número 15 Diz Guedes implicado na destruçom do … gostam dos EUA; na Rússia a escas- ......

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novas da Número 15, Fevereiro de 2004 15 número Nascem Bases Democráticas Galegas para a defesa da soberania Nacionalismo institucional, disposto a apoiar PP ou PSOE Turistificaçom pom em perigo o entruido de Laça Condenados a prisom três sindicalistas da CIG de Lugo Investigam PP por manipu- laçom eleitoral no Berzo Diz Guedes implicado na destruçom do património histórico de Tui Construtoras e imobiliárias vinculadas ao PP especulam com o património tudense Reportagem de Hilda Carvalho A desfeita urbanística produzida no casco histórico de Tui provo- cou danos irreparáveis em zonas de alto valor arquitectónico, his- tórico e arqueológico. Vulnerando leis de diferentes ámbitos, as construtoras obtivé- rom licença para derrubar espa- ços protegidos, edificar sobre prédios de alto valor patrimo- nial ou desobedecer ordens de paralisaçom, sob o abrigo de verea- dores municipais do PP. O primeiro presidente de umha cámara a conceder umha licença ilegal foi o actual Conselheiro da Política Agro-alimentar e Desenvolvimento Rural, Diz Guedes, que permitiu parcelar a quinta do Casino Velho sem a autorizaçom de Património. Ao mesmo tempo que Diz Guedes era promo- cionado dentro do PP, a empresa da sua família rea- lizava diferentes operaçons especulativas polas quais está implicada em, polo menos, seis casos de construçons nom auto- rizadas na área declarada Bem de Interesse Cultural (BIC). Actualmente, a Audiência Provincial de Ponte Vedra está a processar por prevaricaçom o presidente da Cámara de Tui, Feliciano Fernández Rocha, os vereadores da passada legislatu- ra, a secretária municipal e a assessora de urbanismo. O jul- gamento em curso tem a ver com a licença ilegal concedida ao Edifício Beira do Minho, mas nom é o único caso. Mais de dez construçons da vila raia- na estám a ser investigadas em diferentes organismos por vul- nerarem a legislaçom protectora do conjunto histórico. América Abjecta Est? Carlos Quiroga

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novas daNúmero 15, Fevereiro de 2004

15número

Nascem BasesDemocráticasGalegas para a defesa dasoberania

Nacionalismoinstitucional,disposto aapoiar PP ouPSOE

Turistificaçompom em perigoo entruido deLaça

Condenados aprisom trêssindicalistas daCIG de Lugo

Investigam PPpor manipu-laçom eleitoralno Berzo

Diz Guedes implicado nadestruçom do patrimóniohistórico de TuiConstrutoras e imobiliárias vinculadas ao PPespeculam com o património tudense

Reportagem de Hilda Carvalho

A desfeita urbanística produzidano casco histórico de Tui provo-cou danos irreparáveis em zonasde alto valor arquitectónico, his-tórico e arqueológico.Vulnerando leis de diferentesámbitos, as construtoras obtivé-rom licença para derrubar espa-ços protegidos, edificar sobreprédios de alto valor patrimo-nial ou desobedecer ordens de

paralisaçom, sobo abrigo de verea-dores municipaisdo PP. O primeiropresidente de umhacámara a conceder umha licençailegal foi o actual Conselheiroda Política Agro-alimentar eDesenvolvimento Rural, DizGuedes, que permitiu parcelar aquinta do Casino Velho sem aautorizaçom de Património. Aomesmo tempo que Diz Guedes

era promo-cionado dentro do PP,

a empresa da sua família rea-lizava diferentes operaçonsespeculativas polas quais estáimplicada em, polo menos, seiscasos de construçons nom auto-rizadas na área declarada Bemde Interesse Cultural (BIC).Actualmente, a AudiênciaProvincial de Ponte Vedra está aprocessar por prevaricaçom opresidente da Cámara de Tui,

Feliciano Fernández Rocha, osvereadores da passada legislatu-ra, a secretária municipal e aassessora de urbanismo. O jul-gamento em curso tem a vercom a licença ilegal concedidaao Edifício Beira do Minho,mas nom é o único caso. Maisde dez construçons da vila raia-na estám a ser investigadas emdiferentes organismos por vul-nerarem a legislaçom protectorado conjunto histórico.

América AbjectaEst?Carlos Quiroga

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O meu amigo Ondjaki vai deixar definitivamente a América (edizer sem mais “América” é dizer os Estados Unidos). Ele foipara Nova Iorque estudar cinema, mas nom consegue curar-se desaudades da terra angolana –e da sua namorada portuguesa. Ele éo rapaz mais alegre do mundo e nom obstante escrevia-me triste,como nunca dantes me escrevia, agora dos EUA. E escrevia “tris-teza”, e escrevia “nom vale a pena”, e escrevia “América”, e pare-cia querer dizer algo medonho e mau, como parece querer dizermuita gente quando olha para esse lado, porque dizer EUA pare-ce ter a equivalência moderna, para muita gente, de invocar odiabo.Parte do mundo odeia os EUA, o Bush, e nom só. Os motivosnom se ficam na guerra do Iraque: dados concretos de agora pare-cem de há vinte anos.Num estudo do ‘PewResearch Center’, queentrevistou dezasseis milpessoas em vinte paísesdiferentes, resulta que noBrasil apenas 34% daspessoas gostam dosEUA; na Rússia a escas-sa percentagem de 36%;e nom mais de 15% dosindonésios e indonésias.Na França, naAlemanha, há percenta-gens melhores, mas nomdá para aprovado nempara desmentir a conclu-som de que ”profundosvalores dividem ameri-canos e europeus”. Nocruzamento de dadoscom outras sondagens(Departamento deEstado, 1999; ‘PewResearch Center’, 2002;revista ‘Newsweek’,1983), verifica-se que oapreço aumentou nosanos 90, transiçomClinton-Bush, com des-cida abrupta depois.Claro que nos paísesmuçulmanos essa ten-dência nunca se verifi-cou: a popularidade americana nunca subiu... Coitados dos EUA!O mundo nom gosta do “amigo” americano. Mas que os separa daEuropa? A religiosidade americana? A segurança social europeia?A inveja...? E por que se preocupam tanto do que pensamosdeles?A minha amiga Marga já deixou definitivamente a América.Trabalhou vários anos nos EUA dando aulas de espanhol, e sen-tia-se dentro de um desses filmes ‘pirosos’ que todos os diasvemos. Serviam um café e era umha dessas empregadas oscilan-tes de filme ‘piroso’ que vinha servir. Quando chegava a casa ànoite era como se desligasse a televisom. Perguntei-lhe sobre osamericanos e respondeu-me que o pior para eles é ser chamado“perdedor”, “lixo branco”. Tem a certeza de que a religiom calvi-nista tem muito a ver: só nom se é triunfador por castigo divino,pensam eles, e sentem-se incapazes de admitir o erro, mesmo gra-matical. Agora Marga começa a corrigir-lhes os erros aqui, nasaulas de espanhol para americanos e americanas, com umha frase

no quadro, ‘errare humanum est’, que os desconcerta e deixaarrasados.Mas aqueles e aquelas que chegam aqui comportam-se de outromodo. Levam crachás contra a guerra e Bush que ali poderiamcustar a cadeia. Lembro-me do John, que queria fazer umha tesesobre a guerra civil espanhola na narrativa galega: regressou semdar mais notícia. Lembro-me também da Deborah, que nuncaregressou e leva aqui mais tempo do que calculara passar, e queno outro dia se admirava de que Janet Jackson tivesse causadotanto escándalo no intervalo da Super Bowl, quando no ‘show’lhe ficou à vista um seio. “O norte-americano médio sente nojopolo que viu no domingo”, recolhia um jornal na boca de BobLee, canal WDBJ-TV. Ninguém aqui pode achar que um seio à

vista poda ‘causar nojo’ aninguém. Ninguém aquideixa de se admirar de aComissom Federal deComunicaçons americanater recebido mais de200.000 queixas polamama inesperada. Numpaís que é o maior produ-tor de porno no mundo,assegura Deborah! E asérie ‘Urgências’ mutila ocapítulo da semana ondeumha velhinha de oitentaanos com cancro ensinavade longe um seio!Puritanismo. E depois viráum Michael Moore ensi-nar nalgum prodigioso‘Bowling for Columbine’que essa maioria puritanao que tem é medo. Por issose arma até aos dentes. Porisso as armas podem aca-bar nas maos de criançasde infantário e rapazesliceais, fartos de tudo e denom triunfar como omundo espera deles, quematam e se matam paracurar-se de tanto medocomo numha brincadeiraatroz.A americanidade lusa que

eu conheço dá para outras esperanças (e deixarei para a segundaparte aludir). A acrescentar ao devocionário (que também há portodo o planeta) nutrido nalgum “achado”, personagem, sonhosque concitam nomes. Coca-Cola, Marilyn Monroe, NBC, JohnFord, Chevrolet Impala, Empire State Building, NormanSchwarzkopf, Broadway, Las Vegas, Monument Valley, NormanRockwell, New York, Los Angeles, A Grande Depressom,Fitzgerald, Steinbeck, Hemingway, Pound, Whitman, FrankLloyd Wright, Roosevelt, Kennedy, Manhattan, Woody Allen,Jazz, Negros, Cole Porter, Irving Berlin, Frank Sinatra, Rodgers& Hart, Kenny Rogers, Dolly Parton, James Brown, Hollywood,os Anos 50, os Anos 90, os Anos Dous mil, o Onésimo Teotónio.Porque também há gente que ache ser difícil existir sem aAmérica, mesmo a de agora. Porque há quem afirme que o comu-nismo acabou por nom ter conseguido fabricar ‘jeans’... De qual-quer modo, a América pode ser abjecta, mas nom toda, claro...

Continua no próximo número

segunda

Editora: Minho Media S.L.

Director: Ramom Gonçalves

Redacçom: Carlos B.G., MartaSalgueiro, J. M. Lopes, Antón ÁlvarezSanz, Ivám Garcia, Alonso Vidal.

Correspondentes: Compostela,Beatriz Peres / Vigo, Xiana Gonzalez /Lugo, Joám Bagaria / Bérzio, IgorLugris / Corunha, Armando Ribadulha/ Ourense, Tiago Peres / Paris, J.Irazola / Madrid, José R. Rodriguez.

Colaboraçons: Maurício Castro, JoámCarlos Ánsia, Santiago Alba Rico,Xesus Serrano, Kiko Neves, José R.Pichel, Ramom Pinheiro, Carlos Taibo,Ignacio Ramonet, Ramón Chao.

Fotografia: Borxa Vilas, Rosa Veiga,Miguel Garcia, Arquivo NGZ.

Humor Gráfico: Suso Sanmartin,Pepe Carreiro, Pestinho +1.

Publicidade: 639 146 523

Imagem Corporativa: Paulo Rico

Desenho gráfico e maquetaçom:Miguel Garcia e Carlos Barros.

Correcçom lingüística: Eduardo Sanches Maragoto

NOVAS DA GALIZAApartado dos Correios 106927080 Lugo - GalizaTel: 639 146 [email protected]

As opinions expressas nos artigos nomrepresentam necessariamente a posi-çom do periódico. Os artigos som delivre reproduçom respeitando a orto-grafia e citando procedência. É proibi-do outro tipo de reproduçom sem auto-rizaçom expressa do grupo editor.

Fecho de Ediçom: 15.02.04

2 segunda Fevereiro 2004 novas da galiza

América Abjecta Est?Carlos Quiroga

“O norte-americanomédio sente nojo polo queviu no domingo”, recolhiaum jornal na boca de BobLee, canal WDBJ-TV.Ninguém aqui pode acharque um seio à vista poda‘causar nojo’ a ninguém.Ninguém aqui deixa de seadmirar de a ComissomFederal de Comunicaçons

americana ter recebidomais de 200.000 queixaspola mama inesperada.Num país que é o maiorprodutor de porno nomundo! E a série‘Urgências’ mutila o capí-tulo da semana ondeumha velhinha de oitentaanos com cancro ensina-va de longe um seio!”

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sumário

Entruido e turismo

Turistificaçom do Entrudo emLaça pom em perigo o desen-

volvimento do ciclo festivo

A memória do DRIL

O documentário SantaLiberdade, dirigido porMargarita Ledo, lembra osequestro do Santa Maria, aacçom mais sonada da organizaçom armada galego-portuguesa

Entrevistamos Loreta Martin

A habitual secçom demúsica oferece nestenúmero umha entrevistacom os componentes danova banda ourensana

Continua a luita polademocracia em Sada

Entrevista a Vítor Suárez,porta-voz da PlataformaCidadá pola Democracia

em Sada

editorialDiz Guedes e aespeculaçom em Tui

Novas da Galiza ofereceneste número umhareportagem sobre osinteresses imobiliários doConselheiro em Tui

editorialFevereiro 2004novas da galiza 3

Umha das mais recorrentes características dosestereótipos políticos na Galiza é o caciquis-mo. A rede clientelar que o PP tem tecido nestaterra vai mais além de umha simples e amigá-vel palmada nas costas do ou da votante porparte de um cargo político local ou provincial.Nom devemos recorrer à explicaçom fácil de"aproximaçom do poder" ou de "fascismo bio-lógico" para desculpar eleiçons após eleiçons ofacto de as urnas se encherem de votos para aformaçom popular. Devemos pensar que portrás de cada voto no PP existe um requintadoprocesso de tomada de decisons, quase nuncadas pessoas que exercem o seu direito ao voto. Nom se pode negar a existência de umha per-centagem de voto ideológico, mas, em concel-hos de crescimento populacional, cada vezmais cidadaos e cidadás "pagam" com o bole-tim de voto o favor recebido ou por receber, esofrem a coacçom, quer directamente polosmandatários locais ou representantes nos bai-rros, quer indirectamente através das "amea-ças" ou "recomendaçons" que muitos trabalha-dores e trabalhadoras recebem nas suas empre-sas junto com a encomenda de as transmitiremaos seus chegados. Nom podemos esperar quetal comportamento "caciquista" peocupe nadirecçom do Partido. A única obriga que ospresidentes das cámaras do PP tenhem com adirecçom é a de "angariar os votos necessá-rios" na sua vila ou comarca quando chegam aseleiçons. Nom interessa os meios que se utili-zam para tal fim. A chave de todo esta rede quase-mafiosa está

no Poder Local. O Partido Popular nom pode-ria explorar o viveiro de votos que a Galiza é,sem conseguir a qualquer preço as presidênciasdas cámaras municipais. E aí vale tudo:moçons de censura, compra de vereadores,apoio económico e mediático...O ámbito localconstitui o terreno ideal para levar adiante astarefas das redes especulativas: um grupo deempresas de diverso tipo, entre as quais desta-cam construtoras ou imobiliárias, ligadas amembros do PP local, investem importantesquantias nas campanhas eleitorais. Toda umharede de promessas laborais, acompanhadas decontactos pessoais nas paróquias, começa atecer a teia que desembocará num governomunicipal popular. Logo depois de instaladosno poder municipal o labor do governo local étornar rentável o investimento financeiro dasempresas "patrocinadoras". As construçons ile-gais, as contratas municipais, os postos deassessoramento, as modificaçons dos planea-mentos, a permissividade nas normas constru-tivas, som a moeda de curso que recebem osespeculadores. Já nem sequer é preciso pagarfavores eleitorais introduzindo familiares evotantes em postos de trabalho públicos. Etemos que admitir que o PP sempre foi, nessesentido, bom pagador: as máfias da constru-çom veem nos governos locais populares umvalor de investimento certo. Ora, se o governolocal nom for "popular", o tema poderá sair umbocado mais caro. Nesse caso o investimentodeve ser aumentado para "pagar" o voto dealgum tránsfuga. Mas a voragem da maquinaria financeira espe-culativa ligada ao PP precisa de retro-alimenta-çom para crescer. É neste sentido que preocu-pa, especialmente nalgumhas vilas, a máfia daespeculaçom legal. Com umha maioria absolu-ta, o PP pode redigir e aprovar com total impu-nidade um Plano Geral de OrdenaçomMunicipal que favoreça os seus "amigos", amáfia construtora e especulativa que o apoia.Assim sendo, que pode impedir que um PGOMque nom respeite zonas verdes, ruas amplas,proteja o património arquitectónico e histórico,etc., seja levado adiante, se umha CorporaçomMunicipal "democrática" o aprovar? Os ins-trumentos com que se pode combater estasituaçom som limitados: quando as leis sominjustas, e fam primar os interesses particularessobre os interesses da colectividade, que restaa fazer? Do nosso ponto de vista, enquanto ospartidos políticos maioritários forem cúmpli-ces num caso ou impotentes noutro, só o povoe uns meios de comunicaçom livres podemexercer a capacidade legítima de inverter esteprocesso de "especulaçom democrática" queestá a sofrer a Galiza.

"Especulaçom democrática": A cara lavada da corrupçom

A voragem da maquina-ria financeira especulati-va ligada ao PP precisade retro-alimentaçompara crescer. É nestesentido que preocupa,especialmente nalgumhasvilas, a máfia da especu-laçom legal. Com umhamaioria absoluta, o PPpode redigir e aprovarcom total impunidade umPGOM que favoreça osseus "amigos", a máfiaconstrutora e especulati-va que o apoia.

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Redacçom

Um juiz investiga a acusaçom demanipulaçom da comunidadecigana no concelho berziano deCacabelos por parte do PP.Segundo a denúncia do PSOElocal, Beatriz Anievas, umhavereadora 'popular' que actuavacomo representante do seu parti-do nas mesas de voto das elei-çons de 25-M, comprovava osboletins de voto do interior dosenvelopes que os e as votantesde origem cigana levavam consi-go quando se dirigiam à assem-

bleia de voto.Nove meses depois de se terapresentado a denúncia contra amilitante do PP e vice-presidentada cámara na anterior vereaçommunicipal (em maos do PP ecom José Luis Prada, Prada aTope, como presidente), os jul-gados de Ponferrada anunciavamo começo da investigaçom sobreo caso, que provavelmente serácondicionada por este atraso.Semanas antes, diversos sectoresdenunciárom o aumento de elei-tores e eleitoras nos censos, sus-peitando que tinham sido "incha-

dos" com a finalidade de garantira vitória do PP em determinadosconcelhos. Um dos casos maisgraves foi o do concelho de

Oência, onde mesmo haviarecenseadas pessoas em casasnom destinadas à habitaçom ouem campos de cultura. Em

Benuça até apareciam no censo14 pessoas a morar na mesmacasa, o endereço de umha verea-dora do PP.

Um colectivo de por enquanto14 pessoas, criou as BasesDemocráticas Galegas ao con-siderar que a defesa do princí-pio de autodeterminaçom temperdido "dramaticamente ter-reno num cenário marcado por

um visível retrocesso" no quediz respeito ao exercício de dire-itos e liberdades básicas. A ini-ciativa pretende aglutinar omaior número de pessoas nesteprocesso para a defesa dos dire-itos democráticos básicos. A

apresentaçom de BasesDemocráticas Galegas cele-brou-se em Santiago deCompostela, mas jácomençárom a percorrer ascomarcas galegas para impul-sionar esta iniciativa.

4 notícias Fevereiro 2004 novas da galiza

notícias

Nascem Bases Democráticas Galegas para adefesa "franca do direito de autodeterminaçom"

Investigam PP por manipulaçom eleitoral no Berzo

Redacçom

Seis som os pontos fundamentaisem que assenta um processo queleva por nome BasesDemocráticas Galegas e que pre-tende fazer "umha defesa francado direito da autodeterminaçom".Seis pontos básicos que falam daGaliza como naçom com direitoao exercício de autodetermina-çom, do povo galego como únicosujeito soberano de decisom notambém único ámbito possível: aGaliza. Fala-se ainda de democra-cia real e participativa, da cessa-çom no recorte das liberdades, daplena normalizaçom do galegocomo língua própria da Galiza ede um enquadramento galego derelaçons laborais. Como sextoponto, afirma-se que a naçomgalega nom se cinge exclusiva-mente ao território actual daComunidade Autónoma. A pre-tensom deste fórum é que sejamfeitas propostas para serem objec-to de debate e discussom. BasesDemocráticas Galegas nom pre-tende tornar-se em partido políti-co nem concorrer com os partidosjá existentes, segundo se pujo demanifesto na apresentaçom do

fórum em Compostela. As BDGdizem nom nascer contra nin-guém, pretendem apenas configu-rar umha iniciativa, nom partidá-ria nem sectária, de pessoas quepromovem a recuperaçom de ele-mentos decisivos para "rearticularum projecto de resistência, e aomesmo tempo de proposta activa,frente à ordem existente".Tem como objectivo "recuperar acultura política galega" que foiesmorecendo nos últimos tempos.BDG quer dizer alto e claro "quea autodeterminaçom é possível e,como qualquer direito básico,irrenunciável". A realidade quevive a Galiza tanto no camposocial e económico como nocolectivo levou estas pessoas, emprincípio 14, a abrir este processocom o propósito de declarar queno actual enquadramento jurídi-co-político "nom há cabimentopara todas as opçons políticas".As Bases Democraticas Galegassom um programa de mínimosque nasce com a ideia de marcarum norte irrenunciável em que sepoda enxergar a edificaçom deum projecto nacional galego comtodas as garantias. O colectivoconta já com umha página web

em que se pode assinar o manifes-to: www.basesdemocraticasgale-gas.org e onde poderemos obtertoda a informaçom sobre este pro-cesso aberto à participaçom depessoas a título individual.Activistas de BDG percorrerámagora o País a explicar o nasci-

mento deste fórum nas cidades ecomarcas a que seja possível che-gar, trabalhando pola incorpora-çom do maior número de pessoaspossível. No grupo impulsionadordesta iniciativa encontram-se asseguintes pessoas: AntolinAlcántara, Celso Álvarez

Cáccamo, Bráulio Amaro,Begonha Caamanho, AntónDobao Domingos, Antom GarciaFernandez, Xosé Maria Dobarro,Marcial Gondar, Dionisio Pereira,Afonso Ribas, Xesus Sanxuás,Xurxo Souto, Carlos Taibo eCarlos Velasco Souto.

A iniciativa foi apresentada publicamente através dumha rolda de imprensa em Compostela com a participaçom de vários dos seus assinantes

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5notíciasFevereiro 2004novas da galiza

Condenados a prisom três sindicalistas daCIG de Lugo por um piquete de greveRedacçom

Segundo informa www.galizali-vre.org, seis anos e um mês deprisom é a pena que a juízaRocío González Boñar doJulgado do Penal nº 2 de Lugoimpujo ao secretário geral daFederaçom do Metal da CIG emLugo, José Guilherme ReiRouco. A maior parte da pena (3anos e meio) seria, segundo amagistrada, por ter obrigado aencerrar "com métodos violen-tos" o Pub Ruada durante aGreve Geral de 20 de Junho de2002. Os dous anos e sete mesesrestantes corresponderiam a um

delito de "atentado", outro de"lesons" e umha falta de"danos". Rei Rouco fazia partena altura do piquete informativode quarenta pessoas que se diri-giu ao Pub Ruada, de que é pro-prietário José EduardoFernández Palacios, para convi-dá-lo a que respeitasse a jornadade Greve Geral. Devido à faltade disposiçom de FernándezPalacios, produzírom-se diver-sos incidentes que acabáromcom o actual processo judiciárioe com lesons a um polícia muni-cipal que participou no conflito. Além do secretário do Metal deLugo, fôrom também julgados os

filiados do sindicato nacionalistaJosé Luís Trigo Cruzado e JoséMéndez Torres, condenadosambos a 3 anos e 6 meses de pri-som por "um delito contra osdireitos dos trabalhadores". AJustiça espanhola impujo tam-bém a Trigo Cruzado um ano eseis meses de prisom "por aten-tado" e a Méndez Torres quatrofins-de-semana de prisom "porumha falta de mau-trato".Sobre Rei Rouco recai, além dacondena de prisom, umha san-çom de 2.820 euros e pagamentode 8.497 euros em conceito de"indemnizaçom" ao políciamunicipal que supostamente terá

lesado. A sentença da juízaGonzález Boñar impom-lheainda o pagamento de 235 eurosao SERGAS polas despesas decura do agente policial. Paraalém disso, a este delito de"atentado" supostamente cometi-do polo sindicalista foi aplicadoo agravante de "reincidência".Apontar, para além de todosestes dados, que por parte daacusaçom particular compareceuo advogado Luis Lamas, conhe-cido na cidade das muralhas polasua militáncia como falangista,sendo actualmente vereador doPP na cámara luguesa.

Nacionalismo institucional, disposto aapoiar governo do PP ou do PSOE

Redacçom

As iminentes eleiçons estatais domês de Março estám a servir oBNG para tirar à luz pública umnovo reajustamento do discurso,muito mais convencional e difu-so do que as declaraçons comcerta carga política e ideológicade anos atrás. Na Galiza pós-Prestige, caracterizada polo ace-lerado avanço do processo deinvoluçom democrática protago-nizada polo governo Aznar, oprojecto publicamente capitane-ado por Anxo Quintana centraráa sua intervençom eleitoral nocombate às maiorias absolutas,na aposta pola governabilidadedo Estado -independentementeda força que atingir a maioria-,na defesa da Constituiçomespanhola no que tem de "recon-hecimento da condiçom nacionalgalega" e à procura de um eleito-rado nom nacionalista que atéhoje o BNG nom teria conquista-do.A primeira encenaçom da pré-campanha produziu-se com a

apresentaçom pública das listas,em boa parte devedoras da con-signa renovadora recentementeaprovada e com umha notávelpresença de mulheres. Ainda quepola província da Corunha repi-tam os candidatos FranciscoRodríguez e Carlos Aymerichnos primeiros postos, no restodos lugares serám novas caras aocupar a propaganda eleitoral: adeputada Olaia FernándezDavila por Ponte Vedra, o sindi-calista da CIG e membro da AS-PG Xosé Antón Bao será cabeçade lista por Lugo e Tareia Paz,também vinculada ao sindicatonacionalista, por Ourense. Mas aprova mais evidente dessa novaetapa do nacionalismo institucio-nal numha linha mais aberta aposiçons outrora "inimigas" já setinha produzido com a apresen-taçom do programa cultural daformaçom frentista. Em finais deJaneiro, num conhecido hotelcompostelano, conhecidas figu-ras do oficialismo cultural comoXosé Luís Barreiro ou PérezMariñas aderiam publicamente à

candidatura nacionalista. Junto aeles encontravam-se represen-tantes do mundo da arte, aUniversidade, o audiovisual, amúsica, ou mesmo a normaliza-çom lingüística, mesmo apesardas duas figuras citadas seremconhecidas utentes do espanholnos meios de comunicaçom.As posteriores declaraçons deAnxo Quintana reforçárom estavontade de homologaçom ao dis-curso político mais convencio-nal: cumpre, afirmou, incidir nagovernabilidade do Estado evi-tando maiorias absolutas, paramanter o status constitucional noatinente à Galiza. O BNG nomdescartaria o pacto com o PP ouo PSOE, e deixam-se de parte,até no terreno das declaraçons,as reivindicaçons de reforma doenquadramento jurídico-político.Eis o sentido da recusa a com-partilhar reclamaçons como ascatalás ou andaluzas quanto àcriaçom de agências tributáriaspróprias e remarcar a necessida-de de umha "via galega". Via,entenda-se, caracterizada polo

escrupuloso respeito àConstituiçom e por um nível rei-vindicativo mais baixo do que ode certos regionalismos. AGaliza que "quer condicionar apolítica de Madrid" procurariamais peso em troca de mais leal-dade ao enquadramento espan-hol.Por seu turno, o independentis-mo representado por NÓS-UPrelativizou a transcendência doprocesso eleitoral e pediu paranom se esquecerem as importan-tes liçons das mobilizaçons demassas dos últimos anos, com asquais cumpriria prosseguir.Descartando qualquer imobilis-mo ou posiçom fechada, fijo umchamamento nesta ocasiom àabstençom activa e consciente,num momento de grave involu-çom política e recorte das liber-dades. Segundo esta organiza-çom política, seja qual for oresultado nom suporá mudançassalientáveis para a "naçom gale-ga, a classe trabalhadora e asmulheres".

MDL quer quese "Respeite aGaliza"

NGZ

No passado mês de Dezembro,o Movimento Defesa daLíngua iniciou umha campan-ha de difusom da toponímiacorrecta do País. Segundo umresponsável pola iniciativa,pretendia-se informar as pes-soas lusófonas que nos visitamda forma correcta dos topóni-mos galegos. Comentam noMDL que é muito freqüentever como em textos lusófonos,em mapas, sítios web, etc.aparecem os nomes galegosdeturpados à espanhola.A ideia assentou, segundofontes da própria organiza-çom, na hipótese de colocarum possível utilizador ou uti-lizadora das formas galegasespanholizadas perante aestranha circunstáncia de ver,espanholizados também,nomes representativos decidades e regions daLusofonia. Assim, trabalhou-se na confecçom de uns outrosmapas alternativos de "ElBrasil" e "Puertugal", comtopónimos deturpados.Alternavam-se esses mapascom frases apelativas àcoerência e ao respeito.A campanha, divulgada naprópria página da organizaçomwww.mdl-galiza.org contoucom banners inseridos nosprincipais portais gratuitoscom ligaçons para os ecransdos mapas."O êxito foi rotundo - indicaum membro do Conselho. Apágina da organizaçom acolhiaquase mil visitas diárias nes-sas datas e o MDL recebeu osparabéns de muitas pessoas ecolectivos".Comentada nos diferentesfóruns, nom faltou também acrítica de pessoas sensibi-lizadas com a contundênciados lemas utilizados numhacampanha que, segundo ascríticas, trata como falta derespeito o que apenas édesconhecimento dos topóni-mos galegos.

NÓS-UP fai um chamamento à abstençom activa no 14-M

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6 notícias Fevereiro 2004 novas da galiza

Oposiçomvicinal a vial em Bergondo

NGZ

Vizinhos e vizinhas do concelhomarinhao de Bergondo estám amostrar a sua rejeiçom ao traçadodo denominado Vial-21, que uniráesta localidade com Sada. Paracanalizar os protestos popularesconstituiu-se a Plataforma Anti-Vial 21, que já celebrou assem-bleias e organizou manifestaçons.Neste colectivo cidadao assegura-se que "numerosos vizinhos evizinhas perderám as suas casas emeios de vida por causa destevial", e ainda, que "as paróquiasserám separadas em duas metadespor umha via de 30 metros de lar-gura, com umha altura média de 6metros, sobre noiros, que mesmoalcança nalguns pontos 12 metrosde alto, com um percurso total de5,5 km". A plataforma vicinal assi-nala também que "a comunidadenom foi informada em nenhummomento pola CámaraMunicipal", que governa o PSOE.

Abandonam cadeia de Teixeiro independentistasdetidos por realizarem um mural

Nova aposta do Reintegracionismoem CompostelaNascimento da Gentalha do Pichel confirma que reivindicaçom cultural de baserevigora na capital galega

Redacçom

Ugio Caamanho Sam Tisso, mem-bro da Direcçom Nacional deNós-Unidade Popular, e MiguelGarcia Nogales, integrante doConselho Nacional da AMI aban-donárom na passada sexta-feira 30de Janeiro a prisom de Teixeirodepois de terem permanecido qua-tro dias no módulo de ingressos docentro penitenciário corunhês porrealizarem no ano passado ummural reivindicando a autodeter-minaçom. O motivo formal dacondenaçom, imposta polo decanodos julgados de Compostela, oultradireitista Francisco JavierMíguez Poza, foi somente o factode os moços independentistasterem sido identificados por agen-tes da Polícia municipal quandoparticipavam na elaboraçom deum mural na Avenida de Lugo dacapital galega. Ugio e Miguelingressárom na cadeia na segun-da-feira e, ainda que no começo apena estabelecesse que eram cincoos dias que deviam permanecernela, as autoridades espanholasacabárom por adiantar para amanhá da sexta-feira a saída dosdous cidadaos compostelanos. Já àtarde, umhas sessenta pessoasmostrárom a solidariedade com osmoços retaliados numha concen-traçom convocada polo organismo

popular anti-repressivo Ceivar naPraça do Toural de Compostela. Com esta sentença já som cinco aspessoas denunciadas poloGoverno municipal que tivéromque passar por prisom por motivossemelhantes. A este númerodevem acrescentar-se dúzias deprisons domiciliares, milhares deeuros em "sançons" e "indemniza-çons" e mais de 300 pessoas pro-cessadas desde o Jacobeu de 1993por exercerem a liberdade deexpressom na capital da Galiza.Perante esta situaçom, váriasdúzias de militantes de Nós-UPmantivérom umha greve de fomeentre o dia 28 de Novembro e odia 19 de Dezembro do 2002 emturnos de três dias para reivindicaro fim da repressom e a reforma daOrdenança Geral de Protecçom doMeio Ambiente Urbano.O organismo anti-repressivoCeivar mostrou preocupaçom poloque acham um importante avançoqualitativo nas medidas coerciti-vas habituais que o Governomunicipal de Compostela aplicacontra a liberdade de expressom.Este colectivo situa a responsabili-dade íntegra dos factos na Cámaramunicipal e na Junta Local deSegurança, "instituiçons queestám a exercer umha coacçomsistemática sobre as pessoas,colectivos e organizaçons que

integram o independentismo nacapital da Galiza". Ceivar salien-tou que, nom por acaso, ao estar-mos num novo Jacobeu, a escala-da repressiva poderá vir a aumen-tar ainda mais. O organismo anti-repressivo entende que é momen-to de dar umha resposta à alturadas circunstáncias para fazer facea umha situaçom que ameaça comtornar-se em quotidiana.

Rejeitam recurso por estar redi-gido em galego históricoA 11 de Fevereiro passado, oJulgado Nº2 notitificava aCaamanho Sam-Tisso e GarciaNogales a desconsideraçom dorecurso legal interposto por estescontra o seu ingresso em prisom.O motivo nom fôrom os conteú-dos do recurso, que nom chegá-rom a ser analisados, mas a nor-mativa reintegracionista utilizadana sua redacçom.Após ter recebido o recurso,Míguez Poza pediu ao escritóriode traduçom dos julgados um rela-tório para certificar a língua emque estava redigido. O responsá-vel de Traduçom, Xosé Parente,remitiu o relatório para a RealAcademia Galega, cuja ComissomExecutiva assegurou que "o docu-mento (...) nom se adapta àsNormas ortográficas e morfológi-cas do idioma galego, oficiais para

a escrita do idioma galego".O organismo anti-repressivoCeivar denunciou "a aberta, explí-cita e impune beligeráncia contrao galego que aplicam muitos

magistrados, com Míguez Poza àfrente, e um sector significativo dafunçom pública dos julgadoslocais".

Redacçom

A Associaçom Cultural "AGentalha do Pichel" encerrou oprocesso de constituiçom come-çado em Novembro do passadoano com a celebraçom da suaAssembleia Fundacional na capi-tal da Galiza. Sob a legenda"Associa a tua Cultura", a mesapromotora da associaçom convi-dava os compostelanos e compos-telanas a participarem de umencontro donde deveriam sairaprovados os textos que, desdeesse mesmo dia, orientariam ofuncionamento futuro da organi-zaçom.A 31 de Janeiro, no Museu doPovo Galego e com uns minutosde atraso sobre a hora prevista,dava-se leitura a um discurso de

bem-vinda que, se bem quereconhecesse as dificuldades doprocesso que nesse dia concluía,destacava a necessidade e urgên-cia de trabalhar para garantir osucesso do projecto. Um nutridogrupo de pessoas debateu durantemais de duas horas sobre o regu-lamento da organizaçom e a pla-nificaçom do trabalho para o pre-sente ano, referendando maiorita-riamente a linha de defesa da lín-gua e cultura nacionais galegasseguida pola associaçom até omomento e ficando aprovada arealizaçom de campanhas de dife-rente signo. A associaçom compostelana tinhaprotagonizado, nos últimosmeses, boa parte das actividadesculturais celebradas na cidade. Amais destacada foi a homenagem

tributada a quem fora presidentenacionalista nos últimos meses daCámara municipal da Compostelarepublicana, Ángelo Casal; edi-tou-se um pequeno caderno expli-cativo sobre a sua figura e convo-cou-se umha concorrida palestra aque assistírom Xosé MariaDobarro e Dionísio Pereira. Osvizinhos e vizinhas deCompostela poderám continuar adesfrutar, neste ano, de debatescomo o organizado em Janeiro,mas também de cursos de dança epandeireta, roteiros pola comarca(a associaçom fai parte daCoordenadora Galega deRoteiros) ou da informaçom ela-borada pola Gentalha do Pichelsobre os mais variados temas deinteresse cultural. De tarde procedeu-se à leitura e

aprovaçom das oito resoluçonsemanadas da assembleia, poden-do destacar entre elas as referidasao ano jacobeu, a crítica à Lei deProtecçom do Meio AmbienteUrbano e à construçom das barra-gens do Ulha. Destacou ainda oapelo à necessidade de ser convo-cada umha manifestaçom nacio-nal unitária do reintegracionismono próximo Dia das LetrasGalegas. Após as intervençonsdas organizaçons convidadas pre-sentes -AGAL, MDL, Cineclube,Erva, Fala Ceive, A.C. Galeguizae A.C. Reviravolta- deu-se passa-gem à leitura de um discurso deencerramento caracterizado poloschamamentos ao diálogo. Com ocanto do Hino Nacional finalizoua Assembleia.

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reportagemFevereiro 2004novas da galiza 7

Cámara de Tui autoriza obras ilegais em benefício de empresas afins

A desfeita urbanística produzida no casco históricode Tui provocou danos irreparáveis em zonas de altovalor arquitectónico, histórico e arqueológico.Vulnerando leis de diferentes ámbitos, as construto-ras obtivérom licença para derrubar espaços protegi-dos, edificar sobre prédios de alto valor patrimonial

ou desobedecer ordens de paralisaçom, sob o abrigode vereadores municipais do PP. O primeiro presi-dente de umha cámara a conceder umha licença ile-gal foi o actual Conselheiro da Política Agro-alimen-tar e Desenvolvimento Rural, Diz Guedes, que per-mitiu parcelar a quinta do Casino Velho sem a auto-

rizaçom de Património. Ao mesmo tempo que DizGuedes era promocionado dentro do PP, a empresada sua família realizava diferentes operaçons especu-lativas polas quais está implicada em, polo menos,seis casos de construçons nom autorizadas na áreadeclarada Bem de Interesse Cultural (BIC).

Construtoras e imobiliárias vinculadas ao PPespeculam com o património tudense

Hilda Carvalho

Actualmente, a AudiênciaProvincial de Ponte Vedra está aprocessar por prevaricaçom o pre-sidente da Cámara de Tui,Feliciano Fernández Rocha, osvereadores da passada legislatura,a secretária municipal e a assesso-ra de urbanismo. O julgamento emcurso tem a ver com a licença ile-gal concedida ao Edifício Beira doMinho, mas nom é o único caso.Mais de dez construçons da vilaraiana estám a ser investigadas emdiferentes organismos por vulne-rarem a legislaçom protectora doconjunto histórico.Entre as empresas que participá-rom nas operaçons especulativasencontra-se a sociedade mercantilDizgue SL, empresa da família deDiz Guedes na qual o anteriorDelegado do Governo participacom 12,5% das acçons. A compan-hia que dirige o patriarca dos Dizobtivo licenças para construir emespaços protegidos pola denomi-naçom BIC, numha área que Fdez.Rocha 'libertou' para os projectosimobiliários das empresas afins.As agressons ao património dazona histórica produzírom-se comimpunidade até o ano 2000, coin-cidindo com a construçom doEdifício Beira Minho e a crescen-te irrupçom das construtoras naárea. Este ano, um grupo de vizin-hos e vizinhas apresentou váriasdenúncias contra a CámaraMunicipal pola referida edifi-caçom ilegal, e isto motivou amediaçom do Valedor do Povo.Foi entom quando a Conselhariada Cultura facilitou às pessoasdemandantes documentaçomsobre as obras realizadas, o quedestapou um "incrível caso decorrupçom urbanística" consenti-do pola "passividade cúmplice dosserviços de inspecçom e das auto-ridades competentes", assinala oporta-voz vicinal José MariaLores. Em Março de 2001 aDirecçom Geral do Patrimónioabria expediente sancionador àCámara Municipal: tinha-se des-coberto o derrubamento de trêsprédios decimonónicos sem auto-rizaçom.

Prédio Beira Minhorevela trama especulativaDous meses depois da intervençomde Património, Fdez. Rocha desa-fiava este organismo concedendoumha segunda licença para aampliaçom de andares de habi-taçom, atingindo assim o prédio os30. Os Tribunais continuárom o seucurso, implicando mesmo PilarRojo, actual Conselheira da Famíliae na altura chefa da Área Urbana daGerência do Cadastro em PonteVedra. Rojo tinha assinado aponência de valores cadastrais emTui do ano 1995, com os planos fal-sificados que empregava aVereaçom municipal.De facto, Rocha utilizou para a

concessom de licenças planos dife-rentes aos possuídos polaConselharia da Cultura, em queficavam livres para a construçomzonas protegidas na demarcaçomde conjunto histórico aprovada em1967, catalogada como BIC em1985 pola Lei de PatrimónioHistórico e protegida pola Lei dePatrimónio Cultural da Galiza em1995. Dos 36 planos aprovadospola Junta só 3 coincidiam com osdo presidente da Cámara.Curiosamente, entre o corpo deaccionistas do Beira Minho figu-ram a mulher do vereador 'popular'da Cultura no concelho do Rosal. Aprópria mulher do arquitecto quedirigiu o prédio, sócio do presiden-

te da Cámara de Salzeda deCaselas, contava com 25% dasacçons da empresa construtora, queutilizou diferentes nomes ao longoda edificaçom do prédio, comoNorsema ou Norpinheiro, confor-me indicam fontes reservadas deTui.Os terrenos sobre os quais foilevantado o Beira Minho fôrompagos e permutados irregular-mente. Vizinhos e vizinhas dazona asseguram que o construtorJosé Luís Rocha Portela (nomvinculado familiarmente a Fdez.Rocha) se acha em paradeiro des-conhecido fugindo das recla-maçons dos afectados e afecta-das, com as únicas referências de

umha razom social em Vigo e asua imputaçom judicial.

Desfeita do Casino VelhoO Casino Velho é umha das cons-truçons mais emblemáticas de Tui,situada no Passeio da Corredoura.Em 2001 Património autorizava a suareabilitaçom com a necessária con-servaçom da fachada. Na sua linha, ogoverno Rocha permitia a cons-truçom de um novo prédio no terrenotraseiro, factos já consumados hoje.Mas as agressons sobre o lote jácomeçaram durante o mandatomunicipal de Diz Guedes, que tinhaconcedido a citada licença de 1989para o chamado Edifício Centro,consentindo a parcelamento da quin-ta. Se inicialmente iam ser dous pisose duas caves, acabou por ser acres-centado consentidamente mais umandar e aproveitamento sob coberta.Segundo assinala Gustavo Lucanumha reportagem publicada nosemanário 'A Nosa Terra' (Nº1.035), o prédio Centro foi cons-truído por Tu Discóbolo SL, pro-priedade de Antonio Castro Peña,Ramón Rosada, e outros amigospessoais de Diz Guedes, membrosmilitantes do PP de Tui. O governotudense dava liberdade para segre-gar 2.250 metros quadrados doterreno protegido.A empresa familiar participadapolo Conselheiro da Política Agro-alimentar, Dizgue SL, está tambémimplicada na trama do CasinoVelho pola venda dos lotes para aconstruçom de um prédio que bap-tizárom como Edifício Kiwi. Por se fosse pouco, em 2002 fôromdescobertos sob o Casino restosromanos de épocas compreendidasentre o século I e o VI d.C., concre-tamente, vestígios de um cemitérioromano, canalizaçons, calçadas eassentamentos. Algumhas das peçasencontradas acabárom no Museu dePonte Vedra, enquanto as restantesficárom soterradas polo cimento danova construçom, o que motivoudenúncias procedentes do mundo daarqueologia. A escassos metros dojazigo localizado situa-se o prédionúmero 25 do Passeio da Corredoira,construído sobre restos romanos,segundo asseguram os operários, epromovido por Dizgue SL.

Obras na parte posterior do Casino Velho. Segregaçom ilegal do lote permitiu construçom de novos prédios.

Denúncias vicinais começárom com a polémica do prédio Beira Minho. NGZ

NGZ

Assistimos a um"inacreditável caso

de corrupçom"consentido pola

"passividadecúmplice dos

serviços de inspecçome das autoridades

competentes"

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8 reportagem Fevereiro 2004 novas da galiza

Em Dezembro de 2003 o Julgado deInstruçom número 2 de Tui abriadiligências contra a Cámara tudensepor desobediência à Direcçom Geralde Património ao nom ter parado asobras ilegais do Casino Velho. Ogoverno de Rocha também desaten-deu as reclamaçons da DelegaçomProvincial da Cultura, a Conselhariada Cultura e Protecçom doPatrimónio Cultural.

Ilegalidades de Dizgue SL,

a empresa da poderosa família Diz

A sociedade mercantil Dizgue SL,composta por Diz González e osseus filhos, foi privilegiada polapolítica de Fdez. Rocha que,enquanto mantinha com rigidez asleis urbanísticas para a vizinhança,permitia a realizaçom de obras ile-gais por empresas como esta. Umhadas edificaçons ilegais processadasjudicialmente é o citado PrédioKiwi, construído sobre um lote deJosé Diz González.O 'Kiwi' foi construído porInversons Imobiliárias Marvil SA,empresa administrada polo ex-vere-ador do Urbanismo de Tominho,Fernando Otero Vilarinho, que temrealizado um bom número de obrasirregulares para a família Diz.Algumhas na mesma rua que o'Kiwi' (Foxo), como a residência dafamília do Conselheiro no número 6.Outro prédio em litígio construídopor Marvil SAencontra-se no núme-ro 11 da rua Martínez Padim, onde a

empresa tinha osescritórios. Alicença munici-pal, concedida em1998, nom contoucom a necessáriae vinculante auto-rizaçom do pelou-ro da Cultura. E olote foi compen-sado em permutasao seu anteriorproprietário: JoséDiz González.Mas as operaçonscontra o patrimó-nio empreendidaspolo tandemDizgue-Marvilnom ficam poraqui. Ao pé doCasino Velho ficao mencionadoprédio número 25do Passeio daC o r r e d o u r a(Calvo Sotelo),erigido sobre um lote de DizGonzález pola empresa de OteroVilarinho. Construído em 1999,contou com a aprovaçom daDelegada Provincial de Culturapara acrescentar umha cave e apro-veitamento sob coberta numhazona protegida em que fôromencontrados vestígios romanos. Naautorizaçom eximia-se Marvil desondar arqueologicamente o terre-no. E no processo aberto, a

Delegada justifi-cou a aberraçomaduzindo que,como a licençanom tinha exigidoo controlo arque-ológico, este factotinha podido"confundir" osp r o m o t o r e s .Após a cons-truçom do prédiojá era tardedemais.O Director Geralde Património,Ángel SicartGiménez, recu-sou-se a respon-der a umha per-gunta relizada por'A Nosa Terra' emque solicitavamexplicaçons porter eximidoMarvil dos con-trolos arqueológi-

cos. Ainda, Sicart autorizara em1996 um segundo piso num prédiosituado no número 31 da mesmarua, vulnerando de novo a pro-tecçom legislada para a zona BIC.Dizgue e Marvil operárom juntastambém no Prédio Baamonde, narua do mesmo nome, obra quesupujo a demoliçom de um prédiodo século XIX, que foi excluídodos limites do BIC, ficando isentoportanto da Lei do Património.

A rede da corrupçom

No Baixo Minho existe umha redede empresas da construçom commilitantes do PP à frente que tenhemrealizado numerosas operaçonsespeculativas. Nesta rede Dizgue éumha peça importante mas sabe-seque tem muitos mais tentáculos dosquais assinalamos algum exemploobtido de declaraçons recolhidas defontes reservadas da zona.Estas apontam a existência de umha"máfia relacionada com FernandoOtero Vilarinho", o referido militan-te 'popular' ao qual alguns vizinhos evizinhas tominheses vinculam como narcotráfico. Esta rede estaria portrás da moçom de censura com queRocha desbancou o anterior com-panheiro do PP Miguel Capom, como apoio de um sector do próprio PP,que derivou na Coligaçom PopularTudense, liderada na altura poloactual presidente da Cámara. Fonteslocais assinalam que certos empre-sários financiárom a CPT e hojecontinuam a encher o cofre do PPpara as suas campanhas.Um dos empresários mais poderososé José Jaime Gradin Bouzas, benefi-ciado por requalificaçons urbanísti-cas e proprietário de um grandegrupo empresarial. Segundo indi-cam vizinhos e vizinhas de Tui,Gradim comprou os terrenos adja-centes à autovia que une a cidadecom Portugal antes da sua cons-truçom. As mesmas fontes afirmamque Gradin controla, directa ou indi-

Novo andar do Casino Velho destaca notavelmente sobre a fachada

Dizgue SL foi

privilegiada por

Rocha mediante a

autorizaçom de

obras ilegais

NGZ

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9reportagemFevereiro 2004novas da galiza

rectamente, numerosas empresasdos polígonos do norte português.Conta com umha loja na ruaCorredoura que está normalmentedesocupada. Ora bem, durante ascampanhas eleitorais cede-a parauso do PP e actualmente é o escritó-rio onde o PP de Tui informa sobre onovo plano de ordenaçom.Entre a "máfia construtora e as famí-lias beneficiadas" destacam cargosdo PP como o chefe local do partido,Manuel Crisóstomo, que favoreceua moçom de censura que levouRocha ao poder, enquanto permane-cia no PP. É o proprietário de ÁridosCrisóstomo, empresa que realiza tra-balhos para a Cámara.Companhias vinculadas aFernández Rocha, geridas polo seufilho, estám a construir nas vilas dePonte Areas, Salvaterra e Salzeda deCaselas. Por ser turno, companhiasdo clam de Ponte Areas (ReginoGiráldez Boo, Taboar...), edificamtambém em Tui.Os privilégios som só para as imobi-liárias, construtoras afins e membrosdo PP. Um exemplo recente de tratode favor ilegal beneficiou a ex-dele-gada do governo na Catalunha eactual ministra de Administraçons

Públicas, Julia Garcia-Valdecasas,que tem umha residência em Tuicom vistas para o Minho. Situada nazona protegida, a Cámara permitiuque Gás Galiza se abrisse passo nazona histórica para a instalaçom depropano na sua morada e na deGradin. Numha ocasiom, umhavizinha perguntou porque nom tinhagás na sua casa, já que a canali-zaçom passava à frente da porta, eum operário sincero respondeu: "évocê ministra?".Por seu turno, a irmá de Valdecasasderrubou há pouco tempo parte damuralha da zona histórica, sem autori-zaçom de Património, para abrir umhavia pavimentada que invade o passeiofluvial e permite a passagem de carrosaté a propriedade dele. A desfeita pro-vocou o derrube de sete metros demuro, para além da construçom deumha garagem com licença para um"Arranjo de Horta e Alpendre".

Rocha: um homem de Diz GuedesFeliciano Fernández Rocha passoude ser pequeno construtor a acumu-lar um interessante património coma ajuda de Diz Guedes. Segundofontes reservadas, o actualPresidente de Cámara terá obtido,

através das boas relaçons com DizGuedes, a oportunidade de construirpola península adiante váriasestaçons de serviço da conhecidamultinacional petroleira SHELL.Com esta operaçom, Rochacomeçou a carreira empresarial àgrande escala.

O que tinha sido durante a presidên-cia de Miguel Capom vereador deUrbanismo, obtivo licença em 1997para construir o controvertido prédioFamília, na zona histórica. Um anodepois, após a ruptura das relaçonscom o PP de Capom, Rocha lançavaumha moçom de censura de dentrodo próprio PP, movida polos interes-

ses imobiliários. Depois de ser pro-movido para o governo municipal,abria-se "um processo brutal e siste-mático de destruçom do patrimónioedificado, assim como do solo e sub-solo arqueológico", destaca XoséMaría Lores. Entretanto, Rochafinalizava a obra do 'Família'.O novo presidente da Cámara gaba-va-se de nom estar submetido ao"código ético do PP" (sic) por nomser já integrante da formaçom, legi-timando assim as suas decisons naárea do urbanismo. Porém, o partidode Fraga nom duvidou ao apresentá-lo às eleiçons de 2003 como novacabeça de lista 'popular', nom semantes ter expulsado Capom.No mesmo ano em que era eleitoPresidente de Cámara, os numerososprocessos judiciais abertos obrigároma Conselharia da Cultura e, posterior-mete, Política Territorial a suspendero planeamento urbanístico vigenteaté a aprovaçom de umhas novas nor-mas pola Junta. Por estas datas, LaVoz de Galicia intitulava numha notí-cia "Um presidente de cámara bemrelacionado com Diz Guedes", dei-xando bem clara a sua posiçom den-tro do 'quebra-cabeça' caciquista.Sem complexos, Fdez. Rocha descul-

pava-se polas diferenças entre a pla-nificaçom do Conjunto Histórico quetinha a Junta e a manipulada pola pró-pria entidade municipal: "Que acon-teceu? Nom sei se se perdêrom pla-nos, ou se nom foi correcta a sua tra-mitaçom, trabalhos que nom fam ospresidentes de cámara".Nestes dias fôrom apresentadas asnovas normas urbanísticas que Rochapretende aprovar em Tui. Um novoplano que prevê actuar na zona II doperímetro BIC para legalizar automa-ticamente o prédio Kiwi. O redactordeste e do anterior plano é RobertoAya, cidadao de origem colombianaconhecido por ter trabalhado paracámaras municipais com problemasurbanísticos como o de Ogrobe.A nova proposta apresenta irregula-ridades como a pretensom de cons-truir em monte comunal, ou emlugares que já descartou Urbanismo.Perante as reclamaçons de organis-mos da Junta, a Cámara apresentoualegaçons que, segundo fontes pró-ximas, nom tenhem assinatura nemtimbre da Cámara, presumivelmentepara eludir responsabilidades. Porenquanto, os processos judiciaisavançam, alguns com possibilidadede castigar penalmente a Cámara.

Juan Miguel Diz Guedes, perten-cente ao sector mais reaccionáriodo PPdeG, nasceu em Tui em1953. Após ter-se licenciado emDireito pola Universidade deSantiago, começa a sua trajectóriapolítica na vila minhota.Filho do Pipo, alcunha de DizGonzález, Guedes era conhecidocomo Náni nas ruas tudenses. Fijoservir o jeito para os negócios dopai para situar-se numha posiçomprivilegiada a respeito dos podereslocais. O patriarca familiar realiza-va contrabando de materiais deconstruçom que trazia de Portugal,segundo fontes que o acusam tam-bém de contrabando de mulherespara a limpeza de casas de estirpe. Diz Guedes foi vereador entre1983 e 1987, ano em que seria pro-movido para a Presidência daCámara que manteria até 1990.Alterna esta actividade com a pre-

sidência do PP tudense, de1989 a 1995.Ao mesmo tempo, DizGuedes assume cargos deresponsabilidade no gover-no da Junta. Desde 1991trabalha como assessor daCOTOP durante a etapaCuinha, até que em 1993assume a direcçom daConselharia da Justiça,Interior e RelaçonsLaborais. Neste período, ecoincidindo com a etapaem que preside o PP de Tui,realiza-se a tramitaçom dopolémico PXOU, com aconseqüente cumplicidadedo próprio Diz.Com o primeiro governoAznar, Diz Guedes conver-te-se em Delegado doGoverno. Conhecido porordenar e justificar violen-

tas cargas policiais, como ada mobilizaçom em Minhocontra umha homenagem aFraga. Em palavras deManolo Rivas, Náni "fijoumha importante achega àlinguagem de Estado que ocoloca à altura dos géniosda semiótica" nas suasdeclaraçons aos meios. Aretorcida frase dizia: "nomhouvo carga nenhuma, sóum simples deslocamentoda massa manifestante".A esta intervençom repres-siva há que somar as cargassobre o pessoal sanitário emgreve de Povisa (no interiordo próprio hospital), a mal-heira sofrida por pessoas"agressivas e ameaçadoras"de umha "tractorada" emMeira, ou a que recebêromtrabalhadores de Endesa em

Pontedeume, que mesmo fora cri-ticada polo PP local. Após a sua experiência comoDelegado foi Conselheiro dasRelaçons Institucionais e, desde2001, Conselheiro da PolíticaAgro-alimentar eDesenvolvimento Rural. Comfama de homem duro dentro dosgabinetes da Junta, trabalha compessoas da sua confiança. Estivoimplicado no escándalo daselecçom de 43 veterinários eveterinárias para o sector vacum,pola qual foi acusado de 'metercunhas'. As vagas foram cobertaspor pessoas vinculadas a cargosda Conselharia, o PP ou Tragsa.O favoritismo dava também tra-balho a aspirantes próximos deAntonio Crespo (familiar deCuinha) e Miguel FernándezRodríguez, personagem muitopróximo de Diz Guedes.

Promoçom do Náni

Diz Guedes possui 12,5% das acçons de Dizgue SL

José Jaime Gradim,vinculado ao PP,comprou terrenos

adjacentes à autoviade Portugal antes da

sua construçom

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10 reportagem Fevereiro 2004 novas da galiza

Cada vez é mais difícil a celebraçom dos ritos do Entrudo pola maciça presença de pessoas

Marta Salgueiro

Em muitos pontos do País oEntrudo sobreviveu inclusiveaos anos mais duros da ditadurafranquista. Noutros, a tradiçomfoi esmorecendo. Som sobretu-do as comarcas interiores do sulda Galiza que conformam aresistência mais activa de umciclo festivo que permanece.Nos últimos tempos Ginzo,Verim e Laça criárom o chama-do Triángulo do Entrudo. Maisumha marca que aglutina nestasterras de Monterrei e do Támegamilhares de pessoas. Mas estamarca tem riscos. A turistifi-caçom de um Entrudo que podechegar a perder sinais de identi-dade e as suas tradiçons polachegada maciça de visitantesque nom vam lá para fazer partedas celebraçons do Entrudo,apenas assistem a ele como sede umha obra teatral se tratasse.Mais um ano vemos como Laça,nos dias grandes do Entrudo, seenche de jornalistas, antropólo-gas, filmadoras e curiosos detodo o mundo. Alguns partici-pam da festa. Mas a maiorianom o fai, e é essa maioria a queestá a pôr em risco o festejo.Cada vez é mais difícil a cele-braçom dos ritos do Entrudopola maciça presença de pesso-as. Laça é um dos oito municí-pios que integra a Comarca deMonterrei. Conta com umhapopulaçom de 2.194 habitantes,distribuídos polas paróquias deAlbergaria, Camba, Carraxo,Castro, Cerdedelo, Laça, MataMá, Retorta, Toro e Trez.

O Protagonista do EntrudoEm todo o município de Laça oprotagonista indiscutível doEntrudo é o Peliqueiro. É, paraalém do protagonista, o guardiamdas outras personagens doEntrudo: a Morena (que desce damontanha, de Cima de Vila), asformigas que sempre acompan-ham a Morena, a Farrapada e oTestamento do Burro, que é umha

composiçom literária popular emquartetos, onde o testamentárioexerce de executor do sentircomum de toda a comunidade: ahistória de um ano na vila.Sobre a origem do peliqueirocontam-se basicamente duasversons. A primeira situa-a napré-história, vinculada com atribo celta que povoou estasterras. Os animais totémicos queaparecem nas máscaras repre-sentariam divindades tribais oufamiliares celtas. Segunda estaversom os peliqueiros seriam ossacerdotes ou chefes da tribo, oumesmo os juízes.A outra teoria fundamenta-se naorigem feudal do peliqueiro eportanto remontaria a origem àIdade Média. Os vassalos tinhamque tributar às arcas do conde deMonterrei. Nos séculos XV eXVI o povo revirou. Isto provo-cou que os senhores feudais,donos de vidas e fazendas, orde-nassem a execuçom dos lideresnas praças públicas. Como ospagamentos se fossem demoran-do, os condes de Monte Rei,Maceda, Benavente, Souto Maiore outros, decidírom criar umhamáscara tam extravagante e gro-tesca como aterrorizadora com amissom de percorrer as suas pos-sessons e amedrontar os rebeldes.Nem antropólogos nem etnolo-gistas estám totalmente de acor-do ainda nas origens.

Castro conserva um dosEntrudos mais vivosNo Castro, umha das paróquiasde Laça, o que menos importa éa origem do Entrudo e do peli-queiro. Na zona, a origem é algototalmente secundário. O queinteressa é o sentimento queresistiu ao longo dos anos e quenom se perdeu nem nos temposmais duros da ditadura. Vestir opeliqueiro é um orgulho e umharesponsabilidade. Quando esta-mos perante umha massifi-caçom, perante a turistificaçomdo Entrudo em Laça, que inclu-sive pom em risco muitas das

tradiçons, no Castro encontra-mos um Entrudo vivo ondesobre todas as cousas permane-ce o respeito e a admiraçompolo peliqueiro.O ciclo do Entrudo começa noNatal. Hoje, como na maioria domundo rural, começa a faltargente nova que poda preparardurante o ano, na aldeia, o ciclocompleto do Entrudo. Nos diasgrandes desta época chegam aoCastro pessoas que vivem noPaís Basco, em Barcelona,Madrid ou em qualquer outroponto da emigraçom. Nom voltara casa no Entrudo é o pior doscastigos para alguém que o sentee o vive. As casas do Castro quedurante o ano permanecemfechadas, abrem de novo as suasportas e voltam a encher-se. NoCastro nom cumpre recuperarnenhuma tradiçom, porque oEntrudo nom é umha tradiçom. OEntrudo está vivo e fai parte dopovo e das suas celebraçons. Mashouvo umha tradiçom querompêrom no Castro. E fôromelas. No Entrudo de 1992, 15mulheres vestírom pola primeiravez, e todas juntas, o peliqueiro.

O Entrudo na Galiza tem umha ampla elonga tradiçom. Umha tradiçom deturpadanos últimos tempos pola incorporaçom de

elementos de carnavais foráneos e aproliferaçom de carroças e disfarces dealta costura. Nom obstante, muito

do ciclo festivo sobrevive numhaGaliza que nom renuncia aos seussinais de identidade.

reportagem

Turistificaçom do Entrudo em Laça pomem perigo o desenvolvimento do ciclo festivo

Mais um ano vemos como Laça, nos dias grandes do Entrudo, se enche de jornalistas, antropólogas, filmadoras e curiosos de todo o mundo

Vestir o peliqueiro é um orgulho e umha responsabilidade

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Comecemos polo princípio,que é um Peliqueiro?É a parte fundamental do Entrudo.É umha personagem mas nom só,fai parte e nós. O peliqueiro nom éum disfarce, nom é umha máscara.

E quantos peliqueiros há?Cada vez há menos gente nova,como em todas as aldeias. Mas hávárias aldeias, nove ou dez , quevestem o peliqueiro no Castro. Aotodo, pode haver entre 60 e 70, édifícil vê-los todos juntos, porquesaem aos poucos.

Qual é entom o ciclodo Entrudo no Castro?Antes, a gente nova vestia-se todasas noites desde o Natal para prepa-rar o dia grande, que é a primeirasaída, no domingo depois damissa. Agora isto já nom é tantoassim porque, como em todo omundo rural galego, fica menosgente durante o ano para preparar ociclo completo. No domingo doEntrudo, à saída da missa na paró-quia de Sam Pedro, estamos jáprontos na praça, a dar as primei-ras voltas. É um momento impor-tante e vivemo-lo com muita res-ponsabilidade porque ali estám aspessoas mais velhas a observarcomo vestimos o peliqueiro, comocorremos e como nos comporta-mos. Depois vem o reparto dabica. E a seguir chegam as visitasporta-a-porta pola aldeia. Em cadaumha delas as famílias preparamumha mesinha com a bica branca eo licor-café, elementos que nompodem faltar no Entrudo.Sobretudo a bica branca, que secontinua a fazer nos fornos comu-nais de jeito colectivo. Durantedias preparam tudo, mas nadacomeça até que chega o momentoem que o peliqueiro visita a casa.Esse dia há muita gente nas casas,todo o mundo tem família para oalmoço. Porque ninguém quer per-der esses dias. Venhem de ondequer que estejam a trabalhar, deBarcelona, do País Basco, de ondeseja, para viver o Entrudo. É tam-bém o reencontro familiar. Alguémpode ficar sem vir no Natal mas noEntrudo ninguém falta.

E como se consegue otraje para vestir o peliqueiro?O traje é muito elaborado e levamuito trabalho. No Castro há umalfaiate que os elabora, chama-seFrancisco Añel e é daqui. Ele her-dou o ofício do pai porque nemtodo o mundo pode fazer um peli-queiro. Antigamente, havia maisdificuldades, sobretudo por razonseconómicas. Tenhamos em contaque um peliqueiro custa entre 250

e 300 mil pesetas. E evidentemen-te isto é difícil de assumir. Assimque o traje converte-se na jóia dafamília que o tem. Guarda-se coma máxima estima. Durante o anoestá no melhor sítio do roupeiro,protegido e muito cuidado.Antigamente havia na aldeia dousou três peliqueiros. Só as famíliasmais abastadas podiam tê-lo. Nomesmo dia punham o peliqueirovárias pessoas.

Umha tradiçom que vemde longe e que fai parte doespírito do povo.Sem dúvida. As crianças, dantes,esperavam a ter mais idade parapoder vestir o peliqueiro.Brincavam a ser peliqueiros. Masnom interessa a origem. É verdadeque quando começamos a ser peli-queiros interessa-nos, temos curio-sidade. Mas depois, quando seveste, o que domina é o sentimen-to, esse orgulho, as emoçons e aresponsabilidade. Sobretudo a res-ponsabilidade, porque temos que irimpecáveis. O peliqueiro nomdeve perder nunca a compostura, aforma de correr e de estar. Os vete-ranos funcionam como um tribu-nal e que <Deus nos livre> de darum ruim peliqueiro. O que querodizer é que se leva muito dentro,que é a máxima ilusom. Por exem-plo, dantes, os peliqueiros iamvisitar as casas das aldeias próxi-mas e caminhavam muitos quiló-metros. Hoje é diferente, porque sevai de carrinha, com muito cuida-do, mas antes iam a pé e eram ascrianças as que se ofereciam paralevar-lhes as chocas; era a grandeilusom e isso, evidentemente, ficasempre num povo.

Nom tendes pois querecuperar tradiçom.Essa é umha grande diferença comoutros Entrudos. Pessoalmente,penso que é bom recuperarmos astradiçons, agora há muitíssimossítios que estám a tentar recuperaras suas máscaras. Mas nom é omesmo porque se calhar já perdê-rom umha geraçom e já nom sesente tanto. No Castro, sente-se eemociona, porque passou de pais emaes para filhos e filhas sem per-der nunca a ilusom e o respeito.Gostaria de fazer especial mençomdo Camilo, que finou com noventae tal anos e que era considerado opai do peliqueiro. Ele, como nin-guém, representava essa emoçom,esse orgulho. Umha emoçom quese aprecia entre a gente mais velha.Emocionam-se muitíssimo.Muitos velhos peliqueiros estámno Asilo de Verim, mas no domin-go de Entrudo trazem-nos ao

Castro à saída do peliqueiro, e nóssentimos também essa emoçomquando estamos a correr, e vemoscomo nos observam.

E tu quando vestiste oprimeiro peliqueiro?Aos catorze ou quinze anos. Nomera meu. Agora já tenho o meupeliqueiro mas o primeiro foiemprestado. E o que sentim naque-la altura foi importantíssimo.Sobretudo essa responsabilidadepara com o peliqueiro, o povo e osveteranos de que falava antes. Éalgo que nos fai pôr o máximoesforço por nom defraudar, porfazê-lo bem.

Tem-se dito de que asmulheres nom podem vestir…Nom é verdade. Há mulheres quevestem o peliqueiro. No Castro,em 1992, houvo um acontecimen-to muito importante para a aldeia.Quinze mulheres pugérom-se deacordo e saírom juntas. Nom erada sua propriedade, eram peliquei-ros emprestados. Agora já há mul-heres que tenhem o seu própriopeliqueiro. Já nom há problemacom isso. No Castro vive-se comnormalidade.

Que diferenças existem entre oEntrudo que se vive em Laça eo que tendes no Castro?Sobretudo tendo em conta que

som duas povoaçonsmuito próximas.O Castro é umha paróquia deLaça. Laça é a capital do municí-pio e também é ali onde se centroutudo o que é o Entrudo mais con-hecido, alcançando já um grandenúmero de visitantes. O Ciclo doEntrudo em ambos os lugares é omesmo e conta com os mesmoselementos. Até rivalizam. Se amim me perguntas qual é o melhorpeliqueiro direi-te que o que seveste no Castro. Evidentemente selhe perguntares a alguém de Laça,dirá-te o contrário. Essa rivalidadeé patente no povo e inclusivamen-te em tempos foi muito mais forte.Laça tinha quartel da Guarda Civil,e por isso, durante a ditadura deFranco, algum ano tivérom proble-mas para que saíssem os peliquei-ros. E vinham para sair no Castro e...na verdade… nom fôrom bemrecebidos. No Castro nunca deixá-rom de sair os peliqueiros e nuncadeixou de celebrar-se o Entrudo.Naquela altura, as pessoas vigia-vam, faziam-se rondas, e os peli-queiros podiam sair com certatranquilidade. A principal dife-rença entre o Entrudo em Laça eno Castro radica na turistificaçom.Em Laça já celebram verbenascom orquestras e há demasiadagente. A massificaçom na vila épalpável e creio sinceramente queisto está a influir no desenvolvi-mento do Entrudo. No Castro étudo mais tranquilo. As verbenascontinuam a ser na leira com afogueira e os gaiteiros. As pessoasque venhem ao Castro a nos acom-panhar durante o Entrudo estámintegradas na festa e na tradiçom.Aqui continuam a vir os gaiteirostradicionais, gente do mundo cultu-ral que já veu um ano e volta. Aquiainda é possível praticar a hospita-lidade, as casas desabitadas ficamabertas para quem nos visitar, tam-bém os palheiros e os fornos. Istoé possível porque no Castro ficam100 vizinhos e vizinhas, e pormuito que a populaçom se multipli-que com visitantes, nom passa deumha celebraçom de aldeia.

O interesse por promover turis-ticamente os Entrudos está atorná-los menos sentidos?Creio que sim. Esse respeito eadmiraçom polo peliqueiroperde-se. O interesse por pro-movê-los fai com que perda aessência. Eu nom poderia enten-der um desfile de peliqueiros.Nom fai sentido sem a saída damissa, sem a visita a cada casa davizinhança. Nom sei... vive-se deoutra maneira. No Castro somosmuito puristas neste sentido.

reportagemFevereiro 2004novas da galiza 11

“No Castro ainda é possível praticar a hospitalidade, ascasas desabitadas ficam abertas para quem nos visitar”

Novas da Galiza conversou com o Quico, um rapaz do Castro que veste o peliqueiro cada ano

Quico, peliqueiro do Castro

Agora já hámulheres que tenhem

o seu própriopeliqueiro. No

Castro vive-se comnormalidade.

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12 vários Fevereiro 2004 novas da galiza

[email protected]@terra.es

Raquel Miragaia

Depois de ver o necessário docu-mentário 'Santa Liberdade' deMargarita Ledo Andión, pergun-to-me porque desconhecia essahistória, porque me tenhem pou-pado umha parte tam importanteda nossa memória histórica e por-que nom sabia que houvo alguémque desafiou o salazarismo e ofranquismo seqüestrando umbarco, que em 1961, galegos eportugueses se unírom para levara cabo uma aventura quaseromântica e, sobretudo, "símboloda resistência" em palavras daprópria directora.Porque esta é a história que contao documentário. A aventura de umgrupo de antifascistas pertencen-tes ao DRIL (DirectórioRevolucionário Ibérico deLibertaçom) que protagonizáromum seqüestro político de um navioportuguês, o Santa Maria. A histó-ria está contada através das vozesdos participantes e dos seus e dassuas familiares, à vez que se apre-sentam documentos históricosmuito valiosos. Do contraste dasdiferentes vivências do sucesso eda visom dos meios de comuni-caçom extrai-se umha interessantefotografia do momento. A construçom do filme vai-noslevando polos diferentes protago-nistas, alternando os próprios par-ticipantes com familiares que ficá-rom à espera. Dentre a família dosrevoltados, destaca o papel das

mulheres que tenhem que ficar,estranho papel para elas, a tomarconta dos filhos e das filhas, àespera do resultado. Umha anciá,viúva de Soutomaior, recompomo episódio numha intervençomcheia de ternura: lembra como foiconvidada a fugir com o homem ecomo renuncia para cuidar a proleenquanto olha uma fotografia,nela conta os filhos já quaseesquecidos. Outras personagens,nom tam centrais mas tambémimportantes, som os passageiros e

passageiras do barco. Lembram ofacto como um momento de alívio,umha ilusom que fai com que ter-ceira classe, primeira e segunda semisturem e descrevem os seqües-tradores como homens amáveis ecom vontade de informar em todoo momento. Comparar estas decla-raçons com os informativos domomento, o NO-DO espanhol e oseu correspondente português quefalam desses facinorosos, seqües-

tradores sem moral, ladrons de bar-cos é outro dos momentos subli-mes do filme. O momento histórico fica reflec-tido em jornais e filmagens feitasna altura, sobretudo, jornaisinternacionais que acompanha-vam o acontecimento comoumha gesta épica. As persona-gens que lembram o seqüestromostram formas diferentes de vero mesmo facto, e desenham commais ou menos misticismo oHumberto Delgado, o EnriqueGalvão, o Xosé Velo e o JorgeFernández de Soutomaior.Finalmente, um labor de docu-mentaçom muito destacável eumha visom pretensamente objec-tiva mas comprometida, confor-mam este documentário de formasclássicas, sem narradores exter-nos, e sem grandes virtuosismostécnicos mas com umha eficáciacomunicativa que agradecemosmuito. Sobretudo, e já tendo emconta os arrabaldes do própriodocumentário, quando nom esta-mos acostumadas a ver filmesbem feitos por galegos e em gale-go (melhor, por galegas e em gale-go). Apesar de a directora ter afir-mado que nom é mais difícil fazercinema na Galiza que noutras par-tes, que só se precisa de vontade etrabalho, ambas as virtudes queela demonstra, acham-se em faltamais apostas como esta. Daqui umagradecimento a Margarita Ledopola sua obra e por ter respondidoàs nossas perguntas.

Um exercício de memória históricaDario Janeiro

[email protected]

Segundo NetValue, no Estadoespanhol, as pessoas utilizam ochat em média 6,3 dias por mês.Paralelamente, neste ano 2002estamos a viver a descolagemdefinitiva dos sistemas de mensa-gens instantáneos e o emprego dasmensagens SMS dos telemóveischega a níveis nunca dantes ima-ginados polos pró-prios inventores einventoras, que sem-pre pensárom no sis-tema como um aces-sório para os celula-res de curta vidacomercial. O aumen-to das formas decomunicaçom comas outras pessoasatravés das máquinas-algumhas vezesconcretadas fisica-mente nos encon-tros- fai com quepensemos numdesenvo lv imentoainda maior da iden-tidade virtual.Este mundo paralelotem efeitos colateraisem ámbitos como oda linguagem. A redeé a mae de novas for-mas de expressom,fruto preciso danecessidade de noscomunicarmos commais velocidade eexpressividade. Daí,as carinhas ou emo-ticons (agora supera-dos polas novasopçons gráficas dostelemóveis) e o idio-ma sincopado dosSMS. Quanto a isto,foi revelador o con-curso de poemasSMS organizado por Janela daCultura e Edicións Xerais no pas-sado ano, primeira experiênciadeste género celebrada no Estadoespanhol e devedora da iniciativaprévia do jornal inglês The

Guardian. No certame, mais detrezentas pessoas enviárom com-posiçons e quinze autores e auto-ras galegas compugérom os seuspróprios poemas em linguagemSMS. O resultado desta conexomentre a poesia e as novas formasde expressom verá a luz proxima-mente em ediçom impressa.É igualmente esclarecedora a evo-luçom dos jogos para computadorou os video games como fabrican-

tes de vidas. Dos pri-meiros come-comespassamos às comple-xidades que nos pro-metem máquinascomo a recém-che-gada Xbox deMicrosoft. Um dosmeus descobrimen-tos favoritos comousuário deMacintosh tivo lugarquando caiu nasminhas maos oSimCity, jogo emque o usuário ouusuária preside umhaCámara Municipalde umha cidade quevai construindo esobre a qual podedeixar cair catástro-fes, reprimir mani-festaçons cidadáscom as forças poli-ciais, construir está-dios, auto-estradasou toda a rede deesgotos. Pois bem, aseguinte geraçom dojogo nom podia irsenom polo caminhodas identidades aoapresentar os Sims,em que o usuário oua usuária se tornanum habitante,homem ou mulher, àvontade, e fai crescera sua própria vida

numha profissom, numha casa porencher de televisores, sofás e fri-goríficos, no companheiro oucompanheira com que compartil-ha a vida, numhas amizades queescolhe entre a vizinhança, etc.

QWERTY: Identidades naSociedade da Informaçom (e 3)

informática cinema

O emprego dasmensagens dos

telemóveischega a níveisnunca dantesimaginados.

Sempre se pensouno sistema como

um acessóriode curta vida

comercial

Um labor dedocumentaçom muitodestacável e umha

visom pretensamenteobjectiva mascomprometida

Margarita Ledo Andión é a directora de 'Santa Liberdade'

A aventura de um grupo de antifascistas que protagonizárom o seqüestro político de um navio português, o Santa Maria

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váriosFevereiro 2004novas da galiza 13

entrevistaculturaVítor Suárez é porta-voz da Plataforma Cidadá pola Democracia em Sada

"Há conivência entre o novo governosadense e construtoras da zona"

Criada semanas antes da aprovaçom da moçom de cen-sura que promoveu o PP e que apoiou um tránsfuga doPSOE, a Plataforma Cidadá pola Democracia em Sada

representa a indignaçom popular perante esta manobracaciquista. NGZ entrevista Vítor Suárez em exclusiva,um dos porta-vozes deste movimento cívico.

Antón A.S.

O que é que mudou em Sadanos últimos anos?Desde que existe a Plataforma,as cousas nom som nem vam sercomo dantes. As pessoas perdemo medo e estám dispostas a sairà rua. Houvo quinze dias segui-dos em que se figérom todo otipo de protestos e manifes-taçons. Agora, as pessoas nomtenhem problema e dam a cara.Isto em Sada é muito importanteporque vinte e quatro anos decaciquismo já sabemos todos etodas o que significam.

O novo governo local estreou--se com polémica, nom é?Pois é. A actual equipa de gover-no decretou umha aumento desalários que equivale ao dobrodo que recebia a anterior(Ramón Rodríguez Ares, actualpresidente da CámaraMunicipal, recebe 59.194 eurosanuais). Com esta medida, veri-fica-se que os vereadores do PPe o tránsfuga Santamaría nomestám no poder polo interessecolectivo. Por outro lado, é signi-ficativo que o dia posterior àaprovaçom da moçom de censuracomeçassem a trabalhar numhaobra que tinha sido paralisadapor ter dous andares a mais.

Portanto, pode dizer-se que hásintonia entre o actual governo

e as construtoras?Existe conivência entre o novogoverno e as construtoras dazona. Basta dizer que um cons-trutor da vila era quem muitasvezes levava Rodríguez Ares aoSenado no seu carro particular.Este construtor é proprietário daloja de ferragens ‘RO-MI-A’,local onde se reúnem políciaslocais próximos de RodríguezAres, entre os quais há um queestá implicado em processosjudiciais relacionados comextorsons e redes de prosti-tuiçom. E mais, o proprietáriode ‘RO-MI-A’ despediu hásemanas umha mulher, filiadado BNG, que levava seis anos atrabalhar no seu negócio e queaturou muitas pressons e assédiolaboral por causa da sua militán-cia política. Além disso, esteconstrutor viu como lhe parali-saram várias obras por serem

ilegais, quer dizer, os interessessom evidentes.

Parece que Rodríguez Aresse rodeia de pessoas muitosinistras.É verdade. Por exemplo, a pes-soa que tomava conta das pistaspolidesportivas do passeio marí-timo até a entrada do anteriorgoverno levava habitualmenteum revólver no cinto. E nom é aprimeira vez que o pom nacabeça de alguém. Esta pessoafrequenta a mencionada loja deferragens ‘RO-MI-A’, que eudefino como umha catacumbade pistoleiros. Por outro lado,nalguns comícios do PP localmesmo se chegou a cantar o‘Cara al sol’ e um porta-voz daPlataforma sentiu como um dialhe cantavam cançons fascistas,mas isto é algo bastante normalaqui em Sada.

Em que consiste o projectodenominado "Porto Infanta"?Dentro deste projecto nom sóestám as obras do porto, tambémse prevê a construçom de umhaimensa urbanizaçom por toda acosta, que violaria a Lei deCostas e que provocaria o deno-minado "efeito ecrám".Actualmente, está paralisado porlei. Mas, no texto da moçom decensura fala-se de "desbloquearprojectos" e nós entendemos queo "Porto Infanta" é um deles.

O dia posterior àaprovaçom da

moçom de censuracomeçárom a

trabalhar numhaobra que tinhasido paralisada

Coordenadora Galega de Roteirosultima calendário para este ano

A Coordenadora Galega deRoteiros (COGARRO) celebrou asua Assembleia Anual no passadodia 1 de Fevereiro nos locais daAGAL em Compostela. Nestareuniom, para além de fazer-se umbalanço da actividade que aCoordenadora desenvolveu nopassado ano, o colectivo elaborouo calendário para o presente ano.Os roteiros previstos percorrerámem Março as Terras deBergantinhos (Pontecesso), emAbril o Canhom do Sil (CastroCaldelas), em Maio as Beiras doTambre (Compostela), em JunhoValdovinho (Ferrol), em AgostoPena Trevinca (Lubiám), emSetembro o Condado (Ponte-

Areas), em Outubro as Terras deMelide e em Novembro a RaiaSeca (Ourense). Assim, amplia-seo programa do ano anterior, quepercorreu diferentes lugares dageografia galega em oito rotasdiferentes.A COGARRO é formada por pes-soas a nível particular e colectivosculturais como A Gentalha doPichel (Compostela), A Gente daBarreira (MDL, Ourense), a A. C.Alto Minho (Lugo), o ColectivoLemavo (Monforte), Galeguiza(Ponte Areas), a FundaçomArtábria (Ferrol), o MovimentoDefesa da Língua, e os locaissociais A Revolta (Vigo) e AReviravolta (Ponte Vedra).

“Desde que existe a Plataforma, as cousas nom som nem vam ser como dantes. As pessoas perdem o medo e estám dispostas a sair à rua.”

Em Abril terá lugar o roteiro polo Canhom do Sil

Ponte Vedra conmemoracentenário do disco galegoA cidade do Leres dedica o ano2004 à música, calhando com acelebraçom do primeiro século demúsica gravada. Com um amploprograma de concertos, actos cultu-rais e ediçons, pretende recuperar opatrimónio musical pontevedrês egalego, assim como "formular pro-postas para o desenvolvimento daindústria musical galega".No fecho de ediçom do presentenúmero ia apresentar-se a reediçomem formato digital da primeira gra-vaçom do País, o disco do CoroAires d'a Terra, que analisamos nosexto número de Novas da Galiza.O CD recolhe um total de 18 peçascom umha duraçom de 75 minutose incorpora um livro explicativo daautoria de José Luís Calle.O dia 17 de Fevereiro tivo lugar oacto no Paço da Cultura, acom-panhado pola música da gaita ori-ginal de Perfecto Feijóo, o direc-tor do histórico coro em 1904. Aintepretaçom correspondeu aÓscar Ibáñez, o gaiteiro de Poio.Ouvirmos SL é a empresa forne-cedora oficial do Ano da Música,encarregada de abastecer docu-mentaçom, gerir o projecto e edi-tar materiais. De recente criaçom

é a primeira editora especializadaem documentaçom musical gale-ga, da qual partiu esta iniciativapatrocinada pola CámaraMunicipal de Ponte Vedra.Já começou também o ciclo'PonteJazz', polo que passárom osaxofonista bilbaíno Víctor deDiego e o valenciano PericoSambeat. O trompetista francêsRaynald Colom interpretará a suaecléctica música no próximo dia13 de Março. Dentro do ciclo'Vozes do Jazz', os norte-america-nos Jimmy Scott e Kurt Ellingactuarám nos dias 27 de Março e25 de Abril, respectivamente,enquanto a brasileira Rosa Passosdeliciará-nos com o seu repertóriolatino a 3 de Abril.Dentro da programaçom geral,sob a legenda 'Com Voz Própria',já estivérom artistas como oincombustível e comprometidocatalám Lluis Llach, o prestigiosobasco Ruper Ordorika e a inova-dora voz de Mercedes Peón. Nopróximo dia 18 de Fevereiro, aportuguesa de origem moçambi-cana Mariza virá oferecer-nos osseus fados, inspirados em estiloscomo o soul e o funk.

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NPEG. O Colectivo de Maes ePais polo Ensino em Galego(MPEG) tomou a decisom, numhareuniom nacional, de se dirigir àConselharia da Educaçom paralhe exigir o cumprimento imedia-to do Decreto 247/95. Na MPEGconsideram que o Governo devegarantir que os estudantes podamfinalizar este ano académico rece-

bendo a docência mínima emgalego que indica a legislaçomvigente. Assim, consideram ful-cral que a Conselharia daEducaçom tome medidas, nomea-damente no respeitante àEducaçom Infantil e no PrimeiroCiclo da Educaçom Primária.Deve lembrar-se que, nestesmomentos, os pais e maes que

quigerem escolarizar os seus fil-hos e filhas em galego nom ten-hem opçons reais para o fazer.Este colectivo quer lembrar àJunta que um relatório doConselho da Cultura Galega acha"clamoroso" o incumprimento doDecreto 247/95 na EducaçomInfantil e no Primeiro Ciclo daPrimária.

14 cultura Fevereiro 2004 novas da galiza

portal galego da língua

www.agal-gz.org

‘Galician People speak Portuguese’

Equipa do PGL

Com efeito, um documento publi-citário do Igape, Instituto galegopara a promoção do emprego,órgão dependente do nosso gover-no aparece inserido num especialque o jornal estado-unidense TheNew York Times dedica ao Reinode Espanha. A publicidade encora-ja a investir na Galiza por múltiplasrazões, mas a que mais chamou anossa atenção tem a ver, é claro,com o aspecto lingüístico.Segundo este documento há imen-sa facilidade para encontrar pesso-al bilingue espanhol-portuguêscom capacidade para serem atendi-dos na Galiza clientes nas duas lín-guas. Esta informação, reconheça-mos, coloca algum interrogante

que não fomos capazes de resolver: Se o português não faz parte dascadeiras que se ministram na edu-cação obrigatória como é que hátanto pessoal bilingue? Ou, será

que na Galiza somos os e as únicastrilingues do mundo (português,espanhol e galego) que não temosconsciência de trilinguismo?Estaremos perante um caso de tri-

linguismo inato que a comunidadecientífica nos quer poupar? Que leis aritméticas provocam quequando os nossos e as nossas diri-gentes agem no estrangeiro falemde uma língua de 200 milhões equando o fazem na Galiza fique-mos pelos 3 milhões? Não temos resposta mas teimare-mos a procurá-la. Só nos resta ani-mar o Governo Galego para não serassim tão forreta e para espalhar adescoberta do trilinguismo inatopor estes pagos bem como a fazeras contas certinhas. Presumir nacasa do Império Grande achamo-lomagnífico, mas não acham que oscidadãos e cidadãs da Galiza deve-riam ser conscientes das suas poten-cialidades? Um pouco de auto-esti-ma não está mesmo demais!

Sai a lume "omáximo" número 3

O novo número da revista de artee cultura ''omáximo'', dedica umhaespecial atençom a Compostela,com umha entrevista ao gaiteiroCarlos Núñez mais do que interes-sante. Na mesma, o gaiteiro afir-ma que "o galego, o português, obrasileiro, é o mesmo (...) quandoestamos na música, na língua,reparamos que as fronteiras nomexistem", e ainda acrescenta que"estamos num império, mas temosa sorte de fazer algo de diferenteque nos torna livres, porque nosfai sonhar com cousas diferentes".Sem qualquer dúvida, uma repor-tagem para nom perdermos.Junto a esta entrevista, emoldurada

na secçom Personagem, a secçomRadar conta com o contributo dePaulo Castelo-Melhor, com osapontamentos Compostela antes deSantiago. Cumpre salientarmostambém um interessante encontro-entrevista com Xosé Tobas, pintore ilustrador, e um estudo sobre asimbologia celta, sob o título deCaminho simbólico, e ainda poe-mas de Carlos Moledo que acom-panham todo o exemplar. Além de tudo isso, as habituaissecçons da revista como Eros fes-tivo, com o relato Cânticos, ouFilosofias controversas e a Roletacompletam este novo omáximo,que já é o terceiro.

Não estamos perante uma nova campanha do luso-reintegracionismo. Também não estamos perantequalquer graffiti informativo do tipo "This is not Spain" à saída de uma estação de camionagem com

muito trânsito de turistas. O lema emana de uma maior altura, neste caso, da própria Junta de Galiza.

‘Instituto Galego-Português’

Entrevista ao gaiteiro compostelano Carlos Núñez, em destaque

Maes e Pais exigem à Juntagarantir galeguizaçom do ensino

Luviám promoveuso do galego PGL. Potencializar o uso da línguagalega e fomentar as relaçons entreas duas localidades, com activida-des culturais e programaçom con-junta de eventos tais como expo-siçons, certames literários e visitasturísticas, som os objectivos dageminaçom aprovada entre osmunicípios de Rianxo e a locali-dade de Luviám, sita nas Portelas,sob administraçom castelhano-leonesa. O município de Luviámconta apenas com umha popu-laçom de 400 pessoas, noventapor cento das quais fala umhavariante da língua galego-portu-guesa, e tem-se destacado muitona defesa do galego, mas por nomfazer parte da ComunidadeAutónoma Galega, esta línguanom tem categoria de oficial.

BNG assumeformalmentenorma da RAGPGL. O BNG assume desde oúltimo Conselho Nacional, cele-brado a 20 de Janeiro, aNormativa Oficial aprovada polaReal Academia Galega. Comoprimeira conseqüência desseacordo, o programa eleitoral dasEleiçons Gerais marcadas parapróximo mês de Março aparecerájá redigido nessa normativa, con-forme referem fontes da organi-zaçom nacionalista.

‘A Mesa’ adoptanorma RAGPGL. A Comissom Permanenteda MNL, reunida no passado dia28 de Janeiro, decidiu aassunçom formal da normaRAG. Mesmo assim, nestaorganizaçom pretende-se defen-der, embora de maneira teste-munhal, que o debate sobre apadronizaçom do galego conti-nue aberto.

Fórum da Línguaprocura estratégias

para um novoreintegracionismo

PGL/NGZ

Sob a mensagem de unidade do"mínimo comum múltiplo" oevento está agendado para o pró-ximo dia 28 de Fevereiro, emCompostela. O Fórum da Línguatenciona constituir-se como o"fórum de debate e discussão deiniciativas e propostas estratégi-cas para a naturalização socialda língua", conforme explicou aorganização do evento, que visaenxergar o "mínimo comummúltiplo" do movimento reinte-gracionista face ao "máximocomum divisor". As pessoas que desejarem partici-par devem depositar 3 euros oupagar 5 no próprio dia, com oobjectivo de financiar as despesasda organizaçom.No texto de apresentaçom assina-lam: "Agora, é o momento doreintegracionismo. Nunca oscaminhos estiveram tão claros.Até agora eram variadas e dife-rentes as saídas. Hoje, nenhumavia intermédia é já operativa, daíque tenhamos que oferecer àsociedade uma proposta real, sóli-da e unitária".

Capa do 3º número de “omáximo”

Na rua, nas aulas,nos exames...em galego! PGL. Agir, a organizaçom do estu-dantado independentista, acabou deiniciar umha campanha, calhandocom o período oficial de exames nasuniversidades galegas, encorajandoo estudantado galego a redigir osexames em galego e travar assim aprogressiva espanholizaçom doensino. "Na rua, nas aulas, nos exa-mes... sempre em galego!" é a men-sagem escolhida para promover ouso da língua no ensino.

À procura do"mínimo comum múltiplo"

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músicaFevereiro 2004novas da galiza 15

músicaLoretta Martin leva aos palcos umha intensa experiência comunicativa

"Tentamos exprimir os sentimentos e emoçonsfruto do mundo em que vivemos e participamos"

Seria míope pensar que as fronteiras da nossalíngua se fecham no território da Galiza,também o seria situar as suas fronteiras

expressivas no folk. Loretta Martin explorapossibilidades para o galego através do funk, dosoul, da música brasileira... Com Braix (guitarra

e voz) e Fram (baixo) mantivemos umhaconversa através da qual apresentamos aosnossos leitores e leitoras esta banda.

Davide Loimil e Inácio Gomes

"Começamos fazendo blues-rocke evoluímos para o funk e a fusomde muitas cousas...". LorettaMartin é umha banda que nom sesente à vontade com as etiquetas,enquadrada num estilo particular,"nom nos fagas essa pergunta por-que nom saberíamos quê respon-der". Nasciam polo mês de Abrilna cidade das burgas"com vontade dedivertir-se", seguin-do a esteira musicalde artistas comoJimi Hendrix, IggyPop, os BluesBrothers, os Stonesou os Beatles, ban-das das quais tam-bém se atrevêrom afazer versons. O pro-jecto começou atomar forma até acomposiçom actual,integrada por duasguitarras, baixo,bateria, percussom evoz.

Ao vivoOs dous anos de his-tória nom se cingemaos ensaios."Entendemos amúsica como um espectáculo,assim que no palco sempre nosdivertimos tanto quanto possível,fazendo de cada concerto algovisível também". Estas actuaçonsacabárom por lhes dar o segundoposto no Campusons (Sonsgaliza-USC) e a chegada às meias-finaisdo "Novos Talentos da Arouça". Emais. O currículo completa-secom mais de quinze concertos,

"por enquanto sempre dentro daGaliza, sobretudo em Compostelae na Corunha, mas também emArteixo, Vigo, Ponte Vedra ou VilaGarcia", nem sempre isentos dealgumha excentricidade como oacontecido em Ribadávia, onde aactuaçom se desenvolveu no inte-rior de umha sinagoga. Quem osviu ao vivo pode dar fé de umhaexperiência directa, intensa, cálida

e comunicativa.

A compor"Fundamentalmenteos temas som deBraix (guitarra).Normalmente par-tem de um riff deguitarra, com osarranjos e ideias quesurgem no local deensaio, onde os dife-rentes gostos e ache-gas de cada elemen-to do grupo vamdando forma a cadamúsica. Quase sem-pre aparece a músicaantes do que a letra,som palavras quevoam sobre a músi-ca. Nós tentamosexprimir os senti-mentos e emoçonsfruto do mundo em

que vivemos e participamos."

"É a nossa língua""Portanto a nossa atitude reflecte-se também na nossa música", umposicionamento que nom deixalugar a dúvidas, embora "nomrejeitemos cantar noutras línguas,de facto temos umha versom emitaliano". Os vínculos com omundo da Lusofonia ficam paten-

tes ao termos em conta figurasreferenciais para a banda, "musi-cámos o Soneto da Separação deVinícius de Morais. Em geral,com o mundo da Lusofonia man-temos umha relaçom musical ecultural, sentimo-nos muito iden-tificados com a língua.Intercámbios? Isso sempre".

Música na Galiza"Há falta de repercussom e infra-estrutura para poder chegar ahaver um espaço musical galego.Há muitos músicos e artistas demuito boa qualidade, mas faltainiciativa, às vezes por parte dose das artistas, mas sobretudo faltaalguém que converta a excelentematéria prima que temos".Quando se fala do tema das aju-das institucionais a reacçom éunánime: "quê dizer?! Nom é quenom se preocupem, é que muitasvezes ponhem todos os obstácu-los possíveis! Há bares que pare-cem ter vontade de participar namúsica, mas sempre temos quelutar contra as cámaras munici-pais". Um bom exemplo distopoderia ser a perseguiçom a quese submetem os músicos e músi-cas de rua na Compostela doJacobeu, acossados pola políciamunicipal. "É inacreditável,deveria ser ao contrário! Teriamque promover a presença demúsicos nas ruas, nom proibi-la".

Loretta MartinJá agora, alguém se perguntou quequer dizer o nome? Pois nem elessabem, "os Beatles falam de umhatal Loretta Martin em `Get back´,e nom fica claro se se trata de umhomem ou de umha mulher...Gostamos dessa ambigüidade".

“Há muitos músicos e artistas de muito boa qualidade, mas falta iniciativa”

Nascem polo mês de Abril na cidade das burgas "com vontade de divertir-se"

Em geral, como mundo daLusofoniamantemos

umha relaçommusical ecultural,

sentimo-nosidentificadoscom a língua.

Intercámbios?Isso sempre

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Malditoaquecimento

Xoán Carlos Ánsia

Nom há quem pida um Sol eSombra. As sardinhas no pamfôrom retiradas das ementas dastabernas do proletariado. Os bai-rros marginais estám cheios depasseios fluviais. Impom-se oestilo colesterol mediterráneoface ao injuriado levantamento detaças de tinto do País. A leitura de'A Nosa Terra' caiu em maos deadventícios adeptos de pasta egravata. Ninguém anda comumha navalha no bolso, nem queseja para ter as maos limpas decalos. A "pucha" nom a leva postanem o residente mais antigo deum dos numerosos e bem subsi-diados lares da Fundaçom SamRosendo. Contar histórias datropa é cousa de tarados. As"farias" da Corunha, já nom asfumam nem os do fundo do Sul.O de "rubir" à montanha nom ocantam nem às quatro da manháno Tarasca.O pior de tudo é o aquecimento.Vais um dia de cru inverno à tuaaldeia à procura desse caldo cheiode unto, com toucinho e um gor-dinho chouriço de cebola... e queacontece? Abre-che a porta o filhodo bocheiro, retornado deCaracas, em bermudas, vestido de'guayabera' e com um 'mojito' namao. No interior da casa o termó-metro marca trinta e tal graus.Essa noite ceamos salada russa epara acompanhar "amer". NaTVG nem sequer aparece já AnaKiro. Substituída actualmente porumha rainha da copla espanhola,com certeza com ascendênciagalega ou animosa degustadorado bom marisco galego.O aquecimento acomoda o pesso-al. Atrofia a pouca vontade quenos fica de percorrer as ruas e asfábricas, à procura de unidade eorganizaçom, para luitar precisa-mente contra quem todos os diasnos oferece mais conforto calorí-fico e ao calor dos subsídios insti-tucionais. Voltar a passar frio,provar de novo o duro banco doconcurso ou apanhar de vez emquando o autocarro das sete damanhá para ir trabalhar. Nom somcousas com que se engorde massim algo mais congruentes com ahistória , que alguns dizem repre-sentar.

novas da

NGZ

O colectivo cultural Treme aTerra vai a caminho de fazer odécimo ano de vida a organizarininterruptamente um festivalcaracterizado polo compromissosocial e cultural. Durante estaetapa centrárom a actividade adenunciar o genocídio naPalestina, a lembrar a necessida-de de um outro mundo ou a res-ponder ao atentado do Prestige,entre muitas outras problemáti-cas. Este ano, a liberdade deexpressom foi o eixo em torno doqual girou a organizaçom de umfestival que continua com fôlegose anuncia novidades. Iago e Jesus,membros de Treme a Terra,falam-nos acerca da sua expe-riência.

Como aparece a ideia de organi-zar um festival comprometidocomo o vosso? Porquê 'Treme aTerra'?A iniciativa parte de uns moços emoças eumeses que faziam parte dogrupo musical Krecha Vagula, quelá polo ano 1995 decidem realizarum festival contra o racismo e axenofobia, ao qual convidam outrosgrupos da comarca. Em redor destegrupo e do bar A Cova das Bruxasaparece a nossa associaçom, com oobjectivo de promover a actividadecultural na vila de Pontedeume enos arredores.Foi escolhido este nome pola forçae a capacidade expressiva que con-tém, definindo umha ideia clara:outra cultura "de base" é possível.Sempre que treme a terra há algoque muda, e esse é o fim que perse-guimos quando organizamos qual-quer actividade, quer seja umhaexposiçom, conferência ou concer-to. Que qualquer cousa mude, aindaque seja pouco, e que o faga parabem, é o nosso objectivo.

Em tempo de Jacobeu e espectá-culo comercial, o que é precisopara recuperar e pôr a andar acultura própria?Pensamos que no terreno da culturafalta umha estrutura que relacionetodas as associaçons que tenhem

uns objectivos comuns, o que min-gua a capacidade de cada umhadelas. Muitas vezes conta-se comum material que podem reutilizaroutras associaçons (como podemser certas exposiçons, materialaudiovisual, etc.), mas a falta decomunicaçom impede que estas ini-ciativas se espalhem entre elas. Estafalta de comunicaçom também faicom que recue a ideia de se implan-tarem circuitos culturais entre asso-ciaçons a curto prazo, circuitos quepermitiriam baratear os custos deorganizaçom de festivais de música,teatro, etc. Se houvesse umha enti-dade "inter-associativa" teríamosumha posiçom de força na hora denegociar com empresas de distri-buiçom de bebidas, amplificaçomde concertos, venda de material(camisolas, cartazes, autocolan-tes…).

Como valorais o trabalho institu-cional neste ámbito?Ainda que o nosso objectivo seja aautogestom cultural, nestesmomentos nom se podem desapro-veitar os subsídios, por pequenosque sejam, sempre que nom condi-cionarem o teu discurso.Infelizmente, as instituiçons comcapacidade de organizaçom estám

em maos do fascismo, mais preocu-pado a promover a cultura comer-cial de "Leni Cravizzzz" (como dizo conselheiro) que a cultura "debase" galega.

O lema deste ano reclamavaliberdade de expressom. Quepodemos fazer nos movimentossociais para conquistar este direi-to fundamental?Com a auto-organizaçom e com amilitáncia (política, sindical e cultu-ral), que torne possível um debate eo posterior espalhamento das ideias,sem censura e livremente. Somvalores muito importantes mas infe-lizmente em crise nestes momentos.Seria necessário um portal galegoforte na Internet, que consideramosumha ferramenta importantíssimapara a colaboraçom entre associa-çons. Por enquanto contamos commuito pouca informaçom umhasdas outras. O melhor exemplo é agrande quantidade de boletins e fan-zines que há na rua, mal distribuí-dos e com umha baixa qualidade deapresentaçom, em vez de fazermosumha publicaçom comum, que teriaa vantagem de chegar mais longe ea mais localidades e de um menorcusto em dinheiro e trabalho para asassociaçons.

O que é que fica em Pontedeumedepois de tantos anos de trabalhopola vossa parte?Fica muita gente a trabalhar pormuitas cousas que nos preocupam eem prol da cultura. E nom por essacultura que vendem na televisom,mas umha cultura própria. Mastambém ficam algumhas pessoasque fizérom o possível para queisto nom continuasse mais de umano, e enganaram-se, já lá vamquase dez e cada vez temos maisforça.O futuro é a realizaçom do décimoaniversário do festival, tentandomelhorá-lo. Haverá exposiçons,conferências e concerto, comosempre, mas este ano se calhar tere-mos algumha surpresa.A entrada de gente nova na associa-çom é outra das metas por que tra-balharemos, gente nova de idade ede espírito, com vontade de trabal-har com força e de levar algunspaus, que também há quem dê. Ocerto é que sem gente nova nom háfuturo. Quando começamos éramosestudantes, mas agora a maioria denós trabalha, e nom podemos dedi-car a este projecto o tempo queseria necessário, se bem que agora,com a experiência, o trabalho sejamais leve.

"Sempre que treme a terra há qualquercousa que muda, e esse é o nosso fimquando organizamos algumha actividade"

a entrevista Treme a Terra

Iago e Jesus trabalham na organizaçom anual do festival Treme a Terra