Nem tudo é relativo, pois Hilton Japiassu

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    HILTON JAPIASSU

    NEM TUDO RELATIVO

    A QUESTODA VERDADE

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    SUMRIO

    Introduo ............................................... 5

    1. A onda relativista ...................................... 23

    2. O relativismo em questo ........................ 79

    3. A questo da verdade .............................. 125

    4. Notas ....................................................... 181

    Concluses ............................................. 2295. Apndice: Como alguns filsofos conce-

    beram a verdade ..................................... 259

    6. Bibliografia Bsica................................... 267

    Editora Letras & Letras, 2000

    Equipe de Realizao

    Editor:Carlos Jos LinardiSuperviso Grfica:Waldenes Ferreira Japyass FilhoAssistente Editorial:Carlos Alberto Carmignani Linardi

    Reviso:Antonio Orzari - Peppino DArdisCapa:Peppino DArdis

    Ficha Catalogrfica

    Japiassu, Hilton

    Nem Tudo Relativo

    A Questo da Verdade So Paulo: Editora Letras& Letras, 2000

    Bibliografia

    ISBN 85-85387-95-5

    1. Filosofia

    Letras & LetrasAtendimento ao Consumidor:

    Av. Ceci, 1945 Planalto PaulistaFone: (0xx11) 577-5746/5581-2183 Fax: (0xx11) 5594-2111

    e-mail: [email protected]@letraseletras.com.br

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    autorizao do editor.

    Este livro tambm editado eletrnicamentedisponvel no site: www.letraseletras.com.br

    Editora Virtual

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    INTRODUO

    Um dos sintomas da crise intelectual de nossomundo reside no fato de no pr-se explcita e luci-damente em questo. De um modo geral, os grandesdesafios ficam fora de todo fim racional ou razoavel-mente discutvel. Nessas condies, torna-se umlugar comum se dizer que a atividade do intelectual

    consiste num trabalho crtico, na medida em que de-ve quebrar todas as evidncias, denunciar tudo oque parece impor-se como normal ou natural eno pode renunciar ao saber sem abandonar o quefaz dele um ser livre e autnomo. Diante da incapaci-dade da sociedade contempornea de criar novassignificaes sociais e de pr-se a si mesma emquesto e suas prprias instituies, compete ao fil-sofo, alm de impedir que a questo da liberdade

    se subordine do progresso das cincias, tentar criarnovos pontos de vista e novas idias, mesmo a partirde questes bastante antigas, mas ainda atuais edesafiadoras, como a que ope verdade e relati-vismo.

    Historicamente, foi assim. Mas uma precisose impe. No momento do nascimento da filosofia(na Grcia), verdade que os primeiros filsofosquestionaram as representaes coletivas estabele-

    cidas, criticaram as idias sobre o mundo, sobre osdeuses e o bom funcionamento da Cidade (Plis).Mas logo esta atividade crtica sofre uma degeneres-cncia. A maioria dos pensadores trai seu papelcrtico. Muitos se convertem em racionalizadores doque (do status quo), em justificadores da ordemestabelecida. O exemplo mais eloqente o deHegel, proclamando que tudo o que racional real e que tudo o que real racional. Ao surgir, a

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    11. A ON DA

    RELATIVISTA

    Por onda relativista, entendemos todo estemodo de pensamento segundo o qual as teoriascientficas nada mais so que construes repousan-do em pressupostos arbitrrios e constituindo ummodo de conhecimento tributrio das paixes sociais

    ou de convices religiosas. No h nenhuma lgicacapaz de impor-se como absoluto de referncia. Nosomente na ordem do conhecimento, mas nos dom-nios religioso, moral ou poltico, tudo o que propos-to como verdade universal ou norma geral deveser considerado como dogmtico, autoritrio e con-trrio tolerncia e ao pluralismo. Identificados comopensadores ps-modernos, pois pretendem ques-tionar, no somente as noes clssicas de verdade,

    razo, identidade e objetividade, mas a idia de pro-gresso ou emancipao universal, os sistemas ni-cos, os megarrelatos ou os fundamentos definitivosde explicao, os relativistas atuais formam um movi-mento radical negando a unidade (isto , a univer-salidade) da verdade, da razo, da realidade e dacincia. A cincia no pode mais ser entendida comoum conhecimento universalmente vlido sobre omundo natural, mas como um construto particular

    ou tnico da sociedade ocidental. Para esse cons-trutivismo social, todas as crenas so igualmentejustificadas pelo consenso da comunidade, nohavendo nenhuma verdade objetiva sobre o mundoreal ou capaz de transcender o contexto social lo-cal. Como no existe a verdade correspondendo auma realidade independente da mente, as alegaesde conhecimento devem ser explicadas simetrica-mente, qualquer que seja sua verdade ou falsidade.

    Relativismo,conceito

    Relativismo, verdade

    Relativismo,

    conhecimento

    Relativismo,verdade

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    bates da agor. Foi a que rompeu com os mistriosda palavra revelada e dos mitos, desalojando as

    autoridades tradicionais dos porta-vozes celestes.Contra os segredos dos saberes ancestrais, reivindi-cou a publicidade e a transparncia dos argumentos.Contra o mundo fechado das certezas e da obedin-cia incondicional, contraps o mundo aberto dasquestes e da liberdade. Por isso, desde sua origem,a Razo foi democrtica. E a Cincia, sua legtimaherdeira, precisa afirmar-se abrindo-se ao confrontoe ao afrontamento, fazendo do espao em que exer-

    ce sua atividade, o espao mesmo da discusso eda tolerncia.

    o pensamento s pode existir na discursividade? Epor que s legtimo o uso da razo recorrendo a

    tal discursividade? Ora, se admitimos que pensarlevantar a questo, para o sujeito, do sentido, notemos o direito de reduzir o pensamento ao clculolgico, pois ultrapassa, de muito, o jogo dos concei-tos. Ao lembrar-nos que o smbolonos leva a pensarmais que a razo discursiva, porque no obedece ordem discursiva, o filsofo Paul Ricoeur (Le Conflitdes Interprtations, Seuil, 1969) nos mostra, nosomente por razes conceituais, mas ticas e huma-

    nas, que no podemos identificar Pensamento eRazo discursiva. Porque no podem ser conside-rados seres pensantes apenas os que sabem seexpressar segundo os cnones da lgica discursiva.Se a quase totalidade da espcie humana no pen-sa, pois no reduz o pensamento razo e aoconhecimento, os homens seriam irresponsveispor seus atos, e Eichmann no seria culpado (H.

    Arendt).

    A diversidade dos saberes e das culturas nonos obriga a aceitar globalmente as teses relativistas.Mas como possuem, pelo menos um valor de antdo-to contra toda espcie de dogmatismo racionalista,talvez possamos sublim-lasa fim de que possamcolaborar para se produzir, sem impostura, violnciaou imperialismo, uma Cincia com vocao univer-sal, sem dvida, mas suscetvel de responder sexigncia de uma Razo aberta. Porque, numa so-

    ciedade concorrencial, competitiva e agressiva comoa nossa, precisamos estar conscientes de que aCincia, ao invs de impor-se como combate, deve-ria apresentar-se como dilogo. Desde sua origem,entre os gregos, a racionalidade surge como comu-nicao: raciocinar significa dar razo, levar emconta e reconhecer a alteridade, a posio do inter-locutor. O Logossurgiu na praa pblica, nos de-

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    22. O RELATIVISM O

    EM QUESTO

    De tudo o que vimos at agora, podemos dizerque, de um modo geral, so consideradas relativistasas teses ou tomadas de posio defendendo queos homens vivem em mundos e culturas bastantediferenciados para que seja possvel qualquer defi-

    nio de normas universais ou universalizveis doverdadeiro e do justo. Porque os prprios critriosde verdade e justia tambm variam no tempo e noespao, no sendo suscetveis de nenhuma trans-cendncia. Assim resumido, o relativismo esbarracom uma srie de dificuldades, no somente fatuaise pragmticas, mas lgicas e tericas. Em todo caso,um de seus mritos consiste em permitir-nos rompercom o velho racionalismo que, por no perceber a

    historicidade da Razo, fez dela um absoluto sobreo modelo do tempo e do espao absolutos da fsicaclssica. O grande defeito do universalismo raciona-lista consiste em ter pretendido falar do ponto devista universal, mas confundindo-o com o ponto devista particular do observador ocidental reduzindo aRazo ao racionalismo e a Cincia ao cientificismo.Mas no podemos relativizar a Razo sem, ao mes-mo tempo, racionalizar a relatividade.

    A partir dos anos 1980, a questo do relativismo posta de outro modo e ganha outros interlocutores.

    As discusses propriamente epistemolgicas sobrea verdade mudam de rumo com a introduo, nareflexo filosfica, dos dados e resultados analisadospela antropologia filosfica, pela psicologia experi-mental de cunho behaviorista e pela epistemologiade tipo lgico. Entre as teorias filosficas da verdade

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    fornecer vida humana as bases sem as quais elaperde sentido? Segundo o slogansempre repetido,sem Deus, no seria tudo permitido?

    O grande preconceito levando os relativistas arecusarem todo universal consiste em identific-loa uma idia congelada, fria e inflexvel, ignoranteda rica diversidade dos valores culturais e, por conse-guinte, destruidora da humanidade concreta em no-me de uma humanidade ideal. Na arena internacio-nal, essa desvalorizao se manifesta pela crticacultural dos direitos do homem: jamais encontramosessa abstrao que o Homem, dizem. O que impli-ca esse abandono do universal? Entre outras coisas,consagra as tradies culturais, tais como so, taiscomo servem de libis a projetos perversos, a vonta-des de poder, a estruturas de opresso veladas edesprezveis para o homem. Ademais, consagra atese da comunicao impossvel entre homens deculturas diversas. Sem esse pressuposto segundoo qual os homens podem se intercomunicar, no hvida humana comum possvel. Alis, deixa de haver

    humanidade.Portanto, longe de constituir uma abstrao r-

    gida ou de fazer corpo com uma concepo dohomem inteiramente formada, a idia de universalprecisa ser entendida, antes de tudo, como essapressuposio segundo a qual os homens pressen-tem que, apesar de todas as suas diferenas, podeme devem ser comunicar. De um modo mais preciso,trata-se de uma idia devendo ser entendida como

    uma tarefa, portanto, como um dever que os indiv-duos assumem de se compreenderem uns aos ou-tros. Antes de ser um contedo ou uma norma, an-tes de ser um juzo sobre a humanidade em si epara si, essa idia de universal constitui este a priorisegundo o qual o outro no me to estranho ouque eu no lhe sou to estranho. Numa palavra, que,entre ns, a comunicao possvel. (20a)