Neurociencia e a
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Revista Científica CENSUPEG, nº. 3, 2014, p. 64-72. ISSN 2318-1044
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DIÁLOGOS ENTRE NEUROCIÊNCIA E
EDUCAÇÃO: UMA APROXIMAÇÃO
POSSÍVEL
DIALOGS BETWEEN NEUROSCIENCE
AND EDUCATION: A POSSIBLE
APPROACH
Bárbara Bonato Ribeiro1
Clério Cezar Batista Sena2
Resumo
Este artigo estabelece uma discussão sobre a relação entre a neurociência e o
campo da educação. A partir de pesquisa bibliográfica e com foco nos
processos de construção da aprendizagem, têm-se dois eixos de exploração:
1) a compreensão da aprendizagem pela neurociência; 2) a compreensão do
processo de ensino e aprendizagem na interface entre neurociência e
educação. Observa-se que a neurociência cognitiva pode contribuir para
ampliar o conhecimento e entendimento sobre a aprendizagem e
desenvolvimento humanos, inclusive pela combinação das contribuições da
neurociência com o que já é estabelecido pelo campo educação.
Palavras-chave: Neurociência. Educação. Aprendizagem. Desenvolvimento
humano.
Abstract
This article sets up discussion about the relation between neuroscience and
the education area. As from bibliographical research and focusing on
processes of learning construction, there are two pivots for exploration: 1)
learning comprehension through neuroscience; 2) comprehension of teaching
and learning process on the interface between neuroscience and education. It
was observed that cognitive neuroscience may contribute to enlarge
knowledge and comprehension about human learning and development,
especially combining the neuroscience contributions to what is already
established on the education area.
Keywords: Neuroscience. Education. Learning. Human development.
1 Especialista em Neuropsicopedagogia e Educação Especial Inclusiva. E-mail:
[email protected] 2 Mestre em Educação: Psicologia da Educação. PUC SP, Especialista em Gestão da Escola USP, MBA
Gestão Empreendedora UFf/SESI (cursando). Psicopedagogia Clínica e Institucional, Especialista em
Educação Infantil e Pedagogo. Dir. da EE Tenente Ernesto, SP Professor CENSUPEG Brasil. E-mail:
Revista Científica CENSUPEG, nº. 3, 2014, p. 64-72. ISSN 2318-1044
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1 INTRODUÇÃO
Com o objetivo de estabelecer uma discussão dialógica e convergente sobre
neurociência e educação, realizou-se o presente ensaio buscando-se, a partir de pesquisa
bibliográfica, a exploração da relação entre as duas áreas de conhecimento, com foco de
investigação nos processos de construção da aprendizagem.
A área da educação vive hoje intenso processo de revisão de concepções e de
seleção e fortalecimento de práticas pedagógicas mediadoras da aprendizagem e do
desenvolvimento humano. Neste contexto, sabe-se que as pesquisas neurocientíficas
estão apenas começando a encontrar aplicação no campo do aprendizado, como área de
investigação e desenvolvimento de práticas.
A neurociência, enquanto campo interdisciplinar de pesquisa e atuação, de
maneira geral, busca compreender os processos mentais pelos quais percebemos,
agimos, aprendemos e nos lembramos, de modo a explicar a manifestação do
comportamento em termos da organização das atividades neurais (LENT, 2001). O
interesse pela investigação do cérebro e suas potencialidades, ancorado no progresso
tecnológico, tem garantido avanços científicos significativos para a neurociência,
contribuindo intensamente para o entendimento da mente humana e seus
desdobramentos.
A aproximação da neurociência com as questões ligadas ao processo de
desenvolvimento humano e de aprendizagem tem motivado inúmeras pesquisas e reflete
uma visão contemporânea sobre a manifestação da condição humana. Carvalho (2011)
salienta que as ciências do cérebro podem contribuir para o enriquecimento teórico-
metodológico do campo da Educação, oferecendo informações científicas essenciais
para a melhor compreensão da aprendizagem, enquanto um fenômeno multifatorial e
complexo.
Para facilitar a compreensão e desenvolvimento do raciocínio exploratório
proposto, a discussão será apresentada seguindo-se dois eixos temáticos: 1) a
compreensão da aprendizagem pela neurociência; 2) a compreensão do processo de
ensino e aprendizagem na interface entre neurociência e educação.
2 A APRENDIZAGEM SOB ÓTICA DA NEUROCIÊNCIA
Para a neurociência, mais especificamente a neurociência cognitiva, cujo foco de
atenção é a compreensão das atividades cerebrais e dos processos de cognição, a
aprendizagem humana não decorre de um simples armazenamento de dados perceptuais,
e sim do processamento e elaboração das informações oriundas das percepções no
cérebro (CARVALHO, 2011; SILVA, 2012).
Em estudos realizados por Lent (2001) e Mora (2004), constata-se que as
capacidades mentais complexas como a linguagem e a memória têm sido indicadas
como um dos principais alicerces da aprendizagem humana. Ainda, que investigações
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sobre o funcionamento cerebral têm colaborado para aprimorar o entendimento de como
se dá a aprendizagem.
A atividade mental estimula a reconstrução de conjuntos neurais, processando
experiências vivenciais e/ou linguísticas, num fluxo e refluxo de informação. As
informações, captadas pelos sentidos e transformadas em estímulos elétricos que
percorrem os neurônios, são catalogadas e arquivadas na memória. É essa capacidade de
agregar dados novos a informações já armazenadas na memória, estabelecendo relações
entre o novo e o já conhecido e reconstruindo aquilo que já foi aprendido, num
reprocessamento constante das interpretações advindas da percepção, que caracteriza a
plasticidade do cérebro (LENT, 2001; SHORE, 2000).
Considerando este conjunto de sistemas e mecanismos neurofisiológicos acerca
da cognição, Mora (2004) acrescenta que a aprendizagem é, portanto, o processo em
virtude do qual se associam coisas ou eventos no mundo para a aquisição de novos
conhecimentos, e que se denomina memória o processo pelo qual conservamos esses
conhecimentos ao longo do tempo. Para o autor, os processos de aprendizagem e
memória modificam o cérebro e a conduta do ser vivo que os experimenta.
Apesar da proximidade entre os conceitos de aprendizagem e memória, Lent
(2001) os distingue de forma bastante clara. O processo de aquisição de novas
informações que vão ser retidas na memória é chamado aprendizagem. Através dele nos
tornamos capazes de orientar o comportamento e o pensamento. Memória,
diferentemente, é o processo de arquivamento seletivo dessas informações, pelo qual
podemos evocá-las sempre que desejarmos, consciente ou inconscientemente. De certo
modo, a memória pode ser vista como o conjunto de processos neurobiológicos e
neuropsicológicos que permitem a aprendizagem.
Observa-se, deste modo, que a aprendizagem requer competências para lidar de
forma organizada com as informações novas, ou com aquelas já armazenadas no
cérebro, a fim de realizar novas ações. Conforme esclarece Moraes (2004), a
aprendizagem progride mediante fluxos dinâmicos de trocas, análises e sínteses
autorreguladoras cada vez mais complexas, ultrapassando o acúmulo de informações e
sendo reconstruída, via transformação, por meio de mudanças estruturais advindas de
ações e interações provocadas por perturbações a serem superadas, a nível cerebral.
Deve-se ressaltar também que, neste rebuscado mecanismo, as emoções
desempenham um papel decisivo na e para a aprendizagem. Os sentimentos,
intensificando a atividade das redes neuronais e fortalecendo suas conexões sinápticas,
podem estimular a aquisição, a retenção, a evocação e a articulação das informações no
cérebro (LENT, 2001; MORA, 2004).
Pode-se afirmar, portanto, que oferecer situações de aprendizagem
fundamentadas em experiências ricas em estímulos e fomentar atividades intelectuais
pode promover a ativação de novas sinapses. As informações do meio, uma vez
selecionadas, não são apenas armazenadas na memória, mas geram e integram um novo
sistema funcional, caracterizando com isso a complexificação do fenômeno da
aprendizagem (LENT, 2001; MORAES, 2004).
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Estendendo a compreensão do processo de aprendizagem para além do
funcionamento cerebral, isoladamente, Maturana e Varela (2001) afirmam que a
aprendizagem surge de um acoplamento estrutural: as interações recíprocas entre o
indivíduo e o meio fazem surgir mudanças estruturais na organização do sujeito e do
contexto em que está inserido; perante as informações, o organismo, num processo
auto-organizador, opera com propriedades emergentes, a fim de se adaptar às condições
cambiantes presentes no processo de conhecer e de existir, na relação com o outro.
3 O ENCONTRO DA NEUROCIÊNCIA E DA EDUCAÇÃO NAS FRONTEIRAS
DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Considerando o que foi exposto sobre a perspectiva neuropsicobiológica da
aprendizagem, inicialmente, é importante apresentar, diante da aproximação entre
neurociência e o campo da educação, o risco de medicalização da escola e do processo
de ensino e aprendizagem, conforme salienta Silva (2012). A autora discute que, quando
o fenômeno da neurociência chega à escola, aumenta o risco de que os problemas de
escolarização sejam tomados como resultado da ação de atores individuais, no caso, o
aluno, que carrega em seu corpo (ou em seu cérebro) a fonte dos problemas. Silva,
ainda, aponta que as demais possibilidades envolvidas no processo de escolarização,
como a política curricular do sistema de ensino, a qualidade das intervenções didáticas,
as condições estruturais da escola, a desvalorização da carreira docente e outros
inúmeros fatores, são descartadas, uma vez que parece pouco a fazer neste sentido, e o
aluno acaba sendo encaminhado com cada vez maior freqüência ao neurologista ou ao
psiquiatra, de onde dificilmente sairá sem uma prescrição de medicamento. O aluno é
transformado em paciente neurológico, suposta vítima das “doenças do não-aprender”
(MOYSÉS; COLLARES, 2010 apud SILVA, 2012).
Silva (2012) ressalta que, diante desta situação, destacam-se duas ocorrências. O
uso de tecnologias de neuroimagem (previstas pelas pesquisas neurocientíficas) no
diagnóstico dos supostos distúrbios de aprendizagem, deixando claro que tais pesquisas
partem da premissa de que se trata de um problema localizado no cérebro do aluno, com
pouca ou nenhuma preocupação com fatores sócio-ambientais que possam influenciar
esses resultados. A autora verifica que há pouca preocupação, neste tipo de pesquisa, em
procurar outros componentes para enriquecer a compreensão da história individual
justamente pela perspectiva a-histórica adotada. Como foi o trajeto da criança até ter seu
cérebro examinado? Como foram suas experiências de aprendizado? Essas questões
descortinam uma complexidade dificilmente conversível em dados científicos, mas
ignorá-las não tem ajudado a esclarecer os caminhos que a aprendizagem percorre em
cada indivíduo.
A segunda ocorrência apontada por Silva (2012) trata-se de uma questão
dialética sobre a relação entre o funcionamento cerebral e o surgimento da dificuldade.
Para exemplificar, a autora ilustra com a seguinte questão: O cérebro tem um
funcionamento comprometido inato nas áreas relacionadas à leitura e escrita, e daí surge
a dificuldade no processo de alfabetização; ou o processo de alfabetização foi
problemático, resultando em um funcionamento comprometido do cérebro nas áreas
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relacionadas à leitura e escrita? Esta questão não tem respostas fáceis, e a busca por elas
acaba sendo influenciada pelas concepções dos pesquisadores e das agências
financiadoras a respeito das relações entre ambiente e genética.
Na tentativa, então, de afunilar o encontro positivo entre neurociência e
educação, é importante citar um estudo recente realizado com pessoas que foram
alfabetizadas na idade adulta (CARREIRAS et al., 2009 apud SILVA, 2012). O estudo
utilizou adultos como parte do desenho experimental, pois, segundo os autores, a
pesquisa da atividade cerebral relacionada à aprendizagem da leitura e escrita de
crianças é problemática, uma vez que não se pode afirmar com certeza que as eventuais
mudanças observadas no cérebro se devem àquele aprendizado específico, considerando
que a criança se encontra numa fase de intensas e variadas aprendizagens, com um
cérebro em expressivo desenvolvimento. Ao comparar a atividade cerebral dos adultos
alfabetizados com um grupo controle de adultos não alfabetizados, os pesquisadores
encontraram uma ativação das áreas relacionadas à leitura e escrita nos alfabetizados,
ainda que a alfabetização tenha acontecido na fase adulta.
Ainda para Silva (2012), este estudo provoca algumas reflexões. Num primeiro
momento, aponta a questão da plasticidade cerebral, indicando que a aprendizagem
pode ocorrer mesmo fora dos “períodos sensíveis” para a aprendizagem. Em segundo
lugar, a autora salienta a conclusão de que as áreas relacionadas à leitura e escrita nos
adultos não alfabetizados estavam atrofiadas ou não desenvolvidas justamente porque
eles não tinham aprendido a ler, e não o contrário, ou seja, que uma suposta atrofia
explicaria o analfabetismo. É importante observa que, uma vez que foram ensinados,
eles aprenderam, e seu cérebro se modificou em função do ensino. Portanto, aprender
modifica o cérebro, ou seja, aprender produz desenvolvimento.
Com base nas contribuições da neurociência, nesta perspectiva, o entendimento
do fenômeno de aprender passa a estar fundamentado no fato de que experiências de
aprendizagem em contextos pedagógicos geram alterações na estrutura do indivíduo. As
experiências em sala de aula estimulam reflexões recursivas sobre os pensamentos,
sentimentos e ações, permitindo que a aprendizagem seja concebida como processo
reconstrutivo, envolvendo autorreorganização mental e emocional daqueles que
interagem nesse contexto.
Sobre o envolvimento do professor com este universo, Carvalho (2011) informa
que a produção de conhecimentos neurocientíficos destina-se a um grupo seleto de
profissionais e é direcionada a áreas como medicina e psicologia, afastando-se das
atividades do educador e, ainda, que a produção literária nacional com uma visão
unificada das relações entre a neurociência e a educação é escassa. No entanto, os
estudiosos apontam ser de fundamental importância que o professor se apóie neste
corpo de conhecimento, na busca de conexões com a prática educativa, para melhor
compreensão da atividade de ensino e aprendizagem.
Meira (2000) afirma que, enquanto processo social e individual, a prática
educativa representa uma das condições fundamentais para que o homem se constitua
como ser humanizado e humanizador. Ela ressalta a necessidade de se compreender a
questão do desempenho escolar e da ação pedagógica contextualizando-os no âmbito de
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um processo maior, propondo o encontro entre o indivíduo (com seus componentes
biológicos) e a educação.
Para tanto, é necessária a aproximação, pelo professor, da forma de
funcionamento do processo de aprendizagem, o que permite uma compreensão mais
enriquecida do aprender e do ensinar, inclusive, com uma maior possibilidade de
superação das dificuldades dos sujeitos envolvidos (o aprendiz e o educador). Carvalho
(2011) salienta que é imprescindível que o professor se reconheça como responsável
pela configuração de um ambiente que propicie a autorreorganização dos educandos,
direcionados por uma perspectiva de aprendizagem sustentada nas relações entre os
elementos constituintes do processo.
Mesmo reconhecendo um distanciamento, atualmente, da aplicação prática dos
conhecimentos sobre o cérebro, alguns autores defendem a possibilidade de que
determinadas abordagens pedagógicas possam se aproximar destes princípios. Silva
(2012) cita autores (GEAKE; COOPER, 2003 apud SILVA, 2012) que reconhecem um
potencial de contribuição para a educação a partir de uma interpretação ou
generalização dos dados neurocientíficos, em especial da neurociência cognitiva. Esses
autores defendem que a aproximação não deve ser guinada ao determinismo biológico,
e sim uma base para uma concepção educacional baseada no humano em suas
dimensões biopsicossociais.
Um benefício para os educadores decorrente do encontro com a neurociência
cognitiva é a possibilidade de ocupar o lugar de reconhecimento como sendo as pessoas
mais competentes para conhecer as necessidades dos alunos, passando a influenciar a
pesquisa cognitiva com suas demandas, como, por exemplo, sobre as práticas
educativas mais efetivas para preparar as crianças e jovens para as demandas da
sociedade atual (SILVA, 2012).
Compreender como o aluno aprende possibilita ao professor buscar uma forma
mais adequada de estabelecer uma relação de ensino e aprendizagem com os educandos,
a fim de favorecer uma melhor organização do ensino. Professores que compreendem a
aprendizagem como processo humano que tem raízes biológicas e condicionantes
socioculturais adotam uma gestão mais eficaz, tanto das emoções quanto da
aprendizagem de seus estudantes.
Nesta direção, considera-se o ato pedagógico como extremamente relevante para
a retenção e o processamento da informação oferecida em sala de aula, uma vez que a
atuação do professor não somente informa, como também oferece dados que,
vivenciados nas interações professor-aluno, não se restringem às percepções sensíveis e
aparentes.
Como nos ensina Fonseca (1998), ainda que a inteligência do indivíduo dependa,
pela interação entre as células neuronais, do desenvolvimento biológico, somente as
mediações que o indivíduo sofre em suas interações com o meio ambiente onde está
inserido é que permitirão expandir essa inteligência em todo seu potencial,
oportunizando, assim, um melhor aproveitamento do espaço educacional.
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Neste campo de interface, afunilando o olhar para o processo de aprendizagem,
destaca-se, então, uma nova compreensão das relações entre os processos
neuropsicológicos e pedagógicos, onde se configura e se considera o papel da educação
na construção da subjetividade humana e o papel da subjetividade na construção do
processo educacional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após este percurso de considerações sobre a neurociência e sua interlocução
com o campo da educação, cabe tecer alguns comentários finais sobre as idéias que
emergem.
Observa-se que a neurociência cognitiva, como campo de estudo relacionado ao
funcionamento da mente, pode ampliar o conhecimento e entendimento sobre a
aprendizagem e desenvolvimento humanos, pela combinação das contribuições da
neurociência com o que já é estabelecido pelo campo educação.
Sobre o desenvolvimento humano, é importante ressaltar que este não resulta
apenas de características individuais, que emergem por maturação e são passíveis de
serem detectadas em avaliações, conforme argumenta Rossetti-Ferreira, Amorim e
Oliveira (2009). Trata-se de um processo de construção social que se dá nas e através
das ações e interações estabelecidas pelo indivíduo com outras pessoas, em ambientes
social e culturalmente organizados. Deve-se buscar identificar, inclusive, os vários
elementos socioeconômicos, políticos, históricos e culturais que atravessam os
processos de desenvolvimento dos indivíduos, para melhor compreensão da
complexidade do fenômeno da aprendizagem e também para sermos capazes de
interpretar e atuar condignamente com as pessoas e as instituições significativas à
situação.
No que se refere à educação, destaca-se, conforme apresenta Silva (2012),
alguns princípios que já podem ser incorporados à prática educacional: a aprendizagem
é crescente e baseada em experiências; a aprendizagem é multissensorial, a
aprendizagem é social, e ao longo da vida apresenta plasticidade e compensação.
Segundo estes princípios, pode-se extrair alguns conhecimentos como a importância do
ambiente escolar para a aprendizagem, da organização da informação na seqüência
adequada para a aprendizagem do aluno, do conhecimento de que o cérebro da criança
constrói estruturas conceituais detalhadas apenas observando o mundo em que vive e de
que a experiência emocional interfere na aprendizagem.
Sabe-se que as dificuldades no processo de aprendizagem não são
necessariamente explicáveis apenas pelo funcionamento cerebral, muito pelo contrário,
já que a maioria dos casos explica-se por fatores relacionados à família, à escola e ao
ambiente em que a pessoa vive, o que enfatiza ainda mais o caráter multidisciplinar da
questão.
Assim, Silva (2012) argumenta que o impacto da neurociência tem o potencial
para melhorar a educação por meio de intervenções que alterem com sucesso os
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mecanismos neurais fundamentais da aprendizagem (prática que demanda pesquisas e
estudos aprofundados), mas é improvável que a neurociência afete o ensino em sala de
aula de forma substancial. A neurociência ainda tem que fazer progressos significativos
em suas pesquisas antes de a educação poder traduzir ou transformar estas descobertas
em práticas educativas.
A discussão desenvolvida neste artigo evidencia que as possíveis relações entre
neurociência e educação têm atraído a atenção de pesquisadores de ambos os campos e,
ainda, propõe que seus desdobramentos sejam direcionados para o aprimoramento do
processo de ensino e aprendizagem e compreensão do desenvolvimento humano.
Por fim, merece ser destacado o necessário investimento em estudos que
apreciem tanto as condições intrínsecas ao indivíduo, considerando a complexidade de
seu funcionamento neuropsicobiológico, como também as ações, os resultados e os
impactos de tais estudos e práticas na rede de instituições e atores sociais que compõem
o sistema educacional em andamento.
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