MÚLTIPLAS ÁGUAS, MÚLTIPLOS USOS. GERENCIAMENTO E … · entrevistadas 8 famílias de mulheres...

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1 ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015 www.revistascire.com.br MÚLTIPLAS ÁGUAS, MÚLTIPLOS USOS. GERENCIAMENTO E IMPACTO AMBIENTAL 1 FERNANDES, F.L.S. 2 GOMES, I. 3 SILVA, T.J -UEPB/CCBS 4 CEBALLOS, B.S.O UEPB/CCBS/Biologia. 1,2,3 Alunas(o) curso de Biologia 1 [email protected] 2 [email protected] 3 [email protected] 4 Professor Orientador do curso de Biologia[email protected] RESUMO: Objetivou-se estudar em uma comunidade do semiárido paraibano sem água potável, a origem e o gerenciamento das múltiplas águas destinadas a múltiplos usos (beber, gasto no lar, na agricultura familiar, na produção de cerâmicas, entre outros), analisar a percepção da qualidade dessas águas pelos usuários e dos eventuais riscos à saúde e dos impactos dos usos exploratórios da água, solo e vegetação que afetam a capacidade suporte do ecossistema. O trabalho foi desenvolvido na comunidade Chã da Pia (Areia/PB). Foram entrevistadas 8 famílias de mulheres agricultoras e ceramistas ou loiçeiras(24 % do total da polução de loiceiras locais). A agricultura é praticada na época chuvosa e na estiagem produzem louças de barro. Ambas as atividades incluem vendas dos excedentes e renda para a família. As duas são prejudicadas pela estiagem prolongada, quando as águas transportadas pelos carros carros-pipas têm distribuição limitada. Essas águas têm origens e qualidades diferentes (água potável da operação pipa; tratadas ou de açudes fornecidas pelas prefeituras e de origem desconhecido as distribuídas pelos pipeiros” particulares). O gerenciamento mostra praticidade: cisternas do Programa um Milhão de Cisternas P1MC/ASA ou similares armazenam a água entregue pelos caminhões-pipa. As cisternas melhor conservadas aprovisionam água potável, aquelas sem boa manutenção, água para usos gerais. Algumas contem águas misturadas, indicando falta de percepção/associação da qualidade com riscos à saúde. A extração de barro a três ou quatro palmos de terra para obter “o barro da loiça” e o corte de plantas para produzir lenha para a queima das louças exerce forte impacto ambiental no solo, nas plantas, ao atingir as raízes e por desmatar áreas extensas de amorosa (Mimosa) e marmeleiro (Croton sp), preferidas pela sua queima lenta, apropriado para a cocção das cerâmicas. As entrevistadas negaram exercer impactos no ambiente ou não fizeram comentários. A saúde das ceramistas (idade 47-67anos) é afetada pela postura (cócoras) e manuseio do lodo. Tem duvidas ou não consideram riscos à saúde o manejo de águas de qualidades diferentes, declaram que sempre foi assim e que não aumentam as doenças de veiculação hídrica. Ocorre hierarquização entre as loiceiras: a) as que vendem suas peças cruas para outras queimarem; b) as que compram as peças cruas, produzem as próprias, queimam e vendem com preços 100% mais altos aos da compra; c) as que somente queimam por possuir lenha e cobram pela cocção d) as que queimam, compram a lenha e pagam pela cocção. A venda nas feiras livres ou nas feiras de artesanato rende até R$600/mês. O relacionamento entre as categorias de loicieras” gera tensões sociais e pode ser a causa da maioria optar pelo trabalho artesanal individual em casa versus cooperativo em ambientes comunitários. Essas tensões poderiam dificultar também intervenções futuras para desenvolver ações de educação ambiental e de tecnologias sociais complementares relacionadas com a disponibilidade de água. As múltiplas águas podem ser aumentadas e melhor aproveitadas com tecnologias alternativas não existentes nessa comunidade como cisternas calçadão e barragens subterrâneas, facilitando os múltiplos usos nas estiagens. Palavras-Chave: múltiplas águas, múltiplos usos, sustentabilidade ambiental, semiárido. ABSTRACT: It was studied in a Paraiba’s semiarid community without drinking water services, the origin and the management of multiple waters and their multiple uses (drinking, cleaning the houses, family farming and at the ceramics production), analyzed the perception of water quality by users and possible risks to health and the impacts of the explorations of water, soil and vegetation, affecting the ecosystem environmental sustainability. The study was conducted in Chã da Pia community (Areia/PB). Eight families were interviewed, with womem dedicated to agriculture activities and with the production of pottery (24% of potters community). Agriculture is the pricipal activity in the rainy season, during the dry season ceramic produtions is more important. Both activities include sales of surplus and income for the family. Both activities are impaired by prolonged drought, the water comes from trucking what limits the amount used. Those waters have differents origins and qualities (drinking water from tanker truks operation, treated or not provided by municipalities and from unknown source distributed by individual pipeiros). The management shows practicality: cisterns from the Program One Million Cisterns - P1MC/ASA or similar store good quality water delivered by tanker trucks. Cisterns that are

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www.revistascire.com.br

MÚLTIPLAS ÁGUAS, MÚLTIPLOS USOS. GERENCIAMENTO E

IMPACTO AMBIENTAL

1FERNANDES, F.L.S.

2GOMES, I.

3SILVA, T.J -UEPB/CCBS

4CEBALLOS, B.S.O –UEPB/CCBS/Biologia.

1,2,3

Alunas(o) curso de Biologia – 1

[email protected] 2 [email protected]

[email protected]

4 Professor Orientador do curso de Biologia– [email protected]

RESUMO: Objetivou-se estudar em uma comunidade do semiárido paraibano sem água potável, a origem e o

gerenciamento das múltiplas águas destinadas a múltiplos usos (beber, gasto no lar, na agricultura familiar, na

produção de cerâmicas, entre outros), analisar a percepção da qualidade dessas águas pelos usuários e dos

eventuais riscos à saúde e dos impactos dos usos exploratórios da água, solo e vegetação que afetam a

capacidade suporte do ecossistema. O trabalho foi desenvolvido na comunidade Chã da Pia (Areia/PB). Foram

entrevistadas 8 famílias de mulheres agricultoras e ceramistas ou “loiçeiras” (24 % do total da polução de

loiceiras locais). A agricultura é praticada na época chuvosa e na estiagem produzem louças de barro. Ambas as

atividades incluem vendas dos excedentes e renda para a família. As duas são prejudicadas pela estiagem

prolongada, quando as águas transportadas pelos carros carros-pipas têm distribuição limitada. Essas águas

têm origens e qualidades diferentes (água potável da operação pipa; tratadas ou de açudes fornecidas pelas

prefeituras e de origem desconhecido as distribuídas pelos “pipeiros” particulares). O gerenciamento mostra

praticidade: cisternas do Programa um Milhão de Cisternas –P1MC/ASA ou similares armazenam a água

entregue pelos caminhões-pipa. As cisternas melhor conservadas aprovisionam água potável, aquelas sem boa

manutenção, água para usos gerais. Algumas contem águas misturadas, indicando falta de percepção/associação

da qualidade com riscos à saúde. A extração de barro a três ou quatro palmos de terra para obter “o barro da

loiça” e o corte de plantas para produzir lenha para a queima das louças exerce forte impacto ambiental no solo,

nas plantas, ao atingir as raízes e por desmatar áreas extensas de amorosa (Mimosa) e marmeleiro (Croton sp),

preferidas pela sua queima lenta, apropriado para a cocção das cerâmicas. As entrevistadas negaram exercer

impactos no ambiente ou não fizeram comentários. A saúde das ceramistas (idade 47-67anos) é afetada pela

postura (cócoras) e manuseio do lodo. Tem duvidas ou não consideram riscos à saúde o manejo de águas de

qualidades diferentes, declaram que sempre foi assim e que não aumentam as doenças de veiculação hídrica.

Ocorre hierarquização entre as loiceiras: a) as que vendem suas peças cruas para outras queimarem; b) as que

compram as peças cruas, produzem as próprias, queimam e vendem com preços 100% mais altos aos da compra;

c) as que somente queimam por possuir lenha e cobram pela cocção d) as que queimam, compram a lenha e

pagam pela cocção. A venda nas feiras livres ou nas feiras de artesanato rende até R$600/mês. O relacionamento

entre as “categorias de loicieras” gera tensões sociais e pode ser a causa da maioria optar pelo trabalho artesanal

individual em casa versus cooperativo em ambientes comunitários. Essas tensões poderiam dificultar também

intervenções futuras para desenvolver ações de educação ambiental e de tecnologias sociais complementares

relacionadas com a disponibilidade de água. As múltiplas águas podem ser aumentadas e melhor aproveitadas

com tecnologias alternativas não existentes nessa comunidade como cisternas calçadão e barragens subterrâneas,

facilitando os múltiplos usos nas estiagens.

Palavras-Chave: múltiplas águas, múltiplos usos, sustentabilidade ambiental, semiárido.

ABSTRACT: It was studied in a Paraiba’s semiarid community without drinking water services, the origin and

the management of multiple waters and their multiple uses (drinking, cleaning the houses, family farming and at

the ceramics production), analyzed the perception of water quality by users and possible risks to health and the

impacts of the explorations of water, soil and vegetation, affecting the ecosystem environmental sustainability.

The study was conducted in Chã da Pia community (Areia/PB). Eight families were interviewed, with womem

dedicated to agriculture activities and with the production of pottery (24% of potters community). Agriculture is

the pricipal activity in the rainy season, during the dry season ceramic produtions is more important. Both

activities include sales of surplus and income for the family. Both activities are impaired by prolonged drought,

the water comes from trucking what limits the amount used. Those waters have differents origins and qualities

(drinking water from tanker truks operation, treated or not provided by municipalities and from unknown source

distributed by individual “pipeiros”). The management shows practicality: cisterns from the Program One

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best preserved provide supplies drinking water, those without proper maintenance, water for general purposes.

Some contain mixed waters, indicating lack of awareness/quality associated with health risks. The extraction of

clay is from three or four feet down to get "the dish of clay" and the vegetation cutted for firewood for burning

the dishes has a strong environmental impact by reaching plant roots and deforest large areas of “Mimosa” and

“Croton sp”, preferred for their slow-burning and appropriate heat to the cooking of the ceramics. The

interviewees denied causing impacts on the environment with these activities or declined to comment. Hierarchy

was observed at potters work: a) "loiceiras" selling raw their production for other burns; b) those that buy the

raw ceramics, produce their own, they burn all and sell at prices 100% higher; b) those that only burn for having

firewood and charge for cooking. Each loiceira produces on average 20-60 pots/week. The sale in a popular

market, yields up to R$ 600/month. The relationship between the "categories of loicieras" generates social

tensions and can be the cause for them to choose individual craft work at home insted of cooperative in

community settings. These tensions could complicate future interventions on the development of the

environmental education and the introduction of complementary social technologies related to water availability.

The health of potters (age 47-55anos) is affected by posture (squatting) and sludge handling. They don’t consider

the management of the several qualities of watera as a health risk; they state that it has been like that and it does

not increase waterborne diseases.

Keywords: multiple waters , multiple uses, environmental sustainability , semiarid.

INTRODUÇÃO

O uso sustentável dos recursos hídricos acompanhando o ciclo natural é ainda um

grande desafio por ser uma questão que perpassa por aspectos diversos das sociedades

humanas: a percepção e sensibilização frente ao problema, as condições sócio-econômicas-

culturais e mudanças paradigmáticas. No nordeste a vulnerabilidade hídrica regida pelas

chuvas concentradas em poucos meses do ano (quatro a seis meses) com períodos

intermediários secos imprevisíveis (veranicos), foi fundamental, ao longo da história do

Brasil, para difundir a imagem distorcida do semiárido, visto como um lugar árduo, de vida

difícil, castigado pela seca e associado às imagens de animais mortos pela sede, terra rachada,

mulheres grávidas e crianças de barriga inchada em longas caminhadas na busca de água

(SANTOS et al, 2012). Mas, a convivência se torna possível pelo conhecimento profundo e às

vezes intuitivo dos recursos e adaptabilidade dos homens que convivem desde séculos com as

dificuldades do ambiente. Em certos casos, esse conhecimento assume a forma de uma

sabedoria profunda e detalhada e revela intimidade com a dinâmica espaço-temporal dos

componentes da natureza (AB'SABER, 1999). Esses conhecimentos, unidos a

desenvolvimentos tecnológicos simples que resgatam o saber popular ou étnico, podem gerar

condições de estabilidade ainda nas secas extremas.

O próprio nordeste é um exemplo. Desde vários anos atrás ocorre uma ressignificação

da região, de espaço inviável a espaço viável, onde as populações vivem e produzem; tem-se

buscado valorizar os potenciais ecológicos e culturais locais a partir do paradigma da

(com)vivência com o semiárido (SANTOS et al, 2013). Para Malvezzi (2007), a

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(com)vivência passa pela compreensão do clima e a adequação a essa realidade. Necessita-se

interferir no ambiente considerando sua capacidade suporte que, embora frágil, “tem riquezas

surpreendentes”, ao dizer do mesmo autor.

O Sistema de Gestão da Informação e do Conhecimento do Semiárido Brasileiro do

Instituto Nacional do Semiárido – INSA- (Sigsab, 2015) mostra que a população do semiárido

atingiu, em 2014, a quantia de 23.846.982 habitantes; destes 3,4 milhões recebem bolsa

família, o PIB per capita é de 6.520,35, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é baixo

em 59,5% dos municípios (0,5 a 0,599), médio em 39,21 % (0,6 a 0,69) e alto em 0,7 % (0,7 a

0,799). Possui 1,7 milhões de estabelecimentos agropecuários dos quais 89% são de

agricultura familiar, se cria em média 34,4 milhões de animais de porte (53% gado bovino,

25% ovino e 21%caprino, evidenciando a boa convivência com o semiárido. Na atualidade,

após de quase quatro anos de seca, a reservas hídricas comportam apenas o 29% do total da

capacidade de acumulação de seus açudes e secaram outras fontes que comprometem o

conjunto dessas essas atividades.

A convivência exige atenção especial às ações humanas e as possibilidades

tecnológicas. As ações antrópicas que exercem impactos predatórios no ambiente afetando

sua capacidade suporte ou sustentabilidade devem ser mudadas e eliminadas. São exemplos o

uso não planejado do solo e da água na produção agrícola e o desmatamento para criação

animal extensiva, corte descontrolados de árvores e matas na produção de carvão e lenha,

exploração de pedras e minerais e extração de terra e barro na produção de tijolos e telhas em

nível industrial e em escala familiar para a construção de moradias e na manufatura de peças

utilitárias de barro (panelas, fogareiros, tigelas, entre outras), as “loiças”, no dizer nordestino.

Os danos produzidos em menor escala não são percebidos, em geral, pelos autores que os

incorporam na sua paisagem cotidiana; outros os justificam como “uma poluição inevitável

frente à pobreza e as necessidades básicas das comunidades carentes e dispersas”, sem

considerar possíveis alternativas tecnológicas que integrando as culturas tradicionais podem

ser sustentáveis e preservem o ambiente, ou seja, trata-se de tecnologias sociais. Estas são

propostas inovadoras de desenvolvimento com participação ativa da comunidade desde a

organização, o desenvolvimento e sua implementação. Abrangem produtos, técnicas ou

metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação comunitária e tornam-se soluções de

transformação social. São soluções coletivas para demandas extremamente diversas, como

água, alimentos, renda, educação, habitação, saúde, meio ambiente, dentre muitas outras

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(FBB, 2015). A percepção e apreensão do ecossistema pela comunidade são essenciais para

sua conservação e uso equilibrado em pro da saúde do ambiente, das pessoas e da

sobrevivência de todos (ALBUQUERQUE, 2007).

Dentre as tecnologias sociais para o semiárido, as cisternas do Programa Um Milhão

de Cisternas (P1MC) da ASA ou similares, são exemplos de simplicidade e ampla aceitação

por terem sido criadas e discutidas amplamente com os futuros usuários, desde o lançamento

do programa, em 2003 (GOMES et al, 2015; ASA, 2005). Na seca atual, as cisternas são

usadas para armazenar as águas distribuídas pelos caminhões pipa e, se complementadas com

outras tecnologias sociais, permitiriam garantir infraestrutura hídrica suficiente para reservar

água da chuva para passar longas épocas secas com menor vulnerabilidade pela falta de água,

satisfazendo o consumo humano, a produção de hortaliças e a criação de animais de pequeno

porte e outras atividades como a produção de loucas, fonte importante de renda nas famílias

de Chã da Pia e diversas outras comunidades.

OBJETIVOS

Objetivaram-se estudar, em comunidades de agricultores e ceramistas (“loiceiras”) do

semiárido paraibano, as origens, formas de armazenamento e usos múltiplos de águas de

fontes diversas empregadas em numerosas atividades; conhecer as tecnologias disponíveis de

armazenamento de água, fundamentais para segurança alimentar e hídrica no meio rural,

analisar a percepção dos usuários sobre eventuais impactos e riscos de usos exploratórios

sobre o ecossistema (água, solo e vegetação) que afetam a sustentabilidade do ambiente onde

vivem e obtém seu sustento e sobre sua saúde e avaliar a viabilidade de possíveis intervenções

futuras para desenvolver ações de educação ambiental e de aplicação de tecnologias sociais

complementares relacionadas com a disponibilidade de água.

METODOLOGIA

Local do estudo. O trabalho foi desenvolvido na comunidade rural Chã da Pia,

município de Areia-PB, extremo oriental do planalto da Borborema (latitude 6°54’15’’e 6o

55’6” S; longitude 35o 46’39’’e 35

o 47’41” O), área de transição entre o brejo e o agreste.

Com altitudes entre 484 e 552m e relevo ondulado a suavemente ondulado, apresenta

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depressão central rochosa denominada “Pia” por acumular água. O clima é de agreste, com

média anual de 700 – 800 mm de precipitação pluviométrica. Predomina vegetação de

caatinga hiperxerófila. Universo amostral: foi constituído de 8 famílias de agricultores(as)

que fazem cerâmicas utilitárias artesanais (“as loiceiras”). A amostra representa 24% total das

“loiceiras de Chã da Pia”. Essa comunidade foi escolhida pela diversidade de usos da água, e

por ser, a maioria das famílias, de agricultores que incluem a produção de loucas de barro em

quantidade diversas, mantendo a produção no contexto da família com técnicas ancestrais

transferidas de pais para filhos. Etapas da Pesquisa: 1) Pesquisa bibliográfica; 2)

Momentos de Aproximação: primeiros contatos in loco com as famílias, conversas informais

com a comunidade e reconhecimento do ambiente; seleção das famílias e convite para

integrarem a amostra e solicitação de autorização para as entrevistas; 3) Execução: a)

conversas formais, aplicação de questionário semi-estruturado (aspetos sócio econômico,

higiene/saneamento básico; origens e tipos de água, e usos; doenças de veiculação hídrica,

atendimento do SUS (agentes de saúde) e de agentes de vigilância ambiental e de saúde, etc);

detalhes das atividades produtivas (agricultura e fabricação de cerâmicas/louças– métodos de

produção, custos, usos e venda). b) Acompanhamento: retorno às mesmas famílias,

observação de mudanças, novas percepções, atitudes, ações; c) avaliação da qualidade das

múltiplas águas: coletas de amostras das águas das cisternas utilizadas pelas famílias, e de

potes ou de outros recipientes dentro das casas, preservação dessas amostras a temperatura

inferior a 10oC ate o momento de processamento, que foi inferior às 6 horas para a execução

das analise microbiológicas, transporte e analises (avaliação de parâmetros físicos e químicos

– pH, turbidez, cor aparente, cloro residual, alcalinidade, e microbiológicos - quantificação de

coliformes termotolerantes e frequência de Escherichia coli – E.coli). Foram utilizadas

metodologias padronizadas da APHA (2012); 4) Banco de dados: os dados foram

armazenados e organizados em um banco simples (planilha Excel) alimentado continuamente

e processados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As múltiplas águas disponíveis em Chã da Pia na atual estiagem são as distribuídas por

carros pipas e tem diferentes origens: a) as fornecidas pela operação pipa sob controle do

exercito e a defesa civil, que provem da companhia de água, portanto, são águas potáveis; b)

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as distribuídas pelos carros pipas pagos pelas prefeituras que distribuem água potável ou água

bruta/açudes); c) as dos carros pipa particulares, de origem desconhecida que são pagos pelos

usuários.

O gerenciamento das águas dos carros pipa se inicia na captação ou local onde os são

cheios, segue com o armazenamento nas residências para o qual se utilizam cisternas já

existentes do P1MC, de ONGs independentes, doadas pela prefeitura ou construídas pela

própria família. O passo seguinte no manejo é a retirada da água da cisterna em quantidade

necessária para os usos no lar. No interior das residências essas águas se reservam em tonéis

de plástico ou potes de barro. As cisternas que recebem água potável devem ser preparadas e

mantidas sob estritas condições de higiene (escovadas e lavadas por dentro com água

sanitária, pintadas com cal, não ter rachaduras nem tampas envergadas, entre outras

condições). A água potável que recebem deve estar clorada e manter concentrações de cloro

residual entre 0,5 a 2 mg.L-1

ate o momento de uso para evitar contaminações microbianas,

segundo as recomendações para água potável da Portaria 2914/20111 do Ministério de Saúde.

As outras águas, de açudes e de origem desconhecido são armazenadas em cisternas que não

estão sob controle sanitário. Algumas cisternas têm águas misturadas (resto de água potável

adicionada de água de origem desconhecido). Esse fato pode ser um indicador da falta de

percepção, pelos usuários, da relação qualidade da água/saúde, embora exista a percepção da

qualidade da água adequada para a produção das peças de barro. As águas não potáveis

deveriam servir para o “gasto”, e a “potável” somente para beber e cozinhar. Algumas das

cisternas unifamiliares com água potável, são de uso comunitário e o exercito organiza através

da Operação Pipa, seu abastecimento mais frequente. O controle da qualidade dessas águas

deveria ser mais rígido por atingir maior numero de indivíduos. Na Tabela 1 se apresentam os

resultados da qualidade das águas nas cisternas e nos potes usados nas residências.

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Tabela 1. Qualidade física, química e microbiológica das águas de cisterna e potes das residências de

famílias da comunidade de Chã da Pia.

Parâmetro Cisternas Potes residências Portaria 2914/2011

-MS (VMP 3)

pH 7,1 ± 0,551

8,8 - 20,8

2

7,53 ± 0,38

7,27 – 8,25

6,5 – 9,0

Temperatura 25,40 ± 1,97

20,8 -27,2

25,43 ± 2,00

20,8 – 27,2

Não padronizado

Cloro Residual Livre (mg/L) Ausente Ausente 0,5 – 2

Turbidez (µT) 1,47 ± 7,36

0,07 – 21,06

3,46 ± 6,49

0,09 -17,06

5

Alcalinidade (mg/L) 60,42 ± 37,6

18,2 – 137,7

49,80 ± 27,77

14,44 – 90,28

Não padronizado

Cor aparente (µH) 0,10 ± 0,16

0,00 – 0,39

0,08 ± 0,14

0,00 – 0,32

15

Colif. Termotolerante

(UFC/100ml)

292,6 ± 409,02

3 – 1.180

31,1 ± 33,2

0 - 100

Ausentes

E. coli ( % amostras positivas) 37,5 37,5 Ausentes

*N= 8; valores médios e desvio padrão1; valores mínimos e máximos

2, VMP: Valor Máximo Permitido

3 /Portaria

2914/2011- Ministério da Saúde.

Esses dados mostram que todas as águas destinadas ao consumo humano em Chã da

Pia não tem cloro residual. Em consequência, coliformes termotolerantes foram isoladas na

maioria das amostras e E.coli em mais 37% (das cisternas e dos potes) indicando

contaminação fecal e riscos à saúde dos consumidores. A contaminação tem origem no

manejo das águas transportadas pelos carros pipa, nos quais se adiciona cloro sólido

inorgânico, de liberação mais lenta de cloro ativo, mas esse cloro volatiza e após de 24 h e

deve-se novamente adicionar as águas para consumo humano e para preparação de alimentos.

A ausência de cor e a baixa turbidez das águas ditas potáveis indicam que a cloração simples,

de duas gotas de hipoclorito de sódio 2,5% por litro de água, seria suficiente para dispor de

água microbiologicamente segura em todas as residências.

Entretanto, os pipeiros e o exercito exigem aos usuários “não adicionar nada” nas

águas distribuídas. Essa ordem é um grave erro técnico que se enfrenta com as recomendações

do SUS para o uso de águas de sistemas alternativos, de clorar todos os dias no ponto de

consumo, além de por em perigo a saúde de numerosas famílias. Ainda, a falta de cloro nos

potes nas residências favorece a maior contaminação com o uso diário, com a introdução de

canecas e outros recipientes para retirar água dos potes, para cozinhar, para beber, etc.

A figura 1, a seguir, mostra dados contradizem com resultados acima: quase 63% das

“loiceiras” disseram tratar a água antes de beber por cloração com hipoclorito de sódio. Mas

não foi detectado cloro residual nos potes e a maioria das famílias não mostrou aos

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entrevistadores o frasco de hipoclorito quando solicitado; algumas informaram que os agentes

de saúde não faziam a distribuição com a frequência necessária.

Figura 1. Tratamento da água destinada ao consumo humano

Na tabela 2 são apresentados os dados socioeconômicos das “loiceiras”.

Tabela 2. Dados socioeconômicos das “loiceiras” e das famílias de Chã da Pia.

Os dados coincidem com os de outras comunidades rurais do semiárido, com media de

cinco membros por família, informação importante para o gerenciamento da distribuição de

água nas operações emergenciais e para o controle do gasto nas famílias. A renda familiar

inclui bolsas do governo, principalmente bolsa família e poucas aposentadorias.

Na figura 2 se evidencia a intervenção do PIMC em 74% das famílias das “loiceiras” e

intervenções próprias para aumentar a disponibilidade de água em quase 40 %.

Informações socioeconômicas N= 8 (%)

Número de pessoas por residência <5

≥5

87,5

12,5

Faixa etária das loiceiras <60 Anos

>60 Anos

75

25

Escolaridade Analfabeta

Ens. Fund.1 Incompleto

37,5

62,5

Ocupação Agricultora e Loiceira 100

Renda familiar ≥ de 500 reais

< de 500 reais

87,5

12,5

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Figura 2. Origens das cisterna de Chã da Pia

A falta de chuva dificulta e até impede a agricultura familiar, por ser uma atividade

com dependência total da precipitação pluviométrica. Mas, essa dependência deve-se, em

parte, à ausência de outras tecnologias de armazenamento de água, além das cisternas de

16.000 litros, para beber e higiene pessoal. São métodos complementares no armazenamento

de água a cisterna calçadão do P1+2 (programa “Uma terra e duas águas”, também da ASA)

que permite acumular mais de 50.000 litros e os barragens subterrâneos, construídos nas áreas

de baixios, córregos e riachos que se formam no inverno até com chuvas curtas e mantém a

unidade por tempos mais longos. A segurança hídrica e alimentar na zona rural semiárida

dependem da disponibilidade simultânea de tecnologias diversificadas de reserva de água,

assim como de tecnologias que facilitem o reuso seguro de esgotos em nível familiar (LIMA,

et al, 2005; CEBALLOS et al, 2001). É nas secas que se desenvolve com maior intensidade a

produção das “loiceiras”, convivendo com a carência hídrica. A adversidade ambiental, que

limita a obtenção de renda com a agricultura familiar é resolvida com a prática, em maior

escala, de uma atividade ancestral de custo baixo e importante fonte de renda. Para a produção

dos vasos de barro, panelas e tigelas são necessários apenas barro ou argila, água e lenha,

todos eles obtidos sem custo ou com custo mínimo do ambiente onde as artesãs vivem e

trabalham.

Em condições climáticas dentro da media, a maior produção de louças também ocorre

na estiagem e com menor intensidade durante as chuvas, pois nessa época se prioriza a

agricultura familiar. As atividades das artesãs do barro se desenvolvem com clima seco, a

temperatura alta facilita a secagem das peças, já na época chuvosa o barro fica “encharcado” e

o clima úmido não favorece a secagem nem a queima. A água utilizada é das cisternas

destinadas ao gasto, ou retirada de poças com água formadas com as chuvas esparsas que se

acumulam nas depressões do terreno, ou no “tanque ou pia”. Este é uma depressão de uma

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formação rochosa típica da região, que define o nome da comunidade e é a água preferida

para a preparação da pasta de barro. As águas usadas devem ser de salinidade moderada para

que não provoquem alterações nas peças quando queimadas (fragilidade, fraturas, “pipocas”

ou bolhas na superfície). Essa escolha evidencia conhecimento etnoecológicos da qualidade

da água usada na produção das cerâmicas. Quando as águas de gasto entregues pelos pipeiros

são salinas, as “loiceiras” preferem usar água de beber.

O barro para as louças ou “loiça de barro” ou “loiça da pia” não é considerada uma

“cerâmica” (ALVES, 2004). Segundo uma das loiceiras, a maioria obtém o barro grátis de um

terreno do Assentamento Queimadas, próximo a Chã da Pia, por este possuir as condições

plásticas apropriadas para a elaboração das peças. Esse barro corresponde ao tipo de solo

Planossolo Nátrico Órtico Típico, textura arenosa/média/argilosa a moderado, pouco

profundo, fase caatinga hiperxerófila relevo ondulado (ALVES,2004). É coletado pela

ceramista ou comprado a um fornecedor. A preparação da pasta de barro é feita num ambiente

próximo ao da elaboração das peças, a terra ou barro é molhado, coberto com um plástico

para não secar e deixado em repouso 24 horas geralmente em um “buraco” feito na terra nos

quintais das “loiceiras” (Figuras 1 (a - b). Antes de uso se adiciona mais água e se amassa,

homogeneizando a quantia separada para certo tempo de trabalho. O consumo de água é em

torno de 30 litros para a preparação da massa de barro e em torno de 12 litros por semana na

modelagem e acabamento das peças. Esses 42 litros não correspondem a um grande gasto de

água, mas equivale ao consumo de água de boa qualidade de 4 dias ou mais de um membro da

família que recebe água potável, se for levado em consideração o gasto máximo por pessoa

por dia de 8 ou 9 litros, calculado para as cisternas do PIMC, de 16.000 litros de água.

As “loiças” são produzidas nas próprias residências das ceramistas ou próximas a elas,

em galpões com teto e amplos para guardar a produção. A queima das “loiças” é feita em

fornos construído com o próprio “barro de loiça”, a céu aberto no terreno das “loiceiras”, na

maioria dos casos. São queimadas cerca de 50 panelas por vez ou de outras peças,

dependendo do tamanho do forno e das peças. As lenhas usadas em Chã da Pia são obtidas de

duas plantas, uma conhecida como “amorosa”, do gênero Mimosa e do “marmeleiro”, do

gênero Croton. Preferem-se estas espécies porque o fogo é suave e evita que “loiças”

estourem ou “pipoquem”. Algumas “loiceiras” compram a lenha no valor médio de R$ 35,00

o maço, há também quem coleta lenha por não ter condições de comprar. As “loiças” são

vendidas nas feiras das cidades vizinhas (Arara, Esperança e Remígio) e algumas loiceiras,

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participam das feiras de artesanato de Campina Grande e de João Pessoa. Os preços variam de

R$ 7,00 a R$10,00 para fogareiros e panelas pequenas e R$ 20,00 para peças maiores, como

jarras e panelas grandes. Algumas melhor acabadas atingem preço de R$35,00 ou R$45,00

Quando são vendidas cruas para outras “loiceiras”, os preços das panelas variam de R$1,70 a

R$7.00 ou R$8,00. A seguir, se apresentam figuras de diferentes etapas da produção das

“loicas”

Figura 3. (a,b). (a) Extração do barro para as “loiças”; (b) “Loiceira”

trabalhando.

Na sua maioria, as “loiceiras” de Chã da Pia não praticam produção comunitária e

cada uma tem o mesmo discurso: a não adaptação à produção fora de casa, que as peças são

feitas enquanto cuidam das atividades do lar. Assim cada uma tem sua produção individual,

embora foi criada uma cooperativa com o projeto “O saber e o fazer das loiceiras da Chã da

Pia” (GOVERNO FEDERAL, 2014). Este objetivou contribuir para a preservação do

patrimônio imaterial das “loiceiras” da Chã da Pia. A cooperativa foi criada com a

participação de numero elevado de artesãs, mas foram saindo de pouco a pouco. Atualmente

ficam algumas que são as que apresentam as loiças nas férias de maior envergadura.

Até o momento identificaram-se quatro categorias de artesãs em relação à

comercialização: 1) produzem peças cruas que vendem para outras artesãs que as queimam e

vendem (37,5%); 2) outras (12,5%) preparam as loiças que são vendidas cruas e uma pequena

parte é queimada por elas mesmas (o forno é pequeno), das queimadas, algumas são para uso

no lar, outras para venda direta; 3) produzem as cerâmicas que são queimadas (possuem um

ou mais fornos de diferentes tamanhos) e vendidas(25%); 4) compram peças cruas, queimam

e vendem – possuem a lenha para a queima; também podem vender apenas a lenha12,5%.

Essas hierarquias geram dependência e tensões sociais, que dificultam a convivência

harmônica e torna mais difíceis discussões democráticas sobre ações comunitárias, por

a b

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exemplo, de educação ambiental e de geração e transferência de tecnologias sociais para

dispor de maior estabilidade hídrica (MIRANDA, 2011).

Observam-se frequentes relações de parentesco: irmãs, mãe e filha, primas, sobrinhas,

cunhadas, todas dedicadas à mesma profissão, embora as gerações mais novas não mostrem

interesse na continuação dessa prática (“sem futuro”). Tem possibilidades de trabalhar nas

sedes dos municípios e acesso à escola e à universidade pela disponibilidade de créditos para

a educação.

Nenhuma das entrevistadas fez menção aos efeitos no ambiente da exploração vegetal e

do solo. Quando perguntadas “desconversam”. Pode-se considerar que não percebem as

alterações causadas. Um delas que guiou a equipe de pesquisa até o terreno de onde muitas

“loiceiras” extraem o barro, deu algumas explicações sobre a não destruição de raízes ao

cavar três a quatro palmos de terra para encontrar o “barro da loiça”, o que estaria indicando

percepção dos danos ao ambiente.

Para aprofundar a pesquisa é importante realizar estudos etnoecológicos que fornecem

um arcabouço teórico e metodológico para a compreensão de sistemas de percepção e

classificação do ambiente natural por sociedades locais ou tradicionais. Possibilita também

relacionar o conhecimento construído localmente e o acadêmico e científico e reconhecer e

valorizar aquele conhecimento étnico que tende a desaparecer (TOLEDO, 1992).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A convivência do homem com o semiárido não só é viável, é um fato mostrado dia a

dia pelas comunidades que ali se desenvolveram, se desenvolvem e permanecem. Melhor e

maior desenvolvimento social e econômico dependem mais de políticas publicas do que do

clima. Maior segurança hídrica pode ser conseguida com múltiplas tecnologias sociais de

gerenciamento das múltiplas águas que estão disponíveis no semiárido, incluídas aquelas das

chuvas esparsas que somente enchem pequenas poças o que umedecem o solo. Ações de

educação ambiental, alternativas tecnológicas diversificadas de armazenamento de águas e

estímulos às atividades complementares da agricultura familiar são importantes no processo

de melhorias sociais e econômicas. Comunidades de artesãs como as de Chã da Pia, são em

geral marginalizadas e os gestores públicos devem-se sensibilizar sobre a importância dessa

atividade na preservação cultural de suas técnicas artesanais e na renda familiar, sob

condições mais dignas e favoráveis. Ali se incluem tecnologias sociais que garantam a

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captação e o armazenamento de água, preferentemente de chuva pela sua excelente qualidade

e custo nenhum, para beber e para a agricultura familiar, dessedentação animal e produção de

peças de barro ou outras atividades. Outras tecnologias como as barragens subterrâneas e as

de tratamento dos esgotos para seu reuso seguro na agricultura familiar não devem ser

rejeitadas. As ações educativas para a preservação do ambiente e sobre o usos dessas

tecnologias que facilitem a disponibilidade da água e diminuam a vulnerabilidade hídrica

devem incluir a ativa participação das artesãs nos processos de tomada de decisão sobre os

recursos que elas utilizam.

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