NEGOCIAÇÃO INTERNACIONAL · E quais os impactos disso? Os impactos são vários: transportes mais...

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NEGOCIAÇÃO INTERNACIONAL AULA 1 Prof. João Alfredo Lopes Nyegray

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NEGOCIAÇÃO INTERNACIONAL AULA 1

Prof. João Alfredo Lopes Nyegray

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CONVERSA INICIAL

Vamos pensar por um instante: quantos países existem hoje? São em

torno de 196 países mais alguns territórios, como o Vaticano e a Palestina.

Arredondemos para 200. Agora, imagine quantas línguas diferentes são faladas

em cada um desses 200 países! Ok, alguns países podem falar a mesma língua

com algumas diferenças, como Brasil, Portugal e Angola ou Estados Unidos,

Austrália, Canadá e Inglaterra. Entretanto, outros possuem vários idiomas e

dialetos oficiais, como a África do Sul. Cada um desses países, com apenas um

ou vários idiomas e dialetos pode ser berço de diversas culturas diferentes. Cada

uma dessas culturas com seus hábitos, costumes e padrões do que é ou não é

“normal” de acordo com sua própria lógica. Por conta de tudo isso, é possível

afirmar que o mundo e suas diversas peças formam um grande quebra-cabeças.

Por entre esses diversos países, berços de diversas culturas, estão as

maiores empresas de cada nação. Algumas delas se expandiram para o exterior,

outras apenas dominam seus mercados nacionais. Essas empresas obedecem

às regras e leis de seus respectivos países, com as quais já estão bem

familiarizadas. Porém, quando buscam se internacionalizar, precisam se adaptar

às culturas, idiomas, leis e regulamentos dos países hospedeiros. Permeando

todo esse cenário complexo, existem organizações e leis internacionais que

buscam normatizar um pouco o sistema internacional. Você percebe como esse

pequeno mundo onde vivemos é complexo?

CONTEXTUALIZANDO

Estima-se que, quando estourou a crise da bolsa de valores de Nova York

em 1929, a notícia levou pelo menos uma semana para chegar aos negociadores

paulistas de café, em São Paulo. Naquele tempo, nas primeiras décadas do

século 20, a informação não viajava como viaja hoje, de forma instantânea.

Levava-se tempo para se ficar sabendo o que havia ocorrido em outros lugares,

e ainda mais tempo para medir o impacto de tais acontecimentos nos negócios.

E hoje em dia? Quanto tempo depois dos fatos nós ficamos sabendo de

sua ocorrência? Sabemos a respeito deles imediatamente! As tecnologias da

informação, que evoluíram a passos largos no decorrer do século 20,

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aproximaram os países e, de certa forma, removeram as fronteiras da distância.

Eventos históricos determinantes e com impacto internacional foram transmitidos

ao vivo, como a queda do muro de Berlim, em 1989, e a invasão do Afeganistão,

em 2001.

E você já parou para pensar qual o impacto desse fato para o mundo dos

negócios? É imenso! A sua empresa deixa de concorrer apenas com seus rivais

locais e passa a concorrer com qualquer outra empresa do planeta que produza

os mesmos bens. Se a concorrência aumentou, aumentaram também as

possibilidades de escolha para os consumidores, que já não compram mais

como antigamente. Isso pode ser tanto uma oportunidade para as empresas e

profissionais bem preparados quanto uma ameaça para aqueles que não têm

conhecimentos na área.

Hoje, o comércio virtual está plenamente difundido, e nós compramos

tanto de sites no exterior quanto de sites nacionais. Além disso, os produtos que

muitas grandes empresas oferecem aqui são exatamente os mesmos oferecidos

no exterior. Nike, Ford, Fiat, Toyota, Tommy Hilfiger, Levi’s, Ralph Lauren, Calvin

Klein, Absolut Vodka, Apple, Samsung, Microsoft e tantas outras empresas dos

mais diversos segmentos estão absolutamente espalhadas no mundo.

Como você pode perceber, é fácil lembrarmos dessas grandes marcas

plenamente globalizadas e internacionalizadas. O que nem sempre pensamos

ou lembramos é das negociações e práticas comerciais que fizeram com que

esses produtos chegassem até nós. É justamente disso que a negociação

internacional se encarrega!

Pesquise

Como você definiria o papel do negociador num mundo interconectado?

TEMA 1 – O MUNDO GLOBALIZADO DE HOJE

Globalização é um daqueles termos muito comentados, mas pouco

entendidos realmente. Existem aqueles que acham que a globalização é algo

novo, recente, ligado ao avanço da internet. E não é. A globalização é um

fenômeno antigo: o próprio Alexandre o Grande, rei da Macedônia, buscou

expandir ao mundo conhecido em sua época (mais de 300 anos a.C.) aspectos

diversos da vida e cultura helênicas da época. Depois, os romanos antigos

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buscaram levar suas leis e culturas para fora de sua bela cidade expandindo as

fronteiras do império romano pela Europa.

Viu só? Não é de hoje que a globalização existe. Justamente por isso é

tão difícil traçar sua história. O que podemos perceber com alguma clareza é que

a globalização como a conhecemos hoje, com inegável impacto nos negócios,

tem seu início com as Grandes Navegações dos séculos 15 e 16, que acabam

por alterar a balança comercial da época. Mais tarde ainda, é com a Primeira

Revolução Industrial e com a nova tecnologia do motor à vapor que se

aprimoram os transportes – especialmente o marítimo e o ferroviário.

A partir desse momento, uma série de tecnologias fazem evoluir não

apenas os transportes, mas também os processos de produção e manufatura. A

partir do momento em que as Revoluções Industriais alteram os paradigmas

produtivos – de um modo de produção artesanal para a escala industrial – passa

a haver uma maior oferta de diversos produtos. Com isso, além de uma redução

geral de preços motivada pela maior oferta de produtos, surge o excedente

exportável. É em torno do início do século 20 que a eletricidade e o aço passam

a se difundir, colaborando ainda mais para a globalização.

Concomitantemente, a humanidade começa a desenvolver ainda mais

novas tecnologias, como o telefone, o avião, o telégrafo e tantos outros

facilitadores da vida. Após 1945, surgem Organizações Internacionais

interessadas em regular o ambiente internacional, seja para assuntos de paz e

guerra, seja para assuntos financeiros e de comércio. Por fim, as

telecomunicações se revolucionam a partir da década de 1980, e as tecnologias

bancárias se tornam crescentemente mais modernas.

Todos esses fatores e aspectos contribuíram para a integração do mundo

através do processo de globalização. E quais os impactos disso?

Os impactos são vários: transportes mais eficientes com navios e aviões

maiores e mais rápidos, comunicações, transferências financeiras, acordos

internacionais e tantos outros aspectos acabam por industrializar, integrar e

desenvolver o mundo cada vez mais. Por consequência, as economias se

tornam mais integradas e os estilos de vida em muitos lugares – principalmente

no ocidente – convergem para gostos e preferências semelhantes. Tudo isso

colabora para que muitas empresas se tornem globais. Basta que vejamos um

símbolo, um logotipo, em qualquer lugar do mundo para sabermos a qual

empresa e a qual produto tal marca se refere.

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É por conta de todos esses fatores que podemos dizer:

A globalização dos mercados abriu inúmeras oportunidades de negócios às empresas que se internacionalizaram. Ao mesmo tempo, ela implica a adaptação das empresas a novos riscos e uma acirrada concorrência de competidores estrangeiros. A globalização resulta em compradores mais exigentes, que buscam as melhores ofertas de fornecedores mundiais. [...] Os gestores empresariais devem, cada vez mais, adotar uma orientação global em vez de um foco local. (Cavusgil, Knight, Riesenberger, 2010)

E você, está preparado para adotar uma orientação global no seu

trabalho?

Leitura obrigatória

Cavusgil, T.; Knight, G.; Riesenberger, J. Negócios Internacionais.

Pearson, São Paulo, 2010. Leia as páginas 22 a 46. Disponível em:

<http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788576053798/page

s/_1>.

Vídeo

Assista a esse vídeo sobre globalização:

<https://www.youtube.com/watch?v=qj438T5KQQo&index=16&list=FL24Jhgzuu

ILwBCZ_78Ij0Yw>.

Saiba mais

O que é globalização?

<http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/o-que-globalizacao.htm>.

TEMA 2 – NEGOCIAÇÃO: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

Qual foi a última vez que você negociou algo? Você pode pensar na

negociação como um encontro formal numa sala elegante, cheia de pessoas

bem vestidas. No entanto, negociação não é algo restrito a altos executivos em

cargos de diretoria, mas algo cotidiano que acontece conosco com alta

frequência. Nós negociamos o tempo todo, desde a infância, ainda que nessa

fase a negociação ocorra com alto componente emocional.

No decorrer da vida, as negociações vão ganhando outros componentes,

novos argumentos ou motivações. A ponto de estarmos negociando o tempo

todo: a partir do ambiente familiar, onde você negocia com seu pai, sua mãe, seu

marido ou esposa, nos ambientes escolares ou universitários, onde seus pares

de negociação se tornam seus colegas ou professores e até mesmo no seu

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trabalho, onde você negocia com clientes, fornecedores, patrões e

subordinados.

Veja: ainda que você não perceba, você negocia o tempo todo! Mas afinal,

negociar para quê? Por vários motivos! Imagine por um instante o cenário

internacional: dos conflitos no Oriente Médio até as eleições nos Estados Unidos,

das discussões sobre migrações na Europa até os acordos regionais de

comércio na Ásia. Para que todas essas negociações? Para harmonizar

interesses, conciliar posições e trazer benefícios aos envolvidos:

Quer a negociação diga respeito a um contrato, uma discussão familiar ou

um acordo de paz entre nações, as pessoas empenham-se rotineiramente na

barganha posicional. Cada um dos lados toma uma posição, defende-a e faz

concessões para chegar a uma solução de compromisso. (Fischer, Ury, Patton,

2005, p. 21)

A partir do momento em que entendemos a razão para que negociar, podemos buscar o conceito de negociação. Uma das definições mais aceitas é ver a negociação como "um processo de comunicação bilateral, com o objetivo de se chegar a uma decisão conjunta" (Fischer, Ury, Patton, 2005, p. 37). Por mais simples que pareça esse conceito, ele nos traz elementos importantes. O primeiro deles é entender a negociação como um processo. Ou seja, se é um processo, consiste de fases e partes diferentes.

Não são todas as negociações, afinal, que terminam logo que iniciam ou

que possuem poucas etapas. Uma grande gama se divide em várias fases

conforme seu tema seja mais ou menos complexo, como as negociações

diplomáticas, entre sindicatos ou aquelas que envolvem grandes quantias

monetárias.

Um outro aspecto importante a respeito das negociações é a

comunicação bilateral. Aceitar essa afirmação significa entender que ninguém

negocia sozinho. A negociação envolve, obrigatoriamente, mais de uma parte ou

mais de uma pessoa.

O último elemento do conceito apresentado se refere ao objetivo de se

chegar a uma decisão conjunta. Para que isso aconteça entre partes que

inicialmente apresentam interesses e posições distintas, a negociação deve ser

capaz de conciliar interesses. Nesse momento, existem aqueles que dizem: mas

as negociações não devem se focar em problemas? Não, pois “o problema

básico de uma negociação não está nas posições conflitantes, mas sim no

conflito entre as necessidades, desejos, interesses e temores de cada lado”

(Fischer, Ury, Patton, 2005, p. 59).

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É justamente a partir desses interesses e necessidades que se geram

conflitos que podem ou não ser harmonizados, pois “os interesses motivam as

pessoas; são eles os motores silenciosos por trás da algazarra das posições.

Sua posição é algo que você decidiu. Seus interesses são aquilo que fez com

que você decidisse dessa forma” (Fischer, Ury, Patton, 2005, p. 59).

Pense agora em quantos tratados de paz não foram firmados por conta

de um interesse comum em avença e em harmonia, ainda que as posições entre

os lados conflitantes fossem absolutamente distintas. Ou seja, como processo

de comunicação bilateral, a negociação deve harmonizar posições a partir de

interesses comuns, passíveis de conciliação.

Leitura obrigatória

IAMIN, G. P. Negociação: conceitos fundamentais e negócios internacionais.

InterSaberes: Curitiba, 2016. Leia o Capítulo 1. Disponível em:

<http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788544303597/page

s/-2>.

Saiba mais

Assista ao vídeo “As quatro regras de ouro da negociação”:

<http://www.agendor.com.br/blog/as-4-regras-de-ouro-da-negociacao/>.

TEMA 3 – A IMPORTÂNCIA DAS NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS

No decorrer do século 19, os Estados europeus se digladiaram para dividir

a África, aumentar suas colônias e o poder de seus impérios. Uma complicada

política de alianças, somada aos conflitos do imperialismo, acabou levando à

Primeira Guerra Mundial. No decorrer desse primeiro conflito, enquanto os

estados europeus estavam envoltos nas hostilidades, os Estados Unidos se

tornaram o grande produtor e fornecedor mundial de bens. Com o fim da guerra

em 1918, os estadunidenses mantiveram seu elevado ritmo de produção, o que

gerou a crise da superprodução de 1929. Após a deflagração da crise, os países

afetados adotaram políticas protecionistas, discursos nacionalistas e de ódio. Os

ânimos ferveram e, em 1939, os alemães invadem a Polônia dando início à

Segunda Guerra Mundial.

Por mais difícil que seja conjecturar o que não foi, mas que poderia ter

sido, vamos imaginar por um minuto: e se, na época da Primeira e da Segunda

Guerras Mundiais, existissem Organizações Internacionais capazes de utilizar

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do diálogo e da negociação como fonte de resolução de controvérsias? Talvez

esses conflitos tivessem sido solucionados de alguma outra maneira, de forma

mais pacífica, mais harmoniosa, sem foco nas desavenças ou nos problemas em

comum.

Assim, as negociações internacionais servem não apenas para que

grandes empresas transacionem seus produtos, façam parcerias ou formem

joint-ventures, mas também para que países firmem acordos, sejam eles sobre

temas de guerra e paz, sejam sobre assuntos comerciais. Dessa forma, é

possível perceber como as negociações internacionais têm um escopo de

influência muito amplo, desde a esfera pública até a privada.

Além disso, os temas tratados na esfera pública, sejam nos acordos

internacionais seja nas regulamentações comerciais, afetam diretamente a

posição das empresas, uma vez que tais acordos e regulamentações passam a

ter força de lei para os países envolvidos. Imagine, por exemplo, que uma

empresa brasileira exporta algo para a União Europeia. Passados alguns anos

de atividade comercial, a União Europeia proíbe justamente a entrada desse item

no continente. A partir do momento que isso acontece, a empresa brasileira que

exportava para lá não mais poderá seguir exportando esse item. Portanto, uma

negociação internacional pública afetou diretamente uma instituição privada.

Esse breve relato nos mostra a importância e a amplitude das negociações

internacionais!

Leitura obrigatória

IAMIN, G. P. Negociação: conceitos fundamentais e negócios

internacionais. InterSaberes: Curitiba, 2016. Leia o Capítulo 1. Disponível em:

<http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788544303597/page

s/-2>.

Saiba mais

Assista ao vídeo “O Papel da ONU na Segurança Mundial”:

<https://www.youtube.com/watch?v=VM-d-2q4SrQ>.

TEMA 4 – O AMBIENTE INTERNACIONAL

Por diversas vezes no decorrer desta aula, você já se deparou com

afirmações sobre os efeitos da globalização para os negócios.

Internacionalmente, existem ao menos 200 países. Em cada um deles, existem

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vários tipos de empresas que atuam em diversas áreas. Logística, navegação,

finanças e tantas outras podem servir de exemplos de áreas internacionais de

atuação empresarial. Entre elas, as empresas multinacionais possuem forte

atuação internacional. Essas organizações se caracterizam por seu tamanho,

capacidade financeira, recursos e por terem uma matriz em um determinado país

e filiais espalhadas pelo mundo.

A revista Fortune classifica ano a ano as maiores empresas do planeta.

Em edição recente, constam no topo Walmart, Royal Dutch Shell, Exxon, British

Petroleum, Volkswagen, Toyota e várias outras empresas e marcas altamente

conhecidas. Muitas vezes, essas grandes empresas possuem um faturamento

anual maior do que o PIB de diversas nações, o que dá a elas grande poder de

barganha. Por essa razão, é possível afirmar que a “atividade da Empresa

Multinacional moderna é essencialmente diferente da de sequer trinta anos

atrás. A globalização impulsionou os processos de internacionalização e, hoje,

estas corporações cada vez mais se parecem com Estados independentes”

(Sarfati, 2007).

Figura 1 – Maiores empresas multinacionais classificadas por bens e recursos

Fonte: The Economist (2012)

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Essa semelhança das empresas multinacionais com países se deve ao

seu porte, número de pessoas que empregam e recursos que movimentam.

Multinacionais como “Exxon, Honda e Coca Cola obtêm uma parcela significativa

de suas vendas e lucros totais, geralmente mais da metade, de operações

transnacionais” (Knight, Cavusgil, Riesenberger, 2010). Além disso, outras

tantas grandes empresas acabam por desempenhar atividades diferentes em

países diferentes: pesquisa e desenvolvimento no Japão e Estados Unidos,

suprimentos vindos da China e Índia, manufatura no leste europeu ou México, e

assim por diante. Isso é o que se chama de internacionalização da cadeia

produtiva ou da cadeia de valor, cada vez mais frequente nos últimos anos.

Muitas nações subdesenvolvidas acabam, por pressão dessas grandes

empresas, alterando leis nacionais para permitir a exploração de sua mão-de-

obra, remissão de lucros ao exterior ou flexibilização de normas ambientais.

Ainda com esses aspectos negativos, é igualmente frequente que empresas

sejam responsabilizadas em seu país de origem por malfeitos no estrangeiro.

Assim como a globalização não é um processo recente, a

multinacionalização de empresas também não é:

O processo de internacionalização (na verdade, multinacionalização das empresas) passou a tomar um grande impulso a partir da aceleração do processo de globalização, conforme discutido no capítulo passado. Segundo o World Investment Report 2002 produzido pela UNCTAD, o crescimento das EMNs é bastante significativo: em 1992 havia cerca de 35.000 EMNs com 150.000 empresas afiliadas. Já em 2001, havia 65.000 EMNs com 850.000 empresas afiliadas, empregando 54 milhões de pessoas (contra 24 milhões em 1990). (Sarfati, 2007)

Atualmente, com a difusão e a melhoria das tecnologias da informação,

as empresas estão se internacionalizando de maneira cada vez mais rápida e

ágil. Um exemplo são as born globals – empresas já nascidas globais. São

empresas jovens que, em um curto espaço de tempo, conseguem obter uma boa

porcentagem de suas vendas do exterior – 25 ou 30% – em dois ou três

continentes diferentes. Essas empresas são normalmente criadas por

profissionais de espírito empreendedor com alguma experiência internacional.

Tem sido frequente o surgimento de empresas nascidas globais no segmento de

tecnologia, que criam ou difundem algum tipo de inovação.

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Leitura obrigatória

CAVUSGIL, T., KNIGHT, G.; RIESENBERGER, J. Negócios

Internacionais. Pearson, São Paulo, 2010. Ler da página 11 a 15. Disponível em

<http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788576053798/page

s/_1>.

Saiba mais

Assista ao vídeo “Mentalidade Global: Um Desafio para as Multinacionais

Brasileiras”: <https://www.youtube.com/watch?v=s0u6YuFEq1w>.

TEMA 5 – RISCOS POLÍTICOS E ECONÔMICOS DAS NEGOCIAÇÕES

INTERNACIONAIS

Anteriormente, vimos como algumas grandes empresas estão presentes

no mundo todo. Nesse cenário, a globalização agiu como padronizadora de

estilos de vida em muitos lugares, principalmente no ocidente, o que gerou uma

convergência para gostos e preferências semelhantes. Mas e os países, os

Estados? Como eles ficam nesse cenário? São meros entes passivos?

Não! Os Estados continuam participando ativamente. A grande diferença

é que, antigamente, os países eram os grandes atores das relações

internacionais, os principais, mais importantes e mais ativos participantes. Hoje

em dia, as empresas, os indivíduos e as organizações internacionais também

ganharam voz.

Isso não significa, no entanto, que os Estados hoje sejam apenas entes

passivos, pelo contrário. Numa tentativa de gerar segurança e ordem

internacional, aos Estados cabe participar nos fóruns e reuniões internacionais,

redigir e aprovar acordos e normas, firmar tratados e estabelecer alianças, o que

pode alterar drasticamente as negociações com esta ou aquela nação.

É importante se lembrar de que, no caso brasileiro, qualquer acordo

internacional ao qual nosso país tenha se comprometido, deve ser submetido à

aprovação do Congresso Nacional para que passe a fazer parte de nosso

ordenamento jurídico. Esse ponto é mais uma mostra do papel que o Estado

desempenha nas relações internacionais da atualidade. Existem, obviamente,

outros fatores que merecem atenção.

Ao buscar a internacionalização, as empresas devem seguir as leis dos

países hospedeiros, o que pode gerar uma série de riscos políticos e

econômicos. Nesse caso, podem haver leis e normas no destino que não existem

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no país de origem. Além das empresas, os profissionais de negócios

internacionais devem estar atentos também às condições legais impostas pelos

Estados às empresas estrangeiras:

Muitas nações impõem restrições à entrada de investimento direto

estrangeiro (IDE). Por exemplo, no Japão, o daitenhoo (lei das lojas de varejo de

grande escala) coibiu estrangeiros de abrir lojas no estilo atacadista como

Walmart (...), restringindo as operações de gigantes varejistas (...). Na Malásia,

as empresas que desejam investir em negócios locais devem obter a permissão

do Malaysian Industrial Development Authority, que examina as propostas para

garantir que se adequem às metas da política nacional. Os Estados Unidos

restringem investimentos estrangeiros que julgam afetar a segurança nacional;

os de grande porte devem ser examinados pelo U.S. Committee on Investments.

(Cavusgil, Knight, Riesenberger, 2010)

Perceba como os Estados desempenham um papel importante não só no

sistema internacional, mas também na normatização de uma série de atividades.

É de extrema importância para o sucesso dos empreendimentos internacionais

e dos profissionais que atuam internacionalmente que haja atenção detalhada

às mais variadas regulamentações. Obviamente, você não precisa se tornar um

profundo conhecedor das leis de todos os países, mas deve conhecer aquelas

leis que podem afetar seu projeto no país que você pretende abordar.

Figura 2 – Risco político no mundo

Fonte: https://goo.gl/AQL0rs

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Além das leis sobre investimento estrangeiro direto, existem outras sobre

marketing, distribuição, repatriação de lucros, meio-ambiente e contratos. Por

fim, existem uma série de riscos que os Estados podem apresentar aos

empreendimentos internacionais, inclusive logísticos. O risco-país, por exemplo,

tenta alertar a respeito dos perigos de se fazer negócios em determinados locais.

Algumas nações são conhecidas por confiscar propriedades privadas,

sobretaxar empresários e não respeitar contratos ou propriedade intelectual.

Nesses locais, raramente se farão grandes negócios. Assim, vale à pena atentar

para o mapa de risco político apresentado anteriormente!

Leitura obrigatória

CAVUSGIL, T., KNIGHT, G.; RIESENBERGER, J. Negócios

Internacionais. Pearson, São Paulo, 2010. Ler páginas 97 a 121. Disponível em:

<http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788576053798/page

s/_1>.

TROCANDO IDEIAS

Clique no link a seguir para encontrar informações sobre o livro “Choque

de Civilizações”, que apresenta uma visão do cenário internacional a partir do

ponto de vista das culturas. Para o autor, os próximos conflitos internacionais

não acontecerão entre países, mas entre grupos com culturas diferentes. Visite:

<https://pt.wikipedia.org/wiki/Choque_de_civiliza%C3%A7%C3%B5es>.

E você, concorda com essa posição?

NA PRÁTICA

Analise a notícia a seguir e pense qual ou quais devem ser as

preocupações do empresário que gostaria de atuar internacionalmente? E qual

o papel do profissional de Comércio Exterior?

Levy defende aumento da presença do Brasil no cenário internacional.

Ministro também afirma que parte do governo tem disposição de apoiar os

empresários que estão querendo conquistar o mercado internacional.

Brasília - O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, defendeu por meio de

nota à imprensa a ampliação da presença do Brasil no cenário internacional. "O

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Brasil é uma economia que tem muitas vantagens; deve ser uma companhia que

tem que competir para ganhar", afirmou Levy.

Segundo o ministro, a aprovação de hoje do Senado Federal do Acordo

Constitutivo do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco dos BRICS

(Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), e do Acordo Contingente de

Reservas (CRA), além do fato de o Brasil ter se tornado integrante do Banco de

Investimento Asiático, refletem a vontade do governo brasileiro e da presidente,

de estar presente no cenário internacional. A nota também afirma que parte do

governo tem disposição de apoiar os empresários que estão querendo

conquistar o mercado internacional.

Rússia e Índia também já aprovaram processos internos de ratificação

para criação do banco. China e África do Sul indicaram que estão processando

e que devem concluir em breve. Assim, o NBD poderá entrar em vigor para a

efetiva criação do Novo Banco de Desenvolvimento.

De acordo com a nota divulgada pelo Ministério da Fazenda, o Banco

deverá contribuir de forma concreta e agrupar os desafios relacionados ao

desenvolvimento internacional. "A nova instituição representará fonte alternativa

de investimentos, aumentando a oferta de recursos para os entes públicos e

privados do Brasil", afirmou o comunicado.

O NBD deverá mobilizar recursos para projetos de infraestrutura e de

desenvolvimento sustentável nos países membros do bloco e em outras

economias emergentes ou em desenvolvimento e contemplar as ações dos

bancos multilaterais”.

Fonte: adaptado de Diário do Nordeste, 2015.

FINALIZANDO

As tecnologias da informação, que evoluíram a passos largos no decorrer

do século 20, aproximaram os países e, de certa forma, removeram as fronteiras

da distância. As empresas deixam de concorrer apenas com seus rivais locais e

passam a concorrer com qualquer outra empresa do planeta que produza os

mesmos bens. Se a concorrência aumentou, aumentaram também as

possibilidades de escolhas dos consumidores, que já não compram mais como

antigamente. Isso pode ser tanto uma oportunidade para as empresas e

profissionais bem preparados quanto uma ameaça para aqueles que não têm

conhecimentos na área. É por conta de todos esses fatores que podemos dizer:

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A globalização dos mercados abriu inúmeras oportunidades de negócios às empresas que se internacionalizaram. Ao mesmo tempo, ela implica a adaptação das empresas a novos riscos e uma acirrada concorrência de competidores estrangeiros. A globalização resulta em compradores mais exigentes, que buscam as melhores ofertas de fornecedores mundiais. (...) Os gestores das empresariais devem, cada vez mais, adotar uma orientação global em vez de um foco local. (Cavusgil, Knight, Riesenberger, 2010)

A globalização agiu, então, como padronizadora de estilos de vida em

muitos lugares, principalmente no ocidente, o que gerou uma convergência para

gostos e preferências semelhantes. E como ficam os países, os Estados, nesse

cenário? Os Estados continuam participando ativamente. A grande diferença é

que, antigamente, os países eram os grandes atores das relações internacionais,

os principais, mais importantes e mais ativos participantes. Hoje em dia, as

empresas, os indivíduos e as organizações internacionais também ganharam

voz.

Ao buscar a internacionalização, as empresas devem seguir as leis dos

países hospedeiros. Nesse caso, podem haver leis e normas no destino que não

existem no país de origem. Além das empresas, os profissionais devem estar

atentos também às condições legais impostas pelos Estados às empresas

estrangeiras. Além das leis sobre investimento estrangeiro direto, existem outras

sobre marketing, distribuição, repatriação de lucros, meio-ambiente e contratos.

Por fim, existem uma série de riscos que os Estados podem apresentar aos

empreendimentos internacionais. O risco-país, por exemplo, tenta alertar a

respeito dos perigos de se fazer negócios em determinados locais.

Nesse cenário de alta concorrência e competitividade, negociar se torna

essencial. Entender a negociação é poder olhar para ela como um processo de

comunicação bilateral com características específicas.

Hoje, as empresas multinacionais são centrais nas negociações. Tais

empresas se caracterizam por seu tamanho, capacidade financeira e recursos,

e por terem uma matriz em um determinado país e filiais espalhadas pelo mundo.

Além da existência de diversos países, empresas e organizações internacionais,

o cenário internacional de negócios tem como um de seus principais panos de

fundo uma série de culturas nacionais, às quais os profissionais que atuam

internacionalmente devem prestar atenção para garantir o sucesso de seus

empreendimentos no exterior.

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REFERÊNCIAS

AMATUCCI, M. Teorias de negócios internacionais e a economia brasileira – de

1850 a 2007. In.: AMATUCCI, M. (Org.). Internacionalização de empresas. São

Paulo: Atlas, 2009.

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<https://www.economist.com/blogs/graphicdetail/2012/07/focus-1>. Acesso em:

16 out. 2017.

CAVUSGIL, S. T.; KNIGHT, G.; RIESENBERGER, J. Negócios internacionais:

estratégia, gestão e novas realidades. Pearson: São Paulo, 2010.

DUARTE, R. G.; TANURE, B. O impacto da Diversidade Cultural na Gestão

Internacional. In: DUARTE, R. G.; TANURE, B. (Org.). Gestão internacional.

São Paulo: Saraiva, 2006.

FERREIRA, M. P.; REIS, N. R.; SERRA, F. R. Negócios internacionais e

internacionalização para as economias emergentes. Lidel: Lisboa, 2011.

FISCHER, R.; URY, W.; PATTON, B. Como chegar ao sim: as negociações de

acordos sem concessões. Imago: São Paulo, 2005.

HOBSBAWM, E. A era dos extremos: o breve século XX. São Paulo:

Companhia das Letras, 2005.

IAMIN, G. P. Negociação: conceitos fundamentais e negócios internacionais.

InterSaberes: Curitiba, 2016.

LEVY defende um aumento da presença do Brasil no cenário internacional.

DIÁRIO DO NORDESTE, 2015. Disponível em

<http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/negocios/online/levy-

defende-aumento-da-presenca-do-brasil-no-cenario-internacional-1.1308495>.

Acesso em: 16 out. 2017.

MAGNOLI, D.; SERAPIÃO JÚNIOR., C. Comércio exterior e negociações

internacionais. São Paulo: Saraiva, 2012.

SARFATI, G. Manual de diplomacia corporativa: a construção das relações

internacionais da empresa. São Paulo: Atlas, 2007.

SEITENFUS, R. Manual das organizações internacionais. 2. ed. Porto Alegre:

Livraria e Editora do Advogado, 2005.

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RESPOSTAS

A princípio, uma das preocupações dos empresários que visam atuar

internacionalmente deve ser a maior concorrência. Para vender em um país que

não é o seu de origem, é importante saber quem são os concorrentes e entender

como lidar com eles, uma vez que, se uma empresa brasileira busca negócios

em outros países, nada impede empresas de outros países de fazerem o

mesmo.

A segunda preocupação é com a dimensão Estado: entender e

compreender como as normas do país de destino podem afetar meus negócios.

Por fim, ter em mente que, dependendo de qual seja o país escolhido para

as primeiras vendas internacionais, pode haver a necessidade de adaptação do

produto ou serviço por conta de questões culturais.

Por todas essas preocupações, o papel do profissional de Comércio

Exterior deve ser de dar informações às empresas e organizações nas quais

trabalham para que compreendam melhor os desafios e oportunidades da

atuação internacional, tais como entregar produtos de forma eficiente, com

menor custo em menos tempo, para qualquer empresa ou qualquer pessoa em

qualquer lugar do mundo.