Mitos Sobre Ls E Surdo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE LETRAS Daniel Borges de Menezes Fernanda Bonfim de Oliveira Lira Matos Martins Pollyanna Candida Rodrigues Suzana Alves Gloria MITOS SOBRE A LÍNGUA DE SINAIS E O SURDO: PERCEPÇÃO DE PROFESSORES DA UNIVERSIDADE FEDRAL DE GOIAS Goiânia 2009

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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOISFACULDADE DE LETRASDaniel Borges de MenezesFernanda Bonfim de Oliveira Lira Matos MartinsPollyanna Candida RodriguesSuzana Alves GloriaMITOS SOBRE A LNGUA DE SINAIS E O SURDO: PERCEPO DE PROFESSORES DA UNIVERSIDADE FEDRAL DE GOIAS Goinia2009

2. 1 DANIEL BORGES DE MENEZESFERNANDA BONFIM DE OLIVEIRA LIRA MATOS MARTINS POLLYANNA CANDIDA RODRIGUESSUZANA ALVES GLRIAMITOS SOBRE A LNGUA DE SINAIS E O SURDO: PERCEPO DE PROFESSORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS Relatrio das atividades realizadas para a Prtica como Componente Curricular, sob orientao da Profa. Ms. Neuma Chaveiro.Goinia 2009 3. 2RESUMO Este trabalho apresenta resultados de investigao sobre mitos a respeito de lnguas de sinais e o surdo a partir da fala de nove professores universitrios de diversas reas na UFG. Quadros e Karnopp (2004) discutem pr-concepes sobre o Surdo e sua modalidade lingstica, enumerando seis mitos que percebem como recorrentes nas falas comuns, tais como: A lngua de sinais seria uma mistura de pantomima e gesticulao concreta, incapaz de expressar conceitos abstratos (ibid., p. 31). Os sujeitos entrevistados apresentaram em suas falas noes diversas: hora correspondendo aos mitos, hora com concepes no discorridas pelas autoras e outras vezes com noes adequadas ao tema da surdez e linguagem visuo-espacial. Dessas noes variadas, obtidas por meio de entrevistas gravadas e a partir de questionrio estruturado, apresentam-se as devidas anlises e discusso dos assuntos correlatos, fazendo-se assim uma ocasio para dilogos interdisciplinares sobre o tema da surdez na comunidade universitria dessa instituio. 4. 3 ABSTRACTThis work aims to present results of an investigation among professors in the Federal University of Gois (UFG) and their notions about deaf people and their language modality. Quadros and Karnopp (2004) discuss misconceptions and prejudices about Deaf subjects and the Sign Language by recognizing six kinds of myths regarding the theme, such as: Sign language would be a mix of pantomime and concrete gesticulation which is unable to express abstract conceptions (ibid., p. 31, our translation). A diversity of notions was presented in the speech of the interviewed professors: sometimes showing similarities with those myths; in other cases presenting misconceptions others than the ones discussed by the authors; and also notions which are adequate to deafness as well as deaf culture and sign language matters. These various notions in speeches obtained through structured questionnaire create the opportunity for a broader discussion about the theme in the academic community, thus, seeking for constructive interdisciplinary dialogues about this current reality in society. 5. 4SUMRIORESUMO .......................................................................................................... 2 ABSTRACT ...................................................................................................... 31. INTRODUO ................................................................................................ 52. LNGUA DE SINAIS ...................................................................................... 7 2.1. A CONCEPODE LNGUA-CDIGO E INSTRUMENTALISMOLINGSTICO .................................................................................................. 9 2.2. SIGNOS LINGSTICOS OU PANTOMIMAS? ........................................... 11 2.3SMBOLO E SMBOLO-SIGNO .................................................................... 15 2.4NOES DE CONCRETUDE EM LNGUAS .............................................. 16 2.5LINGUAGENS DE SINAIS E O CREBRO ................................................. 193SURDO: UMA IDENTIDADE CULTURAL ............................................. 224CONCLUSO ................................................................................................ 265REFERNCIAS ............................................................................................ 287APNDICE: ENTREVISTAS TRANSCRITAS ......................................... 298ANEXO A: QUESTES DAS ENTREVISTAS .......................................... 489ANEXO B: GRFICO DAS RSPOSTAS OBJETIVAS ............................. 49 6. 5 1. INTRODUOEntendemos por mitos modalidades discursivas que constituem narrativas formadas socialmente; transmitidas e modificadas nas geraes por meio da tradio cultural de uma comunidade. Os mitos desempenham uma funo organizadora de ideais e operam juntamente com as crenas, as atitudes dos sujeitos construindo identidades e justificando papeis sociais, sustentando um modo de vida de uma comunidade.Os sujeitos surdos tm sido no decorrer da histria, marginalizados e no tendo seus potenciais reconhecidos, foram privados de desenvolverem sua autonomia e modos de vida prprios suas condies.Nos ltimos tempos, no entanto, vm conquistando reconhecimento poltico de suas culturas e lnguas, mas ainda notvel a falta de informao que a sociedade ouvinte tem de suas reais condies, sua cultura, seus valores e suas lnguas. Deste modo sustentam-se suposies, crenas, e os prprios mitos em torno dessa realidade presente, mas ainda no muito conhecida e reconhecida pela comunidade majoritria de ouvintes. ( Ver Seo 2 deste trabalho)Quadros e Karnopp (2004, PP 31-37) apresentam uma srie de idias a que chamam de mitos sobre a lngua de sinais, que se mostram em controvrsia com anlises lingsticas das lnguas de sinais presentes em vrios pases, a partir das quais se reconhece as lnguas sinalizadas como tendo status de lngua. Os mitos so: A lngua de sinais seria uma mistura de pantomima e gesticulao concreta, incapaz de expressar conceitos abstratos. Haveria uma nica e universal lngua de sinais usada por todas as pessoas surdas. Haveria uma falha na organizao gramatical da lngua de sinais, que seria derivada das lnguas de sinais, sendo um pidgin sem estrutura prpria, subordinado e inferior s lnguas orais. A lngua de sinais seria um sistema de comunicao superficial, com contedo restrito, sendo esttica, expressiva e linguisticamente inferior ao sistema de comunicao oral. As lnguas de sinais derivariam da comunicao gestual espontnea dos ouvintes. As lnguas de sinais, por serem organizadas espacialmente, estariam representadas no hemisfrio direito do crebro, uma vez que esse hemisfrio responsvel pelo processamento de informao espacial, enquanto que o esquerdo, pela linguagem. 7. 6 A sustentao de mitos pode gerar atitudes preconceituosas privando os sujeitos de exercerem suas cidadanias. Eles podem agir no sentido de justificar prticas sociais (como educao e poltica) que criam estruturas hierrquicas discriminatrias que em muitos casos oprimem e estigmatizam sujeitos (ou uma comunidade minoritria) numa sociedade enquanto privilegiam e prestigiam outros.Entendemos que a universidade seja um ambiente apropriado e produtivo para as discusses cerca dos conflitos e nuances da convivncia social e da condio humana. Assim, a implantao do curso de licenciatura em LIBRAS na UFG traz novos subsdios para se olhar para a sociedade, os sujeitos e suas linguagens de modo a se confrontar crenas e suposies a cerca do tema apresentado. E com este intuito que se faz o presente trabalho realizado por alunos de graduao em Letras orientados por suas discusses, leituras, debates e familiaridade com os assuntos aqui presentes.Este trabalho resultado de um projeto de Prtica como Componente curricular desenvolvido na Faculdade de Letras/ UFG sob o ttulo Mitos sobre a lngua de sinais e o surdo que teve como objetivo verificar como noes e mitos a respeito da referida modalidade lingstica e seus usos e usurios se apresentam nas falas de professores universitrios tanto da rea de Letras e Lingstica quanto de outras reas da comunidade acadmica na UFG, somando um total de nove professores. Para tanto, adotou-se como metodologia a coleta de falas obtidas em entrevistas estruturadas com questionrio tanto de perguntas objetivas quanto subjetivas que foram gravadas e transcritas para anlise (Ver APENDICE) seguida de discusses em grupo pelos participantes desta Prtica. As questes foram propostas j nos projetos, em que os participantes vieram a se inscrever, e requeriam respostas conceptuais e definies a partir de pontos de vista pessoal; bem como avaliavam o conhecimento que os sujeitos entrevistados tinham de conceitos relacionados ao surdo, lngua de sinais e educao, como na questo O Surdo mudo? (Anexo A, questo 12). Questes desse tipo, que poderia ser parafraseada como Ser mudo entra no conceito de Surdo?, que muitas vezes foi interpretada como verificaes categricas, do tipo Todo surdo mudo, gerando com isso respostas de naturezas diferentes como: No nem todo surdo mudo e No h relao.Por decorrncia das condies de coleta de dados, parte das entrevistas limitou-se a ser discursiva nas duas primeiras questes, enquanto as respostas das demais questes foram apenas marcadas no gabarito ou no argumentadas pelo entrevistado. Outra parte, no entanto, obteve respostas reflexivas e argumentativas tambm nas questes propostas como objetivas, de 3 a 16, (Anexo A). Destas, inferimos como respostas no apenas sim e no, mas 8. 7tambm sim e no, nem sim nem no e no tenho opinio. Para tanto, considerou-se como resposta a fala como um todo e no simplesmente a resposta imediata que geralmente se alternaram entre sim e no (Anexo B).Para a exposio do tema neste trabalho, optamos por divid-lo em sees de modo a abranger os assuntos relativos ao que se obteve nas falas dos entrevistados. Assim em cada seo apresentamos um tpico, os mitos relacionados a eles, as noes que os entrevistados apresentaram seguida da discusso dessas noes. Comeamos, pois analisando o tpico Lngua de Sinais (LS).2. LNGUA DE SINAIS O primeiro estudioso a analisar a estrutura dos sinais e assim dar maior visibilidade s pesquisas realizadas a respeito da lngua de sinais foi o Dr. William C. Stokoe, Jr. (1919 - 2000)1, que realizou uma extensa pesquisa a respeito da Lngua Gestual Americana. Em 1960 comprovou que a lngua de sinais era composta por uma sintaxe e gramtica independentes assim como qualquer lngua falada no mundo (QUADROS E KARNOPP, 2004).A lngua de sinais considerada pela lingstica como lngua natural por apresentar as propriedades presentes nas lnguas orais, um conjunto (finito ou infinito) de sentenas, cada uma finita em comprimento e construda a partir de um conjunto finito de elementos. (CHOMSKY apud QUADROS E KARNOPP 2004)As Lnguas de Sinais so as lnguas naturais das comunidades surdas. So lnguas de modalidade espao-visual, com estruturas gramaticais prprias e, como lnguas, so compostas pelos nveis lingsticos correspondentes s lnguas orais. O que denominado de palavra ou item lexical nas lnguas orais denominado sinais, nas lnguas de sinais.A Lngua de sinais usada oficialmente no Brasil a LIBRAS (Linguagem Brasileira de Sinais) que teve seu reconhecimento como linguagem a partir de 24 de abril de 2002 com lei 10.436. Mas ela no a nica. (BRASIL. MEC: Secretaria de Educao)Existe tambm no Brasil a Lngua de Sinais Kaapor Brasileira que a lngua usada por uma pequena comunidade indgena de surdos, no sul do estado do Maranho.A lei No 10.098, de dezembro de 2000, estabelece normas e critrios bsicos para a acessibilidade de portadores de deficincia. No que se diz em relao aos Surdos, provia a1O Dr. William C. Stokoe foi um estudioso, que pesquisou extensivamente Lngua Gestual Americana enquanto trabalhava na Universidade Gallaudet. De 1955 a 1970 trabalhou como professor e chefe do departamento de ingls, na Universidade Gallaudet. Publicou Estrutura da Lngua Gestual e foi co-autor de Um Dicionrio de Lngua Gestual Americana sobre Princpios Lingusticos (1965). 9. 8eliminao de barreiras na comunicao (Art.17), a implementao de formao de intrpretes (Art18) e a permisso para o uso da linguagem de sinais (Art.19).Em 24 de abril de 2002 criada a lei 10.436 que reconhece, no Brasil, a Lngua Brasileira de Sinais. Entendendo-a como uma forma de comunicao, que o sistema lingstico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical prpria, constitui um sistema lingstico de transmisso de idias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.(Art.1)Por meio do decreto 5.626, de 25 de dezembro de 2005, inserida a Libras como disciplina curricular nos cursos de formao de professores e em todos os cursos de licenciaturas (Art.3), formao de docentes em libras, a difuso da LIBRAS e da lngua portuguesa para o acesso das pessoas surdas educao, entre outras medidas.As lnguas de sinais presentes nas comunidades surdas tm despertado interesse de pesquisadores diversos em vrios lugares do mundo, bem como as prprias comunidades e os sujeitos surdos (QUADROS & KARNOPP, 2004). No desenvolvimento desses estudos assumem-se, pois, concepes de Lngua e verificam-se como as Lnguas de Sinais participam e fomentam tais concepes, admitindo-se que elas apresentam-se de fato como lnguas estruturadas e desempenham seus papeis enquanto organizada socialmente e organizadora de comunidades surdas viabilizando suas prticas sociais.No entanto muitas questes relacionadas a essas lnguas e prticas lingsticas continuam em aberto e geram suposies que, no obstante, formam crenas e mitos a respeito dessa modalidade lingstica, assim como acontece com as modalidades das lnguas orais (mesmo que mais difundidas) e a linguagem humana em suas abrangncias (ibidem).Tais suposies e crenas so observveis tanto no discurso de pessoas inseridas em comunidades cientficas de lingistas e cientistas sociais quanto entre leigos em linguagem e lnguas de sinais. E se referem tanto ao Surdo quanto s comunidades e s propriedades das lnguas: suas modalidades de realizao, sua estruturao em gramticas e a natureza dos signos que a compem.Pretendemos nesta seo discorrer sobre aspectos propriamente lingsticos temas das crenas, suposies e mitos a partir das idias sobre linguagem, lngua e lngua de sinais apresentadas por autores e autoras como Quadros e Karnopp (2004), dentre outros; das perguntas do questionrio aplicado nas entrevistas, e respostas advindas delas; e das discusses no grupo da PCC. 10. 9 O questionrio aplicado aos entrevistados relaciona perguntas a respeito da natureza da lngua de sinais tanto em questes objetivas quanto na primeira questo, que subjetiva/ discursiva, que diz: Para voc o que lngua de sinais? (Ver anexo A).As diversas respostas mostram noes variadas a respeito dessa modalidade lingstica e sobre lngua e linguagem de um modo geral, incluindo crenas e mitos.Comearemos por discorrer sobre aspectos relacionados definio de lngua e como isso se apresenta na fala dos nossos entrevistados. 2.1. A CONCEPO DELNGUA-CDIGOE INSTRUMENTALISMO LINGSTICO comum que, ao se perguntar a algum se uma LS apresenta uma gramtica, admita- se que Lnguas de Sinais so sim estruturadas, e que se reconhea que seja uma lngua como outra qualquer. E no decorrer da conversa observa-se que vrios termos que a definem coincidem com caracterizaes mesmo das lnguas orais, que passam pelos termos: um cdigo..., meio de comunicao, conjunto de elementos smbolos, etc., como observado em falas de nossos entrevistados (APNDICE), como nas que se seguem:1) Mas eu acredito que um conjunto smbolos para as pessoas que no falam e que no escutam(Sujeito 3, p.32). 2) um mecanismo, um cdigo de comunicao de pessoas com deficincia auditiva emuda. ( Sujeito 4, APNDICE, p. 34) 3) A pessoa surda a pessoa que faz uso justamente dessa lngua de sinais, que no deixa de ser uma linguagem codificada como Saussure falou. (Sujeito 5, APNDICE, pp. 36-37)4) [Lnguas de sinais] so gestos, mas com significado, n? Porque um cdigo! (Sujeito 6, APNDICE, pp. 38-39) A idia de conjunto (delimitado e tangencivel), como a noo de cdigo, resume a lngua a um conjunto de palavras e termos que marcariam os significados transmitidos em seu uso. Desta forma, toda semntica se resumiria a uma semntica do lxico ignorando significados gerados (e interpretados) por seqenciais de enunciados e pelo prprio ato da 11. 10enunciao e suas condies de realizao, como no caso dos implcitos2 discorridos pelo semanticista Oswald Ducrot (1977).Sabemos, no entanto, que o uso da lngua se d numa esfera complexa de relaes interpessoais caracterizada por conflitos e negociaes num jogo em que, conforme o autor, a lngua oferece no apenas a ocasio e o meio, mas tambm o quadro institucional, a regra (DUCROT, 1977, p. 12). Assim o uso da lngua de sinais por sujeitos surdos inseridos nessa complexidade de relaes inter-humanas, com suas identidades, necessidades e realizaes.Vemos em Ducrot (ibidem) que associada idia de cdigo est noo de comunicao, e o autor explica que as possveis implicaes em se tratar lngua como instrumento de comunicao a delimitao de suas funes transmisso de informaes (ibidem) no reconhecendo que [...] muitas outras funes so essenciais na lngua, funes que ela preenche,tornando possveis atos que lhe so especficos e que no tm nenhum carternatural como os de interrogar, ordenar, prometer, permitir ... etc.Nas entrevistas verificamos vrios trechos que narram sobre a lngua, como nas seguintes falas:5) Eu entendo que a forma de comunicar com a pessoa que no consegue ouvir. alinguagem usada como meio de comunicao para quem no pode ouvir (Sujeito 8,APNDICE, pp. 42-43) 6) a lngua que os deficientes utilizam para se comunicar. No s o deficiente, n,mas tambm quem quer se comunicar com o deficiente tambm (Sujeito 6,APNDICE, pp. 38-39) 7) A lngua de sinais uma forma de comunicao no caso alternativa em relao aosque no tem necessidade e uma necessidade de comunicao em relao aos queoutros (Sujeito 8, APNDICE, pp. 45-46)Sabemos que a troca de informaes necessria entre os membros de uma comunidade, como na comunidade surda, e para a interao com a comunidade de ouvintes, como foi colocado em (6). No entanto, essa noo de cdigo informacional no d conta da complexidade de recursos operantes atravs da lngua, oral ou de sinais, seja na produo de efeitos de significados - pela expresso de pensamentos, nas reaes afetivas (como nas2Na sequencia usada como exemplo pelo autor A: No pergunte minha opinio e B: Seno eu a dou traz como implcito C: Minha opinio o desagradaria, que no poderia ser compreendido por uma decodificao simplesmente. 12. 11interjeies), na expresso artstica (como na poesia), na persuaso, etc - ou na construo de identidades e papeis sociais que guiam as atividades realizadas numa comunidade.A respeito dessas noes Ducrot (1977) assim conclui: Dizer que as lnguas naturais so cdigos, destinados transmisso da informaode um idivduo a outro, , ao mesmo tempo, admitir que todos os contedosexpressos graas a elas so exprimidos de maneira explcita. Com efeito, pordefinio, uma informao codificada , para aquele que sabe decifrar o cdigo, umainformao que se d como tal, que se confessa, que se expes. O que dito nocdigo totalmente dito, ou no dito de forma alguma (idem, p. 13). Alm dessas idias, nas falas (1) e (5) esto marcadas a crena de que lngua de sinais est em funo de determinados objetivos, verificada na palavra para, do que se pode inferir que a mesma fora criada, como explicitado pelo sujeito S6 (APNDICE p. 40): Acho que ela foi criada, n. Eu gostaria at de saber qual o histrico dessa lngua, assim, provavelmente seria por ouvintes que queriam se comunicar com os surdos e equip-los para comunicarem entre si. Deste modo se ignora a relao de uma lngua como estruturadora e estruturada por uma comunidade com seus valores e hbitos culturais autnticos ao invs de como elementos importados de outros modos de vida.A respeito dos falantes da lngua de sinais, observa-se em (6) e (7) a possibilidade de participao de sujeitos sem dficit auditivo nas interaes lingsticas com sujeitos surdos por conta de sua alternativa lingstica. E, especialmente em (7), no se exclui a possibilidade da constituio de uma comunidade surda e de forma heterognea (ver seo 2). Assim, tal idia se caracteriza como uma abertura para se discutir e se formarem noes mais abrangentes a respeito do Surdo, sua comunidade e lnguas de sinais. 2.2.SIGNOS LINGSTICOS OU PANTOMIMAS?A noo de gestos parece estar no senso comum relacionado interao visual entre os falantes como uma forma complementar de linguagem, procurando-se preencher supostas limitaes da linguagem verbal, quando considerada como cdigo, na comunicao entre as pessoas em situaes diversas.Um dos sujeitos entrevistados assim se expressa: Lngua de sinais a maneira que a gente se expressa alm das palavras (Sujeito 5, APNDICE, pp. 36-37). Nesta fala, est contida a noo de palavras como algo sistmico, ao passo que os sinais seriam parassitmicos. 13. 12 Gestos so concebidos hora como sendo basicamente o movimento de mos que aparecem durante a fala das pessoas; outras vezes incluindo movimentos de cabea e ombros; e em alguns casos movimentos com a boca e expresses faciais - constituindo-se assim uma espcie de expresso corporal global. Duas falas expressam o que entendem por gestos: Eu acredito que seja uma mistura de gestos, mas expresses faciais tambm (Sujeito 5, APNDICE, pp. 36-37) e Ela basicamente gestos, n, mas no s gestos tem tambm toda uma expresso facial. (Sujeito 8, APNDICE, pp. 42-43)Geralmente admite-se com facilidade que certos gestos constituem-se por conveno, como tendo significados especficos entre falantes inseridos numa comunidade (como o sinal de positivo), sendo que, do mesmo modo que os movimentos no-convencionados (como o sorriso), eles estariam participando da comunicao espontnea entre os falantes. Um dos entrevistados se explica:Talvez sejam quase dedutveis, por conta de serem gestos utilizados para outras finalidades, mas no sei se essa derivao [da gestualizao de ouvintes] limitado a isso. (Sujeito 1, APNDICE, pp. 27-29) Assim, independentemente de suas configuraes terem ou no uma relao dita motivada com as coisas, e de serem ou no convencionados, os gestos so tidos como parte natural das conversaes cotidianas, que seriam realizadas fundamentalmente por meio da oralidade.Nas conversaes do dia-a-dia, falantes usam estratgias variadas para interagirem uns com os outros. Em vrias situaes de interao verbal entre as pessoas, a procura de representaes que figurem o que se quer dizer desejada e realizada de diversas formas. Pode-se, por exemplo, apontar para um objeto prximo evocando algumas de suas caractersticas que representem o que se quer dizer (como tamanho, cor, etc.) como no enunciado A bola era do tamanho daquela televiso (apontando para uma TV de 29 polegadas). Tambm possvel indicar verbalmente coisas que evoquem, por cognio, as representaes desejadas, como na expresso mais alvo que a neve. Mas alm dessas formas, pode-se tambm evocar as caractersticas desejadas num dilogo por meio da operao gestual. Entende-se que essas estratgias so utilizadas tanto por falantes orais na tentativa de se fazerem entender melhor quanto por surdos ao se comunicarem com ouvintes, como mostra a idia do entrevistado: Porque, eu no entendo da lngua de sinais dos surdos-mudos, eu no saberia falar com o surdo mudo, mas eu acho que ele se faz entender, com uma pessoa leiga 14. 13 como eu nessa linguagem, ele se faz entender com os gestos e tambm com as expresses. (Sujeito 5, APNDICE, pp. 36-37) Ao se imitar formatos, dimenses, movimentos, etc., formam-se as pantomimas, queso representaes gestuais icnicas, mas no-convencionadas uma vez que a realizao deuma pantomima requer um tanto de improviso, pois a escolha dos aspectos relevantes a seremfigurados no gesto se d situacionalmente. A esse respeito, interessante notarmos que apesar de poder ser icnico, um sinal ouum signo no tem uma universalidade assegurada por sua motivao, do que Quadros eKarnopp (2004, p.32) explicam: [...] toda arbitrariedade convencional, pois quando um grupo [ou algum numa situao de pantomima] seleciona um trao como uma caracterstica do sinal, outro grupo [ou indivduo] pode selecionar outro trao para identific-lo. Assim, pode-se dizer que a aparncia exerior se um sinal enganosa [...].Diferentemente dos cones convencionados, as pantomimas no podem, por conseguinte, constituir um sistema, visto que este requer um grau de convencionalidade dos signos entre os praticantes dos gestos assegurando seu uso. Nesse sentido, um entrevistado entende que se h uma gramtica formada por signos lingsticos, na conversa de um surdo deve haver sinais alm dos convencionais para se fazerem compreender por ouvintes: Depende de uma gramtica, s que uma gramtica visual, mas como nem todos os seres humanos sabem dessa gramtica ento eu acho que o surdo-mudo ele se serve de alguns gestos que so espontneos e a pessoa entende (S 5, p.XI, ). Gestos pantommicos, no entanto, podem (por atos de repetio e aprendizagem) vir ase convencionarem e participarem de um sistema de oposies mais ou menos estvelpassando a compor uma lngua de sinais, o que se d num processo histrico decompartilhamento social dos sinais tornando-os signos lingsticos. Assim, compreensvelque se imagine que os sinais lingsticos visuo-espaciais possam ter se constitudo dessainterao gestual do surdo para o ouvinte, ou do ouvinte para o surdo. Um entrevistado assimse expressa: Ate onde eu conheo, imagino que algumas expresses, no que derivem naturalmente da comunicao de qualquer ouvinte, mas algumas expresses aludem gestos que tenham um contedo para alem do especialista do conhecedor da linguagem. (Sujeito 1, APNDICE, pp. 27-29) 15. 14 E, somando-se a isto, sabe-se que, de um modo geral, os signos icnicos tendem, nesse processo, perda da motivao, como explica os autores (ibidem, p.33):Foras lingsticas e sociolingsticas tendem a inibir a natureza icnica dos sinais,tornando-os mais arbitrrios atravs do tempo. Alm disso, processos gramaticaisregulares (flexes nominais e verbais, por exemplo) tambm a suprimir relaesicnicas.Essa evoluo rumo arbitrariedade dos signos vai munindo cada vez mais a lngua em direo plenitude de seu funcionamento enquanto o mais completo e mais difundido sistema de expresso, [e] tambm o mais caracterstico de todos (Saussure, idem).Visto dessa forma, compreendemos que lnguas de sinais naturais, como a LIBRAS, asseguram subsdios para um funcionamento pleno nas prticas sociais, o que contraria muitas noes de que as lnguas de sinais so restritas e que no do conta do recado. Mesmo porque em se tratando de iconicidade, verificado que a maior parte dos signos que compem uma lngua de sinais, como a americana (LSA), no apresenta propriedades icnicas (QUADROS E KARNOPP, 2004, p. 33), se for esse um critrio de avaliao do funcionamento das lnguas, como sugere o Course (Saussure, idem).Na idia que se faz de comunicao espontnea em lnguas de sinais se fazem presentes, pois, gestos de diferentes naturezas (sistmicos, no-sistmicos e em processo de sistematizao), dando muitas vezes a impresso de uma mistura de gestos realizados de forma catica para espectadores que no esto inseridos numa cultura que utiliza LS.Isso porque as estratgias utilizadas nas conversaes espontneas refletem as caractersticas essencialmente imagticas, prprias das mesmas, de modo que gestos de toda espcie se apresentam como instrumentos recorrentes nessas interaes, o que pode dar a entender que gestos ou sinais so utilizados apenas, ou essencialmente, em situaes informais expressando menos idias abstratas - em que a linguagem oral seria necessria para express-las - pressupondo-se, assim, a incapacidade abstracional de lngua de sinais.Entende-se por esse vis que os gestos e sinais observveis nas conversaes cotidianas estariam se realizando em funo de um sistema propriamente lingstico, e no como parte constituinte de um. 16. 152.3. SMBOLO E SMBOLO-SIGNOQuando se discute smbolo, o primeiro aspecto aludido em sua definio o da sua natureza representacional motivada, colocado por Saussure ([1916] 2000, p.82) da seguinte forma:O smbolo tem uma caracterstica no ser jamais completamente arbitrria; ele noest vazio, existe um rudimento de vnculo natural entre o significado e osignificante.Essa definio de smbolo se relaciona com a noo de cone pelo fato de ambos terem o fator motivao em comum. Porm uma questo importante de se entender sua diferena do cone em termos de representao: o cone parece geralmente se relacionar a referentes mais concretos (objetos, por exemplo) ao passo que o smbolo, como se v adiante no exemplo discutido por Saussure, designa conceitos de maior abstrao, como: paz, nao, justia, etc. Este ltimo, como indicado no exemplo do autor, seria representado pela balana um objeto que remete idia de equilbrio e, portanto, tem propriedades favorveis representao de justia. Assim mantm um vnculo, ainda que parcial com a idia que representa. O smbolo da justia, a balana, no poderia ser substitudo por um objeto qualquer, um carro, por exemplo. (ibidem), explica o autor.Verificamos o uso de tal termo nas falas de nossos entrevistados, como se segue:Eu acredito que tenha alguns smbolos que sejam universais (Sujeito 1,APNDICE, pp. 27-29) Mas eu acredito que um conjunto smbolos para as pessoas que no falam e queno escutam (Sujeito 3, APNDICE, pp. 32-33) Na nossa lngua ns somos mais prolixos, agente usa muito mais smbolos e nalinguagem surdo-mudo, eu acho que ele usa menos e se faz entender mais. (Sujeito5, APNDICE, pp. 36-37) [...] lngua de sinais como alguma simbologia alternativa ao padro de estiloconvencionado (Sujeito 1, APNDICE, pp. 27-29) comum o uso do termo smbolo de forma genrica, i.e., referindo-se no apenas a um sinal que venha a representar toda uma idia, ou conceito abstrato por uma relao de 17. 16contigidade, como explica Saussure; mas tambm se referindo ao prprio signo sendo motivado ou arbitrrio.Uma aplicao da definio de smbolo ao sistema lingstico seria possvel no caso de se fazer uma configurao desenhando, por exemplo, um corao com o significado no de corao (como um cone), mas significando amor, que um conceito mais abstrato do que corao. Em ltima anlise, no entanto, este smbolo-signo s estaria se constituindo como um signo lingstico propriamente dito quando estivesse participando do uso dentro de uma relao de oposio de significados num sistema, e no de modo isolado ou eventual, como na pantomima.2.4. NOES DE CONCRETUDE EM LNGUASA questo 04 perguntada aos participantes da pesquisa relaciona-se diretamente as idias que se tem de lngua e, mais especificamente lnguas de sinais. Refere-se noo de concretude lingstica que, como observado, varia entre os sujeitos entrevistados, que muitas vezes declaram no terem uma definio segura do termo, respondendo ao serem questionado: Mais concreta? Humm... no, eu no entendo o sentido que voc estaria sugerindo concretude. (Sujeito 1, APNDICE, pp. 27-29)Eu acho que concreto voc quer dizer [...] (Sujeito 6, APNDICE, pp. 38-39)No sei o que quer dizer esse concreto [...] (Sujeito 7, APNDICE, pp. 40-41)Eu no sei se eu entendi muito bem a pergunta. At que ponto uma lngua concreta ou abstrata. (Sujeito 8, APNDICE, pp. 45-46)A pergunta foi elaborada tendo como base a capacidade de expresso de conceitos abstratos das lnguas de sinais apresentado por Quadros em Mito 1: a lngua de sinais seria uma mistura de pantomima e gesticulao concreta, incapaz de expressar conceitos abstratos (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 31).A questo da concretude, de acordo com o mito colocado pela autora, estaria relacionada realizao de gestos e a iconicidade de signos, no entanto apresenta interpretaes diferentes pelos entrevistados da pesquisa, como na passagem:(1)No. Ela capaz de promover uma comunicao atravs de alguns gestos concretos, mas no s isso. Eu no sei se eu entendi muito bem a pergunta. 18. 17 At que ponto uma lngua concreta ou abstrata. Ela tem um cdigo concreto, mas tambm tem caractersticas abstracionistas (Sujeito 8, APNDICE, pp. 45-46).Podemos dividir as suas consideraes da seguinte forma: A) Concretude do sistema lingustico: em que a concretude est relacionada organizao sistmica coesa dos sinais (incluindo as relaes de oposio, por exemplo), formando um cdigo estruturado a que se chama de lngua (podendo inclusive ser referido num processo metalingstico).Esta noo se infere em (1) pelo termo cdigo concreto, e no sujeito entrevistado S6 (APNDICE, p. 40) , dizendo: Eu acho que ela transmite a meta linguagem tambm. Eu acho que concreto voc quer dizer mensagem e meta mensagem, que seriam aspetos lingsticos. Eu acho que sim.A essa noo de concretude lingstica soma-se conceitos que os sujeitos tem de lngua, como por exemplo: conjunto (tangencivel) de signos, cdigo usado para comunicao, estrutura gramatical, etc., sendo que o prprio termo estrutura normalmente alude idia de concretude, como no dizer Esta casa tem boas estruturas. B) Concretude do signo lingstico: em que um significante agrega uma maior quantidade de conceitos, funo, significados sendo concretos ou abstratos.Estas idias podem ser inferidas nos trechos: (2) Se concretude for a possibilidade de ser mais densa em termos de comunicao,talvez ela tenha mais restries em relao a padronizao da linguagem como ditacomum, ento, no sei se ela e mais concreta. (Sujeito 1, APNDICE, pp. 27-29)(3) Na nossa lngua nos somos mais prolixos, agente usa muito mais smbolos e nalinguagem surdo mudo, eu acho que ele usa menos e se faz entender mais. (Sujeito5, APNDICE, pp. 36-37)De acordo com essas noes, uma lngua de sinais teria uma sintaxe mais simples, pois em cada sinal j estariam inseridas as idias de tempo, modo, nmero, gnero, etc., dispensando preposies e desinncias, por exemplo. Isso, de acordo com (2), tornaria mais restrita a comunicao, ao passo que em (3) entende-se que quem assim a usa comunica, digamos, mais com menos. 19. 18 Tratam-se, de fato, de caractersticas comuns em lnguas de sinais, que no se restringem a isso, mas que, no entanto, no so propriamente caractersticas delas, mas possveis nas lnguas naturais como um todo. C) Concretude do referente: em que mais concreta a lngua capaz de se referir apenas a objetos concretos por meio de diticos, representaes icnicas, termos que designem substncias (sendo eles motivados ou arbitrrios).Esta noo pode ser explicada em (1) com o termo caractersticas abstracionistas e nas seguintes passagens em que lemos:- A lngua de sinais uma mais lngua concreta? Ou ela consegue expressarconceitos abstratos?- Ah, claro que consegue!(Sujeito 8, APNDICE, pp. 42-43) - Ela consegue expressar conceitos abstratos?- Ah! Sim... sim... Claro que ela consegue falar de emoes. (Sujeito 7, APNDICE, pp. 40-41) Essa noo de concretude compreendida em se consideramos que o que mais concreto aquilo que podemos ver, ou seja, o significado daquilo que se diz est ligado ao que tem formato, tamanho, textura, cor, etc. (referente concreto).Quando relacionado a lngua de sinais, essa noo traz uma idia limitadora da lngua, tornando-a incapaz de expressar conceitos abstratos, como emoes, conforme o mito apresentado por Quadros e Karnopp (2004). D) Concretude da realizao significante3: mais concreto aquilo que tem realizao motora e mais visualizvel.Podemos interpretar como parte desta categoria o termo gestos concretos em (1) e tambm:Por um lado ela mais concreta porque ela depende de uma gestualizao para ooutro entender, (Sujeito 5, APNDICE, pp. 36-37)3 Optei pelo termo realizao significante para distinguir de significante simplesmente. Este, de acordo com Saussure a imagem acstica, que de natureza psicolgica, ou seja, a representao mental daquela que so elementos realizados na cadeia da fala, como o som, a motricidade da fala, a imagem do sinal, etc., que seriam concretos em termos de substncia. 20. 19 A escrita concreta, ento a lngua de sinais concreta. (Sujeito 7, APNDICE,pp. 40-41)A realizao motora nas lnguas orais se d no aparelho fonador e menos perceptvel em termos de visualizao (a no ser na modalidade escrita) do que nas lnguas de sinais, que apresenta no campo visual todas as configuraes envolvidas na realizao das articulaes da lngua. Nessa idia de concretude, o sinal que leva o significado concreto, independentemente de o prprio significado ser um objeto ou um conceito abstrato. Assim a palavra nao sendo sinalizada em LIBRAS, ou na escrita, seria mais concreta que se fosse pronunciada oralmente.Ao se juntar as noes apresentadas em C e D, a idia de concretude se aproxima mais com o de iconicidade, visto que so percebveis como mais icnicos aqueles signos cujos sinais se parecem com seus referentes, que por ventura so estes tambm substncias concretas. Assim mais concreto aquilo que se parece com a coisa representada.Desta forma normal que se associe a noo de concretude e iconicidade um tanto a mais s lnguas de modalidade visuo-espacial e escrita do que as orais, devido possibilidade de se representar formas e dimenses usando configuraes gestuais e sinais grficos, o que menos provvel em se tratando de oralidade.2.5.LINGUAGENS DE SINAIS E O CREBRO Um dos mitos levantados por Quadros (2004), sobre as lnguas de sinais, de que a LS por serem organizadas espacialmente, estariam representadas no hemisfrio direito do crebro, uma vez que esse hemisfrio responsvel pelo processamento de informao espacial.Analisando as entrevistas em confronto com os estudos teoricos realizados, percebe-se que ha uma falta de informaao dos entrevistados a respeito do mito acima. Tal fato fica claro na observaao de um dos sujeitos da pesquisa que assim se expressou: difcil falar como se fosse uma impresso tcnica ou precisa, n? (Sujeito 1, APNDICE, pp. 27-29)Podemos citar como impresso tcnica conforme estudos realizados por Paul Broca e Carl Werneck. Paul Broca, neurologista Frances, estudou e descobriu que as pessoas que possuem leses em uma parte do hemisfrio esquerdo do crebro, hoje chamado de rea 21. 20Broca, apresentavam problemas na fala, contudo entendiam a linguagem falada. (SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL, P 50). Carl Werneck descobriu que as pessoas que possuem leses em outra parte do hemisfrio esquerdo do crebro, chamado de rea Werneck, tinham problemas de compreenso, mas com perfeita condies de fala. (ibidem) Leses no hemisfrio direito causam problemas relacionados ao Visio - espacial, como a incapacidade de reproduzir um simples desenho, como uma casa, uma rvore, mas no impede a compreenso ou a fala em LS.O estudo sobre as lnguas faladas era a base de pesquisa sobre como as linguas se processam no crebro, ate pouco tempo atrs. De um modo geral acredita-se que a lngua de sinais esta localizada no hemisfrio direito do crebro, por causa da associao a viso e espao.(QUADROS E KARNOPP, 2004) Estudos recentes a respeito da Neuro-Fisiologia da Linguagem de Sinais , nos permitiu compreender um pouco mais desse mistrio. (ibidem)Na reportagem da revista Scientific American Brasil (SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL A lngua de sinais no crebro/ediao especial. Duetto. N 4) explica que a lngua de sinais e a falada compartilham propriedades abstratas, mas diferem radicalmente em sua forma externa. As lnguas faladas so codificadas em mudanas acstico-temporais, variaes do som no tempo. As lnguas de sinais, contudo, baseiam-se em mudanas visuo-espaciais, para assinalar contrastes lingsticos.Perguntam-se com isso em que lugar ento, se encontra a leso que causa afasias na lngua de sinais? Quadros e Karnopp (2004) explicam que pesquisas apresentadas por Bellugi e Klima com Surdos, indicaram que a linguagem humana, independe da modalidade das lnguas, sendo a lngua de sinais processada no hemisfrio esquerdo, assim como qualquer outra lngua. Um dos sujeitos entrevistados no distingue hemisfrios e funes relacionados lngua de sinais e assim se expressa. Eu creio que ela seja visual. Agora eu no sei se a viso est localizada no mesmo lado da linguagem. (Sujeito 8, APNDICE, pp. 42-43)Em outra anlise percebe-se a observao feita por alguns sujeitos entrevistados, onde indica uma induo a resposta atravs da questo referida (Questao 6 da entrevista, anexo I). Analisando as respostas, os sujeitos responderam como se fosse um complemento pergunta, pois a mesma induz ao sim, quando explica que a lngua visuo-espacial e que o hemisfrio direito a rea responsvel pelo visuoespacial, mas no referente s lnguas. Observe: Eu j no tenho como dizer isso. Quando voc faz a pergunta me parece lgico que sim, mas eu no tenho esse conhecimento pra afirmar isso no. (Sujeito 8, APNDICE, pp. 45-46), Sim (Sujeito 2, APNDICE, p. 30),Sim (Sujeito 3, APNDICE, p. 32). Assim se v o erro 22. 21induzido, a forma como apresentado ao sujeito o fez pensar que sim, que a LS est localizada no hemisfrio direito, responsvel pelo visuo-espacial.Outrora, observa-se o senso comum, a opinio popular, o raciocnio lgico, de como a LS se divide no crebro, associando-se a diviso dos hemisfrios e suas funes. Observemos a fala de o sujeito a seguir.Eu acho que no, assim como a linguagem tambm serve a expressoartstica e isso talvez transcenda um pouco a essa diviso entre um hemisfriocarregado mais da racionalidade e o outro carregado da criatividade ate onde euacompanho essa diviso de sistematizao dos potenciais dos hemisfrios, imaginoque a linguagem de sinais tambm deve estar suscetvel a influencia de ambos oshemisfrios. (Sujeito 1, APNDICE, pp. 27-29) Tambm nota-se uma mistura, uma confuso, feita entre a lngua de sinais e gestos dentro do contexto lingstico. (Ver subseo 2.2) Acredita-se que a LS uma mistura de gestos inventados e j articulados pelos ouvintes, gestos que se configuram em cdigos lingsticos.Ah, eu acho que devem ser vrias reas do crebro. Porque voc tem a linguagem corporal, o uso das mos, o processamento de significado desses gestos e isso se transforma num cdigo lingstico. (Sujeito 6, APNDICE, pp. 38-39). Em confronto com os estudos tericos, realizados por Quadros e Karnopp (2004), e pela reportagem da revista Scientific American Brasil, que informam que provavelmente o hemisfrio esquerdo seja dominante na produo e compreenso de sinais e sentenas, pois estes processos dependem de habilidades espaciais locais. E que o hemisfrio direito seja dominante no estabelecimento e manuteno do discurso coerente na lngua de sinais, porque estes processos dependem de habilidades espaciais globais. A partir desses estudos obtm-se que o sujeito entrevistado apresenta um conhecimento homogneo em relao ao processamento do discurso e assim se expressou na fala acima. O discurso na lngua de sinais tem uma organizao espacial nica: quando se conta uma historia com muitos personagens, a pessoa identifica cada um deles por uma localizao diferente. O espao em frente do narrador torna-se uma espcie de palco visual no qual cada personagem tem seu lugar, explica a reportagem da revista.O assunto apresenta-se to complexo e inimaginvel em seus estudos que um dos sujeitos expressa claramente sua falta de conhecimento a respeito da linguagem e crebro. Ele nem se arrisca sobre o assunto. No sei te dizer isso(Sujeito 4, APNDICE, p. 34).Quadros e Karnopp (2004) expem que o interesse em relao ao estudo das lnguas de sinais crescente, pois, at bem pouco tempo, as concepes e investigaes acerca da linguagem humana eram proporcionadas pelo estudo das lnguas orais. Entretanto, as lnguas 23. 22de sinais, podem fornecer novas perspectivas tericas sobre as lnguas humanas. Assim entendemos o porqu da falta de conhecimento dos entrevistados a respeito da lngua de sinais e o crebro, ou seja, esse estudo novo e ainda pouco difundido. A lngua de sinais se situa no hemisfrio esquerdo do crebro, assim como as lnguas orais, e causam afasias na lngua em caso de leso nesse hemisfrio. E por isso conclui-se que os entrevistados demonstram indiferena em relao ao assunto. Estudiosos como Paul Broca e Werneck afirmam que seriam necessrios estudos com dezenas de surdos que se comuniquem por sinais, que tenham leses em lugares exatos, para apurar especificamente quais as partes do crebro esto envolvidas na lngua de sinais. Atravs dessa noo percebemos que estes estudos so limitados em sua preciso, e que seriam necessrias mais pesquisas a fim de entender a funo e o papel do hemisfrio direito no processamento da lngua de sinais. As diferenas entre as lnguas faladas e a de sinais so sutis e especificas da lngua. 3.SURDO: UMA IDENTIDADE CULTURALSer surdo no melhor nem pior que ser ouvinte apenas diferente Pimenta J. A lngua fator determinante de uma cultura, assim, com o reconhecimento da lngua de sinais a cultura surda se fortaleceu e conseqentemente o Surdo. Mas quem o surdo? Existem dois conceitos de surdez: a cultural e a mdica. Do ponto de vista mdico o surdo considerado um deficiente auditivo, algum que possui perda de audio, comprovada por exames audiolgicos, categorizada em quatro graus: a leve, a moderada a severa e a profunda. Do ponto de vista cultural o surdo um individuo pertencente a uma comunidade surda e tem como principal componente cultural uma lngua prpria, a lngua de sinais. Essa distino de conceito feita por meio de uma conveno na qual ao se referir ao Surdo com S maisculo, se refere ao indivduo pertencente comunidade surda, e com s minsculo, a uma definio mdica. (SACKS, 2007) Falco (2007, p. 106) d um conceito simples e claro de quem a pessoa surda. O ser surdo a pessoa, indivduo com identidade civil e cidado ao qual sooferecidos condies especiais de leitura, interpretao e comunicao com e domundo, de educao escolar com qualidade, de formao profissional, 24. 23compartilhando no dia-a-dia vivncias sociais significativas, desenvolve condiesde auto-sustentabilidade e autonomia semelhante aos ouvintes. Quando perguntamos aos sujeitos quem a pessoa surda notamos que os mesmos no tm a viso do surdo com uma identidade, mas como um indivduo que apresenta uma falha, um deficiente. aquela pessoa que no consegue perceber os sons em sua volta. (Sujeito 2, APNDICE, p. 30), Ah, quem o surdo? quem tem a deficincia auditiva, n? (Sujeito 6, APNDICE, pp. 38-39), a pessoa que tem algum problema na audio (Sujeito 7, APNDICE, pp. 40-41).Percebemos que o uso dos termos deficiente foi bastante utilizado, porque os surdos desde o incio foram rotulados como portadores de uma patologia, algum com limitaes (PLACIDO, apud FALCO, 2004). Para a sociedade tudo o que foge do padro ouvinticista passa a ser deficiente, preciso acabar com essa concepo baseada em conceitos mdicos. Alm do termo deficiente alguns entrevistados tambm utilizaram o termo surdo- mudo, natural que esse termo se apresente pois nas dcadas passadas acreditava-se que por serem surdos os indivduos seriam incapazes de falar. Entretanto, os natissurdos4 possuem aparelho fonador idntico aos demais, o que eles no tm a capacidade de ouvir a prpria fala e monitorar o som com o ouvido, por isso aprendem a monitor-los com outros sentidos. (Sacks, 2007, p. 38) Tendo essa concepo o S6 responde: a maioria sim, quando questionado se o surdo mudo. (Sujeito 3, APNDICE, pp. 32-33) Ser surdo oriundo de uma atitude diferente ao dficit, no devemos levar emconsiderao o grau de perda auditiva [...] devemos reconhecer o grau deconvivncia e o reconhecimento de suas potencialidades e habilidades geradoras decompetncia se oportunizados para tanto, reconhecendo na individualidade pessoasnaturais e humanas. (FALCO, 2007, p.110) preciso reconhecer o Surdo como uma identidade integrante de uma comunidade, a comunidade surda. Por dcadas ouve-se falar da necessidade de integrao dos surdos na comunidade ouvinte, esse convvio se dava pela obrigatoriedade de oralizao dos surdos, o que mostrava total desrespeito s diferenas. A comunidade o que fortalece a identidade do surdo, que d mais fora e coragem para enfrentar uma sociedade majoritria, ainda preconceituosa. A existncia dessa4 Tambm conhecidos como pr-linguais. Indivduos que ficaram surdos antes de aprender a falar e que por isso tem muita dificuldade em aprender a falar. 25. 24comunidade permite a aproximao entre surdos e ouvintes. GOLDFELD (1997, p. 112) acredita que a melhor forma de respeitar as diferenas e possibilitar uma maior interao e um pleno desenvolvimento da criana surda, atravs do bilingismo e biculturalismo.Na comunidade surda a surdez uma diferena primordial, uma marca que determina a forma de se identificar e de se conviver reconhecendo o Surdo por sua singularidade. Pois [...] Quem tem surdez parte de uma condio narrada como diferenciada em relao a quem tem audio. Com essa afirmao, no quero trazer o ouvinte para ser comparado com o surdo, mas quero trazer o som e o olhar para marcar identidades. (LOPES, apud SACKS, 2007)O respeito pessoa surda est em consider-lo bicultural e eliminar o conceito de que ele apresente um dficit. Ele bicultural porque alm de participar de um grupo lingstico e cultural minoritrio est em constante contato com a comunidade ouvinte. (......)SACKS (2007, p.16) relata em seu livro a sua prpria experincia em reconhecer osSurdos como integrantes de uma comunidade: [...] comecei a v-los sob uma luz diferente [...] cheios de uma vivacidade, uma animao que eu no conseguia perceber antes. S ento comecei a pensar nele no como surdos, mas como Surdos, como membros de uma comunidade lingstica deferente.Em alguns depoimentos dos sujeitos deste estudo pode-se notar que existe uma noo, ainda que pequena ou inconsciente, da comunidade surda, o que pode ser observado na resposta de um dos entrevistados ao se perguntar sobre a existncia de organizao gramatical na lngua de sinais. Eu acho que tem todo um contexto (Sujeito 8, APNDICE, pp. 45-46). Quando o sujeito diz sobre a existncia de um contexto para as prticas sociais, subentende-se que seja para a utilizao em uma comunidade.Repete essa mesma idia ao opinar sobre o universalismo da lngua de sinais afirmando que: alguns sinais so compreensveis dentro de uma mesma populao ou dentro de um mesmo contexto scio-cultural (Sujeito 8, APNDICE, pp.45-46). Quando questionado se a lngua de sinais deriva ou no de uma comunicao gestual dos ouvintes responde: Talvez ela tenha nascido de uma necessidade.A idia que o sujeito transmite que, se a lngua de sinais surgiu de uma necessidade, provavelmente seja uma necessidade de comunicao em uma comunidade emergente, j que esta s pode ser assim definida a partir da existncia de uma lngua prpria. 26. 25 Verificou-se que alguns sujeitos no demonstram a conscincia da existncia da comunidade surda, quando questionados se a lngua de sinais deriva ou no da comunicao gestual espontnea dos ouvintes obteve-se a seguinte resposta Acho que ela foi criada... (Sujeito 6, APNDICE, pp. 38-39). Nesta fala entra em questo o instrumentalismo, que a criao de uma lngua para algum e com alguma finalidade, excluindo assim a noo de comunidade.Essa comunidade no composta apenas pelos Surdos, mas tambm por familiares e todas as outras pessoas que se identificam, utilizam a lngua de sinais e se prope a integrar-se comunidade, participando das atividades que caracterizam o estilo de vida surdo. perceptvel que alguns sujeitos da pesquisa tm esse conhecimento de que qualquer pessoa pode integrar-se a essa comunidade. [...] no s o deficiente, n, mas tambm quem quer se comunicar com o deficiente tambm.(Sujeito 6, APNDICE, pp. 38-39). preciso aceitar as diferenas entre a comunidade ouvinte e a comunidade surda, lembrando que os surdos se esforam para se integrarem na comunidade majoritria, porm como Labourit relata, poucos ouvintes agem da mesma forma. Quero entender o que dizem. Estou enjoada de ser prisioneira desse silncio que eles no procuram romper. Esforo-me o tempo todo, eles no muito. Os ouvintes no se esforam. Queria que se esforassem. (LABOURIT,1994, p. 39).Com esse desabafo percebemos que o surdo enfrenta o preconceito que os ouvintes tm em relao a eles, de no tentarem inclu-los e querer que apenas eles se esforcem para a integrao na sociedade.Talvez seja at por esse preconceito que os mitos sobre a Lngua de Sinais e os Surdos ainda persistem na sociedade, provocando assim um distanciamento entre as duas comunidades.O uso do termo cultura surda no significa que todas as pessoas surdas no mundo compartilhem da mesma cultura (WILCOX, 2005, p. 78).As lnguas de sinais no seguem delimitao, poltica ou lingsticas (orais). Pode haver em um nico pas mais de uma lngua de sinais como tambm pode haver mais de um pas falando a mesma lngua de sinais. Alguns sujeitos entrevistados mantm a concepo de que a Lngua de Sinais tenha essa delimitao referida, tal fato perceptvel atravs da forma como o sujeito se expressou No, porque cada pas tem a sua lngua. A lngua dos Estados Unidos e Canad so diferentes. (Sujeito 7, APNDICE, pp. 40-41). Esta uma informao equivocada que corresponde crena de que as lnguas so delimitadas politicamente, pois, 27. 26justamente nesse caso, sabe-se que a Lngua de Sinais utilizada a Lngua Americana de Sinais para ambos os pases. Com relao crena de que as Lnguas de Sinais so delimitadas pelo uso das lnguas orais infere-se da seguinte fala uma pr-concepo em relao a isso: Eu no sei por que so lnguas diferentes, n? Por exemplo, o surdo do Japo vaiaprender a lngua de sinais do Japo vo aprender sinais japoneses eu imagino. [...]Ele vai usar a lngua dele para se comunicar (Sujeito 6, APNDICE, pp. 38-39) Percebe-se nessa fala a noo de que as lnguas de sinais seja uma verso sinalizada das lnguas orais. Casos mostram que as lnguas de sinais independem das lnguas orais, podemos utilizar como exemplo a Lngua de Sinais Americana e a Lngua de Sinais Britnica, de acordo com estudos so mutuamente incompreensveis (SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL, p. 52). Esses pases utilizam a mesma lngua oral (ingls) e diferentes lnguas de sinais. Outrora ao serem questionados sobre a universalidade da LS, obtivemos as seguintes respostas: sim (Sujeito 3, APNDICE, pp. 32-33), Acho que sim (Sujeito 4, APNDICE, p. 34), Acredito que sim, pelo conhecimento que eu tenho (Sujeito 5, APNDICE, pp. 36-37). Percebemos atravs destas falas a falta de concepo dos sujeitos em relao ao assunto. Contrapondo tal pr-concepo temos que as razes que explicam a diversidade das lnguas de sinais so tambm das lnguas faladas. (QUADROS; KARNOPP, 2004, p.33). De modo geral os entrevistados no apresentam uma noo abrangente a respeito da existncia de uma comunidade fomentada por uma cultura surda integralizada pelo uso das lnguas de sinais pelo Surdo, definida em sua abrangncia.4.CONCLUSOReconhecer uma LS como uma lngua qualquer admitir que alm de cumprir com suas funes mais primrias de comunicao e expresso do pensamento, entendemos que ela tambm atua como guia e modela as aes nas prticas sociais viabilizando-as, no no sentido da simples troca de informao, mas na formao de hbitos culturais que incluem a comunicao, a reflexo, a educao, o exerccio da cidadania e formao de identidades nos sujeitos que fomentam essa organizao, participando de uma formao cultural e da experincia de seus falantes nessa cultura praticando e transmitindo seus valores. 28. 27 Da mesma forma que entendemos que a linguagem modela aes e que isto acontece tambm na LS e culturas surdas, conclumos que falar de Lngua de Sinais de forma limitada (em termos de cdigo e comunicao) constitui uma atitude que define formas de se ver a linguagem surda, a comunidade e o prprio sujeito surdo - que entendemos ser funo de um mito como tal: a modelagem de pensamentos e aes com objetivos efetivos nas prticas sociais como a educao e o exerccio poltico.Muitos dos nossos entrevistados, ainda que apresentando crenas e noes equivocadas a respeito do surdo em suas linguagens, em expresses tais como me parece que eu acho que, admitem suas condies leigas e at se propem a discutir o tema com esclarecimento.A implantao do curso de Libras na UFG gera o lugar e a ocasio para reflexes sobre o exerccio da cidadania do Surdo e a autonomia de suas comunidades inseridas no quadro nacional, bem como pesquisas e estudos sobre suas organizaes e modo de vida incluindo seus aspectos sociais e lingsticos dentre outros.Neste sentido bem retratada a colocao de Salles (BRASIL MEC, 2002, p.85) [...] a investigao das propriedades das lnguas de sinais abre novos horizontes para o entendimento das lnguas naturais e da cognio humana, alm de propiciar o desenvolvimento de tecnologias que possam contribuir para a socializao do surdo e a afirmao de seus valores culturais. Este trabalho se deu como um estudo qualitativo, que a partir dele pode se ampliar as discusses e debates a respeito do tema apresentado. Sem, no entanto ter tido qualquer pretenso de julgamento das idias apresentadas pelos sujeitos entrevistados e nem de apresentar uma analise estatstica uma vez que o corpus no quantitativamente representativo da comunidade docente da UFG. Uma anlise com um corpus representativo poderia dar as indicaes sobre a distribuio das idias, seja por rea de atuao dos participantes, por tempo de atuao enquanto professor ou outras variveis quaisquer. Mas o que se pode afirmar nesse sentido a partir deste estudo a existncia de uma heterogeneidade de concepes aparentemente no demarcada por reas. 29. 28 REFERENCIAS BRASIL. Decreto-lei no. 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no. 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispe sobre a Lngua Brasileira de Sinais-Libras, e o art. 18 da Lei no. 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Dirio Oficial da Unio (Braslia, DF), 23 DEZ 2005. DUCROT, Oswald. Princpios de Semntica Lingstica. (Dizer e no dizer). Traduo: Carlos Vogt et al. So Paulo: Cultrix, 1977. FALCO, Luiz Albrico. Aprendendo a LIBRAS e reconhecendo as diferenas: um olhar reflexivo sobre a incluso. Recife: Ed. Do autor, 2007 GOLDFELD, Mrcia. A Criana Surda: linguagem e cognio numa perspectiva scio- interacionista. So Paulo: Plexus, 1997. PLCIDO, E. G. R.; MACHADO, T. Hiperestria de apoio ao desenvolvimento cognitivo do portador de deficincia auditiva. Monografia. UNISUL. Tubaro SC, 1996. SACKS, Oliver. Vendo vozes: Uma viagem ao mundo dos surdos. So Paulo: Companhia das letras, 2007. QUADROS, Ronice Mller e KARNOPP, Lodenir Becker. Lngua de sinais brasileira: Estudos lingsticos. Artmed, 2004. SAUSSURE, F. de. Curso de linguistica geral. 20.ed. So Paulo: Cultrix, [1916], 1995. SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL- A Lingua de Sinais e o Crebro. (Edio Especial). Duetto.no. 4. PLCIDO, E. G. R.; MACHADO, T. Hiperestria de apoio ao desenvolvimento cognitivo do portador de deficincia auditiva. Monografia. UNISUL. Tubaro SC, 1996. SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL- (revista). A Lngua de Sinais e o Crebro. (Edio Especial). Duetto.no. 4, p.50-57. 30. 29 APNDICE: ENTREVISTAS TRANSCRITAS Sujeito 1:Qual a Unidade da UFG que voc est vinculado?Faculdade de Cincias Sociais.Para voc o que Lngua de Sinais?Eu vejo com um instrumental alternativo aos recursos formais via alfabeto romano ou recursosaudiovisuais e udio auditivos n, lngua de sinais como alguma simbologia alternativa aopadro de estilo convencionado, a do alfabeto romano, qualquer coisa alternativa a isso entendocomo lngua de sinais.Para voc quem a pessoa surda?Eu procuro ver como um sujeito, um cidado como qualquer outro que tem umaespecificidade, no sei te falar correto, um tipo de, deficincia tambm um vocbulo que temsido descartado, mas que merece uma ateno especial por parte de todos os meios em que elefreqenta por conta dessa dificuldade auditiva.A lngua de sinais uma mistura de gestos? Sim ou no?Olha eu conheo muito pouco mas, ate onde eu entendo ela pode ser expressa por gestostambm mas no sei se limita-se a isso no.A lngua de sinais uma lngua mais concreta? Sim ou no?Mais concreta? Humm, no eu no entendo o sentido que voc estaria sugerindo concretude.Se concretude for a possibilidade de ser mais densa em termos de comunicao, talvez ela tenhamais restries em relao a padronizao da linguagem como dita comum, ento, no sei se elae mais concreta.A lngua de sinais universal? Sim ou no?Eu imagino que sim. No tenho certeza, imagino que talvez deva haver uma peculiaridadeentre as linguagens diferentes, naes diferentes, mas eu acredito que tenha alguns smbolosque sejam universais.Existe uma organizao gramatical da lngua de sinais? Sim ou no?Sim, claro, uma sintaxe muito especifica.A lngua de sinais deriva da comunicao gestual espontnea dos ouvintes? Sim ou no?Ate onde eu conheo, imagino que algumas expresses, no que derivem naturalmente dacomunicao de qualquer ouvinte, mas algumas expresses aludem gestos que tenham umcontedo para alem do especialista do conhecedor da linguagem. Talvez sejam quase 31. 30dedutveis, por conta de serem gestos utilizados para outras finalidades, mas no sei se essa derivao limitado a isso. As lnguas de sinais, por serem organizadas espacialmente, estariam representadas no hemisfrio direito do crebro, uma vez que esse hemisfrio responsvel pelo processamento de informao espacial. Sim ou no? difcil falar com se fosse uma impresso tcnica ou precisa, n? Eu acho que no, assim como a linguagem tambm serve a expresso artstica e isso talvez transcenda um pouco a essa diviso entre um hemisfrio carregado mais da racionalidade e o outro carregado da criatividade ate onde eu acompanho essa diviso de sistematizao dos potenciais dos hemisfrios, imagino que a linguagem de sinais tambm deve estar suscetvel a influencia de ambos hemisfrios. O surdo uma pessoa nervosa e explosiva? Sim ou no? Nervosa e explosiva? No imagino que no. uma imagem que fica por conta de determinado gestual necessrio para comunicao. No absolutamente. O surdo tem problema mental? Sim ou no? No, tambm uma coisa completamente dissocivel. Todo surdo faz leitura labial? Sim ou no? Imagino que no, imagino que leitura labial e um recurso que eles utilizem , que tem que ser aprendido, que tem que ser treinado. O surdo mudo? Sim ou no? No, bem, apesar que esta questo capciosa, uma vez eu li alguma coisa a respeito disso, a deficincia, no eu no poderia me recordar, para te dizer exatamente qual relao entre a capacidade da fala, e a capacidade da audio. Mas imagino que deva haver casos em que isso no esteja conectado, isso no seria uma resposta. Todos os surdos conhecem a lngua de sinais? Sim ou no? Imagino que no tambm, imagino que talvez ele entende mas que no seja a alfabetizao padro para a criana que apresenta essa dificuldade auditiva ou de fala, desde o inicio da vida. Imagino que o sujeito possa tambm, fica difcil falar sem isso, mas de uma forma que ele e trago, consegue ler o alfabeto, imagino que... fcil aprender a lngua de sinais? Sim ou no? Acho que deve ser difcil quanto qualquer outra, apesar da amplido de expresses que se pode utilizar. Um aluno surdo pode fazer ditado pelo alfabeto manual? Sim ou no? 32. 31Um aluno surdo?! Curiosa pergunta. Ser que ele capaz de reconhecer atravs de leitura labial, no alfabeto manual. Ah sim ele pode verter aquilo que ele esta recebendo em algum tipo de anotao. Sim, imagino que sim. O alfabeto manual a mesma coisa que a lngua de sinais? Sim ou no? Boa pergunta, no sei, no sei, imagino que a lngua de sinais seja mais ampla que o alfabeto manual, mas isso uma opinio, no sei. O alfabeto manual com alguma organizao pr-determinada com sintaxe prpria. 33. 32Sujeito 2:Qual a Unidade da UFG que voc est vinculado?Instituto de informtica.Para voc o que Lngua de Sinais?Uma forma de comunicao atravs de gestos.Para voc quem a pessoa surda? aquela pessoa que no consegue perceber os sons a sua volta.A lngua de sinais uma mistura de gestos? Sim ou no?Sim.A lngua de sinais uma lngua mais concreta? Sim ou no?No.A lngua de sinais universal? Sim ou no?No.Existe uma organizao gramatical da lngua de sinais? Sim ou no?Acredito que sim.A lngua de sinais deriva da comunicao gestual espontnea dos ouvintes? Sim ou no?No.As lnguas de sinais, por serem organizadas espacialmente, estariam representadas nohemisfrio direito do crebro, uma vez que esse hemisfrio responsvel pelo processamentode informao espacial Sim ou no?Sim.O surdo uma pessoa nervosa e explosiva? Sim ou no?No.O surdo tem problema mental? Sim ou no?No.Todo surdo faz leitura labial? Sim ou no?No.O surdo mudo? Sim ou no?No.Todos os surdos conhecem a lngua de sinais? Sim ou no?No fcil aprender a lngua de sinais? Sim ou no?Acredito que sim.Um aluno surdo pode fazer ditado pelo alfabeto manual? Sim ou no? 34. 33Pode. O alfabeto manual a mesma coisa que a lngua de sinais? Sim ou no? No. 35. 34Sujeito 3: Qual a Unidade da UFG que voc est vinculado? Instituto de Matemtica. Para voc o que Lngua de Sinais? uma pergunta difcil pra mim que mexo com matemtica. Mas eu acredito que um conjunto smbolos para as pessoas que no falam e que no escutam. Para voc quem a pessoa surda? A que no ouve. A lngua de sinais uma mistura de gestos? Sim ou no? Sim. A lngua de sinais uma lngua mais concreta? Sim ou no? No sei responder. A lngua de sinais universal? Sim ou no? sim. Existe uma organizao gramatical da lngua de sinais? Sim ou no? Acredito que sim. A lngua de sinais deriva da comunicao gestual espontnea dos ouvintes? Sim ou no? Sim. As lnguas de sinais, por serem organizadas espacialmente, estariam representadas no hemisfrio direito do crebro, uma vez que esse hemisfrio responsvel pelo processamento de informao espacial. Sim ou no? Sim. O surdo uma pessoa nervosa e explosiva? Sim ou no? Nem sempre. O surdo tem problema mental? Sim ou no? No. Todo surdo faz leitura labial? Sim ou no? Sim. O surdo mudo? Sim ou no? A Maioria sim. Todos os surdos conhecem a lngua de sinais? Sim ou no? No. fcil aprender a lngua de sinais? Sim ou no? Acredito que sim. Apesar que eu no sei 36. 35Um aluno surdo pode fazer ditado pelo alfabeto manual? Sim ou no? Pode se ele estiver observando o lbio da pessoa que est falando. O alfabeto manual a mesma coisa que a lngua de sinais? Sim ou no? No. 37. 36Sujeito 4: Qual a Unidade da UFG que voc est vinculado? Faculdade de Historia . Para voc o que Lngua de Sinais? um mecanismo, um cdigo de comunicao de pessoas com deficincia auditiva e muda, como que ? Auditiva n? Para voc quem a pessoa surda? Quem tem algum tipo de deficincia auditiva, que a impede ou dificulta sua comunicao, imagina n, uma definio tcnica. A lngua de sinais uma mistura de gestos? Sim ou no? Acho que no. A lngua de sinais uma lngua mais concreta? Sim ou no? Acho que sim. A lngua de sinais universal? Sim ou no? Acho que sim. Existe uma organizao gramatical da lngua de sinais? Sim ou no? No sei lhe dizer, no tenho elementos para te dizer isso. A lngua de sinais deriva da comunicao gestual espontnea dos ouvintes? Sim ou no? Que eu entenda no, ela codificada n? As lnguas de sinais, por serem organizadas espacialmente, estariam representadas no hemisfrio direito do crebro, uma vez que esse hemisfrio responsvel pelo processamento de informao espacial. Sim ou no? No sei te dizer isso. O surdo uma pessoa nervosa e explosiva? Sim ou no? Acho que no. O surdo tem problema mental? Sim ou no? Acho que no, tambm. Todo surdo faz leitura labial? Sim ou no? No. O surdo mudo? Sim ou no? Alguns so, outros no. Todos os surdos conhecem a lngua de sinais? Sim ou no? No. fcil aprender a lngua de sinais? Sim ou no? 38. 37Imagino que no. Um aluno surdo pode fazer ditado pelo alfabeto manual? Sim ou no? Pode, se ele souber falar. O alfabeto manual a mesma coisa que a lngua de sinais? Sim ou no? Acho que no, mas no sei te dizer no. No, no no, tem expresses que sinalizam uma situao no A, B, C, no cdigo morse. 39. 38Sujeito 5: Qual a unidade da UFG voc est vinculada? FAV Faculdade de Artes Visuais. Pra voc o que a lngua de sinais? Lngua de sinais a maneira que agente se expressa alm da palavra. Pra voc quem a pessoa surda? Pessoa? Surda A pessoa surda a pessoa que faz uso justamente dessa lngua de sinais, que no deixa de ser uma linguagem codificada como Saussure falou. Saussure achava que no s a lngua falada ou a escrita eram um sistema de sinais, mas a linguagem surdo-mudo, como a roupa que agente veste, na minha rea, como eu sou designer de moda. A roupa tambm um sistema de sinais. Voc acha que a lngua de sinais uma mistura de gestos? Sim ou no? Eu acredito que seja uma mistura de gestos, mas expresses faciais tambm. Porque, eu no entendo da lngua de sinais dos surdos-mudos, eu no saberia falar com o surdo mudo, mas eu acho ele se faz entender, com uma pessoa leiga como eu nessa linguagem, ele se faz entender com os gestos e tambm com as expresses. A lngua de sinais uma lngua mais concreta?Sim ou no? ... Eu acredito que...no sei. Essa resposta eu no saberia te responder. Por um lado ela mais concreta porque ela depende de uma gestualizao para o outro entender, mas por outro lado, eu acho assim...Pelo que eu velo quando eu vejo uma entrevista, alguma coisa que tenha uma traduo na linguagem do surdo-mudo, que de sinais, eu vejo os gestos vejo que eles exigem muito mais... vamos dizer... a interiorizao do pensamento do que nossa lngua. Na nossa lngua nos somos mais prolixos, agente usa muito mais smbolos e na linguagem surdo mudo, eu acho que ele usa menos e se faz entender mais. A lngua de sinais universal? Acredito que sim, pelo conhecimento que eu tenho. Existe uma organizao gramatical na lngua de sinais? No sei, eu no sou profissional nessa rea, e no posso te responder. A lngua de sinais deriva de uma combinao gestual espontnea dos ouvintes? ... eu tenho a impresso que existe uma codificao, assim... um sistema que como a lngua falada e a linguagem escrita. Depende de uma gramtica, s que uma gramtica 40. 39visual, mas como nem todos os seres humanos sabem dessa gramtica ento eu acho que o surdo-mudo ele de serve de alguns gestos que so espontneos e a pessoa entende. As lnguas de sinais, por ser organizada espacialmente, estariam representadas no hemisfrio direito do crebro, uma vez que esse hemisfrio responsvel pelo processamento de informaes espacial. Sim ou no? No sei, essa pergunta eu no sei responder. (risos) Ela, ela...Voc que entende da lngua de sinais ela processada no hemisfrio direito? Certo? Ento ela mais matemtica? Porque eu lido muito com o hemisfrio esquerdo, porque a nossa rea artes visuais, n, ento o hemisfrio esquerdo que lida... No sei... O surdo uma pessoa nervosa e explosiva?Sim ou no? Acredito que no. Nossa... eu conheo muitas pessoas surdas que no so. O surdo tem problema mental? Acredito que no. um problema fsico e no mental. Todo surdo faz leitura labial?Sim ou no? No sei dizer... Acredito que sim, porque todo ser humano busca se comunicar, de uma maneira ou de outra, ento se ele no tiver de posse uma linguagem codificada, ele vai se servir dos meios que so possveis a ele fazendo leitura de sinal. Quanto mais tempo ele tem, acho que mais ele vai ficando hbil nisso. O surdo mudo?Sim ou no? Geralmente ele no mudo, mas geralmente ele tem dificuldade para falar porque como ele no ouve, ento ele tem que repetir um som que no chega ate ele. Ento ele tem dificuldade para falar e muitas vezes usar a voz dele. As palavras que ele emite no so... no so pronunciada da mesma maneira que agente, que escuta. Todos os surdos conhecem a lngua de sinais? Sim ou no? Acredito que no fcil aprender a lngua de sinais? Pra mim eu acho que muito difcil. Ela muito rpida e voc tem que falar muitas palavras. Principalmente eu que falo muito, que sou professora e estou acostumada a falar muitas palavras a cada minuto, ento seria muito difcil. Um aluno surdo pode fazer ditado pelo alfabeto manual? Sim ou no? Eu acho que sim. Se uma lngua eu acho que ele captaria, n? O alfabeto manual a mesma coisa que a lngua de sinais? Sim ou no? Eu t partindo do pr-suposto que sim. No a minha rea, mas eu t partindo do pr- suposto que a linguagem essa. 41. 40 Sujeito 6: Entrevistador: Gostaria primeiro de saber a que rea da UFG voc est vinculada? Entrevistado: Faculdade de Letras. Departamento de lngua estrangeira (Ingls). Pra voc o que a lngua de sinais? a lngua que os deficientes utilizam para se comunicar. No s o deficiente, n, mas tambm quem quer se comunicar com o deficiente tambm. Pra voc quem a pessoa surda? Quem a pessoa surda. ! Quando falam pra voc... o surdo. Quem o surdo? Ah, quem o surdo? quem tem a deficincia auditiva, n. Voc acha que a lngua de sinais uma mistura de gestos? No! So gestos, mas com significado, n? Porque um cdigo! A lngua de sinais, voc acha que uma lngua concreta? Ou consegue transmitir alem do concreto? Eu acho que ela transmite a meta linguagem tambm. Eu acho que concreto voc quer dizer mensagem e meta mensagem, que seriam aspetos lingsticos. Eu acho que sim. voc acha que pode expressar conceitos abstratos? Os sentimentos, por exemplo? ! Olha difcil porque eu no conheo, n? Mas eu imagino que tudo que envolva ser humano acaba acontecendo dessa forma. Voc acha que a lngua de sinais universal? O que voc quer dizer com universal? Por exemplo, voc acha que aprendendo a lngua de sinais aqui no Brasil pode utiliz-la no Japo? Eu no sei por que so lnguas diferentes, n? Por exemplo, o surdo do Japo vai aprender a lngua de sinais do Japo vo aprender sinais japoneses eu imagino. (risos) Ele vai usar a lngua dele para se comunicar. Existe alguma organizao gramatical na lngua de sinais? Organizao? Ah, deve ter. Com certeza tem uma estrutura. A lngua de sinais deriva de uma combinao gestual dos ouvintes? Acho que no. Acho que ela foi criada, n. Eu gostaria at de saber qual o histrico dessa lngua. 42. 41As lnguas de sinais, por ser organizada espacialmente, estariam representadas no hemisfrio direito do crebro, uma vez que esse hemisfrio responsvel pelo processamento de informaes espacial. Voc acredita que ? Ah, eu acho que devem ser vrias reas do crebro. Porque voc tem a linguagem corporal, o uso das mos, o processamento de significado desses gestos e isso se transforma num cdigo lingstico. Voc acha que o surdo uma pessoa nervosa e explosiva? Eu acho que eles devem ser como todo mundo , n? Acho que nos momentos certos eles devem explodir. Todo surdo faz leitura labial? Acho que no. E o surdo que for cego? Todo surdo mudo? No. Todos os surdos conhecem a lngua de sinais? No, se ele no for alfabetizado na lngua de sinais e no vai saber talvez ele s faa leitura labial. 43. 42Sujeito 7: Aqui no departamento voc professora de qu? Lngua Inglesa. Pra voc o que a lngua de sinais? A lngua de sinais a lngua... Libras a lngua de sinais usada no Brasil para pessoas que tem deficincia auditiva. Pra voc quem a pessoa surda? a pessoa que tem algum problema de audio. Voc acha que a lngua de sinais uma mistura de gestos? No, mistura de gesto entende-se por confuso. Ela uma lngua comum que usa outro meio de comunicao que o gestual que muda de pas pra pas. A lngua de sinais uma lngua mais concreta? No sei o que quer dizer esse concreto. A escrita concreta, ento a lngua de sinais concreta. Ela consegue expressar conceitos abstratos? Ah! Sim... sim... Claro que ela consegue falar de emoes. A lngua de sinais universal? No, porque cada pas tem a sua lngua. A lngua dos Estados Unidos e Canad so diferentes. Existe alguma organizao gramatical na lngua de sinais? Acredito que sim. A lngua de sinais deriva de uma combinao gestual dos ouvintes? Isso eu acho que no, mas no tenho certeza porque no sei a origem de libras. As lnguas de sinais, por ser organizada espacialmente, estariam representadas no hemisfrio direito do crebro, uma vez que esse hemisfrio responsvel pelo processamento de informaes espacial. Voc acredita que ? Nunca pensei sobre esse assunto, mas certamente por ser linguagem vai ser vinculada a parte de linguagem do crebro tambm. Voc acha que o surdo uma pessoa nervosa e explosiva? No. O surdo tem problema mental? No tem problemas somente nos nervos que passam pelo ouvido (riso) Todo surdo faz leitura labial? No. 44. 43Todo surdo mudo? No, conheo pessoas com problemas de audio que falam. Todos os surdos conhecem a lngua de sinais? No. fcil aprender a lngua de sinais? No acho que no. Quando eu falo que no eu falo pensando em mim. Seria como aprender uma lngua estrangeira e aprender qualquer lngua difcil. Voc tem que realmente se dedicar, praticar. Ento eu acho que tenha sim uma dificuldade. 45. 44Sujeito 8: Voc professora aqui da letras em qual rea? Da rea de Francs Pra voc o que a lngua de sinais? Eu entendo que a forma de comunicar com a pessoa que no consegue ouvir. a linguagem usada como meio de comunicao para quem no pode ouvir. Pra voc quem a pessoa surda? Bom a pessoa que no tem audio, que no consegue ouvir a voz, o barulho. Voc acha que a lngua de sinais uma mistura de gestos? Ela basicamente gestos, n, mas no s gestos tem tambm toda uma expresso facial. A lngua de sinais uma mais lngua concreta? Ou ela consegue expressar conceitos abstratos? Ah, claro que consegue. A lngua de sinais deriva de uma combinao gestual dos ouvintes? No ela esquematizada. As lnguas de sinais, por ser organizada espacialmente, estariam representadas no hemisfrio direito do crebro, uma vez que esse hemisfrio responsvel pelo processamento de informaes espacial. Voc acredita que ? Eu creio que ela seja visual. Agora eu no sei se a viso esta localizada no mesmo lado da linguagem. O hemisfrio esquerdo o responsvel pela linguagem e o hemisfrio direito pelo espacial. Bom compreende os dois, porque simblico, porque cada gesto tem um significado. Ento tem que interpretar, tem que encadear. Ento necessita dos dois hemisfrios. Voc acha que o surdo uma pessoa nervosa e explosiva? De forma nenhuma... H todos os tipos de pessoas, igual aos ouvintes. Todo surdo faz leitura labial? Pra falar a verdade eu creio que eles devem buscar fazer isso. Agora se eles todos fazem eu realmente no sei por que tenho pouco contato. Todo surdo mudo? E ele for surdo desde o inicio e se ele no foi treinado, n, pra falar ele fica mudo. Mas ele pode aprender mesmo sem.. Porque eu conheo uma menina que nasceu surda e que ela fala. Ela emite sons, ela foi ensinada. Todos os surdos conhecem a lngua de sinais? Infelizmente no. 46. 45Voc acha que difcil aprender lngua de sinais? Eu acho que super dificlimo. Eu j tentei, mas no consegui passar do alfabeto. 47. 46 Sujeito 9: Voc professora de qual rea? Na formao de professores. Pra voc o que a lngua de sinais? A lngua de sinais uma forma de comunicao no caso alternativa em relao aos que no tem necessidade e uma necessidade de comunicao em relao aos que outros. Pra voc quem a pessoa surda? Surda? Pessoa que tem dificuldade para entender o som, ouvir o som. Voc acha que a lngua de sinais uma mistura de gestos? S gestos eu acho que no. Eu acho que tem todo um contexto, n. No tenho certeza porque no tenho esse conhecimento todo, mas no s a questo dos gestos no, acho que o contexto todo em que os gestos so utilizados deve fazer uma diferena no significado. A lngua de sinais uma mais lngua concreta? No. Ela capaz de promover uma comunicao atravs de alguns gestos concretos, mas no s isso. Eu no sei se eu entendi muito bem a pergunta. At que ponto uma lngua concreta ou abstrata. Ela tem um cdigo concreto, mas tambm tem caractersticas abstracionistas. A lngua de sinais universal? Libras no, porque libras a lngua de sinais do Brasil, agora eu acho que alguns sinais tm um significado maior, de uma compreenso... alguns sinais... Ento voc acha que alguns sinais sim so universais? Quando a gente lembra aqueles sinais to diferentes... Oriente e ocidente... Quando a gente lembra que uma coisa em um lugar quer dizer outra coisa em outro... No, ento no podemos dizer de uma universalidade. Mas eu acho que alguns sinais so compreensveis dentro de uma mesma populao ou dentro de um mesmo contexto scio-cultural eles tm um significado mesmo que aquele significado no seja gesticulado. Eu falo isso porque me lembro de conviver com um menino que no sabia lngua de sinais e agente conseguia se comunicar. A lngua de sinais tem alguma organizao gramatical? Acredito que sim. No h uma correspondncia completa em relao lngua verbal, mas que ela tem um cdigo tem. A lngua de sinais deriva de uma combinao gestual dos ouvintes? Eu acredito que talvez ela tenha nascido de uma necessidade. Uma necessidade que... como eu falei tenho uma experincia em que foi de uma necessidade de gestos espontneos. Nem eu 48. 47nem a pessoa com quem eu conversava no tnhamos conhecimento da lngua... dos cdigos, mas nos conseguamos nos comunicar. As lnguas de sinais, por ser organizada espacialmente, estariam representadas no hemisfrio direito do crebro, uma vez que esse hemisfrio responsvel pelo processamento de informaes espacial. Voc acredita que ? Eu j no tenho como dizer isso. Quando voc faz a pergunta me parece lgico que sim, mas eu no tenho esse conhecimento pra afirmar isso no. Voc acha que o surdo uma pessoa nervosa e explosiva? No, acho que no tem relao no Todo surdo faz leitura labial? Acredito que no, n. Imagino que alguns tenham desenvolvido essa habilidade e outros no. Todos os surdos conhecem a lngua de sinais? Tambm imagino que no. Alguns conhecem e outros no. No acho que todos conheam a lngua de sinais, um cdigo especifico no. Agora eu imagino que usem gestos, e no sinais para se comunicar. Voc acha que difcil aprender lngua de sinais? Difcil no, eu acho que difcil no... porque me pareceu, algumas vezes que eu vi algum comunicando em sinais, me pareceu que h uma correspondncia entre o cdigo e o significado do gesto. Ento se for ensinado em um contexto significativo eu acho que no seja difcil no. Eu acho que muito mais difcil depois pegar esse contexto a linguagem que envolve e tudo mais, mas aprender o cdigo em si no acredito que seja difcil no. 49. 48 ANEXO A: QUESTES DAS ENTREVISTAS Qual a Unidade da UFG que voc est vinculado?1. Para voc o que Lngua de Sinais?2. Para voc quem a pessoa surda?3. A lngua de sinais uma mistura de gestos? ( ) sim ( ) no4. A lngua de sinais uma lngua mais concreta? ( ) sim ( ) no5. A lngua de sinais universal? ( ) sim ( ) no6. Existe uma organizao gramatical da lngua de sinais? ( ) sim ( ) no7. A lngua de sinais deriva da comunicao gestual espontnea dos ouvintes? ( ) sim ( ) no.8. As lnguas de sinais, por serem organizadas espacialmente, estariam representadas no hemisfrio direito do crebro, uma vez que esse hemisfrio responsvel pelo processamento de informao espacial. ( ) sim ( ) no.9. O surdo uma pessoa nervosa e explosiva? ( ) sim ( ) no.10. O surdo tem problema mental? ( ) sim ( ) no.11. Todo surdo faz leitura-labial? ( ) sim ( ) no.12. O surdo mudo? ( ) sim ( ) no.13. Todos os surdos conhecem a lngua de sinais? ( ) sim ( ) no.14. fcil aprender a lngua de sinais. ( ) sim ( ) no.15. Um aluno surdo pode fazer ditado pelo alfabeto manual? ( ) sim ( ) no.16. O alfabeto manual a mesma coisa que a lngua de sinais? ( ) sim ( ) no