Mobilidade a "camelo"

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Mobilidade a “camelo” 16 METROPOLIS CIDADES Ciclovias, bicicletários, equipamentos públicos, todo um sistema está sendo criado para que as bicicletas voltem. O objetivo não é a sustentabilidade, mas a rapidez nas locomoções Do bairro Coração Eucarístico à Praça da Liberdade. Terça-feira, horário de pico. Taxistas não têm descanso. Trabalhadores, desesperadamente, querem voltar para casa, de carro, ônibus, motocicleta ou metrô. Os veículos públicos transbordam pessoas, e as ruas estão próximas do caos. O desafio intermodal estava predefinido. Os envolvidos: dezoito pessoas e dezoito modos diferentes de locomoção. Dentre os veículos, cinco bicicletas com características diferentes. Além de carro, metrô, ônibus, táxi e motocicleta, alguns fazem o trajeto caminhando ou correndo. O experimento realizado pela última vez em 2011 é uma amostra do que vem sendo feito todos os anos pelo Mountain Bike BH nas proximidades do Dia Mundial sem Carro. São mais de dez categorias de modais. Desde 2007, a bicicleta sobe no pódio: ocupa sempre primeira, segunda ou terceira colocação, geralmente chegando atrás apenas da moto. Além de tempo, outras variáveis são consideradas. No último desafio, realizado em 2011, o transporte por táxi foi o mais caro. O carro foi o sexto com maior gasto. Todos os modais são analisados nas sete variáveis de análise – como emissão de poluentes, gasto de energia e velocidade média – e são pontuados. No resultado final do último ano, a bicicleta ocupou cinco dos sete primeiros “vencedores”. O cineasta e ciclista Vinícius Túlio se locomove pela cidade de bicicleta todos os dias. Em média, ele pedala 17 km diários. Na ida para o trabalho, a diferença de tempo não é tão grande, se comparado o trajeto feito por bicicleta e por ônibus. Mas, na volta, o cronômetro usado dentro do coletivo pode chegar a marcar mais que o dobro do que o daquele preso ao guidão. Belo Horizonte tem 36 km de ciclovias. De acordo com o supervisor de projetos e obras especiais da BHTrans, Mauro Luiz, a ideia do programa Pedala BH é chegar a 381 km implantados até 2020. Para 2012, a promessa é que as obras comecem no início de agosto, logo após a finalização do processo licitatório. Até o final deste ano, a BHTrans pretende dotar a cidade com cerca de 100 km de rotas cicloviárias. “Desse total, 42 km serão implantados pela BHTrans, 24 km serão destinados às regionais Barreiro e Venda Nova, que são recursos do Banco Mundial doados à cidade, e outros 24 km de ciclovias existentes serão revitalizados. Então isso somado a mais 11,3 km implantados em 2011 totalizam 102 km”, aclara o supervisor. De acordo com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), a frota nacional de bicicletas é de mais de 65 milhões. O Brasil é o quinto maior consumidor e terceiro maior produtor mundial. O último dado analisado, de 2011, revelou, porém, uma queda de consumo de 3,8%, em comparação com 2010. Até o final de 2012, a BHTrans pretende dotar a cidade com cerca de 100 km de rotas cicloviárias Fernanda Carvalho

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Ciclovias, bicicletários, equipamentos públicos, todo um sistema está sendo criado para que as bicicletas voltem. O objetivo não é a sustentabilidade, mas a rapidez nas locomoções

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Ciclovias, bicicletários, equipamentos públicos, todo um sistema está sendo criado para que as bicicletas voltem. O objetivo não é a

sustentabilidade, mas a rapidez nas locomoções

Do bairro Coração Eucarístico à Praça da Liberdade. Terça-feira, horário de pico. Taxistas não têm descanso. Trabalhadores, desesperadamente, querem voltar para casa, de carro, ônibus, motocicleta ou metrô. Os veículos públicos transbordam pessoas, e as ruas estão próximas do caos. O desafio intermodal estava predefinido. Os envolvidos: dezoito pessoas e dezoito modos diferentes de locomoção. Dentre os veículos, cinco bicicletas com características diferentes. Além de carro, metrô, ônibus, táxi e motocicleta, alguns fazem o trajeto caminhando ou correndo.

O experimento realizado pela última vez em 2011 é uma amostra do que vem sendo feito todos os anos pelo Mountain Bike BH nas proximidades do Dia Mundial sem Carro. São mais de dez categorias de modais. Desde 2007, a bicicleta sobe no pódio: ocupa sempre primeira, segunda ou terceira colocação, geralmente chegando atrás apenas da moto.

Além de tempo, outras variáveis são consideradas. No último desafio, realizado em 2011, o transporte por táxi foi o mais caro. O carro foi o sexto com maior gasto. Todos os modais são analisados nas sete variáveis de análise – como emissão de poluentes, gasto de energia e velocidade média – e são pontuados. No resultado final do último ano, a bicicleta ocupou cinco dos sete primeiros “vencedores”.

O cineasta e ciclista Vinícius Túlio se locomove pela

cidade de bicicleta todos os dias. Em média, ele pedala 17 km diários. Na ida para o trabalho, a diferença de tempo não é tão grande, se comparado o trajeto feito por bicicleta e por ônibus. Mas, na volta, o cronômetro usado dentro do coletivo pode chegar a marcar mais que o dobro do que o daquele preso ao guidão.

Belo Horizonte tem 36 km de ciclovias. De acordo com o supervisor de projetos e obras especiais da BHTrans, Mauro Luiz, a ideia do programa Pedala BH é chegar a 381 km implantados até 2020. Para 2012,

a promessa é que as obras comecem no início de agosto, logo após a finalização do processo licitatório.

Até o final deste ano, a BHTrans pretende dotar a cidade com cerca de 100 km de rotas cicloviárias. “Desse total, 42 km serão implantados pela BHTrans, 24 km serão destinados às regionais Barreiro e Venda Nova, que são recursos do Banco Mundial doados à cidade, e outros 24 km de ciclovias existentes serão revitalizados. Então isso somado a

mais 11,3 km implantados em 2011 totalizam 102 km”, aclara o supervisor.

De acordo com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), a frota nacional de bicicletas é de mais de 65 milhões. O Brasil é o quinto maior consumidor e terceiro maior produtor mundial. O último dado analisado, de 2011, revelou, porém, uma queda de consumo de 3,8%, em comparação com 2010.

Até o final de 2012, a BHTrans pretende dotar a cidade com cerca

de 100 km de rotas cicloviárias

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Ao contrário do que se observa em relação às bicicletas, a frota de automóveis se multiplica. Nos últimos dez anos, o número cresceu quase 78%. Até maio deste ano, a frota nacional era estimada em 40 milhões.

A preocupação com o trânsito talvez seja um dos fatores considerados mais relevantes para o incentivo ao uso da bicicleta. De acordo com especialistas, a solução para os congestionamentos quilométricos não é parar de comprar ou de usar o carro. “Ter carro é direito de cada um, significa melhoria de renda. O que nós temos que discutir é a utilização do carro”, analisa o diretor regional da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP/MG), Ricardo Mendanha.

De acordo com o diretor da IFluxo Serviços de Consultoria em Transporte e Tráfego, do Rio de Janeiro, Warner Vonk, é importante destacar que 50% das viagens que o homem faz são de curta distância, de um a três quilômetros. “Até a padaria, até o supermercado, a academia, a escola do filho,... São viagens que podem ser feitas de bicicleta. Você desocupa espaço na rua. Assim, os trajetos que têm que ser feitos de carro serão mais simples e com menos engarrafamentos”, aconselha.

No Rio de Janeiro, Vonk, que é holandês, pedala todos os dias. “Eu levo e busco o meu filho na escola de bicicleta. Faço todos esses trajetos curtos pedalando”, conta. Ele acredita que, em curto prazo, todos deverão adotar esse hábito pelo fato de a bicicleta proporcionar uma locomoção mais ágil. “Em Amsterdam, em Copenhague, todos fazem esse tipo de viagem”.

Amsterdam tem cerca de 400 km de ciclovias: quase a distância entre Belo Horizonte e o Rio de Janeiro. Pelas ciclovias é possível ir a quase toda parte da cidade. De acordo com o site iamsterdam.com, são 600 mil bicicletas para um lugar com 750 mil habitantes. É como se quase todos os moradores da capital holandesa tivessem uma “magrela” em casa.

De acordo com Vonk, depois da Segunda Guerra Mundial, em 30 anos, o uso da bicicleta diminuiu na Holanda para 10% a 15% dos trajetos realizados. O

O especialista Warner Vonk acredita que o Brasil consiga facilmente chegar ao nível da Holanda, mas, para isso, é preciso que se comece a planejar e a discutir seriamente o assunto..........................................................................................................................

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planejamento cicloviário começou a ser repensado na década de 1980. “Hoje em dia o número de viagens feitas por esse tipo de transporte retornou para 30%. A consequência desse replanejamento foi a diminuição do número de mortes no trânsito: de 22 para cinco óbitos para cada 100 mil. A situação do Brasil se assemelha à da Holanda de 1980. O país consegue fácil chegar lá, mas isso leva uns 20 ou 30 anos”, explica.

Em Belo Horizonte, o incentivo ao uso da bicicleta tende a crescer assim que um novo projeto for colocado em prática. “Nós estamos em um estudo para dotar a cidade de bicicletas públicas”, afirma Mauro Luiz. Segundo ele, o objetivo é oferecer, em vários pontos espalhados pela cidade, bicicletas para que as pessoas possam as utilizar como meio de transporte em parte da viagem. “Mas isso ainda está em fase preliminar,

porque há um conflito grande com o código de postura de lei de uso e ocupação do solo. Precisamos resolver as questões legais, antes da implantação”.

Desde 2007, esse sistema existe em Paris e em 30 municípios adjacentes à capital francesa. Atualmente são oferecidas mais de 20 mil bicicletas em cerca de 1800 estações localizadas a 300 metros uma da outra. O sistema chamado Vélib funciona 24 horas por dia. O usuário paga a partir de insignificantes 19 euros por ano.

Inspirando-se nos sistemas de compartilhamento de bicicletas da França, um grupo brasileiro está colaborando para que essa também seja uma realidade brasileira. Em parceria com a CompartBike, companhia que criou o sistema de BikeSharing da USP, o dono da empresa de consultoria ZGD, Pedro

Em Amsterdam, o planejamento cicloviário começou a ser repensado em 1980. Hoje a cidade tem cerca de 400 km de ciclovias..............................................................................................................................................................................................................................................................

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Rocha, desenvolveu um sistema automatizado e personalizado para ser vendido para as prefeituras. “Como há muitas sutilezas, especificidades em cada lugar onde há a demanda, procuramos personalizar o sistema. No caso de Indaiatuba, que a gente inaugurou há pouco tempo, é um sistema que conta com a presença de um funcionário para passar o leitor do código de barras no código de barras da bicicleta. Enquanto não for retirada, a bicicleta fica guardada em um gancho convencional para aproveitar espaço. São três estações, com pouco mais de 30 bicicletas em cada”, descreve. O consultor explica que o grupo está em contato com o poder público de outras cidades.

Mas o medo com relação ao vandalismo sempre aparece, quando um projeto como esse é pensado no Brasil. Porém, o gerente regional da Associação Brasileira de Cimento Portland, Lincoln Raydan, afirma que tudo é uma questão de educação, que depois vira cultura. “Existem algumas cidades no Brasil onde isso está acontecendo. Rio de Janeiro já tem essa questão, em parceria com o banco Itaú. Mas para se tornar hábito, cultural, é preciso tempo”.

Raydan foi o idealizador do ciclo de debates sobre planejamento cicloviário ocorrido em Belo Horizonte em junho: o Cidades Cicláveis. “O Brasil está muito atrás em relação aos países de primeiro mundo. Eles estão 5 mil anos na frente. O Brasil é muito jovem ainda. E é um país tropical, onde o clima favorece. Não tenho dúvidas de que é um projeto viável e um caminho, porque o trânsito nas grandes cidades brasileiras está um caos”, avalia.

Além da preocupação com o transporte urbano, o sistema de bicicletas compartilhadas de Pedro Rocha, em parceria com a CompartBike, tem um diferencial: os quadros de todos os “camelos” são fabricados com garrafas pet recicladas. São necessárias, em média, 200 garrafas por quadro. A ideia é do artista plástico uruguaio Juan Muzzi. “E é uma bicicleta superbacana. Tem um desempenho excelente, é super-resistente. A gente acredita que isso agregue um valor ao projeto. Além de pensar em toda essa questão de mobilidade urbana, a gente reaproveita o lixo – uma forma mais sustentável de pensar o problema”, esclarece Rocha.

SiStEmA CiClOViáriO

“Conexão intermodal”. Essa é uma das expressões mais utilizadas nos debates recentes, quando o tema é mobilidade urbana. A intenção é se espelhar no que tem sido feito em cidades, como Paris e Amsterdam, onde os meios de transporte estão interligados para facilitar qualquer trajeto.

Lincoln Raydan defende a integralidade de transportes públicos. “Se o ciclista vier lá de Ribeirão das Neves, por exemplo, e estiver em uma estação integradora, ele pode deixar a bicicleta no Vilarinho, em um bicicletário adequado, tomar banho no vestiário, e vir para o centro

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da cidade. Então é preciso essa integração com os outros modais para que o ciclista possa usar a bicicleta realmente como meio de transporte”, pondera.

A previsão do Pedala BH era implantar 30 paraciclos até o final de 2012. Mas, segundo Mauro Luiz, esse ideal já foi ultrapassado. “Em 2011, nós implantamos 52. E existem bicicletários hoje nas estações BH Bus São Gabriel, Venda Nova, Barreiro e Estação Diamante. Com exceção da São Gabriel, que vai passar por uma reforma, os outros devem ser revitalizados. Depois do fim dessas obras, a São Gabriel também será contemplada com estacionamentos para bicicletas até maiores”.

Bicicletários e paraciclos, porém, representam apenas uma pequena parcela do que deve ser pensado em um planejamento cicloviário. “Não é um bicho de sete cabeças, mas é preciso começar. Você tem que partir da necessidade. As pessoas não querem ir à ciclovia para ficar lá. Elas querem ir da origem, da casa delas, para

o destino: um shopping, o trabalho ou uma drogaria”, ilustra Warner Vonk.

De acordo com o holandês, o primeiro passo é um processo participativo com a população. Definir em um bairro, por onde a infraestrutura vai passar, quais são as principais origens e os destinos. Segundo Vonk, a população tem que ser ouvida, pois é ela quem sabe onde justifica a implantação.

O segundo passo é definir se vai envolver ciclovia ou ciclofaixa e por quais ruas e cruzamentos vai passar. “Depois a própria Prefeitura tem que fazer o desenho, detalhar, definir a largura, o material e fazer a licitação do projeto. Depois é fazer o detalhamento e a execução. Em geral, o processo todo pode ser realizado em um ano. Mas geralmente esse tipo de projeto fica parado por muito tempo, porque não há apoio, e as pessoas são contrárias”, alerta Vonk.

O diretor regional da ANTP/MG, Ricardo Mendanha, defende que a população precisa brigar e se mobilizar em prol do tema. Ele justifica: “principalmente a imprensa acha que o problema é o político, o órgão público que não faz. Quem não faz é a sociedade; quem não quer é a sociedade. É preciso discutir com o povo que esse modelo de cada um ter um carro; de cada um fazer do jeito que quiser. Isso não vai dar certo; não funciona”.

Para Medanha, o planejamento cicloviário deveria estar nos programas de governo de pretensos prefeitos e nas propostas dos candidatos à Câmara Municipal. “Criar ciclovias significa tirar espaço do automóvel. Isso faz com que muita gente concorde, mas não faça nada. É importante que um conscientize o outro, vizinhos, parentes, de que essa tem que ser uma disputa principal. É importante brigar para que se construam ciclovias, que se invista nelas e que esse seja o programa de governo de quem for eleito. Isso é necessário para que ele coloque as questões dos ciclistas, que prometa, cumpra e depois fiscalize para cumprir políticas e que trate a questão da bicicleta como um sistema. Para isso, a população precisa querer. Não adianta ficar 5% querendo e 95% não. Se a maioria da população não quiser, isso não vai acontecer”, defende.

Cerca de 50 ciclistas sofrem acidentes todo mês. O desrespeito ao código e a falta de fiscalização são os responsáveis pelo problema .........................................................................................................................

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FiSCAlizAçãO dEFASAdA

Um levantamento realizado pelo Detran-MG revela que Belo Horizonte registra cerca de 50 acidentes envolvendo ciclistas por mês. Os maiores causadores, segundo quem usa bike, são os motoristas profissionais. “Taxistas e motoristas de ônibus e caminhão são os que mais ameaçam ciclistas nas ruas”, afirma um dos coordenadores do grupo Mountain Bike BH, Vinícius Mundim Zucheratto. A falta de educação no trânsito é, sem dúvida, a grande causa desse número.

Os acidentes são numerosos, e a fiscalização é escassa. Dados do Detran registram apenas um motorista multado em 2011 por deixar de reduzir a velocidade, quando foi ultrapassar um ciclista. Em 2012, até o mês de abril, ninguém havia sido multado por ter cometido esse tipo de infração.

Mas em relação às ciclovias houve um aumento da vistoria. Em todo o ano passado, 69 pessoas foram

multadas por estacionar sobre ciclovia ou ciclofaixa. Até abril deste ano, 59 veículos haviam sofrido a mesma punição. Porém, quando o assunto é transitar em ciclovias ou ciclofaixas, o número parece ter caído de 41, em 2011, para nove até abril de 2012.

Um dos maiores causadores de problemas para ciclistas é também o item menos observado. Desde o início de 2011, nenhum veículo foi multado por violar o artigo 201 do Código de Trânsito Brasileiro, que obriga os motoristas a guardarem uma distância segura de um metro e meio durante a manobra de ultrapassagem de ciclistas. Para Zucheratto, esse é justamente um dos principais fatores que devem ser modificados.

O ciclista Vinícius Túlio acredita que a educação no trânsito precise ser ensinada, desde cedo, nas escolas. “Um colega meu tem uma ideia interessante. Ele diz que o ciclista não precisa de ciclovias. E é verdade. Antes de ciclovias, o que o ciclista precisa é de respeito”.

Grupos de Pedal

Na capital mineira, pelo menos 14 grupos, todos listados no portal do mountain Bike BH (mtB-BH), saem dia e noite para pedalar. Praticamente todos os dias é possível ver um bando de ciclistas transitando pela cidade.

O mtB-BH é o maior grupo de Beagá. Além de organizar pedaladas, representa um ponto de encontro para discussões. Contando hoje com 7,1 mil usuários do fórum na internet e 350 associados contribuintes, o grupo surgiu a partir de uma comunidade no Orkut, em 2004. de acordo com um dos coordenadores do grupo, Vinícius zucheratto, no mesmo ano, um protesto contra a falta de segurança nos acessos e trilhos próximos à Br 040 ajudou a aumentar o número de participantes. Em 2005, o fórum foi criado, e as discussões sobre todos os temas ligados à bicicleta começaram a surgir.

Exclusivo para mulheres, o Pedal de Salto Alto surgiu a partir de uma conversa entre amigas. A ideia era pedalar um dia como se estivessem em Copenhague, capital da dinamarca. “Esse era o objetivo: incentivar as meninas a pedalar de um jeito alegre, divertido, de forma confortável”, explica uma das criadoras, marcela Abreu.

O evento acontece de dois em dois meses. de acordo com marcela, a maioria das meninas entra no clima e faz uma superprodução. “Não tem como as pessoas na rua não olharem e deixarem de mexer com aquele bando de mulheres lindas pedalando. Nos bares, as pessoas levantam, aplaudem e nos incentivam com frases carinhosas. isso é um barato”, exclama a ciclista, que pedala há cerca de três anos.

Outros grupos também são grandes incentivadores da pedalada na capital, como o le Vélo e o Grupo da Bike. Para fazer parte dessas multidões do pedal não há mistério. Geralmente basta olhar o horário, confirmar presença e aparecer montado no seu camelo.