Narrativas digitais na escola. Uma experiência que pode ser fantástica _ Escola, computador e Cia....

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Escola, computador e Cia. Ilimitada Mais um blog sobre educação e tecnologia Narrativas digitais na escola. Uma experiência que pode ser fantástica O que em inglês se denomina Digital Storytelling, no Brasil estamos chamando de narrativa digital. Em sua essência trata-se de fazer uso de tecnologias digitais para contar estórias ou histórias. Contar e ouvir histórias sempre fez parte da história da humanidade. Provavelmente aquele que chamamos de homem “pré-histórico” assentava-se ao redor de fogueiras e contava histórias, narrava fatos do seu cotidiano, relatava suas aventuras. No linguajar bem mineiro, “contava causos”. ( hp://www.willgoto.com/images/Size3 /South_Africa_KwaZulu_Natal_Bushman_Painting_26d16a38842a4787a965a9cec1397465.jpg )Antes mesmo de escrever, o homem contou histórias usando figuras, as famosas pinturas rupestres que encontramos em cavernas em muitas partes do mundo. Deixou registrados fatos do seu dia-a-dia, como a caça, nos mostrou animais com os quais convivia. Desde então, mais de 20.000 anos atrás, contar histórias é uma das nossas formas mais fundamentais de comunicação. Crescemos com nossos pais nos contando histórias. Depois, pais, contamos histórias para nossos filhos, embalando seu sono. Contar histórias é uma característica universal de cada país e de cada cultura, como reconhecem os antropólogos, ainda que, ao longo de boa parte do século 20, a narração tenha perdido um pouco de sua importância, tenha merecido menor respeito, como afirma Steve Denning, em artigo sobre a ciência de contar histórias ( hp://www.forbes.com/sites/stevedenning/2012/03/09/the-science- of-storytelling/ )que foi publicado na revista Forbes ( hp://www.forbes.com/ ). Para Denning, o contar histórias teve uma espécie de eclipse no século passado, quando as narrativas eram vistas como sendo tanto infantis quanto triviais. No seu artigo Denning faz referência ao livro “On the Origin of Stories: Evolution, Cognition, and Fiction” de Brian Boyd, que busca explicar a razão pela qual a aparentemente frívola atividade de contar histórias é tão poderosa. Boyd ajuda a entender o contar histórias como algo central na inovação, uma dimensão da performance crítica nas organizações no século XXI: histórias são uma espécie de jogo cognitivo, um estímulo e um treinamento para a mente viva. Narrativas digitais na escola. Uma experiência que pode ser fantástica |... https://marinhos.wordpress.com/2013/05/30/narrativas-digitais-na-esco... 1 de 5 16/10/2015 21:57

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Escola, computador e Cia. Ilimitada

Mais um blog sobre educação e tecnologia

Narrativas digitais na escola. Uma experiência que podeser fantástica

O que em inglês se denomina Digital Storytelling, no Brasil estamos chamando de narrativa digital.Em sua essência trata-se de fazer uso de tecnologias digitais para contar estórias ou histórias.

Contar e ouvir histórias sempre fez parte da história da humanidade. Provavelmente aquele quechamamos de homem “pré-histórico” assentava-se ao redor de fogueiras e contava histórias, narravafatos do seu cotidiano, relatava suas aventuras. No linguajar bem mineiro, “contava causos”.

(h�p://www.willgoto.com/images/Size3

/South_Africa_KwaZulu_Natal_Bushman_Painting_26d16a38842a4787a965a9cec1397465.jpg)Antesmesmo de escrever, o homem contou histórias usando figuras, as famosas pinturas rupestres queencontramos em cavernas em muitas partes do mundo. Deixou registrados fatos do seu dia-a-dia,como a caça, nos mostrou animais com os quais convivia. Desde então, mais de 20.000 anos atrás,contar histórias é uma das nossas formas mais fundamentais de comunicação.

Crescemos com nossos pais nos contando histórias. Depois, pais, contamos histórias para nossosfilhos, embalando seu sono.

Contar histórias é uma característica universal de cada país e de cada cultura, como reconhecem osantropólogos, ainda que, ao longo de boa parte do século 20, a narração tenha perdido um pouco desua importância, tenha merecido menor respeito, como afirma Steve Denning, em artigo sobre aciência de contar histórias (h�p://www.forbes.com/sites/stevedenning/2012/03/09/the-science-of-storytelling/)que foi publicado na revista Forbes (h�p://www.forbes.com/).

Para Denning, o contar histórias teve uma espécie de eclipse no século passado, quando as narrativaseram vistas como sendo tanto infantis quanto triviais.

No seu artigo Denning faz referência ao livro “On the Origin of Stories: Evolution, Cognition, andFiction” de Brian Boyd, que busca explicar a razão pela qual a aparentemente frívola atividade decontar histórias é tão poderosa. Boyd ajuda a entender o contar histórias como algo central nainovação, uma dimensão da performance crítica nas organizações no século XXI: histórias são umaespécie de jogo cognitivo, um estímulo e um treinamento para a mente viva.

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Todos nós gostamos de ouvir uma boa história. Mas nosso cérebro reage de forma diferente àsnarrativas.

(h�p://static.ddmcdn.com/gif/brain-1.jpg)As pesquisas emNeurobiologia revelam que, quando ouvimos alguém que usa umaapresentação gerada no PowerPoint, ativamos as áreas de Broca e deWernicke do nosso cérebro.

Mas quando nos contam uma história, as coisas no nosso cérebromudam drasticamente. Como revelam as pesquisas, não são apenas asáreas de processamento da linguagem em nosso cérebro que sãoativadas quando ouvimos histórias. Outras áreas em nosso cérebro serão ativadas enquanto lidamoscom os eventos da história. Por exemplo, se o contador de historias fala de uma comida gostosa,nosso córtex sensitivo como que acende. Se o contador de histórias fala as palavras “lavanda” ou“sabão” nossa área do cérebro que lida com odores será ativada.

O cérebro, pelo que parece, não faz muita distinção entre ouvir o relato de uma experiência eencontra-la na vida real. Nesses casos, as mesmas regiões neurológicas são estimuladas. Mas oessencial é que somos afetados por ambos.

Há muito tempo se reconhece que ler uma boa literatura nos faz melhores como seres humanos. Aneurociência vem revelando que essa afirmação é mais verdadeira do que poderíamos imaginar.Ouvir histórias também faz bem, como ler.

(h�p://3.bp.blogspot.com/_YJzjdZYPpV0/TOsH04XXCrI/AAAAAAAAABk/cn7DFmw2u1Q/s320/the-story-teller.jpg)A propostada narrativa digital é combinar a antiga arte de contar histórias comrecursos das chamadas tecnologias digitais de informação ecomunicação. As narrativas são elaboradas na perspectiva de linguagensmúltiplas, lançado mão de recursos de multimídia [texto, fotografia,vídeo, áudio, gráfico]. É possível ainda a narração, que deve ser gravadapelo contador de estórias. Prontas, as narrativas são publicadas na

internet e tornam-se acessíveis a muitos.

Se na narrativa tradicional a forma de comunicação é praticamente apenas a fala do contador dehistórias, as histórias digitais são contadas com recursos das linguagens múltiplas, criadas emcomputador e colocadas na internet.

As histórias digitais podem variar em tamanho. Porém, na sua maioria, as histórias utilizadas naeducação geralmente duram algo entre 2 e 10 minutos. Com esse tempo consideramos o chamadociclo de atenção (h�p://tinyurl.com/cicloat), que, segundo alguns pesquisadores, nos adultos é de 15 a20 minutos e nas crianças atuais parece ser menor, particularmente quando se trata de aprendizagemvisual ou oral. Há que afirme que o ciclo de atenção [em inglês, a�ention span] das crianças hoje em

dia seria da ordem de apenas 8 minutos. Há quem responsabilize, ou culpe, a televisão e a internetpor essa significativa redução.

Na narrativa digital aplicada à educação, temos relatos de eventos históricos, histórias de vida –pessoal, da comunidade escolar ou do entorno dela. O essencial é que seja sempre algo que tenhasignificado para o aluno.

Apesar de seu atual destaque, a narração digital não é uma prática nova. Um dos pioneiros nessa,podemos dizer, arte é Joe Lambert, cofundador do Center for Digital Storytelling (CDS), organizaçãosem fins lucrativos, hoje localizada em Berkeley, Califórnia, nos Estados Unidos.

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A proposta do CDS (h�p://www.storycenter.org), desde a sua criação – como San Francisco DigitalMedia Center – em 1994, foi de apoio a jovens e adultos na criação e no compartilhamento denarrativas pessoais, lançando mão da combinação de escrita reflexiva com mídias digitais.

(h�ps://marinhos.files.wordpress.com/2013/05/digitalstorytelling_joelambert_capa.jpg)No início de seu livro “DigitalStorytelling: capturing lives, creating commitment”, Joe Lambert coloca uma questãobásica: “Por que contar histórias?”. E assim ele mesmo responde à questão queformula: Histórias são o que o homem faz para dar sentido ao mundo.

Um detalhe: Jose Lambert usa o termo stories. Na língua inglesa a distinção entreestória e história ainda parece persistir. A história é entendida como umadescrição narrativa objetiva de eventos passados, enquanto que a estória é umadescrição narrativa subjetiva, tanto de acontecimentos reais passados, quanto depessoas imaginárias ou eventos.

Na língua portuguesa a palavra “estória” se referia aos contos, às fábulas, enfim, à ficção. Já a palavra“história” era utilizada para se fazer referência a fatos e atos da/sobre a humanidade, relativos à vidade uma pessoa. Atualmente, o termo “estória” parece cair em desuso; o termo “história” passa a serutilizado em todos os sentidos. Nesse post usarei apenas a palavra história, a não ser quando apalavra “estória” for absolutamente necessária para algum esclarecimento.

E, continua Lambert, somos perpétuos contadores de histórias, revendo eventos na forma de cenasrevividas, pepitas de contexto e caráter, ações que levam a realizações.

Outro pioneiro no campo das narrativas digitais foi Daniel Meadows (h�p://en.wikipedia.org/wiki/Daniel_Meadows), fotógrafo, autor e educador britânico. Ele definiu histórias digitais comosendo “contos multimídia, pessoais, breves, contados com o coração”. Também disse que as históriasdigitais são “sonetos multimídia do povo”.

É interessante quando Joe Lambert, em seu livro “Digital Storytelling”, afirma que o cérebro que oleitor está usando para lê-lo, quando descreve sobre histórias (mantenho aqui a palavra que ele usaoriginalmente) e o contar de histórias, é muito diferente daquele cérebro usado se o leitor o ouvissecontar uma história.

(h�p://yarnstorytellers.files.wordpress.com/2012/05/kidsstorytelling.jpg?w=584&h=401)

Há muito tempo o contar histórias faz parte do ambiente escolar,notadamente no ensino infantil e nas séries iniciais. Hoje em dia, nocampo da educação, professores e alunos, nas salas de aula dos anosiniciais até o ensino superior, incluindo a pós-graduação(h�p://www.curriculosemfronteiras.org/vol12iss3articles/almeida-

valente.pdf), estão usando narrativas digitais com diferentes propósitos, em diferentes áreas deconteúdo e através de uma grande variedade de níveis de escolaridade.

Não se trata apenas de professores contando histórias, como vem sendo o usual, lançando mão derecursos multimídia. Precisamos pensar na situação dos próprios alunos se tornarem contadores dehistórias digitais, é isso o que devemos buscar.

Será, com certeza, uma experiência fantástica para os alunos. Autores, combinarão uma tradição daprópria espécie humana, o contar histórias/estórias, com as tecnologias digitais, que tanto lhes atrai.Usando imagens que eles mesmo produzirem, é o ideal, ou buscadas na internet [o que exigirá ahabilidade da busca e a competência para a escolha, bons exercícios], combinando as imagens em

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apresentações que podem ser transformadas em vídeos], associando o áudio, como narrativa oral ouuma agradável trilha musical [são muitos os sites onde encontrar, gratuitamente, músicas e efeitossonoros], ou produzindo vídeos, os alunos poderão, com as narrativas digitais, contarhistórias/estórias, mostrando o que aprenderam, experiências que viveram. E, se carregarem as suasnarrativas em sites como SlideShare (h�p://www.slideshare.net/), YouTube(h�ps://www.youtube.com/)ou Vimeo (h�ps://vimeo.com/), mostrarão tudo isso para o mundo.

(h�p://sjsamherst.org/wp-content/uploads/2012/01/storytelling_reading-300x297.jpg)Parece-me uma experiência saborosa. Será um tempo para oexercício da criatividade, um momento para a expressão da estética,deixando a imaginação dos alunos correr solta. Projetos de narrativasdigitais estimularão os alunos a expressar-se visualmente, o que é umahabilidade diferente de escrever.

Talvez trazer as narrativas digitais para a sala de aula seja tarefa para umprofessor ousado (h�p://edudemic.com/2013/04/how-a-daring-teacher-promotes-creativity/); talvez basta querer ser um professor diferente.

Por que não começar a fazer isso logo?

Meus alunos de graduação (licenciatura) em Ciências Biológicas na PUC Minas(h�p://www.pucminas.br) estão fazendo suas narrativas digitais criando apresentações noPowerPoint (h�p://office.microsoft.com/pt-br/powerpoint/), que depois transformam em vídeo,utilizando o Windows Movie Maker (h�p://windows.microsoft.com/pt-br/windows/get-movie-maker-download). Os vídeos são carregados no YouTube. Para facilitar o trabalho deles, um pequenomanual (h�p://www.ich.pucminas.br/pged/arquivos/cb/NarrativasDigitais_Tutorial_PPoint2Youtube_V3.pdf)foi organizado.

Wordle (h�p://www.wordle.net/)do post. Clique na imagem ara vê-la ampliada.

(h�ps://marinhos.files.wordpress.com/2013/05/wordle_post-narrativasdigitais.jpg)

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3 Respostas to “Narrativas digitais na escola. Uma experiência quepode ser fantástica”

Maria Augusta Vasconcelos Palácio Says:14/02/2014 às 10:18 | ResponderPrezados,

gostaria de parabenizar pelo excelente e esclarecedor texto sobre as narrativas digitais naeducação. Iniciei meus estudos sobre o tema, mas tenho encontrado pouco material sobre aprodução de narrativas pelos estudantes.Fiquei interessada pelo manual com orientações sobre aprodução das narrativas que vocês organizaram, mas não consegui abrir. Onde possoencontrá-lo?Agradeço a atenção.

marinhos Says:14/02/2014 às 12:19 | ResponderAgradeço pelo elogioso comentário.As publicações estão principalmente no exterior. São muitos livros abordando o “storytelling”.Tenho vários na minha biblioteca pessoal.O acesso ao manual parece-me OK. Contudo, se quiser informar-me o seu e-mail, eu o enviareidiretamente para você.

José Alaercio Zamuner Says:11/02/2015 às 16:22 | ResponderÓtimo. Um estudo preciso para nossas escolas e mestres. Sou um contador de estórias, praticoessa atividade nas escolas em geral. Prof univ. e Mestre em Teoria Literária. Tenho alguns títulossobre o assunto (Teoria e Ficção). Gostaria que conhecesse.Abraços.h�ps://alaerciozamuner.wordpress.com/h�ps://www.facebook.com/alaercio.zamuner

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