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Noções básicas do trabalho losóco Filosoa º ano Professor Domingos Faria Colégio Pedro Arrupe Ano Lectivo / Professor Domingos Faria: Noções básicas do trabalho losóco /

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Noções básicas do trabalho

filosófico

Filosofia 10º ano

Professor Domingos Faria

Colégio Pedro Arrupe

Ano Lectivo 2017/18

Professor Domingos Faria:

Noções básicas do trabalho filosófico 1/90

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Sumário

1 Elementos da Filosofia

2 Formular problemas

3 Analisar conceitos

4 Teses

5 Argumentos

6 Textos de apoio

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Elementos da Filosofia

Elementos da Filosofia

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Elementos da Filosofia

Elementos da Filosofia

A filosofia envolve os seguinte elementos:

1 Formular problemas de caráter não empírico nem formal,mas sim conceptual.

2 As respostas a esses problemas são aquilo a que se chama

teorias ou teses.3 Essas teorias são, por sua vez, defendidas por meio de

argumentos ou raciocínios, respondendo-se igualmenteàs várias objeções.

4 É transversal a este processo a utilização de conceitos e asua análise.

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Formular problemas

Formular problemas

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Formular problemas

Problemas

• Como vimos anteriormente, o ponto de partida para a

discussão filosófica são os problemas.• A principal competência filosófica relacionada com os

problemas é a capacidade de os formular adequadamente.

• Geralmente, a melhor forma de formular um problema é

apresentá-lo sob a forma de uma questão.• Além disso, os filósofos também devem ser capazes de

esclarecer um problema, isto é, de explicitar o seu conteúdo

e a sua relevância.

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Analisar conceitos

Analisar conceitos

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Analisar conceitos

Conceitos

• Uma parte importante do trabalho filosófico consiste em

clarificar ou analisar conceitos.• Um conceito não é uma palavra; é o que as palavras

exprimem ou significam.• Há muitos casos em que uma mesma palavra exprime

diferentes conceitos: como a palavra “banco” ou “vela”.

• E palavras diferentes podem expressar o mesmo conceito:

como no caso de “porta-minas” e “lapiseira”.

• Quando queremos analisar um conceito não é porestarmos interessados em palavras, mas antes por

estarmos interessados no que as palavras exprimem.

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Analisar conceitos

Conceitos

• Analisar um conceito é explicitar o seu significado. Para

esse efeito, os filósofos podem recorrer quer a uma

definição explícita quer a uma caracterização.• Numa definição explícita são apresentadas as propriedades

ou características que todas as coisas às quais o conceito se

aplica, e só elas, têm em comum, ou seja, são indicadas as

condições necessárias e suficientes para que o conceitoseja corretamente aplicado.

• Mas o que são condições necessárias e suficientes?

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Analisar conceitos

Condições necessária e suficiente

Um exemplo:

• Estar em Portugal é uma condição necessária para estar em

Lisboa. Isto significa que não é possível estar em Lisboa

sem estar em Portugal.

• Mas estar em Portugal não é uma condição suficiente para

estar em Lisboa. Isto significa que é possível estar em

Portugal sem estar em Lisboa – uma pessoa pode estar no

Porto, por exemplo.

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Analisar conceitos

Condições necessária e suficiente

Condição Necessária

φ é uma condição necessária de ψ quando tudo oque é ψ é também φ.

Condição Suficiente

φ é uma condição suficiente de ψ quando tudo oque é φ é também ψ.

As frases declarativas universais exprimem condições necessárias e suficientes.

Sempre que dizemos «Todo o φ é ψ», estamos a dizer que φ é uma condiçãosuficiente para ψ, e que ψ é uma condição necessária para φ.

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Analisar conceitos

Exercícios

1 «Todas as ações são acontecimentos.» Identifique a

condição necessária e a condição suficiente expressas nesta

frase.

• [Resposta: ser ação é uma *condição suficiente* para algo ser

acontecimento; ser acontecimento é uma *condição necessária*

para algo ser ação]

2 «Se tudo está determinado, não há livre-arbítrio.»

Identifique a condição necessária e a condição suficiente

expressas nesta frase.

• [Resposta: tudo estar determinado é uma *condição suficiente*

para não haver livre-arbítrio. E não haver livre arbítrio é uma

*condição necessária* para tudo estar determinado]

3 Avalie o seguinte: Ser francês é uma condição suficiente

para ser europeu? Ou é uma condição necessária? Porquê?

• [Resposta: condição suficiente]

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Analisar conceitos

Exercícios

4 Avalie o seguinte: Ser europeu é uma condição suficiente

para ser francês? Ou é uma condição necessária? Porquê?

• [Resposta: condição necessária]

5 Para discutir: ter dentes é uma condição necessária para ser

humano? Ou é uma condição suficiente? Ou nem é uma

condição necessário nem suficiente? Porquê?

6 Para discutir: ser racional será uma condição suficiente para

ser um ser humano? Porquê?

7 Para discutir: ser racional será uma condição necessária

para ser um ser humano? Porquê?

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Analisar conceitos

Exercícios

Determine qual é a condição necessária e qual é a condição

suficiente.

8 “Vou entregar o trabalho, a menos que tenha um

imprevisto”.

• Tradução: “Se não tiver um imprevisto, então vou entregar o

trabalho”.

• Não ter um imprevisto é uma condição suficiente paraentregar o trabalho; e entregar o trabalho é uma condiçãonecessária para não ter um imprevisto.

9 “Algo é conhecimento só se é uma crença verdadeira”.

• Tradução: “Se algo é conhecimento, então é uma crença

verdadeira”.

• Algo ser conhecimento é uma condição suficiente para seruma crença verdadeira; e ser uma crença verdadeira é umacondição necessária para ser conhecimento.

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Analisar conceitos

Exercícios

10 “Fazemos um acontecimento intencional, se fizermos uma

ação”.

• Tradução: “se fazemos uma ação, então fazemos um

acontecimento intencional”.

• Fazer uma ação é uma condição suficiente para se fazer umacontecimento intencional; e fazer um acontecimentointencional é uma condição necessária para se fazer umaação.

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Analisar conceitos

Exercícios

Complete os espaços:

Se uma coisa precisa de ser flor para ser uma rosa, então ser flor

é uma condição ........necessaria para ser uma rosa. Mas ser rosanão é uma condição ........necessaria para ser flor porque háoutras formas de ser flor (margarida, tulipa, cravo). Se basta ser

rosa para ser flor, para pertencer à classe das flores, então ser

rosa é condição ........suficiente para ser flor, não é preciso maispara ser flor.

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Analisar conceitos

Exercícios

Complete os espaços:

Se preciso de viver em Inglaterra para viver em Londres então

viver em Inglaterra é condição ........necessaria para viver emLondres. Mas viver em Londres não é uma condição

........necessaria para viver em Inglaterra porque não é a única

forma de viver em Inglaterra. Se basta viver em Londres para

viver em Inglaterra, então viver em Londres é condição

........suficiente para viver em Inglaterra, não é preciso viver

noutra cidade para viver naquele país.

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Analisar conceitos

Conceitos

• Quando queremos definir explicitamente algo não bastaapresentar condições necessárias ou apresentar condições

suficientes.

• Temos de apresentar condições que sejam

simultaneamente necessárias e suficientes.

• Por exemplo:

• podemos definir corretamente água como H2O porque uma

condição necessária e suficiente para algo ser água é ser

H2O.

• Isto significa que tudo o que é água é H2O e tudo o que é

H2O é água; ou seja, se algo é água, é H2O, e se é H2O, é

água.

• As definições são muitas vezes expressas usando a

expressão “se, e só se”. Assim, algo é água se, e só se, for

H2O. As definições explícitas têm a forma de uma

bicondicional / equivalência.Professor Domingos Faria:

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Analisar conceitos

Conceitos

• Podemos recorrer a contraexemplos para avaliar definições

explícitas. Por exemplo, considere-se a seguinte definição:

• Um objeto x é arte se, e só se, x imita a realidade.• Se encontrarmos casos particulares de obras de arte que

não sejam imitações da realidade, ou casos particulares de

imitações da realidade que não sejam obras de arte,

conseguimos mostrar que a definição em análise é errada.

• Uma definição explícita é errada:

• se for demasiado lata e/ou demasiado restrita.• (uma definição demasiado lata abrange mais do que deveria,

e uma definição demasiado restrita abrange menos do que

deveria).

• se aquilo que se pretende definir surgir na expressãodefinidora. (Ex: “um ato livre é aquele que realizamos

livremente”). Isto é uma falácia da circularidade.Professor Domingos Faria:

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Analisar conceitos

Conceitos

Resumindo:

• Uma definição explícita tem a forma lógica de uma

bicondicional/equivalência quantificada, estabelecendo

simultaneamente condições necessárias e suficientes:

• ∀x(Px ↔ Qx)• Afirmar que ∀x(Px ↔ Qx) é o mesmo que afirmar duascondicionais quantificadas:

• ∀x(Px → Qx)• ∀x(Qx → Px)

• x ser P é simultaneamente uma condição suficiente e

necessária para x ser Q.

• x ser Q é simultaneamente uma condição necessária e

suficiente para x ser P.

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Analisar conceitos

Avaliação de uma definição explícita:

• Para avaliar uma definição explícita fazemos três questões:1 Será que há algum x que seja P mas não Q?

• ∃x(Px ∧ ¬Qx)• Se sim, x ser Q não é uma condição necessária para x ser P.• I.e., estamos perante uma definição demasiado restrita: não

inclui o que deveria.

2 Será que há algum x que seja Q mas não P?

• ∃x(Qx ∧ ¬Px)• Se sim, x ser Q não é uma condição suficiente para x ser P.• I.e., estamos perante uma definição demasiado ampla: inclui

o que não deveria.

3 Será que aquilo que se pretende definir surge na expressão

definidora?

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Analisar conceitos

Exercício: avaliar conceitos

Avalie as seguintes definições explícitas:

1 Algo é um triângulo se, e só se, é um polígono triangular.

2 Algo é um triângulo se, e só se, é um polígono com três

lados iguais.

3 Algo é um romance se, e só se, é uma obra literária.

4 Algo é uma bicicleta se, e só se, é um veículo com duas

rodas.

5 Algo é uma ação humanas se, e só se, é um acontecimento.

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Analisar conceitos

Conceitos

• Contudo, muitas vezes é difícil apresentar definições

explícitas verdadeiras e informativas de conceitos filosóficos

como conhecimento, verdade ou arte. Em parte, é difícilporque estes são os conceitos mais simples que usamos

para definir outros conceitos menos simples.

• Quando não conseguimos definir um conceito mas

queremos esclarecê-lo, apresentamos apenas as suascondições necessárias, mas não as suficientes, ou

vice-versa; ou limitamo-nos a caracterizar o conceito.

• Caracterizar um conceito é apresentar váriascaracterísticas esclarecedoras, que poderão não sercondições necessárias nem suficientes, juntamente com

exemplos informativos.

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Analisar conceitos

Conceitos

• Um exemplo de caracterização:

• uma maneira de caracterizar o álcool é afirmar que é um

líquido com a aparência da água, mas que evapora muito

rapidamente, é muitíssimo inflamável e um poderoso

desinfectante.

• Podemos além disso dar exemplos, apontando para várias

substâncias que são ou contêm álcool. Para quem nada

sabe de química, esta caracterização é até mais

esclarecedora do que apresentar a sua definição explícita,

que neste caso é a fórmula C2H5OH.

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Analisar conceitos

Importância dos conceitos

• Como acontece noutras áreas do conhecimento, em

filosofia precisamos de definir, ou pelo menos caracterizar

com muita precisão, alguns conceitos centrais relacionados

com os problemas que queremos discutir.

• Por exemplo:

• Quando perguntamos se Deus existe, que conceito de Deus

temos em mente?

• Diferentes religiões têm diferentes conceitos de Deus.

• Os argumentos que tentam provar a existência de Deus,

concebido de um certo modo, podem não ser adequados

para provar a sua existência, se Deus for concebido de outro

modo.

• Por isso, temos de esclarecer cuidadosamente que conceito

de Deus está em causa.

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Teses

Teses

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Teses

Teses

• No contexto da atividade filosófica, chamamos teorias ou

teses às diferentes respostas que os filósofos avançam para

resolver os problemas de que se ocupam.

• No entanto, aquilo que está a ser discutido pelos filósofos

não são as frases propriamente ditas, mas sim as ideiasque lhes estão subjacentes, ou seja, as proposições.

• As frases são marcas num papel, ou sons que emitimos ao

falar. O que nos interessa não são as frases dos filósofos

mas sim as proposições que exprimem por meio delas.• Mas o que são proposições?

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Teses

Proposições

Uma proposição é a ideia verdadeira ou falsaliteralmente expressa por uma frase declarativa.

• Existem casos em que duas frases diferentes expressam a mesma

proposição. Por exemplo:

• “A África é um continente lindo” e “Africa is a beautifulcontinent”.

• “O livre-arbítrio é incompatível com o determinismo” e “Odeterminismo é incompatível com o livre-arbítrio”.

• E também há casos em que uma só frase, devido ao seu caráter ambíguo,

expressa mais do que uma proposição. Por exemplo:

• “O aluno mexeu no rato”.• “Os alunos só consultam livros na biblioteca”.

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Teses

Proposições

• Muitas frases não exprimem proposições porque não

exprimem qualquer conteúdo verdadeiro ou falso.

• É o caso das exclamações, perguntas, ordens, e promessas,

tal como:

• “Nunca mais começa o Verão!”

• “Quem foi Aristóteles?”

• “Desligue o telemóvel na sala de aula, por favor”.

• “Comprometo-me a seguir as regras da sala de aula”.

• Nenhum destes tipos de frases serve para descrever ou

transmitir informação sobre o que pensamos ser o mundo.

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Teses

Proposições [exercício]

Qual das seguintes frases é uma proposição?1 O João fechou a porta?2 Oxalá o João feche a porta!3 João, fecha a porta!4 O João fechou a porta.

• Apenas as frases declarativas, como aquela que surge noponto 4, veiculam um pensamento que pode ser verdadeiro

ou falso. E, por isso, só a frase 4 é uma proposição.

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Teses

Proposições

• Contudo, nem todas as frases declarativas expressam

proposições; algumas delas são absurdas e, porconseguinte, também não expressam nenhum pensamento

verdadeiro ou falso.

• É o que acontece, por exemplo, com a frase “Incolores ideiasverdes dormem furiosamente”.

• Deste modo, podemos concluir que apenas as frases

declarativas que não são absurdas expressam proposições.

Só estas têm valor de verdade.1

1O valor de verdade de uma proposição é a verdade ou falsidade dessa

proposição. A verdade de uma proposição é a característica de ela representar

adequadamente as coisas como elas realmente são.

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Teses

Exemplos de proposições

• Alguns exemplos de proposições:

• “Guimarães é a capital de Portugal”.

• “Mentir é sempre errado”.

• “Se somos determinados, então não somos livres”.

• “Os gatos são felinos”.

• Claro que algumas destas frases podem descrever

erradamente as coisas ou estados de coisas, caso em que

exprimem proposições falsas. Assim, tipicamente uma

proposição é a ideia, verdadeira ou falsa, expressa por uma

frase declarativa.2

2Mas é um problema filosófico em aberto saber se há proposições sem

valor de verdade, ou simultaneamente com os dois, ou se há outros valores de

verdade, além da verdade e da falsidade.

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Teses

Diferentes tipos de proposições

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Teses

Tipos de proposições

• Importa ainda referir que existem diferentes tipos deproposições.

• Podemos fazer a distinção entre:

1 Proposições categóricas

2 Proposições condicionais

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Teses

Proposições categóricas

As proposições categóricas estabelecem relações entre dois

universais (classes), como “Homem”, “mortal”, etc. Sendo S e Puniversais, as proposições categóricas têm subjacente a forma

"S é/não é P" juntamente com quantificadores. Existem quatroformas possíveis de relacionar os universais de uma proposição

categórica, dependendo da quantidade (universais ou

particulares) e da qualidade (afirmativas ou negativas):

1 Universal afirmativa [Tipo A]: Todo S é P.2 Universal negativa [Tipo E]: Nenhum S é P.3 Particular afirmativa [Tipo I]: Algum S é P.4 Particular negativas [Tipo O]: Algum S não é P.

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Teses

Proposições categóricas

Figura 1: Quadrado da Oposição

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Teses

Proposições categóricas

Exemplos de proposições categóricas:

• “Nem todos os acontecimentos são determinados”. [Tipo O]

• “Qualquer obra de arte imita a realidade”. [Tipo A]

• “Nenhum ato determinado é livre”. [Tipo E]

• “Certos alunos distraem-se com facilidade”. [Tipo I]

• “Todo o conhecimento tem origem na experiência”. [Tipo A]

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Teses

Proposições categóricas

As proposições universais [tipo A e E] envolvem

condicionais/implicações:

• Quando afirmamos que “Todo o conhecimento é verdadeiro”é o mesmo que dizer:

• Para qualquer objeto x, se x é conhecimento, então x é

verdadeiro.

• ∀x(Cx → Vx)• Quando afirmamos que “Nenhum ato determinado é livre” éo mesmo que dizer:

• Para qualquer objeto x, se x é um ato determinado, então x

não é livre.

• ∀x(Dx → ¬Lx)

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Teses

Proposições categóricas

As proposições particulares [tipo I e O] envolvem conjunções:

• Quando afirmamos que “Alguns acontecimentos sãodeterminados” é o mesmo que dizer:• Existe pelo menos um objeto x, tal que x um acontecimento

e x é determinado.

• ∃x(Ax ∧ Dx)• Quando afirmamos que “Algumas disciplinas não são aposteriori” é o mesmo que dizer:• Existe pelo menos um objeto x, tal que x é uma disciplina e x

não é a posteriori.• ∃x(Dx ∧ ¬Ax)

Professor Domingos Faria:

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Teses

Proposições condicionais

Além das proposições categóricas, também há proposiçõescondicionais que podem ser utilizadas nas teses ou teorias.• Sendo P e Q duas proposições simples, as proposiçõescondicionais têm a estrutura de “Se P, então Q” (ou “P só seQ”), tendo a forma lógica de (P → Q).

• A proposição que surge em primeiro lugar (depois do “Se”,

ou antes do “só se”) designa-se antecedente e aproposição que surge em segundo lugar (depois do “então”,

ou depois do “só se”) designa-se consequente.• As proposições condicionais estabelecem relações de

consequência (ou implicação) entre proposições.

• Diz-se que uma proposição implica outra quando é

impossível que a primeira seja verdadeira e a segunda falsa

¬(P ∧ ¬Q) , ou, dito de outra forma, quando a segunda é aconsequência da primeira.

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Teses

Proposições condicionais

• Isto significa que as proposições condicionais indicativas

estabelecem condições necessárias e suficientes entreproposições mais simples.

• Numa condicional, a antecedente é uma condição suficiente

para a consequente e a consequente é uma condição

necessária para a antecedente.

• Assim, numa condicional indicativa da forma “Se P, entãoQ” podemos dizer:

1 P é uma condição suficiente para Q;2 Q é uma condição necessária para P.

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Teses

Negar proposições

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Teses

Negar proposições

• Em qualquer discussão filosófica, é muito importante saber

como se nega proposições.

• P.e., imagine-se que um filósofo defende a tese de que

"Todos os seres humanos têm deveres".• Se queremos discordar desse filósofo, qual é a tese que

devemos defender? Ou seja, qual é a negação da

proposição “Todos os seres humanos têm deveres”?

• A negação dessa tese não é a tese de que nenhuma pessoatem deveres. Tal como a negação da proposição todas asmulheres são louras não é a proposição nenhuma mulher éloura.

• Para que duas proposições se neguem entre si não podemser ambas verdadeiras nem podem ser ambas falsas.

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Teses

Negar proposições

A negação inverte o valor de verdade de umaproposição, ou seja, quando uma proposição éverdadeira, a sua negação é falsa, e vice-versa.

Veja-se o caso das proposições categóricas:

• Com recurso ao quadrado da oposição, as proposiçõescategóricas negam-se pelas linhas diagonais, ou seja, pela

relação de contraditoriedade.• Duas proposições contraditórias não podem ter o mesmovalor de verdade, de tal forma que a verdade de uma

implica a falsidade da outra, e vice-versa.

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Teses

Negar proposições categóricas

Figura 2: Quadrado da Oposição

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Teses

Negar proposições categóricas

• Proposição do tipo A:• ∀x(Sx → Px)

• Negação da proposição de

tipo A:

• ¬∀x(Sx → Px)• ∃x¬(Sx → Px)• ∃x(Sx ∧ ¬Px)• Corresponde a uma

proposição do tipo O.

• Proposição do tipo E:• ∀x(Sx → ¬Px)

• Negação da proposição de

tipo E:

• ¬∀x(Sx → ¬Px)• ∃x¬(Sx → ¬Px)• ∃x(Sx ∧ Px)• Corresponde a uma

proposição do tipo I.

• As proposições do tipo A e E não são a negação uma daoutra:

• podem ser ambas verdadeiras (se o termo S for vazio),• e também podem ser ambas falsas.

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Teses

Negar proposições condicionais

Veja-se agora o caso das proposições condicionais:

• Uma proposição condicional é qualquer proposição da

forma «Se P, então Q», ou formas análogas, em que P e Q

são proposições simples.

• Por exemplo, qual é a negação da proposição "Se Deus nãoexiste, não há valores"?

• A negação de uma condicional não é uma outra condicional

(como “Se Deus não existe, há valores”).• Pelo contrário, a negação de uma condicional é uma

conjunção em que se afirma a antecedente e se nega aconsequente (como “Deus não existe, mas há valores”).

• Em suma, a negação de uma proposição condicional da

forma (P → Q) é uma conjunção (P ∧ ¬Q).

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Teses

Exercícios

Negue as seguintes proposições:

• Nenhum sociedade igualitária é justa.• Negação: Algumas sociedades igualitárias são justas.

• Algumas ações não são virtuosas.• Negação: Todas as ações são virtuosas.

• Se os seres humanos são determinados, eles não têmlivre-arbítrio.• Negação: Os seres humanos são determinados, mas têm

livre-arbítrio.

• Os animais não-humanos têm conhecimento desde que oconhecimento seja sensação.• Negação: O conhecimento é sensação, mas os animais

não-humanos não têm conhecimento.

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Teses

Exercícios

• Todos os seres humanos têm livre-arbítrio.• Se a vida faz sentido, então Deus existe.• Nem todos os acontecimentos são determinados.• Não somos determinados, se formos livres.• Alguns acontecimentos são determinados.• Nenhum ato livre é determinado.

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Teses

Consistência entre proposições

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Teses

Consistência

• As proposições então relacionadas entre si de várias formas.

Uma das relações mais importantes é a da consistência (ou

coerência).

Um conjunto de proposições é consistente se, e só se,é possível que as proposições do conjunto sejam todasverdadeiras.

• Se duas ou mais proposições são consistente, isso significa

que são logicamente compatíveis entre si.• Por outro lado, diz-se que um conjunto de proposições é

inconsistente quando as proposições que o compõem nãopodem ser todas simultaneamente verdadeiras.

Professor Domingos Faria:

Noções básicas do trabalho filosófico 51/90

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Teses

Consistência

Por exemplo, as seguintes proposições formam um conjunto

inconsistente:

1 Se Deus existe, não pode haver mal no mundo.

2 Há mal no mundo.

3 Deus existe.

Dado que conjunto {1, 2, 3} é inconsistente, pelo menos uma

destas proposições tem de ser falsa.

• Ora, isto significa que uma tese inconsistente nunca pode

ser verdadeira e, por conseguinte, deve ser reformulada ou

até mesmo rejeitada e substituída por uma tese que não

apresente esse tipo de inconsistências internas.

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Teses

Avaliar teses

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Teses

Avaliar teses

Ao avaliar teorias devemos ter em conta os seguintes aspetos:

1 A teoria responde ao problema filosófico que se propõe

resolver?

2 A teoria é consistente?

3 A teoria é mais plausível do que as alternativas?

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Argumentos

Argumentos

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Argumentos

Definição de argumento

Através dos argumentos ou raciocínios, os filósofos apresentam

razões a favor das suas ideias ou teses.

Mas o que é um argumento?

Um argumento pode ser definido como um conjuntode proposições constituído por uma ou váriaspremissas e uma conclusão. As premissas são asproposições que justificam, sustentam, dão razões afavor da conclusão.

Professor Domingos Faria:

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Argumentos

Definição de argumento

Este é um exemplo de um argumento:

1 Tudo o que é capaz de sofrer têm direitos. [Premissa]

2 Todos os animais têm a capacidade de sofrer. [Premissa]

3 Logo, todos os animais têm direitos. [Conclusão]

No entanto, existem argumentos bons e outrosmaus. Por estemotivo, a lógica surge como um instrumento fundamental para

começarmos a examinar se estamos diante de um argumento

bom ou mau.

Professor Domingos Faria:

Noções básicas do trabalho filosófico 57/90

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Argumentos

Reconstituição de argumentos

Normalmente os textos dos filósofos não aparecem com

argumentos estruturados e claramente explícitos. O que ocorre

comummente é surgirem na linguagem natural, como no

seguinte exemplo:

Pode-se mostrar que o determinismo não éverdadeiro. Isto porque o determinismo é verdadeirosó se não há livre-arbítrio; porém, há livre-arbítrio.

Professor Domingos Faria:

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Argumentos

Reconstituição de argumentos

Para se discutir mais facilmente as teorias e argumentos da filosofia é

conveniente fazer a reconstituição dos argumentos que surgem

naturalmente ao longo de um texto, tornando-os mais claros e

formulando-os na sua representação canónica (ou seja, explicitando

quais são as premissas e qual é a conclusão). Para isso é necessário

tomar atenção ao seguinte:

• Indicadores de premissas – porque, visto que, uma vez que, afinalde contas, desde que, pois, assuma que, é sabido que, por causa de,etc.

• Indicadores de conclusão – logo, portanto, por conseguinte, sendoassim, assim, deste modo, por isso, isto prova/mostra/demonstra que,desta forma, etc.

• Entimema – trata-se de um argumento com uma premissa ou

conclusão não formulada, ou seja, implícita.

• Eliminar o ruído - eliminar o que não contribui em nada para o

argumento e para a sua validade.

Professor Domingos Faria:

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Argumentos

Reconstituição de argumentos

Para identificar e reconstruir os argumentos presentes nos

textos filosóficos, faz-se o seguinte:

1 Identifica-se a conclusão: O que quer o autor defender? Isso

é a conclusão.

2 Identifica-se as premissas: Que razões apresenta o autor

para defender essa conclusão? Essas razões são as

premissas.

3 Completa-se o argumento: Se o autor omitiu premissas,

temos de as acrescentar. Ou seja, descobrir se há algum

entimema.

4 Explicita-se o argumento: Finalmente, formulamos o

argumento explicitamente. Ou seja, representamos

canonicamente o argumento.

Professor Domingos Faria:

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Argumentos

Reconstituição de argumentos

Qual é a representação canónica do seguinte argumento?

Pode-se mostrar que o determinismo não éverdadeiro. Isto porque o determinismo é verdadeirosó se não há livre-arbítrio; porém, há livre-arbítrio.

Professor Domingos Faria:

Noções básicas do trabalho filosófico 61/90

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Argumentos

Reconstituição de argumentos

O argumento que estamos a considerar pode ser

canonicamente representado da seguinte forma:1 Se o determinismo é verdadeiro, não há livre-arbítrio. [Premissa]

2 Mas há livre-arbítrio. [Premissa]

3 Logo, o determinismo não é verdadeiro. [Conclusão]

Mas será este um bom argumento? O primeiro passo paradeterminar se um argumento é bom ou mau consiste em

analisar se ele é válido.

Professor Domingos Faria:

Noções básicas do trabalho filosófico 62/90

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Argumentos

Exercícios: argumentos

Complete corretamente as seguintes informações:

1 Os argumentos são constituídos por. . .

2 Uma premissa é usada para. . .

3 Uma conclusão é. . .

4 Uma proposição é. . .

5 Só frases . . . exprimem proposições.

6 Representar canónicamente um argumento consiste em. . .

7 Para representar canonicamente um argumento devemos

atender aos seguintes aspetos. . .

Professor Domingos Faria:

Noções básicas do trabalho filosófico 63/90

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Argumentos

Exercícios: reconstituição de argumentos

Represente canonicamente os seguintes argumentos:

• “Não podemos permitir o aborto porque é o assassínio de uminocente.”

Representação canónica

1 O aborto é o assassínio de um inocente. [Premissa]

2 Se o aborto é um assassínio de um inocente, então não

podemos permitir o aborto. [Entimema]

3 Logo, não podemos permitir o aborto. [Conclusão]

Professor Domingos Faria:

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Argumentos

Exercícios: reconstituição de argumentos

• “Os artistas podem fazer o que muito bem entenderem. É porisso que é impossível definir a arte.”

Representação canónica

1 Os artistas podem fazer o que muito bem entenderem.

[Premissa]

2 Se os artistas podem fazer o que muito bem entenderem,

então é impossível definir a arte. [Entimema]

3 Logo, é impossível definir a arte. [Conclusão]

Professor Domingos Faria:

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Argumentos

Exercícios: reconstituição de argumentos

• “Claro que Deus existe. Pois, a vida não faz sentido caso Deusnão exista. Mas só um tolo poderá pensar que a vida não fazsentido, como é evidente.”

Representação canónica

1 Se Deus não existe, então a vida não faz sentido. [Premissa]

2 A vida faz sentido. [Premissa]

3 Logo, Deus existe. [Conclusão]

Professor Domingos Faria:

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Argumentos

Exercícios: reconstituição de argumentos

• “Nunca devemos faltar ao prometido. Dado que se faltarmosao prometido, depois ninguém confia em nós. Todavia,queremos que confiem em nós”.

Representação canónica

1 Se faltarmos ao prometido, então ninguém confia em nós.

[Premissa]

2 Queremos que confiem em nós. [Premissa]

3 Logo, nunca devemos faltar ao prometido. [Conclusão]

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Argumentos

Exercícios: reconstituição de argumentos

Mário – Este quadro é horrível! É só traços e cores! Até eu faziaisto!

Ana – Concordo que não é muito bonito, mas nem toda a artetem de ser bela.

Mário – Não sei. . . por que razão dizes isso?Ana – Porque nem tudo o que os artistas fazem é belo.Mário – E depois? É claro que nem tudo o que os artistas fazemé belo, mas daí não se segue nada.

Ana – Claro que se segue! Dado que tudo o que os artistasfazem é arte, segue-se que nem toda a arte tem de ser bela.

Professor Domingos Faria:

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Argumentos

Exercícios: reconstituição de argumentos

Mário – Este quadro é horrível! É só traços e cores! Até eu faziaisto!

Ana – Concordo que não é muito bonito, mas nem toda a artetem de ser bela.

Mário – Não sei. . . por que razão dizes isso?Ana – Porque nem tudo o que os artistas fazem é belo.Mário – E depois? É claro que nem tudo o que os artistas fazemé belo, mas daí não se segue nada.

Ana – Claro que se segue! Dado que tudo o que os artistasfazem é arte, segue-se que nem toda a arte tem de ser bela.

Professor Domingos Faria:

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Argumentos

Exercícios: reconstituição de argumentos

A representação canónica do argumento anterior é:1 Nem tudo o que os artistas fazem é belo. [Premissa]

2 Tudo o que os artistas fazem é arte. [Premissa]

3 ∴ Nem toda a arte é bela. [Conclusão]

Professor Domingos Faria:

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Argumentos

Validade: o que se segue do quê?

Um dos trabalhos principais da lógica é examinar se um

argumento é válido ou inválido.

Um argumento dedutivo é válido se é contraditório(impossível) ter as premissas todas verdadeiras e aconclusão falsa.

• Ao classificarmos um argumento como “dedutivamente válido”

não estamos a dizer que as premissas são de facto verdadeiras,

pelo contrário, apenas estamos a afirmar que a conclusão é uma

consequência lógica das premissas.• Ou seja, num argumento dedutivo válido, necessariamente, se aspremissas forem verdadeiras, a conclusão também será

verdadeira.

Professor Domingos Faria:

Noções básicas do trabalho filosófico 71/90

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Argumentos

Validade: o que se segue do quê?

• Na validade dedutiva o que conta para a validade dos

argumentos não é o facto de terem premissas e conclusão

realmente verdadeiras no nosso mundo atual.

• O que conta é ser impossível ter premissas verdadeiras e

conclusão falsa.

• Ou seja, se existir pelo menos uma circunstância possível

em que as premissas são todas verdadeiras e a conclusão

falsa, o argumento é inválido.

• Pelo contrário, se em todas circunstâncias possíveis em que

as premissas são verdadeiras a conclusão também é

verdadeira, o argumento é válido.

Professor Domingos Faria:

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Argumentos

Validade: o que se segue do quê?

Há argumentos válidos com premissa e conclusão falsas:

1 Alguns italianos são marcianos.

2 Logo, alguns marcianos são italianos.

Há argumento válidos com premissa falsa e conclusão

verdadeira:

1 Braga e Paris são cidades portuguesas.

2 Logo, Braga é uma cidade portuguesa.

A única coisa que não pode suceder num argumento válido é

haver uma circunstância possível com premissas verdadeiras e

conclusão falsa.

Professor Domingos Faria:

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Argumentos

Validade: o que se segue do quê?

Um argumento é dedutivamente válido por causa da sua forma lógica

correta. Podemos evidenciar a forma dos argumentos ao substituir os

conteúdos das proposições por letras proposicionais. Por exemplo,

sendo P a abreviatura da proposição simples “o determinismo éverdadeiro” e Q a abreviatura para “há livre-arbítrio”, a forma lógica doargumento que estamos a analisar é:

1 P → ¬Q.2 Q.3 ∴ ¬P.3

Se este estrutura argumentativa for válida (tal como é o caso), qualqueroutro argumento com a mesma estrutura lógica será válido.

• Mas como podemos saber que uma determinada forma lógica é

válida ou inválida? Para isso precisamos de saber lógica.

3O símbolo ∴ substitui o indicador de conclusão.

Professor Domingos Faria:

Noções básicas do trabalho filosófico 74/90

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Argumentos

Validade: o que se segue do quê?

Para além dos argumentos dedutivos, existem também

argumentos não-dedutivos.

Um argumento não-dedutivo é válido se é improvável ter aspremissas todas verdadeiras e a conclusão falsa.

• Assim, nos argumentos não-dedutivos válidos a conclusão sesegue apenas com probabilidade.

• Entre os argumentos não-dedutivos, encontram-se os indutivos(como as previsões

4e generalizações), bem como os argumentos

de autoridade e por analogia.4P.e.: “Todos os corvos que vimos até hoje são pretos; logo, o próximo corvo que

virmos será preto”.

Professor Domingos Faria:

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Argumentos

Validade: o que se segue do quê?

Nota bem:

• Os argumentos, mas não as proposições, podem ser válidos

ou inválidos.

• As proposições, mas não os argumentos, podem ser

verdadeiras ou falsas.

Professor Domingos Faria:

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Argumentos

Exercícios: validade

Complete corretamente as seguintes informações:

1 Nenhum argumento dedutivo com premissas verdadeiras e

conclusão falsa é. . .

2 Num argumento dedutivamente válido é . . . ter premissas

todas verdadeiras e conclusão falsa.

3 Os argumentos são . . . ou . . . , mas não são . . . nem . . .

4 As proposições são . . . ou . . . , mas não são . . . nem . . .

Professor Domingos Faria:

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Argumentos

Exercícios: validade

Avalia se o seguinte argumento é válido ou inválido:1 Se o Luís está no Porto, está em Portugal.

2 O Luís está em Portugal.

3 Logo, o Luís está no Porto.

• Argumento inválido: podemos pensar numa circunstância

em que as premissas são todas verdadeiras, mas em que a

conclusão é falsa.

Professor Domingos Faria:

Noções básicas do trabalho filosófico 78/90

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Argumentos

Exercícios: validade

Avalia se o seguinte argumento é válido ou inválido:1 Se o Luís está no Porto, está em Portugal.

2 O Luís está no Porto.

3 Logo, o Luís está em Portugal.

• Argumento válido: não conseguimos pensar numa

circunstância em que as premissas são todas verdadeiras e

a conclusão falsa.

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Argumentos

Exercícios: validade

Avalia se o seguinte argumento é válido ou inválido:1 Se a Joana ficou em casa, não foi à praia.

2 Ora, ela não foi à praia.

3 Logo, ficou em casa.

• Argumento inválido: podemos pensar numa circunstância

em que as premissas são todas verdadeiras, mas em que a

conclusão é falsa. (Por exemplo, numa situação em que a

Joana vai ao Cinema).

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Noções básicas do trabalho filosófico 80/90

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Argumentos

Bons argumentos: validade, solidez e cogência

A validade só garante que é impossível partir de verdades e

chegar a falsidades. Mas não basta termos um argumento válido

para termos um bom argumento. Há argumentos válidos com

premissas e conclusão falsas:

1 Todos os alentejanos são mexicanos.

2 Sócrates é alentejano.

3 ∴ Sócrates é mexicano.

Em filosofia precisamos que um argumento seja sólido:

Um argumento é sólido quando é válido e todas assuas premissas são verdadeiras.

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Noções básicas do trabalho filosófico 81/90

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Argumentos

Bons argumentos: validade, solidez e cogência

No entanto, nem todos os argumentos sólidos são bons

argumentos.

Considere-se o seguinte argumento:

1 Platão e Aristóteles eram gregos.

2 Logo, Platão era grego.

• Este argumento é mau porque não é persuasivo; e não é

persuasivo porque quem duvida da conclusão não aceita a

premissa. Isto acontece porque a premissa não é mais

plausível do que a conclusão.

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Noções básicas do trabalho filosófico 82/90

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Argumentos

Bons argumentos: validade, solidez e cogência

• Deste modo, além de questionarmos se um determinado

argumento tem premissas verdadeiras, também devemos

questionar quão certas ou plausíveis elas são para nós e

para os outros.

Um bom argumento, além de ser válido e sólido, tempremissas que são persuasivas e plausíveis paraqualquer um. Ou seja, é cogente.

• Em suma, um bom argumento é aquele que é

simultaneamente válido, sólido e cogente.

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Noções básicas do trabalho filosófico 83/90

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Argumentos

Bons argumentos: validade, solidez e cogência

Por exemplo, o seguinte argumento não é cogente:

1 Tudo o que a Ana afirma é verdade.

2 A Ana afirma que a neve é branca.

3 Logo, a neve é branca.

A conclusão deste argumento é mais plausível do que a sua

primeira premissa, pois podemos ver diretamente que a neve é

branca. E é implausível que tudo o que a Ana diz é verdade

porque todos os seres humanos são falíveis.

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Argumentos

Bons argumentos: validade, solidez e cogência

Mas o seguinte argumento é cogente:

1 Os bebês não têm deveres.

2 Se só tivesse direitos quem tem deveres, os bebês não

teriam direitos.

3 Mas os bebês têm direitos.

4 Logo, é falso que só tem direitos quem tem deveres.

Este argumento é cogente porque é válido, tem premissas

verdadeiras e tem premissas mais plausíveis do que a conclusão.

O argumento está a dar a essa pessoa uma razão para mudar de

idéias e passar a aceitar a conclusão, com base nas premissas

que ela mesma acredita que são verdadeiras.

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Noções básicas do trabalho filosófico 85/90

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Argumentos

Figura 3: Bons argumentos

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Argumentos

Avaliar argumentos filosóficos

Para avaliar argumentos filosóficos precisamos de fazer três

questões:

1 As premissas suportam/justificam efetivamente a

conclusão? Ou seja, será que o argumento é válido?

2 As premissas são verdadeiras? Ou seja, será que o

argumento é sólido?

3 As premissas são mais plausíveis/aceitáveis que a

conclusão? Ou seja, será que o argumento é cogente?

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Noções básicas do trabalho filosófico 87/90

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Argumentos

Exercícios

Avalie os seguintes argumentos quanto à validade, solidez, e

cogência:

• “A Terra tem três luas e Marte é uma estrela. Logo, a Terra temtrês luas”.

• “Se os objetos mais pesados não caíssem mais depressa do queos mais leves, um quilo de chumbo não cairia mais depressa doque um quilo de algodão. Mas um quilo de chumbo cai maisdepressa do que um quilo de algodão. Logo, os objetos maispesados caem mais depressa do que os mais leves”.

• “A Terra tem uma lua e Marte é um planeta. Logo, a Terra temuma lua”.

• “A relva é verde ou o universo não existe. Logo, a água é H2O”.

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