turgia shakespearianardquo que tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) e estaacute em atividade ininterrupta haacute 23 anos OrsquoShea eacute o uacutenico tradutor de Shakespeare no Brasil cuja atividade estaacute vinculada a programas de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu O professor tambeacutem traduziu aleacutem das obras de Shakespeare obras sobre Shakespeare De Harold Bloom reconhecido criacutetico literaacuterio de liacutengua inglesa tra-duziu entre outros tiacutetulos Shakespeare a invenccedilatildeo do humano com cerca de 900 paacuteginas

OrsquoShea afirma evitar qualquer relaccedilatildeo de reverecircncia ou mitifica-ccedilatildeo ldquoTento natildeo entrar nessa senatildeo fico paralisado Mas sem sombra de duacutevida como outros grandes autores Shakespeare tem percepccedilotildees graviacutessimas sobre a natureza humanardquo O pro-

fessor explica que uma das preocupaccedilotildees baacutesicas do autor eacute explicitar que a viagem do crescimento do ser humano parte de uma situaccedilatildeo de relativa cegueira autoengano ignoracircncia com relaccedilatildeo a si mesmo e agrave realidade que o cerca e segue na direccedilatildeo do autoconhecimento da percepccedilatildeo de sua relativa importacircn-cia ldquoEssa eacute uma sacaccedilatildeo muito granderdquo Outros temas recor-rentes satildeo o amor romacircntico ndash ldquoquase sempre morre o amor ou morrem os amantesrdquo ndash e a poliacutetica a exposiccedilatildeo do mau gover-nante ndash ldquoaquele que soacute visa ao seu bem proacuteprio e ao de alguns que o cercamrdquo

O TRADUTORA formaccedilatildeo do tradutor demanda muita leitura e escrita ldquoLer e escrever satildeo atividades indissociaacuteveis Eacute preciso ter bastante co-nhecimento da liacutengua de partida e imensuraacutevel conhecimento da liacutengua de chegada Aiacute o ceacuteu eacute o limiterdquo OrsquoShea reforccedila seus argumentos citando o poeta chileno Nicanor Parra ldquoPara tradu-cir Shakespeare y comer pescado cuidado poco se gana con saber ingleacutesrdquo Conhecer a liacutengua e a cultura de chegada portan-to eacute o que permite ao tradutor escrever com fluidez fazendo o texto ldquofuncionarrdquo em seu contexto

O professor lembra que ldquoum tradutor eacute um escritorrdquo apesar de nem sempre ser assim reconhecido ldquoNos uacuteltimos 30 anos o tra-dutor estaacute se tornando mais conhecido mais visiacutevel mais res-peitado Mas ainda haacute um caminho longo a ser trilhadordquo OrsquoShea faz referecircncia agraves criacuteticas literaacuterias ldquoAgraves vezes o criacutetico diz lsquoO au-tor tem um belo estilorsquo Mas o autor natildeo escreveu uma daque-las palavras sequer Nenhuma Todas as palavras que o criacutetico leu foram escritas pelo tradutor Ele elogia o estilo a fluecircncia a linguagem e nem menciona o tradutor como se aquela obra tivesse sido escrita em liacutengua portuguesa Essa eacute a famosa invi-sibilidade do tradutorrdquo

17

UFSC Ciecircncia

TRAJETOacuteRIA ACADEcircMICAComo estudante OrsquoShea nunca frequentou uma universidade brasileira cursou a graduaccedilatildeo o mestrado e o doutorado em di-ferentes instituiccedilotildees dos Estados Unidos (EUA) Seus quatro poacutes--doutorados tambeacutem foram no exterior trecircs deles na Inglaterra e um nos EUA Shakespeare foi o eixo central da pesquisa que desenvolveu na UFSC de 1990 a 2015 Nesse periacuteodo orientou 46 trabalhos entre estaacutegios de poacutes-doutorado teses de dou-torado dissertaccedilotildees de mestrado monografias e trabalhos de conclusatildeo de curso (TCC) ndash a maioria abordou diversos aspec-tos da obra de Shakespeare OrsquoShea se aposentou em marccedilo de 2015 mas segue como professor colaborador dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Inglecircs (PPGI) e em Estudos da Traduccedilatildeo (PPGET) Orienta atualmente dois estudantes de mestrado cin-co de doutorado e um de poacutes-doutorado ldquoOs 25 anos que passei na UFSC natildeo gostaria de ter passado em nenhuma outra univer-sidade do mundo Fiz quatro poacutes-docs dei aula como convida-do em universidades no Brasil e no exterior sempre tive apoio para fazer pesquisa apresentar trabalhos em eventos nacionais e internacionais Natildeo substituiria minha experiecircncia aqui por nenhuma outrardquo

Precircmio JabutiOrsquoShea recebeu uma menccedilatildeo honrosa no Precircmio Jabuti em 2003 pela traduccedilatildeo de Cimbeline rei da Britacircnia Em 2008 sua traduccedilatildeo de O conto do inverno ficou entre as dez finalistas do precircmio na categoria Traduccedilatildeo Literaacuteria

Conheccedila um pouco do trabalho de Joseacute Roberto OrsquoShea por meio

de sua primeira traduccedilatildeo de Shakespeare Antocircnio e Cleoacutepatra

disponiacutevel para leitura gratuita on-line

18

A TRADUCcedilAtildeOShakespeare eacute frequentemente traduzido em prosa A traduccedilatildeo em versos metrificados eacute um dos diferenciais do trabalho de OrsquoShea Somam-se a isso a linguagem atualizada e a inclusatildeo de anotaccedilotildees comentaacuterios paratexto e bibliografia seleciona-da Em todas as obras que publicou haacute um ensaio introdutoacuterio e notas explicativas cobrindo questotildees de texto contexto e en-cenaccedilatildeo Em Antocircnio e Cleoacutepatra por exemplo haacute 365 notas Por isso o resultado final vai aleacutem da traduccedilatildeo em si ldquoEu gosto de pensar que minhas traduccedilotildees volume a volume satildeo ediccedilotildees criacuteticas daquele textordquo

Seu meacutetodo de trabalho se inicia com a escolha do texto base ldquoPara Antocircnio e Cleoacutepatra analisei cinco ediccedilotildees integrais da peccedila todas anotadas e publicadas nos uacuteltimos 50 anos Oxford Cambridge Riverside Penguin Arden Satildeo excelentes ediccedilotildees Mas escolhi a Arden porque a meu ver eacute a que estaacute mais bem resolvida textualmenterdquo Segundo o professor natildeo eacute comum os tradutores terem o cuidado de confrontar a ediccedilatildeo que escolhe-ram com outras cinco ou seis verso a verso como ele faz ldquoCom todo o respeito muitas traduccedilotildees carecem de pesquisa O tradu-tor elege uma boa ediccedilatildeo moderna e se ateacutem agraves anotaccedilotildees e agraves soluccedilotildees textuais dessa uacutenica ediccedilatildeordquo

Uma das principais diferenccedilas entre a traduccedilatildeo em verso e em prosa eacute a questatildeo do espaccedilo ldquoNa prosa se precisar de dez pala-vras para descrever um objeto posso dispor de dez palavras Na poesia metrificada natildeo Trabalho com decassiacutelabos e muitas vezes minha melhor opccedilatildeo semacircntica tem quatro ou cinco siacutela-bas mas natildeo posso usaacute-la Tenho que me contentar com minha segunda terceira melhor opccedilatildeo semacircntica pois natildeo tenho es-paccedilo para escrever por exemplo em-be-ve-ci-men-tordquo OrsquoShea explica que pode haver perdas semacircnticas mas haacute ganhos esteacute-ticos ldquoNatildeo posso ser prolixo natildeo tenho espaccedilo para explicar o texto tenho que ser parcimonioso Afinal trata-se de poesia e poesia eacute sugestiva eacute eliacuteptica ela nos permite imaginarrdquo

Outro desafio na traduccedilatildeo em verso eacute a rima ldquoAs rimas visuais graficamente oacutebvias satildeo mais faacuteceis de traduzir Mas haacute rimas que natildeo repetem padrotildees graacuteficos Vocecirc natildeo vecirc vocecirc ouve Eacute preciso esquecer um pouco a questatildeo graacutefica e ir para o som com flexibilidade pois muitas vezes haacute vaacuterias possibilidades de pronuacutencia Home e come por exemplo podem rimar depende da pronuacutencia do poeta Eu trabalho com dicionaacuterios de rimas natildeo tenho escruacutepulos em dizer issordquo O professor afirma ldquonatildeo ter escruacutepulosrdquo pois haacute certo preconceito entre tradutores quanto ao seu uso Ele conta o que lhe ocorreu em um congresso em Li-verpool ldquoEu falava sobre minhas traduccedilotildees sobre poesia rima-da quando um colega de Oxford perguntou como eu trabalha-va Eu disse lsquoTrabalho com um dicionaacuterio de rimas Aliaacutes com mais de umrsquo Ele riu como quem diz lsquocadecirc o ouvido de poetarsquo Mas em um dos meus dicionaacuterios haacute na capa a citaccedilatildeo lsquo() a salvaccedilatildeo da lavoura poeacuteticarsquo Carlos Drummond de Andrade ldquoSe Drummond diz isso acho que estou liberadordquo argumenta com humor

O professor tambeacutem aponta a importacircncia de identificar as pala-vras que sofreram inversatildeo semacircntica ldquoOs vocaacutebulos que a gen-te natildeo conhece natildeo satildeo um problema Existe pelo menos uma duacutezia de dicionaacuterios que cobrem todo o leacutexico shakespeariano O problema satildeo as palavras que parecem corriqueiras que ain-da satildeo utilizadas mas que sofreram inversatildeo semacircntica hoje significam o oposto do que significavam na primeira deacutecada do seacuteculo XVII Satildeo inuacutemeras dessas palavras Essas eacute que satildeo pe-rigosas podem ser armadilhas para o tradutor Merely que hoje eacute lsquomeramentersquo antes era lsquototalmentersquo Fellow que significa lsquoca-maradarsquo na eacutepoca significava lsquomarginalrsquo lsquocriminosorsquo Rival que hoje significa lsquorivalrsquo na eacutepoca significava lsquoparceirorsquo Identificar isso eacute um desafio vocecirc tem que pesquisar muitordquo OrsquoShea acres-centa que tambeacutem eacute importante ter o maacuteximo de empatia pos-siacutevel com cada personagem ldquoVocecirc natildeo pode tomar partido tem que tentar fazer o melhor possiacutevel a partir do personagem que estaacute falando naquele momento Eacute o que alguns autores chamam de lsquodefender o personagemrsquo O tradutor tambeacutem deve defender o personagemrdquo

Traduccedilotildees Editora Ano

Antocircnio e Cleoacutepatra MandarimSiciliano 1997

Cimbeline rei da Britacircnia Iluminuras 2002

O conto do inverno Iluminuras 2007

Peacutericles priacutencipe de Tiro Iluminuras 2012

O primeiro Hamlet In-Quarto de 1603 Hedra 2013

Os dois primos nobres Iluminuras 2016

Troacuteilo e Creacutessida Editora 34 2016

Timon de Atenas (em progresso)

Linguiacutestica e Literatura

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 14: MISSÃO ESPACIAL

UFSC Ciecircncia

Um cubo com 10 cm de aresta pesando aproximadamente um quilo constituiacutedo de computador de bordo paineacuteis solares bateria e carga uacutetil (dispositivos que exercem funccedilotildees preestabelecidas como fotografar medir a tem-

peratura etc) Essas satildeo as caracteriacutesticas do nanossateacutelite do tipo cubesat que estaacute sendo desenvolvido desde 2012 no proje-to Floripa Sat uma iniciativa de pesquisadores e alunos de dife-rentes cursos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) A previsatildeo de lanccedilamento eacute dezembro de 2016

O Floripa Sat surgiu de forma independente inspirado em ou-tros projetos experimentais do Centro Tecnoloacutegico (CTC) mdash como o BAJA SAE do curso de Engenharia Mecacircnica que se destina a produzir protoacutetipos de veiacuteculos automotivos off-road ldquoExiste aqui na UFSC o BAJA o barco eleacutetrico o carro eleacutetrico Satildeo vaacuterios projetos Pensamos entatildeo em propor o desenvolvimento de um sateacutelite para que os alunos se interessassem e se motivassem tambeacutem pela aacuterea aeroespacialrdquo explica o professor Eduardo Bezerra do Departamento de Engenharia Eleacutetrica e um dos coor-denadores do projeto Outro coordenador professor Kleber Viei-ra de Paiva do curso de Engenharia Aeroespacial (Campus Join-ville) reforccedila que o principal objetivo do projeto eacute educativo ldquoO aluno tem a oportunidade de participar de uma missatildeo espacial completardquo Ao mesmo tempo em que passou a contribuir para a formaccedilatildeo dos estudantes o Floripa Sat tambeacutem deu visibilidade agrave aacuterea aeroespacial ainda recente nas universidades brasileiras O curso da UFSC foi criado em 2009 e eacute uma das uacutenicas seis gra-duaccedilotildees em Engenharia Aeroespacial em todo o paiacutes

Ateacute chegar a sua ldquoversatildeo finalrdquo e ser lanccedilado o sateacutelite passa pelas seguintes etapas anaacutelise de requisitos projeto desen-volvimento integraccedilatildeo e testes Na etapa de levantamento de requisitos satildeo definidas desde as faixas de temperatura que o sateacutelite deve aguentar a velocidade de comunicaccedilatildeo com a Ter-ra ateacute as funccedilotildees que iraacute executar Na etapa de projeto satildeo de-senvolvidas as placas mdash com microprocessadores que mantecircm o sateacutelite em funcionamento mdash um dos diferenciais do Floripa Sat

Enquanto outras universidades utilizam placas prontas na UFSC elas estatildeo sendo desenvolvidas pelos proacuteprios alunos ldquoNoacutes ad-quirimos uma placa da empresa que fabrica um dos melhores modelos de cubesat Mas essa placa vai servir apenas como mo-delo de referecircncia Nosso interesse eacute o desenvolvimento cientiacute-fico poder estudar os circuitos e talvez ateacute desenvolver placas mais eficientesrdquo explica Eduardo

Na etapa de integraccedilatildeo os diversos subsistemas do cubesat satildeo colocados para funcionar em conjunto passando-se entatildeo agrave fase de testes quando o sateacutelite como um todo eacute submetido a um ambiente de voo Apoacutes ser aprovado nos testes chega entatildeo o momento mais esperado a integraccedilatildeo ao veiacuteculo lanccedilador e o lanccedilamento do sateacutelite ldquoA sensaccedilatildeo de colocar um sateacutelite em oacuterbita eacute de muita satisfaccedilatildeo de dever cumprido Eacute algo que deve ser planejado com cuidado pois se qualquer coisa der errado o objetivo final que eacute estabelecer a comunicaccedilatildeo do sateacutelite com a Terra pode natildeo ser atingidordquo explica Kleber O doutoran-do Leonardo Slongo pesquisador do projeto tambeacutem descreve essa etapa como a que gera mais expectativa ldquoSatildeo realizados vaacuterios testes mas ainda assim existe muita apreensatildeo sobre-tudo nos primeiros minutos do lanccedilamentordquo Kleber acrescenta ldquoVocecirc natildeo tem uma segunda chancerdquo

Se a missatildeo for bem-sucedida chega a fase de monitorar as ati-vidades do sateacutelite coletar dados e com essas informaccedilotildees di-vulgar os resultados do trabalho por intermeacutedio de publicaccedilotildees e patentes ldquoO trabalho natildeo acaba no lanccedilamento ele continua Enquanto estiver em oacuterbita os alunos vatildeo estar envolvidos na comunicaccedilatildeo com o sateacuteliterdquo explica Kleber O Floripa Sat seraacute transportado como carga de um sateacutelite de maior porte o Uni-sat-7 (da empresa GAUSS) que por sua vez seraacute acoplado ao foguete Dnepr com data de lanccedilamento prevista para dezem-bro de 2016 na Ruacutessia A integraccedilatildeo final seraacute realizada na Itaacutelia com o acompanhamento de dois membros da equipe da UFSC prioritariamente estudantes

CUBESATO cubesat mdash abreviaccedilatildeo das palavras em inglecircs ldquocuberdquo (cubo) e ldquosatrdquo (sateacutelite) mdash caracteriza-se por sua estrutura simplificada e custo reduzido enquanto para o seu lanccedilamento satildeo gastos aproximadamente 100 mil doacutelares para o de um sateacutelite convencional os custos chegam a 250 milhotildees Os sateacutelites de pequeno porte conhecidos como nanossateacutelites tambeacutem se distinguem pelo alto valor agregado ldquoOs componentes que precisamos adqui-rir para desenvolver uma placa custam cerca de 100 doacutelares Quando fica pronta ela pode ser vendida por 15 mil doacutelaresrdquo afirma o professor Eduardo

O padratildeo cubesat foi desenvolvido em 1999 no contexto da tendecircncia dos nanossateacutelites com o intuito de fomentar a pesquisa universitaacuteria na aacuterea de Engenharia Aeroespacial Seus idealizadores Jordi Puig-Suari e Bob Twi-ggs professores das universidades norte-americanas California Polytechnic State University e Stanford University tinham o propoacutesito de proporcionar aos estudantes de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo a possibilidade de projetar construir testar e operar um sateacutelite semelhante ao Sputnik Os dois pesquisa-dores estaratildeo em Florianoacutepolis no primeiro semestre de 2016 para o evento ldquoII Latin America IAA CubeSat Workshoprdquo organizado pela equipe do pro-jeto Floripa Sat

13

14

Engenharias

PROJETO SERPENSOutro projeto que tem a participaccedilatildeo da UFSC em parceria com outras universidades eacute o Sistema Espacial para a Realizaccedilatildeo de Pesquisas e Experimentos com Nanossateacutelites (Serpens) Coor-denado pela Agecircncia Espacial Brasileira (AEB) como uma ativi-dade do programa Uniespaccedilo o Serpens foi criado em dezembro de 2013 com o objetivo de qualificar a pesquisa acadecircmica na aacuterea Ao longo dos anos estudantes dos cursos de Engenha-ria Aeroespacial do paiacutes teratildeo a oportunidade de aplicar a teo-ria na praacutetica participando do desenvolvimento e lanccedilamento de cubesats O primeiro o Serpens I foi lanccedilado em agosto de 2015 rumo agrave Estaccedilatildeo Espacial Internacional (ISS) e colocado em oacuterbita no dia 17 de setembro Aleacutem da UFSC quatro instituiccedilotildees brasileiras participam do projeto Serpens Universidade de Bra-siacutelia (UnB) Universidade Federal do ABC (UFABC) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Instituto Federal Fluminense (IFF) Em cada missatildeo uma equipe fica responsaacutevel por liderar o projeto o Serpens I foi liderado pela UnB o Serpens II mdash que jaacute estaacute em desenvolvimento com previsatildeo de lanccedilamento para de-zembro de 2017 mdash estaacute sendo coordenado pela equipe da UFSC

EQUIPEAtualmente integram o Floripa Sat dez professores e trinta alu-nos da graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Engenharia Aeroespacial Engenharia Eleacutetrica Engenharia Eletrocircnica Engenharia Mecacircni-ca Ciecircncia da Computaccedilatildeo e Engenharia de Controle e Automa-ccedilatildeo Aleacutem do projeto Floripa Sat e do Serpens membros da equi-pe jaacute participaram de outras missotildees aeroespaciais Em 2006 quando ainda era estudante de mestrado da UFSC o professor Kleber teve participaccedilatildeo na missatildeo do astronauta brasileiro Mar-cos Pontes como responsaacutevel por um dos experimentos utiliza-do pelo astronauta no ambiente de microgravidade da Estaccedilatildeo Espacial Internacional O doutorando Leonardo Slongo partici-pou junto com Kleber de projetos do Programa Microgravidade da AEB e acompanhou no Centro de Lanccedilamento de Alcacircntara (CLA) no Maranhatildeo o lanccedilamento de foguetes que executaram diferentes experimentos O professor Eduardo Bezerra atua haacute mais de dez anos no projeto e desenvolvimento de sistemas computacionais embarcados para os sateacutelites de grande porte do Programa Espacial Brasileiro

LINHA DO TEMPO

2015

2012

2013

2014

2016

Consolidaccedilatildeo do Floripa Sat como projeto de pesquisa

Levantamento dos requisitos desenvolvimento das primeiras versotildees do Floripa Sat

Definiccedilatildeo dos requisitos da versatildeo a ser lanccedilada organizaccedilatildeo do projeto desenvolvimentotestes do protoacutetipo

Fabricaccedilatildeo do protoacutetipo projeto desenvolvimento do modelo de engenharia e do modelo de voo fabricaccedilatildeo testes

Integraccedilatildeo e testes do modelo de voo testes mecacircnicos e teacutermicos lanccedilamento

Etapas de desenvolvimento do projeto Floripasat

Font

e E

duar

do B

ezer

ra

Kleb

er V

ieira

de

Paiv

aDe

sign

Airt

on J

orda

ni

Text

o D

anie

la C

aniccedil

ali

15

Contribuindo para a difusatildeo do conhecimento a Editora da UFSC (EdUFSC) oferece na forma digital livros de seu acervo impresso acessiacuteveis para leitura gratuita on-line Conheccedila alguns deles

ACERVO DIGITAL EDITORA DA UFSC

EdUFSC

Filosofia da Tecnologia um convite Alberto Cupani

httplufscbrfilosofiatecnologia

O fantaacutestico na Ilha de Santa Catarina

Franklin Cascaes httplufscbrfantasticonailha

Gesto palavra e memoacuteria Luciana Hartmann

httplufscbrgestopalavra

Arquitetura da Cidade Contemporacircnea Gilceacuteia Pesce do Amaral e Silva Lisete Assen de Oliveira (Orgs) httplufscbrarquiteturacidade

Algaravia discursos de naccedilatildeo Rauacutel Antelo

httplufscbralgaravia

Tecnologia de Fabricaccedilatildeo de Revestimentos Ceracircmicos

Antonio P N de Oliveira e Dachamir Hotza httplufscbrrevestimentos

16

Linguiacutestica e Literatura

A ARTE E O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEAREDaniela Caniccedilali

Em 1990 um grupo de cerca de dez pesquisadores se reuacutene em torno de um interesse em comum o dramaturgo inglecircs William Shakespeare Em 1991 nasce em Belo Horizonte (MG) o Centro de Estudos Shakespeareanos (CESh) Entre

aqueles que participaram da fundaccedilatildeo da entidade estava Joseacute Roberto OrsquoShea que acabava de se tornar professor do Depar-tamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras (DLLE) da Universi-dade Federal de Santa Catarina (UFSC) No CESh OrsquoShea foi de-signado para iniciar os projetos de traduccedilatildeo ldquoO grupo entendeu que eram necessaacuterias novas traduccedilotildees Como os padrotildees de fala se modificam mesmo o teatro supostamente claacutessico que eacute o caso de Shakespeare tende a ficar datadordquo explica Segundo o pesquisador as traduccedilotildees que circulavam ateacute o final da deacutecada de 1980 estavam desatualizadas em termos de leacutexico estruturas frasais e referecircncias culturais Estavam portanto distantes do puacuteblico leitor e espectador

Antocircnio e Cleoacutepatra foi a primeira das oito obras do dramatur-go inglecircs que OrsquoShea traduziu desde entatildeo ldquoDecidimos co-meccedilar pelas menos encenadas e menos conhecidas mas que satildeo tambeacutem peccedilas extraordinaacuteriasrdquo Seu trabalho se realiza no acircmbito do projeto de pesquisa ldquoTraduccedilotildees anotadas da drama-turgia shakespearianardquo que tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) e estaacute em atividade ininterrupta haacute 23 anos OrsquoShea eacute o uacutenico tradutor de Shakespeare no Brasil cuja atividade estaacute vinculada a programas de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu O professor tambeacutem traduziu aleacutem das obras de Shakespeare obras sobre Shakespeare De Harold Bloom reconhecido criacutetico literaacuterio de liacutengua inglesa tra-duziu entre outros tiacutetulos Shakespeare a invenccedilatildeo do humano com cerca de 900 paacuteginas

OrsquoShea afirma evitar qualquer relaccedilatildeo de reverecircncia ou mitifica-ccedilatildeo ldquoTento natildeo entrar nessa senatildeo fico paralisado Mas sem sombra de duacutevida como outros grandes autores Shakespeare tem percepccedilotildees graviacutessimas sobre a natureza humanardquo O pro-

fessor explica que uma das preocupaccedilotildees baacutesicas do autor eacute explicitar que a viagem do crescimento do ser humano parte de uma situaccedilatildeo de relativa cegueira autoengano ignoracircncia com relaccedilatildeo a si mesmo e agrave realidade que o cerca e segue na direccedilatildeo do autoconhecimento da percepccedilatildeo de sua relativa importacircn-cia ldquoEssa eacute uma sacaccedilatildeo muito granderdquo Outros temas recor-rentes satildeo o amor romacircntico ndash ldquoquase sempre morre o amor ou morrem os amantesrdquo ndash e a poliacutetica a exposiccedilatildeo do mau gover-nante ndash ldquoaquele que soacute visa ao seu bem proacuteprio e ao de alguns que o cercamrdquo

O TRADUTORA formaccedilatildeo do tradutor demanda muita leitura e escrita ldquoLer e escrever satildeo atividades indissociaacuteveis Eacute preciso ter bastante co-nhecimento da liacutengua de partida e imensuraacutevel conhecimento da liacutengua de chegada Aiacute o ceacuteu eacute o limiterdquo OrsquoShea reforccedila seus argumentos citando o poeta chileno Nicanor Parra ldquoPara tradu-cir Shakespeare y comer pescado cuidado poco se gana con saber ingleacutesrdquo Conhecer a liacutengua e a cultura de chegada portan-to eacute o que permite ao tradutor escrever com fluidez fazendo o texto ldquofuncionarrdquo em seu contexto

O professor lembra que ldquoum tradutor eacute um escritorrdquo apesar de nem sempre ser assim reconhecido ldquoNos uacuteltimos 30 anos o tra-dutor estaacute se tornando mais conhecido mais visiacutevel mais res-peitado Mas ainda haacute um caminho longo a ser trilhadordquo OrsquoShea faz referecircncia agraves criacuteticas literaacuterias ldquoAgraves vezes o criacutetico diz lsquoO au-tor tem um belo estilorsquo Mas o autor natildeo escreveu uma daque-las palavras sequer Nenhuma Todas as palavras que o criacutetico leu foram escritas pelo tradutor Ele elogia o estilo a fluecircncia a linguagem e nem menciona o tradutor como se aquela obra tivesse sido escrita em liacutengua portuguesa Essa eacute a famosa invi-sibilidade do tradutorrdquo

17

UFSC Ciecircncia

TRAJETOacuteRIA ACADEcircMICAComo estudante OrsquoShea nunca frequentou uma universidade brasileira cursou a graduaccedilatildeo o mestrado e o doutorado em di-ferentes instituiccedilotildees dos Estados Unidos (EUA) Seus quatro poacutes--doutorados tambeacutem foram no exterior trecircs deles na Inglaterra e um nos EUA Shakespeare foi o eixo central da pesquisa que desenvolveu na UFSC de 1990 a 2015 Nesse periacuteodo orientou 46 trabalhos entre estaacutegios de poacutes-doutorado teses de dou-torado dissertaccedilotildees de mestrado monografias e trabalhos de conclusatildeo de curso (TCC) ndash a maioria abordou diversos aspec-tos da obra de Shakespeare OrsquoShea se aposentou em marccedilo de 2015 mas segue como professor colaborador dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Inglecircs (PPGI) e em Estudos da Traduccedilatildeo (PPGET) Orienta atualmente dois estudantes de mestrado cin-co de doutorado e um de poacutes-doutorado ldquoOs 25 anos que passei na UFSC natildeo gostaria de ter passado em nenhuma outra univer-sidade do mundo Fiz quatro poacutes-docs dei aula como convida-do em universidades no Brasil e no exterior sempre tive apoio para fazer pesquisa apresentar trabalhos em eventos nacionais e internacionais Natildeo substituiria minha experiecircncia aqui por nenhuma outrardquo

Precircmio JabutiOrsquoShea recebeu uma menccedilatildeo honrosa no Precircmio Jabuti em 2003 pela traduccedilatildeo de Cimbeline rei da Britacircnia Em 2008 sua traduccedilatildeo de O conto do inverno ficou entre as dez finalistas do precircmio na categoria Traduccedilatildeo Literaacuteria

Conheccedila um pouco do trabalho de Joseacute Roberto OrsquoShea por meio

de sua primeira traduccedilatildeo de Shakespeare Antocircnio e Cleoacutepatra

disponiacutevel para leitura gratuita on-line

18

A TRADUCcedilAtildeOShakespeare eacute frequentemente traduzido em prosa A traduccedilatildeo em versos metrificados eacute um dos diferenciais do trabalho de OrsquoShea Somam-se a isso a linguagem atualizada e a inclusatildeo de anotaccedilotildees comentaacuterios paratexto e bibliografia seleciona-da Em todas as obras que publicou haacute um ensaio introdutoacuterio e notas explicativas cobrindo questotildees de texto contexto e en-cenaccedilatildeo Em Antocircnio e Cleoacutepatra por exemplo haacute 365 notas Por isso o resultado final vai aleacutem da traduccedilatildeo em si ldquoEu gosto de pensar que minhas traduccedilotildees volume a volume satildeo ediccedilotildees criacuteticas daquele textordquo

Seu meacutetodo de trabalho se inicia com a escolha do texto base ldquoPara Antocircnio e Cleoacutepatra analisei cinco ediccedilotildees integrais da peccedila todas anotadas e publicadas nos uacuteltimos 50 anos Oxford Cambridge Riverside Penguin Arden Satildeo excelentes ediccedilotildees Mas escolhi a Arden porque a meu ver eacute a que estaacute mais bem resolvida textualmenterdquo Segundo o professor natildeo eacute comum os tradutores terem o cuidado de confrontar a ediccedilatildeo que escolhe-ram com outras cinco ou seis verso a verso como ele faz ldquoCom todo o respeito muitas traduccedilotildees carecem de pesquisa O tradu-tor elege uma boa ediccedilatildeo moderna e se ateacutem agraves anotaccedilotildees e agraves soluccedilotildees textuais dessa uacutenica ediccedilatildeordquo

Uma das principais diferenccedilas entre a traduccedilatildeo em verso e em prosa eacute a questatildeo do espaccedilo ldquoNa prosa se precisar de dez pala-vras para descrever um objeto posso dispor de dez palavras Na poesia metrificada natildeo Trabalho com decassiacutelabos e muitas vezes minha melhor opccedilatildeo semacircntica tem quatro ou cinco siacutela-bas mas natildeo posso usaacute-la Tenho que me contentar com minha segunda terceira melhor opccedilatildeo semacircntica pois natildeo tenho es-paccedilo para escrever por exemplo em-be-ve-ci-men-tordquo OrsquoShea explica que pode haver perdas semacircnticas mas haacute ganhos esteacute-ticos ldquoNatildeo posso ser prolixo natildeo tenho espaccedilo para explicar o texto tenho que ser parcimonioso Afinal trata-se de poesia e poesia eacute sugestiva eacute eliacuteptica ela nos permite imaginarrdquo

Outro desafio na traduccedilatildeo em verso eacute a rima ldquoAs rimas visuais graficamente oacutebvias satildeo mais faacuteceis de traduzir Mas haacute rimas que natildeo repetem padrotildees graacuteficos Vocecirc natildeo vecirc vocecirc ouve Eacute preciso esquecer um pouco a questatildeo graacutefica e ir para o som com flexibilidade pois muitas vezes haacute vaacuterias possibilidades de pronuacutencia Home e come por exemplo podem rimar depende da pronuacutencia do poeta Eu trabalho com dicionaacuterios de rimas natildeo tenho escruacutepulos em dizer issordquo O professor afirma ldquonatildeo ter escruacutepulosrdquo pois haacute certo preconceito entre tradutores quanto ao seu uso Ele conta o que lhe ocorreu em um congresso em Li-verpool ldquoEu falava sobre minhas traduccedilotildees sobre poesia rima-da quando um colega de Oxford perguntou como eu trabalha-va Eu disse lsquoTrabalho com um dicionaacuterio de rimas Aliaacutes com mais de umrsquo Ele riu como quem diz lsquocadecirc o ouvido de poetarsquo Mas em um dos meus dicionaacuterios haacute na capa a citaccedilatildeo lsquo() a salvaccedilatildeo da lavoura poeacuteticarsquo Carlos Drummond de Andrade ldquoSe Drummond diz isso acho que estou liberadordquo argumenta com humor

O professor tambeacutem aponta a importacircncia de identificar as pala-vras que sofreram inversatildeo semacircntica ldquoOs vocaacutebulos que a gen-te natildeo conhece natildeo satildeo um problema Existe pelo menos uma duacutezia de dicionaacuterios que cobrem todo o leacutexico shakespeariano O problema satildeo as palavras que parecem corriqueiras que ain-da satildeo utilizadas mas que sofreram inversatildeo semacircntica hoje significam o oposto do que significavam na primeira deacutecada do seacuteculo XVII Satildeo inuacutemeras dessas palavras Essas eacute que satildeo pe-rigosas podem ser armadilhas para o tradutor Merely que hoje eacute lsquomeramentersquo antes era lsquototalmentersquo Fellow que significa lsquoca-maradarsquo na eacutepoca significava lsquomarginalrsquo lsquocriminosorsquo Rival que hoje significa lsquorivalrsquo na eacutepoca significava lsquoparceirorsquo Identificar isso eacute um desafio vocecirc tem que pesquisar muitordquo OrsquoShea acres-centa que tambeacutem eacute importante ter o maacuteximo de empatia pos-siacutevel com cada personagem ldquoVocecirc natildeo pode tomar partido tem que tentar fazer o melhor possiacutevel a partir do personagem que estaacute falando naquele momento Eacute o que alguns autores chamam de lsquodefender o personagemrsquo O tradutor tambeacutem deve defender o personagemrdquo

Traduccedilotildees Editora Ano

Antocircnio e Cleoacutepatra MandarimSiciliano 1997

Cimbeline rei da Britacircnia Iluminuras 2002

O conto do inverno Iluminuras 2007

Peacutericles priacutencipe de Tiro Iluminuras 2012

O primeiro Hamlet In-Quarto de 1603 Hedra 2013

Os dois primos nobres Iluminuras 2016

Troacuteilo e Creacutessida Editora 34 2016

Timon de Atenas (em progresso)

Linguiacutestica e Literatura

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 15: MISSÃO ESPACIAL

14

Engenharias

PROJETO SERPENSOutro projeto que tem a participaccedilatildeo da UFSC em parceria com outras universidades eacute o Sistema Espacial para a Realizaccedilatildeo de Pesquisas e Experimentos com Nanossateacutelites (Serpens) Coor-denado pela Agecircncia Espacial Brasileira (AEB) como uma ativi-dade do programa Uniespaccedilo o Serpens foi criado em dezembro de 2013 com o objetivo de qualificar a pesquisa acadecircmica na aacuterea Ao longo dos anos estudantes dos cursos de Engenha-ria Aeroespacial do paiacutes teratildeo a oportunidade de aplicar a teo-ria na praacutetica participando do desenvolvimento e lanccedilamento de cubesats O primeiro o Serpens I foi lanccedilado em agosto de 2015 rumo agrave Estaccedilatildeo Espacial Internacional (ISS) e colocado em oacuterbita no dia 17 de setembro Aleacutem da UFSC quatro instituiccedilotildees brasileiras participam do projeto Serpens Universidade de Bra-siacutelia (UnB) Universidade Federal do ABC (UFABC) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Instituto Federal Fluminense (IFF) Em cada missatildeo uma equipe fica responsaacutevel por liderar o projeto o Serpens I foi liderado pela UnB o Serpens II mdash que jaacute estaacute em desenvolvimento com previsatildeo de lanccedilamento para de-zembro de 2017 mdash estaacute sendo coordenado pela equipe da UFSC

EQUIPEAtualmente integram o Floripa Sat dez professores e trinta alu-nos da graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo em Engenharia Aeroespacial Engenharia Eleacutetrica Engenharia Eletrocircnica Engenharia Mecacircni-ca Ciecircncia da Computaccedilatildeo e Engenharia de Controle e Automa-ccedilatildeo Aleacutem do projeto Floripa Sat e do Serpens membros da equi-pe jaacute participaram de outras missotildees aeroespaciais Em 2006 quando ainda era estudante de mestrado da UFSC o professor Kleber teve participaccedilatildeo na missatildeo do astronauta brasileiro Mar-cos Pontes como responsaacutevel por um dos experimentos utiliza-do pelo astronauta no ambiente de microgravidade da Estaccedilatildeo Espacial Internacional O doutorando Leonardo Slongo partici-pou junto com Kleber de projetos do Programa Microgravidade da AEB e acompanhou no Centro de Lanccedilamento de Alcacircntara (CLA) no Maranhatildeo o lanccedilamento de foguetes que executaram diferentes experimentos O professor Eduardo Bezerra atua haacute mais de dez anos no projeto e desenvolvimento de sistemas computacionais embarcados para os sateacutelites de grande porte do Programa Espacial Brasileiro

LINHA DO TEMPO

2015

2012

2013

2014

2016

Consolidaccedilatildeo do Floripa Sat como projeto de pesquisa

Levantamento dos requisitos desenvolvimento das primeiras versotildees do Floripa Sat

Definiccedilatildeo dos requisitos da versatildeo a ser lanccedilada organizaccedilatildeo do projeto desenvolvimentotestes do protoacutetipo

Fabricaccedilatildeo do protoacutetipo projeto desenvolvimento do modelo de engenharia e do modelo de voo fabricaccedilatildeo testes

Integraccedilatildeo e testes do modelo de voo testes mecacircnicos e teacutermicos lanccedilamento

Etapas de desenvolvimento do projeto Floripasat

Font

e E

duar

do B

ezer

ra

Kleb

er V

ieira

de

Paiv

aDe

sign

Airt

on J

orda

ni

Text

o D

anie

la C

aniccedil

ali

15

Contribuindo para a difusatildeo do conhecimento a Editora da UFSC (EdUFSC) oferece na forma digital livros de seu acervo impresso acessiacuteveis para leitura gratuita on-line Conheccedila alguns deles

ACERVO DIGITAL EDITORA DA UFSC

EdUFSC

Filosofia da Tecnologia um convite Alberto Cupani

httplufscbrfilosofiatecnologia

O fantaacutestico na Ilha de Santa Catarina

Franklin Cascaes httplufscbrfantasticonailha

Gesto palavra e memoacuteria Luciana Hartmann

httplufscbrgestopalavra

Arquitetura da Cidade Contemporacircnea Gilceacuteia Pesce do Amaral e Silva Lisete Assen de Oliveira (Orgs) httplufscbrarquiteturacidade

Algaravia discursos de naccedilatildeo Rauacutel Antelo

httplufscbralgaravia

Tecnologia de Fabricaccedilatildeo de Revestimentos Ceracircmicos

Antonio P N de Oliveira e Dachamir Hotza httplufscbrrevestimentos

16

Linguiacutestica e Literatura

A ARTE E O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEAREDaniela Caniccedilali

Em 1990 um grupo de cerca de dez pesquisadores se reuacutene em torno de um interesse em comum o dramaturgo inglecircs William Shakespeare Em 1991 nasce em Belo Horizonte (MG) o Centro de Estudos Shakespeareanos (CESh) Entre

aqueles que participaram da fundaccedilatildeo da entidade estava Joseacute Roberto OrsquoShea que acabava de se tornar professor do Depar-tamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras (DLLE) da Universi-dade Federal de Santa Catarina (UFSC) No CESh OrsquoShea foi de-signado para iniciar os projetos de traduccedilatildeo ldquoO grupo entendeu que eram necessaacuterias novas traduccedilotildees Como os padrotildees de fala se modificam mesmo o teatro supostamente claacutessico que eacute o caso de Shakespeare tende a ficar datadordquo explica Segundo o pesquisador as traduccedilotildees que circulavam ateacute o final da deacutecada de 1980 estavam desatualizadas em termos de leacutexico estruturas frasais e referecircncias culturais Estavam portanto distantes do puacuteblico leitor e espectador

Antocircnio e Cleoacutepatra foi a primeira das oito obras do dramatur-go inglecircs que OrsquoShea traduziu desde entatildeo ldquoDecidimos co-meccedilar pelas menos encenadas e menos conhecidas mas que satildeo tambeacutem peccedilas extraordinaacuteriasrdquo Seu trabalho se realiza no acircmbito do projeto de pesquisa ldquoTraduccedilotildees anotadas da drama-turgia shakespearianardquo que tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) e estaacute em atividade ininterrupta haacute 23 anos OrsquoShea eacute o uacutenico tradutor de Shakespeare no Brasil cuja atividade estaacute vinculada a programas de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu O professor tambeacutem traduziu aleacutem das obras de Shakespeare obras sobre Shakespeare De Harold Bloom reconhecido criacutetico literaacuterio de liacutengua inglesa tra-duziu entre outros tiacutetulos Shakespeare a invenccedilatildeo do humano com cerca de 900 paacuteginas

OrsquoShea afirma evitar qualquer relaccedilatildeo de reverecircncia ou mitifica-ccedilatildeo ldquoTento natildeo entrar nessa senatildeo fico paralisado Mas sem sombra de duacutevida como outros grandes autores Shakespeare tem percepccedilotildees graviacutessimas sobre a natureza humanardquo O pro-

fessor explica que uma das preocupaccedilotildees baacutesicas do autor eacute explicitar que a viagem do crescimento do ser humano parte de uma situaccedilatildeo de relativa cegueira autoengano ignoracircncia com relaccedilatildeo a si mesmo e agrave realidade que o cerca e segue na direccedilatildeo do autoconhecimento da percepccedilatildeo de sua relativa importacircn-cia ldquoEssa eacute uma sacaccedilatildeo muito granderdquo Outros temas recor-rentes satildeo o amor romacircntico ndash ldquoquase sempre morre o amor ou morrem os amantesrdquo ndash e a poliacutetica a exposiccedilatildeo do mau gover-nante ndash ldquoaquele que soacute visa ao seu bem proacuteprio e ao de alguns que o cercamrdquo

O TRADUTORA formaccedilatildeo do tradutor demanda muita leitura e escrita ldquoLer e escrever satildeo atividades indissociaacuteveis Eacute preciso ter bastante co-nhecimento da liacutengua de partida e imensuraacutevel conhecimento da liacutengua de chegada Aiacute o ceacuteu eacute o limiterdquo OrsquoShea reforccedila seus argumentos citando o poeta chileno Nicanor Parra ldquoPara tradu-cir Shakespeare y comer pescado cuidado poco se gana con saber ingleacutesrdquo Conhecer a liacutengua e a cultura de chegada portan-to eacute o que permite ao tradutor escrever com fluidez fazendo o texto ldquofuncionarrdquo em seu contexto

O professor lembra que ldquoum tradutor eacute um escritorrdquo apesar de nem sempre ser assim reconhecido ldquoNos uacuteltimos 30 anos o tra-dutor estaacute se tornando mais conhecido mais visiacutevel mais res-peitado Mas ainda haacute um caminho longo a ser trilhadordquo OrsquoShea faz referecircncia agraves criacuteticas literaacuterias ldquoAgraves vezes o criacutetico diz lsquoO au-tor tem um belo estilorsquo Mas o autor natildeo escreveu uma daque-las palavras sequer Nenhuma Todas as palavras que o criacutetico leu foram escritas pelo tradutor Ele elogia o estilo a fluecircncia a linguagem e nem menciona o tradutor como se aquela obra tivesse sido escrita em liacutengua portuguesa Essa eacute a famosa invi-sibilidade do tradutorrdquo

17

UFSC Ciecircncia

TRAJETOacuteRIA ACADEcircMICAComo estudante OrsquoShea nunca frequentou uma universidade brasileira cursou a graduaccedilatildeo o mestrado e o doutorado em di-ferentes instituiccedilotildees dos Estados Unidos (EUA) Seus quatro poacutes--doutorados tambeacutem foram no exterior trecircs deles na Inglaterra e um nos EUA Shakespeare foi o eixo central da pesquisa que desenvolveu na UFSC de 1990 a 2015 Nesse periacuteodo orientou 46 trabalhos entre estaacutegios de poacutes-doutorado teses de dou-torado dissertaccedilotildees de mestrado monografias e trabalhos de conclusatildeo de curso (TCC) ndash a maioria abordou diversos aspec-tos da obra de Shakespeare OrsquoShea se aposentou em marccedilo de 2015 mas segue como professor colaborador dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Inglecircs (PPGI) e em Estudos da Traduccedilatildeo (PPGET) Orienta atualmente dois estudantes de mestrado cin-co de doutorado e um de poacutes-doutorado ldquoOs 25 anos que passei na UFSC natildeo gostaria de ter passado em nenhuma outra univer-sidade do mundo Fiz quatro poacutes-docs dei aula como convida-do em universidades no Brasil e no exterior sempre tive apoio para fazer pesquisa apresentar trabalhos em eventos nacionais e internacionais Natildeo substituiria minha experiecircncia aqui por nenhuma outrardquo

Precircmio JabutiOrsquoShea recebeu uma menccedilatildeo honrosa no Precircmio Jabuti em 2003 pela traduccedilatildeo de Cimbeline rei da Britacircnia Em 2008 sua traduccedilatildeo de O conto do inverno ficou entre as dez finalistas do precircmio na categoria Traduccedilatildeo Literaacuteria

Conheccedila um pouco do trabalho de Joseacute Roberto OrsquoShea por meio

de sua primeira traduccedilatildeo de Shakespeare Antocircnio e Cleoacutepatra

disponiacutevel para leitura gratuita on-line

18

A TRADUCcedilAtildeOShakespeare eacute frequentemente traduzido em prosa A traduccedilatildeo em versos metrificados eacute um dos diferenciais do trabalho de OrsquoShea Somam-se a isso a linguagem atualizada e a inclusatildeo de anotaccedilotildees comentaacuterios paratexto e bibliografia seleciona-da Em todas as obras que publicou haacute um ensaio introdutoacuterio e notas explicativas cobrindo questotildees de texto contexto e en-cenaccedilatildeo Em Antocircnio e Cleoacutepatra por exemplo haacute 365 notas Por isso o resultado final vai aleacutem da traduccedilatildeo em si ldquoEu gosto de pensar que minhas traduccedilotildees volume a volume satildeo ediccedilotildees criacuteticas daquele textordquo

Seu meacutetodo de trabalho se inicia com a escolha do texto base ldquoPara Antocircnio e Cleoacutepatra analisei cinco ediccedilotildees integrais da peccedila todas anotadas e publicadas nos uacuteltimos 50 anos Oxford Cambridge Riverside Penguin Arden Satildeo excelentes ediccedilotildees Mas escolhi a Arden porque a meu ver eacute a que estaacute mais bem resolvida textualmenterdquo Segundo o professor natildeo eacute comum os tradutores terem o cuidado de confrontar a ediccedilatildeo que escolhe-ram com outras cinco ou seis verso a verso como ele faz ldquoCom todo o respeito muitas traduccedilotildees carecem de pesquisa O tradu-tor elege uma boa ediccedilatildeo moderna e se ateacutem agraves anotaccedilotildees e agraves soluccedilotildees textuais dessa uacutenica ediccedilatildeordquo

Uma das principais diferenccedilas entre a traduccedilatildeo em verso e em prosa eacute a questatildeo do espaccedilo ldquoNa prosa se precisar de dez pala-vras para descrever um objeto posso dispor de dez palavras Na poesia metrificada natildeo Trabalho com decassiacutelabos e muitas vezes minha melhor opccedilatildeo semacircntica tem quatro ou cinco siacutela-bas mas natildeo posso usaacute-la Tenho que me contentar com minha segunda terceira melhor opccedilatildeo semacircntica pois natildeo tenho es-paccedilo para escrever por exemplo em-be-ve-ci-men-tordquo OrsquoShea explica que pode haver perdas semacircnticas mas haacute ganhos esteacute-ticos ldquoNatildeo posso ser prolixo natildeo tenho espaccedilo para explicar o texto tenho que ser parcimonioso Afinal trata-se de poesia e poesia eacute sugestiva eacute eliacuteptica ela nos permite imaginarrdquo

Outro desafio na traduccedilatildeo em verso eacute a rima ldquoAs rimas visuais graficamente oacutebvias satildeo mais faacuteceis de traduzir Mas haacute rimas que natildeo repetem padrotildees graacuteficos Vocecirc natildeo vecirc vocecirc ouve Eacute preciso esquecer um pouco a questatildeo graacutefica e ir para o som com flexibilidade pois muitas vezes haacute vaacuterias possibilidades de pronuacutencia Home e come por exemplo podem rimar depende da pronuacutencia do poeta Eu trabalho com dicionaacuterios de rimas natildeo tenho escruacutepulos em dizer issordquo O professor afirma ldquonatildeo ter escruacutepulosrdquo pois haacute certo preconceito entre tradutores quanto ao seu uso Ele conta o que lhe ocorreu em um congresso em Li-verpool ldquoEu falava sobre minhas traduccedilotildees sobre poesia rima-da quando um colega de Oxford perguntou como eu trabalha-va Eu disse lsquoTrabalho com um dicionaacuterio de rimas Aliaacutes com mais de umrsquo Ele riu como quem diz lsquocadecirc o ouvido de poetarsquo Mas em um dos meus dicionaacuterios haacute na capa a citaccedilatildeo lsquo() a salvaccedilatildeo da lavoura poeacuteticarsquo Carlos Drummond de Andrade ldquoSe Drummond diz isso acho que estou liberadordquo argumenta com humor

O professor tambeacutem aponta a importacircncia de identificar as pala-vras que sofreram inversatildeo semacircntica ldquoOs vocaacutebulos que a gen-te natildeo conhece natildeo satildeo um problema Existe pelo menos uma duacutezia de dicionaacuterios que cobrem todo o leacutexico shakespeariano O problema satildeo as palavras que parecem corriqueiras que ain-da satildeo utilizadas mas que sofreram inversatildeo semacircntica hoje significam o oposto do que significavam na primeira deacutecada do seacuteculo XVII Satildeo inuacutemeras dessas palavras Essas eacute que satildeo pe-rigosas podem ser armadilhas para o tradutor Merely que hoje eacute lsquomeramentersquo antes era lsquototalmentersquo Fellow que significa lsquoca-maradarsquo na eacutepoca significava lsquomarginalrsquo lsquocriminosorsquo Rival que hoje significa lsquorivalrsquo na eacutepoca significava lsquoparceirorsquo Identificar isso eacute um desafio vocecirc tem que pesquisar muitordquo OrsquoShea acres-centa que tambeacutem eacute importante ter o maacuteximo de empatia pos-siacutevel com cada personagem ldquoVocecirc natildeo pode tomar partido tem que tentar fazer o melhor possiacutevel a partir do personagem que estaacute falando naquele momento Eacute o que alguns autores chamam de lsquodefender o personagemrsquo O tradutor tambeacutem deve defender o personagemrdquo

Traduccedilotildees Editora Ano

Antocircnio e Cleoacutepatra MandarimSiciliano 1997

Cimbeline rei da Britacircnia Iluminuras 2002

O conto do inverno Iluminuras 2007

Peacutericles priacutencipe de Tiro Iluminuras 2012

O primeiro Hamlet In-Quarto de 1603 Hedra 2013

Os dois primos nobres Iluminuras 2016

Troacuteilo e Creacutessida Editora 34 2016

Timon de Atenas (em progresso)

Linguiacutestica e Literatura

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 16: MISSÃO ESPACIAL

15

Contribuindo para a difusatildeo do conhecimento a Editora da UFSC (EdUFSC) oferece na forma digital livros de seu acervo impresso acessiacuteveis para leitura gratuita on-line Conheccedila alguns deles

ACERVO DIGITAL EDITORA DA UFSC

EdUFSC

Filosofia da Tecnologia um convite Alberto Cupani

httplufscbrfilosofiatecnologia

O fantaacutestico na Ilha de Santa Catarina

Franklin Cascaes httplufscbrfantasticonailha

Gesto palavra e memoacuteria Luciana Hartmann

httplufscbrgestopalavra

Arquitetura da Cidade Contemporacircnea Gilceacuteia Pesce do Amaral e Silva Lisete Assen de Oliveira (Orgs) httplufscbrarquiteturacidade

Algaravia discursos de naccedilatildeo Rauacutel Antelo

httplufscbralgaravia

Tecnologia de Fabricaccedilatildeo de Revestimentos Ceracircmicos

Antonio P N de Oliveira e Dachamir Hotza httplufscbrrevestimentos

16

Linguiacutestica e Literatura

A ARTE E O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEAREDaniela Caniccedilali

Em 1990 um grupo de cerca de dez pesquisadores se reuacutene em torno de um interesse em comum o dramaturgo inglecircs William Shakespeare Em 1991 nasce em Belo Horizonte (MG) o Centro de Estudos Shakespeareanos (CESh) Entre

aqueles que participaram da fundaccedilatildeo da entidade estava Joseacute Roberto OrsquoShea que acabava de se tornar professor do Depar-tamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras (DLLE) da Universi-dade Federal de Santa Catarina (UFSC) No CESh OrsquoShea foi de-signado para iniciar os projetos de traduccedilatildeo ldquoO grupo entendeu que eram necessaacuterias novas traduccedilotildees Como os padrotildees de fala se modificam mesmo o teatro supostamente claacutessico que eacute o caso de Shakespeare tende a ficar datadordquo explica Segundo o pesquisador as traduccedilotildees que circulavam ateacute o final da deacutecada de 1980 estavam desatualizadas em termos de leacutexico estruturas frasais e referecircncias culturais Estavam portanto distantes do puacuteblico leitor e espectador

Antocircnio e Cleoacutepatra foi a primeira das oito obras do dramatur-go inglecircs que OrsquoShea traduziu desde entatildeo ldquoDecidimos co-meccedilar pelas menos encenadas e menos conhecidas mas que satildeo tambeacutem peccedilas extraordinaacuteriasrdquo Seu trabalho se realiza no acircmbito do projeto de pesquisa ldquoTraduccedilotildees anotadas da drama-turgia shakespearianardquo que tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) e estaacute em atividade ininterrupta haacute 23 anos OrsquoShea eacute o uacutenico tradutor de Shakespeare no Brasil cuja atividade estaacute vinculada a programas de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu O professor tambeacutem traduziu aleacutem das obras de Shakespeare obras sobre Shakespeare De Harold Bloom reconhecido criacutetico literaacuterio de liacutengua inglesa tra-duziu entre outros tiacutetulos Shakespeare a invenccedilatildeo do humano com cerca de 900 paacuteginas

OrsquoShea afirma evitar qualquer relaccedilatildeo de reverecircncia ou mitifica-ccedilatildeo ldquoTento natildeo entrar nessa senatildeo fico paralisado Mas sem sombra de duacutevida como outros grandes autores Shakespeare tem percepccedilotildees graviacutessimas sobre a natureza humanardquo O pro-

fessor explica que uma das preocupaccedilotildees baacutesicas do autor eacute explicitar que a viagem do crescimento do ser humano parte de uma situaccedilatildeo de relativa cegueira autoengano ignoracircncia com relaccedilatildeo a si mesmo e agrave realidade que o cerca e segue na direccedilatildeo do autoconhecimento da percepccedilatildeo de sua relativa importacircn-cia ldquoEssa eacute uma sacaccedilatildeo muito granderdquo Outros temas recor-rentes satildeo o amor romacircntico ndash ldquoquase sempre morre o amor ou morrem os amantesrdquo ndash e a poliacutetica a exposiccedilatildeo do mau gover-nante ndash ldquoaquele que soacute visa ao seu bem proacuteprio e ao de alguns que o cercamrdquo

O TRADUTORA formaccedilatildeo do tradutor demanda muita leitura e escrita ldquoLer e escrever satildeo atividades indissociaacuteveis Eacute preciso ter bastante co-nhecimento da liacutengua de partida e imensuraacutevel conhecimento da liacutengua de chegada Aiacute o ceacuteu eacute o limiterdquo OrsquoShea reforccedila seus argumentos citando o poeta chileno Nicanor Parra ldquoPara tradu-cir Shakespeare y comer pescado cuidado poco se gana con saber ingleacutesrdquo Conhecer a liacutengua e a cultura de chegada portan-to eacute o que permite ao tradutor escrever com fluidez fazendo o texto ldquofuncionarrdquo em seu contexto

O professor lembra que ldquoum tradutor eacute um escritorrdquo apesar de nem sempre ser assim reconhecido ldquoNos uacuteltimos 30 anos o tra-dutor estaacute se tornando mais conhecido mais visiacutevel mais res-peitado Mas ainda haacute um caminho longo a ser trilhadordquo OrsquoShea faz referecircncia agraves criacuteticas literaacuterias ldquoAgraves vezes o criacutetico diz lsquoO au-tor tem um belo estilorsquo Mas o autor natildeo escreveu uma daque-las palavras sequer Nenhuma Todas as palavras que o criacutetico leu foram escritas pelo tradutor Ele elogia o estilo a fluecircncia a linguagem e nem menciona o tradutor como se aquela obra tivesse sido escrita em liacutengua portuguesa Essa eacute a famosa invi-sibilidade do tradutorrdquo

17

UFSC Ciecircncia

TRAJETOacuteRIA ACADEcircMICAComo estudante OrsquoShea nunca frequentou uma universidade brasileira cursou a graduaccedilatildeo o mestrado e o doutorado em di-ferentes instituiccedilotildees dos Estados Unidos (EUA) Seus quatro poacutes--doutorados tambeacutem foram no exterior trecircs deles na Inglaterra e um nos EUA Shakespeare foi o eixo central da pesquisa que desenvolveu na UFSC de 1990 a 2015 Nesse periacuteodo orientou 46 trabalhos entre estaacutegios de poacutes-doutorado teses de dou-torado dissertaccedilotildees de mestrado monografias e trabalhos de conclusatildeo de curso (TCC) ndash a maioria abordou diversos aspec-tos da obra de Shakespeare OrsquoShea se aposentou em marccedilo de 2015 mas segue como professor colaborador dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Inglecircs (PPGI) e em Estudos da Traduccedilatildeo (PPGET) Orienta atualmente dois estudantes de mestrado cin-co de doutorado e um de poacutes-doutorado ldquoOs 25 anos que passei na UFSC natildeo gostaria de ter passado em nenhuma outra univer-sidade do mundo Fiz quatro poacutes-docs dei aula como convida-do em universidades no Brasil e no exterior sempre tive apoio para fazer pesquisa apresentar trabalhos em eventos nacionais e internacionais Natildeo substituiria minha experiecircncia aqui por nenhuma outrardquo

Precircmio JabutiOrsquoShea recebeu uma menccedilatildeo honrosa no Precircmio Jabuti em 2003 pela traduccedilatildeo de Cimbeline rei da Britacircnia Em 2008 sua traduccedilatildeo de O conto do inverno ficou entre as dez finalistas do precircmio na categoria Traduccedilatildeo Literaacuteria

Conheccedila um pouco do trabalho de Joseacute Roberto OrsquoShea por meio

de sua primeira traduccedilatildeo de Shakespeare Antocircnio e Cleoacutepatra

disponiacutevel para leitura gratuita on-line

18

A TRADUCcedilAtildeOShakespeare eacute frequentemente traduzido em prosa A traduccedilatildeo em versos metrificados eacute um dos diferenciais do trabalho de OrsquoShea Somam-se a isso a linguagem atualizada e a inclusatildeo de anotaccedilotildees comentaacuterios paratexto e bibliografia seleciona-da Em todas as obras que publicou haacute um ensaio introdutoacuterio e notas explicativas cobrindo questotildees de texto contexto e en-cenaccedilatildeo Em Antocircnio e Cleoacutepatra por exemplo haacute 365 notas Por isso o resultado final vai aleacutem da traduccedilatildeo em si ldquoEu gosto de pensar que minhas traduccedilotildees volume a volume satildeo ediccedilotildees criacuteticas daquele textordquo

Seu meacutetodo de trabalho se inicia com a escolha do texto base ldquoPara Antocircnio e Cleoacutepatra analisei cinco ediccedilotildees integrais da peccedila todas anotadas e publicadas nos uacuteltimos 50 anos Oxford Cambridge Riverside Penguin Arden Satildeo excelentes ediccedilotildees Mas escolhi a Arden porque a meu ver eacute a que estaacute mais bem resolvida textualmenterdquo Segundo o professor natildeo eacute comum os tradutores terem o cuidado de confrontar a ediccedilatildeo que escolhe-ram com outras cinco ou seis verso a verso como ele faz ldquoCom todo o respeito muitas traduccedilotildees carecem de pesquisa O tradu-tor elege uma boa ediccedilatildeo moderna e se ateacutem agraves anotaccedilotildees e agraves soluccedilotildees textuais dessa uacutenica ediccedilatildeordquo

Uma das principais diferenccedilas entre a traduccedilatildeo em verso e em prosa eacute a questatildeo do espaccedilo ldquoNa prosa se precisar de dez pala-vras para descrever um objeto posso dispor de dez palavras Na poesia metrificada natildeo Trabalho com decassiacutelabos e muitas vezes minha melhor opccedilatildeo semacircntica tem quatro ou cinco siacutela-bas mas natildeo posso usaacute-la Tenho que me contentar com minha segunda terceira melhor opccedilatildeo semacircntica pois natildeo tenho es-paccedilo para escrever por exemplo em-be-ve-ci-men-tordquo OrsquoShea explica que pode haver perdas semacircnticas mas haacute ganhos esteacute-ticos ldquoNatildeo posso ser prolixo natildeo tenho espaccedilo para explicar o texto tenho que ser parcimonioso Afinal trata-se de poesia e poesia eacute sugestiva eacute eliacuteptica ela nos permite imaginarrdquo

Outro desafio na traduccedilatildeo em verso eacute a rima ldquoAs rimas visuais graficamente oacutebvias satildeo mais faacuteceis de traduzir Mas haacute rimas que natildeo repetem padrotildees graacuteficos Vocecirc natildeo vecirc vocecirc ouve Eacute preciso esquecer um pouco a questatildeo graacutefica e ir para o som com flexibilidade pois muitas vezes haacute vaacuterias possibilidades de pronuacutencia Home e come por exemplo podem rimar depende da pronuacutencia do poeta Eu trabalho com dicionaacuterios de rimas natildeo tenho escruacutepulos em dizer issordquo O professor afirma ldquonatildeo ter escruacutepulosrdquo pois haacute certo preconceito entre tradutores quanto ao seu uso Ele conta o que lhe ocorreu em um congresso em Li-verpool ldquoEu falava sobre minhas traduccedilotildees sobre poesia rima-da quando um colega de Oxford perguntou como eu trabalha-va Eu disse lsquoTrabalho com um dicionaacuterio de rimas Aliaacutes com mais de umrsquo Ele riu como quem diz lsquocadecirc o ouvido de poetarsquo Mas em um dos meus dicionaacuterios haacute na capa a citaccedilatildeo lsquo() a salvaccedilatildeo da lavoura poeacuteticarsquo Carlos Drummond de Andrade ldquoSe Drummond diz isso acho que estou liberadordquo argumenta com humor

O professor tambeacutem aponta a importacircncia de identificar as pala-vras que sofreram inversatildeo semacircntica ldquoOs vocaacutebulos que a gen-te natildeo conhece natildeo satildeo um problema Existe pelo menos uma duacutezia de dicionaacuterios que cobrem todo o leacutexico shakespeariano O problema satildeo as palavras que parecem corriqueiras que ain-da satildeo utilizadas mas que sofreram inversatildeo semacircntica hoje significam o oposto do que significavam na primeira deacutecada do seacuteculo XVII Satildeo inuacutemeras dessas palavras Essas eacute que satildeo pe-rigosas podem ser armadilhas para o tradutor Merely que hoje eacute lsquomeramentersquo antes era lsquototalmentersquo Fellow que significa lsquoca-maradarsquo na eacutepoca significava lsquomarginalrsquo lsquocriminosorsquo Rival que hoje significa lsquorivalrsquo na eacutepoca significava lsquoparceirorsquo Identificar isso eacute um desafio vocecirc tem que pesquisar muitordquo OrsquoShea acres-centa que tambeacutem eacute importante ter o maacuteximo de empatia pos-siacutevel com cada personagem ldquoVocecirc natildeo pode tomar partido tem que tentar fazer o melhor possiacutevel a partir do personagem que estaacute falando naquele momento Eacute o que alguns autores chamam de lsquodefender o personagemrsquo O tradutor tambeacutem deve defender o personagemrdquo

Traduccedilotildees Editora Ano

Antocircnio e Cleoacutepatra MandarimSiciliano 1997

Cimbeline rei da Britacircnia Iluminuras 2002

O conto do inverno Iluminuras 2007

Peacutericles priacutencipe de Tiro Iluminuras 2012

O primeiro Hamlet In-Quarto de 1603 Hedra 2013

Os dois primos nobres Iluminuras 2016

Troacuteilo e Creacutessida Editora 34 2016

Timon de Atenas (em progresso)

Linguiacutestica e Literatura

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 17: MISSÃO ESPACIAL

16

Linguiacutestica e Literatura

A ARTE E O OFIacuteCIO DE TRADUZIRSHAKESPEAREDaniela Caniccedilali

Em 1990 um grupo de cerca de dez pesquisadores se reuacutene em torno de um interesse em comum o dramaturgo inglecircs William Shakespeare Em 1991 nasce em Belo Horizonte (MG) o Centro de Estudos Shakespeareanos (CESh) Entre

aqueles que participaram da fundaccedilatildeo da entidade estava Joseacute Roberto OrsquoShea que acabava de se tornar professor do Depar-tamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras (DLLE) da Universi-dade Federal de Santa Catarina (UFSC) No CESh OrsquoShea foi de-signado para iniciar os projetos de traduccedilatildeo ldquoO grupo entendeu que eram necessaacuterias novas traduccedilotildees Como os padrotildees de fala se modificam mesmo o teatro supostamente claacutessico que eacute o caso de Shakespeare tende a ficar datadordquo explica Segundo o pesquisador as traduccedilotildees que circulavam ateacute o final da deacutecada de 1980 estavam desatualizadas em termos de leacutexico estruturas frasais e referecircncias culturais Estavam portanto distantes do puacuteblico leitor e espectador

Antocircnio e Cleoacutepatra foi a primeira das oito obras do dramatur-go inglecircs que OrsquoShea traduziu desde entatildeo ldquoDecidimos co-meccedilar pelas menos encenadas e menos conhecidas mas que satildeo tambeacutem peccedilas extraordinaacuteriasrdquo Seu trabalho se realiza no acircmbito do projeto de pesquisa ldquoTraduccedilotildees anotadas da drama-turgia shakespearianardquo que tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq) e estaacute em atividade ininterrupta haacute 23 anos OrsquoShea eacute o uacutenico tradutor de Shakespeare no Brasil cuja atividade estaacute vinculada a programas de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu O professor tambeacutem traduziu aleacutem das obras de Shakespeare obras sobre Shakespeare De Harold Bloom reconhecido criacutetico literaacuterio de liacutengua inglesa tra-duziu entre outros tiacutetulos Shakespeare a invenccedilatildeo do humano com cerca de 900 paacuteginas

OrsquoShea afirma evitar qualquer relaccedilatildeo de reverecircncia ou mitifica-ccedilatildeo ldquoTento natildeo entrar nessa senatildeo fico paralisado Mas sem sombra de duacutevida como outros grandes autores Shakespeare tem percepccedilotildees graviacutessimas sobre a natureza humanardquo O pro-

fessor explica que uma das preocupaccedilotildees baacutesicas do autor eacute explicitar que a viagem do crescimento do ser humano parte de uma situaccedilatildeo de relativa cegueira autoengano ignoracircncia com relaccedilatildeo a si mesmo e agrave realidade que o cerca e segue na direccedilatildeo do autoconhecimento da percepccedilatildeo de sua relativa importacircn-cia ldquoEssa eacute uma sacaccedilatildeo muito granderdquo Outros temas recor-rentes satildeo o amor romacircntico ndash ldquoquase sempre morre o amor ou morrem os amantesrdquo ndash e a poliacutetica a exposiccedilatildeo do mau gover-nante ndash ldquoaquele que soacute visa ao seu bem proacuteprio e ao de alguns que o cercamrdquo

O TRADUTORA formaccedilatildeo do tradutor demanda muita leitura e escrita ldquoLer e escrever satildeo atividades indissociaacuteveis Eacute preciso ter bastante co-nhecimento da liacutengua de partida e imensuraacutevel conhecimento da liacutengua de chegada Aiacute o ceacuteu eacute o limiterdquo OrsquoShea reforccedila seus argumentos citando o poeta chileno Nicanor Parra ldquoPara tradu-cir Shakespeare y comer pescado cuidado poco se gana con saber ingleacutesrdquo Conhecer a liacutengua e a cultura de chegada portan-to eacute o que permite ao tradutor escrever com fluidez fazendo o texto ldquofuncionarrdquo em seu contexto

O professor lembra que ldquoum tradutor eacute um escritorrdquo apesar de nem sempre ser assim reconhecido ldquoNos uacuteltimos 30 anos o tra-dutor estaacute se tornando mais conhecido mais visiacutevel mais res-peitado Mas ainda haacute um caminho longo a ser trilhadordquo OrsquoShea faz referecircncia agraves criacuteticas literaacuterias ldquoAgraves vezes o criacutetico diz lsquoO au-tor tem um belo estilorsquo Mas o autor natildeo escreveu uma daque-las palavras sequer Nenhuma Todas as palavras que o criacutetico leu foram escritas pelo tradutor Ele elogia o estilo a fluecircncia a linguagem e nem menciona o tradutor como se aquela obra tivesse sido escrita em liacutengua portuguesa Essa eacute a famosa invi-sibilidade do tradutorrdquo

17

UFSC Ciecircncia

TRAJETOacuteRIA ACADEcircMICAComo estudante OrsquoShea nunca frequentou uma universidade brasileira cursou a graduaccedilatildeo o mestrado e o doutorado em di-ferentes instituiccedilotildees dos Estados Unidos (EUA) Seus quatro poacutes--doutorados tambeacutem foram no exterior trecircs deles na Inglaterra e um nos EUA Shakespeare foi o eixo central da pesquisa que desenvolveu na UFSC de 1990 a 2015 Nesse periacuteodo orientou 46 trabalhos entre estaacutegios de poacutes-doutorado teses de dou-torado dissertaccedilotildees de mestrado monografias e trabalhos de conclusatildeo de curso (TCC) ndash a maioria abordou diversos aspec-tos da obra de Shakespeare OrsquoShea se aposentou em marccedilo de 2015 mas segue como professor colaborador dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Inglecircs (PPGI) e em Estudos da Traduccedilatildeo (PPGET) Orienta atualmente dois estudantes de mestrado cin-co de doutorado e um de poacutes-doutorado ldquoOs 25 anos que passei na UFSC natildeo gostaria de ter passado em nenhuma outra univer-sidade do mundo Fiz quatro poacutes-docs dei aula como convida-do em universidades no Brasil e no exterior sempre tive apoio para fazer pesquisa apresentar trabalhos em eventos nacionais e internacionais Natildeo substituiria minha experiecircncia aqui por nenhuma outrardquo

Precircmio JabutiOrsquoShea recebeu uma menccedilatildeo honrosa no Precircmio Jabuti em 2003 pela traduccedilatildeo de Cimbeline rei da Britacircnia Em 2008 sua traduccedilatildeo de O conto do inverno ficou entre as dez finalistas do precircmio na categoria Traduccedilatildeo Literaacuteria

Conheccedila um pouco do trabalho de Joseacute Roberto OrsquoShea por meio

de sua primeira traduccedilatildeo de Shakespeare Antocircnio e Cleoacutepatra

disponiacutevel para leitura gratuita on-line

18

A TRADUCcedilAtildeOShakespeare eacute frequentemente traduzido em prosa A traduccedilatildeo em versos metrificados eacute um dos diferenciais do trabalho de OrsquoShea Somam-se a isso a linguagem atualizada e a inclusatildeo de anotaccedilotildees comentaacuterios paratexto e bibliografia seleciona-da Em todas as obras que publicou haacute um ensaio introdutoacuterio e notas explicativas cobrindo questotildees de texto contexto e en-cenaccedilatildeo Em Antocircnio e Cleoacutepatra por exemplo haacute 365 notas Por isso o resultado final vai aleacutem da traduccedilatildeo em si ldquoEu gosto de pensar que minhas traduccedilotildees volume a volume satildeo ediccedilotildees criacuteticas daquele textordquo

Seu meacutetodo de trabalho se inicia com a escolha do texto base ldquoPara Antocircnio e Cleoacutepatra analisei cinco ediccedilotildees integrais da peccedila todas anotadas e publicadas nos uacuteltimos 50 anos Oxford Cambridge Riverside Penguin Arden Satildeo excelentes ediccedilotildees Mas escolhi a Arden porque a meu ver eacute a que estaacute mais bem resolvida textualmenterdquo Segundo o professor natildeo eacute comum os tradutores terem o cuidado de confrontar a ediccedilatildeo que escolhe-ram com outras cinco ou seis verso a verso como ele faz ldquoCom todo o respeito muitas traduccedilotildees carecem de pesquisa O tradu-tor elege uma boa ediccedilatildeo moderna e se ateacutem agraves anotaccedilotildees e agraves soluccedilotildees textuais dessa uacutenica ediccedilatildeordquo

Uma das principais diferenccedilas entre a traduccedilatildeo em verso e em prosa eacute a questatildeo do espaccedilo ldquoNa prosa se precisar de dez pala-vras para descrever um objeto posso dispor de dez palavras Na poesia metrificada natildeo Trabalho com decassiacutelabos e muitas vezes minha melhor opccedilatildeo semacircntica tem quatro ou cinco siacutela-bas mas natildeo posso usaacute-la Tenho que me contentar com minha segunda terceira melhor opccedilatildeo semacircntica pois natildeo tenho es-paccedilo para escrever por exemplo em-be-ve-ci-men-tordquo OrsquoShea explica que pode haver perdas semacircnticas mas haacute ganhos esteacute-ticos ldquoNatildeo posso ser prolixo natildeo tenho espaccedilo para explicar o texto tenho que ser parcimonioso Afinal trata-se de poesia e poesia eacute sugestiva eacute eliacuteptica ela nos permite imaginarrdquo

Outro desafio na traduccedilatildeo em verso eacute a rima ldquoAs rimas visuais graficamente oacutebvias satildeo mais faacuteceis de traduzir Mas haacute rimas que natildeo repetem padrotildees graacuteficos Vocecirc natildeo vecirc vocecirc ouve Eacute preciso esquecer um pouco a questatildeo graacutefica e ir para o som com flexibilidade pois muitas vezes haacute vaacuterias possibilidades de pronuacutencia Home e come por exemplo podem rimar depende da pronuacutencia do poeta Eu trabalho com dicionaacuterios de rimas natildeo tenho escruacutepulos em dizer issordquo O professor afirma ldquonatildeo ter escruacutepulosrdquo pois haacute certo preconceito entre tradutores quanto ao seu uso Ele conta o que lhe ocorreu em um congresso em Li-verpool ldquoEu falava sobre minhas traduccedilotildees sobre poesia rima-da quando um colega de Oxford perguntou como eu trabalha-va Eu disse lsquoTrabalho com um dicionaacuterio de rimas Aliaacutes com mais de umrsquo Ele riu como quem diz lsquocadecirc o ouvido de poetarsquo Mas em um dos meus dicionaacuterios haacute na capa a citaccedilatildeo lsquo() a salvaccedilatildeo da lavoura poeacuteticarsquo Carlos Drummond de Andrade ldquoSe Drummond diz isso acho que estou liberadordquo argumenta com humor

O professor tambeacutem aponta a importacircncia de identificar as pala-vras que sofreram inversatildeo semacircntica ldquoOs vocaacutebulos que a gen-te natildeo conhece natildeo satildeo um problema Existe pelo menos uma duacutezia de dicionaacuterios que cobrem todo o leacutexico shakespeariano O problema satildeo as palavras que parecem corriqueiras que ain-da satildeo utilizadas mas que sofreram inversatildeo semacircntica hoje significam o oposto do que significavam na primeira deacutecada do seacuteculo XVII Satildeo inuacutemeras dessas palavras Essas eacute que satildeo pe-rigosas podem ser armadilhas para o tradutor Merely que hoje eacute lsquomeramentersquo antes era lsquototalmentersquo Fellow que significa lsquoca-maradarsquo na eacutepoca significava lsquomarginalrsquo lsquocriminosorsquo Rival que hoje significa lsquorivalrsquo na eacutepoca significava lsquoparceirorsquo Identificar isso eacute um desafio vocecirc tem que pesquisar muitordquo OrsquoShea acres-centa que tambeacutem eacute importante ter o maacuteximo de empatia pos-siacutevel com cada personagem ldquoVocecirc natildeo pode tomar partido tem que tentar fazer o melhor possiacutevel a partir do personagem que estaacute falando naquele momento Eacute o que alguns autores chamam de lsquodefender o personagemrsquo O tradutor tambeacutem deve defender o personagemrdquo

Traduccedilotildees Editora Ano

Antocircnio e Cleoacutepatra MandarimSiciliano 1997

Cimbeline rei da Britacircnia Iluminuras 2002

O conto do inverno Iluminuras 2007

Peacutericles priacutencipe de Tiro Iluminuras 2012

O primeiro Hamlet In-Quarto de 1603 Hedra 2013

Os dois primos nobres Iluminuras 2016

Troacuteilo e Creacutessida Editora 34 2016

Timon de Atenas (em progresso)

Linguiacutestica e Literatura

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 18: MISSÃO ESPACIAL

17

UFSC Ciecircncia

TRAJETOacuteRIA ACADEcircMICAComo estudante OrsquoShea nunca frequentou uma universidade brasileira cursou a graduaccedilatildeo o mestrado e o doutorado em di-ferentes instituiccedilotildees dos Estados Unidos (EUA) Seus quatro poacutes--doutorados tambeacutem foram no exterior trecircs deles na Inglaterra e um nos EUA Shakespeare foi o eixo central da pesquisa que desenvolveu na UFSC de 1990 a 2015 Nesse periacuteodo orientou 46 trabalhos entre estaacutegios de poacutes-doutorado teses de dou-torado dissertaccedilotildees de mestrado monografias e trabalhos de conclusatildeo de curso (TCC) ndash a maioria abordou diversos aspec-tos da obra de Shakespeare OrsquoShea se aposentou em marccedilo de 2015 mas segue como professor colaborador dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Inglecircs (PPGI) e em Estudos da Traduccedilatildeo (PPGET) Orienta atualmente dois estudantes de mestrado cin-co de doutorado e um de poacutes-doutorado ldquoOs 25 anos que passei na UFSC natildeo gostaria de ter passado em nenhuma outra univer-sidade do mundo Fiz quatro poacutes-docs dei aula como convida-do em universidades no Brasil e no exterior sempre tive apoio para fazer pesquisa apresentar trabalhos em eventos nacionais e internacionais Natildeo substituiria minha experiecircncia aqui por nenhuma outrardquo

Precircmio JabutiOrsquoShea recebeu uma menccedilatildeo honrosa no Precircmio Jabuti em 2003 pela traduccedilatildeo de Cimbeline rei da Britacircnia Em 2008 sua traduccedilatildeo de O conto do inverno ficou entre as dez finalistas do precircmio na categoria Traduccedilatildeo Literaacuteria

Conheccedila um pouco do trabalho de Joseacute Roberto OrsquoShea por meio

de sua primeira traduccedilatildeo de Shakespeare Antocircnio e Cleoacutepatra

disponiacutevel para leitura gratuita on-line

18

A TRADUCcedilAtildeOShakespeare eacute frequentemente traduzido em prosa A traduccedilatildeo em versos metrificados eacute um dos diferenciais do trabalho de OrsquoShea Somam-se a isso a linguagem atualizada e a inclusatildeo de anotaccedilotildees comentaacuterios paratexto e bibliografia seleciona-da Em todas as obras que publicou haacute um ensaio introdutoacuterio e notas explicativas cobrindo questotildees de texto contexto e en-cenaccedilatildeo Em Antocircnio e Cleoacutepatra por exemplo haacute 365 notas Por isso o resultado final vai aleacutem da traduccedilatildeo em si ldquoEu gosto de pensar que minhas traduccedilotildees volume a volume satildeo ediccedilotildees criacuteticas daquele textordquo

Seu meacutetodo de trabalho se inicia com a escolha do texto base ldquoPara Antocircnio e Cleoacutepatra analisei cinco ediccedilotildees integrais da peccedila todas anotadas e publicadas nos uacuteltimos 50 anos Oxford Cambridge Riverside Penguin Arden Satildeo excelentes ediccedilotildees Mas escolhi a Arden porque a meu ver eacute a que estaacute mais bem resolvida textualmenterdquo Segundo o professor natildeo eacute comum os tradutores terem o cuidado de confrontar a ediccedilatildeo que escolhe-ram com outras cinco ou seis verso a verso como ele faz ldquoCom todo o respeito muitas traduccedilotildees carecem de pesquisa O tradu-tor elege uma boa ediccedilatildeo moderna e se ateacutem agraves anotaccedilotildees e agraves soluccedilotildees textuais dessa uacutenica ediccedilatildeordquo

Uma das principais diferenccedilas entre a traduccedilatildeo em verso e em prosa eacute a questatildeo do espaccedilo ldquoNa prosa se precisar de dez pala-vras para descrever um objeto posso dispor de dez palavras Na poesia metrificada natildeo Trabalho com decassiacutelabos e muitas vezes minha melhor opccedilatildeo semacircntica tem quatro ou cinco siacutela-bas mas natildeo posso usaacute-la Tenho que me contentar com minha segunda terceira melhor opccedilatildeo semacircntica pois natildeo tenho es-paccedilo para escrever por exemplo em-be-ve-ci-men-tordquo OrsquoShea explica que pode haver perdas semacircnticas mas haacute ganhos esteacute-ticos ldquoNatildeo posso ser prolixo natildeo tenho espaccedilo para explicar o texto tenho que ser parcimonioso Afinal trata-se de poesia e poesia eacute sugestiva eacute eliacuteptica ela nos permite imaginarrdquo

Outro desafio na traduccedilatildeo em verso eacute a rima ldquoAs rimas visuais graficamente oacutebvias satildeo mais faacuteceis de traduzir Mas haacute rimas que natildeo repetem padrotildees graacuteficos Vocecirc natildeo vecirc vocecirc ouve Eacute preciso esquecer um pouco a questatildeo graacutefica e ir para o som com flexibilidade pois muitas vezes haacute vaacuterias possibilidades de pronuacutencia Home e come por exemplo podem rimar depende da pronuacutencia do poeta Eu trabalho com dicionaacuterios de rimas natildeo tenho escruacutepulos em dizer issordquo O professor afirma ldquonatildeo ter escruacutepulosrdquo pois haacute certo preconceito entre tradutores quanto ao seu uso Ele conta o que lhe ocorreu em um congresso em Li-verpool ldquoEu falava sobre minhas traduccedilotildees sobre poesia rima-da quando um colega de Oxford perguntou como eu trabalha-va Eu disse lsquoTrabalho com um dicionaacuterio de rimas Aliaacutes com mais de umrsquo Ele riu como quem diz lsquocadecirc o ouvido de poetarsquo Mas em um dos meus dicionaacuterios haacute na capa a citaccedilatildeo lsquo() a salvaccedilatildeo da lavoura poeacuteticarsquo Carlos Drummond de Andrade ldquoSe Drummond diz isso acho que estou liberadordquo argumenta com humor

O professor tambeacutem aponta a importacircncia de identificar as pala-vras que sofreram inversatildeo semacircntica ldquoOs vocaacutebulos que a gen-te natildeo conhece natildeo satildeo um problema Existe pelo menos uma duacutezia de dicionaacuterios que cobrem todo o leacutexico shakespeariano O problema satildeo as palavras que parecem corriqueiras que ain-da satildeo utilizadas mas que sofreram inversatildeo semacircntica hoje significam o oposto do que significavam na primeira deacutecada do seacuteculo XVII Satildeo inuacutemeras dessas palavras Essas eacute que satildeo pe-rigosas podem ser armadilhas para o tradutor Merely que hoje eacute lsquomeramentersquo antes era lsquototalmentersquo Fellow que significa lsquoca-maradarsquo na eacutepoca significava lsquomarginalrsquo lsquocriminosorsquo Rival que hoje significa lsquorivalrsquo na eacutepoca significava lsquoparceirorsquo Identificar isso eacute um desafio vocecirc tem que pesquisar muitordquo OrsquoShea acres-centa que tambeacutem eacute importante ter o maacuteximo de empatia pos-siacutevel com cada personagem ldquoVocecirc natildeo pode tomar partido tem que tentar fazer o melhor possiacutevel a partir do personagem que estaacute falando naquele momento Eacute o que alguns autores chamam de lsquodefender o personagemrsquo O tradutor tambeacutem deve defender o personagemrdquo

Traduccedilotildees Editora Ano

Antocircnio e Cleoacutepatra MandarimSiciliano 1997

Cimbeline rei da Britacircnia Iluminuras 2002

O conto do inverno Iluminuras 2007

Peacutericles priacutencipe de Tiro Iluminuras 2012

O primeiro Hamlet In-Quarto de 1603 Hedra 2013

Os dois primos nobres Iluminuras 2016

Troacuteilo e Creacutessida Editora 34 2016

Timon de Atenas (em progresso)

Linguiacutestica e Literatura

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 19: MISSÃO ESPACIAL

18

A TRADUCcedilAtildeOShakespeare eacute frequentemente traduzido em prosa A traduccedilatildeo em versos metrificados eacute um dos diferenciais do trabalho de OrsquoShea Somam-se a isso a linguagem atualizada e a inclusatildeo de anotaccedilotildees comentaacuterios paratexto e bibliografia seleciona-da Em todas as obras que publicou haacute um ensaio introdutoacuterio e notas explicativas cobrindo questotildees de texto contexto e en-cenaccedilatildeo Em Antocircnio e Cleoacutepatra por exemplo haacute 365 notas Por isso o resultado final vai aleacutem da traduccedilatildeo em si ldquoEu gosto de pensar que minhas traduccedilotildees volume a volume satildeo ediccedilotildees criacuteticas daquele textordquo

Seu meacutetodo de trabalho se inicia com a escolha do texto base ldquoPara Antocircnio e Cleoacutepatra analisei cinco ediccedilotildees integrais da peccedila todas anotadas e publicadas nos uacuteltimos 50 anos Oxford Cambridge Riverside Penguin Arden Satildeo excelentes ediccedilotildees Mas escolhi a Arden porque a meu ver eacute a que estaacute mais bem resolvida textualmenterdquo Segundo o professor natildeo eacute comum os tradutores terem o cuidado de confrontar a ediccedilatildeo que escolhe-ram com outras cinco ou seis verso a verso como ele faz ldquoCom todo o respeito muitas traduccedilotildees carecem de pesquisa O tradu-tor elege uma boa ediccedilatildeo moderna e se ateacutem agraves anotaccedilotildees e agraves soluccedilotildees textuais dessa uacutenica ediccedilatildeordquo

Uma das principais diferenccedilas entre a traduccedilatildeo em verso e em prosa eacute a questatildeo do espaccedilo ldquoNa prosa se precisar de dez pala-vras para descrever um objeto posso dispor de dez palavras Na poesia metrificada natildeo Trabalho com decassiacutelabos e muitas vezes minha melhor opccedilatildeo semacircntica tem quatro ou cinco siacutela-bas mas natildeo posso usaacute-la Tenho que me contentar com minha segunda terceira melhor opccedilatildeo semacircntica pois natildeo tenho es-paccedilo para escrever por exemplo em-be-ve-ci-men-tordquo OrsquoShea explica que pode haver perdas semacircnticas mas haacute ganhos esteacute-ticos ldquoNatildeo posso ser prolixo natildeo tenho espaccedilo para explicar o texto tenho que ser parcimonioso Afinal trata-se de poesia e poesia eacute sugestiva eacute eliacuteptica ela nos permite imaginarrdquo

Outro desafio na traduccedilatildeo em verso eacute a rima ldquoAs rimas visuais graficamente oacutebvias satildeo mais faacuteceis de traduzir Mas haacute rimas que natildeo repetem padrotildees graacuteficos Vocecirc natildeo vecirc vocecirc ouve Eacute preciso esquecer um pouco a questatildeo graacutefica e ir para o som com flexibilidade pois muitas vezes haacute vaacuterias possibilidades de pronuacutencia Home e come por exemplo podem rimar depende da pronuacutencia do poeta Eu trabalho com dicionaacuterios de rimas natildeo tenho escruacutepulos em dizer issordquo O professor afirma ldquonatildeo ter escruacutepulosrdquo pois haacute certo preconceito entre tradutores quanto ao seu uso Ele conta o que lhe ocorreu em um congresso em Li-verpool ldquoEu falava sobre minhas traduccedilotildees sobre poesia rima-da quando um colega de Oxford perguntou como eu trabalha-va Eu disse lsquoTrabalho com um dicionaacuterio de rimas Aliaacutes com mais de umrsquo Ele riu como quem diz lsquocadecirc o ouvido de poetarsquo Mas em um dos meus dicionaacuterios haacute na capa a citaccedilatildeo lsquo() a salvaccedilatildeo da lavoura poeacuteticarsquo Carlos Drummond de Andrade ldquoSe Drummond diz isso acho que estou liberadordquo argumenta com humor

O professor tambeacutem aponta a importacircncia de identificar as pala-vras que sofreram inversatildeo semacircntica ldquoOs vocaacutebulos que a gen-te natildeo conhece natildeo satildeo um problema Existe pelo menos uma duacutezia de dicionaacuterios que cobrem todo o leacutexico shakespeariano O problema satildeo as palavras que parecem corriqueiras que ain-da satildeo utilizadas mas que sofreram inversatildeo semacircntica hoje significam o oposto do que significavam na primeira deacutecada do seacuteculo XVII Satildeo inuacutemeras dessas palavras Essas eacute que satildeo pe-rigosas podem ser armadilhas para o tradutor Merely que hoje eacute lsquomeramentersquo antes era lsquototalmentersquo Fellow que significa lsquoca-maradarsquo na eacutepoca significava lsquomarginalrsquo lsquocriminosorsquo Rival que hoje significa lsquorivalrsquo na eacutepoca significava lsquoparceirorsquo Identificar isso eacute um desafio vocecirc tem que pesquisar muitordquo OrsquoShea acres-centa que tambeacutem eacute importante ter o maacuteximo de empatia pos-siacutevel com cada personagem ldquoVocecirc natildeo pode tomar partido tem que tentar fazer o melhor possiacutevel a partir do personagem que estaacute falando naquele momento Eacute o que alguns autores chamam de lsquodefender o personagemrsquo O tradutor tambeacutem deve defender o personagemrdquo

Traduccedilotildees Editora Ano

Antocircnio e Cleoacutepatra MandarimSiciliano 1997

Cimbeline rei da Britacircnia Iluminuras 2002

O conto do inverno Iluminuras 2007

Peacutericles priacutencipe de Tiro Iluminuras 2012

O primeiro Hamlet In-Quarto de 1603 Hedra 2013

Os dois primos nobres Iluminuras 2016

Troacuteilo e Creacutessida Editora 34 2016

Timon de Atenas (em progresso)

Linguiacutestica e Literatura

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 20: MISSÃO ESPACIAL

Ciecircncias da Sauacutede

19

Pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Intera-ccedilotildees entre Micro e Macromoleacuteculas (GEIMM) do Depar-tamento de Farmaacutecia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) investiga a utilizaccedilatildeo de extratos de

proacutepolis de abelhas sem ferratildeo em modelo in vitro de melano-ma ndash tipo mais grave de cacircncer de pele A proposta foi da dou-toranda Juacutelia Cisilotto orientada pela professora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa O projeto em andamento desde o iniacutecio de 2013 jaacute apresenta resultados positivos

O cacircncer de pele eacute o mais frequente no Brasil e corresponde a 25 de todos os tumores malignos detectados Entre eles o melanoma eacute o mais grave devido ao risco de metaacutestase ndash dis-seminaccedilatildeo do cacircncer para outros oacutergatildeos A maioria dos casos brasileiros encontra-se na regiatildeo Sul O melanoma maligno cor-responde a 4 do total de incidecircncia de cacircncer de pele Uma das linhas de pesquisa do grupo coordenado por Creczynsky-Pasa emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de cacircncer testando produtos naturais semissinteacuteticos e sinteacuteticos com atividade antitumoral

Proacutepolis eacute produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das aacutervores ou brotos Esta resina eacute processada e os insetos a utilizam para proteccedilatildeo vedaccedilatildeo e desinfecccedilatildeo da colmeia Os antigos egiacutepcios jaacute usavam proacutepolis como um cicatrizante natu-ral cujas propriedades satildeo alvo de pesquisa atual Cada espeacutecie de abelha o produz com caracteriacutesticas diferentes em termos de composiccedilatildeo quiacutemica aspecto e propriedades medicinais As abelhas Tubuna e Mandaccedilaia satildeo encontradas na Ameacuterica Lati-na no entanto as propriedades do proacutepolis produzido por am-bas as espeacutecies ainda foram pouco estudadas

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abe-lhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra ceacutelulas de melanoma humano De acordo com a doutoranda os resultados foram satisfatoacuterios ldquoA anaacutelise da concentraccedilatildeo comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de proacutepolis mostrou melhores resultados Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotoacutexico [responsaacutevel pela morte da ceacutelula canceriacutegena]rdquo afirma

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISAO proacutepolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Fa-ria Gonccedilalves no siacutetio Flor de Ouro localizado na regiatildeo centro--norte de Florianoacutepolis

A equipe responsaacutevel pela pesquisa conta com a participaccedilatildeo da bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Deacutebora Joppi e com a poacutes-dou-toranda Heloisa Fernandes que colaboram nos estudos in vitro Enquanto isso Juacutelia Cisilotto que propocircs a pesquisa analisa as propriedades quiacutemicas do proacutepolis com a colaboraccedilatildeo da pro-fessora Maique Weber Biavatti especialista em Farmacognosia ndash ramo que estuda princiacutepios ativos de produtos naturais O tra-balho eacute complexo uma vez que o proacutepolis varia de acordo com o inseto o clima e o local da coleta

No momento o grupo estaacute desvendando os mecanismos de accedilatildeo dos extratos ndash como eles estatildeo induzindo a morte de ceacutelulas de melanoma Os extratos foram testados em uma linhagem celular natildeo tumoral e foi possiacutevel observar uma maior seletividade para a linhagem maligna O efeito dos extratos tambeacutem foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para trata-mento de pacientes com melanoma) e o efeito da combinaccedilatildeo foi melhor que quando o faacutermaco foi testado isoladamente Aleacutem disso com o extrato da abelha Mandaccedilaia foi possiacutevel observar um acuacutemulo de ceacutelulas na fase G2M o que pode estar propor-cionando um retardo na progressatildeo do ciclo celular diminuindo a proliferaccedilatildeo das ceacutelulas

A pesquisa estaacute ainda em andamento e jaacute foi observado que o extrato de proacutepolis da abelha Mandaccedilaia apresenta resulta-dos mais efetivos mas ainda natildeo se sabem os componentes que possibilitam o efeito ldquoHaacute ainda a possibilidade de siner-gismo ou seja pode ser que haja um conjunto de componen-tes que o faccedila funcionarrdquo explica a pesquisadora Tacircnia Beatriz Creczynski-Pasa

PESQUISA ESTUDA

PROacutePOLIS DE ABELHA SEM FERRAtildeO EM CEacuteLULAS

MELANOMAAlita Diana e Gabriel Volinger

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 21: MISSÃO ESPACIAL

20

Engenharias

SANEAMENTO

ECOLOacuteGICO

Pesquisa realizada por Raquel Cardoso de Souza inte-grante do Grupo de Estudos em Saneamento Descentra-lizado (Gesad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que eacute possiacutevel retirar mais de 70 dos

antibioacuteticos presentes na urina Esses compostos quando en-tram em contato com o solo podem causar resistecircncia micro-biana ou seja a seleccedilatildeo das bacteacuterias mais resistentes que se tornaratildeo difiacuteceis de serem eliminadas Por isso o estudo ldquoAvalia-ccedilatildeo da remoccedilatildeo de amoxicilina e cefalexina da urina humana por oxidaccedilatildeo avanccedilada (H

2O

2UV) com vistas ao saneamento ecoloacute-

gicordquo analisou a retirada dos antibioacuteticos para que a urina fosse utilizada como fertilizante

O grupo comeccedilou a estudar a urina porque jaacute vinha desenvol-vendo pesquisas envolvendo o saneamento sustentaacutevel uma praacutetica que utiliza excretas humanas no solo Esse tipo de sa-neamento se baseia no banheiro seco que separa fezes e urina para que sejam reutilizadas e natildeo usa aacutegua para o transporte de excrementos Coletar a urina e utilizaacute-la como fertilizante traria

benefiacutecios como a diminuiccedilatildeo do consumo de aacutegua reduccedilatildeo dos gastos com energia e tratamento de esgoto aleacutem de ser uma alternativa de fertilizante mais barata

A pesquisadora aplicou o meacutetodo H2O

2UV um tipo de processo

oxidativo avanccedilado (POA) A luz ultravioleta (UV) eacute responsaacutevel pela quebra das moleacuteculas da aacutegua oxigenada (H

2O

2) formando

espeacutecies de oxigecircnio (EROs) que reagem com os antibioacuteticos Duas amostras de urina foram analisadas ndash uma fresca e ou-tra armazenada ndash e submetidas a esse meacutetodo com diferentes concentraccedilotildees de H

2O

2 durante 60 minutos o que serviu para a

retirada dos antibioacuteticos amoxicilina (AMX) ndash um tipo de penici-lina ndash e cefalexina (CFX) utilizados no tratamento de bacteacuterias comuns A melhor eficiecircncia ocorreu com a H

2O

2 na concentraccedilatildeo

928 mgl A AMX foi removida 7797 na urina armazenada e 4553 na fresca jaacute a CFX teve iacutendices de remoccedilatildeo de 7549 e 7846 respectivamente nos tipos de urina armazenada e fresca As diferenccedilas entre os dois tipos de urina decorrem do pH (potencial de hidrogecircnio que mede o iacutendice de acidez) a

Tamy Dassoler e Ana Carolina Prieto

Urina como alternativa para fertilizantes

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 22: MISSÃO ESPACIAL

UFSC Ciecircncia

21

armazenada apresenta pH mais alto (menor acidez) por isso em geral tem melhor rendimento

O estudo tambeacutem analisou o uso somente da luz UV no proces-so Raquel afirma que ldquoos resultados natildeo satildeo tatildeo bons quando comparados com os primeiros A associaccedilatildeo de H

2O

2 com luz UV

mostrou eficiecircncia de remoccedilatildeo 10 vezes maior do que soacute com luz UVrdquo Ainda foi analisado o meacutetodo H2O2UV em soluccedilotildees aquosas ndash o resultado teve altos iacutendices de remoccedilatildeo chegando a serem retirados ateacute 9951 de CFX

Uma equaccedilatildeo para obter 100 de eficiecircncia na eliminaccedilatildeo de antibioacuteticos foi elaborada assim como as concentraccedilotildees ideais de aacutegua oxigenada para isso Uma eficiecircncia melhor do que a obtida na pesquisa poderia ocorrer se fossem utilizados outros meacutetodos como o foto-Fenton e o TiO

2 mas em ambos os casos

seria gerado um resiacuteduo que precisaria ser eliminado No uso da H

2O

2 isso natildeo ocorre Outra alternativa seria usar ozocircnio (0

3)

com luz UV mas o Gesad natildeo possuiacutea equipamentos disponiacuteveis para realizar esse procedimento

As duacutevidas a respeito do reuso da urina para fertilizantes seriam a presenccedila de medicamentos e suas consequecircncias e se o H

2O

2

removeria os nutrientes Na pesquisa soacute foram analisados a bacteacuteria Escherichia coli que natildeo foi detectada depois do pro-cesso e os antibioacuteticos entatildeo de acordo com a pesquisadora seria preciso mais estudos para verificar se a presenccedila de medi-camentos iria afetar as plantaccedilotildees A respeito dos nutrientes o estudo comprovou que eles continuam inalterados durante todo o processo

A pesquisa de Raquel Cardoso natildeo foi a uacutenica a abordar o sane-amento sustentaacutevel Alexandra Demenighi mestranda em Enge-nharia Civil pela UFSC desenvolveu em 2012 um projeto para a implantaccedilatildeo de banheiros secos Ela diz que ainda haacute resistecircn-cia ao uso do equipamento porque as pessoas consideram uma ldquovolta ao passadordquo utilizar um sistema sem aacutegua para transporte dos resiacuteduos no entanto ressalta que eacute uma opccedilatildeo melhor do ponto de vista ecoloacutegico

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 23: MISSÃO ESPACIAL

22

Ciecircncias Humanas

Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina mu-niciacutepio de Florianoacutepolis a Ilha do Campeche ganhou um perfil proacuteprio o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico resultado da disciplina ldquoDepoacutesitos de planiacutecies costeirasrdquo ofere-

cida pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primei-ro semestre de 2015

A Ilha do Campeche eacute uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina ndash uma das mais relevantes devido a sua importacircncia arqueoloacutegica paisagiacutestica ambiental e turiacutestica ndash e assemelha--se a uma ldquoirmatilde menorrdquo desta ldquoGeologicamente parece mui-to a Ilha de Santa Catarina inclusive na formardquo diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG

ldquoO objetivo da disciplina eacute passar aos alunos aspectos baacutesi-cos do que eacute composta a planiacutecie costeira do estadordquo explica Horn que daacute opccedilotildees para o estudo Eles escolhem os setores que reuacutenem atrativos geoloacutegicos maiores e em 2015 a opccedilatildeo mais aceita foi a Ilha do Campeche ldquoSempre que possiacutevel pre-tende-se que os estudantes tenham como resultado e elemen-to de avaliaccedilatildeo um produto palpaacutevel e publicaacutevelrdquo continua o professor

Na Ilha do Campeche foram realizadas duas etapas de campo em abril e maio para coleta de amostras de sedimentos e ro-chas percorrendo-se boa parte do local Dados geoloacutegicos geo-morfoloacutegicos oceanograacuteficos arqueoloacutegicos socioeconocircmicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a con-fecccedilatildeo do mapa e de seu texto explicativo ldquoNoacutes descrevemos fisicamente a geografia da ilha As informaccedilotildees existiam mas natildeo estavam reunidas num texto e tivemos ecircxito em aprontar o mapardquo afirma Horn

Junto com Horn assinam o mapa os mestrandos do PPGG Aline Pires Mateus Ana Carolina Moreira Ingrid Matos de Arauacutejo Goacutees Irlanda da Silva Matos Marcelo Marini os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanoacutegrafa Andreoara Deschamps Schmidt

A divulgaccedilatildeo no meio digital contou com apoio das Ediccedilotildees do Bosque numa colaboraccedilatildeo entre o Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas (CFH) e o PPGG Horn tambeacutem ressalta a parceria com a Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo ( PROPG) para a impressatildeo de mil exemplares do mapa ndash que natildeo eacute o primeiro fruto do gecircnero no PPGG em 2013 Horn foi um dos autores do Mapa geoevoluti-vo da planiacutecie costeira da Ilha de Santa Catarina

A LESTE

DO EacuteDEN

Caetano Machado

Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico revela a Ilha do Campeche

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 24: MISSÃO ESPACIAL

23

UFSC Ciecircncia

Ao longo de mais de 20 anos da disciplina ldquoDepoacutesitos de pla-niacutecies costeirasrdquo outros resultados foram compilados mape-ando-se todo o litoral de Santa Catarina e estatildeo prontos para apresentaccedilatildeo ao puacuteblico

Para 2016 estatildeo previstas as publicaccedilotildees de dois atlas um da planiacutecie costeira e outro das praias arenosas de Santa Catari-na Os trabalhos envolveram a participaccedilatildeo de no miacutenimo 70 pessoas entre alunos de graduaccedilatildeo mestrado doutorado pes-quisadores e professores ldquoA cada ano as equipes vatildeo se reve-zando e todos faratildeo parte do atlas Eacute uma conquista fico muito satisfeito em fazer parterdquo

O atlas geoloacutegico da planiacutecie costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depoacutesitos quaternaacuterios apresentaraacute em ediccedilatildeo triliacutengue um compecircndio com a produccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica exis-tente sobre a planiacutecie costeira e contaraacute com texto explicativo quatro seacuteries cartograacuteficas e 19 mapas geoloacutegicos Aleacutem de Horn a autoria eacute dividida com o geoacutegrafo e doutorando em Geociecircn-cias Alexandre Feacutelix

Jaacute o Atlas sedimentoloacutegico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina seraacute publicado pela Ediccedilotildees do Bosque do CFHUFSC envolvendo aspectos fisiograacuteficos oceanograacuteficos textu-rais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense

A partir dos anos 1980 ressalta Horn iniciou-se a urbanizaccedilatildeo da planiacutecie costeira e litoral catarinense que passou de um am-biente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado ldquoNoacutes precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupaccedilatildeo natildeo venha a ocorrer de forma desorganizada Eacute necessaacuterio que tenhamos um balanccedilo um equiliacutebriordquo

Houve nos uacuteltimos 35 anos o crescimento do turismo voltado para o mar e haacute uma correlaccedilatildeo entre a evoluccedilatildeo geoloacutegica e a antropizaccedilatildeo ldquoA anaacutelise de fotos aeacutereas antigas e imagens atu-ais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira Natildeo eacute exclusivo de Santa Catarina ou do Brasil mas acontece no mundo inteiro As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e natildeo vivos do mar e a paisagem costeira entretanto tecircm se preocupado muito pouco com a degradaccedilatildeo do meio ambienterdquo conta Horn

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

E

7

Viveiro

Piteira

Paredatildeo

Lageado

Saltador

Laguinho

ConfortoLetreiro

Laguinha

Ponta Sul

Pedra Grande

Buraco do Ira

Pedra Fincada

Pedra do Mero

Pedra do Rosa

Pedra do Pulo

Pedra do Vigia

Ponta do Amaro

Ferro Eleacutetrico

Pedra do Janga

Buraco do Rosa

Pedra do Peres

Toca das Cabras

Pedra da Guincha

Buraco do Araraiacute

Saquinho da Fonte

Buraco do Pereira

Saquinho do Lageado

5

3

9

7

4

1

8

62

10

749600

749600

750000

750000

750400

750400

6933

200

6933

200

6933

600

6933

600

6934

000

6934

000

6934

400

6934

400

0 100 20050 m

Escala 1 5000 em folha A2Adotar escala graacutefica em outros formatos de impressatildeo

Informaccedilotildees meacutetricas na ilha do Campeche e entorno

Comprimento maacuteximoLargura maacuteximaAacutereaPeriacutemetro envolventeComprimento da praia da Enseada (costa rasa)Largura maacutexima da praia da Enseada (costa rasa) Costa abrupta - costeiras e costotildeesAltitude maacuteximaAmplitude meacutedia anual de mareacuteDistacircncia desde a praia do CampecheDistacircncia desde o trapiche da praia da ArmaccedilatildeoDistacircncia desde os molhes da Bara da LagoaProfunidade meacutedia no entorno da ilha

1580 m558 m

4863995 m2

5853 m450 m78 m

5403 m796 m075 m

1650 m6880 m

14220 m4-6 m

OC

EAN

O

ATL

AcircNTI

CO

OC

EA

NO

A

TLAcirc

NTI

CO

Prai

a

daEn

sead

a

27deg 41 22 S 48deg 27 34 W

27deg 42 20 S

48deg

28 1

5 W

1 - Conforto2 - Ferro Eleacutetrico3 - Lajeado4 - Letreiro5 - Pedra Fincada6 - Pedra Preta (Norte)7 - Pedra Preta (Sul)8 - Saco da Fonte9 - Saco do Rosa10 - Triste

O IPHAN (Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional) tombou a Ilha doCampeche como Patrimocircnio Arqueoloacutegico e Paisagiacutestico Nacional (BRASIL 2000) enquanto que o Plano Diretor Municipal de Florianoacutepolis delimitou a ilha do Campechecomo Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) (FLORIANOacutePOLIS 2014)

Gravuras rupestres

25 75 150

Acesse o Mapa geoloacutegico e fisiograacutefico da Ilha do

Campeche resultado da disciplina Depoacutesitos de Planiacutecies Costeiras do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGG) editado

pelas Ediccedilotildees do Bosque

Levantamento realizado no estudo abrangeu a

caracterizaccedilatildeo in loco dos aspectos relacionados agrave

composiccedilatildeo do substrato geoloacutegico da ilha do

Campeche Confira texto explicativo sobre o mapa

MAPA GEOLOacuteGICO E FISIOGRAacuteFICO DA ILHA

DO CAMPECHE

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 25: MISSÃO ESPACIAL

24

Resenha

NOacuteS ENIGMAS E MISTEacuteRIOS O SEMPRE CONTEMPORAcircNEO SALIM MIGUELN

oacutes leitores de Salim Miguel somos incontestavelmente privilegiados O Mestre deleita-se em nos surpreender e desta vez nos propotildee uma novela policial que intriga e seduz Um bilhete anocircnimo seguido de um telefonema

lacocircnico Um cidadatildeo pacato oculta um assassino implacaacutevel Um crime deixa a poliacutecia e a miacutedia perplexas Ningueacutem sabe Ningueacutem viu Mas ao percorrermos as paacuteginas vamos encon-trando indiacutecios esparsos seis degraus o detalhe de uma blusa o salto de um sapato

Com os gestos apurados de um artesatildeo Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos Oriundos de diversos luga-res do paiacutes os personagens acabam em Brasiacute-lia envolvidos no crime um milionaacuterio paraen-se um rapaz catarinense uma moccedila goiana um alagoano candidato a vereador um comissaacuterio de poliacutecia paulista A situaccedilatildeo eacute confusa o caso eacute intricado A viacutetima eacute-e-natildeo-eacute quem se pensa Como desfazer tantos noacutes

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gecircnero policial natildeo estaacute apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos mas tambeacutem no auxiacutelio solicitado a investiga-dores de primeira linha como Sam Spade Nero Wolfe Philip Marlowe Ellery Queen o Padre Brown e o Inspetor Maigret Eacute a eles que recorre Auguste Dupin parceiro do personagem-narrador para entre caacutelices de bourbon e goles de cachaccedila desvendar o misteacuterio e interrogar os suspeitos

Na obra de mais de trinta tiacutetulos que Salim Miguel vem cons-truindo desde sua estreia na literatura em 1951 podemos apro-ximar Noacutes de As vaacuterias faces (1994) e As confissotildees prematuras (1998) ndash novelas que a partir do roubo de um quadro e de um sequestro colocam em cena interrogatoacuterios e embates de per-sonagens Aleacutem dessas afinidades temaacuteticas e estruturais mais

especiacuteficas Noacutes traz marcas recorrentes na escrita de Salim como a alusatildeo a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face agrave paacutegina quase branca e a personagens que teimam em tomar as reacutedeas do proacute-prio destino Outras marcas satildeo o arrojo na forma a habilidade na fragmentaccedilatildeo e em sua articulaccedilatildeo as vozes plurais que mul-tiplicam os pontos de vista para compor um texto que transfor-ma o leitor em co-autor

Eacute essa instigante narrativa ineacutedita que a Editora da Uni-versidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015 em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel que a dirigiu de 1983 a 1991 dotando-a de estrutura profissional do preacutedio que ocupa ateacute hoje e a tornando um dos principais agentes da criaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Editoras Universitaacuterias

Nas conferecircncias que tenho feito no acircmbito de meu poacutes-doutorado na Franccedila Noacutes cativa o puacute-blico tanto pela bela ediccedilatildeo da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel Afinal Noacutes lembra que somos todos eternos migrantes deslocando-nos entre nossas lembranccedilas inquietudes e desejos ten-tando desvendar nossa proacutepria identidade e nos-

sos proacuteprios enigmas Apoacutes os recentes atentados em Paris e face a todas as questotildees suscitadas pela vaga migra-toacuteria na Europa essa narrativa toca ainda mais fundo porque mostra que o conviacutevio com o Outro pode nos ensinar a compre-ender nossas proacuteprias estranhezas e incertezas Quando come-cei a traduccedilatildeo da narrativa para a liacutengua francesa me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do tiacutetulo noacutes (eu tu ele ela noacutes) noacutes do enredo a ser contado noacutes do misteacuterio a ser desvendado Talvez baste fazer como o mestre Salim e es-colher a palavra curta e forte que concentra o belo enigma da existecircncia e do ldquocom-viverrdquo Noacutes (Nous)

Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier Franccedila Eacute docente-pesquisadora no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Traduccedilatildeo e no Departamento de Liacutengua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora Com Jean-Joseacute Mesguen traduziu para o francecircs entre outros Primeiro de Abril narrativas da cadeia de Salim Miguel (Editora LrsquoHarmattan 2007)

Luciana Rassier

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare

Page 26: MISSÃO ESPACIAL

MISSAtildeOESPACIAL

Equipe da UFSCdesenvolve sateacutelite que seraacute

lanccedilado em 2016

Pesquisa incentivauso de bicicletaem Joinville

40 anos dedicadosagrave Ciecircncia um perfilde Ilse Scherer-Warren

A arte e oofiacutecio de traduzirShakespeare