Morcegos de SC

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1 Desmistificando morcegos (*) (anexo para download sobre famílias de morcegos que vivem em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul) (*) Por Kleber Pinto Antunes de Oliveira, biólogo e mastozoólogo ([email protected]) Conhecendo as cinco famílias de morcegos de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul Família Phyllostomidae Como característica marcante, os morcegos desta família apresentam a ocorrência de uma folha nasal membranosa, em forma de lança ou folha, na extremidade do focinho. No Rio Grande do Sul existem 12 espécies desta família, e em Santa Catarina 19. É a família de morcegos com a maior diversidade de hábitos alimentares, incluindo espécies frugívoras, espécies que se alimentam de néctar e pólen, morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue), morcegos piscívoros (que se alimentam de pequenos peixes), e outras que se alimentam de pequenos animais (pássaros, lagartos, roedores, marsupiais, pequenos morcegos). As espécies frugívoras possuem uma grande importância ecológica, e algumas delas podem ser encontradas em ambientes urbanos, principalmente se na região existirem figueiras, goiabeiras, mangueiras, abacateiros, entre outras espécies vegetais. Na figura abaixo, um exemplar de Artibeus lituratus, morcego-de-cara-branca, um grande apreciador de frutos do gênero Ficus. Artibeus lituratus Foto: Marco A. R. Mello www.casadosmorcegos.org *** A fotografia a seguir mostra um exemplar de Carollia perspicillata, espécie que ocorre, dentre outros Estados brasileiros, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. No caso do Rio Grande do Sul, até o presente momento apenas 11 registros desta espécie foram obtidos, sendo que, deste total, sete foram em Mampituba, no litoral norte do Estado, na divisa com Santa Catarina, entre 2001 e 2004, por meio de levantamento e estudo da quiropterofauna local efetuados pelo biólogo autor deste artigo. Além de frutos, esta espécie também inclui na sua dieta néctar, pólen e insetos. O período de gestação varia de dois meses e meio a três meses. Nasce um filhote por ano. Esta espécie é uma grande consumidora de plantas da família das piperáceas.

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Artigo que descreve vários morcegos encontrados em SC e fotos.

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    Desmistificando morcegos (*)

    (anexo para download sobre famlias de morcegos que vivem em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul) (*) Por Kleber Pinto Antunes de Oliveira, bilogo e mastozologo ([email protected])

    Conhecendo as cinco famlias de morcegos de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul

    Famlia Phyllostomidae Como caracterstica marcante, os morcegos desta famlia apresentam a ocorrncia de uma folha nasal membranosa, em forma de lana ou folha, na extremidade do focinho. No Rio Grande do Sul existem 12 espcies desta famlia, e em Santa Catarina 19. a famlia de morcegos com a maior diversidade de hbitos alimentares, incluindo espcies frugvoras, espcies que se alimentam de nctar e plen, morcegos hematfagos (que se alimentam de sangue), morcegos piscvoros (que se alimentam de pequenos peixes), e outras que se alimentam de pequenos animais (pssaros, lagartos, roedores, marsupiais, pequenos morcegos). As espcies frugvoras possuem uma grande importncia ecolgica, e algumas delas podem ser encontradas em ambientes urbanos, principalmente se na regio existirem figueiras, goiabeiras, mangueiras, abacateiros, entre outras espcies vegetais. Na figura abaixo, um exemplar de Artibeus lituratus, morcego-de-cara-branca, um grande apreciador de frutos do gnero Ficus.

    Artibeus lituratus Foto: Marco A. R. Mello www.casadosmorcegos.org *** A fotografia a seguir mostra um exemplar de Carollia perspicillata, espcie que ocorre, dentre outros Estados brasileiros, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. No caso do Rio Grande do Sul, at o presente momento apenas 11 registros desta espcie foram obtidos, sendo que, deste total, sete foram em Mampituba, no litoral norte do Estado, na divisa com Santa Catarina, entre 2001 e 2004, por meio de levantamento e estudo da quiropterofauna local efetuados pelo bilogo autor deste artigo. Alm de frutos, esta espcie tambm inclui na sua dieta nctar, plen e insetos. O perodo de gestao varia de dois meses e meio a trs meses. Nasce um filhote por ano. Esta espcie uma grande consumidora de plantas da famlia das piperceas.

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    Carollia perspicillata Foto: Marco A.R. Mello www.casadosmorcegos.org *** Na imagem abaixo, um exemplar de Glossophaga soricina, conhecido popularmente como morcego-beija-flor. A presena de focinho e lngua compridos, relacionados ao hbito de visitarem flores noturnas, inspirou o nome popular espcie. Um adulto pesa entre 7 e 12 gramas. Alm do plen e do nctar, inclui ainda na sua alimentao frutos e alguns insetos. Est presente tambm em locais urbanos. A sua presena mais comum em lugares bastante midos e escuros, como tocas, furnas, cavernas, pores, galpes, principalmente em reas rurais.

    Glossophaga soricina Foto: Marco A. R.Mello www.cadadosmorcegos.org *** A figura a seguir mostra o morcego hematfago Desmodus rotundus (morcego-vampiro), que se alimenta de sangue de mamferos, tanto silvestres quanto de criaes, e de animais domsticos, em menor nmero. Ocorre em todo o territrio brasileiro. Por alimentar-se de sangue, pode transmitir o vrus da raiva e tambm outros agentes de infeco aos animais que ataca. Geralmente, existe gua nos lugares onde esta espcie vive e utiliza como abrigo. Vive em colnias de at centenas de indivduos, mas h locais onde o nmero de exemplares bem menor. Para darmos um exemplo, o autor testemunhou em Mampituba (RS), numa pequena gruta, um pequeno grupo de indivduos desta espcie, que tinha 28 exemplares. Em todo o Brasil, h programas nacionais e internacionais de combate e controle do morcego hematfago. importante enfatizar que a vacinao preventiva contra a raiva, principalmente a bovina, sob hiptese alguma pode ser esquecida. S esta atitude proporciona melhor segurana ao rebanho.

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    Desmodus rotundus Foto: Wilson Uieda *** Na foto abaixo, um exemplar de Diphylla ecaudata, morcego hematfago que se alimenta quase que exclusivamente de sangue de aves que repousam em rvores e, em alguns casos, de aves domsticas, principalmente galinhas. Est presente em 13 dos 26 Estados brasileiros. Ocorre em Santa Catarina, mas no possui registros de ocorrncia, at o momento, no Rio Grande do Sul. Possui olhos grandes, orelhas pequenas e arredondadas, folha nasal pouco desenvolvida. Habita cavernas e, de modo mais raro, ocos de rvores (GREENHAL et al. 1984). H uma terceira espcie de quirptero hematfago, Diaemus youngi, que tem preferncia por sangue de aves. Na regio sul do Brasil, s est presente no Estado do Paran.

    Diphylla ecaudata Foto: Wilson Uieda *** Famlia Molossidae Famlia composta apenas por espcies exclusivamente insetvoras. Em Santa Catarina, at o momento foram obtidos registros de oito espcies; e no Rio Grande do Sul, 13 espcies j foram registradas. As espcies desta famlia so conhecidas como morcegos de cauda livre. No caso do Rio Grande do Sul, nos ltimos 14 anos, o nmero de espcies desta famlia sofreu muitos acrscimos, mais precisamente cinco, saltando de oito em 1994, para 13 em 2008. Os olhos so pequenos, a cabea robusta, o focinho pequeno, provido de lbios grossos. A cauda ultrapassa a membrana interfemural, ficando uma ponta livre. Os ps pequenos apresentam unhas curtas, fortes e recurvadas. Moram em lugares secos, onde a temperatura mais elevada do que a do meio externo. Principalmente nas cidades, os meses mais quentes do ano so os mais indicados para a observao destes mamferos voadores. O cheiro destes quirpteros normalmente forte e caracterstico para cada uma das espcies.

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    A figura a seguir mostra uma espcie Molossus molossus (morcego-cauda-de-rato), que ocorre em reas silvestres, rurais, e tambm urbanas.

    Molossus molossus Foto: www.morcegolivre.vet.br *** Famlia Vespertilionidae Famlia composta exclusivamente de espcies insetvoras. Os insetos so capturados em pleno vo. Duas das principais caractersticas desta famlia tratam-se da membrana interfemural bem desenvolvida, que envolve a cauda longa, e as orelhas altas com extremidades terminando em ngulo agudo. Podem ser solitrios ou coloniais, sendo que no caso dos grupos, dependendo da espcie, os nmeros de indivduos podem ser pequenos ou grandes. Representada em Santa Catarina por 13 espcies e, no Rio Grande do Sul, por 15 espcies. As espcies que ocorrem em ambiente urbanos tm preferncia por stos. Na imagem abaixo observamos uma fmea de Lasiurus cinereus (morcego-grisalho) alimentando os seus dois filhotes. No gnero Lasiurus comum o nascimento de dois filhotes.

    Lasiurus cinereus Foto: Rodrigo Almeida Hein *** Famlia Noctilionidae Famlia representada nos dois Estados (SC e RS) por apenas uma espcie, a do morcego-pescador, Noctilio leporinus. um grande morcego, um dos maiores do Brasil. O adulto pesa em mdia entre 64 e 80 gramas. Nas partes superiores do corpo possui uma colorao amarelo-avermelhado, com a presena de uma listra branca que se estende desde a nuca at a base da cauda. Vive em colnias. Os ps so muito grandes, apresentando unhas compridas e fortes. Este morcego possui odor forte, muito caracterstico. Alimenta-se de pequenos peixes e crustceos.

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    Na figura abaixo est representado um exemplar do Noctilio leporinus (morcego-pescador). No Estado do Paran e em outros Estados do Brasil ocorre uma segunda espcie de morcego-pescador, o Noctilio albiventris.

    Noctilio leporinus Foto: www.morcegolivre.vet.br *** Famlia Furipteridae Famlia no ocorrente no Rio Grande do Sul. A ocorrncia desta famlia em Santa Catarina at hoje no possui respaldo e comprovao em colees cientficas existentes no Estado. A espcie Furipterus horrens mencionada por alguns pesquisadores, como Thomas, Lima, Vieira, Carvalho, Marinho-Filho e Wallauer et al., como ocorrente em terras catarinenses; mas Cherem et al (2004) cita esta espcie e outras cinco de morcegos citados pelos autores acima todas como sem comprovaes. Este morcego tambm conhecido popularmente em outros pases como smoky bats, pelo fato de possurem uma pelagem acinzentada. So pequenos. Esta espcie apresenta polegar reduzido e no possui apndice nasal. So exclusivamente insetvoros. Habitam cavernas e construes. O peso mdio, quando adulto, de 3 gramas. No Brasil foi observado em outros 10 Estados: Par, Amazonas, Piau, Cear, Pernambuco, Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Rio de Janeiro e So Paulo. Na figura abaixo est representado um exemplar de Furipterus horrens.

    Furipterus horrens Foto: Wilson Uieda

    * * * Veja as referncias bibliogrficas e sugestes de sites em: www.redactor.com.br/imprensa_artigos2.php?id=22