Modos de Dizer, Ver e Fazer -...

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Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto Curso Doutoral em Educação Artística (DEA) Especialidade em Educação Artística A Educação Artística no Sistema de Ensino Português - Modos de Dizer, Ver e Fazer - Elisa Marques 2014/2015 Projeto de Investigação BOLSA ECOLUB

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Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto

Curso Doutoral em Educação Artística (DEA)

Especialidade em Educação Artística

A Educação Artística no Sistema de Ensino Português

- Modos de Dizer, Ver e Fazer -

Elisa Marques

2014/2015

Projeto de Investigação

BOLSA ECOLUB

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Resumo

Este estudo tem como temática central “Educação Artística no Sistema de Ensino Português.

Nele se circunscrevem três dimensões: a Histórica - visa retratar as continuidades e

descontinuidades dos Modos de Dizer, através de várias fontes documentais; a Antropológica

– centra-se nos Modos de Ver a realidade da arte na escola; a Estética – procura articular os

Modos de Ver e de Fazer das diferentes formas de arte, nos contextos da Educação Pré-

Escolar e do 1º Ciclo do Ensino Básico.

Procura-se neste itinerário analisar os discursos ditos e escritos, à luz de perspetivas múltiplas

que encarem a complexidade das realidades, assumindo a arte e a sua relação com os

contextos escolares, a essencialidade do percurso entre o que é feito e o que é dito, não

deixando. “escapar” o mito. Procura-se ainda questionar as circunstâncias pelas quais a

Educação Artística não é uma ainda uma “ Promessa de Significado”.

Palavra – chave: educação artística; arte; discursos; mitos, aprendizagem; conhecimento.

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Índice

Antes de começar:......................................................................................................................... 4

Motivações e convicções: ............................................................................................................. 4

1. Introdução ............................................................................................................................. 6

2. Os caminhos de um Problema: do Mito ao Feito .................................................................. 7

2.1. Dimensão Histórica – Modos de Dizer: Alguns contributos ................ 7 2.2. Dimensão antropológica- Modos de Ver ................................................10 2.3. Dimensão Estética: Modos de fazer.........................................................11

3. Problema ............................................................................................................................. 13

Discursos em curso ....................................................................................................14 Ponto prévio aos discursos: Uma Partida com Retorno .....................................14 A Educação: Um projeto de Transformação ....................................................................... 14

A Estética e a criação de Mundos ....................................................................................... 15

A Arte: A relação com Outros Universos ............................................................................. 18

O valor dos discursos: Cientifico, Politico e Pragmático: consonâncias e dissonâncias ..... 20

Tempo de consonâncias versus dissonâncias, ou dos discursos de quem fala e de quem faz

............................................................................................................................................. 24

Um ponto à frente no discurso cientifico: A integração de modelos de práticas 26 Pausa nos discursos científicos: Vamos dar lugar ao discurso político ............27 Possibilidades de uma Rutura? .................................................................................28 Nova pausa: Vamos à escola à procura dos discursos pragmáticos .................29 A Escola como ponto de chegada de Feitos Mitos Ditos ..................................30 Por dentro da Escola: Retorno aos discursos científicos - A Arte como fim em si mesma ........................................................................................................................................31

4. Metodologia ........................................................................................................................ 33

4.1 Selecção de procedimentos, técnicas de recolha e de análise dos dados33 5. Cronograma ......................................................................................................................... 37

Bibliografia .................................................................................................................................. 38

Webgrafia .................................................................................................................................... 40

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Antes de começar:

Se o livro que lemos não nos acorda como um murro na cabeça, para que o lemos?

Kafka, Carta a Pollack, 1904.

Motivações e convicções:

Entrei neste curso doutoral “pela mão” do Professor Luis Alberto.

No dia em que conversei com ele estava num dia triste, disposta a abandonar a minha causa

de 35 anos de trabalho. Há dias assim. Os motivos não interessam. Mas era a minha

circunstância.

Entusiasmei-me com as palavras dele e comecei a escrever o que me propunha estudar.

Confesso que foi muito difícil escrever porque a minha causa não me deixa espaço para

desassossegar as ideias, já que tenho de as arrumar para um trabalho intenso a que também

me propus, e que por razões éticas não o posso descurar, apenas se desistir.

Mas não desisti. Aquele momento deu-me ânimo, força e coragem para ficar e para me

desassossegar. Nunca mais desde esse dia deixei de pensar no meu estudo, sempre

comparando e integrando as minhas leituras para o trabalho que realizo no Ministério da

Educação e Ciência, com o projeto que desenvolvo nos vários contextos educativos e artísticos,

e com o meu objeto de estudo.

Quando vim pela primeira vez à Faculdade senti muitas saudades do meu tempo de escola.

Sempre gostei de estudar e das minhas escolas, embora não tendo tido sempre as melhores

experiências, mas tornei-me resiliente na escola, nas causas e na vida, e luto por aquilo em

que acredito.

Acreditei que este doutoramento era uma maneira de ser “ obrigada” a sistematizar aquilo

que sei, aquilo que irei aprender e partilhar com os outros sobre aquilo que quero dizer nesta

tese.

Confesso que estou farta dos doutoramentos em que apenas se citam os autores, em defesa

do rigor científico, ficando “de lado” o pensamento próprio de quem os faz. Percebi que esse

não era o espírito e que havia alguma margem para poder ser também autora e produzir algo

de novo acerca da minha vivência profissional e do que aprendi com ela. Porque essa vivência

está já impregnada pelos autores que me marcaram, pelas pessoas que com quem convivi e

convivo. Quero mostrar o que esses autores transformaram em mim e na minha prática

profissional muito mais do que ter de os reler agora por imposição de um “trabalho de

citação”. Não quero com o que disse ser arrogante, quero antes de mais, mostrar o que esses

autores fizeram de mim. Porque como diz Kafka (1904), “Se o livro que lemos não nos acorda

como um murro na cabeça, para que o lemos?”

Quero escrever, de um modo mais fundamentado, as minhas convicções, as quais passam pela

reclamação de um estatuto de igualdade da arte como as demais áreas do currículo,

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recusando a ideia das artes como “são a salvação do mundo” e que por isso são mais

importantes que outras áreas.

Nesse estatuto de igualdade, reafirmam-se as suas exigências e as suas dificuldades que só um

trabalho sistemático e intencional poderá permitir às crianças adquirirem um conhecimento

neste domínio.

Mas tenho a certeza que quando concluir este trabalho serei Outra.

Deixo-me agora “guiar” pelas palavras de Rainer Maria Rilke (2004) nas Cartas a um Jovem

Poeta:

(…) [S]eja paciente perante tudo que não tem solução no seu coração e tente amar as

próprias perguntas como quartos fechados e como livros que são escritos numa

língua estrangeira. Não procure agora as respostas, que não lhe podem ser dadas

porque não poderia agora vivê-las. E a questão é, Viva Tudo! Viva agora as perguntas.

Talvez então gradualmente e sem se dar conta chegará a um dia distante, em que

obterá a resposta. Talvez transporte dentro de si a possibilidade de formar, como

uma forma de viver particularmente feliz e pura; treine-se para isso, mas receba tudo

o que vier com grande confiança e se sair apenas da sua vontade, tome a decisão de

nada odiar (…). (p.31)

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1. Introdução

A investigação a desenvolver neste curso doutoral centra-se na temática da Educação Artística,

doravante designada por EA, no contexto do Sistema de Ensino Português. Procura-se

problematizar o papel que é atribuído pelos decisores políticos, pelos docentes, pelos alunos e

pelas famílias, a esta área na Educação em geral, e nas artes em particular.

Para a operacionalização deste estudo, opta-se por colocar em análise três eixos de

intervenção, com os seguintes objetivos, a saber:

Dimensão concetual/ Modos de dizer – Elaborar um quadro de análise sobre um

conjunto de fontes documentais produzidas, a partir de 1971, altura em que, na

Fundação Calouste Gulbenkian e por iniciativa de Madalena Perdigão se realizou o

“Colóquio sobre o projeto de reforma do ensino artístico”, até à 2014. Em inter-relação

com este quadro de análise, pretende-se também discutir e definir determinados

conceitos que ao longo da análise das fontes documentais forem emergindo,

procurando perceber como são entendidos no contexto destes documentos.

Representações / Modos de ver – Questiona um conjunto de “mitos” que existe na

comunidade educativa sobre as conceções teóricas e práticas do desenvolvimento das

diferentes formas de arte nos contextos educativos. Problematiza o desenvolvimento

das diferentes formas de arte na escola, nos contextos da Educação Pré-escolar e 1º

Ciclo do Ensino Básico, questionando quem lê e formaliza as diretrizes legislativas e os

discursos pedagógicos sobre a arte na escola. A partir da problematização e análise das

práticas nestes contextos educativos identifica-se um conjunto de “mitos” que

preexiste à construção do conhecimento nas diferentes formas de arte na escola.

Dimensão Prática / Modos de fazer – Identifica as práticas desenvolvidas em

contextos escolares integrados no Programa de Educação Estética e Artística (PEEA) do

Ministério da Educação e Ciência (MEC), analisando como a dimensão dos “modos de

dizer e ver” podem ou não influenciar o desenvolvimento das práticas na EA.

A partir da análise e do estudo destes três eixos de intervenção, procurar-se-á fazer uma

abordagem que articule as seguintes dimensões:

Dimensão Histórica – Refere-se, por um lado, a uma contextualização histórica, a

partir de diversas fontes documentais (produção legislativa, análise de relatórios

elaborados por “encomendas” governamentais, debates parlamentares, em sede da

Comissão de Educação e Cultura da Assembleia da República, entre outros

documentos que se focam no debate pedagógico sobre as questões da EA nas escolas,

procurando traçar linha temporal sobre as continuidades e /ou a descontinuidade dos

discursos políticos e pedagógicos- artísticos. Por outro lado, procura-se problematizar

os conceitos de Arte, Educação Artística, Estética, Criatividade, ao longo do tempo, no

sentido de contribuir para uma maior inteligibilidade na comunidade educativa sobre

estes Modos de Dizer.

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Dimensão Antropológica – Centra-se na análise dos Modos de Ver e na enunciação

dos “mitos” da comunidade educativa sobre o desenvolvimento e aprendizagem em

arte, tentando compreender a sua origem, a sua evolução e a sua disseminação,

retratando como o Mito se pode tornar um Feito na EA em Portugal.

Dimensão Estética – Baseia-se na articulação dos modos de ver e de fazer de um

universo de 10 Agrupamentos de Escolas (AE) integrados no Programa de Educação

Estética e Artística (PEEA), caraterizando as práticas das várias formas de arte –

Educação Plástica/ Visual, Dança, Educação Musical, Expressão Dramática/ Teatro nos

diferentes contextos escolares, de acordo com os pressupostos teóricos de natureza

artística e pedagógica, relevantes para a problemática deste estudo, assim como de

outras perspetivas que possam emergir do contexto da investigação.

Para tornar mais claro o sentido das dimensões enunciadas apresenta-se abaixo uma síntese

de cada dimensão, mobilizando alguns contributos que circunscrevem a análise de cada

dimensão.

2. Os caminhos de um Problema: do Mito ao Feito

No trajeto que se desenha para chegar a um “verdadeiro” Problema de investigação há que

ter em conta os saberes que encerram as múltiplas realidades que o contornam, a observação

focalizada das suas diferentes dimensões, a pesquisa renovada do que se sabe e a progressiva

explicação/elucidação/compreensão do tema em estudo.

Assim, neste trabalho de investigação, opta-se por colocar alguns contributos de três

dimensões do Problema que se pretende concetualizar, a saber:

2.1. Dimensão Histórica – Modos de Dizer: Alguns contributos

Desde a reforma de Veiga Simão (1971) os vários governos têm acentuado a importância da EA

no desenvolvimento integral das crianças e jovens, mas é com a Lei de Bases do Sistema

Educativo (1986) que esta área se constituiu como um quadro de referência que marcou de

forma significativa a importância atribuída à educação “estética e artística”, acentuando a

ideia de que esta desempenha um papel importante no desenvolvimento e formação integral,

designadamente nas dimensões pessoal e social do indivíduo, estabelecendo no n.º 1 do art.º

2.º, que “todos os portugueses têm direito à educação e à cultura, nos termos da Constituição

da República”.

Ao longo de vários anos, foram constituídos pelo poder político grupos de trabalho com o

objetivo de estudar o ponto de situação da EA em Portugal e, a partir desse conhecimento,

propusessem recomendações sobre o modo como deveria ser desenvolvida a prática

educativa da EA nas suas diferentes dimensões. A título de exemplo, enumeram-se os

relatórios dos grupos de contacto entre os Ministérios da Educação e da Cultura,

nomeadamente “A EA e a promoção das artes, na perspetiva das políticas públicas", de 2000, e

"Educação e Cultura, de 2004” destacando-se as seguintes prioridades:

Criação de condições indispensáveis para que todas as crianças disponham da

oportunidade de uma iniciação artística, desde a educação pré-escolar;

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Formação inicial e contínua de docentes na área da EA;

Ensaio de soluções que, partindo do estabelecimento de parcerias e da

construção de redes entre os diversos parceiros sociais, culturais, artísticos e

económicos, permitam a igualdade de oportunidades – logo, a generalização –

no acesso aos bens culturais, ao conhecimento do património, enquanto

referência histórica e cultural que caracteriza a herança coletiva e a

identidade.

Também em termos de resoluções internacionais, algumas das conclusões vão no mesmo

sentido. No Roteiro para a EA, da Comissão Nacional da UNESCO, publicado em 2006,

pretende-se estabelecer (…) um entendimento comum entre [os governos dos países

participantes desta Comissão] sobre a importância da EA e o seu papel essencial na melhoria

da qualidade da educação, (…) da sua importância na construção de uma sociedade criativa e

culturalmente consciente.

Neste documento são também apresentadas algumas recomendações ao nível do

desenvolvimento de políticas educativas para a EA:

Formação de artistas e professores na área da EA;

Conceção de políticas de investigação nacional e regional no domínio da EA;

Integração da EA nos sistemas educativos e nas escolas de um modo mais

coerente.

Também a Resolução de 24 de março de 2009, do Parlamento Europeu (2008/2226 (INI)),

reconhece, no âmbito da Estratégia de Lisboa que:

(…) a escola deve voltar a ser o principal local da democratização do acesso à

cultura e a educação artística e cultural é uma componente essencial da formação

de crianças e dos jovens, dado que contribui para o desenvolvimento (…) da

sensibilidade e da abertura aos outros; considerando-a como elemento-chave da

igualdade de oportunidades e uma condição essencial de uma verdadeira

democratização do acesso à cultura, sendo necessário promover a todos os níveis e

em todas as idades a consciência artística, reconhecer a importância das atividades

artísticas coletivas e amadoras e promover o acesso ao ensino das artes.

Para tal, é expressa a necessidade de todos os Estados-Membros, entre outros aspetos,

reconhecerem a importância dos seguintes elementos:

Definição do papel da EA como instrumento pedagógico essencial para a

valorização da cultura num mundo globalizado e multicultural;

Estabelecimento de estratégias comuns para a promoção de políticas de EA e

de formação de docentes especializados nesta área;

Reconhecimento do papel dos artistas na sociedade e na escola;

Necessidade de estabelecer metas específicas para a EA;

Identificação da importância da EA, da cultura e da criatividade no contexto de

uma economia baseada no conhecimento;

Introdução de um regime especial para promover a EA no contexto do

programa plurianual de cultura.

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Seguindo a mesma linha de orientação, a 2.ª Conferência Mundial de EA promovida pelo

Governo da República da Coreia e pela Unesco, realizada em maio de 2010, em Seul, chama

atenção para que os vários países assumam as responsabilidades de promover uma política

educativa e cultural, destacando cinco dimensões que esta deveria assumir, designadamente:

A clarificação dos conceitos: Educação Artística, Educação e Arte, a Arte na

Educação; quer quanto ao seu objeto, quer quanto ao seu nível de

abrangência;

A avaliação das atividades relacionadas com a EA, no que diz respeito ao

conhecimento que os alunos devem adquirir, propondo-se a definição de

metas claras sobre a aprendizagem nesta área;

A rentabilização de recursos através da formalização de parcerias entre os

estabelecimentos de ensino e as instituições culturais, desenvolvendo redes

intra e intergovernamentais;

A formação de docentes e profissionais das instituições cultura.

Tendo em consideração o conjunto destas reflexões e recomendações, o Ministério da

Educação e Ciência iniciou, em 2010, criou a Equipa de Educação Artística, que desenvolve o

Programa de Educação Estética e Artística (PEEA), que entre outras, define as seguintes

finalidades:

Articular os estabelecimentos de ensino com os diferentes instituições

culturais, no sentido destes poderem contribuir para a construção de um

programa comum na área da EA

Incentivar a diversidade de contextos culturais de modo a trabalhar conteúdos

específicos relativos a cada área, tentando exercitar a transversalidade

curricular;

Desenvolver um modelo de formação de docentes em contexto de trabalho,

nas áreas da dança, música, teatro e educação plástica/ visual, que

progressivamente se alargue ao território nacional;

Desenvolver projetos de investigação em parceria com Instituições do Ensino

Superior;

Promover redes de parcerias entre Escolas Superiores de Educação,

Universidades e Ministérios, entre outras.

A partir destes contributos, por ora, descritos de um modo muito sumário e cumulativo,

pretende-se fazer uma análise dos discursos inscritos nos diversos documentos escritos de

natureza legislativa e educativa. Também se pretende auscultar várias personalidades que

tiveram responsabilidade ao nível da política educativa e artística, durante este contexto

temporal. Na realidade, a questão relevante é a análise dos discursos - escritos e falados,

numa perspetiva de “indagação e inquietude críticas”, para inventariar categorias de análise, a

partir de uma análise explícita e / ou implícita, do que é escrito e/ou dito.

Partindo da análise discursiva pretende-se dar visibilidade a uma dimensão da realidade do

Problema, que se pode concetualizar do seguinte modo:

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1ª aceção

Se a EA está presente nos discursos políticos e sociais como garante de um desenvolvimento

integral do ser humano, quais as razões que existem para que ela não tenha a aplicabilidade

nos contextos educativos? Será que a importância atribuída nos discursos à EA é uma

“promessa não cumprida”?

2.2. Dimensão antropológica- Modos de Ver

Como é possível observar nos documentos atrás referidos, ressalta a importância da EA, aliada

ao direito que todas as crianças devem ter à fruição dos bens culturais. Porém também se

constata a falta de operacionalização dos conceitos que orientam o desenvolvimento da

Educação, a Arte, a Educação Artística, o Ensino Artístico, a Estética, a criatividade, a

sensibilidade, a qualidade em educação, entre outros, sendo inexistente uma visão sobre a

evolução de alguns destes conceitos, o que poderá contribuir para leituras “apressadas” e não

fundamentadas sobre o que se pode entender quando se fala sobre cada um deles, ficando

este conhecimento, por vezes, ao nível do “senso comum”. Este facto poderá ter repercussões

no modo como os diferentes atores – políticos, docentes, alunos, famílias – encaram a EA,

principalmente a três níveis:

Legislação produzida pelas tutelas;

Desenvolvimento das práticas e dos conhecimentos que os alunos devem obter;

A validade social deste conhecimento que é atribuída pelas famílias.

Decorre desta indefinição de conceitos, a ausência de análise de cada um deles numa

perspetiva multidimensional, levando muitas vezes a uma certa imposição da pedagogia do

“certo” e do “errado”, fundada num desconhecimento do que se ouve, entende e faz, nos

diferentes contextos educativos.

Aliado a este aspeto, e pelo conhecimento que se detém de muitos dos territórios educativos,

surgem também as representações/ Modos de Ver, que se consubstanciam num conjunto de

“mitos” que vão tendo “ força de lei", contribuindo para assegurar o desenvolvimento não

fundamentado das práticas da EA nas escolas. Enumeram-se, a título exemplificativo, alguns

dos principais “mitos” que afetaram e afetam o conhecimento em arte:

São matérias muito difíceis para as “crianças pequenas”;

Ausência de tempo e inexistência de espaço físico apropriado;

As crianças são criativas, artistas por natureza;

As crianças imitam os artistas;

A arte é a expressão das emoções e de sentimentos;

Os artistas preferidos são: Miró e Picasso porque pintam como as crianças;

A noção de criatividade é apenas centrada na fantasia, ou apenas para génios;

O “estereótipo” de “bonito” e de “bem feito”;

A arte é um instrumento para ilustração literal do mundo;

A EA serve para formar artistas;

A EA é para quem tem jeito;

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O professor não tem jeito para a EA;

A dança, a música, o teatro e as artes visuais não tem conteúdos para serem

ensinados;

A dança, a música, o teatro e as artes visuais são apenas baseadas no “fazer”;

A EA serve para preparar a comemoração de festividades (Natal, Carnaval, Páscoa,

entre outras);

A transversalidade entre o conhecimento em arte e nas outras áreas é vista como

uma integração de temáticas;

A arte é um método de ensino;

A arte melhora as aprendizagens das outras áreas;

A arte é a salvação do Homem.

Como é possível verificar neste conjunto de “mitos”, existem noções contraditórias em relação

ao que é expresso em alguns documentos legislativos, às recomendações dos especialistas, a

nível nacional e internacional, e ao conhecimento específico em arte.

Salienta-se, ainda, que estes “mitos” reforçam várias linhas de análise, que se julgam de

especial relevância para melhoraria da EA no Sistema de Ensino Português, a saber:

O conhecimento artístico e o seu desenvolvimento, desde a Educação Pré-escolar;

As dimensões do conhecimento em arte: o papel dos processos de fruição-

contemplação; de reflexão – interpretação; de experimentação- criação, ou seja, a

construção dos discursos sobre arte, o papel da representação, das técnicas e da

expressividade, e o desenvolvimento da intencionalidade expressiva e criativa;

Contextualização das práticas nos diferentes universos culturais: visuais, musicais,

coreográficos, teatrais, entre outros;

As teorias miméticas, hedonísticas, catárticas da arte;

A prática da transversalidade, tendo por base um conjunto organizado de saberes

específicos de cada uma das áreas artísticas.

A formação dos docentes em arte: generalistas e especialistas.

Após a constatação da inexistente operacionalização dos conceitos de arte, Educação Artística,

criatividade e do conjunto de “mitos” que perpassam a comunidade educativa, o Problema

ganha novas aceções, que se podem sintetizar do seguinte forma:

2ª aceção:

Serão os discursos propícios ao desenvolvimento de “mitos” na EA?

Será que a valorização excessiva que é atribuída às artes nos diferentes discursos se torna um

modo de as afastar da escola?

Como é que se passa do discurso ao “ Mito e ao Feito”?

Será possível conceber uma EA sem “Mitos”?

2.3. Dimensão Estética: Modos de fazer

12

Num esforço de clarificação neste contexto, e tomando como diagnóstico as duas dimensões

acima referidas, adianta-se uma abordagem do ensino das diversas formas de arte na escola,

mobilizando conhecimento de alguns autores que poderão tornar mais claros alguns

argumentos para uma nova visão do desenvolvimento as artes. Neste sentido, opta-se por

definir o conceito de Estética como ele foi protagonizado pelo poeta e filósofo Schiller, que

afirmava que a Educação Estética é a aprendizagem com todos os sentidos, e, por conseguinte,

é necessário, segundo o autor, aprender a ouvir, a ver, a tatear, a dizer, a saborear. Nesta

aceção, é necessário mobilizar diferentes linguagens e formas de comunicação para que, na

sua interpretação, a educação seja eminentemente Estética. Ainda segundo a conceção deste

autor, na Educação não existe separação entre a teoria e a prática, afirmando-o na sua teoria

dos “impulsos”, que mais tarde dá origem ao conceito de “mediação” (Vigostky,1926).

Segundo Schiller na obra “Cartas Sobre a Educação Estética do Homem”(1795), para

conhecer ”uma coisa” é necessário mobilizar um “impulso sensível”, através do qual se faz

uma “leitura flutuante”, sendo também necessário, posteriormente, reunir as características

das “coisas”, utilizando a designação de “impulso formal, ou seja um conhecimento mais

aprofundado das “coisas”. Para que o conhecimento se torne acessível sem se banalizar, será

necessário o que Schiller designava por “impulso lúdico”.

Pode-se, ainda, recorrer a vários autores desta área, a título de exemplo, David Best (2004);),

Maria do Carmo d´Orey (1999); Leontiev (1999), entre outros, que suportam uma conceção de

conhecimento artístico fundado em práticas que não dissociam a dimensão do “Fazer” dos

processos de fruição e de contemplação, de reflexão e de interpretação, e de experimentação

e criação.

Assim, neste trabalho a dimensão das práticas educativas é considerada eminentemente

estética, isto é, mobiliza a aprendizagem das diversas formas de arte, como um conhecimento

que se vai construindo intencionalmente, através de vários processos que permitam fruir e

analisar as circunstâncias culturais, enquanto contextos de aprendizagem, e possibilitem o ato

de criação através do que se sabe e do que se vai aprendendo.

Atente-se, no exemplo de uma a proposta curricular para a área da Educação Plástica/Visual:

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Educação Musical

Estratégias de mediação

Método comparativo

Representação, Técnicas, Expressividade

Discursos sobre os Universos Visuais

Intencionalidade Expressiva / Criativa

CorFormaRitmo

MovimentoTextura

MetáforaMetamorfose

Fruição – Contemplação | Interpretação – Reflexão | Experimentação – Criação

(Esquema síntese da proposta curricular para a área da Educação Plástica/Visual do Programa de Educação Estética

e Artística (PEEA) da Direção-Geral da Educação, Ministério da Educação e Ciência.)

Esta proposta e as demais propostas nas áreas da música, do teatro e da dança serão

explicitadas pormenorizadamente noutro contexto, no entanto, serve para explicitar como se

pode trabalhar esta área de um modo abrangente, mobilizando as diferentes dimensões do

saber em arte, no âmbito específico da Educação Plástica/Visual.

Com a proposta de desenvolvimento curricular enunciada constata-se que existe uma de,

talvez, muitas alternativas para o ensino/aprendizagem das diversas formas de arte, e por

conseguinte o Problema ganha uma nova complexificação, que procura dar inteligibilidade às

diferentes dimensões e às aceções inscritas nesta sinopse do Projeto de Investigação, surgindo

uma terceira aceção:

3ª aceção:

Que ruturas tornam possível uma EA sem Mitos?

3. Problema

Em síntese, procurar-se-á construir um problema de investigação que mobilize e inter-

relacione as três dimensões de análise propostas: Histórica, Antropológica e Estética,

debatendo a(s) múltipla(s) influência(s) que os Modos de Dizer, os Modos de Ver e os Modos

Fazer exercem ou têm exercido nos Modos de Pensar a Politica Educativa Portuguesa, ao nível

da EA.

A construção deste problema de investigação remete para uma questão central que se situa na

análise de três contextos interdependentes – o dito, o mito e o feito -, de modo, por um lado, a

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diagnosticar as razões pelas quais a EA não é trabalhada na generalidade dos contextos da

Educação Pré-escolar e no 1º ciclo do Ensino Básico, e quando o é, na maior parte das vezes,

não se carateriza por ser uma área dotada de corpus de conhecimento próprio, encarada com

a mesma “naturalidade” das demais áreas do saber. Por outro lado, procura-se que, a partir

destes três contextos, se possa fundamentar uma rutura nas conceções e práticas da EA em

Portugal, através da exemplificação do Programa de Educação Estética e Artística (PEEA).

Neste contexto, tornam-se pertinentes as seguintes questões de investigação:

1. Como é que os contextos histórico, antropológico e educativo possibilitam ou inibem

o desenvolvimento da EA? Será o dito, o feito? Será o Mito, o dito? Será o feito, o dito

e o mito?

2. De que modo o PEEA pode ser exemplificativo para a caraterização dos mitos

existentes na área da EA?

3. Quais as dimensões presentes na conceção do PEEA que poderão permitir a rutura

com as práticas desenvolvidas na EA?

4. Podem os contextos ser determinantes para uma “verdadeira” EA?

Discursos em curso

Decorrente do problema identificado e das questões a indagar neste trabalho, importa, de um

modo abrangente, traçar um quadro concetual que interligue as “ redes” que se entrecruzam

na análise histórica e seus modos de dizer, na análise antropológica e nos seus modos de ver e

na análise estética nos seus modos de fazer. Esta rede de interações vai permitir circunscrever

uma problemática - problema devidamente contextualizado e enquadrado do ponto de vista

teórico e concetual.

No estudo das interações identificadas em torno da problemática, interessa abordar o valor da

EA, como a temática mais pertinente para estabelecer um quadro de referência que concorra

para o objeto de estudo em análise.

Assim, e a partir do trabalho de pesquisa documental efetuada, das leituras de diversos

autores e do trabalho de campo já realizado para este estudo, antecipa-se uma tipificação da

“ordem do(s) discurso(s)” sobre o valor da EA, a saber:

Científico: ideias ou ideais sobre o valor da EA;

Político: Inscrição ou prescrição nos documentos legislativos do valor atribuído

pelo discurso científico;

Pragmático: Aplicabilidade nas práticas educativas dos discursos: científico e

político.

Ponto prévio aos discursos: Uma Partida com Retorno

A Educação: Um projeto de Transformação

Como ponto prévio aos discursos científicos, políticos e pragmáticos sobre o valor da EA,

assinalam-se as perspetivas sobre o que se entende por Educação, Estética e Arte, no sentido

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de esclarecer as premissas das quais se parte para contextualizar os discursos que são

proferidos.

Ao longo dos tempos, o termo “Educação” tem sido debatida na sua dupla origem: “educare”,

que significa "alimentar", e “educere”, que significa "tirar para fora de", "conduzir para",

perspetivas estas que têm estado muitas vezes em conflito. Por um lado, acentua-se uma visão

de educação preocupada em “alimentar” o sujeito com conhecimentos, por outro, acentua-se

o desenvolvimento, a partir das experiências do indivíduo, procurando aumentar todas as suas

potencialidades. Analisadas de per se, podem ser consideradas redutoras. Na aceção que se

procura desenvolver neste estudo, o conceito de educação procura fazer uma síntese entre os

interesses coletivos e o desenvolvimento individual, a partir de um “(…) ponto de vista

sistémico e de auto-organização do sujeito, em dialética permanente entre o Eu e o Mundo, na

qual se assegura simultaneamente a história individual e a história coletiva (…)” (Hameline,

2003).

Procura-se, assim, colocar o sujeito na interface de dois sistemas vivos: pessoal e social.

Partindo deste ponto de vista, a Educação pode definir-se como uma atividade humana

caracterizada pela intemporalidade, ao ser realizada ao longo da existência do ser humano,

pela diversidade de espaços − formais, não formais e informais − para a sua objetivação,

assegurando o desenvolvimento do sujeito, através da inter-relação dos aspetos individuais e

sociais.

Se à primeira vista a relação entre as dimensões individuais e sociais da Educação parecem

abranger a complexidade que o termo encerra, numa análise mais aprofundada, a Educação

no contexto deste estudo, deve incluir uma dimensão teleológica, sintetizada numa

possibilidade, que é enunciada da seguinte forma por Herbert Read (1966:).

[O] homem deve ser educado para chegar a ser o que é; [e] deveria ser

educado para chegar a ser o que não é. (p. 14).

Estamos perante uma terceira dimensão que enfatiza o “devir” do ser humano, enquanto

projeto que deve procurar uma variação infinita de possibilidades e de oportunidade para se

expandir, através de várias opções de saber, de conhecer, de viver, de estar e de sentir, sendo,

portanto o conceito de Educação, a partir deste ponto de vista, não só um processo de

“individuação” e de “integração”, reconciliando a singularidade individual com a unidade

social, mas sim, e também um processo de transformação, encorajando “mudanças de

representações (visão do mundo) e de comportamentos; (modos de agir no mundo)”.

(Canário, 1996, p.14).

A Estética e a criação de Mundos

Também ao longo dos séculos a importância desta dimensão Estética para os modos de

conhecer tem sido abordada por vários pensadores (Platão, Aristóteles, Baumgarten, Schiller,

Reid, Read, Nelson Goodman, Leontiev, Parsons, Best, Camo D`Orey, entre outros), no entanto

ela enferma de vários equívocos na sua definição, mal entendidos na sua e interpretação e

constrangimentos vários na sua realização pedagógica.

16

Já em Schiller (1795) o conceito de estética cobre um vasto leque de significados: tanto reenvia

para a ideia de beleza, para a realidade da arte e das manifestações artísticas, como indica as

formas qualificadas da apreciação sensível ou do sentimento. Nele o “ estético” reenvia para o

sentido mais originário de termo, designando aquilo a que se refere à sensibilidade, sentido

que Baumgartem (1750/1993) consagrou na sua “Aesthetica”, no entanto a ideia do “estético”

em Schiller não é afirmar a sensibilidade contra o entendimento ou a razão, mas para mostrar

que já no domínio “sensível” se revela uma dimensão que se abre à forma e à lei, possível de

comunicação universal. A noção “schilleriana” não contém apenas esta justificação, ela

incorpora matrizes provenientes de domínios muito diferentes. Retoma uma ideia de Kant

(1724-1804) para afirmar que o “estético não se refere apenas à sensibilidade ou ao

conhecimento sensível, mas para dizer que o que há de irredutivelmente subjetivo em

qualquer representação, seja ela uma realidade sensível ou empírica, seja ela um

conhecimento teórico ou até uma ideia moral da razão” (Ribeiro dos Santos,1996,p.57)

O “ estético “ para Schiller é, por conseguinte” o próprio sentido da harmonia do

espírito consigo mesmo, quando as suas faculdades se relacionam entre si num livre

jogo, jogo este que, não estando sujeito a leis determinadas de carácter lógico ou

moral, não é todavia, totalmente anárquico e sem lei” (Ribeiro dos Santos,1996).

Para esclarecer as ambiguidades desta definição de estética, o autor acrescenta que tudo o

que possa de algum modo passível de manifestar-se como fenómeno pode ser pensado sobre

quatro aspetos: uma coisa pode relacionar-se com diretamente com o nosso estado sensível

( a nossa existência e bem estar); isto é o seu carácter físico, ou pode relacionar-se com o

entendimento; isto é o seu carácter lógico; ou pode estar relacionada com a nossa vontade e

ser considerada como objeto de escolha para ser racional; isto é o seu carácter moral, ou,

finalmente, pode relacionar-se com o todo das nossas faculdades sem ser um objeto

determinado para uma delas.

De acordo com este último sentido, a educação estética será portanto aquela que tem por

intenção “formar o todo das nossas faculdades na maior harmonia possível” (carta XI, cit.

Ribeiro Santos, p. 214). Neste sentido a educação estética não é sinónimo apenas de EA, ou

pela arte ou para a arte, nem visa exclusivamente o desenvolvimento e aperfeiçoamento das

faculdades sensíveis, ou o cultivo do gosto, mas propõe-se como o desenvolvimento

harmonioso de todas as faculdades humanas.

A partir do pensamento schilleriano enunciado nas suas Cartas pode inferir-se o alcance

pedagógico da dimensão estética, no entanto esta dimensão tem sido sucessivamente

esquecida pelos sistemas educativos nos diferentes níveis de ensino. Sob o ponto de vista

pedagógico, a dimensão estética pode ser considerada como o conteúdo da própria educação,

não incluindo esta, apenas, o cultivo das artes, a formação do gosto, ou do sentimento

estético, mas pelo facto de se reconhecer esta dimensão como potenciadora de todas as

restantes dimensões.

Sintetizando o pensamento deste autor, a “realização do ser Humano passa assim,

necessariamente pela educação estética, condição para uma existência moral livre e autêntica,

estando o seu projecto educativo centrado “ (---) na união da educação intelectual à educação

afetiva, o qual passa pela capacidade de sentir:

17

Não basta, portanto, dizer que todo o esclarecimento do intelecto só merece

respeito na medida em que se reflete no carácter; também ele emana de

certo modo o carácter, uma vez que o caminho para a cabeça tem de ser

aberto através do coração.

João Maria André (1999, p.83) considera que há todo um projeto pedagógico nas propostas de

Schiller, e no quadro desse projeto, poderia considerar-se a dimensão estética «como próprio

conteúdo da educação, como o ambiente envolvente do processo educativo, como como a

própria finalidade e horizonte da educação, como potenciador de toda a educação cultural e

política, como a própria forma e o espírito de toda a educação» (p.21)

Na linha de continuidade para a clarificação do conceito, de estético e de educação estética,

no contexto deste estudo, Herbert Read (1958) retoma o modo abrangente de Schiller,

relativamente à definição do estético e consequentemente a da educação estética, não a

identificando apenas com a EA. Para ele a educação estética retrata uma abordagem integral

da realidade, através da ”educação dos sentidos em que se baseiam a consciência, e

finalmente a inteligência e raciocínio do individuo humano” (p.20).

Também os outros autores mencionados (Reid, Parsons, Leontiev, Best) encaram o fenómeno

estético e a educação estética de um modo globalizante, cujo desenvolvimento se processa

através de várias áreas do conhecimento e tal como os autores acima referidos, não acentuam

apenas, as questões ligadas às áreas artísticas. Propõem modos pedagógicos para o seu

desenvolvimento no plano da educacional, mas é em Carmo D´Orey (1999) que encontramos

um suporte teórico mais pertinente para encaminharmos a nossa reflexão. A autora defende a

indispensabilidade da educação estética sob o ponto de vista da sua abrangência nos planos

sociais, morais e políticos, contudo a sua análise é inspirada num filósofo, das áreas da lógica e

da epistemologia, que segundo a mesma veio dar à estética novas bases de análise, ao encará-

la como um sistema de símbolos/simbolização que cada discurso/forma de comunicação

contém. Acentua, como maior relevância os discursos centrados na arte, e parte de uma

análise das obras de arte como símbolos, residindo o seu valor na “potencialidade cognitiva”

que advém do seu contacto. Assim, passa-se de um abordagem do fenómeno estético fundado

em valores, para uma abordagem centrada no domínio da epistemologia, ou seja as diferentes

implicações no ato de conhecer.

Este novo modo de abordar os “fenómeno estético” aclara alguns problemas na concretização

da educação estética, realçando quer a sua indispensabilidade, quer a sua operacionalização

em termos pedagógicos. A partir desta conceção é possível, assinala a autora, que “ a tarefa da

estética decorra naturalmente”. Primeiro, há que analisar e descrever os diversos sistemas

simbólicos das artes ─ linguísticos, picturais, musicais, gestuais ou outros ─ e comparar as

respetivas características sintáticas e semânticas. Depois interessa compará-los com os das

outras ciências e os das nossas práticas do dia-a-dia para verem em que se assemelham e em

que se distinguem” (Idem, p. 240).

Ao propor esta abordagem, da obra de arte como “simbolização” desfaz uma série de “mitos”

e de equívocos sobre a educação estética, criticando a visão romântica e idealista, que se

consubstancia na ideia que as capacidades do domínio da estética são um produto de dons,

revelações, inspirações aos génios, privilégio de poucos, irremediavelmente inacessível e

18

perdida para a maioria. Para ela o fenómeno estético e a educação estética realiza-se através

da “eficácia cognitiva” que a obra de arte pode proporcionar, daí que preconize que estas

podem ser ensinadas e aprendidas e estar ao alcance de todos os cidadãos.

Apesar de algumas divergências no modo de encarar a educação estética, há contudo nas

conceções destes pensadores três características comuns no modo de a conceber, enquanto

projeto de formação do ser humano. Identificam-na como a educação da faculdade de sentir,

sob um ponto de vista global e formação ligada aos diferentes domínios do saber,

potenciadora de toda a ação cultural, através da apreensão das diferentes realidades. Elegem,

contudo, e como mais preponderante a arte em geral como uma das formas de realizar a

educação estética de um modo mais elevado, uma vez que pode, para além de retratar a

realidade, antecipar a criação de novos mundos.

A Arte: A relação com Outros Universos

A definição de arte tem ocupado muitos autores ao longo dos séculos, mas não tem sido uma

tarefa fácil nem consensual.

Todas as definições de Arte formuladas ao longo dos séculos foram parcelares, prismáticas,

relativas, epocais, provisórias. Temos, porém, a convicção de que acerca da arte, como acerca

de tantas outras noções básicas e muito gerais, nos defrontamos sempre com esta situação

paradoxal: julgamos saber o que ela é, mas experimentamos uma grande dificuldade quando

tentamos dizer o que ela é. A fórmula Agostiniana, celebrizada para introduzir o problema do

tempo, bem poderia aqui servir para introduzir igualmente o problema da arte: "se ninguém

me pergunta, sei; se quero explicar a quem me pergunta" não sei. (Barbosa, 1995).

Se analisarmos o pensamento de alguns autores sobre o significado do conceito de arte

veremos que eles, apesar de acentuarem a dificuldade desta definição, encontram nas suas

reflexões argumentos para, por um lado, a desvincularem do seu carácter sagrado, por outro

para lhe imprimir o seu valor não utilizando a dicotomia entre os aspetos “ como manuais e

intelectuais”, procurando, na arte um valor epistemológico.

Neste sentido, Luigi Pareyson (1954) referiu que se “perguntarmos a um homem de «cultura

mediana» o que entende por arte este tende a defini-la como a imagem dos grandes clássicos

da Renascença, um Leonardo, um Rafael, um Michelangelo, ou seja a arte como objetos

sagrados e consagrados pelo tempo, e que se destinam a provocar sentimentos vários e, entre

estes, um, difícil de precisar: o sentimento do belo" (p.44).

Para Pareyson (1954), toda a vida humana é invenção e produção de formas orgânicas e

perfeitas, dotadas de compreensibilidade e de autonomia próprias: são formas produzidas

pela ação humana. Podem ser edifícios teoréticos, instituições civis, realizações quotidianas,

empreendimentos técnicos, um quadro e uma poesia e nessa medida a arte é um conjunto de

atos pelos quais se mudam as formas, se transforma a matéria oferecida pela natureza e pela

cultura. Nesse sentido, qualquer atividade humana desde que conduzida a um fim se pode

apelidar de arte.

19

Para Herbert Read (1982), a arte não está apenas nos museus ou nas galerias, está presente

em todo o lado e em tudo quanto fazemos, para “agradar aos nossos sentidos”, mas acerca

dela raramente nos detemos a pensar.

Para obviar este questionamento e tentar clarificar o conceito de arte poderíamos introduzir o

conceito de produção de sentido, no qual confluem dois valores essenciais: por um lado o

valor histórico e documental; por outro, o valor artístico. Como valor histórico, revela-se único

e insubstituível já que nos pode revelar informação sobre uma época específica da história da

humanidade, como memória e testemunha de determinados acontecimentos e a

intencionalidade artística, conjugando esta, valores sensoriais, formais e expressivos, que não

deverão ser vistos separadamente.

A partir destes elementos que podem contribuir para uma clarificação do conceito de arte,

remetemos a nossa reflexão para a objetualidade/materialidade da obra de arte: uma pintura,

uma escultura, um poema, uma música são seres materiais que podem ser apreciados,

analisados pelos recetores, quer estejam num museu ou noutros contextos, e, neste sentido

ela poderá ser considerada no contexto do nosso objeto de estudo como um ato cultural que

possui forma e sentido, que possibilita ao ser humano o contacto e a experiência através do

sentidos de acordo com vários modos de conhecer, colocando-o em interação com essa

realidade, para poder despertar o interesse pela indagação das obras, de si e do mundo,

incentivando-o à re-construção de significados, tornando-se a obra de arte numa forma

formante de Si.

Segundo estes pontos de vista é possível colocar a arte ao alcance dos cidadãos, no entanto há

que refletir sobre a natureza da sua dimensão formativa, ou seja como é que ela se torna uma

atividade fundamental da experiência humana e quais os processos precisam de ser

desenvolvidos para que esta se torne numa experiência educativa significativa, e como é que a

arte nos dá conhecimento sobre o mundo como é que a arte nos pode fazer criar mundos e

como é que conhecemos a partir da arte.

Carmo d`Orey (2000) assinala que este processo de conhecer pode assumir diversas formas e

incitar diversas estratégias, destacando-se as que passa por tornar “percetíveis muitas

propriedades dos objetos que não tomávamos consciência na vida de todos os dias, a

incitando à projeção dessas propriedades de uma forma mais rica e complexa para organizar

uma nova visão das coisas (...)" (p.129 ). Ou seja, para a autora é necessário equiparmo-nos

com um “aparato percetual” e conceptual que nos permita generalizar para além do caso

particular apresentado, adiantando que por este motivo que as obras de arte, pictóricas,

literárias ou outras, tanto quanto as teorias científicas, podem ter um alcance universal.

Deste ponto de vista, a construção de conhecimentos a partir das obras de arte,- antiga,

modernas, contemporâneas, efémeras, faz-se através de sistemas de categorias ou de

conceitos, tal como acontece noutras áreas do conhecimento, na medida em que a arte, ao ser

considerada como uma linguagem fundamental da experiência humana, como um modo

pessoal de expressão, como método de comunicação e como um meio de identificar e

transmitir valores culturais, incentiva formas de reflexão e de questionamento do mundo a

partir de sistemas de símbolos que possuem uma linguagem e os códigos, podendo assim,

possibilitar modos de percecionar, fruir, conceber, ou seja, proporcionar o contacto e

20

desenvolver processos diferenciados de conhecer os objetos de modo a retirar deles todo o

seu “potencial formativo”, enquanto modo específico de entrar em relação com todos os

universos e “consigo mesmo”.

Nesta aceção, a arte não é um «Absoluto», mas sim uma forma de atividade que entra em

relação dialética com outras atividades, outros interesses e outros valores. Refere que cada

um, ao fruir uma obra de arte, deve e pode reencontrar uma relação emotiva e intelectual,

descobrir uma visão do mundo e do homem.

O valor dos discursos: Cientifico, Politico e Pragmático: consonâncias e dissonâncias

Os três pontos prévios aos discursos clarificam o ponto de partida sobre o entendimento que

neste trabalho será dado às dimensões da Educação, da Arte e da Estética, por se

considerarem fundantes para o objeto de estudo, apresentando, deste modo, os pontos de

partida da autora deste trabalho.

Assim, os documentos em análise e a analisar no decurso do trabalho de doutoramento (ver

metodologia) para caracterizar e tipificar os discursos - Cientifico, Politico e Pragmático - sobre

o valor da EA serão tratados de per se, por uma questão metodológica. No entanto estes estão

intimamente correlacionados. Partem das aceções já mencionadas e aqui retomadas:

Se a EA está presente nos discursos políticos e sociais como garante de um desenvolvimento

integral do ser humano, quais as razões que existem para que ela não tenha a aplicabilidade

nos contextos educativos? Será que a importância atribuída nos discursos à EA é uma

“promessa não cumprida”?

Serão os discursos propícios ao desenvolvimento de “ mitos” na EA?

Será que a valorização excessiva que é atribuída às artes nos diferentes discursos se torna um

modo de as afastar da escola?

Como é que se passa do discurso ao “ Mito e ao Feito”?

Será possível conceber uma EA sem “Mitos”?

Que ruturas tornam possível uma EA sem Mitos?

Se observarmos as várias aceções, poder-se-ão assinalar três dimensões que lhe são

subjacentes, e que se procuram colocar em debate:

Teleológica - A EA que concorre para desenvolvimento integral do ser humano,

antevendo espaços de liberdade para a construção do projeto pessoal de cada um -

Consonância de discursos.

Prática – O desenvolvimento da EA nos contextos educativos - Consonância versus

dissonância dos discursos de quem fala e de quem faz.

Rutura de paradigma - a partir das consonâncias e das dissonâncias dos discursos e

dos atores envolvidos, quer no plano da teoria, quer no plano das práticas a

desenvolver.

21

Tendo por base já algumas fontes consultadas e as práticas observadas em contexto

educativo, estas dimensões remetem-nos para as consonâncias e as dissonâncias, as

continuidades e descontinuidades dos discursos no (s) tempo (s), e no (s) espaço (s), sobre

o valor que é atribuído à EA.

Numa primeira instância, os discursos científicos produzidos por alguns autores (e.g.)

sobre o valor da EA utilizam várias designações para a definição e âmbito da EA: Educação

pela Arte (Arquimedes Santos Silva, João dos Santos, Herbert Read) Educação para a Arte,

Arte na Educação Arte-Educação (Ana Mae Barbosa); Educação em Arte. Estas

terminologias poderão parecer, numa visão mais simplista, de pouca importância, no

entanto, julga-se que num debate mais aprofundado deixam antever “zonas de

conflitualidade” que transformam as consonâncias em dissonâncias, por remeterem para

três visões: a arte a valer por si mesma; a arte como metodologia de ensino e a arte

como processo de aprendizagem, a arte como catarse, o que pode resultar, quer pelo

lado dos discursos políticos, quer pelos discursos pragmáticos, numa forma de legitimação

do que é feito em EA, pois, com a falta de clarificação, estas áreas podem “servir para

tudo” e não “valerem para nada”. Ou seja, estamos perante um discurso científico que

enfatiza a elevada importância, mas continua a não definir qual o objeto e as efetivas

finalidades, presumindo-se apenas as circunstâncias do valor que tem, mas não se adianta

aquilo que é.

A este propósito, detivemo-nos nas ideias de Herbert Read (1958) e João dos Santos

(1989) que podem fundamentar as premissas acima adiantadas. Veja-se o que Read

propõe como definição para a Educação pela Arte, “ (…) aquela em que através de

atividades de expressão artística propõe o desenvolvimento harmonioso da personalidade

e é com a educação pela Arte que é introduzido no sistema educativo a imaginação, a

espontaneidade e uma dimensão da sensibilidade” (p.45). Se observarmos as ideias de

João dos Santos (1986) sobre a definição a educação pela arte como a ”que melhor

permite a exteriorização das emoções e sentimentos e a sublimação dos instintos” (p. 66),

podendo constituir-se como uma espécie de psicoterapia das crianças perturbadas pela

imposição de conceitos educativos. Mais adiante, no seu texto, afirma acerca do mesmo

assunto que a educação estética é a educação das emoções através de uma forma

particular de relação humana – a atividade simbólica. A base da educação estética é a livre

experiência (p. 70).

Como fica relativamente claro, estes dois autores que foram percursores em Portugal de

um movimento que marcou fortemente os alguns discursos políticos e pragmáticos,

sobressaem duas questões essenciais:

O que se entende por expressão artística?

Como se operacionalizam nas práticas as dimensões da imaginação, da

espontaneidade e da sensibilidade para levar ao desenvolvimento harmonioso?

Sabendo que eles são percursores do Movimento da Educação pela Arte e que

esta perfilha as necessidades das crianças e a sua livre expressão, como aspetos

fundamentais, como é que estas dimensões foram e são concretizadas em

22

termos educativos? Será que apenas se traduzem na “exteriorização das emoções

e sentimentos e na sublimação dos instintos, como propõe João dos Santos?

Debrucemo-nos agora na definição de Educação para a Arte, que em Revistas da Educação

(nota de rodapé), como por exemplo a Revista Noesis, no texto “Roteiro sobre Educação

Artística” (Filomena de Matos et al.), a arte processa-se através do ensino artístico, visando a

formação de artistas profissionais, consistindo na transmissão formal de conhecimentos,

métodos e técnicas relativas ao domínio da arte. No entanto, em sede dos discursos políticos e

pedagógicos, ela é entendida como Educação pela Arte, seguindo os mesmos objetivos e

finalidades. Se continuarmos nesta procura de terminologias ainda encontramos “ Arte na

Educação” definida como a prática de atividades de educação artística e de animação cultural,

utilizando a arte como instrumento pedagógico.

Finalmente, a Arte - Educação, terminologia muito utilizada no Brasil, cuja autora que mais se

destaca é, Ana Mae Barbosa, que visa colocar a arte no contexto educativo, através da

“Proposta Triangular” 1”

Neste quadro de indefinição terminológica, e a este propósito vejamos o seguinte excerto:

(…) Pensamos agora ter chegado o momento de esboçar a conceção por nós

perfilhada de Educação pela Arte, e como distinguimos esta de uma educação

para a arte, ou ensino artístico. Contudo, mais do que preocuparmo-nos com

uma definição estrita de Educação pela Arte, antes a aceitamos como uma

conceção geral, que, interrelacionando conceitos vastos e “vagos” de

“educação” e “arte” considera que para além das palavras, o que importa é

considerar a importância de uma atividade pedagógica pelas expressões

artísticas, no desenvolvimento bio-sociopsicológico das crianças. (…), podendo

ler-se mais adiante “ (…) daí entendermos que quanto mais cedo surja na vida da

criança como alternativa educativa, um prática pedagógica consentânea com os

princípios da Educação pela Arte . ( Maria de Fátima Cardoso, et al).

Como se pode verificar a ambiguidade terminológica pode deixar espaço para, quer ao nível

dos discursos políticos e pragmáticos, a EA seja entendida de diversas formas e gere equívocos

e representações sociais às quais se pode assistir todos os dias, ainda hoje.

Enquanto investigadora intimamente ligada aos diversos contextos educativos e artísticos,

condição que não posso ignorar neste estudo, deparo-me todos os dias com a repercussão que

esta confusão terminológica tem ao nível dos discursos políticos e pragmáticos, a título de

Na década de 1980 podemos constatar no ensino em geral uma busca por ações que valorizem as vivências dos alunos, que se

relacionem com as questões sociais e principalmente que favoreçam o desenvolvimento de uma consciência crítica. Nessa

perspetiva o Ensino de Arte busca resgatar os conteúdos da área com o intuito de marcar a disciplina como área de conhecimento

no currículo escolar. A Arte-Educadora Ana Mae Barbosa foi de vital importância para a forma de ensinar arte no Brasil nesta

época. Comprometida com a democratização do saber em arte, com a possibilidade de tornar acessível a todos os alunos – da

rede pública e particular – os conteúdos artísticos, passou a estudar formas de conduzir um trabalho conectado com as realidades

pessoais e sociais dos alunos. Inseriu, também, no universo do ensino da arte a “Metodologia Triangular”, proposta metodológica

que enfoca de forma integrada: o fazer artístico, a análise de obras e objetos de arte e a história da arte.

23

exemplo, passo a transcrever um excerto de uma nota de campo de uma “Sessão de

formação” com os docentes que integram o PEEA do Ministério da Educação e Ciência:

“ (…) Já pratico todos a arte na minha turma, sou mesmo muito defensora da Educação

pela Arte, porque quero desenvolver nas minhas crianças a espontaneidade e a

imaginação, pinto com elas, faço teatro, dança, faço tudo”.

“ (…) Nós já fazemos isso, não é nada de novo, conheço bem os livros de Read, e de

Arquimedes Santos Silva… estou mesmo muito à vontade.

- Pode explicar como faz?

- Faço pinturas “em cima do texto”( queria dizer ilustrava o texto)

- E a dança?

- Isso… as crianças dançam livremente…

- Como é que dançam livremente?

- Então, no Natal fazem uma dança para os pais. (…).

No final da reunião desloquei-me à sala, a convite do docente, para ver alguns trabalhos

desenvolvidos pelas crianças. Em baixo, apresento duas fotos de um trabalho plástico de modo

a suportar este breve discurso na área das Artes Plásticas:

Pinturas das crianças J e H do Agrupamento de Escolas X, Dezembro de 2014.

Colocada a discussão desta forma, julga-se que o que realmente está em questão, numa

primeira abordagem, é a construção da Identidade(s) da EA, que desenvolverei mais

aprofundadamente no decurso do trabalho de investigação. No entanto, e a propósito da

construção das Identidades, Manuel Castells (2003) distingue três formas e origens, que se

podem adaptar ao contexto dos discursos em EA, em debate, neste estudo, a saber:

24

Legitimadora: introduzida pelos discursos “dominantes”, sejam eles políticos e /ou

científicos para expandir e racionalizar a sua dominação em relação aos atores sociais

(docentes e restante comunidade educativa);

De resistência: criada por atores contrários aos discursos dominantes de determinado

contexto histórico, criando resistências com princípios diferentes ou opostos ao é

expresso, ou dito;

De projeto: quando os atores, usando os vários discursos, constroem uma nova

identidade para redefinir algo.

Julgo que no desenvolvimento do trabalho, a adaptação do contributo de Castells será de

grande relevo para ajudar a caraterizar os discursos que são feitos acerca do valor da EA.

Por estar inserida num sistema social vivo, que “sofre” o impacto das forças “a favor de algo” e

a “contrário de algo”, conforme o contexto social em determinado momento exige e/ou dirige,

parece, portanto, que o objeto da EA deve ser alvo de uma reflexão aprofundada no contexto

deste estudo em sede das várias fontes enumeradas no capitulo da Metodologia, sem o qual, a

urgência do futuro que, desde abril de 1974 se tem proclamado, não passa de um retorno ao

ponto de partida e de uma “promessa não cumprida”.

Tempo de consonâncias versus dissonâncias, ou dos discursos de quem fala e de quem faz

Continuando neste itinerário das ideias percebidas através dos discursos, podemos encontrar,

por um lado, os discursos científicos que continuam a acentuar o valor da EA, por outro , os

sistemas educativos, por via dos discursos políticos, remetem-na para realidades

diferenciadas.

Ao longo de vários séculos, a reflexão sobre a importância da Arte no desenvolvimento

humano tem desempenhado um papel de relevo, procurando, debater-se o como contribui

para a formação global dos indivíduos e como pode ser considerada um “recurso” social e

educativo, parafraseando João de Barros (1911) “Não há sociedade democrática que possa

viver, progredindo, sem o “cultivo” da arte”.

Segundo (Habermas,1990) os diferentes contributos que diferentes autores trouxeram ao

binómio Arte e Ser Humano são essenciais para o enriquecimento de vários planos:

pedagógico, social, ético, estético, político, cuja inter-relação concorre para o desenvolvimento

da faculdade de sentir, ponto de partida para todas as atividades do indivíduo.

Apesar dos discursos científicos atribuírem um grande relevo à inter-relação entre estes planos

identificados por Habermas, ao nível pedagógico, assiste-se nos diferentes períodos históricos,

a visões diferenciadas de como a Arte é considerada como recurso educativo e o papel que

esta desempenha na formação de crianças e jovens.

No itinerário histórico que a seguir se apresentam, assistem-se a mudanças de paradigmas nas

várias correntes pedagógicas, a nível internacional e nacional, os quais enfatizavam diferentes

visões para o papel da Arte na formação.

25

Encontram-se três grandes momentos até aos dias de hoje, nos quais se encontram

consonâncias nos discursos, sejam científicos ou políticos, e dissonâncias nas práticas, ou seja

no discurso identificado neste contexto como pragmático.

Assim, sem pretender a exaustividade deste tema, enumeram-se, de um modo sintético,

aqueles que mais marcaram a História das Ideias na relação da Educação e Arte:

Pedagogia Tradicional (o final do século XIX) - acentuando-se uma visão utilitária e

profissionalizante, que enfatiza a arte como um meio para obter uma profissão. O

ensino da arte nas escolas centrava-se essencialmente no ensino do desenho, dando-

se grande relevo ao traço, à repetição de modelos, o desenho de ornamentação e

geométrico, o que segundo Ferraz & Fusari (1993), visavam “à preparação do

estudante para a vida profissional e para as atividades que se desenvolviam tanto em

fábricas, quanto em serviços artesanais” (p. 30), assumindo-se assim uma dimensão

“Tecnicista” – “saber construir”, reduzindo-se aos seus aspetos técnicos, ao uso de

materiais diversificados e um "saber exprimir-se “espontâneo, na maioria dos casos

caracterizando pouco compromisso com o conhecimento de linguagens artísticas.

O que leva a concluir que estamos perante métodos de ensino que privilegiam o produto em

detrimento dos processos, a repetição de modelos e de transmissão de conteúdos,

desenvolvendo-se, sobretudo, as habilidades manuais.

Movimento da Educação Nova (1ª metade do Sec. XX) John Dewey (a partir de 1900)

Vitor Lowelfeld (a partir de 1939) Herbert Read (a partir de 1943), cuja corrente ficou

marcada pelo Expressionismo, dando-se grande importância à expressão em todas as

atividades, expressão essa que era considerada como um dado subjetivo e individual,

cuja preocupação eram os interesses e a espontaneidade dos alunos, acentuando-se a

livre expressão. Apesar do incentivo a novos métodos de ensino, continua-se ainda a

enfatizar o ensino do desenho.

A corrente expressionística (1903-1960) se, por um lado, vem enfatizar a liberdade da criança e

sua subjetividade e individualidade, ao pretender que os trabalhos “brotem” apenas do seu

mundo interior, deixa uma enorme lacuna para a antecipação de vários mundos que cada uma

pode construir, pela limitação do acesso a outras possibilidades, tais como a fruição e reflexão

de várias circunstâncias artísticas.

As práticas, apesar das “ boas intenções” dos discursos preconizados ainda, hoje, estão

fortemente marcadas por esta visão de “liberdade sem se ser livre”, porque só é livre quem

conhece múltiplas possibilidades de pintar, desenhar, dramatizar, dançar, cantar, tocar.

Assistiu-se, assim, quer num período quer no outro, salvo raras exceções de casos avulsos, a

inexistência da integração, em simultâneo, do desenvolvimento da expressividade de cada um,

aliando os aspetos contemplativos, e os aspetos mais técnicos da experimentação nas diversas

formas de expressão, dando-se um relevo predominantemente centrado no “ fazer”.

26

Um ponto à frente no discurso cientifico: A integração de modelos de práticas

Continuando a percorrer o caminho dos discursos científicos sobre a relação Educação e Arte,

passa-se para a década 60, do séc. XX cujo período foi marcado muito significativamente por

Elliot Eisner, Edmund Feldman, entre outros, por trazerem nova abordagem, apesar desta ser

mais específica das artes plásticas, no entanto julga-se pertinente nesta relação entre os tipos

de discursos sobre o valor da EA.

É pelas ideias de Eisner (1960) que surgem quatro premissas relativamente ao ensino das

artes, designadamente: Produzir, Criar, Entender e Julgar. Segundo o autor a criação de

imagens permite adquirir poder expressivo e coerência, a Crítica de Arte desenvolve a

capacidade de ver; a História de Arte permite à criança situar a obra no tempo e no espaço, e a

Estética esclarece as bases teóricas para julgar a qualidade daquilo que é visto.

Já Feldman (1970) propõe que as conversas informais acerca da arte sejam sistematizadas pelo

professor. Enquanto crítico de arte, estimula as crianças a falar sobre a arte, incluindo quatro

fases na discussão: descrição- listar todas as qualidades visíveis na peça, dando o professor

informação sobre o nome do artista, título, material e tipo de representação; análise- processo

de determinação da relação entre as qualidades encontradas: linha, forma, espaço, cor,

textura, entre outras; interpretação – dar significado à obra, que consiste em determinar a

significação da imagem, conhecer a história de arte, momento histórico em que for produzida;

Julgamento- chegar a uma conclusão acerca da obra baseada na informação das etapas

anteriores.

Nesta linha, na década dos anos 80, surgem também outras propostas, destacando-se a

metodologia DBAE (1982) Displined Based Art Education2 da Universidade do Texas);

Metodologia Triangular da Universidade de S. Paulo (1987), proposta por Ana Mae Barbosa;

Modelo Arts Prope3l da Universidade de Harvard ( entre 1986 e 1991) tendo este sido alvo de

várias adaptações (Nelson Goodman; David Perkins; Howard Gardner); Primeiro – Olhar-

Programa de Artes Visuais4 da Fundação Calouste Gulbenkian e da Universidade Nova de

Lisboa).

2 The purpose of Discipline-based Arts Education (DBAE) was to reform education so a more comprehensive arts-integrated

curriculum is taught to all students. DBAE includes four disciplines: arts production, arts history and culture, criticism, and

aesthetics. While this model no longer has one centralized entity directly facilitating a professional development approach, its

research base and influence on policy and the education system can be seen in the education standards for music, art, dance, and

theatre (National Standards for Arts Education), which philosophically serve as the basis for numerous state standards, and as a

result, arts education professional development around the country. The Comprehensive Arts Education approach evolved from

this model.

3 Arts PROPEL researchers developed two major instruments that use an ongoing process of assessment and self-assessment to

reinforce instruction. One, the domain project, encourages students to tackle open-ended problems similar to those undertaken

by practicing artists). The other instrument, the portfolio or process folio, traces the development of examples of student work

through each stage of the creative process.

4 Iniciado em 1999 na Fundação Calouste Gulbenkian e transferido posteriormente para a UIED da Faculdade de Ciências e

Tecnologia, este Programa 1 pretende concretizar ações no domínio da literacia visual com públicos de todas as idades. Apesar do seu enfoque remeter para a aprendizagem de conceitos relativos às artes visuais, mobilizando os seus códigos específicos, não menospreza, contudo, uma abordagem transversal às diferentes áreas do conhecimento. Partindo da integração de obras de arte dos museus da Fundação Calouste Gulbenkian (Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão e do Museu Calouste Gulbenkian), o Primeiro Olhar tem subjacentes as seguintes linhas de orientação, designadamente: A Educação Artística como um

27

Apesar destes modelos terem como princípios bases várias disciplinas como núcleo

estruturante (História da Arte; Critica de Arte, Estética e Produção Plástica) o contacto com a

cultura artística, especialmente o contacto com os museus e o desenvolvimento de atividades

nesses contextos; o olhar como processo de aprender a ver, o diálogo como modo de

organização do pensamento, existem duas diferenças significativas, a saber:

• nos processos de experimentação plástica e no desenvolvimento do diálogo

com as crianças. Enquanto uns levam as crianças a ilustrar os temas trabalhos na

aula, investindo os saberes adquiridos no domínio dos conteúdos das artes visuais;

e o diálogo é centrado na Pergunta- Resposta;

• outros enfatizam a criação plástica como a experiênciação de conceitos das

artes visuais, deixando as temáticas à escolha das crianças, e o diálogo pode

caraterizar-se por ser baseado na Ironia e na Maiêutica, levando as crianças a

ampliar as suas vivências, a aprender a formular situações dilemáticas, a integrarem

o que sabem , intuições, projeções, estabelecerem relações com as temáticas que

vão surgindo, a antecipar questões; e a partilhar dos saberes relativos das artes

visuais , destacando-se, neste contexto, o caso do último exemplo assinalado.

Pausa nos discursos científicos: Vamos dar lugar ao discurso político

Chegámos à década de 90, mas na já Introdução deste Projeto de tese foi mencionada a

importância a reforma de Veiga Simão (1971) e a importância que os discursos políticos,

através de vários governos acentuam à EA como meio de fomentar o desenvolvimento integral

das crianças e jovens.

Também foi referida a Lei de Bases do Sistema Educativo (1986) que vem constituir um

quadro de referência que marcou de forma significativa a importância atribuída pela reforma

educativa à educação “estética e artística”, sublinhando a ideia de que esta desempenha um

papel importante nas dimensões pessoal e social do indivíduo, estabelecendo no n.º 1 do art.º

2.º, que “todos os portugueses têm direito à educação e à cultura, nos termos da Constituição

da República.

Mas como foram integradas estas ideias veiculadas pelos discursos científicos nos discursos

políticos em termos legislativos (normativos) e em termos de instrumentos pedagógicos

(materiais de apoio aos docentes) para o valor que é dado à EA?

Ao longo destes meses, fui reunindo as fontes documentais para construir as grelhas de

análise, que me permitam, verificar as continuidades e as descontinuidades do valor atribuído

à EA, na produção legislativa e nos instrumentos de apoio aos docentes e da Educação Pré-

escolar e do 1º Ciclo do Ensino Básico.

processo abrangente em permanente desenvolvimento ao longo da vida; A Educação Artística como passível de ser aprendida por todos e não apenas, um campo de formação de artistas; A Educação Artística como meio de questionar, comunicar, conhecer e

compreender o mundo; A educação artística vista como um meio holístico de abordar as diferentes formas de expressão, mobilizando vários critérios da para a sua abordagem (intuitivos, projetivos, vivenciais e formais); a Educação artística como meio de fruição, contemplação e experimentação de novos e inesperados meios de inventar o Mundo; a Educação Artística e os modelos de formação para (crianças, jovens e adultos/ professores, entre outros agentes da comunidade educativa).

28

Pude então verificar que ao ser promulgado o Decreto- Lei nº.519- R2/79, o “ Estatuto das

Escolas Normais de Educadores de Infância “delimita uma área de Expressões e

Concretização”, onde pela primeira vez num currículo se inclui a “Expressão Musical”,

“Expressão Plástica“ e "Expressão Dramática e Movimento”, a qual influência anos mais tarde

a própria “Lei de Bases do Sistema Educativo”, na qual se definem como objetivos ao nível da

“educação pré- escolar”, o desenvolvimento das “capacidades de expressão e comunicação da

criança, assim como a imaginação criativa”.

Ainda, numa leitura mais atenta sobre a “Lei de Bases do Sistema Educativo”, observa-se que

no 1º ciclo, o ensino é globalizante, da responsabilidade de um professor único, podendo ser

coadjuvado em áreas especializadas: expressões plástica, dramática e musical. No nº. 2 do

artigo 10 da mesma Lei pode ler-se: “No 1º Ciclo do Ensino Básico, a educação artística

genérica é assegurada pelos docentes do ensino regular, procurando a colaboração dos pais e

encarregados de educação”

Também numa leitura feita ao Decreto- Lei 344/90 sobre a Educação Artística se “ponderam

conceitos da conceitos decorrentes do Educação pela Arte e a coincidir com a escolaridade

básica obrigatória”(…). Neste articulado propõe-se, designadamente: “ao nível da educação

pré-escolar, a única forma generalizada de educação artística; ao “nível do ensino elementar”,

(agora 1º Ciclo do Ensino Básico), como uma forma de educação artística que, “para além dos

seus objetivos próprios, favoreça a revelação de vocações para a arte; na educação especial,

uma atividade central, tendente a contribuir para a integração progressiva das crianças

deficientes no sistema educativo normal”.

Se se cruzar o discurso patente nestes documentos legislativos com os discursos científicos

poder-se-á adiantar que os discursos políticos estão em consonância com as ideias de autores,

sendo visível através destes exemplos que, de uma certa forma, eles deixam “escapar” as

mesmas indefinições terminológicas sobre a área, quer ao nível da sua identidade, e da falta

de operacionalização dos conceitos, como por exemplo, “a “ imaginação criadora”, a

“expressividade”, entre outros.

Possibilidades de uma Rutura?

Em 2004, o Currículo Nacional do Ensino Básico- Competências Essenciais (Abrantes et al.,

2001) a EA da seguinte forma: “As artes são elementos indispensáveis no desenvolvimento da

expressão pessoal, social e cultural do aluno. São formas de saber que articulam imaginação,

razão e emoção. Elas perpassam as vidas das pessoas, trazendo novas perspetivas, formas e

densidades ao ambiente e à sociedade em que se vive. A vivência artística influencia o modo

como se aprende, como se comunica e como se interpretam os significados do quotidiano.

Desta forma, contribui para o desenvolvimento de diferentes competências e reflete-se no

modo como se pensa, no que se pensa e no que se produz com o pensamento. As artes

permitem participar em desafios coletivos e pessoais que contribuem para a construção da

identidade pessoal e social, exprimem e enformam a identidade nacional, permitem o

entendimento das tradições de outras culturas e são uma área de eleição no âmbito da

aprendizagem ao longo da vida. A educação artística no ensino básico desenvolve-se,

maioritariamente, através de quatro grandes áreas artísticas, presentes ao longo dos três

ciclos: Expressão Plástica e Educação Visual; Expressão e Educação Musical; Expressão

29

Dramática/Teatro; Expressão Físico-Motora/Dança. No 1.º ciclo as quatro áreas são

trabalhadas, de forma integrada, pelo professor da classe, podendo este ser coadjuvado por

professores especialistas (…)” (p.149).

Apesar de algumas indefinições terminológicas no que diz respeito à imaginação, razão e

emoção, à forma integrada de desenvolvimento, este documento oficial valoriza o contacto

com a cultura artística, apesar de a limitar a uma “ Identidade nacional”. Apesar destes

questionamentos, parece poder que houve uma mudança na maneira de encarar as artes na

escola. Resta perguntar, como começaram a desenvolver-se as práticas, a partir desta

proposta oficial?

Em matéria de exemplos relativos a legislação não pretendo neste projeto fazer uma exaustiva

explanação, visto que no estudo eles irão ser alvo de uma análise mais profunda para a sua

“categorização” deixando a “quase transcrição”, como aqui foi feito. Também tentar-se-á

cruzar esta legislação e outra com as Orientações Curriculares para a Educação de Infância, o

programa do 1º Ciclo do Ensino Básico e as metas de aprendizagem, na área da EA.

Nova pausa: Vamos à escola à procura dos discursos pragmáticos

Nesta ida à escola, desde há pelo menos 30 anos, os discursos são apologistas do enorme valor

da EA para o desenvolvimento global da criança, repetindo-se vezes sem conta, estando até

“decorado“ por quem o profere. Existem discursos de vária ordem, que a realidade da escola

deixa antever.

Estes discursos situam-se a vários níveis, que de um certo modo são contraditórias entre si:

1. As representações da Arte enquanto agente formativo:

Arte é apenas o “Fazer” (pintar um quadro, cantar uma canção, ouvir música

“de fundo”, encenar uma peça de teatro), e deste ponto de vista, essa

“construção” é só para aqueles que têm jeito e dotes especiais; ideia

consubstanciada na teoria dos dotes;

Arte encarada, apenas, como recreação e como passatempo não

necessitando de qualquer esforço para ser usufruída;

Só há uma verdadeira educação se for através da arte, encarando a arte como

como a “salvação”; A arte é a salvação do Homem

A arte é a expressão das emoções e de sentimentos;

A noção de criatividade é apenas centrada na fantasia; ou apenas para génios;

A arte é um instrumento para ilustração literal do mundo;

A transversalidade entre o conhecimento em arte e nas outras áreas é vista

como uma integração de temáticas.

A arte é um método de ensino.

A arte melhora as aprendizagens das outras áreas.

30

As artes são apenas baseadas no “fazer”;

A arte serve para preparar a comemoração de festividades (Natal, Carnaval,

Páscoa, dias dos namorados, dia do pai, dia da mãe, entre outras);

A arte serve para formar artistas, e é para quem tem jeito;

A dança, a música, o teatro e as artes visuais não tem conteúdos para serem

ensinados;

A arte é a expressão plástica

2. As representações sobre o que as crianças são capazes e gostam de fazer:

As crianças pequenas não conseguem aceder ao universo da Arte porque tem

um grau de dificuldade elevado – a conceção da idade como valor absoluto,

discurso fortemente influenciado pelas teorias Piagetianas.

A utilização das obras de arte de pintores: Miró, Kandinsky, Picasso- porque

pintam como as crianças - e a sua replicação, estudo da vida do autor.

Audição de “música de fundo”

As crianças representam a história da Capuchinho Vermelho.

As crianças são criativas por natureza não sendo preciso uma aprendizagem

intencional nestas áreas. Um discurso de “contrapoder”- pela ênfase dada

pelo Ministério à leitura, à escrita e à matemática.

As crianças são livres e exprimem-se de acordo com a sua “imaginação

criadora” e “espontaneidade”.

3. As representações sobre o que são as suas dificuldades

Ausência de formação

Arte retira tempo aos programas estabelecidos, sabendo-se na Educação Pré-

escolar cada Educador pode gerir o tempo.

As escolas não têm espaços físicos apropriados para o desenvolvimento das

artes;

O professor não tem “jeito” para a Arte.

A Escola como ponto de chegada de Feitos Mitos Ditos

Perante estas consonâncias discursos contraditórios sobre o valor atribuído À EA e o modo

como é desenvolvida, parece poder dizer-se que se está perante um quadro de referência que

permite, essencialmente, destacar as seguintes questões:

O que se Sabe do Dito – Como é que os docentes integram nas suas práticas os

discursos científicos e políticos?

O que se Sabe do Feito - Como é que os discursos científicos e políticos integram o as

práticas produzidas?

O que se Sabe do Mito – Como é que os discursos dão origem ao Mito?

O que se Faz do Mito – Como é que o Mito adquire a forma do Dito e Feito?

31

São estas formas de questionamento que vão orientar uma pesquisa focalizada nos três tipos

de discursos, por ora identificados, fundamentando as diferentes “possibilidades de verdade”

que ao longo de trinta anos têm feito o seu caminho e encontrando a escola como ponto de

chegada.

Por dentro da Escola: Retorno aos discursos científicos - A Arte como fim em si mesma

No contexto deste trabalho, defende-se que a escola seja o ponto de partida, na qual a Arte,

parafraseando Marcuse (1981), não encobre o que existe – mas antes o revele», e neste

sentido importa criar circunstâncias precisas para envolver e implicar, desde cedo, as crianças

neste “achamento”; partindo do pressuposto que, a descoberta não é uma mera descrição de

dados numa lógica cumulativa do saber. Trata-se, sobretudo, de perceber que a Arte «não é

uma mera técnica da reprodução das aparências (…) como uma espécie de percursora da

fotografia de documentação». (Ostrower, 1998).

Apesar da consensualidade dos vários discursos sobre o valor da Arte na formação das

crianças, predominam práticas educativas nas quais se enfatiza, ora as atividades de

exploração e manipulação de materiais de per se, ou de ilustração de temas ora as atividades

baseadas na “livre expressão”, continuando ausentes ações educativas intencionais,

estruturadas de acordo com um corpus de conhecimento que desenvolva a expressividade de

cada criança e não como modos de desenvolver a “expressividade dos outros” nas crianças

A Arte orientada para o desenvolvimento da expressividade, segundo Leontiev (2000)

pressupõe e exige frequentemente um elevado nível de competência estética, assim como

motivação para fazer um determinado trabalho mental no decorrer da interação com a Arte

procurando, atingir «a promessa do significado», entendido como um diálogo e uma

indagação que procuram qualquer coisa para além do enredo e das emoções e a possibilidade

de colher algo mais profundo denominado – significado ou prazer do estilo.» (Leontiev, 2000).

Neste sentido os modos de aprendizagem dos conhecimentos artísticos devem proporcionar

instrumentos intelectuais, a partir dos quais os sujeitos se esforçam por adquirir algo de novo,

não ficando, apenas, nas projeções das suas atitudes, valores, vontades, nem presos à

recordação das suas vivências passadas e presentes, adiantando que se incentive o

conhecimento do que “(…) ainda não é conhecido, a não rejeitar o que é novo ou diferente, a

não ficar preso a uma absolutização das suas próprias ideias, juízos e opiniões que uma cultura

de massas partilha.» (Leontiev, 2000).

Este trabalho “mental complexo” na relação do sujeito com a Arte (Vigotsky, 1896 / 1934)

exige tempo, trabalho sistemático e envolve um movimento dinâmico entre «o pensar e o

fazer e o pensar sobre o fazer», para que a aprendizagem seja um ato de rigorosidade

metódica que caracteriza a curiosidade. (Freire, 1997).

A partir dos contributos destes autores podem acrescentar-se algumas premissas no sentido

desta área do saber se torne um campo de desenvolvimento e de aprendizagem. Em primeiro

lugar, é necessário criar nos sujeitos a vontade e a necessidade de contactar com a Arte,

aspetos estes que devem iniciar-se desde muito cedo, para que progressivamente, se

tornarem num “hábito” e produzam o prazer da fruição.

32

Em segundo lugar, a relação estabelecida entre o sujeito e o objeto de conhecimento – Arte –

deverá ter valor em si mesma e não como auxiliar de outras áreas do currículo, envolvendo

estratégias de aprendizagem que mobilizem uma atitude participativa por parte dos sujeitos,

partindo de situações objetivas e acessíveis a todos - o que se vê, o que se ouve, o que se

sente e o que se sabe – para a construção de ideias mais elaboradas, as quais possam envolver

dados novos, que acrescentem ao primeiro nível de observação ou concretização, um

entendimento sobre diferentes realidades (s) e possibilidade (s), e outros modos de fazer, de

ouvir, “saborear” e de ver.

Em terceiro lugar, a relação Sujeito-Arte pressupõe um acesso à linguagem intrínseca e

específica; ou seja, ao sistema de símbolos, que deverá ser aprendido, para um entendimento

progressivo de conceitos, bem como o desenvolvimento de vocabulário próprio, para que se

possa falar, observar e experimentar de modo mais esclarecido.

A este propósito, Carmo d´Orey (2000) refere que:

(…) As obras poéticas, musicais e pictóricas obedecem a leis lógicas (…). As

obras de arte são objetos (na minha perspetiva, símbolos) que requerem

interpretação. Compreender uma obra não consiste em sentir uma emoção

peculiar nem em descobrir a intenção do autor. Consiste em interpretá-la.

Interpretar é o objetivo prioritário. No âmbito de uma teoria semiótica,

interpretar uma obra de arte consiste em descodificar um símbolo cujas

propriedades sintáticas e semânticas não são imediatamente evidentes. Dito

mais simplesmente, consiste em ativar esse símbolo ou, o que é o mesmo, pôr

essa obra a funcionar. A ativação da obra é tão importante como a criação. É a

parte do trabalho que cabe ao percipiente. A distinção entre ser obra de arte e

funcionar como obra de arte é aqui decisiva. Só na interpretação a obra

funciona como tal (…).

No entender da autora, cada sujeito que aprende os sistemas de símbolos de cada forma de

arte fica, necessariamente, com um repertório simbólico que o leva a ampliar o seu

conhecimento, estabelecendo relações entre o que sabe e o que a obra lhe ensina. É neste

processo que o sujeito vai interiorizando o poder de argumentação que a re (invenção) da obra

lhe proporciona e pode potenciar mudanças interiores, na medida em que o faz re (ver) as

suas opções, opiniões, agora fundadas em argumentos mais consistentes e mais

fundamentados pelo saber que adquiriu e pode partilhar.

A este respeito Fayga Ostrower (1991) considera que é indispensável ser claro e simples sem

simplificar demais: (…) “na pseudo – simplicidade, nessa redução dos problemas (da arte) a um

denominador comum mais baixo, falsifica-se tudo o que pode ser natural curiosidade. O saber

se reduz a fórmulas ocas, inúteis. E não só se faz de conta que já se chegou a todo o

conhecimento de todas as respostas, como também se desestimula o processo de

aprendizagem através de indagações e hipóteses. Elimina-se o ser inteligente e sensível das

pessoas”

33

4. Metodologia

A investigação a realizar enquadra-se num paradigma qualitativo - interpretativo, por se (…)

“privilegiar a compreensão das complexas inter-relações entre tudo o que existe (…).”

Neste estudo pretende-se focalizar a análise na compreensão dos fenómenos, atendendo a

vários contextos em simultâneo - histórico, antropológico, cultural, social, pessoal e educativo,

por este estar investido de formas complexas e de muitas ações coincidentes (…).”

(Stake,1995).

Assim, coloca-se a ênfase no significado que os vários sujeitos atribuem a uma situação

particular em que se envolvem, o Caso do PEEA- e na forma como interagem nesse contexto

específico, desde as suas representações às suas práticas de EA. Também, neste contexto, a

abordagem a esta problemática terá uma forte implicação pessoal da investigadora nos

processos de investigação, através da metodologia da observação participante, ou seja,

através da aplicação de instrumentos de recolha de dados desenhados e construídos com o

propósito de captar o (s) modo (s) de a ver a arte e a educação e o modo como colocam em

ação esses Modos de Ver.

4.1 Selecção de procedimentos, técnicas de recolha e de análise dos dados

Após a realização do enquadramento e contextualização da temática em estudo, aborda-se a

fase metodológica. Desta forma, a análise da metodologia adotada no presente trabalho

compreenderá a conceptualização do estudo, os instrumentos de recolha de dados a utilizar, a

caracterização da amostra e os procedimentos a realizar.

Neste sentido, este trabalho de investigação compreende três dimensões, como atrás foi

referido, a saber:

Histórica: Modos de dizer.

Antropológica: modos de ver.

Estética: modos de fazer.

Para cada uma destas dimensões procurar – se- á reunir, de um modo focalizado, um quadro

conceptual, que “mapeie” a problemática em análise, fazendo a revisão do “estado da arte”

nos domínios - histórico, antropológico e estético- de modo a perceber como estas dimensões

se interliguem e / ou se excluem, assim como as repercussões que este “mapeamento” poderá

ter nos “Modos de Pensar” a Politica Educativa, ao nível da EA, em Portugal.

Na análise da dimensão histórica - Modos de Dizer: procurar-se- á contextualizar e perceber,

através de uma linha temporal, as continuidades e descontinuidades dos discursos políticos e

pedagógicos. Esta análise procura estudar um horizonte temporal que se situa entre 1971 até

2014, analisando-se os principais documentos legislativos e os mais “relevantes” discursos

pedagógicos. Pretende-se ainda fazer um mapa de conceitos que emergem dos documentos

em análise, procurando problematizá-los no enquadramento geral deste estudo, e relacioná-

los com as outras duas dimensões em análise: antropológica e estética.

34

Numa análise exploratória de alguns documentos consultados para estudo verificou-se que a

operacionalização dos conceitos: arte, estética, criatividade, imaginação, qualidade em EA,

entre outros, era inexistente, ficando estes fixados num discurso “circular” onde tudo pode ser

o quem ouve quer que seja, tornando-se, portanto, de especial importância mobilizar uma

dimensão antropológica, designada: modos de ver, para, sobretudo, verificar quais as

interpretações que os professores, pais, alunos, fazem destes e de outros conceitos que ao

longo de cerca de 40 anos vão passando de “normativo em normativo”, de “discurso em

discurso” e como afetam as práticas desenvolvidas nas várias áreas da EA, ou seja, como se

desenvolve a dimensão Estética: Modos de Fazer.

Em termos metodológicos estas três dimensões serão trabalhadas autonomamente, com

instrumentos de recolha e tratamentos de dados específicos para cada uma delas, no entanto

elas constituem o campo concetual deste estudo de um modo interligado e interdependente.

Se as duas primeiras - histórica e antropológica - constituem mais acentuadamente um campo

de diagnóstico do problema, a última, - dimensão estética, funciona como uma análise da

caraterização das conceções e das práticas que devem estar presentes numa “ verdadeira” EA,

encaminhando-nos para uma abordagem centrado na opção metodológica designada Estudo

de Caso, por nos parecer o mais adequado numa observação detalhada de um determinado

contexto (Merriam,1988, citado por Bogdan e Biklen, 1991), o qual neste estudo diz respeito

aos participantes (docentes, pais e famílias) de dez Agrupamentos de Escolas do PEEA, sendo

que dois são da zona norte, dois da zona centro, dois da região da Grande Lisboa, dois da

região de Setúbal e dois da Região do Algarve.

Assim, enumeram-se de seguida, para cada dimensão, os instrumentos de recolha e análise de

dados, bem como a respetiva fundamentação:

Dimensão Histórica - Modos de Dizer: incluem-se nesta dimensão, a análise

documental, com a elaboração de grelhas de análise dos discursos, que permitam

analisar e traçar as continuidade (s) e descontinuidade (s) dos discursos legislativos e

pedagógicos. Também, e a partir desta análise, será elaborado um mapa dos principais

conceitos utilizados como modo de traçar uma cartografia, que forneça informações

para possibilitar o conhecimento das mudanças na compreensão de determinada

realidade (Trowbrigde & wandersee,1998).

Dimensão Antropológica - Modos de Ver: Opta-se, nesta dimensão, pela elaboração de

entrevistas, já que a entrevista é um importante instrumento de recolha de dados

numa investigação de tipo qualitativo interpretativo e com ela pretendemos aceder “a

aspectos em que o investigador não pensava” (Quivy e Campenhougt, 1992). Recorre-

se à técnica da entrevista semiestruturada, a quatro docentes, por Agrupamento de

Escola, e aos respetivos diretores de agrupamento, de modo a retratar as múltiplas

perspetivas (Stake,1995), sobre a arte na escola e sobre o seu desenvolvimento

prático. Preferencialmente aplicam-se entrevistas do tipo semi-estruturadas que são

geralmente conduzidas com base em tópicos específicos a partir dos quais se criam as

questões. Inclui-se a construção de um guião que assegurará a obtenção das

informações pretendidas, Carmo, H. & Ferreira M. M. (2008). A análise de conteúdo

das entrevistas será feita como nos sugere Raymond Quivy, “ os métodos de análise de

35

conteúdo, implicam a aplicação de processos técnicos relativamente precisos (como

por exemplo, o calculo das frequências relativas ou das co-ocorrências dos termos

utilizados). “De facto, apenas a utilização de métodos construídos e estáveis permite

ao investigador elaborar uma interpretação que não tome como referencia os seus

próprios valores e representações.” (Quivy,1992).

Também, nesta dimensão, será utilizada a técnica de Focus Group feita com cerca de

seis a oito pessoas (pais, alunos e aos representantes de instituições culturais) no

sentido de auscultar e clarificar os pontos de vista e as ideias sobre o desenvolvimento

das artes na escola.

Dimensão Estética - Modos de Fazer: Nesta dimensão, como atrás foi referido, serão

estudados e utilizados como amostra dez Agrupamentos de Escolas do PEEA, sendo

dois da zona Norte, dois da zona Centro, dois da região da Grande Lisboa, dois da

região de Setúbal e dois da zona Sul, de modo a fazer uma cobertura a nível nacional.

Serão utilizados como instrumentos de recolha de dados, as notas de campo sobre as

reuniões de acompanhamento (RA) do PEEA, a recolha fotográfica dos trabalhos das

crianças e da “ambiência” das salas de aulas e a análise dos trabalhos dos docentes em

contexto da formação desenvolvida ao longo de um ano. A opção por estes

instrumentos de recolha de dados fundamenta-se, quer pelo aprofundamento que

estes nos garantem, quer na observação dos aspetos objetivos a estudar, quer na

compreensão dos aspetos subjetivos em análise.

Embora as notas de campo possam ser todos os dados recolhidos durante todo o

estudo (Bogdan& Biklen,1991,c), neste dimensão, este instrumento é usado no sentido

mais restrito e mais autónomo. Neste contexto, as notas de campo são utiizadas para,

por um lado, captar uma imagem por palavras do local, pessoas, acções e conversas/

reuniões observadas no decurso do desencolvimento do PEEA, nos diferentes

contextos escolares, e, por outro, estes relatos tornam-se mais reflexivos, pois

servirão para apreender o ponto de vista do observador, as suas ideias e

preocupações.( Bogdan & Bibklen, 1991,d).

Nesta dimensão será também utilizado o recurso à fotografia, como acima é referido.

Como assinalam (Bogdan & Bibklen, 1991), a fotografia está intimamente ligada à

investigação qualitativa, e [pode fornecer] fortes dados descritivivos e ajudar a

compreender o que é subjetivo, assumindo especial relevância a sua utilização nesta

dimensão, na medida em que, e, parafraseando Lewis Hine, sociólogo,- um dos

primeiros cientistas a utilizar a câmara fotográfica para mostrar ao povo americano a

pobreza do seu país - , (…) “ Se eu pudessse contar a história por palavras não teria

tido a necessidade de carregar com uma câmara fotográfica.”(Scott,1973, cit. Bogdan

& Biblen, 1991).

Também a pertinência deste instrumento nesta dimensão do estudo se pode

verificar na medida que as fotografias dos trabalhos e do próprio ambiente escolar

podem servir para apresentar imagens que não encaixam nos construtos teóricos que

a investigadora está a formar, nem corresponderem ao que os docentes dizem que

fazem nas suas práticas de Educação Artistica, e, neste sentido, as fotografias podem

ser utilizadas para compreender o subjetivo, para investigar àcerca de como as

36

pessoas definem o seuposicionamente perante a arte, revelar o que as pessoas têm

como adquirido e o que elas assumem como inquestionável neste domínio.

Ao longo projeto de investigação procurou-se, através dos discursos reescritos, traçar as linhas

temporais, referenciando uma dimensão histórica e os seus modos de dizer, fazendo emergir

uma dimensão antropológica e nos seus modos de ver e apontar possibilidades para uma

dimensão estética nos seus modos de fazer.

Assumindo-se o valor da EA como centralidade das relações entre estas diferentes dimensões,

delimitou-se um quadro- referência que irá acompanhar este trabalho, quer sob os pontos de

vista epistemológico, quer metodológico.

Pensa-se que ao longo deste itinerário foi esclarecido o caminho para chegar ao “Estudo de

Caso” do PEEA, para continuar o questionamento sobre o valor atribuído à EA.

37

5. Cronograma

O presente trabalho de investigação tem uma duração previsional de três (3) anos.

O Cronograma para a realização do trabalho apresenta a seguinte configuração:

Fases da investigação Ano 1 (2014-2015)

Ano 2 (2015-2016)

Ano 3 (2016-2017)

1º Sem. 2º Sem. 1º Sem. 2º Sem. 1º Sem. 2º Sem.

- Revisão literatura.

- Revisão do “estado da arte”.

- Recolha de dados: recolha de

artigos e normativos sobre a EA

em Portugal.

- Recolha de notas de campo e

registo fotográfico.

- Elaboração e entrega do Projecto

de investigação.

Defesa do projeto tese.

- Continuação da recolha de dados:

notas de campo, registo

fotográfico e entrevistas.

- Análise e tratamento de dados.

- Elaboração de quadro de pistas

de refllexão.

Inicio de escrita da tese.

- Conclusão e redação final da

escrita da tese;

- Leitura, apresentação e defesa da

Tese.

38

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