Biologia molecular revoluciona produção de ciência em São Paulo
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Luciara Silveira de Arago e Frota
Yvone Dias Avelino
Edgar da Silva Gomes
Carlos Danilo Oliveira Lopes
(Organizadores)
No Laboratrio das Palavras: Histria da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo
Coletnea de Documentos (1979-1985)
Fortaleza
Editora - SOCER
2015
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SOCER Editora
Coordenao Geral: Luciara Silveira de Arago e Frota
Rua Gilberto Studart, 930 / Coco
CEP.: 60190-750 / Fortaleza - CE
Conselho Editorial
Profa. Dra. Luciara Silveira de Arago e Frota
Prof. Dr. David Gueiros Vieira
Prof. Dr. Corcino Medeiros dos Santos
Profa. Dra. Yvone Dias Avelino
Prof. Dr. Edgar da Silva Gomes
Profa. Dra. Andrea Borelli
Prof. Dr. Ney de Souza
Prof. Dr. Nataniel Dal Moro
Profa. Dra. Marcia Barros Valdivia
Profa. Dra. Claudia dos Reis Cunha
Prof. Dr. Marcelo Flrio
Prof. Dr. Alex Moreira Carvalho
Profa. Dra. Vilma Maria Barreto Paiva
Prof. Dr. Ettore Quaranta
Copyright: Luciara Silveira de Arago e Frota, Yvone Dias Avelino, Edgar da Silva Gomes,
Carlos Danilo Oliveira Lopes
Digitador: Francisco Celismar Ferreira de Andrade
Revisor / Seleo de Textos: Eugenia Dsire Silveira de Arago e Frota
Arte & Capa: Edgar da Silva Gomes, Carlos Danilo Oliveira Lopes
Imagem: Convento Carmelita - Rua Monte Alegre, dcada de 1920
Fonte: Museu de Rua. PUC Projeto e Processo, 1979.
Impresso: Grfica Kazigu
Todos os direitos dessa edio so reservados a SOCER. proibida a duplicao, reproduo
ou comercializao desse volume, sob quaisquer meios, sem autorizao expressa da SOCER.
No Laboratrio das Palavras: Histria da Pontifcia Universidade
Catlica de So Paulo: coletnea de documentos (1979-1985)/ FROTA,
Luciara Silveira de Arago e; AVELINO, Yvone Dias; GOMES, Edgar
da Silva; LOPES, Carlos Danilo Oliveira. (Orgs.). Fortaleza: SOCER,
2015, 1 CD-ROM, 586 p.
ISBN 978-85-68767-00-9 - E-BOOK
Memria; Universidade; Documentao Oral; PUC-SP
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in memoriam
Prof. Dr. Joel Martins
Carlos Danilo Oliveira Lopes
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A Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo PUC-SP completa 70
anos em 22 de Agosto de 2016. Os significados e o valor deste momento mpar
sobre to importante Universidade levaram a comunidade puquiana a iniciar em
22 de Agosto de 2015 os eventos acerca deste marco.
Assim sendo, como integrantes do Ncleo de Estudos de Histria Social
da Cidade NEHSC PUC-SP, queremos com esta obra homenagear tambm
esta insigne Instituio de Ensino Superior, onde as ideias sempre foram plurais,
em um palco de culturas, saberes e lutas. Trata-se esta publicao de um
mosaico de histrias de vidas, cujos personagens vivenciaram em pocas
distintas a histria desta Universidade, desde sua criao at os dias atuais.
Agradecemos aos agentes que, de alguma forma, nos ajudaram a construir
este livro, assim como aos que ainda fazem desta universidade um espao de
discusses, debates, contribuies acadmicas e sociais, como professores,
alunos e funcionrios, produzindo e divulgando conhecimentos para as prximas
geraes. Que estes 70 anos nicos e de vanguardas se desdobrem por muitos
outros, junto ao caminhar da nova juventude intelectual que, como a de ontem,
continua mantendo dinmico este reconhecido espao democrtico.
Os Organizadores
Outubro/2015
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Sumrio
CONTANDO HISTRIAS: Abrindo o Laboratrio
Introduo 22
I A Histria Vivida e Contada: Confidncias na Antessala do Estdio 36
- D. Paulo Evaristo Arns 37
- Andr Franco Montoro 42
- Joel Martins 50
- Geraldo Ataliba Nogueira 95
- Jos Carlos de Ataliba Nogueira 123
- Oswaldo Aranha Bandeira de Melo 128
- Padre Enzo Campos Guzzo 138
II A Histria Vivida e Contada: Ao P do Ouvido 163
- Joaquim Alfredo da Fonseca 164
- Geraldo Pinheiro Machado 181
- Aniela Meyer Ginsberg 202
- Milton de Miranda 207
- Luis Kubinsky 230
III Histria & Histrias: Relembrando no Estdio 250
- Ary Silvrio 251
- Antnio Penteado de Azevedo 258
- Jos Massafumi Nagamine 265
- Ramon Martinez Alcaraz 282
- Osvaldo Leite de Moraes 302
IV Histria & Histrias: No Estdio Gravando 317
- Jos J. Queiroz 318
- Elza Ferreira Lobo 325
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- Carmen Sylvia Junqueira 340
- Clia Sodr Dria (Madre Cristina Maria) 351
- Demerval Saviani 356
-Lus Eduardo Wanderley 368
V No Estdio Gravando: Mais Histrias 384
- Nadir Gouveia Kfouri 385
- Casemiro dos Reis Filho 391
- Ednio dos Reis Valle 413
- Antnio Joaquim Severino 424
- Clia Coelho Pereira Leite (Madre Olvia) 448
- Jos Feliciano da Rosa Aquino 456
ANEXOS
Anexo 1 467
Palestras Sobre Documentao Oral
Contribuio do Curso de Direito sob a Coordenao de Michel Temer
- Eduardo Muylaert Antunes
- Renan Lotufo
- Manoel Alceu Affonso Ferreira
Anexo 2 534
Proposta de Criao de Laboratrios
Anexo 3 552
Museu de Rua
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Prefcio
Prof. Dr. Roberto Coelho Barreiro Filho1
Para um historiador, toda manifestao importante; todo mito, todo rito, crena(s),
uma grande pessoa; isso tudo reflete a experincia e por conseguinte implica as noes de ser,
de significao e de verdade.
O que se ver nas pginas que me sucedem so memrias, momentos de uma
instituio que marcou a histria da Igreja, no Brasil, e a histria de uma Universidade na
histria da nao. Quem no viveu aqueles momentos de uma resistncia acadmica ao
controle ditatorial poder ver, nos relatos, um pouco da trajetria da busca por democracia
que vivemos naqueles dias.
Quem, como eu, que no viu as irmzinhas de ps descalos andando pelo pateo da
cruz, no pode saber o que foi isso naqueles dias. Quem, como eu, no viu a transio dos
Bispos Auxiliares Reitores para os leigos s ter como lembrana os dias atuais. Quem, como
eu, que viu o incndio do TUCA ou a invaso dos policiais na dcada de setenta, no sabe o
que foi aquilo.
Assim como a cidade de So Paulo nasce da ideia de uma escola, nos tempos
trentinos, a PUC-SP nasce da juno de ideais jesutas, beneditinos, agostinianos, que se
prontificaram a fazer uma Universidade plural. Sua caminhada mostrou um cenrio de
possibilidades acadmicas que, com o Curso Bsico (um experimento acadmico para alunos
iniciantes), o Ps-Graduao (para os concluintes) e a Extenso, entrelaados aos cursos de
graduao, formava no apenas alunos e sim cidados crticos sociais.
Alguns desses construtores esto nas entrevistas que aqui se presentificam diante
da complexida de do fazer acadmico da instituio. Poucos trabalhos se
1 Professor Pesquisador do CELACC ECA USP, professor de ps-graduao do SENAC-SP.
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debruaram sobre a histria aqui contada. So meia dzia de pesquisas que, elaboradas,
viraram ou Teses ou livros para o registro futuro.
Embora por vrias vezes, via Ncleo de Estudos do Ps-Graduao em Histria
(antigo grupo Cordis, hoje Ncleo de Estudos de Histria Social da Cidade - NEHSC), se
tentou elaborar um livro com todos os relatos aqui encontrados, mesmo que por vias da
editora da PUC-SP ou por algum outro meio, sempre a Universidade se fez ausente de ser
parceira no resguardo histrico de sua prpria histria. A importncia do que aqui se vai
encontrar o resgate de uma trajetria de vida de seus participantes. Uma iniciativa de
pesquisadores e coordenadores de reas de pesquisa que, durante todos estes anos, fizeram
crescer e ampliar a memria da universidade para o futuro dela prpria.
A PUC-SP parece, em alguns momentos, querer esquecer o que foi e, assim, se
transformar no que nunca quis ser. Quem no conhece sua histria est marcado pelo destino
a repetir seus erros novamente. Se olharmos para o passado, poderemos facilmente ver a
grandeza da PUC-SP no cenrio nacional e internacional. Foi, em seu momento mais
expressivo, a quinta maior Universidade do pas. Relacionando seus saberes com toda
Amrica Latina, entre outros pases, atendeu prontamente aos ecos vindos de Medeln e
Puebla, incorporando as ideias da igreja ao seu dia-a-dia. Abrigou tantos nomes acadmicos
em seus muros, abrigou a SBPC, proibida pela ditadura, resistiu bravamente pela democracia.
Como veremos neste documento ora pblico, a formao das lideranas catlicas
polticas que assumiram os quadros da sociedade civil poca, so resultado deste projeto das
dcadas de 60, 70 e 80 na PUC-SP. O perfil filosfico-educacional implantado marca da
imagem, at hoje verificada, quando se fala da Catlica de So Paulo.
Fiz parte desse processo, sou criatura desse projeto. Fiz minha personalidade moldada
pelas mo do Pe. Ednio Reis Valle, do Prof. Dr. Jorge Claudio Noel Ribeiro Junior, da
orientao primorosa da Profa. Dra. Yvone Dias Avelino e da Ir.
Valdete Contin e Ir. Leda Maria Pereira Rodrigues, de quem trago
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minhas saudades amigas. J no estou mais por estas praias, embora nunca a tenha deixado
por completo. A PUC-SP no sai de nossas vidas, afinal, ela nos forma!
A PUC-SP maior que ela prpria. Ela no s paredes ou administrao financeira.
Ela histria, projeto e processo em construo, vida acadmica que transpira em cada sala
de aula, em cada corredor, nas conversas, no ar que circula nesta ilha democrtica da
academia puquiana. No pode ser esquecida, no pode ser ignorada. Deve ser, sempre,
lembrada.
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Apresentao
Profa. Dra. Yvone Dias Avelino2
A presente publicao, ao ser organizada, nos levou a pensar muitos momentos
vividos, lembranas e reminiscncias de um mundo acadmico vivenciado com toda a
plenitude de um ideal. Ecos de um passado que nos chega como se estivssemos
contemplando o que foi e no aconteceu, o que aconteceu e que no foi. Ideais e sonhos que
no se realizaram, lutas e embates que nos desgastaram, mas no nos tiraram o nimo para
novas empreitadas, que nos impulsionaram a continuar e perquirir novos caminhos, com
foras revitalizadoras e propostas ainda mais originais. uma vida de esperanas, de
empreendimentos, realizaes, frustraes, rudos polifnicos de uma longa e rdua
caminhada.
Apresentamos nestas pginas os resultados de uma investigao sobre o nascedouro e
o desenvolvimento da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP), atravs do
uso da tcnica da Documentao Oral, tcnica complementar de pesquisa ligada elaborao
de documentao contempornea. Foi usada em nosso trabalho com as mesmas preocupaes
que norteiam o historiador com relao ao documento histrico e concepo prpria da
Histria. Por meio de entrevistas com agentes que gestaram e vivenciaram esta Universidade,
cenrio onde se desenrolaram as tramas polticas, sociais e religiosas de to importante e
significativa Instituio, trazemos luz tais testemunhos. Ao alargarmos o nosso olhar, mais
nos parece que o horizonte factual fica indefinido, pois tudo o que compe a
vida cotidiana se constitui de direito, no dizer de Paul Veyne3, caa para o
historiador, pois na vida cotidiana que se pode refletir a historicidade,
embora a Histria no se transforme na Histria da vida cotidiana. Um
2 Professora Titular do Departamento de Histria da PUC-SP, Editora da revista Cordis e coordenadora do
NEHSC da PUC-SP 3 VEYNE, Paul. Como se Escreve a Histria, In: Foucault Revoluciona a Histria. Braslia: Universidade de
Braslia, 1982.
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acontecimento s tem sentido dentro de uma srie, e o nmero de sries indefinido. Elas no
se ordenam hierarquicamente, e no convergem para formar um bloco igualitrio de
perspectivas.
Nos Anos 80, quando coordenvamos na Ps Graduao da PUC-SP o Curso de
Histria, nos chegou s mos uma proposta instigadora, a de acrescentar ao currculo do nosso
Mestrado um curso de Documentao Oral, que passou ento a ser ministrado pela Professora
Doutora Luciara Silveira de Arago e Frota, oriunda da Universidade Federal do Cear. Eram
poucos docentes que aceitavam Documentao Oral como uma fonte para as pesquisas
histricas contemporneas. A grande maioria era refratria, mas mesmo assim, a PUC-SP,
depois do CPDOC, foi a pioneira na objetivao do assunto na academia brasileira com esse
curso de Documentao Oral, e com a disseminao de pesquisadores aptos ao emprego da
tcnica. A prpria USP s a aceitou atravs do CERU (Centro de Estudos Rurais e Urbanos) e
dos esforos do Professor Doutor Jos Carlos Sebe Bom Meihy, do Departamento de Histria,
nos Anos 90, com a proposta de criao da Associao Brasileira de Histria Oral4.
Com a criao do referido curso, este projeto ora apresentado surgiu quando o ento
Vice-Reitor Acadmico da PUC-SP, o Professor Doutor Joo Ednio dos Reis Valle, solicitou
ao Departamento de Histria que fosse escrita a Histria desta Universidade. Somente dois
professores do Departamento interessaram-se pelo tema, os Professores Doutores Yvone Dias
Avelino e Euclides Marchi, que trabalharam concomitantemente na organizao do "Museu
de Rua". Este Museu, ideia original do Professor Doutor Jorge Cludio Ribeiro, foi exposto
em um evento festivo, por ocasio do aniversrio da Universidade. Mais tarde, teve
4 Ns particularmente utilizamos o termo Documentao Oral, visto que o oral apenas documento criado com o
depoimento, instrumento que muito auxilia nas pesquisas contemporneas.
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seus painis distribudos sem sequencia em vrios espaos da Instituio, e foram totalmente
danificados e violentados nos corredores do subsolo.5
O curso de Documentao Oral alocado no Programa de Estudos Ps Graduados em
Histria recebeu um grande incentivo do Coordenador Geral do Setor de Estudos Ps-
Graduados poca, Professor Doutor Joel Martins. Formou-se ento um grupo especial de
pesquisa, incluindo alunos e professores, estabelecendo-se um plano de trabalho que remetia
ao ano de 1945, organizando o levantamento de fontes nos arquivos da prpria instituio e
entrevistas dirigidas com alguns dos agentes que fizeram a Histria da Universidade.
Teoricamente, os historiadores reconheciam a utilidade da tcnica, mas o seu uso
prtico era pouco, apenas restrito a alguns eruditos da rea. A Documentao Oral parte da
descoberta do passado, e de fontes que se busca localizar, apreendendo, compreendendo,
estabelecendo um sentido do que foi, do que aconteceu. Esta linha de preocupaes nos
conduziu confeco de documentos no s fidedignos quanto procedncia, mas ricos de
contedos6. Assim, fizemos muitas leituras sobre Universidade e dos trabalhos daqueles que
foram entrevistados, submetendo-os a um processo de anlise. Familiarizados com os seus
pensamentos, ficou mais fcil a confeco dos documentos orais.
Dentro da prpria Histria, preciso admitir que no h com o tipo de
coleta de material oral, uma Histria que se possa chamar de totalmente
espontnea. Tais quais outros tipos de fontes para o historiador, o resultado da
entrevista, ou seja, o texto transcrito, deve ser submetido ao mesmo trabalho crtico de
outros documentos e s mesmas leituras mltiplas e acuradas. A atrao de
5 Participaram tambm do projeto deste Museu a professora Doutora Luciara Silveira de Arago e Frota; os
Professores Doutores Jorge Cludio Ribeiro e Roberto Coelho Barreiro Filho, ambos do Jornal Porandubas; a
Professora Mestra Selma Siqueira Carvalho, do Departamento de Antropologia; o Professor Doutor Adilson Jos
Gonalves; e ainda contou com a colaborao do Engenheiro Jlio Abe Wakahara, ligado documentao
fotogrfica da Prefeitura de So Paulo. 6 Cf. Frota, Luciara Silveira de Arago e. Documentao Oral e a Temtica da Seca (Estudos). Braslia: Centro
Grfico/Senado Federal, 1985.
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tornar possvel a apreenso da Histria em processo de fazer-se , portanto, um risco a ser
minimizado. Os caminhos ampliam-se e distanciam-se s do fazer falar a documentao,
agora trata-se, de tornar-se responsvel tambm por elabor-la, preservando-a para o futuro.
Muitas dificuldades fizeram com que esta ideia inicial sofresse alteraes. Dentre elas,
podemos mencionar o pssimo estado da documentao sobre o assunto, que empoeirada e
desorganizadamente repousava, no em "bero esplndido", mas no rs do cho de uma sala
do "Prdio Velho" na PUC-SP. Esta documentao era imprescindvel ao estudo dos
primeiros tempos da Universidade e no dispnhamos, na ocasio, de condies e tempo para
catalog-la. Uma das razes foi o grupo ter sido reduzido, em virtude dos alunos participantes
terem prazo para a entrega de suas Dissertaes de Mestrado e iam embora aps um perodo,
gerando uma rotatividade de integrantes no projeto, que sempre se reiniciava e, ao mesmo
tempo, avanava. Na prtica, continuaram atuando apenas dois professores do Programa de
Estudos Ps Graduados em Histria, responsveis pelo tema7. Assim, a falta de pessoal exigiu
uma reestruturao do plano inicial de pesquisa. De comum acordo, optamos por inverter a
abordagem prevista, ou seja, partimos da realidade do "aqui e o agora", levando em
considerao os personagens que pensavam e faziam a PUC-SP naquele momento
histrico. Isto tudo, naturalmente, dentro de uma compreenso da complexidade do
conceito de Universidade, do que era a Universidade brasileira e especificamente
desta Universidade "democrata e pluralista".8 Esta terminologia era voz corrente entre
os depoimentos extrados atravs das entrevistas coletadas entre os que detinham
cargos de direo acadmica e/ou administrativos na PUC-SP. Optamos pela
7 O trabalho passou efetivamente a ser realizado pelas professoras Doutoras Yvone Dias Avelino e Luciara
Silveira de Arago e Frota. 8 A Universidade brasileira havia se democratizado e era assunto de mesas redondas, palestras e comunicaes
em simpsios nacionais. Na realidade, observava-se que em alguns aspectos, ela havia falido, e em outros,
crescido. O binmio docncia/pesquisa cada vez mais se solidificava. Ela "inchou" com o aumento de clientela,
mas permaneceu elitista em outros aspectos.
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Documentao Oral por ser, no caso, a tcnica de pesquisa mais adequada ao nosso trabalho.
De qualquer forma, o valor da incorporao destes testemunhos nada representam, no
fora a proposta de atravs desta forma atingir-se pela prtica a etnolgica retrospeco de um
revisionismo, que tem como propsito, fazer construir uma Histria com nova base, dando
palavra aos representantes das minorias culturais. Paul Thompson vai mais longe9. Pretende
que a tcnica atue como instrumento de uma contra histria. Com o aumento do interesse pelo
assunto, estas reflexes podem repousar sobre a concordncia com o antroplogo sobre o fato
de que o homem percebe, pensa e se exprime nos termos da sua cultura especfica.
Alm da falta total de um apoio institucional, do descrdito poca da tcnica
utilizada, a professora Luciara, que conosco colaborava, por razes pessoais prestou concurso
em uma Universidade Federal, a Fundao Universidade de Braslia (UnB). Deixou a PUC-
SP e a proposta da Histria da Universidade. Isto apenas institucionalmente, pois sempre nos
preocupamos em apresentar tal pesquisa, que muito rica ainda hoje, tanto no que tange a
respeito de ideias sobre Universidade, tanto pelo ineditismo de sua confeco e pela
importncia e significados desses agentes que ajudaram a construir a Pontifcia Universidade
Catlica de So Paulo e, consequentemente, um ideal de disseminao de saberes, que s
agora parte vem tona.
Pela sua prpria etimologia, entendemos por Universidade o local em que o universo
dos conhecimentos at ento desenvolvidos so trabalhados de forma a garantir a sua
conservao e o seu progresso, nos diversos ramos em que se distribui, seja pelo
ensino, pela pesquisa, ou pela prestao de servios sociais. Se considerarmos que,
na nossa civilizao, o conhecimento para fins de aprofundamento e
especializao est dividido por reas, podemos considerar como pressuposto
bsico que, uma Universidade deve trabalhar para a universalidade dos
9 Thompson, Paul. The voice of Past: Oral History. Oxford, Oxford Press, 1978.
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conhecimentos at ento desenvolvidos, de forma a garantir a sua contribuio nesse
processo.
A Histria no se debrua na originalidade dos acontecimentos individuais, mas nas
especificidades deles, pois a escolha de um assunto sempre livre. Porm, dentro da temtica
escolhida, os fatos e suas ligaes so o que so, e nada poder mud-los. Eles no existem
isoladamente e, nesse sentido, o tecido da Histria que se chama de trama. Essa trama no
se organiza em uma sequncia cronolgica, ela pode passar de um plano para outro, sendo
impossvel descrever a sua totalidade. O historiador nunca faz o levantamento do mapa
factual, ele pode, no mximo, multiplicar as linhas que o atravessam. A Histria um
caleidoscpio, onde a reflexo crtica nas entrelinhas necessria e fundamental, onde os
cruzamentos de itinerrios possveis so rastreados e inteligentemente recuperados.
A cidade de So Paulo despontou com os sinais do progresso. esta a cidade que
abriga a Pontifcia Universidade Catlica. A expanso territorial e a variedade de construes
e da populao, entremeada de paulistanos, paulistas, brasileiros de vrios territrios e de
imigrantes, fizeram surgir nesta cidade novos bairros no incio do Sculo XX. Alguns deles
eram territrios burgueses da elite cafeeira, como o caso de Campos Elseos e Higienpolis,
com praas e jardins bem cuidados, ruas de traados perfeitos, com imensas e arborizadas
manses, onde habitavam os detentores do poder.
Nos baixios e nas vrzeas dos rios situavam-se os bairros fabris, pobres, de moradias
operrias, que eram os menos valorizados. No espao simples de uma rea onde gorjeavam
aves chamadas perdizes, nasceu um convento de Freiras Carmelitas, em 1908, que cederam
mais tarde este espao para a criao da sede da Universidade Catlica de So Paulo, em
1946, uma das mais importantes, entre outras, no contexto da Amrica Latina. Alguns anos
antes, j havia esta cidade abrigado a Universidade de So Paulo, um centro de excelncia que
respondeu culturalmente ao desastre da perda militar na Revoluo Constitucionalista de
1932.
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A Universidade Catlica de So Paulo no seu nascedouro j apontava para as
necessidades das composies poltico-sociais e ideolgicas, atravs da problemtica
religiosa, que afligia o Brasil naquele momento: a busca de entendimentos da identidade
nacional, que indicava para o nacional trabalhismo, de um populismo decalcado na crise do
ps-guerra e na necessria criatividade para responder aos impasses e demandas
democrticos. Ressaltava-se o significado e o papel da atuao da Igreja, no sentido de
colocar-se enquanto personagem e interlocutora do novo espao poltico que se institua
poca. Neste cadinho, justificou-se a criao e estmulo s entidades culturais de carter
universitrio em algumas metrpoles brasileiras, como Rio de Janeiro, So Paulo e Porto
Alegre, a exemplo de suas congneres na Amrica Latina.
Estes setores tornaram possvel a formao de lideranas catlicas para assumirem a
composio de quadros na sociedade civil e nos aparelhos de Estado, estratgia para
disseminar seus princpios filosficos e participar, efetivamente, atravs dos leigos, da
composio do poder, atingindo assim patamares mais elaborados de divulgao distintos dos
utilizados no sentido tradicionalista e particular no plpito.
As particularidades desta Universidade encontraram lastros no perfil de seu projeto
filosfico-educacional, na sua organizao institucional e na composio social dos trs
segmentos que englobava: professores, alunos e funcionrios, destacando-se tenses e formas
especficas de insero no cenrio nacional, por seu carter confessional. Surgiu esta
Universidade no processo de dilatao dos horizontes da Ao Catlica, organizando-se
timidamente pela configurao dos princpios filosficos que a orientavam, o neotomismo,
com objetivo de compor quadros e formar profissionais competentes sem, no entanto,
enfatizar as atividades de pesquisa.
Na real dimenso da Instituio, enquanto centro de produo de
conhecimento, pela sua divulgao, encontrou caminhos que despontaram como
uma de suas caractersticas apenas no decurso dos Anos 70, com a interao entre
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ensino e pesquisa. Foram os anos da reforma educacional. Apesar de atravessarmos um dos
momentos mais dramticos da recente Histria do pas, decalcados no Estado Militar, o
perodo configurou-se e solidificou-se em uma enorme efervescncia cultural. Foi marcado
por reivindicaes e presses para ampliao dos espaos, do exerccio da cidadania, em suas
mltiplas facetas.
Ressaltava-se uma presena mais marcante dos diferenciados setores da sociedade,
onde a Igreja apareceu como um ponto de refgio, e com uma mo protetora, amiga daqueles
que sofreram injustias mais gritantes, por ainda no terem sido silenciados. A longa trajetria
desta Universidade foi marcada por situaes dspares no cenrio nacional, na cidade de So
Paulo, e na forma especfica de ao da Igreja. Vamos mergulhar no tempo, refletir, e
recuperar esta jornada, atravs das doutas entrevistas de alguns agentes que fizeram parte
desta histria e desta Universidade.
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MUSEU DE RUA: PUC-SP - PROJETO E PROCESSO
Prof. Dr. Jorge Claudio Noel Ribeiro Junior10
Inaugurado em 1980 e ativo nos seis anos seguintes, o Museu de Rua foi uma aula ao
ar livre sobre a histria desta universidade. Essa exposio circulava pelos campi e era
composta de 30 painis fotogrficos montados sobre bases de dupla face, com dois metros de
altura por um de largura.
A mostra nasceu num contexto que se articulou em dois nveis. O primeiro, nacional,
foi a resistncia a uma ditadura j nos estertores, uma frente integrada por figuras como o
arcebispo dom Paulo Evaristo Arns, tambm gro-chanceler da PUC-SP. O segundo nvel,
local, foi a ao da reitora Nadir Kfouri e dos vice-reitores Casemiro dos Reis F (acadmico),
Ednio dos Reis Valle (comunitrio) e Armando Caropreso (administrativo). Esse grupo
liderou a construo de uma universidade que anteciparia utopicamente a nao pela qual se
ansiava e que lanaria pontes na direo do povo brasileiro.
Na rea acadmica, essa proposta se materializou na pesquisa e docncia crtica, no
acolhimento a uma dezena de professores perseguidos pelo regime, na abertura a encontros da
intelligentsia nacional, de lideranas estudantis e de vrios segmentos sociais. Na frente
comunitria, destacou-se a atuao do Instituto de Estudos Especiais, a dinamizao do teatro
Tuca apontado como templo da resistncia democrtica e o setor de comunicao, que
vocalizava as inquietaes e conquistas da comunidade universitria.
Desse caldo de cultura em ebulio, brotou o Museu de Rua a partir da
colaborao de mltiplas mos. A pesquisa e as entrevistas de histria oral ficaram a
cargo de equipe da Ps-Graduao em Histria liderada pelas professoras
Yvone Dias Avelino e Luciara Frota; a coordenao, texto final e diagramao foram
10
Doutor em Cincias Sociais pela PUC-SP, Livre Docente e Professor Titular na PUC-SP, Scio Proprietrio
da Editora Olho Dgua.
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realizadas por Jorge Claudio Ribeiro e Roberto Coelho Barreiro F, que editavam o
Porandubas, jornal da universidade; o design e a montagem couberam ao experiente arquiteto
Jlio Abe Wakahara.
Os painis de PUC-SP - Projeto e Processo apresentavam textos didticos, fotos
histricas e ilustraes atraentes. A exposio foi dividida em trs blocos sobre eventos da
universidade, em consonncia com a histria brasileira. O primeiro momento trazia a
concepo inicial da instituio, as unidades que a constituram e as tendncias das dcadas
1940-50; o segundo bloco cobria a dcada de 1960, a efervescncia poltica e cultural tanto na
sociedade como na PUC-SP, a Reforma Universitria, a Ps-Graduao, o Ciclo Bsico e os
movimentos estudantis; o terceiro momento enfocou a dcada de 1970, a resistncia
ditadura e a afirmao da PUC-SP como espao cultural democrtico.
O Museu de Rua foi rapidamente acolhido como algo prprio pelo pblico a que se
destinava e que nele se mirou como ante o espelho da faceta mais progressista de sua
identidade. Essa caracterstica teria motivado a depredao de sete painis, em setembro de
1983, talvez prenunciando o incndio que viria a destruir o Tuca, um ano depois.
Os pequenos estragos decorrentes do uso e transporte eram prontamente reparados.
Entretanto, a incria infligiu dano definitivo a PUC-SP - Projeto e Processo. Depois da
troca da equipe responsvel pelo setor, e que fazia a manuteno do museu, alguns painis
sofreram uso inadequado, como tapumes, o conjunto foi-se dispersando e terminou
deteriorado num depsito imprprio.
Mas, sendo da natureza da memria afrontar teimosamente o olvido, surgem planos de
recuperar a exposio original e traz-la at os dias de hoje.
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Introduo
Profa. Dra. Luciara Silveira de Arago e Frota11
A insero da Histria Oral na PUC-SP deu-se a partir de um Curso Interdisciplinar de
Leitura Sistemtica necessrio aos estudos e projetos de mestrado do Programa de Estudos
Ps- Graduados em Histria nos anos noventa. O curso era oferecido no s aos demais
alunos de outros programas de Mestrado da instituio como a alunos de vrias outras
universidades. Isto permitiu um amplo e prtico entrosamento entre alunos da PUC e da USP,
alguns dos quais aceitos como ouvintes e gerando uma interligao entre vrios profissionais
como arquitetos, advogados e jornalistas. Quase todos eles pretendiam empregar a Histria
Oral nos seus trabalhos e me ocorreu, ento, propor Coordenao da Ps-graduao, ento
dirigida pelo Doutor Joel Martins, e coordenao do Mestrado em Histria, com a
Professora Doutora Yvone Dias Avelino, que o curso de Leitura Sistemtica pudesse ser
dividido em duas fases. Na primeira, os alunos estudariam Teoria da Histria, tcnicas de
entrevista utilizadas pelos mais diversos profissionais, como mdicos, psiclogos, educadores,
e seriam encaminhados, em seminrios e exposies, a discusses sobre a validade da Histria
Oral, seu surgimento, conceito, importncia, e introduo no Brasil.
Nessa segunda fase do curso, os alunos tiveram acesso ao material do I Curso de
especializao em Histria Oral dado no Brasil pelos professores James e Edna Wilker e a
professora mexicana Eugnia Mayer do qual participei como aluna. O curso foi patrocinado
pela Fundao Getlio Vargas e pela Universidade Federal Fluminense com
a coordenao das professoras doutoras Aidil de Carvalho Press e Ismnia Lima.
Utilizaram tambm, o material fornecido na Universidade de Braslia
pelo Professor Doutor David Gueiros Vieira que ali organizou, pela
11
Doutora em Cincia Humanas pela USP, Ps-Doctor em Cincia Poltica pela Universidade de Buenos Aires e
Ps-Doctor em Histria pela UnB. Professora Titular da Universidade de Braslia UnB.
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23
primeira vez no Brasil, em 1975 um seminrio sobre a importncia da Histria Oral do qual
tambm participou.
O interesse despertado entre os alunos do Curso Interdisciplinar de Leitura Sistemtica
foi tanto que os prprios alunos pesquisaram, selecionaram e propuseram textos para estudo
privado e coletivo. Em sua segunda fase, o curso de Leitura Sistemtica tinha tambm a
proposta de ajudar o aluno a formular e redigir o seu projeto e organizar entrevistas para o seu
trabalho monogrfico.
A interdisciplinaridade do curso favoreceu a ideia da criao de um Laboratrio de
Documentao Sonora e Grfica do setor de Ps-Graduao da PUC/SP para ser utilizado
pelos professores e alunos de todos os programas dos cursos da Ps-graduao. Tanto o Dr.
Joel como a Dra. Yvone manifestaram o maior interesse pela criao do Laboratrio sendo o
seu projeto por mim elaborado e aprovado pela Comisso de Ps-Graduao. Mais tarde, no
Projeto PUC ano 2000, o mesmo Dr. Joel pediu que eu o reapresentasse para que fosse
includo e implantado paulatinamente. Infelizmente, o seu plano no vingou e a PUC/SP
perdeu um hbil administrador e um grande cientista.
Vale lembrar que um Laboratrio do porte idealizado e proposto pedia, em funo da
doao de documentos e conservao de material gravado, como palestras, discursos,
conferncias e propriamente a guarda das entrevistas de Histria Oral, certo resguardo
jurdico. Sob o patrocnio dos dois coordenadores j mencionados, doutores Joel e Yvone
foram efetuados trs palestras, pelos renomados advogados Eduardo Muylaert, Manuel Alceu
Afonso Ferreira e Renan Lotufo a partir de um tema geral: a documentao oral e seus
aspectos jurdicos, inclusas na parte Anexa desta publicao. Desde a ideia da formao do
Laboratrio, numa conversa com o Dr. Joel, e a Dra. Yvone, ficou acertado que o primeiro
dos seus projetos seria um resgate da Histria da PUC/SP a partir de entrevistas de Histria
Oral. Os alunos de Leitura Sistemtica adoraram a ideia e se tornaram, em
sua maioria, a partir de ento, preciosos colaboradores. Formou-se um
corpo de entrevistadores incentivado, respectivamente, pelas coordenaes da
-
24
Ps-Graduao em Histria, e professores como o saudoso Geraldo Pinheiro Machado,
(CEDIC), Maria Luza, (Educao) Carmem Junqueira (Antropologia), Maria do Carmo
Guedes (Psicologia) e Lucrcia Ferrara (Semitica).
As entrevistas aqui apresentadas so, portanto, fruto de um trabalho feito com boa
vontade e entusiasmo. Suas imperfeies resultam das prprias condies inerentes s
dificuldades de pesquisa, custos onerosos que um trabalho dessa natureza requer, sem dispor,
ento, de financiamento das agncias de pesquisa e sendo as despesas de fitas, gravadores e
transcries, repassadas aos prprios alunos do Curso.
Sem dvida, esse trabalho espera engavetado por uma publicao h j um bom
tempo. Ao ser dado luz ele de fato ilumina o percurso da PUC como Instituio de relevo e
que tem fornecido ao Pas vultos de destaque nacional. A PUC uma Universidade sempre
como a Histria: um processo em construo a espera do fazer-se. Desvelamos e revelamos
nesse trabalho alguns dos seus pilares, cones e talvez segredos. Alguns dos entrevistados com
quem privei magnficas e solidrias criaturas, j nos antecederam na jornada ltima. Certo,
ficou um pouco de cada um deles nas conversas, e prvias informais e mesmo nas entrevistas.
Ainda posso ouvir o eco da fala mansa de Joel Martins e rever, em minha imaginao, o
sorriso franco de Pinheiro Machado. Muitos sussurros, emoes e alegrias cercaram tambm a
obteno destas entrevistas. Muitos colaboraram, alguns nem tanto, outros muito pouco. O
que importa que em cada uma delas surgem ntidas as evidncias perseguidas pelo
historiador convencido de que no h resgate histrico que se sustente sem elas. Elas so o fio
condutor a surgir do emaranhado de ideias e palavras. Repetidas revises que moldam a
orao aos fatos, a luta para abordar a verdade sugere, exige, material mais abundante, melhor
e mais depurado. E a montagem da ltima linha traz consigo no a certeza de estar certa, mas
a certeza de ter exaurido a evidncia12.
12 Cf. Oscar Handlin in A Verdade na Histria, (1982), trad. de Luciara de Arago e Yvone Avelino.
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25
O leitor, com certeza se deparar com imperfeies, mas, espero colher daqui
algumas orientaes e informaes de como foram trabalhadas e selecionadas as entrevistas
que compem este livro. Principiamos por recordar que propriamente, em termos de Histria,
o recurso aos testemunhos orais antigo. J em sua Histria da Revoluo Francesa, Michelet
pe na palavra do povo o prprio fundamento da tradio nacional. Modernamente, em 1948,
Allan Nevins, da Universidade de Columbia, acrescentou as fontes orais captadas junto a
testemunhos da Histria, aquelas que j constavam de arquivos impressos e escritos. De
qualquer forma, o valor da incorporao desses testemunhos nada representaria no fora a
proposta de atravs de esta forma atingir-se pela prtica a etnolgica retrospeco de um
revisionismo que tem como propsito fazer construir uma histria com nova base, dando a
palavra tambm aos representantes das minorias culturais13 . As dificuldades sobre a sua
validade e as discusses situando-a como tcnica ou como mtodo, assunto que conduz a
reflexes. Com o aumento crescente do interesse pelo tema, essas reflexes podem, a partir da
concordncia com o antroplogo repousar sobre o fato de que o homem percebe, pensa e se
exprime nos termos de sua cultura especfica. preciso admitir que no haja como o tipo de
coleta de material oral uma Histria que se possa chamar de totalmente espontnea. Bem
como, ainda admitir que tal quais outros tipos de fontes para a histria o resultado da
entrevista, ou seja, o texto transcrito deve ser submetido ao mesmo trabalho crtico de outros
documentos e as mesmas leituras mltiplas e acuradas. A atrao de tornar possvel a
apreenso da histria em processo de fazer-se , portanto, um risco a ser minimizado. Os
caminhos se ampliam e se distanciam a partir s do fazer falar a documentao, trata-se agora
de um novo desafio: tornar-se responsvel, tambm, por ajudar a elabor-la, preservando-a
para o futuro. E esta foi a proposta do Laboratrio de Documentao Sonora e Grfica.
13Cf. David Gueiros - Palestra sobre Importncia da Historia Oral - Universidade de Braslia, 1980.
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26
Temos as entrevistas aqui apresentadas como um instrumento de captao do real. Ao
pensarmos nos eventos contemporneos, observamos que eles incluem recursos como
audiovisuais, fotografias, slides, filmes; tapes, notas estenogrficas, gravaes, como no caso
de um jogo de futebol ou de uma corrida de automveis. Esses recursos, assim com as
entrevistas, podem enriquecer a documentao contempornea sem se perder de vista a
decorrncia de um processo de seleo entre o ocorrido e a verdade. Um exemplo claro disso,
advm do fato de que um locutor de rdio, por exemplo, registra o que pensa que viu
enquanto um estengrafo aquilo que ele pensa que ouviu. No so estes materiais de to boa
evidncia quanto o que transcrevemos depois de repetidamente ouvirmos uma gravao.
Consideramos as entrevistas deste livro, como um registro seletivo de tudo aquilo que o
narrador, ator, depoente, testemunho, entrevistado, ou qualquer outra denominao que se lhe
queira dar, disse ao entrevistador que se lembra.
A nossa posio como historiador a de procurar, nessas fontes, o acesso rea de
memria, sem pode esquecer a sutileza da memria, daquilo que foi percebido e o registro
propriamente dito desta memria. Contudo, o que o indivduo pensa que ocorreu da maior
importncia dentro do trabalho de recuperao do passado. Os esforos conscientes do
narrador para interpretar dentro do contexto emocional e racional podem ser detectados, pois
os reflexos, no so registros nem so passados, so indcios da nossa busca de Verdade e
Realidade. O significado que cada narrador d aos seus eventos denota, ainda, que um
participante, naquele momento pensou no passado daquela maneira.
Uma anlise histrica do processo de formao da PUC/SP pede, naturalmente, muito
mais que uma srie de narraes de eventos, requerendo o estudo de conceitos de poca,
documentos divergentes sobre o mesmo tema, comparaes, enfim, uma gama de avaliaes e
pesos que podem levar a formulao de hipteses. Esta anlise documental de vrias fontes
ser decerto mais suscetvel aos preconceitos do que propriamente a coleta de memrias em
si. No percamos de vista o fato de que o significado pode se misturar e ser forado,
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27
dentro da prpria anlise a ser feita, pois que a anlise deve levar em conta todas as fontes
disponveis e explicaes satisfatrias.
Quando comparamos a importncia da histria oral com outras fontes usadas na sua
preparao, como o jornal, do qual cada vez mais o historiador fica dependente nesse incio de
sculo XXI, verificamos que ele tambm passvel de algumas consideraes sobre a sua
validade. O historiador no ignora que s de forma inadequada o material necessrio
impresso diria corresponde importncia que poderia traduzir. Isto, porque a circunstncia
do imediatismo do noticirio e a urgncia da composio e vendagem, no horrio previsto,
no permitem a preciso. Este imediatismo vai permitir, raras vezes, que haja uma pausa
adequada para a reflexo. O comum a superficialidade das explicaes dos acontecimentos.
O jornal feito para informar e esta sua finalidade. Alguns problemas adicionais podem ser
acrescentados. So os casos dos comprometimentos dos seus donos, com o sistema de
governo, grupos financeiros ou mesmo interesses privados, ou ainda, as compreensveis
limitaes de interpretao de analistas internacionais, a censura oficial governamental e
mesmo simpatias e antipatias dos prprios editores a esta ou aquela personagem.
A prpria consulta ao jornal, seja ou no, como fonte de pesquisa para a prpria
entrevista de histria oral j se constitui um duro trabalho para o historiador. A ele vai caber
discernir entre o fato e opinio do jornal, a circunstncia de impresso e as diferenas entre
textos originais e cortes sofridos e mais ainda, a ligao entre a importncia dada ao editorial,
chamada da primeira pgina e o prvistaprio contedo de manchete da primeira pgina.
Assim, parece ridculo considerar o jornal como um tipo de evidencia. um meio ou um
veculo que rene vrios tipos de evidncias - conselhos e reportagens especiais com registros
de transaes efetivadas ou putativas; a testemunha das reportagens, a retrica
dos editoriais I comentrios e cartas dos leitores e obras tais como piadas, histrias
em quadrinhos e fotografias embora os jornais sejam uma excelente
fonte de consulta pelo fornecimento de dados organizados, convm no perder de vista
-
28
que o essencial encontrar neles o suficiente e no mais, informaes e outros itens de
interesses para preencher as colunas cada vez porque os leitores suportam-nos buscando
interesse, eles no podem permitir que sua ateno decline14.
Outro tipo de fonte, quase obrigatria, quando pensamos em histria oral a biografia.
Suas restries principiam pelas consideraes feitas a respeito das biografias, no passarem
geralmente de meras descries. Contudo, quando os Annales reabilitaram as biografias
valorizando-se, o gnero biogrfico, to de agrado da histria tradicional, pode integrar sem
maiores preconceitos o elenco de fontes da Histria Social, dentro da ideia de que o
indivduo, por mais excepcional que seja no pode escapar ao que o rodeia. Sem dvida, o
ideal o da interao entre o homem e o meio, pois se o grupo social prope ou impe aos
indivduos os seus quadros de pensamentos e atividade15. As reaes individuais podem
colaborar na modificao do meio. Se for verdade que a multiplicao de biografias pode
permitir chamar ateno para um tipo social, no caso da entrevista, o homem, centro em
torno do qual ela vai gravitar, tambm no dever ser visto como parte isolada em uma
concepo individualista de histria - o seu papel como integrante de uma sociedade no pode
ser desdenhado. Assim, mesmo que forma elementar um mnimo de conhecimento sobre o
testemunho a ser ouvido se faz, portanto, necessrio. Na confeco dessas entrevistas essas
premissas foram observadas.
Um ponto que talvez deva tambm ficar claro o relativo que cada um da equipe de
trabalho, de posse dos dados essenciais construo do seu roteiro de entrevistas, na
verificao das proposies que o interessam, mesmo estabelecendo suas influncias, no
pode, todavia, nenhum deles, estabelecer certezas plenas.
O fio condutor encontrado nas entrevistas aqui apresentadas pode, porm, dar
continuidade ao caminho de uma para outra entrevista. Reside a uma das
14 Idem. Ibidem. 15 Cf. tambm este ponto de vista nos resultados publicados no livro Documentao Oral e a Temtica da Seca,
Braslia, Senado Federal, 1978 e em separata do Projeto PUC/SP Ano 2000.
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vantagens da histria oral, pois a oportunidade de privar da convivncia do testemunho vai
permitir colocar com acerto a palavra certa na digitao, identificar personagem e locais
citados, e inquirir, avaliar, ajuizar ao vivo tema e personagem. Embora, algumas vezes, de
modo restrito sua experincia seja individual, ser-lhe- possvel ampliar ou diminuir suas
dvidas podendo conferir suas impresses originais.
Na elaborao das entrevistas aqui apresentadas, poucos foram os problemas
encontrados. Alguns adiamentos, alguma indisponibilidade de tempo, foram algumas das
dificuldades enfrentadas pela equipe de entrevistadores. Como um problema comum as
entrevistas e pesquisas em geral, elas podem apresentar alguma dificuldades de fundo.
Poderemos conjecturar, indagar: - falam livremente os entrevistados sobre o sistema institudo
com o qual esto comprometidos.
Ou ainda: - De modo geral, quando entrevistamos algum baseado em registros
oficiais, no incorreremos no erro de o nosso planejamento abranger somente uma fatia da
realidade?
Estas questes so colocadas em funo de que sabemos o quanto s condies de
presso e ansiedade atuam sobre o indivduo levando-o, inclusive, a confundir fatos com
fantasias, ou seja, a sua capacidade de discernimento pode sofrer alteraes. Isto posto, para
no esquecermos que quer resolvamos entrevistar empresrios, professores ou sindicalistas,
pobres ou ricos, as dificuldades sero basicamente as mesmas. O grau de seu compromisso
pessoal, ou mesmo a sua inexistncia em demonstr-lo e o resistir a esta ou quela indagao
pode estar ligadas, ou no, a uma viso corporativista ou interesseira. Todas as vises de
testemunhos esto assim dentro daquilo que eles prprios consideraram como aceitveis.
Concluindo, foram-se os velhos e bons tempos da receita de sntese
oriunda da consulta dos manuais de embasamento terico, pura e simplesmente.
A generalizao, as falhas da evidencia histrica preenchidas pela teoria so solues
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30
passadas. Se os fatos no justificam as teorias, por sua vez, estas tambm no requerem as
justificativas correspondentes destes.
O processo de reconstruo do passado nos nossos dias, mesmo quando falamos de
passado recente, como o nosso caso, segue condicionado ao respeito pelo fato conhecido -
sempre sujeito ao revisionismo - bem como, pela obrigatoriedade de manuteno e
estabelecimento do correto registro. A entrevista de histria oral , portanto, mais um
instrumento para a reconstruo desse passado. Instrumento importante que exige para o seu
preparo, leitura cuidadosa de publicaes do entrevistado e de outros autores sobre o mesmo
assunto, conversas prvias, conferncias e palestras, em suma, observao direta aonde o
historiador, necessariamente apoiado, procura, alm do aumento do conhecimento, a
manuteno de absoluto respeito s aspas da palavra escrita ou falada. As entrevistas esto
apresentadas nos moldes tradicionais de perguntas e respostas, isto, por entender que a
fluncia, a fala percebida com maior facilidade bem ou o seu contrrio, levar o pesquisador
interessado ao delas utilizarem-se as prprias reflexes dos entrevistadores em suas anotaes
pessoais j est, encaminhado para o seu contedo. Ele prprio avaliar contedo e
personagem. Poder naturalmente fazer reflexes do tipo: - que evidncias outras temos para
assegurar que o que diz verdadeiro? Parece o entrevistado forte ou fraco, sua ao foi anloga
a sua fora ou a sua fraqueza? Ele convence na sua fala ou o que diz demonstra insegurana?
Claro que a comprovao de suas hipteses no est restrita a histria oral em si
mesma. Mas, ela imprescindvel como elemento para sustentar as possibilidades surgidas e
avaliar abordagens de textos vistos em outras fontes e ainda, para estabelecer as necessrias
comparaes entre eles.
Em tese, coloca-se por si mesma, a credibilidade do testemunho. Como em
qualquer outro tipo de documento histrico, o problema da credibilidade permanece mesmo
quando se trata de entrevista. Todos os cientistas sociais sabem - e os historiadores em
particular - que a respeitabilidade de um testemunho no oferece nenhuma
certeza precisa de exatido. Erros de percepo, lapsos de memria e
-
31
hesitaes podem ocorrer durante a entrevista. Tambm, as tendncias latentes em cada ser
humano podem se manifestar advindas de convices pessoais, interesses de grupos ou de
classe, preconceitos e envolvimento pessoal e emocional. Isto no significa necessariamente
uma mentira, podemos mesmo encontrar nesse tipo de testemunho a mxima sinceridade.
Verdade que, embora cada testemunho nos interesse em particular, do conjunto deles que se
nos vai oferecer um leque de vises, podendo guiar o pesquisador rumo verdade procurada.
Passa-se, ento, a um processo de avaliao das possibilidades e probabilidades de que
determinados eventos que interessam a nossa pesquisa tenham-se dado desta ou daquela
forma. A certeza buscada continua, nesta e noutras pesquisas a nos escapar na sua totalidade,
pois as concordncias dos testemunhos, assim como as discordncias no atentam in totum
para a veracidade do que se pretende investigar. Dificuldades que podem ser acentuadas na
razo direta do tema escolhido.
Para tanto, basta que nos lembremos de alguns pontos dos quais partimos na
preparao para as entrevistas, com o acordo de doao assinado pelo testemunho, e
formalizado, dando-lhe aspecto legal. Todos estes cuidados no impedem a falncia de
obteno de uma verdade completa que continua a existir, independente de como sejam
julgados os resultados. Sabemos, portanto, das limitaes do nosso trabalho.
Registro puro e simples e registro de impresso ou texto literrio as entrevistas, em seu
conjunto, podero compensar a fraqueza de alguns testemunhos. (Falta de disponibilidade de
tempo do entrevistado, receio de exposio pessoal, questes de sade, ferir susceptibilidades,
temperamento pessoal entre outros). Apesar dos riscos na sua confeco, o conhecimento de
como os homens que fizeram e fazem a histria nossa de todo o dia falam das suas
experincias, pode, em parte, diminuir os riscos da insuficincia e simplificao da evidncia
histrica a qual esto expostos todos os historiadores nas suas apreciaes.
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32
A questo das entrevistas aqui apresentadas como resgate da histria viva da
Instituio ou como fonte para registros futuros poder gerar o prprio julgamento da medida
em que as palavras correspondem ao, e seu valor ter por base, tambm, a conscincia
profissional dos que elaboraram este trabalho, a qual no permite a preparao prvia da
evidncia histrica. Alguns deles j no esto entre ns como o nosso dileto e aplicado aluno,
o arquiteto Jos Carlos Gonalves, que se transformou num grande amigo.
Deixamos, assim, cada um de vocs com os entrevistados agentes dessa histria, face a
face, no Laboratrio. E por ltimo, no estdio, reconhecendo a atualidade da histria oral que,
independente do mundo globalizado, onde a valorizao do volume de informaes sobrepuja
os significantes individuais, a significao da fala absorvida na sua ressonncia no seno
um eco, um espelho da sociedade, uma abertura.
O homem, sua histria prpria, seus atos, gestos e palavras continuaro sendo uma
instigante novidade. Para ele, convergem teorias, tcnicas e mtodos de estudo desvelando o
seu caminhar no processo histrico luz da mobilidade do testemunho no territrio das suas
prprias certezas e hesitaes. Esse trabalho foge a generalizao compulsiva ao restituir ao
prprio sujeito, de forma individual, o balizar sua trajetria e sua histria de vida.
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33
Tabela de Entrevistas
Entrevistado Entrevistador(es) Temtica Data
D. Paulo
Evaristo Arns
Jorge Claudio
Luciara S. de Arago
e Frota
Jos Mario Getimane
Yvone Dias Avelino
A Universidade na
caminhada do povo 10/03/1980
Andr Franco
Montoro
Luciara S. de Arago e
Frota
Yvone Dias Avelino
M. Lcia P. de
Mesquita Barros
Um poltico dentro da
Universidade Catlica 30/09/1981
Joel Martins
Luciara S. de Arago e
Frota
Carlos Lucas Mali
Experincias de trabalho
na Ps-Graduao 02/10/1980
Jos Carlos
de Ataliba
Nogueira
M. Lcia P. de
Mesquita Barros
A criao da Universidade
Catlica 23/09/1981
Oswaldo
Aranha
Bandeira de
Mello
M. Lcia P. de
Mesquita Barros
A Reitoria e a
Universidade na opinio
do primeiro Reitor Leigo
07/03/1979
Enzo Campos
Guzzo (Padre
Enzo)
Luciara S. de Arago e
Frota
A Universidade no
pensamento de um de seus
pensadores
29/06/1979
Geraldo
Ataliba
Nogueira
M. Lcia P. de
Mesquita Barros
O perodo de Reitoria
(1972/1976) 21/06/1983
Joaquim
Alfredo da
Fonseca
Luciara S. de Arago e
Frota
Yvone Dias Avelino
Joelza Ester
Domingues
A Faculdade de So Bento
e o curso de Geografia na
Universidade Catlica de
So Paulo
02/07/1979
Geraldo
Pinheiro
Machado
M. Paula P. de Aguiar
Vera Lcia Baleroni
Luciara S. de Arago e
Frota
A criao da Universidade
Catlica e seus propsitos
a partir do movimento do
Centro D. Vital no Rio de
Janeiro; A fundao do
CEDIC e a criatividade
filosfica
24/09/1981
-
34
Aniela Meyer
Ginsberg
Yvone Dias Avelino
Jos Carlos Gonalves
Luciara S. de Arago e
Frota
Uma experincia na
Psicologia 15/12/1980
Milton de
Miranda
Vera Lcia L. Baleroni
Vera M. D. de
Andrade Rinoldi
Projetos e administrao 26/08/1981
Luis
Kubinsck
Feigue Killer
Mrcia T.
Mielennhausen
Nlli Silva K. Rizzo
A biblioteca e a sua
formao 12/12/1980
Ari Silvrio Luciara S. de Arago
Jean-Claude Silberfield
A vida administrativa na
Universidade 28/06/1979
Antonio
Penteado de
Azevedo
Luciara S. de Arago e
Frota
Yvone Dias Avelino
Jos Carlos Gonalves
A importncia cultural e
poltica da PUC-SP e suas
fontes de sobrevivncia
11/06/1979
Jos
Massafumi
Nagamine
Luciara S. de Arago e
Frota
Carlos Eduardo
Caldarelli
Paulo da C. Pan
Chacon
Erivaldo Fagundes
Neves
O Curso Bsico, O
movimento de reforma
universitria na PUC-SP e
o desenvolvimento
nacional
10/12/1980
Ramn
Martinez
Alcaraz
Heraluise M. de
Almeida
Eduardo Roberto D. da
Silva
A Revista da PUC-SP 12/03/1981
Oswaldo
Leite de
Moraes
Mrcia T.
Mielennhausen
Feigue Killer
O Estatuto da
Universidade. A
Faculdade de Direito
11/12/1980
Feliciano da
Rosa Aquino
Nlli Silva K. Rizzo
Manoel Severo de
Farias
Dados para a Histria da
PUC-SP 28/06/1979
Jos J.
Queiroz
Luciara S. de Arago e
Frota
Joelza Ester Vieira
A criao do Instituto de
Estudos Especiais e seus
resultados
16/12/1980
Elza Ferreira
Lobo
Luciara S. de Arago e
Frota
Yvone Dias Avelino
Jorge Cludio
O TUCA, o Tuquinha, as
Agregadas e as
Incorporadas
07/12/1979
-
35
Carmem
Sylvia
Junqueira
Luciara S. de Arago e
Frota
Jean Claude Silberfeld
A Antropologia da
Universidade 26/04/1981
Clia Sodr
Doria (Madre
Cristina)
Adilson Jos
Gonalves
Yvone Dias Avelino
O poltico repressor, o
movimento estudantil a
criao do Instituto Sedes
Sapientiae
07/12/1980
Demerval
Saviani
Luciara S. de Arago e
Frota
Joelza Ester
Domingues
Helena Freire Moreau
O papel do educador nesta
Universidade 13/08/1981
Lus Eduardo
Wanderley
Luciara S. de Arago e
Frota
Jean Claude Silberfield
Das experincias na JUC
s experincias da PUC-
SP
04/04/1981
Nadir Gouva
Kfouri
Luciara S. de Arago e
Frota
Yvone Dias Avelino
O processo de
democratizao e o
episdio da invaso da
Universidade
27/09/1982
Casimiro dos
Reis Filho
Luciara S. de Arago e
Frota
Yvone Dias Avelino
Juvenal de A. Penteado
Neto
A reforma universitria e
o Curso Bsico 10/10/1981
Ednio dos
Reis Valle
Luciara S. de Arago e
Frota
Yvone Dias Avelino
Jean Claude Silberfeld
A USP e a PUC: dois
transplantes europeus 21/08/1982
Antonio
Joaquim
Severino
Luciara S. de Arago e
Frota
Jos Carlos Gonalves
Ilka Stern
Igreja, Universidade e
Sociedade 14/02/1981
Clia Coelho
Pereira Leite
(Madre
Olvia)
Slvia Ins Conegliani
Carrilho de
Vasconcelos
O Programa de Lngua
Portuguesa na Ps-
Graduao
10/03/1979
-
36
HISTRIA VIVIDA E CONTADA
CONFIDNCIAS NA ANTE SALA DO ESTDIO
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37
D. PAULO EVARISTO ARNS
P- D. Paulo, ns o admiramos muito, e sabemos muita coisa sobre o seu sacerdcio, porm
nada melhor do que o senhor mesmo para nos falar informalmente sobre a sua vida.
R- Nasci em Forquilhinha, no dia 14 de setembro de 1921, e realizei meus estudos
fundamentais ali mesmo. Mais tarde ingressei no seminrio Franciscano, Seminrio Serfico
So Lus de Tolosa, em Rio Negro no Paran. Assim, sou um frade Franciscano, um sacerdote
catlico, e Deus me confiou ser o dcimo stimo bispo de So Paulo, o seu quinto arcebispo e
terceiro cardeal.
P- Como era o nome de seus pais?
R- Minha me foi Helena Steiner Arns, e meu pai Gabriel Arns.
P- O senhor deve ter boas recordaes de sua ordenao, no ?
R- Sem dvida. Fui ordenado presbtero, na cidade de Petrpolis, no dia 30 de novembro de
1945. uma data inesquecvel para mim. Quem me ordenou foi o arcebispo de Niteri, Dom
Jos Pereira Alves. Eu j exercia o meu ministrio em Petrpolis h cerca de uma dcada,
trabalhando com a populao carente. Lecionei no Teologado Franciscano de Petrpolis e
tambm na Universidade Catlica.
P- E quanto aos estudos do senhor na Sorbonne?
R- Fui para a Frana estudar na Sorbonne, que uma grande Universidade. Ali aprendi muito
e tive a oportunidade de praticar bastante a lngua francesa. Meu desejo era, contudo, retomar
minha ptria e transmitir os conhecimentos ali aprendidos. Acho que poucos ou nenhum de
vocs precisaram ficar cerca de 12 anos e meio estudando em trs escolas superiores e ficar
pouco tempo como professor e j me mandaram para So Paulo e eis que aqui estou com
vocs. Bom, mas de fato, no meu retomo, fui professor nas faculdades de Filosofia, Cincias e
Letras de Agudos e Bauru, mas no deixei de, retornando Petrpolis, continuar a dar
assistncia aos desfavorecidos. Todas estas atividades foram realizadas antes do meu
episcopado, pois em 2 de maio de 1966, fui eleito bispo auxiliar de Respecta e auxiliar de So
Paulo...
P- O senhor era um jovem de 44 anos e tinha um longo percurso pela frente como pastor...
R- Vejam, creio que continuarei sempre jovem em esprito. O meu prprio lema EX SPE IN
SPE que significa de esperana em esperana reflete meus sentimentos e Deus tem me
alimentado com esta esperana.
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Recebi a ordenao Episcopal na Igreja Matriz do Sagrado Corao de Jesus na minha
saudosa Forquilhinha, tendo como sagrante principal o arcebispo de So Paulo Dom Agnelo
Rossi e como consagrantes o bispo coadjutor de Lages Dom Honorato Piazera, e o ento
bispo de tubaro Dom Anselmo. Mas, um das mais importantes fatos da minha vida foi
nomeao pelo Papa Paulo VI, como arcebispo metropolitano de So Paulo. Teve comeo
uma grande misso. Primeiro, uma misso junto ao povo; segundo, uma misso na
Universidade. Afinal os caminhos se encontram... o que eu sempre digo a Universidade
deve estar na caminhada do povo. Quando fui nomeado arcebispo de So Paulo, no primeiro
encontro com a direo da PUC ressaltei vrios pontos que achei importantes. Ento, eu disse
que a Universidade, tal como hoje, s teria sentido ajudando a solucionar problemas reais. A
ela cabe sensibilizar os estudantes e toda a sociedade tocando o ego do cristo no povo e no
ser somente um local de encontros, mas um laboratrio onde se constri positivamente o que
existe dentro de uma cidade ou de uma nao.
P- E quanto s dificuldades que j se anunciavam em 1961?
R- Foi uma poca difcil para o Brasil, uma poca que teve muita influncia na prpria
democratizao da PUC.
P- Bom, mas o senhor falava do papel da Universidade...
R- Sim, ela tambm um local privilegiado para a busca de alternativas para a sociedade e
para a nao. Prioritariamente o local onde se faz pesquisa consciente, onde se deve saber
falar com o povo, discutir com o povo, e onde o povo fala. A universidade deve atuar com as
comunidades e elaborar projetos com o povo e para o povo, nos mais diversos nveis. Por que
no aproveitar a experincia do povo se sem ela no se pode analisar o que ele faz ou
colaborar com ele? Ao povo cabe tambm tomar a histria na mo.
P- O que o senhor prefere em suas atividades?
R- Gosto de escrever. Creio que tenho cerca de 50 livros. So obras sobre a ao pastoral da
Igreja, e estudos da literatura crist dos primeiros sculos do cristianismo. Voltei a atuao
pastoral para a periferia, para os trabalhadores e para a formao das comunidades. Penso que
a ajuda aos menos favorecidos e o patrocnio dos direitos humanos dever de todo cristo.
Quando era bispo auxiliar, trabalhei em Santana na regio norte e o que vivenciei ali e em
outros lugares nunca me deixa esquecer a importncia do papel do cristo e o fato de que seus
deveres no tm aspectos formais, mas de fundo, de contedo. Durante o regime militar lutei
pelo fim da tortura no Brasil e pelo restabelecimento da democracia. No poderia ser de outra
forma, pois o ato de torturar incompatvel com a natureza do cristo, com a dignidade da
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pessoa humana, sagrada diante de Deus. O que me alegra e impressiona aqui na PUC e
mesmo em So Paulo o contato pessoal com tanta gente que militou na Ao Catlica. Ser
cristo portar o fogo de Cristo, ser acolhedor pensar novas ideias para a juventude, para
os migrantes que devem ser tratados com compreenso, para os casais, enfim fomentar,
implementar ideias que tomem o mundo melhor. O ideal de ser bom e justo deve ser sempre
uma meta, um desejo sincero de nosso corao. Quando criei em 1972 a Comisso Justia e
Paz de So Paulo e incentivei a Pastoral Operria e a Pastoral da Moradia cumpriu com esta
atividade a minha obrigao crist e pretendi colaborar para que os demais sintam o quanto
algum se importa, o quanto a Igreja se importa com cada um deles. A minha verso da Igreja
a de que haver uma consonncia entre ela, o homem e a participao do homem.
P- E quanto ao papel da Universidade? A ligao entre Universidade e democracia?
Estamos vivendo uma fase, nova fruto de vrias tentativas de democratizao. Apesar de toda
escola formar mais para o individualismo competitivo do que para o universalismo e o
pluralismo. A Campanha da Fraternidade de modo claro, vocs viram o discurso de D. Hlder
Cmara? Ele soube acentuar no seu discurso o individualismo do estudante que passa pela
escola e nunca retoma, sobe na vida, e deixa a Universidade sem lembrar-se sem retomar para
dizer um obrigado. Nesse processo deram-se as eleies para a Reitoria da Universidade para
chefe de Departamento e isto uma coisa nova que dever dar bons frutos no futuro. As
reflexes da CNBB sobre orientao poltica dizem respeito a que para ns cristos o que se
procura a democracia como forma de sociedade, como forma de organizar-se, e neste
sentido na Universidade deve pulsar o corao da sociedade.
P- E quanto importncia dos temas, digo, dos estudos especiais dentro da Universidade?
R- Claro que os estudos especiais tm repercusso aqui e em outras reas l fora. Temas de
debate so as cadeias e prises, as comunidades de base, o problema do menor o prprio
simpsio sobre Psicologia do homem de rua e outros assuntos apontam para uma meta: a de
pelo menos encaminhar os problemas do povo.
P- As suas obrigaes como Chanceler so muito pesadas?
R- Eu no diria pesadas, mas so grandes responsabilidades, pois tenho que cuidar dessas
diretrizes como pano de fundo, isto porque sabemos que atrs de qualquer ao est uma
poltica e a nossa dentro da PUC manter a identidade com o evangelho orientao da Igreja
universal, e claro, da Igreja no Brasil e a daqui de So Paulo. A sigla CNBB conhecida
mundialmente e provoca discusses e divises e mesmo conflitos. H sempre um grande tema
humano e social. Houve um outro documento com o que eu ganhei o ttulo de mau brasileiro.
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P- Foi o do apelo de paz e fabricao de armas?
R- Sim. Este foi feito por uma equipe que elaborou entre os 250 bispos e notem que entre 250
bispos nenhum deles deixou de dar o seu voto a favor, ento so 250 mos nesse documento
que eu reputo muito importante.
P- Mas D. Paulo, outros temas discutidos so tambm muito polmicos, como: Poltica
externa e conflito de terras...
R- Sim. E so questes sobre as quais devemos refletir de forma crist.
So tambm assuntos universitrios e na Universidade deve-se examinar o contedo e a
previso de problemas que geram consequncias sobre cidades e pases. O tema dos direitos
humanos no deve ficar s com os bispos, a comunidade crist quem deve assumir este
papel. No comeo, esperava-se uma soluo dada pela cria, mas o povo pelas cartilhas
distribudas j sabe como reagir.
P- Qual a ajuda da equipe de Paulo Freire?
R- Ele nos ajudou a elaborar um caderninho e a fazer audiovisual para as comunidades de
base. Treinaram monitores durante seis meses, bem dentro da caminhada da igreja, nestes
ltimos dez anos, e discutindo com o povo despertou o interesse sobre a situao brasileira em
vrias reas. Tirou-se a sntese da gravao e ficou a lio de que este trabalho parecia ser o
de uma Universidade unida. Quando algum pergunta quando que a Universidade vai
caminhar com o povo, ficam todos olhando e esperando pela PUC.
P- 91% das pessoas em So Paulo trabalham remuneradas e no faz diferena se so ricas ou
pobres. A justia e trabalho devem ser iguais para todos. Justia e trabalho no podem ser
assumidos por uma cpula, mas voltar s mos das classes trabalhadoras, aos sindicatos e as
comunidades de base. Contudo, isto no pode substituir o povo nas suas reivindicaes.
Sempre nos pedem para assegurar a formao de lideranas populares que no permitam que
o povo seja manipulado e ai a Universidade tem um grande papel.
P- O que o senhor nos diz sobre a Campanha da Fraternidade de 1982?
R- Ela encara, em primeiro lugar, a formao do povo brasileiro. Os cursos Primrio e
Secundrio, a realidade das escolas de periferia e do interior do Estado so calamitosas. A
grande pergunta : o que que a Universidade pode fazer para reanimar o ensino? O
professor, este marginalizado, est quase perdendo o entusiasmo de ser professor. E professor
uma pessoa de vocao, mas o que desestimula a marginalidade de suas reivindicaes.
Mas quero terminar esta entrevista com um aceno de esperana. Sei que na Universidade est
em crise o prprio ensino isto se vincula ao econmico e ao social, provocando uma ao
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poltica. Aqui na PUC o grande problema como conservar a autonomia dentro de um
sistema que inclui ou determina a prpria subsistncia da nossa Universidade. A PUC, nestes
anos, influenciou a comunidade de So Paulo e mesmo todas as Igrejas do Brasil. Ela vem
influenciando outras Universidades nestes ltimos dias. Tivemos a coragem de ser a primeira
instituio brasileira a conferir a D. Helder Cmara o ttulo de Doutor Honoris Causa.
Quero est ao lado de vocs sempre, se vocs estiverem ao lado do povo nesta caminhada que
fazemos. Meu sonho que a universidade seja o povo. De fato, a sua alma e a sua esperana.
P- D. Paulo receba a nossa gratido e o nosso respeito. Estamos felizes por saber o quanto o
senhor tem se destacado pela defesa dos direitos humanos. Tal como D. Helder, o senhor
tambm mereceu o ttulo de Doutor Honoris Causa da Universidade de Notre Dame, em
Indiana, nos Estados Unidos. Esta distino o coloca no mesmo patamar do Presidente Jimmy
Carter, do Cardeal Stephen Kim Sou-hwan da Coria e Daniel Lamont, bispo de Umtali da
Rodsia... No sei se lembram de que isto foi em 22 de maio de 1977. Sabe, D. Paulo, o
senhor o nosso Cardeal campeo.
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ANDR FRANCO MONTORO
P- O senhor foi o primeiro presidente da JUC, no ?
R- Em 1937, 1938, o ano exato eu no me lembro, mas fcil eu ver a documentao, ns
organizamos, em So Paulo, os dois primeiros ncleos da Ao Catlica, representados pelo
JOC, tendo presente, o Gesto La Creta, pela JUC, da qual eu fui o 1 Presidente, e Rubens
Padim, hoje, D. Cnd ido Padim, o 1 Vice-Presidente. Foram dois movimentos que tiveram,
na poca, a significao de uma mudana de atitude, e que representavam a participao do
setor operrio e do setor estudantil no debate dos problemas nacionais, e no encaminhamento
de solues, diante de uma perspectiva de substituio do paternalismo do Estado e das
prprias autoridades religiosas, por uma participao responsvel e ativa.
Eu fui, por duas vezes, presidente da JUC: a primeira vez foi a da fase em que era Bispo
auxiliar de So Paulo, D. Jos Gaspar da Fonseca e Silva, que foi o grande dinamizador da
Ao Catlica. Ele era um mineiro de Uberaba, jovem, ativo, entusiasta.
Ns organizvamos vrios movimentos no campo social. Por exemplo, ns construmos uma
colnia de frias em Itanham, que era um lugar de refeio e de encontro de estudantes de
todas as escolas: medicina, engenharia, letras, filosofia, educao, economia, etc. Essa colnia
foi sendo construda com campanhas nossas. Em parte, ns mesmos trabalhvamos ajudados
por alguns irmos leigos beneditinos. Pena que essa colnia tenha sido vendida
posteriormente.
Depois com a morte de D. Jos Gaspar, que era Arcebispo de So Paulo. Houve um pedido de
quase interveno, realizado pela Junta da Ao Catlica, que era comandada pelo Plnio
Correia de Oliveira. Com a nomeao do novo Arcebispo, que era D. Carlos Carmelo de
Assuno, houve a discusso de prosseguir a Ao catlica na linha anterior. Foi a que eu fui
chamado, mais uma vez, l, para presidir uma nova transio... essa fase da junta.
P- Quais eram as perspectivas dos grupos de Ao Catlica?
R- Os grupos de Ao Catlica tinham uma perspectiva de uma mudana fundamental,
fomentados pelas direes marcadas da encclica Mater Magistra, da quadragsima, isto , de
uma reforma de uma linha no capitalista, nem individualista... Digamos de uma afirmao
dos trabalhadores.
Pela sua repercusso, a JOC era o movimento, talvez, mais importante. claro, os
trabalhadores tm um peso social muito maior. A grande figura da poca era o Cnego
Cardin, que era filho de operrios, e que, no episdio histrico que era muito citado, por
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ocasio da morte do pai que morria, assim, vtima de acidente de trabalho, vtima do
capitalismo, prometeu dar a sua vida numa luta pelo trabalhador...enfim, pela causa operria.
E fundou, iniciou, na Blgica, um movimento, que originou a JOC Internacional.
Ele veio, varias vezes, ao Brasil. Eu o conheci aqui, no Brasil. Ele tinha contato com os
operrios. Era um movimento internacional, uma luta de grande porte. Foi to grande a
influncia do Cnego Cardim, que ele acabou sendo feito Cardeal, Cardeal Operrio. H
expresses dele muito interessantes... Uma das frases que ns repetimos do Cardin, era de que
Se voc quiser saber qual a situao de uma comunidade, procure conhecer o salrio dos
trabalhadores daquela comunidade. As outras questes so assistenciais, assistencialistas, e,
pela remunerao que ele recebe se pode medir o grau justia ou de injustia de uma
comunidade. Esse fulgor teve repercusso no mundo inteiro: Amrica Latina, sia, frica...
Eram reivindicaes sociais e operrias, reivindicando um lugar para o trabalhador na vida
social; trabalhando pela maioridade de classe operria.
Havia os jucistas e os jucistas, que ocupavam assim, posies de liderana no meio operrio.
Participavam das lutas sindicais. Queriam, tambm, as duas polticas. Por exemplo, o
Presidente do JOC era o Zez Moraes, que foi Vereador; o Gasto La Creta, o Z Moraes,
etc., e esta moa que est hoje na escola, na Universidade, na parte de Servio Social... a
Suzana. A Suzana participou muito desse movimento. O movimento da JOC... Yay Soares...
Foi um movimento precursor, na poca; era a negao do paternalismo. Tinha uma posio,
assim, antipaternalista e muito ciosa da independncia e da maioridade da classe operria. Os
lderes da JOC faziam concentraes, muitas vezes, com milhes de pessoas. Agora, no
queriam se confundir com partidos polticos.
As coisas foram amadurecendo e houve transformaes, mas a JOC, realmente, no se
confundiu nunca com um movimento poltico, com um partido poltico. Tinha se quisermos
um sentido poltico, no sentido de mudar a direo da vida social, querendo dar uma marca de
uma participao preponderante dos trabalhadores, mas nunca se confundiu com um partido.
Havia muitos, por exemplo, o Zez Moraes, que entrou para o Partido Democrata Cristo, e
eu, que pertencia Ao Catlica e fui, at, Secretrio Geral da Ao Catlica, que na sua
fase final. Quando entrei para a ao poltica, por conselhos da prpria direo da Ao
Catlica, desliguei-me da direo da Ao Catlica para entrar na ao poltica com minhas
responsabilidades pessoais de cidado.
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Fui lanado candidato... Fui primeiro, candidato a vereador. Fui candidato a Vereador,
lanado pelo grupo da JOC, do grupo operrio do Moinho Velho, no Ipiranga. Minha votao
foi no bairro operrio do Ipiranga, embora eu tambm tivesse votao de estudantes.
Eu fui eleito vereador, e renunciei ao mandato s no momento em que houve, l, uma
Malufada, a compra... H homens que acham que, na ao poltica, o prprio deve ser este:
Todo homem tem seu preo. Ento, aplicaram o princpio, e elegeram o candidato
Presidncia, na base da compra. Em sinal de protesto, eu renunciei ao meu mandato.
Renunciei, e meu suplente que assumiu. Meu suplente era exatamente o lder do JOC, Jos
Moraes, que era presidente da JOC. E, eu retomei minha cadeira na Universidade. Mas, dois
anos depois, fui candidato a Deputado estadual. Fui, tambm, eleito, com a maior votao. E,
no dia da eleio, eu fui eleito Presidente da Assembleia. Fiquei na Assembleia quatro anos, e
depois, fui Deputado federal.
P- O PDC foi formado pelos senhores?
O PDC no foi formado por ns. Ele foi formado aqui, em So Paulo, a partir de So Paulo
pelo prof. Cezarino Jr. E por grupo de professores. Ns estvamos fora da ao poltica.
Cezarino Jr. Foi o primeiro Presidente e Fundador do PDC, e era, tambm, professor de
Direito do Trabalho da USP. Faculdade de Direito da USP. Ele e o pessoal do Instituto de
Direito Social fundaram o PDC, logo depois da guerra, mais ou menos na linha dos partidos
democratas cristos que surgiram no aps-guerra, na Europa, e que tiveram uma funo
histrica notvel: foram como que os construtores da Europa: De Gasperi, na Itlia; Adenauer
na Alemanha; Schumann, na Frana. E os outros movimentos semelhantes na Holanda, na
Blgica e na ustria. Eles fizeram esse movimento aqui, mas no tinham... eles eram
professores, intelectuais, no tinham ...
At que se realizou, em 1949, uma reunio em Montevidu, um encontro de lideranas crists,
que estavam engajadas na ao poltica. Em nome do Brasil, compareceram Tristo de
Athayde, que me convidou insistentemente para que fosse. Eu estava saindo da Faculdade. Eu
era secretrio da Junta da Ao Catlica, quando fui convidado pelo Dr. Alceu para ir a esse
encontro de Montevidu. E, foram, para Montevidu, trs representantes do Brasil: Dr. Alceu,
Sobral Pinto, e eu. Eles, mais velhos, e cada um na sua vocao, dizendo que no se
desligavam disso. E, na volta, estivemos aqui, em casa, aqui, nesse lugar, mesmo, com um
grupo, achando que deveramos organizar um movimento democrata cristo. E, aqui,
organizamos um movimento que se chamou Vanguarda Democrtica, que acabou entrando
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no PDC, e pegando a direo do PDC. De algumas reunies, participaram o Padre Lebret e D.
Hlder Cmara, aqui mesmo. E, a, entramos para poderamos dizer, um partido.
Essa frente queria uma integrao poltica, mas no tnhamos coragem de entrar para um
partido... Todos nos pareciam inaceitveis. Eu me lembro de que para vencer a posio
farisaica em que a gente se colocava, eu escrevia um artigo num jornal, no de So Paulo,
com esse ttulo: Poltica, no s digna, numa caricatura mostrando a aposio farisaica em
que ns no tnhamos disposio para sujar as mos, e a poltica, que era impura. O Padre
Lebret, numa das reunies, aqui, nos dizia: preciso ter a coragem de sujar as mos, entrar
na histria. Vocs no podem ficar no escuro. E entramos na ao poltica. Entramos no
PDC.Com a poltica interna, l, cheguei a ser expulso do partido. Convocamos uma
Assembleia Geral, e eu acabei como Secretrio Geral desta conveno geral do partido. E
iniciamos a experincia no PDC. Comeou pequena. Na nossa primeira experincia poltica,
apresentamos como Deputados Federais, o Queirs Filho e o Jos Reis; e, para Deputados
Estaduais, quatro: o Gasto Lacreta, que era presidente da JOC, o Luiz Tolazza Filho, que
advogado ainda hoje, era representante da JUC, etc., o Clvis Garcia, professor de teatro da
USP... o Clvis Garcia... Quem era o quarto? Ah! O Pereira Junqueira. Esses eram quatro
candidatos a Deputados Estaduais de outra chapa do PDC. Entramos como um grupo dentro
do PDC. Eu no era candidato, no. No pretendia ser. Trabalhei muito por eles, mas Houve a
derrota geral. E, ai, o Queirs Filho, que era o grande poeta, lembrava a poesia de Zanille de
Saint Martin, que dizia assim: preciso que a semente seja esmagada para que a rvore
cresa. E na eleio seguinte, foi a eleio para vereador. Eu no pretendia ser candidato, mas
o pessoal me lanou para candidato a Vereador. A, ns elegemos cinco vereadores. E,
comeamos o movimento... Depois, na eleio seguinte eleger o Queirs Filho Deputado
Federal... e, com mais dois que se elegeram em outros Estados, o PDC tinha trs Deputados
Federais. Na eleio seguinte, foi que se elegeu sete Deputados Federais. J, na outra, vinte; e,
nas eleies, que se realizariam em 1965, se elegeria seguramente mais de 50 Deputados
Federais. Era a fora que mais crescia no Brasil.
A Igreja no estava, totalmente, separada desse processo, s respeitavam a deciso, mas ns
fazamos questo de fazer.. O PSD, a UDN tinham muito mais candidatos ligados Igreja do
que o PDC. Ns tnhamos, em lugares, dificuldades. Em muitos setores, ns ramos suspeitos
de subverso, de comunistas. A minha tese de doutoramento da PUC era sobre Propriedade.
Trs temas sobre propriedade. Ela foi tida como tese de comunista, subversiva, etc. Alguns
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professores tentaram at recusar a tese, que desmembrava a propriedade humana na linha de
Maurier, propriedade privada e formas particulares de propriedade.
P- O senhor pode falar sobre a importncia do Ncleo de Ao catlica e do nascimento da
PUC?
Nesse Ncleo de Ao catlica, tnhamos contato com D. Carlos, com autoridades de uma
grande situao: o Almeida era o presidente da DIC, Liga dos Intelectuais Catlicos, uma
coisa assim; tnhamos algum contato com D. Paulo, por meio de Dominicanos, Frei Rosrio
Joffrin, que teve uma grande atuao aqui. Mas, no tinha a parte poltica, tanto que, quando
eu entrei para a ao poltica, eu me desliguei da posio na Ao Catlica, para separar as
experincias.
A PUC nasceu, praticamente, desse contato do cardeal de So Paulo, D. Carlos Carmelo, com
esse grupo, que se reunia, muitas vezes, no Palcio. Ns, uma vez por semana, ns reunamos
l, tnhamos uma missa de manh cedo, tomvamos caf com ele, com D. Carlos Carmelo e a
presena dos Dominicanos, principalmente, Frei Rosrio Joffrin, Romeu Detti tambm e
outros...
Da foi surgindo a ideia de se constituir uma Universidade Catlica. Numa dessas reunies, D.
Carlos pediu que ns elaborssemos um esboo de estatuto, de estrutura jurdica. Ns vimos
primeiro, que era preciso estabelecer uma Fundao que fosse entidade mantenedora da
Universidade. Elaboramos todo o primeiro esboo de estatuto... Ainda devo ter, at comigo, o
primeiro estatuto da Fundao.
E, a primeira reunio que ns tivemos, foi um desses encontros, uma reunio noite, com D.
Carlos l no Palcio. Ns fomos chamada Pizzaria Giordano na Av. Brigadeiro Luiz
Antnio. E, depois de uma pizza, l, cerveja, chope, no verso... A pizza vinha numa bandeja
de papelo, e, no verso, que ns comeamos... Havia vrios advogados presentes. Ns
sabamos que, de acordo com a lei, precisaramos constituir pontos fundamentais;
denominao, sede, fins, estatutos, afora o que se administra e representa... Todos os outros
itens. E, fizemos ali, no papelo mesmo, uma indicao dos pontos fundamentais, e que foi,
depois, datilografado. Ali, no tinha papel, ento, fomos colocando os pontos fundamentais
no papelo.
Ento, achvamos que devia ser Fundao So Paulo, e uma ideia que, alis, estava nos
primeiros itens, quando se examinava os estatutos da Fundao So Paulo da PUC era fazer
da Universidade de So Paulo... Nosso pensamento no era de que ela fosse uma
Universidade Catlica, Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. Ela deveria ter o
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esprito desse humanismo cristo, mas deveria se