Modelagem e Simulação de Sistemas de Comunicação Acústica...

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MODELAGEM E SIMULAÇÃO DE SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO

ACÚSTICA SUBAQUÁTICOS

Rafael da Silva Chaves

Projeto de Graduação apresentado ao Curso

de Engenharia Eletrônica e de Computação

da Escola Politécnica, Universidade Federal

do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Engenheiro.

Orientadores: Wallace Alves Martins

Paulo Sergio Ramirez Diniz

Rio de Janeiro

Setembro de 2016

MODELAGEM E SIMULAÇÃO DE SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO

ACÚSTICA SUBAQUÁTICOS

Rafael da Silva Chaves

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO

CURSO DE ENGENHARIA ELETRÔNICA E DE COMPUTAÇÃO DA ESCOLA

POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO

PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU

DE ENGENHEIRO ELETRÔNICO E DE COMPUTAÇÃO.

Examinado por:

Prof. Wallace Alves Martins, D.Sc.

Prof. Marcello Luiz Rodrigues de Campos, Ph.D.

Prof. Markus Vinícius Santos Lima, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ � BRASIL

SETEMBRO DE 2016

da Silva Chaves, Rafael

Modelagem e Simulação de Sistemas de Comunicação

Acústica Subaquáticos/Rafael da Silva Chaves. � Rio de

Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2016.

XII, 69 p.: il.; 29,7cm.Orientadores: Wallace Alves Martins

Paulo Sergio Ramirez Diniz

Projeto de Graduação � UFRJ/ Escola Politécnica/

Curso de Engenharia Eletrônica e de Computação, 2016.

Referências Bibliográ�cas: p. 64 � 69.

1. OFDM. 2. Canal Acústico Subaquático. 3. Efeito

Doppler. I. Alves Martins, Wallace et al. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de

Engenharia Eletrônica e de Computação. III. Título.

iii

A dona Rosa e ao seu Ideny.

iv

Agradecimentos

Agradeço à minha mãe Rosa e ao meu pai Ideny, por todo carinho, apoio e incentivo

que me deram ao longo dos 5 anos do curso de engenharia. Sem vocês eu nunca

conseguiria chegar tão longe.

Agradeço ao meu irmão e melhor amigo Gabriel, por sempre estar ao meu lado

em todos os momentos. Seu papel foi crucial nesta jornada.

Agradeço aos meus orientadores Wallace Martins e Paulo Diniz, pelas oportuni-

dades e por todo conhecimento que conseguiram me passar. Obrigado pela con�ança

que depositaram em mim ao longo da confecção deste trabalho. Vocês me ajudaram

a evoluir como pro�ssional e como pessoa, sou muito grato por tudo.

Agradeço a todos os professores do Departamento de Engenharia Eletrônica, por

contribuírem com a minha formação. Agradeço especialmente ao professor Marcello

Campos, pessoa que considero como um terceiro orientador.

Agradeço a todos os meus amigos que me ajudaram direta ou indiretamente

na realização deste trabalho. Em especial, agradeço àqueles que acompanharam a

minha jornada de perto: Matheus, Felipe, Roberto, Igor, Vinicius, Rebeca, Renata,

Tadeu e Marcelo.

Agradeço aos professores Markus Lima e Marcello Campos, por aceitarem o

convite para compor a banca avaliadora deste trabalho.

v

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como

parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Eletrônico

e de Computação.

Modelagem e Simulação de Sistemas de Comunicação Acústica Subaquáticos

Rafael da Silva Chaves

Setembro/2016

Orientadores: Wallace Alves Martins

Paulo Sergio Ramirez Diniz

Curso: Engenharia Eletrônica e de Computação

Este trabalho apresenta um estudo detalhado de diversos modelos para a relação

entrada-saída de canais acústicos subaquáticos, mais especi�camente analisando a

contribuição do efeito Doppler em tais relações. São apresentadas uma modelagem

discreta para as relações entrada-saída dos canais estudados e uma metodologia de

como gerar os parâmetros do modelo de canal. O trabalho também estuda o com-

portamento de sistemas OFDM (do termo em inglês orthogonal frequency-division

multiplexing) em canais acústicos subaquáticos. Tais sistemas são analisados em dois

tipos diferentes de transmissões: a que considera um modelo de canal invariante no

tempo e outra que considera um modelo de canal variante no tempo. O impacto do

efeito Doppler nesses sistemas é analisado detalhadamente, e uma simples estratégia

de compensação é apresentada. Simulações são realizadas para avaliar o desempe-

nho dos sistemas OFDM em canais invariantes e variantes no tempo. As simulações

avaliam a BER (do termo em inglês bit error-rate) e a sensibilidade dos sistemas

OFDM ao efeito Doppler. Os resultados obtidos são satisfatórios e compravam que

os sistemas OFDM estudados são adequados em alguns cenários especí�cos.

Palavras-chave: OFDM, Canal Acústico Subaquático, Efeito Doppler.

vi

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial ful�llment

of the requirements for the degree of Engineer.

MODELING AND SIMULATION OF UNDERWATER ACOUSTIC

COMMUNICATION SYSTEMS

Rafael da Silva Chaves

September/2016

Advisors: Wallace Alves Martins

Paulo Sergio Ramirez Diniz

Course: Electronic Engineering

This work presents a detailed study of some models for the underwater acoustic

channels' input-output relationship, detailing the Doppler e�ect on such relation-

ships. Both a discrete model for the channel input-output relationship as well as a

methodology to generate the channel model parameters are presented. This work

also studies the behavior of orthogonal frequency-division multiplexing (OFDM) sys-

tems in underwater acoustic channels. Such systems are analyzed in two di�erent

types of channels: a linear time-invariant channel model and a linear time-varying

channel model. The impact of Doppler e�ect on these systems are thoroughly an-

alyzed, and a simple compensation strategy is described. Some simulations are

performed to evaluate the OFDM performance for time-invariant and time-variant

channels. The simulations evaluate the bit error-rate (BER) and the sensibility of

OFDM systems to Doppler e�ects. The results are satisfactory and prove that the

OFDM systems are suitable in some speci�c scenarios.

Keywords: OFDM, Underwater Acoustic Channel, Doppler E�ect.

vii

Sumário

Lista de Figuras x

Lista de Tabelas xii

1 Introdução 1

1.1 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

1.2 Divisão do Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2 Características do Canal Acústico Submarino 4

2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2.2 Velocidade de Propagação do Som . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2.3 Multipercurso Variante no Tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

2.4 Efeito Doppler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

2.5 Modelos de Propagação Acústica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2.5.1 Teoria dos Raios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

2.5.2 Soluções de Modo Normal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2.5.3 Aproximação Parabólica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2.5.4 Integração do Número de Onda . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2.6 Perda de Energia por Propagação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

2.6.1 Perda por Absorção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

2.6.2 Perda por Espalhamento Geométrico . . . . . . . . . . . . . . 13

2.6.3 Perda por Espalhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

2.6.4 Parametrização da Perda de Energia por Propagação . . . . . 14

2.7 Ruído Ambiente e Interferência Externa . . . . . . . . . . . . . . . . 15

3 Relação Entrada-Saída do Canal Acústico Submarino 16

3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

3.2 Canal Variante no Tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

3.2.1 Escalamento Doppler Não-Uniforme . . . . . . . . . . . . . . . 17

3.2.2 Escalamento Doppler Uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

3.2.3 Variações de Amplitude e de Atraso . . . . . . . . . . . . . . . 20

3.2.4 Dispersão e Atenuação na Frequência . . . . . . . . . . . . . . 21

viii

3.3 Canal Invariante no Tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

3.4 Implementação Digital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

3.4.1 Canal Invariante no Tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

3.4.2 Canal Variante no Tempo com Escalamento Doppler Não-

Uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

3.4.3 Canal Variante no Tempo com Escalamento Doppler Uniforme 26

3.5 Características Estatísticas do Canal Acústico Submarino . . . . . . . 26

3.5.1 Número de Percursos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3.5.2 Atraso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3.5.3 Ganho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3.5.4 Escalamento Doppler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

4 Sistemas Multiportadora 30

4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

4.2 ZP-OFDM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

4.2.1 Processamento do Transmissor . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

4.2.2 Processamento do Receptor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

4.2.3 Equalização dos Sistemas ZP-OFDM . . . . . . . . . . . . . . 38

4.3 Transmissão ZP-OFDM em Canal Variante no Tempo com Escala-

mento Doppler Uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

4.3.1 Compensação Grosseira do Fator de Escalamento Doppler . . 40

4.3.2 Ajuste Fino do Fator de Escalamento Doppler . . . . . . . . . 43

4.3.3 Equalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

5 Simulações e Análise de Resultados 47

5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

5.2 Gerador de Respostas ao Impulso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

5.3 Desempenho do ZP-OFDM no Canal Acústico Submarino . . . . . . . 49

5.3.1 Parâmetros da Simulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

5.3.2 Canal Invariante no Tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

5.3.3 Canal Variante no Tempo com Escalamento Doppler Uniforme 56

6 Conclusão e Trabalhos Futuros 61

6.1 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

6.2 Trabalhos Futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

Referências Bibliográ�cas 64

ix

Lista de Figuras

2.1 Variações dos parâmetros do ambiente em função da profundidade. . 5

2.2 Per�l de velocidade do som na água. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2.3 In�uência do per�l de velocidade da onda acústica na propagação. . . 6

2.4 Exemplo de transmissão quando há velocidade relativa entre o trans-

missor e o receptor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

2.5 Feixe de abertura do receptor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

3.1 Front-end analógico de um sistema de comunicação acústico submarino. 16

3.2 Exemplo de respostas ao impulso de um canal acústico submarino. . . 18

3.3 Exemplo de respostas ao impulso de um canal acústico submarino

com dispersão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

3.4 Amostragem do canal invariante no tempo. . . . . . . . . . . . . . . . 24

3.5 Implementação digital de um canal variante no tempo com escala-

mento de Doppler não-uniforme. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

3.6 Exemplo de como gerar os atrasos τl da resposta ao impulso h(τ). . . 28

4.1 Representação do b-ésimo bloco ZP-OFDM. . . . . . . . . . . . . . . 31

4.2 Diagrama de blocos do transmissor OFDM, com gk(t) = ej2π kTtg(t),

∀k ∈ K. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

4.3 Diagrama de blocos para a implementação digital do transmissor

OFDM. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

4.4 Diagrama de blocos do receptor OFDM, onde F{·} é o operador trans-formada de Fourier. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

4.5 Diagrama de blocos para a implementação digital do receptor OFDM. 37

4.6 Diagrama de blocos do receptor com compensação do fator de esca-

lamento Doppler. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

4.7 Diagrama de blocos para implementação digital do receptor com com-

pensação do fator de escalamento Doppler. . . . . . . . . . . . . . . . 45

5.1 Respostas ao impulso geradas pelo método descrito na Seção 3.5. . . . 48

5.2 Respostas ao impulso amostradas geradas pelo método descrito na

Seção 3.4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

x

5.3 Respostas ao impulso de canais com escalamento de Doppler uniforme

para diferentes valores v. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

5.4 Grá�cos da variação de τl em função de v. . . . . . . . . . . . . . . . 50

5.5 Resposta em frequência do �ltro passa-baixas da Figura 4.5. . . . . . 51

5.6 Resposta em frequência do sinal em banda base na taxa Td = 0,1 ms. 52

5.7 Respostas em frequência do sinal transmitido com período de amos-

tragem Ta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

5.8 Curva de BER por SNR para um canal invariante no tempo. . . . . . 54

5.9 Curva de BER versus SNR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

5.10 BER vs. SNR utilizando equalizador ZF e ε ∈ E1, para canais com

L = 3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

5.11 BER vs. SNR utilizando equalizador ZF e ε ∈ E1, para canais com

L = 7. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

5.12 BER vs. SNR para ε ∈ E1 com ajuste �no e estimando o canal a cada

127 blocos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

5.13 Curva de BER vs. SNR utilizando equalizador ZF e ε ∈ E2, para

canais com L = 3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

5.14 Curva de BER vs. SNR utilizando equalizador ZF e ε ∈ E2, para

canais com L = 7. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

5.15 BER vs. SNR para ε ∈ E1 com ajuste �no e estimando o canal a cada

127 blocos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

xi

Lista de Tabelas

5.1 Número de canais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

xii

Capítulo 1

Introdução

1.1 Motivação

Atualmente, muitos sistemas de comunicação por rádio frequência (RF, do termo

em inglês radio frequency) têm sido desenvolvidos e aprimorados buscando atender à

crescente demanda mundial por taxas mais altas de transmissão de dados. Tal aper-

feiçoamento deve-se à escassez do espectro de frequências que é usado para realizar

a transmissão de dados, exigindo novas tecnologias que visam a otimizar o uso das

bandas de frequências disponíveis. Devido a esse fato, sistemas OFDM (do termo

em inglês orthogonal frequency-division multiplexing) e SC-FD (do termo em inglês

single carrier with frequency-domain equalization) se tornaram bastante populares,

pois conseguem usar de maneira e�ciente toda a banda de transmissão, eliminando

a interferência entre blocos (IBI, do termo em inglês interblock interference) e facili-

tando o combate à interferência entre símbolos (ISI, do termo em inglês intersymbol

interference) [1].

Um outro tipo de comunicação que tem se tornado bastante popular nos últi-

mos anos é a comunicação submarina. É esperado que esses sistemas tenham um

papel importante na investigação de possíveis mudanças climáticas, monitoramento

de atividades sísmicas e mudanças biológicas que ocorrem no oceano [2, 3]. Os

sistemas de comunicação subaquático também podem ser utilizados para realizar

exploração marítima remota [4�6]. Algumas aplicações de monitoramento e explo-

1

ração marítima precisam realizar transmissão de vídeo, necessitando de sistemas de

comunicações com taxas de transmissão elevadas [7].

Na aplicações listadas anteriormente, o uso de sinais eletromagnéticos se torna

restrito a alguns cenários especiais uma vez que a atenuação na água, especialmente a

salgada, é muito maior que no ar, o que leva à utilização de sinais de outra natureza,

como os acústicos. Os sinais acústicos são ondas mecânicas de mais baixa frequência

e que sofrem uma menor atenuação quando propagam-se em ambiente subaquático.

Por outro lado, usar esses sinais é uma tarefa desa�adora, já que o ruído acústico

submarino estará presente de forma acentuada [8�10], o canal acústico submarino é

variante no tempo [11] e, principalmente, a comunicação acústica sofre bastante com

o efeito Doppler [12] devido à baixa velocidade de propagação das ondas sonoras e

o movimento relativo entre o transmissor e o receptor. Além disso, um sistema de

comunicação acústico submarino usualmente tem uma taxa de transmissão reduzida

devido à baixa frequência do sinal transmitido, o que prejudica determinados tipos

de aplicações [13].

Para tentar contornar a baixa taxa de transmissão, alguns trabalhos na literatura

estão propondo o uso de transmissão por blocos usando sistemas OFDM [14�18].

Porém, ainda não existe um consenso na literatura sobre qual é o modelo mais

adequado a ser adotado para o canal [19�21]. Este trabalho se propõe a estudar di-

ferentes modelos de canais presentes na literatura [20�22] e mostrar como encontrar

o modelo discreto da resposta ao impulso de alguns deles. O trabalho também irá es-

tudar o comportamento dos sistemas de comunicação multiportadora, quando estes

são usados para realizar uma transmissão através de um canal acústico subaquá-

tico. O impacto do efeito Doppler nesses tipos de sistemas bem como a e�cácia de

uma estratégia simples de compensação em dois estágios são também apresentados

e discutidos. Para realizar tais estudos e análises será desenvolvida uma plataforma

de testes em software que emule o canal acústico submarino e que possibilite a

simulação das técnicas abordadas.

2

1.2 Divisão do Trabalho

O trabalho está dividido da seguinte maneira: no Capítulo 2, é feita uma revisão

bibliográ�ca de acústica submarina, resumindo as principais características da pro-

pagação da onda acústica em ambiente subaquático, como por exemplo o per�l de

velocidade e o multipercurso variante no tempo. No Capítulo 3, são apresentados os

principais modelos de canais acústicos submarinos e como eles afetam o sinal trans-

mitido por esse canal. Uma grande atenção é dada aos canais variantes no tempo

e em como o fator de escalamento gerado pelo efeito Doppler in�uencia em suas

respostas ao impulso. Também é mostrado como gerar uma resposta ao impulso

dos principais modelos e como encontrar suas versões discretas. No Capítulo 4, é

apresentado todo o desenvolvimento matemático dos sistemas OFDM com su�xo

zero e como eles se comportam quando são usados para realizar uma transmissão

por um canal variante no tempo. Esse estudo analisa em detalhes o impacto do

fator de escalamento Doppler nesses sistemas e apresenta uma simples estratégia

de compensação em duas etapas. No Capítulo 5 são apresentados os resultados de

uma série de simulações realizadas para avaliar o desempenho dos modelos descritos

no Capítulo 4. Essas simulações avaliam a taxa de erro de bit (BER, do termo em

inglês bit error-rate) em canais invariantes no tempo e avaliam a sensibilidade da

BER em função do erro de estimação do fator de escalamento Doppler. Por último,

o Capítulo 6 apresenta a conclusão do trabalho e também alguns possíveis caminhos

para sua continuação.

3

Capítulo 2

Características do Canal Acústico

Submarino

2.1 Introdução

Dada a complexidade do meio acústico submarino e a baixa velocidade de propa-

gação do som na água, o canal acústico submarino é tido por muitos como um dos

canais mais desa�adores para comunicações sem �o. Nesse capítulo serão apresenta-

das várias características do canal acústico submarino, desde o per�l de velocidade

de propagação da onda acústica na água até o ruído no meio acústico submarino.

2.2 Velocidade de Propagação do Som

A baixa velocidade de propagação do som na água salgada é um importante fator que

diferencia da propagação das ondas eletromagnéticas no ar. Essa baixa velocidade

faz com que a banda de transmissão do sistema acústico submarino seja pequena,

e que a latência na transmissão seja muito grande. A velocidade do som na água

depende das propriedades da água em questão, tais como temperatura, pressão e

salinidade, e cada uma dessas propriedades varia de acordo com a profundidade.

Na Figura 2.1 é possível observar a variação da temperatura e salinidade de acordo

com a profundidade. Os grá�cos na Figura 2.1 foram gerados a partir de dados

4

experimentais obtidos na Enseada dos Anjos em Arraial do Cabo.

35 35,2 35,4 35,6 35,8 36

0

10

20

30

40

50

Salinidade (em PSU)

Prof

undi

dade

(em

m)

(a) Salinidade em função da profundidade.

14 16 18 20 22

0

10

20

30

40

50

Temperatura (em oC)

Prof

undi

dade

(em

m)

(b) Temperatura em função da profundidade.

Figura 2.1: Variações dos parâmetros do ambiente em função da profundidade.

A velocidade de propagação do som na água normalmente varia em torno de

1510 m/s, que é cerca de 4 vezes maior do que a velocidade de propagação do som

no ar, mas é 5 ordens de grandeza menor do que a velocidade de propagação de uma

onda eletromagnética no ar. A velocidade do som na água pode ser calculada de

diversas maneiras, uma delas é a fórmula experimental de Mackenzie, que depende

da temperatura, salinidade e profundidade [23]. Uma fórmula mais completa para

o cálculo da velocidade do som na água pode ser encontrada em [8]. Na Figura 2.2

pode-se ver um grá�co da velocidade do som em função da profundidade, calculado

a partir dos dados da Figura 2.1 e utilizando a fórmula de Mackenzie.

1500 1505 1510 1515 1520 1525

0

10

20

30

40

50

Velocidade (em m/s)

Prof

undi

dade

(em

m)

Figura 2.2: Per�l de velocidade do som na água.

5

Os múltiplos percursos que ocorrem na transmissão de uma onda sonora estão di-

retamente relacionados com o per�l de velocidade do som. Na Figura 2.3a é possível

observar que no caso de uma transmissão em águas rasas1 o per�l de velocidade varia

pouco com a profundidade, ou seja, a velocidade mantém-se praticamente constante.

Devido a esse fato os raios de propagação são retas e esse caso de múltiplos percursos

se assemelha à transmissão sem �o pelo ar. Já na Figura 2.3b é possível ver que,

como a velocidade de propagação varia muito com a profundidade, os raios não per-

correm caminhos retos e sim curvados, sendo esse tipo de canal conhecido como DSC

(do termo em inglês deep sound channel) e a propagação conhecida como SOFAR

(do termo em inglês sound �xing and ranging). Nesse tipo de propagação ocorre

um fenômeno interessante: o raio que percorreu o maior caminho pode chegar no

receptor antes de um raio que percorreu um caminho menor; isso ocorre por causa da

velocidade que começa a aumentar a partir de uma determinada profundidade [22].

Velocidade

Profundidade

Projetor

Hidrofone

(a) Múltiplos percursos para uma transmissão acústica em águas rasas.Velocidade

Profundidade

Projetor

Hidrofone

(b) Múltiplos percursos para uma transmissão acústica em águas profundas.

Figura 2.3: In�uência do per�l de velocidade da onda acústica na propagação.

Neste trabalho o per�l de velocidade considerado foi o apresentado na Fi-

gura 2.3a, de forma que todos os modelos matemáticos utilizados nos próximos

capítulos consideraram a velocidade do som aproximadamente constante. Todos

1A literatura da área não é consensual em relação à de�nição de águas rasas. A de�nição deáguas rasas usada neste trabalho é a mesma que é utilizada em [24], que considera rasas as águasque vão do �nal da zona de arrebentação até o �nal da plataforma continental. Toda região depoisda plataforma continental é classi�cada como águas profundas.

6

os múltiplos percursos considerados serão gerados a partir de re�exões no fundo e

na superfície. É importante ressaltar que os próprios multipercursos podem even-

tualmente sofrer variações temporais ocasionadas, por exemplo, por mudanças no

ambiente subaquático ou pelo deslocamento relativo entre o transmissor e o receptor.

A próxima seção trata desse assunto.

2.3 Multipercurso Variante no Tempo

Uma transmissão de onda acústica pode alcançar um determinado ponto através de

múltiplos caminhos. Para transmissões em águas rasas, onde a distância é muito

maior que a profundidade, as re�exões da onda no fundo e na superfície geram cópias

atrasadas do sinal transmitido. Já para transmissões em águas profundas, as re�e-

xões no fundo e na superfície podem ser desconsideradas, mas, como foi apresentado

na Seção 2.2, variações no per�l de velocidade do som também produzem múltiplos

percursos. Além disso, os múltiplos percursos podem variar com o tempo. Os dois

principais fatores que causam essas variações são: mudanças no ambiente e o efeito

Doppler. Na próxima seção o efeito Doppler será analisado com mais detalhes.

2.4 Efeito Doppler

A variação temporal dos multipercursos é um problema desa�ador quando se está

trabalhando com o canal acústico submarino e o efeito Doppler é sua principal

causa no ambiente subaquático. Para exempli�car tal efeito, considere o esquema

apresentado na Figura 2.4: o transmissor Tx envia uma onda acústica cossenoidal

com frequência ω para o receptor Rx, dada por

x(t) = Acos(ωt− βζ), (2.1)

onde β = 2π/λ é o número de onda, com λ sendo o comprimento de onda, e ζ é a

distância percorrida pela frente de onda.

7

Tx

Rx

onda 1

onda 2v2

v1

θ1

θ2

Figura 2.4: Exemplo de transmissão quando há velocidade relativa entre o trans-missor e o receptor.

Devido aos múltiplos percursos, o receptor irá receber duas versões do sinal x(t).

Quando a velocidade relativa entre o receptor e o transmissor v = v2 − v1 é nula, o

sinal recebido por Rx é dado por

y(t) = A1cos(ωt− βζ1) + A2cos(ωt− βζ2)

= A1cos(ωt− ωζ1

c

)+ A2cos

(ωt− ωζ2

c

)

= A1cos(ω(t− τ1)) + A2cos(ω(t− τ2)), (2.2)

onde foi utilizada a identidade β = ω/c, em que c é a velocidade de propagação da

onda acústica, e τl = ζl/c é o atraso da l-ésima onda. Quando a velocidade relativa

v é diferente de zero, o sinal recebido por Rx é dado por

y(t) = A1cos(ωt− β(ζ1 − vcos(θ1)t)) + A2cos(ωt− β(ζ2 − vcos(θ2)t))

= A1cos(ωt− ω

(ζ1

c− vcos(θ1)t

c

))+ A2cos

(ωt− ω

(ζ2

c− vcos(θ2)t

c

))

= A1cos (ωt− ω (τ1 − a1t)) + A2cos (ωt− ω (τ2 − a2t))

= A1cos(ω(1 + a1)t− ωτ1) + A2cos(ω(1 + a2)t− ωτ2), (2.3)

onde al = vcos(θl)/c é chamado de fator de escalamento Doppler (em inglês, Doppler

scaling factor), e θl é o ângulo de incidência no receptor da frente de onda da l-ésima

onda. Quando a distância entre o transmissor e o receptor é aproximadamente

1 km o ângulo do feixe de abertura do receptor apresentado na Figura 2.5 é de

aproximadamente 20◦ [25]. De fato, quanto maior a distância entre o transmissor e

o receptor, tem-se a expectativa de que o ângulo do feixe de abertura seja menor,

8

o que tende a diminuir a variação relativa entre os fatores de escalamento al. Em

outras palavras, é concebível um modelo em que al = a para todo l, desde que a

distância entre o transmissor e receptor seja su�cientemente grande.

RxΘ

Θ

Feixe de Abertura

Figura 2.5: Feixe de abertura do receptor.

Resumindo, o efeito Doppler causa um escalamento temporal no sinal enviado.

Esse efeito é muito danoso ao sistema de comunicações e pode degradar completa-

mente a mensagem enviada. Nos Capítulos 3 e 4, o fator de escalamento Doppler

será analisado com mais detalhes.

Até agora, três importantes conceitos foram apresentados: o per�l de velocidade

do som na água na Seção 2.2, o multipercurso variante no tempo na Seção 2.3 e o

efeito Doppler na Seção 2.4. Todos esses conceitos podem ser utilizados em conjunto

para determinar o caminho exato que uma onda acústica percorre de um ponto a

outro. Essa informação é bem útil para a acústica submarina, quando é preciso fazer

uma análise da propagação em uma determinada região. Na próxima seção alguns

modelos de propagação serão apresentados, bem como suas possíveis aplicações.

2.5 Modelos de Propagação Acústica

O modelo de propagação tridimensional da onda acústica em meio submarino pode

ser caracterizado pela equação de onda [22]

∇2xp(x,t) =

1

c2(x)

∂2p(x,t)

∂t2, (2.4)

9

onde x ∈ R3×1 representa as coordenadas de um ponto na água, p(x,t) ∈ R é

a pressão do som em uma dada posição x e para um instante de tempo t ∈ R,

c(x) ∈ R é a velocidade de propagação do som na água e ∇2x representa o operador

Laplaciano2. Para uma onda senoidal de frequência f0, a equação (2.4) pode ser

escrita como a equação de Helmholtz [8, 22]

∇2xp(x) + k2(x)p(x) = 0, (2.6)

onde p(x) é o fasor da pressão e k(x) = 2πf0/c(x) é o número de onda.

Apesar da simplicidade da equação (2.6), pode ser inviável encontrar uma solu-

ção analítica para a mesma [8, 22]. Assim, dependendo da aplicação em questão,

existem diferentes soluções numéricas para caracterizar a propagação da onda acús-

tica em ambiente submarino, dentre elas: teoria dos raios, soluções de modo normal,

aproximação parabólica e integração do número de onda.

2.5.1 Teoria dos Raios

Assumindo que a fase da onda acústica varia muito mais rápido do que sua ampli-

tude, o método da teoria dos raios usa a pressão como o produto de uma função

da amplitude da onda com uma função da fase da onda; essas duas funções são

independentes e por isso cada uma das funções pode ser tratada separadamente.

Devido à hipótese acima, a teoria dos raios é adequada apenas para sistemas de

faixa estreita (do termo em inglês narrowband), onde a independência da amplitude

e da fase é garantida. Os programas mais comuns que usam a teria dos raios para

calcular a propagação da onda acústica são o Bellhop [26] e o cTraceo [27].

2O operador Laplaciano é de�nido como

∇2x(·) =

3∑

i=1

∂2(·)∂x2

i

(2.5)

10

2.5.2 Soluções de Modo Normal

Esse método fornece uma solução exata da equação da onda, mas é restrito a um

canal em que a velocidade só varia com a profundidade e o fundo é plano e horizontal.

Por isso, a solução não depende da distância, o que restringe o seu uso a poucas

aplicações. Um programa que usa a solução de modo normal é o KRAKEN [28].

2.5.3 Aproximação Parabólica

Esse método aproxima a equação (2.6) por uma equação parabólica3 (PE, do termo

em inglês parabolic equation), cuja a solução pode ser calculada numericamente. Um

exemplo de programa que resolve equações parabólicas é o modelo MMPE (do termo

em inglês monterey-miami parabolic equation) [29].

2.5.4 Integração do Número de Onda

Esse método também é conhecido como FFP (do termo em inglês fast �eld program)

e é similar à solução de modo normal, mas nesse caso o FFP calcula o campo acústico

usando integração no número de onda. Usando a transformada rápida de Fourier

(FFT, do termo em inglês fast Fourier transform) o FFP pode avaliar diretamente a

solução da integral para obter uma solução numérica da equação da onda. Embora

esse método forneça uma solução muito acurada, ele falha na hora de fornecer uma

interpretação do campo acústico, impossibilitando o seu uso em algumas aplicações.

Um exemplo de FFP é o OASES (do termo em inglês ocean acoustic and seismic

exploration synthesis) [30].

Do ponto de vista de comunicações e processamento de sinais, estes métodos

não são muito úteis por serem determinísticos e, portanto, �carem dependentes da

escolha adequada de parâmetros, os quais podem não representar bem uma situação

3Uma equação parabólica é uma equação diferencial do tipo

A∂2u

∂x2+ 2B

∂2u

∂x∂y+ C

∂2u

∂y2+D

∂u

∂x+ E

∂u

∂y+ F = 0, (2.7)

onde B2 −AC = 0.

11

prática real. Em vez de utilizar tais métodos, o presente trabalho empregará modelos

estatísticos de canais, os quais serão apresentados no Capítulo 3. Tais modelos

buscam caracterizar o comportamento médio dos canais subaquáticos, modelando

diversos aspectos da transmissão, incluindo as perdas de energia por propagação,

assunto da próxima seção.

2.6 Perda de Energia por Propagação

Existem três tipos de perda de energia por propagação para ondas acústicas na água:

• perda por absorção;

• perda por espalhamento geométrico (do termo em inglês geometric spreading);

• perda por espalhamento (do termo em inglês scattering loss).

2.6.1 Perda por Absorção

Durante a propagação, a energia da onda pode ser convertida em outros tipos de

energia e absorvida pelo meio. A perda por absorção é diretamente controlada pelas

imperfeições do material (ou meio). Para ondas eletromagnéticas, a imperfeição é

modelada pela condutividade elétrica da água. Para as ondas acústicas, a imperfei-

ção é modelada pela inelasticidade, que converte a energia da onda em calor.

A perda de energia por absorção para propagação de ondas acústicas é depen-

dente da frequência, e pode ser expressa por [22]

Pf(f) = e−α(f)d, (2.8)

onde d ∈ R+ é a distância de propagação e α(f) é o coe�ciente de absorção na

frequência f . Para água salgada, o coe�ciente de absorção na frequência f em kHz

pode ser modelado pelo efeito de uma soma de processos de relaxações químicos e

12

a absorção da água pura, sendo esse coe�ciente dado por [22]

α(f) =A1P1f1f

2

f 21 + f 2

+A2P2f2f

2

f 22 + f 2

+ A3P3f2, (2.9)

onde o primeiro termo é uma contribuição do ácido bórico, o segundo termo é uma

contribuição do sulfato de magnésio e o terceiro termo é uma contribuição da água

pura. A1, A2, A3 ∈ R são constantes, P1, P2, P3 ∈ R são dependentes da pressão,

f1, f2 ∈ R+ são as frequências do processo de relaxação do ácido bórico e sulfato de

magnésio, respectivamente.

Para comunicação acústica submarina, a fórmula de Thorp [31] é uma boa apro-

ximação da equação (2.9) para frequências menores que 50 kHz, sendo dada por

α(f) =0,11f 2

1 + f 2+

44f 2

4100 + f 2+ 2,75× 10−4f 2 + 0,003, (2.10)

onde f é a frequência em kHz.

2.6.2 Perda por Espalhamento Geométrico

A perda de energia por espalhamento geométrico (do termo em inglês geometric

spreading loss) é uma perda local de potência que ocorre na propagação das ondas

acústicas devido à conservação de energia. Quando uma onda acústica impulsiva é

transmitida, à medida que a distância percorrida pela onda aumenta, sua frente de

onda também aumenta proporcionalmente, e a consequência disso é que a potência

por unidade de área na frente de onda �ca cada vez menor. Para uma onda acús-

tica esférica gerada por uma fonte pontual, a perda de potência por espalhamento

geométrico é proporcional ao quadrado da distância. Para uma onda acústica cilín-

drica gerada por um arranjo de projetores, a perda de potência por espalhamento

geométrico é proporcional a distância. Em comunicações acústica submarina o espa-

lhamento geométrico é uma composição do espalhamento esférico e cilíndrico, nesse

13

caso a perda por espalhamento geométrico pode ser escrita como [22]

Pg = dβ, (2.11)

onde β = 1 para o caso cilíndrico e β = 2 para o caso esférico. Em casos práticos

é muito complicado classi�car a perda por espalhamento geométrico como esférico

ou cilíndrico, então um bom valor prático para o expoente é β = 1,5 [22]. Um fato

importante a ser notado aqui é que a perda por espalhamento geométrico independe

da frequência.

2.6.3 Perda por Espalhamento

O espalhamento (do termo em inglês scattering) é um processo físico em que a onda

incidente é re�etida por uma superfície irregular em diferentes direções. O espa-

lhamento do som em ambiente submarino pode ser atribuído às não-uniformidades

na coluna de água e às interações das ondas acústicas com as superfícies irregulares

do fundo e da superfície do mar. Esses obstáculos na coluna de água incluem alvos

pontuais como peixe e plânctons. A perda de energia por espalhamento depende

do comprimento de onda da onda acústica e do tamanho do alvo. Em particular, a

perda por espalhamento aumenta à medida que o comprimento de onda diminui. A

perda de energia por espalhamento pode ser modelada por [8]

Ps =r2

[(f0/f)2 − 1]2 + δ2, (2.12)

onde f é a frequência em Hz, f0 é a frequência de ressonância do alvo, r é o raio do

alvo e δ é o fator de amortecimento.

2.6.4 Parametrização da Perda de Energia por Propagação

A perda de propagação total é uma composição dos três tipos de perda que foram

citadas anteriormente. Para um sinal acústico com frequência f , a atenuação após

14

percorrer uma distância d pode ser escrita como [22]

Pp(f,d) =r2

[(f0/f)2 − 1]2 + δ2dβe−α(f)d. (2.13)

2.7 Ruído Ambiente e Interferência Externa

Ruído é um termo usado para denotar um sinal indesejado que distorce o sinal

transmitido. No caso dos sistemas de comunicação acústica submarina, o ruído

pode ser dividido em duas categorias: o ruído ambiente e a interferência externa.

Ruído ambiente é um tipo de ruído de fundo que pode ser produzido por um

conjunto grande de fontes. As fontes de ruído mais comuns no meio submarino

são as atividades sísmicas e vulcânicas, atividades industrias (como por exemplo

exploração de petróleo), processos climáticos e ruído térmico. Devido às múltiplas

fontes, o ruído ambiente pode ser aproximado como gaussiano, embora não seja

razoável modelá-lo como branco.

Interferência externa é um sinal interferidor que pode ser claramente reconhecido

no sinal recebido pelo receptor. As fontes de interferências externa mais comuns são

os animais marinhos, o deslocamento de icebergs e outros sistemas acústicos funcio-

nando na mesma região. Por exemplo, o ruído produzido pelos camarões em águas

quentes e o deslocamento dos icebergs nas regiões polares produzem interferências

impulsivas. Neste trabalho será assumido que o ruído é AWGN (do termo em in-

glês additive white Gaussian noise). Apesar dessa hipótese não ser razoável, ela é o

ponto de partida de diversos outros trabalhos da literatura.

Como foi visto ao longo deste capítulo, o canal acústico subaquático depende

de diferentes parâmetros que podem variar ao longo do tempo, como por exemplo

o multipercurso apresentado na Seção 2.3. No Capítulo 3 será apresentada uma

modelagem matemática que utiliza o conceito de multipercursos variante no tempo

e do efeito Doppler para gerar respostas ao impulso do canal acústico subaquático.

A intenção dessa modelagem é criar uma alternativa aos modelos de propagação

apresentados na Seção 2.5.

15

Capítulo 3

Relação Entrada-Saída do Canal

Acústico Submarino

3.1 Introdução

O front-end analógico de um sistema de comunicação acústica subaquática pode

ser visto na Figura 3.1. No transmissor o sinal x(t) é ampli�cado e passa por um

circuito de casamento de impedância para que a potência do sinal transmitido seja

a máxima possível. No receptor o sinal captado pelo hidrofone é pré-ampli�cado e

depois é �ltrado por um �ltro passa-faixa para eliminar todas as interferências fora

da faixa do sinal. Do ponto de vista de processamento de sinais, o canal equivalente

leva em conta todas as imperfeições entre o sinal x(t) e y(t), de forma que para esse

sistema o canal de comunicação é a conexão de todos os blocos entre x(t) e y(t) [22].

Amplificadorde

Potencia

Casamentode

Impedancia

PreAmplificador

FiltroPassa Faixa

Projetor Hidrofone

x(t) y(t)Canal Fısico

Figura 3.1: Front-end analógico de um sistema de comunicação acústico submarino.

Em alguns tipos de transmissão, a resposta ao impulso do canal pode ser consi-

derada linear e invariante no tempo (LTI, do termo em inglês linear time-invariant)

para um determinado intervalo de tempo [32, 33], mas no caso da transmissão acús-

16

tica submarina será mostrado que, devido ao efeito Doppler, na maior parte dos

casos o canal acústico subaquático será variante no tempo. Nesse capítulo serão

apresentados alguns modelos de canal acústico submarino bem como a forma de

simular esses modelos de canal.

3.2 Canal Variante no Tempo

3.2.1 Escalamento Doppler Não-Uniforme

O canal acústico submarino pode ser modelado como um sistema linear variante no

tempo com respostas ao impulso [22]:

h(t,τ) =L∑

l=1

Al(t)δ(τ − τl(t)), (3.1)

onde L ∈ N é o número de raios que ocorrem durante a transmissão de um sinal

por esse canal, Al(t) ∈ R+ é a atenuação do l-ésimo raio, τl(t) ∈ R+ é o atraso

correspondente ao l-ésimo raio e δ(t) é a função delta de Dirac, a qual é nula para

todo t 6= 0 e satisfaz a relação

∫ ∞

−∞δ(τ)dτ = 1. (3.2)

É muito importante ressaltar o signi�cado da equação (3.1): nela, a variável τ é

um atraso que está diretamente relacionado com a distância do caminho percorrido

pela onda entre o projetor e o hidrofone; a variável t é o tempo absoluto e, para cada

valor de t, tem-se um canal linear invariante no tempo diferente, descrito em função

da variável τ . Na Figura 3.2 é apresentado um exemplo de um possível h(t,τ).

Para um curto intervalo de tempo Tbl, pode-se assumir que Al(t) e τl(t) variam

lentamente, de forma que as seguintes hipóteses sejam razoáveis:

(i) A amplitude é constante dentro de um bloco de duração Tbl, logo

Al(t) = Al, t ∈ [0, Tbl). (3.3)

17

τ

t

h(t, τ)

t0

t1

tn

Figura 3.2: Exemplo de respostas ao impulso de um canal acústico submarino.

(ii) O atraso varia pouco dentro de um bloco de duração Tbl e pode ser aproximado

por um polinômio de primeira ordem dado por1

τl(t) = τl − alt, t ∈ [0, Tbl), (3.4)

onde τl ∈ R+ é o atraso caso não houvesse movimento relativo entre o trans-

missor e receptor, e −al ∈ R é a primeira derivada de τl(t).

O parâmetro al é o fator de escalamento Doppler apresentado na Seção 2.4. Com

base nas hipóteses descritas anteriormente, as respostas ao impulso do canal, h(t,τ),

podem, ser escritas como

h(t,τ) =L∑

l=1

Alδ(τ − (τl − alt)), t ∈ [0, Tbl). (3.5)

A resposta y(t) do canal à uma entrada x(t) ∈ R é dada pela seguinte integral

1Por conveniência, a aproximação de primeira ordem do atraso apresentada na equação (3.4)utilizou o negativo da derivada do atraso, ao invés dela própria.

18

de convolução [34]

y(t) =

∫ ∞

−∞h(t,τ)x(t− τ)dτ

=

∫ ∞

−∞

L∑

l=1

Alδ(τ − (τl − alt))x(t− τ)dτ. (3.6)

Usando a propriedade amostradora do impulso na equação (3.6), pode-se escrever

y(t) =L∑

l=1

Alx((1 + al)t− τl), t ∈ [0, Tbl). (3.7)

Note que a equação (3.7) mostra que o fator de escalamento Doppler produz

um escalamento temporal no sinal gerado da convolução de x(t) com h(t,τ). Como

foi visto na Seção 2.4, o fator de escalamento Doppler pode ser assumido constante

dentro de alguns cenários especí�cos. Na próxima seção esse caso será analisado.

3.2.2 Escalamento Doppler Uniforme

O canal variante no tempo com escalamento Doppler uniforme é um caso particular

do canal apresentado na Seção 3.2.1, no qual o parâmetro al = a é constante. Para o

caso de um escalamento de Doppler uniforme para todos os caminhos, a equação (3.7)

pode ser reescrita como

y(t) =L∑

l=1

Alx((1 + a)(t− τl/(1 + a))), (3.8)

voltando um passo atrás e escrevendo y(t) como

y(t) =L∑

l=1

Alx((1 + a)(t− τl/(1 + a)))

∫ ∞

−∞δ(τ − τl/(1 + a))dτ

=

∫ ∞

−∞

L∑

l=1

Alδ(τ − τl/(1 + a))x((1 + a)(t− τ))dτ

=

∫ ∞

−∞h(τ)x((1 + a)(t− τ))dτ, t ∈ [0, Tbl), (3.9)

19

onde

h(τ) =L∑

l=1

Alδ(τ − τ l) (3.10)

representa a resposta ao impulso de um canal linear invariante no tempo e τ l =

τl/(1 +a) é o novo atraso relacionado ao l-ésimo raio. Note que agora, como o canal

é linear e invariante no tempo, as variáveis t e τ têm o mesmo signi�cado � as duas

variáveis representam o mesmo tempo.

Como pode-se observar, a equação (3.9) tem uma interpretação física bem simples

e interessante: a transmissão de um sinal x(t) através de um canal com respostas

ao impulso h(t,τ) com fator de escalamento de Doppler uniforme para todos os

percursos, é igual a transmissão de um sinal x((1 + a)t) através de um canal com

resposta ao impulso h(τ) LTI dado pela equação (3.10).

Todos os modelos analisados até agora não assumem variações temporais para o

ganho. Na próxima seção um modelo com variações na amplitude e nos atrasos será

analisado.

3.2.3 Variações de Amplitude e de Atraso

Um modelo mais geral de um canal acústico submarino é o que considera variações

temporais de amplitude e atraso [20], enquadrando-se no modelo geral expresso na

equação (3.1).

Para desenvolver a equação (3.1) com mais detalhes, é preciso fazer duas hipó-

teses que se veri�cam na prática para um intervalo de tempo Tbl [20, 22]:

(i) A amplitude Al(t) pode ser expandida em série de Taylor e aproximada por

um polinômio de ordem2 Namp:

Al(t) ≈ A(0)l − A

(1)l t+

1

2A

(2)l t2 + · · ·+ (−1)Namp

Namp!A

(Namp)l t(Namp)

≈Namp∑

n=0

(−1)n

n!A

(n)l tn t ∈ [0, Tbl), (3.11)

2Por conveniência, a aproximação polinomial do ganho apresentada na equação (3.11) utilizouo negativo da derivada do atraso, ao invés dela própria.

20

onde A(n)l é a derivada de ordem n de Al(t).

(ii) O atraso τl(t) pode ser expandido em série de Taylor e aproximado por um

polinômio de ordem3 Natr:

τl(t) ≈ τ(0)l − τ

(1)l t+

1

(2)l t2 + · · ·+ (−1)Natr

Natr!τ

(Natr)l t(Natr)

≈Natr∑

n=0

(−1)n

n!τ

(n)l tn t ∈ [0, Tbl), (3.12)

onde τ (n)l é a derivada de ordem n de τl(t).

Agora, um modelo mais geral de h(t,τ), quando comparado à equação (3.5) é

dado por

h(t,τ) =L∑

l=1

(Namp∑

n=0

(−1)n

n!A

(n)l tn

(τ −

Natr∑

n=0

(−1)n

n!τ

(n)l tn

), t ∈ [0, Tbl). (3.13)

O modelo de respostas ao impulso do canal apresentado na equação (3.13) é

genérico e, com valores apropriados de Namp e Natr, pode-se encontrar diferentes

tipos de respostas ao impulso; por exemplo, escolhendo Namp = 0 e Natr = 1, tem-se

h(t,τ) da equação (3.13) igual ao da equação (3.5).

3.2.4 Dispersão e Atenuação na Frequência

Conforme explicado na Seção 2.6 algumas vezes pode ocorrer dispersão no sinal

enviado, o que causa um espalhamento espacial no sinal recebido [21]. Em todos

os modelos apresentados no presente capítulo foi considerado que o sinal acústico

transmitido não sofre dispersão, mas nem sempre esse tipo de representação é a mais

adequada. Considerando a dispersão da onda acústica, as resposta ao impulso do

canal, h(t,τ), podem ser escritas como

h(t,τ) =L∑

l=1

Al(t)γl(τ − τl(t)), (3.14)

3Por conveniência, a aproximação polinomial do atraso apresentada na equação (3.12) utilizouo negativo da derivada do atraso.

21

onde γl(t) representa a dispersão do sinal acústico no l-ésimo percurso.

Assumindo as mesmas hipóteses consideradas na Seção 3.2.3, a equação (3.14)

pode ser reescrita como

h(t,τ) =L∑

l=1

(Namp∑

n=0

(−1)n

n!A

(n)l tn

)γl

(τ −

Natr∑

n=0

(−1)n

n!τ

(n)l tn

). (3.15)

Uma possível função γ(τ) a ser utilizado aqui é a função que possui resposta em

frequência igual à apresentada na equação (2.13).

Na Figura 3.3 é possível observar um exemplo de h(t,τ) para esse tipo de canal.

τ

t

h(t, τ)

t0

t1

tn

Figura 3.3: Exemplo de respostas ao impulso de um canal acústico submarino comdispersão.

3.3 Canal Invariante no Tempo

No modelo de canal acústico submarino invariante no tempo não existem variações

nas amplitudes e nem nos atrasos. Sendo assim a resposta ao impulso do canal, que

antes era uma função de t e τ , agora pode ser simpli�cada para uma função apenas

22

de τ e pode ser escrita como

h(τ) =L∑

l=1

Alδ(τ − τl). (3.16)

Muitas vezes esse tipo de modelo não é adequado para o caso acústico subma-

rino, pois não leva em consideração alguns efeitos sofridos pelo sinal transmitido,

como, por exemplo, o efeito Doppler (vide Seção 2.4). Em geral, é inconveniente

modelar uma transmissão de modo que o efeito Doppler seja completamente igno-

rado. De fato, mesmo que o movimento relativo entre o transmissor e o receptor

seja minimizado, o menor resquício de movimento pode causar severas distorções no

sinal recebido [12].

3.4 Implementação Digital

A formulação matemática apresentada nas seções anteriores descreve o fenômeno

de propagação do sinal, sendo portanto muito útil para um estudo analítico do

problema. Porém, para avaliação de desempenho do sistema de comunicação, faz-

se necessária a realização de uma série de simulações, e para isso é necessário um

modelo discreto (ou digital) do canal. Simulações do sistema de comunicação são

importantes para veri�car o comportamento do mesmo em alguns cenários práticos,

evitando possíveis gastos �nanceiros desnecessários.

3.4.1 Canal Invariante no Tempo

Para gerar um modelo discreto do canal invariante no tempo é preciso amostrar a

resposta ao impulso apresentada na equação (3.16) com um período de amostragem

Ta. No modelo discreto, cada τl será transformado em um nl ∈ Z dado por

nl =

⌈τlTa

⌉, ∀ l ∈ L = {1, 2, · · · , L}, (3.17)

23

onde d(·)e é o primeiro inteiro maior que (·). A equação (3.16) pode ser reescrita

como

h[n] =L∑

l=1

Alδ[n− nl], (3.18)

onde δ[n] é a função delta de Kronecker, de�nido como

δ[n] =

1, n = 0

0, n 6= 0

. (3.19)

A equação (3.18) pode ser facilmente implementada digitalmente, pois ela equi-

vale a um �ltro FIR (do termo em inglês �nite-duration impulse response) de com-

primento nL + 1. A Figura 3.4 ilustra a operação de amostragem de um modelo de

canal LTI.

h(τ)

τ

h[n]

n

τ1 τ2 τ3 τ4 n1 n2 n3 n4

Figura 3.4: Amostragem do canal invariante no tempo.

A escolha do período de amostragem Ta é muito importante, sendo necessário

que Ta seja su�cientemente pequeno para que consiga diferenciar dois atrasos con-

secutivos. O período de amostragem tem que satisfazer

Ta < minl∈L{∆τl}, (3.20)

onde ∆τl é de�nido como

∆τl =

τ1, l = 1

τl − τl−1, l ∈ {2, 3, · · · , L}. (3.21)

24

3.4.2 Canal Variante no Tempo com Escalamento Doppler

Não-Uniforme

Para gerar um modelo discreto do canal variante no tempo com escalamento de

Doppler não-uniforme é preciso utilizar a equação (3.7). Tal equação mostra que

o sinal y(t) é a soma de x(t) escalado pelos fatores 1 + al e deslocado por τl/(1 +

al). Para discretizar o sinal apresentado na equação (3.7), primeiramente é preciso

amostrar o sinal x(t) com um período de amostragem Ta:

x[n] = x(nTa), (3.22)

e, após essa operação, é preciso fazer uma reamostragem de x[n] pelo maior fator

1 + al. Note que só é necessário reamostrar pelo maior fator 1 + al, pois no domínio

discreto essa operação irá englobar todas as taxas relacionadas aos outros fatores

1 + al.

A operação de reamostragem deve ser realizada em duas etapas: primeiro uma

interpolação por um fatorM , depois uma decimação por um fator Q, onde a relação

entre M e Q é dada por4

1 + amax =Q

M, (3.23)

onde amax é o maior fator de escalamento Doppler. O último passo é �ltrar o sinal

reamostrado x[Qn/M ] por um �ltro FIR h[n] dado por

h[n] =L∑

l=1

Alδ[n− nl], (3.24)

onde

nl =

⌈τl

(1 + al)Ta

⌉, ∀ l ∈ L. (3.25)

A Figura 3.5 exibe um diagrama de blocos que ilustra as operações comentadas

acima. O único componente não comentado ainda é o �ltro passa-baixas T (z), o

4Aqui um número real foi escrito como um número racional. Em termos matemáticos isso nemsempre é verdade, mas, como essa operação será realizada em um computador, pode-se considerarque o computador sempre terá precisão �nita e essa operação sempre poderá ser realizada.

25

qual é necessário para evitar o aliasing na operação de reamostragem [35].

H(z)↑ M ↓ QT (z)x[n] y[n]

Figura 3.5: Implementação digital de um canal variante no tempo com escalamentode Doppler não-uniforme.

3.4.3 Canal Variante no Tempo com Escalamento Doppler

Uniforme

O modelo discreto da equação (3.9) é um caso especí�co da equação (3.7), em que é

necessário reamostrar o sinal x[n] por um fator 1 + a = Q/M e processá-lo usando

um �ltro FIR h[n] dado por

h[n] =L∑

l=1

Alδ[n− nl], (3.26)

onde

nl =

⌈τl

(1 + a)Ta

⌉, ∀ l ∈ L. (3.27)

A única diferença entre os modelos apresentados nas Seções 3.4.2 e 3.4.3 está

na construção do �ltro h[n]. A estrutura apresentada na Figura 3.5 pode ser usada

para implementar o modelo descrito nesta seção.

3.5 Características Estatísticas do Canal Acústico

Submarino

Nas seções anteriores foram de�nidos modelos matemáticos para o canal multiper-

curso. Nas simulações, além de encontrar um modelo digital equivalente é necessário

escolher valores adequados para L, Al, τl e al. Normalmente esses parâmetros estão

distribuídos de acordo com algum tipo de função densidade de probabilidade (PDF,

do termo em inglês probability density function).

26

3.5.1 Número de Percursos

O parâmetro L está diretamente associado à distância entre o projetor e o hidrofone,

e também pelo per�l batimétrico da região [24]. No caso de transmissão em águas

rasas o número máximo de raios é dado por [24]

Lmax = 2d

H, (3.28)

onde d ∈ R+ é a distância entre o transmissor e o receptor e H ∈ R+ é a profun-

didade. O parâmetro L pode ser gerado a partir de uma distribuição uniforme ou

�xado em algum valor especí�co pré-determinado.

3.5.2 Atraso

O parâmetro τl é gerado a partir das diferenças de atrasos entre cada percurso

∆τl. Esse parâmetro ∆τl está distribuído de acordo com uma PDF exponencial com

média ∆τm e cada atraso τl é dado por [22]

τl =l∑

i=1

∆τi. (3.29)

Então, para gerar um canal com 4 percursos como o mostrado na Figura 3.6,

é preciso sortear 4 ∆τl diferentes e depois usar a equação (3.29) para calcular os

respectivos valores de τl.

3.5.3 Ganho

O parâmetro Al também está distribuído de acordo com uma PDF, assim como o

parâmetro ∆τl na Seção 3.5.2. O grande problema com o parâmetro Al é qual PDF

escolher para gerar os ganhos Al. Alguns trabalhos na literatura mostram que não

existe uma única PDF adequada, podendo variar de acordo com o per�l batimétrico

da região. Algumas possíveis distribuições são Rayleigh [36], Rice [37, 38], log-

normal [39], distribuição-K [40], Nakagami e Beta [41].

27

∆τ1 ∆τ2 ∆τ3 ∆τ4

τ

h(τ)

Figura 3.6: Exemplo de como gerar os atrasos τl da resposta ao impulso h(τ).

Geralmente a potência do ganho gerado a partir dessas distribuições decai ex-

ponencialmente com o atraso, ou seja, pode-se considerar que a variância dessas

distribuições decai exponencialmente com os atrasos. Essa consideração é uma he-

rança dos modelos de canais sem �o de RF no ar, onde o mesmo resultado é assumido

para os ganhos [42]. Para gerar o ganho Al associado ao atraso τl é preciso de�nir

uma atenuação ∆P em dB durante um intervalo de tempo TP e cada ganho será

sorteado a partir de uma PDF [22]:

Al ∼ A(µA,σ2(τl, ∆P, TP )), (3.30)

onde A é uma PDF genérica, µA é a média da distribuição A,

σ2(τl, ∆P, TP ) = e−α(∆P, TP )τl (3.31)

e

α(∆P, TP ) = − 1

TPln(

10∆P10

). (3.32)

3.5.4 Escalamento Doppler

O parâmetro al pode ser �xado em algum valor pré-determinado, caso seja preciso

simular o efeito Doppler para uma velocidade relativa especí�ca. Ou ainda, ele pode

28

ser escolhido a partir de uma distribuição uniforme dada por

U(a0,σa) = u(a− a0 +

√3σa

)− u

(a− a0 −

√3σa

), (3.33)

onde a0 = v0/c, σa = σv/c e u(a) sendo a função degrau unitário.

Esse capítulo apresentou diversos modelos para o canal acústico subaquático e

as características estatísticas de seus parâmetros importantes. Também mostrou

como criar respostas ao impulso discretas a partir de suas versões contínuas. No

Capítulo 4, o comportamento de um sistema multiportadora sobre o efeito de canais

invariantes e variantes no tempo será estudado. No caso variante no tempo, o

impacto do efeito Doppler em tais sistemas será analisado em detalhe.

29

Capítulo 4

Sistemas Multiportadora

4.1 Introdução

Quando é necessário fazer uma transmissão por um canal que é muito seletivo em

frequência os sistemas OFDM (do termo em inglês orthogonal frequency-division

multiplexing) podem ser úteis, já que eles conseguem eliminar completamente a

interferência entre blocos (IBI, do termo em inglês interblock interference) e facilitar

a compensação da interferência entre símbolos (ISI, do termo em inglês intersymbol

interference) [1].

Neste capítulo serão apresentados os conceitos básicos dos sistemas ZP-OFDM

(do termo em inglês zero padded-OFDM ) quando são usados para uma transmissão

por um canal invariante no tempo com resposta ao impulso h(τ) e por um canal

variante no tempo com respostas ao impulso h(t,τ) com escalamento de Doppler

uniforme. Nos dois casos, será considerado que virtualmente toda a energia do

canal está concentrada no intervalo [0, Tca).

30

4.2 ZP-OFDM

4.2.1 Processamento do Transmissor

Seja T ∈ R+ o período de um símbolo ZP-OFDM e K ∈ N o número total de

subportadoras [1]. Na banda base as frequências das subportadoras são dadas por

fk =k

T, k ∈ K = {−K/2, · · · , K/2− 1} ⊂ Z. (4.1)

Esse símbolo será transmitido por um canal com resposta ao impulso LTI dada por:

h(τ) =L∑

l=1

Alδ(τ − τl), τ ∈ [0, Tca). (4.2)

Seja Tg ∈ R+ o período de guarda do símbolo ZP-OFDM e Tbl = T + Tg o

tempo total do bloco transmitido, incluindo a operação de janelamento e o intervalo

de guarda, conforme ilustrado na Figura 4.1. A escolha do Tg é muito importante

para garantir o perfeito funcionamento do sistema ZP-OFDM. O período de guarda

deve satisfazer Tg ≥ Tca, pois essa escolha garante o cancelamento da IBI e ainda

garantirá a ortogonalidade das subportadoras [1].

T Tg

Tblt

x(t)

b b+ 1

Figura 4.1: Representação do b-ésimo bloco ZP-OFDM.

Seja Sb[k] ∈ C ⊂ C o símbolo de uma constelação C a ser transmitido na k-ésima

subportadora do b-ésimo bloco de dados. Então um símbolo ZP-OFDM em banda

31

base pode ser expresso por

xb(t) =

K/2−1∑

k=−K/2

Sb[k]ej2πfktg(t), t ∈ [bTbl, (b+ 1)Tbl], (4.3)

onde g(t) é a resposta ao impulso do �ltro formatador de pulso [32, 33, 43] e b ∈ N.

Após a passagem para a banda passante, o novo sinal a ser transmitido x(t) é dado

por

xb(t) = 2<{xb(t)e

j2πfct}

= xb(t)ej2πfct + x∗b(t)e

−j2πfct, t ∈ [bTbl, (b+ 1)Tbl], (4.4)

onde fc ∈ R+ é a frequência da portadora.

Na Figura 4.2 é possível ver o diagrama de blocos do transmissor descrito nesta

seção, mas para implementação em computadores ou em processadores digitais uma

alternativa é a estrutura apresentada na Figura 4.3.

2ℜ{·}

Sb

[−K

2

]

Sb

[−K

2 + 1]

Sb

[K2 − 1

]

g−K2(t)

g−K2 +1(t)

gK2 −1(t)

xb(t)

ej2πfct

xb(t)... ...

· · ·

Figura 4.2: Diagrama de blocos do transmissor OFDM, com gk(t) = ej2π kTtg(t),

∀k ∈ K.

g[n] 2<f·g

Sb

[

� K2

]

Sb

[

� K2+ 1

]

Sb

[

K2� 1

]

xb[n]

ej2πfcnTa

~xb[n]IFFT " P.

.

.

.

.

.

Azp PSf·g.

.

.

Figura 4.3: Diagrama de blocos para a implementação digital do transmissor OFDM.

Na estrutura da Figura 4.3 os símbolos Sb[k] passam por uma IFFT (do termo

em inglês, inverse fast Fourier transform) de comprimento K e, após essa operação,

32

ocorre a adição do su�xo com zeros. Essas operações são dadas por

x[b] =

IK

0Lzp×K

︸ ︷︷ ︸Azp∈C(K+Lzp)×K

WHKs[b], (4.5)

onde WK ∈ CK×K é a matriz da transformada discreta de Fourier (DFT, do termo

em inglês discrete Fourier transform) e Lzp ∈ N é o tamanho do su�xo com zeros.

O tamanho do su�xo com zeros tem que atender a seguinte condição

Lzp ≥⌈TcaTd

⌉, (4.6)

onde Td ∈ R+ é taxa de amostragem dos elementos de x[b].

O sinal, incluindo o su�xo, é convertido para uma forma serial, dada por

xb[i] = PS {x[b]} , (4.7)

onde PS é o operador que faz a conversão paralelo-serial. O sinal resultante xb[i] é

interpolado por um fator P , sendo a seguir �ltrado por um �ltro g[n] para gerar o

sinal xb[n]. Essa operação é descrita matematicamente como

xb[n] =∞∑

i=−∞

xb[i]g[n− iP ]. (4.8)

E, por último, o sinal xb[n] é obtido através da operação

xb[n] = 2<{xb[n]ej2πfcnTa

}, (4.9)

onde Ta = Td/P é o mesmo da Seção 3.4.1. Mas agora, além de Ta ter que satisfazer

as condições da Seção 3.4.1, seu valor tem que ser su�cientemente pequeno para

representar o sinal xb[n] sem que ocorra aliasing.

33

Para que o sinal xb(t) consiga ser amostrado corretamente é preciso que

1

2Ta

> fc +B

2

Ta <1

2fc +B, (4.10)

onde B concentra 90% da energia de xb(t). Então Ta deve ser escolhido de modo

que satisfaça as equações (3.20) e (4.10), logo

Ta < min

{min∀l∈L{∆τl},

1

2fc +B

}. (4.11)

Note que a restrição sobre Ta é feita pensando em sistemas acústicos, pois para

tais sistemas fc é da faixa de dezenas de kHz. No caso de sistemas RF, a amostragem

do sinal em banda passante é impraticável, pois necessitaria de um conversor A/D

com período de amostragem da ordem de nanosegundos.

4.2.2 Processamento do Receptor

Quando o canal tem resposta ao impulso LTI, o sinal recebido yb(t) é dado por:

yb(t) =

∫ Tca

0

h(τ)xb(t− τ)dτ + vb(t)

=L∑

l=1

Alxb(t− τl) + vb(t), (4.12)

onde vb(t) é o ruído aditivo na banda passante.

O primeiro estágio de processamento a ser realizado no receptor é fazer a con-

versão do sinal recebido para banda base. O sinal recebido na banda base yb(t) é

dado por:

yb(t) = LPF{yb(t)e

−j2πfct}

= LPF

{L∑

l=1

Alxb(t− τl)e−j2πfct

}+ vb(t), (4.13)

34

onde LPF{·} é um �ltro passa-baixas ideal com frequência de corte igual à metade

da banda de xb(t), e vb(t) é o ruído aditivo na banda base.

Substituindo a equação (4.4) na equação (4.13) é possível escrever yb(t) como

yb(t) = LPF

{L∑

l=1

Ale−j2πfcτlxb(t− τl)

}+LPF

{L∑

l=1

Alej2πfcτlx∗b(t− τl)e−j4πfct

}+vb(t),

(4.14)

como LPF{·} é um �ltro passa-baixas ideal, e por isso não irá alterar a primeira

parte da equação (4.14) e irá eliminar completamente a segunda parte. Então a

equação (4.14) se reduz a

yb(t) =L∑

l=1

Ale−j2πfcτlxb(t− τl) + vb(t). (4.15)

No domínio da frequência yb(t) pode ser escrito como

Yb(f) =

∫ ∞

−∞yb(t)e

−j2πftdt, (4.16)

mas como o sinal yb(t) está limitado ao intervalo [bTbl, (b+1)Tbl], a sua transformada

de Fourier pode ser escrita como

Yb(f) =

∫ (b+1)Tbl

bTbl

yb(t)e−j2πftdt

=L∑

l=1

Ale−j2π(f+fc)τlXb(f) + Vb(f)

=

K/2−1∑

k=−K/2

Sb[k]L∑

l=1

Ale−j2π(f+fc)τlG(f − fk) + Vb(f), (4.17)

onde G(f) é a transformada de Fourier de g(t) e Vb(f) é a transformada de Fourier

do ruído na banda base. Amostrando Yb(f) na frequência fm, é possível obter

Yb(fm)︸ ︷︷ ︸Yb[m]

=

K/2−1∑

k=−K/2

Sb[k]L∑

l=1

Ale−j2π(fm+fc)τlG(fm − fk)

︸ ︷︷ ︸Λ[m,k]

+Vb(fm)︸ ︷︷ ︸Vb[m]

. (4.18)

35

A ortogonalidade das subportadoras dos sistemas OFDM, exige que a transfor-

mada de Fourier de g(t) tenha uma propriedade muito especial dada por

G(f) =

1, f = 0

0, f = iT, i ∈ Z \ {0}

qualquer coisa, demais casos

. (4.19)

Nesse caso será utilizado um pulso retangular dado por

g(t) =

1/T, t ∈ [0,T ]

0, caso contrário, (4.20)

com transformada de Fourier dada por

G(f) =sen(πfT )

πfTe−jπfT . (4.21)

Com isso a equação (4.18) se torna

Yb[m] = Λ[m,m]Sb[m] +∑

k∈K\{m}

Sb[k]L∑

l=1

Ale−j2π(fm+fc)τlG(fm − fk)

︸ ︷︷ ︸=0

+Vb[m]

= Λ[m]Sb[m] + Vb[m], ∀m ∈ K, (4.22)

expressão essa que pode ser reescrita como uma equação matricial dada por

y[b] = Λs[b] + v[b], (4.23)

onde y[b] = [Yb[−K/2] · · · Yb[K/2− 1]]T , Λ = diag{[Λ[−K/2] · · · Λ[K/2− 1]]T}1,

s[b] = [Sb[−K/2] · · · Sb[K/2 − 1]]T e v[b] = [Vb[−K/2] · · · Vb[K/2 − 1]]T . As

equações (4.22) e (4.23) mostram que os símbolos transmitidos chegam no receptor

desacoplados no domínio da frequência.

1diag{v} é uma matriz diagonal com todos os elementos de v.

36

Na Figura 4.4 é possível ver o diagrama de blocos do receptor descrito nesta seção

e a Figura 4.5 apresenta o modelo utilizado em implementações digitais e�cientes.

LPFAmostrador

emfm

Yb

[−K

2

]

Yb

[−K

2 + 1]

Yb

[K2 − 1

]...

e−j2πfct

yb(t)yb(t) Yb(f)F{·}

Figura 4.4: Diagrama de blocos do receptor OFDM, onde F{·} é o operador trans-formada de Fourier.

LPF

e−j2πfcnTa

yb[n]yb[n] ↓ P RzpSP{·} ... FFT... ...

Yb

[−K

2

]

Yb

[−K

2 + 1]

Yb

[K2 − 1

]

Figura 4.5: Diagrama de blocos para a implementação digital do receptor OFDM.

Na estrutura da Figura 4.5 o sinal recebido yb(t) é amostrado em uma taxa Ta

para gerar o sinal yb[n]. O sinal yb[n] na banda base é dado por

yb[n] = LPF{yb[n]e−j2πfcnTa

}. (4.24)

O sinal yb[n] é decimado por uma fator P e convertido para a forma paralela

yp[b] = SP {yb[nP ]} . (4.25)

Por �m, o su�xo com zeros é removido do sinal yp[b], e o sinal resultante passa por

uma FFT para gerar sua resposta em frequência

y[b] = WK

IK

ILzp

0K−Lzp×Lzp

︸ ︷︷ ︸Rzp∈CK×(K+Lzp)

yp[b]. (4.26)

37

4.2.3 Equalização dos Sistemas ZP-OFDM

A equalização é responsável por inverter o efeito do canal e encontrar uma estimativa

dos símbolos enviados em cada uma das subportadoras. A estimativa feita por um

equalizador genérico E é dada por

s(b) = EΛs(b) + Ev(b). (4.27)

Os modelos mais comuns de equalizadores usados em sistemas OFDM são os equa-

lizadores zero-forcing (ZF) e minimum mean squared error (MMSE) [1].

Equalizador ZF

O equalizador ZF tenta desfazer as distorções impostas pelo canal em cada uma das

subportadoras. Assumindo que a matriz Λ é uma boa estimativa da matriz de canal

Λ e pode ser invertida, o equalizador ZF, EZF, é de�nido como

EZF = Λ−1, (4.28)

e o vetor de símbolos estimado é dado por

s(b) = Λ−1

Λs(b) + Λ−1

v(b). (4.29)

No caso em que Λ = Λ e não existe a presença de ruído, é fácil observar que

s = s. Porém, na presença de ruído, o equalizador ZF pode ampli�car o ruído e

corromper a estimativa do sinal, o que ocorre quando algum Λ[m] é próximo de zero.

Equalizador MMSE

Para evitar o ganho de ruído, o equalizador MMSE é encontrado através da mi-

nimização do erro quadrático médio entre o sinal enviado e o sinal estimado pelo

38

equalizador. Em termos matemáticos é possível escrever

EMMSE = arg min∀E∈CK×K

J(E), (4.30)

onde

J(E) = E[‖s− s‖2

2

], (4.31)

e E[·] é o operador valor esperado.

O equalizador EMMSE é o resultado de um problema de otimização, mas nesse caso

é possível encontrar uma solução analítica para a equação (4.30). Desenvolvendo a

equação (4.31), é possível obter

J(E) = E[‖s− E(Λs + v)‖2

2

]

= E[(s− E(Λs + v))H(s− E(Λs + v))

]

= tr{E[(s− E(Λs + v))(s− E(Λs + v))H

]}

= tr{E[ssH]− E

[ssH]ΛHEH − E

[svH

]EH − EΛE

[ssH]

+ EΛE[ssH]ΛHEH

+EΛE[svH

]EH − EE

[vsH

]+ EE

[vsH

]ΛHEH + EE

[vvH

]EH}, (4.32)

onde tr{·} é o operador traço. Assumindo que v é ruído branco com média zero e

variância σ2v e descorrelacionado com s, é possível escrever a equação (4.32) como

J(E) = tr{σ2sIK − σ2

sΛHEH − σ2

sEΛ + σ2sEΛΛHEH + σ2

vEEH}, (4.33)

onde IK é a matriz identidade K ×K.

Para encontrar o E que minimize a equação (4.33), é preciso fazer

∂J(EMMSE)/∂E∗ = 0; logo

∂J(EMMSE)

∂E∗= σ2

sEMMSEΛΛH − σ2sΛ

H + σ2vEMMSE = 0, (4.34)

39

de forma que

EMMSE = ΛH

(ΛΛH +

σ2v

σ2s

IK

)−1

. (4.35)

Na prática não se tem acesso à matriz de canal Λ, mas apenas a uma estimativa

da matriz de canal Λ. Um outro fato importante é a relação entre os equalizadores

MMSE e ZF: note que quando não tem ruído, ou seja, σ2v → 0, a equação (4.35) se

torna

EMMSE = Λ−1, (4.36)

ou seja, o equalizador ZF pode ser escrito como

EZF = limσ2v→0

EMMSE(σ2v). (4.37)

4.3 Transmissão ZP-OFDM em Canal Variante no

Tempo com Escalamento Doppler Uniforme

Na Seção 4.2 foram apresentados os conceitos básicos sobre o sistema ZP-OFDM

transmitindo através de um canal LTI. Nesta seção os mesmos conceitos serão de�-

nidos para uma transmissão por um canal variante no tempo.

4.3.1 Compensação Grosseira do Fator de Escalamento Dop-

pler

Em uma transmissão ZP-OFDM com canal variante no tempo com escalamento

Doppler uniforme, o sinal na banda passante recebido pelo receptor é dado por

yb(t) =L∑

l=1

Alxb((1 + a)t− τl) + vb(t). (4.38)

No receptor o primeiro estágio de processamento é a compensação grosseira do

fator de escalamento Doppler [22]. Assumindo que a é uma boa estimativa do fator

40

de escalamento Doppler2, a compensação grosseira é realizada como um escalamento

no argumento do sinal yb(t) por um fator 1/(1 + a), essa operação pode ser descrita

matematicamente como

yrb(t) = yb

(t

1 + a

)=

L∑

l=1

Alxb

(1 + a

1 + at− τl

)+ vb

(1

1 + at

). (4.39)

O segundo estágio de processamento é a conversão do sinal em banda passante

para banda base, que é dado por

yrb(t) = LPF{yrb(t)e

−j2πfct}

= LPF

{L∑

l=1

Alxb

(1 + a

1 + at− τl

)e−j2πfct + vb

(1

1 + at

)e−j2πfct

}

= LPF

{L∑

l=1

Alxb

(1 + a

1 + at− τl

)e−j2πfct

}+ vb

(1

1 + at

)

︸ ︷︷ ︸νb(t)

, (4.40)

onde νb(t) é o sinal de ruído em banda base. Substituindo a equação (4.4) na

equação (4.40), é possível escrever yrb(t) como

yrb(t) = LPF

{L∑

l=1

Alxb

(1 + a

1 + at− τl

)ej2πfc( 1+a

1+at−τl)e−j2πfct

}+

+ LPF

{L∑

l=1

Alx∗b

(1 + a

1 + at− τl

)e−j2πfc( 1+a

1+at−τl)e−j2πfct

}+ νb(t). (4.41)

Como o �ltro LPF{·} é ideal, então a primeira parte de yrb(t) não será modi�cada e

a segunda parte de yrb(t) será completamente eliminada. Logo yrb(t) pode ser escrito

de forma simpli�cada como

yrb(t) =L∑

l=1

Alxb

(1 + a

1 + at− τl

)ej2πfc(a−a1+a

t)e−j2πτlfc + νb(t). (4.42)

2Em [22] é possível encontrar algumas maneiras de estimação do fator de escalamento Doppler.

41

De�nindo

ε =

(a− a1 + a

)

︸ ︷︷ ︸α

fc, (4.43)

a equação (4.42) pode ser escrita como

yrb(t) = ej2πεt

L∑

l=1

Alxb((1 + α)t− τl)e−j2πτlfc + νb(t)

= ej2πεt

L∑

l=1

Al

K/2−1∑

k=−K/2

Sb[k]ej2πfk((1+α)t−τl)g ((1 + α)t− τl) e−j2πfcτl + νb(t)

= ej2πεt

K/2−1∑

k=−K/2

Sb[k]ej2π(1+α)fkt

L∑

l=1

Ale−j2π(fc+fk)τlg((1 + α)t− τl) + νb(t).

(4.44)

A equação (4.44) mostra que a compensação grosseira do escalamento Doppler

gera uma frequência residual ε indesejável. Essa frequência residual é nula, somente

se a = a, mas na prática é muito difícil conseguir uma estimativa perfeita desse

fator.

Para veri�car o efeito de ε nas subportadoras do sinal recebido, é preciso exami-

nar a transformada de Fourier da equação (4.44) que é dada por

Yrb(f) =

∫ (b+1)Tbl

bTbl

yrb(t)e−j2πftdt

=

∫ (b+1)Tbl

bTbl

ej2πεt

K/2−1∑

k=−K/2

Sb[k]ej2π(1+α)fkt

L∑

l=1

Ale−j2π(fc+fk)τlg((1 + α)t− τl)e−j2πftdt

+ Vb(f)

=

K/2−1∑

k=−K/2

Sb[k]L∑

l=1

Ale−j2π(fc+fk)τl

∫ (b+1)Tbl

bTbl

g((1 + α)t− τl)e−j2π(f−(1+α)fk−ε)tdt

+ Vb(f), (4.45)

42

onde Vb(f) é a transformada de Fourier de νb(t). Fazendo a substituição

t =t′ + τl1 + α

dt =dt′

1 + α

é possível reescrever a equação (4.45) como

Yrb(f) =

K/2−1∑

k=−K/2

Sb[k]L∑

l=1

Ale−j2π(fc+fk)τl

∫ ∞

−∞g(t′)e−j2π(f−(1+α)fk−ε)

t′+τl1+α

dt′

1 + α+ Vb(f)

=

K/2−1∑

k=−K/2

Sb[k]L∑

l=1

Al1 + α

e−j2π( f1+α

+fc− ε1+α)τl

∫ ∞

−∞g(t′)e−j2π( f

1+α−fk− ε

1+α)t′dt′

︸ ︷︷ ︸G( f−ε1+α

−fk)

+Vb(f)

=

K/2−1∑

k=−K/2

Sb[k]L∑

l=1

Al1 + α

e−j2π(f+fc)τl

1+αG

(f − ε1 + α

− fk)

+ Vb(f). (4.46)

Comparando as equações (4.17) e (4.46) é possível observar que o processo de

compensação grosseira do escalamento Doppler modi�ca a resposta em frequência

do sinal em banda base. Agora existe interferência entre as portadoras (ICI, do

termo em inglês intercarrier interference), já que o argumento de G(f) possui um

o�set de −ε/(1 + α) e um escalamento de 1/(1 + α), diferente do que aconteceu no

caso do canal invariante no tempo.

4.3.2 Ajuste Fino do Fator de Escalamento Doppler

O terceiro estágio do processamento do receptor é o ajuste �no do fator de escala-

mento Doppler [22]. Assumindo que ε é uma boa estimativa da frequência gerada

pela compensação grosseira do fator de escalamento Doppler, o sinal com a compen-

sação de fase zb(t) é dado por

zb(t) = yrb(t)e−j2πεt. (4.47)

43

A transformada de Fourier de zb(t) é dada por

Zb(f) =

∫ (b+1)Tbl

bTbl

zb(t)e−j2πftdt

=

∫ (b+1)Tbl

bTbl

yrb(t)e−j2π(f+ε)tdt

= Yrb(f + ε), (4.48)

então Zb(f) pode ser escrito como

Zb(f) =

K/2−1∑

k=−K/2

Sb[k]L∑

l=1

Al1 + α

e−j2π(f+fc+ε)τl

1+αG

(f + ε− ε

1 + α− fk

)+ Vb(f). (4.49)

Amostrando Zb(f) na frequência fm, é possível obter

Zb(fm)︸ ︷︷ ︸Zb[m]

=

K/2−1∑

k=−K/2

Sb[k]L∑

l=1

Al1 + α

e−j2π(fm+fc+ε)τl

1+αG

(fm + ε− ε

1 + α− fk

)

︸ ︷︷ ︸Λ[m,k]

+Vb(fm)︸ ︷︷ ︸Vb[m]

.

(4.50)

Então o sinal recebido em cada subportadora é dado por

Zb[m] =

K/2−1∑

k=−K/2

Λ[m,k]Sb[k] + Vb[m], ∀m ∈ K, (4.51)

que em forma matricial pode ser expresso por

Zb[−K

2

]

...

Zb[K2− 1]

=

Λ[−K

2,−K

2

]· · · Λ

[−K

2, K

2− 1]

.... . .

...

Λ[K2− 1,−K

2

]· · · Λ

[K2− 1, K

2− 1]

Sb[−K

2

]

...

Sb[K2− 1]

+

Vb[−K

2

]

...

Vb[K2− 1]

,

ou de forma mais compacta

z[b] = Λs[b] + v[b]. (4.52)

Na Figura 4.6 é possível ver o diagrama de blocos do receptor descrito nesta

44

seção e a Figura 4.7 apresenta o modelo para implementações digitais e�cientes.

~yb

(

t1+a

)

LPFAmostrador

emfm

Zb

[

K2

]

Zb

[

K2+ 1

]

Zb

[

K2− 1

]

.

.

.

e−j2πfct

yb(t) Zb(f)Ff·g

e−j2π"t

~yrb(t) zb(t)~yb (t)

Figura 4.6: Diagrama de blocos do receptor com compensação do fator de escala-mento Doppler.

LPF

e−j2πfcnTa

yb[n]yb[n] ↓ P RzpSP{·} ... FFT... ...

Zb

[−K

2

]

Zb

[−K

2 + 1]

Zb

[K2 − 1

]

e−j2πεnTa

↑ Q ↓ MU(z)

Figura 4.7: Diagrama de blocos para implementação digital do receptor com com-pensação do fator de escalamento Doppler.

4.3.3 Equalização

A equalização para um canal variante no tempo com fator de escalamento Doppler

uniforme, não é mais tão simples como no caso do canal invariante no tempo. Agora a

matriz Λ possui todos os seus elementos, o que aumenta a complexidade do processo

de equalização. Existem algumas maneiras de abordar este problema; a mais simples,

a qual será usada ao longo deste trabalho, é a abordagem do equalizador ignorante

ao ICI (do termo em inglês ICI-ignorant).

O equalizador ignorante ao ICI considera um novo modelo diferente do apresen-

tado na equação (4.52), que é dado por

z[b] = (Λeq + Λr)s[b] + v[b]

= Λeqs[b] + Λrs[b] + v[b]︸ ︷︷ ︸w[b]

, (4.53)

onde Λeq = diag{[

Λ[−K

2,−K

2

]· · · Λ

[K2− 1, K

2− 1]]T}

e Λr = Λ−Λeq.

Para fazer a estimação dos símbolos a partir da equação (4.53) pode-se usar

qualquer um dos dois equalizadores apresentados na Seção 4.2.3, em que a matriz

45

de canal é uma estimativa da matriz Λeq. Note que se o equalizador MMSE da equa-

ção (4.35) for usado nesse caso, ele não será mais o minimizador do erro quadrático

médio, pois, agora, o ruído w[b] não é mais branco.

Ao decorrer deste capítulo um extenso desenvolvimento matemático foi apresen-

tado para mostrar o funcionamento dos sistemas ZP-OFDM. O impacto do efeito

Doppler foi analisado e devidamente compensado. Mas em comunicações um im-

portante fator é o desempenho do sistema quando transmitido por um determinado

canal com um determinado nível de ruído. Analiticamente não é possível avaliar

esse desempenho e, para, uma análise quantitativa, é preciso realizar uma série de

simulações. No Capítulo 5 os resultados das simulações serão apresentados e discu-

tidos.

46

Capítulo 5

Simulações e Análise de Resultados

5.1 Introdução

O Capítulo 3 mostrou como gerar as respostas ao impulso de canais acústicos su-

baquáticos a partir das estatísticas de alguns parâmetros. No Capítulo 3 também foi

visto como gerar a versão discreta dessas respostas para esse tipo de canal. O Ca-

pítulo 4 apresentou o modelo matemático de uma transmissão ZP-OFDM por dois

tipos de canais acústicos subaquáticos. O presente capítulo contém os resultados de

simulações de todos os modelos apresentados nos Capítulos 3 e 4.

5.2 Gerador de Respostas ao Impulso

Para simular os modelos de respostas ao impulso descritos nas Seções 3.4 e 3.5

foi criado um programa em MATLABTM para gerar tais respostas considerando

canais invariantes no tempo e canais variantes no tempo com escalamento Doppler

uniforme.

Esse programa necessita, como parâmetro de entrada, de um período de amos-

tragem Ta que atenda à condição da equação (4.11); também precisa do parâmetro

número de raios L de�nido na Seção 3.5.1, do parâmetro média da distribuição ex-

ponencial ∆τm de�nido na Seção 3.5.2, da distribuição geradora dos ganhos A e

dos parâmetros Am, ∆P e TP relacionados com a média e a variância da distribui-

47

ção A de�nidos na Seção 3.5.3 e de um conjunto de velocidades relativas entre o

transmissor e o receptor pré-determinadas, como discutido na Seção 3.5.4.

Os valores escolhidos para cada um dos parâmetros foram adaptados de [22], e

estão listados abaixo:

• Ta = 0,25 µs;

• L ∈ {3, 7};

• ∆τm = 1 ms;

• A é uma distribuição Rayleigh;

• ∆P = 20 dB;

• TP = 24,6 ms;

• v ∈ { 0, 15, 30, 45, 60, 75, 90, 105, 120, 135, 150} m/s.

Aqui não foi preciso especi�car um valor paraAm, poisA é uma distribuição Rayleigh

e sua média pode ser calculada através da variância.

0 0,5 1 1,5 2τ (em ms)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

h(τ)

(a) L = 3.

0 1 2 30

0,5

1

1,5

2

τ (em ms)

h(τ)

(b) L = 7.

Figura 5.1: Respostas ao impulso geradas pelo método descrito na Seção 3.5.

A Figura 5.1 é um exemplo de dois tipos de respostas ao impulso geradas pelo

programa para o caso de um canal invariante no tempo. As respostas ao impulso

amostradas são apresentadas na Figura 5.2. Note que na Figura 5.2 os valores dos

48

0 20 40 60 800

0,2

0,4

0,6

0,8

n (em amostra)

h[n]

(a) L = 3.

0 50 1000

0,2

0,4

0,6

0,8

n (em amostra)

h[n]

(b) L = 7.

Figura 5.2: Respostas ao impulso amostradas geradas pelo método descrito na Se-ção 3.4.

ganhos estão diferentes dos ganhos da Figura 5.1; isso acontece porque o canal h[n]

é normalizado de forma a ter norma euclidiana unitária.

No caso variante no tempo, o programa retorna um h(τ) para cada uma das

velocidades escolhidas. Na Figura 5.3 é possível observar os canais h(τ) em função

da velocidade relativa v. Nesta �gura a compressão pelo fator 1 + a prevista na

Seção 3.2.2 quase não pode ser notada. A Figura 5.4 apresenta uma vista de cima

dos dois grá�cos apresentados na Figura 5.3. Com essa �gura é possível ver a

compressão dos atrasos e que, quanto maior o valor dos atrasos, mais reduzidos eles

�cam com o aumento da velocidade. Por exemplo na Figura 5.4b, τ6 = 2,225 ms

para uma velocidade v = 15 m/s e, quando a velocidade aumenta para v = 30 m/s,

o sexto atraso vai para τ6 = 2,2 ms.

5.3 Desempenho do ZP-OFDM no Canal Acústico

Submarino

Nesta seção serão apresentados os resultados de uma transmissão ZP-OFDM utili-

zando a estrutura das Figuras 4.3, 4.5 e 4.7. O sinal transmitido passará por um

canal acústico submarino invariante no tempo e por um canal acústico submarino

com escalamento Doppler uniforme. O desempenho será avaliado através da �gura

49

0

50

100

150

1

20

0,5

1

v (em m/s)τ (em ms)

h(τ)

(a) L = 3.

0

50

100

150

0

2

0

1

2

v (em m/s)τ (em ms)

h(τ)

(b) L = 7.

Figura 5.3: Respostas ao impulso de canais com escalamento de Doppler uniformepara diferentes valores v.

0 50 100 150

0,5

1

1,5

2

v (em m/s)

τ(em

ms)

τ1τ2τ3

(a) L = 3.

0 50 100 1500

1

2

3

v (em m/s)

τ(em

ms)

τ1τ2τ3τ4τ5τ6τ7

(b) L = 7.

Figura 5.4: Grá�cos da variação de τl em função de v.

de mérito taxa de erro de bit (BER, do termo em inglês bit-error rate) em função

da razão sinal-ruído (SNR, do termo em inglês signal-to-noise ratio).

5.3.1 Parâmetros da Simulação

Na simulação foi escolhido um sinal com banda B = 10 kHz, para que a taxa de

transmissão estivesse na mesma ordem dos experimentos apresentados em [44, 45].

Foram transmitidos 1000 blocos com K = 32 símbolos de uma constelação 4-QAM

gerados aleatoriamente. O codi�cador de canal usado nessas simulações foi um

código convolucional com taxa de código rc = 0,5, constraint length 7, polinômios

geradores g0 = [133] e g1 = [165], ambos na representação octal, além de um

50

embaralhador aleatório (do termo em inglês random interleaver). Essa con�guração

é uma adaptação das especi�cações do LTE (do termo em inglês long-term evolution)

retirada de [1]. O decodi�cador de canal utilizado foi um decodi�cador de Viterbi

com decisão hard. O primeiro bloco de dados transmitido será considerado o bloco

piloto, ou seja, seu conhecimento será assumido no receptor para efeito de estimação

de canal.

O fator de interpolação e decimação é determinado pela relação P = 1/BTa. Os

resultados foram obtidos com P = 4. O sinal foi modulado por uma portadora com

frequência fc = 10 kHz, para que a transmissão tivesse uma banda ultralarga [21]

(UWB, do termo em inglês ultrawide band). O sinal na banda passante foi trans-

mitido por dois canais invariantes no tempo com L ∈ {3, 7} coe�cientes não-nulos

e por dois canais variantes no tempo com L ∈ {3, 7} coe�cientes não-nulos. Para

a avaliação da BER foi utilizado um processo de Monte-Carlo com 10000 canais

diferentes. Os valores de SNR escolhidos foram SNR ∈ {0, 5, 10, 15, 20, 25, 30} dB.

A de�nição de SNR usada neste trabalho é dada por

SNR = 10 log10

(Ps

Pn

), (5.1)

onde Ps ∈ R+ é a potência do sinal no transmissor, e Pn ∈ R+ é a potência do ruído.

−20 −10 0 10 20−200

−150

−100

−50

0

50

Frequência (em kHz)

Mag

nitu

de (

em d

B)

Figura 5.5: Resposta em frequência do �ltro passa-baixas da Figura 4.5.

51

O �ltro passa-baixas utilizado na estrutura da Figura 4.5 foi projetado pelo

método de janela [35]. Os parâmetros utilizados no projeto estão listados abaixo:

• Janela utilizada: Hamming ;

• Ordem do �ltro: Nord = 1000;

• Frequência de corte: fcorte =B

2;

• Frequência de amostragem: fs =1

Ta

.

A ordem do �ltro foi escolhida de maneira que sua resposta em frequência fosse bem

bem próxima da resposta de um �ltro ideal na faixa de passagem. A magnitude da

resposta em frequência do �ltro projetado é apresentada na Figura 5.5.

Devido ao fato do �ltro passa-baixas apresentado na Figura 5.5 não ser ideal,

as subportadoras das extremidades da banda do sinal x[i] foram zeradas para que

as distorções nas bordas do �ltro não prejudicassem os dados enviados em tais

subportadoras. Na Figura 5.6 é possível ver a resposta em frequência do sinal em

banda base x[i].

−5 0 50

10

20

30

40

50

Frequência (em kHz)

Mag

nitu

de (

em d

B)

Figura 5.6: Resposta em frequência do sinal em banda base na taxa Td = 0,1 ms.

A resposta em frequência do sinal superamostrado x[n] é apresentada na Fi-

gura 5.7a. Note que agora a resposta em frequência de x[n] não é mais plana na

frequência, pois o sinal foi �ltrado pelo �ltro g[n], cuja resposta em frequência é uma

52

função sinc, como mostrado na equação (4.21). A Figura 5.7b ilustra a resposta em

frequência do sinal em banda passante x[n]; a partir dela é possível ver que a es-

colha de Ta = 0,25 µs como período de amostragem do sinal na taxa analógica foi

adequada.

−20 −10 0 10 200

5

10

15

20

25

30

35

40

Frequência (em kHz)

Mag

nitu

de (

em d

B)

(a) Resposta em banda base.

−20 −10 0 10 200

5

10

15

20

25

30

35

40

Frequência (em kHz)M

agni

tude

(em

dB

)

(b) Resposta em banda passante.

Figura 5.7: Respostas em frequência do sinal transmitido com período de amostra-gem Ta.

5.3.2 Canal Invariante no Tempo

No caso do canal invariante no tempo, foi gerada através de simulação a BER em

função da SNR. Foram utilizados canais com L ∈ {3, 7}. A estimativa da matriz de

canal Λ foi realizada através de uma estimativa MMSE utilizando o bloco piloto. O

equalizador utilizado foi um equalizador MMSE.

Na Figura 5.8 é possível ver que os sistemas transmitindo por canais com L = 7

conseguem atingir um desempenho melhor do que quando transmitidos por canais

com L = 3.

As duas curvas da Figura 5.8 conseguiram atingir taxas de erros relativamente

baixas, mas o decaimento das curvas de BER para valores altos de SNR não é o

esperado para esse tipo de transmissão. Para analisar o comportamento incomum

das curvas, cada um dos resultados das simulações de Monte-Carlo foi classi�cado

como resultado �bom� e resultado �ruim�. A separação entre resultados bons e ruins

53

0 10 20 3010

−6

10−4

10−2

100

SNR (em dB)

BE

R

L = 3L = 7

Figura 5.8: Curva de BER por SNR para um canal invariante no tempo.

é de�nida como

Resultado �bom�,BER(20 dB) + BER(25 dB) + BER(30 dB)

3≤ γ

Resultado �ruim� , caso contrário, (5.2)

onde γ ∈ R+ é um limiar. Após a separação entre resultados bons e ruins, os canais

que geraram resultados ruins foram analisados separadamente.

Para fazer a avaliação dos resultados foi escolhido γ = 10−6. O número de canais

�bons� e �ruins� é apresentado na Tabela 5.1. A partir da tabela é possível ver que

18,92% dos canais com L = 3 geraram resultados ruins e, para canais com L = 7, o

resultado é de 14,73%. Foi observado que a maior parte desses canais possuem zeros

sobre o círculo unitário. A matriz de canal Λ equivale à resposta em frequência do

canal efetivo. Quando o canal tem alguns zeros sobre o círculo unitário equivale a

dizer que Λ pode possuir alguns zeros em sua diagonal principal, ou alguns elementos

próximos de zero. Então alguns símbolos podem ser completamente mascarados

pelo ruído, impossibilitando a recuperação do mesmo, e assim degradando o sinal

recebido.

No caso dos canais com L = 3, 1869 canais possuem zeros sobre o círculo unitário,

o que equivale a 98,78% dos canais �ruins� com L = 3. Para os canais com L = 7,

54

Tabela 5.1: Número de canais

Canais �bons� Canais �ruins�L = 3 8108 1892L = 7 8527 1473

1473 canais possuem zeros sobre o círculo unitário, o que equivale a 100% dos canais

�ruins� com L = 7.

A Figura 5.9 apresenta os resultados levando em consideração apenas os canais

classi�cados como �bons� e como �ruins�. Na Figura 5.9a é possível ver que a BER

para os canais �bons� tem valor zero a partir de 15 dB. Na Figura 5.9b é possível

ver que a BER para os canais �ruins� continua com o mesmo padrão das curvas

da Figura 5.8, ou seja, um platô aparece quando a SNR é elevada. Isso ocorre

pois, para valores baixos de SNR, os danos provocados pelo ruído são dominantes,

fazendo com que o efeito dos zeros sobre (ou próximo) do círculo unitário seja pouco

percebido. Quando a SNR aumenta, o nível de ruído decresce e o efeito dos zeros

sobre a circunferência unitária torna-se dominante.

0 5 10 1510

−4

10−2

100

SNR (em dB)

BE

R

L = 3L = 7

(a) Canais �bons�.

0 10 20 3010

−5

100

SNR (em dB)

BE

R

L = 3L = 7

(b) Canais �ruins�.

Figura 5.9: Curva de BER versus SNR.

Toda discussão promovida nesta seção deu-se em torno do formato da curva de

BER apresentada na Figura 5.8. O mesmo padrão de curva é encontrado em [46]

quando o sistema OFDM é usado para uma transmissão por um canal veicular.

Em [46] nenhum cometário foi feito em relação ao formato das curvas de BER

encontradas. Esses resultados mostram que apesar das diferenças entre os canais

55

físicos, os resultados obtidos aqui são próximos dos resultados obtidos para técnicas

modernas de transmissão pelo ar.

5.3.3 Canal Variante no Tempo com Escalamento Doppler

Uniforme

No caso do canal variante no tempo, foi simulada a sensibilidade da BER em função

do erro de estimação do fator de escalamento Doppler a. Foram analisados dois

cenários diferentes: o primeiro só faz a compensação grosseira do escalamento Dop-

pler (vide Seção 4.3.1), enquanto o segundo cenário faz a compensação grosseira

bem como o ajuste �no do fator de escalamento (vide Seção 4.3.2). A estimativa do

fator de escalamento usada foi

a = (1− ε)a, (5.3)

onde ε ∈ E é o erro de estimativa do fator de escalamento. A estimativa da frequência

residual ε será assumida perfeita, ou seja, ε = ε = αfc. Foram considerados dois

diferentes conjuntos E , de�nidos como

E1 ={

0, 2× 10−5, 4× 10−5, 6× 10−5, 8× 10−5, 10× 10−5}

(5.4)

E2 ={

0, 2× 10−4, 4× 10−4}. (5.5)

Os conjuntos E1 e E2 foram de�nidos de forma que a ICI não degradasse completa-

mente a estimativa dos símbolos feita pelo equalizador.

Foram usados canais com L ∈ {3, 7}, e todos os canais utilizados tinham fator

de escalamento Doppler a = 0,01. A estimativa da matriz de canal Λ foi realizada

através de uma estimativa MMSE utilizando o bloco piloto no início da recepção

dos dados.

Nas Figuras 5.10 e 5.11 estão os resultados da simulação quando ε ∈ E1 e sendo

utilizado o equalizador ZF. Os resultados para o equalizador MMSE foram omiti-

56

0 10 20 3010

−4

10−2

100

SNR (em dB)

BE

R

ǫ = 0ǫ = 2× 10

−5

ǫ = 4× 10−5

ǫ = 6× 10−5

ǫ = 8× 10−5

ǫ = 10× 10−5

(a) Compensação grosseira.

0 10 20 3010

−4

10−2

100

SNR (em dB)

BE

R

ǫ = 0

ǫ = 2× 10−5

ǫ = 4× 10−5

ǫ = 6× 10−5

ǫ = 8× 10−5

ǫ = 10× 10−5

(b) Compensação grosseira e ajuste �no.

Figura 5.10: BER vs. SNR utilizando equalizador ZF e ε ∈ E1, para canais comL = 3.

dos, pois tal equalizador obteve o mesmo desempenho que o equalizador ZF. Esse

comportamento do equalizador MMSE era esperado, pois a constelação utilizada

foi 4-QAM, então a diferença entre o equalizador ZF e MMSE é apenas um fator

de escalamento. As Figuras 5.10a e 5.11a apresentam os grá�cos das curvas de

BER versus SNR quando não existe o ajuste �no da frequência ε apresentado na

Seção 4.3.2. Nessas �guras é possível ver que a frequência residual ε não tem in-

�uência signi�cativa nas curvas de BER. Esse resultado é esperado, porque para um

erro de estimação nessa ordem de grandeza praticamente não existe ICI.

0 10 20 3010

−5

100

SNR (em dB)

BE

R

ǫ = 0ǫ = 2× 10

−5

ǫ = 4× 10−5

ǫ = 6× 10−5

ǫ = 8× 10−5

ǫ = 10× 10−5

(a) Compensação grosseira.

0 10 20 3010

−5

100

SNR (em dB)

BE

R

ǫ = 0

ǫ = 2× 10−5

ǫ = 4× 10−5

ǫ = 6× 10−5

ǫ = 8× 10−5

ǫ = 10× 10−5

(b) Compensação grosseira e ajuste �no.

Figura 5.11: BER vs. SNR utilizando equalizador ZF e ε ∈ E1, para canais comL = 7.

As Figuras 5.10b e 5.11b mostram os grá�cos das curvas de BER versus SNR

57

quando existe o ajuste �no da frequência ε apresentado na Seção 4.3.2. Nessas

�guras é possível ver que, mesmo com o ajuste �no da frequência residual, as curvas

de BER se degradam à medida que o erro ε aumenta, diferente do que ocorre nas

Figuras 5.10a e 5.11a. Esse resultado era esperado, pois o ajuste �no expresso pela

equação (4.47) faz com que o canal efetivo equivalente seja variante no tempo. Uma

vez que, nas Figuras 5.10b e 5.11b, o canal só é estimado no primeiro bloco, à medida

que o tempo passa, essa estimativa do canal obtida no início da recepção distancia-se

cada vez mais do canal efetivo no instante de tempo atual.

0 10 20 3010

−4

10−2

100

SNR (em dB)

BE

R

ǫ = 0ǫ = 2× 10

−5

ǫ = 4× 10−5

ǫ = 6× 10−5

ǫ = 8× 10−5

ǫ = 10× 10−5

(a) Canais com L = 3.

0 10 20 3010

−5

100

SNR (em dB)

BE

R

ǫ = 0ǫ = 2× 10

−5

ǫ = 4× 10−5

ǫ = 6× 10−5

ǫ = 8× 10−5

ǫ = 10× 10−5

(b) Canais com L = 7.

Figura 5.12: BER vs. SNR para ε ∈ E1 com ajuste �no e estimando o canal a cada127 blocos.

Na Figura 5.12 é possível observar o desempenho do sistema quando o canal é

reestimado a cada 127 blocos1. Note que agora a estratégia de compensação com o

ajuste �no consegue alcançar o mesmo resultado que a estratégia que utiliza apenas a

compensação grosseira. A precisão da BER apresentada na Figura 5.12 está diferente

da precisão das curvas de BER apresentadas nas Figuras 5.10b e 5.11b, pois para

geração de tal resultado foi utilizado um processo de Monte Carlo com apenas 1000

realizações2.

Nas Figuras 5.13 e 5.14 estão os resultados da simulação quando ε ∈ E2 e sendo

utilizado o equalizador ZF. As Figuras 5.13a e 5.14a apresentam os grá�cos das

1Esse valor foi escolhido para facilitar a implementação do código.2Esse cenário de simulação reduzido foi utilizado para evitar gastos computacionais e acelerar

a simulação.

58

0 10 20 3010

−4

10−2

100

SNR (em dB)

BE

R

ǫ = 0

ǫ = 2× 10−4

ǫ = 4× 10−4

(a) Compensação grosseira.

0 10 20 3010

−4

10−2

100

SNR (em dB)

BE

R

ǫ = 0

ǫ = 2× 10−4

ǫ = 4× 10−4

(b) Compensação grosseira e ajuste �no.

Figura 5.13: Curva de BER vs. SNR utilizando equalizador ZF e ε ∈ E2, para canaiscom L = 3.

curvas de BER versus SNR quando não existe o ajuste �no da frequência ε. Nessas

�guras é possível ver que, diferentemente das Figuras 5.10 e 5.11, a frequência resi-

dual ε in�uencia nas curvas de BER, e a não compensação dessa frequência residual

leva ao não funcionamento do sistema.

0 10 20 3010

−5

100

SNR (em dB)

BE

R

ǫ = 0

ǫ = 2× 10−4

ǫ = 4× 10−4

(a) Compensação grosseira.

0 10 20 3010

−5

100

SNR (em dB)

BE

R

ǫ = 0

ǫ = 2× 10−4

ǫ = 4× 10−4

(b) Compensação grosseira e ajuste �no.

Figura 5.14: Curva de BER vs. SNR utilizando equalizador ZF e ε ∈ E2, para canaiscom L = 7.

As Figuras 5.13b e 5.14b mostram os grá�cos das curvas de BER versus SNR

quando existe o ajuste �no da frequência ε. Nessas �guras é possível ver que o ajuste

�no da frequência residual consegue melhorar o desempenho do sistema quando

comparado com as Figuras 5.13a e 5.14a. Esse resultado mostra que, quando o erro

ε da estimativa do fator de escalamento estiver na ordem de 10−4, o ajuste �no é

59

necessário para que o sistema continue operando com alguma e�ciência. Isso ocorre

pois agora a ICI não pode mais ser desprezada como foi feito para a análise dos

resultados do primeiro cenário. O ajuste �no se mostrou necessário por conseguir

atenuar o efeito da ICI.

0 10 20 3010

−5

100

SNR (em dB)

BE

R

ǫ = 0ǫ = 2× 10

−4

ǫ = 4× 10−4

(a) Canais com L = 3.

0 10 20 3010

−6

10−4

10−2

100

SNR (em dB)B

ER

ǫ = 0ǫ = 2× 10

−4

ǫ = 4× 10−4

(b) Canais com L = 7.

Figura 5.15: BER vs. SNR para ε ∈ E1 com ajuste �no e estimando o canal a cada127 blocos.

A Figura 5.15 apresenta o desempenho do sistema quando o canal é estimado

a cada 127 blocos. Neste caso, o desempenho do sistema melhora muito quando

comparado ao resultado apresentado nas Figuras 5.13b e 5.14b. Para os resultados

apresentados na Figura 5.15 foi utilizado um um processo de Monte Carlo com 1000

realizações.

Cabe ressaltar o desempenho relativo inesperado entre os vários possíveis valores

do erro ε. Aqui, valores maiores do erro levaram a desempenhos melhores em SNRs

altas. Embora este ponto precise ser cuidadosamente estudado em trabalhos futuros,

pode-se vislumbrar como possível explicação o fato de que o ajuste �no para ε maior

induz uma diversidade temporal maior o que poderia traduzir-se em canais efetivos

mais bem condicionados.

60

Capítulo 6

Conclusão e Trabalhos Futuros

6.1 Conclusão

O presente trabalho apresentou um estudo detalhado de diversos modelos para a

relação entrada-saída de canais acústicos subaquáticos. Dentro deste estudo foi

veri�cado como o efeito Doppler age nos canais acústicos submarinos e in�uenciam

nas repostas ao impulso de tais canais � em geral o efeito Doppler aparece como um

escalamento temporal no sinal enviado. No caso dos canais variantes no tempo com

escalamento Doppler uniforme, foi mostrado que esses canais podem ser simpli�cados

por um escalamento no tempo mais uma �ltragem por um canal invariante no tempo.

Além disso, foi apresentada uma metodologia para gerar versões discretas de tais

repostas e os seus respectivos parâmetros.

O trabalho também apresentou um estudo de um sistema ZP-OFDM, quando

o mesmo é utilizado para realizar uma transmissão através de um canal acústico

subaquático. Foram considerados dois modelos de canais diferentes: um canal linear

invariante no tempo e um canal linear variante no tempo. Para os canais variantes

no tempo, o impacto do efeito Doppler foi analisado detalhadamente e o seu efeito

em transmissões OFDM foi ressaltado. Para compensar as adversidades causadas

pelo efeito Doppler, foi apresentado um método de compensação em dois estágios

que utiliza uma estimativa do fator de escalamento Doppler.

Para avaliar o desempenho do sistema ZP-OFDM estudado, primeiramente foi

61

construído um gerador de respostas ao impulso. Esse gerador utilizou os modelos de

respostas ao impulso apresentados no Capítulo 3 para produzir as respostas utiliza-

das na simulação de uma transmissão de um sistema ZP-OFDM. O desempenho dos

sistemas foi medido através da �gura de mérito BER. No caso variante no tempo foi

analisada a sensibilidade da BER pelos erros de estimativa do fator de escalamento

Doppler.

As simulações mostraram que o sistema ZP-OFDM estudado conseguiu alcan-

çar um desempenho satisfatório em canais invariantes no tempo, apesar das curvas

de BER atingirem um platô para valores altos de SNR. A análise da sensibilidade

se mostrou bem instável com o aumento do erro de estimação do fator de escala-

mento Doppler. Para valores baixos do erro da estimativa do fator de escalamento

Doppler, a compensação grosseira é su�ciente para garantir o funcionamento do sis-

tema. Quando o erro é intermediário, a compensação grosseira mais o ajuste �no

fazem com que ocorra uma melhora nos resultados e quando o erro da estimativa

é muito grande a compensação do efeito Doppler sozinha não consegue melhorar

o desempenho do sistema. Mas, quando o canal efetivo é considerado variante no

tempo e sua estimação é realizada frequentemente, o ajuste �no consegue melhorar

consideravelmente o desempenho do sistema.

6.2 Trabalhos Futuros

As próximas etapas a serem realizadas nessa linha de trabalho são listadas a seguir:

• Fazer a avaliação do desempenho dos sistemas ZP-OFDM quando usados para

transmissões por canais variantes no tempo com fator de escalamento Doppler

não-uniforme;

• Implementar sistemas monoportadora que realizem equalização turbo [47�52]

e veri�car se a equalização turbo é uma boa solução para a transmissão por

canais variantes no tempo;

• Implementar sistemas multiportadora que realizem equalização turbo [53�55]

62

e comparar com o desempenho dos sistemas monoportadoras com equalização

turbo;

• Estudar o comportamento inesperado do ajuste �no quando o erro de estima-

ção do fator de escalamento Doppler é grande;

• Propor novos métodos para a compensação grosseira do fator de escalamento

Doppler, como por exemplo fazer a compensação na banda base.

63

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