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    XII Seminrio de Histria da Cidade e do UrbanismoOutubro de 2012Porto Alegre - RS - Brasil

    MODIFICANDO PREEXISTENCIAS CRTICAS. EXPERIMENTAES BRASILEIRAS, 1950-2010.

    Renata Hermanny de Almeida (Patri_Lab / Ufes) - [email protected] e Urbanista, Mestrado (1994), Doutorado (2005), Ps-Doutorado (2010), Docente do Curso de Graduao e

    do Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo / Ufes, Coordenador do Laboratrio "Patrimonio &

    Desenvolvimento Territorial".

    Giovanna Gonalves Silva (Patri_Lab / Ufes) - [email protected] do Curso de Arquitetura e Urbanismo / Ufes, Pesquisador do Laboratrio "Patrimonio & Desenvolvimento

    Territorial".

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    MODIFICANDO PREEXISTENCIAS CRTICAS.

    EXPERIMENTAES BRASILEIRAS, 1950-2010.

    ResumoIntegrante da pesquisa Cidade no Brasil: o papel do passado em intervenes urbano-arquitetnicas, 1950-2010, o artigo examina maneiras de acordar nova insero formal econtexto urbano com preexistncia crtica, com a inteno de reconhecer a fabulao de umamodernidade espacial e temporalmente dialgica. Com este objetivo, o estudo de projeto e/ouobra construda empreendido a partir de descrio, interpretao e categorizao deoperaes projetivas problematizadas a partir da relao entre tempo e forma. Focado emintervenes modificadoras do lugar, apresenta projetos de Oscar Niemeyer, Lina Bo Bardi ePaulo Mendes da Rocha, relacionados pela proposio de arquitetura para stios urbanos devalor patrimonial institucionalizado: Diamantina, Salvador e Rio de Janeiro. Ao final, pergunta-se sobre a possibilidade de reconhecer o valor da nova arquitetura na conservao dopatrimnio urbano.

    AbstractIntegrated in the research City in Brazil: the role of the past in urban-architectural interventions,1950-2010, the article looks at ways of waking up new formal insertion and urban context withcritical preexistence, with the intention of recognize the modern fable of a dialogical spatiallyand temporally. With this goal, the study of the project and / or work built it is carried from thedescription, interpretation and categorization of projective operations problematized from therelation of time and form. Interventions focused on modifying the place, presents OscarNiemeyer, Lina Bo Bard and Paulo Mendes da Rocha s projects, related by the proposal ofarchitecture for urban sites of recognized value: Diamantina, Salvador and Rio de Janeiro. Atthe end, the question arises about the possibility of recognizing the value of the newarchitecture in the conservation of urban heritage.Palavras-chave: Interveno urbana, Arquitetura, Antigo-Novo, Cidade.

    Keywords: Urban intervention, Architecture, Old-New, City.

    IntroduoEste escrito se desenvolve a partir de reflexes elaboradas no contexto investigativode Cidades no Brasil: o papel do passado em intervenes urbano-arquitetnicas,1950-2010, e tem como temtica central a histria da arquitetura brasileira, com focoespecfico na identificao de modos particulares de insero de nova arquitetura emcontextos urbanos com preexistncia crtica1. Em seu desenvolvimento, a refernciaconceitual e metodolgica central da pesquisa tem sido a obra Construir en lo

    1Neste trabalho, considerada rea de preexistncia crtica no s os stios histricos urbanos, comodefinido pela Carta de Petrpolis, 1987, mas toda rea da cidade que tenha representatividade social ecultural relevante. (CURY, 2004)

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    construido: la arquitectura como modificacin, de autoria de Francisco Gracia (2001),um estudo baseado na experincia europeia. Para esse pesquisador, alterar oslugares existentes uma tarefa delicada e somente justificvel caso contribua, de uma

    maneira mais adequada ao espao urbano e arquitetnico, para a vida do homem,posicionamento compreensvel face ao peso histrico da arquitetura investigada. Emseu escrito, Gracia considera a existncia de instrumentos projetuais para a inserode nova arquitetura em rea de preexistncia crtica, alm de classificar asintervenes em nveis, padres de atuao e atitudes frente ao contexto. Os nveisdescritos por Gracia e utilizados na pesquisa para categorizar as intervenes so: a)Modificao Circunscrita, interveno limitada ao edifcio como realidade individual; b)Modificao do Lcus, quando a escala de referncia para avaliar o impacto da novainsero indicada pelo entorno do edifcio em que se opera, afetando o sistema derelaes que caracteriza esse lugar; c) Conformao Urbana, operaes que afetamdiretamente o carter morfolgico de uma parte da cidade.Orientado pela anlise do fichamento, interpretao e categorizao de vrias obras, oestudo constata a predominncia da categoria Modificao do Lcus durante todo operodo estudado (1950-2010), bem como a relevante atuao de trs arquitetos cujasobras possuem grande projeo no cenrio nacional e internacional: Oscar Niemeyer,Lina Bo Bardi e Paulo Mendes da Rocha. Estes arquitetos, de linhagem modernista,possuem uma trajetria de atuao em reas urbanas com preexistncia crtica,buscando dialogar ou no com o entorno, em suas obras. Seguindo a metodologiaproposta por Gracia, os projetos sero analisados quanto morfologia urbana,tipologia e linguagem arquitetnica.Este artigo busca discutir a maneira como esses arquitetos fazem chegar uma novainsero formal ao contexto urbano histrico. Para isso, foram selecionadas atuaesem reas urbanas reconhecidas e protegidas como patrimnio em mbito nacional,

    pelo Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional IPHAN, e mundial, pelaOrganizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura - Unesco,tendo em vista seu potencial para investigar nveis, instrumentos e padres detransformao da imagem da cidade2. De Oscar Niemeyer, so analisados o HotelTijuco e a Escola Jlia Kubitschek, proposies da dcada de 1950, para Diamantina,cidade mineira representante do urbanismo tradicional, no Brasil. Concentrada nocentro histrico de Salvador, primeira capital do pas, a atuao de Lina Bo Bardi sedetm em proposies da dcada de 1980 para o Belvedere da S e a Ladeira daMisericrdia. De Paulo Mendes da Rocha, so analisados os projetos apresentadospara ampliao do Museu Nacional de Belas Artes e da Biblioteca Pblica do Rio deJaneiro, situados no centro histrico, rea onde se concentra a arquitetura ecltica, deuma cidade que almeja o ttulo de paisagem cultural3.

    Oscar Niemeyer na Cidade Histrica de Diamantina, Minas Gerais.Datada do ano de 1951, a Escola Jlia Kubitschek se insere em lote situado na reacentral de Diamantina, dominada por casario dos sculos XVIII e XIX. Implantadoisoladamente no terreno (fig. 1), o edifcio apresenta como configurao volumtrica obloco horizontal trapezoidal, desenvolvida a partir de expressiva sntese tectnica: ospilares so mos francesas que partem da laje de piso do pavimento superior,

    2Kevin Lynch defende que a imagem da cidade produto de sensaes imediatas e da memria de

    experincias anteriores de seus habitantes. (LYNCH, 2001)3

    Pela definio da UNESCO, a paisagem cultural compreende bens culturais que representam as obrasconjugadas do homem e da natureza; e ilustram a evoluo da sociedade e dos estabelecimentos

    humanos ao longo dos tempos, sob a influncia dos condicionamentos materiais e/ou das vantagensoferecidas pelo seu ambiente natural e das sucessivas foras sociais, econmicas e culturais, internas eexternas. (RIBEIRO, 2007)

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    definindo um volume elevado sobre pilotis, e liberando o pavimento trreo para orecreio coberto. As salas de aula se encontram no pavimento superior, enquanto notrreo esto dispostos os setores administrativos, os banheiros e o refeitrio (fig. 2).

    Figura 1: Escola Jlia Kubitschek.Fonte: MACEDO (2008).

    Figura 2: Escola Jlia Kubitschek.Fonte: MACEDO (2008).

    Por estar isolada no terreno, a escola no estabelece um contato com o entornoedificado, seguindo o princpio da excluso. A forma trapezoidal da nova edificao sedifere do bloco retangular, tipo formal predominante na cidade. Da mesma maneira,com sua fachada extensa, o edifcio tambm se contrape escala do preexistente.Por outro lado, por meio da horizontalidade bem ritmada, insinuando a fragmentaodo volume, pode-se dizer que h continuidade tipolgica; enquanto por sua linguagemarquitetnica modernista, a escola se difere em termos figurativos e estilsticos,condio perceptvel na utilizao de cobogs, na estrutura em pilotis, nas janelas emfita, e na explorao da plasticidade do concreto armado.

    O Hotel Tijuco, tambm de 1951, implantado com um generoso recuo frontal (fig. 3)que permite a apreciao de todo o volume a partir da rua, ao mesmo tempo em quesutilmente resguarda a escala do casario adjacente - pois o hotel tambm est situadoem pleno centro histrico de Diamantina. O edifcio segue a forma de um trapzio, dedominncia tipolgica horizontal (fig. 4). Os quartos, elevados sobre pilotis em V,foram posicionados junto s duas fachadas, em duas situaes: em varanda, comvista para a paisagem, e em terrao privativo.

    Figura 3: Implantao Hotel Tijuco.Fonte: MACEDO (2008).

    Figura 4: Hotel Tijuco.Fonte: MACEDO (2008).

    Com relao morfologia urbana, a nova insero difere dimensional eproporcionalmente em relao ao seu entorno; condio remarcada pela implantao.Isolado no lote, o trapzio se tambm difere frente volumetria predominante naregio, o paraleleppedo. Da mesma maneira, a linguagem arquitetnica do hotel

    modernista, estabelecendo uma relao de contraste com seu entorno, dominado pelaconfigurao tradicional da arquitetura e da cidade brasileira. No entanto, a tipologia

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    do edifcio novo estabelece uma relao de continuidade com seu entorno, visto queas construes preexistentes tambm consistem em blocos horizontais.As duas obras no dividem nenhum de seus pontos com qualquer edifcio precedente.

    Desse modo, alteram o desenho urbano da cidade tradicional atravs de suaimplantao, da dimenso das construes e seus lotes e da relao que buscam coma rua. Proporcionalmente, o hotel se aproxima s construes preexistentes, porpossuir menor escala, enquanto a escola se coloca como uma fita, tamanha aextenso de sua fachada frontal. Quanto forma, no Hotel Tijuco se percebe aevoluo da geometria do trapzio, que no ocorre somente no pavimento superior,como na escola, mas em todo o volume do edifcio.

    Lina Bo Bardi no Centro Histrico de SalvadorO local de implantao do Belvedere da S (1986) um espao urbano contido entrea Santa Casa de Misericrdia, o Palcio Arquiepiscopal e a borda da escarpa quelimita a cidade alta. O espao est dividido em trs reas, um largo, um terrao e aencosta; as duas primeiras separadas por um discreto desnvel, e a segunda e terceirapor uma escada (fig. 5). No nvel de acesso, situam-se um palco e um ambiente dedescanso protegido por frondosas rvores. No nvel do terrao, uma plataforma ocupatoda a largura do terreno, local para mesas de concreto e ombrelloniordenadamentedispostos (fig. 6). No terceiro nvel est a encosta, mantida em sua condio pretrita.

    Figura 5: Planta do Belvedere da S.Fonte: FERRAZ, 1993.

    Figura 6: Belvedere da S.Fonte: LATORRACA, 1999.

    Apesar de se tratar de um local aberto, em sua relao com o espao urbano, o planodo belvedere exerce papel tipicamente urbano, delimitando o espao parcialmenteindeterminado (GRACIA, 1992), e aproximando morfologicamente a nova arquiteturaem relao ao seu entorno, em trs de seus elementos de configurao formal

    recorrentes: largo, edifcio e logradouro.A Ladeira da Misericrdia um projeto datado de 1989. Trata-se de uma parceria deLina Bo Bardi com os arquitetos Marcelo Ferraz, Marcelo Suzuki, e Joo FilgueirasLima. A abrangncia do projeto d-se em escala de bairro, como parte do plano pilotopara recuperao do centro histrico da cidade de Salvador. A inteno de Lina BoBardi foi recuperar os edifcios na Ladeira, tanto no aspecto externo quanto no interno,e ampliar a rea edificada, propondo nova edificao (fig. 7). Para isso, utilizacontrafortes em ferro-cimento para sustentar as estruturas antigas, como umasegunda pele, e para erguer o novo edifcio. Esse, representado por arquitetura deconfigurao volumtrica circular, poderia estabelecer contraste vigoroso, condiocontrolada por meio da adoo de discreta altura, edificada tendo como ponto centraluma frondosa rvore (fig. 8 e 9).

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    Figuras 7, 8 e 9: Vista do conjunto e detalhes da consolidao estrutural. Fonte: Revista Projeto (1992).

    Quanto existncia de vnculos, em morfologia urbana, h correspondncia mtrica,geomtrica e de proporo entre os edifcios antigos e restaurados, por se tratar deum projeto que tem por objetivo recuperar e manter o carter original do edificado. Soantigas habitaes, dos sculos XVIII e XIX, de 02 e 03 pavimentos. No mbito datipologia arquitetnica, h continuidade e, no que tange linguagem arquitetnica, h

    simplificao dos recursos figurativos e estilsticos. Essa condio se inverte no mbitodas novas estruturas em ferro-cimento, utilizadas na amarrao das estruturas antigase na nova insero formal.Aproximao pela escala, pela imagem (matria, textura, cor), pela tcnica estrutural(alvenaria portante), que permite o respeito integral pela essncia histrica dosantigos edifcios (FERRAZ, 1993) e minimiza o impacto da rigorosa abstrao formalda circunferncia que d forma ao volume do restaurante Coaty e do posicionamentoregular das mesas no Belvedere.

    Paulo Mendes da Rocha no Centro Histrico do Rio de JaneiroO edifcio de arquitetura ecltica que abriga o Museu Nacional de Belas Artes,projetado por Adolph Morales de Los Rios, foi construdo em 1908, em rea do atual

    centro da cidade do Rio de Janeiro. O projeto de Mendes da Rocha, do ano de 2005,consiste na readequao das instalaes e na ampliao das reas de exposies, dereserva tcnica, biblioteca e laboratrios de restauro. O partido adotado visa duasoperaes bsicas: restaurar e recompor o edifcio original, com sua caractersticahistrica peculiar; e, para atender necessidade de ampliao do espao, construiruma estrutura nova para abrigar as instalaes administrativas, tcnicas de apoio e domaquinrio, indispensveis modernizao do museu. A proposta edificar uma torrecircundada pela construo horizontal existente, por dentro do antigo edifcio,implantado no vazio do seu ptio interno (fig. 10).Do ponto de vista do contexto urbano, a torre se confunde com outras situadas noentorno, edificadas nas dcadas da arquitetura do desenvolvimento. Para o autor, suaimplantao dever parecer enigmtica no conjunto e no existir para o pedestre no

    passeio pblico (fig.11).

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    Figura 10: Implantao do edifcio no CentroHistrico. Fonte: WISNICK (2008).

    Figura 11: Anexo do Museu Nacional de BelasArtes. ARTIGAS (2007).

    Ao analisar os vnculos entre a construo preexistente e seu novo anexo, percebe-sea inexistncia de correspondncia com relao tipologia arquitetnica, condioreconhecida na contraposio da dimenso e da proporo utilizadas: enquanto avolumetria do museu parte do bloco horizontal, seu anexo uma torre que se destacadevido sua verticalidade. A linguagem arquitetnica modernista do anexo estabeleceuma relao de negao do edifcio ecltico, no havendo aqui reiterao de recursosestilsticos e figurativos. Porm, o anexo estabelece relaes de escala com seuentorno, uma rea ocupada por prdios de tipologia vertical e de linguagemarquitetnica modernista.Conforme projeto submetido a concurso de ideias, o partido para implantao daBiblioteca Pblica do Rio de Janeiro (fig. 12), entre a Avenida Presidente Vargas e aRua da Alfndega, ao lado da Igreja de So Gonalo e So Jorge e do campo de

    Santana, foi radical: constru-la em subsolo. A inteno era de no afrontar asconstrues existentes, mantendo a limpidez da paisagem, alm de melhor controlaras exigncias tcnicas de climatizao e conservao dos livros. A biblioteca, porm,deveria aflorar no terreno de algum modo. Para isso foi criado um grande prticosuspenso em T, vencendo um vo de 110 m. O prtico cria uma regio de sombra napraa, amparando um pequeno vestbulo de cristal, entrada para a biblioteca. Oprojeto data de 1984.

    Figura 12: Elevao Avenida Presidente Vargas. Fonte: ARTIGAS (2007).

    O projeto no faz nenhuma relao com seu entorno quanto morfologia urbana, pois,ao edificar o subsolo, a inteno do arquiteto de intervir o mnimo possvel no local setorna evidente. A horizontalidade do prtico se relaciona com as edificaes ao seuredor, marcado por essa dominncia tipolgica. Por sua vez, a linguagem arquitetnicamodernista da biblioteca se ope linguagem ecltica das edificaes preexistentes,no havendo aqui algum tipo de relao entre eles.

    As obras analisadas indicam que o arquiteto busca uma aproximao de suas obrascom o entorno pela escala e pela dimenso. Na biblioteca, isso se torna ainda maisevidente, pois devido a sua insero no subsolo, o arquiteto mostra que no a sua

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    inteno provocar alteraes evidentes na relao scio-espacial do local. As obras sediferem muito dos edifcios ao seu redor quanto tcnica e a abstrao formal.

    O valor da nova arquitetura na conservao do patrimnio urbano.Trs arquitetos, trs cidades, trs posicionamentos e uma atitude? Em OscarNiemeyer, em Diamantina (1951), a expresso se faz pela fora da abstrao,conduzida pela licena potica de uma arquitetura moderna reconhecidamentenacional, transformadora por meio de vigoroso contraste, viabilizada e referendada naconfiana do valor da nova esttica como contraponto positivo na conservao dopatrimnio urbano. Em Lina Bo Bardi, em Salvador (1986 e 1989), afora do social aresponsvel pelapreservao da Alma popular, em um projeto cultural fundamentadono valor do uso do patrimnio urbano, presente em duas situaes e um mesmoposicionamento frente ao ldico da manifestao genuna de homens comuns em seulugar. Em Paulo Mendes da Rocha, no Rio de Janeiro (1987 e 2005), a manifestaose d pela fora da ambincia, operada por duas solues e uma mesma sensibilidadepara com o territrio urbano - cidade, verificvel na conformao de conexes,promovidas por aproximao escalar, morfolgica, e relaes sociais e espaciais. Ovalor da tcnica na realizao de uma arquitetura confiante na potncia criativa dafabulao do patrimnio urbano e da emancipao do humano.Frente ao apresentado, pergunta-se sobre a possibilidade de reconhecer na fora daelaborao do novo uma tradio da arquitetura brasileira. Na busca de uma possvelresposta, voltamos a um passado de durao um pouco mais longa para reencontraruma paradigmtica interveno modificadora, fabulada para o corao da cidade doRio de Janeiro, o Ministrio da Educao e Sade - MES (1936-1942), atual PalcioGustavo Capanema.

    Figura 13: Desenho de LC representando o

    aproveitamento tradicional do terreno no Rio deJaneiro e a nova soluo representada pelo

    edifcio do MES. Fonte: COMAS (1987).

    Figura 14: IPHAN e Unesco

    discutem patrimnio mundial noBrasil.. Acesso em 14 de abril de2012.

    Materializadas em solo produzido pela tabula rasa do Morro do Castelo, namodernizao urbana de principio do sculo XX, conduzidas por equipe chefiada porLucio Costa, da qual participa o jovem Oscar Niemeyer, as decises dos arquitetosbrasileiros frente orientao do mestre francs, Le Corbusier, anunciam umposicionamento crtico delineador de uma tendncia reconhecida nos projetosanalisados neste artigo: o valor positivo da integrao do patrimnio urbano numahistoricidade mltipla e diversa (fig. 13 e 14). Retomando palavras de Carlos EduardoComas, o valor positivo do entendimento da arquitetura e da cidade uma verdadeira

    mquina para recordar.

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    Referncias:

    ARTIGAS, Rosa. Paulo Mendes da Rocha: projeto 1999-2006. So Paulo. CosacNaify, 2007.

    COMAS, Carlos Eduardo. Prottipo e monumento, um ministrio, o mistrio. RevistaProjeto. So Paulo: Projeto Editores Associados Ltda., n 102, p.137 a 149, ago.1987.

    CURY, Isabelle (Org.). Carta de Petrpolis. Cartas Patrimoniais. 3 ed., Braslia:Ministrio da Cultura: Instituto do Patrimnio Histrico, Artstico e Cultural, 2004.

    FERRAZ, Marcelo Carvalho. Lina Bo Bardi. Pgina 270-299. So Paulo, 1993.

    GRACIA, Francisco de. Construir en lo construido: La arquitectura comomodificacin. Madrid: Nerea, 1992.

    IPHAN e Unesco discutem patrimnio mundial no Brasil. Texto disponibilizadoem 17 out. 2008. Disponvel emhttp://www.maxpressnet.com.br/e/iphan/iphan_17-10-08.html. Acesso em: 14abr. 2012.

    LATORRACA, Giancarlo. Joo Figueiras Lima Lel. So Paulo: Instituto Lina Bo eP.M. Bardi, 1999.

    LYNCH, Kevin. A Imagem da cidade. So Paulo: Martins Fontes, 2001.

    MACEDO. Danilo Matoso. Da matria inveno: As obras de Oscar Niemeyer emMinas Gerais 1938-1955. Braslia, 2008.

    Revista Projeto. So Paulo: Projeto Editores Associados Ltda., n 149, p. 24 a 35,jan./fev. 1992.

    RIBEIRO, Rafael Winter. Paisagem cultural e patrimnio. Rio de Janeiro: IPHAN/COPEDOC, 2007.

    WISNIK, Guilherme. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. RevistaInternacional de Arquitectura. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, S.A., 2008.