Neo-institutionalismo e marxismo

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1 Gianluca Elia Aula 3 Contexto 1 O contexto é a identificação das causas primordiais do desenvolvimento econômico das sociedades, especialmente das subdesenvolvidas. Adam Przeworski afirma que a perspectiva marxista e a neoinstitucionalista i embora façam conclusões diferentes, (modos de produção versus instituições como „motores da historia‟) são ambas equivocadas em considerar que estes elementos sejam as causas profundas do desenvolvimento, ao contrario desenvolvimento e instituições são mutuamente endógenos e o máximo que se pode pretender é identificar seus impactos recíprocos. O marxismo e o neoinstitucionalismo não explicariam a mudança institucional, porque consideram as instituições como dadas e fixas, e chegam portanto ambas a um impasse. Para os neoinstitucionalistas importa a preservação das instituições que salvaguardam os direitos de propriedade, portanto estas tendem a reproduzir as condições que as promoveram, e nenhuma alternativa pode emergir no interior do sistema. Para o marxismo, as instituições burguesas só podem se transformadas em razão de um “colapso”, porque todo ato de produção é um ato de reprodução das relações sociais sob as quais se realiza, e as relações sociais não podem ser transformadas se as instituições se reproduzem a si mesmas, bloqueando as oportunidades de desenvolvimento que emergem exogenamente. Ao contrario, a teoria da mudança institucional, proposta pelo autor, trata o desenvolvimento como um processo endógeno, isto é, como correspondente às condições, ainda que não determinado univocamente por essas condições. Questão 1 O autor troca no decorrer do texto os termos „modos de produção‟ e „forças de produção‟, e portanto a luta de classe como motor da historia, por termos da economia neoclássica ou convencional como provisão de fatores‟ e „tecnologia‟, e chega a conclusão que a riqueza, sua distribuição e as instituições que alocam fatores e distribuem a renda são mutuamente interdependentes e evoluem conjuntamente, pressupondo que isso aconteça a partir de certas circunstâncias iniciais e sob certas condições invariantes. Porem, dadas as considerações do autor, estas não explicariam o aumento por exemplo da desigualdade entre as nações, se não por um processo endógeno, desconsiderando o papel do capital internacional e das transferências de valor dos países mais pobre para os mais ricos. Estes elementos externos por sua vez fincam na sociedades e influenciam os fatores endógenos das sociedades, que alias não se limitam a ser as instituições ou a economia. Como afirma Perissinotto, referindo-se a teoria neoinstitucional da escola racional, „não podemos superestimar o papel das instituições e subestimar o papel dos fatores sociais (grupos, classes, estratificação social, estrutura econômica, cultura politica). Entre um pais desenvolvido do Norte e um subdesenvolvido do Sul do mundo, geralmente não temos circunstancias iniciais iguais, mutua interdependência e condições invariantes, portanto o que Przeworski pressupõe não estaria colocando estes termos em um vácuo histórico, como se essas causas profundas sejam dadas e fixas, e

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Algumas pergutnas e considerações sobre o neo-institutionalismo

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  • 1

    Gianluca Elia Aula 3

    Contexto 1

    O contexto a identificao das causas primordiais do desenvolvimento econmico das

    sociedades, especialmente das subdesenvolvidas. Adam Przeworski afirma que a

    perspectiva marxista e a neoinstitucionalistai embora faam concluses diferentes,

    (modos de produo versus instituies como motores da historia) so ambas

    equivocadas em considerar que estes elementos sejam as causas profundas do

    desenvolvimento, ao contrario desenvolvimento e instituies so mutuamente

    endgenos e o mximo que se pode pretender identificar seus impactos recprocos.

    O marxismo e o neoinstitucionalismo no explicariam a mudana institucional, porque

    consideram as instituies como dadas e fixas, e chegam portanto ambas a um impasse.

    Para os neoinstitucionalistas importa a preservao das instituies que salvaguardam

    os direitos de propriedade, portanto estas tendem a reproduzir as condies que as

    promoveram, e nenhuma alternativa pode emergir no interior do sistema. Para o

    marxismo, as instituies burguesas s podem se transformadas em razo de um

    colapso, porque todo ato de produo um ato de reproduo das relaes sociais sob

    as quais se realiza, e as relaes sociais no podem ser transformadas se as instituies

    se reproduzem a si mesmas, bloqueando as oportunidades de desenvolvimento que

    emergem exogenamente.

    Ao contrario, a teoria da mudana institucional, proposta pelo autor, trata o

    desenvolvimento como um processo endgeno, isto , como correspondente s

    condies, ainda que no determinado univocamente por essas condies.

    Questo 1

    O autor troca no decorrer do texto os termos modos de produo e foras de

    produo, e portanto a luta de classe como motor da historia, por termos da economia

    neoclssica ou convencional como proviso de fatores e tecnologia, e chega a

    concluso que a riqueza, sua distribuio e as instituies que alocam fatores e

    distribuem a renda so mutuamente interdependentes e evoluem conjuntamente,

    pressupondo que isso acontea a partir de certas circunstncias iniciais e sob certas

    condies invariantes.

    Porem, dadas as consideraes do autor, estas no explicariam o aumento por exemplo

    da desigualdade entre as naes, se no por um processo endgeno, desconsiderando o

    papel do capital internacional e das transferncias de valor dos pases mais pobre para

    os mais ricos. Estes elementos externos por sua vez fincam na sociedades e influenciam

    os fatores endgenos das sociedades, que alias no se limitam a ser as instituies ou a

    economia. Como afirma Perissinotto, referindo-se a teoria neoinstitucional da escola

    racional, no podemos superestimar o papel das instituies e subestimar o papel dos

    fatores sociais (grupos, classes, estratificao social, estrutura econmica, cultura

    politica).

    Entre um pais desenvolvido do Norte e um subdesenvolvido do Sul do mundo,

    geralmente no temos circunstancias iniciais iguais, mutua interdependncia e

    condies invariantes, portanto o que Przeworski pressupe no estaria colocando estes

    termos em um vcuo histrico, como se essas causas profundas sejam dadas e fixas, e

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    no sejam ao contrario produtos histricos, da luta de classe e dos conflitos Norte-Sul

    do mundo, embora os resultados no sejam predeterminados, pelo papel ativo que as

    instituies podem ter?

    Consideraes 1

    Talvez a pergunta central que o Przeworski pe seria esta: quando as condies

    histricas permitem s instituies alterar as condies que impossibilitam a mudana

    institucional?

    Para sair deste impasse, no qual as instituies uma vez instaladas seriam persistentes,

    Przeworski formula uma perspectiva dinmica e estratgica das relaes sociais na qual

    as instituies so um efeito contingente de conflitos travados sob determinadas

    condies histricas e tm maior ou menor probabilidade de persistir em face dessas

    condies. Os conflitos devem ser o ponto de partida, e seus efeitos, na medida em que

    dependem das condies e das instituies sob as quais ocorrem, no so

    predeterminados.

    Przeworski afirma que as instituies podem determinar a proviso de fatores e a

    tecnologia, e estes afetam o crescimento e a ulterior prosperidade, que por seu turno

    afetam a evoluo das instituies. Esta afirmao porem no contradiz a teoria

    marxista que afirma que a mudana se da sob condies histricas determinadas pelas

    instituies.

    Contexto 2

    No contexto do desenvolvimento econmico das periferias do mundo, depois da

    Segunda Grande Guerra, Regina Laisner afirma que emergiu uma reflexo sobre as

    relaes positivas ou negativas entre desenvolvimento econmico e democracia. Um

    dos autores principais daquela que ser chamada de teoria da modernizao, Seymour

    Lipset, relaciona elementos socioeconmicos tpico da modernidade aos arranjos

    polticos, traando o processo de modernizao das sociedades tradicionais como uma

    linha reta, que levaria nas periferias a reproduo do processo de modernizao e

    democratizao dos pases ocidentais. Entretanto, Samuel Huntington, observava que a

    modernizao nas periferias se dava em regimes ditatoriais, no relacionando portanto

    diretamente a estabilidade politica e a democracia ao desenvolvimento econmico e a

    modernidade. Moore Jr, sobre os regimes ditatoriais da periferia do mundo escreve: nos

    pases onde o impulso da burguesia foi mais dbil, os obstculos democracia no

    foram removidos e estabeleceram-se formas polticas repressivas, encaminhadas por

    alianas conservadoras, que permitiram a permanncia dos setores agrrios no poder. A

    esta afirmao podemos associar as concluses sobre o fenmeno democrtico nos

    Estados Unidos por parte de Tocqueville, que afirmava: a liberdade politica, a tolerncia

    e o pluralismo dificilmente podem germinar em um terreno com marcas aristocrticas e

    hierarquizantes.

    Questo 2

    O processo do aumento das desigualdades sociais no Brasil, ligados a manuteno de

    vnculos verticais de tipo patronal-clientelstico e a ampliao de formas polticas

    repressivas, encaminhadas por alianas conservadoras, permitiram a permanncia e a

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    expanso de setores empresariais monopolistas agro-minerarios, e levaram a partir de

    2003 ate a crise de 2008, a um crescimento econmico, e portanto ao aumento de gastos

    em desenvolvimento social, embora com maior dependncia dos mercados externos e

    do capital internacional.

    No seriam no Brasil incompatveis o modelo econmico dependente, levado adiante

    pelo latifndio agrrio, como nica base de sustentao do desenvolvimento

    socioeconmico, com uma luta por maior justia, igualdade social e econmica, e

    portanto por maior democracia?

    Consideraes 2

    Segundo os tericos da democratizao, nos pases subdesenvolvidos o processo de

    democratizao no seria possvel dada a insuficiente modernizao, enquanto por

    Samuel Huntinghton, a modernizao se daria tambm em regime autoritrios.

    Diferentemente destes, segundo Dahl, o grau de democratizao pode ser mensurado

    pela dimenso da competio e da participao, no pelo processo histrico de

    modernizao mas pelo grau de pluralismo da sociedade, afirmando que no existe

    relao direta entre desenvolvimento socioeconmico e pluralismo politico e

    institucional, negando o inevitvel fracasso da democracia nos pases subdesenvolvidos.

    Dahl afirma que certo grau de poliarquia possvel nos pases subdesenvolvido, mas

    Laisner afirma que uma maior equidade socioeconmica no seria pr-requisito para a

    democracia, mas um critrio substantivo e normativo, para criar como afirma Putnam,

    vnculos horizontais entre as pessoas no lugar de vnculos verticais de tipo patronal-

    clientelstico, ou seja atravs relaes de explorao e dependncia. Portanto, aplicando

    o modelo de Dahl ao Brasil no teremos um resultado prximo de uma democracia

    liberal sem justia social, baseada na explorao e na dependncia, embora existam

    mecanismos democrtico de competio pluralista e representao?

    Referencias

    HALL, P. & TAYLOR, R. (2003). As trs verses do neo-institucionalismo. Lua Nova, n0

    58.

    LAISNER, Regina (2008). Vises da democracia. O debate entre tradies e o caminho

    para um novo modelo. Revista Estudos e Pesquisa sobre as Amricas. Vol. 2. 2008.

    MARX, K. (2008), Contribuio crtica da economia poltica. So Paulo: Editora expresso

    popular. Prefcio.

    PERISSINOTTO, Renato Monseff. Poltica e sociedade: por uma volta sociologia poltica.

    N5 outubro de 2004. Verso ampliada do trabalho apresentado no workshop As vrias faces

    da Sociologia Poltica, organizado pelo Programa de Ps-Graduao em Sociologia Poltica da

    UFSC

    PRZEWORSKI, Adam. As instituies so a causa primordial do desenvolvimento

    econmico? Artigo publicado no European Journal of Sociology, vol. 45, no 2, 2004, pp. 165-

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    i A rigor segundo Hall & Taylor se trataria do neoinstituicionalismo com vis

    econmico, diferente do neoinstitucionalismo da escolha racional, ao qual se aproxima

    em alguns pontos o Przeworski.