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    SSIS CINTR

    NOSS PRIMEIRHISTORI

    COM GRAVURAS)

    1922EDITORA PROPRIETARIA

    COMPANHIA MELHORAMENTOS DE S. PAUi.OWelszllog Irmos Incorporado)CAVEIRAS S. PAULO E RIO

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    cYlo meu amigo

    um dos mais bel os espiritos da juris-prudencia1 do magisierio e da politicado l ] r a s i ~ as rninfas fomenagens

    Vlssis dntra

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    O PRniEIIW CAPITL.LO UA HISTOHIA I ATHIAQuadro de An1 elio. nu Palacio ...lltmroe)

    r, t

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    NOSSA PRBIEIRA HISTORIA

    Brando. Desgarrando -se no Mar do Occidente, castigado pela tempestade e impellido por uma corrente mysteriosa, o capito Sancho alfim abordavauma terra magnifica, habitada por homens nus,opulenta em arvores da tinta vermelha. Tentracontornai-a, navegando para o norte. N o pde,porm descobriu outras ilhas. Carregando comsigoalguns homens e algumas produces da terra Sancho Brando e seus heavos marinl-reiros vellejarampara Portugal ansiosos para incrustarem na cora portugusa a gloria do primeiro descobrimentonos mares do Occidente.Orgulhoso pela victoria conseguida e grato aovalente marujo que lhe dra uma texra nova Affonso IV baptizou a grande ilha do po vermelhocom o nome de Ilha do rasil ou de Brando.Em 12 de Fevereiro de 1343, como era depraxe communicou ao Papa Clemente VI o auspicioso acontecimento, em ca.rta escripta de Montemr-o-Novo. E assim se expressou: - Diremosreverentemente a Vossa Santidade que os nossos naturaes foram os primeiros que acharam as menciondas ilhas do occidente - dirigimos para alli ilhasdo occidente) os olhos do nosso entendimento, e de-sejando pr em execuo o nosso intento, mandrnosl s nossas gentes e algumas nos para explorarema qualidade da terra, as quaes, abordando as ditasilhas, se apoderaram, por fora, de homens, animaese o-utras cousas e as trouxeram com grande prazeraos nossos reinos. (Documento do Archivo Secretodo l aticano, livro 138, folhas 148 e 149).Juntou-se carta um mappa da regio descoberta e nel1e se. v a inscrip.o - Insula do rasilou de Brandam. Desde ahi os portuguses monopolizaram o commercio do po-brasil, provindo dailha de Brando. Tanto assim que, em documentosdo Beculo XIV existentes em bibliothecas europas,

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    O PRECURSOR DE CABRAf, 7vem sempre o nonl e Brasil ligado ao de Portugal:- O rasil de Portugal diziam os inglses no fimdo seculo XIV.No livro de Geoffroy Chaucer, intitulado TheCanterbury Tales anuo de 1380, ha os seguintesversos, em que strrge o vooabulo brasil ligado aonome de Portugal:

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    8 NOSSA PRDiEIRA HlSTORIAseum, de Londres, acha-se inscripta a Ilha doBrasil na mesma posio cm que ella surge nomappa de Carlos V.Essa constatao feita tambem em tres. importantssimas cartas geographicas quaes as de1\icolo Zeno (anno de 1380), Beechario (1435) eAndra Bianco (original de 1436, e copia de 1448).Este ultimo offereoe wna explicao que elucidaperfeitamente o caso. Diz elle que a Ilha do Brasillnsu1n e Brasil est distante do Cabo Verde,no mar Atlantico, crca de 1.500 milhas. Pois no essa, mais ou menos, a distancia do Cabo Verdeao Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco?O mappa de Pera Vaz Bisagudo, que era copia do velho mappa portugus do Vaticano, traza Ilha o Brasil, na distancia de 1550 milhas .doCabo Verde. E o bacharel Joo Ma rtim, cosmographo e medico da esquad1a de Cabral, em cartaao rei de Portugal datada de 1 0 de maio ele 1500,manda o seu soberano procurar o Mappa Bisagudo que era muito antigo, diz elle, e onde .seencontraria a situao verdadeira da terra que Cabra.I descobria e novo. Eis o topico dessa carta quese encontra na Torre do Tombo, Cmpo chronologico,parte 3.a mao 2 doe. n. 2:

    - Quanto Senor, el sytyo desta terra mande voEa altt:zatraer un mapamundi que tyene pero vaaz biEagudo e por ahipodra ver vosa alteza el sytyo desta terra, en pero aquel mapamundi non certifica esta terra ser habytada ou no: es mapa- lundiant iguo

    - Si vossa alteza quizer vr a posio destaterra dizia a d. :Manoel I o cosmographo da .esquadra de Cabral em 0 de maio de 1500, mandebuscar o mappa rnundi de Bisagudo, que nelle encontrar o sitio em que estamos agora; porem e.ssemappa que antigo, no informa si esta terra ou no habitada.

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    O PRECURliOR DE CAJJRAI,

    Ahi est: os portuguses no descobriram oBrasil em 1500 porque nos seus mappas antigosj se a,chava insclipta essa terra de novo descoberta,isto , j de8cOb( rta e mais tarde abandonaa.Em 2 de 1\Ia;ro de 1450 o Infante de Por-tugal doou ao fidalgo flamengo Joe van den Berge,natural de Bruges, e vulgarmente conhecido porJacome de Bruges, umas ilhas ruorianas. No documerito de doao, que se encontra na Torre doTombo (Registro de ilhas, portos e costas) ha umareferencia ilha do Brasil, descoberta peJo bravoSancho Brando.As ilhas Flores e Corvo foram doadas om 1464a uma senhora de Lisboa - D. Maria de Vilhena.O flamengo Guilherme van den Ha.agen, em nomeda donataria, recebeu o documento de doao, hojearchivado na Torre do Tombo. Nessa proviso realha uma referencia a ilha do Brasil.

    No seculo XV, ora se encontra a ilha com onome de Brasil, ora com o de Brando.Vimos em alguns mappas do seculo XV eXIV apenas a l egend lha de B randam applicada Ilhe[ do Brasil_ o que se V, por exemplo,no mappa de Paulo Toscanelli.A respeito da Ilha do Brasil, ainda cumprecitar o globo terrestre de Martim Behaim, feitoem 1487 e r e p ~ o u z i o na _Alemanha em 1492, an-tes do descobrimento da America (a reproduco de :Maro e o descobrimento de Outubro). EsseMartinho da Bohemia, como lhe chamava Joo deBanos, viveu alguns annos na Ilha de Fayal A_o-res), pois o primeiro donatatio dessa ilha fra seusogro, o capito nerlandez Jobst van Heurter (vulgarmente conhecido por Joz D Utra). Pois Behaimtambem inscreve em seu lobo Tet-r-estre a lhado Brasil.Em 1498 d. Manoel mandou secretamente o

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    10 NOSSA PRIMEIRA HISTORIAcapt:Lto Duarte Pacheco Pereira explorar a Ilhado Brasil e verificar sua posio astronomica. E o proprio capito Duarte quem nos conta talcousa em sua informa.o ao Rei, inserta no li \rTOcap. 2. 0 , pag. 3), do Esmeralda, escripto. em 1498.- E por tanto, bemaventurado Principe, temos sabido e visto como no t:,rceiro anno de vossoReynado do hano de Nosso Senhor de mil quatrocentose noventa e oito, donde nos vossa lteza mandoudescobrir a parte oucidental passando alem a grandeza do mar ociano honde he achada e navegadahuma tam grande terra fmc com m:uitas e grandesJlhas adjacentes a ella que se estende a satentagmaos de Ladeza da linha equinocil contr o poloarctico - po1 esta costa sob1edita do mesmo cculoequinocial em diante por vinte e oyto graaos de Ladezacontra o polo antarctico he achado nella munto efino BRASIL com outras muitas couzas de que osnavios deste Reyno vem grandemente cmregados. Attente-se bem no dizer do capo Duarte Pacheco ao Rei:

    anno de 1498, em que vossa majestade nosmandou descobrir a part J occidental, passando almdo mar oceano Atlantico), onde se achou uma terracom abundante e fino PO BRASIL numa distanciade 28 gTos do polo antarctico e 70 do polo aT-dico.Positivamente era a America do Sul, era oBrasil.Duarte Pacheco regressou a Portugal depoisde sua viagem de explora.o e servio de guia aCabral no espalhafatoso descobrimento do Brasil. Masesse espalhafato era necessario para que assim pudesse a diplomacia portugusa dar um choque realna habilidade espanhola e na astucia do Papa Alexanrn e VI, porfiado em lesar o nobre Portugal.

    Os historiadores do Brasil no mencionam o

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    O PRECURSOR DE CABHAL 11nome de Duarte Pa.checo Pereira na lista dos Capites que acompanharam Cabral. Mas Damio deGes, na Chronica e D Manuel, escripta em 1530,na parte I, capitulo LVIII, folha 39, manuscriptooriginal da Torre do Tombo, faz meno de seu:wme, quando eUe recebeu uma instruc.o importante de Cabral.

    :M:a s o proprio Pero Vaz de Caminha em suacarta diz: e assy seguinws nosso caminho por esmar, e longo, at tera-feira oitavas pascho,

    q ~ t foram vinte e um dias e Abril, que topamosalguns signaes e terra. Navegar e longo uma expresso antiga quesignifica - atravessar. Assim, a esquadra de Cabral sahio de Lisboa para atravessar o Atlanticonavegar ele longo) e no para costear a Africaou della se afastar ligeiramente com receio de calmarias, como conta:m. os historiadores patricios.Cumpre notar aqui que, at chegar ao Brasil,a esquadra de Cabral no foi batida por temporaesque a impellissern a um desvio do plano estudadoem Lisboa.No Archivo da Torre do Tombo (mao I, leis,n.o 21 Armario II encontram-se 12 folhas das instruces secretas dada._s a Pedro Alvares Cabral.Contm apenas a 2.a parte das instruoes, faltando as relativas ao Brasil, que foram subtrahidas criminosamente e hoje param no archivo deum opulento colleccionador europeu. Ahi se v oregistro do archivo de Lord Stuart, o mesmo embaixador que carregou para Londres o original doCancioneiro ele Rezende e outros manuscriptos preciosos. A carta de Vaz Caminha permaneceu esquecida durante tres seculos e smente no principiodo seculo passado que foi descoberta. Nesse documento diz o escrivo da Armada:

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    1:2 NOSS PRIMEIR HISTORI

    posto qne o capitarn nwor desta vossafrota e asy os outros capites escreveram a vossaalteza a nova do achamento desta 1 :ossa NovrFTerraIsso quer dizer que Cabral escreveu a d. Manue. Os outros capites que tambcm escreveramforam os companheiros de Cabral nessa viagem,Duarte Pacheco e mcrico Vcspucio, conforme pudemos verificar no estudo dos documentos dessetempo. Essa carta de Pedro lvares Cabral 01rase encontrou entre os importantssimos documentosque pertenoeram a Lord Stuart. Nella se l estetopico que resolve a questo: em obidencia ainstrumn de vasa alteza navegamos no Ocidentec tomamos posse com padram da Terra de va-sa alteza que os antiguos chamavam Brandam on

    Brasil l lMas por que, diro, naturalmente, os curiosos,mas por que houve a comedia do descobrimentodo Brasil em 1500? Essa uma historia que porsi s merece as honras de outro capitulo. E dellase conclue que D Manuel, em verdade, foi umrei afortunado, porque teve os melhores navega;ntese os melhores diplomatas do seu tempo.O seu antecessor p e r d m ~ a Ilha do Brasil pelacom-edia representada por Colombo. E eUe, d Manuel, a recuperou com a comedia de Cabral. Astucia contra astucia, comedia contra comedia. umahistoria interessante que estudaremos de outra. Everemos, ento, a habilidade dum ministro portugus levar de vencida a sophistica dum papa espanhol: lexandre VI. (1)

    (1) O que o leitor acabou rle lr o resumo de um meu livro sobrP odescobrimento do Brasi l, resumo que forneci aos dois mais importantes jornaes d enossa patria 0 Correio da Manh e o Jornal do Commercio , que o publicaram,porm com incorreces levadas a conta do i i n o t y o i ~ t a do revisor e da minha pes-

    ~ i m e quasi ltieroglifica escripta. Reproduzindo-o aqui, emltora no faa parte dacbra Nossa primeira historia , penso despertar a atteno dos estudiosos i_para omeu livro proximo: O Desc Jbriinento do Brasil, com reproduces de mappas dosseculos X V e XV e documentos interessantissimos em .fac-si:milcs.

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    Fw: simile da vrimeira pagina da carta de aminha em 5u

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    f a ( - s i ~ ~ t i l e da ultima pagina Ja carta Je aminha em 15

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    arta de Pero Vaz de aminha a D. 1\lanuel

    A primeira pagina da nossa historia foi incontestavelmente a cartanarrativa de Pero Vaz Caminha, descoberta em 1807 na Torre doTombo pelo padre Ayres do Casal. Ei-la, na integra:

    posto que o capitam moor desta vossa frota e a syos outros capitaes serenam a vossa alteza a nouado achamento desta vossa terra noua que se oraneesta n a u e g ~ o m 8Jchou nom leixarey ta.mbem dedar disso minha nomta a vossa alteza a sy como eumilhar poder aimda que para o bem contar e fa.laro saiba pior que todos fazer pero tome vossa altezaminha inoramia por boa von}ltade, a qual bem oertocrea que por a f r e m o s e n t a J : ~ nem afear aja aquy depocr mais ca aquilo que vy e me pareceo) damarinhajem e simgraduras do caminho nom dareyaquy comta a vossa alteza porque o nom saberey fazer e os pilotos deuem tecr esse cuidado,e por tanto siior du que y de falar comeodigno.que a partida de belem como vosa alteza sabefoy segunda feira ix de maro. e sabbadJ xiii dodito mes amtlle as biii e ix oras nos achamos antreas canaveas mais perto da gram eanarea e alyamdamos todo aquelle dia em calma a vista delasobra de tres ou quatro legoas. e domingo xxij dodito mes aas x oras pouco rnis ou menos ounemosvista das ilhas do cabo verde. s. da ilha de samnicolaao. s.egw1do dito de pero escolar piloto, e anoute seguimte aa segunda feira lhe amanheceo seperdeo da frota vaasoo d ntayde com a sua uaao

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    14 NOSSA PRIMEIRA HISTORIAsem hy auer tempo forte nem contrairo pera poderseer. fez o capam suas deligenias pera o achara huas e a outras partes e nom pareeo mais. Easy seguimos nosso caminho per este mar de lomgoataa tera feira doitaua.s de pascoa que foram: xxidias d abril que topamos alguiis synaaes de teraseemdo da dita ilha: segundo os pilotos deziam obrade bi ix ou lxx Jegoa;s. os quaes heram muita cam-tidade derua.s compridas a que os mareantes cha-mam bOJtelho e asy outras a que tambem chamamRabo da.sno. E aa quarta feira seguinte pola manhatopamos aves a que chamam fwa buchos. e neestedia a oras de bespera ouuemos vista de tera. s. pri-meiramente d huum gramde monte muy alto e Re-domdo e d outras serras mis baixas ao sul dele ede terra chaam com gramdes aruoredos ao qualmonte a-lto o capitam pos nome o monte pascoal Eaa tera a tera da vera cruz. mandou lamar o p;rumoacharam xxb braas e ao sol posto obra ae bj legoasde tera swginios amco:::as em xix braas amcorajemlimpa. aly jouuemos toda aquela noute e aa quimtafeira pola manha fezemos velh e seguimos di-reitos aa terra e os nauios pequenos dia nte himdopor xbii xbj xb xiiij xiij xij x E ix braas ataa mealegoa de terra omde todos lanamos amcorasem direito da boca de huum Rio e mais oumenos e daly ouuemos vista d homees que rumdauam pela praya obra de bij ou biij segw1dochegaramos a esta amcorajem aas x oras poucomais ou menos e daly ouuemos vista d homees queamdauam pela praya obra de bij ou biij segundoos nauios pequenos diseram por chegarem primeiro.aly lanamos os hatees e esquifes fora e vieramlogo todolos capitaes das naaos a esta naao docapitam moor e a.1y falaram. e o capitam mandou

    1 66 ou 67 leguas

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    A CARTA DE CAMINHA 15o babel em t.mTa nicolaao coelho pera veer aqueleRio e t.a.mto que ele comeou pera la d hir acodirampela praya homees quando dous quando tres de

    :maneira que quaJr do o batel chegou aa boca doRio heram aly. xbiij ou xx: homees pardos todosnuus sem nenlma c o u s ~ que lhes cobrise sua3 ver-gonhas. tra.zia.m arcos nas na.os e suaa seetas.vynham todos Rijos pera o batel e nicola.ao coelholhes fez sinal que posesr:m os arcos e eles os po-seram aly nom pode deles auer fala nem entendi-mento que apil:oveitasse polo mar quebrar na costa,soomente deu lhes huum ba.rete vermelho e hufiacarapua de linho que leuaua na cabea e lmumsombreiro preto. E huum deles lhe deu huum som-breiro de penas d aue s compridas com hua copezi-nha pequena de penas vermelhas e pardas comade papagayo e outro lhe deu huum Ramal grandede comtinhas braJlcas meudas que querem parecerd aljaueira as quaaes peas croo que o capitammanda a voss.a alteza e com isto se volueo aa.snaaos por ser tarde e nom poder deles auer maisfala por aazo do mar.a 11oute .seguinte ventou tamto sueste com clmua-ceiros que fez caar as naaos e especialmente acapitana E aa sesta pola manha.. aas biij oraspouco mais ou menos per conselhos dos pilotosmandou o ca;pd.tam leuamtar amcoras e fazer velae fomos de lomgo da costa com os batees e esquifesamarados per popa oomtra o norte peua ,veer seachauamos alguua abrigada e boo pouso omdejouuesemos pera tomar agoa e lenha. nom por nosminguar mas por nos aoertarmos aquy e quamdofezemos vela seriam ja na praya asentados jumtocom o Rio obra de lx ou .lxx homees que se jum-ta.ram aly poucos e poucos / fomos de lomgomandou o capitam aos. nauios pequenos que fosemmais chegados aa terra e que se achasem pouso

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    lt:i NOSSA PRU EIRA HISTORIAseguro pera as naaos que amayna.sem. E seendonos pela costa obra de x legoas domde nos leuam-ta.mos acharam os ditos nauios IJcquenos huum aRe-cifc com huum porto dentro muito hoo e muitoseguro com hua muy larga entrada c meteram sedentro e amaynaJ'am. e as na.aos aRibaram so-brelcs. e huum pouco amt.e sol posto ama.ynaramobra d hua lego:a. do aRecife e ancoraram se cmxi braas. seendo afonso lopez nosso piloto emhuum d aqueles nauios pequenos per mandado docapitam por seer homem vyuo e deestro pcra issometeo se loguo no esquif.e a somdar o pmio demtroe tomou em hua. alma.adia dons d aqueles homeesda terra mancebos c de boos corpos. e huum delestrazia huum arco e bj ou bij .seetas e na prayaandaua.m muitos com seus arcos e s.eetas e nomlhe aproueitaJam trouue os logo ja de noute aocapitam omde foram Recebidos com muito prazer efesta.a feiam deles he s ~ m pardos maneira clauermelhados de bos Rastros e boos naJ izes bemfeitos (amdam nuns sem nenhuia cubertura nemestimam nenhua cousa cobrir nem mostrar suasvergonhas. e estam acerqua; disso com tanta ino-cemcia como teem em mostrar o Rostro.) traziamambos os beios de baixo furados e .metidos per eles senhas osos c oso bramcos de compridam dhua mao trauessa o de grosura d huum fuso dalgodam e agudo na poll ta coma furador. metemnos pela pa.rte de detntro do beio e o que lhefica n t l ~ e o beio e os demtes he feito coma Roqued enxadrez e em t l ma.neira o trazem a Iy em-caxado gue lhes nom da paixam nem lhes torna afala nem comer nem beber_ os cabelos seus samcoredios c a.mda na m trosquiados de trosquya altamais que de sobre pemtem de boa gramdura eRapados ataa por cima das orelhas. c huum deles

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    A CARTA DE CAMINHA 17trazia per baixo da solapa de fonte a f01nte peradetras huna maa

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    18 NOSSA PRD EIRA HISTORIAper hufa albaJ'ada. tomaram dela sonhos bocados enam beberam. soomente lauaram as bocas e la.m-aram fora. vio hunnr deles huas contas .de Rosairo brancas. acenou que lhas desem e folgou muitocom elas e lanou ao pescoo e despois tirou ase enbrulhou as no brao e acenaua pera a terra eentam pera as contas c pera o colr do capitamcomo que dariam ouro por aquilo. Isto tomauamonos asy polo desejarmos, mas se ele queria dizerque 'leuaua as contas e mais o colar. isto nomqueriamo nos emtender porque lho nom aviamosde dar e despois tornou as contas a quem lhasdeu e entam estirara.m se asy de costas na alcatifa a dormir sem teer nenh.ui.a m:meira de cobrirem suas vergonhas as quaaes nom heram fanadas e as cabeleiras delas bem Rapradas e feitas. o capitam lhes m ndou poer aas cabeas senhoscoxiis e o da cabeleira precuraua asaz polia nomquebraJ' e lanaram lhes huum manto em cima eeles consentiram e jouueram e dormiram.ao sabado pola manha mandou o capitam fazervella e fomos demamdar a -emtrada a qual era muylargua e alta de bj bij br as e entraram todalasnaaos demtro e amcoraranr se em b bi bra.as fa qual amcorajem dentro he ta;rn gramde e tamfremosa e tam segLITa que podem ja7Jer dentro neelamais de IJ c nauios e naaos. e tamto que as naaosforam pousadas e amcorada.s vieram os capitaestodos a esta naao do capitam moor e d aquy mandou o capitam nicolaao coelho e bertolameu dyzque fosem em terra e leuasem aqueles dous homes e os leixasem hir com seu arco e seetas.aos quaaes mandou dar senha.s camisas nouas esenhas carapuas vermelhas e dons Rosairos decontas brancas d oso que eles leuauam nos braose senhos cascauees e senhas campainhas. e mamdou com eles pera. ficar a huum mancebo deg-ra

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    A C RT DE C MINH 1 1

    dado criado de dom joham teelo a que chamamafonso Ribeiro pera ~ n d r la com eles e saber deseu viuer e maneira e a mym mandou que fosecom nicolaao coelho. fomos asy de frecha direitosaa praya I a.ly acodiram logo obra de IJc 1 ho-mens todos nuus e com arcos e sootas nas maos.aqueles que nos leuauamos acenaram lhes que seafastasem e posesem os arcos e eles os poserame nom se aiastauam muito_ I abasta que poseramseus arcos e emta.m sairam os que nos leuauamose o mancebo degradado com eles. os quaaes asycomo sa.iram nom pararam mais nem esperaua huumpor outro se nom a quem mais coreria e pasaramhuum Rio que per hy core d agoa doce de muitaagoa que lhes daua pela braga e outros muitoscom eles e foram asy corendo aa.lem do Rio antrehuus montas ele palmas onde estauam outros ealy pararom e naquillo foy o degradado com huumhomem que logo ao sahir do batel ho agasaJ11oue leuou o a.taa. la e logo ho tornaram a nos e comele vieram os outros que nos leuauamos os quaesvinham ja nuus e sem carapuas. E entam se co-mearam de chegar muitos e emtrauam pela beirado mar pera os ba.tees ataa que mais nom podiame traziam caba,a,os d agoa e tomauam alguus barysque nos leuauamos e emchian os d agoa e trazianos aos batees. nom que eJes de todo chegasem abordo do batel. mas junto com ele lanauam noda ma.o e nos tomauamol os e pediam que lhesdesem aJguua cousa leuaua nicolaao coelho cas-cauees e manilhas e huus daua hnwn cascauel ea outros huua manilha. de maneira que com aquelaemcarua casy nos queriam dar a mao. Danam nosd aqueles arcos e seetas por sonbreiros e cara-puas de Linho e por qualquer cousa que lhes homem

    D u z t } n f o ~ .

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    2 NOSS PRIMEIR HISTORIqueria dar / Daly se partiram os outros dous man-cebos que nom os vimos mais.amdauam aly muitos deles ou casy a maiorparte que todos traziam aqueles bicos d oso nosbeios e algus qne amdauam sem eles traziam osbeios furados e nos bura,eos traziam hus espe-lhos de paao que pareciam espelhos de borachae alguns deles traziam tres d aqueles bicos. s.huum na metade e os dons nos cabos. e amdauamhy outros quaJ:tejados de cores. s. deles ameetadeda sua propria cor e ameetade de timtura negrD-maneira d azulada c outros qua.rtejados d esca-ques. nly amdauam autreles tres ou quatro moaJSbem moas e bem jentiis com cabelos mnito pretosconpridos pelas espadoas e suas vergonhas tam al-tas e tam aradinhas e tam limpas das cabeleirasque de as nos muito bem olharmos nom tynhanwsnenhua vergonlm. aly por emtam nom ouue maisfala nem emtentlinHnto com eles por a herberia~ l s seer tamanha que se nom emtemdia. nemouuia ninguem. a.cenamos lhe que se fosem easy o fezera m e pasaran se aalem do Rio e saira,mtres ou quatro homees nosos dos batees e emche-ram nom sey quantos ba.rrys d agoa que nos leuaua-mos e tornamo nos aas naaos.

    e em nos asy vyndo acenaram nos que tor-nasemos. tornamos e eles mandaram o degra-dado e nom quiseram que ficase la com eles. oqual leuaua ha baeia pequena e duas ou tres ca-rapuas vennelhas pera dar la ao Sor se o hyouuese. nom cmaram de lhe tomar nad::t e asyo mandaram om tudo e entam bertolameu dyz ofez outra v ~ tornar que lhes dese aquilo. e eletornou e deu 11quilo em vista de nos aaqnele queo da primeira agasalhou e enta.m voo se trouuemo1o. este que o agasalhou era ja de dias e amdauatodo por louaynha cheo de penas pegadas pelo

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    A C RT DE C MINH 21

    corpo que parecia aseetado coma sam sabastiamoutros traziam carapuas d.e penas amarelas e outros de vermelhas e outros de verdes e hua daquelas moas era toda timta de fumdo a cimad aquela tintura a qual certo era tam bom feita etam Redomda e sua vergonha que ela nom tynhatam graciosa que a muitas molheres da nossa te rraveemdo lhe taaes feies fezera vergonha por nomteerem a sua comeela nenhuum deles nom erafanado mas todos asy coma nos e com isto nostornamos e eles foram seaa tarde sayo o capitam moor em seu batelcom todos nos outros e com os outros capitaes dasnaaos em seus batePs a folgar pela baya a caramda praya mas nimg uem sayo em tera polo capitamnom querer sem ewbargo de ninguem neela estarsoomente sayo ele com todos em huum ilheeo grandeque na baya esta que de baixa mar fica muy vaziopero he de todas partes cercado d agoa que nompode ninguem hir a ele sem barco ou a nadoaly folgou ele e todos nos outros bem ha ora emea e pescaram ~ amdando marinheiros com huumchimchorro e mataram pescado mcudo nom muitoe entam voluemo no.s aas naaos ja bem nouteao domingo de pascoela pela manha detreminouo c ~ p i t m d hir utr misa e preegaam naqueleilheeo e mandou a todolos capitaes que se co-rejesem nos batees e fosem com ele e asy foyfP-ito. mandou naquele ilheeo armar huum es-perauel e dentro neele aleuantar altar rnuy bemcoregido e aly com todos nos outros fez dizermisa a qual dise o padre frey annique em vozentoada e oficiada com aquela meesma voz pelosoutros padres e sacerdotes que aly todos herama qual misa segumdo meu parecer foy ouuida pertodos com muito ptrazer c deuaom aly era como capitam a bandeira de christos com que sayo de

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    22 NOSS PRIMEIR HISTORIbelem a qual esteue sempre alta aa parte do auan-jelho_ acabada a misa desuestio se o padre epose se em hua cadeira alta e nos todos lam-ados per esa area e preegou hua solene eproueitosa preegaom da estoreo do avangelho. eem fim dela trautou de nossa vynda e do acha-mento desta terra conformando se com o sinal dacruz so cuja obediencia vymos a qual veo muitoa preposito e fez muita deuaom.em quanto esteuemos aa rriisa e aa preegayomseriam na praya outra tanta jente pouco mais oumenos como os d omtem com seus arcos e seeta.sos quaaes amclauam folgando e olhando nos e asen-taram se. e despois d acabada a misa aseen-tados rnos aa preegaom aleuantaran se mui-tos deles e ta.njeram corno ou vozina e co-mearam a saltar e danar huum pedao. e al-gufrs ~ l e s se metiam em almaadias duas ou tresque hy tynham as quaaes nom sam feitas como asque eu ja vy. soomemte sam tres traues atadas jum-tas e aly se meliam iiij ou b ou eses que queriamnom se afastando casy nada da terra se nom quantopodiam tomar pee ae;abada a preegaom moueuo capitam e todos pera os batees com nosa ban-deira alta e embarcamos e fomos a sy todos contraterra pera pasarmos ao longo per ond eles estauamhindo bertolameu dyz em seu esquife per mandadodo capitam diamte com huum paao d hua al-maadia que lhes o mar leuaua pera lho dar e nostodos obra de tiro de pedra tras elle. como ellesviram ho esquife de bertolan1eu dyz chegaram selogo todos a agoa metemdo se neela ataa ondemais podiam. acenaranlhes que po sesem o arcos emuitos deles os hiam logo poer em terra e outrosos nom ptmham. amdava hy huum que falaua muitoaos outros que se afastasem mas nom ja que m amym parecese que lhe tynham acatamento nem

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    A CARTA DE CAMINHA 23medo j este que os asy amdaua afastamdo traaseu arco e seetas e amdaua timto de timtura vermelha pelos peitos e espadoas e pelos guadrys coxase pernas ataa baixo. e os vazios com a hariga eestamego era da sua propria cor e a timtura eraasy vermelha que r agoa lll a nom comya nemdesfazia ante quando saya da agoa era mais vermelho sayo huum homem do esquife de bertolameudyz. e a.ndaua antrele.s sem eles emtenderem nadaneelo quanta pera lhe fazerem mal. se nom quamtolhe dauam cabaaos d agoa e acenauam aos doesquife que saisem em terra com isto se volueobertolameu dyz ao capitam e viemo nos aas naaosa comer tanjendo tronbetas e gaitas sem lhes darmais api :'Csam e eles tornaram se a asentar napraya E asy por entam ficaram.neeste ilheo omde fomos: ouuir misa e preegaamespraya muyto .a agoa e descobre muita area emuito cascalhaao. foram alguus em nos hy estamdobuscar marisco e nom no acharom. e acharar11 alguscamaroes grosos e curtos. j aJltre os quaaes vynhahuum muito grande cama.ram e muito grosso queem nenhuum tenpo o vy tamanho tambem acharomcascas de bergoes e d ameiieas mas nom toparamcom nenhua pea inteira e tamto que comemosvieram logo todolos capita1es a esta naao per mandado do capitam moor com os quc1es se ele apartoue eu na companhia e preguntou asy a todos senos pa.r:ecia see:r bem mandar a noua do achamentodesta terra a vosa alteza pelo nauio dos mantimentos pera a milhor mandar descobrir e sabPrdela mais do que iagor>t nos podamos saber porhirmos de nosa viajem t ; a.ntre muitas falas queno caso se ~ e z e r m foy per todos ou a mayor partedito que seria muito bem. e niisto comcrudiram. je tamto que a ooncrusam foy tomada. preg-umtoumais se seria. boo tomar aquy pe.r fora huum par

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    24 NOSSA PRIMEIRA HISTORIA

    dest.es homes pera os manda.r a vosa alteza eleixar aquy por eles outros dous destes degradados.I a esto aoordaram que nom era neoesareo. tomarper fora homes. por que jeeral costume era dosque a.sy leuauam per for.a pera algu parte dizm em que 11a hy todo o que lhe p ~ - - e g u n t a m eque milhor e muito milhor enformaom da terradariam dous homes destes degradados que aquyleixasem. do que eles dariam se os leuassem. porseer jente que nimguem emtende nem eles tam cedoapremderiam a falar pera o saberem tam bem dizer que muito milhor ho estoutros nom digam quandoca vosa alteza mandar c que por tamto nom curasemaquy de per for.a tomar nimguem nem fazer escandolo pera os de todo mais amansar e apaceficar.I senom soomCinte leixar aquy os dous degradadosquando daquy partisemos. I e asy por milhor parecer a todos ficou detrcminado.acabad.o isto. dise o capitam que fosemos nosbatees em te;rra e veersia bem o Rio quejamdo erae tambem pera folgarmc.s. I fomos todos nos bateesem tera armados e a bandeira com nosco. elesamdau.am aly na praya aa boca do Rio omde noshiamos e ante que chegasemos. do emsino quedantes tiinham poseram todos os arcos e ac-enauamque saisemos e tanto que os batees .poseram aspl oas em terra pasaram se logo todos aalem doRio o qual nom he mais ancho ,que huum jogode manquaJ e tanto que desenba;rcamos. alguns dosnosos pasarom logo o Rio e foram antre elles. Ie alguiis agna.rdauam e outros se afastauam. peroera a cousa de maneira que todos amdauam mesturados eles danam deses arcos com suas seet,aspor sonbre.iros e carapuas de linho e por quallquercousa que lhes danam. pasaram aalem truntosdos nosos e amdauam a.sy mesturados com eles.que eles se esquiua.ua.m e afastauan se e hian se

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    A CARTA DE C A ~ N H A 25deles pera cima ondo outros estauam e entam oca.pitam feze se toma.r ao colo de dous homeese pasou o io e fez tornar todos. I a jente quoaly era nom seria mais ca aquela que soya. I etanto que o ca.pitam fez tornar todos vieram algunsdeles a ele nonr polo conhecerem por S.or ca meparece que uom entemc1em nem tomauam disso co-nhecimento mas porque a jente nossa p ~ s u japera a.qucm do Rio. I a.ly fala.ua.m e traziam muitosarcos e continhas daquelas ja ditas e Hesgatauampor qualquer cousa. eni tal maneira que trouueramda.ly pera as naa.os muitos arcos e seetas e comtaae entam tornou se o capitam aaquem do Rio e 'logoacodiram muitos a.a beira dele.aly veriees galantes pimt111dos: de preto e ver-melho e quartejados asy pelos corpos como pela. >pernas que certo pareciam asy bem. / tambemandauam ant11eles IIIj ou b molheres moas asynuas que nom pareciam mal a.ntre as qua.aes am-daua hua. com huu, coxa do giolho ataa o qua-dril e a nadega toda tinta daquela tintura pretae o al todo da sua propria cor. outra trazia anbolos

    ~ i o l h o s com as curuas asy timtas e lambem oscolos dos pees e suas vergonhas tam nuas e comtanta inooemcia descubertas que nom avia hy ne-nhua vergonha tambem andaua hy outra molhermoa com h uum Ine1lino ou menina no colo atadocom huum pano nom sey de que aos peitos quelhe nom parecia senom as perninhas. mas aspernas da may e o al nom trazia nemhuum pano. Ie despois moueo o capitam pera cima ao longo doRio que anda senprre a caram da praya e aly es-perou huum velho que trazia na mao Im paad alma,adia. I falou e s ~ t n d o o capitam com ele pe-mnte nos todos sem o nunca nimguem emtendernem ele a nos quanta cousas que homem pregum-taua d oUI O que nos desejauamos saber se o avia

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    26 NOSS PRIMEIR HISTORIna teiTa. trazia este velho o beio tam fumdoque lhe caberia pelo furado huum gram dedo polegare trazia metido no furado huia pedra verde Roimque araua per fora aqueJe buraco e o capit.amlha fez tirar e ele nom sey que diaabo falaua ehia com ela pera: a boca. do capitam pera lha me-ter. esteuemos sobriso huum pouco Ryndo e en-tam enfadou se o capitam e leixou o. e huum dosnosos deu lhe pola pedra huum sonbreiro ueihonom por ela valer algu cousa mas por mostrar.e despois a ouue o capitam. creo pera com asoutras cousas .a mandar a vosa alteza amdamosper hy veendo a Ribeira a qual he de muita agoae muito boa. o long'D dela ha muitas palmasnom muito altas em que ha muito boos palmitos.colhemos e comemos deles muitos. entam rtor-nouse o ca.pitam pera baixo pera a boca do Rioonde desEmbarcamos e aalem do Rio amclauam mui-tos deles damamdo e folgando hui.s ante outroosem se tomarem pelas maos e faziam no bem.pasouse emtam aalem do Rio Diego Dyz almoxa-

    r i ~ que foy de sacauem que he homem graciosoe de prazer e leuou comsigo huum gayteiro nosocom sua gaita e meteo se com e1es a danar to-mando os pelas m:::.os e eles fiolgauam e Riame amdauam com ele muy bem ao .soom da gaita.Despois de danarem fez lhe aJy amdando no chaomuitas voltas ligeiras e salto Retal de que se elesespantauam e Riam e folgauam muito. e com qua.ntoos com aquilo muo segurou e afaagou .toma.uamlogo huia esquiueza coma ntonteses e foran sepera cima entam o capitam pasou o Rio comtodos nos outros e fomos pela pra.ya de longo himdoos batees asy a c m ~ m de terra e fomos ataa huulagoa gramde d agoa doce que esta jumto com apraya porque toda aquella Ribeira do mar he apau-lada per cima e saay a agoa per muitos lugares

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    A CARTA DE C ~ I I N H 27e depois de pasarmos o Rio fora.m huis bij ou biijdeles amdar a.ntre os m::ninheiros que se Recolhiamaos batees e leuaJarn aly huum tubaram quebertolameu dyz matou e leuaua lho e lanou ona praya abasta que a.taaquy como quer quese eles em algua parte amansasem logo dhu mampera a outra se esquiuauam coma pardaae.s de cenadoiro e homem nom lhes ousa de falar Rijo porse mais nom o s q u i u m ~ e m _ e t.odo se _pa.sa como elesquerem polos bem amansar ao velho om queo capitam faJou deu hua carapua vermelha ecom toda a fala que com ele pa sou e com a carapua que lhe deu. tanto que se espedio que comeou de pasar o Rio. foi se logo Recatando. enom quis mais tornaJ. do Rio pera -aquem. osoutros dous que o ca.pitam teue nas naaos a quedeu o que ja dito he. nurnca aquy mais pareceramde que tiro seer jente bestial e de pouco saber epor ysso sam asy esquiuos. eles porem comtudoandam muito bem ctrrados e muito limpos .e naquilo me paroce aimda mais que sam coma avesou alirnareas monteses que lhes faz ho aar rnilhorpena e rnilhor cabelo que ruas mansas / porqueos corpos seus sarn ta.m limpos e tam gordos etam fremosos que norn pode mais seer e isto mefaz presumir que nom teem casa.s nem morada-sem que se colham e o a .a que se criam os faztaes. nem nos ainda t a a g o ~ a noam _vimos nenhas casas nem maneira delas f mandou o capitarn a aquele degradado afonso Ribeiro que sefosse outra vez com eles. o qual se foy e andoula huum bo pedao e aa tarde ornou se que ofezerarn eles vyr e norn o quiseram la consemtire deram lhe arcos e seetas e nom lhe tomaromnenhuu cousa do seu. ante dis e ele que lhetornara huum deles huas continl1as amarelas queele leuaua e fogia com ela.s e ele se queixou

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    28 NOSSA PRIMEIR \ HISTORIAos outros foram logo apos ele e lhas tomaram etornaran lha.s a dar e emtam mandaram no vijr.dise ele que 11om vira la antre eles se nom huuschoupaninha.s de Rama verde e de feeitos muitograndes coma d antre doiro minho e asy nostornamos aa.s naaos ja casy noute a dormir.

    aa segumda feira de Pois de comer samos todosem terra a tomar agoa aJy vieram emtam muitos.mas nom tamtos coma:1s outras vezes e traziamja muito poucos arcos e esteueram asy huum poucoafast

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    A CARTA DE I rUilNHA

    ataa cima da s Ol'elhas.l c asy as sobrancelhas epestanas. traZ em todos as testt1s de fonte a fomtetimtas de timtura preta quo pareoe hua. fita pretaancha de dous dedos. E o capitam ma.ndon aaqueledegradado afonso Ribeiro e a outros dons degradados que fosem amdar la antreles c asy a diogodyz por ser homem ledo com que eles folga.nam.c aos degradados mandou que fica.sem la esta noute.foram se la todos e andaram antreles e segumdoeles deziam foram bem hua legoa e mea a huapouoraom de casas em que averia ix: ou x casasas quaaes deziam que eram tam conprida.s cadalm, com eosta naao capitana e heram de madoira e das ilhargas de tauoas e cuberta.s de palhade Rozoada altura e todas em hua soo casa semnenhuum Repartimento tynham de dentro muitosesteos e d esteo a esteo huua Rede arada plosc a bos em cada esteo .altas cm que dormiam e de-baixo pera se aquentarem faziam seus fogos etynha cada ca.sa duas portas pequenas huu .emhuum cabo e outra no outro. c deziam que emcada casa se colhiam x:x:x ou R I pesoas e queasy os achauam e que lhes danam de comer da-quela vianda qUJe eles tynham s. muito inhamee outras sementes que na terra ha que eles comem.e como foy tarde fezeram nos logo todos tornar enom quiseram que .la ficasse nenhuum e aimda se-gumdo eles deziam queriam se vyr com eles /Resgataram la por eascaues e por outras cousinhasde pouco ualor q lle leuauam papa.gayos vermelhosmuito grandes e fremosos. e dons verdes peque-ninos c c.arapua.s de; penas verdes e huum panode penas do muitas cores maneira de tecido asazfremoso segumdo vosa alteza todas estas cousa.s

    Quarenta

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    30 NOSSA PRIMEIRA HISTORIA

    vera porque o capitam volas ha de mamdar se-gumdo ele dise. e oom isto vieram. e nos torna-monos aas naaos.aa tera feira depois de comer fomos em terradar guarda de lenha e lanar Roupa. J estauamna praya quamdo chegamos obra de lx: ou lxx semarcos e sem nada. tamto que chegamos vieramse logo pera nos sem se esquiua:mm f e depoisacodira.m muitos que seriam bem nc todos semarcos. e mesturaram se todos tanto com nosco

    que nos ajudauam deles a aoaretar lenha e meternos batees e luitauam oom os nosos e tomauam muitoprazer E emquanto nos fazamos a lenha. fa-ziam dons carpenteiros hua grande cruz d huumpaao que se omtem pera ysso cortou muitos de-les vynham aly estar com os carpenteiroR e creoque o faziam mais por veerem a faramenta deferro com que a faziam que por veerem a cruzpor que eles nom teem cousa que de fero seja ecortam sua madeira e paaos com pedras feitas comacunhas metidas em huum p ~ o antre duas talasmuy bem atadas e per tal maneira que andamfortes segumdo os homees q ne omtem a suas ca-sas deziam porque lha.s viram la. .era ja a oo-muersa.am deles com nosco tanta que casy nostoruauam ao que aviamos de fazer. E o capi-tam mandou a dons degradados e a diogo dyz quefosem la a aldea e a outras se ouues.em de las nonase que em toda maneira nom se viesem a dormir asnaaos. aimda que os eles mandasem e asy se fo-ram. em qua nto andauamos neesa mata a cortara lenha atrauesauam algus papa.gayos per esasaruores deles verdes e nutros pardos grandes epequenos de maneira que me parece que avera nestaterra muitos pero eu nom veria mais que ataa ix

    1 Duzentos.

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    A CARTA DE CAMINHA 31ou x. outras aues entam nom vimos somente al-guas ponbas seixas e pareceram me mayores emboa camtidadc ca a.s de portugal algus .de ziamque viram Rolas mas eu nom as vy ma.s segumdoos aruoredos sam muy muitos e gramdes e d im-fimda.s maneiras nom douido que per ese sartaoajam muitas aues. E acerqua da noute nos volue-mos pera as naaos com nossa lenha. eu creoS.or que nom dey aimda aquy oonta a vosa al-teza da feiam de seus arcos e ~ m e t s os ar-cos sam pretos e compridos e as seetas oomp1ida se os feros delas de canas aparadas segumdo vosaalteza vera per algus que creo que o capitama ela ha d emuiar.aa quarta feira nom fomos em terra p queo capitam andou todo o dia no nauio dos man-timentos a d e s p e ~ l o e fazer leuar aas naaos issoc.ada hua podia leuar. eles acodiram aa prayamuitos segumdo das naaos vimos que seuiam obrade iij0 segundo sancho de toar que la foy dise.diego dyz e afonso Ribeiro o degradado a que ocapitam omtem mandou que em toda maneira ladormisem volueranse ja de noute por ele s nomquererem que la dormisem e t r o u u e ~ r m papagayosverdes e outras aue s pretas casy coma pegas senom quanto tinham o bico bramco e o s Rabos cur-tos. e quando se sancho de toar Recolheo aa naaoquerian se viir com ele algus mas ele nom quisse nom dous mancebos despostos e homes de prol /mandou os esa noute muy bem pemsar e curar ecomeram toda vianda que lhes deram e mandoulhes fazer cama de lenooes segtmdo ~ dise dormiram e folgaram aquela noute e asy nom foymais este dia que pera spreur seja.aa quimta feira deradeiro d abril comemos logo

    Irezentos.

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    32 NOSSA PRiiiiEIRA RlSTORIAcasy pola ma.nha e fomos em terra por mais le-nha e agoa e em quel'endo o capitam sair destanaao chegou saJlcho de toar com seus dous os-pedes e por ele nom teer ainda comido poseranlhe toalhas e veo lhe vianda e con1eo os os-pedes asentaram nos em senhas cadeiras c de todoo que lhes deram comeram muy bem especialmentelacam cozido frio e aRoz. nom lhes deram vinh;)por sa.ncho de toar diZJer que o nom bebiam bem.acabado o comer metemo nos todos no batel e elescom nosco:. j deu hmm1 gromet.e a huum deles lmiiaarmadura grande de porco montes bem Reuolta etamto que a tomou met.eo a logo .no beio e porque se lhe nom queria teer. deram lhe huia pe-quena de cera vermelha e ele corejeo lhe de trasseu a.deremo pera se teer e meteo a no beioasy Reuolta pera cima. e viinha tam comtentc ootmela como se teuera hua grande joya. e tamtoque saymos em t.erra foi se logo com ela. qu?nom pareceo hy mais. andariam na praya quandosaymos biij ou x deles e d hy a pou Co comeruaJnde viir. e pai ece me que viinriam este dia aapraya iitj c ou ijc 11. tra.ziam alguf1s deles arcose seetas e todolos deram por carapuas e por quallquer cousa que lhes davam comiam com noscodo que ~ h s danamos e bebiam alguns del-es vi-nho e outros o nom podiam bebeT mas parece meque se lho avezarem que o beberam de boa v -tade. andauam todos tam despostos e tam bemfeitos e galamtes com suas timtmas que pareciambem. acaretauam desa lenha quamta podiam commuy boas uomtades e leuauam na aos batees eandauam ja mais mansos e seguros antre nos doque nos amdauamos antreles foy o capitam comalguis de nos huum' pedao per este aruoreclo ataa

    1 400 ou 450.

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    A C RT DE C MINH 33llui.a Ribeira grande e de multa a.goa que a noso} areoer era esta meesma, que vem tecr aa pr

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    34 NOSSA PRIMEIRA HISTORIAnenhu alimarea que custumada seja ao viuer doshomes nem comem se nom dese inhame que aquyha muito e desa semente e fruitos que a tera eas aruores de sy lanam e com isto andam taaese tam Rijos e tam nedeos que o nom somG nostamto com quanto trigo e legumes comemos I emquanto aly este dia amdaram senpre ao soom dhuum tanbory nosso dana;ram e bailha;ram comos nosos I em maneira que sam muito mais nososamigos que nos seus I se lhes ;homem acenaua sequeriam viir aas naaos fazian se logo prestes peraisso em tal maneira que se os homem todos qui-sera conuidar I todos vieram porem nom t;rouue-mos esta noute aa s naaos senom iiij ou b. s ocapitam moor d.ous e sima:m de miranda huum quetrazia ja por paje e aires gomez outro asy paje Ios que o capitam trouue era huum deles huum dosseus ospedes que aa primeira quando aquy chegamoslhe trouueram o qual veo oje aquy vestido nasua camisa e com ele huum seu irmao os quaaesforam esta noute muy bem agasalhados asy devianda como de cama de colchoos e lenooes polosmais amansar.

    E oje que he. sesta teira primeiro dia de mayopola manha saymos em terra com nossa bandeirae fomos desenbarcar acima do Rio contra o sulonde nos parecoo que seria milhor chantar a cruzpera seer milhor vista. e aly asiinou o capitamonde f ~ s m a coua pe:ra a cha ntar E em quantoa ficaram fazendo I ele com todos nos outros fo-mos pola abaixo do Rio onde ela estaua I trou-uemola d aly oom eses Relegiosos e sacerdotesdiante cantando maneira de pcr ecisam. I herarn jahy alguns

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    6 NOSSA PRIMEIRA HISTORIAmais deuaam. I eses que aa preegaam senpreestcmeram estauam asy coma nos olhando pera ele.e aquele que digo. chamaua alguis que viesem peraaly. ,alguns viinham a outros hiam se e acabadaa preegaom. trazia nicolaao coelho muitas cruzes estanho com cruxufios que lhe ficarom a.imdada outra viinda, e ouueram por bem que lanasemu caa huum sua ao pescoo. I pola qual cousa seasentou o padre frey mrrique ao pee da cruz ealy a huum ~ huum lanaua sua atada em huumfio ao pescoo fazendo lha primeiro beijai e aleuantar as maos. Vinham a isso muitos e lanaram nas todas. que seriam obra de R ou L Ie isto acabado era ja bem hua ora depois do meodia. I viemos aas naaos a comer mnde o capitmntrouue comsigo aquele meesmo que fez aos outrosa.quela mostrama pera o altar e pera o ceeo ehuum seu irmao com elle ao qual fez muita homTae deu lhe hua camisa mowisca. e ao outro hUacamisa destoutras. I E segundo o que a mym ea todos pareceo. esta jemt-e nom lhes falece outracousa pera seer toda xpa. 2 ea entemderem nos. Iporque asy tomaua.m aquilo que nos viam fazer eomanos meesmos prer onde pa.reoeo a todos que nenhuaidolatria nem a.dorruom teem. I E bem creo quese vosa alteza aquy mandar quem mais antrelesde vagar a.nde que todos e r ~ m tornados ao desejo de vosa alteza. I e pera isso se alguem viernom leixe logo de viir clerigo pera os bautizarpor que ja emtam teeram mais conhecimento denossa fe pelos dous degradados que aquy antr elesficam os quaaes a m b ~ s oje tambem comungaram. Iantrc todos estes que oje vieram nom veo maisque hua molher mva a qual esteue senpre a :1

    1 Quaresma2 Christa

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    A CARTA DE CAMINHA 37misa. aa qual deram huum pano com que se co-brise e posera.m l ho d alledor de sy pero a oasenta.r nom fazia memorea de o muito estendeepera se cobrir. / asy s.or que ;a inocencia destajemte he tal que a d adam nom seria llla.is quantaem vergonha ora veda vosa alteza quem em: talinocemcia viue. ens.inamdo lhes o que pera suasalua.om perteece. se se couuerteram ou nom..acabado isto fomos asy perante eles beijar acruz e espedimo nos e viemos comer.

    creo Sur que com estes dous degradados queaquy ficam ficam mais dons grometes que estanout.e se sairam desta naao no esquife em terrafogidos. os qua a es nom vieram mais e creemosque ficaram aquy por que de manha prazendoa deos fazemos d aquy nosa. partidaEsta terra S or me pare.oe que da pomta que

    mais contra o sul vimos ataa outra ponta quecontra o norte vem de que nos deste porto ouuemosvista. sera tamJanha que auera m ~ e l pem xxou xxb legoas per costa. traz ao lomgo do marem alguns parles grandes bareira.s delas v e ~ m e l h a . s edelas bramcas e a terra per cima toda cha e muitoehea de grandes aruoredos. de pomta a pomta. hetoda praya parma muito cha, e muito freilnosa:. pelosertao nos pM ecoo do mar muito grande pontuea estender olhos nom podamos veer se nom terae a.nwredos que nos paJecia muy longa teraneela ata agora nom podemos saber que aja ouronem prata nem nenhuia cousa ele metal nem defero. nem lho vimos. pero a terra em sy he

    d ~ muito boos aarcs asy frios e tenperados comaos d antre doiro, e minho por que neste tenpo dagora asy S achauanros coma os delru agoas .sammuitas imfindas. E em tal maneira he graciosa quequerendo a aproueitar da.r se a neela tudo per bem

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    38 NOSS PRIMEIR HISTORIdas agoas que tem. pero o milhor fruito queneela se pode faZJer me parece que -sera sa.luaresta jemte e esta: deue seer a principal sementeque vosa alteza em ela deue Jamar. que hynom ouuesse mais ca teer aquy esta pousada peraesta nauegwom de calecut abastaria quantomais desposiam pe:ra se neela conprir e fazer oque vosa alteza tamto deseja. s acrecentamentoda nosa santa fe.

    E ncesta maneira S or dou aquy a vosa alteza do que noosta vosa tena vy e se alguumpouco a.Iomguey. ela me petrdoe ca o desejo quetnha. de vos tudo diZJm mo fez asy poer pelomeudo. pois que Snr he certo ,que a sy neestecareguo .que ieuo como em outra qualquer cousaque de \Toso seruio for uosa alteza ha de seerde mym muito bem seruida. a ela peo que porme fazer simgular mereee mande viir da ilha dBsam thomee jorje de soiro meu jenrro. o que delaReceberey em muita meroee. bijo as ma.os devosa alteza. deste porto segmo da vosa ilha davera cruz oje sesta feira primeiro di de ma yode 1500. pero u z e caminha

    Sobrescrito : A el Rey noso Snr. - Arch dT o T Gav S.a Ma 2 0 N o 8

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    IIIprimeiro historiador brasileiro

    Quem foi o primeiro historiador brasileiro?Quem o auctor da nossa primeira historia? oque vamos vr nas paginas deste livro.O primeiro brasilense que escreveu a historia de sua patria foi, incontestavelmente, Fr. Vioente do Salvador. Este frade, que se chamou nasociedade Vicente Rodrigues Palha, nasceu numlogar distante da cidade do Salvador cerca de seislegoas, em dia incerto, tendo sido baptisado na Sda referida cidade pelo cura Simo Gonalves, em28 de Janeiro de 1587. fJ o que affirma Jaboatona parte La do vol. I, pg. 230 e 376; e parte2.a, do vol. I, pg. 105-111, vol. II, pg. 426-- 31do seu Orbe Serafico Entretanto Capistrano deAbreu discorda desta informao, observando:- Esta data (28 de Janeiro de 1567) nodeve esta.r certa. Te'rminando seu livro em 16:2'7,diz Fr. Vicente que est com 63 annos, o qued para o de seu nascimento 1.56- ; em tempos deobservao cultual to severa como aquellcs, no de crr que deixassem pago por tanto tempoum menino. portanto razoavel admitt:U que em vez de28 de Janeiro do 1.567, dev;e-se lr de 1565; equanto ao dia do nascimento talvez seja 20 deDezembro de 156- ), dia em que dedicou a Se-

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    40 NOSSA PRiliiEIRA HISTORIAv.erino de :Faria o livro em cuja ultima pagina declara ter sessenta e tres annos.

    Estudou as primeiras lettras P as humanidadesno collegio dos Jesuitas provavelmente no provinciado de Anchieta 1577 a 1588). :Matriculou-se,em seguida na Universidade de Coimbra, onde segTaduou em ambos os direitos {utroque juris , recebendo o titulo de doutor, aps um curso no qualse distinguiu em theo1ogia e canones. Em 1591, parece j estava na Bahia quando desembarcou .ogovernador d. Francisco de Sousa, num domingoda Trindade, conforme seu relato na sua Histo-ria do Brasil.

    Regressando sua patria resolveu seguir acarreira ecclesiastica ento a melhor de todas, .eem 27 de Janeiro de 1599, com a edade de 35annos, recebeu o habito franciscano das mos dopadre custodio Fr. Braz de S. Jeronymo e a 30do mesmo ms de 1600 professou sobre a direcodo prelado do Convento, Fr. Antonio de Insua. Eisahi quem foi o primeiro brasileuse que escreveuuma Historia do B1asil. Alm deste livro .ainda de sua auctoria um outro. - A chronica daCustodia do Bmsil - .at agora inedito, .mas citado em varias obras,. como por exemplo no Angio-logio Lusitano, vol. I pag. 469, 1.a edio, de JorgeCardoso. Onde param os originaes? Ninguem sabe.Provavelmente nos espolias de algum convento. Alguns crticos pretendem confundir as duas obrasdo illus.tre franciscano a.ffirmando que a A Chronica o principio da Historia, do Brasil. Porem contra essa confus,o se insurge o erudito Capistrano de Abreu diz.endo:- Convem deixar apurado um ponto que temdado pretexto a no pequena confuso. Fr. Vicente do Salvador E>screveu dois livros: A Chro-

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    O PRil\ EIRO HISTORIADOR BRASILEIRO 41nica da Custodia o Brasil e a Historia o Brasil.J a differena nos ttulos indicio favoravel concluso. Mas ha outros: a Chronica foi escriptaem 1618, a Historia em 1627; a istoria obravolumosa, citando a Chronica Jorge Cardoso qualifica-a de b ~ e v e Cardoso que conhece a Chronicadesconhece e n.,o cita a Historia Santa Maria,que aproveita a Historia guarda silencio quantoa Chronica Por no ter notado estas circumstancias,Varnhagen, visconde de Porto Seguro, concluiu queFr. Vicente escreveu a primeira parte de uma veze annos depois a segund

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    42 NOSSA PRIMEIRA HISTORIAe em Julho de 1886 comearam a publicar noDiario Official as primeiras paginas da H isto riado Brasil de Fr. Salvador.

    Em 20 de Dezembro de 1887 os mesmos historiadores publicaram em volumE os dois primeiroslivros dessa Historia Em 1888, impressa na.s officinas de Leuzinger C. a Bibliotheca Nacionalpublicou a primeira Historia do Brasil, esctiptapor um brasileiro em 1627 a de Fr Vicente.E na lntroduco disse Capistrano:V, pois, agora a luz, pela primeira vez, aHistoria do Bmsil de Fr. VioPnte do Salvador, naqual sahiu-lhe das mos eom as mutilaes infligidas pelo descuido e ingratido de quasi tresseculos de esquecimento.

    Conjectura Ja.boato no seu rbe Serafico queFr. Vicente falleceu entre os annos de 1636 e 1639.Recentemente, com p11efacio e annotaes deCapistrano de Abreu, a casa Weizflog Irmos reeditou o livro precioso do franciscano da Bahia.Fr. Vicente do Salvador Dr. Vicente RodrigusPalha) foi, portanto, o primeiro filho do Brasil queescreveu a historia de sua patlia. Mas .foi essaHistoria a nossa primeira Historia? No. A nossa

    primeira Historia foi a de Pero de MagalhesGandavo, publicada em 1576, em Lisboa, na typographia de Antonio Gonalves.As referencias que encontramos sobre Pero deMagalhes de Gandavo e seo livro sobre o Brasil,so as seguintes:1. 0 ) Em BARBOSA MACHADO (Bibliotheca Lu

    sitana, tomo III pg. 591):Pero de Magalhes Gandavo, natural deBraga filho de pae flamengo, tendo permanecidoalguns annos no Brasil, abrira escola publica entre

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    O PRlltlEIRO HISTORIADOR BRASILEIRO 4

    o Douro e :Minho, aonde tambem casara mostrando-se insigne humanista e excellente latino_2 0 ) m HENRI T E R ~ U X Prefacio da suatraduo.o H isto-ire e la Province e anta Cruzpor Pero de ~ I a g a I h e s de Gandavo, Paris 1837):- A sua de Ganda.vo) Historia o Brasilpublicada em Lisboa em casa de Antonio Gonalves em 1576, certamente uma. das obras maisnotaveis que appareoeram no decimo sexto seculo,

    sobre a descrip.o de paises longiquos: o estyloda obra simples, merito no vulgar entre osescriptores daquella nao_ Apesar de conter noes falsas, ou pouco exactas que a ignorancia daepoca desculpa, n o se encontra ali uma dessasfabulas ou legendB rS que os auctores contemporaneos to cegamente acolhiam; por isso todos osque della faliam s o unanimes em e.Iogia.I-a. Nicolau Antonio e Joo Soares de Brito faliam dellacom louvor.Desgraadamente a indifferena dos portugusese espanhoes, mesmo para os seus melhores auctores, impediu que esta obra fosse outra. vez reimpressa. Tornou-se to excessivamente rara que seno encontrariam agora sino tres ou quatro exemplares; no se acha em nenhuma Bibliotheca Publicade Paris e raramente citada pelos auctores portuguses que tm tratado do Brasil. Parece atque esta obra foi ignorada de muitos delles, aindade Vasconcellos, porque no gra.nde numero de citaes, com que este auctor se compraz em cobriras margens d os seus livros, no se l uma unica

    vez o nome de Gandavo. Posso portanto apresentar este livro como uma das publicaes sobre aAmerica menos conhecidas, e mais dignas de oserem.

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    44 NOSSA PRIMEIRA HISTORIA3. 0 ) R.EIFFENBERG (Nouveanx Mmoires del Academie Royale des Sciences et Belles-Lettresde Bruxelles, tomo XIV, 1841, pg. 75):

    Gandavo, segundo A. Voisin (Menager dessciences historiques, 18-U, 2. 0 livro, p.g. 284), erafilho de um flamengo de Gand, e _por isso tomou ocognome l Gandavo. . 0 ) FIGANIERE (Bibliotheca Historica Portugusa):S existem, parece, dois exemplares (daHistoria do rasil de Gandavo): um na ,livrariade Ternaux Ooupans, e outro na Bibliotheca Publicado Rio de Janeiro.5. 0 ) A Academia Real das Sciencias de LisboaColleco de Opusc1f los tomo I, 11.0 3, 1858, IV e V :- randade da obra de Pero de Magalhes de GaJ1davo sobre o Brasil um facto inemcontestavel.- provavel que na preciosa livraria deMr. Hasse, que eonstava de mais de dez mil volumes, principalmente de auctores portuguses ecastelhanos, comprada em 1806 pela Universidadede Coimbra pela quantia de seis contos de ris,se encontre algum exemplar desta obra. Em Lisboano nos consta que exista nenhum, apesar de havermos consultado as pessoas. mais entendidas emma.terias bibliogTaphicas.6. 0 ) ANTONIO DE LIO PIKELO (BibliographiaOriental e Occidental), que se contenta a.penas ememunerar as obras, cita a Historia de Gandavocomo wna obra C1f riosa y unica.

    7. 0 ) GIL GONALVES DE AVILA (Theatro dasGrandezas de Madrid, p.g. 504), affirma ser a His-toria do rasil de Pero de Mag-alhes de Ga.ndavouma obra muy er1f dita e c u r i o ~ a

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    O PRiniEIRO HISTORI DOR BR SILEIRO 45O exempJar que manusemos o da BibliothecaNacional coUeco Harbos.a Machado seco Rezer-vada. Por esse exempJar rarissimo ora fazemos. a

    presente edio pensando p:restar um pequeno ser-vio aos que se dedicam ao estudo da nossa historia.

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    ROSTO DA IIISTOHL\. DE GANDA VODa edio de 1576

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    O MUTO LLUSTRE SENHORDO M LEONS PERERA

    SOBRE O LIVRO QUE OFFERECE PERO DE MAGALESTERCETOS DE LUIS DE CAMES

    DESPOIS que :Magalhes teve tecidaA breve historia sua que illustrasseA Terra Santa Cruz pouco sabida;Imaginando a quem a dedicasseOu oom cujo favor defenderiaSeu livro de algum zoilo que ladrasse.Tendo nisto occupada a phantasiaLhe sobreveio hum somno repouzadoAntes que o Sol abrisse claro dia.Em sonhos lhe apareoe todo armadoMarte brandindo a lana. furiosa:Com que fez quem o vio todo infiadoDizendo em voz pe zada. e temerosa:Na he justo que a outrem se offereaObra alguma que possa ser famosaSemi a quem por armas resplandeaNo largo mundo com tal nome e famaQue louvor immortal sempre merea.Isto assi dito Apollo que da flamaCeleste guia os carros da outra parteSe lhe apresenta, e por seu nome o chamaDizendo: 1\fa.galhaes postoque l\farteCom seu terror t espante, toda viaComigo deves s aconselharte

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    50 NOSSA PRIMEIRA HISTORIAHum bara sapiente, em quem Talia.Poz seus thesomos, e eu minha sciencia,Defender tuas obras poderia.He justo que a escriptma na prudencbAche sua defensam; porque a dmezaDas armas, he contraria da eloquencia:Assi disse: e tocando com destrez lA cithara domada comeouA mitigar de Marte a fortaleza.Mas Mercmio, que sempre costumouA despartir porfias duvidozas,

    Co o caduco na ma que sempcre usou,Detecrmina compor as perigosa-s.Opinies dos Deoses inimigos,Com razoes boas, justas e amorosas.E disse: bem sabemos dos antigosHeroes, e dos modernos que prova.ramDe Belona os gravssimos perigos,Que tambem muitas vezes ajuntaramA s ru:mas eloquencia; porque as MuzasMil capitaes na guerra acompanhram.Nunca Alexandra ou Cesar nas confusasGuerras deixara o estudo hum breve espao,Nem armas das sciencias sa escusas.N huma ma livros, noutra ferro e ao:A hua rege. e ensina e outra fere

    Mais c o saber se vence que co o bra.o.Pois logo bara grande se requere,Que com tens does ~ ~ p o o illustre seja,de ti Marte palma e gloria espere.Este vos darey eu em que se veja,Saber e esforo no sereno peito,Que he Dom Lionis que fas ao mundo inveja.Deste as irms em vendo o bom sogeito,Todas nove nos braos o tomaram,Criando-o com seu leite no seu leito.As artes e sciencia lhe ensinram,

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    TERCETOS DE C A ~ E S

    Inclinao divina lhe influram,As virtudes moraes que o logo ornaram.Daqui os exerccios o seguiramDas armas no Oriente, onde primeiro,Hum soldado gentil instituiram.Ali taes provas fez de Cavalleiro,Que de Christ,o magnanimo e seguro,Assi mesmo venoeo por derradeiro.Despois j Capito forte e maduroGovernando a Aurea Chersoneoo,Lhe defendeo c o bmo o debil muro.Porque vindo a cereal-a todo o pezoDo pode:r dos Ache:ns, que se sustentaDo sangue alheio, em furia todo aceso.Este so que a ti Marte r e p ~ e z e n t aO castigou de sorte, que o vencidoDe ter quem fique vivo se contentaPois tanto que o gram Reino defendidoDeixou: Segunda vez com mai.o:r gloriaPara o yr governar foi ellegido.Mas nD perdendo ainda da memoriaOs amigos o seu governo brandoOs immigos o dno da victoria.Hun.s com amor intrinseco esperu.ndoEsto por elle, e os outros congeladosO vo com temor frio receando.Pois vede s e seram desbaratadosDe todo por seu brao se tornasseE dos maJ1es da India degradados.Porque he justo que :nunca lhe negasseO oonselho do Olimpo alto e subidoFavor e ajuda com que pelejassePois aqui certo est bem dirigido,De Magalhaes o livro, este s deveDe ser de vs Deoses escolhido.Isto Mercurio disse: e logo em breveSe oonfoil mara nisto, Apolo e Marte,

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    5 NOSSA PRIMEIRA HISTftRIA

    E voou jw1tamente o sono leve.Acorda Magalhllies, e j se parteA vos offe;recer Senhor famosoTudo o que nelle ps, sciencia e arteTem claro estylo, ingenho cmioso.,Para poder de vs ser recebido,Com ma benigna de animo am oso.Porque s de no ser favorecidoHwn claro espirita fica baixo e escuroE seja elle convosco defendidoComo o foi de Malaca o fraco muro.

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    SONETODO l\IESl\ 0 AUTOR AO SENHOR DOl\:1 LEONIS

    ACERCA DA VICTORIA QUE OUVE CONTRA EL-REYDO ACHEl\1 El\1 MALACA.

    Vs Kymphas da Gangelica espessuraOanta soavemente em voz sonraHum grande capita que a rxa AuroraDos filhos defendeo da noite escuraAjuntou-se a caterva negra e dura,Que na Aurea Ohersonesa affouta mora,Para lanar do caro ninho fraAquelles que mais podem que a ventura;Mas hum forte leo com pouca gente,A multido ta fera. como neciaDestruindo castiga, e torna fraca.Pois Nymphas cantai, que claramenteMais do que Leonidas fez em GreciaO nobre Lionis fez em Ma.laca.NOTA - Nas tres ediiies das obras completas de Cames (as de SimoThadeo Ferreira, anno de 1783), de BHreto Fo e J. G. Monteiro - Ha:nburgo

    1834; e a de Liba, Escriptorio da Bibliotheca Portuguesa - 1 8 5 ~ ha vu"iantesrelativamente a ~ t s versos. Preferimos apresenta los taes como s encontravamna edio da istoria de Gandavo, anno de 1576.

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    AO ~ U T O ILLUSTRE SE:XHORDl\I LEOXIS PEREIRA

    EPISTOLA DE PERO DE ::\IAGALHIESXESTE pequeno servio, muito illustre Senhor, queoffereo a V ~ f das premicias de meu fraco entendimento podera nalguma maneira conhecer os dezejos que tnho de pagar com minha possibilidadealguma parte do muito que se deve a inclita famado vosso heroico nome. E isto assi pelo merecimento do nobilissimo sangue e clara progenie dondetras sua origem, como pelos tropheos das grdesvictorias e casos bem afortunados que lhe ha suecedido nessas partes do Oriente em que Deus oqtz favorecer com ta larga ma, que nam cuidoser toda minha vida bastente pera satisfazer menor parte dos seus 1om-ores. E como todas esta.'\razoes me ponha em tanta obrigaam, e eu entenda que outra nenhuma couza deYe ser mais aceitas pessoas de altos arrimos que a lio das escrituras per cujos meyos se alcana os segredosde todas as sciencias, e os homens vm a illustrarseus nomes, e p ~ r p e t u a l o s na terra com fama immorta. , determinei escolher a Y. ~ entre os maisSenhores da terra e dedicar-lhe esta breve historia.: a qual espero que folgue de ver com atenoe receberma benignamente debaixo do seu amparo:assi por ser couza nova, e eu a escre -er como testemtmha de vista: como por saber quam pa1iicularrefleiam Y. ~ tem s couzas do ingenho. e que

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    56 NOSS PRIMEIR HISTORIpor esta cauz a lhe n.am s ~ menos aceito o e xer-cido das escrituras que o das arma;s_ Por ondecom muita razam favorecido desta confiana possaseguramente sair luz com esta pequena empresae divulgala pela terra sem nenhum receo tendopor defensor d.ella a V. M. cuja muito illustre pes-soa nosso Senhor guarde e acrescente sua vidae estado por longos e felioes annos.

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    PROLOGO O LECTORA causa principal que me obrigou a lanar mada prezente historia, e sair com ena a luz, foipor na.m haver .at agora pessoa que a impren-desse, havendo ja setenta e tantos annos que estaProvncia he d e s c o ~ t a A qual historia creyo quemais esteV e sepultada em tant.o silencio, pelo poucocaso que os Portuguezes fezera. sempre da mesmaprovncia que por faltarem na torra pessoas deingenho, e curiosas que per melhor estillo, e maiscopiosamente que eu a escrevessem. Porem ja queos estrangeiros a tem noutra estima, e sabem suaspa-rticularidades melhor e mais de raiz que ns (aosquaes lanram ja .os Portuguezes fra della foradarmas per muitas ve:ws) parece couza decentee necessaria te1-em tambem os nossos naturaes amesma noticia, especialmente pera que todos aquelles que nestes Reinos vivem em pobreza nam duvidem escolhela para seu amparo porque a mesmaterra he tal e tam favoravel .aos que a va buscarque a todos agazalha e convida oom remedio porpobres e dezemparados que sejam. E tambem hnella couzas dignas de grande admiraam e tamnotaveis que parecer descuido e pouca curiosidadenossa, nam fazer menam dellas em algum discurso,e daJ1as perpetua memoria como costumavamos antigos: aos quaes nam escapava couza algum(aque por extenso nam reduzissem a historia, e fe

    ~ s s e m menam em suas escrituras de couzas menores que esta.s, as quaes oje em dia vivem entre

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    58 NOSSA PRIY EIRA HISTORIAns como sal:J.emos e viverm eternamente. E seos antigos Portuguezes, e ainda os modernos namforam tam pouco afferoados escritura como sam;nam se perderam tantas antiguidades entre ns,de que agora carecemos, nem houvera tam profundo esquecimento de muitas couzas, em cujo estudo tem muitos homens doctos cansado, e revolvido graJlde copia de livros sem as poderem descobrir nem recuperaJ. da maneira que passram.aqui vinha aos Gregos e Roman-os averem todasas outras na.oes por barbara, e na veroade comraz lhes podi dar este nome, pois heram tampouco solcitos, e cubiosos de honra que por suamesma culpa deixavam morrer aquellas couzas quelhes podiam dar nome, e fazelos immorta;es. Comopois a escritura seja vida da memoa., e a memoriahuma semelhana d.a immortalidade a que todosdevemos aspirar, pela parte que della nos cabe,quiz movido destas razes, fazer esta breve historia,pera cujo ornamento nani busquey eptetos exquisitos, nem outra formosura de vocabulos de queos eloquentes radore:,; costnma usa.r pera coma:rteficio de palavras engrandeom em suas obras. Somente procurei escrever esta na veTdaie per humestillo facil, e cha, como meu fraco ingHnho meajudou, dezejoso de agradm a todos os que dellaquizerem ter noticia. PeJo que devo ser desculpadodas faltas que aqui me pdem notar: digo dos discretos, que com sam zelo o custuma fazer, quedos idiotas e mal dizentes nam hey de escapar,p-ois est certo na,m perdoarem a ninguem.

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    HISTORI D PROUINCI DE S NT CRUZ

    CAPITVLO I

    De omo se descobrio esta Prouincia e a mzam pm quese deve chamm Santa cruz e no rasilReinando aqnelle muy Ca.tholico c Serenissimo

    Prncipe ElRey Dom Manuel, f.ezse huma frota paraa India de que Iria por Capitam mr PeclralvaresCabral, que foi a segunda navegaam que fezeramos Portugueses para aquellas partes do Oriente. Aqual p a r ~ i o da Cidade de Lixboa a. nove de 1viaJ Ono anno de 1500. E sendo j entre as Ilhas doCabo verde as q uaes hiam demandaJ para fazerahi agoada deulhes hum temporal que foi causade as nam poderem toma;r, e de se a p c u i a ~ e m al-guns navios da companhia. E depois de haver bo-nana junta outra ves a frota, em pgaramse aomar, assi por fugirem das calmarias de Guine quelhes podiam estrovar sua viagem, como por lhesficar largo e pode1 em dobrar o Cabo de boa es-perana. E avendo j hum mes que hiam naquellavolta navegando com vento prospero, foram darna Costa desta Prouincia: ao longo daqual co.r-tram todo aquelle dia, pai eoendo a todos que he1aalguma grande Ilha que ali estava sem aver piloto,

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    60 CAPITVLO Inem outra pessoa alguma que tevesse noticia dellanem que pl esumisse que podia estar terra firmepara aquella parte Occidental. E no logar que lhespareceo della mais accomodado, smgiram aquellatarde, onde logo teveram vista de gente da terra:de cuja semelhana nam ficaram pouco admirados,e porque era differente da de Guine, e fra docomum parecer de toda outra que tinham visto-:-Estando a:ssi surtos nesta pa;rte que digo saltouaquella noite com elles tanto ter.'J.p.o, que lhes foiforado levarem as anooras, e com aquelle ventoque lhes era largo por aquelle rumo, foram correndo a costa at chegarem a hum porto limpo,e de bom surgidomo, onde entr?xam: ao qual pozeram este nome que hoje em dia tem de Portoseguro, por lhes dar a colheita, e os asegura.r doperigo da tempestade que levavam. Ao outro diaseguinte sahio Pedralvares em berra com a maiorparte da gente: na qual se disse logo missa cantadac houve praga.am: e os Indios da terra que alise ajuntaram ouviram tudo com muita quietaam,usando de todos os actos e cerimmrias que viamfazer aos nossos: e assi se punham de joelhose batiam nos peitos como se tevram lume de F,ou que por alguma via lhes fora l eV elado aquellegrande e :i:nefabil misterio do Santssimo Sacramento,no que mostravam claramente estarem dispostos parareceberem a doc.trina Christa. a todo o tempo quelhes fosse denunciada como gente que nam tinhaimpedimento de dolos, nem professava outra Leyalguma que podesse contrt=lldizer a es ta nossa, como

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    HISTORIA DA PROUINCIA DE SANTA CRUZ 61adiante se ver no capitvlo que trata de seus cos-tumes. Ento despedio logo P1edra.lvares hum na-vio com a novla a ElRey Dom ~ 1 a n o e l a qual foidelle recebida com muito prazer e contentamento:e dahi por dea;nte comeou logo demandar algunsnavios a estas partes e assi se foy descobrindoa terra pouco a pouco e con.hoeoendo de cada vesmais at que depois se veo toda a repa;rtir em Ca-pitanias e a povoar da maneira que agora est.E ton1ando Pedralvares seo desobridor passa.doalgtms dias que ali esteve fazendo sua. aguada eespera;ndo por tempo que lhe servisse antes dese partr por deixar nome quella Prouincia porelle novamente descoberta mandou alar lmma cruzno mais alto lugar de uma arvore onde foi ar-vorada com grande solemnidade e hen9os de Sa-cerdotes que levava em sua companhia dando terra este nome de Santa Cruz: cuja testa cele-brava naquelle mesmo dia a Santa Madre Egrejaque era aos tres de maio. O que nam parece ca-recer de Uisterio porque assi como nestes Reynosde Portugal trazem a cruz no peito por insgniada Ordem e Cavallaria de Christus assi prouvea elle que esta tmTa se descobrisse a tempo queo tal nome lho podess.e .ser dado neste Santo diapois avia de ser pos:suida de Po1tugueses e ficaruor herana de patrimonio ao Mestrado da mesmaOrdem de Christus. Por onde nam parece razamque lhe neguemos este nome nem que nos es-queamos deUe tam inclividamente por outro quelhe deo o vulgo mal considerado depois que o p: to

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    62 CAPITVLO Ida tinta comeou de vir a estes Reinos; ao qualchamaram brasil por vermellw, e ter semelhanade brasa, e da qui ficou a terra com este nomede Brasil. Mas para que ne 3ta parte magoemos aoDemonio, que tanto trabalhou e trabalha por ex-tinguir a memoria da Santa Sruz e desterrala doscoraos dos homens, medeante a qual somos re-demidos e livrados do poder de sua tirania torne-moslhe a restituir eu nome e chamemoslhe Pro-uincia de Santa Cruz, como em principio que assio amoesta tambem aquelle illustre e famoso es-critor Joo de B.1rros na sua primeira Dcada, tra-tando deste mesmo descobrimento; porque na ver-dade mais he destimar, e melhor soa nos ouvidosda gente Christa. o nome d e hum po em quese obrou o mysterio de nossa redenam que odoutro que narn serve de mais que de tingir pau-nos ou cousas semelhantes.

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    HISTORIA DA PROUINCIA DE SANTA CRUZ 6

    CAPITVLO IIm que s descreve o sitio e qualidades

    desta rouinciaEsta prouincia Santa cruz est situada naquella

    grande America uma das quatro partes do mundo.Dista o seu principio dous gros da equinocial paraa banda do Sul e dahi se vay estendendo para omesmo sul ate quarenta e cinco gros. De maneiraque parte della fica situada debaixo da Zona torridae parte debaixo da temperada. Est formada estaProuincia maneira de huma harpa cuja costa pelabanda do Norte corre dJ Oriente ao Occidente eest olhando direitamente Equinocial; e pela doSul confina com outras Prouincias da mesma Ame-rica povoadas e possnidas de povo gentlico comque ainda nam temos communicaam. E pela doOriente confina com o mar Oceano Africo e olhadireitamente os Reinos da Congo e Angola at aoCabo de boa esperana que he o seu opposito. Epela do Occide:nte confina com as altssimas serrasdos Andes e fraldas do Peru a s quaes sam tamsoberbas ensima da terra que se diz terem as avestrabalho em as passar. E ate oje hum s caminho lheacharam os homens vindos do Peru a esta Pro-uincia e este tam agro que em o passar p ~ r e e malgumas pessoas cahindo do estreito caminho que

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    6 CAPITVLO II

    traZJen: e vam parar os corpos mortos tam longedos vivos que nunca os mais vem: nem podem aindaque queiram darlhes sepultura. Destes e doutrosextremos semelhantes carece esta Prouineia Santacruz: porque com ser tam grande nam tem Serrasainda que muitas lllem desertos nem alagadicos quecom facilidade se :no possam atravessar. Alem distohe esta Prouincia sem contradica a melhor peraa vida do honrem que cada huma das outras deAmerica por ser cmmmm1mente de bons ares e fer-tilissima e em gram maneira dileitosa e aprazivel vista humana. O ser ella tam salutifera e livrede enfermidades procede dos ventos que geral-mente cursa nella: os quaes sa Nordestes e Suese algumas vezes Lestes e Lessuestes. E como to-dos estes procedam da parte do mar vem tampuros e coados que nam somente nam dnam; masrecrea.m: e acrescentam a vida do homem. A viraadestes ventos entra ao meio dia pouco mais oumenos e dura ate a madrugada: entam cessa porcausa dos vapores da terra que o apagam e quandoamanhece as mais das vezes est o Ceo todo co-berto de nuvs e assi as mais das manhas chovenestas partes e fioa a terra toda coberta de nevoapor respeito de ter muitos arvoredos que chamama si todos estes humures. E neste intervalo soprahum vento brando que na terra se gera at queo sol COll1 s.eos raioo o calma e entrando o ventodo mar acostumado torna o dia claro e serenoe faz ficar a terra limpa e desempedida de todasestas exalaes.

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    66 CAPITVLO I I

    navegando por elle abaixo vieram sa

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    e dahi tres 1egoas ao mar se acha agoa doce. Cor-rese da boca, do Sul pera o Nmte: dentro h e muitoftmdo e limpo, e podesse navegar por elle at ses-senta legoas como j se navegou. E dahi por deantese na pode passar por respeito de huma cachoeiramuy grande que ha neste passo onde cae o pezoda :agoa de muy alto. E acima desta cachoeira semete o mesmo rio debaixn d:a terra e vem sahirhuma legoa dahi, e quando ha cheias arrebenta porcima e arrasa toda a terra. Este rio procede dehum lago muy grande que est no intimo da terraonde afirmam que ha muitas povoaos, cujos mo-radores segundo fama) possuem grandes haveresde ouro e pedraria.Outro rio muy grande e hum dos mais es-pantosos do mundo, s:ae pela mesma banda do Orienteem trinta e sinco g1os, :a que chamam rio daprata o qual entra no Oceano com quarenta le-goas de boca: e he tanto o mpeto de agoa dooeque traz de todas as vertentes do Peru que osnavegantes primeiro no mar bebem suas agoas, quevejam a terra donde este bem lhes procede. Du-zentas e setenta legoas por elle acima est edificadahuma Cidade povoada de Castelhanos que se chamaAsstmam. At aqui se .navega por eUe, e aindadahi por deante muitas Legoas. Neste rio pela terradentro se vem meter outro a que chan1am Paragahique tambem procede do mesmo lago como o deS am Francisco que atr:as fica.

    Alm destes rios ha outros muitos que pelacosta ficam, assi grandes como pequenos, e muitas

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    68 CAPITVLO IIenseadas bahias e braos de mar de que namquiz fazer mena porque meo intento nam foisinam escolher as cousas ma.is notaveis e principaesda terra e tratalas aqui somente em particularpara que assi nam fosse notado de prolixo e sa-tisfizesse a todos com brevidade.

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    CAPITVLO IIIDas Capitanias e povoaes e Pmtugueses que

    ha nesta P ouinciaTem esta Prouincia, assi como vay lanada na

    linha Equinocial para o Sul, oyto Capitanias povoa-das de Portugueses, que contem cada huma emsy pouco mais ou menos cincoenta legoas de costa,e demarcase humas das outras por huma linhalanada Leste oeste: e assi ficam limitadas perestes termos entre. o mar Oceano e a linha darepartiam geral dos Reis de Portugal e CastellaAs quaes Capitanias ElRey Dom Joa o terceirodesejoso de plantar nesta:s partes a Religiam Chris-ta, ordenou em seo tempo escolhendo para o go-verno de cada huma dellas vassallos seos de san-gue e merecimento, em que ca.bia esta confiana,os quaes edificaram suas povoaes ao longo dacosta nos lagares mais convenientes e accomodadosque lhes pai eceo pera a vivenda dos morador

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    70 C PITVLO IIImuitas treies, os Governadores e Capit.es da terradistruiramnos pouco a pouco, e mataram muitos delles: outl OS fugiram pera o serta e assi ficou aterra desocupa,da de gentio ao longo das Pov-oaes. Algumas aJdeas destes Indios ficaram todavia ao redor dellas, que sam de paz, c amigosdos Portugueses que habitam estas Capitanias. Epera que todas no prezente capitolo faa menam,nam farei por ora mais que l leferir de caminhoos nomes dos primeiros Capites que as conquistaram e tratar precizamente das povoaes, stiose portos onde residem os Portugueses, nomeandocada huma dellas em especial assi como va doNorie para o Sul, na manea seguinte.

    A primeira e mais antiga se chama Tamarac,a qual tomou este nome de huma Ill1a pequena,onde sua povoaam est situada. Pero Lope s deSousa foy o primeiro que a conquistou e livroudos FraJ.1ceses em cujo poder e:;tava quando a foypovoar: esta Ilha em que os moradores habitamse divide da terra firme pe:r hum brao de marque a rodea, onde tambem se ajuntam alguns riosque vem do serta. E assi ficam duas barras lan-adas cada huma pera sua banda, e a ilha emmeio: per huma das quaes entram navios grossooe de toda a sorte, e va ancorar junto da povoaamque est dahi mey.a legoa, pouco mais ou menos.Tambem pela outra que fica da banda do Nortese servem algumas embarcaes pequenas, a qualpor causa de ser baixa nam sofre outras mayores.Desta ilha para o Norte tem esta Capitania terras

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    muy laTgas e viosas nas quaes oje em dia es.te-veram feitas grossas fazendas e os moradores foram:em muito mais crescimento e floreceram tanto emprosperidade como em cada huma das outras sio mesmo Capito Pero Lopes rezidira nella maisalguns rumos e nam a desamparra no tempo quea comeou a povoar.A segunda Capitania que adeante se segue sechama Paranambuco: a qual conquistou DlJaTte Coe-lho e edificou sua principal povoa am em hum alto vista do mar que est cinco legoas desta ilha deTamarac em .altura de oyto gros: chamasse Olindahe hwna das mais nobres e populosas villas queha nestas partes. Cinco legoas pela terra dentroest outra povoaam chamada Igaro que poroutro nome se diz a Villa dos Cosmos. E alemdos moradores que habitam e s t ~ Villas ha outrosmuitos que pelos engenhos e fazendas estam es-palhados assi nesta como nas outraJS Capitanias deque a terra comaTca toda est povoada. Esta hehuma das melhores terras e que mais tem real-ado os moradores que todas as outras Capitaniasdesta Prouincia: os quaes foram sempre muy fa-vorecidos dos Indios da terra de que alcanarammuitos infinitos escravos com que grangeam suasfazendas. E a causa principal de ella hir sempretanto avante no crecimento da gente foi por re-zidir continuamente nella o mesmo Capitam quea conquiston e ser mais frequ.:mtada de naviosdeste Reino por estar mais perto delle que cadahuma das outras que adeante se seguem.

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    CAPITUI O

    Ruma legoa da povoaam de Olinda parao Sul est hum arrecife ou baixo de pedras, quehe o Porto onde entram as embarca-es. Tem a serventia pela praya e tambem per hum rio pequenoque passa por junto da mesma povoaam.A terceira Capitania que adeante se segue, heda Bahia de todos os Santos terra de ElRey nossoSenhor: na qual rezidem o Governador, o Bisp::>e Ouvidor geral de toda a costa. O primeiro Capitam que a conquistou, e que a comeou a povoar, foy Francisco Pereira Coutinho: ao qual desbarataram os Indios com a fora da mtta guerraque lhe fizeram a cujo impeto nam pode rezistir,pela multido dos inimigos que entam se conjura.ram por todas aquellas partes contra os Portugueses. Depois disto ton1ou a ser restituda, eoutra vez povoada por Thom de Sousa o primeiro governador geral que foi a estas partes. E daqui por deante foram semp:re os moradores mnltiplicando com muito ac:mcentamento de suas fazendas.

    E assi huma das Capitanias que agora estmais povoada de Portugueses de quantas ha nestaProuincia, he esta da Bahia de Todos os Santos.liem tres povoaes muy nobl es e de muitos vizinhos, as qua,es estam distantes das de Pernambucocem legoas, em altura de trese gros.A principal onde rezidem os do governo daterra e a mais da gente nobre, he a Cidade doSalvador. Outra est junto da barra a qual cllamaru Villa Velha, que foy a primeira povoaamque ouve nesta Capitania. Depois Thom de So.usa

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    sendo Governador edificou a Cidade do Salvadormais adeante meia legoa por ser logar mais decentee proveitoso para os moradores da terra. Quatnleg-oas pela terra dentro est outra que se chamaPa.ripe que tambem tem jurlsdia.m sobre si comocada uma das outras. Toda.s estas Povoaes estamsituadas ao long-o de luuna bahia muy grande eformosa onde podem entrar seguramente quaesquer nos pm grandes que sejam: a qual he treslegoas de largo e navegase quinz e por ella dentro. Tem dentro em si muitas ilhas de terras muysingulares. Devidese ;em muitas partes e tem muitos braos e enseadas por onde os moradores seservem em barcos para suas fazendas.A quarta Capitania que he a dos Ilheos sedeo a Jorge de Figueiredo Con-ea Fidalgo da Casade ElRey nosso Senhor: e por seo mandado a foypovoar hum Joo Dalmeida o qual edificou su

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    74 CAPITVLO III

    legoas em altura de dezaseis gros e meio: entreas quaes se mete hum rio que faz hum arrecife naboca como enseada onde os navios entram. A principal povoaam est situada em dous logares convm a saber parte deUa em hum tezo soberbo quefica sobre o rolo do mar da banda do Norte eparte em hmna varzea que fica pegada ao rio.A outra povo;vam a que chamam Santo Amaroest huma legoa deste rio para o Sul. Duas e-goas deste mesmo arrecife pera o Norte est outro que he o porto onde entrou a frota quandoesta Prouincia se descobria. E porque entam lhefoi posto este nome de Porto Segtrro como atrasdeixo declarado ficou dahi a Capitania com o mesmonome: e por isso se diz Porto Seguro.

    A sexta Capitania he a do Spirito Santo aqual conquistou Vasco Fernandes Ooitinho. Sua pavoaam est situada em huma Ilha pequena quefica distante das povoaes de Porto Seguro se.ssenta legoas em altura de vinte gros. ~ s t a Ilhajz dentro de hum rio muy grande de cuja barradista huma legoa pelo sertam dentro: no qual semata infinito peixe e pelo conseguinte infinita caana terra de que os moradores continuamente sammuy abastados. E assi he esta a mais fertil Capitania e melhor provida de todos os mantimentosda terra que outra alguma que aja na costa.A setima Capitania he a do Rio de Jm1eiro:a qual conquistou Mendes de S e fora darmasofferecido a muy perigosos combates a livrou d:lSFranceses que a occupavam sendo Governador ge-

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    HISTORIA DA PROUINCIA DE SANTA CRUZ 75ral destas partes. Tem huma. povoa,

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    78 CAPITVLO IYterra sinam de taipa e terreas cobertas somentecom palma. E agora ha j muitas sobradadas ede pedra e cal, telhadas e forradas como as desteReino, das quaes ha ruas muy compridas, e for-mosas nas mais das povoaes de que fiz menam.E a.ssi antes de muito tempo segundo a gente vaycrecendo) se espera que aja outros muitos edif-cios e templos muy sumptuosos com de todo seacabe nesta parte a terra de enobrecer. Os maisdos moradores que por estas Capitanias estam es-palhados, ou quasi todos, tem suas terras de sesma-rias dadas e repartidas pelos Capites e Govenla-dores da terra E a primeira cousa que perten-dem acquirir, sam escravos para nella.s lhes fa-zerem suas fazendas e si huma pessoa chega naterra a alcanar dons pares, ou meya duzia dellesainda que outra cousa nam tenha de seo) logotem remedio para poder honradamente sustentar suafamilia: porque hum lhe pesca e outro lhe caa,os outros lhe coltivam e grangeam suas rossas edesta maneira nam fazem os homens despeza emmantimentos com seos escravos, nem com suaspessoas. Pois daqui se pode infirir quanto maisseram acreoentadas as fazendas daqueUes que te-verem duzentos, ou trezentos escravos, como hamuitos moradores na terra que nam tem meno