Notícias do Jardim São Remo - 7ª Edição de 2011

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São Remo Notícias do Jardim Novembro de 2011 ANO XVIII nº 7 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA São Remano Esportes Mulheres Papo Reto Debate/Entrevista pág. 7 págs. 2 e 3 pág. 8 pág. 12 pág. 10 págs. 4 e 5 pág. 6 pág. 5 Veja bastidores da Copa SR Bibliotecas da região são opções culturais Os estereótipos da mulher na mídia SEM DESTINO Começa a remoção do Riacho Doce PM aborda repórteres no portão da SR São Reminho No caminho certo com Super Remo! Cotas são a melhor forma de inclusão? Polêmica das privatizações Barulho incomoda moradores OTÁVIO LINO

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NJSR - 7. ed. Nov 2011

Transcript of Notícias do Jardim São Remo - 7ª Edição de 2011

São RemoNotícias do Jardim Novembro de 2011 ANO XVIII nº 7

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

São Remano

Esportes

Mulheres

Papo Reto

Debate/Entrevista

pág. 7

págs. 2 e 3

pág. 8

pág. 12

pág. 10

págs. 4 e 5

pág. 6

pág. 5

Veja bastidoresda Copa SR

Bibliotecas da região são opções culturais

Os estereótipos da mulher na mídia

SEM DESTINOComeça a remoção do Riacho Doce

PM aborda repórteres no

portão da SR

São ReminhoNo caminho certo com Super Remo!

Cotas são a melhor forma de inclusão?

Polêmica das privatizações

Barulho incomoda

moradores

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São Remo

debate2 Notícias do Jardim São Remo Novembro de 2011

Publicação do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Reitor: João Grandino Rodas. Diretor: Mauro Wilton de Sousa. Chefe de depar-tamento: José Coelho Sobrinho. Professores responsáveis: Dennis de Oliveira e Luciano Guimarães. Edição, planejamento e diagramação: alunos do primeiro ano de jornalismo. Secretário de Redação: Mariana Melo. Secretário Adjunto: Marina Sales. Secretários Gráficos: Marta Cursino e Bruna Romão. Editora de Imagens: Paloma Rodrigues. Editores: Gabriela Stocco, Larissa Teixeira, Luiza Guerra, Otávio Lino, Paula Peres, Rodrigo Dias e Talita Nascimento. Suplemento infantil: Guilherme Speranzini e Roberta Barbieri. Repórteres: Ana Pinho, Diego Rodrigues, Fabio Mangia, Frederico Tardin, Gabriel Grilo, João Vitor, Lucas Tomazelli, Luiz Felipe Guimarães, Marcelo Marchetti, Marina Vieira, Mateus Netzel, Nicolas Gunkel, Patrícia Beloni, Pricilla Kesley, Rafael Monteiro e Rosiane Siqueira. Ilustrações de Marcelo Marchetti e Guilherme Speranzini. Correspondência: Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443-Bloco A. Cidade Universitária CEP 05508-990. Fone: 3091-1324. E-mail: [email protected] Impressão: Gráfica Atlântica. Edição Mensal: 1500 exemplares

“Tenho fé de que um dia nenhuma cota

vai ser necessária” JOÃO CRISTINO,

MORADOR DO JARDIM SÃO REMO

Desigualdade entre escolas públicas e privadas é consenso

Ensino público é inferiorUma medida emergencialMariana Melo

O crescimento do Brasil como potência econômica e industrial no século XXI si-naliza positivamente para a melhoria das condições sociais de todos os brasileiros.

No entanto, o ingresso na Universida-de pública constitui um impasse às políti-cas de integração socioeconômicas. Algu-mas medidas tomadas pelo governo nos últimos dez anos, como a criação de cotas raciais e sociais para algumas instituições federais de Ensino Superior, além da ten-tativa de unificação dos vestibulares, com a adoção do ENEM não só como processo avaliativo, mas seletivo, criaram mais polê-micas do que de fato resolveram a questão da democratização da graduação no Brasil.

A criação do Prouni, programa que ga-rante descontos e bolsas de estudo para alunos carentes que ingressarem na rede particular de Ensino Superior, não resolve a questão do acesso à Universidade. Nele, o governo federal fornece incentivos fis-cais às instituições particulares de ensino, e concentra interesses e esforços no setor privado, ao invés de investir na qualidade das instituições públicas e na ampliação da quantidade de vagas nessas instituições.

A reserva de vagas para os alunos saídos do Ensino Médio público ou por definições raciais visa corrigir, num primeiro plano, injustiças sociais, num reconhecimento de que, para aumentar o grau de escolaridade dos brasileiros, não é correto esperar que a população possa investir tanto dinheiro na sua formação. Mesmo assim, a quantidade de cotas nas Universidades ainda é insufi-ciente para o número de jovens sem condi-ções de continuar estudando.

O P I N I Ã O

www.eca.usp.br/njsaoremoNotícias do Jardim

De acordo com o Censo de Educação Su-perior de 2009, conduzido pelo INEP (Insti-tuto Nacional de Pesquisas Educacionais), das cerca de 5 milhões de matrículas em ins-tituições de ensino superior 36.294 foram preenchidas por meio do sistema de reser-va de vagas, as chamadas “cotas”. São 69% de alunos de escolas públicas, 25% de bene-ficiados por cotas raciais e 4% por cota so-ciais, baseadas na renda familiar.

O relatório também diz que o Programa Universidade Para Todos (Prouni), que pre-mia estudantes com bolsas integrais ou par-ciais, de acordo com seu desempenho na prova do ENEM, é responsável pela ajuda fi-nanceira de 36% dos 215 mil alunos do Brasil.

Marcelo Silva de Lima, de 19 anos, estuda Administração de Empresas na Universidade Presbiteriana Mackenzie com bolsa do Prou-ni. Ele conta que foi um processo demorado: “Tive que fazer o ENEM e depois me inscre-ver no Prouni. Há a exigência de uma grande quantidade de documentos que comprovem

sua renda, mas no fim vale a pena.” Em re-lação aos sistemas de inclusão, Marcelo acre-dita que as cotas sociais são parâmetros mais confiáveis do que as raciais: “Somos um país miscigenado, e é mais fácil escolher por crité-rios econômicos do que raciais”.

Júlio César de Oliveira Santos, de 17 anos, vai prestar vestibular pela primeira vez. Pre-parando-se na escola pública em que estuda, ele sonha em cursar Letras na Universida-de de São Paulo, e já sabe até as línguas que quer estudar: inglês e português. Liberado de pagar a taxa de inscrição da FUVEST, não concorda com as cotas sociais ou raciais. “Nenhum é certo, deveria haver igualdade”, diz. “Mas todos sabem que o ensino público não é bom”, continua.

Marcelo possui uma opinião semelhan-te: “Elas cumprem parcialmente seu papel de inclusão social. O ideal seria que todos pudessem concorrer de igual para igual, ou seja, educação básica de qualidade”.

Cotas são necessárias

Já Maria das Graças Cruzeiro, de 23 anos, pensa que, caso não haja melhora nas escolas públicas, “as cotas são o único jeito”. “Educa-ção é muito importante, e os pobres, que em sua maioria são negros e mulatos, são os que mais sofrem. É um jeito de avançar”, explica.

Para João Cristino, de 57 anos, é uma ques-tão de justiça. “As pessoas dizem que no Bra-sil não tem preconceito, não tem racismo, mas tem sim. Já senti muito isso na pele. Se as co-tas ajudarem os jovens a subir na vida, ten-do mais conhecimento e educação, podendo competir melhor com quem teve mais oportu-nidade, elas serão boas”. E conclui, esperan-çoso: “Tenho fé de que um dia nenhuma cota vai ser necessária, se Deus quiser”.

Ana PinhoLuiz Felipe Guimarães

U N I V E R S I D A D E

entrevistaNovembro de 2011 Notícias do Jardim São Remo

Cenas da São Remo

Professora da USP defende as cotas raciais como necessárias para promover inclusão Mateus Netzel

A Universidade deve ser aberta a todos

“Eu vejo o Prouni e outros programas do governo como algo necessário“EUNICE PRUDENTE,PROFESSORA DA USP

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Eunice Prudente é professora da Faculdade de Direito da USP e presidente da Comissão Perma-nente de Políticas Públicas para a Inclusão Social, criada para dis-cutir e propor alternativas de am-pliação desse tema na Universi-dade de São Paulo.

Quais carências justificam a inclusão de cotas raciais nas uni-versidades públicas?

Eu, pessoalmente, sou a favor das cotas raciais. Não posso fa-lar em nome da Comissão, nem como professora da USP. Sou ple-namente a favor das cotas raciais por tudo que uma universidade pública representa para a socie-dade, sobretudo para quem tem um histórico como o do Brasil.

O que é uma universidade e o que ela significa? Universidade é um espaço de conhecimento, ela é importante e insubstituível para o homem e uma universida-de pública toma todas as provi-dências utilizando dinheiro pú-

blico e está aberta em princípio para todo o povo. O conhecimen-to exigido nos vestibulares é mui-to respeitável, mas ele atende às especificidades do Brasil? Ele está incluindo afrodescendentes nas universidades do país?

A adesão de cotas raciais ao In-clusp traria resultados mais jus-tos para os afrodescendentes?

A minha visão sobre a questão é que, da mesma forma como nas universidades federais, as cotas vêm tendo resultados muito po-sitivos. A Comissão precisa bus-car esse mesmo caminho, porque a inclusão através de políticas de cotas raciais já é bem sucedida. Vamos fazer um estudo compara-

tivo e propor essas soluções.O ENEM é um sistema mais

justo de inclusão? Eu confio no ENEM. Embora ele

vá avaliar alunos, ele mostra tam-bém a qualidade do ensino que te-mos em nível fundamental e mé-dio. O que acho muito importante e penso que seja responsabilidade do MEC, que existe para isso. O ensino é um serviço público por excelência, o próprio MEC auto-riza que outras instituições exer-çam essa função. Mas precisa con-trolar, precisa fiscalizar.

O Prouni é uma boa opção, com o governo financiando universi-dades privadas em vez de inves-tir nas públicas?

Vejo o Prouni como vejo o Bolsa Família. Se alguém está morren-do de fome, de alguma forma essa pessoa precisa se manter viva. Eu vejo o Prouni e outros programas do governo como algo que pode ser necessário em um determina-do momento da vida das pesso-as para aprender, apreender e se profissionalizar. O governo fede-ral vai em socorro, mas ele não

pode ser tudo. Eu vejo como um processo emergencial, quem tem que assumir a responsabilidade é o Governo Federal.

Uma proposta seria criar pro-gramas de inclusão social tam-bém na educação de base?

Eu, sinceramente, acho que o governo precisaria assumir essa educação de base e ser um pouco mais firme, porque é impressio-nante o capital é ameaçado pelo ensino privado. Aí depois pode-ria se pensar em como trabalhar isso em nível universitário.

Quanto a políticas de apoio aos afrodescendente depois do ingresso na universidade?

Aí é preciso avaliar universi-dades que já possuem essas prá-ticas, para observar como elas vêm ocorrendo, porque prova-velmente esse aluno estará entre os carentes e necessitará de bol-sas-permanência, alimentação, moradia. O jovem está numa fase muito importante da vida e a universidade precisa colaborar com sua formação acadêmica.

Professora defende cotas raciais

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comunidade “A situação está crítica, estou na rua”

HÉLIO DOS SANTOS, MORADOR DO RIACHO DOCE

4 Notícias do Jardim São Remo Novembro de 2011

Barracos do Riacho Doce são retiradosPrazo estipulado pela subprefeitura se encerra e moradias irregulares são desocupadas

ta, um dos moradores, referindo-se às diversas tábuas de madeira e outros objetos que foram deixa-dos jogados no riacho.

A presença de várias famílias atrasou um pouco a continua-ção das obras, já que muitos ain-da removiam sofás, fogões, gela-deiras e outros pertences. “Estou preocupado. Não sei nem em que hora eu vou chegar no trabalho”, lamentou Hélio dos Santos. Ape-sar disso, não houve nenhum con-flito ou desentendimento.

O curto prazo desagradou a di-versos moradores, mas o princi-pal problema ainda é a falta de moradias para alugar. Conforme os moradores alertaram após reu-nião com o subprefeito, os valo-res de aluguel giram em torno de 400 ou 500 reais, e alguns proprie-tários não aceitam famílias com crianças. “Vou ficar na casa da mi-nha mãe, até arranjar outro lugar para alugar”, disse Hélio.

Marcelo Marchetti

Moradores retiravam seus pertences enquanto a prefeitura trabalhava

A demolição de cerca de 100 barracos de madeira do Riacho Doce, que sofreram com a en-chente de 27 de fevereiro deste ano, vem ocorrendo desde o iní-cio de outubro. Apesar do prazo para desocupação, dado pela Co-ordenadoria da Defesa Civil de São Paulo, de uma semana após o recebimento de 1200 reais (re-ferentes a quatro meses de bolsa aluguel), muitas das famílias ain-da ocupavam os barracos por não terem encontrado outra moradia.

Até o dia 20 do mês passado, quando a Defesa Civil iniciou a limpeza dos destroços, muitos moradores reclamavam da sujei-ra do local e do risco de um novo alagamento. “Eles vieram, des-mancharam, foram embora e não limparam. O risco de alagamen-to é sério. Se chover, vai encher tudo”, disse José Alves da Cos-

Outro morador, Sérgio, tem o mesmo problema e comentou so-bre a proposta da subprefeitu-ra: “Estou tirando do meu salá-rio para pagar, como todos estão fazendo. Aqui é difícil conseguir aluguel por 350. Nós fomos pra-ticamente obrigados a aceitar [os 300 reais] porque a gente não ti-nha outra alternativa”.

Segundo Tércio Molica, super-visor de habitação da subprefei-tura, o trabalho de demolição dos barracos e limpeza não tem data para terminar. As ruas estreitas e a circulação frequente de pessoas dificultam a passagem dos traba-lhadores com os objetos retirados: “Não vamos dar prazo. Vamos ti-rando, é tudo manual”.

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Moradores seguem incertos quanto ao futuroMuitas dúvidas ainda preocu-

pam os moradores. A subprefei-tura garantiu 30 meses de bolsa aluguel, mas não o futuro após esse período. Há dúvidas sobre canalização do Riacho Doce, desa-propriação de outras casas e habi-tações para os desabrigados.

Morador do Riacho Doce, Sér-gio teme pelo futuro dos demais habitantes: “Meu medo são essas pessoas ficarem na rua. Nós que-

remos nossa chave, um lugar cer-to pra morar”.

A assessoria de comunicação da Secretaria de Habitação de São Paulo afirmou: “Em outubro, a Secretaria pagou auxílio aluguel emergencial por 4 meses, no valor de 1200 reais, para 104 famílias, que posteriormente serão enca-minhadas para o Programa Parce-ria Social. A urbanização previs-ta para a favela São Remo segue cronograma estabelecido no Pla-no Municipal de Habitação”.

Marcelo Marchetti

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Habitantes do Riacho Doce: malas feitas, ainda sem destino definido

comunidade

Barracos derrubados, aluguel na mão. Só resta aos moradores conseguirem outro lugar para morar.

Riacho Doce: problemas ainda não acabaram

Percorrendo os barracões que ainda restam acima do Riacho Doce, nos equilibramos entre en-tulhos e buracos até nos deparar-mos com uma mulher sentada num caixote, amamentando seu filho. “Ô, moço, num tem lugar pra alugar lá na USP não?” per-gunta ela em tom de brincadeira ao reparar na nossa presença. De frente para partes caídas de barra-cões que estão sendo demolidos, lixo e pedaços das vidas de quem morava por lá, Marília Lopes nos conta como chegou até ali.

No começo do ano, ela e seu marido Wellington foram obri-gados a abandonar sua casa na

Rafael Monteiro

Notícias do Jardim São Remo Novembro de 2011 5

“O policial empunhou a armasó porque meu coleganão estava ouvindo.”TALITA NASCIMENTO, REPÓRTER NJSR

Riacho Doce:

dias sem solução em 7 de outubro

Zona Leste de São Paulo, onde mo-ravam com os filhos. De lá, conse-guiram um barraco na São Remo onde conversamos com ela. Ago-ra que essas construções estão sen-do removidas da região do Riacho Doce, eles encontram-se novamen-te na mesma situação. Buscam um lugar na região para se mudarem, mas os obstáculos são grandes.

“Aqui na comunidade tá muito difícil de encontrar alguma coisa, ainda mais com os trezentos reais que a prefeitura dá. Na única casa que eu encontrei com esse preço, o dono não queria criança. Que é que eu vou fazer? Abandonar meus fi-lhos?”. Wellington pensou em ir para a casa de sua avó, mas disse que ela não aceitaria a sua esposa.

Enquadro policial ocorreu no portão do Jardim São Remo enquanto eles fotografavam a comunidade

Repórteres do NJSR são abordados pela PM

Os recentes confrontos entre a Polícia Militar e os alunos da USP têm sido muito discutidos pela mídia. O debate, porém, fica res-trito às questões consideradas re-levantes no perímetro da univer-sidade. Não entra na discussão o preconceito embutido em muitas das ações que ocorrem nas pro-ximidades dos portões do Jardim São Remo, que envolvem alunos da USP e que, potencialmente, po-dem envolver os moradores.

Nicolas Gunkel e Talita Nasci-mento, repórteres do NJSR, foram abordados por policiais quando entravam no campus da USP e ti-

ravam fotos para a edição do jor-nal. “Eu estava com a câmera na mão e eles chegaram mandando abaixá-la, botar a mão na cabeça e virar de costas”, diz Nicolas.

De acordo com ele, a polícia ten-ta legitimar sua ação na faculda-de patrulhando intensamente a re-gião próxima à São Remo. Buscam alunos que foram até lá suposta-mente à procura de drogas. No entanto, acabam exagerando em suas abordagens, tornando qual-quer frequentador da universida-de um potencial suspeito.

Não é à toa: a ação da polícia ocorre no momento em que a Uni-versidade passa por uma insta-bilidade política devido a diver-

Diego Rodrigues

A dificuldade de achar um imó-vel acessível por ali sugere que o casal deve deixar a comunidade em busca de outro lugar, mas não há nada certo. A expressão serena no rosto de Marília contrasta com o ar de incerteza que respira. O cli-ma de preocupação que seria de se esperar, também é quebrado por uma garrafa de Pitú compartilha-da com os vizinhos (e quase que com os repórteres).

A conversa com esses moradores aconteceu no sábado pela tarde e o barracão deles seria derrubado logo no dia seguinte. A tranquili-dade, as risadas e o leve aroma de álcool disfarçavam as dúvidas in-quietantes sobre onde estariam na-quela segunda-feira. Wellington sem perspectivas

sas questões. Principalmente por conta do assassinato no estaciona-mento da FEA ocorrido em maio, o que trouxe a polícia para dentro do campus após um convênio com a reitoria. A autuação de três jo-vens, portando maconha no dia 28 de outubro, desencadeou a discus-são sobre a presença da PM e das drogas dentro da USP.

A polícia, que sofre oposição por parte dos alunos, tenta justificar sua presença na Cidade Universitária. “Eles pareciam desesperados para encontrar alguma coisa” diz Nico-las. Mas, ao se identificarem como repórteres, os policiais mudaram a postura. “Quanto menos a gente fa-lar [disso], melhor para eles”.

Os moradores da comunidade também sofrem com essa repres-são e com a desesperada busca po-licial por alunos portando substân-cias ilícitas. “A cada cem pessoas, eles podem até pegar uma portan-do drogas, mas isso não justifica a violência com as outras 99 que es-tão só passando”, afirma Nicolas.

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comunidade“Quando as motos passam

é um barulho que chega a assustar”

MARIA DE FÁTIMA SANTOS, COMERCIANTE

Ruido das motos é principal reclamação, e pode prejudicar o sono e a saúde de quem quer descansar

O ruído é uma constante na vida dos moradores da São Remo. Ra-ros são os momentos em que é possível “escutar” o silêncio na comunidade. Às vezes o som pode até não incomodar no mo-mento, mas levar a sérios proble-mas de saúde mais tarde.

A longa exposição a ruídos altos pode gerar complicações auditivas e aumentar as chances de desen-volvevimento de doenças cardía-cas e AVCs (Acidentes vasculares

Barulho é incômodo para moradores da SRcerebrais), já que aumenta os ní-veis de estresse, elevando a pres-são sanguínea.

De acordo com a OMS (Organiza-ção Mundial da Saúde) o ideal seria que o som ambiente ficasse em até 60 decibéis, porém o trânsito nas ci-dades grandes gera ruídos cerca de cem vezes maiores. O barulho de uma moto, por exemplo, equiva-le a aproximadamente mil vezes mais barulho que o saudável para a audição humana.

O ruído à noite também é causa-dor de problemas. “Às vezes nem

Diego Rodrigues deixa dormir”, diz Maria de Fáti-ma Santos, que reclama especial-mente das motos que passam aos finais de semana. “Quando elas passam é um barulho que che-ga a assustar”. João Souza Lima, o Lima, também reclama: “Todos querem descansar e não podem. Ainda mais no meu caso, que tra-balho sábado o dia inteiro”.

Vale lembrar que o sono preju-dicado pode causar diversos pro-blemas, já que é durante essas ho-ras de descanso que as memórias são construí́das e armazenadas no

Família de uruguaios em busca de melhores condições de vida, emprego e estudos vive na comunidade

São Remo abriga vizinhos latinoamericanos

A família Ramirez veio de Monte-vidéu para o Brasil há um ano e en-frentou todas as dificuldades rela-cionadas a uma mudança de país. A principal delas foi sair da área de conforto, estar aberto a coisas novas e manter uma atitude positiva. E em-bora esses obstáculos sejam encon-trados quando se muda de bairro ou cidade, as complicações são ainda maiores quando se passa a viver em outra nação. Neste caso pode haver um choque cultural, o que leva mui-tos a não se adaptarem e retornarem a seu antigo lar.

Nascidos no Uruguai, os Ramirez vivem na comunidade São Remo há dois meses. A avó Gabriela Ramirez conta que tudo começou quando um parente seu visitou o Brasil em 2003 e se encantou. Aos poucos ele conven-ceu outros integrantes da família a se

mudarem também, o que ela fez com sua filha Paola da Silva, 27, e a neta de cinco anos. Os Ramirez refletem uma tendência de inúmeros latinoa-mericanos que partem em busca de uma vida melhor no Brasil.

Quando perguntada a respeito do que motivou sua vinda, Paola diz

Fabio Mangia que em Montevidéu “estava difícil e não tinha trabalho”. A uruguaia também criticou o sistema educacio-nal de seu país, destacando que as universidades são em geral privadas e que os estudantes enfrentam uma grande concorrência. Atualmente ela trabalha como auxiliar de produção

cérebro. Essas interrupções podem aumentar as ocorrências de doen-ças degenerativas, Mal de Alzhei-mer e dores crônicas.

Pensando em uma solução para a questão, Maria crê que uma reu-nião de moradores poderia resol-ver os impasses relacionados ao ruído excessivo. “Acho que eles (quem faz o barulho) sentariam pra conversar sobre isso. Principal-mente porque incomodam as pes-soas mais idosas”. Lima, porém, duvida que isso possa dar certo: “Não teria muita certeza, não”.

na loja C&A enquanto sua mãe fica em casa cuidando da neta. Nenhuma delas afirma ter tido problema para se adaptar em São Paulo. Dona Gabi se tornou corintiana e chega a dizer que não sente falta do Uruguai.

Embora contentes e abrasileira-das, as mulheres Ramirez preser-vam sua cultura natal dentro de casa. Os pratos típicos do Uruguai como chá mate e o asado (churrasco uruguaio feito na grelha) são garan-tidos em sua mesa.

Embora Dona Gabriela esteja sa-tisfeita com a vida no Brasil, sua fi-lha sonha obter um emprego melhor e um dia morar na Espanha, país que conheceu em 2007. A neta se revela ambiciosa e deseja seguir a carreira médica e também ser modelo. Entre-tanto, no meio-tempo a família com-partilha o desejo de se mudar para a cidade de Osasco, onde podem ter uma casa mais espaçosa.

6 Notícias do Jardim São Remo Novembro de 2011

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Paola tem orgulho de sua identidade uruguaia, mas gosta do Brasil

papo retoNovembro de 2011 Notícias do Jardim São Remo 7

Reclamações sobre a Eletropaulo quadruplicaram em quatro anosDADOS DO PROCON

Privatizar é sinônimo de melhorar?Após a venda da Eletropaulo, valores das contas subiram e qualidade do atendimento caiu

Rosiane Siqueira

Privatização, que também pode ser chamada de desestatização, é a venda de uma empresa que an-tes pertencia ao poder público, aos estados ou municípios. Por meio de leilões, essas empresas passam a pertencer ao setor pri-vado e, portanto, a funcionar com o dinheiro de empresários.

Entre as principais intenções de se privatizar essas empresas estão: arrecadar mais recursos com a sua venda, diminuir a dívida do go-verno e deixar nas mãos do Estado apenas as funções básicas, volta-das para a sociedade, como saúde, educação e segurança. Também se busca aumentar a arrecadação com a cobrança de impostos para mo-dernizar essas instituições com o dinheiro privado e com a tecnolo-gia, aumentando sua eficiência.

Na prática, alcançar essas metas não tem sido tarefa unânime nas instituições privatizadas. Por isso

o debate sobre o assunto gera po-lêmicas, pois é possível constatar melhorias e falhas em empresas que passaram por esse processo.

Vários são os outros exemplos de empresas antes pertencentes ao Estado, agora privatizadas: Em-braer, fabricante de aviões; CSN, indústria siderúrgica; Vale, em-presa mineradora; Light, compa-nhia de energia elétrica do Rio de Janeiro; Eletropaulo, companhia de energia elétrica de São Paulo; Banco do Estado do Ceará e Banes-pa e o Banco do Estado de São Pau-lo, são alguns deles.

Privatização da EletropauloDurante a década de 1980 e o

início dos anos 1990, a Eletropau-lo Metropolitana era considerada uma das maiores distribuidoras de energia do mundo e uma das maiores estatais do país, chegan-do a ter 27 mil empregados. Com tudo isso, esperava-se que o leilão fosse um sucesso, mas surpreen-

dentemente, poucos foram os inte-ressados em sua compra.

A Eletropaulo Metropolitana foi privatizada em 1998/1999 e ven-dida por 2 bilhões de reais, ainda no governo de Mário Covas. Hoje, existe apenas com o nome de AES Eletropaulo.

Segundo dados do Procon, des-de 2006 a Eletropaulo vem subin-do no ranking de reclamações, e não responde a 71% delas. Só esse ano foram três apagões em São Paulo, o que levou o órgão do Pro-con a pedir a intervenção do Esta-do na empresa, ou seja, exigir que interfiram na administração para tentar reestabelecer o bom funcio-namento dos serviços.

Dentre as reclamações recebi-das, a maior parte está relacionada à falta de energia. Em segundo lu-gar, aparece a queima de aparelho/produto danificado. Em 2001, as reclamações que mais chegavam ao Procon eram sobre cobranças abusivas ou indevidas nas contas.

Segundo uma pesquisa feita pelo IDEC, Instituto de Defesa do Con-sumidor, desde as privatizações o consumidor sofreu o irreal aumen-to de 324% nas contas. Isso repre-senta mais de quatro vezes o valor que era pago anteriormente.

As principais empresas privatizadas com reclamações no Procon

Telefônica Eletropaulo Embratel Banespa / Santander

2006 20062010 2010 2010 20102006 2006

2.262 reclamações

3.137reclamações

212reclamações

863reclamações

916reclamações 436

reclamações 170reclamações

695reclamações

Outras privatizações

Depois da venda da Tele-brás, empresa que controlava as prestadoras dos serviços te-lefônicos no país, a quantida-de de telefones no Brasil au-mentou quase 10 vezes. Para toda a população, ficou mui-to mais barato e fácil conse-guir uma linha telefônica do que há 12 anos atrás, quando o serviço era estatal.

Porém, as tarifas subiram muito. De 1998 para 2003 o au-mento foi de 30% acima da in-flação. É uma das tarifas mais caras do mundo junto com a da Turquia. Além disso, a con-corrência das empresas não foi estimulada. Em São Pau-lo, a Telefônica é responsável por mais de 98% dos servi-ços prestados e sempre foi lí-der de reclamações no Procon, mesmo antes da privatização.

A privatização das rodovias levou a um grande aumento dos pedágios, em quantidade e em valores, porém, melho-res condições de asfalto, sina-lização e segurança também vieram com o processo. Quem paga por essas melhorias é o próprio usuário.

são remanoBibliotecas oferecem mais que livrosAlém de jornais, revistas e gibis, atividades culturais são oferecidas aos moradores

“Quando se descobre o prazer da leitura

não há mais imposição”REGINA FERREIRA,

BIBLIOTECÁRIA DO CEU BUTANTÃ

8 Notícias do Jardim São Remo Novembro de 2011

Agenda Cultural – Anote programas e passeios para o mês de novembro

O metrô da cidade de São Pau-lo em parceira com o IBL (Institu-to Brasil Leitor) realiza o projeto “Embarque na leitura” que conta com quatro bibliotecas. Elas faci-litam o acesso aos livros e contam

com diversos estilos de obras: lite-ratura, autoajuda, best-sellers, in-fanto-juvenil, entre outros.

As estações Paraíso (linha 1 – azul), Tatuapé, Brás e Santa Cecí-lia (linha 3 – vermelha) possuem

uma biblioteca cada. Para se ins-crever é necessário um documen-to de identidade, como certidão de nascimento ou RG, compro-vante de residência e uma foto 3x4. Pessoas menores de 18 anos

devem estar acompanhados por pais ou responsáveis. Os leitores cadastrados recebem uma cartei-rinha de identificação para, as-sim, realizar os empréstimos, tudo de forma gratuita.

Lucas Tomazelli

As bibliotecas públicas são cen-tros de cultura e lazer acessíveis à comunidade. Além de livros, re-vistas e jornais, estes espaços re-alizam atividades como leituras coletivas, narração de histórias e orientações à leitura e pesquisa. Próximo ao Jardim São Remo exis-tem duas bibliotecas públicas im-portantes: a Camila Cerqueira Cé-sar e a do CEU Butantã.

Camila Cerqueira CésarPróxima à Av. Corifeu de Azeve-

do Marques, possui um acervo di-versificado e atualizado de 34 mil volumes, além de jornais diários, revistas e gibis. E apesar de ser um expressivo centro de cultura e la-zer, o local não é muito frequenta-do, o que segundo a coordenadora da biblioteca, Ana Maria de Cam-pos Lamim, se deve à sua localiza-ção distante das grandes avenidas.

Um evento importante organi-zado pela biblioteca é o festival “A arte de contar histórias” – artistas são convidados para atrair o pú-blico em geral. A instituição reali-za também, eventualmente, ofici-nas de vestibular e literatura para auxiliar os alunos a compreender as obras cuja leitura é requisitada pelos exames de seleção.

A coordenadora conta que, para atrair os estudantes e os morado-res em geral, costuma frequen-tar reuniões de pais nas escolas e desenvolver panfletos específicos com a programação da biblioteca, para serem distribuídos nas insti-tuições de ensino região.

CEU Butantã “Roberto Marinho”Localizada dentro do CEU Bu-

tantã, conta com um acervo desti-nado a todas as faixas etárias, além de realizar exposição de filmes e trabalhos de desenho e de leitura específicos para crianças.

Metrô de SP disponibiliza obras literárias

A bibliotecária Regina Ferreira afirma que o papel da biblioteca é mais do que promover o acesso aos livros, já que ela auxilia fundamen-talmente no processo de inclusão social. O acesso à internet– para a realização de pesquisas escolares – e o trabalho voluntário desenvol-vido por um professor são ainda formas de aproximar a comunida-de das bibliotecas, que não ofere-cem apenas cultura e lazer.

Todos os serviços disponíveis nas duas bibliotecas são gratuitos e abertos para todos os moradores. Para o empréstimo de livros é ne-cessário apenas um cadastro. Ele pode ser feito mediante a apresen-tação do documento de identifica-ção, como certidão de nascimen-to ou RG, e acompanhado de um comprovante de residência – con-ta de luz ou boleto bancário. Me-nores de 16 anos só podem fazer o cadastro acompanhados dos pais ou de um responsável.

u Espetáculo Circo Zanni: dias 05 a 13 de novembro – 15h (seg. a sex., exceto quinta), 17h (sáb. e dom.), 20h30 (sáb.) e 19h30 (dom.) no Memorial da América Latina, ao lado do metrô Barra Funda

u Apresentação de dança Academia Cristina Moreno: dia 19 de novembro – 15h – CEU Butantã u 12º Projeta Brasil: Exibição de filmes nacionais com ingresso por 2 reais – dia 7 de novembro – Cinemark do Shopping Eldorado

Camila César é opção cultural

Veja onde ficam as bibliotecas:

Camila Cerqueira César

R. Waldemar Sanches, 41 – Butantã

2ª a 6ª feira: 8h às 17h

Sábado: 9h às 16h

CEU Butantã “Roberto Marinho”

Av. Eng. Heitor Antônio Eiras

Garcia, 1.700 a 1.870 – Butantã

2ª a 6ª feira: 8h às 19h

Sábado: 9h às 17h

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Novembro de 2011 Notícias do Jardim São Remo 9

são remano“As pinturas são muito bonitas. Seria bom se tivessemais disso na comunidade”AMARA SILVESTRE, MORADORA

Grafite ganha um museu a céu aberto

Em comemoração aos dez anos de atividades culturais em perife-rias de São Paulo, a Cooperifa, pro-jeto idealizado pelo poeta Sérgio Vaz com o objetivo de desenvolver eventos culturais com artistas da

periferia, promoveu entre 14 e 23 de outubro sua 4ª Mostra Cultural em bairros da Zona Sul da cidade.

Foram dez dias de apresentações que aconteceram em diferentes es-colas e espaços de cultura de co-munidades da região. Viu-se desde debates sobre militância cultural a peças de teatros e shows musicais. O ponto alto da Mostra foi na noi-te do dia 19 de outubro, com o dé-cimo aniversário do Sarau da Coo-perifa, que contou com cerca de 80 poetas e atraiu mais de 400 pessoas.

O sarau acontece todas as quar-tas-feiras no Bar do Zé Batidão no Jardim São Luís. É a atividade mais conhecida da Cooperifa e foi o que propiciou o crescimento do proje-

Também no Jardim São Remo esse tipo de arte conquista espaço e aprovação dos moradores

Foi inaugurado o 1º Museu Aber-to de Arte Urbana de São Paulo (MAAU) no dia 9 de outubro. O projeto reúne 66 murais pintados por grafiteiros do Coletivo PHA em conjunto com jovens da região.

A ideia surgiu após a detenção de alguns membros do Coletivo que estavam pintando no local sem autorização. A partir daí, houve o contato com a Secretaria de Cultu-ra para a elaboração de um projeto de grafitagem, culminando na pro-posta do Museu.

Localizadas entre as estações San-tana, Carandiru e Portuguesa-Tietê do Metrô, as pilastras, antes vítimas de pichações e da falta de conser-

vação, agora apresentam obras de arte, embelezando a região e tor-nando o ambiente mais agradável para moradores e turistas.

Fato semelhante ocorre no Jardim São Remo, onde os grafites enfei-tam muros e portões. A são rema-na Amara Silvestre, aprova a inicia-tiva, “as pinturas são muito bonitas e muito melhores do que aquele monte de pichação, seria bom se ti-vesse mais disso da comunidade“. A moradora Fátima Santos concor-da, “também é uma boa alternativa para ocupar o tempo das crianças, para não ficarem nas ruas”.

Um nome popular do grafite são remano é o de Jefferson, mais co-nhecido como JF, grafiteiro há mais de 15 anos. Para ele, essa é uma óti-

João Vitor Vasconcelos

Cooperifa celebra dez anos com Mostra

Gabriel Grilo

Evento alia entretenimento à educação e atrai muitas pessoas para a periferia da zona sul da cidade

to. A poetisa Vilma “Negra Drama” Teresa vê neles uma ação educativa e cultural. “Serve também para evi-tar que os jovens sigam um cami-nho errado”, completa.

A contribuição social foi um dos valores que guiaram a Mos-tra e que é base de todos os even-tos da Cooperifa. As atividades vi-sam não só o entretenimento, mas também a educação, aproximando os moradores das comunidades, da criação artística e de questões importantes da sociedade. Segun-do a poetisa e educadora Lu Sousa, que faz parte do projeto e foi uma das organizadoras da Mostra, “esses encontros fomentam ideias. A gente discute política e várias outras coisas.

É uma efervescência mesmo, então é como um quilombo onde nós troca-mos pensamentos”.

Este sentido é destacado tam-bém por Úrsula Paiva, coordena-dora pedagógica da EMEF CEU Cantos do Amanhecer onde acon-teceram duas apresentações mu-sicais da Mostra. Diante de um auditório lotado por alunos e mo-radores da região, a educadora diz que essa “é uma forma alternativa de cultura e lazer, além de ser uma maneira da comunidade se expres-sar”. A estudante do oitavo ano do ensino fundamental Lúcia Apareci-da concorda: “É bom porque relaxa, todo mundo fica mais descontraído. É muito educativo também”.

ma forma de passar mensagens e fazer, inclusive, protestos políticos, pois as imagens ficam nas ruas, vi-síveis para todos. Ele ainda ressalta o sucesso com os moradores, prin-cipalmente os mais jovens: “ é gra-tificante ver que o pessoal gosta, e as crianças aparecem querendo ajudar, é importante ocupar a men-te deles com algo criativo”.

JF também opinou sobre o MAAU, destacando a importância disto para a região, “além de man-ter o ambiente limpo, é uma obra de arte e evita pichações”. Apesar disso, o artista destaca a falta de apoio à atividade, “seria bom se ti-vesse algum apoio para comprar tintas e materiais, seria possível es-palhar mais essa arte”. Pinturas enfeitam a São Remo

Mostra teve apresentações musicais

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São remanas opinam sobre o tema

A mídia nos mostra a mulher de verdade?Propaganda polêmica da marca de lingeries Hope é alvo de críticas e reclamações de feministas

Patrícia Beloni

A propaganda da Hope com a Gisele Bündchen causou gran-de polêmica nos últimos meses. A modelo aparece num primeiro momento com roupas, comuni-cando ao marido que estourou o cartão de crédito. Em outras ver-sões, ela fala que a sogra vai mo-rar com eles ou que bateu o carro.

Esse jeito comportado de falar com o parceiro é considerado er-rado pela propaganda. Ela sugere que a mulher converse com o es-poso de um jeito mais sensual, tra-jando a lingerie da marca e usan-do o próprio charme quando for dar más notícias.

O comercial foi criticado por di-versos especialistas. O caso foi pa-rar no Conselho de Autorregula-

mentação Publicitária.(Conar) por iniciativa da Secretaria de Políti-cas da Mulher (SPM), órgão do governo federal, que recebeu vá-rias reclamações.

Iriny Lopes, ministra da SPM, alegou que o comercial estimula a mulher a utilizar o corpo para ter uma condição igualitária ou não ser repreendida pelo homem. Questiona também a definição do certo e do errado dentro da propa-ganda, que se trata de um “sexis-mo atrasado e superado”.

O Conselho de Ética decidiu que os estereótipos usados não des-merecem as condições femininas, são comuns à sociedade e facil-mente identificados por ela.

A diretora de marketing da Hope, Sandra Chayo, diz que a intenção era mostrar o cotidiano

de um tipo de casal de forma bem humorada, assim como a sensua-lidade da mulher brasileira, que pode ser uma arma eficaz, com poder de convencimento maior.

O professor Arlindo Ornellas Figueira Neto, do curso de Pu-blicidade e Propaganda da USP, concorda que existe uma espécie de preconceito, mas não acredita que haja grandes consequências para a sociedade.

“Hoje as mulheres são mais in-dependentes, trabalham há mui-to tempo e sustentam famílias inteiras. Elas não se encaixam dentro desse formato”, argumen-ta o profissional.

Trata-se de uma propaganda que “não usa nada que seja con-trário àquilo que é o pensamento do público-alvo do comercial.”

Um dos maiores questionamen-tos levantados pela crítica foi a in-fluência que o comercial poderia exercer sobre a juventude.

As adolescentes abordadas se mostraram um pouco atingidas.Mas, apesar de concordarem so-bre a vulgaridade da propaganda

e acharem que há um reforço do preconceito contra a mulher, com-prariam o produto pela beleza e qualidade por ele oferecidas.

A maioria das são remanas en-trevistadas, da faixa etária dos 20 aos 40 anos, não se sentiu ofendi-da com a propaganda da Hope e até compraria a lingerie porque fi-cou bonita no corpo da modelo.

Há ainda quem foi totalmente contra o comercial. A vendedora Maria José Braga, de 56 anos, acre-dita que esse tipo de publicidade é um jeito inadequado de vender produtos e pode influenciar nega-tivamente crianças e jovens.

Porém, ela ressalta que “hoje em dia nada ofende ninguém, afinal a mulher sabe se valorizar.”

“Um produto bem feito precisa mostrar suas qualidades,

e não o corpo [da mulher]”EVA MARIA CONCEIÇÃO (DONA EVA)

Patrícia Beloni

10 Notícias do Jardim São Remo Novembro de 2011

“Eu não gostava do trabalho de alguns árbitros, então decidi virar um”EDILSON, ÁRBITRO DA COPA SR

Novembro de 2011 Notícias do Jardim São Remo 11

Futebol na S. Remo também é trabalhoOrganização da Copa é mais complexa do que imaginam os torcedores da comunidade

Quatro amigos e uma boa ideia

Quem assiste a uma partida de futebol na comunidade não pára para pensar em quantas pessoas trabalharam na sua realização. As-sim como todo campeonato, a Copa São Remo depende de uma comis-são organizadora, que é responsá-vel por articular tarefas que vão desde a redação do regulamento até a entrega dos prêmios às equi-pes. No entanto, também são con-tratados profissionais especializa-dos, encarregados de funções que fogem à mão dos organizadores.

ArbitragemUm dos trabalhos mais difíceis e

polêmicos da competição é o dos árbitros. Quem envia os trios ou quartetos de cada rodada é a Liga do Campo Limpo, que ainda é nova na Comunidade São Remo.

Antes de cada partida os árbi-tros conferem as traves e as li-nhas do campo. Eles também ve-rificam uniformes e pedem que os jogadores retirem objetos me-tálicos como anéis e pulseiras.

A maior dificuldade desses profis-sionais está em lidar com a pressão, que vem tanto da torcida como dos próprios jogadores. O árbitro Edíl-son não se assusta, até porque já es-teve do outro lado desta difícil re-lação. “Eu sempre joguei futebol. Como eu não gostava do trabalho de alguns árbitros, decidi virar um”.

SúmulaÉ o papel que possui todas as in-

formações de uma partida: equipes que se enfrentam, nome de jogado-res e números de camisas, autores dos gols, cartões amarelos e ver-melhos, substituições e até relató-rios da arbitragem. É das súmulas que saem a classificação, os joga-dores suspensos e os artilheiros do campeonato. Quem as preenche na São Remo é Jéssica Daiene, filha de Gersom, que vive seu primeiro ano como mesária na competição.

EstruturaApesar de não exigir irrigação, o

campo de terra exige um cuidado específico. No início de cada roda-da, as linhas devem ser reforçadas com tinta cal para que fiquem cla-ras suas delimitações.

O vestiário deve oferecer con-forto para as doze equipes que o utilizam por dia de jogo. O res-ponsável por sua faxina e tam-bém pela manutenção do campo é Oswaldo da Silva, mais conheci-do como Branco, contratado para realizar tais tarefas.

Nicolas Gunkel

A Copa São Remo é um dos principais eventos da comuni-dade há 25 anos reunindo mora-dores aos finais de semana para apreciar o futebol local. A com-petição, como quaquer outra, deve muito a seus idealizadores.

Quatro amigos de longa data, Faustino, Gersom, Neco e Louri-val, são os responsáveis por co-mandar a disputa das equipes. Fa-lando em equipe, eis uma coisa que não falta na São Remo. Aos domin-gos, a quantidade de camisas dife-

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rentes que circulam pelo campo é impressionante. Essa varieda-de marca a Copa até na adminis-tração, afinal todos os organizado-res têm seu próprio time: Gersom com o São Remo, Faustino e o Pão de Queijo, Lourival e seu Barcelo-na e o Vila Nova do Neco. “Cada um torce para o outro perder”, diz Gersom. Mas a rivalidade fica ape-nas nos campos, e quando o jogo acaba “todos saem para beber cer-veja juntos”, conta Lourival.

Tudo começou em 1985, quando Gersom foi à subprefeitura do Bu-tantã e conseguiu autorização para

transformar, em suas palavras, um “matagal onde se plantavam legu-mes” no campo que é palco dos jo-gos de hoje. Faustino relembra os tempos em que não havia alam-brado nem arquibancada, o que não era um problema, pois os tor-cedores respeitavam o limite.

Os planos para o espaço que, de acordo com Neco, chega a reunir aproximadamente três mil torce-dores na final, são de troca das re-des e pavimentação do chão em volta do campo. O dinheiro usa-do vem da taxa de inscrição que as equipes pagam para competir.

Marina Vieira Souza O curso oferecido pela Federação Paulista de Fu-tebol (FPF) tem duração de 12 meses e capacita o aluno a arbitrar jogos da Federa-ção, tanto das séries A e B.

Outra opção é o curso do Sindicato dos Árbitros de Futebol de São Paulo (SA-FESP) que dura três meses e habilita os alunos a ar-bitrar jogos no interior do estado, em campeonatos de ligas e jogos promovi-dos pelo sindicato.

Cursos de Arbitragem

esportes

12 Notícias do Jardim São Remo Novembro de 2011

esportes “Pra mim é só alegria. Quando meu time joga,

não penso nem em comer”LOURIVAL, DONO DO BARDO CAMPO

Depois de chuvas, copa SR continuaNícolas Gunkel Frederico Tardin

Com desempenho variado, equipes da comunidade começam a pensar na próxima fase

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A primeira quinzena do mês de outubro terminou com muita chu-va e sem futebol. Todos os jogos que ocorreriam no dia 16 daquele mês foram transferidos para o dia 13 de novembro, data em que es-tava marcado o início da segunda fase do campeonato.

No fim de semana seguinte re-alizaram-se nove jogos e nos dias 29 e 30 mais cinco. Três times da comunidade assumiram a lide-rança de seus respectivos grupos, mas nem todos os times da casa estão em boa situação.

CatumbiNo sábado dia 22, a equipe ven-

ceu o Paraíba por 2 x 0, com dois gols do camisa 7 Renato Silva. No dia seguinte, em um jogo heróico, com goleiro improvisado e um jo-gador a menos, o Catumbi bateu o Ceasa por 3 x 2. Irritado com lan-ces polêmicos, um integrante da

comissão técnica do time visitan-te agrediu o árbitro fisicamente. Por conta disso, o Ceasa foi ime-diatamente eliminado da compe-tição. O Catumbi é líder do grupo D com quatro vitórias.

ParaíbaO Paraíba não faz uma boa cam-

panha. Um dia após a derrota para o Catumbi (2 x 0), a equipe perdeu para o União JP por 3 x 0.

O time assume a lanterna do grupo D conquistando apenas um ponto dos doze disputados. Portanto, precisa vencer a próxi-ma partida para ter chances de se classificar para a fase seguinte.

Vila NovaO Vila Nova bateu o Vila Real (A)

por 1 x 0 no domingo, dia 23. O gol da vitória foi do atacante Fabrício, que cabeceou com frieza a bola cru-zada pelo meio-campista Ronaldo. A equipe mantém-se na terceira po-sição e depende apenas de si mes-ma para passar à próxima etapa.

Pão de QueijoO time do técnico Faustino as-

sumiu a liderança do grupo A no domingo, dia 23. Na primei-ra partida do dia, a equipe come-çou perdendo contra o Areião, mas logo se encontrou em cam-po. Com gols de Eá, Pantera e Ci, o Pão de Queijo virou a parti-da para 3 x 1 e contabilizou nove pontos. O tropeço do Areião con-tra o Barça no domingo seguin-te garantiu a liderança à equipe.

ParadãoOs veteranos não seguem bem

na competição. Com a derrota para o Pão de Queijo, a equipe teve que torcer por um tropeço do Vila Real (B) contra o Corin-thians no domingo, dia 30. Po-rém, o empate entre os times visitantes foi o suficiente para le-var o Paradão à lanterna do gru-po A. A equipe precisa vencer a última partida da fase para so-nhar com classificação.

São RemoNo domingo, dia 23, o São Remo

bateu o Atlético Paulista, também da comunidade. Com dois gols do centro avante Alemão e um do atacante Vitor, o São Remo ven-ceu por 3 x 2 e passou à lideran-ça do grupo. O Unidos do Esther empatou no sábado seguinte com o Botafogo, resultado que garan-tiu o São Remo na ponta da tabela.

Atlético PaulistaApesar de seguir na zona de

classificação, a equipe está com um jogo a mais que o Botafogo e que o Catuense, times que podem Ceasa é desclassificado após partida contra o time Vila Nova

Nota de falecimentoFaleceu no domingo dia 23

Jefferson Inácio da Silva, jo-gador do Arsenal. Querido na comunidade, Jefferson tinha apenas 25 anos. “Ele era como um filho pra mim”, afirma o treinador Francisco Claudio. Em sua homena-gem, todas as partidas do último domingo começaram com um minuto de silêncio.

ultrapassá-lo na reposição de par-tidas. A derrota para o São Remo no dia 23 foi a terceira da equipe na competição.

Força JovemO Força Jovem disputou duas

competições no domingo (23) e o desgaste do time foi evidente. Sua partida na Copa São Remo contra o Multirão, que é líder do grupo, terminou em 5 x 0 para a equipe visitante.

BarçaNo terceiro jogo do último

domingo, o Barça enfrentou o Areião. Com um gol de Rogério ainda nos primeiros minutos de jogo, a equipe venceu e assumiu a segunda posição do grupo A, li-derado pelo Pão de Queijo.

Sub 20 e ArsenalOs dois times não jogaram nos

dois últimos finais de semana. O Sub 20 mantém a segunda colo-cação do grupo D e o Arsenal, com a eliminação do Ceasa, assu-me a quarta posição, ainda com um jogo a menos.