MODELO DE ORGANIZAÇÃO DO TREINAMENTO PARA...

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i RAFAEL JÚLIO DE FREITAS GUINA FACHINA MODELO DE ORGANIZAÇÃO DO TREINAMENTO PARA COMPETIÇÕES DE CURTA DURAÇÃO PARA JOVENS ATLETAS DE BASQUETEBOL CAMPINAS 2014

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RAFAEL JÚLIO DE FREITAS GUINA FACHINA

MODELO DE ORGANIZAÇÃO DO TREINAMENTO PARA

COMPETIÇÕES DE CURTA DURAÇÃO PARA JOVENS

ATLETAS DE BASQUETEBOL

CAMPINAS

2014

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FACHINA, Rafael Júlio de Freitas Guina. Modelo de organização do treinamento para

competições de curta duração para jovens atletas de basquetebol. 2014. 114 f. Dissertação

(Mestrado em Educação Física)-Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de

Campinas, Campinas, 2014.

RESUMO

O objetivo deste estudo foi investigar a resposta sobre o desempenho associada a um

programa de treinamento aplicando o método de treinamento descontínuo intervalado (TI)

em um curto período de tempo sobre jovens atletas de elite de basquetebol. Doze jovens

mulheres (14 ± 3 anos), que se preparavam para uma competição internacional,

participaram de sessões de TI durante o período preparatório do macrociclo. Foram

avaliadas a composição corporal, a velocidade, a agilidade e a resistência anaeróbia. A

carga de treinamento foi quantificada pelo método PSE da sessão. A massa corporal total

não apresentou alteração significante (68,2 ± 12,8 kg vs. 67,8 ± 12,4 kg, P=0,0633),

enquanto que a massa corporal magra (51,6 ± 7,4 kg vs. 52,5 ± 7,4 kg, P=0,0055) e o

percentual de gordura (24,0 ± 3,9 % vs. 22,0 ± 4,1 %, P<0,0001) apresentaram alteração

significante. Nem o tempo (3,68 ± 0,15 s vs. 3,67 ± 0,13 s, P=0,1564), nem a potência

(545,1 ± 77,5 W vs. 548,1 ± 67,5 W, P=0,6274) gerada no teste corrida 20 m apresentaram

alteração significante, o mesmo acontecendo para o tempo (10,28 ± 0,47 s vs. 10,26 ± 0,46

s, P=0,3105) e a potência (100,4 ± 15,1 W vs. 100,2 ± 14,0 W, P= 0,8238) encontrados no

teste T. O melhor tempo (6,31 ± 0,25 s vs. 6,31 ± 0,23 s, P=0,5143) e a potência máxima

(243,4 ± 29,1 W vs. 241,2 ± 27,05 W, P=0,6165) do teste de resistência anaeróbia proposto

por Castanha et al. (2007) também não apresentaram diferença significante. Porém, as

demais variáveis deste teste, como o tempo médio (6,49 ± 0,27 s vs. 6,42 ± 0,24 s,

P=0,0001), o pior tempo (6,66 ± 0,28 s vs. 6,50 ± 0,27 s, P<0.0001), o tempo total (64,88 ±

2,69 s vs. 64,19 ± 2,40 s, P=0,0001), o índice de fadiga (2,86 ± 0,81 % vs. 1,67 ± 0,43 %,

P<0.0001) a potência média (225,7 ± 25,9 W vs. 230,4 ± 25,3 W, P=0,0012) e a potência

mínima (206,8 ± 21,6 W vs 220,8 ± 23,4 W, P<0.0001), apresentaram diferença

significante. A carga interna de treinamento também apresentou comportamento adequado,

principalmente nos microciclos de choque e precompetitivo, apresentando baixos valores

de monotonia. O uso do TI durante o período de intervenção com grande concentração de

estímulos foi eficiente para melhorar a capacidade das atletas de resistir à fadiga. Além

disso, os dados demonstram que, apesar do foco em melhorar a resistência das atletas, a

velocidade e a agilidade não foram prejudicadas.

Palavras-Chave: Basquetebol, Treinamento Intervalado, Periodização.

viii

FACHINA, Rafael Júlio de Freitas Guina. Training model for short-term competitions to

young basketball players. 2014. 114 f. Dissertation (Master´s degree in Physical

Education). School of Physical Education, State University of Campinas, Campinas, 2014.

ABSTRACT

The aim of this study was to investigate the physiological response associated with a

training program applying the interval training method in a short period of time on young

elite basketball players. Twelve young women (14 ± 3 years), who were preparing for an

international competition, participated in interval training sessions during the preparatory

period of the macrocycle. Body composition, speed, agility and anaerobic endurance were

assessed. Training load was quantified by the session RPE method. Total body mass

showed no significant differences (68.2 ± 12.8 kg vs. 67.8 ± 12.4 kg, P = 0.0633), whereas

lean body mass (51, 6 ± 7.4 kg vs. 52.5 ± 7.4 kg, P = 0.0055) and fat percentage (24.0 ±

3.9% vs. 22.0 ± 4.1% , P <0.0001) showed significant differences. Time (3,68 ± 0,15 s vs.

3,67 ± 0,13 s, P=0,1564) and power (W 545.1 ± 77.5 vs. 548.1 ± 67 5 W, P = 0.6274)

generated in 20 m running test, as well as time (10.28 ± 0.47 s vs. 10.26 ± 0.46 s, P =

0.3105 ) and power (100.4 ± 15.1 W vs. 100.2 ± 14.0 W, P = 0.8238) generated in T-test

showed no significant differences. The best time (6.31 ± 0.25 s vs. 6.31 ± 0.23 s, P =

0.5143) and maximum power (243.4 ± 29.1 W vs. 241.2 ± 27.05 W, P = 0.6165) of the

anaerobic endurance test proposed by Castagna et al. (2007) also showed no significant

difference. However, the other variables of this test, as the average time (6.49 ± 0.27 s vs.

6.42 ± 0.24 s, P = 0.0001), the worst time (6.66 ± 0.28 s vs. 6.50 ± 0.27 s, P <0.0001), total

time (64.88 ± 2.69 s vs. 64.19 ± 2.40 s, P = 0.0001), the fatigue index (2.86 ± 0.81% vs.

1.67 ± 0.43%, P <0.0001) the average power (225.7 ± 25.9 W vs. 230.4 ± 25.3 W, P =

0.0012) and minimum power (206.8 ± 21.6 W vs 220.8 ± 23.4 W, P <0.0001), showed

significant differences. The internal training load also showed appropriate behavior,

especially in microcycles 2 and 3 (intense and pre-competitive), with low values of

monotony. The use of the interval training method during the intervention period with a

high concentration of stimuli was effective to improve the ability of athletes to resist

fatigue. Moreover, the data show that the speed and agility are not adversely affected.

Key-Words: Basketball, Interval Training, Periodization.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 1

2 OBJETIVOS ............................................................................................................................... 5

2.1 Objetivo geral ...................................................................................................................... 5

2.2 Objetivo específico .............................................................................................................. 5

3 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................................ 5

4 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................................... 7

4.1 Caracterização do basquetebol ............................................................................................ 7

4.2 Capacidades físicas associadas à prática do basquetebol .................................................... 9

4.2.1 Força .......................................................................................................................... 10

4.2.2 Velocidade ................................................................................................................. 11

4.2.3 Resistência ................................................................................................................. 13

4.3 Métodos de treinamento .................................................................................................... 15

4.3.1 Método de treinamento contínuo ............................................................................... 15

4.3.2 Método de treinamento descontínuo ......................................................................... 17

4.4 Estrutura e organização do treinamento desportivo .......................................................... 20

4.4.1 Componentes da periodização: os ciclos de treinamento .......................................... 22

4.4.2 Periodização do treinamento desportivo ................................................................... 30

4.5 A carga de treinamento ..................................................................................................... 33

4.5.1 Componentes da carga de treinamento ...................................................................... 35

4.5.2 Orientação da carga de treinamento .......................................................................... 38

4.5.3 Complexidade coordenativa e psicológica da carga .................................................. 39

4.5.4 Controle da carga de treinamento .............................................................................. 40

4.5.5 Métodos para o controle da carga de treinamento ..................................................... 41

5 MÉTODOS ............................................................................................................................... 47

5.1 Sujeitos .............................................................................................................................. 47

5.2 Delineamento experimental ............................................................................................... 47

5.3 Antropometria e Composição corporal ............................................................................. 47

5.4 Componentes do treinamento ............................................................................................ 48

5.5 Variáveis de intervenção ................................................................................................... 49

x

5.6 Periodização e planificação do treinamento ...................................................................... 49

5.7 Testes de desempenho motor ............................................................................................ 51

5.7.1 Corrida 20 metros ...................................................................................................... 51

5.7.2 Teste T ....................................................................................................................... 52

5.7.3 Teste de resistência anaeróbia (sprints repetidos) ..................................................... 53

5.8 Controle da carga de treinamento ...................................................................................... 55

5.9 Caracterização da competição ........................................................................................... 56

6 ANÁLISE ESTATÍSTICA ....................................................................................................... 57

7 RESULTADOS ......................................................................................................................... 59

7.1 Antropometria ................................................................................................................... 59

7.2 Corrida 20 m ..................................................................................................................... 59

7.3 Teste T ............................................................................................................................... 59

7.4 Teste de resistência anaeróbia ........................................................................................... 59

7.5 Distribuição do volume de treinamento durante os períodos preparatório e competitivo . 60

7.6 Carga interna de treinamento ............................................................................................ 61

8 DISCUSSÃO ............................................................................................................................. 67

8.1 Testes de desempenho motor ............................................................................................ 67

8.2 Controle da carga interna de treinamento .......................................................................... 70

8.3 Distribuição do volume do macrociclo ............................................................................. 71

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 73

CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 75

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 77

ANEXOS........................................................................................................................................... 89

xi

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais José Guina

Fachina e Marilene de Freitas Fachina, ao meu

irmão José Guina Fachina Júnior e às minhas

irmãs Kátia Aparecida Guina Fachina e

Marcela Aparecida Guina Fachina Assis, à

minha amada filha Manoela Cardoso de Freitas

Fachina e à mulher da minha vida Luciana

Lucca Machado.

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xiii

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer, primeiramente, ao meu orientador, Prof° Dr. Paulo Cesar

Montagner, por sua dedicação à tarefa de me orientar nesta longa jornada de aprendizado.

Sem seus conhecimentos e maneira peculiar de observar o treinamento, meu aprendizado

seria bem menos enriquecedor.

Agradeço ao Prof. Dr. João Paulo Borin por toda sua competência no assunto

deste trabalho e pela maneira consistente com que sempre teceu seus comentários quanto

aos caminhos a serem seguidos neste trabalho.

Agradeço à Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), à Faculdade de

Educação Física (FEF) e seus funcionários, que sempre me atenderam com gentileza e

competência.

Também um agradecimento especial ao Prof° Dr. Claudio Andre Barbosa de

Lira, por sempre se manter disposto a interagir com o desenvolvimento deste trabalho e

sanar minhas dúvidas metodológicas e estatísticas com grande maestria.

Ao Prof° Dr. Antônio Carlos Gomes, que me orientou profissionalmente

durante quase que toda a minha carreira, deixo meu profundo agradecimento por todos os

conselhos e esclarecimentos, sem os quais eu talvez não tivesse chegado até aqui.

Aos membros da comissão técnica e as atletas da Seleção Brasileira de

Basquetebol sub 15 por todo o aprendizado e interação conquistada durante todo o período

em que estivemos juntos.

Deixo meu agradecimento à Confederação Brasileira de Basketball na figura do

Sr. Reginaldo Senna (vice-presidente e coordenador do Departamento de Ciências e

Performance da instituição) e ao coordenador do Setor de Preparação Física, Prof° Diego

Miceli Jeleilate.

Enfim, a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente com a

realização deste trabalho, meu muito obrigado!

xiv

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Periodização e planificação do processo de treinamento............. 50

Figura 2 – Disposição das linhas e fotocélulas para o teste de velocidade

Corrida 20 m.............................................................................. 52

Figura 3 – Disposição do local de partida/chegada e a sequência padrão

para os deslocamentos (assinalada pelas letras A, B, C, D e E)

para o teste T............................................................................. 53

Figura 4 – Disposição das linhas e fotocélulas para o teste resistência

anaeróbia.................................................................................... 55

Figura 5 – Distribuição do volume de treinamento nas quatro semanas do

macrociclo.................................................................................. 61

Figura 6 – Comportamento da carga interna durante todo o processo de

treinamento......................................................................... 62

Figura 7 – Comportamento da carga interna de treinamento aferida pelo

método PSE-s na semana 1..................................................... 63

Figura 8 – Comportamento da carga interna de treinamento aferida pelo

método PSE-s na semana 2....................................................... 63

Figura 9 – Comportamento da carga interna de treinamento aferida pelo

método PSE-s na semana 3....................................................... 64

Figura 10 – Comportamento da carga interna de treinamento aferida pelo

método PSE-s na semana 4.................................................... 64

Figura 11 – Comportamento da carga semanal total aferida pelo método

PSE-s durante o macrociclo.......................................................... 65

Figura 12 – Comportamento da carga semanal média aferida pelo método

PSE-s durante o macrociclo..................................................... 65

Figura 13 – Comportamento da monotonia aferida pelo método PSE-s

durante o macrociclo................................................................... 66

Figura 14 – Comportamento do strain aferido pelo método PSE-s durante o

macrociclo.................................................................................. 66

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xvii

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Classificação da resistência em relação aos sistemas

energéticos................................................................................. 13

Quadro 2 – Síntese das particularidades dos períodos de treinamento.......... 32

Quadro 3 – Descrição e objetivos dos componentes do treinamento............. 48

xviii

xix

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Indicações para prescrição de treinamento intervalado de

acordo com as diversas direções bioenergéticas do treinamento.. 18

Tabela 2 – Escala de intensidade para exercícios de força e/ou velocidade... 36

Tabela 3 – As cinco zonas de intensidade para desportos cíclicos................. 37

Tabela 4 – Escala CR-10 de Borg................................................................. 44

Tabela 5 – Dados antropométricos e de composição corporal no início da

investigação............................................................................... 47

Tabela 6 – Resultados dos testes de desempenho motor realizados em

momentos distintos do período de preparação.......................... 60

Tabela 7 – Distribuição do volume entre os conteúdos de treinamento em

diferentes momentos do macrociclo............................................ 61

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

A Aquecimento

AL Anaeróbio láctico

ATP Adenosina trifosfato

CK Creatina cinase

CP Creatina fosfato

Cr Creatina

CR-10 Escala categórica 10

FC Frequência cardíaca

FIBA Fédération Internationale de Basketball

IF Índice de fadiga

MCM Massa corporal magra

MCT Massa corporal total

Pmáx Potência máxima

Pméd Potência média

Pmín Potência mínima

PSE Percepção subjetiva de esforço

RM Repetições máximas

RSA Repeated sprint ability

TF Treinamento de força

TI Método de treinamento descontínuo intervalado

Tid Tempo ideal

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Tm Melhor tempo

Tméd Tempo médio

TP Treinamento preventivo

Tp Pior tempo

TRIMP Training impulse

TT Técnico-tático

Ttot Tempo total

UA Unidade arbitrária

URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

2OV Consumo de oxigênio

max2OV Consumo máximo de oxigênio

picoOV 2 Consumo pico de oxigênio

%GC Percentual de gordura corporal

1

1 INTRODUÇÃO

Os aspectos associados à competição desportiva implementados na rotina de

jovens atletas é um tópico do treinamento desportivo que gera extensos debates (BENELI;

MONTAGNER, 2011). Isto porque o esporte, sendo um fenômeno complexo, aberto e de

múltiplas possibilidades, pode ser utilizado para diversos fins (PAES, 2002). Entretanto, a

participação em competições faz parte dos diferentes programas esportivos destinados a

crianças e adolescentes em todo o mundo. A forma, os objetivos e a periodicidade das

mesmas, assim como a faixa etária adequada para o início regular e mais competitivo são

aspectos que devem ser considerados e estudados pela Ciência do Esporte (ARENA;

BÖHME, 2004).

Dentro do escopo de assuntos investigados pela Teoria do Treinamento

Desportivo, as competições são designadas como sendo o elemento central que determina

todo o sistema de organização metodológica e preparação do atleta (PLATONOV, 2001;

FORTEZA, 2006). Dessa forma, como o processo de treinamento e a forma de disputa da

competição são indissociáveis, o planejamento do treinamento desportivo deve manter-se o

mais distante possível da improvisação e necessita agrupar os conhecimentos em um

sistema estrutural e organizado que se aproxime ao máximo da ciência e da tecnologia

(FORTEZA, 2006).

Entendendo o termo “processo” como sendo uma série de ações que buscam

maximizar um resultado, o planejamento é definido como um processo para determinar

para onde o treinamento deve seguir e estabelecer os requisitos para chegar a este ponto da

forma mais eficiente possível (FORTEZA, 2006). Este processo, dentro da teoria do

treinamento desportivo, responde pelo conceito de planificação, que é a organização de

tudo o que acontece nas etapas de preparação dos atletas, inter-relacionando os momentos

de preparação e competição (FORTEZA, 2001a).

Antes de iniciar as ações para a construção da planificação, deve-se buscar

caracterizar a modalidade desportiva em questão. Assim como os demais esportes

coletivos, o basquetebol requer uma quantidade substancial de habilidades tanto da

perspectiva individual quanto coletiva. Fisiologicamente, as necessidades da prática do

basquetebol incluem fontes aeróbias e anaeróbia de ressíntese de ATP (McINNES, et al.,

2

1995; GORE, 2000). Estudos que realizaram análise do movimento por vídeo (do inglês

time-motion analysis, onde são mensuradas as ações motoras, distâncias percorridas e

velocidade dos atletas durante uma partida) mostraram que, durante os jogos de

basquetebol, os jogadores realizam aproximadamente 105 ações de deslocamento de curta

duração (2-6 segundos) e alta intensidade, com cada uma delas ocorrendo, em média, a

cada 21 segundos do tempo real de jogo (McINNES, et al., 1995). Para a execução eficiente

de toda a dinâmica de movimentos do basquetebol, é fundamental adotar meios e métodos

de treinamento que otimizem força explosiva, força e potência de membros inferiores e

superiores, agilidade, coordenação, velocidade de movimentos cíclicos e acíclicos, além da

resistência (aeróbia, anaeróbia láctica e aláctica) (ERCULJ; DEZMAN; VUCKOVIC,

2003; ZWIERKO; LESIAKOWSKI, 2007).

Atualmente, a demanda competitiva da maioria dos esportes tem aumentado

consideravelmente em relação às décadas passadas. Se em épocas anteriores os atletas

dispunham de um longo tempo de preparação para então alcançarem sua melhor condição

de rendimento durante a competição principal, atualmente, não somente cresceu o número

de competições, mas estas também se dispersaram por toda a macroestrutura do

treinamento, forçando novas adequações aos modelos de periodização do treinamento

existentes (FORTEZA, 2001a).

A periodização foi estabelecida em meados dos anos de 1960 e foi inicialmente

baseada na experiência dos esportes de alto desempenho competitivo da extinta União das

Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e, também, nas pesquisas publicadas por seus

proeminentes cientistas daquela época (ISSURIN, 2010). De forma global, a periodização

do treinamento pode ser definida como a aproximação sistemática, sequencial e progressiva

ao planejamento e organização do treinamento de todas as qualidades motoras dentro de

uma estrutura cíclica para a obtenção do rendimento ótimo de um desportista ou uma

equipe. Não deve ser interpretada como uma parte isolada do processo de treinamento, mas

sim como uma fase deste, que busca responder a necessidade de unir todas as variáveis que

envolvem um programa de preparação de atletas (GAMBETTA, 1991; GOMES;

ALMEIDA; ALMEIDA, 2000; GRAHAM, 2002; GOMES, 2009).

3

Estando de posse das informações que caracterizam a modalidade desportiva e

da forma de disputa de sua competição alvo, a organização do treinamento caminha em

direção à escolha dos métodos de treinamento que possam conduzir a preparação da equipe

rumo aos objetivos traçados para esta competição. Os métodos de treinamento podem ser

agrupados de acordo com as direções da carga: contínua ou descontínua. Os métodos

contínuos se dividem em invariáveis e variáveis. Já os descontínuos, em intervalados e de

repetições (FORTEZA, 2001b).

Porém, a planificação e periodização do treinamento não são uma estrutura

rígida. Podem sofrer ajustes durante o processo caso sejam identificadas alterações no

desempenho dos atletas que não sejam condizentes com o que fora previsto para um

determinado momento do processo. Para identificar tais alterações, devem ser aplicados

testes motores em momentos distintos dentro da periodização para observar as respostas

dos atletas ao treinamento e diagnosticar a eficiência do que fora planificado até então e a

manutenção ou alteração das diretrizes que estariam por vir (VIRU; VIRU, 2003;

WEINEK, 2005).

Dessa forma, selecionar e integrar os métodos de treinamento, além de

controlar o desempenho fisiológico e a carga de esforço durante um processo de

treinamento, são condições primordiais para a monitoração de um programa de

treinamento.

4

5

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Verificar se o emprego do método descontínuo intervalado é eficiente para

modificar positivamente as capacidades físicas determinantes para o basquetebol em um

curto período de tempo.

2.2 Objetivo específico

Verificar o comportamento da carga interna de treinamento pelo método da

Percepção Subjetiva do Esforço da Sessão durante os microciclos de treinamento.

Quantificar o volume total de treinamento durante todo o processo,

identificando os períodos preparatório e competitivo, além de fracionar os componentes do

treinamento.

Verificar o efeito do treinamento sobre as variáveis antropométricas.

3 JUSTIFICATIVA

Durante os últimos anos, diversos estudos investigaram a modalidade

basquetebol identificando o perfil fisiológico dos atletas (OSTOJIC; MAZIC; DIKIC,

2006), desenvolvendo testes específicos ou proposto baterias de testes (CASTAGNA et al,

2007; WILMOT, CAMPILLO, 2004), analisando a resposta de diferentes modelos de

treinamento (MOREIRA et al.,2004; MOREIRA; OKANO; SOUZA, 2005; BALCIUNAS

et al., 2006; BENELI; RODRIGUES ; MONTAGNER , 2006), comparando meios de

treinamento (BOGDANIS et al., 2007) e também identificando o padrão de movimento

(ABDELKRIM; EL FAZAA; EL ATI , 2007) dos atletas durante uma partida de

basquetebol. Estes estudos contribuíram para uma melhor caracterização da modalidade e

deram suporte para aprimorar o processo de treinamento em tempos modernos. Entretanto,

percebe-se em alguns destes estudos a observância de fenômenos isolados, com pouca ou

nenhuma contextualização de seus achados com os demais componentes do processo de

treinamento (WILMOT; CAMPILLO, 2004; OSTOJIC; MAZIC; DIKIC, 2006;

CASTAGNA et al., 2007). Já em outros, onde esta contextualização se faz presente, os

6

resultados são oriundos de um período de treinamento longo (MOREIRA et al.,2004;

MOREIRA; OKANO; SOUZA, 2005; BENELLI et al. 2006; BOGDANIS et al., 2007).

Portanto, investigar a aplicação do método descontínuo intervalado de

treinamento durante um curto período de preparação (típico de seleções nacionais e

regionais de base do basquetebol brasileiro), além de observar como isso modificaria o

comportamento da velocidade, agilidade e da resistência anaeróbia de jovens jogadoras de

basquetebol, trás novas informações que poderão auxiliar no treinamento de equipes de

basquetebol com pouco tempo de preparação e enriquecer o conteúdo da ciência do

treinamento desportivo.

Tal temática é muito relevante, pois, assim como em outras modalidades

coletivas, o calendário do basquetebol é caracterizado por possuir um grande número de

jogos, competições relevantes com diferentes características quanto a duração (longa e

curta), mas, frequentemente, há uma carência de um período adequado de preparação física.

7

4 REVISÃO DA LITERATURA

4.1 Caracterização do basquetebol

O basquetebol se estabeleceu como um dos mais populares esportes do

mundo. É praticado competitivamente não apenas nos Estados Unidos, onde foi criado e

desenvolvido, mas também em todos os outros continentes. A pouco mais de uma década, a

modalidade sofreu alterações significativas em suas regras. Atualmente, durante uma

temporada competitiva regular, atletas de elite – tanto no masculino quanto no feminino –

são submetidos a uma árdua rotina de duas sessões de treinamento ao dia, um ou dois jogos

por semana e participam de campeonatos durante praticamente todo o ano (LIDOR;

BLUMENSTEIN; TENENBAUM, 2007). Esta agenda pesada de treinamento e jogos

requer um planejamento cuidadoso tanto para os programas de treinamento de longa quanto

para os de curta duração (ZIV; LIDOR, 2009).

Para jogos regulamentados pela FIBA (Fédération Internationale de

Basketball), o tempo de jogo oficial é de 40 minutos, divididos em quatro períodos iguais

de 10 minutos cada. O intervalo entre o 1º e 2º períodos é de dois minutos, com o mesmo

intervalo sendo aplicado para o 3º e 4º períodos. Porém, entre o 2º e 3º períodos, há

intervalo maior de 15 minutos. A duração total de uma partida é de 90 a 100 minutos,

aproximadamente (SCANLAN; DASCOMBE; REABURN, 2011).

Como a maioria dos esportes coletivos, basquetebol combina estruturas de

movimentos cíclica e acíclica. Esta estrutura consiste de movimentos com e sem a bola,

com muitos destes movimentos apresentando um caráter muito explosivo (tais como os

sprints curtos, paradas abruptas, rápidas mudança de direção, aceleração e saltos verticais).

O mesmo é verdadeiro para os movimentos realizados apenas com os membros superiores,

podendo se exemplificado pela condução de bola, as tentativas de retomada da bola do

adversário e as diferentes formas de passe e arremesso (ABDELKRIM; EL FAZAA; EL

ATI, 2007; ZWIERKO; LESIAKOWSKI, 2007). A execução eficiente de todos estes

movimentos e, consequentemente, o desempenho de jogo, depende principalmente das

seguintes habilidades funcionais: força explosiva, força e potência de membros superiores e

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inferiores, agilidade, coordenação, velocidade de movimentos cíclicos e acíclicos,

resistência (aeróbia, anaeróbia láctica e alática) e precisão (ERCULJ; DEZMAN;

VUCKOVIC, 2003; ZWIERKO; LESIAKOWSKI, 2007).

Dos dados oriundos de evidências fisiológicas e também pelo método de análise

do movimento por vídeo sugerem que o basquetebol tem natureza altamente intermitente e

de intensidade elevada, contando com a contribuição energética significante tanto do

sistema energético anaeróbio quanto o aeróbio (McINNES et al., 1995; SCANLAN;

DASCOMBE; REABURN, 2011). Embora o desempenho no basquetebol possa ser

baseado na capacidade anaeróbia dos atletas, uma aptidão aeróbia elevada também se

mostra importante para uma observação mais ampla deste desempenho (STONE;

STEINGARD, 1993). Especificamente o consumo máximo de oxigênio ( max2OV ) é

considerado como importante para otimizar a recuperação de esforços anaeróbios durante o

jogo (TOMLIN; WENGER, 2001). Além disso, o foi sugerido que o condicionamento

aeróbio seria importante para preparar os atletas para serem capazes de suportar o volume

da carga de treinamento da modalidade (STONE; STEINGARD, 1993; ZAKHAROV;

GOMES, 2003; FORTEZA; RAMIREZ, 2007). Alguns estudos demonstram que o

max2OV de mulheres atletas de basquetebol variam de 44 a 54 mLO2.kg-1

.min-1

(RODRIGUEZ-ALONSO et al., 2003; NARAZAKI et al., 2008).

Porém, para que a execução das ações determinantes do jogo de basquetebol

seja obtida com qualidade durante toda a partida, deve-se atentar para o fato de que a

capacidade de suportar a carga de jogo seria condição primária para estruturar o

planejamento de preparação de uma equipe competitiva. Esta carga pode, em parte, ser

caracterizada pelos achados de um recente estudo conduzido durante jogos de basquetebol

utilizando atletas australianas adultas. Neste estudo, Scanlan et al. (2012) encontraram uma

frequência cardíaca (FC) média de 162 ± 3 e 136 ± 6 b.min⁻¹ considerando o tempo de bola

em jogo e o tempo total, respectivamente. A concentração de lactato sanguíneo foi de 3,7 ±

1,4 mmol.L-1

e uma distância percorrida de 5214±315 metros. Para suportar sucessivos

esforços intensos dentro do tempo de jogo de basquetebol, tanto o sistema metabólico

aeróbio quanto o anaeróbio são solicitados (CIUTI et al., 1996; BORIN et al., 1999).

Quanto às variáveis anaeróbias do desempenho motor, Erculj et al. (2009) analisaram

9

atletas mulheres de 27 países europeus, com idade entre 14 e 15 anos. Ao observarem o

tempo para percorrerem a distância de 20 metros, os autores encontraram os valores de

tempo de 3,53 ± 0,16, 3,57 ± 0,15 e 3,76 ± 0,18 segundos para armadoras, laterais e pivôs,

respectivamente. Quanto ao salto vertical (contra movimento), encontrou valores da altura

de salto de 27,66 ± 4,32, 27,76 ± 3,63 e 24,36 ± 3,39 centímetros para armadoras, laterais e

pivôs, respectivamente.

A distribuição do conteúdo de treinamento é um assunto ainda pouco explorado

no meio acadêmico. Em um experimento conduzido por 6 semanas durante o período pré-

competitivo de atletas da seleção polonesa masculina sub 20, Litkowycz et al. (2008)

registraram o comportamento dos atletas através de monitores de FC e encontraram uma

distribuição da carga fisiológica de treinamento com 37% do conteúdo para o sistema

láctico, 28% para o misto (aeróbio e anaeróbio), 27% para o aeróbio e apenas 8% para o

aláctico.

4.2 Capacidades físicas associadas à prática do basquetebol

O organismo humano, ao interagir com o meio ambiente, responde

internamente com diferentes alterações e adaptações. O organismo possui uma variedade de

capacidades funcionais reveladas em diferentes condições de contato com o meio ambiente.

Assim, estas capacidades podem ser definidas como um conjunto de propriedades do

organismo que se apresentam no processo de sua interação com o meio ambiente (GOMES,

2009). Algumas dessas capacidades permitem a determinação e solicitação de tarefas

motoras, sendo condições básicas de rendimento para a aprendizagem e execução de ações

motoras desportivas (WEINECK, 2005). Dessa forma, se destacam cinco tipos de

capacidades funcionais reunidas pelo termo conhecido como capacidades físicas. São elas:

(i) força; (ii) resistência; (iii) velocidade; (iv) flexibilidade e (v) coordenação

(ZAKHAROV; GOMES, 2003; WEINECK, 2005; GOMES, 2009).

De uma forma esquemática e simplificada, estas capacidades físicas podem ser

classificadas em capacidades condicionais e capacidades coordenativas. As capacidades

condicionais se baseiam, sobretudo, nos processos energéticos, enquanto que as

coordenativas baseiam-se na precisão das percepções motoras (cinestésicas), que se

10

apresentam em combinação com as percepções visuais e auditivas (WEINECK, 2005;

GOMES, 2009). Entretanto, deve-se alertar que tal classificação se faz apenas com o intuito

de simplificar o entendimento. Nenhuma capacidade física consiste exclusivamente de

processos energéticos ou de percepções motoras. Na melhor das hipóteses, predomina um

sobre o outro (WEINECK, 2005).

Portanto, desenvolver programas de treinamento baseados na demanda

específica de cada modalidade esportiva é considerado o fator chave para o sucesso durante

o jogo (TAYLOR, 2004). As capacidades físicas que servem de base para suportar a carga

física de um jogo de basquetebol são: (i) força, (ii) velocidade e (iii) resistência.

4.2.1 Força

A força, no âmbito esportivo, é entendida como a capacidade do músculo de

produzir tensão ao ativar-se. No esporte, chama-se de força útil aquela em que o atleta é

capaz de aplicar ou manifestar à velocidade em que se realiza o gesto motor específico da

modalidade. Um desportista não possui um nível único de força máxima, mas vários destes

níveis em função da velocidade a que se meça a força máxima exercida (GONZÁLEZ-

BADILLO; GOROSTIAGA, 2001).

O desempenho no esporte é o resultado de uma ativação coordenada de

músculos esqueléticos específicos (KOMI, 2003). A maioria dos atletas espera que os

ganhos de força e potência produzidos por um programa de treinamento de força (TF)

resultem em um desempenho melhorado da atividade esportiva. O TF pode melhorar o

desempenho motor (a capacidade de sprint em corrida, o arremesso de um objeto etc), que

pode, por sua vez, melhorar o desempenho em diversas modalidades desportivas (FLECK;

KRAEMER, 2006).

A ativação muscular pode apresentar-se de três formas distintas: ação muscular

concêntrica, excêntrica e isométrica. A ação muscular concêntrica ocorre quando uma

massa está sendo levantada e os músculos envolvidos estão encurtando. Já a ação muscular

excêntrica ocorre quando uma massa está sendo baixada de maneira controlada pelos

músculos envolvidos. Por fim, quando um músculo é ativado e desenvolve força, porém

nenhum movimento visível ocorre na articulação, ocorre uma ação muscular isométrica

11

(GONZÁLEZ-BADILLO; GOROSTIAGA, 2001; KOMI, 2003; FORTEZA, 2006;

FLECK; KRAEMER, 2006).

A quantidade de transferência de um programa de TF para uma determinada

atividade física depende da especificidade entre o programa de treinamento e a atividade.

Por exemplo, exercícios multiarticulares (agachamento, por exemplo) podem ter maior

capacidade de transferência para a habilidade no salto vertical do que exercícios

monoarticulares isolados (extensão e flexão do joelho, por exemplo). Tanto os exercícios

multi quanto os monoarticulares propostos aumentam a força dos grupos musculares do

quadríceps e isquiotibiais. Entretanto, uma maior similaridade com os movimentos

biomecânicos e dos padrões de recrutamento das fibras musculares entre um exercício

multiarticular e a maioria das atividades esportivas resulta numa maior especificidade de

transferência (FLECK; KRAEMER, 2006).

Quando se inicia um programa de TF, tem-se um aumento rápido da força em

um tempo relativamente curto. Este aumento está associado a fatores neurais, que estão

relacionados aos seguintes processos: aumento da função neural do músculo (frequência de

disparo e recrutamento), aumento da sincronização das unidades motoras, incremento da

ativação dos músculos agonistas e redução da ativação dos antagonistas, coordenação de

todas as unidades motoras e dos músculos envolvidos no movimento e inibição dos

mecanismos musculares protetores (órgãos tendinosos de Golgi) (GONZÁLEZ-BADILLO;

GOROSTIAGA, 2001; WEINECK, 2005; FLECK; KRAEMER, 2006; FORTEZA, 2006;

FORTEZA; RAMIREZ, 2007).

4.2.2 Velocidade

Dentre as formas que o conceito de velocidade pode ser observado, este

trabalho o associa à velocidade de deslocamento. Segundo Tubino (1993), a velocidade de

deslocamento é a capacidade máxima de um indivíduo deslocar-se de um ponto ao outro. A

capacidade física velocidade manifesta-se quando o atleta realiza ações motoras no menor

tempo possível durante um determinado percurso (ZAKHAROV; GOMES, 2003; GOMES,

2009).

12

A melhoria da velocidade está intrinsicamente ligada à melhoria do componente

força dos movimentos. Um volume adequado de exercícios com pesos provoca um efeito

residual positivo durante certo tempo após o exercício ser concluído. Ele extrai um efeito

estimulante sobre o aparelho locomotor, melhorando a coordenação e a rapidez de

estimulação dos músculos associados ao gesto motor, contribuindo para a melhora dos

níveis de velocidade (ZAKHAROV; GOMES, 2003).

A palavra sprint significa correr na velocidade máxima do indivíduo. Esta ação

é influenciada por uma ampla gama de fatores, tais como: idade, gênero, estatura e

experiência são alguns dos fatores de influência interna; enquanto que a superfície de

contato e condições ambientais como altitude e velocidade do vento são alguns dos fatores

de influência externa (WILLIAMS, 2009).

4.2.2.1 Relação força, velocidade e potência

A velocidade de execução está estreitamente relacionada com a força. Quanto

maior a resistência, maior a relação entre ambas. Uma maior aplicação de força pode levar

a uma melhoria da potência, o que traduz em uma velocidade mais alta de deslocamento ou

de execução de um gesto esportivo (GONZÁLEZ-BADILLO; GOROSTIAGA, 2001).

A relação de força-velocidade define a força máxima de um músculo, a um

dado comprimento, como uma função da velocidade de contração. A potência muscular é

definida como um produto da força e velocidade (F . v). Portanto, para uma dada relação

força-velocidade de um músculo, sua potência instantânea como uma função da velocidade

de ação pode ser determinada através de toda uma gama de velocidades de encurtamento

(KOMI, 2003).

Com poucas exceções, a geração de potência é fundamental para o desempenho

em esportes competitivos. A potência (P) pode ser definida como o trabalho realizado

(força [f] x distância [d]) dividido pela velocidade (v), gerando a fórmula: P = (f x d) / v.

Dessa forma, fica evidente que tanto força quanto velocidade são componentes essenciais

para a geração de potência (WHITE, 2006).

13

4.2.3 Resistência

A resistência, como capacidade física, é caracterizada diante da possibilidade

do desportista de realizar o trabalho muscular durante um tempo prolongado, mantendo o

movimento proposto dentro de parâmetros adequados e com um mínimo de efetividade

(ZAKHAROV; GOMES, 2003; FORTEZA; RAMIREZ, 2007).

A resistência depende de muitos fatores, tais como a velocidade, a força

muscular, a capacidade técnica de execução eficiente de um movimento, a capacidade de

utilizar os potenciais funcionais de forma econômica, o estado psicológico no momento de

executar o trabalho, entre outros. Portanto, esta capacidade pode ser compreendida como o

resultado de um processo de adaptação a uma atividade específica, desde a mais breve

duração até a atividade prolongada, e realizada sistematicamente (FORTEZA; RAMIREZ,

2007).

A forma de desenvolvimento desta capacidade está condicionada às vias

metabólicas de ressíntese da ATP (adenosina trifosfato) do organismo do desportista

(QUADRO 1) e ao grau em que se ajusta às exigências de cada modalidade desportiva

específica (PLATONOV, 2001).

Quadro 1 - Classificação da resistência em relação aos sistemas energéticos

Via metabólica de ressíntese

do ATP Tipo de Resistência

Aeróbia Aeróbia

Glicólise

Aeróbio – Anaeróbio Mista

Glicólise Anaeróbia Láctica Anaeróbia Láctica

Anaeróbio Aláctico Anaeróbia Aláctica

Fonte: Adaptado de Forteza; Ramirez (2007).

Dentre as diversas formas de classificar a resistência, uma delas tem grande

importância dentro do processo de periodização e planificação do treinamento desportivo:

resistência geral e resistência especial (PLATONOV, 2001).

14

A resistência geral pode ser compreendida como a resistência aeróbia

(ZAKHAROV; GOMES, 2003; FORTEZA; RAMIREZ, 2007). Ela representa a

capacidade de executar (de forma prolongada e efetiva) um trabalho que influencie

positivamente sobre o processo de formação de componentes específicos da modalidade

esportiva, mediante aumento do grau de adaptação às cargas e ao fenômeno de

transferência do nível de preparação dos tipos de atividade não específicas para as

específicas (PLATONOV, 2001).

Nas modalidades desportivas de coordenação complexa (esportes coletivos, por

exemplo), a resistência geral se manifesta de forma indireta (ZAKHAROV; GOMES,

2003). Quando desenvolvida em níveis adequados, proporciona uma recuperação mais

rápida entre os esforços repetidos de alta intensidade numa mesma sessão de treinamento

(BISHOP, SPENCER, 2004), entre as sessões de treinamento e permitindo que o indivíduo

suporte o aumento gradual do volume de treinamento durante a temporada (ZAKHAROV;

GOMES, 2003). Isto facilita o bom desempenho em diversas atividades de treinamento e

competição, independente da especialização demandada pelo desporto (BOMPA, 2002).

Atletas de esporte coletivo que possuem um picoOV 2 adequado para a

modalidade apresentam um menor distúrbio metabólico proveniente do metabolismo

anaeróbio exigido nas ações definidoras do jogo. Isto permite que estes atletas mantenham

suas taxas de trabalho e potência em níveis melhores até o final da partida quando

comparados àqueles atletas com baixo condicionamento aeróbio (STONE; KILDING,

2009).

Já a resistência especial é a capacidade para executar um trabalho de forma

eficiente e superar a fadiga nas condições determinadas pelas exigências da atividade

competitiva de cada modalidade esportiva. Quando os fatores que determinam a

manifestação específica da resistência em uma ou outra modalidade são examinados a

fundo, surge inevitavelmente a necessidade de apresentar a resistência especial, tomando

em consideração as vias e mecanismos dos substratos energéticos, as manifestações

psíquicas envolvidas, as unidades motoras e o regime de trabalho dos músculos, tudo

associado com as capacidades técnicas e táticas dos atletas (PLATONOV, 2001).

15

4.3 Métodos de treinamento

Seja qual for a magnitude de exercícios de treinamento que será aplicada ao

atleta, deve-se utilizar algum tipo de estimulação orientada para alcançar determinados

objetivos. É nessa hora que se apresenta uma das categorias pedagógicas fundamentais: os

métodos de treinamento. Estes, quando planificados longitudinalmente, adquirem a

categoria de “sistemas metodológicos” (FORTEZA, 2001a). Entende-se por métodos de

treinamento as diferentes formas pelas quais o exercício pode ser prescrito e,

consequentemente, realizado (MONTEIRO, 2002). Compreendem os diversos

procedimentos tomados com o intuito de sistematizar os meios de treinamento e, dessa

forma, maximizar os resultados objetivados (GOMES, 1999).

Neste contexto, é importante salientar que nenhum método é mais completo do

que outro por excelência, pois cada um deles responde a direções específicas da carga de

treinamento. Dessa forma, nenhum método substitui ao outro (FORTEZA, 2001b).

Na base da classificação geral dos métodos orientados para o treinamento das

capacidades físicas estão alguns indícios externos dos exercícios. Assim, eles podem ser

executados de forma contínua ou intervalada. Ambas as possibilidades podem se

caracterizar pelos parâmetros constantes ou variáveis do exercício. Além disso, pode existir

uma combinação de ambos durante a execução (método de exercício variável)

(ZAKHAROV; GOMES, 2003; FORTEZA, 2001a, 2006; FORTEZA; RAMIREZ, 2007).

4.3.1 Método de treinamento contínuo

O método contínuo é fundamental para o treinamento de modalidades cíclicas

de longa duração, tais como a corrida e o ciclismo, e para desenvolver a resistência

cardiorrespiratória de base necessária em outras modalidades esportivas (MONTEIRO,

2002). Trata-se de exercícios de movimentação ininterrupta, em geral de longa duração, e

que fundamentalmente visa o desenvolvimento cardiorrespiratório (TUBINO, 1993;

WEINECK, 2005; FORTEZA, 2006), com a intensidade ficando entre 75-80% em relação

à máxima carga de trabalho estabelecida (FORTEZA, 2001a, 2001b, 2006; FORTEZA;

RAMIREZ, 2007).

16

A vantagem deste método consiste em evocar adaptações fisiológicas naqueles

sistemas orgânicos responsáveis pela captação (sistema respiratório), transporte (sistema

cardiovascular) e utilização (sistema muscular) do oxigênio (FORTEZA, 2006; FORTEZA;

RAMIREZ, 2007). Os métodos contínuos podem ser invariáveis ou variáveis (FORTEZA,

2001b).

4.3.1.1 Método de treinamento contínuo invariável

Como o próprio nome indica, as cargas são aplicadas sem variação. Utiliza-se,

em geral, como ferramenta para o desenvolvimento da resistência aeróbia, tendo como base

exercícios cíclicos e acíclicos (o primeiro com maior destaque). É caracterizado por sua

execução prolongada e com intensidade moderada (75-85% em relação à máxima carga de

trabalho estabelecida). São amplamente utilizados nas primeiras etapas do processo de

preparação. Os efeitos alcançados pela sua utilização influenciam significativamente todas

as etapas posteriores do processo de treinamento. Apesar de não constituir um método de

preparação determinante para o rendimento ótimo durante a prática de modalidades

esportivas com características intermitentes (devido a sua característica de longa duração e

intensidade moderada), ele cria a base para o atleta destas modalidades se recuperar com

maior eficiência de trabalhos que exijam esforços mais intensos e prolongados (FORTEZA,

2001a, 2001b).

4.3.1.2 Método de treinamento contínuo variável

Caracteriza-se pela variação da magnitude externa da carga, mediante o ritmo

de execução dos exercícios. A variação da magnitude está entre 75-95% em relação à

máxima carga de trabalho estabelecida. Ao se analisar a essência deste método, percebe-se

que pode se assemelhar ao método descontínuo com intervalos ativos de recuperação. A

ideia é buscar uma recuperação parcial do organismo nos momentos de menor intensidade

após ter realizado um trabalho em intensidades maiores, tudo de maneira ininterrupta

(FORTEZA, 2001a, 2001b).

17

4.3.2 Método de treinamento descontínuo

São caracterizados pela alternância entre períodos de estímulo e recuperação,

com intensidade e duração controladas, ao mesmo tempo em que exigem uma orientação

das variáveis de treinamento nos objetivos propostos (TUBINO, 1993).

4.3.2.1 Método de treinamento descontínuo de repetição

Consistem na alteração sistemática entre o estímulo e a recuperação. Sua

característica básica é o uso de alta intensidade (superior a 95% em relação à máxima carga

de trabalho estabelecida) durante estímulos de duração muito curta. O tempo de

recuperação tanto nas pausas entre as repetições (micropausas), quanto nas pausas entre as

séries (macropausas), deve ser suficiente para restabelecer o sistema energético que foi

priorizado na elaboração da atividade. Este método prioriza a via anaeróbia alática (ATP-

CP) (FORTEZA, 2001b).

4.3.2.2 Método de treinamento descontínuo intervalado

Embora o método de exercício contínuo constitua o fundamento do treino de

resistência aeróbia, o treino desta capacidade não deve se limitar a ele. Deve ser levado em

conta o método intervalado constituído com base nos exercícios de regime misto

(aeróbio/anaeróbio). O treinamento intervalado exige com que o atleta execute o exercício

em uma intensidade muito maior àquela observada no treinamento de natureza contínua.

Esta maior intensidade do treinamento intervalado potencializa as adaptações fisiológicas

dos sistemas orgânicos relacionados ao max2OV e, consequentemente, o aprimoramento

do desempenho de natureza aeróbia (FORTEZA, 2006, 2007). Atletas bem treinados não

são capazes de manter a intensidade de 90-95 % do max2OV por mais de 20-30 minutos e

que a intensidade de 100% do max2OV é sustentada por 6-10 minutos. Dessa forma, o

método de treinamento intervalado oferece possibilidades mais favoráveis à criação das

influências de treino que visam o aumento das possibilidades do atleta de desempenhar

esforços na intensidade associada ao max2OV (ZAKHAROV; GOMES, 2003).

18

Para Bompa (2005), o treinamento intervalado pode ser pensado mediante a

duração do estímulo. Dessa forma, ele pode ser elaborado da seguinte maneira:

TI de curta duração: estímulos de 15 segundos a 2 minutos, que teria a

resistência anaeróbia láctica como prioridade;

TI de média duração: estímulos entre 2 e 8 minutos, que desenvolveria

tanto a resistência anaeróbia quanto a aeróbia (com predominância

desta última a medida que o tempo aumenta);

TI de longa duração: estímulos entre 8 a 15 minutos, com um efeito de

treinamento incidindo prioritariamente na resistência aeróbia.

Os intervalos de estímulo e recuperação apresentam relação entre si, ficando

estabelecida uma relação estímulo-recuperação que, em geral, é expressa da seguinte

maneira: 1:1/2, 1:1, 1:2, 1:3 etc. Uma razão 1:1/2 implica que o tempo de recuperação é a

metade do tempo destinado ao estímulo. Já quando esta razão se apresenta 1:1, entende-se

que o tempo de recuperação e de estímulo são iguais e assim se segue a forma de interpretar

a relação estímulo-recuperação (FORTEZA, 2006; FORTEZA; RAMIREZ, 2007).

Esta relação não deve ser vista apenas sob o ponto de vista matemático. É

necessário considerar o momento de aplicação da recuperação, podendo ocorrer uma

derivação maior ou menor da proporção estabelecida (FORTEZA, 2006; FORTEZA;

RAMIREZ, 2007).

Tabela 1 – Indicações para prescrição de treinamento intervalado de acordo com as diversas direções

bioenergéticas do treinamento

Via metabólica

de ressíntese do

ATP

Tempo de

estímulo Série Repetições

Total de

repetições

Relação

estímulo/recuperação

ATP-CP 10 – 25 s 5 10 50 1:3 – 1:2

Glicolítica 30 s – 3 min 5 5 25 1:2 – 1:1

Aeróbia 3 – 5 min 1 3 3 1:1/2 – 1:1

Legenda: ATP – adenosina trifosfato.

Fonte: Adaptado de Forteza (2006).

19

O treinamento intervalado orientado para a evolução da via metabólica

glicolítica (treinamento intervalado glicolítico) mostrou-se eficiente em induzir rápidas

alterações na capacidade de realizar exercícios intensos e no metabolismo energético do

músculo esquelético. A eficiência notável deste tipo de treinamento é provavelmente um

resultado do estresse simultâneo e elevado tanto do sistema energético aeróbio quanto

anaeróbio (GIBALA; MCGEE, 2008). Em um curto período de tempo, o treinamento

intervalado com intensidades elevadas mostrou promover adaptações neurais e aumento dos

níveis de Cr (creatina) e CK (creatina cinase), com melhora simultânea na capacidade

oxidativa muscular, conteúdo intramuscular de glicogênio, bem como melhora da

capacidade de tamponamento muscular, os quais são fatores que beneficiariam a

manutenção de exercícios de alta intensidade (GIBALA et al., 2006; BURGOMASTER et

al., 2008; GIBALA; McGEE, 2008; KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2012) .

Estímulos de alta intensidade e curta duração (com breves períodos de

recuperação entre eles) são comuns em esportes coletivos como futebol e basquetebol.

Como seria de se esperar, a percentagem de ATP necessária varia de acordo com a duração

do sprint e do período de recuperação entre os sprints sucessivos. Durante dois sprints de

30 segundos realizados num cicloergômetro e separados por quatro minutos de

recuperação, há aproximadamente uma redução de 41% do primeiro para o segundo sprint

da quantidade de ATP gerada anaerobiamente (BOGDANIS et al., 1996). A diminuição da

quantidade de ATP gerado anaerobiamente é parcialmente compensada por um aumento de

15% no consumo de oxigênio durante o segundo sprint, resultando em uma redução

aproximada de 18% da potência durante o segundo sprint. Isto indica que a maior

porcentagem da necessidade de ATP foi gerada aerobiamente no segundo sprint comparada

com o primeiro. Portanto, a interação entre as fontes metabólicas de ATP se modificam a

medida que se realizam mais sprints (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2012).

Um porém quanto ao treinamento intervalado glicolítico está exatamente no

grande estresse que este impõe ao metabolismo anaeróbico glicolítico. A utilização

exagerada e desregrada do método (juntamente com as demais cargas associadas ao

treinamento e à competição) pode impactar negativa e sem muita demora junto ao

organismo do atleta (WEINEK, 2005).

20

Balabinis et al. (2003) demonstraram que o treinamento intervalado aeróbio

tradicional foi eficiente em aumentar o picoOV 2 (variável fisiológica que reflete o

max2OV em situações onde não se pode garantir que o max2OV tenha sido atingido –

KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2012) em jogadores de basquetebol universitário que

treinaram simultaneamente tanto a força muscular, quanto o condicionamento aeróbio.

Neste estudo, os sujeitos foram divididos em um grupo de treinamento aeróbio e outro de

treinamento concorrente (força e aeróbio). O grupo treinamento aeróbio melhorou o

picoOV 2 em 7 %, ao passo que o grupo de treinamento concorrente apresentou um

aumento de 13 %.

4.4 Estrutura e organização do treinamento desportivo

Um programa de treinamento deve ser planejado de acordo com o princípio da

individualidade biológica, a fim de atender as necessidades de cada atleta. A variação

interindividual na resposta ao exercício e taxa de adaptação são parcialmente ocasionadas

por diferenças genéticas. A predominância relativa de unidades motoras de contração

rápida ou lenta nos músculos e fatores endócrinos determinam em grande medida o nível de

adaptação. O nível de competitividade do atleta também pode afetar a individualização dos

programas de treinamento, particularmente em relação ao volume total, que pode se

estender de 8 a mais de 30 horas por semana (WHITE, 2006).

Os preceitos do planejamento defendidos por Mestre Sancho (1997) apud

Forteza (2006) apresentam as seguintes diretrizes:

1. O planejamento não é intuitivo e não pode ficar ao acaso. Pelo

contrário, deve seguir um processo;

2. Os fins e os objetivos devem estar em concordância com os problemas

e consequentes necessidades, devendo ser estabelecidos e

determinados com clareza. De outra forma, corre-se o risco de se

planejar um processo que caminhará para algo diferente do que é

realmente necessário e correndo o risco de não saber o porquê;

21

3. As metas, os objetivos e, em última análise, os fins devem ser

alcançáveis e realistas (o que não exclui certa dose de ousadia e risco);

4. O planejamento é um processo sequencial e, logicamente, ordenado.

Não se desenvolve simultaneamente ou de qualquer forma;

5. O planejamento está imerso em seu meio ambiente, não podendo

desprender-se e nem ser trabalhado à margem deste;

6. Todo planejamento pressupõe uma mudança efetiva com respeito à

situação existente em que se inicia o projeto;

7. O planejamento é confeccionado para ser executado. Não se pode

falar verdadeiramente de planejamento em um trabalho

exclusivamente teórico, sem intenção de ser colocado em prática

posteriormente. Portanto, deve haver emprego de grandes esforços

para efetivá-lo.

Considera-se que o planejamento do treinamento desportivo é a organização de

tudo o que ocorre nas etapas de preparação do atleta. Por sua vez, é o sistema que inter-

relaciona os momentos de preparação e competição. Dessa forma, fica implícito o problema

atual do planejamento para o desempenho competitivo (FORTEZA, 2006).

Outra questão a ser elucidada é a de que estruturar e planejar são termos

inseparáveis no processo de preparação desportiva. Entretanto, os dois são diferentes. A

estrutura é a organização do período de tempo de treinamento como, por exemplo, as

competições. A estrutura do treinamento tem caráter temporal, pois considera um início e

um fim dos processos de preparação e competição, que estarão determinados

fundamentalmente por:

1. Calendário competitivo, que considera o número de competições, a

frequência, o caráter e a dispersão ou concentração das competições

em dado período de tempo;

2. A organização e a prescrição da carga considera se elas serão diluídas

ou concentradas, de acordo com a concepção que se adote em relação

ao caráter da carga, isto é, a proporcionalidade entre cargas gerais e

especiais;

22

3. As direções do treinamento, objeto de preparação que considera as

dimensões determinantes do desempenho e as direções condicionantes

do desempenho.

4.4.1 Componentes da periodização: os ciclos de treinamento

Desde o período da arte do Treinamento Desportivo, precisamente nos relatos

do sistema de preparação desportiva da Grécia antiga, já eram aplicadas as chamadas

“tetras”, que eram ciclos de treinos sucessivos realizados em 4 dias. Nas últimas décadas,

os ciclos de treinamento recebem grande interesse de investigação científica, pois são

entendidos como fatores fundamentais para o sucesso desportivo (TUBINO, 1993).

O volume e a intensidade de treinamento variam de forma inversa durante os

ciclos de treinamento; aumentos no volume de treinamento são acompanhados por

diminuição da intensidade e vice-versa. No entanto, o perfil de cada ciclo depende do nível

de competitividade e sobre as demandas específicas de uma determinada modalidade

esportiva. Quanto à diferenciação por gênero, não há nenhuma evidência de que

periodização deva ser diferente para os competidores masculinos e femininos (TUBINO,

1993; WHITE, 2006).

4.4.1.1 Microciclo

A origem do termo microciclo vem dos idiomas grego e latim. Micros, do

grego, significa pequeno, e cyclus, do latim, refere-se à frequência de um fenômeno que se

sucede regularmente (BOMPA, 2002).

Os microciclos ocupam uma extensão temporal menor dentro da macroestrutura

de treinamento (WEINECK, 2005). Eles são, provavelmente, a ferramenta mais importante

e funcional do planejamento do treinamento, porque suas estruturas e conteúdo determinam

a qualidade do processo (BOMPA, 2002). Na prática, utilizam-se os microciclos curtos e

longos, cuja razão de ser é a alternância entre esforço e recuperação, de maneira a evitar

que o atleta fique permanentemente em estado de cansaço crônico (psicofísico)

(ZAKHAROV; GOMES, 2003). Eles se ajustam com maior precisão às circunstâncias do

momento – estado atual de treinamento, disposição para o esforço, condições climáticas

23

(WEINECK, 2005). Representam o elemento da estrutura de preparação do atleta que inclui

uma série de sessões de treino ou de competições, visando à solução de tarefas do

mesociclo referido (etapa) de preparação (ZAKHAROV; GOMES, 2003).

Sendo elemento da estrutura geral de preparação, o microciclo resolve as tarefas

programadas nesta dentro do correspondente período de tempo. A sua duração pode variar

de 3 a 14 dias. Na prática do desporto, tem-se utilizado mais frequentemente os microciclos

de 7 dias, porque fica mais fácil coordenar a programação pelo regime semanal, pois fica

mais ajustado ao cotidiano do desportista e de fatores periféricos como a agenda do ginásio

(PLATONOV, 2001; ZAKHAROV; GOMES, 2003; WEINECK, 2005).

Nem todas as sessões de treinamento dentro de um único microciclo possuem

as mesmas características, alternando-se de acordo com os objetivos, volume, intensidade e

métodos, alguns dos quais podem dominar a fase de treinamento (BOMPA, 2002).

De acordo com Zakharov e Gomes (2003), a estrutura e o conteúdo do

microciclo apresentam características diferentes, que estão condicionadas por uma série de

fatores. Podem-se destacar alguns indícios gerais que lhes são próprios em diferentes

modalidades desportivas e, com base nisso, classificá-los. Convém destacar, como principal

indício de classificação, a tarefa que se resolve em determinado microciclo, assim como a

composição de meios e métodos de treinamento, a grandeza e a orientação predominante da

carga que constituem seu conteúdo. Os microciclo podem ser:

Ordinário;

Choque;

Estabilizador;

Recuperativo;

Controle;

Precompetitivo;

Competitivo.

O microciclo ordinário caracteriza-se por uma soma de cargas mais moderadas

(cerca de 60-80 % em relação à máxima carga de trabalho estabelecida). Representa a base

da forma estrutural do processo de treinamento de diferentes níveis de rendimento. O

24

conteúdo específico constitui de 2 a 6 sessões de treino com cargas constantes

(ZAKHAROV; GOMES, 2003).

Já o microciclo de choque caracteriza-se pela soma de cargas máximas ou

próximas destas (80-100 % em relação à máxima carga de trabalho estabelecida). A carga

deste microciclo constitui o fator de maior influência quanto a estimular o processo ativo de

adaptações orgânicas. O conteúdo perfaz de 2 a 5 cargas de choque na semana

(ZAKHAROV; GOMES, 2003).

O grande número de cargas próximas da máxima em um mesmo microciclo é a

causa de parte da recuperação incompleta ou fadiga apresentadas em algumas sessões de

treinamento. Dessa forma, a aplicação de um microciclo com esta orientação deve ser

acompanhada de um controle rigoroso do estado do atleta para evitar demasiada sobrecarga

sobre os sistemas funcionais orgânicos. Apresenta-se coerente, portanto, alternar as cargas

de choque com cargas de menor impacto (ZAKHAROV; GOMES, 2003).

Na sequência do microciclo ordinário e de choque vem, geralmente, o

microciclo estabilizador, cujo objetivo é assegurar a estabilidade do estado orgânico do

atleta alcançado no microciclo anterior. Sessões de treinamento com cargas entre 40-60 %

em relação à máxima carga de trabalho estabelecida mostram-se adequadas à ideia do

microciclo. Esse tipo de microciclo asseguram condições mais favoráveis para os processos

de recuperação do organismo do atleta (ZAKHAROV; GOMES, 2003).

O microciclo recuperativo, como o próprio nome diz, visa recuperar o estado

orgânico do atleta. De uma forma geral, esta recuperação vem através da redução das

cargas de treinamento (utilizando cerca de 10-20 % em relação à máxima carga de trabalho

estabelecida). A estrutura e o conteúdo do microciclo são subordinados à tarefa de

assegurar a recuperação mais completa e eficaz. Isso explicaria a presença de um grande

número de sessões de treinamento com cargas de baixa magnitude (ZAKHAROV;

GOMES, 2003).

Estas cargas impostas aos atletas de alto rendimento necessitam ser verificadas

quanto ao seu efeito sobre o organismo destes indivíduos. Para tanto, estipulou-se o

microciclo de controle. É normalmente empregado ao final das etapas de treinamento e

visa verificar o nível de preparação do atleta e avaliar a eficiência do trabalho realizado até

25

então. Combina-se as ações de treinamento com os testes para verificação das condições

fisiológicas, assim como implementar competições controle. Isto permite verificar mais

precisamente o estado geral do atleta (físico, psíquico, clínico, técnico e tático). Com os

dados levantados, faz-se os ajustes pertinentes para as etapas posteriores (ZAKHAROV;

GOMES, 2003).

Já o microciclo precompetitivo é estruturado conforme o desenho da

competição principal. O objetivo deste microciclo é assegurar o estado de ótima prontidão

para o dia das competições, graças a mobilização de todas as capacidades potenciais do

atleta e que foram acumuladas no processo de preparação precedente, além da adaptação às

condições específicas da competição. De forma geral, este microciclo dura de 5 a 10 dias.

Seu conteúdo é determinado pelo estado individual do atleta, pelo trabalho de treino

precedente e pelas condições da competição que está por vir. Não é permitida a utilização

de cargas máximas. Isso não quer dizer que não se possa ações de alta intensidade. Porém,

estas devem vir seguidas de estratégias de recuperação completa (ZAKHAROV; GOMES,

2003).

Por fim, vem o microciclo que justifica a existência de todos os demais: o

microciclo competitivo. Este visa assegurar que o estado de preparação conquistado

durante todo o período de preparação se manifeste no decorrer das competições. A estrutura

e a duração do microciclo são determinadas em conformidade com o regulamento das

competições e com a especificidade da modalidade desportiva (ZAKHAROV; GOMES,

2003).

4.4.1.2 Mesociclos

Os mesociclos de treinamento representam a combinação de alguns microciclos

e também é o elemento da estrutura de preparação do atleta orientado para solução das

tarefas de determinado macrociclo (FORTEZA, 2006; GOMES, 2009). O mesociclo trata

da estrutura de carga que varia de 3 a 6 semanas (GOMES, 2009) ou 3 a 6 microciclos

(FORTEZA, 2006). A ordem e a combinação dos microciclos e sua variabilidade dependem

da formação geral do processo de treinamento e das tarefas de uma ou outra sessão de

treinamento (FORTEZA, 2006).

26

A estruturação dos mesociclos pode ser influenciada pelos seguintes fatores

(ZAKHAROV; GOMES, 2003; FORTEZA, 2006; GOMES, 2009):

A principal tarefa a ser resolvida pelo mesociclo;

O regime de atividade do atleta;

O momento do referido mesociclo na estrutura do macrociclo;

O conteúdo e a qualidade das sessões de treinamento, além da

magnitude da carga;

As particularidades de reação em cada atleta perante as cargas de

treinamento;

A composição dos meios e métodos de treinamento aplicados no

mesociclo;

Os tipos de microciclo que compõe o conteúdo predominante do

mesociclo estabelecido;

Forteza e Ramirez (2007) citam que as condições que desempenhariam papel

fundamental na formação da estrutura dos mesociclos seriam:

A necessidade do mesociclo surge, principalmente, devido à sua

capacidade de dirigir, de forma racional, os efeitos acumulativos do

treinamento na série de microciclos, garantindo elevados ritmos de

desenvolvimento do nível de treinamento e prevendo as alternâncias

nos processos de adaptação originadas no organismo do atleta sob as

influências das cargas de treinamento acumuladas. As trocas

adaptativas tem lugar no organismo de forma heterogênea e, em uma

ou outra medida, atrasam-se em relação à distância das cargas de

treinamento;

O caráter e a duração dos mesociclos influem nas oscilações

biorrítmicas (cerca de um mês) da atividade vital do organismo do

atleta;

O lugar do mesociclo no sistema geral de construção do treinamento

influi sobre a estrutura do macrociclo. Deste fator depende o conteúdo

27

do mesociclo, a magnitude dos intervalos entre eles e as condições de

restabelecimento.

Ao ponderar sobre estes questionamentos, pode-se dar aos mesociclos as

seguintes variações citadas por Zakharov e Gomes (2003).

Mesociclo inicial;

Mesociclo básico;

Mesociclo recuperativo;

Mesociclo de controle;

Mesociclo precompetitivo;

Mesociclo competitivo.

O mesociclo inicial geralmente é o primeiro dentro do período preparatório do

macrociclo. A sua tarefa consiste em assegurar a passagem paulatina do organismo do

atleta da baixa aptidão inicial para parâmetros de desempenho superiores, preparando para

a carga planejada para os mesociclos posteriores (ZAKHAROV; GOMES, 2003).

Já o mesociclo básico é onde se realiza o principal trabalho de treinamento

quanto ao aperfeiçoamento de diversos aspectos da preparação do atleta. Pela composição

dos meios de treinamento, este mesociclo se divide em desenvolvimento e estabilizador

(ZAKHAROV; GOMES, 2003).

O mesociclo básico de desenvolvimento é a forma principal de organização das

influências de treinamento que visam a obtenção do efeito acumulativo de treino, que está

na base da elevação do nível de treinamento do atleta. Tal ciclo caracteriza-se pela

grandeza considerável de cargas (geralmente próxima da máxima para um dado nível de

preparação) (ZAKHAROV; GOMES, 2003).

O segundo tipo de mesociclo básico é o estabilizador. Este tem por objetivo

consolidar as mudanças obtidas anteriormente, que são asseguradas pela redução

insignificante ou pela estabilização das cargas alcançadas anteriormente (ZAKHAROV;

GOMES, 2003).

Um terceiro mesociclo seria o recuperativo, que se aplica no período

transitório de preparação, quando tem importância predominante as tarefas de recuperação

28

completa após um período prolongado de cargas máximas de treinamento e competição.

Este mesociclo é importante para a adaptação do organismo do atleta, pois permite prevenir

a transformação da fase de resistência em uma fase de profundo esgotamento e de fracasso

de adaptação. Tem por característica a redução do volume e da intensidade das cargas (por

volta de 20-30 % em relação aos parâmetros do mesociclo básico de desenvolvimento)

(ZAKHAROV; GOMES, 2003).

O mesociclo de controle geralmente conclui o período preparatório. Sua

principal tarefa consiste em assegurar um controle da eficiência dos mesociclos básicos

anteriores e a adaptação do atleta às exigências dos mesociclos competitivos posteriores. O

conteúdo do mesociclo deve apresentar diferentes formas de observação, permitindo um

olhar sobre todas as áreas do processo de treinamento (técnico, tático, físico, psíquico e

clínico). O treinamento, então, passa a ser combinado com a participação em competições

teste. Durante este mesociclo, eventuais deficiências na preparação do atleta devem ser

corrigidas (ZAKHAROV; GOMES, 2003).

Aproximando-se da competição alvo, faz-se presente o mesociclo

precompetitivo, que se destaca como um componente estrutural que assegura a preparação

imediata para a competição principal do macrociclo. Durante este mesociclo, resolve-se

todo um conjunto de tarefas que incluem a recuperação após a etapa precedente de

competições seletivas, a manutenção e eventual elevação do nível atingido, a eliminação de

pequenos equívocos da preparação, a solução do estado psíquico do atleta, a adaptação das

condições de realização das competições principais etc. A necessidade de solução dessas

tarefas condiciona a inclusão de diferentes tipos de microciclos, cujo conteúdo poderá

variar dependendo do estado do atleta (ZAKHAROV; GOMES, 2003).

E, por fim, há o mesociclo competitivo, que representa a base do período

competitivo. A sua estrutura e seu conteúdo são determinados pela especificidade da

modalidade desportiva, pelo sistema de preparação competitiva, pelas particularidades do

calendário de competições, pelo nível da qualificação do atleta, além de outros fatores

(ZAKHAROV; GOMES, 2003).

29

4.4.1.3 Macrociclos

Um ciclo anual de treinamento pode apresentar mais de um pico de

performance. A construção do processo de treinamento para atingir tal pico é chamado de

macrociclo. Estudiosos estão de acordo que o planejamento anual pode ter um macrociclo,

quer dizer, apenas se visa a uma competição importante, ou mais de um macrociclo, o que

dependerá de quantas competições se buscará resultados significativos (PLATONOV,

2001; ZAKAROV; GOMES, 2003; FORTEZA, 2006; FORTEZA; RAMIREZ, 2007;

GOMES, 2009).

De acordo com Zakharov e Gomes (2003), cada macrociclo é composto por três

períodos: o preparatório, o competitivo e o de transição (QUADRO 2). Cada um desses

períodos apresentam tarefas específicas a serem cumpridas:

Preparatório: deve assegurar o desenvolvimento das capacidades

funcionais do desportista e pressupõe a solução de tarefas de

aperfeiçoamento de vários aspectos do estado de preparação,

podendo-se destacar as etapas de preparação geral e as de preparação

especial;

Competitivo: deve criar condições para o aperfeiçoamento de diversos

fatores de preparação desportiva. A preparação deve ser integral e

ocorre numa sequência lógica de conteúdos distribuídos na etapa

precompetitiva e competitiva propriamente dita;

Transitório: contribui para a recuperação completa do potencial de

adaptação do organismo do desportista e serve de ligação entre dois

macrociclos.

O período preparatório é constituído de três etapas. Na primeira etapa,

resolvem-se principalmente as tarefas de preparação física, que asseguram o

aperfeiçoamento complexo das capacidades físicas do atleta. Utiliza-se nesta etapa

exercícios técnicos e táticos que não representem grande complexidade de coordenação e

sejam bem assimilados pelos desportistas (PLATONOV, 2001; ZAKHAROV; GOMES,

2003).

30

Na segunda etapa, dá-se prioridade ao trabalho direto de assimilação de novos

elementos técnicos e táticos e o aperfeiçoamento dos elementos anteriormente aprendidos.

A preparação física, nesta etapa, tem significado subordinado e deve contribuir para a

solução de tarefas de aperfeiçoamento técnico-tático. Os exercícios de preparação física

adquirem orientação cada vez mais especial (PLATONOV, 2001; ZAKHAROV; GOMES,

2003).

A terceira etapa visa a unificação dos elementos dominados numa combinação

competitiva integral e única. A preparação técnico-tática objetiva é a consolidação dos

hábitos adquiridos e ao aumento da segurança em aplicá-los às principais condições de

competição (PLATONOV, 2001; ZAKHAROV; GOMES, 2003).

4.4.2 Periodização do treinamento desportivo

O termo periodização origina-se da palavra período, que é uma porção ou

divisão do tempo em segmentos menores denominados fases (BOMPA, 2002).

A forma encontrada com maior frequência na preparação dos atletas é a

organização do processo de treinamento por meio de ciclos ou etapas. O russo Matveev,

baseado nos ciclos de supercompensação criados pelo austríaco Hans Selye e

posteriormente modificados pelo bioquímico russo Yakovlev, criou a periodização do

treinamento apoiado nas avaliações estatísticas do comportamento dos atletas nas diversas

modalidades esportivas na ex-URSS, nas décadas de 1950 e 1960 (FORTEZA, 2006).

A maneira de organização do treinamento pensada por Matveev fundamentava

a premissa de que o atleta precisa construir, manter e depois perder relativamente a sua

forma desportiva ao longo dos grandes ciclos anuais de treinamento (FORTEZA;

RAMIREZ, 2007). Assim, a periodização do treinamento desportivo pode ser entendida

como uma divisão organizada de um período de treinamento dos atletas na busca de

prepara-los para alcançar certos objetivos estabelecidos previamente, ou seja, obter a

melhor forma desportiva por meio do ajuste da dinâmica das cargas de treinamento para um

determinado momento da temporada (PLATONOV, 2001; FORTEZA, 2006).

31

Como apresentado em Forteza e Ramirez (2007), os momentos de aquisição,

manutenção e perda da forma desportiva são tratados como os três grandes períodos de

treinamento (QUADRO 2):

a) Período preparatório: relativo à aquisição da forma desportiva;

b) Período competitivo: relativo à manutenção da forma desportiva;

c) Período transitório: relativo à perda da forma desportiva.

32

Quadro 2 – Síntese das particularidades dos períodos de treinamento

Fonte: Adaptado de Forteza (2006).

33

4.5 A carga de treinamento

Ao longo de várias décadas de investigação do treinamento desportivo,

observou-se que a melhora no desempenho atlético é resultado direto da quantidade e da

qualidade do trabalho que o atleta realiza durante o período de treinamento. Do estágio

inicial até o patamar do mais alto nível competitivo, a carga de treinamento precisa

aumentar gradualmente de acordo com as possibilidades fisiológicas e psicológicas do

indivíduo (BOMPA, 2002). Habitualmente, chama-se de carga o agente estressor que

provoca adaptações no organismo do desportista (ZAKHAROV; GOMES, 2003). Porém, a

carga de treinamento não se define por si mesma em uma expressão literal, uma vez que

sintetiza uma série de componentes internos que totalizam a sua definição. Quando baseado

na experiência prática do esporte competitivo e nos achados das pesquisas científicas, pode-

se conceituar a carga de treinamento como a relação inversa entre o potencial de

treinamento e a condição do atleta. Portanto, é a relação funcional de adaptação que exerce

o potencial de treinamento, gerando efeitos no organismo e condicionando um determinado

nível de preparação esportiva (FORTEZA, 1997).

Existe uma dependência constante dos resultados desportivos em relação aos

parâmetros das cargas no processo de preparação do atleta (ZAKHAROV; GOMES, 2003).

A dinâmica crescente destas cargas é o elemento que sinaliza ao organismo do atleta a

buscar esta reação anatômica, fisiológica e psicológica. Para suportar tamanho nível de

estresse, o indivíduo necessita de tempo e de uma orientação competente ao longo de sua

formação como desportista (GOMES, 2009). Portanto, proporção entre o rendimento

esportivo (resultado alcançado pelo atleta) e as cargas de treinamento constitui a célula

fundamental do trabalho e da pesquisa em todo o processo. Apesar disso, esta proporção

segue como sendo o elo mais fraco da Teoria e Metodologia do Treinamento Desportivo

(FORTEZA; RAMIREZ, 2007).

Esta reação de adaptação às influencias externas, essenciais à integridade do

organismo e ligadas ao consequente desenvolvimento do mesmo, passou a se chamar

Síndrome Geral de Adaptação segundo a concepção clássica de Selye (GRANELL;

CERVERA, 2001; ZAKHAROV; GOMES, 2003). A síndrome geral de adaptação é uma

adequação do organismo a qualquer estímulo ou causa que possa colocar em perigo seu

34

equilíbrio biológico (GRANELL; CERVERA, 2001). Esta resposta adaptativa pode ser

dividida em três fases:

Fase de alarme: surge em resposta à ação do agente estressor que

tenha alterado o equilíbrio homeostático;

Fase de resistência ou reação: caso a ação de estresse se repita

sistematicamente, o organismo inicia o processo de adaptação às

características do estímulo recebido;

Fase de esgotamento: aparece quando a ação dos agentes estressores

for prolongada, ou quando as exigências em relação às possibilidades

de adaptação do organismo forem extremamente elevadas e o

mecanismo de adaptação não consegue ser sustentado.

O fundamento fisiológico para este princípio é que, como resultado da relação

estresse/adaptação proporcionada pelo treinamento, a eficiência do organismo e a

capacidade para a realização do trabalho aumentam gradualmente após um determinado

período (COYLE, 2000). Entretanto, quando se pensa em níveis competitivos elevados,

qualquer acréscimo significativo no desempenho requer um longo período de treinamento e

adaptação (BOMPA, 2002). A não correspondência das cargas às possibilidades adaptativas

do desportista estimula o surgimento de tensão excessiva, overtraining ou de outros efeitos

deletérios similares (GOMES, 2009).

Durante a evolução do treinamento desportivo nas décadas passadas, constatou-

se que as capacidades do indivíduo se desenvolvem melhor com sua exposição a atividades

que requeiram esforços pouco habituais. No desporto, tal regra é revelada amplamente e é

observada principalmente durante a análise comparativa da dinâmica das cargas de

treinamento dos atletas de alto rendimento (GOMES, 2009). Cabe observar que a

preparação de um atleta é uma ação complexa determinada pelo desenvolvimento de

diversas capacidades motoras, maestria técnica e tática, além de uma indispensável

prontidão psicológica. Diferentes cargas exercem influências diferentes sobre os diversos

sistemas orgânicos, determinando os níveis de manifestação dos múltiplos aspectos da

preparação (ZAKHAROV; GOMES, 2003).

35

4.5.1 Componentes da carga de treinamento

O objetivo primário dentro do processo de treinamento é o desenvolvimento

máximo das capacidades do atleta, o que está relacionado a três fatores: (i) o incremento

das cargas de treinamento e competição, (ii) a complexidade das tarefas executadas no

processo de preparação e (iii) a superação das crescentes dificuldades que se apresentam

durante este processo (GOMES, 2009). Assim sendo, torna-se pertinente a observância de

que as características externas e internas destas cargas estão estritamente relacionadas, onde

o aumento dos aspectos quantitativos e qualitativos do treinamento abrange o aumento das

trocas do estado funcional dos diferentes sistemas e órgãos, a aparição e aprofundamento da

fadiga e, consequentemente, o aumento da duração dos processos de recuperação

(PLATONOV, 2001).

Convém distinguir duas formas de observar as cargas: a carga de treinamento e

a carga competitiva. A carga de treinamento está condicionada pela influência sobre o

organismo dos diversos tipos de exercícios preparatórios, enquanto que a carga competitiva

está condicionada à execução do exercício competitivo em si (ZAKHAROV; GOMES,

2003). A reconstituição do ambiente competitivo durante as sessões de treinamento

assegura uma maior mobilização informacional, energética e emocional dos praticantes,

permitindo integrar o conjunto de capacidades e as qualidades predominantes na

consecução dos objetivos da modalidade esportiva em uma estrutura única (FORTEZA;

RAMIREZ, 2007).

A magnitude das cargas de treinamento e competição remete novamente aos

seus aspectos externo e interno. O aspecto externo pode ser representado, de uma forma

geral, por alguns índices de volume de trabalho que consistem em: tempo total, quilômetros

percorridos (para atividades cíclicas), número de sessões de treinamento, número de

competições etc. No entanto, o aspecto que caracteriza com mais qualidade a magnitude

destas cargas é o aspecto interno, visto que possibilita observar as respostas orgânicas ao

esforço físico realizado (PLATONOV, 2001). A carga interna é a reação biológica dos

sistemas orgânicos frente à carga externa (FORTEZA; RAMIREZ, 2007). Quando se

dispõe de dados que representem informações sobre os efeitos agudos da carga, passa-se a

ter marcadores que podem caracterizar o grau de atividade dos sistemas funcionais

36

envolvidos no esforço físico. Alguns destes marcadores são: a FC, a frequência respiratória,

o consumo de oxigênio, a concentração de lactato, entre outros (PLATONOV, 2001;

FORTEZA; RAMIREZ, 2007).

Weineck (1991) assinala os componentes da carga como sendo:

Intensidade do estímulo (grau de força do estímulo);

Densidade dos estímulos (relação temporal entre as fases de trabalho e

recuperação);

Duração do estímulo (tempo transcorrido durante um estímulo isolado

ou de uma série de estímulos);

Volume dos estímulos (duração e número de estímulos por sessão de

treinamento);

Frequência de sessões de treinamento (número de unidades de

treinamento por dia, por semana etc).

O autor ainda assinala a duração e o volume do estímulo, assim como a

frequência dos treinamentos, como o aspecto quantitativo da carga. Por outro lado, a

intensidade e a densidade responderiam pelo aspecto qualitativo.

Como citado anteriormente, volume é o prerrequisito quantitativo para o

elevado desempenho técnico, tático e físico. Significa a quantidade total de atividade

realizada no treinamento e também diz respeito à soma do trabalho realizado em

determinada sessão ou fase de treinamento (BOMPA, 2002; FORTEZA, 2006). Já a

intensidade se refere à qualidade do trabalho realizado (FORTEZA, 2006). Ela depende

diretamente de componentes da carga como a velocidade de execução, a variação dos

intervalos de recuperação, a massa a ser mobilizada, entre outros (BOMPA, 2002). Em

atividades realizadas contra resistência ou onde a alta velocidade esteja envolvida, existe

um meio de quantificar a intensidade empregando-se porcentagens daquilo que se

estabelece como intensidade máxima (TABELA 2).

37

Tabela 2 - Escala de intensidade para exercícios de força e/ou velocidade

Nível de intensidade % do desempenho máximo Intensidade

1 30-50 Baixa

2 50-70 Intermediária

3 70-80 Média

4 80-90 Submáxima

5 90-100 Máxima

6 > 100 Supramáxima

Fonte: Adaptado de Bompa (2002).

Outra alternativa para se quantificar a intensidade seria baseando-a na demanda

bioenergética da atividade (TABELA 3), sendo esta maneira mais apropriada para os

esportes cíclicos (ciclismo, corrida de fundo etc).

Tabela 3 - As cinco zonas de intensidade para desportos cíclicos.

Zona Duração

(s/min) Nível de intensidade

Sistema de produção

de energia

% Ergogênese

Anaeróbia Aeróbia

1 1-15 s Acima do limite

máximo ATP-CP 100-95 0-5

2 15-60 s Máximo ATP-CP e AL 90-80 10-20

3 1-6 min Submáximo AL e aeróbio 70 30

4 6-30 min Médio Aeróbio 10 90

5 > 30 min Baixo Aeróbio 5 95

Legenda: AL – anaeróbio láctico; CP – creatina fosfato.

Fonte: Adaptado de Bompa (2002).

Os estonianos Viru e Viru (2003), considerando todos os componentes da carga

que podem contribuir para o estímulo oriundo de uma sessão de treinamento, propuseram o

conceito de carga total. Dessa forma, a carga poderia se classificada como:

Excessiva: ultrapassa a capacidade de adaptação do organismo (a

capacidade funcional da maioria dos sistemas) e provoca exaustão;

38

Exercitante: provoca a resposta adaptativa dirigida e específica.

Portanto, induz ao efeito desejado do treinamento;

Manutenção: é insuficiente para gerar uma resposta adaptativa, mas

suficiente para evitar o efeito de destreinamento;

Recuperação: é insuficiente para evitar os efeitos da falta de

treinamento, mas favorece os processos de recuperação depois de uma

carga exercitante;

Inútil: é o que o próprio nome diz quanto a utilização de um estímulo

débil.

4.5.2 Orientação da carga de treinamento

O critério de orientação especial pressupõe a divisão de todas as cargas de

treino em função de seu grau de influência sobre o aperfeiçoamento de diversos aspectos

qualitativos de preparação dos atletas. Diferentes cargas de treino exercem influências

diferentes sobre os sistemas orgânicos, determinando o nível de manifestação de diversos

aspectos de preparação (ZAKHAROV; GOMES, 2003).

Esta orientação pode ser vista como seletiva ou complexa. As cargas de

orientação seletiva estão predominantemente ligadas à sua influencia sobre um determinado

sistema funcional que assegura um grau de manifestação prioritário deste sistema. Já as

cargas de orientação complexa atuariam sobre dois ou mais sistemas funcionais

(ZAKHAROV; GOMES, 2003). Ao se estudar a intensidade do trabalho como o grau da

tensão da atividade do sistema funcional do organismo que assegura a execução eficaz do

exercício específico, tem que indicar sua alta influencia sobre o substrato energético, a

introdução no trabalho de diferentes unidades motoras e a formação da estrutura

coordenativa dos movimentos que corresponde às exigências de uma atividade competitiva

eficaz (PLATONOV, 2001).

É certo que, ao lançar mão dos meios de treinamento, não se pode assegurar a

influência seletiva rígida sobre um determinado sistema funcional. As ações motoras

pertinentes aos desportos envolverão os mais diversos mecanismos reguladores e de

execução. Entretanto, a aplicação da influência seletiva das cargas permite provocar a

39

máxima mobilização de alguns destes mecanismos, assegurando uma ativação otimizada e

com um grau de participação muito baixo de outros mecanismos (ZAKHAROV; GOMES,

2003).

4.5.3 Complexidade coordenativa e psicológica da carga

Zakharov e Gomes (2003) alertam para a importância em se preocupar com os

aspectos coordenativos e psicológicos da carga. Segundo estes autores, torna-se relevante

levar em consideração os componentes coordenativos e psicológicos da carga na elaboração

do prognóstico do efeito da carga de treinamento. Muitas vezes, estes componentes se

apresentam ocultos para um observador menos habilitado. Porém, um especialista

experimentado, que conhece bem o atleta e esteja em contato permanente com ele, é capaz

de avaliar o grau destas influências.

Uma complexidade coordenativa elevada de uma atividade se reflete na

grandeza e orientação da carga, assim como na fadiga e na formação dos efeitos do

treinamento. Nas modalidades desportivas cíclicas, a influência do fator de complexidade

não é grande, mas nos esportes coletivos, esportes de combate, ginástica, entre outros, este

fator exerce influência significativa sobre a carga de treinamento e seus efeitos. A

complexidade coordenativa é determinada pelo grau de domínio que o atleta possui em

determinada ação motora. Dessa forma, na etapa inicial de ensino, a execução da ação

motora exerce elevada influência sobre o organismo do atleta em comparação com a

influência na fase de aperfeiçoamento da técnica dos movimentos (WEINECK, 1991;

PLATONOV, 2001; ZAKHAROV; GOMES, 2003).

O componente psicológico da carga pode se determinado por um aspecto muito

amplo de fatores, tais como: a presença de adversários ou pessoas estranhas no local do

treinamento; risco de lesão durante o treino; responsabilidade de êxito na realização da

tarefa motora, entre outros. É justamente este componente psicológico que distingue entre a

influência de uma carga de treino e uma carga competitiva sobre o organismo, o que pode

tornar um mesmo exercício ou atividade com maior ou menor impacto sobre a carga

recebida pelo atleta (ZAKHAROV; GOMES, 2003).

40

4.5.4 Controle da carga de treinamento

Monitorar e controlar o processo de treinamento exige que se tenha uma

ferramenta válida de medida da carga interna (FOSTER et al., 1995). Isto é particularmente

relevante em esportes coletivos, onde a carga externa de treinamento apresenta-se similar

para cada membro da equipe devido ao uso constante de exercícios em grupo, tais como

jogo em campo reduzido. Entretanto, Hoff et al. (2002) demonstraram que atletas de futebol

que possuem um maior max2OV tendem a exercitarem-se numa porcentagem mais baixa

deste max2OV do que os demais atletas durante exercícios de campo reduzido. Isto sugere

que exercícios de treinamento em grupo podem não gerar estímulo suficiente para

adaptações fisiológicas aos atletas mais bem condicionados da equipe (HOFF et al., 2002).

Somado às questões de aptidão física, outros fatores tais como lesão, doença, condições

climáticas, problemas na agenda de jogos e o estado psicológico do atleta podem

influenciar a carga interna de treinamento. Consequentemente, fica evidente que monitorar

a carga interna de treinamento dos atletas é muito relevante para garantir que cada atleta

receba o estímulo de treinamento adequado (IMPELLIZZERI et al., 2004).

Quando se aborda a questão das lesões esportivas, acredita-se que estas

resultam da associação entre os padrões de treinamento, o estresse cotidiano e o

overtraining (POWEL; BARBER-FOSS, 1999). Uma preocupação dos profissionais da

saúde que atuam no esporte (e também dos técnicos) é prevenir a ocorrência de lesões, pois

isto permitiria ter disponíveis os principais atletas no momento da competição

(ANDERSON et al., 2003). Quando se fala no controle e avaliação do treinamento, faz-se

referência a diversos aspectos de atuação interdisciplinar, que através dos quais se podem

obter as informações necessárias para este controle. Dessa forma, o controle do treinamento

pode ser realizado sob a ótica de diferentes áreas, como: clínico, biomecânico, técnico,

tático, fisiológico e psicológico, com a informação de todas estas áreas colaborando para a

obtenção da melhora do rendimento desportivo (GRANELL; CERVERA, 2001).

O controle e a avaliação da carga de treinamento constituem os elementos

fundamentais do processo de preparação, sem os quais se torna impossível projetar a

melhora de rendimento para um determinado momento futuro. O desenvolvimento tanto da

avaliação quanto do controle da carga tem seguido em paralelo à evolução dos próprios

41

sistemas de planificação do treinamento, assim como às inovações tecnológicas que

proporcionam novos e sofisticados aparatos de medição desta carga (GRANELL;

CERVERA, 2001).

4.5.5 Métodos para o controle da carga de treinamento

4.5.5.1 Método TRIMP

É um modelo proposto por Banister et al. (1991), que tem por objetivo

quantificar uma sessão de treinamento. A ideia era que a resposta individual da FC durante

um exercício, chamada de TRIMP (training impulse), poderia ser uma medida plausível do

esforço físico, uma vez que este faz a FC aumentar, podendo chegar ao seu limite máximo

(MORTON; FITZ-CLARKE; BANISTER, 1990; BANISTER et al.,1991).

Para calcular um TRIMP, é preciso ter em mãos as variáveis: FC máxima, FC

de repouso, FC média da sessão e a duração da sessão de treino. De posse destes dados,

utiliza-se a equação:

TRIMP (w(t)) = duração do treino (min) x ∆FC x Y

Na equação acima, ∆FC seria:

∆FC = FCmed – FCrep / FCmax - FCrep

Onde FCmed seria a FC média da sessão, FCrep a FC de repouso e a FCmax a FC

máxima prevista.

Retornando à equação TRIMP, Y é um “fator peso” que enfatiza a alta

intensidade do exercício e também serve para evitar que seja dada uma importância

desproporcional aos exercícios de longa duração e baixa intensidade, comparando-os aos de

alta intensidade e curta duração. O valor de Y seria: Y = 0,64e1,92x

para homens e Y =

0,86e1,67x

para mulheres, com e = 2,712, enquanto x = ∆FC (BANISTER et al.,1991).

Este fator Y é baseado no perfil de lactato de homens e mulheres relativo ao

aumento da intensidade do exercício. A capacidade de quantificar e representar a carga de

treinamento a um único marcador, como a equação permite, é uma vantagem do método

com referência a sua aplicação prática. Contudo, o uso deste método de quantificação é

limitado pela obrigatoriedade do uso de monitores de FC durante todo o período de treino.

42

Entende-se também que este método exige a medição da FC em estado estável, limitando,

assim, a precisão com que o exercício de uma natureza intervalada possa ser quantificado

(BORRESEN; LAMBERT, 2009).

4.5.5.2 Método do valor somado das zonas de frequência cardíaca

O método do valor somado das zonas de FC (summated heart rate zone score) é

uma maneira de quantificar o estresse de treinamento que facilita sua aplicação em sessões

de treinamento onde o método descontínuo intervalado é aplicado. O que este método de

quantificação da carga sugere é que os minutos acumulados em cada zona de treinamento

(50–60%, 60–70%, 70–80%, 80–90% e 90–100% da FC máxima) sejam multiplicados por

um peso dado a cada uma destas zonas (50–60% = 1, 60–70% = 2, 70–80% = 3, 80–90% =

4 e 90–100% = 5). Feito isso, o resultado seria somado e este seria o valor do impacto do

treinamento (EDWARDS, 1993).

Uma crítica feita a este método seria a de que o sistema de peso utilizado

limitaria sua acurácia. O fator peso ser aplicado a cada zona de treinamento representa tanto

a menor FC quanto a maior FC, fazendo com que ambas respondam por um mesmo estresse

ao organismo (BORRESEN; LAMBERT, 2008).

Outra crítica ao método do valor somado das zonas de FC seria a de que ele não

teria sido validado, apesar de sua ampla divulgação na literatura. Acredita-se que fora

derivado de um conceito puramente teórico e não através de experimentação científica

(BORRESEN; LAMBERT, 2009).

4.5.5.3 Lucia’s TRIMP

É uma versão modificada do método do valor somado das zonas de FC e foi

usado por estudos envolvendo a mensuração da carga de treinamento em provas de

ciclismo de estrada. Neste método, o tempo gasto em cada uma das três zonas de FC

propostas (zona 1: abaixo do limiar ventilatório; zona 2: entre o limiar ventilatório e o

ponto de compensação respiratória; zona 3: acima do ponto de compensação respiratória) é

multiplicado por um coeficiente (k) relativo a cada zona (zona 1, k = 1; zona 2, k = 2; zona

3, k = 3) e então os valores são somados (LUCIA et al., 2003; EARNEST et al., 2004).

43

Entretanto, a fonte original deste método não foi referendada nestes estudos. Dessa forma,

este método compartilha a mesma limitação daquela citada no método do valor somado das

zonas de FC, pois o fator peso de cada zona cresce de forma linear, o que não reflete as

respostas fisiológicas ao exercício acima do limiar anaeróbio (STAGNO; THATCHER;

VAN SOMEREN, 2007).

4.5.5.4 Percepção Subjetiva do Esforço

A escala de percepção subjetiva de esforço (PSE) criada por Borg foi

desenvolvida para permitir estimativas simples, confiáveis e válidas da intensidade do

exercício (BORG, 1998; NOBLE; ROBERTSON, 1996). Esta escala é utilizada em ciência

do exercício primariamente para monitorar a intensidade do exercício e é mais

frequentemente utilizada como um método para quantificar intensidades de esforço durante

treinamento aeróbio (FOSTER et al, 2001; GARCIN et al., 1998).

O objetivo geral do uso da PSE é quantificar a percepção individual do esforço

como um meio de determinar ou quantificar a intensidade do exercício (BORG, 1998).

Dessa forma, atua como marcador substituto (ou simultâneo) para respostas fisiológicas

específicas, incluindo: percentual da FC máxima, percentual do max2OV e concentração

de lactato sanguíneo. Os estímulos mais fortes que influenciam uma PSE individual são o

trabalho respiratório/ventilatório e a tensão muscular (muscle strain) (CAFARELLI, 1982;

CHEN; FAN; MOE, 2002).

A percepção de esforço pode ser considerada como uma configuração de

sensações: tensão, dores e fadiga envolvendo os músculos e o os sistemas cardiovascular e

respiratório durante o exercício. Estas sensações são geralmente classificadas como sendo

derivadas tanto de fatores cardiorrespiratório quanto periféricos. Fatores

cardiorrespiratórios incluem variáveis tais como FC, 2OV , frequência respiratória e

ventilação minuto, enquanto que fatores periféricos/metabólicos incluem concentração de

lactato sanguíneo, pH sanguíneo, tensão mecânica, temperatura central e cutânea (NOBLE;

ROBERTSON, 1996).

Uma forma apropriada de mensurar a percepção de esforço oriunda de variáveis

fisiológicas de crescimento exponencial, como a concentração de lactato ou a ventilação

44

pulmonar, é utilizar a escala categórica (CR-10) de Borg (1998) (TABELA 4). Desde a

criação da escala original a mais de 40 anos, a CR-10 tem se tornado um método padrão

para avaliar o esforço percebido durante testes físicos, sessões de treinamento e

reabilitação, tendo sido validada contra marcadores objetivos da intensidade do esforço

(NOBLE et al., 1983; NOBLE; ROBERTSON, 1996).

Tabela 4 - Escala CR-10 de Borg

Classificação Descritor

0 Repouso

1 Muito, muito fácil

2 Fácil

3 Moderado

4 Um pouco difícil

5 Difícil

6 -

7 Muito difícil

8 -

9 -

10 Máximo

Fonte: Moreira et al. (2003).

4.5.5.5 Método da PSE da sessão

Foster et al. (1996) propuseram um método para quantificação da carga interna

de treinamento onde utilizava a escala CR-10 de Borg (TABELA 4) como forma de medir a

intensidade do esforço pela PSE. Os autores modificaram ligeiramente alguns termos da

escala para o inglês americano, mas seguem citando Borg (1998) como o autor da escala

(FOSTER et al., 2001). O método PSE da sessão (PSE-s) consiste de multiplicar o valor da

CR-10 informado pelo praticante pelo tempo total da sessão em minutos (FOSTER et al,

1998).

O registro do valor da escala deve ser feito, aproximadamente, 30 minutos após

o término da sessão de treino e com a pergunta “Como foi seu treino?”, solicitando que o

45

atleta aponte na escala CR-10 o descritor de sua escolha. O atleta precisa ser esclarecido

anteriormente que o treino deve ser percebido como um todo, daí a necessidade de aguardar

os 30 minutos para que sua resposta não sofra maior influência das últimas atividades do

treino. A duração (em minutos) de todo o treino deve ser anotada, incluindo aquecimento,

volta à calma e os intervalos entre as diversas atividades programadas. O resultado

representa o valor da carga interna de treinamento e é apresentado na forma de unidades

arbitrárias (FOSTER et al., 1998).

No caso da ocorrência de múltiplas sessões de treinamento em um mesmo dia,

a carga de treinamento diária será a somatória de todas as cargas quantificadas em cada

uma das sessões. Os valores encontrados a cada dia devem ser somados para produzir a

carga de treinamento semanal. Também relevante é estabelecer a carga de treinamento

diária média (carga de treinamento semanal/número de dias treinados), assim como seu

respectivo desvio padrão (FOSTER et al., 1998).

Este modelo ainda permite a explicação de episódios de doenças infecciosas,

que podem estar associadas a uma queda na atividade do sistema imunológico provocada

por uma carga interna de treinamento acima dos valores suportados pelo atleta. Isto é

possível pela observância de um índice de variabilidade denominado Monotonia do

Treinamento, que pode ser calculado dividindo-se a média das cargas internas de

treinamento da semana pelo desvio padrão dessa média. Dessa forma, quanto “menor” o

desvio padrão da média, menor será a variação entre as sessões de treinamento, gerando um

valor maior de Monotonia e sinalizando para a ocorrência de possíveis adaptações

negativas ao treinamento (FOSTER et al., 1998).

Já que elevadas e sucessivas cargas de treinamento associadas a valores de

Monotonia também elevados se relacionam com adaptações negativas ao treinamento, o

modelo também sugere que o produto de ambos demonstra correlações aceitáveis com estas

adaptações. Este novo marcador denomina-se Strain (FOSTER et al., 1998).

Estudos anteriores mostraram que a escala CR-10 de Borg é um método efetivo

para quantificar o esforço percebido também durante o treinamento contra resistência

(DISHMAN et al., 1987; GEARHART et al., 2001; LAGALLY et al., 2002). Com base

nisso, os estudos de Day at el. (2004), Gearhart et al. (2001) e Sweet et al (2004)

46

investigaram a confiabilidade do método PSE da sessão de Foster para quantificar o

impacto do treinamento em exercícios de alta, moderada e baixa intensidade do treinamento

contra resistência e encontraram que o método é confiável para quantificar várias

intensidades deste tipo de intervenção.

47

5 MÉTODOS

5.1 Sujeitos

A amostra foi composta por 12 atletas da Seleção Brasileira sub 15 feminina de

basquetebol (14 ± 3 anos), que estavam se preparando para o Campeonato Sul Americano

2012 da modalidade, realizado em Caracas (Venezuela). As atletas participavam há 3,7 ±

0,9 anos de treinamentos visando competição e com 7,9 ± 1,1 horas de treinamento

semanal. Os dados antropométricos e de composição corporal são apresentados na tabela 5.

Os sujeitos envolvidos e seus responsáveis legais foram informados sobre todos os

procedimentos da pesquisa e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido

aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da Faculdade de Medicina da UNICAMP

(parecer CEP n° 072/2009).

Tabela 5 – Dados antropométricos e de composição corporal no início da investigação

MCT

(kg)

MCM

(kg) % GC

Estatura

(cm)

Envergadura

(cm)

n = 12 68,2 ± 12,8 51,6 ± 7,4 24,0 ± 3,9 175,8 ± 9,1 182,5 ± 9,8 Legenda: MCT – massa corpora total; MCM – massa corporal magra; % GC – percentual de gordura

corporal.

Dados estão apresentados sob a forma de média ± desvio padrão.

5.2 Delineamento experimental

As atletas foram submetidas a um período de treinamento de 18 dias visando

maximizar o rendimento para o Campeonato Sul Americano, sendo que o protocolo

experimental foi aplicado durante os primeiros 10 dias. No início e final do experimento, as

atletas foram submetidas a avaliações antropométricas, de composição corporal e das

capacidades físicas (corrida 20 metros, teste T e teste de resistência anaeróbia).

5.3 Antropometria e Composição corporal

Foi utilizado um adipômetro Lange® para aferir as dobras cutâneas e uma

balança antropométrica Filizola® para a massa corporal total (MCT).

48

Aplicou-se o protocolo de Pollock et al. (1980) apud Eston e Reilly (2009) com

7 dobras cutâneas (tríceps, supra ilíaca, coxa, abdômen, peitoral, subescapular e axilar

média) para mulheres. O cálculo da densidade foi feito pela equação:

D = 1,0970 – 0,00046971 (∑7DC) + 0,00000056 (∑7DC)2 – 0,00012828 (idade)

Onde D = densidade, DC = dobra cutânea, ∑ = somatória.

O cálculo do percentual de gordura corporal (%GC) foi feito utilizando a

equação de Siri:

%GC = [(4,95/D) – 4,50] x 100

A massa corporal gorda (MCG) foi obtida pela equação:

MCG (kg) = MCM (kg) x (%GC/100)

A massa corporal magra (MCM) foi obtida pela equação:

MCM (kg) = MCT (kg) – MCG (kg)

5.4 Componentes do treinamento

Os componentes do treinamento foram divididos de acordo com o objetivo

principal a que eram destinados, como mostra o quadro 3.

Quadro 3 – Descrição e objetivos dos componentes do treinamento

Componentes do

treinamento Descrição da atividade

Treino preventivo

(TP)

Exercícios de equilíbrio estático e dinâmico.

Treino de força (TF) Exercícios com pesos livres e máquinas; orientação da carga: 5-6 RM.

Aquecimento (A) Uso do método contínuo variado, aplicando meios como: exercícios cíclicos e

acíclicos com e sem deslocamento, realizados com mudança de velocidade e

direção.

Aplicado sempre antes da realização do treino técnico-tático.

Treino intervalado I

(TI-1)

Utilização do método descontínuo intervalado, aplicando meios de treinamento tais

como: exercícios de ataque, exercícios defesa e exercícios de transição.

Treino intervalado II

(TI-2)

Utilização do método descontínuo intervalado, aplicando meios como corrida

linear combinada com mudança de direção.

Técnico-tático (TT) Conteúdo elaborado pelo treinador e seus assistentes.

Jogos treino e oficiais.

Legenda: RM – repetições máximas; micropausa – pausa para recuperação entre as repetições; macropausa –

pausa para recuperação entre as séries.

49

5.5 Variáveis de intervenção

Durante os dois primeiros microciclos (FIGURA 1), os sujeitos receberam 6

intervenções de treinamento descontínuo intervalado (TI) adicionados à agenda cotidiana

de treinamento da equipe (QUADRO 3). O TI foi dividido de forma que tivessem duas

fontes prioritárias de ressíntese de ATP: misto (aeróbia-anaeróbia láctica – TI-1) e

anaeróbia láctica (TI-2), sendo que as intervenções ocorriam em dias separados.

As sessões de TI-1eram formadas por 1 série de 5-7 repetições, com cada

repetição durando 3 minutos, com 1 minuto de intervalo entre as repetições. Ficou

estabelecido que a intensidade seria a mesma (ou a mais próxima possível) da que o

treinador exigiria nos jogos oficiais, ficando este responsável pelo cumprimento desta

exigência por meio de comandos verbais e conversa com as atletas durante as pausas de

recuperação.

Foram empregados exercícios de 5x5 (cinco contra cinco), com atividades

ininterruptas de ataque-defesa e transição (equipe que estava defendendo retoma a posse de

bola e vai em direção à cesta adversária). As atividades eram coordenadas pelo treinador e

seus auxiliares, ficando estipulado que, a cada 5 transições realizadas dentro de um mesmo

período de 3 minutos, as duas atletas que aguardavam do lado de fora substituíam duas que

estavam em atividade. Para cada ataque, só era permitido uma tentativa de converter a

cesta. As atletas que permaneciam de fora se mantinham em atividade realizando exercícios

com e sem bola.

As sessões de TI-2 eram formadas por 4-5 séries de 4 repetições, com cada

repetição durando 10 segundos. Os intervalos de recuperação entre as repetições

(micropausas) eram de 30 segundos, enquanto que entre as séries (macropausas) eram de 3

minutos. Foi solicitado que os sujeitos mantivessem a máxima velocidade possível durante

os estímulos e todos os membros da comissão técnica presentes emitiam comandos verbais

motivadores para que isso ocorresse.

5.6 Periodização e planificação do treinamento

A periodização e planificação do processo de treinamento foram elaboradas

com foco na melhora da resistência anaeróbia láctica das atletas (FIGURA 1).

50

Legenda: TREINO – demais componentes do treinamento que não os de intervenção (TI-1 e TI-2); A/T – avaliação da composição corporal,

antropometria e testes de desempenho motor; JT – jogo treino; JO – jogo oficial.

Figura 1: Periodização e planificação do processo de treinamento.

TREINO ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂

TI-1 ⨂ ⨂ ⨂

TI-2 ⨂ ⨂ ⨂

A/T ⨂ ⨂ ⨂

JT ⨂ ⨂ ⨂

JO ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂

Dia 29 30 31 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23

Semana

Mês

Microciclo

Mesociclo

Etapa

Período

Competitivo

Competitivo

Competitiva

Competitivo

Preparação Especial 3

Preparatório

Estabilizador Controle/Pré-competitivo

Básico Estabilizador Controle/Pré-competitivo

VIA

GE

M P

AR

A

VE

NE

ZU

ELA

3

Novembro

4

Novembro

Preparatório Preparatório

Ordinário Choque

Básico de Desenvolvimento Básico de Desenvolvimento

Preparação Especial 1 Preparação Especial 2

LIV

RE

LIV

RE

1 2

Outubro Novembro Novembro

51

5.7 Testes de desempenho motor

A bateria de testes apresentadas a seguir foi utilizada com a intenção de avaliar

o status fisiológico das atletas antes do regime de treinamento e de avaliar o efeito do

regime de treinamento adotado. Os testes foram selecionados com base em sua capacidade

de gerar comparações diretas, sua eficiência com relação a custo financeiro e de tempo,

além de sua aplicabilidade associada ao desempenho do jogo de basquetebol (GORE,

2000).

Os testes foram realizados no mesmo dia, sendo que os testes corrida 20 metros

e T foram realizados no período da manhã (primeiro corrida 20 m e depois T), enquanto

que o teste de avaliação da resistência anaeróbia foi realizado durante o período da tarde,

com 6 horas de intervalo entre os períodos.

Em todos os testes foram utilizadas duas barreiras de fotocélulas (Chrono Test,

Globus System, Italy).

O aquecimento era aplicado antes da realização dos testes, consistindo de 10

minutos de corrida moderada e 05 minutos de movimentos de corrida em pequenas

distâncias (menos de 10 metros) envolvendo acelerações rápidas e mudanças de direção.

Em seguida, cada avaliado realizava 03 tentativas no percurso do teste. Após o

aquecimento, foi estipulado 02 minutos de recuperação passiva (CASTAGNA et al., 2007).

5.7.1 Corrida 20 metros

Teste utilizado para mensurar o tempo para cumprir a distância de 20 metros.

Duas barreiras de fotocélulas foram posicionadas exatamente nos pontos de partida (0 m) e

chegada (20 m). Outra linha foi traçada a 0,5 m atrás da linha de partida para ser o local

onde o avaliado posicionará o pé que ficará mais a frente antes de iniciar o teste. Esta linha

serviu para minimizar a possibilidade do avaliado de movimentar um braço ou outra parte

de seu corpo que ativaria a fotocélula antes do início do teste. Conforme sugerido por Eston

e Reilly (2009), foi estipulado um espaço livre superior a 10 m para desaceleração após o

ponto de chegada, o que eliminaria uma possível percepção do avaliado quanto à

necessidade de desacelerar antes da hora.

52

O avaliado recebeu uma advertência verbal (“prepara” ou “atenção”), seguida

de um sinal sonoro (na ocasião, o comando “vai”) para dar início ao teste. Após iniciado o

teste, o avaliado deveria buscar a máxima aceleração possível deslocando-se do ponto A

para o ponto B (FIGURA 3). Foi pedido ao avaliado para não desacelerar ao se aproximar

da linha de chegada (B), mas sim passar por ela na máxima velocidade possível. Tanto o

avaliador quanto os demais atletas presentes buscaram motivar verbalmente o avaliado

durante todo o teste.

Foram realizadas três tentativas com intervalo de 01 (um) minuto entre elas. O

menor tempo encontrado foi considerado como sendo o melhor valor para a análise

comparativa.

Figura 2: Disposição das linhas e fotocélulas para o teste de velocidade Corrida 20 m.

5.7.2 Teste T

É um teste para medir a agilidade e foi elaborado para avaliar a habilidade do

indivíduo em mudar de direção rapidamente, mantendo o equilíbrio e com perda mínima de

tempo (PAUOLE et al., 2000). No presente estudo, utilizou-se o protocolo adaptado por

Moreira et al. (2003) (FIGURA 4).

Uma única barreira de fotocélulas foi utilizada para abrir e fechar o tempo de

realização do teste. Assim como no teste de Corrida 20 m descrito anteriormente, outra

linha foi traçada 0,5 m atrás da linha de partida/chegada para delimitar o local onde o

avaliado posicionou o pé que ficaria mais a frente antes de iniciar o teste (FIGURA 4).

53

O avaliado recebeu a mesma orientação verbal para iniciar o teste daquela

apresentada no teste Corrida 20 m. Para desempenhar o teste, o avaliado deveria largar

buscando a máxima aceleração possível, deslocando-se do ponto A para o ponto B.

Chegando em B, mudaria de direção e seguiria até o ponto C. Em C, o avaliado deveria

tocar a linha com um dos pés e seguir para o ponto D. Neste ponto, tocaria a linha com um

dos pés e seguiria para E e retornando em seguida para o ponto A. Conforme sugerido por

Eston e Reilly (2009), foi estipulado um espaço livre superior a 10 m para desaceleração

após o ponto de chegada, o que eliminaria uma possível percepção do avaliado quanto à

necessidade de desacelerar antes da hora.

Foram realizadas três tentativas com intervalo de 01 (um) minuto entre elas. O

menor tempo encontrado foi considerado como sendo o melhor valor para a análise

comparativa.

Figura 3: Disposição do local de partida/chegada e a sequência padrão para os deslocamentos (assinalada

pelas letras A, B, C, D e E) para o teste T.

5.7.3 Teste de resistência anaeróbia (sprints repetidos)

Neste teste, a fadiga é observada por meio da redução da velocidade máxima

durante a sequência de sprints (MENDEZ-VILLANUEVA; HAMER; BISHOP, 2008). A

capacidade de repetir sprints máximos de curta duração (por volta de 4 a 10 segundos)

intercalados com períodos de recuperação também muito curtos (entre 10 e 30 segundos) e

ainda manter um alto nível de desempenho é um fator determinante para a prática de

esportes coletivos. Avaliar a capacidade de realizar sprints repetidos (RSA, do inglês

54

repeated sprint ability) tem sua importância fundamentada em sua condição de prever o

desempenho físico de alta intensidade durante um jogo (CASTAGNA et al, 2007).

Cada avaliado recebeu a mesma orientação verbal para iniciar o teste daquela

apresentada no teste corrida 20 m. O teste proposto por Castagna et al. (2007) consistiu em

10 sprints de 30 metros, sendo que esta distância foi percorrida no formato de ida e volta

(vai 15 m e volta 15 m) (FIGURA 5). O intervalo entre os sprints teve a duração de 30

segundos e foi cumprido em regime passivo (atleta aguardava parado o momento para a

execução de novo estímulo). Conforme sugerido por Eston e Reilly (2009), foi estipulado

um espaço livre superior a 10 m para desaceleração após o ponto de chegada, o que

eliminaria uma possível percepção do avaliado quanto à necessidade de desacelerar antes

da hora.

As variáveis analisadas neste teste foram:

- Tempo total – Ttot (em segundos);

- Tempo ideal – Tid (em segundos);

- Melhor tempo – Tm (em segundos);

- Tempo médio – Tméd (em segundos);

- Pior tempo – Tp (em segundos);

- Índice de fadiga – IF (%);

- Potência máxima – Pmax (em Watts);

- Potência média – Pméd (em Watts);

- Potência mínima – Pmín (em Watts).

O cálculo do Ttot consistiu na soma dos tempos dos 10 sprints. O Tm foi

identificado pelo sprint realizado com o menor tempo dentre os 10 sprints. O Tid foi

calculado utilizando-se o Tm do avaliado e o multiplicando-o por 10. Para o Tméd, foi

utilizado o valor encontrado no Ttot e dividi-lo por 10. O Tp foi identificado pelo sprint

realizado com o maior tempo dentre os 10 sprints. Quanto ao IF, utilizou-se a equação

abaixo proposta por Fitzsimons et al. (1993):

IF (%) = (Ttot x 100)/ Tid – 100

Para o cálculo da potência, foi utilizada a equação:

P = MCT x (d)2/(t)

3

Onde P = potência (W), d = distância (m) e t = tempo (s). Usou-se o valor do Tm para

calcular a Pmax, o valor do Tméd para calcular a Pméd e o valor de Tp para calcular a Pmín.

55

Figura 4: Disposição das linhas e fotocélulas para o teste resistência anaeróbia.

5.8 Controle da carga de treinamento

O controle da carga de treinamento foi feito através do método PSE da sessão

proposto por Foster et al. (1998). Este método consiste em registrar o período total em

minutos do que se consideraria uma sessão de treinamento (incluindo aquecimento, o treino

em si e a volta à calma) e multiplicá-lo pela média da PSE informada pelas atletas 30

minutos após o fim da sessão. Era a pergunta “Como foi seu treino como um todo?” e

solicitado que apontasse o número correspondente na escala CR-10 (TABELA 4).

Esta PSE era informada pelas atletas individualmente e sem a proximidade de

outro indivíduo da equipe para evitar qualquer forma de influência em sua resposta. A

informação era passada por apontamento da escala (FIGURA 5) e sem pronunciar o valor

verbalmente.

Nesta investigação, o treino preventivo e o treino de força ocorriam antes do

treino TT. Estas ações aconteciam num mesmo ambiente e a transição de uma para a outra

ocorria em menos de 5 minutos. Dessa forma, ficou estabelecido que o Ttot de todas estas

ações num período de treinamento seria computado para o cálculo da carga. Durante os

jogos, a duração do mesmo foi considerada a partir do início do aquecimento até o final do

segundo tempo.

O resultado da multiplicação do Ttot da sessão de treinamento pela PSE média

da equipe era considerado a carga interna da sessão de treinamento e apresentada em

56

unidades arbitrárias (UA). A carga diária de treinamento era obtida pelo somatório de todas

as cargas aferidas durante o dia. Deste valor, então, era calculada a carga semanal de

treinamento pela soma de todos os valores diários. Dos valores apresentados pela carga

interna diária de treinamento também derivavam três índices: a carga semanal média, a

monotonia e o strain.

A carga semanal média é calculada pela média de todos os valores diários. A

monotonia é calculada dividindo-se o valor encontrado na carga de treinamento semanal

média pelo desvio padrão desta média. Por fim, o strain é calculado multiplicando-se o

valor da monotonia pelo da carga semanal de treinamento.

5.9 Caracterização da competição

O Campeonato Sul Americano 2012 foi composto por seis equipes: Brasil,

Argentina, Venezuela, Paraguai, Uruguai e Peru. De acordo com o regulamento do

campeonato, as seis seleções jogaram entre si (cada equipe realizou 5 jogos), em turno

único e em dias sucessivos, sendo campeã a equipe que somasse o maior número de pontos.

57

6 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os resultados estão expressos sob a forma de média desvio padrão. As

variáveis analisadas foram: massa corporal, porcentual de gordura, massa magra, tempo no

teste de 20 m, potência no teste de 20 m, tempo no teste T, potência no teste T, IF no sprint

repetido, Ttot no sprint repetido, Tm no sprint repetido, Tp no sprint repetido e Tméd no

sprint repetido antes e após o regime de treinamento; e carga interna de treinamento nas

semanas 1, 2, 3 e 4.

Para a utilização de testes estatísticos paramétricos, as variáveis foram testadas

quanto à distribuição normal (Gaussiana) por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov. Neste

caso, a diferença entre duas medidas (antes vs. depois para tempo no teste de 20 m,

potência no teste de 20 m, tempo no teste T, potência no teste T, IF no sprint repetido, Ttot

no sprint repetido, Tm no sprint repetido, Tp no sprint repetido e Tméd no sprint repetido)

foram estabelecidas pelo teste t de Student para amostras dependentes e as diferenças entre

três ou mais medidas (carga interna de treinamento nas semana 1, semana 2 e semana 4)

foram estabelecidas pela análise de variância (ANOVA), para amostras dependentes,

seguida pelo pós-teste de Tukey. Todas as variáveis obedeceram a distribuição normal, com

exceção da carga interna de treinamento na semana 3. Neste caso, a diferença entre as

medidas foram estabelecidas pelo teste de Kruskal-Wallis seguido pelo pós-teste de Dunn.

Todas as diferenças estatisticamente significantes estão indicadas nas figuras

e/ou tabelas, sendo admitido nível de significância menor que 5%.

58

59

7 RESULTADOS

Os resultados encontrados no presente estudo evidenciaram que o emprego de

TI influenciou positivamente na evolução da resistência anaeróbia das atletas sem prejuízo

às capacidades de velocidade e agilidade. Outro achado interessante foi que o

comportamento da carga interna de treinamento apresentou resposta coerente com a que

havia sido pensado ao se estruturar a periodização.

7.1 Antropometria

A MCM (51,6 ± 7,4 kg vs. 52,5 ± 7,4 kg, P=0,0055) e o % GC (24,0 ± 3,9 %

vs. 22,0 ± 4,1 %, P<0,0001) apresentaram diferença estatisticamente significante. Já a MCT

(68,2 ± 12,8 kg vs. 67,8 ± 12,4 kg, P=0,0633) não apresentou diferença estatisticamente

significante.

7.2 Corrida 20 m

Tanto o Tm (3,68 ± 0,15 s vs. 3,67 ± 0,13 s, P=0,1564) quanto a Pmáx alcançada

(545,1 ± 77,5 W vs. 548,1 ± 67,5 W, P=0,6274) não apresentaram diferença

estatisticamente significante (TABELA 6).

7.3 Teste T

Tanto o Tm (10,28 ± 0,47 s vs. 10,26 ± 0,46 s, P=0,3105) quanto a Pmáx

alcançada (100,4 ± 15,1 W vs. 100,2 ± 14,0 W, P= 0,8238) não apresentaram diferença

estatisticamente significante (TABELA 6).

7.4 Teste de resistência anaeróbia

As diferenças observadas no Tm e na Pmax alcançadas no teste realizado por este

grupo de jovens atletas de basquetebol não foi estatisticamente significante após 10 dias de

treinamento (6,31 ± 0,25 s vs. 6,31 ± 0,23 s, P=0,5143, e 243,4 ± 29,1 W vs. 241,2 ± 27,05

W, P=0,6165, respectivamente). Todas as demais variáveis dos testes como o Tméd (6,49 ±

0,27 s vs. 6,42 ± 0,24 s, P=0,0001), o Tp (6,66 ± 0,28 s vs. 6,50 ± 0,27 s, P<0.0001), o Ttot

(64,88 ± 2,69 s vs. 64,19 ± 2,40 s, P=0,0001), o IF (2,86 ± 0,81 % vs. 1,67 ± 0,43 %,

60

P<0.0001) a Pméd (225,7 ± 25,9 W vs. 230,4 ± 25,3 W, P=0,0012) e a Pmín (206,8 ± 21,6 W

vs 220,8 ± 23,4 W, P<0.0001) apresentaram diferença estatisticamente significante

(TABELA 6).

Tabela 6 – Resultados dos testes de desempenho motor realizados em momentos distintos do período de

preparação

Legenda: *Diferença estatisticamente significante (P < 0,05) comparado com o valor pré (teste t de Student).

Valores apresentados como média ± desvio padrão.

7.5 Distribuição do volume de treinamento durante os períodos preparatório e

competitivo

A duração total do processo de treinamento foi de 70,1 horas. Deste total, o

período preparatório consumiu 57,4 horas e o período competitivo utilizou 12,7 horas

(TABELA 7). Sendo assim, o período preparatório foi responsável por 81,9 % do Ttot do

processo de treinamento e o período competitivo por 18,1 % deste.

PRÉ

n = 12

PÓS

n = 12∆% VALOR-P

Resistência Anaeróbia

Melhor tempo – Tm (s) 6,31 ± 0,25 6,31 ± 0,23 0,0 P=0,5143

Tempo médio – Tméd (s) 6,49 ± 0,27 6,42 ± 0,24 * -1,1 P=0,0001

Pior tempo – Tp (s) 6,66 ± 0,28 6,50 ± 0,27 * -2,4 P<0,0001

Tempo total – Ttot (s) 64,88 ± 2,69 64,19 ± 2,40 * -1,1 P=0,0001

Índice de fadiga – IF (%) 2,86 ± 0,81 1,67 ± 0,43 * -41,6 P<0,0001

Potência máxima – Pmax (W) 243,4 ± 29,1 241,2 ± 27,05 -0,9 P=0,6165

Potência média – Pméd (W) 225,7 ± 25,9 230,4 ± 25,3 * 2,1 P=0,0012

Potência mínima – Pmín (W) 206,8 ± 21,6 220,8 ± 23,4 * 6,8 P<0,0001

Corrida 20m

Melhor tempo (s) 3,68 ± 0,15 3,67 ± 0,13 -0,3 P=0,1564

Potência máxima (W) 545,1 ± 77,5 548,1 ± 67,5 0,6 P=0,6274

Teste T

Melhor tempo (s) 10,28 ± 0,47 10,26 ± 0,46 -0,2 P=0,3105

Potência máxima (W) 100,4 ± 15,1 100,2 ± 14,0 -0,2 P= 0,8238

TESTES & VARIÁVEIS

61

Tabela 7 - Distribuição do volume entre os conteúdos de treinamento

em diferentes momentos do macrociclo

Legenda: Treino preventivo (TP); treino de força (TF); aquecimento

(A); treino intervalado I (TI-1); treino intervalado II (TI-2); técnico-

tático (TT).

O volume de treinamento distribuído nas quatro semanas (FIGURA 6)

demonstra que a semana 2 (microciclo de choque) apresentou a maior quantidade de horas

de treinamento, enquanto que o microciclo competitivo apresentou o menor valor.

Figura 5: Distribuição do volume de treinamento nas quatro semanas do macrociclo.

7.6 Carga interna de treinamento

A carga interna de treinamento apresentou momentos de muita e pouca variação

durante todo o processo de treinamento (FIGURA 6).

Horas % Horas % Horas %

TP 8,4 14,7 1,8 14,5 10,3 14,6

TF 1,8 3,2 0,0 0,0 1,8 2,6

A 6,1 10,6 0,8 6,6 6,9 9,9

TI-1 1,3 2,2 0,0 0,0 1,3 1,8

TI-2 1,0 1,7 0,0 0,0 1,0 1,4

TT 38,8 67,6 10,0 78,9 48,8 69,7

Total 57,4 100,0 12,7 100,0 70,1 100,0

Período Preparatório Período Competitivo

Co

nte

úd

o d

e

tre

inam

en

to

Total

62

Valores apresentados como média ± desvio padrão

Figura 6: Comportamento da carga interna durante todo o processo de treinamento.

A

seman

a 1 ap

resento

u carg

as de trein

amen

to d

e 1.6

33 ±

370, 1

660 ±

376 e

1440 ±

309 p

ara os d

ias 1, 2

e 3, resp

ectivam

ente (F

IGU

RA

7).

63

Figura 7: Comportamento da carga interna de treinamento aferida pelo método PSE-s na semana 1.

A semana 2 apresentou cargas de treinamento de 1530 ± 298, 1973 ± 414, 1200

± 318, 1640 ± 313 e 760 ± 201 para os dias 5, 6, 7, 8 e 9, respectivamente (FIGURA 8).

Legenda: *Diferença significante do Dia 5 (p < 0,05); + Diferença significante do Dia 6 (p < 0,05); ǂ

Diferença significante do Dia 7 (p < 0,05); • Diferença significante do Dia 8 (p < 0,05)

Figura 8: Comportamento da carga interna de treinamento aferida pelo método PSE-s na semana 2.

A semana 3 apresentou cargas de treinamento de 967 ± 289, 1440 ± 393, 935 ±

259, 1200 ± 296, 990 ± 310 e 90 ± 31 para os dias 12, 13, 14, 15, 17 e 18, respectivamente

(FIGURA 9).

64

Legenda: * Diferença significante do Dia 12 (p < 0,05); + Diferença significante do Dia 13 (p < 0,05);

ǂ Diferença significante do Dia 14 (p < 0,05); • Diferença significante do Dia 15 (p < 0,05);

§ Diferença significante do Dia 17 (p < 0,05)

Figura 9: Comportamento da carga interna de treinamento aferida pelo método PSE-s na semana 3.

A semana 4 apresentou cargas de treinamento de 900 ± 247, 720 ± 207, 940 ±

218, 780 ± 187 e 965 ± 199 para os dias 19, 20, 21, 22 e 23, respectivamente (FIGURA

10).

Legenda: * Diferença significante do Dia 19 (p < 0,05); + Diferença significante do Dia 20 (p < 0,05)

Figura 10: Comportamento da carga interna de treinamento aferida pelo método PSE-s na semana 4.

A carga semanal total (quantificadas pelo método PSE-s) apresentou a carga de

maior magnitude na semana 2 (7.191 UA) e a de menor (4.339 UA) na semana 4 (FIGURA

11).

65

Figura 11: Comportamento da carga semanal total aferida pelo método PSE-s durante o macrociclo.

A semana 3, que antecedeu a semana competitiva, foi a que apresentou a menor

carga semanal média (FIGURA 12).

Valores apresentados como média ± desvio padrão

Figura 12: Comportamento da carga semanal média aferida pelo método PSE-s durante o macrociclo.

A semana 3, que antecedeu a semana competitiva, apresentou o menor valor de

monotonia, sendo que a semana 2 (microciclo de choque) também apresentou valores

igualmente baixos para esta variável de controle da carga de treinamento (FIGURA 13).

66

Figura 13: Comportamento da monotonia aferida pelo método PSE-s durante o macrociclo.

Assim como observado na monotonia, a semana 3 apresentou o menor valor de

strain, sendo que a semana 2 (microciclo de choque) novamente apresentou valores baixos

para esta variável de controle da carga de treinamento (FIGURA 14).

Figura 14: Comportamento do strain aferido pelo método PSE-s durante o macrociclo.

67

8 DISCUSSÃO

O principal achado deste estudo foi a constatação de que o emprego de TI foi

eficiente em melhorar o IF em um curto período de tempo quando aplicado em mulheres

jovens praticantes de basquetebol preparando-se para uma competição internacional.

8.1 Testes de desempenho motor

Embora os estímulos curtos e de alta intensidade (sprints) representem uma

pequena porção do Ttot de uma partida de esportes coletivos, a importância destes sprints é

considerada crítica para o resultado do jogo (REILLY; BANGSBO; FRANKS, 2000).

Portanto, avaliar a capacidade do atleta de realizar sprints repetidamente é considerado uma

ferramenta de grande valor para praticantes de esportes coletivos (BISHOP et al., 2000).

Dessa forma, os resultados obtidos no teste de resistência anaeróbia proposto por Castagna

et al. (2007) foram o foco principal desta investigação.

Buchheit et al. (2010) investigaram duas abordagens diferentes do método

descontínuo intervalado em jovens jogadores de handebol (15,8 ± 0,9 anos) citados como

possuindo bom nível de treinamento na modalidade. O experimento durou quatro semanas,

com duas sessões de treinamento por semana. Os atletas foram divididos em 2 grupos: G1 e

G2. Os atletas do G1 realizaram 3-4 séries de 4 repetições. Cada repetição envolvia

exercícios de aceleração e mudança de direção, com duração máxima de 5 segundos. A

micropausa (entre as repetições) era de 30 segundos e a macropausa (entre as séries) era de

3 minutos. Já os participantes do G2 realizaram 3-5 séries de 1 repetição que consistia de

exercícios de aceleração e mudança de direção, porém com duração fixa de 30 segundos. O

intervalo entre cada série era de 2 minutos. Ao final do experimento, nenhuma alteração

significante foi encontrada no tempo para percorrer 10 m, no Tm, Tméd e no IF do teste de

resistência anaeróbia em ambos os grupos.

Os achados de Buchheit et al. (2010) se assemelham aos deste trabalho quando

se observa que os valores associados aos melhores tempos dos testes de resistência

anaeróbia e de velocidade não apresentaram diferença estatisticamente significante. No

presente estudo, os valores de Tm e Pmax do teste de resistência anaeróbia não

apresentaram diferença estatística significante, assim como o tempo e a potência no teste

68

corrida 20 m. Buchheit et al. (2010) não faz menção ao controle da MCT dos sujeitos nos

testes após o experimento, e nem quanto à conversão em potência dos tempos obtidos, o

que torna isso um viés em se tratando de uma investigação de 4 semanas. No presente

estudo, apesar do %GC e da MCM terem apresentado alteração estatisticamente

significante (redução do %GC e aumento da MCM), o valor da MCT não se alterou durante

os 14 dias que se passaram entre a primeira e a segunda avaliação (FIGURAS 1 e 2). Isso

conduz o raciocínio de que as alterações observadas nas demais variáveis do teste não

sofreram outra influência que não fosse àquelas associadas à resposta ao treinamento.

Diferentemente dos achados de Buchheit et al. (2010), que não encontraram

diferença significante para o Tméd e IF, o presente estudo encontrou significância estatística

para estas e as demais variáveis do teste de resistência anaeróbia (TABELA 6). O teste

aplicado por Buchheit et al. (2010) era ligeiramente diferente ao deste trabalho: eram 6

repetições (sprints), com 20 segundos de recuperação entre elas. Porém, a distância era a

mesma, assim como a forma de realizar o teste, que seria 15 m de ida com 15 m de volta.

Outra diferença encontrada era na forma de calcular o IF. O trabalho de Buchheit et al.

(2010) utilizava a equação: 100 – (Tméd / Tm x 100). Como o teste de Castagna et al. (2007),

aplicado neste trabalho, possui 10 repetições e 30 segundos de recuperação entre elas, isso

requer um maior tempo de esforço e talvez conduza a uma perda de eficiência dos

mecanismos de ressíntese do ATP nos últimos sprints. Outra diferença importante entre os

estudos seria quanto à densidade dos estímulos. O estudo de Buchheit et al. (2010) realizou

8 intervenções em 28 dias, enquanto este estudo aplicou 6 intervenções em 8 dias. Por fim,

o estudo de Buchheit et al. (2010) aplicou estímulos que alcançaram um tempo máximo de

30 s, ao passo que este estudo orientou 3 das suas 6 intervenções para o sistema misto

(aeróbio-anaeróbio) de ressíntese de ATP (3 minutos). Os achados de um estudo anterior

registrarou uma redução significante da taxa de glicólise em sprints sucessivos, mas sem

uma queda proporcional da potência. Foi sugerido que um aumento da contribuição do

metabolismo aeróbio compensou parcialmente a redução na glicogenólise anaeróbia. Então,

apesar da contribuição do metabolismo aeróbio em um único sprint de curta duração pareça

ser relativamente pequena, haveria um aumento desta contribuição quando os sprints

ocorrem sucessivamente (GAITANOS et al., 1993).

69

Em outro estudo com jogadores lituanos de basquetebol entre 15-16 anos,

Balciunas et al (2006) investigou como dois modelos diferentes de treinamento poderiam

influenciar na velocidade, potência de membros inferiores e na resistência anaeróbia dos

atletas. Estes já haviam cumprido uma pré-temporada de 4 semanas (não detalhada no

estudo) e a investigação começou durante as primeiras 16 semanas do período competitivo

(campeonato lituano da categoria). Os atleta foram divididos em 3 grupos: PE (power

endurance – resistência de potência), GE (general endurance – resistência geral) e CG

(control group – grupo controle). As sessões de treinamento eram de 90 minutos e

realizadas 3 vezes por semana.

O grupo PE utilizou monitores de FC em suas sessões de treinamento, com a

zona alvo estipulada entre 78 e 83 % da FC máxima, aproximadamente. Realizavam

períodos de 15 minutos de atividade com estímulos de 50 segundos e intervalos de

recuperação passiva de 20 segundos. Cada período focava um dos seguintes fundamentos

do basquetebol: passe, condução e arremesso. Os últimos 15 minutos eram direcionados

para trabalhos táticos utilizando 5x5 quadra toda. Os períodos tinham uma pausa de 2

minutos entre eles e uma pausa maior (15 minutos) na metade da sessão para que o

treinador desse suas orientações e correções. Os autores classificaram a atividade deste

grupo como sendo exercícios específicos intermitentes de alta intensidade.

Já o grupo GE utilizou 6 períodos de 10 minutos, com 10 lances livres para

cada jogador no intervalo entre eles. Os estímulos eram de 15 segundos, com igual valor

para a recuperação e o foco era o que os autores chamaram de defesa ativa, utilizando

exercícios como 1x1, 2x2, 3x3. Os 30 minutos restantes eram direcionados para trabalhos

táticos utilizando 5x5 quadra toda. A intensidade não teve nenhum controle específico.

Por fim, o CG realizava apenas o que os autores chamaram de treino lituano

padrão: 20 minutos de aquecimento, 40 minutos para aspectos técnicos individuais e 30

minutos para aspectos táticos, também sem controle específico da intensidade.

Ao final das 16 semanas, nenhum dos grupos estudados por Balciunas et al.

(2006) apresentou diferença estatisticamente significante para o tempo gasto para percorrer

a distância de 20 metros, nem para os valores encontrados para os saltos verticais.

Entretanto, apenas o grupo PE (classificado como intermitente de alta intensidade)

70

apresentou diferenças significantes para os dados obtidos no teste de resistência anaeróbia.

O teste escolhido foi o Running-based Anaerobic Sprint Test (RAST), que consiste de 6

sprints de 35 metros sem mudança de direção, com intervalo de recuperação passivo de 10

segundos. Balciunas et al. (2006) tiveram o cuidado de calcular a potência gerada nos

sprints (corrida 20 m inclusive), o que elimina qualquer interferência de possíveis

alterações da MCT nos resultados do experimento. A Pméd apresentada no RAST subiu de

457 ± 53 W para 565 ± 48 W, enquanto o IF caiu de 7,0 ± 1,3 para 5,4 ± 0,8.

O que este estudo e o de Balciunas et al. (2006) tem em comum e que podem

ser diferenciados do estudo de Buchheit et al. (2010) seria a presença de estímulos de maior

duração (≥ 50 s) e uma maior quantidade de intervenções por semana. Como a duração do

experimento nos três estudos é completamente diferente, estas semelhanças ganham força

quanto a explicar o efeito do treinamento na melhora da resistência anaeróbia.

Este estudo apresentou um viés que foi a ausência de um grupo controle,

podendo gerar a dúvida de que os resultados obtidos poderiam ser oriundos do próprio

treino de basquetebol em si. Porém, o estudo de Balciunas et al. (2006) mostrou que o

grupo controle, que recebeu apenas um treino considerado padrão para basquetebol, não

apresentou alterações estatisticamente significantes para nenhuma variável estudada.

8.2 Controle da carga interna de treinamento

Os achados de Foster et al. (2001) mostram que o método PSE da Sessão

apresentou-se como uma estimativa subjetiva confiável para estimar a carga de treinamento

durante exercícios onde não se alcança um estado estável fisiológico, como, por exemplo, o

treinamento intervalado de alta intensidade e os treinos e competições em esportes

coletivos. Assim, o método consegue aglutinar, num único número, as ações combinadas da

intensidade e da duração do esforço.

Manzi et al. (2010) encontrou um valor de 3334 UA para a carga semanal total

para a semana em que não havia jogo, 2928 UA para a semana em que havia um jogo e

2791 UA para a semana com dois jogos. O estudo foi realizado com jogadores profissionais

de uma equipe italiana que disputava a Euroliga (um dos principais campeonatos da

Europa). Ao se analisar os dados da carga total semanal empregada no presente estudo

71

(FIGURA 11), percebeu-se que os valores encontrados para mulheres jovens foram muito

maiores em todas as quatro semanas (4746, 7191, 4706 e 4339 UA para as semanas 1, 2, 3

e 4, respectivamente).

O que a princípio podem parecer valores exagerados, há de se notar que este é o

primeiro estudo acompanhando uma seleção nacional se preparando para uma competição

internacional com 5 jogos sucessivos e com um período de preparação de apenas 18 dias.

Observa-se que o pico de volume recaiu sobre a semana 2, quando o Ttot de treinamento foi

de 23,7 horas. O grande volume apresentado pode justificar o fato da semana 2 apresentar

os maiores valores da carga de treinamento de todo o macrociclo (FIGURA 8). Porém, o

valor da monotonia nesta semana foi um dos mais baixos (FIGURA 13). Isso denota que as

sessões de treinamento foram bastante diferentes entre si no que se refere à relação

volume/intensidade, dados estes confirmados pela estatística (FIGURA 8). Como nenhuma

atleta se ausentou de nenhuma atividade da equipe (não houve afastamento por lesão), os

valores elevados do volume de treinamento por si só não devem ser considerados perigosos

à saúde de jovens atletas. Pelo menos não em uma preparação com poucos dias.

8.3 Distribuição do volume do macrociclo

Com relação à distribuição do volume dentro dos conteúdos de treinamento

(TABELA 7), nota-se que o TI utilizou muito pouco do Ttot do macrociclo (3,2 %) quando

comparado ao A, TP e TT (9,9%, 14,6% e 69,7%, respectivamente). Este fato pode servir

para demonstrar que intervenções pontuais e eficientes para ajustar as condições

fisiológicas de jovens atletas às exigências do basquetebol não necessitam de grandes

alterações na planificação geral quando o objetivo for melhorar a resistência à fadiga em

um curto período de preparação. Entretanto, esta afirmação só se justifica quando as atletas

apresentarem valores iniciais de desempenho próximos aos encontrados neste estudo.

72

73

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Algumas limitações deste estudo devem ser elencadas: (i) ausência de um grupo

controle e (ii) ausência de medidas fisiológicas objetivas tais como FC e da concentração

plasmática de lactato. A presença do grupo controle nos permitiria excluir, de maneira

definitiva, que as alterações encontradas por este estudo não são fruto do regime regular de

treinamento da equipe. Entretanto, é digno de nota que foi investigada uma seleção

brasileira que estava às vésperas de uma competição internacional importante da

modalidade e, por questões éticas, não se poderia impedir que parte da equipe se

beneficiasse das possíveis adaptações positivas implementadas pelo protocolo experimental

do estudo. Adicionalmente, Balciunas et al. (2006), em protocolo bastante semelhante ao

deste estudo, utilizaram grupo controle e não encontraram alterações estatisticamente

significantes para as variáveis estudadas.

O uso de medidas fisiológicas objetivas é extremamente útil para monitorar os

efeitos fisiológicos decorrentes de um programa de treinamento. Infelizmente, em virtude

do calendário apertado de preparação da equipe, não foi permitido realizar tais medidas.

74

75

CONCLUSÃO

Os achados deste trabalho demostraram que o uso do método de TI durante um

período de intervenção com grande concentração de estímulos foi eficiente para melhorar a

capacidade das atletas de resistir à fadiga. Além disso, os dados demonstraram que a

velocidade e a agilidade não foram prejudicadas por esta forma de intervenção.

Outra observação interessante é a de que o método PSE-s mostrou-se eficiente

para o controle da carga interna de treinamento, pois demonstrou com números a

variabilidade das cargas esperadas para cada microciclo da periodização. Dessa forma, o

uso deste método apresenta-se como uma ferramenta importante para o controle da carga

em jovens atletas de basquetebol.

76

77

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89

ANEXOS

90

91

ANEXO A – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da

UNICAMP.

92