Mudanças Climáticas

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GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178 .141 Marco Antônio Tomasoni Professor Adjunto do Departamento de Geografia da Universidade Federal da Bahia, Doutor em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe [email protected] Mudanças globais: a problemática do ozônio e algumas de suas implicações Resumo O presente trabalho é uma reflexão sobre questões tratadas no âmbito das mudanças globais referentes ao clima e, mais especificamente, sobre a problemática dos CFC´s e da camada de ozônio e alguns de seus aspectos teóricos e técnicos. São avaliadas as implicações de ordem diversa como as questões políticas e econômicas resultantes das ações de resposta aos problemas atribuídos a sua produção e suas conotações a partir do Protocolo de Montreal e de Viena. É discutido, também, a efetividade destas ações e seus impactos no sistema ambiental, fazendo refletir sobre o papel da ciência e seus enlaces com a economia bem como suas correlações com os índices de radiação, entre outros aspectos, para o oeste da Bahia. Palavras-chave: atmosfera, ozônio, clorofluorcarbonos, impactos. Abstract GLOBAL CHANGES: THE ZONE ISSUE AND SOME OF IT IMPLICATIONS This work is a reflection on issues addressed in the context of global changes related to climate, more specifically on the issue of CFC’s and the ozone layer besides some of its theoretical and technical aspects. Implications of different kinds are assessed, such as political and economic issues arising from response actions to the proble- ms attributed to its production and its connotations from the Montreal Protocol and Vienna. It is also discussed the effectiveness of these actions and their impacts on the environment, making a reflection on the role of science and its links with the economy and their correlation with the incidence of radiation, among other aspects to the west of Bahia. Key-words: atmosphere, ozone, chlorofluorocarbon, impacts.

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  • GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178 .141

    Marco Antnio TomasoniProfessor Adjunto do Departamento de Geografia da Universidade Federal da Bahia, Doutor em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe [email protected]

    Mudanas globais: a problemtica do oznio e algumas de suas implicaes

    Resumo

    O presente trabalho uma reflexo sobre questes tratadas no mbito das mudanas globais referentes ao clima e, mais especificamente, sobre a problemtica dos CFCs e da camada de oznio e alguns de seus aspectos tericos e tcnicos. So avaliadas as implicaes de ordem diversa como as questes polticas e econmicas resultantes das aes de resposta aos problemas atribudos a sua produo e suas conotaes a partir do Protocolo de Montreal e de Viena. discutido, tambm, a efetividade destas aes e seus impactos no sistema ambiental, fazendo refletir sobre o papel da cincia e seus enlaces com a economia bem como suas correlaes com os ndices de radiao, entre outros aspectos, para o oeste da Bahia.

    Palavras-chave: atmosfera, oznio, clorofluorcarbonos, impactos.

    Abstract

    GLOBAL CHANGES: THE ZONE ISSUE AND SOME OF IT IMPLICATIONS

    This work is a reflection on issues addressed in the context of global changes related to climate, more specifically on the issue of CFCs and the ozone layer besides some of its theoretical and technical aspects. Implications of different kinds are assessed, such as political and economic issues arising from response actions to the proble-ms attributed to its production and its connotations from the Montreal Protocol and Vienna. It is also discussed the effectiveness of these actions and their impacts on the environment, making a reflection on the role of science and its links with the economy and their correlation with the incidence of radiation, among other aspects to the west of Bahia.

    Key-words: atmosphere, ozone, chlorofluorocarbon, impacts.

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    1. Introduo

    Se o conhecimento pode criar problemas, no atravs da ignorncia que podemos solucion-losIsaac Asimov (1920-1992)

    A revoluo industrial um fato marcante que retrata inmeras

    transformaes de mbito social, poltico, econmico, cultural e ambiental.

    Atribui-se a ela o incio de uma mudana sem par na histria humana e cuja

    difuso e acelerao afetaram de forma inexorvel a evoluo natural no

    planeta. A partir de tal constatao, um conjunto diverso de interpretaes

    tem lugar, desde as abordagens catastrofistas at as mais otimistas. No de-

    bate atual sobre as chamadas mudanas globais, as de carter atmosfrico

    recebem grande ateno, pois, a elas so atribudas a origem dos principais

    hazards que assolam a derme planetria. O principal aspecto enfocado

    refere-se composio mdia dos gases atmosfricos que mudou a partir

    da irrefrevel revoluo industrial. Alguns destes gases so substncias

    muito ativas, reagentes e sinrgicas, j outras composies so inertes e

    so transformadas ou deterioradas pelos ciclos e processos biogeoqumicos.

    Em perodo recente, fomos largamente bombardeados com inmeras

    informaes que davam conta da descoberta de um grave problema que

    ameaava a existncia humana. Este problema relacionava-se rarefao

    da camada de oznio e sua reatividade frente a um grupo de substncias

    de origem antropognica: os chamados frens, tambm conhecidos como

    CFCs. Segundo as fontes de informao majoritrias, tais substncias

    tinham o poder de degradar a fina camada protetora de oznio contra os

    raios ultravioleta e cujas reais dimenses precisvamos conhecer melhor

    para agir de forma imediata.

    O fenmeno ganhou a mdia de forma avassaladora e a teoria do pro-

    fessor Mario Molina e Rowland (MOLINA; ROWLAND, 1974 e ROWLAND,

    2006), o Ciclo cataltico do cloro, tornou-se uma verdade inabalvel,

    sendo incorporada acriticamente pelo movimento ambientalista em sua

    diversidade (ONGs transnacionais, por exemplo), governos, corporaes e

    indivduos. Todos se puseram na luta pela erradicao dos efeitos nocivos

    deste componente, que tinha aplicao em inmeros fins industriais.

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    Utilizando-se da abordagem presso-estado-resposta (OCDE, 1998),

    poderamos qualificar as aes como corretas, pois ao identificar-se um

    agente transformador, no caso o CFC (presso) que, segundo as informa-

    es, impactava e alterava a atmosfera (estado), props-se uma ao (res-

    posta) que visava a eliminar a origem do problema. Desta forma, reaes

    imediatas em alguns pases aconteceram e culminaram na assinatura do

    Protocolo de Montreal, que visou ao completo banimento desta substncia

    e sua permuta por gases no nocivos camada de oznio. Mas, como toda

    a hiptese passa pelo amplo processo de validao, esta tambm pode ser

    submetida aos diversos princpios cientficos e questionada em suas bases.

    Antes de prosseguirmos, vale ressaltar que este problema apresenta um

    conjunto de variveis muito mais complexas, as quais no esto devida-

    mente explicadas; ou ainda que, sobre elas, residem dvidas incontestes

    e interesses que implicam em impactos de ordem poltica e econmica

    muito mais srios, para serem reduzidos a um fato meramente tcnico ou

    de ordem ambiental no sentido restrito da palavra. O sistema climtico

    reage e interpe-se de forma no linear com os demais sistemas terrestres

    e aquticos do planeta e estes com os fenmenos orbitais como os ciclos

    solares e os de Milankovitch (SALGADO-LABORIAU, 1994), entre outros

    fenmenos complexos que repercutem na dinmica do clima no planeta

    e cujos efeitos no so previsveis nas diferentes escalas dos fenmenos

    climticos.

    Sendo assim, analisaremos a questo a partir de sua origem e dos

    aspectos fsico-ambientais que a envolvem, para compreendermos algumas

    questes acerca do seu estado atual.

    2. Alguns antecedentes

    Atribui-se a descoberta do oznio ao qumico Christian Friedrich

    Schnbein. Em meados do sculo XIX, ele observou que, aps descargas

    eltricas na atmosfera, havia um odor

    notado tambm quando a gua era decomposta por uma corrente voltaica. Schnbein acreditou que esse odor poderia ser atribudo existncia de um gs atmosfrico de odor peculiar. A esse gs atribuiu o nome oznio, da palavra grega para cheiro

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    ozein. O oznio um gs produzido naturalmente na atmosfera terrestre, reativo e capaz de oxidar metais como ferro, chumbo e arsnico[...] aps vrias pesquisas concluiu-se que o oznio tinha um papel ainda mais importante, utilizando-o como um eficaz desinfetante durante epidemias infecciosas (INPE, 2006).

    Outro aspecto acerca do oznio, que este gs absorve a radiao

    infravermelha de 9 mm, longitude de onda muito prxima da mxima

    emissividade de espectro de radiao da superfcie terrestre. Seu fora-

    mento radiativo, molcula por molcula, mil vezes mais potente que o

    dixido de carbono (URIARTE, 2003, s/p).

    A vinculao do oznio (O3) aos CFC foi originada a partir das des- des-

    cobertas dos cientistas F. Sherwood Rowland e Mrio Molina em 1974,

    que suspeitavam que grandes quantidades de um composto estvel CFC

    (Clorofluorcarbonos ou CFCl3 e CF2Cl2, respectivamente Fren-11 e Fren-12

    ou Halns), produzidos sinteticamente desde os anos 1920, inicialmente

    pela Du Pont, de alguma maneira estariam circulando na atmosfera, mais

    especificamente na estratosfera (acima dos 20Km), criando condies para

    uma exposio elevada radiao presente nestas altitudes, gerando, assim,

    uma reao onde o oznio tornar-se-ia instvel e sua molcula quebrada.

    Tal teoria foi batizada de Ciclo Cataltico do Cloro, que, no meio miditico,

    ganhou o status de teoria da destruio da camada de oznio.

    Mas foi somente nos anos 1980 que a informao ganhou maiores

    dimenses quando Farman et al. (1985), em artigo na Nature, divulgaram

    seus estudos para o perodo 1980-1984 e a NASA (National Aeronautics and

    Space Adimistration) noticiou seus estudos, apresentando o que se consti-

    tuiria no buraco na camada de oznio, que, segundo eles, em setembro

    de 2000, tinha chegado a mais de 28 milhes de quilmetros quadrados

    (WMO, 2000; NASA, 2001). Segundo dados oficiais de relatrios da ONU,

    atualmente, a mdia das perdas de oznio de 6% nas latitudes mdias do Hemisfrio Norte no inverno e na primavera, 5% nas latitudes mdias do Hemisfrio Sul durante o ano todo, 50% na primavera antrtica e 15% na primavera rtica. Os aumentos resultantes na irradiao de raios ultravioletas nocivos chegam a 7%, 6%, 130% e 22%, respectivamente (UNEP, 2000a, p.15).

    Antes disso, em 1977, os Estados Unidos proibiram o uso de CFCs em

    aerossis no-essenciais e alguns outros pases como o Canad, a Noruega

    e a Sucia tambm diminuram o consumo e a produo. Entre os vrios

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    usos dos CFCs existem os aerossis e os no-aerossis, como em espumas,

    solventes e produtos refrigerantes, entre outros usos.

    Em maro de 1985, a Conveno de Viena e o Protocolo de Montreal

    foram assinados e ganharam inmeros membros e, em dezembro de 2001,

    um total de 182 pases j tinham ratificado o acordo. O Protocolo de

    Montreal, que originalmente exigia o corte de apenas 50% do consumo,

    passou quase eliminao destas substncias em 1995 pelos pases in-

    dustrializados e criou-se um fundo (aprox. $1,1 bilhes) para financiar

    nos pases em desenvolvimento a adoo de substncias no nocivas. O

    protocolo definiu, em seus anexos, algumas substncias e seu potencial

    de degradao, como mostra o quadro 1.

    Quadro 1ANEXO A: SUBSTNCIAS CONTROLADAS

    Grupo Substncia Potencial redutor do O3Grupo 1

    CFCl3 CF2Cl2 C2F3Cl3C2F4Cl2C F Cl

    (CFC-11) (CFC-12) (CFC-113) (CFC-114) (CFC-115)

    1.01.00.81.00.6

    Grupo 2

    CF2BrClCF3Br C2F4Br2

    (haln-1211) (haln-1301) (haln-2402)

    3.010.06.0

    Fonte: UNEP, 2000a (adaptado)

    No anexo D do referido Protocolo, encontra-se uma lista de produtos

    que contm substncias especficas citadas no anexo A, a saber: sistemas

    de ar condicionado automotivos (caminhes e automveis), sistemas de

    refrigerao domstica e comercial e equipamentos mveis (refrigeradores,

    freezers, desumidificadores, mquinas de gelo, resfriadores de gua e ar

    condicionados), produtos aerossis, exceto mdicos, extintores de incndio,

    pr-polmeros, placas e painis solares, entre outros produtos.

    Muitas questes emergiram deste processo, especialmente aquelas

    associadas ao controle de patentes e as fontes que serviram de base aos

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    estudos e anexos especficos do protocolo. Outro aspecto importante, mas

    no devidamente mensurado, refere-se aos royalties de transferncias

    tecnolgicas. E, por fim, em recente encontro internacional (setembro de

    2006), foi comemorada a eficincia do combate eliminao dos CFCs,

    anunciando-se praticamente o fim do problema da diminuio da camada

    de oznio.

    3. Caracterizao dos elementos envolvidos

    Primeiramente, bom que se diga que, como qualquer problema, o

    do oznio est ligado a uma complexa rede de reaes fsico-qumicas que

    ocorrem tanto na troposfera quanto na estratosfera. Quando falamos em

    atmosfera, importante lembrar sua estrutura bsica e o comportamento

    dos elementos temperatura e presso, conforme se v na figura 1, na

    qual se observa o comportamento varivel da temperatura nas diferentes

    camadas e o decrscimo abrupto da presso mdia na medida em que nos

    elevamos na atmosfera. Estes dois fatores interferem de modo determi-

    nante nas reaes fsico-qumicas dos componentes gasosos que ocorrem

    em seu conjunto.

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    Figura 1ESTRUTURA GERAL DA ATMOSFERA E COMPORTAMENTO DA TEMPERATURA E PRESSO

    Fonte: Pidwirny, 1999 (adaptado)

    3.1. O oznio troposfrico

    O oznio encontra-se em boa parte da atmosfera, sobretudo na baixa

    atmosfera, especialmente nos grandes centros urbanos, onde se formam

    domus (bolha) de poluio que, por reaes fotoqumicas, podem gerar o

    oznio: o chamado smog fotoqumico. Atribui-se a este tipo de oznio, um

    gatilho (INPE, 2006) para entrada de infeces respiratrias mais graves

    que ocorrem em determinadas pocas do ano.

    Nesta contribuio, a mais importante fonte de poluentes atmos-

    fricos , sem dvida, a queima de combustveis fsseis e de biomassa,

    liberando grandes quantidades de dixido de enxofre (SO2), monxido de

    carbono (CO), xidos de nitrognio (NO e NO2, conhecidos coletivamente

    como NOx), os materiais particulados em suspenso (MPS), os compostos

    orgnicos volteis (VOCs) e alguns metais pesados e, principalmente, a

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    maior fonte antropognica de dixido de carbono (CO2). O oznio troposf-

    rico produzido em reaes qumicas entre NOx e VOCs, em dias quentes

    e ensolarados, principalmente em reas urbanas e industriais e em regies

    propensas a massas de ar estagnado ou de baixa mobilidade.

    Essa produo de oznio pode ter implicaes extensas, uma vez que

    foi descoberto que as molculas de O3 viajam por grandes distncias (at

    800 km) a partir das fontes de emisso e produo. Assim, trata-se de um

    problema complexo que envolve reaes qumicas e disperso atmosfrica

    atravs dos mecanismos de circulao geral e secundria (MOREIRA;

    TIRABASSI, 2004).

    J na formao do oznio troposfrico, um papel notvel ento

    desenvolvido da relao NO2/NO. O oznio se forma na troposfera atravs

    da seguinte reao: O + O2 +M O3 (reao 1), onde M uma molcula presente. O oxignio livre O se forma, na troposfera, da fotlise do NO2:

    NO2 + h NO + O (reao 2); com a reao seguinte, completa-se o cha- + O (reao 2); com a reao seguinte, completa-se o cha-O (reao 2); com a reao seguinte, completa-se o cha- (reao 2); com a reao seguinte, completa-se o cha-mado ciclo do nitrognio: O3 + NO NO2 + O2 (reao 3).

    O ciclo do nitrognio vem a completar-se em poucos minutos, en-

    quanto a acumulao de oznio acontece em algumas horas. O ciclo do

    nitrognio bastante veloz para manter uma concentrao de equilbrio

    de O3, que funo da relao NO2/NO.

    A reao 3 converte NO em NO2, mas uma molcula de oznio

    destruda. A reao 1 produz o oxignio livre que contribui para a formao

    de uma molcula de oznio, mas, ao mesmo tempo, NO2 convertido

    em NO. So adequadas para o estudo do oznio e de outros poluentes

    fotoqumicos em uma escala temporal somente da ordem de um a alguns

    dias (FERREYRA, 2006).

    Segundo Uriarte (2003), existe um incremento ocasionado na segunda

    metade do sculo XX, um efeito estufa importante, mas difcil se deter-

    minar em nvel global seu grau de foramento radiativo (BRUNNER, 1998;

    BRASSEUR, 1998 apud URIARTE, 2003). Tal foramento muito maior no

    hemisfrio norte que no hemisfrio sul. Este alcana a franja subtropical,

    compreendida entre os 20 e 30 de latitude norte (ROELOFS, 1997 apud

    URIARTE, 2003). Estima-se que o foramento global est na ordem dos

    0,3 W/m2 a 0,4 W/m2, superando os 0,5 W/m2 no Mediterrneo e sudoeste

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    da sia (STEVENSON, 1998, apud URIARTE, 2003). Existem autores que

    supem que o aumento do oznio troposfrico afete o desenvolvimento da

    fotossntese. Tal suposio baseia-se numa diminuio na absoro do CO2 por parte da vegetao, o que mostra sumariamente que existe um amplo

    espectro de processos que demonstram claramente a no linearidade dos

    sistemas envolvidos.

    3.2. O oznio estratosfrico

    A formao do oznio em altitudes elevadas d-se quando um fton

    de elevada energia ( l

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    Grfico 1PERCENTUAL DOS CFCs, SEGUNDO O TIPO DE USO

    Fonte: IPCC Oznio, 2005 (adaptado)

    Entre as vrias substncias que so apontadas como degradadoras

    da camada de oznio (ver quadro 2), apenas os CFCs sofrem proibio;

    outros, como o tetracloreto de carbono (um solvente), dixido de nitrognio

    (utilizado na composio do cido ntrico), metilclorofrmio (anestsico e

    solvente), usados em lavagem a seco e no ramo farmacutico, e os halons,

    usados em alguns extintores de incndios, que contm bromo e so dez

    vezes mais destruidores de oznio do que os CFCs, ainda no sofrem

    nenhum tipo de proibio.

    Em uma edio da revista Cincia Hoje (de 1990, v. 2, n. 9, p. 41-48)

    so mostrados os detalhes da teoria de Mario Molina e Sherwood Rowland,

    sendo que os dois avaliaram que a produo anual de CFC alcanava cerca

    de 1 milho de toneladas.

    Vrios pesquisadores mostraram que o CFC bastante estvel, mas,

    na presena da radiao UV-C, torna-se muito instvel, produzindo uma

    reao fotoqumica que libera tomos de cloro. Esquematicamente assim

    representada:

    Cl3CF + hv (

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    Para tanto, os CFCs precisam chegar estratosfera e serem expostos

    radiao da banda UV-C de comprimento de onda inferior a 230nm (2,30

    x 10-8 cm) de longitude de onda, coisa que ocorre acima dos 36 a 40 km.

    Segundo estas mesmas fontes, esta viagem dos CFCs levaria aproximada-

    mente oito meses. Com o oznio, o comprimento de onda necessrio para

    destru-lo seria da ordem de 250nm, radiao existente por volta dos 30km

    de altitude. O mero atrito das molculas entre si bastaria para provocar

    sua destruio, dada sua instabilidade.

    Segundo a mesma fonte, as reaes em cadeia provocadas pelo CFC

    promoveriam uma destruio contnua de cerca de 100.000 molculas de

    oznio por uma de CFC. Mas ainda existem outros inmeros compostos

    que podem retardar ou acelerar as transformaes nesta parte da atmosfera,

    a exemplo do dixido de nitrognio (NO2), que pode bloquear a degradao

    do oznio. Outro aspecto interessante sobre este gs que seu tempo de

    permanncia mdio na atmosfera (ver quadro 2) de aproximadamente

    20 anos para o HFC e o HCFC, de vrias dcadas at sculos para alguns

    HFC e a maioria dos Halns e CFC, e entre 1.000 a 50.000 anos para os

    PFC (IPCC, 2005).

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    Quadro 2TEMPO DE VIDA TIL DE ALGUNS COMPOSTOS GASOSOS

    Gs Tempo De Vida (Anos) Gs Tempo De Vida (Anos)

    CFC PFC

    CFC-12 CFC-114CFC-115CFC-113CFC-11

    1003001.7008545

    C2F6 C6F14CF4

    10.0003.20050.000

    HCFC Halones

    HCFC-142b HCFC-22 HCFC-141b HCFC-124 HCFC-225cbHCFC-225ca

    17,9129,35,85,81,9

    Haln-1301 Haln-1211 Haln-2402

    651620

    HFC Otros halocarbonos

    HFC-23 HFC-143a HFC-125 HFC-227ea HFC-43-10mee HFC-134a HFC-365mfc

    270522934,215,9148,6

    Te t r a c l o r u r o d e carbono(CCl4)M e t i l c l o ro f o r m o (CH3CCl3) Bromuro de metilo (CH3Br)

    26

    5,0

    0,7

    Fonte: IPCC Oznio, 2005 (adaptado)

    3.3. A teoria e a cincia sobre o CFC e o Oznio

    interessante observar que, do ponto de vista qumico, os gases e

    componentes da atmosfera tm suas caractersticas definidas por leis

    bastante rgidas, entre elas a termodinmica. A ttulo de ilustrao, vemos,

    no quadro 3, diferentes constituintes da atmosfera e outros, seu peso

    molecular, seu peso atmico e seu percentual na atmosfera.

  • GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178 .153

    Quadro 3ALGUMAS CARACTERSTICAS DE ALGUNS CONSTITUINTES DA ATMOSFERA

    Constituinte Peso Molecular Peso Atmico Volume (%)Atmosfera

    Nitrognio (N2) 28,02 14,1 78,08%

    Oxignio (O2) 32 16 20,95%

    Hlio (He) 8 4 0,0005%

    Hidrognio (H2) 2,016 1,08 0,00005%

    Oznio (O3) 48 - 0,000004%

    Ferro (Fe) - 55,08 -

    Cloro (Cl) - 35,5 -

    Carbono (C) - 12 -

    Flor (F) - 19 -

    Dixido de carbono(CO2) 44,01 - 0,0360%

    Oxido nitroso (N2O) 44,02 - 0,00003%

    Metano (CH4) 16,032 - 0,00017%

    FREN 11 (Cl3FC) 137,51 - -

    FREN 12 (Cl2F2C) 121,01 - -

    PESO MOLECULAR MDIO DA ATMOSFERA = 29,01

    Fonte: elaborado pelo Autor

    A teoria diz que, em uma marcha lenta e contnua, eles seriam levados

    pelas correntes conectivas equatoriais, portanto uma ascenso trmica,

    para altitudes elevadas. Esta viagem levaria cerca de oito meses. O pro-

    blema que, na medida em que as correntes ascendentes equatoriais

    ganham altitude, elas perdem calor pelo processo adiabtico (cerca de 10oC

    por cada 1000m), portanto, iniciam seu processo de subsidncia nas faixas

    de alta presso na zona dos trpicos, estas derivando e formando os ventos

    de oeste e os alseos de nordeste e de sudeste. Depois deveriam seguir,

    em parte, para o hemisfrio norte (HN) e hemisfrio sul (HS), at sofrer

    uma provvel ascenso dinmica no choque com a frente polar, podendo

    acumular-se nas zonas polares de alta presso (ver figura 2).

    No corte vertical da atmosfera (figura 2), no lado esquerdo, observa-

    mos esquematicamente a dinmica do movimento vertical de ascendncia

    e subsidncia do ar e a formao da frente polar, no lado direito outra

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    referncia ao movimento horizontal e vertical na circulao geral. im-

    portante lembrar a existncia de dois tipos de foras convectivas: a trmica,

    provocada pelas diferenas de temperatura e gradientes de presso, e a

    dinmica, provocada pelo movimento das massas associadas ao efeito de

    Coriolis.

    Embora a circulao geral da atmosfera tenha estas caractersticas,

    outra longa srie de fatores afeta este movimento, mas, para ns, o que

    interessa so as foras que intervm no movimento vertical, especialmente

    as trocas e os contatos das trs clulas de circulao: a de Hadley, Ferrel

    e a Polar, e com maior detalhe sobre o Vrtex polar (conforme esquema

    da figura 3, lado direito).

    Embora haja uma tendncia de mistura na atmosfera, os gases obe-

    decem a certa distribuio vertical e aos princpios da termodinmica, ou

    seja, este aspecto possui elevado grau de complexidade para a simples

    correlao que ainda hoje perdura como senso comum acerca da viagem

    dos CFCs na atmosfera (KHRGIAN et al, 1975). Os frens 12 e 11 pesam,

    respectivamente, 4,10 e 4,66 vezes mais que o ar atmosfrico e isto, aliado

    aos fenmenos da circulao geral da atmosfera, torna a ideia da perma-

    nncia dos frens em elevada altitude, um aspecto pouco explicvel.

  • GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178 .155

    Figu

    ra 2

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  • 156. GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178

    Figura 3ISBARAS DO MS DE JUNHO SOBRE A ANTRTIDA

    Fonte: Strahler,1986 (adaptado)

    3.4. O vrtice Antrtico

    Entendidos estes aspectos, passamos a outra importante parte da

    explicao da teoria geral sobre a rarefao do oznio. Perto do final do

    inverno austral, entre os fins de agosto e durante setembro inteiro, ocorre

    uma interessante formao no plo sul: ventos ciclonais (convergentes

    para uma zona central) de intensa velocidade que abarcam a Antrtida em

    uma circulao praticamente fechada, conforme apresentado na figura 4,

    na qual vemos em planta as isbaras do ms de junho.

    A figura 3 mostra um corte vertical na zona central (A) fechada com

    presso em torno dos 1030mb, circundada por baixas presses (B) em torno

    dos 987mb, o que, em um corte vertical, estaria representada na figura 4,

    identificando a zona de concentrao do vrtice polar e a formao das

    Nuvens Estratosfricas Polares (NEP), de baixssimas temperaturas.

  • GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178 .157

    Figura 4CORTE VERTICAL NA ZONA ANTRTICA

    Fonte: Ferreyra, 2006

    Segundo alguns cientistas, o fenmeno da rarefao do oznio se

    produz quando os raios solares comeam a iluminar a alta estratosfera

    (aproximadamente 20 de agosto), ainda na noite polar (ver figura 5). Isso

    se deve inclinao dos raios, provocando a opacidade da atmosfera polar,

    aonde chegariam apenas a radiao infravermelha e a luz visvel (bandas

    superiores a 400nm).

  • 158. GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178

    Figura 5ASPECTO DA ILUMINAO DO VRTICE

    Fonte: Ferreyra, 2006

    Segundo o INPE, nas regies tropicais, a variao de oznio pode ser

    negligenciada, pois a radiao seria considerada constante, j em latitudes

    maiores:

    O mximo de concentrao estabelecido no fim do inverno, ou no comeo da primavera, e o mnimo se verifica durante o outono. Durante a primavera a quantidade de oznio encontrada em altas latitudes maior, e em baixas latitudes menor, do que aquela que poderia ser prevista, utilizando a teoria fotoqumica. Neste caso, a distribuio da intensidade de radiao solar sugeriria a formao de um mximo durante o vero sobre a regio equatorial. Portanto, as causas desse fenmeno podem ser relacionadas aos padres de circulao atmosfrica. No incio da primavera, a estratosfera prxima s regies polares caracterizada por fortes correntes de ar descendentes. Deste modo, o oznio gerado em camadas acima de 20 km de altitude transportado por estas correntes de ar em direo s camadas mais baixas, e uma circulao formada com o ar fluindo em direo aos plos na alta estratosfera e, em direo ao equador, na baixa estratosfera. O oznio acumulado nesta regio transferido para a troposfera durante o vero (INPE, 2006, p.12).

    Nestas condies, o movimento giratrio do vrtice impede a sada ou

    entrada de gases e a temperatura no seu interior chega aos -85oC. Alguns

    cientistas acreditam que este movimento catico faz colidir um imenso

  • GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178 .159

    nmero de molculas, entre elas o oznio, provocando sua diminuio

    momentnea. Assim, os nveis de oznio de reas circundantes ao vrtice

    chegam a alcanar 450 a 500 DU (Unidades Dobson) e, no interior, valores

    inferiores a 200 DU.

    Neste momento, quando as reaes do oznio liberam calor e este se

    soma ao calor da radiao infravermelha, correntes ascendentes de ar se

    formam, levando oxignio s zonas mais elevadas, criando condies para

    sua regenerao. H que se ressaltar que tais condies so nicas e s

    ocorrem na zona Antrtica, diferentemente do que ocorre na zona oposta.

    Ainda no contexto do complexo amanhecer polar, reaes como a

    chamada exploso de Bromo (GEBHARDT, 2008), cuja origem est ligada

    s algas (CHBr3), s reaes na neve e no gelo juvenis e aos compostos

    orgnicos volteis (VOCs), tambm so responsveis pela diminuio

    dos nveis de oznio (ver quadro 4). Segundo Gebhardt (2008), a maioria

    dos elementos investigados nos processos de destruio do oznio est

    diretamente ligada a emisses de processos naturais, como, por exemplo,

    o recm-descoberto CH3Cl, cuja fonte so as plantas tropicais e material

    vegetal em decomposio, sendo ainda pouco conhecidos seus efeitos

    sinergticos.

  • 160. GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178

    Quadro 4FONTES E SUMIDOUROS DE COMPOSTOS DE LONGA DURAO

    Fonte Tipo Sumidouros

    CH3Cl

    Plantas Tropicais e SubtropicaisFormaes deciduais /folhas mortas Queima de Biomassa OceanosFungosSalinasQueima de combustveis fsseisIncinerao de lixoreas midas Processos IndustriaisCampos de arroz

    Reaes OHSolos Reaes do Cl Perdas para a estratosferaPerda para os oceanos polares

    Total Max. 13.578 Gg ano-1 Total Max 6.695 Gg ano-1

    CH3Br

    Oceanos Gases dos solosQueima de biomassa Salinas Gasolinareas midas Fungos Turfeiras Vegetao arbustivaCampos de arroz

    Solos OceanosOH e fotlise

    Total Max. 293 Gg ano-1 Total Max. 387 Gg ano-1

    Fonte: GEBHARDT, 2008. Modificado

    J os compostos de vida curta como o CHCl3, CH2Br2, CHBr3 e CH3I,

    investigados por GEBHARDT (2008), tm suas principais fontes majori-

    tariamente biognicas como nos oceanos abertos, nos processos do solo,

    nas fontes vulcnicas e geolgicas, nos arrozais, na queima de biomassa

    e nas turfeiras. J os processos exclusivamente antropognicos, como a

    fabricao de papel e celulose, o tratamento de gua (clorao) e os pro-

    cessos industriais, respondem com cerca de 8,5% dos totais das emisses

    estimadas ou medidas.

    Uriarte observa que a evoluo da massa global de oznio (tropos-

    frico e estratosfrico) desde 1979, ano em que comeam as medies

    por satlites (grfico 1), no se modificou muito. Uma observao mais

  • GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178 .161

    detalhada do grfico 1 indica que, fora as fortes quedas que se seguiram, as

    erupes vulcnicas do El Chichn (Mxico, Abril de 1982) e do Pinatubo

    (Filipinas, Junho de 1991), no houve, ao menos desde 1983, uma tendn-

    cia clara a altas ou baixas. Ainda segundo Uriarte, nas latitudes de 35 a

    60N, observa-se um aumento desde 1993 at 2005, atribudos principal-

    mente a alteraes na circulao estratosfrica do mesmo nvel de 1985

    (HADJINICOLAOU et al, 2005 e URIARTE, 2003).

    Grfico 2EVOLUO DA ESPESSURA MDIA DO OZNIO GLOBAL (ENTRE 65N E 65S), MEDIDA POR EQUIPAMENTO TOMS TRANSPORTADO POR TRS SATLITES-NIMBUS7, METEOR E EARTH PROBE (1979-2000)

    Fonte: Uriarte, 2003

    Conforme Uriarte, existem muitas incgnitas sobre o futuro do oznio

    estratosfrico:

    Debido al posible enfriamiento de la estartosfera por causa del incremento del CO2 (DAMERIS, 1998). El CO2 no solamente es un eficiente absorbente de radiacin infrarroja sino que tambin es un excelente emisor de este tipo de radiacin. En los niveles estratosfricos la emisin de radiacin infrarroja emitida por el CO2 se escapa en gran parte hacia el espacio exterior. Por lo tanto, el CO2 acta all enfriando la estratosfera. Probablemente este enfriamiento estratosfrico provocado por el incremento del CO2 y por el propio aumento del ozono troposfrico (que atrapa en las capas bajas la radiacin terrestre saliente) conlleve la formacin de nubes polares estratosfricas ms abundantes. Por eso es posible que la destruccin de ozono que se produce en estas nubes aumente y que sean ms profundos los

    agujeros estacionales que se forman en las latitudes altas (URIARTE, 2003, s/p).

  • 162. GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178

    O mesmo autor complementa que o esfriamento da estratosfera,

    associado a uma provvel reduo dos compostos de cloro (Protocolo de

    Montreal), pode viabilizar um aumento do oznio estratosfrico, pues all

    se reduce la velocidad de las reacciones naturales de qumica homognea

    (gas-gas) que destruyen el ozono y que equilibran el proceso de formacin

    de ozono por la accin del Sol sobre el oxigeno (URIARTE, 2003, s/p).

    Outro aspecto importante, em relao s alteraes na composio

    mdia do oznio na estratosfera, estaria nas nuvens estratosfricas polares,

    como afirma Uriarte:

    La frecuencia de nubes polares estratosfricas, y la consiguiente destruccin de ozono, es el incremento del vapor de agua. El metano es la principal fuente de humedad de la estratosfera, en donde su oxidacin acaba produciendo dixido de carbono y agua. A pesar de la escasez de las mediciones, hay indicios de que el vapor de agua en la estratosfera ha ido aumentando a razn de un 1% anual en las ltimas tres dcadas (OLTMANS, 2000). Una mayor concentracin de agua en la estratosfera facilitara la formacin de nubes. Adems, el vapor de agua provoca, al igual que el CO2, un efecto neto de enfriamiento en la baja estratosfera (FORSTER, 1999), que tambin contribuira a una mayor frecuencia de las nubes polares estratosfricas (URIARTE, 2003, s/p).

    Outro aspecto de fundamental importncia na qumica mobilizadora

    do oznio est muito ligada aos cataclismos vulcnicos, o que segundo

    Deshler (1998), Berger et al (1989), entre outros, ainda reside em incgnitas,

    pois a grande massa de aerosis sulfatados, que pode cobrir praticamente

    todas as latitudes, leva a uma reduo de energia na ordem de 3 a 4 W/

    m2, esfriando a troposfera como no caso do Pinatubo ou Santa Helena

    (TAZIEFF,1999). Lucht (2002) aponta ainda a considervel reduo na

    concentrao de oznio estratosfrico. Isto demonstra uma forte relao

    do oznio com as trocas verticais de energia e matria na atmosfera.

    J foi comprovada a existncia de muitos outros gases na estratosfera:

    hidrognio, hlio, metano (CH4), monxido e bixido de Cloro (ClO e ClO2),

    os xidos de nitrognio (NOx), compostos a base de Bromo (altamente

    reagente), Flor, Iodo, bixido de carbono (CO2), entre outros gases como

    o Argnio, Criptnio, Xennio, etc., menos os CFCs. Este fato foi demons-

    trado por inmeros cientistas, entre eles, Igor J. Eberstein, do Goddard

    Space Flight Center da NASA, entre outros cientistas desta rea.

  • GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178 .163

    Assim, nesta atmosfera Antrtica, um conjunto de reaes provocadas

    pelos xidos de nitrognio, vapor de gua e oxignio, levam a uma rpida

    queda nos nveis de oznio neste setor da atmosfera. Alguns estudos tm

    indicado que, dentro do vrtice, os nveis de vapor dgua, oznio e xidos

    nitrosos caem de maneira abrupta e elevam-se os nveis de cloro. E ento

    vem a pergunta: de onde vem tanto cloro?

    3.5. As fontes de cloro

    Pairando sobre o problema da reduo sazonal ou efetiva da camada

    de oznio, encontra-se um dos principais agentes apontados por todos os

    estudiosos do assunto: o cloro. O fato de haver uma grande presena deste

    elemento na atmosfera Antrtica, especialmente dentro do vrtice, levou a

    postulao da sua dissociao, a partir dos CFCs, mas justamente a que

    reside uma das grandes polmicas, e a menos elucidada delas. Cientistas,

    como o eminente qumico Pierre Lutgen (2006), afirmam que seria neces-

    srio, aproximadamente, que cerca de 90% de toda a produo mundial de

    CFCs estivessem no hemisfrio sul, sem contar aqui que nem tudo que

    produzido, em termos efetivos, liberado para a atmosfera, entre outros

    fatores envolvidos neste processo.

    Na Antrtida, existem dois vulces, O terror e o Monte Erebus, sen-

    do que apenas o segundo ativo desde 1841 (FERREYRA, 2006). O Erebus

    est a 77oS e 168oE, muito prximo da base onde se realizam medies

    meteorolgicas que embasam estudos cientficos sobre o tema. Da base de

    McMurdo, so lanados constantemente sondas para medir a composio

    dos gases, e o eminente vulcanlogo Haroun Tazieff j realizou varias

    campanhas para estudar as emisses gasosas deste vulco. Aps avaliar

    detalhadamente o fenmeno, ele concluiu que so produzidas cerca de

    1.000 toneladas de cloro, entre outros gases por dia, o que, em uma semana,

    produziria o cloro equivalente ao somatrio de todos os CFCs produzidos

    no mundo em um ano, ou seja, 7.500 toneladas de CFCs contra cerca de

    360.000 toneladas de cloro vulcnico do Erebus. Estes dados totais sobre

    produo dos CFCs esto em relatrios do IPCC e dados do professor

  • 164. GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178

    Tazieff, disponveis em artigos cientficos, facilmente pesquisados em

    bibliotecas digitais.

    Vejamos, ento, no grfico 3, uma estimativa da produo anual do

    cloro segundo fontes diversas, fato que pe em xeque a teoria catica dos

    CFCs.

    Grfico 3ESTIMATIVAS DA PRODUO ANUAL DE CLORO SEGUNDO FONTES SELECIONADAS

    Fonte: adaptado de Ferreyra, 2006

    Tal informao impe mais alguns questionamentos acerca deste

    problema e de suas implicaes, como, por exemplo: O que levaria a

    condicionar de forma to enftica a nfima quantidade de cloro presente

    nos CFCs ao problema da camada de oznio?

    Seria ele, o cloro antropognico, de fato o gatilho acionador da insta-

    bilidade ou rarefao cclica do oznio?

    Qual seria o papel do cloro liberado de fontes naturais, que no caso

    do Monte Erebus chega a ser 48 vezes maior que toda a produo mundial

    provinda a partir dos CFCs?

    136

    36

    8,4

    5

    0,75

    0,0075

    0 100 200 300 400 500 600

    gua do mar

    Vulces

    Queima de biomassa

    Biota ocenica

    Cloro contido nos CFCs

    Cloro liberado anualmente pelos CFCs

    Milhes de toneladas

  • GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178 .165

    Outros dados disponveis pem em xeque a questo, pois, somadas

    todas as fontes de cloro, estas so 80.000 vezes maiores que as prov-

    veis liberaes a partir dos CFCs. E, na estratosfera, registra-se apenas

    uma concentrao de cerca de 0,1 ppb. Estudiosos como Lutgen, Khalil e

    Rasmussen afirmam que a maioria do CFC produzido so devorados por

    bactrias que se encontram no solo em todo mundo (LUTGEN, 2006), bem

    como so dissolvidos no mar, pois, como observado anteriormente, estes

    so mais de 4,5 vezes mais pesados que o ar. Assim, necessrio atentar

    para a problemtica com um olhar mais critico, revendo os princpios dos

    postulados bsicos e das fontes de informao.

    3.6. Contrapontos ao paradigma emergente

    Em 1988, publicaes da NASA davam conta de que a camada de

    oznio sobre os EUA e a Europa havia diminudo cerca de 3% entre 1969 e

    1986, o que levaria a um aumento das radiaes UV e consequente epide-

    mia de cncer. Tal concluso no foi unnime. Em 12 de fevereiro de 1988,

    a Revista Science publicou um interessante estudo de Joseph Scotto (1986),

    do Biostatistic Branch do National Cancer Institute dos EUA, que apresentou

    evidncia cientfica, provando que a quantidade de radiao UV-B que

    chegava superfcie dos EUA havia diminudo cerca de 7% entre 1974

    e 1985, o que, se comparado variabilidade dos ciclos solares (WILSON;

    MORDVINOV, 2003), tambm pode ajustar-se com tal dado. Ele se baseou

    em uma rede de leituras diretas, em estaes de monitoramento ao nvel

    do solo, com medidores Robertson-Berger, que detectaram variaes em

    declnio. Vale ressaltar que alguns dos dados hoje disponveis so inferidos

    a partir de fontes orbitais, o que implica, certamente, em alguma espcie

    de desvio.

    Os pesquisadores contrrios s proposies de Scotto afirmaram estar

    ele equivocado por no levar em considerao que a produo fotoqumica

    do oznio troposfrico, especialmente nas grandes cidades, ou outras

    substncias estivessem diminuindo a radiao pelo seu poder filtrante.

    Resultado, em outro nmero da mesma revista, Scotto diz que tal conta-

    minao urbana no dispersaria os UV-B e argumenta que em Mauna Loa

  • 166. GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178

    (Hawaii), lugar relativamente livre de qualquer contaminao, as anlises

    preliminares no mostraram qualquer aumento de radiao entre 1974 e

    1985. O resultado deste polmico debate foi: Scotto no pode mais continu-

    ar suas pesquisas e suas estaes foram fechadas, impossibilitando, assim,

    a continuidade no fornecimento de seus dados, o que acabou projetando-o

    no cone de sombra da cincia, especialmente sobre esta temtica.

    Nos diversos debates que sucederam esta polmica, Molina tentou

    explicar as reaes qumicas que levavam brusca queda dos nveis de

    oznio, mas um amplo conjunto de cientistas ainda contesta cabalmente

    as proposies dele, principalmente pelo fato de no explicar a origem

    do cloro em suas equaes, o que facilmente dedutvel pelos dados

    anteriormente mostrados.

    3.7. A radiao ultravioleta

    A radiao ultravioleta uma parte do espectro solar, e pode ser sepa-

    rada em trs partes: UV-A, 320-400 nm (nanmetros); UV-C, 320-280 nm;

    e UV-B,

  • GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178 .167

    UV. Soukharev (apud LUTGEN, 2006), pesquisadora da Universidade de

    St. Petersburgo por dcadas seguidas, no registrou mudana na radiao

    UV em estaes sob seu controle. Kelfens (2002), avaliando o efeito das

    mesmas radiaes, chega a concluses semelhantes.

    Ferreyra (2006, s/p) afirma, aps anlise de diversas fontes, que:

    Os valores tpicos de radiao global mdios so de ~300 watts/m2 em Buenos Aires; prximos de 100 a 150 watts/m2 na Terra do Fogo; e de ~100 Watts/m2 na Antrtida. Os nveis de radiao ultravioleta diretamente abaixo do buraco de oznio no alcanam a metade dos nveis de Buenos Aires no mesmo momento.

    De fato, sobre os dados e suas interpretaes, residem muitas con-

    trovrsias, mas um substancial nmero de cientistas afirma que muitas

    estaes de observao no esto detectando tal diminuio, apenas va-

    riaes estacionais ou associaes destas a fenmenos como manchas

    solares ou vulcanismo de larga proporo, como, por exemplo, o do Monte

    Pinatubo em 1991, que afetou o clima global por vrios anos, com reduo

    da temperatura. Neste contexto, novas indagaes podem ser feitas, no

    que tange aos motivos de base poltico-econmica que permanecem por

    trs de algumas ideias largamente expostas.

    3.8. A tentativa de controle do sistema climtico

    O sistema climtico global essencialmente um sistema no linear,

    cuja complexidade est ligada a fenmenos intrnsecos e extrnsecos pr-

    pria atmosfera. Os intrnsecos so bastante complexos, especialmente os

    ligados relao oceano-atmosfera, variao no padro de nuvens, albedo

    terrestre, emisses vulcnicas, entre outros. J os extrnsecos esto ligados

    a fenmenos de ordem astronmica, essencialmente ciclos de manchas e

    de ventos solares, variao da eclptica terrestre, oscilao do eixo, preces-

    so axial, entre outros fenmenos que interferem na dinmica climtica

    global, criando pulsos, ritmos e variabilidades em diferentes escalas. As

    respostas globais da tecnosfera s possveis ou provveis mudanas nas ca-

    ractersticas das emisses, especialmente na diminuio de gases do efeito

    estufa e outros reagentes com a camada de oznio, por exemplo, levariam

    dezenas a centenas de anos para uma possvel estabilizao (JAWOROWSKI,

  • 168. GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178

    1997 e 2007). Mesmo considerando uma provvel estabilizao, fato pouco

    admissvel diante das evidncias evolutivas e dinmicas do planeta, isto

    nada diz sobre sua resultante final: o retorno de condies geoambientais

    pr-industriais ou pretritas e, no mnimo, uma iluso lastreada sobre fatos

    que atentam contra postulados bsicos da termodinmica. As imensas

    alteraes no albedo terrestre realizadas no ciclo histrico da produo

    do espao, especialmente atravs da alterao do uso do solo, bem como

    o conjunto de fatores de ordem orbital, entre outros aspectos, no fazem

    parte do arcabouo de dados que circunstanciam o discurso majoritrio,

    criando, assim, um ambiente quase que totalmente hipottico. Neste caso,

    e, se somente levssemos em conta a dinamicidade presente na biosfera,

    tais mudanas tecnolgicas, como no caso dos CFCs, seriam de fato efi-

    cientes ao fim que se propuseram? A linearidade de tal ao-resposta

    evidente, e altamente improvvel em sua concretizao.

    Outro aspecto que corrobora com tal ideia associa-se s escolhas

    realizadas nos mtodos de calibrao dos modelos de previso, especial-

    mente na interface oceano-atmosfera (temperatura e transporte de calor),

    falhas na reproduo do ciclo hidrolgico, especialmente no que tange

    s propriedades das nuvens, entre outros fatores apontados por Molion

    (2010), Gerard (1989), Uriarte (2003), Barron (1989), Schlesinger (1989),

    entre outros. Estes modelos apresentam muitas conjecturas, sobre cenrios

    futuros, nos quais se trabalha com meras possibilidades que implicam em

    polticas pblicas e aes regulatrias de amplo alcance e que resultam

    em beneficirios poderosos.

    altamente aceitvel que se aplique o princpio da prudncia e da

    precauo como normativa direcionadora de polticas de alcance global,

    mas estas no podem basear-se no excesso de incerteza. Tais especulaes

    implicam em decises no mbito da esfera econmica, o que tem se re-

    vertido em fortes transformaes e inverses de capitais em escala global,

    o exemplo do banimento dos CFCs um caso emblemtico no impacto

    sobre a produo, a distribuio e royalties a ele vinculados. Os crditos

    de carbono ou os direcionamentos do MDL no Protocolo de Kyoto tambm

    caminham no mesmo sentido. A ttulo de exemplo acerca das incertezas

    propostas pelos modelos, vemos tratados, na figura 6, a reatividade do

  • GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178 .169

    sistema e o tempo de resposta a uma abrupta reduo na emisso de CO2 e as respostas das temperaturas, da expanso trmica dos oceanos e de

    sua elevao, graas fuso do gelo polar ou de outras reas.

    Figura 6RESPOSTAS DOS SISTEMAS AMBIENTAIS A UMA POSSVEL REDUO DE CO2

    Fonte: IPCC, 2005

    Nota-se claramente, neste hipottico exerccio de futurologia, que,

    mesmo na mais otimista das possibilidades, se as mudanas no mbito

    do sistema climtico global fossem possveis, estas levariam dcadas para

    o processo de adaptao, no caso de uma rpida e radical inibio das

    emisses de CO2. A resilincia do sistema ambiental no responde de

    pronto s torpes equaes matemticas ou balanos de economistas ou

    outros tcnicos de formao duvidosa que acreditam manipular um tubo de

    ensaio com reaes previsveis. Uma vasta gama de cientistas de renomada

    categoria reconhece os limites de determinadas aes e possibilidades de

    manipulao de sistemas complexos como o ambiental, mas afinal ainda

    nos perguntamos o porqu de to forte embate e que questes esto em

    jogo nestas distintas defesas.

  • 170. GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178

    4. Algumas implicaes polticas e econmicas

    Os elementos de ordem poltica e econmica sero aqui tratados

    mediante a apresentao de um conjunto de questionamentos sobre o tema.

    Iniciemos com o entendimento de como se distribui em grupos de pases,

    a produo dos compostos banidos e de seus substitutos e sua projeo de

    produo at 2015 (ver quadro 5).

    Quadro 5PRODUO DE AGENTES ESPUMANTES POR GRUPO DE PASES

    Agente espumante

    1990 (toneladas) 2000 (toneladas) 2015 (toneladas)

    Pases desenvolvidos

    Pases em desenvolv.

    Pases desenvolvidos

    Pases em desenvolv.

    Pases desenvolvidos

    Pases em desenvolv.

    CFCHCFCHFCHC

    1.532.0005.200

    01.150

    201.100000

    1.485.000841.0003.500

    178.400

    419.80040.450

    031.900

    1.031.450900.700588.000903.000

    196.600515.800

    150329.000

    Todos os agentes 1.538.350 201.100 2.507.900 492.150 3.393.150 1.041.550

    Fonte: IPCC, 2005, modificado

    Embora o quadro 5 mostre a produo apenas de agentes espumantes,

    as demais finalidades de uso dos compostos acompanham proporo se-

    melhante e mostram a disparidade gritante entre os dois grupos de pases.

    Obviamente, por esta simples mostra, poderamos refletir sobre o nus

    diferencial a ser arcado no sentido da mitigao do problema, se que ele

    existe e no processo de substituio tecnolgica forado pela proibio dos

    CFCs pelo protocolo de Montreal.

    A substituio dos antigos agentes refrigerantes txicos e inflamveis

    pelos CFCs data dos anos 1929, aps um rpido crescimento no seu uso.

    Por no ser inflamvel, corrosivo ou txico, em 1991 os CFCs foram defi-

    nitivamente acusados de viles do oznio. Seus substitutos, como HFC e

    PFC, chegam a ser 15 vezes mais caros e menos eficientes, como afirma

    Tazieff. As patentes dos substitutos esto ligadas DUPONT: um de seus

    principais acionistas, Edgar Bronfman, realizou significativas doaes

    a ONGs nos EUA. Ainda como enlace entre corporaes e ONGs, Peter

  • GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178 .171

    Melchett (herdeiro da Imperial Chemical Industries) diretor do Greenpeace

    na Inglaterra (FERREYRA, 2006).

    A partir dos elementos colocados, podemos refletir em vrias linhas,

    todas altamente imbricadas:

    Qual foi o custo da proibio do uso dos CFCs e como ele foi com-

    partilhado pelas vrias naes signatrias?

    Quanto seria o lucro das empresas detentoras das patentes dos subs-

    titutos aos CFCs?

    Por que foi recentemente comemorado o fim do problema, se a vida

    til das molculas de CFCs so relativamente longas?

    O prprio F. Sherwood Rowland afirmou categoricamente que a im-

    plementao do Protocolo de Montreal (1987), se cumprido na ntegra e

    mantidos os nveis de outras emisses, apenas aproximadamente em 2050

    poderia proporcionar uma atmosfera tal qual Lovelock encontrou em 1970.

    Dada a longa vida til e a instabilidade dos compostos, como seria possvel

    comemorar o fim do buraco da camada de oznio em to pouco tempo?

    Quais so de fato as vinculaes entre a cincia, os cientistas e a econo-

    mia nesta questo? Embora muitas questes mais possam ser elaboradas,

    acreditamos que estas pem alguma reflexo sobre o tema.

    5. Variabilidade da radiao na Bahia e outras relaes

    Uma primeira aproximao em relao a observaes nos sistemas de

    dados produzidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET, 1998) e

    em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, 2006), entre

    outras fontes, pode levar a inferir que o Estado da Bahia, especialmente

    o Oeste Baiano, sofreu significativas variaes no que tange a radiao

    mdia anual tpica analisada para os anos de 1985-1986 a 1995. Tal variao

    encontra uma profunda correlao com os ndices de Oscilao Decanal

    do Pacifico (ODP), o qual afeta inmeros sistemas atmosfricos, conforme

    explicado por Molion em inmeros artigos cientficos. O desvio da ODP

    prximo zero apresenta comportamento semelhante normal das mdias

    anuais para o posto Barreiras para os anos-chave indicados. Tal observao

  • 172. GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178

    acerca desta variao dever ser submetida futuramente a um conjunto

    de anlises especificas, a fim de validar estas correlaes.

    Na mesma comparao para os dados de manchas solares a partir de

    informaes de Wilson e Mordvinov (2003), Molion (2006), Uriarte (2003)

    entre outros autores, v-se outro claro alinhamento de relaes entre os

    dados anteriores e os ndices de insolao media total global a partir de

    dados do IPCC.

    Compreendendo o conjunto de relaes a partir de uma concepo

    integrada em sistemas complexos de respostas, podemos realizar algumas

    aproximaes, nas quais observamos tendncias de respostas similares

    positivas ou negativas na variao dos sistemas ou nas tendncias para as

    condies climticas em escala regional.

    Estudos na variao do ndice normalizado de vegetao, em reas

    que apresentam um comportamento mais ou menos constante em termos

    de uso do solo, devem indicar possveis correlaes com os dados obtidos

    em escala global. Tais conjecturas em vias de validao devero mostrar

    profunda correlao entre as respostas destes diferentes sistemas.

    6. Observaes finais

    Existem os equvocos provocados pelos limites da cincia e da tcnica

    em se compreender algumas questes, seja por se constituir em novos

    campos da cincia, ou por tratar-se de fenmenos desconhecidos de eleva-

    da complexidade, sinergia e aleatoriedade, o que implica em limitao de

    compreend-los e mensur-los adequadamente. Para tais limites, apenas o

    avano da cincia pode permitir novas leituras ou, como querem os mais

    precavidos, novas aproximaes. O modelo atmico, os processos de

    evoluo da vida e do planeta so bons exemplos, nos quais o avano da

    cincia ps fim a muitas dvidas e tambm criou outras novas. Por outro

    lado, o uso da cincia como linguagem de manipulao traz retrocessos

    sem igual, pois no elucida as verdadeiras causas dos fenmenos e impe

    uma lgica de aes sem efeitos concretos sobre o que se prope resolver.

    Esta falta de eficincia de objetivos leva a prejuzos e perda de tempo.

  • GeoTextos, vol. 7, n. 2, dez. 2011. M. Tomasoni. 141-178 .173

    A questo das transformaes dos sistemas ambientais inevitvel, e s

    com diagnsticos de qualidade que poderemos realizar uma adaptao

    que d respostas adequadas e eficientes, no sentido de mitigar inevitveis

    custos socioambientais que ainda esto por vir.

    Acreditamos que o parco, mas diverso, conjunto de informaes que

    apresentamos, sobre a problemtica dos CFCs, torne possvel repensar

    algumas ideias sobre o tema, abrindo, assim, um campo de questiona-

    mento, para tantos problemas evidenciados em alguns dos paradigmas

    ambientais modernos. Outro aspecto importante desta temtica que ela

    demonstra a necessidade do raciocnio interdisciplinar para sua compre-

    enso, necessitando exercitar dilogos com vrias reas do conhecimento,

    especialmente na compreenso de uma geografia fsica global, pois esta

    possui os requisitos necessrios a uma viso mais totalizante das atuais

    questes que esto postas.

    Nota

    1 Um (1) DU a medida em unidades de centsimos de milmetro, que a coluna de oznio poderia ocupar com temperatura e presso padres (273oKelvin e 1 atmosfera).

    2 Linhas que unem pontos de igual presso atmosfrica, medidas em milibares (Mb) ou em milmetros mercrio (mm/Hg).

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    Recebido em: 02/11/2011

    Aceito em: 14/11/2011