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  • MARIA TERESA PIMENTA PIMENTA, ALFREDO AUGUSTO LOPES

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    In Dicionrio Cronolgico de Autores Portugueses, vol. III, organizado pelo Instituto da Biblioteca Nacional

    e do Livro, coordenao de Eugnio Lisboa, ed. Publicaes Europa Amrica, 1994, pp 261-265.

    PIMENTA, ALFREDO AUGUSTO LOPES

    (n. Guimares, 3 de Dezembro de 1882 m. Lisboa, 15 de Outubro de 1950)

    Polgrafo da 1 metade do sculo XX (o seu primeiro livro data de 1904 embora a sua

    colaborao em jornais surja antes do sculo nascer, os seus ltimos escritos so do

    ano da sua morte) versou variados gneros desde a poesia poltica, da filosofia

    histria, do ensaio crtica literria, filosfica, histrica, deixando uma vastssima

    bibliografia numa escrita primorosa de clareza e rigor.

    Desta bibliografia h quatro ndices sendo os mais completos os do Terceiro Volume

    de Estudos Filosficos e Crticos (Liv. Cruz Braga, 1958) e o do Boletim de Trabalhos

    Histricos, vol. XXXIII, (Guimares, Dezembro, 1982). A sua numerosa colaborao em

    jornais nacionais e estrangeiros, revistas de cincia histrica, literria e poltica,

    dicionrios etc. Continua esparsa, sendo de grande interesse para a cultura da poca

    a sua inventariao e anlise.

    Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra (1908), continuou ao longo da

    sua vida a sua formao intelectual, iniciada j antes de frequentar a Universidade. A

    sua vasta biblioteca doada em 1970 pelos filhos Fundao Calouste Gulbenkian,

    constitui a prova material desta intensa actividade intelectual. Alis ele prprio

    explica: As minhas fichas so os meus livros. neles que escrevo as notas remissivas

    () E se um dia, os azares da Fortuna ou da Desfortuna, dispersarem a minha livraria

    incalculvel o trabalho feito que os novos possuidores dos meus livros iro

    encontrar (Voz, 14.10.1943).

    Trabalhador infatigvel, foi figura marcante da poca pela originalidade das suas

    propostas, que iam at ao seu modo de trajar: monculo, capa preta, chapu mole,

    luvas brancas, bengala, sobraando um punhado de livros, descia todas as tardes o

    Chiado, entrando nas livrarias das suas preferncias como, at certa altura, a

    Portuglia, e sendo mal olhado noutras, como a Bertrand, onde se agrupavam os seus

    opositores.

    Coetneo de Jlio Dantas, Teixeira de Pascoais, Afonso Lopes Vieira, Antnio Corra

    de Oliveira, Leonardo Coimbra, Antnio Srgio, Jaime Corteso, Aquilino Ribeiro,

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    Antnio Sardinha, Fernando Pessoa entre outros, elaborou de um modo pessoal um

    sistema de referncias tericas a que submetia com intransigente coerncia a sua

    vida prtica, o que lhe valeu inmeros dissabores e conflitos: () tinha uma vida

    ingrata, spera, dura a formular constantemente diante de mim, o dilema trgico: ou

    ser vencido ou ser vendido. Diferena de uma letra mas diferena infinita. Escolhi o

    ser vencido. E a vida venceu-me () (A propsito de Antnio Sardinha,1944).

    Caldeou no seu pensamento vrias influncias cuja integrao lgica procurou fazer,

    como demonstra Antnio Jos de Brito num dos mais completos estudos que lhe

    foram dedicados (O pensamento de Alfredo Pimenta in Futuro Presente Revista

    de Nova Cultura, n especial, 21/22, Abril-Junho, 1985): o individualismo vitalista de

    Nietzsche e Stirner, o relativismo de Comte e a escolstica. Da ter levantado

    permanentemente sua volta grandes controvrsias (pode avaliar-se o impacto das

    suas atitudes e opinies pela frequncia com que mencionado nos jornais do

    tempo, pela multido de caricaturas em que representado e nmero de duelos para

    que foi desafiado).

    Com efeito, catlico (depois de um perodo de agnosticismo, reencontra a f, 1914),

    o seu catolicismo unia-se a um vitalismo e a um voluntarismo antiliberal e

    reaccionrio, inspirado de modo primordial em Nietzsche e por isso bastante raro

    entre ns (Antnio J. de Brito, op. cit.), dissidiu numerosas vezes dos rgos oficiais

    da Igreja e envolveu-se em polmicas cidas e vivssimas (A poltica do Centro

    Catlico e a minha resposta ao Sr. Bispo de Bragana e Miranda, 1925, Do meu

    Fidesmo, da Teologia das Novidades e do mais que adiante se ver, 1925, entre

    outras), com grande parte dos catlicos, bispos e leigos, chegando a ser denunciado

    como escritor perigoso numa nota pastoral do Cardeal Patriarca de Lisboa (1943).

    Republicano durante a Monarquia e monrquico na Repblica (fez profisso pblica

    de adeso Monarquia em 1915) porque a isso o impelia a influncia comtiana,

    separou-se dos republicanos democratas, primeiro, e em seguida, dos evolucionistas

    para se aproximar dos monrquicos integralistas dos quais se afastou por fidelidade

    ao princpio monrquico da obedincia ao Rei, (Dom Manuel II, na ocasio) a quem

    procurou converter Monarquia tradicional, demonstrando-lhe a legitimidade de se

    desligar do seu juramento Carta Constitucional. Entusiasta apoiante de Oliveira

    Salazar, em quem percebia as razes do pensamento integralista da sociedade

    hierarquizada segundo o critrio das competncias, desligou-se dele face sua no-

    resoluo do problema do Regime. Antidemocrata convicto por temperamento e

    filosofia, tomou vigorosas posies a favor dos pases do Eixo numa altura em que a

    opinio dominante lhes era contrria, antevendo com grande premncia uma m

    sorte para a Europa e Civilizao Crist de um reforo do poder dos USA e da URSS

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    (Contra o Comunismo Anlise comparativa das Encclicas Mit Brennender Sorge e

    Divini Redemptorii, 1944; Os Criminosos de Guerra e os Neutros, 1945; Em defesa

    da Portugalidade, 1947). Comtiano, comea a desiludir-se da cincia, vendo nela, na

    senda de Poincar, apenas a afirmao duma srie de hipteses cmodas e

    variveis, substituveis, evoluindo ento para um cepticismo teortico acentuado com

    o consequente afastamento da orientao cientfica (apud Brito). A partir da

    refugia-se num eruditismo que lhe permite passar a pente fino as manifestaes da

    vida cultural, nacional e estrangeira. Ficaram clebres os seus rodaps do Dirio de

    Notcias Cultura Estrangeira Cultura Portuguesa (1923-1950) em que procurou

    fornecer ao leitor portugus o espectculo sistemtico das mltiplas manifestaes

    da cultura moderna (sic) e que depois foram reunidos nos trs volumes dos Estudos

    Filosficos e Crticos, (1930, 1935 e 1958). Ricardo Jorge no prefcio do 1 volume

    escreve: Discorri ao longo das pginas caleidoscpicas deste livro raro, seno nico,

    que podia sem ostentao arvorar a divisa De omni re scibili et inscibili. Tudo versa e

    controversa, sempre no mesmo ritmo lgico e glssico de ideias e linguagem; a

    discusso e o estilo so modelares. Sobriedade, clareza, rigor e vigor. Um curso

    magistral de lies e crticas. Cultor da Histria, enveredou pelo estudo crtico das

    fontes de que ficaram numerosos estudos (entre outros a srie de 25 Estudos

    Histricos de 1937 a 1949, Elementos de Histria de Portugal (1934) de que haver 5

    edies; D. Joo III (1936); Subsdios para a Histria de Portugal - Textos & Juzos

    Crticos (1937); Fuero Real de Afonso o Sbio Verso Portuguesa (1946); Idade

    Mdia, Problemas & Solues (1946), preocupando-se pelo problema da

    cientificidade da Histria, no que no foi acompanhado por nenhum historiador do

    seu tempo. Inovou o estudo da Histria no Ensino Secundrio ao introduzir no seu

    compndio Elementos de Histria de Portugal a indicao das fontes, justificando

    esse mtodo. Este livro levantou grande controvrsia acerca da sua inteligibilidade

    para os alunos do liceu. Defensor da objectividade na Histria, abandona

    deliberadamente essa posio ao escrever os Elementos e D. Joo III: no fora a

    hora que o pas atravessava de liberalismo anticatlico e antiportugus, teria feito

    uma histria exclusivamente cientfica que seria uma apresentao dos factos e das

    suas fontes sem qualquer espcie de nevoeiro filosfico a inform-los. No entanto

    eles contm uma forte dose de filosofia da Histria, a minha verdade, a minha

    doutrina. a sua parte frgil porque a sua parte discutvel, a sua parte acessvel aos

    dentes das matilhas. Tive que a elaborar para a opor s minhas no-verdades que

    considero prejudiciais ao meu pas (Elementos de Histria de Portugal). Poeta,

    situou-se, segundo scar Lopes (in Entre Fialho e Nemsio, vol. II, Casa da Imprensa,

    Lisboa, 1987) entre o Modernismo e a Tradio, mantendo paralelamente com o

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    Primeiro Modernismo uma continuidade de esteticismo decadente (Alma

    Ajoelhada, 1914, O Livro das Oraes, 1916, Paisagem das Orqudeas, 1917, O Livro

    das Sinfonias Mrbidas, 1921, entre outros), embora no seu ltimo livro, publicado

    em 1941, ltimos Ecos de um Violino Partido, que rene poemas antigos, se

    reconcilie com a poesia tradicional (apud scar Lopes, op. cit.).

    Exerceu as seguintes funes pblicas: professor do Liceu Passos Manuel (1911-

    1912), deputado (1918), conservador da Torre do Tombo (1933 a 1949) e seu director

    (1949 a 1950), vogal da Comisso Central do Conselho da Instruo Pblica (1933 a

    1936), director do Arquivo Municipal de Guimares (1931 a 1950), onde fundou o

    Boletim dos Trabalhos Histricos.

    Pertenceu ao grupo literrio Os Tertuladas, de que foi fundador com Joo Ameal e

    Caetano Beiro entre outros; e Academia Portuguesa da Histria (1937) de que

    foi fundador e titular da cadeira n 9.

    Em 1936 foi atribudo o Prmio Ramalho Ortigo, do Secretariado da Propaganda

    Nacional, 3 ed. dos Elementos de Histria de Portugal e reivindica no ano seguinte

    o Prmio Alexandre Herculano para o seu D. Joo III: Em 1982 foi institudo o Prmio

    Alfredo Pimenta por seu filho Dr. Alfredo Manuel Pimenta, sendo atribudo ao Prof.

    Jos Mattoso, em 1986, pela sua obra Identificao de um Pas.

    Usou os seguintes pseudnimos: Structor, Lord Henry, Humberto de Aguiar,

    Frondlio Vimaranense, lvaro Vaz Teixeira de Meneses.

    Da vasta coleco de cartas que lhe foram endereadas e onde perpassam grandes

    nomes da cultura e poltica nacionais e estrangeiros, Cartas dos Outros para Alfredo

    Pimenta [edio de Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, Guimares, 19639] rene

    algumas, preparando-se para breve a publicao da correspondncia entre ele e

    Oliveira Salazar, [editada em 2008 pela Verbo, sob o ttulo Salazar e Alfredo Pimenta

    Correspondncia 1931-1950] ressalta uma faceta pouco falada do seu carcter: a

    do profundo interesse pelos desprotegidos da sorte, qualquer que fosse a sua

    condio social que lhe dirigiam pedindo ajuda. [O esplio epistolar do escritor foi

    doado em 2005 por Maria Teresa Pimenta ao arquivo Municipal Alfredo Pimenta, que

    em 2015 editou o vol. I do seu catlogo com o ttulo Correspondncia recebida por

    Alfredo Pimenta]. Alis a Associao da Lavoura Portuguesa homenageou-o um

    anos depois da sua morte colocando uma lpide na sua Casa da Madre de Deus, em

    Guimares onde se l Ao Doutor Alfredo Pimenta, o pobre lavrador vimaranense

    que uniu no mesmo abrao cristo o amor da terra e dos humildes que a trabalham.

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    Alguns Estudos sobre Alfredo Pimenta:

    Homenagem a Alfredo Pimenta, Lisboa, 1951

    Antnio Jos de Brito, O Pensamento de A. Pimenta, Futuro Presente - Revista de Nova

    Cultura, n especial 21/22, Abril/ Junho, 1985

    Boletim de Trabalhos Histricos, In Memoriam de Alfredo Pimenta no Centenrio do seu

    nascimento, vol. XXXIII, Guimares, 1982

    Boletim de Trabalhos Histricos, vol. XXXIV, Guimares, 1983

    scar Lopes, Entre Fialho e Nemsio, Imprensa Nacional, 1987

    Seabra Pereira, Decadentismo e Simbolismo na Poesia Portuguesa, Coimbra, 1975

    J. Gaspar Simes, Perspectiva Histrica da Poesia Portuguesa, Braslia Editora, 1976

    Jacinto Prado Coelho, Dicionrio de Literatura, vol. II, Figueirinhas, Porto, 1973.

    Maria Teresa Pimenta

    1988