MOVIMENTOS EXPERIENCIADOS NOS ESPAÇOSTEMPOS … MOVIMENTOS EXPERIENCIADOS... · A Escola fica...
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MOVIMENTOS EXPERIENCIADOS NOS ESPAÇOSTEMPOS CURRICULARES
DE PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADES DA/NA/COM A JUVENTUDE
Ricardo Figueiredo - FAESA
Priscila dos Santos Moreira - IFES
Resumo: O artigo propõe discutir os movimentos experienciados nos espaçostempos
curriculares de produção de subjetividades a partir do envolvimento dos/as jovens
estudantes no processo de sistematização do Projeto Político-pedagógico de uma escola
pública, de Ensino Fundamental e Médio, pertencente à rede estadual de ensino, do
Espírito Santo. A referida escola funciona nos turnos matutino, vespertino e noturno e, é
considerada, em número de matrículas, a maior Unidade de Ensino de Educação Básica.
Utilizamos como referência para a sistematização do artigo, a contribuição dos seguintes
intercessores teóricos: Deleuze e Guattari (1997), Guattari e Rolnik (2011), Machado
(2009), Spinoza (2013), Carvalho (2009; 2012), Corazza (2001) e Ferraço e Carvalho
(2012), Pais (2006), nas discussões sobre os movimentos experienciados nos
espaçostempos curriculares entrelaçados com a produção de subjetividades. Os dados
foram produzidos no acompanhamento das redes de conversações que nos possibilitaram
capturar diversas perspectivas, ideias, sentimentos, valores, singularidades, multiplicidades
e representações dos diferentes sujeitos. Conversamos com jovens estudantes de gêneros e
faixas etárias distintos que freqüentaram a escola em diversas séries, turnos e tempos,
considerando a pluralidade de experiências viabilizadas nos diferentes turnos da instituição
escolar, onde confluem encontros e desencontros de culturas subjetivadas por diferentes
sujeitos que vivenciam seu cotidiano. Concluímos que a partir das contribuições das
narrativas dos/as jovens estudantes, o território-escola é produzido histórica e socialmente,
onde no seu interior convive uma multiplicidade de sujeitos com interesses e finalidades
distintas, inclusive daquelas que são definidas socialmente. Ainda, considerando as
possibilidades expressas advindas das diferentes proposições dos sujeitos envolvidos no
processo, é possível ressaltar que, no movimento percorrido, há lacunas, silêncios e desejos
(in)visibilizados que não nos permitiram equacionar em formulações prescritivas e
dogmáticas, que nos aprisionam a modelos sedimentados, contemplando convicções e
concepções lineares, possíveis de serem aplicadas em qualquer contexto escolar.
Palavras-chave: Currículo. Juventude. Produção de subjetividades.
O referido artigo propõe discutir os movimentos experienciados por jovens
estudantes de uma escola pública de Ensino Fundamental e Médio na sistematização do
Projeto Político-pedagógico (PPP) da instituição, constituindo-se em espaçostempos
curriculares que produzem modos subjetivos de cohabitarem o território-escola.
Como perspectiva de aproximação, discussão e análise da problematização
apontada, iniciaremos a abordagem por meio de uma breve configuração do território
escola - campo de investigação - que subsidiou a sistematização do artigo, o que, de certo
modo, singulariza e a distingue de tantas outras instituições de ensino, conferindo à mesma
sua singularidade como instituição escolar.
Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola
EdUECE- Livro 102824
A Escola fica localizada no município de Serra/ES e foi fundada em 31 de março de
1977 e, desde a sua inauguração, é mantida pelo Poder Público Estadual, vinculada à
Secretaria de Estado da Educação (SEDU/ES) e, consequentemente, à rede estadual de
ensino. Atende inúmeros bairros de Serra e de outros municípios da Região Metropolitana
da Grande Vitória/ES e, é considerada, em número de matrículas, a maior unidade de
ensino de Educação Básica, de nível médio, da rede estadual. Atualmente, a escola atende
o/a (s): Ensino Médio Regular nos turnos matutino, vespertino e noturno; Cursos
Profissionalizantes: Técnico de Nível Médio - Administração, Habilitação em Transações
Imobiliárias e Marketing-; Educação de Jovens e Adultos - 1º Segmento (1ª a 4ª Série do
Ensino Fundamental) e Ensino Médio (1ª a 3ª Etapa).
Ainda, para prover o seu funcionamento, a escola possui, atualmente, 162
servidores que atuam nos diferentes setores da instituição. Com isso, destacamos que gerir
uma organização escolar pressupõe concebê-la como uma organização complexa e
multidimensional, pois essas configuram seu próprio trabalho, assim como, um espaço
plural, onde confluem encontros e desencontros de culturas subjetivadas por diferentes
sujeitos, circunscritos em modos diferenciados de vida, consubstanciados em necessidades,
desejos, frustrações, encantos e desencantos, enfim, em “fragmentos de vida” que pulsam
em cada um dos indivíduos singularmente e na coletividade, na medida em que a mesma se
constitui pelas singularidades dos diferentes sujeitos que, num ato relacional, compõem o
cotidiano escolar.
A construção do Projeto Político-pedagógico da instituição faz parte das ações do
Programa “Ensino Médio Inovador” no qual a referida escola foi inserida no ano de 2013.
O Programa sugere que as unidades de ensino reformulem sua proposta pedagógica, afim
de conceberem uma nova organização curricular capaz de instituir uma escola ativa e
criadora construída a partir de princípios educativos que possibilitem a formação humana
coletiva e o entrelaçamento entre trabalho, ciência e cultura (BRASIL, 2013).
Partimos do pressuposto de que tal problemática se coloca como um desafio, uma
vez que a sistematização do Projeto Político-pedagógico exige de imediato definir e
analisar os caminhos e percursos instituídos e instituintes para sua própria construção e
elaboração, associados e articulados às formas que estabelecemos e definimos,
coletivamente, e às finalidades educativas, no que diz respeito à função da escola pública
brasileira.
Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola
EdUECE- Livro 102825
Em relação ao planejamento da sistematização do Projeto Político-pedagógico da
Escola, foi constituída uma Comissão de Trabalho composta com representantes dos
diversos segmentos, inclusive com a participação de pais e alunos/as. A referida Comissão
estabeleceu como atribuição principal coordenar as diversas etapas de sistematização do
Projeto, a partir da elaboração de uma Proposta de Formação Continuada denominada
“Ciclo de Diálogos sobre o Projeto Político-pedagógico na Educação Básica e Técnica de
Nível Médio”.
Em relação à dimensão teoricometodológica para sistematização do Projeto
Político-pedagógico, a mesma apoiou-se na perspectiva de que:
[...] falar sobre o cotidiano escolar [...] implica acompanhar movimentos que
transformam a cultura da escola, fortalecendo a criação coletiva e
individual, ou seja, para o questionamento dos “possíveis” do coletivo escolar
constituir-se nas dimensões pessoal, profissional e coletiva de forma
processual e relacional.
Desse modo, [...] (o) espaço-tempo do cotidiano escolar, potencializa a
inteligência coletiva, o trabalho material e imaterial, a aprendizagem de alunos e
a formação contínua de professores, pois incide sobre os “múltiplos contextos
cotidianos” [...] em que vivenciamos as práticas discursivas em sua tensão
permanente entre saberes, poderes e os “cuidados de si” e dos outros (grifos
nosso) (CARVALHO, 2009, p.199-200).
Desse modo, a Comissão de Trabalho na/da Escola, desenvolveu diversas ações e
atividades, utilizando como estratégia a pesquisa em fontes documentais da Escola, a
aplicação de questionários para diferentes sujeitos, os movimentos de conversas,
envolvendo a participação de alunos/as e pais/responsáveis, a organização de dados
produzidos no decorrer do processo e a coordenação dos Seminários de Formação de
professores/as, alunos/as, pais, mães e/ou responsáveis e demais servidores. Cada um dos
Seminários realizados iniciava-se com a apresentação e aprofundamento de um tema por
um palestrante convidado e culminava com a discussão e apresentação das questões
disparadoras dos debates em grupo.
As questões foram discutidas e problematizadas em diferentes grupos de trabalho e
os Seminários foram registrados, utilizando-se recursos da fotografia, filmagem, gravação
e transcrição do conteúdo.
Movimentos experienciados nos espaçostempos curriculares
As contribuições indicadas pelos diversos segmentos da escola, provenientes dos
debates e das discussões dos diferentes grupos, nos Seminários de Formação, foram
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sintetizadas por cada grupo e, apresentadas em plenário, ao final de cada temática
discutida.
Essa estratégia de viabilização dos Seminários oportunizou a garantia de que
todos/as, ao mesmo tempo, discutissem as questões nos grupos, apresentassem e
debatessem nas plenárias, e também pudessem conhecer, não só as proposições e sugestões
indicadas por cada grupo, as similaridades, as contradições e os equívocos, indicados por
cada um dos segmentos, como também aquilo que, necessariamente, precisava ser
assumido pelo coletivo da instituição e/ou como demanda propositiva de viabilização e
continuidade de um processo de formação continuada, envolvendo os diversos segmentos
da escola. Com isso queremos destacar que
[...] não podemos ter projetos nem para nem pelos outros, mas com os outros.
Essa é uma dimensão fundamental de ser assegurada, sobretudo na educação. Por
mais bem-intencionados que os burocratas dos sistemas e mesmos os educadores
que estão nas escolas possam ser, não há como propor projetos à revelia dos
sujeitos que estarão, direta ou indiretamente, envolvidos nesses projetos. Assim,
como não podemos viver pelo outro, também não podemos projetar por ele.
Decorre dessa dimensão dos projetos a necessidade de ouvir o outro em suas
necessidades, interesses, desejos e expectativas de vida (FERRAÇO;
CARVALHO, 2012, p. 151- 152).
Cabe aqui considerar que, mesmo, que a escola tenha utilizado diferentes
estratégias e ações que envolveram diversos segmentos na busca de elementos e
referências significativos que fundamentaram a sistematização do Projeto Político-
pedagógico da Escola, não percebemos, no percurso realizado, a supremacia da
participação, da proposição e sugestão e/ou contribuição de um segmento em relação ao
outro, cuja manifestação evidenciaria relações de poder que caracterizam processos de
exclusão, hierarquização e controle social de um segmento sobre os demais, consistindo
em marginalização de natureza econômica, cultural, educacional e política, inclusive no
aparato institucional escolar.
O que preponderou, nesse sentido, foi a capacidade de reflexão, diálogo e escuta; o
engajamento e o compromisso individual e coletivo com os processos vividospraticados na
instituição escolar; o empenho e a dedicação na viabilização das ações e proposições
estabelecidas pelo coletivo da instituição e assumidos pelos sujeitos individuais e coletivos
que compõem o cotidiano escolar; a capacidade de reconhecer-se como gênero humano,
capazes de errar, acertar, não conhecer, afetar e ser afetado, imersos em redes de
subjetividades e tantas outras questões, mas ativo e reativo, procurando exercer a nossa
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capacidade de produção, criação e invenção como potência que caracteriza a nossa
condição de humano, possuidores de “poder” que afeta nós mesmos e os/as outros/as.
Para a produção dos dados referenciados no artigo, acompanhamos as redes de
conversações que
[...] buscam os possíveis da sua constituição fundado na dimensão da
conversação para a recriação de saberes, fazeres e afetos da/na escola [...] como
uma tática da discursividade local, acompanhando os fluxos das conversações
tecidas em redes de subjetividades compartilhadas (Carvalho, 2009, p. 188-189),
e ainda, combina e articula “[...] duas dimensões: a poética da participação e a
sociabilidade, articulando vozes, assuntos, de modo que tornem possível a multiplicidade
partilhada” (CARVALHO, 2009, p. 189). Ou seja, a noção de redes de conversações
interage com o entendimento de que a conversação não acontece sem ser criada e
sustentada pela participação ativa.
Nesse direcionamento, as conversações são referenciadas entre ações complexas
(noção de rede) porque é tecida em um complexo enredamento de acontecimentos, de
acasos, ações emaranhadas, interações e retroações, traçando-se, assim, redes de
subjetividades compartilhadas e tornando a potência dessas conversações muito mais
relacionada ao enredamento produzido – envolvendo formas e forças de agenciamento –
do que à vontade dos interlocutores (CARVALHO, 2009). Assim, as conversas que
envolveram alunos/as de diferentes séries e faixas etárias, que freqüentavam a escola em
turnos e tempos diversos foram gravadas e transcritas, contemplando as “falas” e
proposições dos/as alunos/as e dos pais.
Diante de tal consideração, reconhecemos que a iniciativa de sistematização do
Projeto Político-pedagógico da escola, contemplando a captura dos movimentos
experienciados nos espaçostempos curriculares de produção de subjetividades,
especificamente, das/nas/com a juventude pressupõe estabelecer estratégias de
acompanhamento dos “movimentos” que efetivamente expressem “identidades juvenis” e a
partir delas, consequentemente, apontar os princípios e referências das teoriaspráticas
políticas e pedagógicas viabilizadas na escola.
Em relação aos modos de subjetivação produzidos nos espaçostempos curriculares,
Corazza nos adverte que:
Conceber o currículo como modo de subjetivação implica analisar seus
conhecimentos, linguagens, formas de raciocínio, ciências, tipos de experiência,
técnicas normativas, enquanto vinculados às relações de saber e de poder que
atravessam os corpos para gravar-se nas consciências. Investigar o currículo
como prática subjetivadora exige isolar e reconceptualizar uma dimensão
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específica, derivada desses poderes e saberes, mas que não depende deles nem a
eles se reduz: a dimensão da subjetividade (CORAZZA, 2001, p. 57-58).
Ainda, considerando os “movimentos curriculares” que constituem
praticaspolíticas cotidianas que cohabitam os espaçostempos escolares, Carvalho destaca
que:
[...] os Currículos envolvem além dos documentos emanados dos órgãos
planejadores e gestores da educação, os documentos das escolas, os projetos, os
planos, os livros didáticos, ou seja, tudo que atravessa as práticasteorias
escolares, compreende-se que os Currículos se constituem por tudo aquilo que é
vivido, sentido, praticado no âmbito escolar e para além dele, colocado na forma
de documentos escritos, conversações, sentimentos e ações concretas
vividas/realizadas pelos praticantes do cotidiano. Cabe destacar que o Currículo
formal, o operacional e o efetivamente praticado são dimensões ou diferentes
faces do mesmo fenômeno – os Currículos em sua relação com a realidade
sociopolítica, econômica e cultural mais ampla (2012, p. 190).
A partir da perspectiva apontada anteriormente, em relação à produção de
subjetividade, Guattari e Rolnik (2011) destacam que a mesma não é centralizada no
indivíduo e não pode ser totalizada, pois a subjetividade não é uma posse, mas uma
produção que acontece com os encontros que vivemos com o outro (e esse outro pode ser
um outro social, a natureza, os acontecimentos, as invenções, entre outros múltiplos
componentes, que produzem efeitos nos corpos). Assim, a produção de subjetividade é
provisória e aberta, pois, ao mesmo tempo em que o sujeito recebe os componentes de
subjetivação em circulação, também emite outros, experienciando trocas em dinâmicas
mutantes a partir de uma construção coletiva. Dessa maneira, “[...] não existe uma
subjetividade do tipo “recipiente” onde se colocariam coisas essencialmente exteriores,
que seriam „interiorizadas‟” (p.43).
Nesse sentido, a(s) subjetividade(s) é (são) produzida(s) e produtora(s), em um
fluxo contínuo de modos de existir no entrecruzamento das instâncias sociais,
institucionais e individuais. Dessa forma, “[...] a subjetividade é produzida por
agenciamentos de enunciação, e os processos de subjetivação não são centrados em
agentes individuais, nem em agentes grupais. Esses processos são duplamente
descentrados” (GUATTARI E ROLNIK, 2011, p.39).
“Movimentos curriculares” e produção de subjetividade da/na/com a juventude
Deleuze, a partir de Bergson – segundo Machado (2009) – destaca o movimento
enquanto corte móvel da duração/do todo. Assim, a duração é a mudança e o movimento
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remete a uma vibração, a uma mudança que ocorre ao mesmo tempo em que os elementos
se movem (sendo o todo aberto, mutável, incorrendo constantemente no surgimento do
novo). Considerando tal afirmação, há dois aspectos do movimento: o que se passa entre os
objetos/partes (movimento como translação); o que exprime a duração ou o todo
(movimento como mutação). A partir dessa teoria de Bergson, Deleuze enfatiza os três
tipos de imagens-movimento (imagem-percepção, imagem-ação, imagem-afecção).
A imagem-percepção recebe o movimento de uma face, a imagem-ação executa o
movimento na outra e a imagem-afecção ocupa o intervalo (intercala os estímulos
recebidos e os movimentos executados). Na afecção o movimento deixa de ser
“translação” e passa a ser “expressão” (MACHADO, 2009).
Cabe-nos destacar que os diferentes tipos de imagens coexistem, simultaneamente,
nos diversos espaçostempos escolares, consistindo em movimentos de naturezas distintas
que cohabitam o mesmo território. Assim, o movimento é presente. O movimento é ato de
percorrer, é o que se faz, o que está se fazendo. Uma coisa é movimento efetuado, e outra,
o movimento efetuando-se. O espaço é divisível enquanto o movimento (ato de percorrer)
é indivisível ou só se divide, tornando-se outro movimento.
Retomando Machado (2009), a imagem-afecção ocupa o intervalo (intercala os
estímulos recebidos e os movimentos executados). Na afecção, o movimento deixa de ser
“translação” e passa a ser “expressão” e, nesse direcionamento, as expressões juvenis
ocupam um “entre”, sendo possível pesquisar com os jovens a partir das prescrições
estabelecidas para esses enquanto espaço estriado revelador da ordem, do controle, com
trajetos que aparecem confinados às características do espaço que os determinam -
conforme Pais (2006) - e do contraste com o espaço liso que se abre ao caos, ao
devircurrículo, currículoafecção (um espaço de produção de novas sensibilidades e
subjetividades).
De acordo com Deleuze e Guattari (1997, p. 184) o espaço estriado
[...] entrecruza fixos e variáveis, ordena e faz sucederem-se formas distintas,
organiza as linhas melódicas horizontais e os planos harmônicos verticais. O liso
é a variação contínua, é o desenvolvimento contínuo da forma, é a fusão da
harmonia e da melodia em favor de um desprendimento de valores propriamente
rítmicos, o puro traçado de uma diagonal através da vertical e horizontal.
No entanto, esses dois espaços coexistem nos movimentos de querer escapar e
querer deter. Assim, um engendra o outro e é engendrado em danças de cooptação de
alisar-se e estriar-se, de maneira que pensar e pesquisar com a juventude sugere ações
dentro de um deslocamento e de fixações que se processam entre as cartografias juvenis
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em meio aos encontros e afetos dos corpos. De acordo com Spinoza (2013), o corpo é
definido por uma multidão de outros corpos que podem ser afetados de diferentes maneiras
por uma multiplicidade de corpos. Assim, os corpos são o que os seus afetos indicam,
produzindo, nas vivências dos jovens, “bons” e “maus” encontros.
A expressividade dos/as jovens estudantes pode ser referenciada, a partir da
contribuição deles em relação à percepção do território-escola, onde as respostas transitam
entre eles/as, da seguinte forma:
“Não é permitido a entrada de alunos com calças coloridas”; “Escola muito
desorganizada”;“Falta informação”; “Mudança excessiva do horário escolar”;
“Insegurança na escola”; “Excesso de aulas vagas”; “Necessidade de professores
substitutos”; “Pouco acesso à gestão financeira da escola”; “Na secretaria, o
atendimento é precário; “Biblioteca com pouco acervo”; “Não temos
laboratório”; “Comunicação insuficiente”.
Apesar de serem respostas objetivas e curtas, elas expressam não somente a
maneira como os/as jovens estudantes experienciam esse espaço, como também apontam:
“Frequentar a escola com qualquer tipo de calça”; “Aulas dinâmicas”;
“Disponibilizar papel higiênico nos banheiros”; “Colocar mais frutas no
refeitório”; “Mais aulas de campo”; “Disponibilizar bebedouros em todos os
andares”; “Dedetizar os espaços da escola”; “Mais tempo para a troca de aula”;
“Aumentar o tempo limite para a entrada na primeira aula”; “Estabelecer limite
de tempo para os professores entrarem na sala de aula”; “Organizar a Rádio
Escola”; “Colocar música no recreio”; “Desenvolver atividades extra-
curriculares esportivas”; “Aulas de Arte mais práticas”; “Definir calendário de
semanas de provas”; “Disponibilizar mais bancos no pátio”; “Realizar festa de
fim de ano para a comunidade escolar”; “Organizar a mobilidade nos corredores
e escadas”; “Mudar o formato do uniforme”; “Permitir a entrada de veículos de
estudantes dentro da escola”; “Confeccionar gratuitamente a Carteirinha
Estudantil”; “Realizar a recuperação trimestral com nota máxima de 60% do
total do trimestre”; “Manter aprovações por área de conhecimento”; “Preparar
para entrar em uma faculdade e ter um futuro melhor”; “ Conceber a escola como
uma segunda casa, onde obtenho conhecimento e aprendo a viver”;“ Promover
uma educação melhor; um ambiente de estudo onde seja prazeroso estar nas
aulas e os professores ensinem por gostar de ensinar e não apenas passem a
matéria e finjam que ensinaram”; “Ensinar os conteúdos, não julgando todos por
causa de um grupo desinteressado”; “Promover maior participação na gestão
financeira da escola”; “Organização da equipe pedagógica em relação à
divulgação dos resultados da recuperação”; „Repensar o tempo da recuperação
trimestral”; “Promover momentos formativos e informativos”; “Desenvolver
estratégias que promovam a interação professor/a-aluno/a como possibilidade de
aproximação entre as famílias e a escola”.
Ainda, na tentativa de buscar saber como os/as jovens estudantes percebem os
outros (adultos) com os quais convivem na escola, indagamos sobre o que eles/as
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imaginavam que os/as professores/as, além dos/as servidores/as em geral “esperavam”
deles/as. Em relação a essa proposição, os/as jovens responderam:
“Que eu aprenda a matéria”; “Respeito profissional e dedicação aos estudos”;
“Depende dos professores: alguns esperam coisas boas de nós, outros esperam só
coisas ruins”; “Colaboração e comportamento disciplinado”; “Que eu passe de
ano e tenha um bom futuro profissional”; “Notas altas”; “Participação nas aulas”;
“Que eu faça a diferença entre meus colegas de classe”; “Sinceridade e
objetividade”; “Com educação e vontade de aprender”; “Deve respeitar as
normas da escola”; “Deve respeitar o próximo”; “Deve querer aprender, ouvir os
professores e não atrapalhar a aula”; “Do mesmo modo que se comporta no
trabalho e em casa, de modo exemplar”; “Como um ser humano”; “Participar das
aulas”; “Civilizadamente”; “Do jeito que ele quiser, estamos em um país livre”.
A partir das respostas emitidas pelos/as jovens estudantes, percebemos que os
discursos fluem e transitam entre diferentes pontos de vista, consubstanciando em espaços
estriados e modos de subjetivação, abrindo-se também a outros possíveis provocativos
como a última fala que desliza, acentuando: “Do jeito que ele quiser, estamos em um país
livre”. Ainda, assim, consideramos que as posições e contribuições dos/as jovens são
originárias de um processo não dissociado das vivências produzidas nas redes coletivas de
subjetividade, experimentadas por eles/as em diversos territórios produtores de diferentes
modos de subjetivação.
Em uma das propostas de trabalho em relação à construção do Projeto Político-
pedagógico, discutimos “O currículo que queremos”, com o grupo de jovens estudantes
que participaram do Seminário. Durante a discussão sobre o que eles/as pensam sobre a
prática do/a professor/a, responderam: “Aulas fragmentadas e descontextualizadas”;
“Conteúdos ministrados não considerando a realidade do/a aluno/a”; “Há desinteresse
nas relações em detrimento de um saber dominante”. A partir das respostas evidenciadas,
devolvemos a questão para o grupo, no sentido de dialogarem sobre o que apontariam,
então, sobre as práticas docentes:
“Aulas dinâmicas”; “Debates”; “Conteúdos conectados com a realidade”;
“Realização de provas orais”; “Mais empenho e dedicação dos/as professores/as
pelo processo de ensinar”; “Maior aproximação entre professor/a e aluno/a”.
Na ocasião em que conversamos sobre o que os/as jovens pensam que a escola
deveria ensinar, apontaram as seguintes proposições:
“Todo conhecimento necessário para o crescimento pessoal e profissional”;
“Falar mais sobre sexualidade”; “Não sei responder, pois tudo o que a escola
ensina já faz parte de nosso dia-a-dia”; “Ensinar a pensar no futuro e alcançar
objetivos”; “Segurança, drogas e política, mas sem defender partidos e sim para
estimular os/as alunos/as a refletirem antes de votar”; “Aulas de violão e
espanhol”; “Sobre a criminalidade, de modo que os jovens não entrem no
“mundo marginal”; “Esporte e inglês”; “Já é suficiente o que ela ensina”;
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“Transmitir informações e formar para a vida”; “Para mim, não falta nada”;
“Atualidades”; “Nos ensinar a dar valor às coisas que temos”; “Educação e bom
comportamento”; “Conhecimento para tirar nota alta no ENEM”.
E sobre a iniciativa de práticas curriculares que utilizassem projetos de trabalho na
escola, os/as jovens estudantes propuseram que deveriam enfatizar e/ou abordar:
“Música”; “Esportes, tecnologia e inglês”; “Mais oportunidades para a EJA,
como inglês e intercâmbio”; “Escola Aberta”; “Escola contra as drogas,
educação versus violência, gravidez na adolescência, e o que seria um mundo
melhor”; “Desenvolver projetos com os alunos para ajudar alguns colegas que
vivem nas ruas”; “Projetos culturais e mais aulas práticas”; “Algo relativo ao
mercado de trabalho”; “MENOS tempo na escola”; “Mais cursos
profissionalizantes”; “Algo dinâmico que desperte o interesse dos alunos e
professores”; “Projetos de preparo para o primeiro emprego”; “Algo que envolva
alunos e comunidade”; “Um projeto de estágios”; “Teatro”.
Ainda, a partir das cartografias juvenis, os/as jovens estudantes comentaram sobre
como eles/as gostariam que fosse o relacionamento entre eles/as e os/as professores/as:
“Amigável”; “Deveriam ser como amigos, pois os professores estão trabalhando
para nos ajudar”; “Ótimo, pois nesse mundo precisamos dialogar”; “Respeitoso”;
“Bom, pois precisamos deles”; “Os professores deveriam ser mais engraçados”;
“Deveria ser mais próximo, pois alguns alunos têm vergonha/medo de pedir
ajuda ao professor”; “De muita educação, professor não está aqui para ouvir
gracinhas e desaforos”.
Quando indagados sobre o que seria um “bom/boa” professor/a, os/as jovens
estudantes indicaram:
“Aquele que tem vontade de ensinar”; “Paciência para ensinar e bondade para
ajudar”; “Dialogar com o aluno, brincar quando é preciso e ser amigo”; “Ser
dedicado, atencioso, prestativo e paciente”; “Ensinar bem e respeitar”;
“Humildade, disciplina e educação”; “Diversificar sempre em suas aulas”;
“Saber explicar”; “Não ser ignorante e tratar os alunos com gentileza”; “Saber se
expressar e ser comunicativo”; “Fazer os alunos aprenderem de forma prazerosa
e divertida”; “Ser carismático”; “Ser rígido, mas legal”; “Privilegiar o conteúdo”;
“Gostar do que faz”; “Se preocupar com os alunos que têm dificuldades”; “Bom-
humor, estar disposto a ajudar sempre”.
Continuamos a conversa persistindo sobre o que eles/as pensam sobre o que é ser
um/a bom/boa aluno/a, a partir das vivências na escola. Os/as jovens estudantes relataram:
“Desejo de aprender e força de vontade”; “Vir para escola estudar, não
badernar”; “Ser prestativo, comunicativo”; “Ser atencioso, educado, gostar de
aprender e querer aprender, estudar para aprender e não para passar de ano”; “Ser
educado, prestar atenção às aulas e manter as tarefas em dia”; “Ser esforçado e
aplicado”; “Ser comprometido”; “Respeitar os mais velhos”.
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Concluindo o diálogo, os/as jovens estudantes relataram que (não) se consideravam
bons/boas alunos/as, justificando que:
“Às vezes falto e não sou muito interessada”; “Não tenho tempo para me
dedicar”; “Passeio um pouquinho pela escola no horário de aula”; “Tenho notas
baixas e não me dedico o suficiente”; “Mediano, pois participo das aulas, mas
também converso e falto”.
No acompanhamento das redes de conversações, relacionamo-nos com a recepção e
a execução de imagens, mas nos movemos especialmente entre as vibrações e as
expressões juvenis (imagens-afecção) nos movimentos curriculares que entrecruzaram,
constantemente, espaços estriados – como território enrijecido pelo controle, com modos
de subjetivação estabelecidos e propagados nos discursos dos estudantes – e espaços lisos
(com aberturas e deslizes para o currículoafecção como possibilidade de produção de
outras subjetividades nas danças curriculares).
Assim, partindo do pressuposto que o movimento e as experiências coletivas
vividas pela Escola, constituindo modos diversos de subjetivação por meio das diferentes
práticas curriculares viabilizadas no seu cotidiano, sobretudo aquelas que envolvem
diretamente os/as jovens estudantes seja de extrema relevância, cabe-nos problematizar:
Há espaçostempos no território-escola que empoderem e potencializem processos
formativos dos/as profissionais da educação que contemplem temáticas que
transversalizem aprofundamentos sobre juventudes, espaçostempos plurais e culturas
juvenis? É possível os sujeitos praticantes dos cotidianos escolares, revisitarem paradigmas
éticos e estéticos que sustentam visões equivocadas e preconceituosas diante de
estereótipos socialmente construídos sobre os/as jovens e as culturas juvenis? Nos
espaçostemposreflexão constituídos no território-escola - planejamentos e formação
continuada e conselhos de classe e conversas informais e salas de professores/as e outras
conversações afins – dialoga-se sobre a relação entre as praticaspolíticas engendradas
na/da escola com os processos de exclusão e marginalização social, política e cultural
retratados nos índices de reprovação, repetência e evasão escolar? Entre tantas outras
inquietações provocadoras, advindas das redes de conversações desse cotidiano, é possível
[...] destacar que o currículo se enreda com uma cultura visto que uma cultura é
uma rede de conversações (subjetivadas) que define um modo de viver, um modo
de estar orientado no existir tanto no âmbito humano, quanto no não humano, e
envolve um modo de atuar, um modo de emocionar e um modo de crescer no
atuar e no emocionar, assim como sistemas sociais são sistemas de convivência
constituídos sob a emoção do amor, que é a emoção que constitui o espaço de
ações, de aceitação do outro na convivência (CARVALHO, 2009, p. 206).
Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola
EdUECE- Livro 102834
Contudo, mesmo considerando as possibilidades expressas advindas das diferentes
proposições dos sujeitos envolvidos no processo de sistematização do Projeto Político-
pedagógico da Escola, é possível ressaltar que, no movimento percorrido, há lacunas,
silêncios e desejos (in)visibilizados que não nos permitiram equacionar formulações
prescritivas e dogmáticas, que nos aprisiona a modelos sedimentados, contemplando
convicções e concepções lineares, possíveis de serem aplicadas em qualquer contexto
escolar.
Conclu (indo...),
Consideramos que nos
[...] tempos que correm, os jovens vivem uma condição social em que as setas do
tempo linear se cruzam com o enroscamento do tempo cíclico. Temporalidades
ziguezagueantes e velozes, próprias de uma sociedade dromo...crática, na qual os
tempos fortes se cruzam com os fracos e, em ambos, se vivem os chamados
contratempos. São muitos destes contratempos que caracterizam a condição
juvenil contemporânea (PAIS, 2006, p. 9).
Ainda, a partir do movimento percorrido na escola, destacando a participação dos
jovens estudantes, no acompanhamento das redes de conversações, no que diz respeito à
promoção de “bons encontros”, apontamos que os mesmos constituíram-se em
experiências que afirmam a produção de um ethos coletivo e uma atmosfera que evidencie
modos de subjetivação permeados por processos coletivos de participação dos diversos
segmentos da escola na definição de seus rumos.
Desse modo... não temos aqui, a pretensão de esgotar e concluir todas as
possibilidades de evidenciar os movimentos experienciados nos espaçostempos
curriculares de produção de subjetividades da/na/com a juventude, pois reconhecemos que
o tempo e o espaço de sua construção foram marcados com muitas conversas, diálogos
intensos e tensos que afetam as nossas relações profissionais e expectativas em viabilizar
meios para que as nossas práticas educacionais se revertam em praticaspolíticas que
qualifiquem as vivências e experiências humanas. No entanto inferimos a necessidade de
incluir cada vez mais, amplamente, os/as jovens estudantes nos processos que esses
constituem e pelos quais são constituídos.
Referências
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Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola
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