MOBILE GUN SYSTEM (MGS) VIATURA STRYKER F O RT E U … file1. INTRODUÇÃO Em setembro de 2014, o...

7
EXÉRCITO BRASILEIRO COMANDO DE ADESTRAMENTO E DOUTRINA DO EXÉRCITO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA FORT EUSTIS - VIRGINIA - EUA VIATURA STRYKER MOBILE GUN SYSTEM (MGS) JAYRO ROCHA JUNIOR - Cel Oficial de Ligação junto ao Comando de Adestramento e Doutrina do Exército dos Estados Unidos da América 16 de Abril de 2018

Transcript of MOBILE GUN SYSTEM (MGS) VIATURA STRYKER F O RT E U … file1. INTRODUÇÃO Em setembro de 2014, o...

EXÉRCITO BRASILEIRO

COMANDO DE ADESTRAMENTO E DOUTRINA

DO EXÉRCITO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

FORT EUSTIS - VIRGINIA - EUA

VIATURA STRYKER MOBILE GUN SYSTEM (MGS)

JAYRO ROCHA JUNIOR - Cel Oficial de Ligação junto ao Comando de Adestramento e Doutrina do Exército

dos Estados Unidos da América

16 de Abril de 2018

1. INTRODUÇÃO Em setembro de 2014, o Estado-Maior do Exército aprovou os Requisitos Operacionais

Básicos (ROB) da Viatura Blindada de Reconhecimento - Média de Rodas (VBR-MR) (EB20-ROB-04.006), revogando os requisitos anteriores que haviam sido aprovados em junho de 2011. 1

Entre as características necessárias à viatura, o documento estipulava o uso de uma plataforma blindada sobre rodas 8X8 e um canhão 105 milímetros como armamento principal. Alternativamente, sem interferir nos demais requisitos elencados, o veículo poderia adotar um canhão de 120 mm.

No escopo do Projeto Estratégico GUARANI, as constantes restrições orçamentárias impostas ao Exército Brasileiro (EB) tem dificultado a natural evolução da plataforma 6x6, já adotada, para o desenvolvimento de um modelo 8x8. Tendo em vista a profunda defasagem tecnológica na viatura CASCAVEL, atualmente em uso pelo EB, tal atraso tem acarretando uma sensível vulnerabilidade às tropas mecanizadas brasileiras, tanto no estabelecimento da nova Brigada de Infantaria Mecanizada, quanto na substituição das viaturas atualmente em uso nas Unidades de Cavalaria Mecanizadas.

Neste contexto, a aquisição de um modelo já em uso por outros exércitos poderia dotar a Força Terrestre de uma solução imediata e temporária, possibilitando uma rápida eliminação da vulnerabilidade acarretada, até que o modelo do GUARANI 8X8 seja desenvolvido.

O presente trabalho visa apresentar as características técnicas e os aspectos doutrinárias relativos ao emprego da viatura Stryker Mobile Gun System (MGS) pelo Exército Americano (US ARMY).

2. VIATURA BLINDADA DE RECONHECIMENTO Na atual Doutrina Militar Terrestre do EB, as Viaturas Blindadas de Reconhecimento

(VBR) são orgânicas dos pelotões de cavalaria mecanizado (Pel C Mec) utilizados nos esquadrões mecanizados das brigadas de infantaria e das brigadas de cavalaria mecanizadas. A VBR tem por missão básica ampliar o poder de fogo do pelotão, propiciando proteção contra veículos blindados inimigos durante as missões típicas de reconhecimento e segurança.

O conceito doutrinário da VBR assemelha-se ao dos veículos destruidores de carros de combate (Tank Destroyers, na definição em inglês) e, embora sua utilização tenha sido bastante contestada com o surgimento dos veículos lançadores de mísseis, seu emprego ainda permanece bastante eficiente em vários exércitos até os dias atuais.

No âmbito das tropas mecanizadas, vários veículos são enquadrados nessa categoria, como o Centauro de fabricação italiana (chassi IVECO) atualmente em uso pelos exércitos da Itália e Espanha, o PTL 02 da NORINCO China North Industries Corp adotado pelas novas divisões de infantaria mecanizadas chinesas e o Stryker MGS adotado pelo US ARMY.

1 Boletim do Exército Nr 37 / 14, de 12 de setembro de 2014.

1

Centauro PTL 02 Stryker MGS

8X8 24 Toneladas

Canhão 105 mm

6X6 19 Toneladas

Canhão 100 mm ou 105mm (para exportação)

8X8 ~ 19 Toneladas Canhão 105 mm

Tabela 01 - modelos de veículos em uso em outros exércitos

3. VIATURA STRYKER MGS

a. Características técnicas A viatura Stryker MGS possui a designação M1128 no US ARMY e faz parte da

família de veículos canadenses LAV III, fabricados pela General Dynamic Land Systems. É um blindado 8X8, dotado de um canhão 105 mm M68A2 fabricado pela Ares Inc. como armamento principal, além de uma metralhadora 7,62 mm coaxial e uma metralhadora .50 polegadas para o comandante do carro. O canhão 105 mm M68A2 é uma variação do mesmo canhão que equipa o M60 A3 TTS, em uso pelas tropas blindadas brasileiras.

O protótipo da viatura foi concebido por solicitação americana em 2005 para aumentar o poder de fogo da recém criada Brigada de Infantaria Mecanizada Stryker e entrou em completa operação a partir de 2007, sendo utilizado em combate no Iraque e no Afeganistão. No total, o US ARMY adquiriu 142 M1128.

Sua estação remota de armas (RWS) possui baixa silhueta, torre estabilizada possibilitando o tiro em movimento e carregamento automático, o que acarreta uma cadência de tiro máxima de seis disparos por minuto. Permite a utilização dos seguintes tipos de munição:

- Energia cinética M900, utilizado contra alvos blindados; - Alto-explosiva Anticarro M456A2, contra veículos levemente blindados; - Alto-explosiva Plástica MM393A3, contra posições preparadas de infantaria; e - M1040 (canister Shot) Antipessoal. A viatura é guarnecida por uma tripulação de três militares e possui a capacidade de

armazenamento de 18 (dezoito) tiros 105 mm no carregador automático, 400 tiros de .50 e mais 3.400 cartuchos de 7,62 mm.

2

O MGS possui variáveis níveis de proteção balística contra armas de pequeno calibre, fragmentos de granadas de artilharia, foguetes (RPG), minas e explosivos improvisados. Como dado de manual, sua blindagem oferece proteção contra disparos de até 14,5 mm.

Durante seu emprego no Afeganistão, o MGS tem utilizado blindagens adicionais contra RPG do tipo gaiola (Slat Armor) ou blindagem reativa (SRAT II). Mesmo com as proteções adicionais, três blindados já foram destruídos em combate.

As demais características técnicas do veículo são as seguintes:

Peso 18,77 toneladas

comprimento 6,95 m

Largura 2,72 m

Altura 2,64 m

distância do solo 38 cm

Motor Caterpillar 3126 turbo-diesel

Potência 350 Hp

Relação potência/peso 14 Hp / ton

Transmissão automática 6 marchas à frente / 1 marcha -ré

capacidade de combustível 212 litros

Autonomia 528 Km

Velocidade máxima (estrada) 96 Km / h

Tabela 02 - características técnicas da Vtr Stryker MGS O motor Caterpillar 3126 utilizado pelo M1128 é do mesmo fabricante do motor

Caterpillar C9 utilizado pelas viaturas MOWAG Piranha III do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil.

b. Emprego tático

A criação da Brigada Stryker pelo US ARMY foi efetivada no início dos anos 2.000 e, por ser uma tropa de característica de emprego única à época, muitas experimentações doutrinárias foram desenvolvidas, acarretando várias alterações nas idéias inicialmente concebidas. O emprego da viatura M1128 MGS foi uma dessas modificações.

De acordo com Relatórios de Lições Aprendidas do Centro Nacional de Adestramento , 2

o MGS foi, inicialmente, designado para integrar as Companhias de Infantaria Mecanizadas.

2 Wayne, Jared. Strength Punishes, Speed Kills: The Stryker Weapons Troop at National Training Center - 2017

3

Porém, a alta especialização necessária para os militares da guarnição da viatura e os imperativos logísticos na subunidade, indicaram que a melhor composição tática seria integrar o MGS ao Regimento de Cavalaria orgânico das Brigadas Stryker.

Desse modo, o MGS passou a fazer parte do esquadrão anticarro (Esqd AC) do Cavalry Squadron , dotando o regimento de uma tropa com alto poder de fogo e extrema letalidade, cuja principal missão é cerrar sobre o inimigo por meio do fogo e da manobra para engajá-lo ou destruí-lo, repelir o ataque inimigo pelo fogo e facilitar o prosseguimento das demais forças do Regimento ou da Brigada.

O Esqd AC é organizado a uma seção de comando, três pelotões de mísseis guiados e três pelotões MGS. Normalmente, o Esqd é reforçado pelo comando da Brigada com uma equipe de apoio de fogo e uma equipe de saúde.

Figura 01 -Organização do Esqd AC / Regimento de Cavalaria

Os pelotões MGS fornecem precisos fogos diretos de longo alcance em apoio às tropas

de cavalaria e de infantaria. Sua função principal é suprimir posições fortificadas inimigas, destruir posições de armas e de snipers e engajar ameaças além do alcance do armamento das tropas apoiadas. Cada brigada Stryker é dotada de 12 (doze) veículos M1128.

A doutrina americana frisa bastante que o MGS não é um carro de combate e, portanto, o pelotão MGS não deve ser empregado da mesma forma que o pelotão de carros de combate.

Os seguintes fatores combinados produzem o efeito de choque que permite que o pelotão MGS se aproxime e destrua o inimigo na maioria das condições de terreno e luminosidade:

- Mobilidade através campo; - Aprimorado sistema de aquisição de alvos; - Poder de fogo letal; - Proteção blindada. Cada veículo é mantido e operado por uma tripulação de três militares: comandante do

carro, atirador e motorista. O comandante do pelotão e o sargento adjunto do pelotão servem

4

como dois dos quatro comandantes de carro dentro da fração. A visibilidade reduzida ao operar em terrenos restritos, como áreas construídas ou bosques densos, limita a consciência situacional da tripulação e cria vulnerabilidade a ataques inimigos desmontados. Em tais situações, o pelotão geralmente requer outro elemento para auxiliar na segurança local.

Figura 02 - Composição do pelotão MGS / Esqd AC

A dotação de três pelotões MGS somados aos três pelotões de mísseis guiados dentro da

subunidade, permite adotar diversas composições de emprego para as frações, podendo os pelotões serem empregados das seguintes formas:

- Puro: não há combinação de armas na formação das forças-tarefas (FT). As frações são designadas por inteiro ao controle operacional de uma FT, normalmente a que executa a ação principal do Regimento ou da Brigada.

- Dividido: os pelotões MGS e de mísseis guiados estão a controle operacional de duas ou até quatro FT diferentes mesclando os meios de carros e mísseis, mas o Esqd AC ainda mantém quatro ou ao menos dois de seus pelotões, sob um elevado grau de centralização do escalão superior.

- Disperso: todos os pelotões são passados ao controle operacional de outras FT e o Esqd AC permanece somente a cargo da seção de comando para a execução de atividades logísticas. (em casos extremos, o Esqd pode receber pelotões de cavalaria ou infantaria e ser responsável por uma zona de ação do escalão superior).

5

4. CONCLUSÃO A viatura Stryker MGS é um blindado moderno, com elevada poder de combate, testado

em operações reais em ambientes altamente letais e que atende aos principais requisitos do ROB da VBR-MR.

Sua tecnologia embarcada nos sistema de tiro e de aquisição de alvos pode agregar um elevado poder de combate à cavalaria mecanizada brasileira, sanando uma grande lacuna tecnológica nas atuais tropas brasileiras.

A semelhança entre o canhão e o motor empregados na viatura M1128 com modelos em uso no Brasil apresenta uma marcante vantagem do MGS sobre outros veículos disponíveis para aquisição imediata. Do mesmo modo, as demandas logísticas diferenciadas em relação ao GUARANI podem sugerir uma mudança na doutrina de emprego da VBR a fim de possibilitar a centralização dos meios em uma única subunidade.

6