Modelados e geografia. - Camões...

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Modelados e geografia. O S modelados da Terra podem ser consi- derados como o assunto mais original da geomorfologia, ciência que parece dividida entre a-geografia e a geologia. A sua situação é tanto mais desconfortável quanto, em nome de uma certa geografia cujo assunto é o estudo das pro- duções e da organização do espaço pelo homem, é rejeitada como ramo tradicional da não menos tradicional geografia física, enquanto é inte- grada cada vez mais naturalmente na geologia. Além de que, actualmente, muitos geólogos praticam a geomorfologia melhor que muitos geógrafos. Todavia, os modelados permanecem o domínio contado onde o geomorfologista trabalha sobre uma matéria que fica no âmago da sua especialidade. Os modelados da Terra orientam as pesquisas em geomorfologia para quatro vias principais.

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Modelados e geografia.

OS modelados da Terra podem ser consi-derados como o assunto mais original da

geomorfologia, ciência que parece dividida entrea-geografia e a geologia. A sua situação é tantomais desconfortável quanto, em nome de umacerta geografia cujo assunto é o estudo das pro-duções e da organização do espaço pelo homem,é rejeitada como ramo tradicional da não menostradicional geografia física, enquanto é inte-grada cada vez mais naturalmente na geologia.Além de que, actualmente, muitos geólogospraticam a geomorfologia melhor que muitosgeógrafos. Todavia, os modelados permanecemo domínio contado onde o geomorfologistatrabalha sobre uma matéria que fica no âmagoda sua especialidade.

Os modelados da Terra orientam as pesquisasem geomorfologia para quatro vias principais.

A geomorfologia, e mais geralmente a geo-grafia física, ocuparam durante muito tempo umlugar eminente na pesquisa geográfica. Esta pri-mazia era resultante das descobertas que, graçasà geomorfologia, permitiam o estudo do modocomo se formaram os relevos e o estudo dosmodelados e dos paleoclimas, e mais recente-mente a descoberta da evolução holocénica eactual suscitada por uma procura social preo-cupada com planeamentos e riscos maiores.

Todavia, esta preeminência desapareceu porvárias razões. Certas noções, como a do ciclo deerosão, são cada vez menos verificadas porque aneotectónica", isto é, os movimentos da crostaterrestre que envolvem mesmo os modelados e for-mações geológicas do Quatemário recente (menosde 20000 anos BP), aparece como omnipresente eactiva. A noção de erosão normal, com fundamentona erosão fluvial, já não tem a adesão de muitos dosgeomorfologistas que verificam, através do mundo,a diversidade da acção dos agentes de erosão.

Vários eixos de pesquisa foram reactualiza-dos pela geologia, que soube utilizar as noçõesfundamentais da evolução do relevo e da super-fície de erosão poligénica e policíclica para expli-car as fases orogénicas* e as lacunas ou as discor-dâncias da sedimentação.

Na abordagem dita espacial da geografia, osistema de estrutura do espaço, constituída poráreas de influência de sistemas de actividadeshumanas entre si, fez esquecer muitas vezes aexistência de meios geográficos enriquecidos poruma componente natural.

Certas orientações da geOmorfologia actualmostram, todavia, a vitalidade desta. Uma dassuas novas vias tem por objecto o estudo dossobressaltos da Natureza que são as crises mor-fogenéticas. Estas últimas engendram modeladospor vezes caóticos, como os desabamentos, asavalanchas, os deslizamentos de terreno ou oslahars". No intervalo entre duas crises instalam-se,pelo contrário, períodos de pedogénese, de mode-lação dos leitos fluviais, de aluviamento fino.Estes períodos de calma são sequências morfoló-gicas. Crises e sequências são a trama da evoluçãoclimática, em particular no Quaternário.

A noção de limiar é um tema abordado cada, vez mais frequentemente porque está associadaao de risco. Com efeito, as crises provêm demudanças decisivas, a nível dos mecanismosmorfogenéticos. Quando os valores habituais deum fenómeno são ultrapassados, é transpostoum limiar. Por exemplo, os ravinamentos sobreuma vertente intensificam-se com precipitaçõescada vez mais fortes. Se estas ultrapassam umcerto limiar, produzem-se correntes lamacentase a base da vertente é colma tada por uma quan-tidade pouco habitual de aluviões e de coluviõesgrosseiros. Os valores destes limiares podemser modificados pela intervenção humana.O excesso de urbanização provoca a ímpermea-bilização de vastas áreas e, por conseguinte,o aumento dos débitos e da velocidade de pro-pagação das cheias. A prevenção destas crisesnecessita de obras cuja realização pode apelarpara os geomorfologistas.

Deve também mencionar-se a geomorfologiaque se ocupa de morfometria dos relevos, com odesenvolvimento actual da geografia quantitativa,assim corno do estudo das medidas da erosão,graças, em particular, a parcelas experimentais deterreno ou a estudos em laboratório. Os modela-dos são também o objecto de representações car-tográficas pormenorizadas nos mapas morfológi-cos, úteis para os pedologistas, os ecologistas, osbotânicos, os geólogos e os técnicos do ordena-mento do território. Elas fornecem informaçõessobre a dinâmica erosiva actual, sobre os modela-dos, sobre a espessura das formações superficiaise sobre a evolução dos relevos.

Abordamos assim a parte da geomorfologiaaplicada associada a ternas contemporâneos cornoa erosão das terras aráveis, o estudo da dinâmicadas vertentes, as mutações litorais e os riscos maio-res. É então possível inserir jovens morfologistasem programas sobre essas questões que têm a vercom o meio ambiente. O assunto do estudo domeio ambiente diz respeito, com efeito, às relaçõesentre os grupos humanos, com as suas activi-dades, as suas culturas, as suas relações e o meioonde vivem. Inclui então, corno já mostrámos,pesquisas sobre os modelados nos programas devalorização ou de reabilitação das paisagens.

EROSÃO E PAISAGENS NATURAIS I JEAN RISER; TRAD. ANTÓNIO VIEGAS

AUTOR(ES):

PUBLlCAÇAo:

DESCR. FfSICA:

COLECÇAO:

NOTAS:

ISBN:

Riser, Jean; Viegas, António, trad.

Lisboa: Instituto Piaget, 1999

127 p. : il. ; 21 cm

Biblioteca básica de ciência e cultura; 64

Tít. orig.: Érosion et paysages naturels

972-771-135-9