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VIII EPEA - Encontro Pesquisa em Educação Ambiental Rio de Janeiro, 19 a 22 de Julho de 2015 Realização: Unirio, UFRRJ e UFRJ 1 ‘Sonhos de Consumo’: uma pesquisa com jovens de duas escolas públicas do município do Rio de Janeiro. Caio Bertha Bastos Instituto de Biologia, UFRJ. Alessandra Gonçalves Soares Instituto de Biologia, UFRJ. Maira Rocha Figueira Instituto de Biologia, UFRJ. Thais Lourenço Assumpção Instituto de Biologia, UFRJ. Jacqueline Girão Soares de Lima Faculdade de Educação, UFRJ. Resumo Apresentamos resultados parciais de pesquisa sobre consumo juvenil desenvolvida com alunos de duas escolas públicas do Rio de Janeiro em 2013 e 2014. A partir de uma oficina realizada com 363 alunos do sexto ao nono anos, buscamos identificar o que mobiliza os jovens material e simbolicamente. Finalizamos a oficina com as perguntas: “qual é o seu sonho de consumo”? e “qual é o seu sonho que não envolve consumo”? As respostas foram tabuladas e organizadas em tabelas. Em relação aos sonhos que não envolvem consumo, predominaram respostas como “ter uma carreira bem sucedida, “fazer coisas boas” e “constituir família. Dialogando com autores pós-estruturalistas que discutem educação ambiental, cultura, identidade e consumo, concluímos que ideais que o senso comum considera abandonados podem emergir ao darmos voz aos adolescentes, apontando um possível caminho para a construção, na escola, de relações e valores mais sólidos e duradouros. Palavras-chave: juventude, consumo, escola. Abstract We present partial results of the research about youth and consumption, developed in two public schools in Rio de Janeiro on 2013 and 2014. The data results were collected from a workshop performed with students from sixth to ninth grades, and we intended to identify what mobilizes youth in material and symbolic terms. The workshop was finished with the questions: “what is your consumption dream” and “what are your dreams that involve no consumption? Though the results about the consumption dreams were as expected, topics such as a successful career, happiness and family were predominant on the not consumption dream section. In dialogue with authors from post structuralism who discuss environmental education, culture, identity and consumption, we have concluded that values that common sense considerers abandoned may emerge when we give voice to teenagers, leading to a possible way of construction of more solid and long lasting values at school. Keywords: youth, consumption, school. Introdução Na sociedade de consumidores, as pessoas são ao mesmo tempo, consumidores e mercadorias (COSTA, 2009:34) Neste artigo, apresentamos resultados parciais de pesquisa desenvolvida pela equipe de um subprojeto do “Projeto Fundão Biologia” (Faculdade de Educação e Instituto de Biologia, UFRJ), que integra atividades de ensino, pesquisa e extensão junto

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VIII EPEA - Encontro Pesquisa em Educação Ambiental Rio de Janeiro, 19 a 22 de Julho de 2015

Realização: Unirio, UFRRJ e UFRJ

1

‘Sonhos de Consumo’: uma pesquisa com jovens de duas escolas públicas do

município do Rio de Janeiro.

Caio Bertha Bastos – Instituto de Biologia, UFRJ.

Alessandra Gonçalves Soares – Instituto de Biologia, UFRJ.

Maira Rocha Figueira – Instituto de Biologia, UFRJ.

Thais Lourenço Assumpção – Instituto de Biologia, UFRJ.

Jacqueline Girão Soares de Lima – Faculdade de Educação, UFRJ.

Resumo

Apresentamos resultados parciais de pesquisa sobre consumo juvenil desenvolvida com

alunos de duas escolas públicas do Rio de Janeiro em 2013 e 2014. A partir de uma

oficina realizada com 363 alunos do sexto ao nono anos, buscamos identificar o que

mobiliza os jovens material e simbolicamente. Finalizamos a oficina com as perguntas:

“qual é o seu sonho de consumo”? e “qual é o seu sonho que não envolve consumo”?

As respostas foram tabuladas e organizadas em tabelas. Em relação aos sonhos que não

envolvem consumo, predominaram respostas como “ter uma carreira bem sucedida”,

“fazer coisas boas” e “constituir família”. Dialogando com autores pós-estruturalistas

que discutem educação ambiental, cultura, identidade e consumo, concluímos que ideais

que o senso comum considera abandonados podem emergir ao darmos voz aos

adolescentes, apontando um possível caminho para a construção, na escola, de relações

e valores mais sólidos e duradouros.

Palavras-chave: juventude, consumo, escola.

Abstract

We present partial results of the research about youth and consumption, developed in

two public schools in Rio de Janeiro on 2013 and 2014. The data results were collected

from a workshop performed with students from sixth to ninth grades, and we intended

to identify what mobilizes youth in material and symbolic terms. The workshop was

finished with the questions: “what is your consumption dream” and “what are your

dreams that involve no consumption? Though the results about the consumption dreams

were as expected, topics such as a successful career, happiness and family were

predominant on the not consumption dream section. In dialogue with authors from post

structuralism who discuss environmental education, culture, identity and consumption,

we have concluded that values that common sense considerers abandoned may emerge

when we give voice to teenagers, leading to a possible way of construction of more

solid and long lasting values at school.

Keywords: youth, consumption, school.

Introdução Na sociedade de consumidores, as pessoas são ao mesmo tempo, consumidores e mercadorias (COSTA,

2009:34)

Neste artigo, apresentamos resultados parciais de pesquisa desenvolvida pela

equipe de um subprojeto do “Projeto Fundão Biologia” (Faculdade de Educação e

Instituto de Biologia, UFRJ), que integra atividades de ensino, pesquisa e extensão junto

2

a estudantes universitários, professores e alunos de escolas públicas do estado do Rio de

Janeiro. Somos apoiados pelas Pró-Reitorias de Extensão (PR5) e de Pesquisa (PR2) da

UFRJ, além da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio

de Janeiro (FAPERJ).

Dentre os princípios que norteiam nosso trabalho, destaca-se a concepção de

extensão, que não entendemos como “doação” ou “transferência” de conhecimentos da

universidade para a escola, mas como um espaço/tempo de trocas e diálogos entre

saberes e culturas. Nesse sentido, somos todos (bolsistas, público-alvo e coordenadora)

impactados pelas ações que desenvolvemos o que nos leva a, constantemente, rever e

ampliar nossos objetivos, metodologias e referenciais teóricos. Na mesma linha, não

dissociamos pesquisa de extensão, já que o processo de produção das atividades

extensionistas inclui reflexões teórico-metodológicas, coleta e tabulação de dados

(avaliações dos participantes, registros em cadernos de campo, gravação dos encontros),

que passam a compor o corpus de nossa investigação sobre educação ambiental nos

contextos escolares, articulada a um grupo de pesquisa da Faculdade de Educação.

Nos cinco anos de existência do projeto, produzimos oficinas e cursos

abordando questões centrais da educação ambiental como consumo, sustentabilidade,

agricultura e alimentação nas perspectivas crítica e pós-crítica, cujos resultados têm sido

divulgados em encontros de pesquisa e ensino de Ciências e em um congresso

internacional de educação. Atingimos, principalmente, professores e professoras, mas,

desde 2013, temos encarado o desafio de produzir atividades voltadas para estudantes

da escola básica. Uma delas é a oficina “Sonhos de Consumo”, desenvolvida, até o

momento, com alunos de duas escolas públicas do município do Rio de Janeiro.

Buscamos oferecer uma reflexão que contribua para problematizar a relação entre

juventude e consumo - socialmente estigmatizada na escola e fora dela.

Essa é uma questão que tem nos mobilizado enquanto pesquisadores do campo

da educação ambiental que atuamos diretamente na escola em atividades de ensino,

pesquisa e extensão. Em nosso contato com professores, professoras e licenciandos/as,1

percebemos que predominam visões do senso comum a respeito do consumo juvenil.

Queixas como “os alunos desprezam os cadernos e mochilas que a prefeitura fornece”,

“eles tem celulares e tênis caros, mas chegam com fome na escola”, “recusam a

merenda para se alimentar de porcaria” e outras nos causam grande inquietação, pois, se

somos solidários aos docentes em sua tarefa cotidiana de conquistar os alunos para os

estudos, “competindo” com redes sociais e os apelos de consumo, não podemos nos

furtar a criar estratégias que problematizem esses discursos que, no nosso entender,

geram muitos conflitos e não acenam com alternativas para o problema.

Orientados pelas perguntas: i) como educar num mundo em rápida

transformação e em constante processo de desmantelamento/recriação? ii) existem

diferenças geracionais significativas em relação ao desejo de consumir? iii) o que

produz nos jovens o desinteresse pela escola e o interesse pelo consumo? iv) qual é o

papel e a responsabilidade da escola no combate ao consumismo juvenil? v) qual é a

fronteira entre a necessidade e o desejo? desenvolvemos essa pesquisa que, como

afirmamos anteriormente, está em andamento.

Não nos propomos a apresentar respostas definitivas às perguntas acima listadas,

mas, antes, a utilizá-las como ‘ferramentas de busca’ para adentrar nessa complexa e

1A última autora trabalha na formação de professores supervisionando estágios curriculares.

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recente discussão. Para tanto, coletamos dados que, estimulados pelos diálogos com

autores que estudam juventude, cultura, identidade e consumo possam nos ajudar a

entender e problematizar de forma propositiva a relação dos jovens com o consumo.

Acreditamos ser esse o primeiro passo para pensarmos, juntos a professores e

professoras, estratégias de superação dessa realidade.

A primeira oficina foi realizada em 2013 com turmas de oitavo e nono anos,

atividade final de um projeto em uma escola atingida por um edital de Auxílio às

Escolas Públicas do Estado do Rio de Janeiro. Nosso intuito foi ampliar e dinamizar a

utilização do laboratório da escola, transformado em sala ambiente para o ensino de

Ciências e outras disciplinas articuladas à Educação Ambiental. Localizada no bairro da

Lapa, a escola Rio Branco 2 atende a cerca de mil alunos dos bairros do Centro, Santa

Tereza, Bairro de Fátima, Catumbi e Estácio e é tida como uma boa escola devido a

suas boas instalações e corpo docente e discente.

A segunda ação foi realizada em 2014 com turmas de sexto, sétimo, oitavo e

nono anos da Escola Alemanha, localizada no bairro de Olaria, zona norte. Nesta

ocasião, fomos convidados por uma professora do Projeto Fundão (que coordenou nesta

escola um projeto de formação continuada) a ministrar uma oficina para os alunos. É

importante mencionar que a escola é um Centro de Educação Ambiental (CEA), criado

em 2007, cujo trabalho é alvo de outra pesquisa desenvolvida por um dos bolsistas do

grupo. A Escola Alemanha, assim como a Rio Branco, é uma escola bem conceituada

na rede municipal e, à época em que a oficina foi ministrada, era um “Ginásio

Experimental Carioca do Samba” (escola de tempo integral).

Nas próximas seções, apresentamos uma discussão sobre consumo e pedagogias

culturais, os contextos em que as oficinas foram desenvolvidas, os resultados obtidos e

nossas considerações e reflexões a respeito da estimulante temática da relação da

juventude com o consumo, a partir desta experiência.

Consumo e juventude

Costa (2009) defende que, “o consumo é o centro organizador da ordem social,

política, econômica e cultural do presente, e todos nós somos educados para e por ele”.

Conhecidas como pedagogias culturais, os meios que dominam a cultura atuam

pedagogicamente, produzindo saberes, identidades, crenças e visões de mundo

(LARCEN, 2013), podendo o consumo ser considerado um importante artefato

pedagógico, atuando dentro e fora dos muros das escolas. Nesse cenário, a educação se

configura como um importante campo no qual são acionadas as práticas e

racionalidades que reforçam a lógica neoliberal, tornando a questão da educação para o

consumo um tema importante (GERZSON, 2009).

Como destaca Bauman (2005:73). “o desenvolvimento das habilidades de

consumidor talvez seja o único exemplo bem sucedido da tal ‘educação continuada’

(...). As instituições responsáveis pela ‘educação vitalícia do consumidor’ são

incontáveis e ubíquas”. De maneira muito pertinente, Flor (2009) usa a metáfora de

teias para abordar as pedagogias culturais midiáticas conduzidas ao consumo com a

finalidade de capturar as crianças: “Uma vez capturadas, elas ficam fascinadas pelo

mundo em que são introduzidas e movimentam-se freneticamente nele. A cada

movimento, enleiam-se mais e mais nas tramas da teia” (p. 153). A eficiência é

2Os nomes das escolas são fictícios.

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garantida, visto que as pedagogias culturais ensinam mobilizando o prazer, formando

consumidores insaciáveis e incansáveis. Em seu estudo sobre juventude, consumo e as

novas configurações identitárias, Oliveira (2007) defende que:

(...) assistimos hoje ao estabelecimento de uma subjetividade na qual o

compromisso com o bem comum se vê destituído cada vez mais de

sentido. A moral do consumo, ao nos convidar à substituição voraz

dos objetos adquiridos, roupas, automóveis, eletrodomésticos,

simultaneamente acaba por incorporar ao modus vivendi dos cidadãos

uma atitude de despreocupação para com o patrimônio cultural da

humanidade, para com os saberes adquiridos e recebidos através das

gerações, como se tudo o que nos chegasse pudesse ser jogado fora e

substituído imediatamente (p. 7).

Ainda segundo esse autor, estar na moda, possuir tênis e/ou roupas de marca e se

relacionar com jovens que frequentam os melhores lugares se torna uma necessidade de

sobrevivência e de pertencimento nos corredores das instituições escolares. Não atingir

minimamente esses objetivos gera enorme angústia e ostracismo social entre jovens. É

assim que ser um “bom aluno” e receber o apreço dos professores por ser cumpridor das

tarefas escolares já não basta, pois não agrega valor social na cultura jovem de nossos

dias. É possível, até, ser mal visto pelos professores, mas, dependendo de fatores como

aparência física e posse de objetos de consumo valorizados pela cultura teen, gozar de

um status privilegiado perante os colegas. Os jovens não querem pertencer ao grupo dos

novos impuros da pós- modernidade, aqueles afastado da moral do consumo e do prazer

(BAUMAN, 1998, apud OLIVEIRA, 2007).

Outros aspectos que contribuem para essa construção identitária em torno do

consumo é a incerteza diante do futuro e a progressiva desregulamentação das

instituições sociais. “No meio desta tormenta e, sem mais o auxílio tranquilizador das

velhas gerações, se encontra a juventude - a prescindir, sem dúvida, da segurança de

adultos comprometidos com um mundo a ser preservado (ARENDT,1992, apud

OLIVEIRA, 2007:9). Trazemos para esse debate a perspectiva de Lindstrom (2009),

para quem a inconstância, a imprevisibilidade e a rapidez em que vivemos atualmente

geram uma busca por consumir marcas que nos proporcionam estabilidade e a sensação

de conforto e participação. “Crianças com dificuldade para se entrosar na escola se

tornam muito mais propensas a se preocupar com coleções. O ato de colecionar algo dá

às crianças uma sensação de domínio, completude e controle.” (p. 95) e obsessões por

marcas podem começar na infância e adolescência.

Também central a essa discussão é a diferença entre consumo e consumismo.

Como nos fala Costa (2009: 34), ancorada em Bauman: “O consumismo surge quando o

consumo assume o papel central ocupado pelo trabalho na sociedade de produtores” e

tem seu ponto de virada na “revolução consumista”, em que se passou do consumo ao

consumismo. A epígrafe da introdução deste artigo ressalta a fusão entre consumidores

e mercadorias, característica das sociedades atuais, que tem, como seus maiores reféns,

crianças e jovens. Diante dos desafios colocados à educação na cultura da mídia e do

consumo (título do livro organizado por Marissa Vorraber Costa), essa autora nos

convida a “manter uma relação reflexiva positiva com nosso tempo”, sem tentar ir

contra ele, mas “penetrá-lo interrogativa e cautelosamente” (p. 16), evitando

agressividades, intransigências ou incompreensões, que só agudizam nossas

inseguranças e incertezas. Concordamos com essa posição e julgamos encontrar, nas

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considerações dos autores com os quais dialogamos, um caminho que nos afaste do

moralismo e do senso comum que engessa os jovens em identidades desqualificadoras,

como “alienados”, “consumistas” ou “egoístas” e não avança no sentido de ajudá-los a

acrescentar às suas construções identitárias valores menos materialistas, mais sólidos e

duradouros.

Metodologia da pesquisa

A oficina “Sonhos de Consumo” foi desenvolvida com turmas de sexto ao nono

anos, totalizando 363 alunos nas duas escolas. Iniciamos com a apresentação dos vídeos

“Volkswagen Perfeito para a sua vida” e “Necessário para sua vida?”, sendo o primeiro,

um comercial da empresa de automóveis Volkswagen no qual um narrador, dono do

carro, se mostra incomodado com os problemas da sociedade de consumo

(obsolescência dos bens, excesso de propagandas, poluição e degradação ambiental),

mas conclui que os mesmos são necessários para a manutenção do seu status quo, em

postura que naturaliza a “sociedade dos consumidores” (BAUMAN, 2008). O segundo

vídeo faz uma problematização do primeiro, acenando com a possibilidade de um

modelo de sociedade no qual bens de consumo e relações sociais sejam mais

duradouros, com mais qualidade de vida, educação e saúde. Em seguida, um debate foi

mediado pelas bolsistas sobre ambos os vídeos, a fim de que os alunos expressassem

sua opinião.

Depois dos vídeos, entregamos aos alunos uma cópia do texto “A roupa da vez”,

de nossa autoria. Contamos a história de uma adolescente que faz acordos com a mãe

para comprar roupas e sapatos que a deixariam atraente para conquistar um garoto e sua

posterior frustração, ao notar que seu desejo não se concretizou. Os jovens foram

convidados a pensar num final para o texto, que está, propositadamente, inacabado. Em

seguida, uma apresentação em power point com as perguntas: “Você se lembra de

alguma coisa que quis muito comprar?; Por que comprar?; Preciso disso?; Você

conseguiu comprar?; Como se sentiu quando comprou?; Você se sente mais feliz

porque conseguiu comprar isso?; Como se sentiu quando não conseguiu comprar?;

Você ainda tem?; Você utilizou?; Ainda utiliza?; Se não é útil para você, acredita que

seja útil para outra pessoa?; Como você se sente agora?”, relacionadas às atividades

anteriores, instigou o debate sobre consumo.

As respostas foram livres e registradas pelos bolsistas. Fechamos a apresentação

com duas perguntas: “Qual é o seu sonho de consumo?” e “Qual é o seu sonho que não

inclui consumo?”, que foram respondidas por escrito, em um cartão entregue aos

alunos. Essas perguntas foram uma tentativa de identificar o que mobiliza os jovens

material e simbolicamente, mas estamos conscientes de que essa separação não é

simples. A tabulação das respostas às duas últimas perguntas encontra-se nas Tabelas 1

e 2.

Resultados e Discussão

Escola Rio Branco

Consumo Respostas Percentual

Eletrônicos 75 29,76%

Imóvel 38 15,08%

6

Produtos Diversos 26 10,32%

Outros 26 10,32%

Viajar 24 9,52%

Automóvel 18 7,14%

Nenhum 13 5,16%

Trabalho / Carreira 11 4,36%

Instrumento Musical 7 2,78%

Dinheiro 6 2,38%

Shows 4 1,59%

Contato com ídolo 3 1,19%

Dono de Loja 1 0,40%

Subtotal 252 100,00%

Tabela 1 (A): Número e percentual das respostas da Escola Rio Branco referentes aos sonhos

de consumo.

Não consumo Respostas Percentual

Trabalho / Carreira 64 26,02%

Coisas Boas 43 17,48%

Viajar 30 12,20%

Outros 23 9,35%

Família 22 8,94%

Nenhum 22 8,93%

Estudos 17 6,91%

Relacionamento 10 4,07%

Dinheiro e Festas 9 3,66%

Contato com ídolo 6 2,44%

Subtotal 246 100,00%

Total 498

Número de Alunos 216

Tabela 1 (B): Número e percentual das respostas da Escola Rio Branco referentes aos sonhos

que não envolvem consumo.

Escola Alemanha

Consumo Respostas Percentual

Eletrônicos 81 44,26%

Imóvel 16 8,74%

Produtos Diversos 15 8,20%

Automóvel 13 7,10%

Dinheiro 12 6,56%

Dono de Loja 11 6,01%

Viajar 9 4,92%

Instrumento Musical 6 3,28%

7

Contato com ídolo 6 3,28%

Shows 4 2,19%

Outros 4 2,19%

Trabalho / Carreira 3 1,64%

Nenhum 3 1,63%

Subtotal 183 100,00%

Tabela 2 (A): Número e percentual das respostas da Escola Alemanha referentes aos sonhos que

envolvem consumo.

Não consumo Respostas Percentual

Trabalho / Carreira 63 31,82%

Coisas Boas 29 14,65%

Família 25 12,63%

Estudos 19 9,60%

Viajar 17 8,59%

Dinheiro e Festas 15 7,58%

Contato com ídolo 12 6,06%

Outros 11 5,55%

Nenhum 5 2,51%

Relacionamento 2 1,01%

Subtotal 198 100,00%

Total 381

Número de Alunos 147

Tabela 2 (B): Número e percentual das respostas da Escola Alemanha referentes aos sonhos que

não envolvem consumo.

Os dados foram agrupados em categorias. As duas grandes classificações,

“Consumo” e “Não Consumo”, foram criadas de acordo com as perguntas da oficina e

não interferimos ou induzimos as respostas dos alunos. Com isso, foi possível

perceber que muitos sonhos foram classificados como pertencentes a ambas as

classificações. As categorias que surgiram nas respostas sobre “Consumo” foram:

“Eletrônicos”, que engloba celulares, tablets, computadores, entre outros; “Automóvel”,

(carros e motocicletas); “Imóvel”, que inclui casas, apartamentos e fazendas, ou apenas

melhorias na atual residência. Em “Shows” estão os desejos de assistir aos seus ídolos e

bandas favoritas tocando ao vivo ou visitar grandes eventos musicais; “Instrumento

Musical” expressa todas as respostas relacionadas, em sua grande maioria, a guitarras

ou baterias. Em “Viajar” há respostas relacionadas a viagens por lazer para dentro ou

fora do país, até desejos de se mudarem permanentemente para outro lugar.

Em “Produtos Diversos” encontramos roupas, acessórios, perfumes, maquiagens

e itens esportivos como skates, bicicletas, etc. A categoria “Contato com o ídolo”

representa os desejos de ver e conhecê-los presencialmente, como por exemplo, “Meet

and Greet” (encontro pago, cujo valor pode variar de 800 a 3 mil reais, que inclui foto

com o artista, mas que pode durar apenas alguns segundos). “Dinheiro” representa todas

as formas diretas do mesmo, com as muitas variações de “ficar rico” ou “ter dinheiro”.

Mesmo o trabalho ou carreira dos sonhos foram classificados por alguns alunos em

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“Consumo”, assim como serem donos de algo, em geral empresas famosas ligadas a

roupas e esportes, como a Nike. Alguns alunos declararam não ter sonhos, com

afirmações como “Não possuo sonhos” e foram incluídos na categoria “Nenhum”.

Na classificação “Não Consumo”, encontramos algumas das categorias

supracitadas, como “Viajar”, “Contato com o ídolo”, “Dinheiro”, “Trabalho/Carreira” e

outras somente destacadas nesta porção. Neste contexto, a categoria “Família” se refere

a casamento, filhos ou algo relacionado aos pais ou parentes próximos, diferente do

grupo “Relacionamento”, que almeja uma pessoa específica para namorar, não

demonstrando intenções de constituir uma família. Apesar de estarem muito ligados,

identificamos diferenças significativas nos objetivos explícitos dos dois grupos.

Em “Estudos” notamos a preocupação de concluir o ensino médio, mudar de

escola ou cursar uma faculdade. Em “Coisas Boas” agrupamos todas as respostas

relacionadas à felicidade, de forma direta, assim como desejos altruístas de ajudar os

mais necessitados ou construir abrigos, entre outros. Em “Outros” foram reunidas

respostas que fugiram um pouco às perguntas, como o desejo que alguém querido viva

para sempre, beleza e outras que se encaixavam exclusivamente na seção de consumo,

como eletrônicos, por exemplo.

Na Escola Municipal Rio Branco, a oficina foi desenvolvida em 2013, como

atividade de inauguração da Sala Ambiente de Educação Ambiental e Ciências –

laboratório de Ciências montado pela nossa equipe durante o projeto apoiado pela

FAPERJ –, que envolveu, ao longo de dois dias inteiros, os alunos da escola, os

professores que davam aulas nestes dias e toda a equipe do projeto. Trabalhamos com

cinco turmas de oitavo ano e quatro turmas de nono ano (um tempo de aula com cada

turma), totalizando 216 alunos e 498 respostas, visto que muitos alunos colocaram mais

de uma resposta para cada pergunta.

As respostas relacionadas a consumo somam 252, dentre celulares e videogames

do momento - reunindo o maior percentual de respostas; 29% -, motos e carros, casas,

viagens, artigos de vestuário, artigos esportivos etc. Por sua vez, 246 respostas traziam

desejos não relacionados ao ato de consumir, como ter uma carreira bem sucedida –

estando em primeiro lugar com 26% das respostas-, fornecer boas condições para a

família, investir nos estudos, ser feliz, fazer coisas boas pelos outros etc.

Na Escola Municipal Alemanha, a oficina foi desenvolvida em 2014, com 147

estudantes do sexto ao nono ano (que não estavam separados por turmas) e toda a

equipe do projeto. Trabalhamos em dois turnos e o fato de não estarem divididos por

turmas, se de um lado tornou a atividade mais difícil em termos de condução do grupo,

de outro enriqueceu o debate. Obtivemos um número de 381 respostas à pesquisa. As

respostas relacionadas a consumo somaram 183, da quais 44% estavam relacionadas a

artigos eletrônicos, seguidas por imóveis e produtos diversos, enquanto as repostas

relacionadas a não consumo totalizaram 198, sendo 31% destas relacionadas ao sonho

de possuir uma carreira bem sucedida, com percentual menor para coisas boas, família e

estudos.

A oficina “sonhos de consumo” será realizada em uma terceira escola do Rio de

Janeiro e a próxima etapa desta pesquisa será a realização de grupos focais com

professores de duas das três escolas3. Tencionamos apresentar os resultados das oficinas

e, a partir destes, problematizar suas visões sobre o consumo adolescente. 3 Não trabalharemos mais com a escola Rio Branco, pois algumas das turmas investigadas já concluíram o

ensino fundamental e não estudam mais na escola.

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Considerações finais

Uma reflexão gerada pela oficina “sonhos de consumo” nas duas escolas é

relativa à dificuldade em distinguir um sonho de consumo de um sonho que não envolve

consumo por parte dos alunos e, por vezes, da própria equipe, demonstrando que, na

sociedade atual, poucas coisas podem ser adquiridas direta ou indiretamente sem

dinheiro. Tal dificuldade também pode ser creditada ao fato de que esta não é uma

questão levantada frequentemente nas escolas e em outros espaços sociais frequentados

pelos adolescentes. No máximo, indagamos e somos indagados sobre o que queremos

ser quando crescermos, mas essa pergunta está direcionada a opções de carreira.

Os resultados apontam para uma pequena diferença percentual entre os sonhos

de consumo das duas escolas: na Rio Branco houve percentual menor de respostas

relacionadas a eletrônicos, o que atribuímos ao fato de, nesta escola, os alunos terem

uma situação financeira em média mais elevada do que na Alemanha, com mais acesso

a eletrônicos. Apesar disso, a ordem das categorias coincidiu nas duas escolas:

eletrônicos, imóveis e carros, ícones da sociedade de consumidores (COSTA, 2009),

com pequenas diferenças percentuais. Tal resultado não causou espano, pois, de acordo

com Momo (2009:205), a sociedade da informação “inscreve a infância nos discursos

que celebram as tecnologias”, exercendo, sobre elas, grande fascínio.

Interessa-nos discutir com mais profundidade as respostas sobre os sonhos que

não envolvem consumo, que nos ajudam a problematizar afirmações de senso comum

sobre o consumismo juvenil. Em ambas as escolas, algumas expressões se repetiram,

como, por exemplo: “felicidade”, “saúde”, “unir, ajudar ou manter uma família”,

“viajar”, “ter um bom trabalho”, “construir um mundo melhor (sem

violência/poluição/doenças)” e “fazer faculdade”. Isso pode ser um indicativo que,

apesar dos apelos da sociedade de consumo sobre os adolescentes, uma boa formação,

trabalho, família e felicidade (ainda) são valores/objetivos perseguidos por eles.

Não é impossível associar esses “sonhos” a uma realização financeira que possa

inseri-los na “sociedade de consumidores”, mas chamou nossa atenção o fato de, nas

duas escolas, terem predominado as categorias “trabalho/carreira”, “coisas boas”,

“viajar” “estudos” e “família” como sonhos que não envolvem consumo. Essas

respostas contrastam com a ideia de que esses são valores abandonados, ou pouco

valorizados pelos jovens, e com a afirmativa de Costa (2009: 25) de que:

(...) perdeu-se, na sociedade do espetáculo, da mídia e do consumo, a

perspectiva de projetar uma vida assentada sobre trabalho prazeroso,

sobre experiências comuns compartilhadas, sobre expectativas

exequíveis a longo prazo, sobre afetos preservados, sobre o equilíbrio

entre razão e sensibilidade.

Também podemos pensar, a partir do debate gerado durante a apresentação das

perguntas, que os jovens podem ter uma percepção crítica a respeito dos próprios

hábitos de consumo, pois não foram poucos os que, ao longo do debate fomentado pela

apresentação de power point (com as perguntas descritas na metodologia deste texto),

relataram terem abandonado ou subutilizado os objetos desejados. Uma minoria de

“consumidores falhos” (BAUMAN, 2008, apud COSTA, 2009) criticou o consumismo,

correndo o risco de sofrer rejeição por parte dos colegas. Muitos, especialmente na

Escola Rio Branco, confessaram que o desejo por celulares, vídeo games e roupas

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estava mais relacionado à necessidade de aceitação pelos colegas, reconhecendo que

não tinham realmente necessidade ou vontade de adquiri-los. Voltando a Costa (2009),

temos que a construção da identidade de uma juventude considerada “normal” é feita

com grande investimento pela mídia sob medida para consumir tantos produtos quanto

as sociedades capitalistas põem em circulação. Dessa forma, aqueles que não se

encaixam nessa ordem são considerados estranhos, uma ameaça à ordem social

existente.

Esses resultados fortalecem a hipótese de Ignácio (2009), para quem o consumo

atua na função de identificador social, tendo nas crianças e jovens seus principais alvos

devido à busca pela aceitação e, nas escolas, um importante palco onde os alunos

estampam famosas logomarcas em cadernos, mochilas, bonés, tênis, e até nos corpos, na

tentativa de determinar posições e funções sociais.

A pesquisa de Leite (2007) sobre diálogos e diferença adolescente também traz

interessantes contribuições para a discussão que travamos. A pesquisadora buscou

compreender como se dá a regulação do coletivo no ensino fundamental em uma escola

pública do Rio de Janeiro e identificou uma frequente desqualificação da voz

adolescente, fundamentada em uma visão essencialista e negativa dessa faixa etária, que

tendia a comprometer a possibilidade de diálogo intercultural entre os adolescentes e

parte dos adultos. Essa hipótese se justifica pela observação que, dentre os profissionais

que se abriam dialogicamente à diferença adolescente, havia menos problemas de

indisciplina e maior admiração por parte dos alunos. Leite questiona as generalizações

que atribuem o quadro de dificuldades de convivência e comportamento adolescente

enfrentado por muitas escolas na atualidade a uma suposta ruptura cultural por parte das

novas gerações, observando que, entre a bola e o mp3, os adolescentes da escola

investigada optavam por ambos.

Os dados coletados não nos autorizam a fazer afirmações definitivas a respeito

da relação dos adolescentes com o consumo, nem mesmo a questionar, de forma

contundente, o senso comum (tão presente nas escolas) sobre o consumismo juvenil,

mas nos permitem supor que, ao dar voz aos jovens, podemos fazer emergir importantes

questionamentos sobre seus próprios hábitos de consumo. Assim, na contramão dos

muitos apelos a uma vida glamorosa, fútil e em constante mudança, perguntamos, com

Costa (2009:42): “frente ao espetáculo que amplia exponencialmente nossas opções e

convida-nos a desfrutar ‘o que de melhor o mundo tem a oferecer’, como voltar as

costas para essa fórmula que promete amplitude, flexibilidade e liberdade de escolhas?”

A autora defende que identificar e tornar mais explícita a dinâmica dos jogos de poder

que buscam a administração generalizada do cotidiano, discuti-la amplamente em

encontros e espaços educativos, inventando meios para neutraliza-la, é uma boa

estratégia.

Fazemos nossas as palavras de Costa e concluímos com a recomendação que nos

afastemos de visões essencialistas que desencorajam o necessário debate a respeito da

complexa relação da juventude com a sociedade de consumo. No contexto de

acirramento da violência física e simbólica sobre os que não se enquadram em padrões

preestabelecidos de estética consumista, a escola não pode se furtar a criar espaços de

debate e de problematização a respeito da crueldade gerada por essas demandas, ao

invés de reforçar, por omissão ou valorização, a sociedade de consumidores.

Referências

11

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12

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