Mitos literários

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Mitos na Educação Adventista George Knight Capítulo 13: “Mais mitos literários” Bruno Santelli de Oliveira, Capelão do CASJP Neste capítulo o autor analisa o modo como os adventistas do sétimo dia en-tendem a leitura de literatura não cristã, principalmente no currículo de nossas esco-las. Segundo ele, isso se dá por causa das contundentes e negativas declarações de Ellen White quando trata do assunto. Afinal, seria a leitura de literatura não cristã um erro grave? Ellen White não poderia ser considerada uma ignorante neste assunto? Ela também não as leu? Por que a leitura de literatura em nossas escolas foi tão ferozmen-te atacada? Ela deixa margem para um “diálogo”? Inicialmente, gostaria de realçar que o autor George Knight não foi criado em um ambiente adventista, muito menos educado em uma escola adventista. Ele foi ag- nóstico; por isso, muito estudioso, sua visão sobre este assunto fica mais próxima da imparcialidade ao analisar algumas questões como essas que acabei de citar no Pará- grafo supra. Nas páginas 160 e 161, ele admitiu que que quando iniciou sua vida cris-tã fazia uma leitura seletiva dos livros de Ellen White e percebeu que o estudo da lite-ratura não seria importante caso tivesse o conhecimento da Bíblia. Essa foi uma cora-josa declaração, por isso comecei com ela. Contudo, mais interessante foi perceber que, com o decorrer do tempo, o universitário George Knight mudou de ideia. A lite-ratura era sim importante e a sua visão é que estava desfocada. Em busca pela defesa da verdade bíblica, não teve a sabedoria de perceber que não estava nos mesmos tri-lhos de pensamento da senhora White. Erro crasso e comum entre os adventistas de plantão sobre Ellen White: textos fora de seus contextos. O autor percebeu que a maior preocupação da senhora White “não era fazer declarações positivas ou negativas sobre o estudo literário, mas sim que os adventistas colocassem a Bíblia e sua cosmovisão no centro da educação e vida cristãs” 1 . Ele per-cebeu também que não existe uma estrutura explicitamente declarada 2 ou uma supos-ta

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A literatura não cristã e o curriculo escolar. Como EGW se posiciona sobre o assunto? Existe uma estrutura formal por trás disso? Uma breve análise do cap.13 do livro "Mitos da Educação Adventista"

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Mitos na Educação AdventistaGeorge Knight

Capítulo 13: “Mais mitos literários”Bruno Santelli de Oliveira, Capelão do CASJP

Neste capítulo o autor analisa o modo como os adventistas do sétimo dia en-tendem a leitura de literatura não cristã, principalmente no currículo de nossas esco-las. Segundo ele, isso se dá por causa das contundentes e negativas declarações de Ellen White quando trata do assunto. Afinal, seria a leitura de literatura não cristã um erro grave? Ellen White não poderia ser considerada uma ignorante neste assunto? Ela também não as leu? Por que a leitura de literatura em nossas escolas foi tão ferozmen-te atacada? Ela deixa margem para um “diálogo”?

Inicialmente, gostaria de realçar que o autor George Knight não foi criado em um ambiente adventista, muito menos educado em uma escola adventista. Ele foi ag-nóstico; por isso, muito estudioso, sua visão sobre este assunto fica mais próxima da imparcialidade ao analisar algumas questões como essas que acabei de citar no Pará-grafo supra. Nas páginas 160 e 161, ele admitiu que que quando iniciou sua vida cris-tã fazia uma leitura seletiva dos livros de Ellen White e percebeu que o estudo da lite-ratura não seria importante caso tivesse o conhecimento da Bíblia. Essa foi uma cora-josa declaração, por isso comecei com ela. Contudo, mais interessante foi perceber que, com o decorrer do tempo, o universitário George Knight mudou de ideia. A lite-ratura era sim importante e a sua visão é que estava desfocada. Em busca pela defesa da verdade bíblica, não teve a sabedoria de perceber que não estava nos mesmos tri-lhos de pensamento da senhora White. Erro crasso e comum entre os adventistas de plantão sobre Ellen White: textos fora de seus contextos.

O autor percebeu que a maior preocupação da senhora White “não era fazer declarações positivas ou negativas sobre o estudo literário, mas sim que os adventistas colocassem a Bíblia e sua cosmovisão no centro da educação e vida cristãs”1. Ele per-cebeu também que não existe uma estrutura explicitamente declarada2 ou uma supos-ta conjectura a respeito, por isso que esse assunto virou mito no capítulo 13. No sé-culo 19 os clássicos gregos e latins ocupavam o centro do currículo da educação ame-ricana. Logo, da educação adventista também. Assim, a mitologia, a ética pagã, e os grandes pensadores desenvolveriam a massa crítica de nossos alunos sem nenhuma orientação ou opinião bíblicas. Os primeiros escritos de Ellen White sobre esse assun-to dariam um vislumbre do que viria mais adiante.

Os professores adventistas e alguns pastores passaram a defender a literatura acima do seu próprio valor e em 1891 a senhora White passou a escrever assertiva-mente sobre o assunto. O problema era a batalha curricular versus a doutrina educa-cional. Ou os princípios bíblicos desenvolveriam o intelecto de nossos jovens ou os princípios da literatura não cristã faria isso. Além disso, naquela época, os Estados Unidos estavam consumindo muita literatura do estilo romance. O problema, entre-tanto, é que os próprios críticos a consideravam “barata”, “sensacionalista”, “inútil” e assim por diante . Eram esses romances populares que Ellen White atacava. A maioria das declarações da senhora White apontavam para conselhos como esse: “A mente [dos jovens] se tem banqueteado com histórias sensacionais. Vivem num mundo ir-real, e acham-se inabilitados para os deveres práticos da vida”3.

1 Página 161.

2 P. 157.

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Até a editora Review and Herald publicava artigos e propagandas enaltecen-do autores não cristãos consagrados como expansores da mente. O problema é que a revista se prezava para a divulgação da Palavra de Deus, do evangelho, mas os ditos autores consagrados divulgavam suas palavras e não a de Deus, obras para enriqueci-mento próprio. Um negócio honesto, mas na revista errada. Ellen White também ata-cou isso.

Por fim, depois de muitas explicações sobre o contexto cultural e comercial da época, George Knight demonstra sua imparcialidade ao publicar uma declaração po-sitiva de Ellen White sobre a educação egípcia de Moisés. Ela disse que “a educação que Moisés recebera no Egito foi-lhe de grande auxílio sob muitos pontos de vista”4. Afirma também que em Babilônia, Daniel recusou-se a comer a comida do rei, mas não recusou ler os seus livros. Foi achado mais culto e preparado que todos os magos e sábios do reino. Paulo também. Estava tão familiarizado com a religião judaico-cris-tã quanto com as culturas pagãs. O que certamente impressionou os atenienses não foi sua ignorância, mas a facilidade em conversar sobre suas obras de arte, literatura e religião5.

George Knight diz que os próprios adventistas subestimam o papel do estudo literário no currículo de uma escola. Para ele, “à luz da estrutura cristã de interpreta-ção, todas as formas de arte adquirem um novo significado”6. “O estudo literário sus-tenta uma posição de centralidade nas estruturas curriculares porque ele é tanto um caminho para transmitir a filosofia religiosa quanto a maneira mais significativa de fa-zê-lo”7.

Concluo com Ellen White falando sobre o que é impróprio: “A juventude está exposta aos grandes perigos da leitura imprópria. Satanás está constantemente levan-do ambos os jovens e os idosos a se encantarem com histórias sem valor”8. Isso é maravilhoso, pois a senhora White não reclama da literatura per si, mas da literatura imprópria. Se pudéssemos fazer um paralelo com o mundo tecnológico e virtual que vivemos, poderíamos dizer que a internet é uma excelente ferramenta para os pais e professores do mundo moderno. Todavia, deveríamos selecionar aquilo que é próprio do que é impróprio. Nossos jovens seriam melhor orientados e na idade adulta, mais seletivos. Knight diz que neste caso “a educação cristã deveria ajudar cada aluno a entender ao menos dois aspectos do estudo literário – seleção responsável e interpretação crítica9.

3 P. 159.

4 P. 162.

5 Ibidem.

6 P. 163.

7 P. 165.

8 P. 166.

9 P. 165.