ÂNGELA VIEIRA- Coordenadora de Educação IDAAM-POSGRADO

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1 ÂNGELA VIEIRA- Coordenadora de Educação IDAAM-POSGRADO Prof. Mestra em Educação e Psicóloga- CRP 0687- 20ª região. TRABALHO DE CONCLUSAO DE CURSO – TCC CURSO: DOCENCIA DO ENSINO SUPERIOR ALUNO: SUANNY MARTINS DE LIMA TURMA:DC74A ANO: 2018 TEMA: PLANO DE ENSINO E APOSTILA TEMATICA

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ÂNGELA VIEIRA- Coordenadora de Educação IDAAM-POSGRADO

Prof. Mestra em Educação e Psicóloga- CRP 0687- 20ª região.

TRABALHO DE CONCLUSAO DE CURSO – TCC

CURSO: DOCENCIA DO ENSINO SUPERIOR

ALUNO: SUANNY MARTINS DE LIMA

TURMA:DC74A

ANO: 2018

TEMA: PLANO DE ENSINO E APOSTILA TEMATICA

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COORDENAÇAO DE EDUCAÇÃO. PROJETO BÁSICO PARA TCC.

ALUNO: SUANNY MARTINS DE LIMA TURMA: DC74A ANO: 2018

SUMÁRIO PAG

INTRODUÇÃO...................................................................................................................01

1. O QUE É PLANO DE ENSINO.....................................................................................02

2. A IMPORÂNCIA DO PLANO DE ENSINO...................................................................03

3. PLANO DE ENSINO.....................................................................................................04

4. APOSTILA

4.1. MÓDULO I - COMUNIDADES TRIBAIS: A EDUCAÇÃO DIFUSA..........................09

4.2. MÓDULO II - ANTIGUIDADE ORIENTAL: A EDUCAÇÃO TRADICIONALISTA..23

4.3. MÓDULO III - ANTIGUIDADE GREGA: A PAIDEIA..............................................40

4.4. MÓDULO IV - ANTIGUIDADE ROMANA: A HUMANITAS...................................54

5. BIBLIOGRAFIAS UTILIZADAS....................................................................................70

5.1. TERRA, Márcia de Lima Elias. História da Educação/Biblioteca Universitária

Pearson. - São Paulo. Pearson Education do Brasil, 2014

5.2. ARANHA, Maria Lúcia de A. História da educação e da Pedagogia Geral e

Brasil. 3 Ed. São Paulo: Moderna, 2006.

6. CONCLUSÃO................................................................................................................74

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INTRODUÇÃO Quando falamos em passos fundamentais da Pedagogia Tradicional,

estamos nos referindo principalmente à ideia de se dar uma ordem ao processo de ensino, dando uma cronologia de passos didáticos. Neste processo o professor ocupava o centro das atenções e dele saíam os conteúdos, incluindo o modo pelo qual o aluno seria avaliado. Além disso, esperava-se que a escola fornecesse, de série a série, em conteúdos organizados por disciplinas, os assuntos que pudessem ser úteis à pessoa, ao longo de sua vida. Já no tocante as matérias, a escola foi organizada por disciplinas estanques e cada professor cuidava de uma matéria, sem se preocupar com o trabalho dos professores que lecionavam outras matérias.

Em forte oposição ao modelo de educação patrocinado pela Pedagogia Tradicional, surgia a pedagogia da nova Escola, que pregava 5 passos fundamentais: (1) atividade; (2) problema; (3) dados; (4) hipótese; (5) experimentação. A metodologia e motivação eram as principais. Assim o papel de professor deixaria de ser centralizador, agora seriam os alunos, fatalmente deveriam surgir as dúvidas, as questões, as curiosidades (problema). Para resolver os problemas surgidos, alunos e professor deveriam recorrer à pesquisa (coleta de dados), procurando material nas bibliotecas etc. Por fim, alunos e professor formulariam possíveis soluções para o problema (hipótese). O último passo consistiria na comprovação das hipóteses através da experimentação.

Vivemos em tempos de profundas mudanças na nossa sociedade, onde os desafios de ser educador são cada vez maiores. O papel do educador necessariamente tem que se adequar à nova realidade, o professor/ educador, tem de ir além de apenas e tão somente transmitir conteúdo.

No atual contexto, não existe uma única forma estabelecida, um padrão pré-determinado. O êxito do educador moderno está amarrado muito à personalidade, competência, facilidade de aproximar e gerenciar pessoas e situações cada vez mais diversificadas. Um dos pontos que determinam o sucesso profissional maior ou menor do educador é a capacidade principalmente de: Se relacionar, se comunicar e se motivar

A prática de educar moderna vai aos poucos assumindo novas configurações, o professor assume multe-papéis, além de transmitir conhecimento, cabe ao novo educador formar o cidadão, ser psicólogo, conselheiro, amigo, parceiro, orientador.

Principalmente ser educador é saber se reinventar, cultivar o interesse dos alunos. Para isso a formação precisa ser continua, o educador moderno precisa ter um perfil de inquietação, interação e constante renovação da prática docente.

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O QUE É O PLANO DE ENSINO? É o instrumento de organização das disciplinas de graduação constantes na

estrutura curricular de cada curso. O Plano de Ensino deve ser elaborado em

consonância com a ementa da disciplina e o perfil do profissional definido no

Projeto Pedagógico do Curso. É elaborado pelo docente responsável pela

disciplina, apresentado em formulário próprio.

Contém os seguintes dados: 1. IDENTIFICAÇÃO DA DISCIPLINA: código, nome, número de créditos e

carga horária.

2. CURSO: curso (s) para o (s) qual (is) a disciplina é oferecida.

3. PROFESSOR responsável pela disciplina.

4. OBJETIVO: descrição da contribuição da disciplina para a formação do

discente.

5. Ementa: descrição sumária do conteúdo a ser desenvolvido na disciplina

a qual consta no Projeto Político Pedagógico do Curso.

6. Conteúdo Programático e Avaliações: consiste na relação dos

conhecimentos selecionados para serem trabalhados na disciplina. Estes

conhecimentos deverão ser apresentados sob forma de tópicos com a

respectiva carga horária e, na medida do possível, em itens e respectivos

subitens, e outras subdivisões porventura existentes, de modo que

definam, necessariamente, o grau de aprofundamento levado a efeito na

disciplina. O conteúdo programático da disciplina deve guardar

necessariamente relação com sua ementa, pois esta representa uma

visão global do programa. Devem ser incluídas nesse item as visitas

técnicas, atividades de campo e as formas de avaliação da disciplina.

7. Bibliografia: deve ser indicada a bibliografia necessária para a

disciplina.

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A IMPORTÂNCIA DO PLANO DE ENSINO O que é importante no plano de ensino são resultados que se obtém,

orientam o aluno e ótima ferramenta para se alcançar metas e valores mais

amplos que a escola procura atingir, definida a partir de uma fundamentação

teórica, logo a elaboração de um plano exige tomada de decisão, postura, com

isso um plano não é neutro.

A base para a aquisição de informações, conceitos, princípios e

desenvolvimento de habilidades e atitudes nos alunos, por meio dos conteúdos,

são adquiridos. A seleção de conteúdos deve basear-se nos critérios de

validade, utilidade, significação, adequação a determinado tempo histórico,

considerando o desenvolvimento do aluno. Deve ser dada ao aluno, a

possibilidade de elaboração pessoal dos conteúdos trabalhados, permitindo-lhe

comparar, organizar, aplicar e avaliar as informações, conceitos e princípios em

um processo constante de elaboração e reelaboração do conhecimento.

O plano utilizado pelo professor é para facilitar o processo de

conhecimento do aluno. A metodologia de ensino é o conjunto de procedimentos

didáticos organizados para mediar à aprendizagem dos alunos, visando à

consecução de objetivos propostos. Então, não são apenas uma coletânea de

técnicas isoladas, envolvem o desenvolvimento de uma atividade.

Vale ressaltar que o plano de ensino se identifica com o plano de unidade

que representa as partes da totalidade mantendo a coerência da proposta e o

plano de aula que especifica a prática do cotidiano, a dinâmica da sala de aula

e da interação e articulação entre professor e aluno. O professor tem a liberdade

de trabalhar com plano de aula ou unidade desde que mantenha coerência com

o plano de ensino.

Entende-se que a organização do trabalho do professor é extremamente

necessária para que ele articule as ideias e estabeleça mecanismos

relacionando o conteúdo da disciplina ao contexto do mundo do trabalho, a partir

da leitura do contexto sócio, político e econômico.

O planejamento é muito importante para o professor dialogar com a

coordenação pedagógica do curso, para efetivar os momentos de reflexão,

selecionar os conteúdos que melhor atendam às necessidades e interesses dos

alunos, incrementando seu plano e consequentemente sua aula.

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PLANO DE ENSINO

CURSO PEDAGOGIA

DISCIPLINA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

PROFESSORA SUANNY MARTINS DE L. CARDOSO

Nº DE CRÉDITOS 04

CARGA HORÁRIA 80 HORAS

MARCO PRESENCIAL

PERFIL DO EGRESSO

Refletir sobre a origem da educação e a construção dos saberes, nas suas dimensões históricas e pedagógicas, visando à compreensão desde o surgimento da escrita até o desenvolvimento de processos pedagógicos.

Formular hipóteses e realizar pesquisas relacionadas as habilidades de selecionar, organizar, comparar, analisar, correlacionar dados e informações historiográficas, bem como comunicar dados e conclusões com clareza, ordem e precisão cientifica, oralmente e/ ou por escrito.

Estabelecer relações, em diferentes períodos históricos, entre os fundamentos da educação com ferramenta para a dominação de povos e culturas.

CONTEXTUALIZAÇÃO DA DISCIPLINA

A Disciplina de História da Educação tem por finalidade proporcionara compreensão investigativa de como a construção dos saberes surgiu e mostra a evidências de fundamentos que pode ser usada para a manutenção do poder e das relações de dominação social.

Sendo de vital importância que o universitário rompa paradigma (modelo de dominação social), e promova em sua prática docente uma investigação que liga os tempos e proporcionando na vida de seus alunos uma construção de novos saberes, formando assim cidadãos críticos e conscientes de seu papel social.

EMENTA

I. As características das comunidades “primitivas” e a formação dos primeiros tipos de modelo educacionais, surgidos na humanidade e a educação difusa;

II. O sistema educacional nas primeiras sociedades letradas e os povos que a constituíram;

III. Início da magnífica civilização da Grécia Clássica e sua influência nas sociedades ocidentais até hoje e o porquê o pensamento de filósofos moldou a cultura, a começar pelos romanos;

IV. A expansão do Império Romano, a difusão da língua latina e seus costumes que influenciou toda a civilização.

MARCO OPERACIONAL OBJETIVO GERAL

DA DISCIPLINA Conhecer a história da educação como papel

fundamental e construir interpretações sobre as formas como

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os povos transmitem sua cultura, criam instituições escolares e teorias que as orientam.

Conduzindo o educador consciente a compreender as ideias e os modos de aprender e ensinar da humanidade e dessa forma compreender sua história e transformar a educação em democrática e de qualidade.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA

DISCIPLINA

Apontar elementos para a compreensão do processo de formação da educação nas sociedades sem escrita;

Identificar o processo de formação do sistema ocidental cristão de educação;

Analisar a tradição greco-romana como uma das raízes da educação ocidental;

Avaliar diferentes formas de educação antes da invenção da imprensa.

MÉTODOS

Busca-se atuar de forma a oportunizar a expressão individual e coletiva nos diversos momentos de desenvolvimento da disciplina. Serão realizadas atividades variadas, como: aula expositiva e dialogada, com efetiva participação da turma; pesquisa bibliográfica e de campo, individual e/ou em grupo; exposição de conteúdo ou resultado de pesquisa pelo discente e/ou grupo, com discussão ao final; leituras precedentes às exposições do conteúdo a ser trabalhado, para fundamentação nas intervenções; apresentação de documentário pertinente à matéria e indicado pelo professor ou pela própria turma, seguido de levantamento de pontos relevantes para o entendimento e esclarecimento do conteúdo; avaliação do processo; confecção de materiais didáticos objetivando adequar e facilitar o entendimento do conteúdo trabalhado.

RECURSOS Bibliografia específica, quadro de escrever, apagador, pincel, retroprojetor, projetor multimídia, DVD, TV, cartazes, textos complementares.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

UNID. ASSUNTO

I

UNIDADE I: Comunidades Tribais: A Educação Difusa

1. As Sociedades Ágrafas 2. A Educação Difusa 3. Os Papeis Educacionais 4. Resumo da Unidade

Autoatividade

II

UNIDADE II: Antiguidade Oriental: A Educação Tradicionalista

1. As Sociedades do Antigo Oriente 2. A Educação Tradicionalista 3. A Invenção da Escrita 4. Resumo da Unidade

Autoatividade

III UNIDADE III: Antiguidade Grega: A Paideia 1. Contexto Histórico

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2. A Formação Integral: A Paideia 3. A Educação Grega 4. Resumo da Unidade

Autoatividade

IV

UNIDADE IV: Antiguidade Romana: A Humanitas 1. Primeiros Tempos 2. O Que é Humanitas 3. Características Gerais 4. Resumo da Unidade

Autoatividade

AVALIAÇÃO a) PARCIAL 1- b) AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL 1 – c) PARCIAL 2 – d) AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL 2 –

REFERÊNCIAS BÁSICAS

• TERRA, Márcia de Lima Elias. História da Educação/Biblioteca Universitária Pearson. - São Paulo. Pearson Education do Brasil, 2014.

• ARANHA, Maria Lúcia de A. História da educação e da Pedagogia Geral e Brasil. 3 Ed. São Paulo: Moderna, 2006.

REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES

• CAMBI, Franco. História da Pedagogia. Trad. de Álvaro Lorencini. São Paulo: Ed. da UNESP, 1999.

• MANACORDA, Mario Alighiero. História da Educação. Da antiguidade aos nossos dias. 3 ed. São Paulo. Cortez. 2010.

FONTES DA INTERNET

• http://he-linhadotempo.blogspot.com • http://he-linhadotempo.blogspot.com • https://cpantiguidade.wordpress.com • http://www.pedagogia.com.br • http://www.pedagogia.com.br • http://www.educ.fc.ul.pt • https://www.megacurioso.com.br

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INTRODUÇÃO

Nesta apostila, entraremos em contato com a formação dos primeiros

tipos de modelos educacionais surgidos na humanidade. A educação tribal pode

ser denominada também como educação difusa, pois nela não está presente a

figurada instituição escolar.

Também analisaremos a presença da educação e o seu

desenvolvimento nas primeiras sociedades letradas da história humana, como

os mesopotâmicos, egípcios, hebreus, fenícios e persas. Seguindo a cronologia,

iniciaremos nossa narrativa contemplando a presença da educação nas

sociedades ágrafas.

Contemplaremos algumas das principais questões sobre a formação

da sociedade grega e romana. Vamos compreender a influência cultural que a

antiga Grécia exerceu sobre o Império Romano, assim como as especificidades

culturais destas duas distintas civilizações.

Estas questões são importantes para a compreensão da educação na

sociedade ocidental. O importante historiador francês Fernand Braudel afirmava

que o Ocidente possui uma dupla raiz cultural: judaico-cristã e greco-romana.

Deste modo, entendendo a importância do tema, abordaremos um

breve resumo histórico do mundo greco-romano, as questões da filosofia grega

e as instituições sociais responsáveis pela educação no universo cultural greco-

romano.

Bom estudo!

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Comunidades Tribais: A Educação Difusa

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir desta unidade, você será capaz de:

• A formação dos primeiros tipos de modelos educacionais surgidos na

humanidade;

• Educação difusa, pois nela não está presente a figurada instituição

escolar;

• Presença da educação e o seu desenvolvimento nas primeiras

sociedades letradas da história humana;

PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em quatro tópicos, para facilitar a

compreensão das temáticas abordadas. Ao final da unidade existe atividade que

facilitará a compreensão dos temas históricos abordados.

TÓPICO 1 –AS SOCIEDADES ÁGRAFAS

TÓPICO 2 –A EDUCAÇÃO DIFUSA

TÓPICO 3 –OS PAPEIS EDUCACINAIS

TÓPICO 4–RESUMO DA UNIDADE

UNIDADE 01

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1. AS SOCIEDADES ÁGRAFAS Podemos compreender por sociedades ágrafas as comunidades

humanas que não possuem formas de escrita. Em geral, uma visão linear da

história classifica que o homem “entra na história” deixando a pré-história após

o desenvolvimento da capacidade de escrita. Porém, não temos como, em pleno

século XXI, continuará reproduzir uma visão tão estreita das sociedades

humanas, pois até na atualidade existem grupos humanos, com formas de

organização social complexas, que não possuem a escrita como forma de

mediação de conhecimento e memória.

Assim, vamos contemplar um pouco das sociedades ágrafas. Não é

pela ausência da escrita que as sociedades teriam uma ausência de funções

sociais, além de uma preocupação educacional constante por parte das

lideranças grupais. Em geral, as sociedades ágrafas são estudadas por

diferentes profissionais das ciências humanas e naturais. Quando se trata do

estudo das sociedades sem escrita que já desapareceram há milhares de anos,

seu estudo fica a cargo de arqueólogos. Quando se trata do estudo de

sociedades contemporâneas, seu estudo fica a cargo dos antropólogos e, por

vezes, sociólogos e historiadores.

Os arqueólogos são profissionais que estudam os vestígios fósseis de

civilizações pré-históricas, ou de civilizações perdidas há milhares de anos.

Portanto, seu trabalho se realiza nos denominados sítios arqueológicos, nos

quais são encontrados os restos de cultura material de alguma civilização

pretérita (BRAIDWOOD, 1988). Os paleontólogos estudam os fósseis da vida na

Terra, não obrigatoriamente vinculados aos seres humanos. O seu método

analítico é plural, devido aos diferentes tipos de fósseis que o paleontólogo

analisa: de animais invertebrados, de vertebrados, de plantas, entre outras

possibilidades de vida humana fossilizada.

Os antropólogos, por sua vez, utilizam uma metodologia de trabalho

completamente diferente dos arqueólogos e paleontólogos. Os antropólogos em

geral realizam o denominado trabalho de campo. Isto é, passam meses em uma

tribo, buscando compreender sua língua e seu modo de funcionamento,

anotando suas observações em um diário de campo. Posteriormente, realizam

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o relato etnográfico, no qual apontam as características da população por eles

analisada.

Em grande parte, são com base nos diferentes dados disponibilizados

pelos antropólogos, arqueólogos, paleontólogos e demais profissionais das

ciências humanas, que iremos realizar a caracterização das sociedades ágrafas

na presente unidade deste caderno de estudos. Um primeiro e importante dado

a pensa ré que, mesmo estando vivendo em um período da história do mundo

no qual temos acesso a diversos mecanismos tecnológicos para a comunicação

entre as pessoas, passando pela televisão e o rádio, chegando aos

computadores e telefones celulares, hoje, no momento em que estamos lendo

este texto, existem milhares de pessoas vivendo em formas de organização

social na qual não existem estas mediações tecnológicas, e a vida segue em um

contato direto com a natureza. Estas populações, em geral, não possuem escrita

formal. Assim, contemplaremos algumas destas sociedades. FONTE: Disponível em: <https://umaincertaantropologia.org/tag/indios/> Acesso em 11

jul. 18

As sociedades ágrafas mais próximas aos brasileiros são as

comunidades indígenas. O termo índio provém do euro centrismo dos primeiros

navegadores europeus que atingiram as costas litorâneas do continente

americano e denominaram os nativos índios por acreditarem estar pisando nas

Índias, isto é, na Ásia. As sociedades indígenas têm uma tradição secular na

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América. Em geral, se acredita terem os nativos americanos migrado da Ásia,

atravessando o Estreito de Bering, no extremo norte do continente. Assim como

entre os europeus ocidentais, que têm sua divisão cultural marcada pela origem

dos idiomas (latino, eslavo, saxão, escandinavos), os indígenas da América

também são classificados conforme sua diferente forma de fala. Quatro são os

principais troncos linguísticos dos indígenas americanos: Tupi-guarani,

Arauaque, Jê e Caribe. Isto é, estes quatro troncos linguísticos apontam que

vários grupos têm uma matriz cultural comum, que ganhou maior variedade

devido ao processo de migração pelo continente (OLIVEIRA; FREIRE, 2006).

Uma visão estereotipada dos indígenas aponta como menos

desenvolvidos, andando nus pelas matas, realizando o canibalismo e vivendo

em poligamia, isto é, um homem tendo várias esposas. Tal visão estereotipada

é reforçada pelos manuais didáticos de história, pois estes apresentam apenas

os indígenas de 500 anos passados, quando da vinda dos europeus para a

América. Todavia, deveríamos ter uma relação e visão completamente diferentes

das tribos existentes na atualidade. Se nos últimos 500 anos o homem branco

mudou de forma radical, os indígenas também mudaram.

Até mesmo considerar as tribos indígenas como pertencentes a

sociedades sem escrita pode ser considerado uma visão estereotipada. Desde

o século XVI, parte das línguas nativas passou a ter alguma forma de escrita. No

atual momento da história brasileira, temos alguns indígenas alcançando os

graus universitários, sendo também comum a presença de alfabetizadores

dentre as principais tribos brasileiras. Todavia, apenas por força da tradição,

mantivemos os indígenas brasileiros como exemplos de sociedades ágrafas.

Não apenas as tribos indígenas presentes no Brasil e nos demais

países americanos são exemplos de sociedades sem escrita (com as ressalvas

realizadas no parágrafo anterior). Na África e na Ásia ainda encontramos

algumas formações culturais que não precisaram do desenvolvimento da escrita.

Um dos principais estudiosos da presença indígena na sociedade brasileira foi antropólogo Darcy Ribeiro. Em relação às suas obras, é interessante ler alguns de seus livros, como Os Índios e a Civilização, assim como O Povo Brasileiro e O Processo Civilizatório.

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Podemos citar os aborígines australianos, as populações isoladas das ilhas do

Oceano Pacífico, assim como algumas tribos africanas, com destaque para os

povos pigmeus.

Em geral, denominam-se aborígines os nativos da Austrália, local em

que grande parte das tribos sofreu com o processo de colonização empreendido

pelos ingleses, assim como o preconceito racial marcou a vida de muitos destes

nativos da Oceania durante grande parte da presença europeia na Austrália. Na

atualidade, o governo australiano buscou formas de integrar os aborígines, sem

utilizar da violência como a principal forma de linguagem. Também em pequenas

ilhas do Oceano Pacífico, outras comunidades existem e são formadas por

sociedades sem escrita. Como já afirmado, na África, dentre as populações sem

escrita, uma das mais tradicionais são os pigmeus. Caracterizados pela baixa

estatura, possuem uma forma peculiar de vida.

As sociedades sem escrita possuem algumas características comuns.

Em geral, as trocas econômicas são naturais, isto é, não possui as moedas como

símbolo econômico. Outro importante característica das sociedades ágrafas é a

ausência de uma divisão de classes. Grande parte da divisão do trabalho é

sexual.

Figura 1 FONTE: Disponível em: < http://axa.org.br/o-desafio-do-acesso-de-indigenas-ao-ensino-superior/> Acesso em 11 jul. 18

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Determinadas tarefas cotidianas são destinadas aos homens, e outras

destinadas às mulheres. Questões ligadas à caça e pesca de animais para a

alimentação, assim como a guerra, em geral, são atividades masculinas. Por sua

vez, o preparo do alimento, assim como a coleta de frutos e grãos, são atividades

majoritariamente femininas.

Uma das classificações gerais das sociedades ágrafas é a divisão

entre nômades e sedentários. Não é ausência de casa, mas sim de agricultura,

a principal característica a diferenciar os dois grupos humanos. As sociedades

nômades se caracterizam pala ausência de agricultura, sobrevivendo da coleta

de frutos e raízes. Por sua vez, as comunidades sedentárias são aquelas que

possuem grande produção agrícola e a existência de excedente, o que permite

como consequência, a fixação de residência em um local determinado, por não

existir a necessidade diz migrar para a busca de alimentação (BRAIDWOOD,

1988).

Podemos compreender, a partir desta explicação, que os indígenas

brasileiros têm como principal característica o seminomadismo. Isto porque as

comunidades possuem agricultura, porém, não possuem a figura do excedente.

Com isto, essas comunidades possuem processos migratórios.

Devido a isto, podemos compreender como é complexa a solução encontrada

pelo Estado brasileiro ao longo do século XX, que é a da criação de reservas

indígenas.

A grande pergunta a se responder com relação às sociedades tribais

é a seguinte: por que, mesmo com o grande desenvolvimento tecnológico da

sociedade ocidental, as sociedades tribais continuam a existir em pleno século

XXI?

A principal resposta é a eficiência econômica. Para compreendermos

esta eficiência, devemos analisar a formação das sociedades ágrafas desde o

período pré-histórico. Pois, partindo do pressuposto de que a necessidade

Um dos mais destacados pesquisadores da Pré-história foi o australianoGordon Childe. Suas pesquisas relativas ao período neolítico foram revolucionárias para acompreensão que temos sobre a vida humana, em especial pelos termos criados por ele,como Revolução Neolítica e Revolução Urbana.

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básica da manutenção da vida humana é a alimentação, nós podemos

compreender que a denominada Revolução Agrícola, ocorrida há mais ou menos

10 mil anos, teve como legado uma eficiência na produção de alimentos que se

manteve até o presente.

Por pré-história se compreende o estudo do passado da humanidade,

do surgimento dos homens na Terra até a invenção da escrita. Portanto,

podemos compreender a pré-história como um dos principais períodos da

história humana, porque ele é o mais longo. Todavia, não devemos afirmar, por

exemplo, que os indígenas brasileiros vivem na pré-história, mas sim que

possuem um modo tribal de organização econômica que surgiu na pré-história.

Uma das principais classificações sobre a pré-história é a divisão

tripartite do período em paleolítico, mesolítico e neolítico. O paleolítico, período

mais antigo, se caracteriza pelo período no qual os homens eram nômades. Por

sua vez, o mesolítico é um período intermediário, que desemboca no neolítico,

que tem como principal característica o processo de sedentarização. De modo

esquemático, podemos compreender estes três períodos como:

Paleolítico: Período anterior ao domínio do fogo.

Mesolítico: Período no qual o homem conseguiu dominar o fogo.

Neolítico: Período da Revolução Agrícola.

A principal revolução tecnológica vivida durante o período da pré-

história foi o desenvolvimento da agricultura, há aproximadamente 10 mil anos.

Pois, tivemos um início da possibilidade de se utilizar o reino vegetal a favor dos

seres humanos. Por isso, este processo, um dos mais importantes para a história

humana, é denominado de Revolução Agrícola. Esta possibilitou aos seres

humanos uma melhor utilização do meio ambiente. Pois, além de se utilizar a

força dos animais para o desenvolvimento humano, também se passou a utilizar

das sementes, plantas, flores e frutos, para a alimentação, cura de doenças,

além de perfume embelezamento estético nas diferentes sociedades humanas.

Uma das principais transformações sociais que a sedentarização

(possibilitada pela revolução agrícola) vivenciou foi o surgimento do excedente.

Isto é, o surgimento de uma produção de alimentos maior que a necessidade de

consumo do grupo. Assim, surge uma das primeiras preocupações sociais, o diz

ter a capacidade de guardar o excedente de modo a possibilitar a alimentação

da tribo em momentos de intempéries climáticas, como secas. Em função da

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agricultura, sistemas irrigados tiveram de ser criados, visando à utilização

devastas áreas para a produção de alimentos.

Também o excedente gerado pela agricultura teve como um dos

efeitos o aumento da rivalidade entre as tribos, pois uma disputa pelas terras que

apresentavam melhores condições de plantio se tornou uma das principais

ambições dos grupos humanos. O excedente estimulou, nas diferentes

sociedades, uma incipiente divisão do trabalho. Todavia, a divisão era regida

pela forma de organização social, em que se pesava a faixa etária, a

hereditariedade e o gênero. Como já afirmamos, em geral, o papel de caça e

pesca era masculino, assim como a ação de guerreiros nas violentas disputas

tribais. Para as mulheres eram reservadas as funções ligadas à agricultura. As

crianças, por sua vez, eram estimuladas a auxiliar os adultos nas tarefas da tribo

que eram, em geral, divididas conforme o sexo. No entanto, é importante

salientar que existiam funções especiais, como a do líder político (entre os

indígenas comumente denominamos cacique) e os xamãs, os chefes espirituais

das tribos (entre os indígenas, denominados pajés).

Este sistema socioeconômico demonstrou grande eficiência, ao

possibilitara manutenção da vida nos mais diferentes locais do mundo. Dois

pontos são importantes para a compreensão da educação nas sociedades

ágrafas. Um primeiro o da ausência de instituições. Uma segunda questão é a

compreensão mítica do universo. Estes dois elementos explicam o modo difuso

de educação praticado nestas sociedades.

2. A EDUCAÇÃO DIFUSA Uma das principais características das sociedades ágrafas é a

ausência de instituições formais. Esta ausência de instituições pode ser

compreendida segundo a teoria de um importante antropólogo francês da

segunda metade do século XX, Pierre Clastres, autor da relevante tese A

Sociedade Contra o Estado (CLASTRES, 2003).

Segundo a observação deste antropólogo, a figura do chefe

político das tribos indígenas da América do Sul não é tão relevante quanto à

dos chefes de Estado da atualidade. O chefe possuía algumas regalias, como

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a possibilidade da poligamia, porém, as obrigações do chefe guerreiro são

maiores que seus privilégios. Assim, deve o chefe ter grande capacidade

oratória, ao mesmo tempo em que deve demonstrar generosidade com

relação aos demais membros da tribo. O poder é mais aparente do que

eficaz, pois não consegue o chefe impor aos demais membros da tribo

obrigações, como impostos, privação de liberdade ou recrutamento militar

compulsório. Este fato demonstra um maior controle da sociedade sobre os

seus chefes. No Ocidente, por conseguinte, ocorre o contrário, sendo a

principal característica o controle do Estado sobre a sociedade, tendo os

chefes políticos um efetivo controle e poder sobre a população por eles

dominada.

Clastres aponta que o Estado existe nas sociedades ágrafas em

sua forma latente, porém, as formas de controle da sociedade contra o poder

instituído são melhores que as apresentadas pelo Ocidente, no qual o Estado

possuiu um poder maior sobre os indivíduos que nas sociedades tribais.

Deste modo, o poder nas sociedades ágrafas é difuso. Isto é, ele

não se apresentada forma racional e hierarquizada como na sociedade

ocidental. Por isso, o poder permanece difuso. Neste caso, podemos

compreender que em uma sociedade na qual o poder permanece difuso, a

educação é igualmente difusa. Um dos dados importantes para a

compreensão das sociedades ágrafas é a ausência de instituições. Isto é,

não existe nela marinha, exército, igreja, congresso nacional ou poder

judiciário. No que tange às instituições educacionais, estão ausentes

creches, escolas, colégios, universidades e faculdades, porém, podemos

compreender a ausência destas instituições educacionais ela ausência das

primeiras instituições citadas, pois, em grande parte, a educação tem como

principal meta adequar os indivíduos ao meio social. Em um meio social no

qual o poder é difuso, os processos educativos por eles realizados também

são difusos. Em locais nos quais a relação de poder não é institucionalizada,

não existe a necessidade de se institucionalizar o processo educativo.

Mesmo com o pouco grau de institucionalização do processo

educacional nas sociedades analisadas, podemos compreender que não

eram grandes as liberdades dos indivíduos nas sociedades tribais. Isto

porque, em grande parte, podemos observar que as funções sociais são

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19

muito rígidas, marcadas pela idade e sexo do indivíduo. No entanto, a

ausência de liberdade, em geral, se relaciona também à compreensão do

universo, que é de base mítica. Assim, a relação do indivíduo com o seu meio

se caracteriza por uma mentalidade marcadamente vinculada aos mitos

fundadores das tribos.

Os mitos possuem uma função pedagógica fundamental para a

compreensão das sociedades tribais. Eles são uma forma de se passar o

conhecimento dos antepassados, dos ancestrais, para as populações

contemporâneas. Assim, a mitologia tinha uma relação clara com o processo

educacional. Contudo, como podemos relacionar os mitos e suas implicações

educacionais?

Primeiramente, temos que compreender os mitos, e suas diversas

funções: a de estabelecer uma explicação sobre o surgimento dos seres

humanos, sobre a natureza, a contagem do tempo e as condutas individuais.

Com relação ao surgimento do universo, a função dos mitos

possuiu uma clara e fundamental função explicativa. Muitos mitos existem ao

redor do mundo, relacionando o surgimento do planeta a elementos da

natureza, como a água, aterra, ou então, com fábulas relacionadas a

demiurgos, isto é, a deuses criadores.

Assim como para explicar o mundo, os mitos também são

importantes para a compreensão do surgimento dos seres humanos sobre a

Terra. Temos, assim, uma grande quantidade de mitos que apontam a

presença dos seres humanos vinculados à natureza, ou como descendentes

de antigos deuses.

Como principal efeito dos mitos, temos uma visão sacralizada da

natureza. Deste modo, os seres humanos têm uma visão de que a natureza

deve ser preservada em seus principais aspectos, para que se possa ter um

melhor aproveitamento do que ela oferta para o homem. Isto é, a visão

principal das comunidades tribais é ada natureza como uma mãe, que com o

seu seio possibilita a saciedade da fome de seus filhos.

Assim, podemos compreender que a mitologia tem um papel

fundamental no estabelecimento das condutas individuais das pessoas que

vivem nas sociedades tribais, pois o mito, além de impulsionar algumas

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20

ações, também tem a capacidade de limitar as ações individuais e coletivas

que causariam a ruína da coletividade.

O papel de educador cabe a qual indivíduo nas sociedades

ágrafas? O papel de professor é difuso, diluído entre os diversos

personagens sociais que compõem a tribo. Deste modo, podemos pensar no

papel educacional exercido pelos vários membros das comunidades tribais

(ARANHA, 1996).

Podemos afirmar que o

homem primitivo vivenciou

uma educação prática,

levando em consideração

suas necessidades de

sobrevivência (alimentação,

vestuário e abrigo).

Nas sociedades primitivas

não havia uma escola ou

espaço formal de ensino, mas

podemos dizer que já havia a

figura do professor e do aluno

num processo educativo informal.

3. O PAPEL EDUCACIONAL a) Do chefe tribal

Podemos compreender que o chefe tribal possui alguma função

educacional com os mais jovens. Sendo o líder, deveria ser ele um

exemplo de coragem, carisma e astúcia com relação à superação das

dificuldades cotidianas, que poderiam ser causadas tanto pela ação

da natureza, como secas e estiagens, assim como cheias dos rios ou

excesso de chuva, ao mesmo tempo que poderiam ser ocasionadas

pelas ações belicosas de tribos rivais. Assim, ao observar a postura

do chefe tribal, que liderava as ações de caça e guerra, os meninos

Page 21: ÂNGELA VIEIRA- Coordenadora de Educação IDAAM-POSGRADO

21

iam aprendendo sobrea importância das habilidades com arco, flechas

e pedras para a manutenção da tribo enquanto organização social.

b) Das mães e dos pais

Uma figura que possuiu uma posição social diferente com relação à

sociedade judaico-cristã ocidental no tocante ao papel de educar está

na figurados pais e das mães. Em nossa sociedade, cabe a estas

figuras o papel de primeiro educador, porém, nas sociedades tribais, o

principal papel da mãe, o de amamentar, poderia ser compartilhado

com outras mulheres em processo de lactação. Por vezes, o papel que

caberia ao pai, de ser um exemplo de masculinidade para a prole, era

desempenhado pelo líder tribal, que possui, neste tipo de organização

social, em geral, um papel de maior prestígio que o do progenitor.

c) Do xamã

Uma das principais figuras educacionais era desempenhada pelo líder

religioso. Isto porque os líderes religiosos tinham função de grande

destaque nas tribos. Em especial, por serem os principais guardiões

do conhecimento tribal com relação ao universo mítico, como também

com relação à utilização medicinal dos elementos da natureza. Os

xamãs, por sua vez, educavam seu sucessor, escolhido em geral

dentre os meninos mais habilidosos da tribo.

d) Dos homens mais velhos

No lugar do pai, um dos principais vetores de educação entre as

sociedades ágrafas eram os anciãos e as anciãs. As mulheres e os

homens mais velhos possuem uma grande importância para a tribo,

pois a experiência no contato com a natureza permitia a eles uma

grande vantagem na luta cotidiana pela sobrevivência.

Nas sociedades tribais, as crianças tinham uma posição diferente em

comparação com nossa sociedade. Sobre isto, podemos pensar em duas

possibilidades de compreensão. A compreensão utópica e a compreensão

funcionalista. A compreensão utópica aponta que as crianças gozavam de

grande liberdade em sociedades como as tribais ou ágrafas. Isto porque a

ausência de uma instituição disciplinadora, como a escola, garantiria às crianças

um espaço de liberdade que elas não teriam em uma sociedade como a

Page 22: ÂNGELA VIEIRA- Coordenadora de Educação IDAAM-POSGRADO

22

ocidental, na qual grande parte da vida infantil é regrada e disciplinada pela

uniformização de condutas e castração de impulsos com os quais as sociedades

ocidentalizadas tratam a infância.

Tal visão é, em grande parte, uma utopia, uma visão sonhadora da

vida nas comunidades tribais. Os funcionalistas nos lembram que em grande

parte, assim como no Ocidente, as crianças observam uma rígida disciplina,

porém, vinculadas não a trabalhar em indústrias ou repartições governamentais,

mas, sim, em atividades ao ar livre. Muitos rituais que envolvem violência, como

torturas físicas, fazem parte do universo indígena, em especial nos rituais de

passagem que simbolizam o fim da vida infantil e o início da idade adulta. Com

isto, podemos considerar que mais importante que julgar ser boa ou má a forma

como as sociedades ágrafas educam suas crianças, é buscar compreender

como estas sociedades lidam com a infância.

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23

RESUMO Nesta unidade você viu que:

A educação nas sociedades ágrafas é difusa. Isto é, não existe uma instituição

formal que se responsabiliza pela educação, sendo ela responsabilidade de

toda a tribo.

Não podemos ter uma visão evolucionista, desconsiderando a presença de

comunidades culturalmente ágrafas ainda no presente, em várias partes do

mundo.

Nas comunidades tribais as crianças aprendem imitando os gestos dos

adultos nas atividades diárias e nos rituais.

1) Quais as características das sociedades tribais?

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2) Explique a natureza da educação tribal?

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3) Embora a educação dos povos tribais fosse estritamente difusa, ainda hoje ocorre

esse fenômeno, pela educação informal na família, na sociedade e até na escola.

Dê exemplos:

______________________________________________________________________________________________________________________

AUTOATIVIDADE

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24

Antiguidade Oriental: A Educação Tradicionalista

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir desta unidade, você será capaz de:

• Apontar alguns dos inúmeros povos que constituíram a chamada

Antiguidade Oriental;

• Descrever que devido às transações comerciais a invenção do alfabeto

facilitava esse processo;

• Compreender que a invenção da escrita representou um grande avanço

na evolução intelectual do homem e da humanidade;

PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em tópicos, descrevendo como as

sociedades antigas eram ensinadas e de que maneira surgiu a tão importante

escrita. Ao chegar no término desta unidade haverá um exercício que ajudará a

compreensão dos temas abordados.

TÓPICO 1 –AS SOCIEDADES NO ANTIGO ORIENTE

TÓPICO 2 –A EDUCAÇÃO TRADICIONALISTA

TÓPICO 3 –A INVENÇÃO DA ESCRITA

TÓPICO 4–RESUMO DA UNIDADE

UNIDADE 02

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25

1. AS SOCIEDADES DO ANTIGO ORIENTE Por sociedades do antigo Oriente Próximo são denominadas algumas

das civilizações que existiram no denominado Crescente Fértil, terras que hoje

são nomeadas como Oriente Médio e parte do norte da África. Dentre elas,

podemos elencar algumas civilizações, como o antigo Egito, a Mesopotâmia, os

hebreus, os fenícios, além dos persas, que formaram posteriormente aos

babilônicos um dos primeiros impérios da história do mundo. O sistema produtivo

destas sociedades era baseado em uma servidão coletiva, na qual o Estado era

o principal gestor e proprietário das terras. Vamos conhecer um pouco sobre

estas civilizações?

SOCIEDADE EGÍPCIA: a sociedade egípcia é comumente lembrada

como a terradas pirâmides, construídas ao longo dos séculos. Também fazem

parte da memória social do antigo Egito as múmias. Em geral, se tratava dos

corpos dos antigos membros da nobreza, que passavam por este tipo de

processo de manutenção física.

Este se relacionava à religião, que tinha como uma das principais

características a ideia de reencarnação. Assim, os corpos eram mumificados

para novamente retornar à vida. Como se tratava de uma sociedade politeísta,

tinham os egípcios uma organização teocrática, na qual o faraó, líder político

daquela civilização, tinha também responsabilidades religiosas, sendo adorado

como um deus (CARDOSO, 1990).

A base da pirâmide social era composta pelos servos, que

trabalhavam na produção agrícola, bem como nas grandes obras de irrigação,

fundamentais para a manutenção da vida, pois eram as cheias e os vazantes do

rio Nilo que garantiam a fertilidade do solo, fundamental para a produção de

alimentos. Também existia uma camada de burocratas (funcionários públicos),

bem como de militares, escribas e sacerdotes; no topo da pirâmide, a nobreza,

composta pelo faraó e suas famílias. Dentre o principal mito egípcio temos a

contenda entre Set e Horos, bem como a presença de Ísis e Osíris. Os deuses

do panteão egípcio tinham características antropomórficas (humanas),

zoomórficas (culto aos animais), antropozoomórficas (deuses metade humanos

e metade animais).

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SOCIEDADE MESOPOTÂMICA: o termo Mesopotâmia quer dizer

“Terra entre Rios”. Tal nome se deve à importante presença dos rios Tigre e

Eufrates na constituição desta sociedade, marcada pela presença de alguns

povos, como os sumérios, os babilônicos e os caldeus. Os povos que habitavam

a Mesopotâmia possuíam uma religião politeísta, marcada também pela

compreensão mítica das cheias dos rios e do poder civil. A sociedade, assim

como a egípcia, era marcada pela desigualdade social, sendo as relações de

trabalho vinculadas pela servidão (REDE, 2007). Apesar de menos famosa que

o Egito, no tocante à religião, alguns dos mitos e práticas surgidas na

Mesopotâmia deixaram um legado na sociedade ocidental. O horóscopo, prática

até hoje presente, surgiu entre os mesopotâmicos.

Tinham como uma de suas principais características a ideia de poder

adivinhar futuro dos indivíduos com a observação das estrelas. Visando à

observação astronômica, os povos mesopotâmicos criaram enormes torres, que

se chamavam zigurates. Ainda com relação à religião mesopotâmica, podemos

nos lembrar de alguns mitos e deuses. Um dos principais era o deus Marduk.

Entre os mitos, o principal era o mito do dilúvio, uma grande inundação de água,

capaz de destruir a maior parte dos seres humanos.

SOCIEDADE ISRAELITA: outra importante sociedade existente no

antigo Oriente Próximo eram os israelitas. Grupo fundado pelo patriarca Abraão,

que fora chamada por Deus, na cidade mesopotâmica de Ur, habitada pelo povo

caldeu, para formar um povo escolhido. Os israelitas tinham como principal

diferença com relação às demais sociedades do antigo Oriente o monoteísmo,

isto é, a crença em um único Deus.

A história política do povo israelita possuiu várias fases. Uma primeira,

na qual o povo era organizado em tribos. Posteriormente, com Saul, formou-se

uma monarquia, que contou com os famosos reis Davi e Salomão, responsável

pela criação do templo de Deus, denominado pelos israelitas como Jeová

(YAWEH).

Uma divisão política fez com que o povo fosse dividido em dois reinos,

Israel, ao norte, que teve como capital Samaria, e Judá, ao sul, que tinha como

capital Jerusalém. Um dado marcante da história do povo de Israel foi o momento

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em que foram escravizados pelos egípcios, dos quais foram libertos com a

liderança de Moisés, que guiou o povo pelo deserto até Canaã, a terra prometida.

Posteriormente, um segundo período foi caracterizado pelo denominado

Cativeiro Babilônico, no qual Israel foi dizimado, sendo Judá, ao sul, preservada,

mas teve parte de sua população cativa na Babilônia (CARDOSO, 1990).

Posteriormente, também dominados pelo Império Romano, os judeus foram

dispersos pelo mundo em 70D.C., com a denominada Diáspora, na qual a região

de Jerusalém deixou de ser uma área de posse exclusiva dos judeus, tendo

retornado a Jerusalém apenas no século XX, após a Segunda Guerra Mundial.

SOCIEDADE FENÍCIA: dentre os grupos humanos importantes para

a compreensão da dinâmica socioeconômica do mundo da antiguidade, um

destaque foram os fenícios. Grupo humano que se caracterizou pelo comércio

marítimo, tanto ao longo do Mediterrâneo, quanto ao longo do Mar Vermelho. Os

fenícios possuíam uma forma de organização política na qual a presença forte

das cidades, com autonomia, era a principal característica. Assim, algumas das

cidade-estado fenícias tiveram grande destaque, como Sídon, Tiro, Biblos e

Cartago, no norte da África.

Com relação à religião, os fenícios possuíam uma religião politeísta,

na qual alguns deuses possuíam grande destaque no panteão, como Baal, além

de Yam, o deus do mar, de grande destaque em uma sociedade marcada

pelagra de presença de marinheiros. A estrutura social era semelhante às das

demais sociedades asiáticas. Todavia, possuía uma diferença fundamental: a

presença do comércio de longa cabotagem, isto é, de longas distâncias através

da costa, o que permitiu o enriquecimento das principais cidade-estado

vinculadas ao povo fenício. Uma das cidades fenícias, Cartago, chegou a

rivalizar com Roma o domínio do Mediterrâneo. No entanto, com a derrota do

general Aníbal, Cartago acabou sendo dominada pelo Império Romano.

IMPÉRIO PERSA: um dos primeiros impérios surgidos no mundo foi

o Império Persa. Teve como seus mais célebres líderes Sargão e Ciro, o Grande,

conquistador de grande faixa de terra ao longo do Mar Mediterrâneo. Uma das

principais conquistas do Império Persa foi o domínio sobre o antigo Império

Babilônico. A sociedade persa viveu grande apogeu cultural, sendo desenvolvida

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28

pelo povo persa uma das primeiras religiões monoteístas do mundo, o

zoroastrismo. O modelo de sociedade persa entrou em rivalidade com o mundo

grego, sendo um dos mais importantes eventos da história grega as

denominadas Guerras Médicas, nas quais os gregos venceram os persas na

Batalha de Salamina, garantindo o domínio dos gregos no Mar Mediterrâneo

(CARDOSO, 1990).

As sociedades do antigo Oriente Próximo deixaram um grande legado

cultural a todo o mundo. Grande parte das populações, atualmente, segue

religiões como a cristã ou muçulmana, que tiveram como uma das suas

principais bases judaísmo, uma das religiões criadas por um dos povos do antigo

Oriente Próximo, porém, como podemos observar no texto já descrito, ocorreu

um domínio da sociedade greco-romana sobre as civilizações do antigo Oriente

Próximo.

2. A EDUCAÇÃO TRADICIONALISTA Nas sociedades orientais, ao se criarem segmentos privilegiados, a

população, composta por lavradores, comerciantes e artesãos, não tem direitos

políticos nem acesso ao saber da classe dominante. A princípio o conhecimento

da escrita é bastante restrito, devido ao seu caráter sagrado e esotérico. Tem

início, então, o dualismo escolar, que destina um tipo de ensino para o povo e

outro para os filhos dos funcionários. A grande massa é excluída da escola e

restringida à educação familiar informal.

Nas civilizações orientais não havia propostas propriamente

pedagógicas. As preocupações com educação apareceram nos livros sagrados,

que ofereceram regras ideais de conduta e o enquadramento das pessoas nos

rígidos sistemas religiosos e morais.

"(...) As sociedades tradicionalistas, por serem conservadoras,

pretendem perpetuar os costumes e evitar a transgressão das normas (...)".

(ARANHA, 2006, p. 33).

"Enquanto nas sociedades tribais o saber é difuso, acessível a

qualquer membro, nas civilizações orientais, ao se criarem segmentos

privilegiados, a população, composta por lavradores, comerciantes e artesãos,

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29

não tem direitos políticos nem acesso ao saber da classe dominante". (ARANHA,

2006, p.33).

O conhecimento da escrita era restrito devido ao seu caráter sagrado

e esotérico; cresceu a procura pela instrução, mas apenas os filhos dos

privilegiados atingiam os graus superiores.

Assim, surgiu o dualismo escolar; um tipo de ensino para o povo e

outro para os filhos dos funcionários. A grande massa foi excluída da escola e

restringida à educação familiar informal.

EGITO: As escolas atuavam nos templos e em algumas casas e foram

frequentadas por pouco mais de 20 alunos cada uma; predomínio do processo

de memorização; uso constante de castigos.

Escolas de Mênfis, Heliópolis ou Tebas – formaram escribas de

categoria elevada: funcionários administrativos e legais, médicos, engenheiros e

arquitetos.

Conteúdos ensinados eram: Informações práticas, cálculo da ração

das tropas em campanha, número de tijolos necessários para uma construção,

complicados problemas de geometria associados, agrimensura, grande

conhecimento de botânica, zoologia, mineralogia e geografia.

Page 30: ÂNGELA VIEIRA- Coordenadora de Educação IDAAM-POSGRADO

30

"(...) esse volume de informação geralmente não vem acompanhado de questões

teóricas de demonstração, nem de princípios ou leis científicas, o que, diga-se

de passagem, será a grande contribuição do pensamento grego (...)". (ARANHA,

2006, p.46).

Exemplo: os egípcios conheciam as relações entre a hipotenusa e os

catetos de um triângulo retângulo, mas foi o Grego Pitágoras que procedeu à

demonstração desse teorema, no século VI a.C.

MESOPOTÂMIA: O ponto forte da educação na Mesopotâmica era a escrita cuneiforme.

Como em praticamente todas as nações da Antiguidade, a tradição oral existiu

e foi a base da transmissão de todo o conhecimento. Entretanto foi o

desenvolvimento do primeiro sistema prático de escrita nas primeiras cidades

que alavancou a civilização daquela época, refletindo no progresso econômico,

intelectual e cultural do homem.

Destaca-se a cultura da poderosa classe sacerdotal, bem como a

extrema dificuldade que a escrita cuneiforme oferece aos escribas, incumbidos

de ler e copiar os textos religiosos. Por isso o aprendizado é longo, minucioso e

voltado para a preservação dessa língua, que sofreu apenas alterações

insignificantes durante três milênios.

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31

Placa com assentamentos de contabilidade em cuneiforme, 1980 a.C.

O escriba em formação frequentava a escola desde o início da

juventude até a idade adulta. Outro estudo de grande interesse na Mesopotâmia

era o da adivinhação, que consistia em ler a vontade dos deuses e predizer o

futuro, interpretando os augúrios.

Um dos alicerces do ensino na Mesopotâmia era a literatura. Poemas

e um vasto conjunto de obras literárias eram compostos, e recebiam dos escribas

especial atenção. Havia também, um segmento da literatura pautado em

provérbios e ditos populares, além de sua significativa contribuição para o direito:

vários códigos visando ordem e conduta foram criados. O Código de Hammurabi

é um dos conhecidos exemplos.

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32

Não se pode negar a imensa contribuição que a Mesopotâmia, dentre

as várias civilizações antigas, prestou com a invenção da escrita, satisfazendo

uma necessidade de registros já solicitada pelo povo da época. Um caminho

necessário e inevitável. Construíram bibliotecas; tinham amplo conhecimento de

astrologia; não descuidavam das aplicações do conhecimento, assim como os

egípcios; os estudos científicos babilônicos vinham sempre mesclados com

magia e adivinhação.

HEBREUS:

O principal legado que os hebreus deixaram foi no âmbito religioso.

Eles foram os primeiros povos a adotar o monoteísmo, ou seja, a crença em um

único Deus. Também se destacam na literatura, destacando o Antigo

Testamento, que é a primeira parte da Bíblia.

Quanto aos profetas, eles eram os educadores de Israel, inspirados

por Deus e continuadores do espírito de sua mensagem ao “povo eleito”: devem

educar com dureza, castigar e repreender também com violência, já que sua

denúncia é em razão de um retorno ao papel atribuído por Deus a Israel.

A escola em Israel organizava-se em torno da interpretação da Lei dentro da

sinagoga; à qual “era anexa uma escola exegese” que, no período helenístico,

se envolveu em sérios contrastes em torno, justamente, da helenizarão da

cultura hebraica. Aos saduceus (helenizantes) opuseram-se os fariseus

Page 33: ÂNGELA VIEIRA- Coordenadora de Educação IDAAM-POSGRADO

33

(antigregos) que remetiam à letra das Escrituras e à tradição interpretativa,

salvaguardada de modo formalista. Assim, além de centro de oração e de vida

religiosa e civil, a sinagoga se torna também lugar de instrução. A instrução que

se professava era religiosa, voltada tanto para a “palavra” quanto para os

“costumes”. O conteúdo da instrução eram “trechos escolhidos da Torá”, a partir

daqueles usados nos ofícios religiosos cotidianos. Só mais tarde (no século I

d.C.) foi acrescentado o estudo da escrita e da aritmética. Nos séculos

sucessivos, os hebreus da diáspora fixaram-se, em geral, sobre este modelo de

formação (instrução religiosa), atribuindo também a esta o papel de salvar sua

identidade cultural e sua tradição histórica.

FENÍCIOS: A astronomia e a matemática foram áreas nas quais os fenícios

também produziram importantes conhecimentos, principalmente em decorrência

das necessidades da navegação.

Porém, o maior legado fenício foi, sem dúvida, a criação de um

sistema de escrita, formado por 22 letras, que ficou conhecido como alfabeto. Os

fenícios não foram os criadores da escrita, já que antes deles houve os sumérios,

com a escrita cuneiforme, e os egípcios, com os hieróglifos. A especificidade da

escrita fenícia foi a simplificação dos caracteres. Possivelmente o motivo para

adotar o alfabeto estava ligado à organização das atividades comerciais. O

alfabeto fenício foi adotado pelos gregos e pelos romanos, que o aprimoraram,

tornando-se ainda a matriz da nossa escrita atual.

A primeira produção do alfabeto ocorreu em Biblos (um dos centros

da Fenícia), que deu, aliás, nome ao livro (Biblos em grego), pelas indústrias de

papiro que ali se encontravam. Quanto aos processos educativos, são aqueles

típicos das sociedades pré-gregas, influenciados pelos modelos dos grandes

impérios e pelas sociedades sem escrita em que predomina a sacralização dos

saberes e a organização pragmática das técnicas, e tais processos se

desenvolvem, sobretudo na família, no santuário ou nas oficinas artesanais. Os

processos de formação coletiva são confiados ao “bardo”, ao “profeta”, ao

“sábio”, três figuras-guias das comunidades pré-literárias e que desenvolvem

uma ação de transmissão de saberes, de memória histórica e de “educadores

de massa”.

Page 34: ÂNGELA VIEIRA- Coordenadora de Educação IDAAM-POSGRADO

34

PERSAS: A educação persa, pela sua organização e pelo seu espírito, constituiu

um meio termo entre a educação teocrática e tradicionalista do Antigo Oriente e

a educação nacional e humanista dos gregos e romanos.

A educação e a cultura dos persas se basearam num livro sagrado,

semelhante ao dos hindus, o Zend-Avesta, considerado como fundamento de

toda a sabedoria. Há neste livro um alento de moralidade e uma preocupação de

glorificar o trabalho humano que o colocam num plano de espiritualidade superior

ao dos livros sagrados da Índia e do Egito. Talvez seja por isso que a educação

persa se avantajou sobre os demais sistemas educativos orientais.

A sociedade persa sofreu influência dos costumes dos povos

conquistados pelos seus soldados, tais como: assírios, caldeus, lídios, egípcios

e gregos das colônias. Todavia, os costumes dos persas eram simples e sóbrios.

O pai era o chefe absoluto da família; todos deviam prestar-lhe obediência. A

criança era educada no lar dentro de preceitos rígidos e severos. O ideal dessa

educação familiar era a prática da virtude, a saúde do corpo e a preparação para

o serviço do Estado. Heródoto dizia que os persas ensinavam às crianças, três

coisas; "montar a cavalo, atirar ao arco e dizer a verdade". As virtudes cardeais

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35

dos persas eram a obediência, o amor aos pais, a justiça, a coragem, a

temperança, o sentimento de honra e o desejo de ser agradável a Ormuzd.

É provável que a educação tenha sido reservada às classes

superiores. As crianças pobres recebiam uma instrução muito sumária.

Até 7 anos, a criança era educada no seio da família onde aprendia a

praticar as virtudes domésticas: a veracidade, o pudor, o amor e a obediência

aos pais. Aos 7 anos entrava para a escola oficial, cujo regime era de internato.

Aí aprendia a cavalgar, correr, atirar ao arco e outros exercícios guerreiros. A

educação intelectual era constituída apenas da leitura do Zend-Avesta e da

aprendizagem da escrita cuneiforme. O ensino da religião completava essa

instrução rudimentar.

Dos 15 aos 25 anos, a educação se limitava à formação militar. O

jovem recebia o cinto da virilidade e fazia um juramento de seguir a lei de

Zoroastro e de servir o Estado com fidelidade.

Dos 25 aos 50 anos, os persas eram soldados e tomavam parte nas

guerras e expedições.

Aos 50 anos, os mais instruídos se tornavam mestres da juventude.

Eram escolhidos os mais dignos e mais puros, para servirem de exemplo. Estes

mestres eram venerados pelos alunos e considerados Santos após a morte.

Page 36: ÂNGELA VIEIRA- Coordenadora de Educação IDAAM-POSGRADO

36

Os cursos superiores eram monopolizados pelos magos ou

sacerdotes e versavam sobre os livros sagrados e as ciências auxiliares, isto é,

a história, a matemática, a astronomia, a astrologia, a alquimia. Havia um ensino

especial para os filhos dos príncipes, visando prepará-los para o desempenho

de altos cargos da administração.

O aspecto elogiável da educação persa foi a sua preocupação pela

formação moral das novas gerações.

3. A INVENÇÃO DA ESCRITA O desenvolvimento da escrita, como sendo uma representação

simbólica da linguagem falada foi um processo, que foi sendo feito de uma forma

gradual, não era mais que um aglomerado de imagens que ajudavam a criar os

registos visuais das transações comerciais da altura.

Mas, com o passar do tempo, essas imagens foram sendo

simplificadas para a forma de símbolos.

"(...) Costuma-se chamar de pictográfica a escrita que representa

figuras, enquanto em um nível maior de abstração, a escrita ideográfica

representa objetos e ideias. Escritas como os hieróglifos egípcios, os caracteres

cuneiformes da Mesopotâmia e os ideogramas chineses são ideográficas, ainda

quando passaram por etapas anteriores de registros pictográfico, mais presas à

imagem. Já as escritas fonéticas decompõem as palavras em unidades

Page 37: ÂNGELA VIEIRA- Coordenadora de Educação IDAAM-POSGRADO

37

sonoras... A escrita fonética ainda pode ser silábica ou alfabética (...)".

(ARANHA, 2006, p.43).

De acordo com alguns historiadores, a escrita é o que distingue a

sociedade pré-histórica das sociedades históricas. Acredita-se que a escrita

tenha sido inventada na região da Antiga Mesopotâmia, por volta de 3.000 a. C.,

embora outras formas de escrita tenham sido criadas de modo independente em

diferentes regiões do mundo.

Há diversos mitos em relação à criação da escrita. Os povos antigos

deram tanta importância à escrita que chegaram a atribuir sua invenção a um ser

divino ou mítico, o que era muito comum à época. Para os egípcios, por exemplo,

ela teria sido criada pelo deus Thot, enquanto para os chineses o responsável

por sua criação teria sido um funcionário do lendário Imperador Amarelo.

De uma maneira ou de outra, no tempo em que o homem vivia em

pequenas aldeias, ele conseguia guardar na memória o nome de pessoas que

faziam parte de seu grupo, a quem pertenciam cada rebanho, bem como a

quantidade de grãos colhidos por cada família. No entanto, quando os grandes

impérios se formaram, tornou-se muito necessário que houvesse um sistema que

não dependesse propriamente da memória. Além disso, um novo sistema que

preservasse o maior número de informações que interessavam não somente ao

rei, mas também aos súditos. Impostos valores e transações comerciais

passaram a ser registrados. Por isso é que a escrita surgiu, para atender às

novas necessidades desse novo homem.

Tão logo um sistema de escrita tenha surgido, outros assuntos

também começaram a ser registrados, por escrito. Apareceram, assim, os

primeiros livros sagrados, os códigos com as leis, os livros das várias áreas do

conhecimento e as obras literárias. A descoberta da escrita foi tão importante

que os historiadores situam o nascimento da História, tal como se conhece hoje,

a partir desse evento.

A escrita cuneiforme foi muito usada pelos sumérios, um dos povos

da Mesopotâmia. Ela consistia em linhas curvas e retas entalhadas em uma

placa de argila. Alguns signos representavam palavras e outros eram prefixos,

totalizando cerca de 2 mil signos.

Já o ideograma dos chineses formava palavras a partir de

combinações de 10 mil signos.

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38

A hieroglífica egípcia eram sinais pictóricos que reproduziam objetos,

alguns deles representando palavras e outros, sons concretos. Os egípcios

utilizavam cerca de 700 signos diferentes.

"(...) A escrita, no entanto, difundiu-se muito mais no segundo milênio,

por volta de 1500 a.C. (data incerta), quando os fenícios inventaram a escrita

fonética alfabética, ou a aperfeiçoaram, não se sabe bem. O termo alfabeto,

inicialmente formado pelas primeiras letras fenícias Aleph e bet, é composto das

letras gregas alpha (α) e beta (β). Os 22 sinais permitem as mais diferentes

combinações, tornando bem mais práticos o uso e a aprendizagem da

escrita(...)". (ARANHA, 2006, p.43).

A invenção da escrita na Roma Antiga, em particular o alfabeto

romano, havia somente letras maiúsculas. Mas, na época em que começaram a

ser escritas em pergaminhos, com a ajuda de hastes de bambu ou de penas de

pato, ou até de outras aves, aconteceu uma modificação da sua forma original

e, posteriormente, acabou-se por criar um estilo de escrita chamada de uncial.

Este novo estilo, que durou até ao século VII, foi usado nas escrituras da Bíblia,

que ainda hoje se diz que foram lindamente escritas.

Na Alta Idade Média, no século VIII, Alcuíno, um monge inglês, criou

um estilo de alfabeto, atendendo ao pedido do imperador de então, Carlos

Magno. Mas, este novo estilo continha letras maiúsculas e minúsculas.

Assim, há medida que o tempo foi passando, esta forma de escrita,

passou por várias modificações, tornando-se mais complexa para a leitura. Mas,

chegados ao século VIIII, alguns dos eruditos italianos de então, que se sentiram

incomodados com este novo estilo, resolveram criar um estilo de escrita.

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RESUMO

Nesta unidade você viu que:

A educação tradicionalista e conservadora tinha um cunho religioso e

sagrado, onde era ensinado nos lares, templos e espaços de ensino.

A primeira possibilidade de expressão escrita da humidade foi inventada na

Mesopotâmia, e tem o nome de escrita cuneiforme.

As principais sociedades da antiguidade oriental, que já possuíam uma cultura

letrada, foram os egípcios, mesopotâmicos, hebreus, fenícios e persas.

1. Fale um pouco sobre cada sociedade citada do antigo oriente? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. Relacione caráter religioso das primeiras sociedades e o tradicionalismo? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. Podemos dizer que a invenção da escrita foi uma grande conquista da humanidade. Por que?

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

AUTOATIVIDADE

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Antiguidade Grega: A Paideia

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir desta unidade, você será capaz de:

• Identificar a influência cultural que antiga Grécia exerceu sobre o

ocidente;

• Distinguir as especificações culturais e sociais dessa distinta civilização;

• Compreender a importância das instituições sociais responsáveis pela

educação na Grécia;

PLANO DE ESTUDOS A unidade 3 deste caderno está dividida em três tópicos de conteúdo.

Ao longo de cada um você encontrará resumos e atividades de fixação dos

conteúdos estudados.

TÓPICO 1 –CONTEXTO HISTÓRICO

TÓPICO 2 –A PAIDEIA

TÓPICO 3 –A PEDAGOGIA GREGA E SEUS PENSADORES

TÓPICO 4–RESUMO DA UNIDADE

UNIDADE 03

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1. CONTEXTO HISTÓRICO A Grécia antiga foi uma civilização surgida na denominada Península

do Peloponeso, que possui o istmo de Corinto, banhada pelo Mar Egeu, que

compõe o Mar Mediterrâneo. Sua história é didaticamente dividida em cinco

grandes períodos: Pré-Homérico, Homérico, Arcaico Clássico e Helenístico. Os

períodos têm grande relação com os escritos de Homero, autor de obras

clássicas da antiguidade, como a Ilíada e a Odisseia, em que são relatadas

histórias fabulosas, como a do cavalo de Troia.

A Península no Peloponeso foi habitada por populações denominadas

aqueus, jônios, dórios e eólios. Populações estas que estão na origem do povo

grego, que na antiguidade se organizava em cidade-estado, isto é, cidades que

possuíam autonomia administrativa. Dentre estas unidades político-

administrativas, duas se destacaram e organizaram dois tipos antagônicos de

sociedade: Atenas e Esparta.

A sociedade ateniense tinha como principal característica o

desenvolvimento cultural. Era formada por três classes sociais. Os escravos, os

cidadãos atenienses, além de um grupo de homens livres, mas sem direito à

cidadania, os metecos. Uma das principais questões que envolvem a sociedade

ateniense foi o desenvolvimento da democracia. Isto é, de uma forma de

organização política na qual os cidadãos possuem direitos iguais, a denominada

isonomia legal. O local no qual ocorriam os debates políticos em Atenas era

denominado Ágora. Nela, os denominados demagogos, isto é, os políticos

daquele período, utilizavam-se do talento retórico para poder defender suas

ideias e interesses. A palavra democracia é uma justaposição de duas palavras

gregas: demos, que quer dizer povo, e cracia, que significa governo (FUNARI,

2000).

A cultura clássica grega, que floresceu durante os séculos 5 e 4 a.C., exerceu uma tremenda influência sobre o Império Romano e estabeleceu a base para a cultura ocidental moderna.

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Uma das principais formas de conseguir ter direitos políticos na

sociedade ateniense era a participação no exército. Este era organizado em

unidades militares que eram denominadas de falanges. Os guerreiros gregos

utilizavam um tipo de escudo chamado hoplom. Aqueles que detinham

condições financeiras para comprar este escudo poderiam ingressar nas fileiras

militares. Este ingresso possibilitava participar ativamente dos debates da Ágora,

ingressando assim no mundo da política ateniense. Todavia, a democracia na

Grécia possuía uma grande limitação, pois as mulheres eram excluídas do

debate político. O machismo era legitimado pelo fato de as mulheres não

ingressarem nas fileiras militares.

Enquanto Atenas seguia o modelo democrático de gestão do poder

político, sua vizinha Esparta seguia um modelo autocrático de relações sociais,

pois em Esparta tínhamos um exemplo de sociedade militarizada e

profundamente hierarquizada. Ela era formada por três categorias sociais: os

espartanos, que compunham o topo da pirâmide social, os periecos e hilotas,

duas outras classes sociais que compunham Esparta. A principal lei a reger a

vida em Esparta foi a constituição de Licurgo, que segundo alguns estudiosos,

teria durado seis séculos (FUNARI, 2000).

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Duas guerras marcaram a história grega. As Guerras Médicas e a

Guerra do Peloponeso. Por Guerras Médicas ficaram conhecidas as disputas

entre os gregos e os persas pelo domínio da navegação em partes do Mar

Mediterrâneo.

Ela terminou com uma vitória grega, na Batalha Naval de Salamina,

que decretou uma hegemonia ateniense, o que possibilitou um imperialismo

grego em algumas regiões mediterrânicas. Por sua vez, a Guerra do Peloponeso

foi travada entre Esparta e Atenas. A guerra acabou por enfraquecer os dois

principais modelos de cidade-estado da antiguidade. Com um enfraquecimento

militar causado pela guerra interna, Felipe II, rei da Macedônia, conquistou a

península grega. Seu filho, Alexandre “O Grande”, que fora aluno do filósofo

Aristóteles, foi um dos principais líderes a expandir a cultura grega por diversos

locais em que Alexandre liderou a conquista militar. Assim, tivemos, com o

império de Alexandre, o denominado Período Helenístico.

A mitologia é um dos importantes elementos culturais para a

compreensão da mentalidade dos antigos habitantes da Grécia. Os gregos eram

politeístas, isto é, acreditavam em vários deuses. Estes, em geral, tinham

características antropomórficas, isto é, tinham os antigos deuses formas

humanas. Também eram os mesmos dotados dos mesmos sentimentos que os

homens possuem, como amor, ciúmes, inveja, raiva. Todavia, a grande diferença

é que os deuses gregos eram imortais. O local de morada era o Monte Olimpo,

no qual esses deuses eram cultuados. As cidades possuíam seus deuses

fundadores, como é o caso de Palas Atena, a fundadora de Atenas.

Os gregos se diziam descendentes do deus Heleno. Com relação à

vida após a morte, os gregos acreditavam que deveriam ter uma moeda após

morto para pagar o barqueiro Caronte, responsável pelo trajeto da alma morta

até o paraíso. Deste modo, colocavam nos olhos dos cadáveres duas moedas.

Assim, tinham os gregos uma relação diferente com a morte dos demais povos

que até aqui estudamos. Em especial, por separarem o corpo do espírito,

separação não presente entre os povos da antiguidade oriental (FUNARI, 2000).

Os principais deuses do panteão grego tinham características

específicas. Zeus era o deus dos deuses e Hera, a sua esposa, juntos moravam

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no Olimpo com as demais divindades. Ares era o deus da guerra, que protegia

nas batalhas; Poseidon, o deus do mar; Hades, deus dos mortos e cemitérios;

Afrodite, a deusa da beleza, entre outros exemplos de deuses que poderiam ser

citados.

Além dos deuses, o imaginário da Grécia antiga era povoado pelas

musas: Calíope, da poesia; Clio, da História; Érato, do casamento; Euterpe, das

festividades; Melpômene, do canto e teatro; Polímnia, da retórica; Talia, da

comédia; Terpsícore, da dança; Urânia, da astronomia. Estas musas se

relacionavam a diferentes atividades, consideradas artes pelos antigos gregos.

Um dos principais festivais realizados pelos gregos eram as

Olimpíadas, quando eram cultuados os deuses em competições esportivas.

Também faziam parte do universo cultural grego algumas belas artes, com

destaque para o teatro e as esculturas. O Teatro de Dionísio (cultuado como o

deus do vinho) foi uma das principais casas de espetáculo, na qual se

destacavam as tragédias e comédias. Por sua vez, as esculturas gregas

possuíam características de grande beleza, ao buscar retratar o corpo humano

em toda a sua potencialidade estética. Como se poderá observar, a cultura grega

influenciou sobremaneira a sociedade romana.

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2. A PAIDEIA É na Grécia que começa a "História da Educação" com sentido na

nossa realidade educativa atual. De facto, são os Gregos quem, pela primeira

vez, coloca a educação como problema. Já na literatura grega se vêm sinais de

questionamento do conceito, seja na poesia, seja na tragédia ou na comédia.

Mas é no século V a. C., com os Sofistas e depois com Sócrates, Platão,

Isócrates e Aristóteles que o conceito de educação alcança o estatuto de uma

questão filosófica. Exige-se algo mais da educação. Para além de formar o

homem, a educação deve ainda formar o cidadão. A antiga educação, baseada

na ginástica, na música e na gramática deixa de ser suficiente.

Surge então o modelo ideal de educação grega, que aparece como

Paidéia (nas suas origens e na sua acepção comum, indica o tipo de formação

da criança (pais), mais idôneo a fazê-lo crescer e tornar-se homem, assume

pouco a pouco nos filósofos o significado de formação, de perfeição espiritual,

ou seja, de formação do homem no seu mais alto valor. Portanto, podemos dizer

que a Paidéia, entendida ao modo grego, é a formação da perfeição humana.),

que tem como objetivo geral construir o homem como homem e cidadão. Platão

define Paidéia da seguinte maneira “(...) a essência de toda a verdadeira

educação ou Paidéia é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um

cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como

fundamento”.

É claro que os ideais educativos da Paideia que vão ser desenvolvidos

no século V a. C. se baseiam em práticas educativas muito anteriores. Como

sublinha Werner Jaeger, grande estudioso da cultura grega, num célebre estudo

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justamente intitulado Paideia

"Não se pode utilizar a história da palavra Paideia como fio condutor

para estudar a origem da educação grega, porque esta palavra só aparece no

século V" (Jaeger, 1995: 25).

Inicialmente, a palavra Paideia (π α ι δ ε ι α), (de paidos - π α ι δ ο σ -

criança) significava simplesmente "criação dos meninos". Mas, como veremos,

este significado inicial da palavra está muito longe do elevado sentido que mais

tarde adquiriu.

ARETE: O conceito que originalmente exprime o ideal educativo grego é o de

arete (αρετε). Originalmente formulado e explicitado nos poemas homéricos, a

Os gregos antigos adoravam praticar atividades físicas — e costumavam fazer exercícios completamente nus.

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arete é aí entendida como um atributo próprio da nobreza, um conjunto de

qualidades físicas, espirituais e morais tais como a bravura, a coragem, a força,

a destreza, a eloquência, a capacidade de persuasão, numa palavra, a

heroicidade.

KALOSKAGATHIA: O alargamento do ideal educativo de arete surgiu nos fins

da época arcaica, exprimindo-se então pela palavra kaloskagathia

(καλοσκαγατηια). Mas que honra e glória pretende-se então alcançar a

excelência física e moral. Os atributos que o homem deve procurar realizar são

a beleza (kalos - καλοσ) e a bondade (kagatos - καγατοσ).

Para alcançar este ideal é proposto um programa educativo que implica

dois elementos fundamentais: a ginástica para o desenvolvimento do corpo, e a

música (aliada à leitura e ao canto) para o desenvolvimento da alma. No fim da

época arcaica, este programa educativo completava-se com a gramática.

PAIDEIA: Mas, se até então o objetivo fundamental da educação era a

formação do homem individual como kaloskagathos, a partir do século V a. C.,

exige-se algo mais da educação. Para além de formar o homem, a educação

deve ainda formar o cidadão. A antiga educação, baseada na ginástica, na

música e na gramática deixa de ser suficiente.

É então que o ideal educativo grego aparece como Paideia, formação

geral que tem por tarefa construir o homem como homem e como cidadão. Platão

define Paideia da seguinte forma "(...) a essência de toda a verdadeira educação

ou Paideia é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão

perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento"

(cit. in Jaeger, 1995: 147).

Do significado original da palavra Paideia como criação dos meninos, o

conceito alarga-se para, no século IV. a.C., adquirir a forma cristalizada e

definitiva com que foi consagrado como ideal educativo da Grécia clássica.

Como diz Jaeger (1995), os gregos deram o nome de Paideia a "todas as

formas e criações espirituais e ao tesouro completo da sua tradição, tal como

nós o designamos por Bildung ou pela palavra latina, cultura." Daí que, para

traduzir o termo Paideia "não se possa evitar o emprego de expressões

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modernas como civilização, tradição, literatura ou educação; nenhuma delas

coincidindo, porém, com o que os Gregos entendiam por Paideia. Cada um

daqueles termos se limita a exprimir um aspecto daquele conceito global. Para

abranger o campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los todos de

uma só vez." (Jaeger, 1995: 1).

Na sua abrangência, o conceito de Paideia não designa unicamente a

técnica própria para, desde cedo, preparar a criança para a vida adulta. A

ampliação do conceito fez com que ele passasse também a designar o resultado

do processo educativo que se prolonga por toda vida, muito para além dos anos

escolares. A Paideia vem por isso a significar "cultura entendida no sentido

perfectivo que a palavra tem hoje entre nós: o estado de um espírito plenamente

desenvolvido, tendo desabrochado todas as suas virtualidades, o do homem

tornado verdadeiramente homem" (Marrou, 1966: 158).

3. A EDUCAÇÃO GREGA A educação na antiguidade clássica grega possuiu modelos

diferentes, e até contraditórios no tocante aos modelos educacionais elaborados

pelos membros deste mundo cultural greco-romano que estamos contemplando

nesta unidade. Assim, uma das principais diferenciações possíveis são os

modelos educacionais formulados em Atenas, em Esparta.

O modelo de educação espartana está em grande parte vinculado à

possibilidade do Estado em reger a vida dos indivíduos. Assim, uma inculcação

ideológica de grande monta era necessária para convencer os indivíduos de que

era a função de sua vida matar e morrer por Esparta. Tal possibilidade de forma

de organização da educação só é possível de ser compreendida se tivermos em

mente rígida e hierárquica a estrutura social que os espartanos vivenciaram

(JAEGER,1995).

Na Grécia Antiga, uma parte crucial da educação dos jovens abastados consistia em receber os ensinamentos de um mentor mais velho, o que, em determinados lugares e épocas, poderia envolver o relacionamento amoroso entre aluno e professor.

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Por volta dos seis anos de idade, o menino espartano era retirado de

sua família, para que pudesse se transformar, na vida adulta, em um soldado

que servisse aos interesses do Estado espartano. Portanto, uma das primeiras

características que a educação forjava na mentalidade do futuro homem

espartano era a que o Estado como entidade é mais importante que a família,

pois não tínhamos meninos espartanos um contato prolongado com os seus

pais, mas, sim, com os instrutores militares, que buscavam transformar os

meninos em guerreiros.

A função de soldado era uma das principais a ser desenvolvida.

Assim, desde a infância, os meninos eram designados a atividades como longas

marchas, acampamentos, além de obviamente serem incentivados a atitudes

violentas, comas quais eram testados em suas capacidades belicosas. Um dos

principais ritos de passagem de um menino espartano, quando então ele

passava a ser considerado um homem, e não mais um menino, era assassinar

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um hilotas, que era um habitante de Esparta, mas considerado de uma classe

social inferior.

As mulheres também recebiam uma educação em Esparta. No

entanto, o poder político e o maior investimento eram realizados em função dos

rapazes, pois os futuros homens teriam destaque social, ao liderar a polis

espartana. Todavia, no caso espartano, havia certa valorização da figura

feminina, pois como poderiam dar à luz a novos guerreiros, as mulheres eram

valorizadas pelo corpo social. Todavia, na vizinha Atenas, a mulher não recebia

nenhum tipo de valorização no corpo social.

A educação ateniense possuía como principal objetivo algo muito

distinto da educação espartana. Ela tinha a principal função de educar o membro

da polis, que vivia em um regime democrático. Assim, se pode compreender que

a educação entre os atenienses tinha a função de capacitar os indivíduos a

assumir funções públicas, desenvolvidas na praça pública, na Ágora, o local das

principais disputas políticas.

Dois filósofos gregos fundaram duas das instituições que nomeiam,

até o presente, instituições de ensino: O Liceu e a Academia. Platão está

relacionado à fundação da academia. Seu aluno e discípulo, Aristóteles, foi o

Na Antiga Grécia, a palavra “idiota” era utilizada em referência a qualquer indivíduo que não fosse político.

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criador do Liceu. Mais que isto, Aristóteles fundou uma metodologia de ensino

denominada Peripatética. O termo provém da palavra peripatus, que em grego

quer dizer passeio. Deste modo, ao invés de manter os alunos trancados em

uma sala fechada, Aristóteles ensinava aos seus discípulos passeando pela

cidade, observando as diferenças e semelhanças entre os homens, como

também contemplando a natureza observando a multiplicidade da vida animal e

vegetal.

A educação antiga não era um sistema desenvolvido nem rigidamente

definido. Em geral, até aos sete anos, as crianças eram educadas no gineceu,

na companhia da mãe e das outras mulheres da casa. Depois dessa idade, as

moças continuavam em casa, onde aprendiam os trabalhos domésticos e

música.

Para os rapazes, entre os 07 e os 14 anos, embora não houvesse um

programa obrigatório, o ideal era que fossem ocupadas na prática da Ginástica

(γψµναστικ) e da Música (µουσικ).

Para além dos professores de ginástica ou paidotribés (παιδοτριβεσ)

e dos de música ou kitharistés (κιτηαριστεσ), no final do século V a.C. surge a

figura dos grammatistés (γραµµατιστεσ) para ensinar as crianças a escrever e a

ler. Todos estes professores eram contratados diretamente pela família o que

faz com que a educação que cada criança recebia dependesse diretamente da

vontade e da capacidade financeira da família. Nas palestras, os rapazes

aprendiam a ler, a escrever, a contar e a recitar de cor os poemas antigos

(principalmente Homero e Hesíodo), cuja tradição heroica encerrava um elevado

conteúdo moral. Estudavam música, aprendendo a tocar pelo menos a lira e

iniciavam-se nos exercícios atléticos. Os mais ricos tinham um escravo ao seu

serviço – pedagogo - que os acompanhava e, certamente paidós (criança) e

agodé (condução). A palavra grega Paidagogos é formada pela palavra paidós

(criança) e agogos (condutor). Portanto, pedagogo significa condutor de

crianças, aquele que ajuda a conduzir o ensino; os ajudava ou mesmo obrigava

a repetir as lições. Aproximadamente com 16 anos de idade, os rapazes ficavam

livres dos cuidados do pedagogo e interrompiam os estudos literários e musicais.

A educação da palestra era então substituída pela do ginásio. Aí

continuavam a cultivar a harmonia do corpo e do espírito. Diariamente, depois

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da educação física, passeavam nos jardins do ginásio, dialogando com os mais

velhos e com eles aprendendo a sabedoria e a arte de discutir as ideias. Depois

dos 20 anos, o jovem tinha dois anos de preparação militar, finda a qual se

tornava cidadão. A educação moral do jovem grego resultava do contato direto

da criança com o pedagogo, do jovem com o ancião, do menino com o adulto.

Todos os mestres se uniam para dar à criança exemplo de dignidade de gestos

e de maneiras, de polidez e elegância na conduta, de respeito pelas leis da

cidade e pelos mais velhos. Eles ofereciam-se como modelos vivos dos quais as

crianças se deviam aproximar através da imitação consciente e inconsciente,

favorecida pela convivência constante.

O ideal da educação na Grécia pode ser resumido em uma máxima

denominada Mens sana in corpore sano, no qual se pode concluir que os

cuidados com a saúde e o bem-estar físico são tão importantes quanto o

desenvolvimento intelectual dos seres humanos. Tal perspectiva foi também

importante para a educação romana.

Diversas descobertas realizadas por antigos matemáticos gregos, entre eles Pitágoras, Arquimedes e Euclides, continuam sendo ensinadas e em uso até hoje.

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RESUMO Nesta unidade você viu que:

A sociedade grega era dividida em cidade-estado, sendo as duas mais

importantes Atenas e Esparta.

Atenas possuiu uma vida cultural intensa, enquanto Esparta era vinculada ao

militarismo.

A educação espartana tinha como função formar um soldado.

A educação ateniense tinha como função formar um cidadão.

1. Como podemos compreender as diferenças existentes entre os modelos educacionais espartano, ateniense e romano?

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. Disserte sobre PAIDEIA: ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. Com base na unidade, explique sobre a Grécia antiga: ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

AUTOATIVIDADE

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Antiguidade Romana: A Humanitas

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir desta unidade, você será capaz de:

• Relacionar a tradição greco-romana como uma das raízes da educação

ocidental;

• Apontar a principal característica da vida romana era a ampliação militar;

• Classificar a educação de Roma em três grandes períodos: Educação

latina, influência Grega e por fim greco-romana;

PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dos estudos

encontrará resumos e atividades de fixação dos conteúdos estudados, para que

você enriqueça seus conhecimentos, aprofunde e contextualize de forma mais

ampla seus estudos.

TÓPICO 1 –PRIMEIROS TEMPOS

TÓPICO 2 –O QUE É HUMANITAS

TÓPICO 3 –CARACRESTICAS GERAIS E LEITURA COMPLEMENTAR

TÓPICO 4–RESUMO DA UNIDADE

UNIDADE 04

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1. PRIMEIROS TEMPOS Roma foi fundada por algumas tribos latinas e sabinas, que foram

dominadas pelos invasores etruscos. Roma, em sua história, teve três grandes

períodos marcados por diferentes formas de legitimação das relações de poder.

Monarquia, a República e o Império. A monarquia foi substituída por uma forma

menos autoritária de poder, a Rex Publica (isto é, a “coisa pública”). No entanto,

o expansionismo militar gerou dificuldades administrativas, e uma das soluções

foi instituição do Império.

Uma das principais características da vida romana foi o

expansionismo militar. Este se iniciou como uma forma de aumentar a produção

agrícola, graças à ampliação das terras destinadas ao cultivo do trigo, das

oliveiras e das parreiras de uva, bases da produção de três dos principais

produtos da dieta romana: pão, azeite e vinho. Para tanto, se escravizavam as

populações dominadas pelos romanos através da guerra. O exército romano, um

implacável empreendimento militar, tinha como uma de suas principais

características a rígida disciplina. Ao contrário de Atenas, não necessariamente

a presença no exército garantiria direitos políticos, pois em 111 A.C., Mário

institui o soldo, isto é, o pagamento de salário aos militares.

Assim, o exército romano era organizado em legiões, que eram

organizadas em centúrias e decúrias, contando com um inovador sistema de

estradas que ligava a capital ao interior das possessões coloniais,

proporcionando uma contínua expansão de seus domínios, pela rápida

mobilidade de soldados que o sistema de estradas possibilitava. Uma máxima

afirmava que “todos os caminhos levam para Roma”.

As legiões romanas possibilitavam um aumento produtivo, ao ampliar

o número de escravos em Roma, que eram capturados dentre os prisioneiros de

guerra. Com uma grande quantidade de escravos, Roma chegou a ter centenas

de milhares de pessoas desocupadas, que eram entretidas com a denominada

Um dos principais clássicos da história do cinema de Hollywood foi o filme Spartacus. Dirigido por Stanley Kubrick, retrata a vida de um escravo romano, que se revoltaem relação à sua condição social, buscando a liberdade.

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Política do Pão e Circo, em que a maior parte da população ociosa se dirigia ao

Coliseu, um grande estádio romano, no qual lutavam os gladiadores.

Aos poucos, os bárbaros foram invadindo as fronteiras do Império

Romano. Os principais grupos bárbaros, como os ostrogodos, visigodos e

vândalos, foram conquistando antigas possessões coloniais romanas. No século

IV, Roma foi conquistada completamente pelos bárbaros, sendo este um dos

fatos que marcaram o fim da Idade Antiga e o início da Idade Média.

Assim como os gregos, os romanos também possuíam sua mitologia,

sendo ela muito próxima da mitologia dos gregos. O principal mito romano é o

da fundação da cidade imperial. Segundo uma antiga lenda, dois irmãos, Rômulo

e Remo, eram ainda bebês e foram criados por uma loba, que os amamentou.

Posteriormente, os dois foram os fundadores da principal cidade do mundo. Com

relação à proximidade com os gregos, a mitologia romana também possuía seus

deuses específicos para as distintas atividades humanas, em grande parte,

versão latinizada dos antigos deuses gregos. Vejamos alguns exemplos: Baco

(versão latina de Dionísio) era o deus do vinho; Marte (versão latina de Ares) era

o deus da guerra.

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57

Apesar da presença destes deuses da mitologia, popularizados pelos

romances, pelo cinema e pela psicanálise, o principal culto cotidiano dos gregos

e romanos não era sobre estes “afamados” deuses da mitologia. A principal

forma de culto entre os gregos e romanos era o culto aos fogos nos lares. Para

ser considerada uma família e ter o status e prestígio social, advindo de ser

membro deum clã, deveria a casa ter um fogo que sempre era mantido aceso e

nunca deveria se apagar. Era o fogo que tinha como nome lar, responsável pelo

aquecimento da casa, como também estava presente nos rituais de casamento,

que simbolizava a continuidade do mesmo fogo em outro domicílio.

A sociedade greco-romana também teve em comum um mesmo

sistema produtivo, marcado pelo expansionismo militar e pela escravidão. Um

dado interessante é que em determinadas regiões do Império Romano não se

falava o latim, mas sim o grego, em especial na Ásia Menor. Isto explica por que

grande parte da Bíblia, em especial o Novo Testamento, foi escrito em grego,

mesmo fazendo parte do Império Romano. Com a cristianização do Império, em

395, quando o cristianismo deixou de ser perseguido, grandes alterações na

mentalidade ocidental ocorreram. Posteriormente, o Império Romano se dividiu

em duas partes. A região que falava latim viveu um processo de ruralização, e

Roma acabou se tornando a sede da Igreja Católica Apostólica Romana. Por sua

vez, Constantinopla se tornou a sede do Império Bizantino, sendo sede da Igreja

Católica Cristã Ortodoxa.

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2. O QUE É HUMANITAS Nas sociedades escravistas de Roma e Grécia o trabalho manual é

desvalorizado, enquanto o intelectual constitui privilégio da aristocracia. Assim:

os educadores buscam formar o homem racional, capaz de pensar corretamente

e se expressar de forma convincente. (Modelo adequado à elite dirigente).

Enquanto na pedagogia grega há uma valorização da visão filosófica

sistematizada ou o predomínio da retórica, em Roma, a reflexão filosófica não

merece atenção de maneira sistemática, onde os romanos adotam uma postura

mais pragmática, voltada para o cotidiano, para a ação política e não para a

contemplação e teorização do mundo (Domínio da retórica sobre a filosofia).

O QUE É HUMANITAS Roma desenvolve a concepção de império formado de vários povos.

Não discrimina o vencido e ainda lhe confere o direito da cidadania romana, em

troca do pagamento de impostos.

Humanitas: cultura universalizada. Equivale à Paidéia, distingue-se

dela por se tratar de uma cultura predominantemente humanística e, sobretudo

cosmopolita e universal, buscando aquilo que caracteriza o homem, em todos os

tempos e lugares. Concepção que não se restringe ao ideal de homem sábio,

mas se estende à formação do homem virtuoso, como ser moral, político e

literário.

Degeneração do termo humanista = acontece com o tempo e

restringe-se ao estudo das letras e descuido das ciências.

PRINCIPAIS REPRESENTANTES A pedagogia em Roma está voltada para questões práticas. Surge por

volta do século I l.c. com Cícero, Sêneca e Quintiliano.

Catão, o antigo (234-149 a.C.): defende a tradição contra o início da

influência helênica e o retorno às raízes romanas.

Varrão (116-27 a.C.): representa a transição pela qual os romanos

terminam por aceitar a contribuição grega. Seu trabalho é prático. Escreveu uma

enciclopédia didática, em que discute o ensino de gramática e que serve de base

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para trabalhos posteriores. Compôs sátiras, que orientam o jovem na virtude,

com máximas edificantes.

Cícero (106-43 a.C.): ampliou o vocabulário latino, apoiado na

experiência com o grego e na erudição. Valorizou a fundamentação filosófica do

discurso, o que o diferencia de seus conterrâneos, tornando-o um dos mais

claros representantes da Humanitas romana. Compreendia que a educação

integral do orador requer cultura geral, formação jurídica, aprendizagem da

argumentação filosófica, bem como o desenvolvimento de habilidades literárias

e até teatrais, igualmente importante para o exercício da persuasão. Cícero

chegou a ser um dos principais modelos dos pedagogos renascentistas.

Sêneca (4 a.C.–65): Vê a filosofia como um instrumento capaz de

orientar o homem para o bem viver. A filosofia teria a função de ensinar a

verdadeira vida humana, que não se confunde com o gozo dos prazeres, voltada

que está para o domínio das paixões, já que a felicidade consiste na

tranquilidade da alma. Por isso a educação deve ser prática e vivificada pelo

exemplo. Sêneca compreende que a educação prepara o homem para o ideal

de vida estoico: o domínio dos apetites pessoais. Enfatiza a formação moral e

dá menos importância à retórica. Ocupa-se da psicologia como instrumento para

a preservação da individualidade.

Plutarco (45 – 125): Reconhece a importância da música e da beleza

na educação, bem como a formação do caráter.

Quintiliano (35-95): Foi um dos mais respeitados pedagogos

romanos. Lecionou durante 20 anos na escola de retórica, fundada em Roma.

Distancia-se da filosofia, preferindo os aspectos técnicos da educação,

sobretudo da formação do orador. Valoriza a psicologia como instrumento para

conhecer a individualidade do aluno. Não se prende a discussões teóricas, mas

procura fazer observações técnicas i indicações práticas. Sugere, para iniciação

às letras, o ensino simultâneo da leitura e da escrita, criticando as formas

vigentes por dificultar a aprendizagem.

Recomenda alternar trabalho e recreação para que a atividade

escolar seja menos árdua e mais proveitosa.

Considera importante que a criança aprenda em grupo, por favorecer

a competição, de natureza altamente saudável e estimulante.

Recomenda a prática dos exercícios físicos, realizada sem exageros.

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Valoriza a busca da clareza, a correção, a elegância e os clássicos

como Homero e Virgílio no estudo de gramática, reconhecendo os aspectos

estético, espiritual e ético.

Destaca a importância da instrução geral e dos exercícios que

tornarão a aprendizagem uma segunda natureza.

OUTRAS TENDÊNCIAS Com a desagregação do império romano:

O império do Oriente começa intensa vida cultural e religiosa, durante

todo o período subsequente. Constantinopla será o local da efervescência

intelectual, em que inúmeros copistas aperfeiçoam cuidadosas técnicas de

reprodução de obras clássicas.

Cresce a importância da educação cristã. Inicialmente restrito ao

âmbito doméstico, o cristianismo se expande e se torna religião oficial. Surgem

os teólogos, que adaptam os textos clássicos pagãos à verdade revelada.

EDUCAÇÃO Fases da educação romana:

1. Latina original, de natureza patriarcal;

2. Influência do helenismo criticada pelos defensores da tradição;

3. Fusão entre a cultura romana e a helenística.

A fusão das culturas romana e helenista estimulam o bilinguismo: as

crianças passam a aprender grego e latim.

Em todas as épocas permanecem alguns aspectos da antiga

educação: o papel da família, representado pela onipotência paterna (não

destituída de afeto); a ação efetiva da mulher (célebre tipo da “mãe romana”).

EDUCAÇÃO HERÓICO-PATRÍCIA Os aristocratas patrícios (proprietários e guerreiros) recebem uma

educação que visa perpetuar os valores da nobreza de sangue e cultuar os

ancestrais.

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Na Antiguidade, a família não era nuclear como a nossa, mas extensa

(composta por pais, filhos solteiros e casados, escravos e clientes dos quais o

pater famílias é proprietário, juiz e chefe religioso).

Até os sete anos as crianças permanecem sob os cuidados da mãe

ou de outra matrona, “mulher especial”.

Depois dos sete anos, as meninas continuam no lar aprendendo os

serviços domésticos, enquanto o pai se encarrega pessoalmente do filho.

O menino acompanha o pai às festas e aos acontecimentos mais

importantes, ouve o relato das histórias dos heróis e dos antepassados, decora

a Lei das Doze Tábuas, desenvolvendo a sua consciência histórica e o

patriotismo.

O menino aprende a cuidar da terra, trabalho que coloca lado a lado

o senhor e o escravo. Aprende a ler, escrever e contar. Torna-se hábil no manejo

das armas, na natação, na luta e na equitação.

Aos 15 anos, o menino acompanha o pai ao foro, praça central onde

se faz o comércio e são tratados os assuntos públicos e privados, e em torno do

qual se erguem os principais monumentos da cidade, inclusive o tribunal, onde

aprende o civismo.

Aos 16 anos, o jovem é encaminhado para a função militar ou política.

(Educação voltado mais para a formação moral, que intelectual) à Aprendizagem

baseada na vivência cotidiana, entremeada de exemplos que reforçam a

importância da imitação de modelos representados pelo pai e pelos

antepassados.

EDUCAÇÃO COSMOPOLITA Roma republicana: desenvolvimento do comércio, enriquecimento de

uma camada de plebeus e início da expansão romana tornam mais complexa a

sociedade romana, exigindo outro modo de educar.

Século IV a.C: criação de escolas elementares particulares – escolas

do ludi (jogo, divertimento) magister (mestre), nas quais aprende-se

demoradamente a ler, escrever e contar, dos sete aos doze anos. Os mestres

eram pessoas simples e mal remuneradas. Para desempenhar seu ofício,

ajeitavam-se em qualquer espaço. As crianças escreviam com estiletes em

tabuinhas enceradas, aprendendo tudo de cor, ameaçados por castigos.

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Com o contato com os povos helênicos, inúmeros professores gregos

ensinam a sua língua, dando início à formação bilíngue dos romanos.

Surgiram as escolas dos gramáticos, em que os jovens de 12 a 16

anos conheciam os clássicos gregos, ampliando seus conhecimentos literários.

Ao mesmo tempo estudavam geografia, aritmética, geometria e astronomia

(disciplinas reais). Iniciavam-se na arte de bem escrever e bem falar.

Surge um terceiro grau de educação (escola do retor = professor de

retórica), pois a retórica exigia o aprofundamento do conteúdo e da forma do

discurso. Diferentemente dos ludi magister e dos gramáticos, os retores eram

professores mais respeitados e bem remunerados.

AS ESCOLAS SUPERIORES: Desenvolveram-se no decorrer do século I a.C e cresceram durante o

Império.

Eram frequentadas pelos jovens da elite, que se destacavam na vida

pública e que, por isso, deveriam se preparar para as assembleias e tribunas.

Estudavam política, direito e filosofia, sem esquecer as disciplinas reais, próprios

de um saber enciclopédico.

A educação física mereceu a atenção dos romanos, mas com

características mais voltadas para as artes marciais.

EDUCAÇÃO NO IMPÉRIO Aumenta a intervenção do Estado nos assuntos educacionais: uma

bem montada máquina burocrática para a administração do império requeria

funcionários com instrução elementar, pelo menos.

Notável procura por cursos de estenografia (taquigrafia) – sistema de

notação rápida. Recurso exigido cada vez mais na atividade dos notários (hoje

conhecidos como tabeliões, mas inicialmente eram apenas secretários

incumbidos de fazer anotações, ao acompanhar os magistrados e altos

funcionários).

Século I a.C: o Estado estimulou a criação de escolas municipais em

todo o Império. O próprio César concedeu o direito de cidadania aos mestres de

arte liberais.

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Século I d.C.: Vespasiano libera de impostos os professores de ensino

médio e superior e institui o pagamento a alguns cursos de retórica, de que

beneficia o mestre Quintiliano. Trajano manda alimentar os estudantes pobres.

Outros importantes imperadores legislam sobre a exigência de as escolas

particulares pagarem com pontualidade os professores, definindo o montante a

lhes ser pago.

Juliano, no ano 362, oficializou toda a nomeação de professor pelo

Estado. Opunha-se à expansão do cristianismo e pretendia impedir a

contratação de professores cristãos, com essa medida. Outro destaque da época

do Império é o desenvolvimento do ensino terciário, com os cursos de filosofia e

retórica e a criação de cátedras de medicina, matemática, mecânica e escolas

de direito.

O papel histórico de Roma não foi criar uma nova civilização, mas

implantar e radicar solidamente no mundo mediterrâneo a civilização helenística,

pela qual ela mesma fora conquistada’. (MARROU apud ARANHA, 1996, p. 66).

Em todo o processo da evolução da História da Educação romana

esteve presente certa lentidão no processo de aprendizagem, levado a efeito

com métodos penosos de memorização, intercalados com castigos.

Na educação romana desvaloriza-se o trabalho manual, dando

continuidade à valorização da formação intelectual da elite dominante.

A pedagogia romana baseou-se na tendência essencialista: a função

da educação é realizar o que o “homem deve ser”. (Os modelos são importantes

para os antigos).

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3. CARACRESTICAS GERAIS A educação em Roma é didaticamente definida em três grandes

períodos. A educação latina, termo pelo qual se designa a educação em um

período anterior à influência grega. Um segundo momento, no qual tivemos a

influência dos educadores trazidos da Grécia. E, por fim, o terceiro período, no

qual se denomina educação greco-romana, pois ocorreu uma síntese entre a

educação latina, já realizada, e a educação grega. Ao pensarmos a formação de

instituições na Roma antiga, podemos lembrar que existiram Escolas de

Retórica. Isto porque a formação de um tribuno, de um homem capaz de bem

falar no Senado, era uma das principais funções educacionais.

À guisa de conclusão, podemos pensar que a educação greco-

romana teve aspectos distintos, extremamente evoluídos, ao possibilitar o

desenvolvimento intelectual da humanidade, e ao mesmo tempo restritos, ao

excluir a maior parte da população, que era composta por escravos, assim como

as mulheres que também não eram educadas em sua maioria. A educação do

mundo greco-romano sofreu profundas alterações quando a sociedade ocidental

foi influenciada pela cultura judaico-cristã, com o período denominado Idade

Média.

LEITURA COMPLEMENTAR

Apesar da grande popularidade e da presença da mitologia, a Grécia

foi um dos primeiros locais do mundo no qual se desenvolveu um modo não

mitológico de estruturar o pensamento sobre a natureza e a sociedade. Por isso,

o destaque que devemos dar à presença da filosofia grega. A palavra filosofia

tem sua raiz etimológica (isto é, sua origem) em duas palavras gregas, Filos e

Sofia, que juntas podem ser traduzidas como “amante da sabedoria”. A ideia de

se cultuar o pensamento humano na busca de se tentar compreender a natureza

e a sociedade não apenas através dos mitos, como também através da

especulação, foi uma verdadeira revolução na forma de o ser humano conceber

a vida na Terra (JAEGER, 1995). Podemos citar vários nomes do pensamento

grego. Em geral, a filosofia grega antiga é dividida em dois períodos: socrático e

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pré-socrático. Isto devido à importância da figura de Sócrates para o

desenvolvimento do pensamento grego.

Sócrates foi um cidadão ateniense amante do saber, e dono de uma

profunda capacidade de compreender a natureza humana e suas contradições.

Filho de uma parteira desenvolveu um método denominado maiêutica, cujo

principal intento é possibilitar aos seres humanos “dar luz a novas ideias!”.

Todavia, mesmo com a presença de vários personagens intelectuais,

os principais nomes da filosofia grega clássica são os de Sócrates (já citado),

Platão e Aristóteles. Platão foi discípulo de Sócrates, tendo sido o principal

divulgador das ideias de seu mestre. Suas ideias são consideradas relevantes

para o desenvolvimento da filosofia até o tempo presente. Seus principais livros

são A República e O Banquete. O livro A República é uma crítica à ação dos

demagogos, na Ágora.

Por demagogos podem ser considerados os políticos que possuem

bela retórica, porém, são construtores de um discurso vazio, sem ação prática

nas palavras que dizem. Por isso, Platão defendia a ideia de que apenas os

sábios deveriam ter cargos políticos. Uma de suas principais formulações é o

denominado mito da caverna (CHAUÍ, 1993).

O mito afirma que existia uma comunidade formada por pessoas que

viviam acorrentadas no interior de uma caverna e que enxergavam a realidade

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através das sombras que uma parca iluminação projetava sobre uma parede da

caverna.

Próximo à caverna existiam algumas estátuas, que formavam as

principais sombras. Assim, as pessoas acorrentadas foram nomeando as

sombras observadas. Todavia, caso alguém conseguisse se desamarrar e sair

do interior da caverna veria que a realidade não era aquela que havia sido

ensinada. No entanto, ao voltar para a caverna, a probabilidade de as pessoas

acreditarem no que foi dito pelo homem que saiu da caverna era muito pequena,

sendo mais provável que os colegas ridicularizassem as afirmações do primeiro

homem a sair da caverna. Neste sentido, podemos pensar que estamos por

vezes acorrentados em uma caverna marcada pelas convenções que

aprendemos. Uma tarefa importante é tentarmos sair da caverna e nos libertar

das amarras que prendem nosso intelecto.

Além de Platão, Aristóteles também é rememorado como importante

filósofo. Ele foi o mestre de um dos principais líderes da história da antiguidade,

Alexandre “O Grande”. Suas capacidades intelectuais elevadas o fizeram ser

pioneiro em várias áreas do conhecimento humano. Uma delas foi a taxodermia,

isto é, a classificação dos diferentes seres vivos. Uma de suas principais obras

foi. A Política, na qual apontou uma polêmica ideia na qual existiam almas que

nasceram para serem livres, e outras que nasceram para a escravidão. Outros

livros nos quais apontou questões importantes foi em um conjunto de obras

denominado Metafísica, em que aponta questões sobre o estudo do ser.

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Dentre as escolas filosóficas desenvolvidas na Grécia antiga, se

destacaram o estoicismo e o epicurismo. Por estoicismo se considera uma

escola filosófica fundada por Zenão de Cítio, e que teve em Sêneca um de seus

principais elaboradores. Em geral, afirmava que a resignação era uma das

principais características do sábio.

Os estoicos pregavam um controle das emoções. Por sua vez, o

epicurismo foi uma doutrina filosófica desenvolvida pelo filósofo Epicuro. Em

geral, apontava a busca moderada pelos prazeres como um caminho para a paz

(CHAUÍ, 1993). Um dos nomes lembrados por ser um personagem especial no

interior da vida grega antiga é o de Diógenes. Teve como principal propósito viver

da forma mais simples possível. Morava nas ruas, tendo como único objeto uma

caneca. No entanto, ao ver uma criança bebendo água com auxílio direto das

mãos, resolveu jogar fora sua caneca. Outra feita ele foi observado pelas

pessoas andando à noite, com uma lanterna acesa na mão. Perguntado sobre o

que fazia, respondeu que estava à procura de um justo. Quando Alexandre “O

Grande” foi falar com Diógenes, lhe perguntou o que poderia fazer por ele. A

resposta de Diógenes foi simples e sincera, pedindo que ele saísse da frente de

seu banho de sol. A escola filosófica que Diógenes fundou ganhou o nome de

Escola Cínica.

Houve uma grande influência do pensamento grego na cultura

romana. Alguns dos professores gregos foram trazidos para Roma, com o intuito

de educar os filhos das famílias abastadas. Alguns destes mestres tiveram a

condição de escravos, porém, eram reconhecidos como importantes para as

famílias em que trabalhavam.

Dentre os educadores romanos, um teve grande destaque na história

da pedagogia; Quintiliano. Ele foi professor durante mais de 20 anos na escola

de retórica em Roma, como também defendeu princípios importantes para o

desenvolvimento dos seus educandos. Em especial, por defender que leitura e

escrita deveriam ser aprendidas de maneira conjunta, além de defender a

presença de exercícios físicos para os educandos.

Com relação à vida intelectual romana, uma das funções mais

valorizadas era a capacidade de oratória. Isto porque a maior parcela dos

patrícios e demais homens de poder eram membros do Senado, importante

instituição que tinha poder de comando nas questões políticas. Dentre os

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oradores romanos, um dos mais destacados foi Cícero, um nome

constantemente lembrado no que tange à capacidade oratória. Outros

intelectuais romanos importantes foram Ovídio e Plotino. Ovídio foi autor de um

livro sobre o amor romântico entre homens e mulheres, denominado A Arte de

Amar. Outro intelectual importante para o desenvolvimento da filosofia ocidental

foi Plotino, ao recuperar as ideias de Platão.

Tanto na Grécia quanto em Roma, se desenvolveu a História

enquanto disciplina do conhecimento humano. Heródoto de Halicarnasso foi o

primeiro a utilizar o conceito, em um livro de título História. Plutarco, por sua vez,

foi autor de um dos mais importantes textos históricos da Antiguidade, o livro

História da Guerra do Peloponeso. Em Roma, foi destaque Caio Suetônio, autor

do livro “A Vida dos Doze Césares”.

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RESUMO Nesta unidade você viu que:

Roma formou um dos principais impérios da antiguidade.

A educação em Roma tinha como uma das principais funções formar um bom

orador.

A filosofia se desenvolveu na Grécia antiga, cujos principais destaques foram

Sócrates, Platão e Aristóteles.

A educação romana tem destaques inicialmente rural, militar e rude.

1. Comente sobre a fusão entre a cultura romana e a helenística? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. O que é Humanitas? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. Conforme a leitura complementar explique sobre o mito da caverna? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

AUTOATIVIDADE

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CONCLUSÃO

A educação é um processo inerente a todas as sociedades humanas.

Poderíamos até discutir se entre os animais, ou alguns deles, não existem

procedimentos semelhantes que impliquem o desenvolvimento de

potencialidades, em interação com outros indivíduos da espécie — uma espécie

de aprendizagem. Durante muito tempo postulou-se uma diferença radical entre

o homem e o animal, mas hoje todas as evidências apontam para um

“continuumenvolvendo” todas as formas de vida. É isso que me leva a pensar

que provavelmente é possível encontrar em algumas espécies animais formas

de adaptação ao meio que resultam mais de algum tipo de aprendizagem do que

da hereditariedade.

Mas se, em relação aos animais, a educação é uma mera hipótese, em

relação ao homem é um facto incontestável e incontestado. Em qualquer tempo

e lugar, onde quer que haja um grupo humano, encontramos procedimentos de

formação tendentes a transmitir às jovens gerações valores, saberes, aptidões,

testados e aprovados. Esses valores, saberes e aptidões caracterizam e,

portanto, distinguem essas diferentes culturas.

Durante muito tempo a integração dos jovens no modo de ser e estar da

sua sociedade fez-se por "impregnação": era nos contatos diários no âmbito da

família — família alargada, naturalmente — e de grupos sociais mais vastos que

a criança ia absorvendo os elementos da cultura do seu grupo. É de crer que

não houvesse nesse processo uma intencionalidade consciente, como não a há

ainda hoje na maioria desses contatos sociais: isto é, cada um de nós, nas

interações quotidianas, está a fazer educação, sem que disso se aperceba. O

mesmo acontecia nessas sociedades ditas primitivas. Isso não impedia que

houvesse uma rígida demarcação entre o estatuto de adulto e o de criança. A

passagem de um a outro estatuto era determinada pelo ritmo da maturação

biológica, ou seja, pelo aparecimento dos caracteres sexuais externos e a

capacidade de reprodução. Essa transição era marcada por ritos de iniciação,

geralmente precedidos ou acompanhados por um processo educativo especial

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— formal, portanto — tendente a apetrechar o jovem com os saberes

necessários à vida adulta e à total integração na sociedade.

Essa educação "primitiva" incidia sobre o saber (conhecimentos), o fazer

(aptidões técnicas), o ser (valores) e o estar (reconhecer a sua posição na

sociedade e agir em conformidade com ela). Tudo isso, como disse, como que

absorvido naturalmente por impregnação. Naturalmente também, uma educação

deste tipo era essencialmente conservadora: por mais informal e não intencional

que fosse, visava transmitir aos novos o modo de ser e estar, a visão do mundo,

dos mais velhos; não havia aí espaço para a inovação, a originalidade, a

criatividade pessoal, embora ela se manifestasse, apesar disso. Estou

convencido que é isso que explica, em grande parte, o ritmo extraordinariamente

lento, se comparado com o atual, das transformações culturais e sociais.

Essa educação informal por impregnação exercia-se de igual modo em

todos os estratos sociais: o que variava eram os conteúdos, não os métodos. No

entanto, a complexidade crescente das sociedades impôs a certa altura a

necessidade de uma educação formal para a aquisição de aptidões de natureza

intelectual (leitura e escrita, por exemplo, ou a arte de argumentar nas

sociedades em que o discurso passou a ser importante na conquista do poder)

ou saberes especializados (de natureza mágica, religiosa ou outra). Surge então

aquilo a que podemos chamar as primeiras escolas. Encontramos então os

sofistas exercendo o magistério na Grécia e os círculos de estudos em torno de

filósofos como Platão e Aristóteles. Essa tradição "escolar" tem continuidade no

império romano e organiza-se de forma mais sistemática durante a Idade Média.

Obviamente essa educação formal restringia-se aos membros das

classes elevadas, a quem o estatuto social permitia, por um lado, o ócio

intelectual e os recursos necessários (Quem disse que a educação era barata?)

e, por outro lado, exigia uma formação diferenciada e adequada ao exercício das

funções de mando.

Na idade média a nobreza dispensa durante muito tempo uma formação

intelectual cuidada: basta-lhe o adestramento militar e o saber estar de quem

está no topo da pirâmide social. Essa formação intelectual passa a ser apanágio

do clero. É a eles que compete a direção espiritual da Cristandade, o que exige

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alguma preparação de natureza teológica, bem precária por vezes; por outro

lado, torna-se cada vez mais necessária a aprendizagem do latim, a língua do

culto, dado que as línguas vulgares se vão progressivamente afastando da

matriz latina. E com a língua, sabemo-lo bem, vem a cultura, no caso a cultura

greco-romana, profundamente cristianizada é certo, mas mesmo assim uma

cultura "superior", que mais não seja porque apanágio de uma minoria.

Alguns saberes especializados, a medicina sobretudo, ter-se-ão

transmitido durante séculos de forma menos institucional, certamente pelo

processo de transferência de mestre a discípulo. Essa arte de combater os males

do corpo não se distinguia, para o homem vulgar, das práticas mágicas; a

distinção entre médicos e feiticeiros deveria ser muito difícil de estabelecer

nesses tempos pré-científicos. Daí que a prática da medicina estivesse

sobretudo entregue a judeus e árabes, a quem os constrangimentos da teologia

cristã não afetavam. Só por volta do século XII, com a criação das universidades,

esse saber se institucionalizou.

Depois foi aquilo que sabemos: o desenvolvimento contínuo, sistemático,

abrangente da educação formal. Quase exclusiva dos clérigos na Idade Média,

estendeu-se aos filhos da burguesia e à aristocracia, logo a seguir. Durante

alguns séculos mais permaneceu um exclusivo das classes privilegiadas. Só na

segunda metade do século XIX a ideia da escolaridade universal começou a

vingar, primeiro em França, e depois nos restantes países desenvolvidos. No

entanto, foi preciso chegar à segunda metade do nosso século para que a

escolaridade obrigatória se generalizasse.

Paralelamente a essa generalização, verificou-se uma progressiva

absorção de saberes, de tal modo que hoje, teoricamente, é praticamente

impossível saber seja o que for sem passar pelos bancos da escola. Quer se

trate de uma formação geral necessária à compreensão do mundo envolvente,

quer de uma mais especializada para o exercício de múltiplas atividades

profissionais, a aprendizagem escolar é imprescindível. E não podia ser de outro

modo. Em 25 séculos que tem provavelmente a instituição escolar, os saberes

especializados desenvolveram-se de tal modo que é praticamente impossível

construir uma imagem atualizada do mundo sem a intervenção da escola. E é

discutível que a própria escola o consiga.

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73

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

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Page 74: ÂNGELA VIEIRA- Coordenadora de Educação IDAAM-POSGRADO

74

CONCLUSÃO Para a elaboração do Plano de Ensino todos os professores precisam ter

conhecimento sobre os métodos, principalmente o da concepção. Nenhum

método é cem por cento eficaz, no entanto, o desconhecimento dos mesmos

deixa o professor desorientado para a realização de seu trabalho. Após a

elaboração deste trabalho conclui-se a necessidade de que o

educador/professor, elabore o Plano de Ensino, faça uso como uma ferramenta

de apoio e como um instrumento para seu trabalho.