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promotores

câmara municipalde abrantesPresidenteMaria do Céu Albuquerque

fundação estradaPresidenteJoão Lourenço Sigalho Estrada

museologia e arqueologiaDavide DelfinoGustavo Portocarrero

textos Davide DelfinoGustavo PortocarreroAna CruzAna GraçaIsabel dos SantosFilipe PereiraMassimo BeltrameMatteo Cantisani

colaboraçãoCentro de Pré-história / IPTLaboratório Hércules / Universidade de ÉvoraCIAAR

catálogoPaulo PassosGabinete de Comunicação / CMA

fotografiaFernando Sá BaioGabinete de Comunicação / CMA

produção de letteringGabinete de Comunicação / CMA

impressãoXXXXXXXXX

isbn978-972-9133-41-1

depósito legal311943/10

8000 anos a transformar o barro.Cerâmicas do miaa

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Na História da Humanidade o conflito tem sido permanente. Por motivos religiosos, étnicos, ideológicos, económicos, territoriais…Defender e atacar faz parte da natureza humana.

Ontem como hoje, vencedores e vencidos medem-se, em grande parte, pela qualidade das armas que usam e, por isso, a evolução do armamento ofensivo e defensivo tem sido um dos motores da inovação tecnológica.

Muitas e variadas armas fazem parte do acervo do MIAA.

Esta V Antevisão tem como tema o armamento e a guerra em várias regiões do mundo ao longo dos últimos 2500 anos.

Esta exposição faz todo o sentido em Abrantes.

Abrantes que teve, pela sua localização estratégica, uma relevância militar de primeira grandeza. O nosso castelo é disso testemunha. Ele é hoje uma fortaleza, exemplo da evolução da estratégia militar ao longo dos tempos. Algumas das peças expostas foram encontradas no próprio castelo.

E porque valorizamos o passado estamos a iniciar escavações arqueológicas intramuralhas, convictos que esses trabalhos permitirão um melhor conhecimento do passado. E, no futuro, outros objetos surgirão e outros estudos e outras exposições permitirão reconstituir melhor o puzzle da nossa História.

Por isso, esta exposição não se fecha sobre si própria. Pelo contrário ela é parte de uma estratégia e de um projeto mais vasto que temos em execução, de que o MIAA é o núcleo central.

Maria d o Céu AlbuquerquePresidente da Câmara Municipalde Abrantes

2500 anos de armas e conflitos

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A cerâmica: acompanhando a civilização há mais de 10.000 anos

A cerâmica é o primeiro produto obtido pelo Homem resultante de uma completa transformação química de uma matéria-prima. Como, quando, onde e porquê se iniciou a produzir cerâmica são perguntas complexas mas necessárias, para as quais só parcialmente os arqueólogos e os antropólogos podem dar algumas respostas.

Sendo um ser vivo com uma extraordinária capacidade de observação, o Homem presumivelmente reparou já no Paleolítico que debaixo das fogueiras, depois de usadas, a terra exposta ao calor apresentava-se mais dura e, talvez, mais avermelhada. Provavelmente, reparou também que se a terra era muito argilosa, ficava ainda mais compacta e uniforme. Prova desta capacidade de observação são algumas peças de arte paleolíticas realizadas em terracota, como a Vénus de Dolni Vestonice (Rép. Checa), datada de há 29.000-25.000 anos.

Tradicionalmente, faz-se coincidir o surgimento das sociedades agrícolas e sedentárias com o início da cozedura de argila para a obtenção de contentores, embora a cerâmica mais antiga conhecida seja a produzida pela cultura Jomon, no Japão, com cerca de 12.000 anos, a qual era ainda uma sociedade de caçadores-recolectores, embora já sedentária. No Próximo Oriente, onde apareceram vestígios de agricultura a partir de 8.500 a.C., os primeiros achados de cerâmica ocorrem nas culturas de Umm Dabaghiya (norte do Iraque) e Çatal Hüyük (centro-sul da Turquia) entre 6300 e 5500 a.C., claramente relacionadas com sociedades de agricultores-pastores sedentários.

Um problema de difícil solução diz respeito à finalidade dos primeiros recipientes cerâmicos: serviam para cozer alimentos, para guardar comida ou para outros usos? Uma hipótese plausível para a sua origem, está relacionada com a cozedura de alimentos. Com contentores capazes de reter água, era possível comer algumas ervas e legumes que se queimavam ou secavam se assadas no fogo; os moluscos abriam-se mais facilmente se cozidos em vez de assados; alguns frutos como as bolotas, nutrientes mas ricos em toxinas, se colocados em maceração podiam ser aproveitados. Além disso, também se podiam preparar papas para os bebés, algo que favorecia uma mais rápido desmame, reduzindo assim o intervalo entre as gravidezes e permitindo um aumento demográfico. Por último, note-se que a maioria das formas dos primeiros contentores, quer as de Jomon, quer as do Próximo Oriente, até às do Neolítico Antigo da Península Ibérica, sugerem que foram idealizadas para a cozedura de alimentos.

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As formas cerâmicas, para praticamente toda a Pré-História Recente (vi-ii milénio a.C.) e boa parte da Proto-História (i milénio a.C.), eram cozidas em estruturas simples, que não atingiram mais de 800°-900° C; somente a partir do período grego clássico e romano se desenvolveram fornos que atingiram 1200° C. Como resultado dessas diferenças de temperatura, as formas pré e proto-históricas têm uma textura mais porosa e são mais fracas e, tecnicamente, são mais terracota do que cerâmica.

Ao longo de milhares de anos, enquanto a cerâmica acompanhava o dia-a-dia da nossa civilização, elementos inicialmente acessórios ou técnico-utilitários, como a decoração e o engobe, passaram gradualmente a ter um papel proeminente nas formas cerâmicas.

Já nas primeiras formas de vasos neolíticas aparecem algumas decorações, como por exemplo a cerâmica “cardial” do Neolítico Antigo (vi milénio a.C.) caracterizada por padrões impressos na argila ainda fresca com a concha do cardium, um molusco, e ao longo da história a relação entre forma cerâmica e a sua decoração tornou-se cada vez mais próxima: se nos primeiros contentores para cozer e armazenar alimentos e líquidos a forma era o elemento principal e a decoração o acessório, com o passar do tempo as formas passaram também a ser um suporte para a decoração. Exemplos desta mudança, desde um contentor estritamente funcional até um meio de divulgação da sua decoração, são as cerâmicas gregas clássicas (sécs. vi-iv a.C.), por meio das quais os valores da cultura grega eram difundidos ao longo do Mediterrâneo (e não só) através de cenas emblemáticas dos mitos pintadas nos vasos, usados pelas elites fora da Grécia. Em algumas ocasiões, o casamento entre forma e decoração num vaso cerâmico resultou ainda mais evidente, sendo a decoração feita para ressaltar a forma, como aconteceu por vezes na cerâmica gnathia da época helenística (sécs. iv-iii a.C.).

Outro elemento funcional que passou a ser elemento estético e/ou suporte de comunicação visual, foi o engobe. Sendo uma solução líquida de argila muito diluída, o engobe foi inicialmente aplicado como meio de obter superfícies mais regulares, bem como para permitir, uma vez o vaso seco, uma superfície mais dura e resistente através da brunidura (como sucede com formas da Idade do Bronze Final português - sécs. xiii-vii a.C.). Tal permitia melhorar também a higiene da cerâmica de mesa, dado que não permitia a mistura entre comida e pedaços de cerâmica. A cerâmica campaniense (sécs. iii-i a.C.) e a sigillata romana (sécs. i a.C.-vi d.C.) são exemplos de uma excelência no desenvolvimento técnico do engobe, chegando ambas a obter um reflexo metálico que lhes permitia imitar os vasos de metal. Na época moderna, primeiro com a faiança e depois com a porcelana, não só se passou a ter cerâmica de mesa com uma superfície completamente dura e “higiénica”, como também se pôde desenvolver todas as potencialidades das decorações.

Assim, com o extraordinário acervo de arqueologia da Câmara Municipal de Abrantes e da Colecção Estrada, é possível nesta vi Antevisão do miaa contar a história do dia-a-dia da nossa civilização, desde o Neolítico Antigo até à Idade Moderna sem hiato algum, através de um material onde se cruzam tecnologia e arte, utilitarismo e simbolismo, transmissão de conhecimentos entre gerações de ceramistas e transmissão de ideologias entre culturas.

Por último, é também possível com esta Antevisão vi, perceber toda a potencialidade do miaa nos seguintes âmbitos. No âmbito da sinergia da concepção museológica, da investigação arqueológica, do restauro e conservação das peças e da microscopia da cerâmica, dado envolver, além da equipa do miaa e dos Serviços de Arqueologia e de Restauro e Conservação da Câmara de Abrantes, estruturas académicas quer do Médio Tejo (como o Centro de Pré-História do Instituto Politécnico de Tomar, o ciaar de Vila Nova da Barquinha e o Instituto Terra e Memória de Mação), quer de outras partes do pais (como o Laboratório Hercules da Universidade de Évora e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro). No âmbito da polivalência do seu acervo e na complementaridade entre a Colecção Arqueológica da Câmara de Abrantes e a Colecção Estrada, o que permite ao miaa apresentar ao público uma enorme variedade de temáticas. No âmbito da atractividade nacional e internacional do seu acervo e das suas temáticas, que faz do miaa um futuro recurso cultural estruturante para o turismo e para a investigação científica no Médio Tejo.

DAVIDE DELFINO GUSTAVO PORTOCARRERO

BIBLIO GRAFIA

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Decoração e conotação de um recipiente cerâmico: utilização doméstica, funerária e simbólica. As mais antigas cerâmicas do Concelho de Abrantes

O Concelho de Abrantes tem o privilégio de possuir uma grande variedade de sítios arqueológicos cuja cronologia se estabelece na Pré-História Recente.

Este é um período particular, pois é uma fase em se implementa a agricultura e a pastorícia, implicando uma nova forma de vida por oposição ao nomadismo da Pré-História Antiga.

No momento em que as comunidades agro-pastoris se estabelecem no território, hoje concelho de Abrantes, desenvolvem também novas tecnologias, entre elas, está o polimento da pedra, resultando nos machados polidos, a tecnologia de produção de recipientes cerâmicos e, um pouco mais tarde, a produção de objectos em cobre e em bronze através do domínio da tecnologia metalúrgica.

As comunidades do Neolítico, Calcolítico e Idade do Bronze possuíam diferentes padrões de povoamento e de enterramento, contudo tinham, entre outros, um elo em comum: é o elo que se destaca através da produção cerâmica. Esta possuiu ao longo de cinco mil anos uma grande variedade de formas e de decorações, cujos exemplos estão patentes nesta exposição.

Neolítico

Em Portugal, discute-se ainda, no plano teórico, a chegada do objecto cerâmico. Hoje temos datações absolutas que apontam para a chegada da cerâmica à ponta mais ocidental da Europa por volta de finais do vi milénio a.C.. O Neolítico é uma etapa da História da Humanidade que representa uma viragem nos comportamentos humanos, pois ela implica a criação de várias tecnologias que são genericamente chamadas de “pacote neolítico”. Uma das novidades é a produção de recipientes cerâmicos.

O trabalho desenvolvido pela Arqueologia Experimental permitiu definir cadeias operatórias na execução de um recipiente que se estabelecem:

1. obtenção da matéria-prima (jazida); 2. preparação da pasta argilosa; 3. modelação da argila; 4. secagem pós-modelação; 5. técnicas de acabamento; 6. decoração;7. cozedura; 8. arrefecimento pós-cozedura; 9. produto final.

É ainda importante salientar que os aspectos relacionados com a decoração nas paredes dos recipientes enquadram-se no tratamento de superfícies e que as técnicas decorativas possuem um sistema de classificação de acordo com forma, utilização prática, instrumento utilizado na decoração e cronologia: incisão, incisão pós-cozedura, impressão, puncionamento, penteada, roleta ou estampagem por roleta, plástica ou modelada, aplicada, repuxada, excisão e brunido.

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No Concelho de Abrantes vamos encontrar produção cerâmica que data de tempos remotos do “Neolítico Antigo Evolucionado”.

Este período é também conhecido por “Neolítico Antigo com cerâmicas impressas não-cardiais” ou “Epicardial” e possui uma datação relativa em função dos artefactos, que compreende os finais do vi e 1ª metade do v milénio a.C.

Regra geral o fabrico dos recipientes é manual e os tratamentos das superfícies dos recipientes são alisadas e decoradas.

Do ponto de vista da morfologia vamos encontrar variados tipos de formas: taça em calote, taça esferoidal, taça ovóide, pote globular, cujas bases são esféricas e onde por vezes apresentam um estreitamento em direcção ao bordo, possuindo colo.

A decoração das superfícies é realizada fundamentalmente através de três técnicas: impressão, puncionamento e incisão.

Os sítios arqueológicos mais importantes deste período são o Povoado de Fontes e o Povoado de Salvador-Coalhos, cujos fragmentos cerâmicos se apresentam na exposição.

Os motivos são variados, tão diversos que terão dependido do estilo e do talento do artesão, assim, observamos motivos impressos lineares na horizontal e na oblíqua – impressão não-cardial, decoração no bojo; motivos impressos lineares na horizontal – impressão não-cardial, decoração no bojo [92.slv.014.3]; motivos incisos lineares penteados na horizontal – incisão leve, decoração no bojo [92.slv.014.2]; motivos incisos lineares na horizontal e na oblíqua – incisão leve, decoração no bojo[92.slv.014.4]; motivos puncionados na horizontal, puncionamento profundo, curto e arrastado, decoração no bojo [92.slv.014.8]; motivos incisos lineares na horizontal e na vertical – decoração denteada no lábio, impressão não-cardial, decoração no bojo [07.fnt.012.8.341.1]; motivos incisos lineares na horizontal – puncionamento profundo e alguma distância entre as linhas, decoração no bojo [07.fnt.012.8.341.2]; motivos incisos levemente curvilíneos na horizontal e oblíquos interrompidos pelo arranque de aplicação plástica da asa, que parte do início do bojo, decoração no bojo superior

[07.fnt.012.8.341.3]; motivos penteados na vertical e na horizontal – puncionamento leve, curto e arrastado, feito com a ponta do pente, decoração no bojo; aplicação plástica – asa circular arrancando directamente a partir do bordo, decoração no bordo [07.fnt.012.8.341.4].

Todavia, devemos salientar que a técnica de puncionamento se estende desde o Neolítico Antigo até ao Calcolítico Final e que a técnica de incisão se estende desde o Neolítico Antigo (embora com pouca incidência) até à Idade do Bronze Final.

Vários são os sítios arqueológicos deste período em Portugal que são compatíveis relativamente aos materiais cerâmicos: Fonte de Sesimbra (Santana, Sesimbra), Vale Pincel I (Sines), Prazo (Freixo de Numão), Salema (Sines), Vale Vistoso (Porto Covo, Sines), Laranjal do Cabeço das Pias (Vale da Serra Torres Novas), Quinta da Torrinha (Freixo-de-Numão, Vila Nova de Foz Côa), Barranco das Quebradas (Vila do Bispo, Sagres), Buraco da Moura de São Romão (Seia, Viseu), Cortiçóis (Benfica do Ribatejo, Almeirim), Gruta dos Carrascos ou das Samorras (Torres Novas, Santarém); Marco Branco (Santiago do Cacém), Azinhal 3 (Coruche), Anta 6 do Couto da Espanhola (Idanha-a-Nova), Sepultura 2 do Cabeço do Torrão (Elvas), Sepulturas n 9, 10, 13 e 14 da necrópole da Palmeira (Caldas de Monchique), Necrópole de Buço Preto (Monchique), Pipas (Reguengos de Monsaraz).

No Neolítico Médio, período que se situa cronologicamente na segunda metade do v milénio, transição para o iv milénio a.C. (datações absolutas por c 14 e a.m.s.). O único sítio intervencionado no concelho de Abrantes que corresponde a este período é o Povoado da Amoreira.

O fabrico dos recipientes é manual e, as suas superfícies são alisadas. As formas alteram-se um pouco relativamente ao período imediatamente anterior, são taças em calote e vasos de colo. Surgem as primeiras formas carenadas.

A decoração é muito rara e predominam os recipientes lisos.

Vários são os sítios arqueológicos deste período em Portugal que são compatíveis relativamente aos materiais cerâmicos: Comporta (Pontal, Grândola), Lapa do Fumo (Sesimbra), Algarão da Goldra (Faro), Moita do Ourives (Benavente), Foz do Enxoé (Santa Maria, Serpa).

O Neolítico Final-Calcolítico situa-se cronologicamente nos finais do IV milénio/ inícios do III milénio a.C. São também deste período alguns fragmentos cerâmicos decorados do Povoado de Salvador-Coalhos.

O fabrico dos recipientes é manual e os tratamentos das superfícies dos recipientes são alisadas e decoradas.

Algumas formas cerâmicas apresentam-se sem decoração, com a superfície bem alisada e, em bastantes casos, polida: exemplificativos são as peças provenientes do monumento funerário atípico de Colos (Freguesia de São facundo) [13.col.012.1.17, 13.col.012.1.18, 13.col. 012.1.19 e 013.col.012.2.24].

As formas dividem-se em esféricos, potes e formas globulares.

Vários são os sítios arqueológicos deste período em Portugal que são compatíveis relativamente aos materiais cerâmicos: Carnaxide, Lapa do Fumo, Lapa do Bugio, Gruta A e B do Forte do Cavalo (Sesimbra), Algar do Barrão (Monsanto, Alcanena), Comporta ii e Comporta iii, Galapos, Ribeira de Cheleiros (Mafra, Lisboa).

Calcolítico

O Calcolítico Inicial e Médio estabelece-se no iii milénio a.C. e diferenciam-se entre si através de uma cada vez maior variedade de formas e complexidade de decorações. São também deste período alguns fragmentos cerâmicos decorados do Povoado de Salvador-Coalhos. Na Bacia do Médio Tejo parece não existir o Vaso Campaniforme (contudo, é de assinalar o Povoado da Fonte Quente, no concelho de Tomar, que se situa a escassos quilómetros do concelho de Abrantes), que marcaria em geral o Calcolítico Final, fazendo apontar para o território abrantino uma continuidade das formas e decorações do Calcolítico Médio até o início da Idade do Bronze.

O fabrico continua a ser manual e o tratamento das superfícies alisado e decorado.

Já quanto à forma vamos encontrar uma grande diversidade de recipientes: vasos hemisféricos, taças, copos, grandes esféricos, vasos com colo.

A decoração desenvolve-se em suaves caneluras horizontais, espinhados, reticulados, ziguezagues ou semicírculos. Os motivos que se apresentam na exposição são motivos espinhados – incisões profundas “penteadas” na oblíqua, formando um padrão decorativo triangular, decoração no bojo [92.slv.014.1]; motivos espinhados – incisões duplas leves penteadas com orientação oblíqua, formando um padrão decorativo triangular em forma de espinha, em bandas horizontais, decoração no bojo [07.fnt.012.8.341.4; 07.fnt.012.8.341.5]; motivos espinhados – incisões leves “penteadas” na oblíqua, formando um padrão decorativo triangular em forma de espinha, decoração no bojo [92.slv.014.5]; motivos espinhados – incisões profundas “penteadas” na oblíqua, formando um padrão decorativo triangular na chamada falsa “folha de acácia”, decoração no bojo [92.slv.014.7]; motivos pontilhados – –impressão por puncionamento profundo e alargado, isolado, formando um padrão de pontos uniforme, decoração no bojo [92.slv.014.6]; motivos incisos, penteados lineares na horizontal, com espaçamento entre as incisões, executada com pouca pressão, decoração no bojo [07.fnt.012.8.341.7]; recipiente hemisférico, com bordo redondo-recto, incisão linear profunda junto ao bordo, na horizontal, incisões curtas, na oblíqua, no bojo superior [07.fnt.012.8.341.8].

Devemos, contudo, assinalar que os motivos decorativos penteados também existem no Neolítico Médio, Neolítico Final, Calcolítico Inicial, Calcolítico Médio, Calcolítico Final e na Idade do Bronze Inicial.

Vários são os sítios arqueológicos deste período em Portugal que são compatíveis relativamente aos materiais cerâmicos: Rotura, Chibanes, Anta Grande do Olival da Pega, Leceia (Oeiras) (Cardoso), Zambujal (Torres Vedras), Vila Nova de S. Pedro, Outeiro Redondo (Sesimbra), Castanheiro do Vento (Horta do Douro, Vila Nova de Foz Côa).

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Idade do Bronze

O arco cronológico que compreende o ii milénio a.C. e os primeiros séculos do i milénio a.C., é caracterizado por uma gradual complexificação das sociedades humanas, com o surgimento cada vez mais de elites ligadas a práticas guerreiras, ao controlo de trocas de longo alcance, à gestão de recursos estratégicos, cada vez mais complexa. O nome Idade do Bronze vem da utilização difusa da liga metálica de cobre e estanho, que permite obter um metal artificial mais resistente do que o cobre. Para Portugal, ao sul do Tejo, as diferentes etapas cronológicas e culturais são marcadas na cerâmica por formas, com o nascimento e o desenvolvimento da carena e, na sua parte final, pelo aparecimento de uma decoração geométrica obtida por brunimento. Não tendo, no Médio Tejo, possibilidade de fazer distinção entre as etapas iniciais e média da Idade do Bronze, opta-se por definir um Bronze Pleno, um Bronze Final I e um Bronze Final II, de acordo com as cronologias proposta por J.L. Cardoso e por A. Monge Soares.

Idade do Bronze Pleno

Entre os séculos xix e xiii a.C., embora ainda a metalurgia do bronze não apareça no Centro de Portugal, é possível perceber algumas mudanças no que respeita ao Calcolítico: na tipologia dos artefactos metálicos e nas formas da cerâmica.

É possível definir os materiais cerâmicos deste primeiro período da Idade do Bronze, graças ao aparecimento de formas com carena: o material encontrado no monumento funerário de Colos (freg. de São Facundo), mostra muito claramente a passagem das formas do Neo-Calcolítico para as formas carenadas do Bronze. Desde as peças arq9col183 e arq9col20, que apresentam uma primeira abordagem de carena semelhante às das Idade do Bronze (tipo 1), até à peça arq9col21, que apresenta uma carena quase a desaparecer no fundo (tipo 2), com superfícies polidas mas de um fabrico manual grosseiro, até às peças arq8col22

e arq2col193; estas últimas são duas variantes da taça de carena baixa tipo Atalaia (tipo 3), característica do Bronze Pleno de Sul do Portugal: na primeira a carena é pontiaguda, não proeminente e sem decoração, na segunda, a carena é pontiaguda e proeminente, tendo dois mamilos plásticos no ombro. Ambas apresentam superfícies polidas muito bem tratadas. Nota-se aqui a total ausência de decorações, exceptuando algumas raras aplicações plásticas nas carenas tipo 1. O facto de estas formas estarem presentes em sepulturas já utilizadas no Neocalcolítico, é indicador de uma reutilização de monumentos funerários mais antigos durante a Idade do Bronze Pleno, como se pode ver nos sítios do Alto Alentejo (Anta do Considreiro, Anta da Vidigueira, Anta 1 dos Cebolinhos, Anta 2 do Poço da Gateira, Anta da Bola da Cera, Anta das Castelhanas e Anta da Cabeçuda); qual poderá ter sido o significado destas formas, claramente feitas para uso de mesa, em sepulturas? É ainda difícil dizer, entre a hipótese de um uso para rituais de enterramento (incluindo eventualmente refeições) ou para acompanhar o defunto no além.

Idade do Bronze Final

Entre os séculos xiii e viii a.C. o Centro de Portugal assiste a uma complexificação cada vez maior, com o surgimento de elites guerreiras ligadas, por um lado, à exploração de minerais metálicos e, por outro lado, à troca de objectos metálicos, manifestando símbolos de poder como povoados amuralhados de altura e estelas funerárias. São os tipos de objectos metálicos que permitem caracterizar o Bronze Final em 2 fases (1250-1100 a.C./1100-750 a.C.) adaptando a cronologia tripartida da M. Galvez Priego, feita para a Andaluzia e Algarve, a uma cronologia bipartida que melhor se adapta ao Médio Tejo. Na cerâmica, o início do Bronze Final no Médio Tejo é marcado geralmente com superfícies brunidas e carenas mais arredondadas, e o fim do Bronze Final, com o aparecimento das decorações brunidas.

O tratamento brunido das superfícies, alem de ter provavelmente a pretensão de imitar o brilho do metal (como acontece provavelmente nas taças tipo Santa Vitória no Bronze do Sudoeste), pode ter também uma finalidade pouco estética e mais prática: dar impermeabilidade às formas cerâmicas, para conter melhor os líquidos e, no caso das formas usadas nas refeições (taças, malgas, tijelas) para permitir uma maior higiene do conteúdo, dando à superfície um aspecto duro e compacto.

A decoração geométrica obtida por brunimento da superfície das formas antes da cozedura, são peculiares da cerâmica fina, de origem do Bronze do Sudoeste, com datações mais antigas no Sul Andaluz, no Guadiana e na Beira Alta (séculos xiii-xii a.C.), enquanto nos grupos tradicionais da Península de Setúbal (Lapa do Fumo) e do vale do Tejo (Alpiarça) a cronologia absoluta remonta aos séculos x-viii a.C.. A opção decorativa, marcadamente visível nos ornados brunidos, acrescenta aos materiais uma dimensão estética, um lado humano, típico de cada cultura: por isso o facto de aparecerem ornados brunidos e haver uma manifestação com bastantes variantes regionais ajuda-nos a melhor compreender a diferença cultural entre as comunidades humanas da última parte do Bronze Final.

Para o Concelho de Abrantes estão expostos acervos cerâmicos característicos quer de povoados, quer de sepulturas, relativos a estes dois momentos do Bronze Final: o modelo de povoamento neste território é visível com povoados amuralhados em morros, como o Castelo de Abrantes, e “casais agrícolas” abertos de planície, como a Quinta da Pedreira. O modelo de monumentos funerários é também perceptível com grupos de mamoas instaladas em caminhos de cume, como na necrópole de Souto. As cerâmicas destes sítios fornecem a ideia das formas e das decorações do Bronze Final, quer de contextos de vida quotidiana (povoados) quer de contextos mais ligados à morte e ao culto (mamoas).

Relativamente aos povoados, a peça 92.slv.014.8.9, encontrada no povoado aberto de Salvador-Coalhos (Pego), é um fragmento de uma provável malga carenada com típica pega de lingueta furada verticalmente. Quer a peça arq60 proveniente do Castelo de Abrantes e uma peça da Quinta da Pedreira, são taças com carena média e base côncava apresentando um ônfalo no centro, estando a superfície de acabamento brunido provavelmente por cima de um engobe; o fundo da taça do Castelo de Abrantes apresenta uma provável decoração brunida, formando um padrão de cruz com o centro no ônfalo. Com proveniência da Quinta da Pedreira há mais três peças. A primeira, uma malga com carena média e provável tratamento brunido.. A segunda, uma base completa de uma forma troncocónica de dimensões médio-grandes e cheia de furos: seria provavelmente utilizada ou para fabricar queijos, ou com braseira para aquecer as cabanas. Finalmente, um fragmento de fundo com decoração brunida composta por uma linha de traços retilíneos cruzados. São todas formas que remetem para um uso de mesa, talvez sendo impermeabilizadas com o engobe e o tratamento brunido, para melhor conter líquidos. O facto de a cerâmica com tratamento brunido e com decoração brunida está presente, quer em povoados amuralhados de altura (Castelo de Abrantes), quer em “casais agrícolas” (Quinta da Pedreira), mostra como este bem de luxo circulava em todos os povoados, apesar da importância política, embora a quantidade nos “casais agrícolas” seja notavelmente inferior relativamente aos povoados de altura amuralhados.

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Um conjunto de formas provenientes do tumulus 1 do Souto, mostra claramente as formas cerâmicas que compunham um adereço funerário: uma urna de corpo bicónico com carena arredondada e ombro rectificado, tendo a superfície sido tratada com um brunimento obtido provavelmente esfregando-se o engobe já seco e cujo interior, curiosamente, só foi alisado; um púcaro de corpo bicónico com carena arredondada e ombro rectificado, tendo uma asa de fita com nervuras e a superfície brunida com marcas de um suporte que envolvia a peça na parte inferior, mas que já desapareceu; uma malga de corpo hemisférico com paredes alisadas. As três peças foram achadas no centro do tumulus e os ossos queimados que estavam no interior da taça foram datados por a.m.s. de 1.120-910 a.C. (beta 280041 - 2840±40 bp, 1120-910 cal. bc – Homo - urna) coincidindo com o Bronze Final I. A taça encontrada no interior da urna continha cinzas e ossos humanos queimados, bem como fios residuais de cobre ou bronze que são provavelmente parte do suporte da taça que arderam com o defunto na pira funerária, derretendo. Podemos, então, pensar que a urna, mais do que um contentor das cinzas do falecido, fosse talvez, feita semelhante ao metal com o brunimento, o invólucro material, do mundo imaterial para onde, falecendo e sendo cremado, foi o defunto, acompanhado por um dos seus objectos preferidos: a taça com provável suporte de cobre ou bronze.

O conjunto de formas e decorações cerâmicas destes sítios, os mais significativos do Bronze Final no Concelho de Abrantes, permitem encaixar as comunidades locais como estando integradas nos Grupos Culturais da passagem entre o ii e o i milénio a.C. do Centro de Portugal: as formas cerâmicas dos lugares de sepultamento do Bronze Final I, em particular as urnas, ligam este território do Médio Tejo até à Península de Setúbal, a oeste (entre os paralelos morfológicos, a urna da Rocha do Casal de Meio) e até à Beira Baixa, a leste (entre os paralelos morfológicos, a urna do enterramento de Monte São Martinho); a qualidade da cerâmica fina, sobretudo a com ornados brunidos do Bronze Final ii, remonta quer à cerâmica da Lapa do Fumo (Península de Setúbal), quer à de Alpiarça (Lezíria), quer à da Beira Baixa, estando os padrões decorativos mais perto dos paralelos desta última região. A cerâmica em exposição fala-nos, portanto, de comunidades humanas que viviam entre o rio Tejo (Quinta da Pedreira e Castelo de Abrantes) e o rio Zêzere (Souto) com fortes ligações aos grupos humanos quer a oeste quer a leste, com provável papel fundamental do rio Tejo como via aquática que era explorada para trocar produtos, matérias-primas e ideias.

Vários são os sítios arqueológicos deste período em Portugal que são compatíveis relativamente aos materiais cerâmicos. Entre os principais: Serradinha (Santiago do Cacém), Pontes de Marchil (Faro), Ladroeira Grande (Moncarapacho, Olhão), Gruta de Ibn Amar (Lagoa), Pontes de Marchil (Faro), Grutas do Poço Velho (Cascais), Castelo de Alcácer do Sal nível (C11), Povoado Fortificado da Coroa do Frade (Évora), Roça do Casal do Meio-Ervidel II, Gruta da Ponte da Laje (Oeiras), Poço Velho (Cascais), Paranho (Molelos, Tondela, Viseu), Alpiarça (Santarém), Monte São Domingos (Castelo Branco), Castelo Velho do Caratão (Mação), Penedo de Lexim (Mafra), Tapada da Ajuda (Lisboa).

ana cruzdavide delfinoana graça

A arqueometria é um lugar de encontro privilegiado entre disciplinas humanísticas, naturalísticas e químico-físicas. A aplicação sobre artefactos cerâmicos é um campo de aplicação vantajoso e frequente: as colecções de cerâmicas antigas favorecem hoje novas possibilidades de estudo graça a aplicação sinergéticas das ciências físicas, químicas, geológicas e naturais.As principais questões levantadas pela arqueologia à arqueometria são:

- Onde foi produzido o artefacto;- Quais os critérios de escolha e trabalho da matéria-prima até à modelação do artefacto e o seu cozimento;- O que levou o ceramista a escolher um tipo de matéria-prima em lugarde outra.De facto, uma cerâmica antiga

leva consigo uma história que é a soma de muitas acções, de uma cadeia operatória/ciclo de produção: a busca/escolha da matéria-prima, a preparação da pasta, o lugar de produção, o tipo e as condições de cozimento, o uso e a deposição do artefacto. Esta distinção esquemática é, de facto, rígida: é preciso ter em conta que, na prática, quer arqueologica quer arqueométrica, os problemas são abordados de acordo com uma perspectiva de maior articulação e, possivelmente, em sequência diacrónica.

Nesta contribuição serão explicados os métodos da análise macroscópica efetuados em algumas peças da exposição, sendo este um estudo preliminar macroscópico, prevendo-se no futuro um aprofundamento arqueométrico.

Análise macroscópicae amostragem

O estudo macroscópico da cerâmica tem como objectivo determinar as características do artefacto, visíveis a olho nu ou com o auxílio de uma lupa binocular de baixa ampliação: assim identificam-se as principais características do fragmento através da recolha de fotografias, dos dados do contexto arqueológico, as características do artefacto, da matriz argilosa e do desengordurante utilizado na pasta. A subdivisão do material basada nestas características, permite obter uma primeira visão das pastas cerâmicas utilizadas pelo oleiro: a descrição do desengordurante permite uma discriminação dos seus componentes (a sua forma e medidas médias, a sua concentração e a relação quantitativa entre desengordurante e matriz argilosa). Isso permite criar tipos de pastas, que serão sucessivamente estudados mais aprofundadamente com técnicas analíticas de pormenor. A análise macroscópica também permite compreender melhor as escolhas feitas pelo oleiro em função do uso a que se destina a peça cerâmica: tal é possível pela matéria-prima utilizada, técnicas de manufactura e de tratamento das superfícies e a temperatura de cozimento; tal estudo permite perceber melhor o nível tecnológico de uma sociedade. Finalmente, as informações que se podem obter com um estudo macroscópico são: dados arqueológicos, características da pasta cerâmica, individualização das técnicas de produção e de tratamento das superfícies, marcas de uso e alteração pós-deposicional.

Onde o olho não chega para ver:microscopia da cerâmicapré-histórica

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Concluída esta primeira fase de análise, passa-se para a amostragem dos artefactos e ao seu estudo através de técnicas analíticas de pormenor como o estudo petrográfico, mineralógico, químico e microestructural. As amostras escolhidas para esta fase, têm de representar todos os contextos estratigráficos reconhecidos na escavação e a maioria das formas existentes no repertório cerâmico.

Aplicação aos materiais do Neolítico, do Calcolítico e da Idade do Bronze

Apresentam-se os resultados do estudo macroscópico dos materiais cerâmicos dos sítios de Fontes, Salvador e Souto, por meio de uma lupa binocular de baixa ampliação. As observações são preliminares, tendo sido efactuadas sobre um número restrito de peças e o objetivo deste texto é o de fornecer uma proposta de estudo para as cerâmicas pré-históricas. As observações seguiram critérios específicos, o fim de registrar as características dos fragmentos mais representativos pela tipologia e pelas decorações.

Neolítico Antigo [fim do vi- Inicio do v milénio a.C.]

Povoado de Fontesinv. 07.fnt.012.8.341.1:

Fragmento de parede com espessura de 1,2 cm. A decoração parece ter sida executada antes do cozimento, com uma ferramenta de cabeça circular; a superfície interior é muito rugosa, enquanto a exterior é bastante alisada; o desengordurante é em média de 2-3 mm; a pasta tem acerca de 40% de desengordurante e 60% de argila; os elementos do desengordurante são semi- angulosos, de cor branca opaca, semi-trasparentes ou de cor negra opaca.

Povoado de Salvadorinv. 92.slv.014.2:

Fragmento de parede de cor castanho-escuro com espessura de 0,65 mm. Foi cozido em ambiente redutor (com mais óxido de carbono e pouco oxigénio), sendo a superfície alisada e ligeiramente corroída; a decoração é muito leve; o desengordurante é semi- depurado sendo em média inferior a 1 mm; a pasta tem cerca de 5% de desengordurante e 95% de argila; a porosidade da peça é médio-baixa; os elementos do desengordurante são semi-angulosos de cor branca ou preto opaco.

Calcolítico Médio[iii milénio a.C.]

Povoado de Salvadorinv. 92.slv.014.1:

Fragmento de parede de cor castanha com espessura de 0,8 mm; foi cozido em ambiente misto redutor/oxidante; a decoração incisa foi efectuada com uma ferramenta da cabeça circular; a superfície não apresenta tratamentos particulares; o desengordurante é semi-depurado sendo em média inferior a 1 mm; a pasta tem acerca de 5-20% de desengordurante e 80-95 % de argila; a porosidade da peça é médio-baixa; os elementos do desengordurante são semi-angulosos de cor branca ou negra opaca.

Povoado de Fontesinv. 07.fnt.012.8.341.8:

Fragmento de parede de cor castanha com espessura de 0,65 mm; foi cozido em ambiente redutor; a decoração incisa foi efectuada com uma ferramenta da cabeça pontiaguda; as superfícies são alisadas; o desengordurante é depurado sendo em média inferior a 1 mm; a pasta tem cerca de menos de 5% de desengordurante e mais de 95% de argila; a porosidade da pasta é baixa; os elementos do desengordurante são semi-angulosos de cor branca semitransparente ou lamelares brilhantes.

Idade do Bronze Final

Povoado de Salvadorinv. 92.slv.014.9:

Fragmento de parede com pega de cor vermelha e espessura de 10 mm; foi cozido em ambiente oxidante; a superfície foi alisada; o desengordurante é semi-depurado sendo em média de 2 mm; a pasta tem cerca de 5- 20% de desengordurante e 80-95 % de argila; a porosidade da peça é médio-baixa; os elementos do desengordurante são semi-angulosos de cor branca semitransparente ou lamelares brilhantes.

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Mamoas do SoutoOs fragmentos em questão não pertencem às três formas em exposição, sendo difícil fazer microscopia sobre peças grandes, já restauradas: o trabalho incide sobre fragmentos provenientes da mesma mamoa das peças em exposição [mamoa 1]

Fragmento de cerâmica associada aos níveis de deposição dos seixos da mamoa 1 com espessura de 5-8 mm; o desengordurante é depurado sendo em média inferior a 1 mm; a pasta tem cerca de 5-20% de desengordurante e 80-95 % de argila; os elementos do desengordurante são semi-angulosos sendo constituídos por minerais quer opacos quer brilhantes.

Fragmento de cerâmica associada aos níveis de deposição dos seixos da mamoa 1 com espessura de 5 mm; o desengordurante é depurado sendo em média inferior a 1 mm; a pasta tem cerca de 5- 20% de desengordurante e 80-95 % de argila; a porosidade da pasta é baixa; os elementos do desengordurante são semi-angulosos.

massimo beltramematteo cantisani

Agradecimentos: ao Dr. Paulo Félix por ter facilitado o estudo do material da Quinta da Pedreira, ao Laboratório Hércules da Universidade de Évora (Projecto IMAGOS - Inovative Methodologies in Archaeology, Archaeometry and Geophysics - “Optimizing Strategies X Apollo”- Archaeological and Physical On-Site Laboratory - Lifting Outputs”, no âmbito do projecto estratégico ALENT-07-0224-FEDER-001760) e ao Centro de Interpretação de Arqueologia do Alto Ribatejo.

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inv. 92.slv.014.3Fragmento com motivos impressos lineares povoado de salvador (coalhos- abrantes)finais do vi e 1ª metade do v milénio a.c.cerâmicadimensões: comprimento: 3,1 cmlargura: 3,7 cmFragment with linear impressed motifssettlement of salvador(coalhos- abrantes)late vi- first half of v millennium bcpotterydimensions:length: 3,1 cmwidth: 3,7 cm

inv. 92.slv.014.2Fragmento com motivos incisos lineares penteados na verticalpovoado de salvador(coalhos- abrantes)finais do vi e 1ª metade do v milénio a.c.cerâmicadimensões: comprimento: 4, 2cmlargura: 4,2 cmFragment with incised linear motifs settlement of salvador(coalhos- abrantes)late vi- first half of v millennium bcpotterydimensions:length: 4, 2 cmwidth: 5 cm

inv. 92.slv.014.4Fragmento de paredecom incisão levepovoado de salvador(coalhos- abrantes)finais do vi e 1ª metade do v milénio a.c.cerâmicadimensões: comprimento: 6,2 cmlargura: 5,9 cmFragment with a light incisionsettlement of salvador (coalhos- abrantes)late vi- first half of v millennium bcpotterydimensions:length: 6,2 cmwidth: 5,9 cm

inv. 92.slv.014.8Fragmento de paredecom motivos puncionados na horizontalpovoado de salvador(coalhos- abrantes)finais do vi e 1ª metade do v milénio a.c.cerâmicadimensões: comprimento: 4, 5cmlargura: 4,3 cmFragment with punctured patternssettlement of salvador(coalhos- abrantes)late vi- first half of v millennium bcpotterydimensions:length: 4,5 cmwidth: 4,3 cm

inv. 07.fnt.012.8.341.1Fragmento de paredecom decoração não cardial no lábio e no bojopovoado de fontes (abrantes)finais do vi e 1ª metade do v milénio a.c.cerâmicadimensões: comprimento: 3, 2 cmlargura: 3, 7 cmFragment with non-cardial decoration on the lip and bulgesettlement of fontes (abrantes)late vi- first half of v millennium bcpotterydimensions:length: 3,2 cmwidth: 3,7 cm

inv. 07.fnt.012.8.341.2Fragmento com motivos não cardiais incisos lineares na horizontalpovoado de fontes (abrantes)finais do vi e 1ª metade do v milénio a.c.cerâmicadimensões: comprimento: 3,9 cm.largura: 4,1 cm.Fragment with linear incised non-cardinal patternssettlement of fontes (abrantes)late vi- first half of v millennium bcpotterydimensions:length: 3,9 cmwidth: 4,1 cm

inv. 07.fnt.012.8.341.3Fragmento de parede com motivos incisos curvilíneos na horizontalpovoado de fontes (abrantes)finais do vi e 1ª metade do v milénio a.c.cerâmicadimensões: comprimento: 4,4 cm.largura: 7,1 cmFragment with incised curvilinear motifssettlement of fontes (abrantes)late vi- first half of v millennium bcpotterydimensions:length: 4,4 cmwidth: 7,1 cm

inv. 07.fnt.012.8.341.4Fragmento de asa circular povoado de fontes (abrantes)finais do vi e 1ª metade do v milénio a.c.cerâmicadimensões: comprimento: 4,3 cm.largura: 5,5 cmFragment of circular handle settlement of fontes (abrantes)late vi- first half of v millennium bcpotterydimensions:length: 4,3 cmwidth: 5,5 cm

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Inv. 13.COL.012.1.17Vaso ovóidemonumento funerário de colosiv milénio a.c.cerâmicadimensões: altura: 7,3 cmdiâmetro: 6,5 cmOvoid vasefunerary monument of colospotterydimensions:height: 5,8cmdiameter: 8,5 cm

Pequena tacinha hemisféricamonumento funerário de colosiv milénio a.c.cerâmicadimensões: altura: 4,5 cmdiâmetro: 3,4 cmSmall hemisferical cupfunerary monument of colospotterydimensions:height: 4,5cmdiameter: 3,4 cm

inv. 13.col. 012.1.19Taça hemisféricamonumento funerário de colosiv milénio a.c.cerâmicadimensões: altura: 8,2 cmdiâmetro: 5,8 cmHemisferical cupfunerary monument of colospotterydimensions:height: 8,2cmdiameter: 5,8 cm

inv. 013.col.012.2.24Taça hemisférica monumento funerário de colosiv milénio a.c.cerâmicadimensões: altura: 12,2 cmdiâmetro: 6,4 cmHemisferical cupfunerary monument of colospotterydimensions:height: 12,2cm.diameter: 6,4 cm

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inv. 92.slv.014.1Fragmento de parede com decoração espinhada povoado de salvador (coalhos- abrantes)iii milénio a.c.cerâmicadimensões: comprimento: 7,9 cmlargura: 8,5 cmFragment with herringbone decoration settlement of salvador (coalhos- abrantes)iii millennium bcpotterydimensions:length: 7,9 cmwidth: 8,5 cm

inv. 07.fnt.012.8.341.5Fragmento com padrão decorativo triangular povoado de fontes (abrantes)iii milénio a.c.cerâmicadimensões: comprimento: 7,2 cmlargura: 6,5 cmFragment with decorative triangular-shaped patternsettlement offontes (abrantes)iii millennium bcpotterydimensions:length: 7,2 cmwidth: 6,5 cm

inv. 07.fnt.012.8.341.6Fragmento de parede com padrão decorativo povoado de fontes (abrantes)iii milénio a.c.cerâmicadimensões: comprimento: 4,1 cmlargura: 4 cmFragment with decorative triangular-shaped patternsettlement of fontes (abrantes)iii millennium bcpotterydimensions:length: 4, 1 cmwidth: 4 cm

inv. 92.slv.014.5Fragmento de parede com padrão decorativo espinhado povoado de salvador (coalhos- abrantes)iii milénio a.c.cerâmicadimensões: comprimento: 8,1 cmlargura: 8,4 cmFragment with decorative herringbone pattern settlement of salvador (coalhos- abrantes)iii millennium bcpotterydimensions:length: 8,1 cmwidth: 8,4 cm

inv. 92.slv.014.7Fragmento de parede com motivos espinhados em “falsa folha de acácia”povoado de salvador (coalhos- abrantes)iii milénio a.c.cerâmicadimensões: comprimento: 3,8 cmlargura: 3,5 cmFragment with herringbone motifs in “false acacia leaf ”settlement of salvador (coalhos- abrantes)iii millennium bcpotterydimensions:length: 3,8 cmwidth: 3,5 cm

inv. 92.slv.014.6Fragmento de parede com motivos pontilhadospovoado de salvador (coalhos- abrantes)iii milénio a.c.cerâmicadimensões: comprimento: 5,8 cmlargura: 4,8 cmFragment with dotted motifssettlement of salvador (coalhos- abrantes)iii millennium bcpotterydimensions:length: 5,8 cmwidth: 4,8 cm

inv. 07.fnt.012.8.341.7Fragmento de parede com motivos incisos linearespovoado de fontes (abrantes)iii milénio a.c.cerâmicadimensões: comprimento: 4,3 cmlargura: 3,1 cmFragment with incised linear motifssettlement of fontes (abrantes)iii millennium bcpotterydimensions:length: 4, 3 cmwidth: 3,1 cm

inv. 07.fnt.012.8.341.8Fragmento de recipiente hemisférico, incisão linear profunda povoado de fontes (abrantes)iii milénio a.c.cerâmicadimensões: comprimento: 12,4 cmlargura: 10,3 cmFragment with hemispherical shape and deep linear incision settlement of fontes (abrantes)iii millennium bcpotterydimensions:length: 12,4 cmwidth: 10, 3 cm

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inv. arq9col183Taça carenada de parede alta com dois mamilosmonumento funerário de colosprimeira metade do ii milénio a.c.cerâmicadimensões: altura: 7,1 cmdiâmetro: 12,1 cmCarenated cup with two cupmarksfunerary monument of colosfirst half of ii millennium bcpotterydimensions:height: 7,1 cmdiameter: 12,1 cm

inv. arq9col20Pequena taça carenada de parede alta com dois mamilosmonumento funerário de colosprimeira metade do ii milénio a.c.cerâmicadimensões: altura: 6,3 cmdiâmetro: 4,1 cmSmall carenated cup with cupmarksfunerary monument of colosfirst half of ii millennium bcpotterydimensions:height: 6,3 cmdiameter: 4,1 cm

inv. arq9col21Taça carenada com parede alta monumento funerário de colosprimeira metade do ii milénio a.c.cerâmicadimensões: altura: 7 cmdiâmetro: 6,1 cmCarenated cup funerary monument of colosfirst half of ii millennium bcpotterydimensions:height: 7 cmdiameter: 6,1 cm

inv. arq9col22Taça carenadamonumento funerário de colosprimeira metade do ii milénio a.c.cerâmicadimensões: altura: 7,4 cmdiâmetro: 5,1 cmCarenated cupfunerary monument of colosfirst half of ii millennium bcpotterydimensions:height: 7,4 cmdiameter: 5,1 cm

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inv. arq9col193Taça carenadamonumento funerário de colosprimeira metade do ii milénio a.c.cerâmicadimensões: altura: 8,7 cmdiâmetro: 7,4 cmCarenated cupfunerary monument of colosfirst half of ii millennium bcpotterydimensions:height: 8,7 cmdiameter: 7,4 cm

Fragmento de malga carenadapovoado de salvador-coalhos (pego)segunda metade do ii milénio a.c.cerâmicadimensões:altura: 5,6 cmdiâmetro: 12,3 cmFragment of carenated bowlsettlement of salvador-coalhos (pego)second half of ii millennium bcpotterydimensions:height: 5,6 cmdiameter: 12,3 cm

inv. arq60Taça carenada com asacastelo de abrantessegunda metade do ii milénio a.c.cerâmicadimensões:altura: 6,5 cmdiâmetro: 11 cmCarenated cup with handlecastle of abrantessecond half of ii millennium bcpotterydimensions:height: 6,5 cmdiameter: 11 cm

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Malga carenadaquinta da pedreira (rio de moinhos)segunda metade do ii milénio a.c.cerâmicadimensões:altura: 8,5 cmdiâmetro: 18,5 cmCarenated bowl quinta da pedreira (rio de moinhos)second half of ii millennium bcpotterydimensions:height: 8,5 cmdiameter: 18,5 cm

Vaso ovóide com base e paredes furadasquinta da pedreira (rio de moinhos)segunda metade do ii milénio a.c.cerâmicadimensões:altura: 24 cmdiâmetro: 19 cmOvoid vasequinta da pedreira (rio de moinhos)second half of ii millennium bcpotterydimensions:height: 24 cmdiameter: 19 cm

Fragmento de fundo com decoração brunidaquinta da pedreira (rio de moinhos)final do ii/ primeiro quartel do i milénio a.c.cerâmicadimensões:altura: 4,3 cmdiâmetro: 6 cmFragment with burnished decorationquinta da pedreira (rio de moinhos)second half of ii millennium bcpotterydimensions:height: 4,3 cmdiameter: 6 cm

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Taça carenada com asaquinta da pedreira (rio de moinhos)segunda metade do ii milénio a.c.cerâmicadimensões:altura: 7 cmdiâmetro: 10,2 cmCarenated cup with handlequinta da pedreira (rio de moinhos)second half of ii millennium bcpotterydimensions:height: 7 cmdiameter: 10,2 cm

Púcaromamoa 1 do souto1120-910 a.c.cerâmicadimensões:altura: 8 cmdiâmetro: 12 cmCuptumuli 1 of souto1120-910 bc potterydimensions:height: 8 cm.diameter: 12 cm

Malga carenadamamoa 1 do soutofinal do ii/ início do primeiro milénio a.c.cerâmicadimensões:altura: 7,7 cmdiâmetro: 23,4 cmBowltumuli 1 of soutoend of ii/ early i millennium bc potterydimensions:height: 7,7 cmdiameter: 23,4 cm

Urna cinerariamamoa 1 do souto1120-910 a.c.cerâmicadimensões:altura: 33 cmdiâmetro: 31 cmCinerary urntumuli 1 of souto1120-910 bc potterydimensions:height: 33 cmdiameter: 31 cm

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O Geometrismo da Idade do Ferro no Mediterrâneo Centro-Ocidental

Normalmente, a palavra “Geométrico” é sinónimo de um estilo cerâmico da Grécia Pré-Clássica (ix-vii a.C.), mas as decorações compostas por padrões geométricos nascem também noutros lugares do Mediterrâneo em continuidade com tradições locais: enquanto o geometrismo na Grécia se instaura sobre uma consolidada tradição figurativa, herdada da Idade do Bronze com a arte Minóica e Micénica, em regiões como a Península Itálica e a Península Ibérica sucede a tradições geométricas que têm raízes na Idade do Bronze.

O Geometrismo pintadona Península Ibérica: os Iberos

Os primeiros escritores gregos (entre os maiores, Hecateu de Mileto e Heródoto) chamaram “Iberos” aos povos instalados no levante espanhol e no sul da Península Ibérica, incluindo o Algarve e Baixo Alentejo, para os distinguir de outros povos que moravam mais no interior com diferentes línguas e costumes, como por exemplo os Celtiberos. Os Iberos evoluíram desde a Idade do Bronze até à Idade do Ferro para sociedade proto-estatais, através da influência dos fenícios na Primeira Idade do Ferro (viii-vi a.C.) e dos Gregos e Púnicos na Segunda Idade do Ferro (v-ii a.C.). Pode-se falar de povos Iberos já desde o século vi a.C., sendo que nesta altura as sociedades do levante e sul da Península Ibérica já se tinham transformado nas sociedades proto-estatais conhecidas pelos historiadores gregos, sendo divididos em dois grandes grupos: Iberos (levante espanhol) e Turdetanos (Andaluzia, Algarve e Baixo Alentejo). Não sendo uma unidade cultural completamente uniforme, existindo por exemplo duas línguas diferentes – o Ibérico falado pelos Iberos e o Tartéssico falado pelos Turdetanos –, desenvolveram-se alguns elementos comuns como armamento, sociedade estatal e alguns estilos cerâmicos.

Com respeito a este último elemento, a produção cerâmica, são características do período Ibero formas de cerâmica fina, trabalhada ao torno (introduzido pelos fenícios no séc. viii a.C.), com superfícies muito bem alisadas, talvez pela aplicação de barbotina, o que possibilitava que fossem pintadas. Na maior parte, trata-se de formas cozidas em ambiente oxidante, com decorações geométricas monocromas pintadas; existem também cerâmicas minoritárias, como a cinzenta de cozimento redutor, a de engobe vermelho e a com decoração impressa. Se no século vi a.C. ainda temos uma produção indígena de carácter doméstico que recorre quer à técnica do torno quer à mão e com decorações pintadas elementares formadas por bandas horizontais, no século v a.C. a produção deixa de ser doméstica sendo feita somente ao torno e decorada com motivos pintados geométricos mais elaborados com o aparecimento de círculos, segmentos de círculos e linhas onduladas tornando-se cada vez mais complexa, culminando no aparecimento de rombos e motivos arboriformes. Uma forma mais comum deste período é a urna de perfil ovóide.

As peças ce00850 e ce00945 são dois exemplos deste período de transição entre a produção doméstica com poucas cerâmicas ao torno e produção de ateliê onde predomina o torno: trata-se de pequenas urnas funerárias, de perfil ovóide, realizadas com pasta depurada bege trabalhada ao torno. A decoração pintada a castanho/vermelho em bandas horizontais muito espessas, alternadas com linhas horizontais finas, caracteriza a primeiro período da cerâmica pintada ibera. Quanto à área de proveniência destas peças, há paralelos na necrópole de Tutugi (Granada) e do Cigarralejo (Toya).

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O geometrismo nas decorações das cerâmicas do sul da Península Ibérica parece ser um elemento autóctone, com origem na cerâmica de ornados brunidos da Idade do Bronze Final, embora neste caso se trate de padrões completamente diferentes, a preferência pelo geometrismo frente ao naturalismo continua a manifestar-se ao longo da proto-história peninsular; até perdura durante os séculos vi-iv a.C., quando a influência grega é muito forte e leva à introdução de formas gregas na cerâmica ibera. Só se adoptam padrões mais naturalísticos em meados do século iii a.C., quando a classe dirigente que governa as cidades helenizadas, adopta um gosto mais aristocrata também nas decorações da cerâmica. Estes dados levam a uma consideração que nos deixa com três perguntas ainda por responder: os padrões geométricos pintados, como nas peças em exposição, escondem um significado simbólico ligado a aspectos étnicos, a aspectos sociais ou puramente de tradição estética ibérica?

O Geometrismo pintado dos povos itálicos: os Dáunios

O desenho geométrico e o estilo figurativo básico são características originais e fundamentais da arte itálica, visíveis desde a Cultura Apenínica da Idade do Bronze e também a partir do século ix a.C. de modo perfeitamente autónomo, bem antes do regresso às ligações com a Grécia no século viii a.C.. Uma importante produção, autónoma e original, no âmbito dos Povos Itálicos, é a cerâmica geométrica Dáunia.

O nome Dáunia (região) e Dáunios (povo) derivam do mitológico Dauno, rei da Arcádia (Grécia), que atravessando o Mar Adriático desembarcou na região itálica da Apúlia, expulsando o povo autóctone dos Ausones. Deixando a mitologia e olhando para a arqueologia e a história, os Dáunios, sedeados na parte norte-ocidental da região da Apúlia, no sul de Itália, mantiveram a cultura material, tradições próprias e um florescente comércio com os etruscos da Campânia e com os ilírios da costa da Dalmácia (do outro lado do Mar Adriático) até cerca de 400 a.C., quando por acção da colónia grega de Taranto chegaram influências da Grécia e de outras colónias gregas do sul da Itália(a Magna Grécia).

A cerâmica geométrica dáunia encontra as suas raízes por um lado no estilo Proto-Geométrico Iapígio (fim do xi-meados do ix séculos a.C.), próprio da Apúlia e manifestando somente padrões rectilíneos, e por outro lado no Geométrico Proto-Dáunio (meados do ix-viii séculos a.C.), que desenvolve formas próprias e padrões curvilíneos e zoomorfos. O período mais fascinante, pela complexidade e policromia de padrões decorativos, é o Sub-geométrico Dáunio (vii-iii séculos a.C.), típico só da parte norte-ocidental da Apúlia, em particular o Sub-geométrico Dáunio ii (meados do vi-iv séculos a.C.), o qual corresponde ao pleno florescimento da Cultura Dáunia e a uma produção rica e variada, quer nas formas, com a introdução do torno no final do V séc., quer nas decorações: bicromia e aplicações plásticas, sobretudo zoomorfas, que enriquecem as formas cerâmicas. As peças da Col. Estrada em exposição relativas a este período constituem todas bons exemplares das formas que nasceram no Sub-geométrico Dáunio ii e de provável produção canosina (da vila de Canosa), sendo presente na bicromia o vermelho, típico das oficinas da Dáunia meridional.

A primeira peça, ce00873, é um vaso com filtro e revela a vivacidade da produção Dáunia com a invenção de novas formas: formas complexas embora ainda feitas à mão sem torno, inteiramente cobertas de bandas e padrões decorativos, produzidas com argila depurada de cor bege, com engobe creme e decoradas com largas bandas alternada a outras padronizadas com motivos finos. A função dos vasos-filtro ainda não é clara, mas a frequente associação destes artefactos com contextos de santuários, parece ligá-los a actividades rituais. A peça ce01540 é um askos, termo grego antigo que significa tubo, com decoração pintada bicroma sobre pasta depurada bege, com padrões envolvendo toda a superfície da forma, alternando bandas cheias e espessas, com bandas preenchidas com padrões triangulares mais finos; a minúcia usada no preenchimento da superfície do askos, bem como do vaso-filtro, não deixa qualquer dúvida sobre a não primitividade do geometrismo dáunio. A peça ce00878 é uma taça com duas asas e uma decoração pintada a castanho e vermelho, mostrando no interior uma imagem de roda raiada (talvez uma representação do disco solar); a peça respeita plenamente os cânones do Sub-geométrico Dáunio ii, tendo uma distribuição dos padrões decorativos bastante planificada, entre exterior e interior. Finalmente, o vaso-filtro ce00862, embora dentro do Sub-geométrico Dáunio ii, parece indicar uma certa decadência nos padrões decorativos pintados, que anuncia no final de séc. V uma crise interna causada por um lado pela presença grega no Mar Adriático e por outro lado pela expansão dos samnitas, sem esquecer um terceiro factor relacionado com o desaparecimento dos etruscos do sul da Itália (Campânia); estes factores incidiram sobre o comércio dáunio e sobre a produção cerâmica, anunciando nas decorações o mais sóbrio Sub-geométrico Dáunio iii.

A peça ce00877, uma jarrinha com decoração em bandas lineares vermelhas, pertence ao Sub-geométrico Dáunio iii e exemplifica bem a austeridade das decorações pintadas em comparação com o Sub-geométrico Dáunio ii, bem como a modelação ao torno das formas, fruto de uma maior penetração de influxos gregos da área de Taranto nos ambientes indígenas dáunios. Ainda mais minimalista e dentro dos cânones do Sub-Geométrico Dauno iii é a peça ce00869: ambas faziam provavelmente parte de adereços funerários como miniaturas. A peça ce00370 é uma forma típica da área de Canosa, nascida no Sub-geométrico Dáunio ii e que permanece, como exemplifica esta peça, no Sub-geométrico Dáunio iii; pode ver-se a influência da cerâmica “Ápula sobrepintada” de figuras vermelhas e da cerâmica Gnathia (tipos produzidos em colónias gregas como Taranto) na decoração vegetal que vai integrar o sóbrio geometrismo indígena deste período, denotando na cerâmica reflexos económicos e políticos: a queda do comércio dáunio, que tem reflexo no empobrecimento da qualidade das decorações, e a influência politica e artística grega, visível nos motivos vegetais, que quebram o rígido geometrismo da tradição itálica.

Decorações na cerâmica: reflexos de variados processos

Mais uma vez as decorações das formas cerâmicas não só transmitem um sentido da estética dos povos antigos, mas também, com as suas mudanças/permanências e enriquecimento/ empobrecimento reflectem, também os processos históricos, políticos e económicos que afectaram os nossos antepassados. Em sociedades complexas, proto-estatais, as formas e as decorações da cerâmica não só são conexas ao uso e ao gosto do ceramista, mas sobretudo com os dos principais encomendadores – as elites dominantes –, em particular se se destinavam a ser adereços funerários, simbolizando a pertença étnica, bem como o poder económico ou social de uma família ou de um indivíduo. Quando as condições políticas e económicas mudam, muda também a procura de um certo simbolismo ligado às pinturas cerâmicas. Na Península Ibérica como na Península Itálica.

davide delfino

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inv ce00862Vaso-filtroapúlia, sudeste de itáliameados vi-iv a.c. cerâmicadimensões: altura: 12,1 cmcomprimento: 13,1 cmFilter potpuglia, southeast italymid vi-iv bcpotterydimensions:height: 12,1 cmlength: 13,1 cm

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inv. ce00850Urnasul da península ibéricavi-v a.c. cerâmicadimensões: altura: 17,2 cmcomprimento: 15,2 cm.Urnsouthern iberian peninsulavi-v bcpotterydimensions:height: 17,2 cmlength: 15,2 cm

inv. ce00945Urnasul da península ibéricavi-v a.c. cerâmicadimensões: altura: 15,5 cmcomprimento: 17 cmUrnsouthern iberian peninsulavi-v bcpotterydimensions:height: 15,5 cmlength: 17 cm

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inv. ce00873Vaso-filtroapúlia, sudeste de itáliameados vi-iv a.c. cerâmicadimensões: altura: 13,5 cmcomprimento: 16 cmFilter potpuglia, southeast italymid vi-iv bcpotterydimensions:height: 13,5 cmlength: 16 cm

inv ce01540Askosapúlia, sudeste de itáliameados vi-iv a.c. cerâmicadimensões: altura: 10,9 cmcomprimento: 17 cmAskospuglia, southeast italymid vi-iv bcpotterydimensions:height: 10,9 cmlength: 17 cm

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inv ce00878Taçaapúlia, sudeste de itáliameados vi-iv a.c. cerâmicadimensões: altura: 8,7 cmcomprimento: 19 cmCuppuglia, southeast italymid vi-iv bcpotterydimensions:height: 8,7 cmlength: 19 cm

inv ce00370Poteapúlia, sudeste de itáliaiv- iii a.c. cerâmicadimensões: altura: 24 cmcomprimento: 25,5 cmPotpuglia, southeast italyiv- iii bcpotterydimensions:height: 24 cmlength: 25 cm

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inv ce00869Púcaroapúlia, sudeste de itáliaiv- iii a.c. cerâmicadimensões: altura: 9,6 cmcomprimento: 8,6 cmPotpuglia, southeast italyiv- iii bcpotterydimensions:height: 9,6 cmlength: 8,6 cm

inv ce00877Jarrinhaapúlia, sudeste de itáliaiv- iii a.c. cerâmicadimensões: altura: 10,5 cmcomprimento: 9,7 cmLittle jarpuglia, southeast italyiv- iii bcpotterydimensions:height: 10,5 cmlength: 9,7 cm

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Cerâmicas em terras de contacto na Magna Grécia: desde o geometrismo de tradição indígena até ao naturalismo helénico

A Apúlia é uma região do sul de Itália que foi alvo de colonização grega a partir do séc. viii a.C. e fez parte da Magna Grécia (parte do sul de Itália colonizadas pelos gregos) entre os sécs. vi e ii a.C., sendo de destacar a cidade de Taranto, colónia jónia, fundada, de acordo com a tradição, no ano 706 a.C., por espartanos, e que foi a cidade grega mais rica e próspera da região. Já então território de comunidades itálicas, isto é, indígenas que tiveram contactos com o mundo grego pré-clássico no final da Idade do Bronze, a Apúlia foi ao longo da Idade do Ferro até à romanização (séc. iii a.C.) terreno de contacto entre italiotas (colonos gregos da Magna Grécia) e itálicos (indígenas). A produção cerâmica que ali se desenvolveu constitui um excelente indicador material desse contacto cultural, sendo que a Col. Estrada permite-nos conhecer alguns desses materiais e, através deles, as dinâmicas que ocorreram nos contactos entre itálicos e italiotas ao longo de 300 anos.

As cerâmicas de verniz negro

No séc. iv a.C., um tipo de cerâmica fina, muito depurada e pintada com engobe negro, designada de cerâmica ática de verniz negro, conheceu uma grande produção em dois centros: Atenas e Taranto. A segunda destas cidades, situada no sul da Apúlia, era uma das maiores da Magna Grécia e produzia cerâmica de verniz negra exportada para todo o Mediterrâneo Central.

Existem principalmente dois tipos de cerâmica de verniz negro: sobrepintada ou estampilhada. Nesta exposição são apresentados exemplares da Col. Estrada que permitem ter uma visão de duas variantes da cerâmica sobrepintada.

Cerâmica de verniz negro sobrepintada vermelha

Este tipo de cerâmica foi produzida durante um arco cronológico desde meados do séc. v até ao final do séc. iv a.C. na parte centro-norte da região da Apúlia correspondendo com os antigos territórios da Dáunia e da Peucécia. Dois grandes grupos foram individualizados por Beazley, coincidindo com dois centros de produção: o Grupo do Pintor de Xenon e o Grupo do Pintor do Cisne Vermelho. As peças em exposição ce00929, uma kylyx com a função de conter o vinho a ser bebido em simpósios, e ce00931, uma oinochoe com a função de deitar o vinho ou a água, podem ser atribuídas ao primeiro grupo, dado não terem um cisne ou outro animal pintado. No grupo do Pintor de Xenon, as primeiras produções apresentam pinturas de engobe vermelho junto a engobe branco, enquanto nas fases finais aparece o amarelo: como tal a peça ce00931 pode ser datada das primeiras fases (450-375 a.C.) e a peça ce00929 das intermédias (400- 350 a.C.).

As sobrepintadas do Grupo do Pintor de Xenon, parecem ter o seu centro de produção mais antigo na cidade de Metaponto, no Golfo de Taranto (Mar Jónio), e que era o filtro entre a costa marítima helenizada e o interior indígena. Contudo, ainda não é claro se se trata de uma produção de ceramistas gregos para ser exportada para o interior indígena, ou se os indígenas já conseguiam produzir cerâmica sobrepintada, embora de qualidade inferior. O certo é que esta cerâmica situa-se numa produção de fronteira entre o mundo helénico e o mundo indígena.

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Estas cerâmicas destinavam-se quer para oferendas em enterramentos, quer para uso ritual, de acordo com os seus contextos de achamento em túmulos e áreas cultuais das acrópoles. Mais problemático é especificar o seu uso no âmbito dos rituais, embora seja clara a sua utilização em simpósio e banquetes fúnebres, tendo em conta as formas das peças. A possibilidade de que se destinavam mais a rituais de enterramento do que à vida quotidiana é reforçada por um factor técnico: o verniz vermelho ou vermelho e branco da sobrepintura não ficavam bem fixados ao verniz preto. Tal sugere estarmos perante uma produção de cerâmica cujas decorações não eram destinadas a ser duráveis mas talvez a serem usadas somente uma vez.

Também a iconografia leva a pensar num uso para rituais funerários: o louro, cujos ramos são pintados em ambas as peças em exposição, faz parte das plantas ligadas à esfera do divino. Em particular, na peça ce00931 as linhas horizontais brancas revelam uma herança do geometrismo itálico, bem como a decoração vegetal estilizada no pescoço revela já alguma influência do estilo gnathia: é, por isso, uma peça significativa do fenómeno do contacto entre itálicos e italiotas.

Cerâmica de verniz negro sobrepintada tipo “Gnathia”

O nome deste tipo de cerâmica pintada, tem a origem no primeiro sítio arqueológico onde foi encontrada em grandes quantidades, a cidade de Egnathia no território dos Peucécios, na Apúlia; o seu nome peucécio era Gnathia e depois da conquista romana passou a designar-se Egnathia. Trate-se de uma cerâmica de verniz negro, com cenas figurativas e decorativas pintadas em policromia: estas são compostas por elementos vegetais ou ornamentais como grinaldas, por vezes misturados com cabeças de mulheres, máscaras de teatro, aves ou lebres. Geralmente, as formas da gnathia são as mesmas da cerâmica grega clássica (ática em particular), revelando algumas vezes uma tendência para uma maior elegância.

Pensa-se que o lugar de origem deste tipo cerâmico seja a colónia grega de Taranto (antiga Taras), no Mar Jónio, ao redor de meados do séc. iv a.C.; a partir deste primeiro centro produtor, a gnathia foi produzida e exportada para mais cidades gregas ou helenizadas da Magna Grécia, atingindo uma área de difusão que envolvia a Apúlia, a Campânia e a Sicília, estabelecendo-se também nestas regiõe alguns centros produtores. A produção foi muito rica não só em termos de qualidade da cerâmica e das pinturas, mas também em termos de quantidade, como atesta a quantidade presente nos museus e colecções do mundo inteiro.

A gnathia era principalmente usada nos adereços funerários, não excluindo eventualmente o seu uso em banquetes rituais, substituindo-se graduadamente na Apúlia a cerâmica a verniz negro sobrepintada. Enquanto que esta última destinava-se para uso interno das comunidades produtoras, a gnathia era evidentemente uma cerâmica de luxo feita para ser exportada. Sendo assim, no âmbito da helenização e da emergência de cada vez mais indivíduos com alto poder de adquisição, também em áreas não gregas, este produto de luxo substituiu rapidamente a sobrepintada, mais “híbrida” entre o helenismo e o indigenismo.

A produção e circulação parecem ter sobrevivido à primeira conquista de Taranto por parte de exército Romano em 272 a.C., no final das Guerras Pírricas, quando os vencedores saquearam a cidade grega. De facto, é atestada a produção de cerâmica gnathia em todo o séc. iii a.C., tendo a produção somente terminado com a segunda conquista de Taranto pelos Romanos, em 209 a.C., na Segunda Guerra Púnica. Na sequência disto, Taranto, não só deixou de ter um papel político-económico, mas também o mesmo sucedeu aos seus clientes itálicos da Campânia, da Apúlia e da Sicília que eram grandes importadores de cerâmica gnathia.

Entre as peças do tipo gnathia em exposição, destaque-se uma epichysis (ce00752) datável do último quartel do séc. iii a.C., com decoração pintada a branco, vermelho e amarelo, dividida em bandas horizontais com variados motivos geométricos, representando um motivo central de ramo de louro. É evidente a riqueza dos padrões decorativos, não só pelas suas variedades, mas também pelas suas disposições no espaço do corpo cerâmico, preenchendo-o totalmente e não deixando vazios, mas, ao mesmo tempo, de modo muito elegante. A epichysis era uma forma de pequenas dimensões feita para deitar líquidos, provavelmente preciosos, de acordo com a pequena dimensão da forma. Esta forma, especificadamente italiota, era produzida em oficinas da vila de Canosa, em substituição da oinochoe, forma tradicional grega. Já a peça ce01547 é uma caneca com decoração pintada branca, vermelha e amarela, representando grupos triangulares de pontos brancos no corpo principal da forma (talvez abstrações de cachos de uva) e tendo no pescoço, onde se concentram as decorações, bandas horizontais de folhas de videira incluídas em bandas puramente geométricas. É inegável o papel desta forma ligado ao uso do vinho nos simpósios. O corpo principal da forma apresenta as características nervuras verticais que aparecem nas formas de fabrico mais fino, a imitar os concorrentes metálicos. Tanto a caneca, como o uso das nervuras são típicas de uma produção tardia, dos finais do iii séc. a.C., quer de Taranto, quer da Dáunia.

Sobrepintada ápula e Gnathia: duas variedades de cerâmica de verniz negro que se cruzam

Quer na cerâmica sobrepintada ápula, quer na gnathia, podem salientar-se alguns traços que ligam estas duas produções de cerâmica de verniz negro sobrepintadas a uma tradição italiota (indígena), mais evidente na sobrepintada ápula: uma certa independência nas formas das peças em relação aos protótipos gregos (visível nas peças ce00931 e ce01547); uma certa

permanência da abordagem geométrica na disposição dos elementos vegetais pintados, representados em bandas horizontais, bem como na mistura de elementos geométricos e vegetais (visível sobretudo na peça ce00752, para a gnathia, e na peça ce00931, para a sobrepintada ápula). Entre os dois tipos de cerâmica, parece existir alguma inter-relação, quando nos centros produtores de cerâmica sobrepintada ápula parece ocorrer no séc. iv a.C. uma mudança em favor da gnathia, que talvez estivesse a obter mais mercado, a qual, se bem que diferente nas formas e nos padrões decorativos, não o era na técnica de decoração; tal provavelmente favoreceu a rápida adopção da gnathia.

As cerâmicas da Magna Grécia de figuras vermelhas

As cerâmicas de figuras vermelhas, nascidas na região da Ática, na Grécia, a partir de 530 a.C., são a mais famosa manifestação da cerâmica pintada do período grego clássico. Com a intensificação da colonização grega no sul da Itália e o surgimento político e económico das cidades da Magna Grécia, instalaram-se a partir da segunda metade do séc. v a.C. (com a fundação da cidade de Thurii, na Calábria em 443 a.C.) ateliês de cerâmica a figuras vermelhas, geridos por pintores formados na Grécia. Assim nasceu uma produção italiota de figuras vermelhas, dividida em várias “escolas” regionais: Ápula, Lucana, Campana, Pestana (da cidade de Paestum) e Siciliota. Esta produção, fora da “mãe pátria” grega, foi a partir do séc. iv a.C. a mais activa no mundo grego, na sequência da interrupção da produção em Atenas, depois da sua derrota e queda político-económica na Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.). Não obstante uma forte componente grega, algumas escolas da Magna Grécia ainda mantiveram uma tradição itálica, como a Lucana e a Ápula: a Col. Estrada permite apreciar estas particularidades em algumas peças exibidas.

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A peça ce00178, um krater ápulo do tipo “em forma de sino” (a campana), datável entre a segunda metade do v e o início do iv séc. a.C., é uma forma destinada a misturar vinho com água, mel e especiarias durante o simpósio

“ Bebemos!Porque esperar as lucernas?Curto o tempoOh amado rapaz, toma as grandes copas coloridasPorque o filho do Zeus e da SémeleDeu aos homens o vinhoPara esquecer as dores.Deita duas partes de água e uma de vinhoE enches as copas até o orloE uma logo a seguir a outra”[Alceou, συμποσιακὰ μέλη, sécs. VII-VI a.C.]

Em cada lado, há uma cena: no lado A, uma cena relacionada com o casamento, com a noiva no lado esquerdo oferecendo um bolo de casamento ao noivo, sentado com forma de Eros. No lado B, dois jovens com manta, um dos quais com um bastão, numa cena provavelmente ligada ao tema da paideia, ou seja, da edução dos jovens: o facto de um dos jovens ter um bastão, de tipo grosseiro e mais característico dos idosos, pode significar que ele tem mais experiência de vida que o jovem representado à esquerda e, portanto, ser o seu mentor.

O louro pintado debaixo do bordo, tem o significado de metamorfose e iluminação; como tal, está ligado à sabedoria divina, sendo atributo do deus Apolo. A sua presencia num vaso, provavelmente parte de um adereço funerário, pode simbolizar a ocorrência de uma metamorfose do defunto, da dimensão terrena para a espiritual.

A peça ce00184, uma nestoris de escola lucana datável da segunda metade do séc. iv a.C., destinava-se a conter vinho: a sua forma particular, com rodas nas asas, deriva de uma forma cerâmica da Idade do Ferro messápica, no centro-sul da Apúlia, dita trozzella (nome italianizado do dialecto salentino tròzula, por sua vez derivado do latim trochlea, que significa roda ou polia).

A trozzella era uma forma que apareceu no séc. vi a.C. e era uma transposição para a cerâmica de ânforas em metal, fornecida de um sistema de cordas e rodas para ser baixada nos poços ou nos tanques, para recolha de água. Por isso, tendo em conta a aridez quer da Apúlia, quer da Lucânia, estas formas tiveram uma forte carga simbólica. A peça em questão tem duas representações, uma de cada lado. No lado A, uma cena de provável casamento, com a noiva do lado esquerdo oferecendo ao noivo duas prendas: o bolo de casamento e uma lança, podendo ver-se nesta o símbolo do deus Marte, mutação itálica (anterior à romana) do deus grego Ares, que era, além da guerra, também deus da fertilidade e da protecção; do lado direito, o noivo sentado, com vestes de soldado, o escudo hoplítico (o oplón) na mão direita e a lança (a dorys) na mão esquerda; o capacete e o calçado são típicos de soldados representados noutros contentores (kantharoi) produzidos na Magna Grécia. No Lado B, uma cena de caça, conduzida por dois homens, e cuja seminudez numa luta contra uma fera salvagem como o javali, símbolo da força bruta, reflecte quer o mito, e os valores que lhe estão subjacentes, de Hércules, muito radicado nas comunidades itálicas, quer a temática da virtude masculina. Esta peça, portanto, carregada de muitos valores simbólicos, era provavelmente uma prenda de casamento.

Vasos policromos para os defuntos: a cerâmica canosina

Uma produção muito particular da Apúlia entre finais do séc. iv a.C. e meados do ii séc. a.C., é uma cerâmica com decorações plásticas muito articuladas e pintadas com têmpera após o cozimento. Com achados limitados à região da Apúlia, com algumas excepções na Campânia (em Cuma), esta produção toma o nome de “canosina”, do lugar dos primeiros achados em hipogeus perto da antiga Canusium (hoje a vila de Canosa). Pintada com um fundo branco e muitas vezes decoradas com cor rosada, amarela, turquesa e vermelha, esta produção é caracterizada por grandes formas com decoração plástica antropomorfa, de evidente importação do mundo helenístico do Mediterrâneo Oriental, muito rica e elaborada; as formas das aplicações plásticas abrangem de tal forma o vaso, que frequentemente quase alteram a sua forma original.

O conjunto de ricas aplicações plásticas e vistosos cores nas pinturas, criam um efeito estético faustoso que se diferencia da concepção estílica helenística, traindo um gosto italiota e, em particular, ápulo. Outra tradição ápula é a aplicação das cores pintadas depois da cozedura, como acontecia com as cerâmicas de verniz negro sobrepintadas. Os vasos canosinos eram usados em contextos funerários, não só como contentores de cinzas ou ossos, mas também como objectos de prestígio através da sua exibição. Parece, também, com base em recentes estudos sobre os pigmentos, que os vasos eram pintados no momento do enterro, de acordo com as exigências dos oferentes.

A peça em exposição, ce00679, é uma tampa de um vaso de grandes dimensões, provavelmente uma ânfora, onde na base da asa é representada uma figura feminina com manto que, de acordo com a iconografia dos vasos canosinos, representa uma carpideira (mulheres pagas para acompanhar o funeral chorando), enquanto o corpo principal da tampa representa provavelmente a cara da mulher enterrada.

davide delfino

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inv. ce00929Kylixapúlia, sudeste de itália400-350 a.c.cerâmicadimensões: altura: 7,1 cmdiâmetro: 22,2 cmKylixpuglia, southeast italy400-350 bcpotterydimensions:height: 7,1 cmdiameter: 22,2 cm

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inv. ce00931Oinochoeapúlia, sudeste de itália450-375 a.ccerâmicadimensões: altura: 24 cmdiâmetro: 12,2 cmOinochoepuglia, southeast italy450-375 bcpotterydimensions:height: 24 cmdiameter: 12,2 cm

inv. ce00752Epichisisapúlia, sudeste de itália225-200 a.c.cerâmicadimensões: altura: 17,3 cmdiâmetro: 6,4 cmEpichisispuglia, southeast italy225-200 bcpotterydimensions:height: 17,3 cmdiameter: 6,4 cm

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inv. ce01547Canecaapúlia, sudeste de itáliafinais do séc. iii a.c.cerâmicadimensões: altura: 13 cmdiâmetro: 11,1 cmMugpuglia, southeast italylate iii bcpotterydimensions:height: 13 cmdiameter: 11,1 cm

inv. ce00178Krater apúlia, sudeste de itáliasegunda metade do séc. v/ início do séc. iv a.c.cerâmicadimensões: altura: 26,3 cmdiâmetro: 26,6 cmKrater puglia, southeast italysecond half of v/ early iv bcpotterydimensions:height: 26,3 cmdiameter: 26,6 cm

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Nestorissudeste de itáliasegunda metade do séc. iv a.c.cerâmicadimensões: altura: 33,7 cmdiâmetro: 20,6 cmNestorissoutheast italysecond half iv bcpotterydimensions:height: 33,7 cmdiameter: 20,6 cm

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inv. ce00679Tampa “canosina”apúlia, sudeste de itáliafinais do séc. iv a.c. a meados do ii séc. a.c.cerâmicadimensões: altura: 37 cmdiâmetro: 7 cmCanosia toppuglia, southeast italylate iv- mid ii bcpotterydimensions:height: 37 cmdiameter: 7 cm

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Cerâmica Romana[iii a.C – vi d.C.]

Os romanos foram grandes produtores de cerâmica, a qual permeou numerosos aspectos da sua vida. Nesta exposição apresentam-se três dos tipos mais representativos de cerâmica romana: a cerâmica de mesa de prestígio, a cerâmica de iluminação e a cerâmica de armazenamento.

Começando pelas cerâmicas de mesa de prestígio, as mais importantes foram: a cerâmica dita “Campaniense” entre os séculos iii-i a.C. e a cerâmica dita “Terra Sigillata” entre os séculos i a.C. e vi d.C.

A cerâmica Campaniense era geralmente desprovida de decoração, impermeável e era pintada com um verniz negro de reflexos metálicos; as suas formas baseavam-se na das peças de metal, sobretudo de prata. Assim, como se pode ver, estas cerâmicas constituíam uma alternativa mais barata, mas prestigiosa, da baixela de prata. A sua área de produção e consumo coincide com a expansão romana no Mediterrâneo Central e Ocidental entre os séculos iii-i a.C., tendo o registo arqueológico indicado que estas cerâmicas encontram-se quer em sítios romanos quer em sítios de povos indígenas conquistados. Como tal, esta cerâmica também servia uma outra função, de carácter identitário: fazia parte integrante do processo de romanização – ou seja, de assimilação da cultura romana – das populações indígenas. Nesta exposição, como exemplo deste tipo de cerâmica, encontram-se duas peças da Col. Estrada: um púcaro (ce01553) e um kylix (ce01552), isto é, um copo para beber vinho.

A partir de finais do século i a.C. e coincidindo com a expansão do Império Romano para o Mediterrâneo Oriental, assiste-se à substituição da cerâmica Campaniense por uma outra: a Terra Sigillata. Trata-se de uma cerâmica com os mesmos valores e objectivos da Campaniense, mas com uma cor diferente: um engobe alaranjado. O seu nome provém do latim sigille, ou seja, um selo com a marca de fabricante que era comum encontrar no fundo da peça. Tal como a Campaniense, servia não só como alternativa à baixela de prata, mas constituía também um elemento de romanização, encontrando-se em diversas estações arqueológicas por todo o Império Romano. A sua produção conheceu uma longa duração prolongando-se até ao século vi d.C. Nesta exposição são visíveis dois pratos da Col. Estrada, datáveis de cerca do século iv d.C., do tipo Sigillata Africana (ce00819 e ce00820).

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Passemos agora à cerâmica de iluminação, sendo aqui de destacar as lucernas, as quais eram utilizadas em diversos momentos da vida laica e religiosa. Consistiam num engenhoso e prático dispositivo de iluminação composto por 3 partes. Um depósito central em forma circular, com um orifício por onde se deitava azeite ou outro óleo vegetal para servir de combustível; um bico, onde se colocava um pavio a arder, alimentado pelo combustível do depósito (embora alguns modelos pudessem ter vários bicos para proporcionar maior luminosidade); também era vulgar, mas nem sempre, haver uma asa para deslocar a lucerna mais facilmente. As lucernas eram fabricadas em moldes, o que permitia que elas fossem produzidas em grandes quantidades e a baixos custos. Um desses moldes, feito em pedra, encontra-se aqui exposto (ce02775), datável de cerca do século v d.C., tendo em conta a forma da lucerna que nele se encontra. Se bem que várias lucernas não tivessem qualquer tipo de decoração (ce00510), era vulgar encontrar no disco por cima do depósito uma enorme variedade de temas iconográficos como cenas mitológicas, cenas de teatro, militares, corridas, combates de gladiadores, eróticas, vegetais, animais, os quais podiam ser usados conforme o ambiente em que era necessário luz.

A iconografia das lucernas também podia ser usada como veículo de transmissão de valores ou mudanças culturais, como a romanização ou a adopção do cristianismo. Vejamos alguns exemplos proporcionados por algumas lucernas da Col. Estrada. Numa lucerna do século ii d.C., quando o império era ainda dominado por valores pagãos, pode ver-se no disco um javali (ce02771); o javali, na mundividência pagã, simbolizava coragem e força. Com a conversão do Império Romano ao cristianismo no século iv d.C., as temáticas pagãs são postas de parte nas lucernas e são adoptados símbolos, cenas e personagens bíblicas, como se pode ver nas lucernas ce02707, ce02770, ce02772 e ce02773.

Por último, passemos à cerâmica de armazenamento romana, indo aqui todo o destaque para a ubíqua ânfora. Volumosa e resistente, era o frigorífico da época; onde quer que houvesse romanidade, havia a fiel ânfora que transportava a dieta mediterrânica consigo: o trigo, o vinho e o azeite, para além de alguns produtos específicos, como o garum, um molho à base de vísceras de peixe, muito apreciado pelos romanos. Foi enorme a variedade de formas das ânforas e nesta exposição apresenta-se uma delas, encontrada em Alter do Chão, mas à guarda da Câmara de Abrantes (108).

gustavo portocarrero

Agradecimentos: à Dra. Filomena Gaspar da Câmara Municipal de Abrantes pela sua colaboração na elaboração deste texto.

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inv. ce01552Kylix Campanienseromanoiii-i a.c.cerâmicadimensões: altura (4,2 cm)comprimento (16,5 cm)largura (11 cm)Kylixromaniii-i b.c.potterydimensions:height (4,2 cm)length (16,5 cm)width (11 cm)

inv. ce01553Púcaro Campanienseromanoiii-i a.c.cerâmicadimensões: altura (11,5 cm)comprimento (10,9 cm)largura (8,2 cm)Jugromaniii-i b.c.potterydimensions:height (11,5 cm)length (10,9 cm)width (8,2 cm)

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inv. ce00819Prato de Terra Sigillataromanoc. iv d.c.cerâmicadimensões: altura (4,5 cm)diâmetro (20 cm)Terra Sigillata dishromanc.iv a.d.potterydimensions:height (4,5 cm)diameter (20 cm)

inv. ce00820Prato de Terra Sigillataromanoc. iv d.c.cerâmicadimensões: altura (5 cm)diâmetro (27,4 cm)Terra Sigillata dishromanc.iv a.d.potterydimensions:height (5 cm)diameter (27,4 cm)

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inv. ce02775Molde de lucernasromanoc. v d.c.calcáriodimensões: altura (4 cm)comprimento (20 cm)largura (14,5 cm)Lamp mouldromanc. v a.d.limestonedimensions:height (4 cm)length (20 cm)width (14,5 cm)

inv. ce00510Lucernaromano i-ii d.c.cerâmicadimensões: altura (2,2 cm)comprimento (7,4 cm)largura (5,6 cm)Lamp romani-ii a.d.potterydimensions:height (2,2 cm)length (7,4 cm)width (5,6 cm)

inv. ce02771Lucernaromano ii d.c.cerâmicadimensões: altura (4,5 cm)comprimento (11,7 cm)largura (6,7 cm)Lamp romanii a.d.potterydimensions:height (4,5 cm)length (11,7 cm)width (6,7 cm)

inv. ce02707Lucernaromano c. v d.c.cerâmicadimensões: altura (3 cm)comprimento (8,3 cm)largura (5,3 cm)Lamp romanc. v a.d.potterydimensions:height (3 cm)length (8,3 cm)width (5,3 cm)

inv. ce02770Lucernaromano c. v d.c.cerâmicadimensões: altura (4,5 cm)comprimento (10,6 cm)largura (6,6 cm)Lamp romanc. v a.d.potterydimensions:height (4,5 cm)length (10,6 cm)width (6,5 cm)

inv. ce02772Lucernaromano c. v d.c.cerâmicadimensões: altura (4,3 cm)comprimento (9,5 cm)largura (5,1 cm)Lamp romanc. v a.d.potterydimensions:height (4,3 cm)length (9,5 cm)width (5,1 cm)

inv. ce02773Lucernaromano c. vi d.c.cerâmicadimensões: altura (3,3 cm)comprimento (10,2 cm)largura (7,5 cm)Lamp romanc. vi a.d.potterydimensions:height (3,3 cm)length (10,2 cm)width (7,5 cm)

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inv. 108Ânforaromano i d.c.cerâmicadimensões: altura (101 cm)diâmetro (34 cm)Amphoraromani a.d.potterydimensions:height (101 cm)diameter (34 cm)

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Cerâmica Medieval e Moderna Portuguesa [Séculos xiii–xvii]

Ao contrário do que se passou em época romana, onde a cerâmica atingiu um elevado prestígio, no novo reino de Portugal formado no século xii, a cerâmica não começou por ter um estatuto semelhante.

A cerâmica utilizada era comum e de produção regional, destinando-se a satisfazer as necessidades de uma clientela local. A cerâmica era utilizada, sobretudo, em três tipos de actividades: contentores de produtos alimentares e farmacêuticos, preparação desses produtos e cerâmica de mesa, havendo ainda a acrescentar alguns usos específicos como a iluminação. Mas, ao contrário da época romana, não havia cerâmica de prestígio quer para exposição, quer para a mesa; quem tinha dinheiro, preferia, ao invés, utilizar louça em metal, sobretudo o ouro e a prata, mas também o cobre, o bronze e o estanho.

Como exemplos de cerâmicas dessa época, encontram-se expostos nesta exposição duas candeias descobertas no castelo de Abrantes, datáveis dos séculos xiii/xiv, e que apresentam uma elaboração bastante simples e sem iconografia (arq.61 e chabt.013.3.53), em claro contraste com o maior cuidado que se vê nas lucernas de época romana. Também de época medieval são visíveis três cerâmicas prevenientes da Col. Estrada: um púcaro (ce00485), datável dos séculos xiv/xv, e dois pequenos potes (ce00480 e ce00494), datáveis respectivamente dos séculos XIII e xiii/xiv, e cujas caneluras vêm na continuidade de uma tradição alti-medieval com origem no actual sul de Portugal.

No entanto, por volta do século XV, o estatuto da cerâmica iria começar gradualmente a mudar. É nesta altura que começa a verificar-se a adopção de cerâmica vidrada e de cerâmica fina não vidrada, cujo fabrico e uso vai conhecer uma amplitude nacional, ultrapassando assim a regionalidade até então vigente.

Começando pela cerâmica vidrada, destacam-se os vidrados de chumbo, os vidrados de estanho (ou faianças) e a porcelana.

Os primeiros, com origem jána Antiguidade, consistiam na utilização de um óxido de chumbo para vidrar a cerâmica; o vidrado obtido era claro e transparente, colorido com óxidos de metal, sendo as cores mais usadas o verde, o amarelo e o melado. A escolha destas cores não era casual, dado que eram as que se assemelhavam mais a metais, além de que o brilho e a sua textura lustrosa do vidrado constituíam um exotismo; tudo isto sem esquecer aspectos mais práticos, relacionados com a impermeabilidade do vidrado. A sua crescente popularidade levou a que já no século XVI estas cerâmicas começassem a ser produzidas em território nacional. Como exemplo deste tipo de vidrado, aponte-se um prato em tons de melado achado no castelo de Abrantes (fag85.13) e um potezinho verde achado no Centro Histórico de Abrantes (chabt.013.1.59)e que tem a particularidade de não ter sido bem executado o que terá provavelmente motivado o seu abandono; ambas as peças são datáveis dos séculos xvi/xvii.

Relativamente aos vidrados de estanho, mais conhecidos por faianças, trata-se de uma técnica que consiste na cobertura de uma cerâmica com um vidrado branco de estanho, o que permite a formação de um fundo que pode ser pintado com uma decoração colorida. Assim, esta louça, para além das vantagens já mencionadas para os vidrados de chumbo, também oferecia inúmeras possibilidades no campo decorativo, tendo-se tornado ainda mais popular e cara que o vidrado de chumbo. A sua origem parece ter tido lugar no Médio Oriente durante a Alta Idade Média, tendo os primeiros exemplares chegado a Portugal por viada importação da Espanha Mouriscano final da Idade Média. Alguns exemplos podem ser vistos nesta exposição por intermédio de duas tigelas de azul-cobalto da Col. Estrada datáveis de cerca do século xv (ce00469 e ce00470).

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A cerâmica importada caracterizava-se pelos tons de azul e amarelo metálicos e por temáticas que misturavam temas islâmicos e cristãos. Também começou a ser produzida no século xvi em território nacional. Como exemplo, encontra-se em exibição um fragmento de um prato, que foi reconstituído, encontrado no Centro Histórico de Abrantes (chabt.r.nova.77). Trata-se de uma peça de cor azul e castanho, com arabescos que se baseiam numa incompreensão da escrita árabe imitada de uma peça original hispano-mourisca.

Entretanto, com o estabelecimento de um caminho marítimo para o Oriente em 1498, na sequência da viagem de Vasco da Gama, os portugueses começaram a importar uma cerâmica vidrada até então desconhecida na Europa e fabricada na China: a porcelana. Ao contrário das outras cerâmicas vidradas, esta não era porosa, ou seja, os grãos do corpo de barro não permaneciam intactos mas fundiam-se, tornando o utensílio completamente impermeável e translúcido. Inventada pelos chineses por volta do século viii d.C., foi importada em grandes quantidades pelos portugueses, em particular a variedade azul e branca, ultrapassando em prestígio a restante cerâmica vidrada. Tal como as outras cerâmicas vidradas, também a porcelana foi vista como um substituto dos metais, em particular da prata. Quando o arcebispo de Braga, Frei Bartolomeu dos Mártires, apresentou em meados do século xvi a porcelana ao Papa em Roma, além de afirmar explicitamente que ela poderia ser um substituto da prata, tinha ainda as vantagens de ser mais graciosa e limpa (por não oxidar) além de mais exótica e mesmo barata, porque se se partisse podia-se facilmente substituir por outra, algo que permitia também libertar prata para a prática das boas obras.

Note-se também que a China começou a produzir a partir das últimas décadas do século xvi um tipo de porcelana especificamente para ser exportada para a Europa (geralmente designada por Kraak Porselein) e que apresenta um conjunto de características próprias que fazem lembrar trabalhos em metal como bordos recortados e compartimentados, ligeiro repoussé, corpo fino e ressonante, sendo alguns desses elementos visíveis num prato de porcelana encontrado no Centro Histórico de Abrantes (chabt.t.palma.s/c109). Trata-se de uma peça datável do chamado período Wanli (1573-1620), cujo nome resulta do facto de as porcelanas levarem um selo com o nome do imperador que reinava na altura do seu fabrico.

A porcelana conheceu uma enorme procura em Portugal, tornando-se desde meados do século xvi a baixela preferida dos portugueses, tal como indica o testemunho atrás referido de Frei Bartolomeu dos Mártires e o volume de exportações da China para Portugal. É possível que houvesse outros factores que expliquem o sucesso da porcelana para além daqueles atrás mencionados: assim, sendo provenientes do Extremo Oriente, lugar onde na geografia sagrada cristã situava-se o Paraíso Terrestre, acrescido da sua cor azul e branca (as cores do Céu e da pureza), num ambiente de reforma da Igreja Católica (a chamada Contra-Reforma), o seu uso não deixava de ser uma forma de reafirmar uma identidade católica. Além disso, talvez também tenha ocorrido o contributo de razões mais materiais: em meados do século xvi o Estado português começou a sentir enormes dificuldades financeiras, devido aos gastos com a manutenção do Império, pelo que a porcelana acabava por ser uma opção mais barata que uma baixela de prata (como Frei Bartolomeu dos Mártires tinha também mencionado), permitindo assim reservar a prata para a circulação monetária, de modo a acudir a situações mais prementes.

Como a procura da porcelana era bastante superior à oferta, além de que o seu preço não era propriamente barato, assiste-se a partir de finais do século xvi e até finais do século xvii aquele que foi o mais bem-sucedido fenómeno de produção e comercialização de uma cerâmica de origem portuguesa: a faiança azul e branca. Esta faiança começou por ser uma imitação da porcelana chinesa (cuja técnica de fabrico constituía um segredo de estado na China, só sendo descoberta pelos europeus no século xviii) com imitações e estilizações de temas chinesas, mas também com diversas temáticas europeias, como brasões, cenas de caça, rendas, etc. Alguns exemplos dessa faiança provenientes do Centro Histórico de Abrantes são aqui expostos, tendo sido todos eles objecto de restauro: um prato e uma tigela armoriados (chabt.t.palma.s/c22 e chabt.t.palma.s/c27), além de um prato, também armoriado, mas pintado a tons de vinoso o qual começou a ser usado nas faianças portuguesas a partir do terceiro quartel do século xvii (chabt.t.palma.s/c9). Estas faianças constituem porventura o testemunho material com origem em Portugal mais espalhado pelo mundo, encontrando-se numerosos exemplares não só na Europa, mas também nos continentes americanos, africano e asiático.

Em última análise, como se pôde ver, o aumento do volume e do prestígio da loiça vidrada em Portugal durante a Idade Moderna, não assentava tanto na cerâmica em si, mas sobretudo na sua capacidade de providenciar uma imitação mais exótica (e mais barata) dos metais.

Passemos agora a uma breve análise do outro grande grupo cerâmico adoptado no alvor da Idade Moderna em Portugal: cerâmica fina não vidrada. Trata-se de um conjunto variado e ecléctico, que em comum apresentam o facto de não serem vidrados e de se notar um maior cuidado do produtor na sua elaboração através de aspectos como argilas mais depuradas, paredes finas, engobes, decoração (embora nem todos estes factores estivessem simultaneamente presentes). A competição das cerâmicas vidradas, obrigou os produtores a elaborarem cerâmicas comuns mais finas para poderem competir e apresentarem produtos de melhor qualidade a um público que começava a valorizar mais a cerâmica, mas também houve outros factores que influenciaram o consumo destas cerâmicas (embora variáveis conforme os casos), como ideológicos ou alimentares.

Comecemos por uma infusinha com superfície engobada a vermelho e brunida, datável do século xvii (ce004008). Este género de cerâmicas começou a ser produzido a partir do século xvi e nota-se uma preocupação em imitar (embora de uma forma pouco sucedida) a cerâmica sigillata romana. Está-se, então, em pleno Renascimento: o grande movimento pan-europeu pelo qual se procurou um regresso ao mundo clássico. Os historiadores chamam a atenção que na sequência disso ocorreu uma imitação das artes romanas, sobretudo nos domínios da arquitectura e escultura. Mas também houve outras artes, menos espectaculares, onde se verifica algo semelhante, mais precisamente na cerâmica, com a tentativa de imitação da cerâmica de luxo romana: a terra sigillata. O seu uso em Portugal assume, assim, um significado ideológico; note-se ainda que este tipo de cerâmica tem uma amplitude menor que a vidrada, sendo usada sobretudo pelas elites.

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Outro tipo de cerâmica fina que aparece no século xvi em Portugal e com um consumo mais amplo que as imitações de sigillatas é a chamada cerâmica modelada, sendo aqui expostos alguns exemplos, nomeadamente três boiões (chabt.r.nova.87, ce00484 e ce00490). A sua característica mais reconhecível é a decoração com depressões e relevos e as formas mais vulgarmente utilizadas eram pequenos contentores. Este tipo de cerâmica era utilizado sobretudo como contentor de doçarias, pelo que tal estava assim condizente com as suas características delicadas.

Um outro tipo de cerâmica fina que se popularizou em todo o país no século xvi foi a cerâmica pedrada, cuja particularidade consistia na incrustação de pedrinhas brancas ou quartzo para formar composições decorativas. A forma mais utilizada consistia em púcaros de pequenas dimensões para beber água, sendo que esta era considerada mais saborosa nestes recipientes. A parte superior de um desses púcaros encontra-se em exposição (chabt.r.nova.74), tendo sido descoberta em escavações arqueológicas no Centro Histórico de Abrantes. Com origem na zona de Nisa/Estremoz, foi também fabricada noutros pontos do país, embora a qualidade não fosse tão boa como na zona original.Para terminar este texto, voltemos aonde começamos: às cerâmicas comuns.

Embora a partir do século xvi , houvesse um aumento considerável de cerâmicas vidradas e finas, a verdade é que até meados do século xviii a cerâmica comum foi dominante, só sendo então ultrapassada pela faiança. Sem quaisquer cuidados especiais decorativos ou de fabrico, não deixavam, contudo, de cumprir minimamente as funções mais básicas, pelo que os portugueses de todos os estratos sociais podiam sempre contar com elas. Algumas peças dos séculos xvi/xvii descobertas no castelo e no Centro Histórico de Abrantes são visíveis nesta exposição: um pote com linhas oblíquas (fag86.6), obtidas mediante uma técnica de grattage, a qual não deixava de o valorizar um pouco mais; uma escudela que foi reconstituída (chabt.t.palma.s/c115) um púcaro (fag85.5); uma infusinha (chabt.r.nova.75) e uma monumental talha (chabt.r.grande25.1).

gustavo portocarrero

Agradecimentos: à Dra. Filomena Gaspar da Câmara Municipal de Abrantes pela sua colaboração na elaboração deste texto.

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inv. ce00480Poteportugalxiii d.c.cerâmica dimensões: altura (20,5 cm)diâmetro (22 cm)Potportugalxiii a.d.potterydimensions:height (20,5 cm)diameter (22 cm)

inv. ce00494Poteportugalxiii-xiv d.c.cerâmica dimensões: altura (15,9 cm)diâmetro (19,9 cm)Potportugalxiii-xiv a.d.potterydimensions:height (15,9 cm)diameter (19,9 cm)

inv. ce00485Púcaroportugalxv-xv d.c.cerâmica dimensões: altura (14,6 cm)diâmetro (17,2)Jugportugalxiv-xv a.d.potterydimensions:height (14,6 cm)diameter (17,2 cm)

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83 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes82

inv. chabt.013.3.53Candeiaportugalxiii-xiv d.c.cerâmicadimensões: altura (3,5 cm)comprimento (7,3 cm)largura (7 cm)Lamp portugalxiii-xiv a.d.potterydimensions:height (3,5 cm)length (7,3 cm)width (7 cm)

inv. arq.61Candeiaportugalxiii-xiv d.c.cerâmicadimensões: altura (4,5 cm)comprimento (9,5 cm)largura (9 cm)Lamp portugalxiii-xiv a.d.potterydimensions:height (4,5 cm)length (9,5 cm)width (9 cm)

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85 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes84

inv. fag85.13Pratoportugalxvi-xvii d.c.cerâmica dimensões: altura (6,3 cm)diâmetro (26,6 cm)Dishportugalxvi-xvii a.d.potterydimensions:height (6,3 cm)diameter (26,6 cm)

inv. chabt.013.1.59Poteportugalxvi-xvii d.c.cerâmica dimensões: altura (15,9 cm)diâmetro (19,9 cm)Potportugalxvi-xvii a.d.potterydimensions:height (15,9 cm)diameter (19,9 cm)

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87 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes86

inv. ce00469Tigelaislâmicoc. xv d.c.cerâmica dimensões: altura (6,5 cm)diâmetro (15 cm)Bowlislamicc. xv a.d.potterydimensions:height (6,5 cm)diameter (15 cm)

inv. ce00470Tigelaislâmicoc. xv d.c.cerâmica dimensões: altura (6,5 cm)diâmetro (15,7 cm)Bowlislamicc. xv a.d.potterydimensions:height (6,5 cm)diameter (15,7 cm)

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89 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes88

inv. chabt.r.nova.77Pratoportugalxvi d.c.cerâmica dimensões: altura (3 cm)diâmetro (19 cm)Dishportugalxvi a.d.potterydimensions:height (3 cm)diameter (19 cm)

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inv. chabt.t.palma.s/c109Pratochina(1573-1620)cerâmica dimensões: altura (2,3 cm)diâmetro (19,2 cm)Dishchina(1573-1620)potterydimensions:height (2,3 cm)diameter (19,2 cm)

inv. chabt.t.palma.s/c22Pratoportugalxvii d.c.cerâmica dimensões: altura (2 cm)diâmetro (21 cm)Dishportugalxvii a.d.potterydimensions:height (2 cm)diameter (21 cm)

inv. chabt.t.palma.s/c27Tigelaportugalxvii d.c.cerâmica dimensões: altura (5 cm)diâmetro (12 cm)Bowlportugalxvii a.d.potterydimensions:height (5 cm)diameter (12 cm)

inv. chabt.t.palma.s/c9Pratoportugalxvii d.c.cerâmica dimensões: altura (3 cm)diâmetro (21 cm)Dishportugalxvii a.d.potterydimensions:height (3 cm)diameter (21 cm)

inv. ce04008Infusinhaportugalxvii d.c.cerâmica dimensões: altura (9,4 cm)comprimento (15,4 cm)largura (12,9 cm)Ewerportugalxvii a.d.potterydimensions:height (9,4 cm)length (15,4 cm)width (12,9 cm)

inv. chabt.r.nova.87Boiãoportugalxvi-xvii d.c.cerâmica dimensões: altura (7,5 cm)diâmetro (11 cm)Gallipotportugalxvi-xvii a.d.potterydimensions:height (7,5 cm)diameter (11 cm)

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inv. ce00484Boiãoportugalxvi-xvii d.c.cerâmica dimensões: altura (11,2 cm)diâmetro (17,2 cm)Gallipotportugalxvi-xvii a.d.potterydimensions:height (11,2 cm)diameter (17,2 cm)

inv. ce00490Boiãoportugalxvi-xvii d.c.cerâmica dimensões: altura (7,2 cm)diâmetro (10,9 cm)Gallipotportugalxvi-xvii a.d.potterydimensions:height (7,2 cm)diameter (10,9 cm)

inv. chabt.r.nova.74Púcaroportugalxvi-xvii d.c.cerâmica dimensões: altura (11,5 cm)diâmetro (12 cm)Jugportugalxvi-xvii a.d.potterydimensions:height (11,5 cm)diameter (12 cm)

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inv. fag85.6Poteportugalxvi-xvii d.c.cerâmica dimensões: altura (19 cm)diâmetro (15,8 cm)Potportugalxvi-xvii a.d.potterydimensions:height (19 cm)diameter (15,8 cm)

inv. chabt.t.palma.s/c115Escudelaportugalxvi-xvii d.c.cerâmica dimensões: altura (4 cm)diâmetro (26 cm)Platterportugalxvi-xvii a.d.potterydimensions:height (4 cm)diameter (26 cm)

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inv. fag85.5Púcaroportugalxvi-xvii d.c.cerâmica dimensões: altura (12,5 cm)diâmetro (12 cm)Jugportugalxvi-xvii a.d.potterydimensions:height (12,5 cm)diameter (12 cm)

inv. chabt.r.grande25.1Talhaportugalxvii d.c.cerâmica dimensões: altura (85 cm)diâmetro (82 cm)Potportugalxvii a.d.potterydimensions:height (85 cm)diameter (82 cm)

inv. chabt.r.nova.75Infusinhaportugalxvi-xvii d.c.cerâmica dimensões: altura (8,7 cm)diâmetro (9,5 cm)Potportugalxvi-xvii a.d.potterydimensions:height (8,7 cm)diameter (9,5 cm)

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Reviver o passado em Abrantes.Intervenções do Laboratório de Conservação e Restauro de Bens Culturais da Câmara Municipal de Abrantes

Intervenções de conservação e restauro em cerâmicas arqueológicas

Na reserva arqueológica da Câmara Municipal de Abrantes encontra-se um vasto depósito de fragmentos cerâmicos datáveis desde a Pré-História até à Idade Moderna e oriundos de diversas escavações arqueológicas realizadas no concelho nos últimos 40 anos. Alguns destes fragmentos foram objecto de uma intervenção de restauro com vista a reconstituir o aspecto original da peça, zelando-se assim pelo seu valor histórico, cultural, estético e económico.

Entregues a profissionais qualificados em conservação e restauro de materiais cerâmicos, a intervenção de restauro passou por três fases. Numa primeira fase, procedeu-se à triagem dos diversos fragmentos por pastas e cores [fig. 1], numa segunda fase foi efectuada a sua inventariação e numa terceira fase levou-se a cabo a análise e o diagnóstico dos fragmentos para retirar conclusões sobre o seu estado de conservação e estabelecer a metodologia de intervenção mais adequada.

Uma vez definida a proposta de tratamento, iniciaram-se os tratamentos conservativos com a limpeza mecânica dos fragmentos, o que possibilitou a remoção de toda a matéria não original incrustada à superfície e que desfigurava a textura e cor original. Consequentemente realizou-se a colagem desses fragmentos por ordem [fig. 2], tendo sido necessário a limpeza nas zonas de fractura para garantir uma boa adesão do adesivo, escolhido conforme as suas propriedades de resistência, reversibilidade, viscosidade, compatibilidade, cor e durabilidade.

Devido à instabilidade que algumas peças apresentavam devido a grandes zonas de lacuna e que causavam interferência na sua leitura, recorreu-se ao processo de reconstituição volumétrica para reforçar a peça em termos de suporte e restituir a sua volumetria. Trata-se de uma técnica de moldagem [fig. 3/4] que se aplica exclusivamente a objectos de revolução (o termo utilizado em restauro para objectos simétricos), e que permite imitar parte ou partes da peça, através do preenchimento das zonas de lacuna.

[fig. 1] selecção dos fragmentos

[fig. 2] processo de colagem dos fragmentos

[fig. 3] enchimento do molde bivalve

[fig. 4] preenchimento da lacuna com recurso a molde univalve

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Posteriormente seguiu-se o nivelamento ou polimento [fig. 5] de toda a superfície preenchida, tratando-se de um processo de acabamento em que se elimina todas as irregularidades da superfície preparando-a para a reintegração cromática [fig. 6]. Este último processo de retoque superficial justificou-se pelo facto de as peças terem como objectivo final a sua exposição ao público e serem representativas de uma época, cultura, local e experiência, permitindo assim ao público interpretar as mensagens intrínsecas às peças.

O resultado final de todo este processo é visível nas figuras 7 e 8.

Em suma, todos os processos conservativos e de restauro inerentes a esta metodologia de intervenção em materiais cerâmicos seguiram os princípios de intervenção mínima, autenticidade e historicidade dos bens culturais.

A conservação e restauro é uma ciência empírica e pluridisciplinar dedicada à preservação, prevenção e tratamento dos bens do património cultural. Caracteriza-se pela conjugação de conhecimento teórico e de competência prática que inclui a capacidade para julgar de uma forma sistemática questões éticas e estéticas. Assim sendo, o que distingue o conservador-restaurador de um artista é a realização de forma cognitiva da análise, diagnóstico e solução dos problemas com base nas aptidões práticas para conservar e restaurar.

Intervenção de conservação e restauro em lareira da Idade do Bronze descoberta no castelo de Abrantes

Aquando da descoberta de uma lareira datada da Idade do Bronze numa das sondagens da escavação do Castelo de Abrantes em 2013 no âmbito do Plano Nacional de Trabalhos Arqueológicos castab [fig. 1], os arqueólogos responsáveis pelo achado consideraram importante preservá-la e expô-la, dando assim a possibilidade a todos os abrantinos e turistas de conhecerem um bem cultural de origem arqueológica de elevado valor histórico-cultural.

Por consequência intervieram os técnicos superiores de Conservação e Restauro, Isabel dos Santos e Filipe Pereira, que procederam a um cuidado e meticuloso diagnóstico da lareira para averiguar qual o seu estado de conservação de forma a estabelecerem a mais correcta metodologia de intervenção para a sua remoção.

Desde logo foi notória a fragilidade desta estrutura, pelo que os tratamentos de conservação começaram pela consolidação de todo o seu suporte composto por um substrato de terras pulverulentas, um processo minucioso e moroso onde se aplicou por injecção uma solução de resina acrílica com um solvente orgânico numa mistura de baixa concentração. O processo foi realizado diversas vezes e em diferentes pontos cumprindo os tempos de espera e durante vários dias até que o substrato apresentasse uma aceitável consistência e rigidez, permitindo assim a estabilidade de toda superfície bem como alguma tensão a que fosse submetida, facilitando assim a sua segura remoção [fig. 2].

Após quatro dias intercalados de impregnação da solução preparada em três tipos diferentes de percentagem (baixa, média, alta) e aplicada num modo crescente, alcançou-se o ponto de consolidação desejada. Em seguida, e de forma mecânica com recurso a escopro e maceta, “recortou-se” a lareira vertical e lateralmente.

Contudo, quando se levantou a lareira, esta sofreu duas fracturas, colmatadas de imediato com um adesivo, preparado com uma solução de resina acrílica com um solvente orgânico numa mistura de alta concentração.

Devolvida a sua densidade e com a superfície sem danos nem com perda de material, preparou-se devidamente a lareira para o seu transporte, envolvendo-a na totalidade com plástico bolha (polietileno de baixa densidade) e fita adesiva para selar as extremidades.

Na chegada ao destino, o local da reserva arqueológica da Câmara Municipal de Abrantes, a lareira foi descarregada e colocada sobre uma nova base de acrílico onde ficará assente para exposição e em ambiente controlado, conforme exige uma adequada conservação preventiva [fig. 3].

Em suma, todos os tratamentos conservativos foram desenvolvidos em equipa, segundo uma metodologia de intervenção previamente definida. Um profundo diagnóstico permitiu estabelecer uma metodologia específica sobre o bem cultural a intervir, tendo em conta as suas características, nomeadamente os materiais de construção e um estudo prévio do seu contexto histórico-cultural. Estiveram sempre presentes os conceitos fundamentais da conservação e restauro, com fim à salvaguarda da integridade do valor cultural restabelecendo a sua unidade potencial, seguindo os princípios éticos da profissão.

isabel dos santosfilipe pereira

[fig. 5] nivelamento

do preenchimento

[fig. 6] reintegração

cromática diferenciada

[fig. 7] restauro de uma pequena taçada idade do bronze

[fig. 2]

[fig. 3]

[fig. 1]

[fig. 7]restauro de um prato de época moderna– séc. xvii

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