"Mulher: Essa palavra de luxo": Políticas e poéticas da crítica feminista
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8/17/2019 "Mulher: Essa palavra de luxo": Políticas e poéticas da crítica feminista
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"Mulher: Essa palavra de luxo": Políticas e poéticas da crítica feminista
A crítica contemporânea e seus espaços de produção, bem como os novos
sujeitos e sujeitas que esse frequentam, parecem cada vez mais ferozmente
interessados nas tensões colocadas dentro desse campo, mimetizando-as enquanto
"questões" ou, ainda, em alguns casos tomando-os por "crises", mesmo que essas
j e!istam a um longo tempo fora das suas margens #entro dessa variada gama
dos temas de interesse e curiosidade $ devido a uma s%rie de elementos
perpassados desde motivos econ&micos ' intelectuais $, começou-se a destinar
atenção no que tange o g(nero feminino, sua presença e representação#entro da
teoria crítica esse t(m galgado relativo espaço) reconstituir genealogias autorais,
organizar confer(ncias acerca do tema, republicar autoras, coloca-las em
programas de disciplina, parecem plataformas na ordem do dia em diversas
instituições de ensino
*esmo com esse interesse pelas "questões de g(nero", contudo, o se!o
feminino encontra-se permeado pelo sil(ncio, apagamento e, em alguns casos, da
pr+pria usurpação de voz dessas sujeitas por outr%m A título de curiosidade, por
e!emplo, tem-se alguns casos e!plícitos ocorridos nos ltimos cinco anos que
sinalam essa realidade) no artigo Os dilemas da crítica literária contemporânea,
organizado por aqueu .ogaça, publicado em /etembro de 0123, foram
convidados tr(s te+ricos e pesquisadores para opinar sobre quais seriam esses
desafios e o grau dos mesmos, nen4um desses, contudo, era mul4er 5m
Formación de la poeísa brasileña: 1945-2008, compilado realizado por 6ristian
de 7poli para o #irio de 8oesía de 9uenos Aires, em 011:, dos dez poetas
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selecionados, apenas tr(s eram mul4eres $ Ang%lica .reitas, *arílai ;arcia e
parece que em ?@ anos de produção literria brasileira
praticamente ine!istiram escritoras em solo nacional mesmo problema %,
ainda, apontado por
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colocação semântica da palavra "representação"> dividindo o termo em
+"etrb!n,+ e +darlest!n,+ que seriam, respectivamente, falar por algu%m, ou
representar algu%m na arte, filosofia, etc, essa percepção % de e!trema importa
porque sinala a possibilidade de emular lugares discursivos bem como projetar
sujeitos universais ao realizar analises da sociedade
A autora sistematiza esse processo com o conceito de "viol(ncia
epist(mica", por gerar a virtualidade de pessoas que, por sua vez, e!istem
concretamente 5sse seria, ainda, um mecanismo utilizado pela crítica presente no
cidente que gera, mesmo ao questionar a realidade, manter o s!eito, sendo
portanto colaboradora, em dada medida, das pr+prias opressões gerados por esse>
desde os mar!istas aos p+s-estrururalistas Aponta, ainda, a posição equivocada
dos te+ricos em situar-se enquanto analistas e int#rpretes não apenas do mundo,
mas de seus indivíduos)
te+rico não representa Cfala porD o grupo oprimido CD sujeito não %
visto como uma consci(ncia representativa Cuma consci(ncia que re-
representaD a realidade adequadamente Cp@0D
.a-se necessrio, portanto, primeiramente, observar os pr+prios sistemas
ideol+gicos e m%todol+gicos de anlise empregados dentro da produção crítica
te!tual> de que forma se l( o mundoE que est nas entrelin4as dessa leituraE A
que e quem servem os paradigmas te+ricos aplicadosE #esdobrando esses
mesmos tensionamentos c4ega-se, inclusive, em questões referentes 's políticas
construídas das mul4eres e para 's mul4eres) em que medida essas, ao utilizar-se
de mecanismos do universo patriarcal masculino não reforçam, e!cluem e
tabulam outras mul4eres em um mesmo paradigmaE Acerca disso Fununa
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*ercado oferece uma grande contribuição ao fim de seu ensaio .l /iempo de !na
$o#tica Feminista)
6olocarse en el lugar del sujeto de la enunciaci+n detentado por el 4ombre noera sin embargo transformar el modelo, era s+lo mimetizarse con una manera
G un instrumento Hablaba una mujer, 4ablaba por todas, pero acceder al uso
de la palabra por 4aber subido el volumen no era darse estrictamente un
discurso, cuanto ms era, G es, reivindicar un lugar, decir aquí estoG G estas
son mi denuncia G mi demanda Hicimos, pues, política I el aprendizaje
e!igi+ arduos ejercicios de concentraci+n) ante el espejo, en la soledad del
cuarto propio o an ajeno, el discurso privado se resistía a devenir político
Hablar en pblico es desoír el llamado a silencio pero es tambi%n aceptar las
condiciones autoritarias del juego político JmasculinoK) 4ablar ms fuerte,
interrumpir, ec4ar rollo, bajar línea, atribuirse ser la voz de las 4umilladas,
JconcientizarK por creerse ms conscientes, 4acer callar al otro o a la otra con
repeticiones G redespliegues de seducci+n-dominaci+n, cautivar auditorios,
ganar espacios de grandes G pequeLos poderes, penetrar las bases, robar los
talentos ajenos, figurar, fascinarse con la política, mimetizar con los políticos,
etc%tera, etc%tera Cp10D
/em grandes pretensões de não incorrer em nen4uma dessas viol(ncias
te+ricas, mas, assumindo o lugar de fala da mul4er universitria, e o intento de auto-
policiar-se, pode-se, aqui, c4egar ao segundo elemento significativo para o presente
ensaio) o lugar do sil(ncio ocupado pelas mul4eres, tema amplamente abordado,
discutido, apropriado, e, possivelmente consensual A realidade do silenciamento deu-
se, 4istoricamente, em diversos âmbitos> das sociedades gregas com suas leis
restringindo a presença feminina nos espaços pblicos 's sociedades contemporâneas
perpassadas pela viol(ncia se!ista que restringe $ de maneira informal $ o 4orrio e
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locais de circulação feminino, foi-se alicerçando e cercando o espaço e formas de
convívio feminino para o âmbito dom%stico, privado, e!cluído da vida pblica)
6asa e rua são dois termos repletos de significados, mas que semprecarregam uma oposição Mm desses significados opostos % o de ser a casa
espaço privado e o de ser a rua espaço pblico CD o espaço pblico, um
espaço coletivo, simbolizado tanto pela praça N a piaa italiana ou
a á,ora grega N como pela rua> Je!pressões espaciais da esfera pblica OP
CqueD representam a concepção arquitet&nica do espaço pblicoK por serem
locais onde, teoricamente, todas as pessoas, sem distinção, podem livremente
se reunir e trafegar2
/endo o sil(ncio uma prtica sistemtica da sociedade patriarcal para com o
g(nero feminino, a narrativa de si mesmo, o falar de si, sobre si, analisar a situação, não
pode ocorrer de maneira clssica> as estrat%gias discursivas femininas ocorrem longe do
campo clssico da crítica, ou da escritura em g(neros considerados elevados)
/ilenciosa porque seu acesso ' fala nasceu no coc4ic4o e no sussurro, para
desandar o microf&nico mundo das verdades altissonantes Fão calada e
lateral foi sempre sua relação com a marcialidade dos discursos estabelecidos
CD0
5sse sil(ncio marca a prtica de sociabilidade feminina, que, pelo sussuro, coc4ic4o,
constr+i, "borda", sua pr+pria 4ist+ria, reproduzindo, inclusive, na produção est%tica $
2 9QA7#R, Helena 6âmara Sac%, *Q5TQA, Angela ' "aranda como espao pri"ado e espao pblico no ambiente da casa in) Uitruvius Arquite!tos 21013 Ano 1V, nov 011: #isponível em)4ttp)WWvitruviusesWrevistasWreadWarquite!tosW1V210WVX
0 /FAT., 5va 3ordado e ost!ra do /e(to p12 #isponível em)
4ttp)WWdtllcfflc4uspbrWsitesWdtllcfflc4uspbrWfilesW=amenszainY9ordadoZ01eZ01costuraZ01doZ01te!topdf
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quando realiza essa $ essas características, como demonstra Ana 6ristina 6esar durante
confer(ncia realizada na .aculdade da 6idade, em 2V:@)
*ul4er, na 4ist+ria, começa a escrever por aí, dentro do âmbito particular, dofamiliar, do estritamente íntimo *ul4er não vai logo escrever para o jornal
Historicamente, s%culos passados, quando a mul4er começa a escrever numa
esfera muito familiar 5 a gente começava a escrever tamb%m numa esfera
muito familiar Fodo mundo ter essa e!peri(ncia @
/e e!iste um lugar de fala feminino, distinto do masculino, novas questões
surgem) seria esse loc!s tão prestigiado quanto o do g(nero opostoE A tradição
acad(mica ocidental, do te!to, relato escrito, te+rico, pelo contrrio, realizou
4ist+ricamente um esforço grande em situar as prticas orais em patamar mais bai!o,
sendo reduzidas 's atividades anteriores ' da civilização moderna A literatura e
con4ecimento oral tornaram-se mat%ria mítica, folcl+rica, sem valor científico, são
formas pr#-istóricas dentro do entendimento ocidental de Hist+ria, esse mesmo
processo ocorre nos países africanos p+s-colonialismo onde, a cultura e!istente at%
então, perde completamente seu estatuto e se v( obrigada a plasmar-se nas formas
escritas-discursivas europ%ias 6oloca-se, então, o desafio acad(mico de valorização
dessas distintas formas presentes no g(nero do dirio, biografia, mas, tamb%m na
oralidade e as formas de trabal4o e anlise dessas, mat%ria pouco discutida A crítica
literria feminista precisa preocupar-se com esse seu material de estudo e estatuto, de
forma distinta continua a prtica de falar desde um nico indivíduo por muitos
As instituições escolares presentes na sociedade capitalista, por sua vez, tamb%m
repete e reproduz as estruturas sociais sendo, por vezes, e!cludente e elitista$ nos seus
@ 6[/AQ, Ana 6ristina "5scritos no Qio" in) 6rítica e tradução /ão 8aulo) \tica, 2VVV p 0X]
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#ado a comple!idade e pluralidade das questões, tensões e problemas que perpassam a
crítica feminista %, praticamente, impossível encontrar uma no"a saída para essa antiga
"sinuca de bico", ou para as "provocações" acad(micas que vez ou outra eclodem $
que se reconstrua genealogias, que se insira nos programas acad(micos, que se
questiona os lugares de fala, saídas essas decoradas e repetidas, mas que, seguem
insuficientes $onde e quem quer que escreva ou estude o tema dei!a em aberto,
suspendendo a saída final 8arece, contudo, que o desfec4o encontra-se mais perto da
porta de entrada do que parece) não estaria, em verdade, na pr+pria crítica e suas
formulações a raíz tanto da e!clusão e apagamento, quanto da possibilidade de voz,
visto que % essa que, propriamente, a instauraE
título aqui escol4ido para o presente ensaio 7!ler: essa pala"ra de l!(o foi
retirado de um artigo com mesmo nome produzido nos anos de 2V]V pela poeta,
professora e tradutora Ana 6ristina 6esar para o adernos de iterat!ra e .nsaios da
9rasiliense, nesse, atrav%s de um compilado e da apresentação de duas poetas distinta
$ 6ecília *eireles e Henriqueta Sisboa $, reconstr+i o imaginrio tanto do cotidiano
quanto erudito da produção feminina 5, se o mesmo foi a g(nese do ensaio, creio que
apenas o mesmo possa arremat-lo) ' ,ente tem %!e )alar a ,ente tem mais # %!e )alar
Falar n!nca # a "erdade e(atamente mas a ,ente tem %!e )alar )alar )alar )alar )alar
)alarpara abrir a breca
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Bibliografia
9QA7#R, Helena 6âmara Sac%, *Q5TQA, Angela ' "aranda como espao pri"ado e espao pblico no ambiente da casa in) Uitruvius Arquite!tos 21013 Ano1V, nov 011: #isponível em) 4ttp)WWvitruviusesWrevistasWreadWarquite!tosW1V210WVX
6[/AQ, Ana 6ristina "5scritos no Qio" in) 6rítica e tradução /ão 8aulo) \tica, 2VVV
*5Q6A#, Fununa .l tiempo de !na poetica )eminista #isponível em)
4ttp)WWdtllcfflc4uspbrWsitesWdtllcfflc4uspbrWfilesW*5Q6A#Y5lZ01tiempoZ01deZ01unaZ01poZ6@ZAVticaZ01feministapdf
YYYYYYYYYYYYYYYY a s!per)icie p!lida #isponível em)4ttp)WWdtllcfflc4uspbrWsitesWdtllcfflc4uspbrWfilesW*5Q6A#YSaZ01superficieZ01pulidapdf
/8TUA=, ;aGatri $ode o s!balterno )alar* #isponível em)4ttps)WWjoaocamillopennafiles_ordpresscomW012@W21WspivaB-pode-o-subalterno-falarpdf
/FAT., 5va 3ordado e ost!ra do /e(to p12 #isponível em)4ttp)WWdtllcfflc4uspbrWsitesWdtllcfflc4uspbrWfilesW=amenszainY9ordadoZ01eZ01costuraZ01doZ01te!topdf
^S.,Uirginia 6m teto todo se! #isponível em)4ttp)WWbrasilindGmediaorgWmediaW011]W22W310]VVpdf