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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE FÍSICA DE SÃO CARLOS ELICEO CORTES GOMEZ Simulação da equação de Dirac em eletrodinâmica quântica de cavidades SÃO CARLOS 2014

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE FÍSICA DE SÃO CARLOS

ELICEO CORTES GOMEZ

Simulação da equação de Dirac em eletrodinâmicaquântica de cavidades

SÃO CARLOS

2014

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ELICEO CORTES GOMEZ

Simulação da equação de Dirac em eletrodinâmicaquântica de cavidades

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Física do Instituto de Física deSão Carlos da Universidade de São Paulo, paraobtenção do título de Mestre em Ciências.

Área de concentração: Física BásicaOrientador: Prof. Dr. Miled Hassan YoussefMoussa

Versão Corrigida

(Versão original disponível na Unidade que aloja o Programa)

São Carlos

2014

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTETRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO PARAFINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Ficha catalográfica elaborada pelo Serviço de Biblioteca e Informação do IFSC, com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Cortes Gomez, Eliceo Simulação da equação de Dirac em eletrodinâmicaquântica de cavidades / Eliceo Cortes Gomez;orientador Miled Hassan Youssef Mousa - versãocorrigida -- São Carlos, 2014. 62 p.

Dissertação (Mestrado - Programa de Pós-Graduação emFísica Básica) -- Instituto de Física de São Carlos,Universidade de São Paulo, 2014.

1. Simulação quântica. 2. Eletrodinâmica quântica decavidades. 3. Equação de Dirac. 4. O efeitoZitterbewegung. I. Hassan Youssef Mousa, Miled,orient. II. Título.

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A minha família

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus por sua misericórdia e fidelidade ao longo desses doisanos do meu mestrado.Aos meus pais Julio e Lourdes e aos meus irmãos que nunca deixaram de me apoiarmesmo nos instantes mais críticos de minha vida pessoal.Aos meus amigos Edwin, Ruben, Oriana, Isaac, July, Manuel, Rogelio, Aldemar, Ri-cardo, Alfredo, Jeinny, Henrry, Andres, Emanuel, Martin por suas amizade e conversasinspiradoras.Com relação aos professores e pesquisadores. Agradeço a meu orientador, Miled HassanYoussef Moussa, pela orientação e por todo incentivo. Obrigado pela oportunidade detrabalhar em meu futuro.Ao Wilson por sua amizade e sua participação direta neste trabalho.Aos professores do IFSC e da UA que contribuíram em minha formação.Também agradeço a Rafael e Víctor, pelas várias vezes que me ajudaram e por seu grandeaporte neste trabalho.Aos meus colegas de sala e de grupo Pedro, Cleverson e Gentil, pelas dicas certeiras.Aos funcionários do IFSC-USP, pelo apoio administrativo e acadêmico.À CAPES, pelo apoio financeiro.

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“O que prevemos raramenteocorre; o que menos esperamosgeralmente acontece.”

Benjamin Disraeli

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Resumo

GOMEZ, E.C. Simulação da equação de Dirac em eletrodinâmica quântica de cavidades.2014. 62p. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Instituto de Física de São Carlos,Universidade de São Paulo, São Carlos, 2015.

Neste trabalho apresentamos um protocolo para simular, no contexto da eletrodinâmicaquântica de cavidades, a equação de Dirac 2+1 D e 1+1 D para uma partícula relativísticalivre, de spin 1/2. Especificamente, tratamos dois sistemas distintos: no primeiro con-sideramos um átomo de quatro níveis interagindo com dois modos da cavidade e quatrocampos clássicos; no segundo, consideramos um átomo de três níveis interagindo com ummodo da cavidade e dois campos clássicos. O primeiro sistema foi utilizado para simulara equação de Dirac 2+1 D. Através do segundo sistema mostramos como simular a equa-ção de Dirac 1+1 D. Com esse sistema mostramos como manipular e controlar por meiodas forças de acoplamentos dos campos, os valores da velocidade da luz e a energia derepouso da partícula relativística livre de Dirac simulada. Verificamos que a dinâmica deum elétron no formalismo da mecânica quântica relativística pode ser simulada usandoexperimentos em Eletrodinâmica Quântica de Cavidades. Neste contexto, analisamos omovimento oscilatório inesperado de uma partícula quântica relativística livre conhecidocomo Zitterbewegung.

Palavras-chave: Simulação quântica. Eletrodinâmica quântica de cavidades. Equação deDirac. O efeito Zitterbewegung

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Abstract

GOMEZ, E.C. Simulation of Dirac equation in cavity quantum electrodynamics. 2014.62p. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Instituto de Física de São Carlos, Universidadede São Paulo, São Carlos, 2015.

In this work we present, in the context of cavity quantum electrodynamics, a protocolfor simulating Dirac equation 2+1 and 1+1 for a relativistic free particle with spin ½.Specifically, we deal with two different systems: In the first one we consider a four levelatom interacting with two modes of the cavity and four classical fields; In the secondsystem we deal consider a three level atom and interacting with one mode of the cavity andtwo classical fields. The first system was used to simulate a 2+1 D Dirac equation. Withthe second system we show how to simulate a 1+1D Dirac equation. With these systemswe show how to simulate and control through the field coupling strength, the values of thevelocity of light and rest energy of the simulated Dirac´s relativistic free particle. We verifythat the dynamics of one electron in the formalism of relativistic quantum mechanics canbe simulated using experiments in cavity quantum electrodynamics. In this context, weanalyzed the unexpected but known oscillatory movement of a relativistic free quantumparticle.

Keyword: Quantum simulation. Cavity quantum electrodynamics. Dirac equation. Zit-terbewegung effect.

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Lista de Figuras

Figura 2.1 – Ilustração dos valores permitidos de energia de uma partícularelativística livre. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

Figura 3.1 – Representação esquemática de um sistema átomo-campo em EQC.Ilustra a interação de um átomo de dois níveis com um modo dacavidade com taxa de acoplamento g e os processos de dissipaçãodo sistema através das taxas κ e γ. . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

Figura 4.1 – Configuração de níveis atômicos necessária para gerar o Hamilto-niano de Dirac 2+1 D. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

Figura 4.2 – Configuração de níveis atômicos, usada para gerar o Hamiltonianode Dirac 1+1 D. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

Figura 4.3 – Probabilidades obtidas a partir do Hamiltoniano efetivo (4.21)(curvas contínuas) e do Hamiltoniano sem aproximação (4.4) (cur-vas pontilhadas). (a) Pe, Pg e P e (b) P0,0, P1,1. . . . . . . . . . . 52

Figura 4.4 – Probabilidades obtidas a partir do Hamiltoniano efetivo (3.39)(curvas contínuas) e do Hamiltoniano sem aproximação (3.29) (cur-vas pontilhadas). (a) Pe, Pg e P e (b) Populações do estado docampo |0〉 (P0) e |1〉 (P1). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

Figura 4.5 – Valor esperado,〈S1〉, para uma partícula relativística com diferen-tes massas. A curva linear azul representa um partícula sem massamovendo-se na velocidade da luz. As outras curvas representampartículas massivas com Λ1 = 3.11Ra, Λ2 = 0.99Ra, Λ3 = 0.57Ra

e Λ4 = 0.30Ra, respetivamente: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

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Sumário

1 Introdução 19

2 Equação de Dirac 232.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2.2 Derivação da equação de Dirac 3+1 D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2.3 Partícula livre de Dirac . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

2.4 O Efeito Zitterbewegung . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

3 Eletrodinâmica Quântica de Cavidades 333.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

3.2 Derivação do Hamiltoniano de Jaynes-Cummings . . . . . . . . . . . . . . 35

3.3 Hamiltonianos Efetivos para interação dispersiva . . . . . . . . . . . . . . 39

4 Simulação da Equação de Dirac em EQC 434.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

4.2 Hamiltoniano de Dirac via EQC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

4.3 Validade das aproximações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

4.4 Simulação do Zitterbewegung via EQC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

5 Conclusão 57

Referências 58

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19

Capítulo 1

Introdução

No início do século passado, a Mecânica Quântica emergiu como consequência deuma série de descobrimentos e observações que deixaram em evidência, as dificuldades dafísica clássica para interpretar as propriedades do átomo, da radiação eletromagnética ede sua interação com a matéria, a nível dos seus constituintes fundamentais. (1–3) Desdeentão a mecânica quântica tem se mostrado, ao longo das décadas, como uma teoriaextremamente bem sucedida. De tal forma que tornou-se uma ferramenta teórica básicapara numerosas disciplinas de grande importância, como a Física Molecular, Atômica eNuclear, a Física da Matéria Condensada, a Física de Partículas, etc.

Conjuntamente ao desenvolvimento da teoria da Mecânica Quântica, a descriçãode fenômenos de altas energias requereu unificar as teorias da mecânica quântica com arelatividade restrita, fato que resultou em um novo campo da física que é a MecânicaQuântica Relativística. A primeira tentativa de unificar as idéias quânticas com a re-latividade especial de Einstein, foi proposta em 1927 pelos físicos Oskar Klein e WalterGordon. (4, 5) Mas essa teoria possuía uma problema ligado aos valores negativos para adensidade de probabilidade (fato que proíbe a interpretação probabilística da teoria), porque a equação conhecida como equação de Klein-Gordon é de segunda ordem no tempo.Devido a esta interpretação, em um primeiro momento, a equação de Klein-Gordon foiabandonada.

Em 1928 Paul Dirac resolveu o problema da densidade de probabilidade negativapropondo uma equação de onda relativística de primeira ordem, tanto nas variáveis tem-porais como espaciais, a qual descreve a dinâmica quântica dos férmions. (6) No anode 1934 Pauli e V. F. Weisskopf solucionaram o problema da equação de Klein-Gordoninterpretando a densidade de carga como densidade de probabilidade de corrente. (7) Issosolucionou o problema da equação de Klein-Gordon com relação aos valores negativos dedensidade de probabilidade, mas, mesmo assim, a equação de Dirac possuía muitos pro-veitos quando comparada à equação de Klein-Gordon: já que a equação de Dirac forneceuma descrição natural do spin do elétron, prediz a existência da antimatéria (8) e repro-duz precisamente o espectro do átomo de hidrogênio. Contudo, verificou-se que a equaçãode Dirac fez outras previsões interessantes, como o paradoxo de Klein (9) e o Zitterbewe-

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gung. (10, 11) O efeito do Zitterbewegung (ou “movimento trêmulo”), cujo nome foi dadopor Schrödinger, se refere ao efeito observado quando a velocidade do eléctron não é umaconstante do movimento na ausência de campos externos. Tal efeito tinha que ser denatureza quântica, já que não obedecia a primeira lei clássica do movimento de Newton.Schrödinger calculou a dependência do tempo da velocidade e da posição de uma partícularelativística livre, concluindo que, além de seu movimento clássico no tempo, a partículatem um movimento oscilatório inesperado muito rápido com frequência, ω = 2E/~, que nomínimo tem um valor de ωmin = 2m0c

2/~ ≈ 1021Hz, e uma pequena amplitude da ordemdo comprimento de onda de Compton, ~/m0c. (12) Por esse motivo, o Zitterbewegungé experimentalmente inacessível. A partir de outra perspectiva, K. Huang (13) determi-nou as médias dos operadores de velocidade e posição e mostrou que o Zitterbewegungé devido à interferência dos estados correspondentes às energias negativas e positivas doelétron.

Por outro lado, nas últimas décadas, os avanços acelerados da Óptica Quântica pos-sibilitaram aprofundar os conhecimentos estabelecidos acerca do campo de radiação, damatéria e da interação entre ambos, proporcionando resultados essenciais associados àspropriedades da luz (14), e à manipulação de estados da matéria e de suas interações comcampos de radiação. (15–18) Com relação à luz, os desenvolvimentos teóricos e experi-mentais no domínio das estatísticas de fotocontagens associadas aos estados comprimidosdo campo de radiação, aprofundaram tanto o conhecimento do campo luminoso como adicotomia entre suas descrições clássica e quântica. O antiagrupamento de fótons e a esta-tística sub-Poissoniana de fotocontagens constituem propriedades não-clássicas do campoluminoso, estabelecendo de forma inequívoca a necessidade da sua descrição quântica.(14)

Dentro da Óptica Quântica, os avanços que aconteceram na eletrodinâmica quân-tica de cavidades (EQC), tanto no que se refere ao desenvolvimento teórico quanto àsimplementações experimentais, possibilitaram um amplo controle nas técnicas de mani-pulação da matéria e dos campos de radiação, sob o ponto de vista dos seus constituintesfundamentais. (19) Cavidades de alto fator de qualidade (alto-Q), fabricadas com mate-rial supercondutor, permitiram preparar fótons em estados bem definidos e acompanharem tempo real a sua evolução. Nestas condições tão especiais, os átomos são conduzidosindividualmente a interagir com apenas um modo da radiação, o que constitui um passocrucial para as observações experimentais de efeitos importantes, como a medida das os-cilações de Rabi de átomos de Rydberg no vácuo e em campos coerentes fracos (20), adetecção do processo de decoerência de estados mesoscópicos de um modo da cavidade(21), a preparação de estados emaranhados massivos, envolvendo níveis de Rydberg deum par de átomos (22), e a implementação de portas lógicas quânticas. (23) Além domais, foram demonstrados experimentalmente a geração e detecção de estados de Fock docampo de radiação. (24) Esse relativo domínio do mundo quântico rendeu o prêmio Nobel

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Capítulo 1. Introdução 21

de Física de 2012 para a área de EQC. Esta maestria nos processos da EQC foi igualmentealcançada através de íons armadilhados, nos quais realizou-se a demostração das portaslógicas fundamentais, como a porta C-Not, a qual foi implementada via mapeamento dosdois bits quânticos de informação nos graus de liberdade interno e externo de um íon apri-sionado. (25) Além da preparação de estados não-clássicos do campo vibracional (26),dentre os quais os estados emaranhados massivos (27), análogos aos que foram feitos nareferência. (22)

Os resultados acima motivaram interessantes propostas nas simulações quânticas,pelas quais objetiva-se simular um sistema quântico de difícil acesso experimental atravésde outro com significativo grau de controle, ambos compartilhando, sob condições espe-cíficas, a mesma descrição matemática. Atualmente, o interesse na simulação quânticatem crescido rapidamente, devido a que um grande número de aplicações potenciais emFísica, Química, Biologia, etc. Dentro os experimentos realizados usando simulação quân-tica, mencionamos a transição de fase quântica de um superfluido em um gás de átomosultrafrios (28), a simulação da dinâmica de um spin com número quântico principal 1, 1/2

e 3/2 (29), e a evolução adiabática de um sistema de spin paramagnético a ferromagné-tico (30), usando as armadilhas iônicas, as quais são particularmente importantes para opropósito da simulação quântica. (31, 32)

Nos anos recentes, muita atenção tem sido dirigida à simulação quântica dos efei-tos relativísticos. Lamata et al. (33), no contexto das armadilhas iônicas simularam aequação de Dirac 3+1 D (três dimensões espaciais e uma temporal) para uma partícularelativística livre de spin 1/2, onde o bispinor de Dirac é representado por quatro esta-dos internos iônicos, e a posição e o momento da partícula são associados às respectivasvariáveis iônicas. Além, de propor uma forma de simular os efeitos relativísticos, como oZitterbewegung e o paradoxo de Klein, sendo anos depois confirmados experimentalmente.(34, 35) Além das armadilhas iônicas, diferentes sistemas físicos foram utilizados para aproposição de protocolos para a simulação do zitterbewegung, como dispositivos semicon-dutores (12), cristais fotônicos (36) , átomos frios (37) , condensados de Bose-Einstein(38, 39) e em férmions massivos na física do estado sólido. (40)

Motivados pelo atual domínio experimental, neste trabalho apresentamos um proto-colo para simular, no contexto da EQC, o Hamiltoniano de Dirac 2+1 D e 1+1 D para umapartícula relativística livre. Além do mais, mostramos teoricamente o comportamento se-melhante ao Zitterbewegung no caso de uma dimensão, através da partícula armadilhadana cavidade de alto Q, usando a informação das quadraturas do campo eletromagnéticoe das forças de acoplamento associadas ao sistema átomo-campo.

Para alcançar e compreender questões relacionadas ao objetivo proposto, no capí-tulo 2 apresentaremos os conceitos da quântica relativística envolvidos neste trabalho,tais como a equação de Dirac e o Zitterbewegung. Já no capítulo 3 realizaremos umabreve revisão da EQC e introduziremos o formalismo do Hamiltoniano efetivo, o qual é

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uma ferramenta importante para nosso sistema. No capítulo 4, encontra-se a descriçãoda engenharia dos níveis atômicos e a técnica para a resolução do problema proposto.Finalmente no capítulo 5 apresentamos as conclusões gerais.

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23

Capítulo 2

Equação de Dirac

2.1 Introdução

A equação de Dirac é uma das pedras angulares da física contemporânea. Eladescreve de maneira correta a dinâmica dos férmions, os quais são os componentes fun-damentais de nosso universo, prevê efeitos relativísticos interessantes (Zitterbewegung) edar origem ao moderno paradigma da existência da antimatéria. Esses sucessos revoluci-onaram dramáticamente a forma de conceber a matéria e energia.

Neste capitulo apresentamos um estudo da equação de Dirac e suas soluções em3+1 D, com o objetivo de realizar comparações com os resultados obtidos no Capitulo4. Em seguida, analisamos o conteúdo físico da equação Dirac para uma partícula livrerelativística através do Zitterbewegung.

2.2 Derivação da equação de Dirac 3+1 D

Para o estudo de fenômenos de altas energias, precisamos de uma equação de ondarelativística. Portanto, para ganharmos um pouco de intuição na descrição da equaçãode Dirac, vamos fazer uma analogia com a equação de onda da mecânica quântica nãorelativística, ou seja, a equação de Schrödinger. Neste contexto, sabemos que i ∂

∂te

−i~∇ são os operadores de energia e momento, respectivamente. Por conseguinte, seconsiderarmos o operador da energia relativística na ausência de potenciais, temos que:

E2 = c2p2 +m2c4; (2.1)

ou:−2 ∂

2

∂t2= −c22∇2 +m2c4, (2.2)

onde c é a velocidade da luz, m e p são a massa da partícula e o operador momento ,respectivamente. Assim, a equação de onda relativística para uma partícula livre, fica daseguinte forma:

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242.2. Derivação da equação de Dirac 3+1 D

[1

c2

∂2

∂t2−∇2 +

m2c2

2

]Ψ (~x, t) = 0. (2.3)

A relação acima é conhecida como a equação de Klein-Gordon para partículas livres(41), que possui soluções da forma:

Ψ (~x, t) = exp[i

(~p · ~x− Et)]. (2.4)

Se substituímos a Eq.(2.4) na equação de Klein-Gordon , obtemos duas soluções para

a energia da partícula relativística, E = ±c√|~p|2 +m2c2. Isso leva a um problema

muito fundamental na equação de continuidade de Klein-Gordon, já que, a densidade deprobabilidade pode ser positiva ou negativa.

Com a finalidade de mostrar este fato, tomamos o complexo conjugado, termo atermo, da Eq. (2.3) obtendo:[

1

c2

∂2

∂t2−∇2 +

m2c2

2

]Ψ∗ (~x, t) = 0. (2.5)

Em seguida, multiplicamos a Eq.(2.3) à esquerda por Ψ∗e a Eq.(2.5) à esquerda por Ψ esubtraindo uma da outra obtemos

−→J (~x, t) =

i2m0

(Ψ∗~∇Ψ−Ψ~∇Ψ∗

)(2.6)

ρ (~x, t) =i

2m0c2

(Ψ∗∂Ψ

∂t−Ψ

∂Ψ∗

∂t

), (2.7)

em que,−→J (~x, t) é a densidade de corrente de probabilidade, a qual tem a mesma forma que

o caso não relativístico. Portanto, o problema apresentado nesta teoria está na densidadede probabilidade, ρ (~x, t). Isto pode ser visto claramente inserindo a Eq.(2.4) na Eq.(2.7),obtendo assim:

ρ (~x, t) = ±

√c2 |~p|2 +m2c4

mc2. (2.8)

Consequentemente, se perde a possibilidade de associar ρ (~x, t) com uma densidadede probabilidade positiva. Devido a essa interpretação, a equação de Klein-Gordon nãofoi aceita para descrever o comportamento do elétron. Atualmente a compreensão dasenergias negativas é possível recorrendo à teoria de antipartículas.

Para o problema da densidade de probabilidade negativa, suspeita-se que a fonte dadificuldade atribuía-se ao fato de que a equação de Klein-Gordon é de segunda ordem notempo. (42) Para solucionar esse inconveniente, Paul Dirac no ano 1928, usando a relaçãode energia relativística, propõe uma equação linear com relação à energia:

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Capítulo 2. Equação de Dirac 25

c2p2 +mc4 =(c~α · ~p+ βmc2

)2, (2.9)

onde, ~α = (α1, α2, α3) e β são matrizes, tais que satisfazem as seguientes condições:

αk, β = 0, (2.10)

α2k = β2 = I, (2.11)

αk, αl = 2δkl. (2.12)

Sendo, k, l = 1, 2, 3. Por conseguinte, o problema se reduz a um problema puramentealgébrico, onde temos que descobrir a forma das matrizes αk e β. Se as matrizes αk e βsão hermitianas, e da Eq.(2.11) sabemos que:

α2k =

1 0 · · · 0

0 1 · · · 0...

... . . . ...0 0 0 1

=

a2

1 0 · · · 0

0 a22 · · · 0

...... . . . ...

0 0 0 a2N

. (2.13)

Portanto, as matrizes αk tem N autovalores +1 e N autovalores −1, já que, am = ±1

onde m = 1, 2, 3, ..., N. Além do mais, se calculamos o traço de αk temos:

tr (αk) = tr(β2αk

)= tr (βαkβ) , (2.14)

onde usamos o fato que β2 = I, agora da Eq.(2.10) sabemos que αk = −βαkβ, então darelação (2.14) obtemos que tr (αk) = 0. Consequentemente como o traço é a soma dosautovalores, os números de autovalores positivos e negativos têm que ser iguais. Então,a dimensão das matrizes αk e β é par , ou seja, 2N . As matrizes pares de mais baixadimensão que satisfazem as condições (2.10), (2.11) e (2.12) são as matrizes 4 × 4. Oconjunto de matrizes geralmente usado é:

αk =

(0 σk

σk 0

)(2.15)

β =

(I2×2 0

0 −I2×2

), (2.16)

sendo, σk, as matrizes de Pauli.

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262.3. Partícula livre de Dirac

σ1 =

(0 1

1 0

), σ2 =

(0 −ii 0

), σ3 =

(1 0

0 −1

). (2.17)

Finalmente, usando a Eq.(2.9) definimos o Hamiltoniano de Dirac,

HD ≡ c~α · ~p+ βmc2, (2.18)

obtendo, assim, a equação de onda relativística para partículas com spin 12, conhecida

como a equação de Dirac 3+1:

HDψ = i∂ψ

∂t(2.19)

onde:

ψ =

ψ1

ψ2

ψ3

ψ4

. (2.20)

Este é o chamado espinor de Dirac. Através da equação de Dirac obtém-se a equaçãode continuidade, na qual a densidade de probabilidade, ρ = ψ†ψ, é sempre positiva. Por-tanto, Dirac resolve o problema da densidade de probabilidade negativa que se apresentavana equação de Klein-Gordon.

2.3 Partícula livre de Dirac

Para estudar o conteúdo físico da equação Dirac, vamos considerar primeiro o casode uma partícula livre parada, (~p = 0). Neste contexto a equação Dirac se expressa daseguinte forma:

i∂ψ

∂t= mc2βψ. (2.21)

Além do mais, a equação de Dirac admite uma solução do tipo:

ψ ∼ u(~p)exp [i (~x · ~p/)− i (Et/)] , (2.22)

com:E = ±c

√|~p|2 +m2c2, (2.23)

e , u (~p) , um espinor de 4 componentes. Logo, a equação que devemos resolver, é:

i∂

∂t

u (0) exp

[∓i(mc2t/

)]= m0c

2βu (0) exp

[∓i(mc2t/

)], (2.24)

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Capítulo 2. Equação de Dirac 27

onde substituímos as Eq.(2.22) e Eq.(2.23) na Eq.(2.21) com, ~p = 0. Tomamos primeira-mente da Eq.(2.24) a dependência do tempo exp [−imc2t/], obtendo:

mc2

(uA (0)

uB (0)

)= mc2

(I2×2 0

0 −I2×2

)(uA (0)

uB (0)

). (2.25)

Portanto, a Eq.(2.25) tem solução somente se as duas componentes inferiores do espinoru (0) forem nulas, ou seja, uB (0) = 0. Agora, se tomarmos da Eq.(2.24) a dependênciado tempo exp [+imc2t/] obtemos:

−mc2

(uA (0)

uB (0)

)= mc2

(I2×2 0

0 −I2×2

)(uA (0)

uB (0)

)(2.26)

então, a Eq. (2.26) tem solução quando as duas componentes superiores de u (0) sãonulas, isto é uA (0) = 0. Na teoria de Pauli, os spinores de dois componentes não nulos

podem ter aspecto análogo a

(1

0

)e

(0

1

). Em vista disso, podemos obter 4 soluções

linearmente independentes, a saber:

1

0

0

0

exp[−imc2t/

],

0

1

0

0

exp[−imc2t/

](2.27)

0

0

1

0

exp[+imc2t/

],

0

0

0

1

exp[+imc2t/

]. (2.28)

Concluímos que, as duas relações da Eq.(2.27) são soluções de energias positivasassociadas a férmions, e as relações da Eq.(2.28) são soluções de energias negativas, asquais podem ser relacionadas com antiférmions . Na referência (7) , mostra-se que a assoluções de energias negativas estão intimamente relacionadas ao fato de que a teoria deDirac pode acomodar um pósitron, o qual é a antipartícula do elétron.

Vamos agora considerar o problema da partícula livre quando está em movimento(~p 6= 0). Neste caso substituímos a Eq.(2.22) na Eq.(2.19) e obtemos

(c~α.~p+ βmc2

)u (~p) = Eu(~p),

ou:

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282.3. Partícula livre de Dirac

c

(0 ~σ

~σ 0

).~p

(uA(~p)

uB(~p)

)+mc2

(I2×2 0

0 −I2×2

)(uA(~p)

uB(~p)

)= E

(uA(~p)

uB(~p)

), (2.29)

logo da Eq(2.29) podemos obter as seguintes relações:

uA(~p) =c

E −mc2(~σ·~p)uB(~p), (2.30)

uB(~p) =c

E +mc2(~σ·~p)uA(~p), (2.31)

com;

~σ·~p = σ1p1 + σ2p2 + σ3p3 =

(p3 p1 − ip2

p1 + ip2 −p3

).

Este sistema tem quatro soluções linearmente independentes, que podemos obter da se-

guinte forma: vamos considerar o caso quando E = c√|~p|2 +m2c2 > 0, além disso,

usarmos os spinores de dois componentes

(1

0

)e

(0

1

), para uA(~p). Portanto, levando

em conta estas considerações na Eq.(2.31) temos:

u(1)B (~p) =

(p3c

E+mc2

(p1+ip2)cE+mc2

)e u

(2)B (~p) =

((p1−ip2)cE+mc2

− p3cE+mc2

). (2.32)

Para o caso quando E = −c√|~p|2 +m2

0c2 < 0, podemos, à semelhança do que fizemos

para E > 0, chegar a:

u(1)A (~p) =

(−p3c|E|+mc2−(p1+ip2)c|E|+mc2

)e u

(2)A (~p) =

(−(p1−ip2)c|E|+mc2p3c

|E|+mc2

). (2.33)

Por conseguinte, obtemos quatro soluções independentes a saber:

u(1)(~p) = N1

1

0

u(1)B

= N1

1

0p3c

E+mc2

(p1+ip2)c|E|+mc2

, (2.34)

u(2)(~p) = N1

0

1

u(1)B

= N1

0

1(p1−ip2)cE+mc2

−p3cE+mc2

, (2.35)

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Capítulo 2. Equação de Dirac 29

u(3)(~p) = N1

u(1)A

1

0

= N1

−p3c|E|+mc2−(p1+ip2)c|E|+mc2

1

0

, (2.36)

u(4)(~p) = N1

u(2)A

0

1

= N1

−(p1−ip2)c|E|+mc2p3c

|E|+mc2

0

1

. (2.37)

Onde a constante de normalização, N1, será determinada a seguir. As duas soluções paracada caso representam as duas direções que pode ter o spin de cada partícula. Ou seja,para E > 0 temos as duas soluções u(1)(~p) e u(2)(~p), que descrevem as duas possíveisorientações do spin do elétron, e para E < 0 temos as duas soluções u(3)(~p) e u(4)(~p),as quais representam as duas possíveis orientações do spin do pósitron. Para finalizar,normalizamos a função de onda u(~p), impondo que :

u(r)†(~p)u(r)(~p) =|E|mc2

, (2.38)

com r = 1, 2, 3, 4. Portanto, N1 é determinado da seguinte forma:

u(1)†(~p)u(1)(~p) = N21

(1 0 p3c

E+mc2(p1−ip2)c|E|+mc2

)

1

0p3c

E+mc2

(p1+ip2)c|E|+mc2

=|E|mc2

,

então:N2

1

(1 +

p2c2

(|E|+mc2)2

)= N2

1

2 |E||E|+mc2

=|E|mc2

,

portanto:

N1 =

√|E|+mc2

2mc2. (2.39)

Agora, para normalizar a Eq.(2.22), vamos usar a Eq.(2.38) obtendo:ˆψ†ψd3~r = N2

2

ˆu(r)†(~p)u(r)(~p)d3~r = 1 (2.40)

assim:N2 =

√mc2/ |E|V , (2.41)

onde V é o volume de um cubo de lado L no espaço.

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302.4. O Efeito Zitterbewegung

Figura 2.1 – Ilustração dos valores permitidos de energia de uma partícula relativísticalivre.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Finalmente as soluções de onda plana normalizadas para um dado ~p são:

ψ+ =

√mc2

|E|Vu(1 ou 2)(~p)exp [i (~x · ~p/)− i (Et/)] , (2.42)

ψ− =

√mc2

|E|Vu(3 ou 4)(~p)exp [i (~x · ~p/) + i (|E| t/)] , (2.43)

sendo ψ+ as soluções para energias positivas, e ψ− para as energias negativas. QuandoV → ∞, os valores permitidos formam um contínuo para soluções de energias positivasmc2 ≤ E <∞ e para energias negativas −∞ < E ≤ −mc2, ver Fig. (2.1).

As soluções ψ− para a equação de Dirac são interpretadas usando a teoria de buracos.(41) Neste contexto, se um elétron do mar de Dirac (mar infinito de elétrons com energiasnegativas), ou seja, um elétron com E < 0 absorve um fóton com energia maior que aenergia do gap, 2mc2, cria-se um estado buraco no mar de Dirac. O buraco é interpretadona teoria de “buracos” como o pósitron. Portanto, através da extensão da teoria de Diracde partícula única para a teoria de buraco se prediz o pósitron como antipartícula doelétron, o que foi observado depois, experimentalmente. (43) Além disto, as duas soluçõesde energias positivas e negativas, interferem entre si gerando o efeito Zitterbewegung, queserá melhor explicado em mais detalhes em seguida.

2.4 O Efeito Zitterbewegung

Nesta seção estudaremos o movimento de um elétron livre na representação de Hei-senberg conforme a teoria de Dirac e analisaremos as equações do movimento de Heisen-berg. Para iniciar este estudo, vamos escrever na representação de Heisenberg a evolução

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Capítulo 2. Equação de Dirac 31

temporal do operador posição da partícula relativística livre da seguinte maneira:

Sk(t) =i

~[HD, Sk] =

i

~[cαjpj + βmc2, Sk

], (2.44)

onde, k, j = 1, 2, 3. Da Eq.(2.44) obtemos imediatamente:

Sk(t) =ic

~[αjpj, Sk] = cαk(t). (2.45)

Como os autovalores de αk são ±1, posto que, α2k = I. Então, o operador velocidade da

Eq.(2.45) possui autovalores ±c. Por outro lado, sabemos que os elétrons tem velocidadesmuito inferiores à velocidade da luz, o que aparentemente é incoerente com relação aoresultado da Eq.(2.45). No entanto, a contradição não é real já que a velocidade teóricado resultado anterior é num instante dado, enquanto as velocidades observadas são sempremédias da velocidade durante intervalos de tempo consideráveis. (44) Com isso, o próximopasso é verificar como muda a velocidade do elétron com o tempo. Para isto, vamos estudaro operador αk na representação de Heisenberg:

αk(t) =i

~[HD, αk] , (2.46)

agora, usando as relações (2.11) , (2.12) e HD, αk = 2cpk na Eq.(2.46) obtemos

αk(t) =i

~(−2αkHD + 2cpk) , (2.47)

como pk e HD são grandezas conservadas, então derivando a Eq.(2.47) e integrando oresultado deduzimos que:

αk(t) = α0ke−2iHDt/~, (2.48)

onde impomos a condição inicial αk(t = 0) = α0k. Logo, substituindo a Eq.(2.48) na

Eq.(2.47), obtemos:

αk(t) =i~2α0ke−2iHDt/~H−1

D + cpkH−1D , (2.49)

ou:αk(t) = cpkH

−1D +

(αk(0)− cpkH−1

D

)e−2iHDt/~. (2.50)

Agora, usando a Eq.(2.50) em Eq.(2.45) podemos obter o operador velocidade da partícularelativística:

Sk(t) = c2pkH−1D + c

(αk(0)− cpkH−1

D

)e−2iHDt/~ (2.51)

e se integramos em t temos:

Sk(t) = Sk(0) + c2pkH−1D t+

i~c2

(αk(0)− cpkH−1

D

)H−1D

[e−2iHDt/~ − 1

]. (2.52)

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322.4. O Efeito Zitterbewegung

Os dois primeiros termos da Eq.(2.52) descrevem o movimento de uma partículaclássica livre. O último termo é característico da mecânica quântica relativística, o qual éresponsável pela adição de um movimento oscilatório com uma alta frequência, ω = 2E/~,que no mínimo tem um valor de ωmin = 2mc2/~ ≈ 1021Hz, e uma pequena amplitudeda ordem, h/mc, do comprimento de onda de Compton. Este movimento oscilatório é ochamado Zitterbewegung, conforme batizado por Schrödinger. (11)

As relações não convencionais (2.45) e (2.50) surgem devido à existência de soluçõesde energias negativas. Para mostrar esse fato, vamos usar a representação de Schrödinger.A função de onda geral de uma partícula livre relativística é:

ψ(~S, t) =∑~p

∑r=1,2

√mc2

|E|Vc~p,ru

(r)(~p)exp[i~p · ~S

~− i |E| t

~]

+∑~p

∑r=3,4

√mc2

|E|Vc~p,ru

(r)(~p)exp[i~p · ~S

~+i |E| t~], (2.53)

onde cp,r é a amplitude da onda. (7) Logo, para analisar nesta representação a velocidadefísica da partícula relativística calculamos:

〈αk〉 =

ˆv

ψ†(~S, t)αkψ(~S, t)d3x

=∑~p

∑r=1,2

|c~p,r|2pkc

|E|−∑~p

∑r=3,4

|c~p,r|2pkc

|E|

+∑~p

∑r=1,2

∑r′=3,4

mc2

|E|[c?~p,r′c~p,ru

(r′)†αku(r)exp(−2i |E| t/~)

+c~p,r′c?~p,ru

(r)†αku(r′)exp(2i |E| t/~)], (2.54)

onde usamos: ˆd3~Sexp[~S · (~p− ~p′)/~] = V δ~p~p′ (2.55)

e:u(r)†αku

(r) =pkmc

. (2.56)

A Eq.(2.54) mostra que o zitterbewegung está completamente ausente para um pacote deonda que compõe-se exclusivamente de soluções de energias positivas (negativas). Por-tanto, o zitterbewegung é possível somente quando há sobreposição das soluções de ener-gias positiva e negativa.

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33

Capítulo 3

Eletrodinâmica Quântica de Cavidades

3.1 Introdução

O estudo da interação radiação com a matéria mudou definitivamente quando Dirac eFermi. (45, 46), associaram cada modo do campo da radiação com um oscilador harmônicoquantizado, sendo isto fundamental para a teoria quântica da radiação. A quantizaçãodo campo de radiação forneceu a explicação do fenômenos como emissão espontânea (47),efeito fotoelétrico (48), o deslocamento de Lamb (49), entre outros. Consequentemente,os estudos da interação átomo-campo iniciam-se neste novo contexto , onde utiliza-se ocampo e o átomo quantizados, diferentemente da teoria semiclássica de interação átomo-campo, onde o campo é tratado classicamente e o átomo quanticamente.

O resultado deste novo sistema quântico da origem à eletrodinâmica quântica decavidades (EQC), a qual pode ser definida, em poucas palavras, como a física da interaçãoentre um spin e um oscilador. (19) Ou seja, no domínio da EQC pode-se entender umdos sistemas quânticos mais simples e ao mesmo tempo não trivial, o qual consiste em umátomo de dois níveis (formalmente análogo a um sistema de spin 1/2), e um campo electro-magnético quantizado como um conjunto de osciladores harmônicos, interagindo dentrode uma cavidade; sendo um dos osciladores ressonante ou aproximadamente ressonantecom a transição atômica, de tal maneira que os outros osciladores sejam negligenciados.Este sistema foi usado por Jaynes-Cummings para descrever a interação radiação-materiaquanticamente. (50) Em uma primeira abordagem o modelo de Jaynes-Cummings foiconsiderado simplesmente como um experimento mental, não obstante, com os avançosnas técnicas de preparação e manipulação de átomos individuais, tornou-se possível acomprovação experimental de tal modelo.

Nos experimentos típicos em EQC a cavidade usada consiste num interferômetrode Fabry - Perot construído de Nióbio no estado supercondutor, com um alto fator dequalidade de Q = ω/κ ∼ 109 , onde κ é a taxa de decaimento do fótons da cavidade e ω é afrequência do modo armadilhado dentro da cavidade. Este fator de qualidade implica queos campos de radiação com frequência na região de microondas, tempo de vida da ordemde milissegundo. O que possibilita realizar os experimentos em EQC com significativa

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343.1. Introdução

Figura 3.1 – Representação esquemática de um sistema átomo-campo em EQC. Ilustraa interação de um átomo de dois níveis com um modo da cavidade comtaxa de acoplamento g e os processos de dissipação do sistema através dastaxas κ e γ.

Fonte: FARAON, A (52)

fidelidade, já que, o tempo típico de interação átomo-campo é da ordem de 1/g ∼ 10−5s,sendo g o parâmetro de acoplamento átomo-campo. Os processo dissipativos dos sistemasde EQC como a emissão espontânea e espelhos imperfeitos , são incluídos através da taxade decaimento do átomo, γ, e κ. Esses parâmetros são ilustrados na figura 3.1.

Para cavidades com modos na região de microondas utilizam-se estados de Rydbergcirculares, os quais consideram-se como átomos de dois níveis. Assim, o mecanismo doexperimento baseia-se em um feixe de átomos de Rydberg preparado via zonas de Ramsey(51) antes de interagir com a cavidade que posteriormente penetra na cavidade, ondeinterage com o campo. No fim da qual há uma região, onde é aplicado um campo elétricointenso que permite detectar de forma seletiva o estado atômico. Este sistema usado porHaroche e colaboradores (15), tem uma configuração flexível e versátil, de tal forma queas frequências do campo e das transições atômicas podem ser ajustadas para o estudo deinterações ressonantes ou dispersivas entre o átomo e o campo de radiação na cavidade. Asinterações ressonantes apresentam-se quando a frequência atômica é igual à frequência docampo. Este tipo de interação entre átomo-campo é descrita pelo Hamiltoniano de Jaynes-cummings. As interações dispersivas, aparecem quando a frequência de transição atômicaé muito diferente da frequência do campo, ou seja, que dentro da cavidade os átomos nãopodem nem emitir nem absorver fótons. Entretanto, o efeito da interação dispersiva entreo átomo e o campo é de deslocar os níveis de energia atômicos, originando o já conhecidoefeito Stark.

Neste capítulo abordaremos especificamente a derivação do hamiltoniano de Jaynes-Cummings e seu hamiltoniano efetivo para interações dispersivas, já que, as interaçõesátomo-campo envolvidas neste trabalho são interações não ressonantes.

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Capítulo 3. Eletrodinâmica Quântica de Cavidades 35

3.2 Derivação do Hamiltoniano de Jaynes-Cummings

Nesta seção, vamos analisar a interação ressonante entre um modo da cavidade e oátomo, o qual foi primeiramente analisado em detalhe por Jaynes e Cummings em 1963.(50) O modelo de Jaynes-Cummings, descreve a interação de um átomo de dois níveiscom um único modo do campo de radiação quantizado. O êxito deste modelo, mesmo sobuma descrição inteiramente quântica, é que possui solução exata e suas predições podemser verificadas no laboratório.

Para iniciar a derivação do hamiltoniano de Jaynes-Cummings, partimos do hamil-toniano que descreve a interação do campo de radiação com o átomo:

H =∑ 1

2m

[~pi −

~eA(~ri, t)

c

]2

+ V (~ri) +Hc,

primeiramente vamos considerar os dois primeiros termos da equação em cima, onde ~pié o momento para i-ésimo elétron, V (~ri) o potencial de Coulomb , ~A(~ri, t) é o potencialvetor, m e e são a massa e a carga do elétron e c a velocidade da luz. Agora usando emH o gauge de Coulomb (

−→∇ · ~A(~ri, t) = 0) e o fato que ~A2(~ri, t) 1, obtemos:

H =∑i

[ ~p2i

2m+ V (~ri)

]− e

mc

∑i

~A(~ri, t) · ~pi +Hc, (3.1)

o primeiro e o segundo termos da Eq.(3.1) descrevem o hamiltoniano do átomo, HA, e ohamiltoniano de interação radiação-átomo, HINT , respectivamente. O terceiro termo é ohamiltoniano do campo de radiação quantizado:

Hc =∑~k,β

~ω~k,β(a†~k,βa~k,β + 1/2), (3.2)

o qual tem a forma do hamiltoniano do oscilador harmônico quântico, de frequência ω~k,βe operador número a†~k,βa~k,β, sendo

~k o vetor de onda e β nos diz que existem dois estados

linearmente independientes de polarização a cada vetor de onda ~k. Portanto, cada mododo Hc é dinamicamente equivalente a um oscilador harmônico quântico. (53)

Logo, devido a que desejamos analisar a interação átomo-campo no contexto damecânica quântica, precisamos quantizar o campo de matéria e o termo de interaçãoradiação-matéria dados na Eq.(3.1). Primeiramente, vamos quantizar HA, então usandoo formalismo da segunda quantização (54), definimos o hamiltoniano do átomo da seguinteforma:

Hi =

ˆd3~rΦ†iHAΦi. (3.3)

Sendo:

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363.2. Derivação do Hamiltoniano de Jaynes-Cummings

Φi =∑j

bijφij, (3.4)

Φ†i =∑j

b†ijφ†ij, (3.5)

os operadores de campo do i-ésimo elétron, onde bij(b†ij) é o operador fermiônico de des-truição (criação) do j-ésimo nível de energia e φij constitui uma base que procede dasolução da equação de Schrödinger. Aliás, a base φij define um conjunto de auto-funções ortonormais. Portanto, usando as relações (3.4) e (3.5) na Eq.(3.3), obtemos aquantização do hamiltoniano do átomo:

HA =∑i

Hi =∑i

ˆd3~rΦ†i

( ~p2i

2m+ V (~ri)

)Φi=

∑ij

Eijb†ijbij. (3.6)

Onde Eij é a autoenergia da autofunção φij. Vamos agora obter a quantizaçãodo hamiltoniano de interação radiação-átomo. Para isto, consideraremos a interação daradiação com um único elétron de valência, ou seja, i = 1(usaremos esse fato de aqui emdiante). Então, da teoria quântica da radiação (7), temos que o potencial vetor quantizado~A(~r, t = 0) é dado por:

~A(~r, 0) =∑~k,β

c√V

√~

2ω~k

[a~k,β~ε

(β)ei~k·~r + a†~k,β~ε

(β)e−i~k·~r], (3.7)

sendo ~ε o vetor de polarização, V = L3 é o volume do cubo que contém o campo dopotencial vetor. Vale a pena notar que o potencial vetor da Eq.(3.7) está expressado narepresentação do Schrödinger. Assim, usando a Eq.(3.3), mas para o caso do HINT temos:

HINT =

ˆd3~rΦ†HINTΦ, (3.8)

logo, utilizando as relações (3.4), (3.5) obtemos:

HINT =∑lj

b†l bj

ˆd3~rφ∗l

[− e

mc~A(~r, 0) · ~p

]φj. (3.9)

Se substituímos a Eq.(3.7) na Eq.(3.9) temos:

HINT = ~∑lj

∑~k,β

b†l bj

(gl,j;~k,βa~k,β + g∗

l,j;~k,βa†~k,β

), (3.10)

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Capítulo 3. Eletrodinâmica Quântica de Cavidades 37

onde gl,j;~k,β é a frequência de Rabi definida da seguinte forma:

gl,j;~k,β = − e

m

( 1

2~ω~kV

)1/2ˆd3~rφ∗l e

i~k·~r~ε (β) · ~pφj. (3.11)

Por outro lado, se consideramos a aproximação de dipolo elétrico ~k ·~r 1, o qual implicaque a variação espacial do potencial vetor é negligenciável no hamiltoniano de radiação-átomo. Consequentemente, pode-se substituir ~A(~r, 0) por ~A(~r0, 0), onde ~r0 é um ponto fixotomado no interior do sistema de cargas. Levando em conta as considerações anteriores,podemos escrever:

gl,j;~k,β = −i( 1

2~ω~kV

)1/2

ωljei~k·~r0~ε (β) 〈φl| e~r |φj〉 , (3.12)

com ωlj = (El−Ej)/~. Quantizados os hamiltonianos HA e HINT , vamos agora a escrevero problema da interação do campo de radiação com o átomo na representação de interação,por meio do hamiltoniano de interação:

HI = eiH0t/~HINT e−iH0t/~, (3.13)

onde H0 = HA + HC . Substituindo na Eq.(3.13) as Eqs. (3.2), (3.6) e (3.10) e usando afórmula de Baker - Haussdorf obtemos:

HI = ~∑lj

∑~k,β

b†l bj

(gl,j;~k,βa~k,βe

−i(ω~k−ωlj)t + g∗l,j;~k,β

a†~k,βei(ω~k+ωlj)t

). (3.14)

Esta importante relação é útil para estudar de maneira particular um átomo de dois níveiscom estado fundamental (1) e o exitado (2), e com frequência de transição ω0 = ω21,interagindo com um único modo quantizado do campo eletromagnético de uma cavidadeóptica, de frequência ω. Neste contexto, da Eq.(3.14) obtemos o hamiltoniano:

HI = ~g[b†2b1ae

−i(ω−ω0)t + b†1b2a†ei(ω−ω0)t

], (3.15)

onde g21 = g∗12 = g é real. Além disso, utilizamos a aproximação de onda girante ou RWA,do ingles “Rotating Wave Approximation”,a qual consiste em dezprezar a contribuição dostermos muito oscilantes que em media não contribuem efetivamente para a dinâmica dosistema. (55) Portanto devemos notar que para garantir aproximação de onda giranteimpõe-se que

√n+ 1g ω + ω0, onde, n é o número médio de fótons na cavidade.

Finalmente se consideramos nas equações (3.15) e (3.6) a correspondência entre osoperadores de pseudo-spin (σ±e σz) e os operadores fermiônicos a saber:

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383.2. Derivação do Hamiltoniano de Jaynes-Cummings

σ+ = |2〉 〈1| ←→ b†2b1, (3.16)

σ− = |1〉 〈2| ←→ b†1b2, (3.17)

σz = |2〉 〈2| − |1〉 〈1| ←→ b†2b2 − b†1b1. (3.18)

Obtemos o hamiltoniano de Jaynes-Cummings na representação de Schrödinger :

HJC = HA +HC +HINT , (3.19)

com:HINT = e−iH0t/~HIe

iH0t/~ = ~g[σ+a+ σ−a

†], (3.20)

HA = ~ω1b†1b1 + ~ω2b

†2b2 =

~ω0σz2

, (3.21)

HC =∑~k,β

~ω~k,βa†~k,βa~k,β = ~ωa†a. (3.22)

Em que, na Eq.(3.21) definimos o ponto de energia zero em ~(ω1 + ω2)/2, ou seja, E2 =

−E1 = 1/2~ω0, e na Eq.(3.22) omitimos o termo ~ω/2 por simplicidade. O hamiltonianode Jaynes-Cummings obtido através da aproximação de dipolo elétrico e da RWA, descrevea troca de um quantum de energia entre o átomo de dois níveis e o modo da cavidade.A dinâmica do modelo de Jaynes-Cummings, pode ser estudada com a determinaçãodos estados estacionarios do hamiltoniano de Jaynes-Cummings. Esses autoestados sãochamados os estados "vestidos". (56) Em termos dos estados número do campo, o termode interação σ+a+ σ−a

† do HJC gera somente transições do tipo |e〉 |n〉 ↔ |g〉 |n+ 1〉 ou|e〉 |n− 1〉 ↔ |g〉 |n〉, sendo |e〉 o estado excitado e |g〉 o estado fundamental do átomo dedois níveis. Portanto, para um n dado, definimos:

|ψ1n〉 = |e〉 |n〉 , (3.23)

|ψ2n〉 = |g〉 |n+ 1〉 (3.24)

usando esta base obtemos a representação matricial do HJC da seguinte forma:

H(n) = ~

(ωn+ ω0/2 g

√n+ 1

g√n+ 1 ω(n+ 1)− ω0/2

). (3.25)

Logo, diagonalizando a matriz da Eq.(3.25) obtemos como resultado as autoenergias:

E±(n) =

(n+

1

2

)~ω ± ~Ωn(n), (3.26)

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Capítulo 3. Eletrodinâmica Quântica de Cavidades 39

onde:Ωn(∆) =

√∆2 + 4g2 (n+ 1), (3.27)

é a frequência de Rabi, a qual inclui agora os efetos da dessintonia, ∆ = ω0 − ω, entre atransição atômica e o modo da cavidade. Os autoestados associados com E±(n) são:

|n,+〉 = cos(Φn/2) |ψ1n〉+ sin(Φn/2) |ψ2n〉 , (3.28)

|n,−〉 = −sin(Φn/2) |ψ1n〉+ cos(Φn/2) |ψ2n〉 . (3.29)

Com:

sin(Φn/2) =1√2

[Ωn(∆)−∆

Ωn(∆)

]1/2

, (3.30)

cos(Φn/2) =1√2

[Ωn(∆) + ∆

Ωn(∆)

]1/2

. (3.31)

Os autoestados |n,±〉 são chamdos de estados vestidos, estos estados têm a pe-culiaridade de ser emaranhados, devido a que no processo de interação átomo-campo,não existe um estado do átomo ou do fóton bem definido. Além do mais, essa abor-dagem nos permite deduzir dois regimes importantes a saber: o regime ressonante, oqual caracteriza-se quando a dessintonia ∆ = 0, ou seja, a frequência atômica é igual àfrequência do modo da cavidade. Portanto da Eq.(3.27) temos que a frequência de Rabinesse regime fica Ωn(0) = 2g

√n+ 1. O outro regime é o dispersivo caracterizado por

Ωn(0) ∆, assim que, como a dessintonia é suficientemente grande para que a transiçãodo átomo esteja fora da ressonância com a frequência do modo da cavidade, espera-se queos efeitos da interação átomo-campo sejam enfraquecidos. O hamiltoniano efetivo dessainteração será derivado na próxima seção.

3.3 Hamiltonianos Efetivos para interação dispersiva

Uma variação importante do modelo de Jaynes-Cummings original, apresenta-sequando existe uma dessintonia suficientemente grande entre a transições atômicas e afrequência do campo da cavidade, de tal modo que as transições diretas não aconte-cem, entretanto, surgem interações dispersivas do campo da cavidade com a transiçõesatômicas. Portanto, nessa versão do modelo de Jaynes-Cummings, precisamos obter umhamiltoniano efetivo (HEF ) para sistemas que interagem dispersivamente, ou seja, um ha-miltoniano que proporciona um melhor entendimento dos processos físicos significativospara a dinâmica do sistema.

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403.3. Hamiltonianos Efetivos para interação dispersiva

Para a derivação do HEF utilizaremos o método proposto por James e Jerke (57), oqual combina as aproximações de Markov e de ondas girantes com o processo de iteração.O método consiste em fazer uma expansão perturbativa na equação de Schrödinger, quena representação de interação escreve-se como:

i~∂ |ψ(t)〉∂t

= HI(t) |ψ(t)〉 . (3.32)

Essa equação tem a seguinte solução:

|ψ(t)〉 = |ψ(0)〉+1

i~

ˆ t

0

HI(t′) |ψ(t′)〉 dt′, (3.33)

logo, substituindo a Eq.(3.33) na Eq.(3.32), temos:

|ψ(t)〉 = HI(t) |ψ(0)〉+1

i~

ˆ t

0

HI(t)HI(t′) |ψ(t′)〉 dt′. (3.34)

Considerando que os termos que compõem o hamiltoniano HI(t) são altamente oscilantes,podemos via RWA desprezar o primeiro termo do lado direito da Eq.(3.34) e usando aaproximação markoviana para o segundo termo, obtemos:

i~∂ |ψ(t)〉∂t

≈ HEF (t) |ψ(t)〉 . (3.35)

Onde:

HEF (t) =1

i~HI(t)

ˆ t

0

HI(t′)dt′. (3.36)

Frequentemente trata-se o caso de sistemas submetidos a uma perturbação com depen-dência temporal harmônica. Exemplo disso incluem um sistema atômico interagindo comum ou mais feixes de laser. Portanto, para obter o HEF (t) neste caso, consideraremos queo HI(t) é da forma:

HI(t) =N∑n=1

(hne

−iνnt + h†neiνnt), (3.37)

obtendo:

HEF (t) =1

2~

N∑m,n=1

(1

νm+

1

νn

)[h†m, hn

]ei(νm−νn)t. (3.38)

Agora usaremos a técnica acima apresentada, para obter o hamiltoniano de Jaynes-Cummings no contexto de interação dispersiva e no regime de acoplamento fraco, ou seja,g ∆ = ω0 − ω. Então, o hamiltoniano da Eq.(3.15), na representação de interaçãoescreve-se como:

HI(t) = ~g[σ+ae

i∆t + σ−a†e−i∆t

], (3.39)

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Capítulo 3. Eletrodinâmica Quântica de Cavidades 41

se comparamos as equações (3.37) e (3.39), temos h1 = ~gσ−a†, h†1 = ~gσ+a e ν1 = ∆.Portanto, da Eq.(3.38) obtemos o hamiltoniano efetivo desejado:

HEF (t) =1

~∆

[h†1, h1

]=

~g2

σ+σ− + a†a (σ+σ− − σ−σ+)

= ~χa†aσz + ~χσ+σ−, (3.40)

onde χ = g2/∆. O último termo da Eq.(3.40) pode ser eliminado por meio de umatransformação unitaria, U = exp(iχtσ+σ−), já que, este termo carreia somente uma faseadicional à dinâmica do sistema.

Os hamiltonianos efetivos têm grande utilidade na engenharia, de estados tipoEinstein-Poldolsky-Rosen (EPR) (14), de estados de dois átomos maximamente emara-nhados. (58) Além do mais, esse protocolo foi usado também para engenhar um modo nãoestacionario de uma cavidade não ideal, onde mostrou-se que a engenharia deste modo,pode proteger o estado do sistema da decoerência (59), dentre inúmeras outras aplicações.

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423.3. Hamiltonianos Efetivos para interação dispersiva

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43

Capítulo 4

Simulação da Equação de Dirac emEQC

4.1 Introdução

Os efeitos quânticos relativísticos são fundamentais para a compreensão da teoriaquântica relativística, mas são difíceis de observar experimentalmente. Por conseguinte,as simulações dos efeitos quânticos relativísticos têm recebido apreciável atenção nos úl-timos anos. Recentemente (34), simulou-se a equação de Dirac 1+1 D no contexto dearmadilha iônica, usando um sistema constituído de um único íon de massa M dentrode uma armadilha do tipo Paul, onde o íon na armadilha simula matematicamente umapartícula relativística livre (33). Neste modelo, o momento e a posição da partícula rela-tivística correspondem às quadraturas do estado vibracional da armadilha o que foi usadopara demonstrar o Zitterbewegung associado à equação de Dirac.

Motivado pelos trabalhos mencionados acima, neste capítulo demostraremos comosimular o hamiltoniano de Dirac 2+1 D e 1+1 D para uma partícula relativística livre viaEQC. Inicialmente, vamos obter o hamiltoniano associado a Dirac 2+1 D, onde utilizare-mos um sistema atômico interagindo fora de ressonância com dois modos da cavidade equatro campos clássicos. Posteriormente, mostramos como é possível obter o hamiltoni-ano de Dirac 1+1 D a partir do hamiltoniano 2+1 D, e em seguida, analisarmos a validadedas aproximações feitas via cálculo numérico. Finalmente estudamos o efeito relativísticoZitterbewegung no contexto da EQC e discutimos uma forma de simulá-lo.

4.2 Hamiltoniano de Dirac via EQC

O hamiltoniano de Dirac 2+1 D é obtido eliminando-se uma componente espacialda equação de Dirac 3+1 D. Neste caso, as condições entre as matrizes β e αk explicadasno Capitulo. 2, são satisfeitas somente com matrizes 2× 2.

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444.2. Hamiltoniano de Dirac via EQC

Portanto, podemos construir o hamiltoniano de Dirac 2+1 D (H2+1D ) usando a corres-

pondência que existe entre as matrizes α1, α2 e β e as matrizes de Pauli σ1 , σ2 e σ3,respectivamente, obtendo:

H2+1D = mc2σ3 + cp1σ1 + cp2σ2, (4.1)

onde 1, 2 e 3 correspondem a x, y, e z, respectivamente. A expressão (4.1) descrevea dinâmica de uma partícula relativística livre em duas dimensões. Agora, o próximopasso para seguir a nossa discussão é considerar um átomo de quatro níveis no interior deuma cavidade de alto fator de qualidade, onde o átomo é submetido a interações fora deressonância com dois modos da cavidade, de frequências ωa e ωb, e com quatro camposclássicos de frequências ω1, ω2, ω3 e ω4. Com a finalidade de descrever este sistema,usamos a configuração ilustrada na Figura 4.1, onde apresenta-se esquematicamente ainteração átomo-campo. Quando o átomo de quatro níveis interage com os modos dacavidade induzem-se transições de dipolo entre os níveis, |g〉 ↔|i〉 com constantes deacoplamentos λa e λb (escrevemos em todo esse capítulo os parâmetros que dependemdo modo ωa ou do modo ωb, com o subíndice a ou b) e entre os níveis |e〉↔|f〉 , comconstantes de acoplamentos λa e λb. Sendo, |g〉 o estados fundamental, |e〉 o estadoexcitado, |i〉 e |f〉 estados intermediários. Aqui consideramos o regime em que os modosquânticos não são ressonantes com essas transições de dipolo, consequentemente, definimosas dessintonias entre as frequências dos modos e das transições atômicas como: ∆a =

ωa−ωi, ∆a = (ωa + ωe)−ωf , ∆b = ωi−ωb e ∆b = ωf − (ωb + ωe), onde, ωi, ωe e ωf (comωg = 0) são as frequências de transição atômica dos níveis |i〉, |e〉 e |f〉, respectivamente.Conjuntamente com os campos quânticos, os campos clássicos induzem transições dedipolo (não ressonantes) entre os níveis |e〉↔|i〉 e|g〉↔|f〉, com constantes de acoplamentosΩ1 , Ω3 , Ω2 e Ω4 e dessintonias ∆1 = (ω1 + ωe)− ωi, ∆3 = ωi − (ω3 + ωe), ∆2 = ω2 − ωfe ∆4 = ωf − ω4, respectivamente. Por conseguinte, partindo do hamiltoniano total dessesistema, o qual pode ser escrito na aproximação de onda girante, como H2D

T = H0 + V ,onde:

H0 = ~ωaa†a+ ~ωbb†b+ ~ωeσee + ~ωiσii + ~ωfσff , (4.2)

V = ~λaaσig + ~Ω1σiee−iω1t + ~λaaσfe + ~Ω2σfge

−iω2t + ~λbb†σgi+~Ω3σeie

iω3t + ~λbb†σef + ~Ω4σgfeiω4t + h.c. (4.3)

Sendo, H0 o hamiltoniano do campo e do átomo, V o hamiltoniano de interação átomo-campo, σkj ≡ |k〉 〈j| (com k, j = g , e , i, f) são os operadores pseudo-spin os quais

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Capítulo 4. Simulação da Equação de Dirac em EQC 45

Figura 4.1 – Configuração de níveis atômicos necessária para gerar o Hamiltoniano deDirac 2+1 D.

Fonte: Elaborada pelo autor.

descrevem as transições atômicas, a†(a) e b†(b) são os operadores de criação (aniquilação)de fótons dos modos da cavidade. Consequentemente, a partir da obtenção do H2D

T

podemos estudar a dinâmica da interação átomo-campo na representação de interação.Assim que, para obterH2D

T na representação de interação usamos a transformação unitáriaU0 = exp(−iH0t/~), chegando à seguinte expressão:

V (t) = ~λaaσige−i∆at + ~Ω1σiee−i∆1t + ~λaaσfee−i∆at + ~Ω2σfge

−i∆2t + ~λbb†σgie−i∆bt

+~Ω3σeie−i∆3t + ~λbb†σefe−i∆bt + ~Ω4σgfe

−i∆4t + h.c. (4.4)

Por outro lado, como estamos interessados em estudar o regime dispersivo, é ne-cessário assumir que as condições

√nα + 1λα ∆α,

√nα + 1λα ∆α e Ωs ∆s (com

s = 1, 2, 3, 4 e α = a, b), sejam válidas, sendo nα o número médio de fótons. Neste contextocomo o hamiltoniano V (t) tem termos altamente oscilantes, utilizamos um hamiltonianoefetivo H2D

EF de segunda ordem, seguindo o método descrito no Capítulo 3. Em vistadisso, para determinar o hamiltoniano efetivo da Eq.(4.4) utilizamos um hamiltonianocom dependência temporal harmônica e frequências, νn, da seguinte forma:

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464.2. Hamiltoniano de Dirac via EQC

V (t) =N∑n=1

(hne

−iνnt + h†neiνnt), (4.5)

onde hn e h†n são operadores independentes do tempo. Agora, comparando os hamiltoni-anos V (t) e V (t), e usando a relação:

HEF =N∑

m,n=1

1

2~

(1

νm+

1

νn

)[h†m, hn

]ei(νm−νn)t, (4.6)

obtemos:

H2DEF = ~δaa†a(σee + σgg)− ~δbb†b(σee + σgg) + ~

Ω21

∆1

σee + ~Ω2

2

∆2

σgg − ~Ω2

3

∆3

σee − ~Ω2

4

∆4

σgg

+~2δa(a†σgee

−iδat + a†σege−iδat + h.c.

)+~2δb(bσgee

−iδbt − bσege−iδbt + h.c.), (4.7)

onde, ficamos com os termos que cumprem as seguintes condições:(1

∆a

+1

∆1

)λaΩ1 = δa, (4.8)(

1

∆a

+1

∆2

)λaΩ2 = δa, (4.9)(

1

∆b

+1

∆3

)λbΩ3 = δb, (4.10)(

1

∆b

+1

∆4

)λbΩ4 = δb, (4.11)

com, ∆1 − ∆a = ∆2 − ∆a = δa, ∆3 − ∆b = ∆4 − ∆b = δa, δα = λ2α/∆α = λ2

α/∆α,(sendo δα sempre positivos). As condições anteriores nos permite desprezar os efeitos dostermos altamente oscilantes, que em media temporal não contribuem efetivamente paraa dinâmica do sistema (aproximação de onda girante). Portanto na Eq.(4.7), utilizamosaproximação adiabática nos estados intermediários |i〉 e |f〉 , ou seja, impondo-se queestes estados não são populados.

Através do hamiltoniano da Eq.(4.7), podemos obter o hamiltoniano de Dirac 2+1 D.Para visualizarmos e compreendermos melhor tal analogia, usamos as seguintes relações:

σgg =I − σ3

2, (4.12)

σee =I + σ3

2, (4.13)

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Capítulo 4. Simulação da Equação de Dirac em EQC 47

sendo:

σ3 = σee − σgg =

(1 0

0 −1

), (4.14)

I = σee + σgg =

(1 0

0 1

). (4.15)

Substituindo as relações (4.12) e (4.13) na Eq.(4.7), temos:

H2DEF = ~δaa†a− ~δbb†b+ ζ−I + ζ+σ3 +

~2δa(a†σgee

−iδat + a†σege−iδat + h.c.

)+

~2δb(b†σege

iδbt − b†σgeeiδbt + h.c.), (4.16)

onde:ζ± =

~2

Ω2

1

∆1

∓ Ω22

∆2

± Ω24

∆4

− Ω23

∆3

). (4.17)

Por conseguinte, eliminando os termos diagonais:

H = ~δaa†a+ ~δbb†b+ ζ−I, (4.18)

contemplados no hamiltoniano efetivo da Eq.(4.16), por meio da transformação unitária:

H ′2D

EF = eiHt/~H2DEF e

−iHt/~ −H, (4.19)

obtemos o resultado a seguir:

H ′2D

EF = ζ+σ3 +~2δa(a† + a

)(σge + σeg) +

~2δb(b† − b

)(σeg − σge) , (4.20)

logo, usando a transformação unitária U = exp−iπ

2a†atemos:

H ′2D

EF = ζ+σ3 + i~2δa(a† − a

)(σge + σeg) + i2

~2δb(b† − b

)(σge − σeg) . (4.21)

Comparando a Eq.(4.21) com a Eq.(4.1), podemos notar a correspondência entre os se-guintes parâmetros:

mc2 := ζ+, (4.22)

c := Raδa = Rbδb, (4.23)

p1 =i~

2Ra

(a† − a

), (4.24)

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484.2. Hamiltoniano de Dirac via EQC

p2 =i~

2Rb

(b† − b

), (4.25)

σ1 = σge + σeg, (4.26)

σ2 = i (σge − σeg) , (4.27)

onde incorporamos as constantes Rα =√

~/2meωα, para ajustar as unidades dos opera-dores p1 e p2. O hamiltoniano de Dirac de mais baixa dimensão, é obtido eliminando-seum modo da cavidade e dois campos clássicos da Eq.(4.21). Por conseguinte, temos doismétodos para obter hamiltoniano de Dirac 1+1D a partir do sistema anterior. O primeirométodo consiste em desligar ( ver Figura 4.1 ) o modo de frequência ωb e os campos clás-sicos de frequências ω3 e ω4, desta maneira, o novo sistema preparado para a simulaçãoestará conformado por dois campos clássicos (ω1 e ω2), um modo da cavidade (ωa) e qua-tro níveis (|g〉, |e〉, |i〉, |f〉). O segundo método baseia-se em assumir no primeiro métodoque os níveis |g〉 e |e〉 são quase degenerados o que nos permite omitir o nível |f〉.

Nesta seção vamos discutir o segundo método, já que um sistema de três níveis reduzum pouco mais as exigências experimentais. A Figura 4.2 ilustra nosso novo sistema detrês níveis, onde o estado fundamental |g〉 e o excitado |e〉 são acoplados ao estados inter-mediário |i〉 por meio do modo da cavidade, de frequência ωa que possibilita as transiçõesde dipolo |g〉↔|i〉 e |e〉↔|i〉, com constantes de acoplamentos λa e λa, respectivamente.Aqui consideramos novamente o regime em que a frequência do modo da cavidade não éressonante com as frequências de transições atômicas. Portanto, definimos as dessintonias∆a = ωa − ωi e ∆a = (ωa + ωe)− ωi, onde ωi, ωe são as frequências de transição atômicados níveis |i〉, |e〉. Simultaneamente, os dois campos clássicos das frequências, ω1 e ω2 ,induzem transições não ressonantes entre os níveis |e〉 ↔ |i〉 e |g〉 ↔ |i〉 com constantesde acoplamentos Ω1, Ω2, Ω2, Ω1 e dessintonias ∆1 = (ω1 + ωe)− ωi, ∆2 = (ω2 + ωe)− ωi,∆2 = ω2 − ωi, ∆1 = ωi − ω1, respectivamente. Novamente, o primeiro passo para iniciarnosso tratamento consiste em escrever o hamiltoniano total deste sistema, o qual é dadopor H1D

T = H ′0 + V ′ , onde:

H ′0 = ~ωaa†a+ ~ωeσee + ~ωiσii (4.28)

V ′ = ~λaaσig + ~Ω1σiee−iω1t + ~λaaσie + ~Ω2σige

−iω2t

+~Ω1σgieiω1t + ~Ω2σiee

−iω2t + h.c. (4.29)

Os operadores que se encontram nessas expressões estão definidos na seção anterior. Agora

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Capítulo 4. Simulação da Equação de Dirac em EQC 49

Figura 4.2 – Configuração de níveis atômicos, usada para gerar o Hamiltoniano deDirac 1+1 D.

Fonte: Elaborada pelo autor.

H1DT na representação de interação torna-se:

V ′ (t) = ~λaaσige−i∆at + ~Ω1σiee−i∆1t + ~λaaσiee−i∆at + ~Ω2σige

−i∆2t

+~Ω1σgie−i∆1t + ~Ω2σiee

−i∆2t + h.c.. (4.30)

Como a Eq.(4.30) tem termos altamente oscilantes, podemos obter o hamiltoniano efetivopara V ′ (t) no regime dispersivo, no qual consideramos

√na + 1λa ∆a,

√na + 1λa

∆a , Ωm ∆m e Ωm ∆m (com m = 1, 2). Portanto, comparando a Eq.(4.30) com aEq.(4.5) e usando a Eq.(4.6) obtemos:

H1DEF = ~

λ2a

∆a

(a†aσgg − aa†σii

)+ ~

Ω21

∆1

(σee − σii) + ~λ2a

∆a

(a†aσee − aa†σff

)+~

Ω22

∆2

(σee − σff ) + ~Ω2

1

∆1

(σii − σgg) + ~Ω2

2

∆2

(σee − σii)

+~2

(1

∆a

+1

∆1

)λaΩ1

(a†σgee

−iδt + aσegeiδt)

+~2

(1

∆a

+1

∆1

)λaΩ2

(a†σege

−iδt + aσgeeiδt), (4.31)

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504.2. Hamiltoniano de Dirac via EQC

sendo ∆1 − ∆a = δ, ∆2 − ∆a = δ. O hamiltoniano efetivo da Eq.(4.31) foi obtido viaaproximação de onda girante, onde impomos as seguintes condições:(

1

∆a

+1

∆1

)λaΩ1 = δ, (4.32)

(1

∆a

+1

∆2

)λaΩ2 = δ. (4.33)

Em consequência, utilizando aproximação adiabática no estado intermediário, |i〉 e asrelações entre a matriz de Pauli σz e os operadores atômicos, definidas nas Eqs. (4.12),(4.13) e (4.14), é fácil ver que o hamiltoniano da Eq.(4.31) escreve-se como:

H1DEF = ~δa†a+ ζ ′−I + ζ ′+σz +

~2δ(a†σege

−iδt + a†σgee−iδt + h.c.

), (4.34)

onde:

ζ ′± =~2

Ω2

1

∆1

+Ω2

2

∆2

∓ Ω22

∆2

± Ω21

∆1

), (4.35)

e consideramos que:

δ =λ2a

∆a

=λ2a

∆a

. (4.36)

Se aplicamos na Eq.(4.34) as transformações

H ′1D

EF = eiH′t/~H1D

EF e−iH′t/~ −H ′, (4.37)

com:H ′ = ~δa†a+ ζ ′−I, (4.38)

e logo U = exp−iπ

2a†aobtemos:

H ′1D

EF = ζ ′+σ3 + i~2δ(a† − a

)(σge + σeg) . (4.39)

Comparando esta equação com a Eq.(4.1) temos:

c := Raδ, (4.40)

mc2 := ζ ′+, (4.41)

p1 =i~

2Ra

(a† − a

), (4.42)

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Capítulo 4. Simulação da Equação de Dirac em EQC 51

σ1 = (σge + σeg) , (4.43)

σ2 = 0. (4.44)

A interessante analogia das Eqs. (4.21) e (4.39) com a Eq.(4.1), mostra que nossosistema permite manipular e controlar por meio das forças de acoplamentos dos campos,os valores da velocidade da luz e a energia de repouso da partícula relativística livre deDirac simulada. Portanto, a dinâmica de um elétron no formalismo da mecânica quânticarelativística, pode ser simulada usando experimentos em EQC. Não obstante, a simulaçãodos efeitos quânticos relativísticos não demostram a existência deles, mas permite com asmesmas leis quânticas explorar as correspondências e diferenças entre tais sistemas físicos.

4.3 Validade das aproximações

Para analisar via cálculo numérico a validade das aproximações feitas para obter o ha-miltoniano de Dirac 2+1 D comparamos a evolução de um dado estado inicial do nossosistema considerando o hamiltonianos total na representação de interação da Eq. (4.4) e ohamiltoniano efetivo da Eq. (4.21). Portanto, considerando o átomo preparado no estadoinicial |e〉, os modos da cavidade no estado |0, 0〉 ( a e b no vácuo), as forças de acoplamen-tos λα, λα, e Ωs aproximadamente iguais a λ = 105Hz (usaremos esse parâmetro ao longodeste capítulo ) e as dessintonias ∆α ∼ ∆1 ou 3 ∼ 38λ, ∆a ∼ ∆2 ∼ 50λ e ∆b ∼ ∆4 ∼ 75λ,obtemos a Figura 4.3. A Fig.(4.3-a) ilustra a probabilidade do átomo manter-se no nível|e〉 (Pe), de ir para o nível |g〉 (Pg) e a soma das probabilidades P = Pe+Pg versus o tempode interação adimensional gt = 2π. A Fig.(4.3-b) mostra as populações dos estados |0, 0〉(P0,0) e |1, 1〉 (P1,1) versus gt. Através dos gráficos (4.3-a) e (4.3-b) verificamos um casa-mento muito bom entre as curvas obtidas a partir do Hamiltoniano efetivo (4.21) e o semaproximação (4.4). Portanto, o erro devido à aproximações feitas torna-se praticamentedesprezível confirmando que tanto a dinâmica do campo como do átomo do hamiltoniano(4.4) é análoga ao hamiltoniano efetivo (4.21). Desta mesma maneira, examinamos avalidade das aproximações feitas para obter o hamiltoniano de Dirac 1+1 D, comparandoa evolução de um dado estado inicial do nosso sistema considerando o hamiltonianos totalda Eq. (4.29) e o hamiltoniano efetivo da Eq. (4.39), obtemos as Figuras (4.4-a) e (4.4-b). Considerando o sistema átomo-campo preparado no estado inicial |e, 0〉, as forças deacoplamentos com valores aproximados a λ e ∆a ∼ ∆1 ∼ 20λ, ∆a ∼ ∆2 ∼ 80λ, ∆1 ∼ 40λ

e ∆2 ∼ 140λ.Por consequência, de acordo com nossas simulações numéricas a validade das apro-

ximações feitas anteriormente são aceitáveis, já que a dinâmica do átomo e o campo dos

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524.3. Validade das aproximações

hamiltonianos efetivos e os hamiltoniano totais é praticamente igual.

Figura 4.3 – Probabilidades obtidas a partir do Hamiltoniano efetivo (4.21) (curvascontínuas) e do Hamiltoniano sem aproximação (4.4) (curvas pontilhadas).(a) Pe, Pg e P e (b) P0,0, P1,1.

(a)

(b)

Fonte: Elaborada pelo autor.

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Capítulo 4. Simulação da Equação de Dirac em EQC 53

Figura 4.4 – Probabilidades obtidas a partir do Hamiltoniano efetivo (3.39) (curvascontínuas) e do Hamiltoniano sem aproximação (3.29) (curvas pontilha-das). (a) Pe, Pg e P e (b) Populações do estado do campo |0〉 (P0) e |1〉(P1).

(a)

(b)

Fonte: Elaborada pelo autor.

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544.4. Simulação do Zitterbewegung via EQC

4.4 Simulação do Zitterbewegung via EQC

Os hamiltonianos efetivos das Eqs. (4.21) e (4.39) simulam matematicamente o Hamil-toniano de Dirac 2+1 D e 1+1 D em ausência de um potencial externo, respectivamente.Portanto, podemos estudar a dinâmica de uma partícula relativística livre por meio de-les. Nesta seção demostraremos como simular o movimento oscilatório inesperado deuma partícula livre de Dirac (Zitterbewegung) em uma dimensão. Para analisar tal feito,reescrevemos a Eq.(4.39) como:

H1D = ζ+σ3 +Raλ2a

∆a

p1σ1 (4.45)

por conseguinte, a equação de Schrödinger associada à Eq.(4.45) :

H1D |ψ〉 = i~d |ψ〉dt

, (4.46)

exibe a mesma dinâmica da equação de Dirac 1+1 D para uma partícula relativísticalivre, na qual |ψ〉 representa um bispinor. Agora usando o H1D determinamos o operadorvelocidade da partícula relativística livre com a seguinte expressão:

dS1

dt=i

~[H2D, S1] = Ra

λ2a

∆a

σ1, (4.47)

por conseguinte a evolução temporal do operador posição da partícula depende da evoluçãode σ1 na representação de Heisenberg. Além do mais, a relação (4.47) tem dois casosimportantes dependendo do valor da massa da partícula relativística. No caso quando apartícula não tem massa obtemos que σ1 é uma constante de movimento, dessa maneira,a evolução temporal do operador posição da partícula é análoga à evolução temporal daposição de uma partícula livre clássica, consequentemente neste caso não apresenta-se oZitterbewegung. Para o caso quando a partícula é massiva, obtemos que dσ1/dt 6= 0,portanto a evolução temporal do operador posição da partícula fica da seguinte forma(ver Cap.2.4):

S1(t) = S1(0)+

(Ra

λ2a

∆a

)2

p1H−11Dt+

i~2Ra

λ2a

∆a

(σk(0)−Ra

λ2a

∆a

pkH−11D

)H−1

1D

[e−2iH1Dt/~ − 1

].

(4.48)

Esta equação simula o Zitterbewegung com parâmetros típicos de EQC. Se conside-rarmos um estado bispinor |ψ〉 = |ψcampo〉 ⊗ |ψatomo〉, podemos estimar a frequência (ωz)

e amplitude (Az) do zitterbewegung relacionada à média do 〈Sk(t)〉 da seguinte maneira:

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Capítulo 4. Simulação da Equação de Dirac em EQC 55

ωz =2 |〈H1D〉|

~=

2

~

√p2

0

(Ra

λ2a

∆a

)2

+ (ζ+)2, (4.49)

Az =~

2mc

(mc2

〈H1D〉

)2

=~/2

(ζ+Ra

λ2a∆a

)p2

0

(Ra

λ2a∆a

)2

+ (ζ+)2, (4.50)

sendo p0 o autovalor do operador pk. Para um elétron relativístico real, os valores dafrequência e amplitude deste efeito relativístico são ωz ∼ 1021Hz e Az ∼ 10−3A, respec-tivamente, por esse motivo, o Zitterbewegung é um efeito que está fora do atual alcanceexperimental. Em vista da flexibilidade do nosso sistema, são aceitos valores de frequênciae amplitude de oscilação que estão no intervalo ωz ∼ (0 − 103)Hz e Az ∼ (0 − 104)A,com Ra ∼ µm, os quais permitem um ganho comparados aos valores aceitados no sistemaproposto na referência (33), que estão no intervalo ωz ∼ (0− 106)Hz e Az ∼ (0− 103)A.

Uma maneira interessante de ilustrar o Zitterbewegung é plotar o gráfico relacionadocom 〈Sk〉 versus o tempo de interação t, para diferentes valores de massa da partícularelativística livre. Para gerar o gráfico 〈S1〉 versus t via cálculo numérico consideramosa correspondência que existe entre 〈s1〉 e a quadratura do campo Ra

⟨a†1 + a1

⟩de nosso

sistema, onde mudamos o parâmetro ζ ′+ através da variação das forças de acoplamento,Ω1, Ω2, Ω1 e Ω2 no intervalo (104− 105)Hz. Além do mais, usamos ∆a = 20λ e λa = λ/2

o qual corresponde à simulação da velocidade da luz c = 1.25RakHz (usada para todas ascurvas). A medida do valor 〈S1〉 é ilustrada na Figura (4.5), para a partícula inicialmentepreparada no estado |0〉 ⊗ |e+ g〉 /

√2. Nesta Figura a curva linear azul representa um

partícula sem massa movendo-se na velocidade da luz, a qual é simulada em nosso sistemaquando m = ζ ′+/(Ra

λ2a∆a

)2 ∼ 10−35kg. As outra curvas representam o acréscimo de massada particula, com comprimento de Compton Λ = hRaλa/ζ

′+∆a.

O que nos demostra que o Zitterbewegung pode-se simular usando parâmetros típi-cos em experimentos de EQC. Agora para estudar esse efeito neste contexto, é necessáriomedir experimentalmente a média da quadratura do campo eletromagnético

⟨a†1 + a1

⟩.

Uma proposta por Solano et al. (60) mostra que é passível obter informação das quadra-turas do campo através dos estados eletrônicos de um átomo que interage com esse campoem uma cavidade. Com isso, é possível coletar as informações relacionados ao

⟨a†1 + a1

⟩para plotar o gráfico ilustrada na Figura (4.5).

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564.4. Simulação do Zitterbewegung via EQC

Figura 4.5 – Valor esperado,〈S1〉, para uma partícula relativística com diferentes mas-sas. A curva linear azul representa um partícula sem massa movendo-se navelocidade da luz. As outras curvas representam partículas massivas comΛ1 = 3.11Ra, Λ2 = 0.99Ra, Λ3 = 0.57Ra e Λ4 = 0.30Ra, respetivamente:

Elaborada pelo autor.

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57

Capítulo 5

Conclusão

Nesta dissertação abordamos alguns dos pontos de contato entre a EletrodinâmicaQuântica de Cavidades (EQC) e a Mecânica Quântica Relativística, estudando a chamadaSimulação Quântica. Realizamos um estudo de dois sistemas específicos: um átomo dequatro níveis submetido a interações fora de ressonância com dois modos da cavidade ecom quatro campos clássico; e um átomo de três níveis interagindo fora de ressonânciacom um modo da cavidade e com dois campos clássico. Nesses dois sistemas, partimos daengenharia de hamiltonianos no contexto específico em que as interações átomo-campoocorrem no regime dispersivo. Obtidos os hamiltonianos efetivos desejados, em regimeparticulares dos parâmetros envolvidos, passamos a compará-los com os hamiltonianos deDirac 2+1 D e 1+1 D. Concluímos que é possível simular no contexto de EQC a equaçãode Dirac 2+1 D e 1+1 D, já que os hamiltonianos efetivos apresemtam a mesma descriçãomatemática dos hamiltonianos de Dirac 2+1 D e 1+1D.

Além disso, simulamos o efeito zitterbewegung em uma dimensão manipulando comparâmetros típicos em EQC, os valores da velocidade da luz e a energia de repouso dapartícula relativística livre simulada. Neste contexto mostramos que a amplitude e afrequência de oscilação da partícula simulada têm valores que são mais acessíveis experi-mentalmente que os valores da frequência e amplitude de oscilação deste efeito relativís-tico real cumpriendo com o objetivo da simulação quântica o qual é simular um sistemaquântico de difícil acesso experimental através de outro com significativo grau de con-trole. consequentemente, concluímos que a dinâmica de um elétron livre no formalismoda mecânica quântica relativística, pode ser simulada usando experimentos em EQC.

Claramente, este trabalho não aborda todos aspectos da conexão entre a EQC ea Mecânica Quântica Relativística, de forma que algumas das perspectivas futuras dessetrabalho situam-se em estudá-la

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58

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