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No sobe e desce dos Andes Laurie Krebs Ilustrações Aurélia Fronty Tradução Cláudia Ribeiro Mesquita e Heitor Ferraz Mello Temas abordados Peru • Cordilheira dos Andes • Festas • Costumes locais GUIA DE LEITURA PARA O PROFESSOR A AUTORA Laurie Krebs tem quatro filhos e cinco netos e vive com o marido, Bill, nos Estados Unidos. Sempre foi fascinada pelas palavras, mas só pensou em se tornar escritora de livros infantis depois de sua experiência como professora. A vivência pedagógica lhe propiciou um conhecimento mais profundo da literatura infantil e a oportunidade de criar histórias com seus alunos. Como autora, adquiriu o privilégio de conciliar as coisas de que mais gosta: ter tempo para escrever e manter contato com as crianças nas visitas que faz às escolas. Laurie concebe suas histórias com base em sua realidade e em suas experiências pessoais. Como ela e o marido gostam muito de viajar, boa parte de seus livros se refere a países que visitaram. No sobe e desce dos Andes foi selecionado pelo programa de incentivo à leitura Reading is Fundamental (RIF), dos Estados Unidos, em 2011-2012, na categoria “Festas” (www.rif.org). Vale a pena visitar o site da autora para mais informações: www.lauriekrebs.com 36 páginas A ILUSTRADORA AURÉLIA FRONTY nasceu em 1973, na França, e hoje vive na cidade de Montreal, no Canadá. Quando pequena, já adorava fazer desenhos, em meio aos tecidos e cores presentes em seu universo familiar. Mais tarde, frequentou a Escola Superior de Artes Aplicadas Duperré, em Paris, especializando-se em criação e design têxtil. Concluídos seus estudos, atuou alguns meses na grife Christian Lacroix e desenvolveu trabalhos independentes em estamparia e como ilustradora. Hoje, ilustra obras para diversas editoras ao redor do mundo. Já viajou pela Ásia, África e América do Sul, continentes que costumam ser fonte de inspiração para suas ilustrações. Em seu site é possível encontrar mais informações e amostras de seu trabalho: www.aureliafronty.com

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No sobe e desce dos AndesLaurie Krebs

Ilustrações Aurélia FrontyTradução Cláudia Ribeiro Mesquita e Heitor Ferraz MelloTemas abordados Peru • Cordilheira dos Andes • Festas • Costumes locais

GUIA DE LEITURA

PARA O PROFESSOR

A AutorA Laurie Krebs tem quatro filhos e cinco netos e vive com o marido, Bill, nos Estados Unidos. Sempre foi fascinada pelas palavras, mas só pensou em se tornar escritora de livros infantis depois de sua experiência como professora. A vivência pedagógica lhe propiciou um conhecimento mais profundo da literatura infantil e a oportunidade de criar histórias com seus alunos. Como autora, adquiriu o privilégio de conciliar as coisas de que mais gosta: ter tempo para escrever e manter contato com as crianças nas visitas que faz às escolas. Laurie concebe suas histórias com base em sua realidade e em suas experiências pessoais. Como ela e o marido gostam muito de viajar, boa parte de seus livros se refere a países que visitaram.

No sobe e desce dos Andes foi selecionado pelo programa de incentivo à leitura Reading is Fundamental (RIF), dos Estados Unidos, em 2011-2012, na categoria “Festas” (www.rif.org). Vale a pena visitar o site da autora para mais informações:

www.lauriekrebs.com

36 páginas

A ilustrAdorA AuréliA Fronty nasceu em

1973, na França, e hoje vive na cidade de

Montreal, no Canadá. Quando pequena,

já adorava fazer desenhos, em meio aos

tecidos e cores presentes em seu universo

familiar. Mais tarde, frequentou a Escola

Superior de Artes Aplicadas Duperré, em

Paris, especializando-se em criação e design

têxtil. Concluídos seus estudos, atuou

alguns meses na grife Christian Lacroix

e desenvolveu trabalhos independentes

em estamparia e como ilustradora. Hoje,

ilustra obras para diversas editoras ao

redor do mundo. Já viajou pela Ásia,

África e América do Sul, continentes que

costumam ser fonte de inspiração para

suas ilustrações. Em seu site é possível

encontrar mais informações e amostras de

seu trabalho: www.aureliafronty.com

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No sobe e desce dos Andes Laurie Krebs

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O LIVRO

A proposta de No sobe e desce dos Andes é levar ao peque-

no leitor um pouco da exuberância e do colorido da paisa-

gem peruana. No livro, crianças de algumas das localidades

mais famosas do Peru se dirigem a Cusco para participar do

grande festival de Inti Raymi, que celebra o deus Sol e marca

o início do solstício de inverno (período do ano em que o

Sol fica mais distante da Terra). Aliás, ao longo da história da

humanidade, o astro-rei aparece como objeto de veneração

de inúmeros povos, entre eles africanos, babilônios, egípcios,

gregos e chineses.

As crianças apresentadas na obra utilizam meios de trans-

porte diferentes para chegar à antiga capital inca: José pega

um ônibus em Lima; Luísa vai de barco pelo lago Titicaca;

Ricardo parte de Machu Picchu no lombo de uma mula; Con-

suelo toma o trem de Arequipa; Fidel e Tia seguem de cami-

nhão pela estrada de Puno. E elas sempre carregam itens (cha-

péu, poncho, saco de milho, traje colorido) que, de alguma

forma, são indicadores dos costumes e do modo de vida das

crianças peruanas.

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No sobe e desce dos Andes Laurie Krebs

ESTROFES OU INSTÂNCIASO texto poético (poema) costuma

se dividir em estrofes ou estâncias,

agrupamentos de versos que podem ou

não rimar entre si. As estrofes recebem

nomes variados, conforme o número

de versos que apresentam (as mais

comuns têm entre dois e dez):

dois versos: dístico ou parelha

três versos: terceto

quatro versos: quadra ou quarteto

cinco versos: quintilha

seis versos: sextilha

oito versos: oitava

dez versos: décima

Estrofes de sete, nove ou mais de

dez versos não têm denominações

especiais.

ESTRUTURA TEXTUAL E COMPOSIÇÃO DE IMAGENS

O livro é escrito em versos rimados, formando uma estrutu-

ra de dez estrofes (quadrinhas). Nas seis primeiras e na última,

as rimas acontecem no segundo e no quarto versos (abcb): “Em

Lima, José pega a condução. / O caminho é longo e esburacado. /

O chapéu vai seguro no colo, / assim ele não voa desembestado”

(p. 6-7). Nas outras três, o primeiro verso rima com o segundo,

e o terceiro com o quarto (aabb): “No sobe e desce dos Andes há

cheiro de festa no ar. / Todos seguem para a praça de Cusco, onde

vão se encontrar. / Em junho, todo ano, há um grande festival. /

Vindas de perto e de longe, as crianças são a atração principal”

(p. 16-17). Como se pode notar, a métrica é irregular, mas o texto

tem cadência e sonoridade, garantindo ritmo e graça à leitura.

O livro abre e termina com os mesmos versos: “No sobe e

desce dos Andes / há crianças, como eu, a brincar”. Ou seja, por

mais diferentes que possam ser os costumes, crianças são sempre

crianças em qualquer parte do mundo. Essa ideia é importante,

pois permite a identificação do leitor com as personagens retra-

tadas, ajudando-o a ampliar sua percepção de outras realidades,

que podem ser bem diferentes da sua.

A majestosa cordilheira dos Andes e as personagens são repre-

sentadas com cores fortes e vibrantes, em ilustrações que ocupam

integralmente cada página. Misturando com intensidade cores

quentes e frias, a ilustradora Aurélia Fronty consegue mimetizar

o estilo étnico que remete às ricas tradições peruanas.

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No sobe e desce dos Andes Laurie Krebs

OS POVOS DO PERU

O Peru é uma nação multiétnica, formada por uma combina-

ção de diferentes grupos. Diversos povos ameríndios habitaram

o território do país desde tempos mais remotos até a chegada dos

espanhóis, no final do século XV.

Antes dos incas, muitas outras civilizações indígenas viveram

na região: chavín, huari, moche, nazca, paracas, tiahuanaco etc.

Embora houvesse interações entre elas, essas nações pré-colom-

bianas desenvolveram habilidades culturais e artísticas específi-

cas, como arquitetura, cerâmica, ourivesaria, escultura e cons-

trução monumental. A agricultura também teve forte expansão

desde muito cedo, com engenhosas obras de irrigação, campos

de cultivo em terraços e cultura de espécies vegetais de impor-

tante valor alimentar (como tomate, batata e coca). Os incas não

só se apropriaram dessa herança cultural e agrícola, mas a im-

pulsionaram e difundiram, tornando-se grandes construtores.

POVOS AMERÍNDIOSQuando Cristóvão Colombo chegou à

América, ele acreditava ter chegado às

Índias; por isso, chamou de índios os

nativos que encontrou. Posteriormente,

esses povos foram considerados

etnias distintas e receberam outros

nomes, incluindo o apelido de peles

vermelhas. O termo ameríndio surgiu

para designar os nativos do continente

americano, em substituição a outras

denominações que carregavam certa

dose de preconceito.

Diversas teorias tentam explicar a

origem dos povos ameríndios. O

mais provável, no entanto, é que as

Américas tenham sido colonizadas

por várias ondas de populações de

origens diferentes ao longo do tempo,

o que teria resultado na complexa

combinação de grupos e línguas

que existem até hoje. É bem possível

que esses povos tenham substituído

populações originais ou tenham se

juntado a elas.

Entre as principais nações e povos

ameríndios, podem ser destacados:

charruas, incas, astecas, maias,

araucanos, apaches, navajos,

iroqueses, cheroquis, moicanos

e comanches.

No Brasil, pesquisas apontam indícios

da presença humana que datam

de quase 50 mil anos. O primeiro

levantamento dos nativos brasileiros,

realizado no final do século XIX,

registra quatro grupos ou nações

indígenas: Tupi-Guarani, Jê ou Tapuia,

Aruaque ou Maipuré, Caraíba ou

Caribes. O Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) estima

que a população indígena no país

seja de cerca de 900 mil indivíduos,

falantes de algum dos 274 idiomas

existentes. Guarani, Potiguara,

Caingangue, Tupinambá, Goitacás,

Carajá, Tapajó, Ianomâmi, Pataxó,

Mundurucu, Guaicuru e Nambiquara

são alguns dos mais importantes povos

indígenas do Brasil.

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No sobe e desce dos Andes Laurie Krebs

Entretanto, o Império Inca, em seu auge, foi facilmente domina-

do pelos colonizadores, e a população sofreu um declínio dramáti-

co: em 1520, cerca de 9 milhões de indivíduos viviam no território

peruano; cem anos depois, já sob controle espanhol, esse número

baixou assombrosamente para 600 mil. Segundo o pesquisador

norte-americano Noble David Cook, a principal causa desse declí-

nio populacional foram as doenças infecciosas introduzidas pelos

colonizadores, e não sua crueldade, como muitos pensam. Atual-

mente, a maioria da população peruana é mestiça.

AMÉRICA LATINA E COLONIZAÇÃOA América Latina – conjunto de

países que vai do México, na

América do Norte, até a Terra do

Fogo, na Argentina, no extremo sul

do continente – ocupa uma área de

cerca de 21 milhões de quilômetros

quadrados, correspondente a quase

14% da superfície terrestre não coberta

pelos oceanos.

O principal elo entre os países é a

formação histórica, ou seja, o tipo de

colonização a que foram submetidos

depois da chegada de Cristóvão

Colombo, em 1492. Enquanto

nos Estados Unidos e no Canadá

prevaleceu um processo de colônias de

povoamento, na América Latina o que

predominou foi uma colonização de

exploração. Assim, Portugal e Espanha

usavam as colônias apenas para extrair

produtos minerais e gêneros agrícolas

a um custo baixíssimo, recorrendo à

escravização de indígenas e negros

africanos para garantir mão de

obra barata.

O resultado desse processo

exploratório foi a herança de grande

atraso socioeconômico, com sérias

e duradouras consequências para os

países latino-americanos. Nos Estados

Unidos e no Canadá, entretanto,

a colonização de povoamento foi

fundamental para seu desenvolvimento

e produção de riqueza.

A civilizAção incA

Os incas formaram uma das civilizações mais avançadas e

importantes da América do Sul. Viveram na cordilheira dos An-

des, na região hoje ocupada por Peru, Equador, norte do Chile,

oeste da Bolívia e noroeste da Argentina. Resultado de uma su-

cessão de culturas andinas pré-colombianas, esse povo consti-

tuiu um grande império, com mais de 10 milhões de pessoas,

provavelmente por volta do século XIII (não se sabe ao certo por

causa da inexistência de registro escrito de sua história). Na dé-

cada de 1430, os incas já tinham submetido todos os povos vizi-

nhos a seu império, que atingiu o auge no início do século XVI.

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No sobe e desce dos Andes Laurie Krebs

O idioma oficial era o quíchua. No entanto, como o império

era constituído de vários povos, muitas outras línguas e diale-

tos também eram falados.

Essa civilização não conheceu a roda nem animais de carga,

tampouco dispunha de malha hidroviária para o transporte

de produtos agrícolas. Os incas andavam a pé, mas havia

um eficiente sistema de estradas que ligava a capital Cusco

às quatro províncias que formavam o reino. Para atravessar

rios e despenhadeiros, eles construíram pontes pênseis – tão

sólidas que muitas delas foram usadas até o século XX. Para

transmitir informações, utilizavam corredores bem treina-

dos, em um sistema de revezamento.

Exímios construtores, realizaram obras espantosas com

suas técnicas de engenharia. Sem o emprego de argamassa, le-

vantaram paredes ajustadas com tamanha perfeição que não

era possível introduzir a lâmina de uma faca entre as pedras.

Também eram muito religiosos: acreditavam que o Sol

e a Lua eram entidades divinas, às quais rogavam bênçãos.

Por isso construíram diversos tipos de templos consagrados

a suas divindades. Alguns dos mais famosos são os templos

do Sol, um em Cusco e outro no lago Titicaca, o templo de

Vilkike e o templo do Aconcágua (montanha mais alta da

América do Sul).

Diferentemente do que se pode imaginar, os integrantes

do império não usavam o termo inca para se definir como

pertencentes a esse povo. Para a grande maioria da popula-

ção, a palavra (que na língua quíchua significa “filho do Sol”)

era empregada para designar apenas o imperador.

A LÍNGUA QUÍCHUATambém chamado de quechua ou

quéchua, o quíchua é uma importante

família de línguas indígenas da

América Latina, ainda hoje falada,

ao longo dos Andes, por cerca de 10

milhões de pessoas de diversos grupos

étnicos do Peru, Equador, Colômbia,

Chile, Bolívia e Argentina.

Os vários dialetos quíchuas já eram

amplamente difundidos na região

antes mesmo da ascensão do Império

Inca, no século XV. Os incas adotaram

um deles, que ficou conhecido como

“clássico” e acabou se tornando a

língua falada na região do Peru, tanto

no período pré-colombiano como

depois da chegada dos espanhóis.

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ASPECTOS GEOGRÁFICOS E HISTÓRICOS

Maior cadeia montanhosa do mundo, com 8 mil quilômetros

de extensão, a cordilheira dos Andes é um sistema continental de

montanhas que se estende por toda a costa oeste da América do

Sul, passando por vários países: Venezuela, Colômbia, Equador,

Peru, Bolívia, Chile e Argentina. Nos territórios da Venezuela e

da Colômbia, ela se ramifica e se aproxima do mar do Caribe.

Em sua área central, fica mais larga e forma um planalto eleva-

do, conhecido como altiplano, que ocupa os territórios de Peru,

Bolívia e Chile. A altura média da cordilheira é 4 mil metros. Seu

ponto mais alto é o pico do Aconcágua, com 6.960 metros.

A classificação das diversas zonas da cordilheira foi modifica-

da várias vezes ao longo do tempo. Atualmente, são três, defini-

das de acordo com suas características morfológicas: Andes Se-

tentrionais, Andes Centrais e Andes Meridionais (ou Austrais).

Uma informação curiosa: na verdade, os Andes não terminam

na Terra do Fogo, no extremo sul da Argentina, como muitos

acreditam, mas continuam no mar. Grande parte da cordilheira

está submersa. Seus pontos mais altos aparecem como ilhas, for-

mando o arquipélago conhecido como Antilhas do Sul. Depois

emergem novamente na Antártida, constituindo a grande cadeia

montanhosa da península Antártica.

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MAchu Picchu As ruínas da antiga cidade de Machu Picchu foram desco-

bertas somente em 1911, pelo historiador norte-americano

Hiram Bingham (1875-1956), e até hoje circulam diversas teo-

rias acerca de seu valor estratégico, religioso e social. Seu pas-

sado, contudo, permanece misterioso; ao certo, sabe-se apenas

que os conquistadores espanhóis não tiveram conhecimento da

existência da cidade, provavelmente porque já tinha sido aban-

donada pelos incas.

Erguida em um penhasco de mais de 2.400 metros de alti-

tude, Machu Picchu é uma grande demonstração do engenho

e das habilidades arquitetônicas dessa civilização. Depois de al-

guns trabalhos de recuperação, hoje os edifícios do sítio arqueo-

lógico se mostram em ótimo estado de conservação. Cerca de

30% das construções são originais; as outras foram reconsti-

tuídas, mas é fácil fazer a distinção entre elas.

Machu Picchu possui uma área edificada de 530 me-

tros de comprimento por 200 de largura, contabilizan-

do pouco mais de 170 recintos. O complexo se divide

claramente em duas grandes áreas: a agrícola, forma-

da sobretudo por terraços e áreas de armazenagem de

alimentos, e a urbana, onde fica a zona sagrada, com

templos, praças e mausoléus reais. A parte alta da área

urbana era ocupada pelas castas religiosas e pelas famí-

lias de mais poder; os operários e os escravos viviam em

pequenas moradias, situadas mais abaixo, perto da falésia.

Há vários templos e espaços religiosos, o que sugere que

a cidade era um centro religioso importante, assim como exis-

tem indícios de que o local também seria um grande obser-

vatório celeste. Esse é um bom exemplo da combinação entre

religião e astronomia, base da arquitetura inca.

cusco

No idioma quíchua, Cusco quer dizer “umbigo”. Essa cidade

peruana localiza-se no vale do rio Huatanay, a 3.400 metros

acima do nível do mar. Capital do Império Inca, era seu mais

importante e complexo centro urbano, com funções adminis-

trativas, culturais e religiosas. Segundo a tradição inca, a cida-

de foi fundada por Manco Cápac, que teria fincado seu cetro

dourado, presente do deus Sol, em seu solo fértil para designar

o local exato onde a capital deveria se situar. É consenso que a

região já era habitada há pelo menos 3 mil anos.

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Na realidade, Cusco passou a ter grande importância apenas no

século XV, depois que os incas afirmaram seu poder na batalha con-

tra os invasores chancas. Sua reconstrução, comandada pelos líde-

res Pachacutec (1438-1471) e Tupac Yupanqui (1471-1493), durou

cerca de vinte anos e, supõe-se, empregou 50 mil homens. O pri-

meiro desses governantes, a quem também se atribui a construção

de Machu Picchu, queria criar uma cidade modelo, com todas as

atribuições de capital. Ele estabeleceu as fundações de uma organi-

zação extremamente hierárquica, na qual o centro urbano reunia as

funções administrativa e religiosa, enquanto as áreas ao redor eram

destinadas a agricultura, artesanato e produção industrial.

Assim que chegaram ao território peruano, os espanhóis percebe-

ram que era preciso tomar a capital do império. A luta foi dura, mas

acabaram vencendo mais de uma vez, até que, em 1533, Francisco

Pizarro (c. 1475-1541) estabeleceu o domínio espanhol na cidade

por completo.

liMA

Situada na costa central do Peru, à beira do Pacífico, Lima é a

maior e mais importante cidade do país. Fundada em 1535 como a

“cidade dos reis”, passou a ser a capital do Vice-Reino do Peru du-

rante o regime espanhol, mantendo o status mesmo depois da inde-

pendência. De acordo com o censo de 2007, a região metropolitana

de Lima tinha cerca de 8,5 milhões de habitantes, o que representava

aproximadamente 30% da população do Peru.

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lAgo TiTicAcA

Localizado a mais de 3.800 metros acima do nível do mar, no

altiplano dos Andes entre o Peru e a Bolívia, o Titicaca tem área

de cerca 8.300 quilômetros quadrados e profundidade média de

140 a 180 metros – a máxima é de 280 metros. Esses números fa-

zem dele o lago navegável mais alto do mundo e o terceiro maior

da América Latina. Possui diversas ilhas, algumas artificiais, deno-

minadas Uros e habitadas pelo povo homônimo.

De acordo com a tradição andina, a civilização inca nasceu

nas águas do Titicaca. O deus Sol teria instruído seus filhos a

procurar o local ideal para o povo, e eles chegaram à ilha do Sol,

uma das maiores do lago.

Puno

Maior cidade do sul do altiplano, localiza-se no sudeste do

Peru, nos Andes, entre as montanhas e as margens do Titicaca.

Puno é um centro importante na permanente migração dos po-

vos indígenas para as grandes cidades, o destino de muitas pes-

soas das pequenas comunidades rurais dos arredores em busca

de melhores oportunidades de educação e emprego.

A cidade é conhecida como capital folclórica do país, por causa

da riqueza de suas manifestações culturais e artísticas, com des-

taque para as danças. Centenas delas podem ser apreciadas em

festas como a da Virgem da Candelária e em competições regio-

nais de danças.

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ArequiPA

Situada nos Andes, a cerca de 2.300 metros de altitude, é a

segunda cidade mais populosa do Peru, com mais de 800 mil ha-

bitantes. Fundada em 1540 pelos colonizadores espanhóis, logo

se tornou importante centro comercial e administrativo no sul

do país.

Os edifícios do centro histórico de Arequipa, construídos com

um tipo de rocha vulcânica, são representativos da fusão de técni-

cas de construção europeias e nativas e podem ser vistas nos muros

robustos da cidade, nas arcadas e abóbodas, nos pátios e espaços

abertos e também na complexa decoração barroca das fachadas.

NA SALA DE AULA

1. Antes da leitura, um bom aquecimento é propor uma análise

da capa do livro. Peça aos alunos que identifiquem e comen-

tem todos os elementos presentes (pessoas, vestuário, veícu-

los, montanhas, cores etc.). Pergunte o que acham das roupas

e dos chapéus que as personagens estão usando, se já viram

alguém vestido daquela maneira. Chame a atenção deles para

o título e incentive-os a tentar explicar o motivo de estar gra-

fado de forma ondulada (um bom pretexto para introduzir o

tema das montanhas, especificamente dos Andes).

2. Proponha uma conversa sobre montanhas. Peça que falem so-

bre elas: se já escalaram alguma, quais conhecem ou de quais

ouviram falar. Estimule-os a relatar viagens ou qualquer ex-

periência em serras e montanhas. Depois de explorar o assun-

to, verifique se alguém sabe o que são os Andes, faça com que

arrisquem algumas hipóteses e, por fim, complemente com as

informações que julgar necessárias. Você pode solicitar, ainda,

que pesquisem imagens dos Andes (em internet, revistas, li-

vros etc.) e organizem uma pequena exposição na sala.

3. O próximo passo é a leitura propriamente dita. É impor-

tante que os alunos também experimentem ler o livro em

voz alta, para que possam perceber claramente as rimas e

a cadência do texto. Uma ideia é propor uma brincadei-

ra para ver quem interpreta melhor cada estrofe ou quem

emprega o ritmo mais adequado; outra é dividir a turma

em grupos para que façam uma leitura coletiva, em uma

espécie de jogral.

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No sobe e desce dos Andes Laurie Krebs

4. Chame a atenção deles para as ilustrações e as cores das pá-

ginas. Peça que as descrevam e falem sobre aquela de que

mais gostam. Pergunte se a realidade retratada no livro se

parece com a que eles vivenciam todos os dias. Proponha,

então, que façam desenhos coloridos reproduzindo algum

momento de seu cotidiano (por exemplo, a caminho da

escola ou vestindo-se para ir a uma festa).

5. Converse sobre os meios de transporte que aparecem no

livro. Solicite aos alunos que enumerem e comentem to-

dos eles. Pergunte quem já andou em algum desses meios.

Estimule-os a falar sobre os que conhecem e os que nor-

malmente utilizam. Peça que comparem com os do livro.

6. Fale também sobre as roupas das personagens. Sugira aos

alunos que façam uma pesquisa em revistas, internet, livros

etc. e tragam fotos de pessoas vestidas com trajes típicos

peruanos. Depois, proponha que as comparem com as que

aparecem nas ilustrações. Explique que as roupas são pesa-

das por causa do clima muito frio e aproveite para falar so-

bre as diferenças de costumes e culturas entre os povos.

7. Faça um exercício de criação poética coletiva. Com base

em um tema eleito pelos alunos, estimule-os a sugerir um

primeiro verso. Use a estrutura de quadrinhas, como no

livro, escolha um esquema, ou mais de um, para as rimas

(abab, aabb, abcb) e comece a criação coletiva. Os versos e

as rimas devem ser construídos um a um, com a participa-

ção de todos. É importante que sejam escolhidas sugestões

pertinentes e as melhores rimas.

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No sobe e desce dos Andes Laurie Krebs

SUGESTÕES DE LEITURA

Elaboração do guia Adilson Miguel, editor de literAturA, coM ForMAção eM FilosoFiA pelA usp, e orgAnizAdor de coletâneAs de poesiA e contos. PrEParação grAzielA r. s. costA pinto rEvisão MArciA Menin e cArlA Mello MoreirA.

PArA o Professor

SITES• Wikipédia (verbetes “Peru”, “cordilheira dos Andes”,

“incas”, “Machu Picchu”, “Cusco”, “ameríndios” etc.):

http://pt.wikipedia.org

• O site da embaixada peruana no Brasil traz uma seção com

informações sobre o Peru, que também pode ser boa fonte

de consulta: http://www.embperu.org.br

• No site da Unesco/Convenção do Patrimônio Mundial,

podem ser encontradas boas informações sobre o Peru e

várias localidades peruanas: http://whc.unesco.org/en/sta-

tesparties/pe (não há versão em português, mas entre as

opções de língua estão o inglês, o francês e o espanhol).

PArA os Alunos

LIVROS• Krebs, Laurie. Rumo a Galápagos. São Paulo: Edições SM,

2012. (Coleção Cantos do Mundo). Em versos rimados,

duas crianças apresentam as Ilhas Galápagos, na América

do Sul, e as criaturas incríveis que vivem no arquipélago há

milhares de anos.

• _____. Um passeio na floresta amazônica. São Paulo: Edições

SM, 2012. (Coleção Cantos do Mundo). Como os demais

livros da coleção, uma visita de três crianças à Amazônia é

pretexto para discutir biodiversidade e multiculturalismo.

• _____. Um safári na Tanzânia. São Paulo: Edições SM, 2007.

(Coleção Cantos do Mundo). Em plena savana africana,

crianças da etnia Massai, guiadas por um adulto, observam

os animais e, desse modo, aprendem a contar de 1 a 10 em

swahili, uma das principais línguas da costa leste da África.

• Moraes, Antonieta Dias de. Contos e lendas do Peru. São

Paulo: WMF Martins Fontes, 2002. (Coleção Escola de

Magia). O livro reúne narrativas que exploram a cultura,

os costumes, a natureza e os mitos peruanos.