MODULAÇÃO

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1 Disciplina: Fundamentos de Harmonia II Professora: Cecília Nazaré de Lima MODULAÇÃO Já pudemos perceber que as dominantes individuais enriquecem a condução harmônica deixando a impressão, mesmo que temporária, de incursão por outras áreas tonais. Em contraste com esse efeito provisório, a modulação existe quando a música propicia ao ouvinte a impressão auditiva de que uma nova tonalidade será alcançada e identificada pela cadência perfeita no novo tom. Em harmonia, o termo modulação representa a passagem de uma tonalidade a outra por meio de acordes que promovem a indispensável transição. Esses acordes transitivos nos afastam do centro de atração representado pela tônica antiga e nos conduzem a uma nova tônica. O processo da modulação consiste de três partes: 1. Tom original tonalidade de partida 2. Acorde modulante 3. Tom para o qual se modula De acordo com o tipo de afirmação da nova tonalidade podemos estabelecer dois tipos de modulação: passageira e definitiva. No segundo caso, o processo modulante estabelece a nova tonalidade de maneira clara e satisfatória. Na modulação passageira, percebe-se um novo tom que será abandonado imediatamente. Ela pode ser tão passageira a ponto de nem atingir a meta de sua tônica, desviando por outros caminhos antes de chegar a ela (modulação truncada). De acordo com o meio modulante, podemos classificar 3 tipos de modulação: 1. Diatônica o acorde transitório é comum às duas tonalidades 2. Cromática movimento cromático na sucessão dos acordes modulantes, isto é, uma mesma nota distintamente alterada a distância de semitom 3. Enarmônica interpretação enarmônica de algumas notas do acorde transitório, possibilitando a este acode mudar de função sem mudar de sonoridade MODULAÇÃO DIATÔNICA Tonalidades vizinhas possuem várias notas comuns que, por sua vez, geram muitos acordes comuns. Por esse motivo, o processo mais suave e natural de modulação entre elas é o diatônico. A modulação diatônica ocorre por meio de uma acorde comum às duas tonalidades, conhecido como acorde pivô, comum ou diatônico. Esse acorde freqüentemente precede o

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MOdulçao harmonica

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Disciplina: Fundamentos de Harmonia II

Professora: Cecília Nazaré de Lima

MODULAÇÃO

Já pudemos perceber que as dominantes individuais enriquecem a condução

harmônica deixando a impressão, mesmo que temporária, de incursão por outras áreas tonais.

Em contraste com esse efeito provisório, a modulação existe quando a música propicia ao

ouvinte a impressão auditiva de que uma nova tonalidade será alcançada e identificada pela

cadência perfeita no novo tom. Em harmonia, o termo modulação representa a passagem de

uma tonalidade a outra por meio de acordes que promovem a indispensável transição. Esses

acordes transitivos nos afastam do centro de atração representado pela tônica antiga e nos

conduzem a uma nova tônica.

O processo da modulação consiste de três partes:

1. Tom original – tonalidade de partida

2. Acorde modulante

3. Tom para o qual se modula

De acordo com o tipo de afirmação da nova tonalidade podemos estabelecer dois tipos

de modulação: passageira e definitiva. No segundo caso, o processo modulante estabelece a

nova tonalidade de maneira clara e satisfatória. Na modulação passageira, percebe-se um

novo tom que será abandonado imediatamente. Ela pode ser tão passageira a ponto de nem

atingir a meta de sua tônica, desviando por outros caminhos antes de chegar a ela (modulação

truncada).

De acordo com o meio modulante, podemos classificar 3 tipos de modulação:

1. Diatônica – o acorde transitório é comum às duas tonalidades

2. Cromática – movimento cromático na sucessão dos acordes modulantes, isto é,

uma mesma nota distintamente alterada a distância de semitom

3. Enarmônica – interpretação enarmônica de algumas notas do acorde transitório,

possibilitando a este acode mudar de função sem mudar de sonoridade

MODULAÇÃO DIATÔNICA

Tonalidades vizinhas possuem várias notas comuns que, por sua vez, geram muitos

acordes comuns. Por esse motivo, o processo mais suave e natural de modulação entre elas é o

diatônico. A modulação diatônica ocorre por meio de uma acorde comum às duas tonalidades,

conhecido como acorde pivô, comum ou diatônico. Esse acorde freqüentemente precede o

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primeiro encadeamento V–I (ou V-VI) do novo tom. Quando o acorde precedente a este

encadeamento não for comum à tonalidade deixada, então provavelmente o anterior será.

No exemplo seguinte, podemos observar a modulação diatônica entre as tonalidades vizinhas

Mi menor e Sol maior.

Figura 1

No compasso 6 , o acorde de Lá menor, comum às duas tonalidades, inicia o processo

da modulação diatônica. Através dele abandona-se a tonalidade de Mi menor e dá-se início à

cadênica perfeita que confirma o novo tom, Sol maior. Até a presença do acorde pivô não

temos dúvida de que estamos em Mi menor e, de fato, a música poderia ser continuada nesta

tonlidade. Dando outra continuidade ao exemplo de Haydn, podemos conduzir a harmonia

para a cadência perfeita em Mi menor, a partir do acorde de Lá menor:

Figura 2

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Portanto, a modulação diatônica deste trecho da sonata de Haydn se estrutura no

seguinte encadeamento harmônico:

Figura 3

Analise e cifre (localize o acorde comum) os seguintes exemplos de modulação diatônica:

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MODULAÇÃO CROMÁTICA

A modulação cromática ocorre quando, no curso da melodia, uma ou mais vozes se

movimentam cromaticamente (duas notas que possuem o mesmo nome mas alturas diferentes

em um semitom). A sucessão cromática que caracteriza esta modulação pode ocorrer de duas

maneiras:

a) entre acordes cujas notas constituintes são as mesmas, mas diferentemente alteradas;

b) entre acordes cujas notas constituintes não são as mesmas, mesmo que alguma ou algumas

sejam.

Figura 4

È muito usual utilizar o acorde da dominante do novo tom (D7, D9 ou D9 s/ a

fundamental) como acorde modulante que será alcançado, pelo menos em uma das vozes, por

movimento cromático. No entanto, outros acordes característicos da nova tonalidade (S, Sr ou

T) poderão agir como acordes modulantes e dar início à cadência que confirmará o novo tom.

Figura 5

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Observe que a tendência natural de toda nota que acaba de efetuar um cromatismo é

seguir por grau conjunto, na mesma direção, seja imediatamente, seja depois (fig. 6, exemplo

a). Esta tendência deve ser respeitada sempre que possível, especialmente nas vozes extremas.

No entanto, esta nota poderá permanecer imóvel (fig. 6, exemplo b)

Figura 6

A maioria dos exemplos apresentados demonstraram o processo de modulação

cromática entre tonalidades vizinhas. Entretanto, o cromatismo no processo modulatório

permite também o transito harmônico entre tonalidades afastadas, como no seguinte exemplo:

Figura 7

BIBLIOGRAFIA:

OTTMAN, Robert W. . Advanced Harmony. New Jersey: Prentice Hall, 1992.

ZAMACOIS, Joaquín. Tratado de Armonía: Libro I e II. Barcelona: Editorial Labor, 1986.

KOELLREUTTER, H. J. Harmonia funcional: Introdução à teoria das funções harmônicas.

São Paulo: Editora Ricord, 1978