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MOTIVAÇÃO E APRENDIZAGEM NA ESCOLA: CONCEPÇÕES DE

ALUNOS E PROFESSORES

Autora: Iara Regina S. Azevedo1;

Orientadora: Clara Brener Mindal2

Resumo

Este artigo apresenta dados de pesquisa de caráter exploratório realizada com alunos de uma turma de oitava série de uma escola estadual do município de Curitiba, Paraná e com seus professores. Foram levantadas concepções de alunos e de seus professores sobre adolescência, motivação, aprendizagem e sobre a relação dos jovens e a escola. Os processos metodológicos utilizados com os alunos incluíram: questionário de múltipla escolha e dinâmicas de grupo com temas relacionados à adolescência e à escola. Os processos metodológicos utilizados com os professores incluíram leitura e debate de textos sobre motivação e adolescência; discussão sobre as respostas do questionário realizado com os alunos e dinâmicas de grupo com temas motivação e adolescência. As concepções dos alunos corroboram o que a literatura de referencia afirma sobre adolescentes. As concepções dos professores contradizem a literatura consultada e vão de encontro às concepções dos alunos sobre eles mesmos.

1 Introdução

Este artigo apresenta e discute concepções de alunos e professores

relacionadas aos temas da motivação e da aprendizagem na escola do ensino

fundamental. O material apresentado foi colhido junto aos alunos de 8ª série de um 1 Pedagoga do Colégio Estadual do Paraná do Ensino Fundamental, Ensino Médio.

Aluna do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) - programa de formação

continuada de professores da Rede Estadual de Ensino, promovido pela Secretaria do

Estado de Educação em parceria com a Universidade Federal do Paraná.

2 Professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Doutora em Psicologia da

Educação pela PUCSP. Orientadora de projeto no Programa PDE.

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Colégio Estadual e seus professores. Aos alunos foi primeiro aplicado um

questionário cujas respostas foram posteriormente debatidas com eles e com os

seus professores. Com os alunos foram realizadas também dinâmicas de grupo e

debates sobre temas relacionados à adolescência e à escola. Os professores

passaram por uma primeira etapa de leitura e discussão de textos sobre motivação e

adolescência e por uma segunda etapa na qual debatiam sua experiência pessoal

como adolescentes e alunos e a utilizavam como pano de fundo para refletir sobre

os resultados da investigação com os seus atuais alunos.

O trabalho com alunos e professores acima mencionado é parte de um

projeto e de um plano de implementação desenvolvidos para o Programa de

Desenvolvimento Educacional (PDE)3.

O projeto, intitulado “Motivação Escolar – A falta de motivação e de interesse

dos alunos pelos estudos - Significados da Aprendizagem na Perspectiva do Aluno”

e a sua aplicação foram realizados pela primeira autora e orientados pela segunda.

Esse projeto surgiu da observação e do questionamento no âmbito escolar, de

comportamentos dos alunos como: falta de atenção e conversas paralelas nas aulas,

falta de envolvimento com as práticas pedagógicas, conflitos nas relações pessoais

com seus professores, faltas injustificadas às aulas, entre outros, tidos pelo corpo

docente como negativismo e indisciplina.

Por meio do levantamento e discussão das concepções dos alunos e dos

professores, buscou-se então, a partir da investigação e das atividades propostas,

criar um espaço de pesquisa e interação para o entendimento dos motivos que

colocam os alunos numa posição aparentemente de distanciamento em relação

àquilo que a escola propõe.

3 O Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), promovido pela Secretaria

de Educação Estadual do Paraná (SEED), tem por objetivo a formação continuada dos

professores de ensino fundamental e médio em parceria com as instituições de ensino

superior públicas do Paraná. O professor cursista elabora um projeto de pesquisa a partir de

demandas da sua escola de origem e, posteriormente, um plano de implementação na

escola que inclui, entre outros, um caderno pedagógico.

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Constantemente, na mídia, somos informados de que estamos diante de uma

nova realidade escolar, uma vez que a escola está inserida em um novo contexto

social. Esse contexto e a observação na escola levaram a muitas indagações: por

que os alunos encontram-se aparentemente tão distantes do fazer acadêmico? O

que efetivamente os motiva? O que representa a escola para eles? Para que tipo de

aluno o professor deve estruturar seus objetivos pedagógicos? Quais são as

concepções e significados da aprendizagem na perspectiva do aluno na fase da

adolescência? Quem é, na realidade, esse sujeito da educação nos dias atuais? O

que pensam seus professores?

As respostas a esses questionamentos trouxeram outros questionamentos na

medida em que os sujeitos envolvidos desvelaram nas suas subjetividades razões e

motivos marcados pelo contexto da realidade na qual estão inseridos e revelaram a

distância existente entre o universo dos adolescentes e o idealizado pelos

professores.

A pesquisa com os alunos trouxe como dado a importância que eles dão à

escola como espaço de socialização com os amigos e a consideração que atribuem

aos estudos considerados necessários para atingir os objetivos de uma vida futura

promissora economicamente; outro dado significativo é que os alunos, embora

afirmem a importância dos estudos escolares, acreditam que devem fazer apenas o

suficiente dentro das obrigações escolares.

Apresentamos a seguir, o tema proposto e breve revisão de literatura atual

sobre os temas adolescentes, motivação e escola como referência para este estudo.

2 Adolescentes, motivação e relação com o ensino escolar

No dia-a-dia da escola surgem inquietações originadas da percepção de os

alunos encontrarem-se aparentemente distantes daquilo que a escola lhes tem

proposto. Num primeiro momento fomos consultar as Diretrizes Curriculares do

Estado (PARANÁ, SEED, 2008) já que é este documento que fundamenta a

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compreensão sobre a educação no ensino fundamental e médio e os programas da

Secretaria Estadual de Educação (SEED).

Em sua proposta filosófica, as Diretrizes Curriculares consideram o sujeito

como fruto de seu tempo histórico, das relações sociais nas quais está inserido e

como um ser único que interage no mundo a partir de sua compreensão e de suas

possibilidades de participação. Propõem ainda, através da sua política curricular,

construir uma sociedade mais justa onde as oportunidades sejam iguais para todos,

independentemente da faixa etária, das diferentes origens étnicas e culturais, bem

como, da situação social onde os sujeitos da educação estejam inseridos, sejam

eles oriundos das classes assalariadas, urbanas ou rurais.

Todos, portanto, devem ter acesso ao conhecimento produzido pela

humanidade, que na escola é veiculado pelos conteúdos das disciplinas curriculares.

Nesta perspectiva, pelo caráter político da proposta das Diretrizes

Curriculares Estaduais, a escola pública deveria cumprir o papel de acolher as

demandas dos diferentes sujeitos para oportunizar-lhes o acesso à educação.

Educação que deveria estar comprometida com a formação de um homem que seria

capacitado a interagir com o mundo e a transformar o seu entorno através do

conhecimento.

Essas idéias veiculadas pelas Diretrizes sustentam uma visão de mundo, de

sociedade e de educação, e sugerem uma orientação para o trabalho escolar que

deveria se materializar nas práticas pedagógicas no espaço da escola.

No entanto, a realidade que se nos desnuda no dia a dia das salas de aula e

que traz tantas indagações sobre a situação do aluno real da instituição pública,

objeto da intencionalidade da escola, tem mostrado um cenário de práticas

pedagógicas aparentemente descolado das motivações desse aluno; realidade que

não faria eco com os seus interesses e, portanto, parece dar causa a não-efetivação

do processo de ensino aprendizagem que levaria a consecução do sugerido nas

Diretrizes Curriculares, para cada disciplina.

Na complexa tarefa de buscar as possíveis razões e entendimentos que

dariam origem ao desinteresse dos alunos pelos estudos, foi feito um recorte teórico

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que nos auxiliou no esboço de um perfil do adolescente atual e outro recorte que nos

auxiliou na compreensão da motivação para os estudos escolares.

Assim, partimos da idéia de que o adolescente hoje é produto de uma

sociedade em que as transformações culturais, tecnológicas, políticas, sociais e

econômicas, bem como as mudanças na instituição familiar, incidem de modo

peculiar nas suas formas de vida e na sua visão de mundo.

O contexto no qual se insere a escola pública na atualidade é descrito por

Sallas (2008) como um contexto que não é alheio ao enfrentamento e às lutas

relacionadas aos problemas sociais que afligem à nossa sociedade. Pode ser

observado que, por um lado, foram transferidas para a escola algumas das

atividades educativas, sociais e protetoras que correspondiam às famílias e que, por

outro, nem a escola nem os professores estariam preparados nem adaptados para

enfrentar essas circunstâncias.

Além do mais, a enorme influência que sobre os adolescentes exercem as

mídias eletrônicas é consenso entre diversos autores. Observa-se que os avanços

da tecnologia das comunicações têm alterado e transformado o ser humano

disseminando idéias, valores e condutas, e, como nos dizem Bandura, Azzi e

Polydoro (2008, p.20), criando modelos a imitar que podem não estar no mundo

imediato: “... a Internet, ao possibilitar o acesso comunicativo instantâneo a todo o

mundo, tornou a modelação eletrônica um poderoso veículo para mudanças

transculturais e sociopolíticas”.

Em um artigo que trata das contribuições das análises culturais para a

formação dos professores do início do século XXI, Costa (2010) analisa a forte

influência das mídias desde antes do ingresso à escola. Essa autora aponta para o

fato de que:

(...) antes de ingressar na escola, as pedagogias do presente já se encarregaram do alfabetismo requerido para que as crianças dominem a gramática cultural do nosso tempo. Elas chegam à escola fascinadas por imagens, espetáculo e consumo, já familiarizadas com o ritmo vertiginoso dos acontecimentos e com a curta duração, volatilidade e descartabilidade dos objetos, das experiências, dos desejos e dos sentimentos. Pautam suas vidas pela urgência, rapidez e imediatismo; reinventam seus eus inspiradas em repertórios identitários infinitamente renovados. (COSTA, 2010. p.129)

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Nessa perspectiva, é necessário considerar que a cultura contemporânea

marcada pela transitoriedade inscreve na formação dos sujeitos um modo de ser e

de viver muito peculiares. Pela característica do mutável, esse modo de ser e de

viver se torna grande desafio à compreensão daqueles que ainda entendem o

mundo dentro de uma visão pautada em princípios e valores do tradicional.

Costa ainda considera que é uma

... tarefa árdua essa de pensar em uma escola para sociedades tão complexas e plurifacetadas, em um tempo em que tudo é líquido, volátil e efêmero, (...) Nossa experiência do espaço e do tempo encontra-se alterada e isso configura uma condição crítica para uma instituição inventada para ajudar a edificar o mundo da ordem, da longa duração, das coisas certas, das idéias claras e distintas. (COSTA, 2010, p.129-152).

Esses autores mencionados nos sugerem que é um grande desafio de

competência tentar aproximar o cotidiano da educação escolar e suas práticas

pedagógicas às demandas de um sujeito inserido e constituído num contexto

histórico social, onde as mudanças culturais e o papel determinante desempenhado

pelas tecnologias instauraram novas preferências e diferentes formas de viver.

Portanto, se faz urgente, questionar em que medida as possibilidades

acenadas pela escola e os valores éticos que esta apregoa se imbricam com os

conceitos de valores, os objetivos e os interesses pessoais dos adolescentes que a

freqüentam: como os adolescentes e seus professores se percebem nessa realidade

que envolve a motivação e a aprendizagem escolar?

Não se trata de enxergar o nosso aluno como um estranho, um “alienígena”,

mas sim, de tentar decifrá-lo, respeitando suas características, seu tempo histórico

cultural, seu estágio de desenvolvimento, seu contexto familiar e suas relações com

o saber escolar.

Os contextos históricos, culturais e familiares, que permeiam a transição da

adolescência para a vida adulta, constituem um espaço de compreensão dos muitos

processos psicológicos que ocorrem nesse estágio. Salvaguardando-se a

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individualidade de cada sujeito, bem como, as questões voltadas à sua maturação

biológica, psicológica e social.

Os adolescentes encontram-se numa etapa de transição entre a infância e a

vida adulta. Etapa que lhes empresta traços e linguagens próprios dessa condição

pessoal singular e que os leva por caminhos que lhes agregam características muito

específicas derivadas de sua própria condição como nos diz Coll:

“(...) por estarem dependendo de seus pais e vivendo com eles; por estarem realizando a transição de um sistema de apego em grande parte centrado na família, passando por um grupo de apego centrado no grupo de iguais, a um sistema de apego centrado em uma pessoa de outro sexo; por se sentirem membros de uma cultura de idade (a cultura adolescente) que se caracteriza por ter suas próprias modas e hábitos, seu próprio estilo de vida, seus próprios valores; por terem preocupações que já não são da infância, mas que ainda não coincidem com as dos adultos.” (COLL, 2004, p. 310)

Tais traços, característicos do adolescente ocidental, na concepção desse

autor, estão associados à aquisição da autonomia crescente em relação aos seus

pais. Esse processo de individuação traz consigo certa ambivalência, pois os

privilégios conquistados trazem no seu bojo responsabilidades que lhes custa

assumir pela falta de maturidade. Surge daí, certa alternância entre condutas mais

maduras e atitudes infantis, com o incremento de um sentimento de saudade pelo

tempo em que ele, como criança, encontrava-se sob a responsabilidade e cuidados

dos pais.

Outro fator importante a ser considerado nesse universo de informações,

segundo Coll (2004), são as transformações físicas que a puberdade traz consigo,

que supõem uma descontinuidade em relação à infância e que somadas às

mudanças internas e externas, fazem dessa fase uma importante transição evolutiva

entre as condições físicas, sexuais e sociais da infância e a maturidade física, social

e sexual da fase adulta.

As mudanças físicas estão diretamente relacionadas com as transformações

psicológicas e contextuais que o adolescente enfrenta. Por conseguinte, não se

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pode ter a compreensão exata dessa transição sem analisar as complexas

interações entre o biológico, o psicológico e o sócio-cultural.

Coll (2004), ainda sinaliza o crescente apreço que os adolescentes

desenvolvem pelos iguais e que vem a determinar de certa forma a sua orientação

motivacional: o apreço pelos colegas e sua recíproca, o apreço dos colegas, pode

influenciar a vivência de seu papel como estudante. Esse apreço poderá configurar a

auto-estima pessoal, tanto ou mais que o rendimento escolar.

Historicamente é consensual entre os estudiosos da adolescência a

caracterização da fase como conflitiva. Como podemos observar em Quadros (2009)

que descreve a adolescência como uma fase, do desenvolvimento humano,

marcada por conflitos, conscientes ou não, assumidos ou negados pelo próprio

indivíduo. Nessa fase os adolescentes não se percebem mais como crianças, não

têm status social definido, passam por uma série de dúvidas e enfrentam conflitos e

frustrações.

Reféns de uma carga emocional muito forte advinda do desafio de elaborar o

luto pela perda do corpo infantil, pela perda da identidade de criança e pela perda da

segurança da relação protetora com os pais, os adolescentes buscam nas relações

interpessoais com seus pares uma identidade que lhes é emprestada pelo grupo

social do qual fazem parte.

A isso tudo, somar-se-iam as mudanças no contexto provocadas pelo avanço

tecnológico. Como afirma Quadros (2009), os adolescentes hoje formam uma

geração do “tudo-ao-mesmo-tempo-e-agora”, geração em rede, em frenesi digital, de

amores, amizades e aspirações efêmeras.

Essas circunstâncias e objetos que impõem novas necessidades aos jovens e

que interferem no jogo relacional estabelecido com o meio, nos fazem indagar: e a

relação com a escola?

A função humanizadora e socializadora da educação escolar tem sido

ressaltada por diversos autores. Coll (2004), Charlot (2000), Burochovitch (2009),

embora a partir de perspectivas teóricas diferentes dão importância a essa função.

De certa forma consideram o papel da escola como de suma importância no

contexto do desenvolvimento humano e como oportunidade que não pode ser

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rechaçada da vida dos jovens. Isso não quer dizer que esse caminho de

possibilidades se tenha feito atraente para todos os adolescentes.

Pelo contrário, como indicam as pesquisas realizadas por Charlot (2000;

2001; 2005) e por Sallas (2008), o saber escolar para os jovens brasileiros que

freqüentam a escola pública não está próximo de ter sentido. A probabilidade de

fracasso escolar e exclusão/ evasão ainda é realidade para muitos adolescentes. E

escola acaba para muitos sendo apenas espaço de socialização, é lá que encontram

os amigos, frente ao aparente abandono da família.

A suposta falta de interesse pelos estudos e a desmotivação na escola não é,

obviamente, problema apenas da escola pública ou dos alunos brasileiros, como

mostram Charlot (2001), Bixio (2006) e Sallas (2008). No entanto, é problema

recorrente na escola pública; somado a outros fatores, contribui para a falta de

sentido que muitos alunos atribuem aos conhecimentos ensinados nas disciplinas

escolares.

Além do mais, é freqüente encontrar, no âmbito escolar e acadêmico,

sugestões de que para que os alunos se interessem pelos estudos, é preciso

trabalhar com práticas de ensino metodologicamente incentivadoras e diferenciadas

e aplicadas por professores motivados e com propostas inovadoras de ensino. A

realidade do dia-a-dia da escola nos mostra que aparentemente isso não basta;

pensamos que também o tema da motivação para os estudos merece atenção, pois

ela é um fator primordial para o sucesso da prática educativa em sala de aula.

A motivação escolar é entendida a partir de diferentes perspectivas como

um fenômeno complexo.

Para Coll (2004) e Boruchovitch (2009), o estudo da motivação, dentro das

tendências contemporâneas, privilegia as abordagens cognitivistas que focalizam as

metas, crenças e percepções, com destaque para as percepções de competência e

as crenças de auto-eficácia. Outros enfoques contemplam as emoções, como o

sentimento de realização, de satisfação, orgulho, medo ou ansiedade.

A perspectiva cognitivista explica a motivação como um processo dual que

contempla, por um lado, a motivação intrínseca e, por outro, a motivação extrínseca.

Segundo a definição formulada por Guimarães, (2009, p. 37): “... a motivação

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intrínseca refere-se à escolha e realização de uma atividade em si, pelo indivíduo,

por esta lhe parecer interessante e de alguma forma, geradora de satisfação”.

No caso da motivação intrínseca, a participação do sujeito na tarefa é a sua

principal recompensa, por não necessitar de pressões externas, internas ou prêmios

por sua execução. Um indivíduo intrinsecamente motivado procura a novidade, a

satisfação da curiosidade e, também, a oportunidade para desenvolver novas

atividades e habilidades e obter o domínio sobre elas. Implica uma orientação

pessoal para dominar tarefas novas e desafiadoras, associadas ao prazer da própria

consecução das mesmas. Guimarães observa ainda que o envolvimento em uma

tarefa por razões intrínsecas traz maior satisfação ao indivíduo e há indicadores de

que esta facilita a aprendizagem e o desempenho.

Por outro lado, Guimarães define a motivação extrínseca como:

A motivação para trabalhar em resposta a algo externo à ativ idade ou tarefa, nela encontra -se a regulação do comportamento de forma externa ao organismo voltada para obtenção de recompensas materiais ou sociais de reconhecimento, objetivando atender aos comandos ou pressões de outras pessoas ou, para demonstrar competências ou habi lidades. (GUIMARÃES, 2009, p. 46).

Coll, Palácios e Marchesi (2004) fazem referência a estudos cognitivistas que

mostram melhor aproveitamento acadêmico em alunos intrinsecamente motivados.

Esses alunos, entre outros fatores, também demonstrariam maior interesse pelos

estudos na escola.

Charlot (2000, p. 54), tomando por base uma perspectiva psicanalítica, realiza

estudos sobre a relação que os adolescentes estabelecem com o saber e afirma que

todo comportamento humano será sempre direcionado por pulsões e motivado pelo

inconsciente. Portanto, “... toda educação supõe o desejo, como força propulsora

que alimenta o processo”.

Segundo esse autor (CHARLOT, 2000, p. 82), o desejo “... é a mola da

mobilização e, portanto, da atividade; não o desejo nu, mas sim, o desejo de um

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sujeito “...engajado em um mundo, no qual ocupa uma posição e onde se inscreve

na relação com os outros sujeitos e com ele mesmo”. Desde a perspectiva da

relação com o saber, ele considera que: “A relação com o saber, é a relação de um

sujeito com o mundo, com ele mesmo e com os outros, é a relação com o mundo

como um conjunto de significados, ou também, como espaço de atividades, e se

inscreve no tempo”. (CHARLOT, 2000, p. 78)

Devido a sua incompletude, o homem seria levado pelo desejo ao movimento

para aprender, que segundo Charlot é o desejo do outro, do mundo, de si próprio:

A relação com o saber é a relação com o tempo. A apropriação do mundo, a construção de si mesmo, a inscrição em uma rede de relações com os outros - “o aprender” – requerem tempo e jamais acabam. Esse tempo é de uma história: a da espécie humana que transmite um patrimônio a cada geração; a do sujeito; a da linhagem que engendrou o sujeito e que ele engendrará. (CHARLOT, 2000, p. 79)

Na perspectiva da aprendizagem social de Bandura, Azzi e Polydoro (2008, p.

71), encontramos o pressuposto de que as pessoas não são apenas receptáculos e

espectadoras de processos internos determinados por situações ambientais e a

motivação decorre, também, de seu protagonismo.

Elas são consideradas agentes das suas experiências ao longo da vida, ao

invés de, simplesmente, estarem sujeitas a elas. Utilizam-se dos sistemas sensorial,

motor e cerebral como ferramentas para realizarem as tarefas e se lançarem em

busca dos objetivos que lhes trazem significado e satisfação aos seus desejos. Para

esse autor, os atos realizados de forma intencional, constituem o que ele denomina

de “agência”. Ser um agente significa fazer as coisas acontecerem de maneira

intencional, por meio das próprias ações.

A agência incorpora sistemas de crenças, capacidades de auto-regulação e

de estruturação, além de funções pelas quais o indivíduo exerce influência pessoal.

A auto-regulação da motivação, do afeto e da ação estão submetidas ao

monitoramento pessoal e à orientação pessoal do comportamento.

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O indivíduo, portanto, pela sua condição indissociavelmente humana, social e

singular, se encontra numa condição de sujeito portador de desejos, que é movido

por esses mesmos desejos e, que constantemente, se vê confrontado com o “já aí”,

ou seja, com o legado de um patrimônio humano, do qual deve apropriar-se, dentro

do contexto da sua singularidade.

Esta breve incursão ao campo de estudos sobre adolescência e motivação

nos trouxe alguns conceitos que nos abriram a possibilidade de dialogar e indagar

no sentido de elucidar como os adolescentes na escola vêem a si mesmos, a

relação que estabelecem com os conteúdos: o que realmente os motiva? Ao mesmo

tempo possibilita dialogar e indagar no sentido de elucidar como os professores

percebem esses adolescentes.

A seguir, apresentamos os resultados da pesquisa com alunos e das

atividades desenvolvidas com os alunos e seus professores no contexto de uma

escola estadual em Curitiba, Paraná.

3 Alunos, professores, escola e motivação: trabalho com os alunos

A intervenção junto aos alunos foi realizada em duas etapas. Na primeira, foi

aplicado um questionário a vinte e sete alunos (seis meninos e vinte e uma meninas)

de uma turma de 8ª série do Ensino Fundamental de um colégio estadual de

Curitiba, Paraná. O questionário foi elaborado a partir de piloto aplicado em outra

turma da mesma série e que revelou problemas em algumas das questões, que

foram corrigidos ou re-elaboradas. O questionário final aplicado foi composto por

perguntas com múltipla escolha fechadas e relacionadas às concepções e

percepções: de si como pessoas adolescentes, dos seus relacionamentos

interpessoais, das atividades escolares e extra-escolares, e de aprendizagem na

escola, entre outros. A ultima pergunta era aberta (interesses fora da escola).

Na segunda etapa, foram realizadas, por um período de quatro meses,

atividades e dinâmicas de grupo com a turma de alunos da 8ª série pesquisada.

Essas atividades tinham por objetivo uma interação mais próxima e pessoal e

aprofundar o conhecimento dos alunos e de suas concepções. O número de alunos

que participou desta segunda etapa foi variável. Os temas trabalhados em cada

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atividade envolviam a percepção que os alunos têm de si mesmos como

adolescentes, das mudanças em sua vida e suas relações, das aspirações para o

seu futuro, do papel da escola atual e para o futuro (ver anexo 1).

3.1 Resultados da investigação com os alunos

Responderam ao questionário 26 alunos, seis meninos e vinte e uma

meninas. É importante salientar que os alunos tinham liberdade para escolher várias

alternativas para a mesma questão.

A seguir apresentamos algumas respostas mais freqüentes e algumas que se

destacam pela pouca escolha, de maneira a poder compreender o pensamento dos

adolescentes estudados. De modo geral, os quadros apresentam porcentagens

totais e separadas para meninos e meninas. As meninas se concentraram em

menos alternativas, mais do que os meninos que apresentaram mais dispersão em

suas escolhas, como poderá ser observado nos quadros. As respostas foram

organizadas em 6 categorias temáticas, conforme apresentamos a seguir:

1) Concepções dos alunos sobre os professores;

2) Concepções dos alunos sobre estudo/ desempenho/ aprendizagem;

3) Concepções dos alunos sobre seus interesses na escola;

4) Concepções dos alunos sobre a importância da escola;

5) Atividades extra escola dos alunos;

6) Metas e sonhos para daqui a dez anos.

O quadro 1, apresenta concepções dos alunos sobre seus professores.

Chama a atenção nesse quadro que mesmo considerando a parte didática os alunos

escolheram alternativas que destacam a importância do relacionamento interpessoal

professor-aluno, mas, nas respostas se destaca a combinação entre a atenção ao

aluno como pessoa e aprendiz e a qualidade e esforço do trabalho de ensino do

professor.

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Quadro 1- concepções dos alunos sobre os professores

RESPOSTAS % total meninas meninos

Bom professor apresenta os conteúdos da sua disciplina de diferentes formas (explicações orais, filmes, livros, jornal, documentos, informática, passeios).

46%

27% 19%

O professor legal é o que demonstra interesse pelos assuntos particulares dos alunos e utiliza tempo de suas aulas para conversar sobre diferentes temas fora dos conteúdos.

50%

31% 19%

O professor que utiliza tempo de suas aulas para conversar sobre diferentes temas fora dos conteúdos e sobre assuntos particulares dos alunos é professor que mata aula.

27% 27% 0%

O professor que exige disciplina em suas aulas é considerado um “chato”, porque impede os alunos de perguntarem, criticarem, ou de se manifestarem de forma criativa.

58/% 46% 12%

Professor que se relaciona bem com os alunos faz tudo o que pode profissional e pessoalmente.

73% 62% 11%

Quando deixam de fazer as tarefas escolares em sala de aula ou em casa, esperam que o professor converse e de a oportunidade para que o aluno se justifique, a fim de resolver entre os dois.

54% 38% 16%

O quadro 2, apresenta as respostas relacionadas às concepções que os

alunos têm sobre o que é aprender e de seu papel como estudantes. Interessante

notar que as maiorias dos alunos, principalmente as meninas, atribuem o fracasso

nos estudos – representado por notas baixas - a si mesmos, ao pouco esforço do

aluno.

No entanto, a maioria das respostas deixa entrever que os alunos estudam

apenas para as provas ou se têm algumas dificuldades; alguns até consideram que

realizar as tarefas de sala de aula já é suficiente. Um pouco mais da metade dos

alunos se disse interessada pelos estudos e pelo que a escola apresenta, mesmo

assim, isto não os leva a estudar se não for por obrigação. A concepção de

aprendizagem, como pode ser visto nas respostas, está relacionada principalmente

ao desempenho nas disciplinas.

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Quadro 2 – concepções dos alunos sobre estudo/ desempenho/ aprendizagem

RESPOSTA % total meninas meninos

Ser um bom aluno significa fazer as atividades durante as aulas e realizar todas as atividades solicitadas pelo professor.

23% 19% 4%

Quando um aluno tira notas baixas cabe ao aluno a responsabilidade por não ter se esforçado.

85% 62% 23%

Alunos interessados pelos estudos e por tudo que a escola lhes apresenta.

54% 35% 19%

Alunos responsáveis por tarefas, materiais e estudos apenas por obrigação

38% 34% 4%

Alunos que não estudam em casa por acharem que as explicações dos professores em sala de aula são suficientes.

35% 23% 12%

Alunos que estudam em casa somente para a prova da disciplina que têm mais dificuldade.

38% 27% 11%

Alunos que estudam em casa somente quando terá prova no dia seguinte.

46% 35 11%

Aprendizagem significa ter a capacidade de responder corretamente as questões das provas.

46% 42% 4%

Aprendizagem significa entender os conteúdos passados pelos professores.

58% 42% 16%

Aprendizagem é usar um conteúdo em outras situações e outras disciplinas

38% 30% 8%

O quadro 3, nos mostra que é a relação com os colegas o que os alunos

destacam como seu principal interesse na escola. Ir à escola pode ser obrigação que

família e sociedade impõem aos adolescentes; gostar de estudar ou bom ensino não

são os principais motivos que os levam a frequentá-la: se pudessem, a maioria ficava

com seus amigos.

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Quadro 3 – concepções dos alunos sobre seus interesses na escola

RESPOSTA % total meninas meninos

Frequentam a escola somente porque os pais exigem 42% 34% 8%

Consideram interessantes as aulas de alguns professores 50% 42% 8%

Gostam do colégio porque os professores ensinam bem 19% 4% 15%

A convivência com os amigos é o fato mais prazeroso durante o período de estudos no colégio

65% 50% 15%

Se pudessem escolher, prefeririam passar o período de aula com os amigos

73% 58% 15%

Frequentam a escola porque gostam de ficar com os amigos

50% 38% 12%

Frequentam a escola porque gostam de estudar 31% 31% 0%

Frequentam a escola porque todo adolescente, segundo a lei, deve estar na escola

42% 27% 15%

Alunos que alegam faltar às aulas somente por problemas de doença

69% 54% 15%

Alunos que dizem conversar durante as aulas muito “chatas”

69% 54% 15%

O quadro 4, entretanto, mostra que os alunos atribuem importância ao estudo

e à escola quando pensam em estudos ou emprego futuros. Consideram estudar na

escola como necessário, importante e embora seja um espaço de aprendizagem,

muitas vezes é “chata” ou seus conteúdos são desinteressantes.

O quadro 2 havia evidenciado que os adolescentes pesquisados não

costumam estudar em casa, a não ser quando apresentam dificuldades ou têm

provas. O quadro 5 complementa essa informação e mostra que em casa a atividade

preferida da grande maioria é assistir televisão; apenas as meninas assinalaram

interesse por leitura de livros e menos da metade costuma passar algum tempo no

computador.

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Quadro 4 – concepções dos alunos sobre a importância de/ da escola

RESPOSTA % meninas meninos

Estudar é importante para se conseguir um bom emprego no futuro

88% 65% 23%

Estudar é interessante 12% 8% 4%

Estudar é importante para conhecer assuntos que só na escola é possível aprender

12% 8% 4%

A escola é necessária porque da acesso a um diploma 73% 50% 23%

A escola é importante para a vida dos alunos mas é “chata”

50% 42% 8%

A escola é um espaço de aprendizagem e estudo 50% 31% 19%

A escola é um espaço de divertimento e passatempo 35% 31% 4%

A escola é um lugar onde se aprende conteúdos e assuntos pelos quais não têm nenhum interesse

35% 31% 4%

Quadro 5 - atividades extra escola dos alunos

RESPOSTA % total meninas

meninos

Ficam muito tempo nas redes de relacionamento com amigos

46% 35% 11%

Ficam pouco tempo no computador em diferentes situações (jogos, bate-papos, etc)

31% 19% 12%

Preferem assistir filmes na televisão 85% 58% 27%

Assistem novelas 62% 62% 0%

Adoram ler ficção, comédia e aventura para entrar em um mundo de fantasias e aprender coisas novas

42% 42% 0%

Encontram os amigos fora da escola nos finais de semana 58% 35% 23%

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Quadro 6 – metas e sonhos para daqui a dez anos

RESPOSTA N° total

Ter um bom emprego e uma profissão 11

Ter um bom emprego para adquirir uma casa 8

Ter um bom emprego para adquirir um carro 5

Ter um bom emprego para poder oferecer conforto para a família

7

Alcançar felicidade espiritual e material 7

Constituir uma boa família 7

Ter um diploma 4

Estar cursando a faculdade 10

Ter saúde 2

Conquistar a independência dos pais 2

Conviver com amigos verdadeiros 2

Ser rico 2

O quadro 6 apresenta respostas da única questão aberta que se referia a

expectativas para o futuro: metas e sonhos desses adolescentes. Esta questão

apresentou muita dispersão de possibilidades. Como pode ser visto, as metas dos

alunos se concentram em continuar os estudos e ter uma profissão ou emprego que

lhes forneça conforto e possibilidade de obter alguns bens como casa ou carro.

Expectativas relacionadas a amigos e constituir família também foram frequentes.

As atividades e dinâmicas de grupo, embora não tivessem sempre a

participação de todos os alunos corroboraram as respostas do questionário e nos

forneceram informações semelhantes às encontradas na literatura sobre a

adolescência.

Os adolescentes que participaram das atividades de grupo consideraram seu

atual momento de vida como ótimo, só com escola e estudos, diversão e

brincadeiras, curtindo os amigos. Surgiram também preocupações e desejos de ir

atrás dos sonhos e de ser feliz, ganhar dinheiro, ajudar a família, pegar o rumo certo

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e fazer as escolhas certas. Para alguns o momento é também difícil, com muita

exigência, urgência em trabalhar.

Manifestaram sentir, por um lado, perdas relacionadas à infância: as

brincadeiras, o pensamento e o comportamento de criança; o tratamento dos pais

dispensado à criança; a dependência dos pais; a idéia de que o mundo era mais fácil

e bom; a crença e a ilusão de que todas as pessoas têm um lado bom; o amor; a

inocência; a segurança, a atenção e o colo dos pais; a felicidade que só a criança

tem; a capacidade de viver sem preocupação; a vontade de fazer algo só por

diversão.

Mas, por outro lado, manifestaram ganhos relacionados ao seu status de

adolescentes: mais experiência e maturidade; mais liberdade e independência; maior

confiança nos pais e nos amigos; mais respeito, coragem, falta de medo, maior

capacidade de valorizar as coisas e responsabilidade em relação a tarefas; direito a

ter opinião e maior acesso à Internet e tecnologias.

Para esses alunos de oitava série, ser adolescentes significa querer balada,

festas e sair com amigos; alegria; aprender a viver e dar risadas; ter paixões; ter

muitos sonhos e ilusões e aprendizagens; é o despertar de certas vontades como

“ficar” com alguém, de não gostar de que as pessoas interfiram no que se pensa e

estar dispostos a ouvir e falar o que se pensa; é viver uma fase determinante para o

futuro: o portal para a vida adulta.

Não faltaram percepções de sentimentos de decepção, desconforto com o

corpo, medo de ver a vida, sarcasmo, ódio e raiva bem como desconfiança dos pais e

frustração por deixar de ganhar presentes como quando eram crianças.

Ser adolescente para eles é também ser irresponsável; é entrar em conflito

com amigos e familiares por qualquer coisa; ter problemas emocionais, tristezas,

lamentações, raiva e dificuldade de convivência. Sentir mudanças e preocupações

físicas emocionais e psicológicas, transformações, dúvidas e muita confusão,

conflitos, complicações, variações de sentimentos, de emoções, de pensamentos.

Houve aqueles alunos que manifestaram sentir pressão ao ter contato com as

situações difíceis da vida, ao fazer escolhas; ter muitas proibições e sofrer muita

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cobrança e expectativa dos outros e dos pais além de ter responsabilidades e

preocupações com o futuro.

Alguns manifestaram sentir que seus pais não confiam neles e que eles têm

medo das drogas e das relações sexuais e, para alguns, o período é de

relacionamento complicado com os pais e com outras coisas; de pensamentos e

sentimentos incompreendidos pelos pais o que faz com que as relações com os

amigos sejam mais fáceis do que com os pais.

Entre as expectativas que têm para o seu futuro estão fazer cursos, terminar a

escola, estudar, trabalhar, conquistar e cultivar amigos, aprender a dar valor ao que é

verdadeiro; namorar e viajar e para realizar essas expectativas acreditam que a

escola fornece educação correta para a realização dos sonhos e educação essencial

para ser alguém amanhã e para conquistar um bom futuro; a escola também ensina a

ter respeito para com os demais, ajuda a nos tornar pessoas melhores e é muito

importante por passar vários princípios.

As respostas do questionário, bem como as falas dos alunos nas atividades e

dinâmicas de grupo, embora estas últimas não tivessem sempre a participação de

todos, corroboraram com informações semelhantes àquelas encontradas na literatura

sobre a adolescência, no que diz respeito às suas características, traços e

preferências, portanto parece que estamos frente à confirmação de aspectos, muitas

vezes já pensados e, em outras, só indagados.

A continuidade do trabalho se deu pela participação dos professores da turma

que desenvolveram atividades propostas com o intuito de fazer uma parada para

reflexão no seu cotidiano, a fim de explorar algumas leituras e refletir sobre a

temática em questão.

4 Alunos, professores, escola e motivação: trabalho com os professores

Participaram desta fase os professores dos alunos da 8ª série do Colégio

Estadual que foram os sujeitos do trabalho acima relatado. As atividades com os

professores foram realizadas por meio de leituras, discussões e reflexões sobre as

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concepções apresentadas no Caderno Pedagógico4 acerca do tema da motivação

escolar e sobre os resultados do questionário e trabalho com os alunos. O que se

pretendeu foi verificar as concepções desses professores após terem participado das

diferentes atividades propostas.

O trabalho iniciou com um levantamento das concepções dos professores

sobre os traços e características da fase da adolescência atual em paralelo com o

seu próprio período de adolescência, e as relações que se podem estabelecer entre

as transformações sociais e os avanços tecnológicos das últimas décadas na

formação e a constituição de um possível novo perfil de adolescente.

Num segundo momento, tendo como referência o texto teórico sobre

motivação escolar, buscou-se refletir com os professores sobre a motivação a partir

do ponto de vista das definições de motivação intrínseca e extrínseca conforme a

literatura consultada. A partir da reflexão sobre como o aluno pode se relacionar com

os saberes a que está sujeito dentro da cultura na qual está inserido, bem como

aqueles veiculados pela escola, os professores buscaram, com base em sua

experiência didática, levantar explicações sobre o porquê de um grande número de

alunos não se relacionar de forma proveitosa com o processo ensino-aprendizagem

e, ainda mais, sobre qual seria o papel da escola nos dias atuais. Procurou-se

também saber dos professores como, em sua concepção, os conteúdos trabalhados,

as metodologias e os recursos utilizados em suas aulas visavam atender às

demandas dos alunos.

Apresentamos a seguir um resumo das idéias manifestadas pelos professores.

4.1 Resultados do trabalho com os professores

Esses professores concebem os adolescentes de hoje como inseridos numa

realidade de supérfluos e com fácil acesso às novas tecnologias, o que, em sua

4 Caderno Pedagógico elaborado para o projeto “Motivação Escolar”- a falta de motivação e de interesse dos

alunos pelos estudos- significados da aprendizagem na perspectiva do aluno.- conforme mencionado acima na

nota de rodapé n° 3.

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opinião, gera jovens mentalmente “preguiçosos”. Isto se manifesta, por exemplo, na

prática do ato de “copiar e colar” informações da Internet, que, segundo os

professores, evita que pensem e formulem suas próprias respostas: “os adolescentes

estão se tornando arredios à pesquisa em livros”.

Segundo esses professores, há falta de valores éticos e morais, uma

valorização do “ter” e da aparência atrelados a um novo modelo de família e de

desestruturação dela em vários casos. Acreditam que isso está privando os alunos da

convivência familiar, da orientação e do acompanhamento da família, necessários à

sua formação. Segundo os professores, a ausência da mãe na vida dos filhos e a não

valorização da escola, como ocorria em décadas passadas, tirou o incentivo

necessário para os estudos, pois o comprometimento do aluno com a escola e o seu

fazer cotidiano passava pelos pais. Em tempos pretéritos, a escola e os estudos eram

valorizados e professores tinham reconhecimento e respeito como detentores do

saber. A tudo isso se soma a falta de perspectiva de futuro que os jovens

apresentam.

Mais ainda, os professores afirmam constatar em sua realidade escolar que o

mais importante para o jovem é a sua satisfação pessoal momentânea e uma

ausência de respeito pelo outro. A mídia, que enaltece e contribui para o “sucesso

dos jogadores de futebol e das modelos”, faz com que essas profissões entrem no

imaginário dos jovens e de seu sonho de futuro de forma fascinante, ficando com a

idéia de que estudar não é fundamental para o alcance de seus sonhos.

Vale registrar, ainda, outro importante aspecto sobre o entendimento de alguns

professores que vêem o adolescente sem a necessária compreensão do valor que a

escola tem para o seu aprimoramento individual e para a conquista de um futuro

promissor. Para esses profissionais, os alunos estariam distantes da realidade,

protegidos por uma “redoma de vidro”, sem conseguirem conectar-se, portanto, com

as exigências da sociedade, o que geraria, de certa forma, uma existência desligada

do real sentido do que é existir.

Outro aspecto que é percebido, ainda, é que nas concepções dos professores,

até as amizades que os jovens constroem são muito superficiais, sem qualidade

afetiva e que as redes de relacionamento via Internet contribuem para tal fato. Eles

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consideram que os jovens deveriam estabelecer laços de amizade mais consistentes

e duradouros.

Alguns professores externaram, também, sua crença de que “ser professor”

nos tempos de hoje é uma tarefa difícil e desafiadora pela gama de possibilidades

tecnológicas que poderiam ser utilizadas como recurso metodológico e que nem

sempre estão disponíveis ao professor, quer pela falta de capacitação e domínio

dessas ferramentas, quer pelas falhas do sistema educacional ao disponibilizar os

instrumentos ou, ainda, por problemas das classes de alunos muito heterogêneas.

Para alguns professores, a motivação para os estudos deveria estar atrelada à

relação professor/ aluno, isto é, os professores acreditam que eles seriam os

responsáveis por “motivar” os alunos através de metodologias diferenciadas.

Interessante notar que, mesmo após o contato e a reflexão com base na literatura

sobre adolescência e motivação, na fala dos professores permanecem conceitos de

que a motivação é assunto apenas do professor e exterior ao sujeito. Nesse sentido

entendem que há concorrência “desleal” das tecnologias que veiculam informações

muitas vezes decadentes em relação aos valores e costumes que prejudicam a

consecução dos objetivos previstos em seus planos de aula e diminuem o papel do

professor. Além disso, existe, em boa parte dos professores, a convicção de que

aulas bem preparadas, com trabalhos e atividades de avaliação (nota x motivação),

servem como um ensaio para a vida futura dos alunos, na qual terão que conviver

com pressões e competições postas no mundo do trabalho e no enfrentamento de

concursos e vestibulares, e que isso é um fator motivador.

Alguns dos profissionais que participaram dos trabalhos entendem que a

motivação em sala de aula tem dois lados: primeiro, a motivação do aluno que

depende, sendo isto o mais importante, da motivação do professor. Melhorar a

motivação dos alunos, na concepção desses professores passa assim, pela

necessária motivação do professor. A motivação do professor, como eles

manifestaram, está atrelada a uma oferta de melhores salários, maior número de

horas- atividade e de cursos de aperfeiçoamento, principalmente na área tecnológica,

a fim de que as aulas deixem de ser feitas apenas pela explanação oral e sejam

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enriquecidas com o uso de imagens, jogos, sons e simulações de forma diversificada.

Em suma, para eles o professor desmotivado não motiva alunos.

Os docentes se referiram também a outros fatores motivacionais relacionados

à maneira como o professor aborda o conteúdo: a entonação da voz e a adequação

da linguagem aliada ao conhecimento dos conceitos técnicos de sua disciplina;

também consideraram que faz a diferença no processo ensino-aprendizagem a

oportunidade que o professor dá aos alunos de participarem da aula. De acordo com

sua visão, turmas indisciplinadas fazem com que o professor, muitas vezes até

inconscientemente, não trabalhe de forma diferenciada os conteúdos de sua

disciplina; isso leva a práticas cansativas, com aulas expositivas, exercícios e provas

escritas, o que provoca a falta de motivação de ambos os lados, alunos e

professores.

No entender de alguns docentes, existe uma minoria de alunos que demonstra

interesse pelos estudos e vê desafio na aprendizagem; esses alunos já trazem essa

condição de casa, fruto do estímulo que recebem dos pais ou familiares, ou mesmo

dos anos escolares anteriores. Para esse tipo de alunos, a nota alta no final do

bimestre não parece uma recompensa e sim o resultado do trabalho desempenhado

por eles.

Porém, segundo os professores, a grande maioria dos alunos faz o mínimo

possível e o que faz é “somente se valer nota”. Esse tipo de alunos não vê no saber

científico algum valor e não percebe o prazer de novos conhecimentos, o que, de

certa forma, é atribuído pelos professores à família, que não lhes incute a importância

dos estudos para o crescimento intelectual e profissional futuro. Isso dificulta aos

professores programarem suas atividades de maneira a despertar o interesse desses

alunos e de mostrar a utilidade dos conteúdos na sua vida.

Em conclusão, a partir do que foi constatado no desenrolar das atividades

propostas com os professores e comparando-se isso com os fundamentos teóricos

debatidos, verifica-se certa dificuldade por parte de alguns dos professores de trazer

aspectos teóricos discutidos no desenrolar dos trabalhos para analisar sobre um novo

enfoque a realidade que se coloca no contexto comportamental escolar dos alunos.

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Fica evidente que prevalece o que está colocado no senso comum e na

observação superficial do dia a dia da sala de aula, pois são idéias muito arraigadas

no pensar dos professores. Isso se fortalece se considerarmos que alguns

professores manifestaram estar tomando contato, pela primeira vez, com os

conceitos de motivação intrínseca e extrínseca dentro do âmbito educacional. Como

as idéias de senso comum parecem estar muito arraigadas no pensamento dos

professores, nos pareceu que esse primeiro contato com as pesquisas sobre

motivação não seria suficiente para modificá-las.

5 Conclusão

Em relação aos alunos que participaram do processo, não nos surpreendeu o

fato de estarem aparentemente passando pelas mudanças e condições descritas na

literatura. O que chamou nossa atenção é que dependem menos dos apelos das

mídias do que supúnhamos de início. Em relação à escola parecem ter uma idéia

bastante coerente: é necessária para o que almejam no futuro e, em função disso e

da falta de opção, fazem, em geral, o que consideram que é suficiente para cumprir

suas obrigações. De resto, a escola é principalmente seus amigos. Se as amizades

são superficiais como apontaram os seus professores, nem as entrevistas nem o

trabalho de grupo deixaram isso evidente.

O universo escolar construído na sua essência mais humana, pelas relações

que seus sujeitos estabelecem entre si, requer ser pensado e visto no âmbito da

compreensão de “quem é quem” na práxis educativa. Não basta a superficialidade

que se faz em meros encontros diários; é preciso saber do outro, muito mais e, além

disso, é preciso que aquele que se fez professor se mova em direção ao

conhecimento do seu aluno. É verossímil dizer, “só sei daquele ou daquilo que

conheço”.

Nos surpreenderam as concepções dos professores: elas apontam para um

aluno ideal, para uma relação família e escola que se alguma vez existiram, não há

como resgatar do passado.

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O que se desvela é o distanciamento existente entre o que o professor pensa

sobre o “aluno” e o que os adolescentes revelam de si: seres que sonham, que têm

seus conflitos, suas perdas, seus ganhos, seus medos e que se lançam na vida em

busca do porvir, movidos em parte por impulsos e pela busca de satisfação de seus

desejos, mas também, por um certo pé no chão voltado para a realidade. Seus laços

com a escola são construídos dentro de parâmetros da suas necessidades para

realizações futuras, e, a instituição familiar tem a sua representatividade e

importância para muitos.

Os resultados da pesquisa e das atividades realizadas com os professores e

alunos mostraram um desencontro entre o que os professores desejam de seus

alunos - e como os percebem através desse desejo - e o que os alunos acham de si

mesmos e são na realidade. Mais ainda, apesar de vários professores terem

manifestado o desconhecimento teórico sobre os assuntos levados para reflexão, e

terem participado das atividades, não houve aparentemente, questionamento de suas

crenças. Estas constatações nos fazem pensar na necessidade de reiteradamente

abordar esses temas e relações na formação inicial e continuada doas professores.

Vale lembrar que mesmo os professores tendo o seu olhar aparentemente

turvado pelas suas concepções acerca do aluno e pelas idéias salpicadas pelo senso

comum, o único caminho que se desenha à nossa frente, no nosso entendimento, é

aquele que sedimenta e dá aos professores suporte teórico de conhecimento para

abrir outras possibilidades na sua prática, no estudo e na pesquisa sobre os

adolescentes atuais na escola e no contexto mais amplo de suas vidas.

Não negamos as dificuldades das condições de trabalho dos professores

como um dos fatores que lhes tira a motivação e nem negamos que isso se reflita na

motivação de seus alunos e mais provavelmente na relação professor - alunos.

Apenas sugerimos que olhar para os alunos como eles são, faz parte desse processo

de trabalho que os próprios professores acreditam que devem realizar para motivá-

los. Outros estudos tanto com professores quanto com alunos poderiam elucidar

estes assuntos com maior profundidade.

Referências

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