Nervos #2

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JULHO2011 CAPA LENHA #2

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Julho 2011

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A Nervos é uma revista de música portuguesa, nova, velha ou extinta. Sem compromissos de novidade, até porque só sai uma vez por mês.

JULHO2011

TEXTOS GONÇALO TRINDADE RAQUEL SILVA FOTOGRAFIA & DESIGN LENHACAPA LENHA http://a-lenha.blogspot.com

APOIOS #2

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conteúdos

ÁRVORE DA VIDA PAUS ENTREVISTA LUÍS COSTA LÖBOFOMOS LÁ E VOLTÁMOS FESTA BODYSPACE

Desta vez, quase não saímos de Lisboa. Os Löbo, apesar de serem da margem Sul, foram entrevistados no Musicbox, o Luís Costa no Parque das Nações e os PAUS, não falámos com eles, mas também são aqui da capital.

Parece que nos que-remos dedicar a todas as zonas de Portugal? Talvez, mas a ideia não é essa.

Apesar de sermos só um país, há regiões com um padrão reconhecível de estilos, e que no en-tanto contribuem para

uma malha tão diversa de gostos pelo território fora.

Prometemos, agora durante uns tempos não falamos mais de cidades!

Nervos

CHEIRA BEM

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PAUS.ÁRVORE DA VIDA: Porque há pessoal com mais que uma banda.

Os PAUS apareceram há coisa de dois anos. De início, pode só parecer emo-cionante pelo facto de se constituírem de membros de outras bandas mais conheci-das - o Hélio dos Linda Mar-tini e o Quim dos The Vicious

Five, os dois na bateria, e o Makoto e o Shella, dos If Lucy Fell e Riding Pânico. No entanto, é fácil perceber que é mais do que um side-pro-ject. O conceito de bateria siamesa era-me desconhe-cido até eles aparecerem,

e o resultado dessa união também. Não só é visual-mente agradável ver dois bateristas frente a frente, como o estrondo é evidente. Desde cedo se souberam lançar: o vídeo de “Mudo e Surdo” ganhou directamente

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o prémio de melhor clipe na-cional no Offbeatz de 2010, o EP “É uma Água” foi sempre mostrado de forma cativante, e a atitude da banda de modo geral sempre foi algo que me agradou e com a qual me identifico, desde o

Churrasco de apresentação, ao ciclo Só Desta Vez. Há ciência naquilo que fazem, e o gosto por essa ciência resulta em 8 mãos a transbordar originalidade. Em 2010, vi-os em quase todas as datas de Lisboa e

algumas noutras cidades. O ritmo é sempre o mesmo, a ambiência é que é sempre diferente. Contam-se pelos dedos as bandas que ema-nam este sentimento, uma coisa quase familiar que só dá vontade de abraçar. RS

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Luís Costa passa despercebido. Está sentado num banco, perto de uma esplanada no Parque das Nações, com Bull-E, o seu adorável bulldog, e é igual a tan-tos outros que passeiam o seu cão naquele sítio. Mas há duas coisas que o diferenciam: 1) tem possivelmente um dos cães mais simpáticos da história da humanidade (reflexo do dono, sem dúvida); e 2) tem uma notável carreira a solo, na qual foram já lançados alguns belís-simos EPs instrumentais, com destaque dado a Layered, pos-sivelmente uma das melhores coisas saídas da música nacio-nal no ano passado. Além disto, faz também parte dos cada vez mais aclamados You Can’t Win, Charlie Brown.

Layered foi extremamente bem recebido, e teve até direito a uma edição física por parte da Cakes & Tapes. Ainda assim, não o veremos a tocar ao vivo assim tão cedo. “Bem, fiz aquela apresentação da Paula Petreca, mas não foi bem um concer-to, na altura do Short Fleeting Moods. Mas tocar sozinho ao vivo os EPs é mesmo difícil... E acho que ia ser um bocado abor-recido, mesmo se fizesse com loops, como faz o David [Noiserv]. Ele, por exemplo, tem voz, e isso ajuda muito a fazer com que não seja uma cena sempre igual. Se fosse meia hora só de guitarra, acho que ia acabar por se tornar aborrecido...”. A ideia, ao início, ainda foi le-vada a sério, mas... “Cheguei a fazer alguns ensaios, em que tocava com mais pessoal, mas isso acaba por chocar com a for-ma como vejo aquilo que faço a solo. É uma coisa que faço em casa, quando tenho tempo, sem qualquer tipo de compromisso. E

isso vai contra a ideia de estar a ensaiar com pessoas, e estar a entrar na rotina de banda... isso é o que já faço há coisa de 15 anos ou assim”. Claro que há casos que resultam bem: veja--se Norberto Lobo ou Filho da Mãe, que vão sozinhos para um palco armados apenas de gui-tarra e conseguem mesmo as-sim dar um excelente concerto. “Sim, tens razão. Mas há ainda outro factor, que é o de eu ser um gajo tímido, e estar ali sozi-nho à frente do palco... Claro que uma pessoa depois habitua-se, mas... Enfim, são vários factores e acabou por nunca se concreti-zar. Mas nunca se sabe. Sei lá, talvez um dia decida fazer uma coisa só com loops ou juntar mesmo mais malta e dar uns concertos”. E, afinal de contas, Luís não vive da música (pou-cos vivem, infelizmente). “Tenho emprego, e sair de casa às oito da manhã e entrar em casa às sete da tarde... acabo por ter muito pouco tempo. Vou sempre adiando as coisas, e depois há sempre outras coisas dos Char-lie Brown”.

Começou aos “dezassete ou de-zoito a ter aulas de guitarra, e antes nem ligava muito a músi-ca. Lembro-me de quando toda a gente adorava música e eu só queria era jogos de computador. O Spectrum era o meu mundo”. Começou a ouvir música e a to-car guitarra com a explosão do grunge, na mesma altura em que estava numa turma com colegas que tocavam juntos. “Ti-

nham uma banda e comecei às vezes a tocar com eles, a assistir aos ensaios, e a tocar guitarra. Tive aulas por seis meses”. E teve, claro, uma banda. “Formei uma banda logo na altura. Tive-mos vários nomes: Sunbeams, Dirty Frank... tocava e cantava, porque não havia mais ninguém para cantar. Tivemos várias for-mações, mas ainda aguentámos quatro anos”. Depois foi mudan-do, experimentando. “A certa al-tura deixei a guitarra de lado e comecei a tocar bateria. Estive seis anos sem tocar guitarra, por volta dos 23 aos 28, ou assim. Tinha a guitarra lá em casa, sem cordas”.

Agora, nos You Can’t Win, Charlie Brown, também toca baixo. Um percurso curioso, para alguém que faz EPs próximos do post--rock, por vezes. Algo que vem de alguém que cresceu a ouvir e a descobrir coisas diferentes. Afinal de contas, no grunge can-tam... e não é pouco. “O grunge foi só o início. Depois comecei a descobrir Sonic Youth e bandas mais barulhentas, e depois o Jazz, na altura em que tocava bateria e comecei a investigar bateristas e descobri que os de Jazz é que eram mesmo bons. O post-rock foi já em anos mais recentes”. E depois chegou, cla-ro, àquele ponto a que tantos de nós chegam. “A certo ponto dei-xei de ter um estilo musical fa-vorito, que é uma coisa natural. Descobres que gostas de mú-sica mesmo, e não deste estilo ou aquele. Hoje em dia consigo

ENTREVISTA “Lembro-me de quando toda a gente adorava música e eu só queria era jogos de computador. O Spectrum era o meu mundo”

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LUÍS COSTA

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gostar de tudo. É uma coisa que se vai construindo ao longo dos anos. E depois começou a surgir o mp3 e a Internet, e isso ajudou a descobrir mais coisas”.

Não canta por nenhuma razão em particular. Começou a com-por como se as músicas fossem ter voz, mas “como a minha voz ficava mal, tinha de arranjar forma de aquilo resultar sem isso. Não foi tanto querer fazer música instrumental, percebes? Foi mais condicionante de não gostar muito de cantar e de me ouvir”. Nunca chegou a escrever letras, algo que não faz há anos. “Era sempre muito preguiçoso para escrever letras, e mesmo quando tinha a outra banda era uma coisa feita à última da hora. Agora tenho sorte de poder con-vidar gente para cantar, e eles escrevem as letras”.

Começou, como tantos outros, no Myspace. “Ahh, o tempo do Myspace... parece que foi há anos e anos. Hoje em dia parece um daqueles desertos onde só se vê um arbusto”. Inscreveu-se, adiciona uma música (gravava, e grava, tudo em casa), e começa a receber feedback positivo. “Al-guém ia lá comentar, e isso dá ânimo para pôr lá mais músicas. Ia gravando e pondo lá, e che-guei ao ponto de ver que já lá ti-nha umas quantas músicas que podia juntar e fazer uma espécie de EP ou demo. E foi assim, jun-tei aquilo e lancei”. Foi descobrindo como ia gra-vando no computador, e diz que “Nos dos dois primeiros EPs ou demos (Imperfeições e All Those Different Colours) notas mesmo um salto de qualidade, fui des-cobrindo como se fazia tudo. E aquilo também era para fazer com amigos, eu ia convidando, mas as coisas iam-se arrastan-do, as pessoas iam-se atrasan-

do, e eu a certa altura pensei “Não, tenho de fazer as coisas sozinho”. Batidas, por exemplo... não percebia nada, e por isso pedi a uns tipos que me ajudas-sem. Mas como nunca mais fa-ziam, decidi descobrir sozinho”. Layered é, nesse aspecto, uma evolução; um disco complexo e cheio a nível de arranjos e efeitos, cuidado e requintado. “Sim, o Layered quase nem pa-rece gravado em casa. A nível de qualidade de som e isso quase parece um disco a sério. Noto uma diferença ainda, se calhar o ouvinte não”. Nota-se, de facto, uma evolução do longo dos EPs, um cuidado cada vez maior na construção de sons e camadas. Nesse aspecto, Short Fleeting Moods e Layered foram magní-ficos.

Conhecia Diogo Silva, encar-regue da Cakes & Tapes, já há alguns anos, e acabou por ser a sua editora a lançar Layered. “Conheci-o no mítico Forum-sons, já há bastante tempo atrás. Mantemos o contacto ao longo do tempo, e quando ele formou a label falou comigo e perguntou se não queria lançar lá nada. Disse que em relação aos Charlie Brown, por ser tanta gente envolvida, não tinha gran-de controlo sobre isso, mas que eventualmente queria lançar uma coisa minha. Fui-lhe mos-trando o que ia fazendo, e ele disse logo que sim, que entrava nisso. E agradou-me imenso a ideia de ser em formato cassete, que já não se usava há anos e anos”.

Foram três anos entre Fleeting Moods e este Layered, uma pau-sa algo longa. “Entre começar a gravar mesmo e terminar tudo acho que foi cerca dum ano. Foi como te disse: gosto de poder fa-

zer isto só quando quero. Se me apetece, faço, caso contrário... E não quis apressar nada, qual se-ria o objectivo disso? E também foi difícil o David arranjar tempo para gravar a sua participação... Mas basicamente é porque só faço aquilo quando estou para ali virado. E estou cada vez mais exigente; às vezes prefiro parar durante uma ou duas semanas para depois ter uma perspec-tiva mais objectiva”. O método de trabalho, esse, é simples. “Começo normalmente com guitarra, e depois vou experi-mentando, experimentar gravar teclados, um som diferente, até achar que está bom. Às vezes nunca parece bom, enquanto noutras penso logo “Pronto, é isto”. Varia de música para mú-sica, mas a maior parte é um processo longo e demorado. Às vezes nunca me parecem pron-tas e acabo por lançar mesmo assim, porque desisto. Ou lanço já assim, ou fico doido”. É assim até mesmo na escolha dos nomes das músicas. “Essa é a parte pior, a sério. Aliás, para o Layered houve músicas que eu decidi um dia antes de as pôr online. Basicamente vou pondo Untitled 1, Untitled 2... Tento ou-vir as músicas e pensar na ima-gem que me lembra, é a única hipótese para músicas que não têm letra. Às vezes tenho logo uma ideia desde o início, mas no geral o nome é sempre a parte mais chata”. Um perfeccionista, portanto. Mas, em termos de guitarra, por exemplo... “Nunca pratico guitarra, nunca tive mui-to interesse na parte técnica. Há anos que não faço escalas nem nada disso. Não sinto que estou melhor que antes”. De res-to, tem investido mais em loops (“Há dois ou três anos atrás nem tinha pedais nenhuns, fazia tudo ligado directamente ao compu-tador”), e nos processos de gra-

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vação. Vai aprendendo não só com o que faz a solo, mas tam-bém com o que faz nos You Can’t Win, Charlie Brown. Aliás, “Hou-ve músicas que deixei de fora porque me soavam muito a algo que sairia dos Charlie Brown, e tinha outras músicas em stand--by porque depois poderiam ser usadas com eles”.

Vê o que faz a solo também como uma forma de fugir à ro-tina, algo que faz quando e por-que quer. “Fazer uma digressão mesmo com banda é algo que não me imagino mesmo a fazer. Já tenho banda com os Charlie Brown, e preciso mesmo de se-parar as coisas. A solo até que podia ser... mas com banda, não me parece mesmo”. Aliás, agora “Não tenho gravado nada. Já fiz coisas novas, ideias, mas que ainda não gravei. Ainda nem

sequer comecei a pensar quan-do vou fazer isso. Agora com os Charlie Brown não tenho tempo livre, e quando estou em casa quero descansar um pouco”.

Talvez demore (ou não, nunca se sabe) a lançar algo novo. Por agora, apenas podemos fazer fi-gas que não demore, e que um novo EP mantenha a qualidade a que já nos habituou.

No final da longa e tão agradá-vel conversa, de onde se falou de tudo desde a morte do Mys-pace até a gente que anda pelo Parque das Nações a passear coelhos, Luís Costa (que foi, há já anos atrás, o primeiro artista nacional sobre o qual decidi es-crever), e o seu adorável canino despedem-se. Luís vai dar uma volta, como tantos outros faziam naquele fim de tarde, e passa

despercebido. Demasiado, tal-vez, para quem esconde um ta-lento que tanto impressiona; ou talvez despercebido o suficiente para quem quer fazer música apenas como gosta. Seja como for, se o nível de reco-nhecimento na rua fosse direc-tamente proporcional ao nível de talento, Luís Costa teria ido para casa rodeado por uma mul-tidão que lhe arrancava a roupa enquanto exigia autógrafos. Talvez um dia. GT

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ENTREVISTA

São os Löbo, têm um excelente EP chamado Älma, não são me-tal nem post-rock ou post-punk mas têm elementos destes três (e de muitos mais), mudaram não há muito de formação e, para variar um pouco, não são de Setúbal. Bem, pelo menos não todos. “A banda começou em Setúbal” começa Ricardo Remédio, teclista, “mas agora é cada um de seu sítio”, termina Pedro Barceló, baixista. Além dos dois, da banda fazem também parte Miguel Vilhena, guitarra, e Lud-gero Urbano, baterista também dos No Good Reason.

Falámos com eles nos bastido-res do Musicbox, poucas horas antes de subirem ao palco para fazerem a primeira parte dos Long Distance Calling. Acabaria por ser um daqueles casos em que a primeira parte é melhor que os cabeças de cartaz. São associados regularmente ao metal mas, tal como bem

diz Barceló, “Nós somos tudo menos metal”. “Porque é que nos associam a isso? Pela ma-neira como estamos vestidos?”, pergunta Ricardo, olhando tanto para mim como para os restan-tes membros da banda. Enco-lhem os ombros. “A capa do EP e as imagens são capazes de ajudar a isso…”, continua o te-clista. “E também deve ter a ver com o facto de termos tocado muitos concertos com bandas que são maioritariamente de metal”, continua Pedro. “Sim, já tocámos com todo o tipo de bandas, mas temos todos um background muito grande em bandas de hardcore, foi assim que começámos”, responde novamente o teclista. É difícil categorizar uma banda com um som assim, principalmente quando são fruto de tantas e diferentes influências. “Ouvimos todos coisas muito diferentes, acho que isso dos géneros não interessa nada”, diz Pedro. “Por mim, nem sequer vale a pena

ir por aí. Não faz sentido ne-nhum”. “Principalmente agora, quando esta formação ainda é recente”, acrescenta Ricardo.Tal como dito no início, muda-ram há pouco de formação, após várias saídas. “O baixista saiu porque íamos começar a tocar mais ao vivo e ele não estava para aí virado. Entrou o Pedro, que tem tocado connosco desde aí, e depois saiu o baterista porque… bem, basicamente queria mudar de vida e deixou de tocar. E o gui-tarrista foi… sei lá, divergências criativas. Não estava a gostar do som que estávamos a fazer”. Ficaram, portanto, apenas dois. “Andámos algum tempo parados, a tentar decidir o que fazer. Se fazíamos outra banda, se mudávamos de nome… Achá-mos que conseguíamos continu-ar o nome da banda, e depois encontrámos o Miguel e o Ludgero. O Ludgero foi recomen-dado pelo próprio ex-baterista”. Uma mudança que acaba

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LÖBO

por afectar, claro, os próprios concertos. “Se já viste antes e vais ver agora, vais notar bem a diferença”, avisa Pedro. “Basica-mente pegámos nas músicas e voltámos a interpretá-las, mas com membros diferentes. Está diferente, mas acho que está a mudar para melhor. E acho que a identidade dos Löbo se mantém”, explica Ricardo.

Levam-se a sério, mas não são ingénuos e sabem bem o difícil que é viver da música. “Cada um tem o seu trabalho e quer fazer a sua vida, percebes? Acho que por mais que evo-luamos, isto vai estar sempre mais num patamar de hobby”. “A ambição é conseguir viver disto”, acrescenta Miguel, “Mas há que ser realista…”. “Acho que, vendo bem, não ter essa pressão acaba até por nos aju-dar”, explica Ricardo. “Claro que temos crescido e recebido mais convites, mas passar daí a dizer que os Löbo vai ser a banda que

nos vai fazer viver da música…”. Afinal de contas, como bem diz o teclista, “Nem os Neurosis vivem da música”.

Estão a trabalhar em material novo, que tem surgido por agora maioritariamente a partir do Ricardo e do Miguel. “Fazemos, e depois vamos mostrando ao Ludgero e ao Pedro. “Por agora está a soar parecido ao de antes, mas vamos ver quando começarmos a ensaiar mais como soa. Não creio que ne-nhum de nós queira fazer algo igual ao que fizemos antes”. Não prestam particularmente atenção ao panorama musical de cá, mas acham que “Há bandas óptimas por cá”, como bem diz Pedro. “Os Men Eater, por exemplo, com quem temos uma ligação, foram os primeiros a pegar em nós e a pedir-nos para fazer a primeira parte dos concertos deles”.

Pouco depois a conversa acaba, com a banda a proclamar na brincadeira Ricardo como o Bon Jovi do doom (e com aqueles teclados em palco, até se per-cebe…), e Pedro a oferecer-nos chocolates do catering.

Mais tarde, entrariam em palco e provavam ser, além de uma banda provavelmente sem pa-ralelo por cá no tipo de música que fazem, uma banda que tem, no geral, um potencial enorme, e que com uma formação recen-te consegue em palco distribuir tsunamis sonoros como poucos conseguem.

Agora, resta esperar que conti-nuem a crescer. Se agora já são assim, o futuro é, no mínimo, promissor. GT

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REOUVIR

luís costa

layered

O mais recente EP de Luís Costa (membro dos You Can’t Win, Charlie Brown), mostra o músico na sua melhor forma, naquele que pode ser chamado um impressionante e complexo jogo de sons e paisagens, onde camadas sonoras se alinham entre si na criação de um daqueles discos que tratamos por viagens.

A guitarra soa próxima de um post-rock calmo e sensível, e os efeitos (desde os loops a tudo o resto) não deixam de surpreender pela forma como encaixam tão bem, criando canções que se desenvolvem em si mesmas num ritmo perfeito e minuciosamente criado. “Little Maestro”, que conta com a participação de Noiserv, assume-se como um dos momentos mais inspi-rados, tal como a lindíssima “Nothing Personal”. Mas o que dizer de um EP onde todas as faixas estão na mais pura da excelência? Basta “Wide”, logo a abrir, para saber o que esperar. Mais um passo na direcção certa por parte de Luís Costa, que assumo como um dos mais belos criadores de paisagens sonoras. Poucos fazem algo assim, e ainda menos o fazem tão bem.

errata

errata

Os Errata são outra banda que já não existe, mas que se propagou por outras paragens - os Ella Palmer e Best Before Full Moon nomeadamente. Deixaram um EP homónimo solteiro, de instrumentais pe-sados e uma voz gritante das mais estranhas que podemos ouvir pelo país, sem exagero. Tem fios de post-rock e um emaranhado de screamo e rock arrastado pelas guitarras.

“Honesty is Hard as Myths” (a única em inglês) é talvez a mais bem conseguida das cinco, alonga-se a 6 minutos e resiste a um solo demorado.

São cinco músicas, quatro delas cantadas em português, deixadas em testamento no myspace para quem quiser ouvir.

gala drop

overcoat heat

O disco dos Gala Drop é pequeno em tamanho. Cheira distintamente a Verão (“Drop” em particular é um pôr-do-sol na praia, de chapéu de palha e óculos de sol, em forma de som). A banda não é caloira nas lides da música, além de derivarem dos Loosers, estão associados à Filho Único, responsável por concertos como Hype Williams, Hounds of Hate e o bonito evento que foi o Avenida #211. Por isso, são quase obrigados a conhecer.

São músicas, livres de si mesmas, cada uma com o seu toque particular, e que em conjunto fazem de Overcoat Heat um dos álbuns mais bonitos do ano que passou.

Os quatro, tanto sabem o que fazem que sem meias medi-das, se aventuram a uma tour europeia recheada. É que não é só o rock que tem direito a passar para lá da fronteira, haja direito ao experimenta-lismo!

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noiserv

a day in the day of days

Já tocou em grande parte dos festivais, é cada vez mais ado-rado pelo público, e com o seu mais recente EP demonstrou estar no rumo que todos dese-jam: o do crescimento.

Noiserv assumiu-se desde o início como um projecto único no nosso panorama, e A Day in the Day of Days mostrou um músico a fazer o que sempre fez, mas melhor. “B.I.F.O”, canção que já tocava ao vivo muito antes do lançamento, mostra um trabalho a nível melódico exemplar, onde o xilofone e a guitarra encaixam na perfeição com aquela voz e aquelas letras (que assentam sempre em cada som que se ouve), e mostra bem o talento do músico, igualmente visível na bela e inocente “Mr. Carou-sel”, que teve direito a single com um vídeo-janela para o universo musical do artista. Mas é na fabulosa “The Sad Story of a Little Town” que vemos o talento do músico em todo o seu esplendor, numa canção longa, complexa, exemplo perfeito do jogo de camadas que Noiserv faz tão bem. Facilmente a melhor do EP, uma das suas melhores até agora, e um exemplo de um crescimento que, esperemos, continue. Uma pequena péro-la, onde só “Time2” destoa da qualidade geral.

guilherme canhão

‘86

O Gui é uma pessoa ocupa-da. Além de já ir no segundo álbum a solo (sendo este o primeiro), é também guitarrista dos mais-ou-menos-defuntos Lobster (ressuscitados para o Milhões de Festa), dos Sunflare e dos Tigrala, além de alguns outros projectos.

Durante todo o ‘86, somos remetidos para uma vida passada, tanto através dos títulos das músicas como dos próprios sons onde predomina, evidentemente, a guitarra, nunca descartando samples e uma ambiência a fazer lembrar uma infância que nunca vivemos, mas que ele, pelos vistos, viveu.

É um disco de “dar a co-nhecer”, ao qual sucedeu o não-menos excelente Chiado Terrasse, que reforça o domí-nio da guitarra pelo pequeno--grande Guilherme Canhão.

nuno prata

deve haver

Ao seu segundo disco, Nuno Prata (um dos fundadores dos Ornatos Violeta) mostra--se mais à vontade na sua carreira a solo. Letras introspectivas, canções em arranjos feitos com bom gosto e, acima de tudo, imaginação, num disco bom e peculiar (no melhor sentido da palavra) do início ao fim. Palavras me-lancólicas em melodias que não o são, com uma energia que passa ao longo de todo o disco através de bateria e guitarra consistentes, que se aliam à boa voz de Prata para criar canções que soam ora complexas, ora minimalistas.

Momentos altos? Provavel-mente “Essa Dor Não Existe (Tu Isso Sabes, Não Sabes)”, logo a abrir o disco, e as excelentes “Um Dia Não São Dias Não” e “Isso Foi Antes”. A melancolia instala-se nas últimas faixas, que encerram o disco num tom íntimo e hones-to, quase só com guitarra e palavras, com todos os outros instrumentos relegados para segundo lugar. “Aconteceres--te”, a última faixa, é talvez o momento puramente belo de todo o disco e as suas doze faixas, terminando de forma magnífica o disco de um autor que parece ter cada vez mais a dar. E fá-lo directamente do coração.

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de caçar. Guilherme Canhão (Lobster, Tigrala) e Rui Nogueiro e Raphael Soares (os dois The Sound of Typewriters) distribui-ram fuzz por uma loja de jazz, irrequietos ao máximo.

Era grátis e vocês ficaram em casa. Afinal não é a crise, é má vontade.

www.videoteca.bodyspace.net

FESTA BODYSPACE

A Videoteca do bodyspace comprou casa própria. A festa de inauguração passou-se na Trem Azul, para não riscar o chão novo nem partirem os candeeiros, com os Pão e os Sunflare como principais animadores.

Os Pão são Tiago Sousa, Travas-sos e Pedro Sousa, nasceram ali, na Trem Azul, e apesar de ser um projecto recente, já passaram pela Zé dos Bois e pelo Rescaldo.

As duas bandas escolhidas para a festa sentam-se em polos opostos. Se por um lado os Pão são mais quietos, por compara-ção os Sunflare são impossíveis

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AGEN- DA

1 Jul Rockspot Bajouca - Youthless + The Glockenwise - Bajouca, Leiria SAUR - FNAC Cascaishopping, Cascais The Glockenwise - Terraço da RUC, Coimbra1-3 Jul Perre Open Air Fest - Junta de Freguesia de Perre, Viana do Castelo2 Jul Pressure + Critical Point + Cold Blooded - Casa de Lafões, Lisboa3 Jul Gala Drop - Vila Braga, Braga SAUR - FNAC Algarveshopping, Albufeira Noiserv - Jardim da Estrela, Lisboa4 Jul Gala Drop - Galeria Zé dos Bois, Lisboa7 Jul Birds Are Indie - Clube Ferroviário, Lisboa Black Bombaim - Armazém do Chá, Porto 8, 9 Jul Souto Rock - Lugar de Quiraz, Barcelos9 Jul Lululemon + Linda Martini (Optimus Alive!) - Passeio Marítimo de Algés, Lisboa Grankapo + Switchtense - República da Música, Lisboa14 Jul The Glockenwise (SBSR) - Herdade do Cabeço da Flauta, Sesimbra14-17 Jul É Mesmo Aqui ao Lado! - Birds Are Indie + Cavalheiro, Auditório de Carregosa, Oliveira de Azeméis 15 Jul Noiserv + The Legendary Tigerman (SBSR) - Herdade do Cabeço da Flauta, Sesimbra15, 16 Jul Cellos Rock - Barragem da Penide, Barcelos16 Jul PAUS + X-Wife (SBSR) - Herdade do Cabeço da Flauta, Sesimbra Sunflare - Museu do Abade de Baçal, Bragança16 Jul Blame the Skies - ADN, Setúbal22-24 Jul Milhões de Festa - Parque Fluvial, Barcelos22 Jul Norton - Praia de Paço de Arcos, Lisboa29 Jul Catacombe - Plano B, Porto30 Jul X-Wife - Praça do Comércio, Lisboa

Sul d’Lima - Vitorino das Donas, Ponte de Lima

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